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Diretoria de Educação
Andréa Marinho de Souza Franco
Diretora
FICHA TÉCNICA
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema FIRJAN
Divisão de Documentação - Biblioteca
S491el
SESI - RJ
Volume 1
Ensino Médio para Jovens e Adultos:
Língua portuguesa/literatura
Rio de Janeiro : GEB/GED, 2004.
236 p.
edição atualizada, 2010.
1. Educação de Jovens
2. Educação de Adultos
I - Português / Fase 1
CDD 373.011
Apresentação 7
Capítulo 1 9
O homem e a linguagem
Linguagem verbal e não verbal
Linguagem e cultura
Capítulo 2 23
A comunicação e seus elementos
Funções da linguagem
Capítulo 3 43
Variações lingUísticas
Como surgiu a língua portuguesa?
Capítulo 4 67
O que é literatura?
Literatura e comunicação
Texto em verso – texto em prosa
Capítulo 5 89
Recursos sonoros e semânticos
explorados no texto literário
Noção de fonema
Capítulo 6 109
O texto literário e seu conteúdo
Os gêneros literários
Acentuação gráfica
Capítulo 7 129
Estilo individual e estilo de época
A Época Medieval
Acentuação Gráfica
Capítulo 8 151
A Época Medieval e sua Influência
na literatura de hoje
Trovadorismo: as cantigas
As novelas de cavalaria
Capítulo 9 171
Humanismo e Classicismo em Portugal
O teatro popular: Gil Vicente
Camões: lírico e épico
Capítulo 10 185
O que é narrar?
Capítulo 11 201
A literatura informativa sobre o Brasil
Literatura dos descobridores, colonizadores e viajantes
A carta de Pero Vaz de Caminha
A literatura de catequese e o Padre Anchieta
Capítulo 12 221
Formas narrativas em prosa:
O conto
A crônica
A novela
O romance
A P R E S E N T A ÇÃ O
“Vai e avisa a todo mundo que encontrar
que existe ainda um sonho pra sonhar.”
Roupa Nova
Prezado(a) aluno(a),
O HOMEM E A LINGUAGEM
O HOMEM E A LINGUAGEM
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
N esta página apresentamos duas
figuras em que um europeu e um ín-
dio se encontram (figura 1), pode-se
perceber o espanto do português e
do índio ao se encontrarem um com
o outro.
por que se espantaram?
Provavelmente esse espanto pode figura 1
ter sido motivado pela diferença de
costumes entre os dois povos: os índios andavam habitualmente nus,
enquanto os europeus usavam muitas vestimentas.
A figura 2 reproduz um trecho da famosa carta que Pero Vaz de
Caminha escreveu ao rei de Portugal, relatando os primeiros contatos
com a nova terra, posteriormente chamada de Brasil. Nesta figura,
percebe-se que o índio tenta comunicar-se com o português através
de gestos.
Por que será que o índio se expressou dessa forma?
Será que o europeu teria entendido as intenções do índio?
Bem, de acordo com o relato de Caminha, o escrivão da frota
de Cabral, os portugueses entenderam que o índio queria dizer que
naquela terra havia ouro.
O índio usou os gestos para se comunicar, porque provavelmente
já tinha percebido que aquela gente falava uma língua não entendida
por eles.
Ao que tudo indica, dessa forma iniciou-se a comunicação entre
colonizadores e colonizados.
Vamos tomar esse episódio
como ponto de partida para
refletirmos a respeito do ato de
figura 2
comunicação;
12
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - INVESTIGANDO CAMINHOS
A N O T A Ç Õ E S - Linguagem e cultura
Nesta ilustração, o personagem emprega cultura como sinônimo de
informação; entretanto, essa palavra pode ser empregada com vários
sentidos.
Cultura
• ato, efeito ou modo de cultivar; cultivo;
• atividade econômica dedicada à criação, desenvolvimento e pro-
criação de plantas e animais ou à produção de certos derivados
seus;
• parte ou aspecto da vida coletiva relacionados com a produção
e transmissão de conhecimentos, à criação intelectual e artística
etc.
• processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo, um
povo, uma nação que resulta do aprimoramento dos seus valores,
instituições, criações etc.; civilização, progresso;
• atividade e desenvolvimento intelectuais de um indivíduo; saber,
ilustração, instrução.
Logo:
• A linguagem é uma criação cultural.
DESAFIOS DO PERCURSO
a) b) c)
SE A COMUNICAÇÃO FALHA,
TUDO FALHA! ... E NÃO VERBAL ... VOU DAR UM
A COMUNICAÇÃO É TUDO! EXEMPLO ...
QUANDO HÁ PROBLEMAS, AO A COMUNICAÇÃO PODE SER
PROBLEMA É A COMUNICAÇÃO! VERBAL ...
resposta.
R.
AMPLIANDO O HORIZONTE
A N O T A Ç Õ E S -
R.
No Cinema e na TV
Hans Staden - filme brasileiro, direção de Luiz Alberto Pereira.
Conta a história de um alemão que trabalhava para os portugueses
em 1550 e foi ameaçado de ser devorado por índios brasileiros,
quando saiu à procura de um escravo fugido.
Apresenta as diferenças culturais entre dois povos.
Nell - filme americano, dirigido por Michael Apted, conta a história
de uma moça que até os 30 anos viveu afastada de qualquer con-
tato com as pessoas, criando, assim, uma linguagem própria para
comunicar-se.
Mostra os diferentes tipos de linguagem.
Nas Livrarias
Meninos sem pátria - romance de Luiz Puntel, publicado pela
editora Brasiliense. Conta a história de uma família de classe média
brasileira que, por questões políticas, vê-se obrigada a deixar o país
e a adaptar-se a outra cultura.
Nas Bancas
Luluzinha - revista em quadrinhos, com personagens infantis,
retratando o modo de vida americano.
Charges e quadrinhos - a linguagem verbal e não verbal em
jornais e revistas.
Nos CDs
Em qualquer música instrumental, você perceberá a força da lin-
guagem dos sons.
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEMÓRIAS DA VIAGEM
Cotização do conhecimento
Agora vamos relacionar o que você estudou neste capítulo com o texto
Cotização do conhecimento.
• FUNÇÕES DA LINGUAGEM
CAPítULO 2
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
S abemos que você é uma pessoa com muitas informações, senti-
mentos, esperanças e necessidades.
Para dividir tudo isso com outras pessoas, você faz uso da palavra,
de gestos, de sinais e tantas outras formas de comunicação.
A comunicação é fundamental para se
viver, compreender, interpretar, criticar;
assim, ela é uma necessidade básica do
ser humano.
Enfim, é muito bom conversar: en-
tender o outro e mostrar para ele aquilo
que pensamos.
Vale ressaltar que, dependendo da
intenção de quem fala, a linguagem terá
uma determinada função.
Neste capítulo, estudaremos os elementos da comunicação e as
funções da linguagem.
INVESTIGANDO CAMINHOS
A N O T A Ç Õ E S - Observe que até o nosso corpo tem uma linguagem. Repare bem o
jeito de andar de determinada pessoa. Muitas vezes, ele nos comunica
se ela está apressada ou calma, cansada ou descansada.
Dessa forma, podemos afirmar que comunicamos com a mesma
naturalidade com que andamos ou respiramos.
No mundo moderno têm-se criado muitas facilidades para o ser
humano comunicar-se cada vez mais; em contrapartida, se o homem
não ficar atento, corre o risco de isolar-se: é capaz de trabalhar, fazer
compras, viajar, participar de encontros sem sair de casa. É a era da
Informática.
Palavras que antes tinham um significado hoje adquirem, na Internet,
um outro. Um bom exemplo é a palavra navegar, que para alguns está
ligada à liberdade de viajar de barco; para outros - os navegadores da
Internet - significa ficar horas diante da tela do computador.
Em recente entrevista, um escritor famoso dizia-se admirado, pois, sem
sair de sua sala, entregou, através da Internet, o seu último livro à editora,
em menos de cinco minutos. É o milagre da tecnologia, a facilidade da
comunicação.
Para perceber como ocorre a comunicação, analise a situação a seguir.
Um indivíduo entra em uma loja para comprar uma televisão. O vend-
edor, bastante atencioso, vem atendê-lo. Mas acontece que o indivíduo é
japonês e não entende uma só palavra de português...
E agora?
• Será que ficou difícil a comunicação entre eles? Por quê?
• Como será que fizeram para se entenderem?
• E o japonês, será que comprou a televisão?
Importante
Só há comunicação se houver entendimento do que está sendo dito.
Mensagem compreendida = comunicação
Funções da linguagem
Em todo ato de comunicação existe uma intenção por parte do emissor
da mensagem. Dependendo do objetivo que o emissor deseja atingir com
sua mensagem, nela vai predominar uma determinada função da lingua-
gem. A função, portanto, está intimamente relacionada com o objetivo do
emissor da mensagem, seja ela transmitida através da linguagem verbal
ou não verbal.
28
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Função referencial
Ocorre toda vez que a mensagem faz referência a acontecimentos,
fatos, pessoas, animais ou coisas, com o objetivo principal de transmitir
informações.
É a linguagem da 3ª pessoa (ele). Predomina nos textos jornalísticos,
científicos, nos avisos, nos filmes documentários, nas mensagens objetivas,
como na informação a seguir:
Observe como o emissor (o autor do texto) está centrado nele mesmo: fala
das suas emoções, sensações, manifestando a visão dele em relação ao sen-
timento amoroso.
Função metalinguística
É o emprego de um determinado código para explicar ou definir esse
mesmo código, ou, então, usá-lo como assunto.
Um filme que tem por assunto o próprio filme ou uma peça de teatro
que tenha como tema o teatro são exemplos dessa função, assim como
os verbetes de um dicionário, pois nesses verbetes “traduz-se” um termo
empregando-se o próprio código a que pertence esse termo.
30
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Função poética
A função poética realça a elaboração da mensagem e caracteriza-se
pela criatividade da linguagem. Percebe-se um cuidado especial na orga-
nização dessa mensagem, pode-se explorar a sonoridade das palavras, os
seus vários significados, o ritmo da frase etc.
Essa função predomina nos textos artísticos, embora não seja exclu-
sividade deles. O texto a seguir é um exemplo dessa função:
O auto-retrato
No retrato que me faço E, desta lida, em que busco
– traço a traço – – pouco a pouco –
Às vezes me pinto nuvem, minha eterna semelhança,
Às vezes me pinto árvore...
No final, que restará?
Às vezes me pinto coisas Um desenho de criança...
De quem nem há mais
lembranças...
Ou coisas que não existem Corrigido por um louco!
Mas que um dia existirão...
Mário Quintana
Função fática
Ocorre quando se deseja verificar se o canal usado na comunicação
está funcionando de forma adequada. Ainda está presente quando se inicia,
deseja-se prolongar ou interromper um contato.
Por exemplo, quando, ao começarmos uma conversa, fazemos pergun-
tas do tipo: “Olá, como vai? Tudo bem com você?” só com a intenção de
mantermos o contato.
Ou, ainda, quando insistimos na mesma pergunta ao telefone: “Alô,
está me ouvindo bem?”.
A função fática ocorre, ainda, quando se tenta estabelecer a comuni-
cação, como no texto a seguir:
Sinal fechado
Olá, como vai?
Observe que se trata de uma fala cheia de rodeios, muitas vezes repetitiva. Na
verdade, o emissor transmite pouca informação, tentando somente estabelecer
uma comunicação.
DESAFIOS DO PERCURSO
Situação 1 A N O T A Ç Õ E S -
Tentativa de conversa entre um alemão e um francês em que um
não fala a língua do outro.
R.:
Situação 2
Conversa entre um norte-americano e um estudante brasileiro que
estuda inglês há pouco tempo.
R.:
Situação 3
Palestra de um professor universitário a alunos de segundo grau.
R.:
Situação 4
Palestra de um professor universitário a outros professores univer-
sitários.
