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TRATADO
DE
TOMO I
RIO DE JANEIRO
F. BRIGUIET & C. — Editores 16 e 18 Bua Nova
do Ouvidor 16 e 18
7422-98 1899
r
III- — O CRIME UNO E A PLURALIDADE DE CRIMES
onde se dão vários crimes, devem tambem dar-se varias acções. Assim
Binding, 1.°, 566, admitte no adultério incestuoso uma dupla copula Uma tal
philosophia escolástica não precisa ser seriamente impugnada fvôr v. Liszt, Z.,
6.°, 694). Também não são claros Hãlschner, 1.°, 672, Búnger, Z., 6 °, 665,
Wachenfeld, 102. A este ultimo é fatal a fórmula ambígua da idéa do resultado
(acima, § 27, nota 1.").
(*) No mesmo sentido e muito terminantemente o dec. do Trib. do
Imp. de 11 de Julho de 90, 2.1.?; 63. — E' muito vulgar este paralogismo:
acção é causalidade; vários resultados pedem varias; causalidades e portanto
dão-se varias acções. Assim John, 2.°, 256,
O CRIME UNO B A PLURALIDADE DE CRIMES 383
v. Buri, Einheit, 107, Kausalitàt (1885), 80, G S., 41.°, 455, e tambem
Franck, Z., 14.», contra, Hãlschner, 1.°, 657, nota 1.», Olshausen, § 73, 2,
Schutze, Z., 3.°, 64, Hiller, G S., 32.°, 200, Ortmann, G A., 35.°, 33, Hecker,
140, Búnger, Z., 8°, 698. — O vicio está na equiparação da acção e do
resultado. 22 7
(*) A omissão apparece sempre como acto voluntário uno.
384 TRATADO DE DIREITO PENAL
contra Binding, 1.°, 249, 550, nota 12. Contra tomarem-se em consi-
deração acções prescriptas, Binding, 1.°, 826, nota 7, v. Riseh., Z., 9.°,
268, nota 58.
(*) A opinião dominante admitte «um concurso ideal de crimes
homogéneos» e quer applicar por analogia o art. 73 do C. p. £»t»
O O&lME UNO E A PLURALIDADE DE CRIMES 39l
é subsidiaria de outra, isto é quando de duas leis, que não se acham na relação
de lex generalia e lex specialis, uma só é applicavei, não o sendo a outra
(exemplos, os art. 49 a, 207 e 358 a do C. p. ali.). As comminações referentes
á tentativa e actos preparatorios, á instigação e á cumplicidade são subsidiarias
respectivamente ás comminações referentes ao crime consumado e ao facto
principal. E' o que Binding denomina a «subsidiariedade das formas
criminaes». O mesmo criminalista denomina leis alternativas as que no todo
ou em parte qualificam o mesmo facto sob diversos pontos de vista, de sorte
que o juiz pôde applicar ora uma, ora outra. Os casos porém comprebendidos
pelas leis alternativas entram na segunda hypothese ligurada pelo autor. N. do
trad.
(8) A opinião dominante, especialmeete desde Feuerbacb, designa este caso
como « concurso ideal de crimes heterogéneos » — uma só acção ~e vários
crimes. Mas esta concepção não somente está em manifesta B contradicção com a
letra e o espirito do art. 73, senão tambem esquece I que o «concurso ideal de
crimes» é tão estranho ao direito commum, I quanto, abstracção feita de algumas
excepções isoladas, ás legislações I estrangeiras. — Com o texto estão no essencial
de accordo Heller, Q-. [ 6., 32, 135 e na Revista-Grunhut, 13.°, 126, Schutze, Z.
3.°, 71, Ortloff, ■ G. A., 82.°, 400, "Wachenfeld, 57, v. Kries, 207, Schmidt,
Bankbruch,
1893, p. 176, e especialmente Heinemann (com uma exposição que esgota a
questão). De accordo tambem Binding, 1.°, 349, mas em plena J contradicção
comsigo mesmo, 1.°, 570 (não podemos comprehender, porque razão a
pederastia do mestre com a discípula deva ser tratada I diversamente do adultério
incestuoso). Egualmente tambem Búnger, posto que por outras razões (a pena
dirige-se contra a vontade, isto é, I contra a energia psychica que se desenvolve
parallelamente á acção; | mas essa energia é uma só, apezar da multíplice relação
para differentes C resultados). — Valiosa prova da exactidão da nossa concepção
está em
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própria filha, que tanto incide sob o art. 173, como sob o
art. 177 do C. p., deve ser punido segundo o ultimo.
