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Cil~~

E8PETÁCtJw DEPERIFERIA
P UISA10
São Paulo (munic íp io) Departamento do Inform ação e Documentação Artíst icas.
Ce nt ro de Doc ument ação e In for m ação sobre Arte Brasileira Contemporânea.
S241c
Circo espetáculo de perife ria . Coo rdenação de Ma ria Thereza Vargas. I São
Pau lo : Sec ret aria Mu nicipal de Cult ura, Departamento de Informação e Documen-_
tação Art íst icas , Ce nt ro de Docum entação e Inform ação sobre Art e Brasileira Con -
temporânea , 1981.

1. Esp etáculo de circo - Brasil - São Paulo (mu nic ípio) 2. Circo - Bras il -
São Pau lo (município) I. Vargas , Maria Thereza. II. Titulo

C OO 791.8309816
COU 790.31816 .11)
Prefeitura do Mun iclpio de São Paulo
A DMINIST RAÇ ÃO REYNALDO EMYGDIO DE BARROS

Secret a ria Municipal de Cultura


Secre tário Mário Cham ie

Dep a rtamento de Informação e Documentação Artlsticas / IDART

Area de Pesqu isa / ARTES C(;NICAS


Pesq uisa / CIRCO : ESPETAcULO DE PERIFERIA /1977
Su perviso ra / MARIA THERE ZA VARGAS

Pesq u isad o res / MARIANGELA ALVES DE LIMA


MA R IA THEREZA VARGAS
CA R LOS EUGENIO MARCONDES DE MOURA
L1NEU DIAS
CLAUDIA DE ALENCAR BITTENCOURT

Fo tografia s / DJALMA L1MONGI BATISTA

Im pr essã o e acabamento / LABORATÓRIO GRAFICO DO IDART

Ti ragem / 1.500 ex empla res

Pape l/offsel 150 grama s

Ed ição 198 1
A edição desta pesquisa se deve ao trabalho de reformulação técnica e
redimensionamento funcional do Departamento de Informação e Docu -
mentação Artísticas/IDART/ procedido pela atual ad ministração da Se-
cretaria Municipal de Cultura, segundo diretrizes do Secretário Mário
Chamie.

Os planos de editoração estabelecidos pela nova dir eção do IDART


permitiram a recuperação de 13 pesquisas elaboradas de 1976 a 1977.

A publicação de CIRCO: ESPETACULO DE PERIFERIA e demais vo-


lumes dá série "Pesquisa" faz parte do projeto geral da editoração do
IDART, que inclui ainda cadernos, revistas e anuários.
APRESENTACÃO
o circo fu nciona em uma estrut ura comun it ári a, sem div is ão de trabalho.
Cada me mbro exerce várias fu nçõe s : braçais , ar t íst ica s , pub l icitárias.
Or ganizado po r fa míl ias, propriet ár ias ou assalariadas , o pro duto de seu
tra balho t ambém é desti nado a um públic o não específi co . Seu espetá culo
deve int er essar a t odas as id ades , t ant o ao hom em com o à mu lher .
É dirig ido, por tant o, à fa mí lia. Sem amp aro do gove rno, desvi ncula do
de sistemas previ denciári os, o ci rc o enf rent a a con corrênci a da tevê
e do cinem a. Sem pre ços fi xos para ingresso s, às veze s abre suas portas
ao pr eço nom ina l de um cruze iro, ou , o qu e é ma is com um - "s enho ras
e senhori t as , gr áti s " - , em busc a de uma publicidade aces sível a seu
orcament o. na ten tativa de at ingir um público maior . Os espet áculos
circenses ta mbém foram se adapta ndo às nov as di ficuld ades. Dim in uindo
cada vez ma is os núme ros de pi cadeiro, os ci rcos da perifer ia de São
Paulo toram ampli ando seu repertório de peças t eatrais , show s com
arti stas de rádio , e, às vezes, de tevê e lut a liv re. São os circos-teatros ,
aprovei ta ndo a br echa aberta pelas tel enovel as. Seu repertório é f ix o,
i ncluindo renovação di ári a da programaç ão. O pr óprio con tato com o
púb l ico define a pro grama ção. Há praças em que a expect ati va da
p latéi a é consum ir t ragédi as. Em out ros lugares há preferên ci a po r
comédias. Quem estabel ece a lig ação com o público é o cómico que,
além de ser a pont e entre ele nco e platéi a, dá mobilid ade às
pr ogramaç ões com suas im provisaçõe s, às quais não escapam nem as
tragédias. A lona do circo é, na maiori a das vezes, fa bricada pe los
próprios circense s. E são os atores que fazem o tra balho de mon ta r
e desmontar o ci rco, quand o é chegado o mo ment o de mud ar de praça.
Os ci rcos com maior sucess o de público e, conseqüentemente
financei ro, con t ratam auxil iares que, além do trabalho braçal, participam
também dos espe táculos . Uma herança que passa de pai para filho. Os
circenses , em sua maioria, j á nasce ram em circos. O trabalho vem sendo
ensinado de geração em geração e é assumido por famílias inteiras .
Pais, filhos e netos são a mão-de-obra dispon ível. O salário é decretado
pelo pai- propri et ár io e assum e o aspecto de uma mesada que, por menor
que sej a, nunc a é questionada e é sempre recebid a com gratidão . São
poucos os circens es que possuem casa próp ri a. A maioria mora no
circo , em lo nas e barracas. Com pou ca segu rança e conforto, alguns
admit em , te oricam ent e, a von t ade de amp lia r sua área de t rabalho

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Tentar a televisão, por exemplo. Na práti ca, as possibil idades são
restritas , mesmo para a próxima geração . As freqüentes mudanças de
bairro tornam quase impossível às crianças acompanharem os cursos
escolares . Outros afi rmam que não deixaria m o circo em nenhuma
hipótese. Existem até alguns elementos que, t endo sua sobr evivência
garantida em outros empregos, colabor am gratui t amente nos espet ácul os,
para não perde r o contato. Não foi poss ível escl arecer com precisão o
número exato de circos-teat ros existentes atualmente em São Paulo.
Alguns circenses afirm am que seu número está aumenta ndo. O fat o
concreto é que sua sobrevi vência est á cada vez mais ameaçada. Inclusive
porque, com a expansão da cid ade. está cada di a mais difícil encontrar
terrenos disponíve is onde poss am atuar . Foram pesquisados dez
espetá culos em cinco circos-t eatros. Para relatar as inf ormações obtidas,
selecionamos alguns it ens princi pais. assegurando . dessa f orma, o bom
desenvolv imen to de seus aspect os específ icos. Isso sem deixar de
lado, em nenhu m momento, a idéi a do trabalh o entrelaçado. gl obal, que
def ine o produ t o fina l da comuni dade ci rcense: o espetáculo.

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A s informações sobre a arte circense contidas neste t abalho constitu em
part e de uma pesquis a ma is ampla, na qual se pr ocu rou docum entar o
t eat ro que se faz habitu alment e em duas f aixas geográf icas da ci dade
de São Paulo: cen t ro e perif eri a.
Neste t rabalho. o méto do adotado fo i a obser vação de espetáculos em
cart az. A pergunt a fun dament al f eit a a esses trabalhos é: "co mo fo ram
feit os ?"
Segue-se o pr ocesso de pro dução do espet ácu lo cir cense . O t ermo
produção é tomado aqui em seu sent ido gl oba l. inclui ndo a feit ura
mat erial do espet áculo, passando por sua elabora ção art íst ica. at é a
col ocação do pr odut o f inal jun to ao públ ico .
At ualment e, para exe cutar seu t rabalho, o circo dispõe apenas de
r ecursos humanos. Por esse mot ivo . na descrição do espet ácul o, os
dados i niciais enc ontram-se no modo de vi da do própr io arti sta .
O t rabalho docume nta o art ist a, a empres a e o cont orn o geral do
espetáculo, que perm anece o mes mo em diferent es circ os. Não se trata ,
port ant o, de um espetáculo em particu lar , mas de uma for ma de arte .
Essa aborda gem pareceu-nos a mais adequada par a o espetácul o do
circo, enraizad o na tradi ção. evit ando, na medida do possível, inovaçõe s
que ameaç am desf igurá-lo.
Dessa form a, a document ação reunida, entre j aneiro e abri l de 1976,
não se refer e apenas a um est ágio transit ório do t eat ro da per iferia .
Serve. t ambé m, para reg istrar uma proposta artística de lo nga dura ção
no passa do da cid ade .
Urna equipe de cinco pesqu isa dores, sem diferenciação de f unções ,
ent rev istou art ist as de vários cir cos. Dessas entrev istas eme rgiram
blocos de assunt os indicados corno os mais import antes pel os própri os
entrevistados. Mas , geralm ent e, detectados pelos pesqu is ador es , numa
observação atenta do campo analisado .