R.:
34
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
R.:
AMPLIANDO O HORIZONTE
No Cinema e na TV
Amazônia - paraíso em perigo - filme brasileiro, direção de Paulo
Alceu. Tema: a Amazônia sob o impacto da morte de Chico Mendes
(função referencial). Costumes comerciais extrativistas, lendas, o
trabalhador branco e as dificuldades enfrentadas pelos índios.
Denise está chamando - escrito e dirigido por Hal Salwen. Comé-
dia romântica sobre o amor, a vida e um telefone ocupado. Mostra
alguns problemas causados por dificuldades na comunicação.
Nas Livrarias
80 anos de poesia - poemas de Mário Quintana, livro organizado
pela professora Tânia Franco Carvalhal e publicado pela editora
Globo, Rio de Janeiro (função poética).
Capitães da Areia: romance de Jorge Amado. Tema: a vida dos
meninos de beira de cais da Bahia (função poética).
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LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - Nas Bancas
Busque em jornais e revistas - textos variados utilizando as di-
versas funções de linguagens (referencial, nas notícias; apelativa,
nas propagandas; poética, nas crônicas literárias etc.)
Nos CDs
Procure ouvir e identificar, em algumas músicas, as funções poética
e emotiva da linguagem.
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEMÓRIAS DA VIAGEM
A N O T A Ç Õ E S -
Leia com atenção o texto apresentado a seguir, tendo o cuidado
de procurar em um dicionário da língua portuguesa alguma palavra cujo
significado você desconheça.
Caso não tenha compreendido bem alguma passagem, volte a ler o
texto quantas vezes julgar necessárias.
Comunicação
É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber co-
municar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar
um... um... como é mesmo o nome?
“Posso ajudá-lo, cavalheiro?”
“Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...
“Pois não?”
“Um... como é mesmo o nome?”
“Sim?”
“Pomba! Um... um... que cabeça a minha. A palavra me escapou
por completo.
É uma coisa simples, conhecidíssima”.
“Sim, senhor”.
“O senhor vai dar risada quando souber”.
“Sim, senhor”.
“Olha, é pontuda, certo?”
“O quê cavalheiro?”
“Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem
assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta
tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só
que esta é mais fechada. E tem um, um... uma espécie de, como é que
se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda,
de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa
pontuda que fecha. Entende?”
“Infelizmente, cavalheiro...”
“Ora, você sabe do que estou falando”.
“Estou me esforçando, mas...”
“Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta,
certo?”
“Se o senhor diz, cavalheiro?”
38
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
V ocê alguma vez já ficou sem saber
como agir ou falar diante de alguém que
“falava difícil”? Ou, então, costuma
dizer (ou pensar) que não sabe nada
de “português”? Que o português
é muito difícil?
Muitas pessoas, pelo menos, sim.
Por isso vamos a alguns esclarecimentos.
Você sabia que...
• falar difícil não signifi ca, obrigatoriamente, falar bem?
• uma linguagem “enrolada” pode ser usada de propósito para
confundir o outro?
• se não compreendemos bem uma determinada mensagem ou
informação, a comunicação foi inefi ciente?
• sabemos comunicar-nos, em geral, muito bem na nossa língua
nativa (no caso, a língua portuguesa)?
• em questões de falar ou escrever uma determinada língua,
não há, na realidade, acerto ou erro, mas registro diferente
ao fazer-se uso dela?
A N O T A Ç Õ E S - INVESTIGANDO CAMINHOS
Além disso, se não houvesse uma língua padrão, poderia haver o risco,
especialmente em um país extenso e culturalmente variado como o Bra-
sil, de acabarmos por não entender a fala de uma pessoa de uma região
diferente da nossa.
Informal (coloquial)
A N O T A Ç Õ E S - Formal
Gíria (funk)
Cerol na mão
Tigrão, BMG
Para facilitar a sua leitura, como você pode não dominar esse tipo
de gíria, apresentamos, de forma eufêmica (atenuada, não agressiva), o
significado de algumas expressões:
• tigrão: espécie de don Juan (o que “ganha” todas as meninas);
• eu vou passar cerol na mão: vou ficar poderoso;
• vou cortar você na mão: vou conquistar você;
• aparar pela rabiola: vou cercar (ou: depois que ele desestruturar
a mulher, vai conquistá-la).
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VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
Regional A N O T A Ç Õ E S -
A gota serena é assim, não é fixe*. Deixar, se transforma-se em
gancho e se degenera em outras mazelas*, de sorte que é se precatar*
contra mulheres de viagem. Primeiro preceito*. De Paulo Afonso
até lá, um esticão, ainda mais de noite nessas condições. Estrada
de carroça, peste. Temos Canindé de São Francisco e Monte Alegre
de Sergipe e Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora das Dores e
Siriri e Capela e outros mundãos, sei quantos. Propriá e Maruim, já
viu, poeiras e caminhãos algodoados, a secura fria. E sertão do brabo:
favelas e cansançãos*, tudo ardiloso*, que quipás* por baixo, um
inferno. Plantas e mulheres reimosas*, possibilitando chagas, bichos
de muita aleiva*, potós*, lacraias, piolhos de cobra, veja. Matei uns
três infelizes assim, pelo cima de uns quipás, sendo que um chegou
devagar no chão, receando os espinhos sem dúvida. Assunte* se quem
vai morrer se incomoda com o conforto.(...)
João Ubaldo Ribeiro, p. 9
DESAFIOS DO PERCURSO
Nessas duas frases do texto, que registro da língua está sendo usado:
o formal, o informal ou os dois? Justifique sua resposta e apresente ex-
pressões que a comprovem.
R.:
A N O T A Ç Õ E S -
8. Observe os quadrinhos a seguir, também com o personagem Calvin.
(Apud Abaurre, p. 10)
Sugestão:
Para que você possa fixar melhor os conteúdos deste capítulo, que tal
aproveitar estas ideias?
• Procure ouvir com atenção um português (que não esteja em
nosso país há muito tempo) e observe as diferenças entre a fala
dele e a nossa.
• Faça o mesmo com pessoas de regiões brasileiras diferentes da
sua.
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VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
AMPLIANDO O HORIZONTE
No Cinema e na TV
Terra estrangeira – filme luso-brasileiro, dirigido por Walter Salles
e Daniela Thomas.
Brasil, 1990. O plano econômico do governo Collor leva o país ao
caos econômico. Paco, um estudante paulista, com a morte da mãe,
assiste à falência de seus sonhos e decide deixar o país. Aceita, as-
sim, contrabandear um objeto para Lisboa (Portugal) e lá conhece
Alex, o amor e o perigo da morte.
Nesse filme você pode observar as diferenças da língua portuguesa
falada no Brasil e em Portugal.
Central do Brasil – filme brasileiro dirigido por Walter Salles. Dora
escreve cartas para analfabetos na estação da Central do Brasil (RJ),
entre os quais Ana, que está acompanhada por Josué, seu filho
de nove anos. Ao sair da estação, Ana morre atropelada e Josué
fica abandonado. Dora acaba por acolhê-lo e vai com ele para o
Nordeste em busca do pai do menino.
Nesse filme, você pode constatar as variedades regionais da língua
portuguesa.
Nas Livrarias
Sagarana – livro de contos regionalistas, escrito pelo mineiro
Guimarães Rosa e editado atualmente pela Nova Fronteira. Leia
qualquer um dos contos, ou todos, e, além de se deliciar com as
histórias, observe o registro regional da língua portuguesa. Verifique,
também, outras marcas do texto que indiquem o ambiente em que
a história acontece.
Um excelente conto, por exemplo, A hora e a vez de Augusto
Matraga: homem de maus bofes, Augusto sofre uma tentativa de
assassinato, mas, quase por milagre, escapa com vida. Regenera-
se, tornando-se um novo homem até que...
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LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - Nas Bancas
Procure ler uma mesma notícia em jornais de estilos diferentes, como
O Globo, Jornal do Brasil, A Folha de S. Paulo, O Dia e Extra
(ou outro). Compare o tipo de linguagem usada, observando que,
de acordo com o leitor a quem basicamente se destina, emprega-se
um registro mais formal ou mais informal.
Se houver possibilidade, leia as colunas sociais (geralmente a lin-
guagem é mais coloquial) de jornais do seu estado e de jornais de
outros estados e compare o vocabulário usado neles.
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEMÓRIAS DA VIAGEM
Moqueca
O QUE É LITERATURA?
• LITERATURA E COMUNICAÇÃO
• TEXTO EM VERSO – TEXTO EM PROSA
CAPítULO 4
O QUE É LITERATURA?
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
“A unidade da arte reside no fato de que, não importa se
com palavras, sons melódicos, cores ou massas, o artista cria
imagens que exprimem seu sentimento profundo do mundo.”
Pedro Manuel
INVESTIGANDO CAMINHOS
A N O T A Ç Õ E S - Por isso, existe uma enorme diferença entre uma notícia de jornal e
uma página de romance.
A literatura exige, da parte do escritor, sensibilidade, criatividade,
paciência, conhecimento e técnica.
É bom lembrarmos que a função poética da linguagem ocorre quando
a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, quer na
seleção e combinação das palavras, quer na estrutura da mensagem, com
as palavras carregadas de significação. (Consultar funções da linguagem,
no capítulo 2, deste volume)
Sobre isso, leia o comentário de Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta)
na crônica Notícia de Jornal:
Literatura e Comunicação
Como a literatura é a arte da palavra, e esta é a unidade básica da
língua, pode-se dizer que a literatura, assim como a língua que utiliza
essa literatura, é um instrumento de comunicação e, por isso, cumpre
também o papel social de transmitir os conhecimentos e a cultura de
uma comunidade.
71
O QUE É LITERATURA?
é:
Dessa forma podemos dizer que, no tocante a suas funções, a literatura A N O T A Ç Õ E S -
• instrumento de conhecimento do mundo (do passado, do pre-
sente, da mentalidade de uma época, de outras civilizações);
• instrumento de conhecimento do homem (do autor, quando
se trata da biografia dele autobiografia*; de nós mesmos, se
considerada como um reflexo de nossas atitudes; e do outro, se
vista como um reflexo da humanidade);
• instrumento de formação e desenvolvimento intelectual, moral,
ideológico e estético.
Denotação Conotação
Significação mais limitada da palavra. Significação mais ampla da palavra
Palavra usada no sentido comum Palavra utilizada no sentido
do dicionário, de modo objetivo. figurado, de modo subjetivo.
Texto 1
Texto 2 A N O T A Ç Õ E S -
É preciso fechar a torneira
Com a água cada vez mais escassa e cara, está na hora de começar
a economizar.
Aquele banho gostoso e demorado, de lavar a alma, pode ter seus
dias contados. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU),
se os altos padrões atuais de consumo de água não diminuírem, em
2025 dois terços da humanidade dificilmente terão acesso a uma água
100% saudável. À medida que a população do planeta cresce, o con-
sumo doméstico e industrial também aumenta. Mas a água é finita:
tem se tornado um recurso raro e, em breve, caro. Na contramão de
suas próprias necessidades, o homem vem poluindo rios e destruindo
nascentes por meio do desmatamentos e das queimadas.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), dos 3%
da água potável do mundo, o homem só tem acesso a 0,007%. Pior
é que nem isso pode ser totalmente usado: deve-se deixar intocada
uma quantidade suficiente para sustentar os ecossistemas* e suas bio-
diversidades*, gerar energia e manter espaços livres para navegação.
Preocupado, o governo federal está criando a Agência Nacional
de Águas (ANA), que terá a missão de estimular o uso racional do
líquido – conscientizando as pessoas para o seu valor –, defender as
bacias hidrográficas e cobrar as empresas pelo uso da água de rios.
A ordem é economizar. E será lembrada por manifestantes de todo o
mundo nas comemorações do Dia Mundial da Água, em 22 de março.