M O art. 73 do C. p. não encerra mais do que esta regra
complementar. « Quando uma só e mesma acção, diz o
citado artigo, violar muitas leis penaes, será applicada a lei
que comminar a pena mais ri-1 gorosa, e, si as penas forem
de differente natureza, a que comminar o género de pena
mais grave » (4). I Em tal caso faz-se mister que o juiz
declare | na sentença — e em caso dado mediante
interrogação do jury — que o facto incide sob uma e outra lei
penal e quaes as razões que o determinaram na I escolha de
uma delias. Mas, uma vez feita essa escolha, não pôde ser
mais tomada em consideração a lei mais branda. Assim, si a
lei mais rigorosa tiver | um minimo inferior ao da mais
branda, a pena pôde ser graduada de modo a descer abaixo
do minimo desta (5). A pena accessoria, que por ventura a lei
j mais branda commine, não pôde ser imposta, si a lei
que o legislador pôde, por um traço de penna, com admittír uma dis-
posição especial, fazer desapparecer o concurso apparente de crimes.
Considere-se o art. 178 do O. p., que torna impossível a admissão doa
crimes de homicídio e de estupro; o que seria inconcebível, si o « coar
curso ideal» não fosse na verdade um concurso de leis. — Oumpl
observar que, segundo o art. 135 da lei sobre a união aduaneira] outras
leis sobre impostos, podem caber varias penas, apezar da unidade da
acção; cons. a dec. do Trib. do Imp. de 11 de Março de 92, 28.*,!
(*) Mais conveniente seria, ad instar do projecto austríaco, form
das diversas comminações penaes em questão uma nova escala penal
que de cada uma delias tomasse a disposição mais rigorosa (de uma
minimo, de outra o máximo). As razões aduzidas por Heinemann, peli
contrario, não são convincentes.
(6) De accordo as dec. do Trib. do Imp. de 8 de Fevereiro de 88]
80, 84 e 10 de Novembro do 87, 16.°, 802, Geyer, 1.», 189, Merkej| :
HH, 4.°, 223. Em sentido contrario a dec. de 3 de Março de 81,_8_í§[
390, v. Meyer, 496, Olshausen, § 73, 25, Hecker, 143,
■
Ò CRIME tJNO £ A PLURALIDADE DE CRIMES 395
(*) De accordo v. Buri, Einheit, 110, o mesmo, G- S., 35, 622, pterkel,
H H, 4.°, 229, Geyer, l.«, 189, Hãlschner, 1.°, 683, Haber-maas, 27, Schútze,
Z, 3.° 72. Em sentido contrario, Binding, Onmdrisa, v. Meyer, 497,
Olshausen, | 78, 24, Wacbenfeld, 79, 81 e especialmente a dec. do Trib. do
Imp. de 15 de Out. de 88, 18, 188 (em contradicção com as suas próprias
considerações sobre o «absoluto exclusivismo » da lei penal mais rigorosa).
(*) De accordo a dec. do Trib. do Imp. de 10 de Nov. de 87, 16.°,| 802 (a
multa é pena sempre mais branda do que a de prisão), a de 7 de Março de 98,
24.°, 58 (a comminação facultativa de uma pena grave de encarceramento e de
multa é mais branda do que a comminação [exclusiva de uma pena pequena
de encarceramento). A dec. de 12 de Dez. de 87, 17.°, 198, entende que não se
deve tomar em consideração a vigilância policial, porque a sua effectividade
não depende da vontade do tribunal; om sentido contrario e com razão H.
Souífert, "W V> 2.°, 256. 3*5"
396 TBATADO DE DIREITO PENAL
15.° congresso dos juristas allemães, 1.°, 71, 2.°, 860; de uccordo o relatório
de v. Liszt; dec. do Trib. do Imp. de 23 de Dezembro de 81, 6.°, 314,
Stenglein, O S., 35.°, 24, Meyer, 600, nota 14, Olshausen, § 73, 19. Em
sentido contrario Schutze, Z., 8.°, 70, Binding, 1.°, 386, nota 45.
(») Por isso Geyer, 1.°, 184, Hâlschner, 1.°, 664, Rosenblatt, 8.°, 6
outros falam em concurso de penas em vez de concurso de crimes.
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âÔ8 TRATADO DE DIREITO PEWAt