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RELAÇÕES SOCIA IS NO CIRCO
A equipe do IDART entrevistou trinta e duas pessoas nos circos :
Am erican. Bandeirantes , Carl it o, Circo do Chiquinho, Pauli stão , além
de quatro pessoas no bar Pont o Chie. no perí odo de janei ro a abril de 76.
A maior ia dos art ist as é de família circen se vinda geralmente do interior
do Esta do. Isso acont ece porque o circo. além de sat isfaze r o lado
nômade de seus elementos. é a at iv idade art íst ica mais próxi ma dessa
populaçã o. Soment e dois - Demét rio. do Circo do Chiqu inho (at ualment e
proprietár io do Circo Dema) e Edison Xavier da Silva. do Ci rco
do Carl it o - são or iundos de out ros Estados : Ceará e Recife.
respectivament e.
Há um grupo que mora nos f undos do circo em caravanas e barracas .
Ouinze circenses moram fora. em "residência fixa ", como dizem .
As idades variam muit o. com um mínimo de dez anos. como é o caso
de Cr isti na Gomes da Silva. do Circo do Chiqu lnho, e um máximo de
ses sent a anos - Tonl co, da dupla Tonico e Tinoc o. propriet ários do
Circo Bandeirant es - sendo que a média se coloca na f aixa dos vinte
a tri nt a anos.
Como não há contrato escri t o para os artistas e este s. conse qüente ment e.
não podem ser sindical izados. encont ramos apenas t rês art ist as que.
tentando obt er garanti a. se inscrever am no INPS como aut ônom os.
A gra nde maioria dos ent rev ist ados possu i o mesmo grau de escol ari dade.
As dificuldades são enormes , poucos chegam a completar o primeiro
grau. Mar ia Benel li , do Circo Ame ric an, cur sou até o segundo cole gial
e, caso rar o. o " ponto" do Ci rco do Carl ito é li cenciado em Ciência s
e profe ssor de prime iro e segundo graus de Matemáti ca. Ciên cias e
Desenho.
Menina. Circo Paulistão .

Moradia

Caravan as (carr et as ou trailers) e barracas de lona são os tip os de


habitação que f ica nos fun dos do circo, onde moram os artistas e.
eventualmente, o pr oprietário com sua f am ília .
As caravanas pertencem ao próprio dono do cir co , que as empresta
aos artistas , ou são construíd as pel os pr óprios artist as para seu uso :

Voc ê quer d izer as car avan as? Sim é . . . o que nós d izemos agora é trailer. É isso .
A gente faz, nê? A gente compra mat erial , a rodag em a gente compra no ferro
vel ho, então vai mon tando e transforma aqu ilo numa carreta, numa comodidade. Tem
ci rcos que têm ca rretas e tem os que não tê m, que é o pró prio art ista que faz o
engate no cam inhão pra mud ança e vai arrastando até que ter mina o contrato.
(Waldemar Nun es, ex-propr ietário de c irco )

Eu fiz essa barraca. . . Essa barraca de lon a fui eu que fiz. Eu pal om bei 1 a no ite
todinha . Mas q ue saiu ba rra ca, sai u.
(Wil ma de Ol iveira, Circo Paulist ão)

Esta aqu i fu i eu que fiz . Eu gastei um di nheiri nho mas graças a Deus est ou morando
num tet o. Porque eu mo rav a numa barraca e ela tava t oda furadinha. Molhava mais

1 . Palomba r: Cose r com pon to de pal ornba, espéc ie de ponto para coser as tr alh as
das velas , dos toldos etc. Palomba é também o nome que se dá ao fi o usado nesse
trabalho.

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den tro do que fora . Então eu resolvi comprar uma madei rinha, umas ch apin ha . . .
e construí o meu lar . Isso aqui é um lar meu. Mora todo mundo aqui . . . Aqui é o
segun do andar, aqui é o prime iro andar. É o beliche que eu fiz. Ali em cima dorm e
três, aqui dorme do is, ali dorme minha mulher e um pequeno .
(Roberto Carva lho, Circo Paulistão)

Barraca de Pingolim . Circo Paulistão .

Traile r de Roberto Carval ho. Circo Paulistão.

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A luz é ligada pel a Light, mediante um depós ito prévio de mil cruzeiros .
Caso o circo não possu a esta quantia, tenta f azer a ligação em alg uma
casa nas proxi mi dades , at ravés de um acordo:

o problema da eletrici dade é o seguinte: a Light cobra um milhão de caução. Geral-


mente, gent e de circo não tem um milhão pra dar. Por exemp lo: nós vamos mudar da-
qui: eu não vou ter um milh ão de caução noutra praça pra pedir relógio pra Lig hl. En-
tão a gente tem qu e chega r, con ver sar com as pessoas de alg uma casa nos arred or ,
onde a gente vai armar o circo. A gente bate um papo. As vezes a gente dá cem
contos, às vezes d uzentos, dá um depósito. Depois, por semana, a gente dá trin ta,
q uarenta c ruzeiros por semana. Depend e da pessoa, mas geralmente muitas pessoas
recu sam, entende? Recu sa, po rqu e acha que o circo puxa mui ta força. Vai atrapal har
a tele visão deles, te m gel adeira, a luz fica f raca. Então muit a gente recusa. Mas tem
muitas pessoas que a ge nte conversa, tem dó e então aind a cede a luz. Mas tem
praça que a ge nte passa fogo. Nega até água.
(Robert o de Carvalho , Circo Paulistão)

Instal a-se uma latrin a de madeira e a água é empre stada de uma das
casas vi zinhas , geralme nte em troca de permanentes :
o prob lema de água é em toda s as praças . Nós emprestamos, ced emos uma perma-
nente às pessoas q ue nos ce dem água, à fami lia, vamos dizer assim; então fazemos
uma permanente válid a, valend o cinco figuras , para assistir ao espetáculo a hora
qu e qui ser em, em troca da água. O banheiro a gen te improvisa assim . . . com aque -
les baldes, chu veiros que existem , né? então é improvisado assim. Exist e ba lde- chu-
veiro, já viu alg uma vez, não ?
(Waldem ar Nunes, ex-pr opr ietári o de circo)

o gás é fo rne ci do aos artistas, quando a companh ia fornecedo ra passa


pe la praça onde o ci rco se insta lo u:
O gás que usamos é for neci do pelas companhias mesm o. Estej a o circo onde estiver.
O cam in hão passou, não precisa cot a, não prec isa nada. Viu o circo, ele cede o gás.
Acab ou, não tem assu nto .
(Waldemar Nun es, ex-p roprie tári o de circ o)

Geralment e, os pro pr ietár ios possuem "casa fi xa", como dizem, e


dei xam no ci rco uma fam íl ia re spo nsáve l , ou ent ão o capataz, na sua
ausência:

ENTREVISTADOR: Essas vinte pessoas mor am no circ o?