Alessandro Meiguins
Texto 3
PLANETA ÁGUA
Águas escuras dos rios que Água dos igarapés* onde Iara,
levam a fertilidade ao sertão. mãe d’água
74
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Texto em verso
A N O T A Ç Õ E S -
Leia em voz alta o poema anterior e procure ficar atento aos sons e ao
ritmo do texto.
Soneto da Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Vinícius de Moraes
Texto em prosa
Texto em prosa A N O T A Ç Õ E S -
É composto por frases, que formam parágrafos.
Texto em verso
Não há parágrafos e sim versos, que formam estrofes.
DESAFIOS DO PERCURSO
Texto 1
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
b) caminho
R.:
78
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Texto 2
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino.
Paulo Leminski
Texto 3
Poética
Que é a Poesia? com o suor do seu rosto.
uma ilha Um homem
cercada que tem fome
de palavras como qualquer outro
por todos homem.
os lados. Cassiano Ricardo
Que é o Poeta?
um homem
que trabalha o poema
Texto 1
POESIA DO TEMPO
O equívoco entre poesia e povo já é demasiadamente sabido para
que valha a pena insistir nele. Denunciemos antes o equívoco entre poe-
sia e poetas. A poesia não se “dá”, é hermética ou inumana, queixam-se
por aí. Ora, eu creio que os poetas poderiam demonstrar o contrário
ao público. De que maneira? Abandonando a idéia de que poesia é
evasão. E aceitando alegremente a idéia de que poesia é participação.
Carlos Drummond de Andrade
a) Texto em__________________________
80
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - Texto 2
NOVA POÉTICA
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Vai um sujeito,
É a vida.
Manuel Bandeira
b) Texto em__________________________
AMPLIANDO O HORIZONTE
A N O T A Ç Õ E S -
No Cinema ou na TV
Inocência – produção nacional com Fernanda Torres e Edson Celu-
lari. Direção de Walter Lima Junior. O filme é quase uma transcrição,
para a linguagem do cinema, do romance do mesmo nome, escrito
por Visconde de Taunay, no século XIX. Conta a história do amor
proibido entre Inocência e Cirilo, pois a moça já fora prometida
pelo pai a outro rapaz.
Nas Livrarias
Olhinhos de Gato – Cecília Meireles – uma autobiografia escrita
com uma musicalidade e poesia surpreendentes. A vida da autora
retratada como um diário de adolescente.
Nos CDs
Procure ouvir com atenção as músicas de alguns compositores,
tais como: Chico Buarque de Hollanda, Djavan, Dudu Nobre,
Caetano, Gilberto Gil, e observe como as letras, muitas vezes,
são verdadeiros poemas.
Nas Bancas
Busque, em jornais e revistas, notícias que exploram a linguagem
não literária, e crônicas utilizando a linguagem literária. Procure ler
esses textos com atenção, identificando as marcas de um e de outro.
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEMÓRIAS DA VIAGEM
A N O T A Ç Õ E S -
Para cada uma das questões, só haverá uma resposta correta, que você
deverá assinalar. Depois, confronte suas respostas com as do gabarito.
1. O tema central do texto é:
a) A história de um parto, esperado com tanta ansiedade que a
criança recebeu o nome de Mal Secreto.
b) A dificuldade dos homens em falarem de parto, já que este é um
assunto de que só as mulheres entendem.
c) A inveja do escritor por não poder parir um filho, como as mul-
heres, apesar do mal-estar que a situação provoca.
d) A comparação entre o processo de escrever e publicar um livro
e o parto de uma criança.
85
O QUE É LITERATURA?
d) “Que é a poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.”
Cassiano Ricardo
I. Poema do Jornal
II. Jovem que matou a mãe e esfaqueou o pai dentro de casa diz que está
arrependido e chora na prisão
• NOÇÃO DE FONEMA
CAPítULO 5
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
V ocê naturalmente já observou que a língua reflete um tempo, e,
a cada tempo, somos diferentes. Assim, toda língua é dinâmica: no-
vas palavras sempre estão sendo criadas, enquanto outras adquirem
novos significados e outras vão sendo abandonadas. A memória de
uma língua se faz pelo registro escrito, que tem como função mantê-
la viva, devidamente documentada, e, por extensão, as ideias que se
expressam nessa língua.
Ainda que a língua necessite desse registro escrito, os textos são
sonoros. Mesmo quando lidos em silêncio, o som das palavras ecoa
nos nossos ouvidos. E as letras, sinais gráficos, representam esses
sons/fonemas.
Para entender melhor essa diferença entre letra e fonema, leia a
história a seguir:
INVESTIGANDO CAMINHOS
E você, entendeu?
Pois bem, continue a leitura para fixar melhor essa diferença entre
letra e fonema.
Noção de Fonema
Observe o anúncio:
PEGUE, PAGUE E LEVE
Nas duas primeiras palavras, pegue e pague, temos um exemplo de
que a simples troca de um fonema: a troca do som /e/ pelo som /a/ gera
uma nova palavra: pegue transforma-se em pague.
Vamos ler o poema seguinte, em voz alta:
Serenata sintética
Rua
torta.
Lua
morta.
Tua
porta.
Cassiano Ricardo
Vogais
São sons que, formados pela vibração das cordas vocais, passam pela
cavidade bucal e/ou cavidade nasal e chegam ao meio exterior sem sofrer
nenhum tipo de interrupção em sua trajetória.
São vogais: a é ê i ó ô u
Exemplos: fez, gra - ú - do, lu - mi - no - sas
Observação: Toda sílaba sempre tem uma única vogal.
Observações:
1. A semivogal é sempre pronunciada um pouco mais fracamente
que a vogal.
2. Em determinadas palavras, também as letras e e o podem rep-
resentar semivogais.
Exemplos:
semivogal
A N O T A Ç Õ E S - Consoantes
São os sons que se produzem quando a corrente de ar, vinda dos pul-
mões, é momentaneamente interrompida pela língua, dentes ou lábios. As
consoantes são: b, c, d, f, g, etc.
Exemplo: lu - mi - no - sa po - é - ti - co
Todos esses sons – vogais, semivogais, consoantes – podem ser usados
como recurso para o trabalho de exploração expressiva da linguagem em
uma poesia, já que esta valoriza o que as palavras são e não apenas o que
elas significam.
Observe a sonoridade do texto a seguir:
No claro
Pablo pintava parede.
No escuro
Pablo pichava muro.
Aliteração
Esse recurso consiste na repetição de sons consonantais idênticos ou
aproximados, para sugerir o som produzido por algum ser ou objeto.
Observe os versos que seguem:
acho
que a chu -
va aju -
da a gente a se ver.
Caetano Veloso
Rima
A rima é um recurso musical baseado na semelhança sonora das pa-
lavras no final dos versos, e, às vezes, no interior deles (rima interna).
Considera-se a rima a partir da vogal tônica da palavra.
Observe como Ferreira Gullar explora a rima no final dos versos:
A N O T A Ç Õ E S - Eco
Esse recurso consiste na repetição, em sequência, de um determinado
som no final de palavras próximas.
Um bom exemplo desse recurso é o verso do poeta português Eugênio
de Castro:
Na messe, que enlourece, estremece a quermesse.
Assonância
É o nome que se dá à repetição da mesma vogal ao longo de um verso
ou poema.
Observe como Mário Quintana consegue fazer o som do pingo da
chuva, no poema abaixo, com a repetição das vogais:
Canção da garoa
Em cima do meu telhado O retrato na parede
Pirulim lulin lulin Fica olhando para mim.
Um anjo, todo molhado, E chove sem saber por
que...
Soluça no seu flautim.
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
O relógio vai bater:
Pirulin lulin lulin...
As molas rangem sem fim.
Por quê?
97
RECURSOS SONOROS E SEMÂNTICOS EXPLORADOS NO TEXTO LITERÁRIO
Mário Quintana
Comparação
A comparação é um recurso bastante parecido com a metáfora: só que
se utiliza da relação estabelecida entre a palavra e aquilo que se pretende
designar, comparando de forma clara.
Observe:
Aquela criança tem a pele macia como seda.
Compara-se a pele à seda, para indicar uma pele macia, agradável ao
tato.
Metonímia
Ocorre quando uma palavra é usada para designar alguma coisa com
a qual mantém uma relação de proximidade.
98
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Personificação
Esse recurso também é chamado de prosopopeia e consiste em atribuir
características de seres animados a seres inanimados, ou seja, característi-
cas humanas a seres não humanos.
Cidadezinha qualquer
DESAFIOS DO PERCURSO
A N O T A Ç Õ E S -
Este espaço é reservado para você aplicar os conhecimentos adquiridos
aqui.
Caso sinta dificuldade em resolver alguma questão, releia o capítulo.
Texto 1
Segredo
Andorinha no fio
escutou um segredo.
Foi à torre da igreja,
cochichou com o sino.
Texto 2
Canto livre
Quando a gente solta uma Pois a palavra é
palavra
É como um cometa
Ela cria asa e voa
Que passa riscando o céu
Quando a gente solta uma
Do coração
canção
Só uma diferença existe
Ela cria asa e voa.
Quando a gente os fita.
E voa além dos sentidos
É que o cometa
E voa além das vontades
Passa ligeiro
E voa levando verdades
Mas a palavra fica.
De todos nós.
Fernando Filizola
100
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Texto 3
A onda
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda
Manuel Bandeira
R.: A N O T A Ç Õ E S -
b) Destaque do poema exemplos de assonância.
R.:
c) Além dos sons, o poeta arrumou visualmente as palavras. Qual
o “desenho” que o poema sugere?
R.:
d) Na sua opinião, o que o texto transmite ao leitor?
R.:
Texto 4
E, no pátio, um turbilhão de asas e bicos remexiam-se e se em-
baralhavam, rodeando uma mulher, que jogava os últimos punhados
de milho.
Texto 5
Cartaz
E pregada no dia branco a paisagem colonial
grita violentamente
Guilherme de Almeida
A N O T A Ç Õ E S - Texto 6 Pignatari
Décio
Texto 7
solo sombra
um
movi sol sombra
mento só sombra
compondo sombra só
além
da sombra sol
nuvem sombra solo
um
Décio Pignatari
campo
de
combate
mira
gem
ira
de
um
horizonte
puro
num
mo
mento
vivo
AMPLIANDO O HORIZONTE
A N O T A Ç Õ E S -
R.:
No Cinema e na TV
O carteiro e o poeta – direção de Michael Radford. Produção
italiana.
Um filme que fala do amor e da aceitação. Conta da amizade que
surge entre um carteiro e o poeta Pablo Neruda.
Nesse filme pode-se apreciar e entender o uso da metáfora, assim
como outros recursos utilizados na criação de um texto literário.
Nas Livrarias
Ou isto ou aquilo – um livro em que Cecília Meireles se utiliza
muito dos recursos sonoros para compor seus poemas.
Nos CDs
Caetano Veloso – tem um repertório bastante interessante, utili-
zando alguns recursos sonoros nas letras de suas músicas.
Tomemos como exemplo:
Chuva, suor e cerveja.
O Haiti não é aqui.
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEMÓRIAS DA VIAGEM
Texto 1
O longo som
do rio
frio.
O frio
bom
do longo rio.
Tão longe,
105
RECURSOS SONOROS E SEMÂNTICOS EXPLORADOS NO TEXTO LITERÁRIO
Texto 2
A N O T A Ç Õ E S - Texto 3
Vinícius de Moraes
Texto 4
Fernando Pessoa
Texto 5
Ferreira Gullar
Texto 6 A N O T A Ç Õ E S -
Um poema luminoso como o mar,
Aberto em sorrisos, onde as velas
Fogem como garças longínquas* no ar.
Manuel Bandeira
Texto 7
Chico Buarque
• OS GÊNEROS LITERÁRIOS
• ACENTUAÇÃO GRÁFICA
CAPítULO 6
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
J á vimos que o texto literário apresenta dois planos essenciais: o
plano da forma e o plano do conteúdo.
