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AULA
Literatura e linguagem
José Luís Jobim
Meta da aula
Apresentar considerações e perspectivas sobre
literatura e linguagem.
objetivo
INTRODUÇÃO Bem, como você já expressou sua opinião sobre cada uma das definições de
literatura presentes no exercício da aula anterior, vamos agora retomá-las,
para desenvolver reflexões mais aprofundadas sobre elas. Reveja, então, as
definições:
1. Literatura são textos escritos com uma linguagem embelezada;
2. Literatura é tudo o que está escrito;
3. Literatura é um texto completo escrito com uma língua qualquer (portu-
guês, espanhol, inglês, francês etc.);
4. Literatura consiste em fazer arte com as palavras;
5. Literatura é a criação de novas possibilidades de uso da palavra;
6. Literatura é o conjunto de textos escritos para o autor comunicar com suas
palavras alguma coisa ao leitor.
Comecemos, então, por dizer que muitas destas definições dizem respeito
à língua ou à forma de apresentação (escrita) da língua: “textos escritos”,
“tudo o que está escrito”, “texto completo escrito com uma língua qualquer”
etc. Vejamos, então, alguns aspectos linguísticos.
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básicas daquela estrutura: o respeito à sintaxe da língua, a ordem possível
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das palavras na sentença em português. Portanto, a obediência a estas
regras é condição essencial para o entendimento (o escritor, usando as
mesmas palavras, no exemplo em questão, poderia escrever, respeitando a
ordem possível: “O rapaz foi ao cinema da esquina exatamente ontem.”).
Também é necessário ter em mente que a língua natural não é
apenas um elemento neutro, moldado conforme a vontade do autor. No
caso da língua portuguesa no Brasil, por exemplo, Bethania Mariani já
observou que esta língua, ao atravessar o Atlântico e entrar nas terras da
colônia, sofreu modificações, passando a ser uma língua cuja memória já
não é mais apenas aquela relacionada à história de Portugal. O contato
com outras línguas (indígenas e africanas, por exemplo) e o fato de ser
falada por sujeitos nascidos na colônia e não em Portugal impregnam
a língua usada no Brasil com uma outra identidade, não mais apenas
portuguesa. Essa língua portuguesa já não seria mais exatamente a
mesma que se continuava falando em Portugal. Por outro lado, Mariani
argumenta que não há como silenciar totalmente a memória portuguesa,
gerando esse efeito contraditório: fala-se a mesma língua e ao mesmo
tempo fala-se outra língua.
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Figura 3.1: Guimarães Rosa.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Joaoguimaraesrosa1.jpg
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Outra tentativa de caracterização da linguagem na literatura é a
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proposta de Roman Jakobson de que, na literatura, prevalece a função
poética da linguagem.
CONTEXTO
(função referencial)
MENSAGEM
(função poética)
REMETENTE__________________________________DESTINATÁRIO
(função emotiva) (função conativa)
CONTATO
(função fática)
CÓDIGO
(função metalinguística)
Se você quiser mais informações sobre Roman Jakobson, sua vida e sua
obra, veja o site http://www.pucsp.br/pos/cos/cultura/biojakob.htm.
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Mais adiante em nossa matéria, quando tratarmos do concei-
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to de ficção, veremos por que não há uma reprodução idêntica, uma
reduplicação do mundo real pelo mundo ficcional, nem um critério de
validação do ficcional que exija uma referência necessária ao real, ou
uma correspondência a ele.
O termo referência tem pelo menos duas direções de sentido: pode
designar uma relação factual vigente entre uma expressão verbal e algu-
ma outra porção do real; ou uma relação vigente entre uma expressão
verbal e um objeto que não existe. No exemplo da seção anterior se,
no meu contexto de uso cotidiano da linguagem, digo à minha mulher
“Ivan jantou ontem à noite”, esta expressão verbal (que é parte do real)
refere-se a uma outra parte do real, em que existiram de fato tanto esta
pessoa (Ivan) quanto a ação praticada por ela, no tempo indicado (jan-
tou ontem à noite). Na obra literária, como vimos, também pode haver
referência a um personagem jovem chamado Ivan, que praticou a ação de
jantar, sem que haja o “objeto” correspondente (isto é: um ser humano
jovem que teria praticado a ação no tempo informado).
Às vezes, quando se fala das obras literárias como referência ao
real, produzem-se classificações que as dividem em obras que represen-
tam mais decididamente o real (como aquelas pertencentes ao período
literário chamado Realismo, no século XIX) ou obras que se afastam
da representação do real (como aquelas do Surrealismo mais claramen-
te relacionadas à chamada escrita automática). Neste caso, de alguma
forma, o critério para classificar estas obras é o mesmo: uma suposta
referência (“existente” ou “inexistente”) ao real.
CONCLUSÃO
Por tudo o que dissemos até agora, já podemos entender por que,
embora no cotidiano também façamos uso da linguagem, René Wellek
e Austin Warren especificaram: “Na literatura, os recursos da lingua-
gem são explorados muito mais deliberadamente e sistematicamente.”
(WELLEK; 1971, p. 30.)
A linguagem não é importante somente para a literatura, mas,
diante da literatura, podemos estar mais predispostos à percepção de que
as relações entre a estrutura e o sentido do texto, a organização dos seus
vários elementos constituintes e os efeitos de seu conjunto são complexos.
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ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 1
Considerando tudo o que você aprendeu nesta aula, diga quais foram os dois
mais importantes aspectos sobre a relação entre literatura e linguagem, na sua
opinião. Justifique sua resposta.
RESPOSTA COMENTADA
Em sua resposta, você pode selecionar dois aspectos que considere mais relevan-
tes, entre os que foram apresentados nesta aula, explicando por que selecionou
estes e não outros. Por exemplo: você pode selecionar que uma obra literária está
sempre sujeita à estrutura da língua natural em que é composta, argumentando que
isto demonstra que o autor tem sempre de respeitar os limites desta língua no seu
uso literário.
RESUMO
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