CARLl TO: Parte delas . Por exe mpl o: o nos so capataz mora naqu el a caravana ao
lado ; é ele, a senhora dele e mais três filhos - esse é o Orland o. E tem os fun-
cio nários tamb ém, são qu atro fun cionários, qu e to mam conta do cir co e deixam o
circo em ordem - tamb ém moram aqui em bar raqu inh as. Eu e nossa famllia nós
moramo s em nossa casa mesmo , porque a gente tem outros afazeres além do ci rco .
A gente faz també m programa de rádio e há outros negócios també m. Então não
dá pra mor ar no circo. Prim eiro , porqu e a famili a é gr ande, são em casa, na mi nha
casa, em sete : eu, a esposa e ci nc o f il hos, então não dá pra parar num circ o devido
aos outro s afazeres.
(Carlito , Circo do Carlito)
Nesse cir co moram aqu i fi xo tr ês famíl ias . Agora tem eu e minha senh ora que vem
de casa. Moramos em casa fix a. Tem meu cunh ado e ai nda minha irmã que vêm de
casa fixa . Tem o Chiqu inho qu e vem de casa fi xa.
(Joanito , Circo do Chiquin ho)

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Nas caravanas moram as famí lias -artistas em cond ições precarra s:
espaço pequ eno , abafado , onde se acumulam todos os membros da
f amíli a, com pou ca se gurança e co nfo rto:
ah . . . não tem confor to. Mo ram fami lias em carretas, carr eta pequeni ninha de 2x4.
Moram quatro , cinco, seis pessoas ; dorm em em bel iche. Então é aquela vida sacr if i-
cad a, né?
(Etelvina Arruda , " Ita" , Circo Arco-lris)
Eles dormem qua tro ou cinco criança s (que eles não têm tel evisão . .. ) quatro, cinco,
seis crianç as. Os art istas que eles contratam também não têm onde dorm ir , entende?
Os don os, os gatos e os cachorros que fazem o espetáculo, aquil o tudo, pode-se
dizer, jun to. Olha viu, é vid a, viu , é vida pra gent e ver o negóci o e fic ar senti do.
(A risti des, gerente do Ponto Chie)

Os circos um po uco mai ores têm cond ições de habi t ação me lhor es,
embora ainda não satisfatóri as .

Mora no circ o e po r enq uanto em bar raca de lon a . . . co isa que adoro! Mas futu-
ramente meu trailer estará pronto dentro de um mês, um mês e qu inze dias , mais
ou menos.
(Mari ovaldo Benell i, Circo American)

Mas é como eu dig o: é com todo o confort o. Dentro dessas carretas tem gelad eira,
te m telev isão, tem máquin a de costu ra . . . tem uma ali que é uma beleza, a carreta.
Tem um banh eiro fora, um banheiro com bacia mesmo nor mal, com caixa d'água,
chuve iro com água quent e, então é um confort o que as pessoas t êm .
(Marco An tôn io, o Chico Birut a, Circ o Bandeirantes)

A maio r ia das f amí lias-art istas t em o mínimo indispensável à sua


sob revivê ncia . Me smo sem pagar alug ue l , água e luz, seu sal ár io é
tã o ir ris ór io que cob re apenas despesas de ali mentação e outras
necessidades de sob re v ivê nc ia . Ins eguras qu anto à fra gil idad e da
m orad ia , às co ndições cli máticas - chuvas, tem porai s - e às co nd içõe s
do te r reno , cheg am às vezes a ter t raumas:

Eu já sofri muito em cir co, porq ue é uma pobreza. Ag ora , o cir co tem mais cond içõe s.
Tem carreta, tem mais condições. Mas antigam ente - aquelas barr acas de lo na
- nós te mos ainda dessas barr acas aqui .. . aquele sof rim ento, aquela chuv a. A
barraca descobria , o tempo ral apagava a luz, o circ o caia, aquela conf usão tod a.
At é hoj e eu sou t raumatiz ada por causa do temporal. Quando chov e eu fic o apavorada,
por qu e já ca iu cir co, tu do, ba rrac a descobr iu. Eu ac ho isso muito rui m pra c rianç a.
(Fáti ma de Carvalho, Cir co do Chiquinh o)

Eles moram no próp rio cir co. As vezes com essa ventania tremenda, já pensou?
O que acontece co m essa chuvarada? Aq ueles pano s rasgad os? Que alg uns ainda
podem mandar fazer um pano novo, mas a maio ria não, entend e?
(Ar istid es, gerente do Ponto Chie)

Por ou tro lado , ve rificamos certas compensações :

Morad ia? Nas bar racas? Eu acredito que no meu ver, de tan tos anos, que pra mim
fo i divertido . Eu pescav a pela janela da barrac a, eu ia j ogar si nuca , eu amanheci a

') ()
na vida boêmia. Minh a senhora não era do co ntr a, porque ela era assim muito com-
preensiva e já sabia o esposo que tinha por companhia. Já sabia a pedra que ela
pegou desde o pr incípio .
(Waldemar Nunes, ex-proprietári o de ci rco)

Trail er. Circo Pauli stão.

Wilm a de Ollvelra e Mr. Jones.

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Al ém desse lado "lúdico" da moradia circense, o fato de a família-artista
mor ar no própr io loc al de trabalho facili ta o inter- rel acionamento , fato
que se refle te no próprio trabalho:

Mr. Jones está com quanto tempo? Dois meses? Três meses? E, três meses que Mr.
Jon es está com a gente . E é uma famíli a baca na, unída. E gostoso trabalhar co m
eles. Porque tem fa míl ia que é chato traba lhar , mas tem famíli a que é bacana, unida
com a gente . Então é gente da gente, como a turma fala. Isso influi muito na com-
panhia. Tendo um casal bacana no fundo do cir co, tudo corre bem. Tem casal que
não corre bem dent ro do circo. Então o circ o já não vai muito bem, entende?
(Roberto de Carvalho, Ci rco Pauli stão)

Fazem do circo uma extensão da próp ria casa, onde o palco se t orna
uma grande sal a. Aí acontecem as festas f amili ares :

Ano passado nós fize mos uma festa de Natal. Zé Fernandes participou da nossa
festinha , sabe? Eles ti nham uma festa, lá naquele Grande Hotel - como é que é,
meu Deus? .. Ah! me esqueço. Onde reúne o Sílvio Santos, tudo . . . Então ele ia
passar a festa lá. E a gent e depois do espet ácu!o costuma, é da nossa tra dição,
quando meu pai era vivo, nós sempre depois do espetá culo nós fazemos a ceia de
Nata l. Então em cim a do palco , a gente põe a mesa, reúne a famflia inteira, então
convidamos ele e ele partici pou da nossa festa. A nossa festa tava muito bonita, mais
bonita do que a deles, que a nossa é uma festa assi m, sabe? Ao ar li vre. Um t oca
gu itarra, outro canta, outro pega um pedaço de frango, então ele achou que aquilo
tava muito gostoso .
(Maria Benelli , Circo American)

Todos se tornam uma "gra nde família", apoiando-se mutuamente,


compa rt il hando de seus problemas cotidianos e preservan do assim esta
forma de vida comuni tária:

Inter ior de mo radia .

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Quando a pessoa está no f undo do circo torna-se , então . . . 11 gen te. . . então a
gente se torna uma famíl ia da gent e. A pró pria família é a nossa famí lia. Tem várias
fa mílias mas é uma só . . . uma famíl ia só. Tan to que se anu ncia , espetá culo de família
pra famí lias . Todo o es petác ulo a gente anuncia isso daí.
(Pingol im , Circo Paulis tão)

As men ina s j á casam, quando vão casar já falam pro s maridos que vão cont inuar no
ci rc o - que está aq ui, não, (mostra o retrato na pared e do trail er) que está em
Ibi tinga , o marido é fazend eir o. Agora a que casou em São Paulo , já casou com
esse trat o.
(Maria Ben elli , Ci rco Amer ican)

Inte rior de morad ia.

o fato de as famí l ias morare m nos fundos do ci rco , seja em barraca de


lon a ou trai ler, c ria uma nova for ma de re lação de trab alho. No próprio
loc al há a aprend izagem do ofício : aprendem a atuar no palco, aprendem
alguns números de var iedade, ass im como tarefa s de nível braç al.
Podem atender a qualquer emergência que su rja: f og o, ench entes,
roubos , etc. , pr otegendo assim não só seu local de trabalho, co mo
também sua própria casa:

Por exem plo : eu tenho um c irc o e eu res ido fora dele ; não est ou sabend o a situação
de vendavais , de gran des temporais, o qu e está aco nte ce ndo no ato e muito menos
para dar um ensi na mento de números, adestrar as crian ça s e tal, ess as coisas tod as,
né? Ent ão ac ontece o quê? Estou na minh a residê nc ia e já é mais precária a si tuação:
Na barraca, não . Eu tenho a arena à minha vontade, ao meu di spor, a qualquer
mo mento .
(Waldemar Nunes , ex-p rop rietário de c irco)

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Há uma int erdependênci a entre as fa mí lias e um re lacionamen to, na
maioria das vezes, ajustado, visto que se unem , mais f reqü entemente
por simp ati a e amizade:

Robe rto Carva lho

Gente qu e a gent e vai conhecendo, peg ando amizade e então convid a para o c irco.
(Ma rco An tônio Mart ini, Chic o Biruta, Cir co Bandeirantes)

Escolaridade

As c ri anças não ent ram co mo uma força de t rabal ho aut ónoma. mas
se j unt am à força dos pais, aume nta ndo ass im a renda fam i li ar. A lg uma s
f amílias circenses chegam inclus ive a adot ar crian ças abandonadas que
rond am o c irco ; por um lado sensib i lizadas pelo dr ama particular da
cr ia nça e po r outro tent ando aumentar a mão-de-obra fa mi liar :

Rica rdo Dias Neto, agregado da famí lia Carval ho

24
-
Tem um rapaz aí, que nós pegamo ele, não tem pai, nem m ãe, então nós pegamo
pra cria r. Ent ão eu est ou ensinando ele a ser palhaço. Então a out ra praça quero
ver se so llo ele só pr a matinê. Porqu e cr iança como palha ço, na matinê, agrada
também.
(Roberto de Carvalho, Circo Paulistão)

Eu que mandei minha mãe pegar ele pra fic ar com n óis , não foi ?
t: que ele est ava ali na cerca e ele est ava pedind o uma camisa pro meu pai. Daí eu
fiquei com dó de le e eu fal ei assim : - Bom , vou falar pr a minh a mãe deixar ele
morar com n óis , assim ele ajud a aqui. Daí f alei com minh a mãe, minh a mãe mandou
chamar ele. Daí minh a mãe dei xou ele fic ar mor ando aqui com a gente .
(Robson, filho de Robe rto de Carvalho, Circo Paulistão)

o t rabalho das cri anç as é um eleme nt o de reforço que atrai o públ ico e
por isso são t re inadas desd e ce do para as mais diferentes ta refas , desde
aux i liar dos pais nas peç as qu e t êm personagens infantis. A fai xa etária
vai aume nt ando gradativamente at é os núme ros onde as crianças
particip am isoladam ent e: deslocação, equi líbr io , corda, canto e trapézio :
Eu nasci em circo. Então a minh a infânci a toda eu passei em circo e con tinuo até
hoj e ( . . .) Bom, porque toda criança de circo já come ça t rabalhando . Então . . . e
sempre tem no caso os dram as que t êm a criança, quando é pequeno, mais tard e
menininho, até chegar a moço, nê? E eu comecei já com sete dias que eu tinh a
nascid o, já t inh a um dr ama que eles achavam uma cri ança na porta de um convento ,
sabe? Então ali eu já comece i a minh a . . . minh a caminh ada artística. Com sete dias ,
já de vid a, eu dentro de uma baci a, porqu e foi lá (na peça) que eles me ach ar am.
E dal i pra dian te com eçou .
(Marc o Antôni o, Chico Birut a, Circo Bandeirantes)

Menina e Pingol im. Cir co Paul istão

Fátima de Carvalh o te m duas filh as: um a vai f azer quatro anos e a outra
tem nov e mes es :
A mais velh a t rabalha no cir co. Faz anãozinho, papel de peça in fantil ela faz. Tra-
balha mais na mat in ê.
(Fátim a de Carv alho , Circo do Chiquinho)

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Cri anças ensa iand o se us números de
picad eiro. Ci rco Pauli stão .

Nasci em circo, emba ix o de uma ba rraq uinha de lon a. Comecei a traba lhar com ci nc o
ano s. Eu fazia m uito tea t ro co m meu pai . minha mãe. m eus lrrn ãos. Cant ava. t raba-
lh ava no t rap ézio, um po uquinho de cada coisa .
(J andira Ben ell i, Cir co Am eri can)

Como resul tant e da própri a caract erístic a intrín seca do circo - o


nom adismo - as cria nça s vêem-se comple t ame nte desamp aradas .
qu ando ch ega a id ade escolar . Mud ando de pr aça a pr aça, os pais dos
pequ enos art is tas enf rentam a falt a de vagas nos gr upos esco lares:

É qu e não achava vag a nos grupos . É urna di fi cul dade danada. Ela t em até o segundo
an o e não pod e continuar (sua filh a tem de z anos e traba lha no circ o).
(Maria Gom es da Si lva, Cir co do Chiq uinho)
Não conti nuei a est udar. po rq ue não podia . porqu e circ o se mpre t em aque la dificul-
dade. A ge nte vai nos co lé gi os não aceita m . porque passam poucos di as na praça .
Tem sem pre aque la dif icu ld ade. Tem que fazer t ransf erência na mat rí cula. não sei
o qu e. Então há uma dif icu ldade que os artis tas não pod em est udar.
(Dem étri o, Circo do Chiquinho)
Eu estudei só até a seg und a série, depois pa rei. porq ue fui acompan har o circ o.
(Euzébi o Gom es Piet ro , Circo do Chiqu inho)

Apesar da lei 2 que obrig a os grupos escolares a admit i rem filhos


de circenses. mesmo como ouvin tes , os diretores a ignoram ou,

2 . Lei n.? 301. de 13/7/1 948. Dis põ e sobre matr ícula nas escolas prim ari as pa ra os
fi lhos de artistas de circo. A r!. 1.° - Os filhos de artis tas de circ o, pavil hõ es e va-
riedades qu e acomp anh em seu s pais em excursões pelo interior do pa ís, serão admi-

26
na im poss ibi lidade de aceitá-los co mo alunos , bloquei am a única
opo rt unid ade de est udo par a as cri anças de ci rco:
Nós estamos ago ra com um pro bl em a com as cr ian ças noss as, sabe? Nós te mos uma
lei que diz que os grupos t êm que t er vagas, nem que seja co mo ouvint e, pras
cria nças do ci rco. E nós aqu i desse gr upo, nós não estam os consegui nd o, a ge nte
pede até por favor pras dir eto ras, elas não arrumam vagas pras meninas. Tenho uma
net inha no te rc ei ro ano, esse ano tá pa rad a porque não pode se r coloca da. Tô com
duas neti nhas paradas po r falta de matri cula. Nem nesse grupo, nem no gr upo da
ou tr a vila nós conseg uimo matricu la r as c ria nças. A gente ex plica pras direto ras, a
gente pr eci sa educar os fil hos da gen te, né?
(M aria Benelli , Circo Am er ica n)

Ci rco não é amb iente pr a criança, principalment e por que não t um essa condiç ão de
estudo aqui em São Paulo . No int er ior tem mais f acilid ade. Aq ui em São Paulo, v ai
mat ri cul ar urna criança , eles não aceit am , nem corno ouvi nt e. Que nem essa mu lher
que é viúva, t em cinco f i lhos , nenhum te m dipl oma, pelo menos do primário.
(Fátima de Carvalho , Ci rco do Chiq ui nho)

A s dif ic uldades par a est udar não estão só relac ion adas a esses
impedim ent os externos . A própr ia org ani zação intern a do circo dificul t a
o estudo:

Eu entrei no pri meiro ano, depoi s term inei , fiz até o terc eiro , quarto, qu into , da í
parei. Não qu is mais por causa do c irco, né? Porqu e ti nha que estudar à noit e,
t rabalh ando no circo eu não podia , então parei.
(Jandira Benell i, Circo Ame rica n)

Ou ando cons egu em est udar, concluem no ma xrrno o primeiro grau;


percebem , por ém , que a escola pode lhes oferecer urna outra opção , até
ent ão descon hecid a: t er conta t o com uma form a ele v ida fora dos
bastidores do circo :
ENTREVISTA DOR: Do que é que voc ê mais gost a? Do circo ou da escola?