No plano da forma, temos os aspectos que envolvem a construção
do texto, que pode apresentar-se sob a forma de versos ou em prosa.
No plano do conteúdo temos as ideias, ou seja, o significado do
texto e suas relações com o mundo.
É neste plano que identificamos a poesia, presente com mais
frequência nos textos em verso, mas podendo aparecer também em
textos em prosa.
A N O T A Ç Õ E S - INVESTIGANDO CAMINHOS
CANÇÃO
Pus o meu sonho no navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para meu sonho naufragar.
Nessa crônica, o poeta usa recursos especiais que nos despertam para
a sensibilidade do tema: uma declaração de amor do poeta ao filho Pedro.
Portanto, nesse texto, a poesia está contida na prosa.
Os gêneros literários
Entende-se por gênero literário o conjunto de características que per-
mitem classificar uma obra literária em determinada categoria.
Conforme as características predominantes no seu conteúdo, o texto
pode ser classificado em: lírico, narrativo e dramático.
Neste capítulo, vamos conhecer um pouco de cada um deles.
115
O TEXTO LITERÁRIO E SEU CONTEÚDO
Gênero lírico A N O T A Ç Õ E S -
A palavra lírico deriva de lira, instrumento musical de cordas, usado
pelos antigos gregos, alguns séculos antes de Cristo. Naquela época, dava-
se o nome de lírica à canção entoada ao som da lira.
Essa união entre os versos e a música fez com que o ritmo fosse a
característica marcante da obra lírica. Ao longo do tempo, outros instru-
mentos foram sendo usados no acompanhamento das canções líricas, tais
como a flauta e o alaúde*.
Por volta do século XV, o texto lírico começou a ser feito também para
ser apenas lido, dispensando o acompanhamento musical. A musicali-
dade dos versos passou a ser elaborada no interior da própria linguagem,
explorando-se cada vez mais o ritmo e a sonoridade das palavras.
No texto lírico, além dos recursos sonoros, predomina a expressão do
eu, dos sentimentos pessoais. Daí os temas líricos mais frequentes serem
o amor, a saudade, a solidão e a morte.
O gênero lírico é próprio da poesia, que, conforme vimos no início
deste capítulo, é ritmo, é sonoridade, é graça e atrativo.
Embora esse gênero se manifeste quase sempre na forma de versos
- o poema - há também, lirismo em textos em prosa: é a chamada prosa-
poética.
Para melhor compreensão do gênero lírico, faça uma releitura dos
textos: Canção e Pedro, meu filho, no início deste capítulo.
Compare-os e procure perceber o lirismo em cada um deles.
Discuta com seus colegas sobre os textos deste capítulo e, mais que
isso, sobre o lirismo encontrado em algumas letras da música popular
brasileira. Procure registrar essa conversa.
Gênero dramático
O que sugere a você a palavra drama?
Quando ouvimos a palavra drama, imediatamente nos remetemos a uma
situação problemática. Por exemplo, na frase – Celso está vivendo uma
situação dramática, com a perda do emprego –, entendemos que Celso
está passando por grandes dificuldades.
Em Literatura, porém, a palavra drama tem o sentido de choque ou
conflito entre os personagens.
Drama vem do grego drama, que significa ação.
É justamente a ação que caracteriza o gênero dramático - o fato de se
apresentar a encenação de um texto.
Nesse gênero, não há narrador conduzindo a história; são os atores que
116
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Gênero narrativo
Neste gênero, alguém conta uma história na qual há personagens ex-
ecutando ações, num determinado espaço físico, durante um certo tempo,
isto é, narra acontecimentos, cujos fatos, encadeados, formam-lhe o enredo
da narrativa.
O texto narrativo pode ser escrito em verso ou em prosa. Em verso,
chama-se epopeia, que será estudada no capítulo 9, deste volume. Em
prosa: o conto, a crônica, o romance e a novela, que serão estudados no
capítulo 12.
117
O TEXTO LITERÁRIO E SEU CONTEÚDO
Acentuação gráfica
A utilização do acento gráfico (agudo ou circunflexo) obedece a algu-
mas regras que veremos a seguir.
1. Monossílabos tônicos
Acentuam-se os monossílabos tônicos terminados em: a(s), e(s), o(s).
Por exemplo: já, vás; é, pés; só, pôs.
2. Oxítonos
Acentuam-se as palavras oxítonas terminadas em a(s), e(s), o(s),
em, ens.
Por exemplo: cajá, atrás; você(s); avô, após; ninguém, parabéns; achá-
lo, escondê-la, repô-los, detém-na.
3. Paroxítonas
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
l : fácil, desagradável
i (s) : júri, táxi, lápis
n : pólen
us, um, uns : Vênus, fórum fóruns
r : açúcar, éter
x : tórax
ã (s) : órfã, órfãs
ão (s) : órgão, órgãos
ps : bíceps, fórceps
on (s) : próton, prótons
ditongo oral, seguido ou não de s : comércio, histórias
119
O TEXTO LITERÁRIO E SEU CONTEÚDO
4. Proparoxítonas A N O T A Ç Õ E S -
Todas as palavras proparoxítonas são acentuadas.
Por exemplo: gênero, lírico, translúcido, incômodo, antipático.
DESAFIOS DO PERCURSO
Texto 1
MOTIVO
Se desmorono* ou se edifico*.
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Cecília Meireles
R.:
120
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - Texto 2
Chiquinha, involuntariamente: Será possível?!
Faustino: Mais que possível, possibilíssimo!
Chiquinha: Oh! Está me enganando... E o seu amor por Maricota?
Faustino, declamando: Maricota trouxe o inferno para minha alma,
se é que não levou a minha alma para o inferno! O meu amor por ela
foi-se, voou, extingüiu-se como um foguete de lágrimas!
Chiquinha: Seria crueldade se zombasse de mim! De mim que
ocultava a todos o meu segredo.
Faustino: Zombar de ti! Seria mais fácil zombar do meu ministro!
Martins Pena, trecho de Judas em sábado de aleluia
R.:
Texto 3
Publicada em 1572, a obra Os Lusíadas retrata a visão do mundo
e dos homens própria do Classicismo. É, também, uma reportagem de
um dos momentos mais significativos da história de Portugal.
O poema tem como núcleo narrativo a viagem de Vasco da Gama
às Índias; entretanto, o herói não é um indivíduo em particular, mas
o povo português.
Os Lusíadas
As armas* e os barões* assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passarem ainda além da Taprobana*,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino*, que tanto sublimaram*;
R.: A N O T A Ç Õ E S -
2 Em que gênero literário você classificaria o cinema e as novelas de
televisão? Por quê?
R.:
R.:
Dom Quixote
A intenção de Cervantes, ao escrever o Dom Quixote, era satirizar*
a novela de cavalaria, que tinha sido muito popular na Europa e em
sua epoca enfrentava a decadencia. Mas acabou retratando o perfil do
homem dividido entre a fantasia e a realidade. Dom Quixote, fidalgo
ingenuo e atraído pela historia dos grandes cavaleiros medievais, sai
pelo mundo como um deles, numa epoca em que isso ja não existia
mais. Nos seus delirios, luta contra moinhos de vento achando que são
gigantes cruéis. Beija a mão de uma guardadora de porcos pensando
que é a sua amada Dulcinéia. Sancho Pança, seu fiel escudeiro* admira
122
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - o amo sem entende-lo. Tem os pes na terra e uma visão pratica das coi-
sas, mas e fascinado pela sua loucura. Duas figuras cheias de bondade
e pureza, num mundo onde não ha lugar para a bondade e a pureza.
José Angeli
R.
AMPLIANDO O HORIZONTE
No Cinema e na TV
Eles não usam black-tie - dirigido por Lean Hirszman, produção
brasileira. Adaptação da peça de mesmo nome, de Gian Francesco
Guarnieri.
Dirigente sindical entra em conflito com o filho que se recusa a
participar de uma greve. (1966)
Morte e Vida Severina / Quincas Berro D’Água - direção de
Walter Avancini. Numa só fita, dois especiais produzidos pela Rede
Globo. O primeiro é uma adaptação do Auto de Natal pernambu-
cano, do poeta João Cabral de Melo Neto; o segundo, da novela de
Jorge Amado, A morte e a morte de Quincas Berro D’Água. (1982)
123
O TEXTO LITERÁRIO E SEU CONTEÚDO
Nas Livrarias
Ópera do malandro - texto da peça escrita por Chico Buarque de
Hollanda, publicado pelo Círculo do Livro. A história acontece no
Rio de Janeiro, envolvendo alguns malandros e um dono de cabaré,
cuja filha se apaixona e se casa com um malandro.
Cidade Partida - é um relato de Zuenir Ventura sobre o que acon-
tece no Rio de Janeiro, na favela de Vigário Geral, ao mesmo tempo
em que ele acompanha ativamente a mobilização da sociedade
contra a violência. Publicado pela Companhia das Letras, em 1994.
Dez anos no mar - diário de uma aventura, escrito pela família
Schurman, editado pela Record. As aventuras emocionantes de uma
família, pelos mares do mundo.
Nas Bancas
Procure, em textos de jornais e revistas, palavras que recebem
acento gráfico e tente justificar o uso desses acentos.
Nos CDs
O gênero lírico está presente em muitas composições da música
popular brasileira, seguem algumas sugestões:
O melhor de Milton Nascimento - seleção de músicas do autor,
em CD da PolyGram.
Chico Buarque - 20 músicas do século XX - excelente CD, em
que podemos ouvir algumas das melhores músicas do autor.
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFONSO, Carlos Alberto. ABC de Vinícius de Moraes. Rio de
Janeiro: Novo Quadro, 1991.
ANGELI, José. Dom Quixote. In. DE NICOLA, José. Língua, litera-
tura e redação. São Paulo: Scipione, 1998. V.1.
CAMÕES, Luiz Vaz de. Os Lusíadas. In. MAIA, João Domingues.
Português. São Paulo: Ática, 2000. (Novo Ensino Médio)
CINTRA, Lindley , CUNHA, Celso Ferreira da. Nova gramática
do português contemporâneo. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI:
o dicionário da língua portuguesa. 3.ed. rev. ampl. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
HOLLANDA, Chico Buarque de. Construção. In. Chico Buarque -
20 músicas do século XX. CD Poly Gram. f. 17. in. Chico em Cy.
CD. Digital áudio. f. 6.
MEIRELES, Cecília. Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1974.
MORAES, Vinícius de. Pedro meu filho Poesia e prosa.
apud:CEREJA, Roberto William, MAGALHÃES, Thereza Cochar.
Português: linguagens. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Atual,
1994.
TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira. 5. ed. rev.
ampl. São Paulo: Moderna, 1955.
KLINK, Amyr. Mar sem fim. Rio de Janeiro: Companhia das Letras,
2000.
125
O TEXTO LITERÁRIO E SEU CONTEÚDO
A N O T A Ç Õ E S -
MEMÓRIAS DA VIAGEM
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
“Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague...”
Nessa estrofe o ritmo de ação que marca a luta pela sobrevivência, está
sendo dado pelo uso, no meio e no final dos versos, de palavras:
a) paroxítonas;
b) monossílabas;
c) oxítonas;
d) proparoxítonas.
A N O T A Ç Õ E S -
CAPítULO 7
• A ÉPOCA MEDIEVAL
• ACENTUAÇÃO GRÁFICA
CAPítULO 7
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
L uísa, em uma manhã, resolveu distrair-se olhando um antigo álbum
de fotografias da família.
– Mamãe, essa é você?! Que roupa engraçada!
– E o papai? Olha só o ca-
belo dele! Como vocês
tinham coragem de se
vestir assim?
– Deixa eu ver, falou Jai-
me, seu irmão, curioso
com os comentários de
Luísa.
– Cruz credo! Cada cara!
– O tio Antônio, então... Que roupa mais esquisita!
Provavelmente, daqui a alguns anos, os filhos e netos dos persona-
gens desse diálogo terão reações semelhantes ao verem as fotografias
dos pais ou avós.
Luísa e Antônio não se deram conta de que aquilo que, hoje, parece-
nos estranho, poderia ter sido considerado como muito bonito ou
interessante em uma outra época, ou seja, o gosto varia de época para
época: assim, é preciso, que entendamos isso para melhor podermos
apreciar a herança dos nossos antepassados. Essa variação de gosto,
inclusive, ocorre dentro de uma mesma geração, como você facilmente
pode constatar, pela simples observação das pessoas ao seu redor.
Neste capítulo, vamos estudar este assunto: o estilo individual e
o estilo de época. Vamos, também, começar o estudo sobre a Época
Medieval, situando o seu contexto histórico e apresentando as suas
principais manifestações no campo da Arte. E, concluindo, encerrare-
mos o estudo sobre acentuação gráfica, iniciado no capítulo anterior.
132
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - INVESTIGANDO CAMINHOS
Texto 1
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Texto 2 A N O T A Ç Õ E S -
Hei de dar-lhe a realeza
Todos cantam sua terra,
Nesse trono de beleza
Também vou cantar a
minha, Em que a mão da natureza
Nas débeis* cordas da lira Esmerou-se* em quanto
tinha.
Hei de fazê-la rainha.
Casimiro de Abreu. Minha
Terra, p. 31
Estilos de época
Período Estilo
IX a.C – V Antiguidade Clássica (Grécia e Roma)
V – XV Medievalismo
XVI Classicismo (Renascimento)
XVII Barroco
XVIII Arcadismo
XIX Romantismo, Realismo, Parnasianismo, Simbolismo
XX Modernismo
XXI Pós-Modernismo
Época Medieval
Você já deve ter estudado, em História, a herança cultural que os anti-
gos gregos e romanos deixaram para a humanidade. Também já deve ter
estudado a Idade Média. Como, para compreendermos melhor um estilo
de época, é importante que conheçamos em que meio e condições ele foi
produzido, seus estudos de História serão muito úteis para o estudo de
Literatura.
Contexto histórico
Vamos lá! Recordemos alguns aspectos da Época Medieval. No final,
compare esse período com os tempos atuais e observe as diferenças entre
os dois. Observe também as semelhanças. Será que há alguma? Pode ser...
Organização social
A estrutura da sociedade europeia nos séculos XI e XII (Alta Idade
Média) caracterizava-se por sua organização em três camadas sociais
135
ESTILO INDIVIDUAL E ESTILO DE ÉPOCA
Atividade econômica
Na Alta Idade Média, a atividade
econômica era fundamentalmente a
agricultura de subsistência. Com a
descoberta de novas técnicas agríco-
las (durante a Baixa Idade Média),
acabou ocorrendo um excesso de produção, que, por sua vez, possibilitou
o comércio, fortalecido, mais tarde, pelas Cruzadas.
Religião
O cristianismo era a religião predominante na Europa e cabia à Igreja o
papel de divulgá-lo no mundo, por meio da conversão dos povos bárbaros.
Também competia a ela a tarefa de manter a cultura, pois, em princípio,
só aos religiosos era possível o acesso à leitura
e à escrita. A Igreja, assim, era responsável tanto
pela vida religiosa quanto cultural das pessoas.
Manifestações artísticas
De um modo geral, toda Arte da época vai
caracterizar-se pela visão teocêntrica do mundo.
Portanto, a sua principal marca é a religiosidade
cristã, com exceção de parte da produção literária, conforme você poderá
observar no próximo capítulo.
136
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Acentuação gráfica
Usa-se acento agudo nos ditongos éi-, ói-, éu-, abertos e tônicos,
seguidos ou não de s.
Exemplos:
• fiéis de animais
• Nosso céu
• O vassalo apóia o senhor feudal
Ditongo A N O T A Ç Õ E S -
É o encontro, dentro da sílaba, de uma vogal e de uma semivogal.
Exemplos:
• feudal (feu-dal)
• barão (ba-rão)
• aguado (a-gua-do)
• anéis (a-néis)
Exemplos:
• Os guerreiros constituíam uma classe formada por indivíduos...
(u-í)
• Luís XV foi um senhor feudal? (u-ís)
• A realeza saúda o rei. (a-ú)
• O rei Saul não viveu na época medieval. (a-ul)
• O senhor feudal era juiz dentro de seus domínios. (u-iz)
Hiato
É o encontro, dentro da palavra, de duas vogais, ficando cada uma em
uma sílaba. Exemplos
• juiz (ju-iz)
• cooperar (co-o-pe-rar)
• juízes (ju-í-zes)
• constituíam (cons-ti-tu-í-am)
Exemplos:
• Eu o corôo em nome de Deus. (co-rô-o)
• O vôo do corvo era um aviso de acontecimentos ruins. (vô-o)
A N O T A Ç Õ E S - Exemplos:
• O servo tem muitas obrigações. (singular)
• Os servos têm muitas obrigações. (plural)
O trema é usado no u dos grupos gue, gui, que, qui, quando ele é
pronunciado e átono (o u é semivogal).
A N O T A Ç Õ E S -
Exemplos: agüentei, argüição, seqüela, tranqüilo.
Atenção – Nos grupos gue, gui, que, qui:
• se o u for pronunciado e tônico, ele receberá acento agudo
(o u é vogal).
A N O T A Ç Õ E S - • ele argúi
• nós argüimos
• vós argüis
• eles argúem
DESAFIOS DO PERCURSO
Texto 1
Tem tantas belezas tantas
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta,
E nem as canta um mortal!
– É uma terra encantada,
– Mimoso jardim de fada –
Do mundo todo invejada,
Que o mundo não tem igual (...)
Texto 2
Minha terra tem macieiras da Califórnia
Onde cantam gaturamos* de Veneza,
Os poetas da minha terra
São poetas que vivem em torre de ametista,
Os sargentos do exército são monistas, cubistas*,
Os filósofos são polacos vendendo a prestações.
Murilo Mendes. p. 31
Senhor
Teos
Feudal
Teocentrismo Feudalismo
A N O T A Ç Õ E S - No Cinema e na TV
O nome da rosa - filme dirigido por Jean Jacques Annaud. Com
Sean Connery, Christian Slater, F. Murray Abraham, ambientado na
Idade Média, dentro de um convento.
Excalibur - filme dirigido por John Boorman. Com Nigel Terry, Helen
Mirren, Nicol Williamson. Bem-sucedida adaptação da narrativa
medieval britânica sobre o rei Artur, Lancelote e os cavaleiros da
Távola Redonda.
Nas Livrarias
Ivanhoé - romance de Walter Scott, recontado por Estella Leonar-
dos, publicado pelas Edições de Ouro. Ambientado na Idade Média,
a ação ocorre no século XIII, relata uma história em que realidade
e fantasia se misturam: o cavaleiro Ivanhoé sente por Lady Rowena
uma grande paixão proibida, sendo correspondido pela donzela.
Cavalaria, mitos e lendas - texto de Claude Calherina Rogache,
traduzido por Ana Maria Machado e editado pela Ática. É uma co-
letânea de histórias, envolvendo personagens reais e imaginários
que teriam vivido na Época Medieval, entre os quais o rei Arthur, o
imperador Carlos Magno e o mago Merlin.
AMPLIANDO O HORIZONTE
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A N O T A Ç Õ E S -
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI:
o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. rev. ampl. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
MENDES, Murilo. O menino experimental. São Paulo: Summus,
1979.
TAUNAY, Visconde de. Inocência. 19. ed. São Paulo: Ática, 1991.
MEMÓRIAS DA VIAGEM
As questões de 1 a 5 referem-se ao texto apresentado logo a seguir. Para
cada uma delas, foram propostas quatro opções de resposta, mas apenas
uma é correta: marque-a.
1. O tema do texto é:
a) A discussão histórica de uma determinada sociedade.
b) A preocupação de certas pessoas em imitar a maneira de ser do
grupo a que pertencem.
c) A comparação entre os grupos sociais (verticais e horizontais) e
as características de uma época.
d) A discussão sobre o que seja um estilo de época.
Texto 1
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era
talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais
voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre
as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor
sobredoura* a realidade e fecha os olhos às sardas e às espinhas, mas
também não digo que lhe maculasse* o rosto nenhuma sarda ou es-
pinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele
feitiço, precário* e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo para
os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara,
faceira*, ignorante, pueril*, cheia de uns ímpetos misteriosos, muita
preguiça e alguma devoção - devoção, ou talvez medo, creio que medo.
Machado de Assis, p. 151-152
Texto 2
O talhe esbelto da moça desenhava-se através da nívea* transparên-
cia de um lindo vestido de tarlatana* com laivos* escarlates*. Coroava-
lhe a fronte o diadema de suas belas tranças, donde resvalavam dois
cachos soberbos, que brincavam sobre o colo. (...)
Não foi, porém, o nobre perfil da moça, nem os contornos macios
de suas formas gentis, o que arrebatou o espírito do mancebo*. Ele só
viu a luz, o brilho d’alma rorejando* do sorriso. Contemplou a rosa,
embebia-se nela, sem contar-lhe as pétalas.
José de Alencar, p.30-31
149
ESTILO INDIVIDUAL E ESTILO DE ÉPOCA
Texto 3 A N O T A Ç Õ E S -
Caía, então, luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte
do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da
nuca. Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência
de beleza deslumbrante. Do seu rosto irradiava singela expressão de
encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que,
o custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar*-lhe as pálpe-
bras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces.
Visconde de Taunay, p.34
• TROVADORISMO: AS CANTIGAS
• AS NOVELAS DE CAVALARIA
CAPítULO 8
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
1º trovador:
– Lourenço jogral, ás mui gram sabor
de citolares ar queres contar
dês i ar fi lhas-te Log’a trobar,
e té est’ora já por trobador.
E por tod’ esto u a rem ti direi:
Deus me cofonda se aj’eu i sei
destes mesteres qual fazes melhor.
2º trovador:
– Joam Garcia, soo sabedor
de meus mesteres sempre deantar,
e vós andades por mi os desloar,
pero nom sodes tam desloador
que com verdade possades dizer
que meus mesteres nom sei bem fazer.
Mais vós nom sodes i conhecedor.
154
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - 1º Repentista (Francalino):
Eu não quero lhe trair,
Vou fazer explicação:
Tu, como és cego de todo,
Já vem com malcriação,
Quem faz do cachorro gente
Fica com rabo na mão.
2º repentista (Ader-
aldo):
Senhor José, eu sou destes
Que canta sem ofender,
Se acaso sou atacado
Sei também me defender.
Burro só é quem não sabe
Ou não quer compreender.
INVESTIGANDO CAMINHOS
Você sabia?
Até hoje existe, no Brasil, um tipo de literatura de forte influência me-
dieval. É a chamada literatura de cordel, muito popular especialmente no
Nordeste. Veja, como exemplo, a cantoria dos repentistas que se encontra
na página 160.
Trovadorismo: As Cantigas
Você poderia pensar:
Se o nosso curso é de Literatura Brasileira, por que estamos estudando
a Literatura de Portugal?
Uma das razões é que a formação da Literatura brasileira se encontra na
Literatura Portuguesa da Época Medieval. Por isso, antes de estudarmos a
nossa Literatura, é importante conhecermos as suas raízes.
O texto literário mais antigo de que se tem documento, em Língua Por-
tuguesa, é a Cantiga da Ribeirinha ou da Guarvaia, em galego-português,
escrito em 1189 ou 1198, por Paio Soares de Taveirós para Maria Paes
Ribeiro, a Ribeirinha, amante do Rei de Portugal, Sancho I.
156
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S -
Cantiga de amigo
• Eu lírico feminino: a fala é de uma mulher, embora o compositor
seja um homem (é a única modalidade em que isso ocorre).
• Tema: variado, mas tratava, principalmente, do lamento de uma
jovem, cujo amigo (namorado, amante) partira.
• Ambientação: ambientes populares (no campo ou na cidade).