LEILA : Eu gost o mais da escola, qu e eu aprendo bastant e.


(Leila, Cir co Pauli stão)
Eu, quando era pequena, eu me sm a chegav a a chor ar pro di re to r de escola , pr a
c onseg uir fazer o pri mário . Cons egui fazer o pr imário. Mas iSSI) fo i cho rando e pe-
gando e sentando em ban quinho - não era banco de escola - - era banquinho que
eu mesm a levava pr a poder estuda r; se eu tive vontade de estud ar um dia . .. Eu
ac ho muito péssimo c riar filho s em circo. Ach o ruim mesmo , a educação não é boa.
(Fát im a de Carvalho, Circo do Chiquinho)

No ent ant o, a maioria só consegue estudar se sair do meio circense,


passando geralm ente a res idir em casa de parentes . Esta é uma saída
para o problema que sacrifica , por outro lado , a convivência com os
filhos :

ti dos nas esc olas públi cas ou part iculares locais, medi ant e a apr esentação do cert ifi-
cado de matrícul a da escola da últ im a loc alidade por onde tenh am passad o.
A rt . 2.° - Hevoq arn-se as disposi ções em cont r ário.

27
( . . . ) e eu achei por bem educar minh a filh a. E me lancei na lut a. Levei a meni na
pr a casa da minha fa mília e lá . . . desde os quat ro anos de idade ela estudou, até
os dezoito . Fez o ginási o, estudou tudo d ireitinh o.
(Lourdes Leal, Circ o do Carlito)
Ago ra a out ra me nin a minha tá em Botu catu . porq ue os pais da mlnh a nora moram
lá. Tá estu dando . . . Agora , mandá toda s as crianças fo ra, a gente te m pena ...
(Ma ria Benelli, Circ o Ame ric an)

Algum as c r iança s com a " serra gem nas vei as ", " puxa das pel o sangu e" ,
lar gam os est udos para voltar para a famíli a e para o circo, pre fe r indo
desta ma neira co nt inuar a art e pat ern a:
Porque a verdade deve ser di ta: tod os eles abandonaram estudo po r causa do circo.
Não que eu qui sesse. Não que eu quisesse. Eles abandonaram de liv re e esp ont ânea
von tade , nunca fcra rn obrig ados.
(Car lito, Circo do Carllto)
Meus filhos estuda ram até a terceira se r re e segunda. Agor a, não seguiram , porq ue
não quis eram mesmo, mas t iveram chance, porqu e min ha sogra educava eles bem .
Todos eles tenderam pro lado do c irco, eu quis tir ar todos eles , porqu e na nossa
vida , pr a nós que j á somos is so, j á nascemos e cr iamos nisso é ót imo. mas nossa
vida tem muita dif icul dade .
(Maria Benelli , Circo Am eri can)

Al gun s c irce nses reco nhece m a im port ância do est udo para o
apri mora me nto de sua arte . Percebem que não basta apenas o " dom "
de arti sta, para exercer em bem seu ofício :

Porqu e nós ch egamo s a uma con clu são, porq ue sem estudo também não tem art e.
O ato r se mi-a nalfabe to é apenas um palhaço, um pap agaio . Um ato r precisa ter
cult ura. Fo i o qu e aco ntece u ao meu irm ão J acqu es: era um ato r nato , mas sem
cult ura, a c ult ura era rud imenta r, mas qua ndo ele subi a no palco ele resolvi a -
deco rava o texto , então falava só o text o, não era c riat ivo . Fazia co m perf ei ção
apes ar da pouca cu ltu ra, rude mesmo. Porqu e nós em ci rco , o senhor sabe, não
pode mos est udar dem ais , temo s que freqü ent ar o grupo esc olar na maneira que a
praça v em cheqa ndo. Aq ui f azemos o primei ro ano, lá o seg undo, assim a nossa
lut a pela vid a de circo .
(Gar rafi nha, Ci rco do Carlito)

A s cri anças c irce nses , ob riga das pelos pais a trabalhar, enf re nta ndo
as difi cu lda des de fa lt a de vaqas nas esc olas, não t êm out ra opção de
vi da que não sej a o ci rc o :
Um dia eu fa lei: hoj e eu não t rabalho. Mamãe me deu uma su rra! Me rasgou toda
a roupa de pal haço, nunca mais até hoje eu falei que não trabalhava. Quer di zer.
aqu el e d ia eu trab alh ei fo rç ado. Hoj e eu traba lho fo rçado também. porq ue já enc hi
disso, viu ?
(Ga rrafinha, Circo do Car lito)

Quando ati ngem a maiorid ade vêem-se se m estudo , sem o apre nd izado
de outra profissão. Então perman ecem no circo, obrigad os pel a at ual
estrutura de ensi no e pelas pr óprias co ndições do circo:
Eu pelo j ei to vou f ic ar em circo . Pret endo seg uir minh a carreira de circo . Igual meu
pai. Me u pal morreu no circo . Então vou seg uir a v ida dele ta mbém.
(Tana ka, Circo do Chiquinho)
ENTREVISTA DOR: Voc ê gos ta ria de trabal har em outro lug ar como ator?
EUZÉBIO: Isso daí a gente sempre gos ta , né? Eu gost aria. Ma s é a oportunid ade . A
gente não tem estudo, não tiv e opo rtunid ade.
(Euzébio Gome s Piet ro , Circo do Chiqui nho)
WILM A : Ol ha, nós largamo do ci rco um ano pra ver se a ge te dei xava, por ca usa
dos est udo dos meni nos. M as nós não conseg uimo. Quem é de circo não larga
mesm o . Então minha f ilha está est udando de praça em pra ça e nós est amos no
fundo do circo .
(Wilma de Oli veir a, Circo Paulis tão)

Os pais se gui ram o me smo camin ho, e os que co nseguiram enf renta r
de maneira satisfatóri a as dificu ldades inere nt es à pro f iss ão e ao siste ma
sublim am nos fi lhos sua frustração no est udo :

Tenho dez filh os, uma fa lec ida e nove vivo s. Estuda m! Todos estudam! Eles têm
idéia de um fazer advo cacia, outro medic ina e t al, quer dizer , o que o pai não
conseguiu às vezes at ing ir, os filhos estão quer end o pe nde r pra esse lado.
(Wald emar Nun es, ex-proprietário de circ o)
ENTREVISTADOR: Se vocês tivessem filhos, gos tar iam que eles seguissem a ca rreira
c ircense?
GARRAFINHA: Ah! impreterivelmente! Eu os co loc aria na arte. Primeiramente gos tar ia
q ue ele estudas se, fosse o qu e eu não pud e ser: advog ado . Depo is, meu fil ho: venha
para o circo, vá para o c irco , para o teatro, vai pra isso , porqu e a art e é que está
na alma da gente . Eu, por ex emplo, gosto de circo , t enho palxão , so u frustrad o por
não ter fi lhos . Essa é a min ha f rustração. Por não t er um fi lho pra estudar, pra f azer
aquil o qu e eu quer ia ser: um advog ado e depoi s ser circ ense , acompanhar o pai,
qu e era eu, qu e so u pal haço há c inqüenta anos.
(Ga rrafinha, Circo do Carlilo)

Contatos de trabalho

Há vár ios mo dos pe lo s quais os propri et ário s de c irco arreg i me ntam


sua fo rça de trabalho: o pri mei ro, e m enos f requente. é at ravés da
amizade entre o propr iet ário e o assa lar iado :
Um di a ele (o prop ri etário Carli to) pr ecis ou de uma dama e foi lá em casa . Ele muito
bo m, nos so amigo : - A senhora me quebra o galho, vai lá, faz um pape lzin ho . . .
e co isa e tal, e eu vim fazer " O Céu Uniu Dois Co rações " , pra ele .. . de ca ra! Fazi a
muitos anos qu e eu não trab alhava e dai não saí mai s, não obstante a min ha recusa
e aque la co isa tod a, e não, qu e não , e ele não me abandonou mais.
(Lour des Leal , Cir co do Carli to)
E aqui no Carl ito eu vo lte i a tr aba lhar de ator outra vez , mas já ti nha en ce rr ado a
ca rrei ra. Vo ltei porqu e o Carlito é . . . sabe como é, aquele jeitã o dele : " Não, você faz
isso hoj e, f az isso aman hã . . . " E eu acabei me entrosa ndo de novo na arte .
(Gar raf inha, Circ o do Carlilo)