• Personagens: pessoas do povo.
• Estrutura simples: muitas repetições, presença de paralelismo
(versos que apresentam elementos iguais ou semelhantes); forte
musicalidade.
Cantiga de amor
• Eu lírico masculino
• Tema: o amor cortês (amor impossível); a vassalagem* amorosa
(o homem mostra-se submisso à mulher); a coita* de amor (so-
frimento de amor).
• Ambientação: a corte (os palácios da nobreza).
• Personagens: pessoas da nobreza, geralmente.
• Estrutura elaborada: poucas repetições, ausência de paralelismo.
158
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Cantiga de escárnio
• Eu lírico masculino.
• Crítica indireta: o cantador, geralmente, não revela o nome da
pessoa a quem a sátira é endereçada.
• Linguagem trabalhada: cheia de ambiguidades (duplo sentido).
• Presença de ironia.
Cantiga de maldizer
• Eu lírico masculino
• Crítica direta: geralmente se identifica a pessoa que é alvo da
crítica.
• Linguagem agressiva, direta e, frequentemente, obscena.
• Presença de zombaria.
que nunca diria de mal bem. pela forma como ele canta.
Nas duas cantigas, o tom crítico está presente. Na primeira delas, porém,
o trovador não diz diretamente que o jantar oferecido por determinado
fidalgo (não identificado) é ruim: ele afirma apenas que, no ano anterior,
fizera uma promessa de nunca mais mentir. Assim sendo, ele não poderia
fazer elogios ao jantar que o nobre oferecera e para o qual fora convidado.
Já na segunda cantiga, Martim Soares, o trovador, afirma diretamente
que Lopo, o jogral (cantor e tocador ambulante, geralmente de origem
plebeia), não sabe cantar e o castigo que recebeu do fidalgo por isso (“três
golpes na garganta”) até que foi suave.
As cantigas satíricas, pelo uso intencional de jogos de palavras e am-
biguidades, contribuíram para o aprimoramento da linguagem literária.
Além disso, são consideradas excelentes fontes de pesquisa sobre os
costumes da sociedade da época.
As Novelas de Cavalaria
Entre os séculos XII e XV, surgiram, em Portugal, as novelas de
cavalaria. Eram narrativas em que se relatavam os costumes e os feitos
dos cavaleiros medievais. De um modo geral, falavam sobre as fantásticas
aventuras de personagens reais ou inventados (fictícios). Um desses per-
sonagens é o rei Arthur com os cavaleiros da Távola Redonda. Um outro
é o imperador francês Carlos Magno com seus doze pares.
160
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Literatura de cordel
No Brasil, em especial no Nordeste, existe um tipo de literatura popular,
feita por pessoas simples e dirigida a pessoas também simples, conhecida
como literatura de cordel, estruturada em versos e publicada em folhetos,
que ficam expostos nas praças, pendurados em uma corda fina (cordel).
Esses versos (cantados em feiras ou festas) têm assunto variado, indo
de fatos bastante recentes a fatos bastante antigos, como os relatos sobre
Carlos Magno e os doze pares da França, ou outras histórias do início de
várias literaturas europeias.
A origem da literatura de cordel está nos cantadores medievais: da
mesma forma que estes iam, de castelo em castelo, levar a sua arte, os
cantadores nordestinos vão de feira em feira, seguindo os ciclos das festas
religiosas. Ora cantam sós, ora em duplas. Neste último caso, um can-
tador (repentista), por meio de versos improvisados (repentes) sobre um
determinado tema (mote), desafia um outro cantador. Segue-se um duelo
entre eles, no qual cada um quer mostrar a sua superioridade sobre o outro.
É muito comum, também, encontrarmos esses cantadores nas praias,
praças e bares do Nordeste, fazendo versos de improviso sobre as pes-
soas que lá se encontram. No final de cada apresentação, eles “passam
um chapéu” para arrecadar dinheiro.
Esses versos, muito criativos, são acompanhados por um bom som
de viola.
No Rio de Janeiro, é possível encontrá-los, aos domingos, na Feira de
São Cristóvão – um pedaço do Nordeste em pleno Sudeste.
Vários compositores da MPB escreveram (e ainda escrevem) à maneira
das cantigas de amigo, com o eu lírico feminino. Por exemplo:
• Paulo Vanzolini - em Ronda.
• Chico Buarque de Hollanda - em Com açúcar e com afeto;
Atrás da porta; Tatuagem; Olhos nos olhos.
DESAFIOS DO PERCURSO
Texto 1 Texto 2
Ai flores, ai flores do verde A dona que eu sirvo e que
pinho, se por acaso sabeis muito adoro mostrai-ma*, ai
novidades do meu amigo? Deus! pois que vos imploro,
Ai... Ai, Deus, onde está ele? senão, dai-me a morte.
Agora responda:
a) Qual foi o mote proposto pelo cego Aderaldo?
R.:
Atrás da porta
A N O T A Ç Õ E S - AMPLIANDO O HORIZONTE
No Cinema e na TV
Em nome de Deus - filme inglês dirigido por Clive Donner. Paris. Ép-
oca Medieval. Uma das grandes histórias de amor da humanidade,
vivida por dois jovens: Abelard e Heloise. Abelard ensina Filosofia
nas escolas que pertencem a uma catedral (igreja). Seus alunos,
por quem é adorado, vêm de todas as partes da Europa. Abelard,
indo a Paris, hospeda-se, a conselho do bispo, em casa de Fulbert,
protetor e tio de Heloise, bela jovem, dotada de cultura invulgar
para uma mulher da época. Os dois acabam se apaixonando, mas
é um amor impossível.
Lancelot - filme americano, dirigido por Jerry Zucker. A história
se passa em Camelot, reino do Rei Arthur, que está prestes a ser
invadido. Lancelot, um dos cavaleiros da Távola Redonda, ajuda a
salvá-lo. É uma história de aventura, traição e amor.
Nas Bancas
Procure ler, em jornais, quadrinhos sobre Hagar, o horrível, de
Chico Browe, ambientado na Idade Média. Hagar é um viking,
casado com Helga, que sempre está a lhe pedir “umas coisinhas”
de Paris, cidade que o marido insiste em saquear.
Nos CDs
Se for possível, ouça em vinil Elomar Figueira, compositor, arquiteto
e criador de bodes em Rio Gavião, Vitória da Conquista, cidade do
interior da Bahia. Ele é autor de belíssimas canções que apresentam
características das cantigas medievais. Entre elas está O auto do
catingueira (gravadora e editora Rio Gavião - Caixa Postal 165):
trata-se da história de Dassanta, bela cabocla sertaneja, que des-
perta a paixão de dois homens. Narrada por meio de cantorias, na
tradição do cordel, inclui desafios, à maneira medieval.
Chico Buarque de Hollanda, Roberto Carlos, Gonzaguinha,
Juca Chaves. Procure ouvi-los e identificar em suas músicas a
influência das cantigas medievais.
GLOSSÁRIO
Ca – porque. A N O T A Ç Õ E S -
Caracará – ave da família dos falconídeos; carcará.
Cítara – instrumento de cordas semelhante a uma lira.
Coita – sofrimento de amor.
Correia – coisa de pouco valor.
É falido – cometeu falsidade.
Guarvaia – vestimenta rica, de cor vermelha, talvez enfeitada com
arminho (espécie de pele).
Guisado – preparado, o que foi servido.
Hoste – exército.
Jogral – aquele que interpreta poemas ou canções.
Menestrel – músico e compositor da época medieval, que, geral-
mente, vivia na casa de um fidalgo.
Mostrai-ma – do verbo mostrar, acompanhado dos pronomes “me”
e “a”: mostrai “ela” a mim.
Vassalagem – submissão.
Vermelha – de faces rosadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEMÓRIAS DA VIAGEM
Para cada uma das questões propostas, só há uma resposta, que você
deve assinalar.
CANTAR DE AMOR
Mha senhor, com’oje dia son, Mha senhor, ai meu lum’e
Atan cuitad’e sen cor assi! meu bem,
E par Deus non sei que farei i, Meu coraçon non sei o que
tem.
Ca non dormho á mui gran
sazon. Des oimais o viver m’é prison:
Mha senhor, ai meu lum’e Grave di’aquel en que naci!
meu Mha senhor, ai rezade por mi,
ben, Ca perc’o sen e perc’a razon.
Meu coraçon non sei o que Quer’eu en maneyra de
tem. proençal
Noit’e dia no meu coraçon Fazer agora hum cantar
Nulha ren se non a morte vi, d’amor...
E pois tal coita non mereci, D. Dinis
Moir’eu logo, se Deus mi
perdon.
Antes de resolver as questões sobre o texto, consulte o glossário para
saber o significado de algumas expressões.
1. A afirmação correta sobre o texto é:
a) Trata-se de uma cantiga de amor, porque foi escrito por um
homem e usa o dialeto galego-português.
b) É um poema feito à semelhança das cantigas de amor medieval,
o que pode ser comprovado pelo tema: o sofrimento amoroso
do homem.
c) É uma cantiga medieval de amigo porque pertence ao gênero
lírico e fala da vassalagem amorosa.
d) É uma cantiga de amigo, pois nela o trovador interpreta os sen-
timentos femininos de sofrimento pela ausência do amado.
167
A ÉPOCA MEDIEVAL E SUA INFLUÊNCIA NA LITERATURA DE HOJE
Texto 1
Uma dona, não vou dizer E agora?
qual, O padre já está pronto
teve um forte agouro, e irá maldizer-me
pelas oitavas de Natal: se não me vir na igreja,
saía de casa para ir à missa E disse o corvo: Quá a cá
mas ouviu um corvo carniceiro e ela não quis mais sair de
e não quis mais sair de casa. casa.
João de Santiago.
A dona disse: apud Cereja, p. 76
168
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - Texto 2
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
N o início do século XVI, Portugal já conquistara colônias na
Ásia, América e África, e em ilhas espalhadas pelo Atlântico, Índico
e Pacífico: é essa grandiosidade de conquistas que inspira Camões a
afirmar que o sol estava sempre brilhando no império português, como
no trecho de os lusíadas que lemos abaixo.
A N O T A Ç Õ E S - INVESTIGANDO CAMINHOS
O Classicismo português
O período do Classicismo em Portugal inicia-se no ano de 1527.
O século XVI é considerado um período áureo da arte portuguesa,
particularmente da literatura, pois temos aí a produção máxima de Luís de
Camões. É nesse século, ainda, que a língua portuguesa assume contornos
definidos, iniciando, assim, o período do português moderno.
A principal característica da arte classicista é a imitação dos modelos da
176
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Neste poema Camões retrata seu espanto diante das mudanças: tudo
muda e, na visão pessimista do poeta, essas mudanças vão sempre contra
a esperança: “Continuamente vemos novidades,/diferentes em tudo da
esperança”...
Herói
O poema apresenta um herói coletivo, o povo português, individu-
alizado na figura de Vasco da Gama, que é, assim, o herói individual.
Tema
Já nas duas primeiras estrofes, o poeta deixa expresso o tema da
epopeia: a glória do povo navegador português: “entre gente remota
edificaram / Novo Reino que tanto sublimaram”.
178
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Resumo de Os Lusíadas
Canto I
O poeta indica o assunto do poema: os feitos dos portugueses. Invoca
as Musas, dedica o poema a D. Sebastião e inicia a narração. A frota de
Vasco da Gama já está no oceano Índico, quando se realiza o Concílio
dos Deuses. Baco é contrário aos portugueses, que são defendidos por
Vênus. Os portugueses aportam em Moçambique e seguem, depois, para
Mombaça.
Canto II
O rei de Mombaça tenta destruir a armada portuguesa, salva por Vênus.
Júpiter manda Mercúrio à Terra para orientar os portugueses. A armada
chega a Melinde, onde é bem recebida. Vasco da Gama conta a história
de Portugal.
Canto III
Vasco da Gama invoca a musa Calíope e conta a história de Portugal
até a primeira dinastia (D. Fernando).