A atra c ão que o ci rco exe rce nas pesso as vind as de fora da capital é
inte nsa:
Eu se mpre gostava de c irco, des de menin o. Quand o a gent e é menino vê o ci rco
e a gent e se mp re gos ta , nê? Então o c irc o passou lá - aquela época era o Sant a
Isabel. Ele pas sou lá e eu peg uei e acompanhei o circo. Sempre gos te i .. . Deixei a

29
família . Meu pa i peg ou e vendeu o síti o. Então eu fale i: " Ele não vai maís ocu pa r
eu aqu i, então eu vo u aco mpa nha r o ci rco " . Ele co ncordou e eu fui.
{Euzébio Gom es Pietro , Ci rco do Chiq ui nhoj

Out ra for ma de cantata de trabalho é ir diretamente ao ci rco ond e o


art ista pro curad o está traba lh ando . Essa form a é usada quando o
proprietário que r determin ado artista , ou entã o qu ando ele exerce algum
t ipo esp ecíf ic o de tarefa :
Por exe mplo , se a ge nte precis a de mais artis tas, tem qu e pro curar em circo mesmo :
- tal c irco tem um casal bom . .. então a gent e vai lá, fala co m o artis ta: " Quanto
você ga nha aqu í?" " Ah! eu ganho tan to." " Então se quis er ír lá para o me u circo
eu pago tan to ." A gent e sempre pag a um po uqui nho a mais que é pra ele ir .
(Chiquinho, Circo do Chiquinh o)

Há t ambé m uma for ma de arr egimentação de trabalho que é a mais


usada pe los proprietá rios e artistas , devido à f acil id ade que apre senta
em relação aos ou t ros mod os : o art is ta é procurado num lugar f ixo, no
centro da cida de , onde to dos os circ enses se encontram nas tardes
de segun da-fe ir a: o Pont o Chie , bar local izado no Largo do Paissa ndu .
~.

o café dos arti stas : Pont o Chi c

Pont o Chic

O Pont o Chie ex iste há ci nq üe nta e cinco anos e é ainda adm inistra do


por seu pri m eiro don o. M as som ente há cinco ou se is anos , segundo
os entrevi stad os , os circe nse s al i se re únem .
O geren te do Ponto Chie, Seu Ari , con t a-nos como o bar fo i requis itado
pe los circenses par a ponto de encontro :1:

3 . " Não se sabe ao ce rto a origem do pon to. Conta-s e qu e a tra dição foi iniciad a
po r volta dos anos 30, qu ando membros da tr adi ci on al fa mília ci rce nse Quei rolo, os
pal haços Píolim , Chich arr ão e Arre lia, que tamb ém eram do nos dos circos em qu e
tra balhavam, passaram a fr eqüentar o bar. Ju nto com eles chega ra m as pro pos tas
de trab alh o e as notí ci as do s ci rc os que estavam em vi agem." (O Estado de S.
Paulo, 3/ 2/77)

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Eles nos pediram um salão que nós tínham os anexo ao Ponto Ch ic, par a utilizar
somente nas segund as-fe iras . Então nós co locamos lá à dispo si ção deles mesas ,
cade iras, gar çon s e tal , mas eles não fo ram sufic ient es para isso I . Eles queri am estar
aqui tamb ém . .. t omar conta de tudo . No f im de algum t empo , nós v imos que el es
estava m er a fazendo bagunça, por que a maior ia deles são bagu nceiros mesm o . Agora.
não. Ago ra nós começam os a fi car com dó deles , já são amigo s da gen te, não te m
pr obl ema. Mas quand o nós vi mos qu e era pr a fazer bagunça, nós fec hávamos às
segund as-feiras, só abri amos à tard e. Mas aí vimos que não est ávamos prejudicando
eles. Estávamos pr ejudicando a casa, por ca usa dos fregues es cotidianos. Então nós
deixamo s abe rto e . . . estamos aí com eles, não tem prob lema.
(A ristides , ger ente do Ponto Ch ic)

Os propri et ários de circo procuram basta nte os cantores sertanejos da


chamada mú sica jovem , que tr abalham por cac hê. Ma s são procurados
t ambém os artistas assalariados que, com suas famíli as. são cont rat ados
pel a companhia:

Olha aqui, a gente vem a fi m de contratar um show , arrumar um casal. A ge nte qu er


mandar outro embora, então vem aqui. Arr anj a . . . aqui é o no sso ponto de comu-
nica ção com os arti stas, emp resários, don os de c ircos, afinal de co ntas, aqui a gente
resol ve todo s os proble mas que cabe ao meio c ircense . A maio ria das vezes a gent e
vem aq ui para ace rta r show pra semana - pr a out ra sema na - aqui é o ponto.
Não te m outro lugar. Mesmo q ue o empresário tenh a um tele fo ne. ele faz questão
que a ge nte venha seg unda- fei ra pra peg ar as pro pag and as.
(Etelvi na Ga ivão , li a, Cir co Arco-íris)

É bem informal esse encont ro às se gundas-fe iras à ta rde . Empresários ,


art ist as , prop ri et ár ios f ica m con versando em fr ente ao bar , indo de
uma " redinha" para outra, fa lando dos assun to s da seman a. Alguns
ent ram e sentam-se às me sas para beber, comer , con versar e re laxar.
após urna se mana de t rabalho. Esse relax só se dá depois de t er sido
feito o cantata com os art ista s porqu e, ante s de t udo . o Pont o Chic é
o local onde se encont ra mão-de-obra disponível. lt a, prop ri et ária do
Circo A rco -fris , e seu A ri cont am como é real izado esse cant at a entre
patrão e assalariado:

Po r exe mplo : um artista, ele vem lá do Paraná, ele chega aqui e informa: " Quem é
que está prec isando de um art ista ? (faço arame, no caso . . . )" Então ele pergun ta
pra mi m, pra out ro, a gente info rma, então ele vai ao don o do c irc o que pr eci sa
dele e imedi atamente está contra tado. Ele pergun ta pr a qualq uer um e indi ca: " Olha.
aq ue le lá é do no de circ o . . . " Então aq uilo se t ransfo rm a num a . .. é um rod lz lo de
negóc io e há uma união muito grande entre nós; com o há d if ic ulda de há un ião .
mu it o bacana.
(Etelvin a Gaivão, Ita, Cir co Ar co-I ris)
Aqui no Pon to Chic - somente às segundas-fei ras à tard e - eles tomam a su a
cerveja . eles se reúnem com os amigos, porqu e todos eles é uma cl asse, el es são
muito un ido s, entende ? Batem papo , eles, po r exe mplo, faz em cont rato com um
arti sta po r tr ês semanas . às vezes por uma semana só. Eles estão chateados , estão

4 . A ri ex presso u-se obsc uramente : na verd ade o que ele qu er diz er é q ue todas as
fací lidades co loc adas ao alcanc e do s circe nses não lhes bastaram.

31
enjoados co m aquele, que o servi ço não foi bem e tal. Ele t ransfere aquele art ista
pra out ro circo , e o outro artista de circo manda um outro artis ta pr a eles, entende?
Quer dizer qu e el es se reveza m.
(Aristides, gerente do Ponto Chi e)

Carvalh inho . Ponto Chie Art istas no Ponto Chie

Por ser o local de encon tro dos art istas circe nses, o Pont o Chie se
tran sf orma num local de comu ni cação, de troca de informação, de
contatos, de am izade ent re eles. A lguns se queixam e nem o freqüentam ,
pois alegam que há mu ita " fofoca", pr ejudicando, dessa forma. o
traba lho:

Te m o café dos ar tist as . . . Eu gosto de ir muito pouco lá, que al i é o ponto das
fofocas .. . mui tas menti ras. Então eu não go sto : " Não, essa seman a fizemos 5 milh ões
tal dia, dep ois fizemos 3 mil hões . . . " " Vamos tomar café?" Vamos . Então naquele
po nto o camarada fica amarrado, porqu e está sem dinheiro. Ali é o ponto das menti ras.
(Joanito , Circo do Chiq uinho)

Outros têm opiniões di fer ent es . Encaram o bar como o úni co meio que
lh es proporcion a encont ros, can t atas para trabalho e am izade:

Eu ch ego aqui, por exem plo, ve jo uma amiga, então quando eu chego eu vou dizer
pra ela : " Olha, eu encontrei fulana . . . " Eu ac ho que isso não é fof oca , está comu-
nicando, aqu i se comunica. Fofo ca, não.
(Ete lvina Gaivão , Ita , Circo Arco -Iris)

Mas t anto os art ist as com o o don o e o ger ente do Ponto Chi c de morara m
a se ajusta r em rel ação ao pon to de encont ro. Os art istas quei xam-se
de que são maltratados pelo s donos dos bares , qu e os obr igam a
consum ir , e que são segregados por pr econceito de c lass e da parte
daqueles :

Os do nos do bar maltrata o povo que fica ali na por ta. Eles falam: " Sai da port a . . . "
Quer diz er qu e os artistas são maltratados pelos do nos do bar. Têm que ficar ali
tomando guaraná , gasta ndo , senão não fica mes mo.
(Fátima de Carval ho, Circo do Chi quinho)
O nosso amigo aqu i do 518 (bar ao lado do Ponto Chi e) esse aí, menina, sabe o
qu e el e fez com a gent e? ou fazia ? Ele fech ava o bar, depo is ele dei xava meia fol ha
aberta e jogava águ a nas pesso as, ele espezinhou a classe artística, olha, espezinhou

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mesmo , chamava a polícia pra prender to do mu ndo . Ele tel efona pra policia, pra
políci a vir e levar e levava injustamen te - quatro, cinco - chegava lá , soltava,
porque não era . . . gente à-t oa! "
(Etelvi na Gaivão, Ita , Circo Ar co-íris)

Coutinh o e Cid inh a. Ponto Ch ie.

E O gerente do Ponto Chic rebate prontamente as queixas dos circe nse s:


Ah! consomem pouco, mas . . . não tem pr oblema, não , tudo bem . Deixa que eles
vivam a vid a deles , nós vivemos a nossa . . . se fosse todos os dias nós não agüen-
ta ría mo s, é claro ! O dono do Po nto Chie é uma pessoa de idade, ele tem muita
dó ta mbé m, entende ? Não tem problema . . . a maioria deles, às vezes , até uma
cerveja esq uece de pagar . . . mas nós deixamos, não tem prob lema, tá tudo bem . . .
(Ar isti de s, gerente do Ponto Chie)

Seu Ari não dei xa , entretanto , de especificar um dos tipos de incon-


ven iência a que se vê suje ito por parte dos artistas:
A bagunça del es é como você vi u. Se eles não tê m as cadeiras pra sen tar, ele s
sent am nas mesas , entende? E pra educar esse pesso al é muito sac rifi cad o, não
é br incadeira, enten de? Mas conseg uimos educá-l os , porque s ão gente humilde, são
gen te qu e não teve esco la.

o Ponto Ch ic , como os outros bares da redondeza, suport a o circense,


ape nas tolerando essa fregues ia de baixo poder aq is itivo que se v ê
caminhando cada vez mais par a a margina lidade .

Divisão de trabalho
Podemo s per ceb er duas funções nítidas na divisão de trabalho no ci rco:

33
a p rime ira co rrespond e ao nível braçal - é o " pelud o" ,i , A segund a
corres pond e ao níve l art íst ico, cr iando e reali zando os cenários. a
il um inação. a sonop lastia e o traba lho de int erpretação . Muitas vezes
as funçõ es de "pe ludo " e de art is t a são desempenh adas pe las mesmas
pesso as , geralment e pelos pr ópr io s art ist as. A con t rat ação do "pe ludo "
está intrin se camente ligada às condi ções econômicas dos circos .
Encont ramos aqui uma estrutura do t ipo comun itário , que aparec e a
part ir da condição econômica dos proprietár ios dos circos.
Os em pregados geralmente são requ isitados na praç a onde o ci rco se
ins t ala. Ger alm ente são pesso as sem trabal ho. norma lmente me ni nos
que rondam o circo, aceitando trabalh ar por uma te mporada.

Eu sou ator, sou emp resário. A g ent e arruma tudo no c ir co . So u empresári o, emp re-
g ado . Falta emprega do, a g ente vai fazer a limpeza. Não tem pro blem a nenhu m.
(Ma rc o Ant ônio Sem ioni , Ping olim , Cir co Pau list ão)

Marco Antôn io Semion i (Pi ngo lim), Robe rto Carvalho, Wi lma de Oliveira e M r. Jones
Eu e o Pingo lim e a compa nhia. To do mundo aqui . . . tudo é artista. . . quando é
hora d e desmon tagem do ci rc o, todo mun do é " pelud o" , que nem a tu rma fal a:
" pe lud o " de circo . Pega na cavad ei ra e ma nda vê.
(Rob erto de Carv alh o, Cir co Paul istão)

Não encontramos, por tanto , a mesma divisão rígida de t rabalho que


ex ist e no processo de cri ação artíst ica das companhi as de teatro
com erci al. O pro prietário também parti cip a do t rabalho, na medida em

5 . " Peludo " designa, na g ír ia circe nse, aq ue le que monta e desmon ta o circo , cui da
d a limpeza geral , etc.

34
que, com sua família, at ua no esp etácu lo. É uma est rut ura onde há
acumulação de vários papéis por seus me mbros : o pr oprietári o é de um
lado, o produtor do espetácu lo. Do outro , é o arti sta ; os artistas são ao
mesmo tempo atares , cantores, cenógraf os, acr obatas, sonoplastas , etc.
A f rase mais freqüentemente encontrada foi: "de t udo faço um pouco " :

De t udo faço um pouco, de tudo faço um pou co . .. Sabe, não tem distin ção . Qualqu er
tipo de t rabalho qu e me dê eu faço .
(Demét rio, Circo do Chiqui nho )

Ac rob ata, tr apezist a, có mico tanto em peças como em cha nc hadas , um pouq uin ho de
tudo . Fora de ce na eu faço propagan das , a bem dizer so u um dos bons locutores
aqui dentro e nessa parte comerc ial eu de ito e ro lo . Aj udo na montagem e desm on-
tagem do c irco - depende do aper to - co nforme os empregados que tem : se tem
pou cos a gente pega todo mun do mes mo e não t em erro.
(Mari ovaldo Ben el li, Circo American)

o ci rco é carac t eri zado pela organização f am il iar : famíl ias diferentes,
morando no mesmo loca l de traba lho e vendendo su a arte em t roca de
um salário seman al. Sistema est e que dá segurança a seus membros ,
onde exi ste uma tênue re lação de concorr ência. Há circos onde
encontramos somente uma fam ília art ista , vendend o sua força de
t rabalho. Os pais, que detêm os me ios de produção , pagam salário
instável a seus f i lhos , genros e nora s, de acordo com o lucro da
companhia:

Então cada filho meu eu pago - qu ando pode e qu ando dá - quer dize r que eles
recebem qua t rocentos contos por semana. Mas se é um mau tempo, uma praça ruim,
então também dá o que a gente pod e. Com e e bebe tudo j unto, são meus fi lhos ,
me us netos , não tem prob lema.
(Maria Benel/i , Circo American )

o cotidiano do artist a

A s horas de t rab alho do art ista estã o em re laç ão dire ta com as f unções
dese mpe nhadas : as crianças , que só t raba lham à no ite , ou mat inê, têm
o di a int eiro para estudar. quando consegue m vaga, ou entã o par a
br inc ar :

ENTREVISTADOR : Você não fic a ca nsada? Não tem so no à noi te, na ho ra do espe-
táculo ?
REGI NA : Depo is do espe tác ulo a gente dorme. De dia a gente do rme até a hora
qu e a gente qui ser.
(Regina, Circo Pauli stão)

Os prop rietários e suas fam ílias t rab alh am durante o dia , fazendo
divulgação , procurando terrenos, indo à Ligh t , fazendo alguns reparos
no circo , etc.