Canto IV
Vasco da Gama continua a contar a história de Portugal até sua partida
do Restelo. Episódio do Velho que, no momento da partida das naus,
aparece no Restelo e critica a ambição de conquistas dos portugueses.
Canto V
Vasco da Gama termina a narrativa da história de Portugal, referindo-
se aos acontecimentos da sua viagem, entre eles o episódio do Gigante
Adamastor, simbolizando o cabo das Tormentas. Ali, um gigante ameaça
os navegantes lusos.
179
HUMANISMO E CLASSICISMO EM PORTUGAL
Canto VI A N O T A Ç Õ E S -
Vasco da Gama continua a viagem para as Índias, que avista, depois
de vencer, com a ajuda de Vênus, uma tempestade provocada por Baco.
Canto VII
A armada chega a Calicute, onde os portugueses são bem recebidos.
Canto VIII
Vasco da Gama chega às Índias. Baco tenta armar ciladas contra os
portugueses.
Canto IX
Vasco da Gama livra-se dos problemas e inicia a viagem de regresso.
Camões descreve a ilha dos Amores, onde os portugueses são recepciona-
dos por Vênus e Cupido, para o descanso e recompensa pelos seus esforços
e sofrimentos. Os marinheiros se divertem com as Ninfas.
Canto X
A deusa Tétis oferece um banquete aos portugueses. Depois, ela conduz
Vasco da Gama para o alto de um monte onde descreve o mundo, princi-
palmente as regiões onde os portugueses se destacaram. Camões, depois
de narrar a partida dos portugueses e a chegada a Portugal, queixa-se da
decadência de sua pátria.
DESAFIOS DO PERCURSO
Os Lusíadas
Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca de outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.
180
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Agora, responda:
1. As estrofes do texto apresentado pertencem a um famoso episódio
de Os Lusíadas. Qual é o episódio? Que significado tem no contexto do
poema?
R.:
AMPLIANDO O HORIZONTE
No Cinema e na TV
1942 – A conquista do paraíso: direção de Ridley Scott. Produzido
em homenagem aos 500 anos do descobrimento da América, o filme
conta a história do navegador Cristóvão Colombo.
Nas Livrarias
Os Lusíadas, de Camões: Edição crítica e comentada, de Francisco
da Silveira Bueno. Edições de Ouro.
Na Internet
http://cad-um.geira.pt/alfarrabio/vercial
http://web.rccn.net/camoes/camoes/link.htm
http://lusíadas.gertrudes.com/
GLOSSÁRIO
Mor – maior.
Soía – acontecia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A N O T A Ç Õ E S - MEMÓRIAS DA VIAGEM
Texto 1
Luís de Camões
2. Em Os Lusíadas Camões:
a) narra a viagem de Vasco da Gama às Índias;
b) tem por objetivo criticar a ambição dos navegantes portugueses
que abandonam a pátria à mercê dos inimigos para buscar ouro
e glória em terras distantes;
c) afasta-se dos modelos clássicos, criando a epopeia lusitana, um
gênero inteiramente original na época;
d) lamenta que, apesar de ter dominado os mares e descoberto
novas terras, Portugal acabe subjugado pela Espanha.
Texto 2
O mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
183
HUMANISMO E CLASSICISMO EM PORTUGAL
O QUE É NARRAR?
C A P í t U L O 10
O QUE É NARRAR?
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
P rocure olhar todos os detalhes dos quadrinhos.
INVESTIGANDO CAMINHOS
Foi uma surpresa. Como eu não sou mãe, aliás, acho que
sou um pouco sim, porque a gente acaba sendo mãe de irmão,
de marido, de cachorro e até da própria mãe. De qualquer
forma, foi uma surpresa e pensei: “ué, ele se lembrou de mim
no dia das mães?”Então, eu abri a caixinha e vi que era uma
jóia. Foi muito legal. E ele me disse que ganhou na promoção
“Seja nosso convidado”, junto com um crédito de R$ 100,00
189
O QUE É NARRAR?
na fatura. Eu falei para ele: “Mas como foi que você ganhou? A N O T A Ç Õ E S -
Você se inscreveu? Ligou?” E ele respondeu que não, que ele,
por possuir um cartão e ter usado, acabou ganhando. Assim,
do nada. Eu fiquei supercontente quando ele me deu a jóia.
Porque eu acho que presente, pode ser uma rosa, mas, se você
não está esperando, é maravilhoso.
DESAFIOS DO PERCURSO
Este espaço é reservado para você aplicar os conhecimentos adquiridos
aqui.
Caso sinta dificuldade em resolver alguma questão releia o capítulo.
1. Leia o texto a seguir, com muita atenção.
192
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - HISTÓRIAS
Depois tem a história do Branco. O Branco contou na roda que
estivera preso por questões políticas, mas que não fora torturado.
Em vez disto, colocaram o Branco numa cela com o Tocão, que
tinha mais de peito do que o Branco tem de altura, com a recomendação
de lhe contar histórias. O Tocão gostava de ouvir histórias. O Branco
só devia parar de contar histórias quando o Tocão dissesse “chega”.
Senão, ó... E o delegado juntou as duas mãos lentamente, como quem
amassa alguma coisa, dando a entender que entre as mãos do Tocão
estaria a cabeça do Branco.
Quando entrou na cela, o Branco deu bom-dia, mas o Tocão não
respondeu. Só grunhiu. Sem perder tempo, o Branco começou:
– Era uma vez...
Olhou para o Tocão para ver se era esse tipo de história que ele
gostava. O Tocão estava impassível*. Branco continuou:
–... uma princesa que morava num castelo. Um dia um passarinho
chegou na janela da princesa e...
Durante muitas horas o Branco contou sua história. O Tocão não
fazia um som. Seus olhos não se desprendiam* da boca do Branco.
Entrou de tudo na história do Branco. Príncipe. Madrasta. Lobo. Sapo.
Dragão. Anão. Vovozinha. Bruxa. Caçadores.
Várias vezes o Branco sugeriu que a história tinha terminado.
– E viveram felizes para sempre...
Mas Tocão não dizia nada. E o Branco, apavorado, emendava
outra história.
– Enquanto isto, em outro castelo, longe dali...
O Branco contou todas as histórias de fada que conhecia e inven-
tou mais algumas. Quando não sabia mais o que inventar, começou
a contar filmes, romances, tudo que pudesse lembrar. O dia raiou e o
Tocão continuava olhando para a boca do Branco. O Branco espremia
a própria cabeça, metaforicamente, para se lembrar de mais histórias.
Já esgotara todos os enredos possíveis. Recorrera à Bíblia, às Mil e
uma Noites, a Dom Quixote, a Homero, a Janete Clair. Começou a
recontar histórias, variando alguns detalhes para o Tocão não descon-
fiar. Na nova versão, a vovozinha comia o lobo. Misturou histórias.
Scheerazade e o Negrinho do Pastoreio contra Darth Vader. Pinóquio,
Rei Artur e Capitão Nemo encontram os Três Mosqueteiros nas este-
pes e preparam uma emboscada para o mensageiro do Tzar. Os dias
passavam e o Tocão não desgrudava os olhos da boca do Branco. O
Branco não tinha mais voz. Decidiu contar histórias de pouca ação,
mas com muito conteúdo psicológico, para ver se o Tocão se chateava
193
O QUE É NARRAR?
DESPEDINDO-SE DE UM AMIGO
Rihako
AMPLIANDO O HORIZONTE
No Cinema e na TV
Tanto nos filmes como nas telenovelas fica fácil identificar os elemen-
tos narrativos: fato, personagens, época etc. A seguir, indicamos
dois filmes:
Coração valente – produção americana, dirigido e estrelado por
Mel Gibson. Conta fatos acontecidos na saga da independência da
Escócia, no século XIII. É um filme cheio de aventuras e surpresas.
Dona Flor e seus dois maridos – produção brasileira. Baseado
no romance de Jorge Amado, conta a história de amor entre uma
mulher e seus dois maridos.
196
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - Nas Livrarias
O menino no espelho – romance, de Fernando Sabino, publicado
pela editora Record, 1996. Uma história da infância do autor, cheia
de aventuras mirabolantes: um mundo cheio de mágicas e surpresas,
que vale a pena ser explorado.
Alice e Ulisses – romance, de Ana Maria Machado, publicado pela
editora Nova Fronteira, em 1990. Conta a paixão devastadora entre
Alice e Ulisses. Fala do amor e do eterno conflito do homem entre
a razão e a paixão.
Paratii, entre dois polos – omance, de Amyr Klink, publicado
pela editora Companhia das Letras, em 1998. Relata uma viagem
inesquecível, tendo como comandante uma pessoa capaz de navegar
com rara competência: Amyr Klink.
NAS BANCAS
Procure identificar nas notícias e crônicas publicadas em jornais
e revistas, os elementos narrativos.
Nos CDs
Chico ao vivo: BMG, em especial as músicas Cotidiano, João e
Maria e Construção.
O melhor de Elis Regina: Philips, em especial as músicas. Ro-
maria, O Rancho da Goiabada e Mucuripe.
GLOSSÁRIO
Cafundós – lugar ermo e afastado.
Cult(s) – palavra da língua inglesa, culta.
Desprendiam – do verbo desprender; desligava, despregava,
soltava.
Difundida – espalhada, irradiada, divulgada.
Impassível – indiferente à dor, às alegrias ou aos desgostos; imune
às paixões.
Infalível – aquele ou aquilo que não falha.
Jabiraca – roupa velha e/ou mal feita; bruxa.
Precipite – do verbo precipitar; antecipe, aja sem pensar.
Repercussão – ato ou efeito de ecoar, de fazer sentir indiretamente
a ação ou sua influência.
Senhor supremo – Deus.
Teatro de Arena – um teatro onde a plateia senta-se ao redor do
palco, como nas arenas de gladiadores, de rodeios, de touradas
e de futebol.
197
O QUE É NARRAR?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A N O T A Ç Õ E S -
ALENCAR, José de. Senhora. Rio de Janeiro: Ática, 3. ed. 1973.
AZEVEDO, Ricardo. A casa do espelho. Revista Escola Nova, São
Paulo, Abril, n. 122, abr./maio, 1999.
FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo Aurélio século XXI: o di-
cionário da língua portuguesa. 3. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999.
Veja. São Paulo: Abril, 24 de maio de 2000.
SANTOS, Ailton. Redação sem medo nem segredos. São Paulo:
Navegar, 1999.
VENTURA, Zuenir. Mal Secreto. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias da vida privada. 12. ed.
Porto Alegre: L&PM,1994.
MEMÓRIAS DA VIAGEM
O CASO DO ESPELHO
Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa
casinha de sapé esquecida nos cafundós* da mata.
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu
um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou
os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:
– Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?
– Isso é um espelho – explicou o dono da loja.
– Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do
meu pai.
Os olhos do homem ficaram molhados.
– O senhor... conheceu meu pai? – perguntou ele ao comerciante.
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho
comum, desses de vidro e moldura de madeira.
– É não! – respondeu o outro. – Isso é o retrato do meu pai. É ele
sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele
sorriso meio sem jeito?
198
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
10. Qual a frase que confirma que a sogra não morava com o casal?
a) A mãe da moça escutou a gritaria.
b) Ontem eu vi ele escondendo o pacote.
c) A mãe encontrou a filha chorando.
d) A mãe da moça morava perto.
C A P í t U L O 11
A LITERATURA INFORMATIVA
SOBRE O BRASIL
A LITERATURA INFORMATIVA
SOBRE O BRASIL
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
E começa a longa história
do navio que ia e vinha
pela estrada azul do Atlântico:
Cassiano Ricardo
INVESTIGANDO CAMINHOS
Em português atual:
Outros autores:
DESAFIOS DO PERCURSO
Segundo Ato
(Entram três diabos que querem destruir a aldeia com pecados.
São Lourenço, São Sebastião e o Anjo da Guarda reagem, livrando-
a e prendendo os tentadores, cujos nomes são: Guaixará, que é o
rei; Aimbirê e Saravaia, seus criados.)
AMPLIANDO O HORIZONTE
No Cinema e na TV
Como era gostoso o meu francês - filme brasileiro de Nélson
Pereira dos Santos. É a história de um francês que, caindo prisio-
neiro na mão dos índios, é tratado com todas as regalias, inclusive
recebendo carícias de belas nativas. Como a tribo era praticante
de antropofagia (prática de comer carne humana), o título do filme
fica ambíguo, uma vez que o adjetivo gostoso pode ser entendido
tanto no sentido conotativo quanto no sentido denotativo.
Hans Staden - filme brasileiro, baseado na história real do alemão
Hans Staden, que, feito prisioneiro pelos índios Tupinambá, aguar-
dava a hora de ser sacrificado. Consegue, no entanto, ser libertado.
Posteriormente, o viajante escreve um livro em que registra sua
experiência e descreve os hábitos daqueles indígenas.
Nas Livrarias
A verdadeira história dos selvagens e ferozes devoradores de
homens – narrativa de Hans Staden (traduzido por Pedro Süssekind),
publicada pela editora Dantes.
O alemão Hans Staden, desejoso de ir para as Índias, vai para a
Holanda, onde embarca para Portugal e de lá para o Brasil. Aqui,
trava combates com franceses e índios, ao lado dos portugueses.
De volta a Portugal, depois de algum tempo, resolve regressar para
o Novo Mundo e acaba prisioneiro dos índios Tupinambá, que,
julgando-o português (povo de quem eram ferozes inimigos), têm
intenção de devorá-lo. Hans Staden consegue convencê-los de que
213
A LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL
GLOSSÁRIO
Acrescentamento – expansão.
Amancebar-se – amasiar-se, amigar-se, viver em concubinato.
Andirá-guaçu – morcego grande.
Atégora – até agora.
Boicininga – cascavel.
Brandindo – do verbo brandir; erguendo.
Cauim – espécie de bebida preparada com a mandioca cozida e
fermentada.
Chã – plana, terreno plano, planície.
Cosmografia – astronomia descritiva, isto é, parte da astronomia
que trata da descrição do universo.
Espádua(s) – a omoplata e as partes moles que a revestem.
Fremosa – formosa.
Jaguar – onça-pintada, considerada a fera mais terrível das
Américas.
Jaguarê – do tupi, nome formado de jaguar (a onça), mais elemento
de reforço (ê): verdadeiramente onça, digno desse nome por sua
coragem, força e ferocidade.
Maratacaca – o mesmo que maritaca ou maitaca: jandaia, ave
semelhante ao papagaio, mas de dimensões menores.
Oitava – espaço de oito dias consagrado a uma festa religiosa.
Perversor – aquele que corrompe, que desmoraliza.
Sabrosa – saborosa.
Saradinha(s) – cerradinha, fechadinha.
Tamarutaca – vocábulo tupi: tipo de crustáceo semelhante à la-
gosta, que vive no fundo do mar.
Torrão – território, terra.
Valerosa(s) – valorosa.
Vergonhas – órgãos sexuais do corpo humano.
214
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEMÓRIAS DA VIAGEM
A N O T A Ç Õ E S -
Luís Vaz de Camões, na primeira estrofe de Os Lusíadas, poema épico
publicado em 1572, canta os homens corajosos que, enfrentando perigos
sobre-humanos, edificam um “Novo Reino” entre “gente remota” (gente
que habitava terras distantes). E continua na segunda estrofe:
Gandavo, idem. p. 18
ib. p. 20
216
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
Texto 1
Não há cousa segura. do doce amor de Deus toda
ferida.
Tudo quanto se vê
O mundo deixa em calma,
se vai passando.
buscando a outra vida,
A vida não tem dura.
na qual deseja ser
O bem se vai gastando.
absolvido.
Toda criatura
Em Deus, meu criador,
Passa voando.
apud Bosi p. 23
Contente assim, minh’alma,
219
A LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL
Texto 2 A N O T A Ç Õ E S -
Ó que pão, ó que comida Qu’este manjar tudo as
ó que divino manjar gaste
Texto 3
• O CONTO
• A CRÔNICA
• A NOVELA
• O ROMANCE
C A P í t U L O 12
PLANEJANDO A ROTA
A N O T A Ç Õ E S -
H á pessoas que adoram ler um bom romance, enquanto outras
preferem um livro de contos: “são mais rápidos para serem lidos”,
dizem; alguns escolhem a novela: “distraem tanto”, é o comentário
mais comum; há, ainda, os que preferem uma boa crônica.
E você, qual a sua leitura preferida?
INVESTIGANDO CAMINHOS
A N O T A Ç Õ E S - – “Ora, delegado” – respondi. – “Há anos que sento aqui à beira da es-
trada ouvindo automóveis passar. Conheço qualquer carro. Sem mais:
quando o motor está mal, quando há muito peso na frente, quando há
gente no banco de trás. Este carro passou para lá às quinze para as três;
e voltou para a cidade às três e quinze.” – “Como é que tu sabias das
horas?” – perguntou o delegado. – “Ora, delegado” – respondi. – “Se
há coisa que eu sei – além de reconhecer os carros pelo barulho do
motor – é calcular as horas pela altura do sol.” Mesmo duvidando, o
delegado foi... Passou um Aero Willys?
– Não, Cego. Foi um Chevrolet.
– O delegado acabou achando o Oldsmobile 1927 com toda a turma
dentro. Ficaram tão assombrados que se entregaram sem resistir. O
delegado recuperou todo o dinheiro do fazendeiro, e a família me
deu uma boa bolada de gratificação. Este que passou foi um Toyota?
– Não, Cego. Foi um Ford 1956.
Moacyr Scliar
A Crônica
A palavra crônica vem do grego Khrónos e significa tempo. O termo
é usado para definir uma modalidade narrativa breve, periódica e comu-
nicativa. As personagens são definidas apenas quanto ao momento da
ação, pouco ou nada sendo dito sobre elas além do que possa interessar
ao que está sendo contado. Ao tratar de fatos que caracterizam uma parte
da sociedade, a crônica pode exprimir o estado emotivo do cronista, apre-
227
FORMAS NARRATIVAS EM PROSA
sentar uma reflexão a partir de um fato, dar uma visão crítica dos fatos ou A N O T A Ç Õ E S -
tratar de aspectos particulares das notícias ou dos fatos (crônica esportiva,
policial, política etc.).
O cronista é um colecionador de instantes. É o olhar sensível que
percorre as esquinas do cotidiano e registra fatos, momentos, um riso, o
medo, cansaços. Combina a mesmice* do dia a dia em novas imagens,
como um mágico.
Para entender um pouco mais desse olhar de um cronista, leia o texto
a seguir:
A banalização do Bem
A Novela
Ao contrário do conto, a novela apresenta um maior número de per-
sonagens principais e secundárias, algumas das quais são mantidas como
fio condutor da narrativa, enquanto outras são logo substituídas ou pas-
sam a um plano inferior. A carga dramática vai crescendo ao longo dos
episódios até o final. A novela é uma narrativa geralmente centrada em
um só acontecimento e a influência que ele exerce em outras situações.
Para você observar bem as características dessa forma narrativa, procure
assistir às novelas exibidas na televisão.
O ROMANCE
O romance constitui uma narrativa longa, de enredo mais complexo
que a novela. Os romances podem ser: de aventuras, de amor, policial, de
ficção científica, fantástico, realista etc. Geralmente, no romance, há um
núcleo mais importante e outros que vão sendo desenvolvidos ao mesmo
tempo, configurando uma teia de conflitos. As personagens são analisadas
mais profundamente no romance do que em outras espécies narrativas.
Como o romance e a novela são narrativas longas, não transcrevemos
exemplos e, sim, indicamos, na seção Ampliando horizontes, desse volume,
alguns títulos para leitura desses tipos de narrativa.
Que tal você mesmo procurar boas indicações de leitura?
DESAFIOS DO PERCURSO
Este espaço é reservado para você aplicar os conhecimentos adquiridos
aqui. Caso sinta dificuldade em resolver alguma questão, releia o capítulo.
Leia o texto a seguir com muita atenção.
230
LINGUA PORTUGUESA • LITERATURA
A N O T A Ç Õ E S - A ÚLTIMA CRÔNICA
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar
um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de
escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de
coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório
no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária
algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a
faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial*, ao episódio.
Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer
nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me
simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para
contar, curvo a cabeça e tomo o meu café, enquanto o verso do poeta
se repete na lembrança: “Assim eu quereria o meu último poema”.
Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora
de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de negros acaba de sentar-se,
numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos.
A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-
se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na
cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à
mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes
de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno
à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo,
porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que dis-
cretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás
na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo na redoma. A mãe
limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguar-
dasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do
homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando
para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A
meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do
balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um
bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola
e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a
comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa
um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante,
retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera.
A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais
os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta capricho-
231
FORMAS NARRATIVAS EM PROSA
A N O T A Ç Õ E S - 2. Agora é a sua vez. Procure no seu dia a dia um assunto para escrever
uma crônica. Lembre-se de que o enredo é muito importante. Trabalhe
bem a sua trama e crie um título bem sugestivo.
AMPLIANDO O HORIZONTE
No Cinema e na TV
O Quatrilho – produção brasileira, um filme de Bruno Barreto.
Baseado no romance de José Clemente Posenato, conta a história
de dois casais de imigrantes italianos.
A casa dos espíritos – produção americana, direção de Bille Au-
gust. Baseado na novela de Isabel Allende, mostra um mundo de
paixão, amor, magia e vingança.
O homem nu – produção brasileira, direção de Hugo Carvana.
Baseado no conto do mesmo nome, de Fernando Sabino, é uma
deliciosa comédia, em que um homem nu vê-se envolvido em
situações estranhas, na cidade do Rio de Janeiro.
Ed Mort – produção brasileira, dirigido por Alain Fresnot. Baseado
em crônicas de Luis Fernando Veríssimo. Um filme cheio de humor
e aventuras.
Telenovelas – procure observar nas telenovelas, além dos el-
ementos da narrativa, a linguagem utilizada pelos personagens,
comparando-a com a que é utilizada na narrativa escrita.
Nas Livrarias
O gato sou eu – de Fernando Sabino, publicado pela Record. É uma
seleção de crônicas do autor: seus heróis anônimos, os grandes e
pequenos gestos do cotidiano.
Coleção Quem conta um conto – A editora Atual reuniu em cinco
livros contos de vários autores. Cada livro destaca um elemento
da narrativa.
Uma vida em segredo – Autran Dourado. Ediouro. Uma novela,
onde é narrada a incrível história de uma jovem que vivia na roça
– prima Biela – que se vê obrigada a morar com uns tios, em uma
pequena cidade do interior.
Senhora dona do baile – romance de Zélia Gattai, publicado pela
Record. A autora conta com espantosa riqueza de fatos, casos sérios
e engraçados que fizeram parte da vida dela.
Nas Bancas
Procure em jornais e revistas crônicas para sua leitura.
233
FORMAS NARRATIVAS EM PROSA
GLOSSÁRIO A N O T A Ç Õ E S -
Bandalha – pouca vergonha, patifaria, indecência.
Circunstancial – relativo ou resultante de circunstância.
Eloquência – capacidade de falar e exprimir-se com facilidade.
Mesmice – marasmo, pasmaceira.
Rumoroso – que produz rumor, ruidoso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEMÓRIAS DA VIAGEM
A N O T A Ç Õ E S - 8. Dr. Pompeu parecia estar feliz. A frase que melhor confirma essa
afirmativa é:
a) “Ele me dá dinheiro para tudo”.
b) ”Meu padrão de vida melhorou”.
c) “Nós temos um acordo”.
d) “E hoje eu posso fazer o que sempre sonhei.”