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Os artistas que não participam do processo da produção t êm o dia livre
para t re inar seus números, ensaiar suas peças - o que raramente
acontec e - ou ent ão, divertir-se:
Cin ema eles vêem de dia . Tem muitos que vêm pro centro s6 par a assisti r cin ema.
Por que o horário de les t rabalhar é à noi te s6. Então de dia dá tempo.
(Chiqu inho , Circo do Chiquinho)

Circ o Paulis tão.

Ofi cial mente, o arti st a circense tem um di a de fo lga na sema na: a


segunda-f eira . No entanto, quando há mud ança do cir co para outra
pr aça , enquant o é realizada sua montagem , os artista s fo lgam som ente
quan do os ci rc os podem contrat ar empr egados para auxi liá- los:
Geralmente n6s temos um dia da sema na qu e é pra div ersão nossa. Quando n ós
descansamo s na segunda-fei ra, trabalhamos na sexta-fei ra. Sempre tem um dia da
sem ana pra descanso dos artist as, pra ter um pouco de .. . higie ne mental tamb ém,
um pou qu in ho pra recupe rar o trabalho da gent e né? A gen te vai pescá, vai ao
cinema, vai assim a um futebol . . .
(Már io Ben elli, Cir co American)

A gente às vezes fa la assim: - Bem, ago ra a semana que vem tem mudança, n ós
vamos descansar . . . mas aconte ce que sempre na ' mud ança tem uma pec inha, que
a ge nte tá ca nsado de co nhecer. Mas a gente tem c uriosid ade de ir lá ver os outros
t rabalharem. E gosta. E a ge nte ac ha graça. É co mo qualquer espectador, põe defeito ,
elogia. Tem pessoa s que elog iam o artista: "I h! ele foi bem, hein?" " Ih! mas ful ano
també m foi mal, hein ?" qu e nem vizinh a qu e gosta de falar mal da vi da dos outros.
No circo ex iste essas co isas também.
(Fát ima de Carvalho , Circo do Chiquinho)

Essa f olga seman al quase nunca é respeitada. O emp reg ado é obr igado
a entrar em acordo com o prop rietário , quando a chuva , o fr io, ou o
baix o poder aquisit ivo da população inte rferem no lucro da companh ia.
Dessa f orma, trabalham no úni co dia des tin ado a seu lazer:

Nessa seg unda ago ra tem espetáculo. Aqui inc lusi ve. Em Per us todas as segundas-
feiras foi folga. Mas aqui nós peg amo muit a ch uva, o que atr apalhou um pouco. Entã o
os artistas são meio comp reensiv os e a gente estava com urna despesa lou ca pra
refo rç ar o c irc o todo. Então nós t rabalhamos na segunda . Mas normalmente nas
segundas-fei ras é fo lga.
(Marco Antôn io, Chic o Bi ruta, Circ o Band eiran tes)

Varia a folga. Alguns dá de segunda-feira, outros acha que quarta é melhor. Então
va ria a f olga. N óls não te m folg a. Nóis tr abalha t odo o dia . Agora só sexta-feira
é nossa folga. Sexta- fei ra santa .
(Ch iquin ho, Circo do Chiquinho)

A lém do proprietá rio intervir no dia de descan so do fu ncionário , a sua


folg a se t orn a cada vez menos freqü ente , na med ida em que às
segundas-feiras os art ist as se reú nem no Ponto Ch ie, par a re alizarem
negócios :
E como a gen te não pass eia - a gente não tem feriado, não tem domingo , nada
- então segunda-feira, nosso dia de folga, a gente vem aqu i no Ponto Chic contar
as vitórias ou as misérias da sema na, né?
(Etelvina Gaivão , lia , Circo Ar co-Ir ls)

It a, proprietária do Cir co Arco-ír is, nos dá uma idéi a mais clara das
difi cu ldades que os artistas de ci rco enf rent am por não gozarem de um
dos direitos i nalie návei s do traba lhador: seu di a de folga:
Div ers ão não t emos . Não tem os porque, olha, sábado nós trabalhamos , domingo
nós trab alhamos, matinê e noite; e fer iad o se tem , no caso , nós também tem os que
trab alhar. Então cir co é uma prisão. Gente de cir co , eu digo sempre, é enterrado
vivo. vive para o circo . Se ele é empregado não tem condição de sair ou não tem
cond iç ão de tempo, devid o o trabalho ou mon etar iamente, né? Então ele é . . . cat ivo!
Eu, como dona , eu também não posso sair , po rque eu tenho que estar lá no negócio
- é uma prisão. Mas é bacan a, di vert ido , eu gosto. Não sou de família cir cense,
mas eu go sto , sou feli z .
(Ete lvi na Gaivão , Ita , Cir co Arco-íris)

Circo e tevê

o advento da te lev is ão e, mais tarde, a fa cilidade de aq uis rçao de


aparelhos de tev ê aum entaram a procura do pro dut o e abalaram as
out ras f ormas de divert im ento anteriormente procu rad as. O ci rco f oi o
que mais se ress entiu , segundo os entrev ista dos, dev ido a su a fr ágil
est rut ura econâmica:

Eles nem se quei xam mais da co ncorrênc ia da tele vis ão, po rqu e é reali da de. Eles
se queixa vam anti gamente, hoje nem se queixam mais, porque cada vez mai s ele s
estão mais pobres, entende?
(Aristides, ge rente do Ponto Chie)

37
o circo te nt a, na medida do possível , vencer ess a concorrê ncia desleal,
apr i morando suas at rações :

Hoj e em dia no espetáculo de circo a ge nte tem que bol ar ele assim, mu ito bem
bo lado . .. bon ito . . . devido à televisão , porque se a gente não fize r um espetáculo
bon ito , a televisão também já mata a gente, quer dizer que o po vo já fica mais na
televisão.
ENTREVISTADOR: Quer dizer que a te levisão elevou o padrão ?
~ , levan tou. A tel evisão levantou. E caiu a par te circense , mas ago ra a parte circe nse
está leva ntando mais. Eles estão bolando uma coisa di feren te e tal e o povo assiste
ao vivo e pre fere mais o circo que a televisão.
(Roberto de Carvalho, Circo Paulistão)

A ma io ria dos artistas circenses t em oprruao curiosa a respeito desse


confronto do industrial /artesanal. É opinião geral que a te levi são, quando
apareceu, restringiu bastante o público circen se . Fato difícil de ser
explicado, já que a fai xa econômic a da popu lação a que o circo se dirige
possui baixo pode r aquisitivo, não t endo acesso à compra do aparelho
na época do seu aparecimento . Só mais tarde foi inst aurada um a política
de crédito, que veio f acilitar a aquisição . Mas depois , cansado do novo
brinqu edo, o públi co vol t a a su a ant iga form a de divers ão:
No começ o, a televisão in fl uenc iou , sim. Agor a já não tant o, porqu e o públic o tem
uma fac ili da de pra se habitu ar com as co isas, que é uma co isa incrível. No começ o
a televisão ama rrou um pouco, mas é como eu lhe digo, essa neurose em que vive
o povo, eles não que rem mais ficar presos dentro de casa, porque preso já ficam
no serv iço , né? Então eu acho que é isso. Ela já não está prendendo mais como
prendia no começo, que era novidade. Como tudo cansa, tudo se habitua, tudo enjoa,
não é?
(Lourdes Leal, Circ o do Carlito)
Mas teve circo qu e pereceu muito com a te levisão, mas agora não, parece que
no rmal izo u o povo , ac ho que ca nsou um po uco , né ? A te levi são cansa um pouco
a vista , então eles vêm um pouq uinho no c irco .
(Maria Be nell í, Ci rco Amer ican)

A novela, na opini ão de dois propriet ários , t ambém foi um dos f at ores


que contribuiu para o novo aflu xo de espect adores, vis to que a t elevisão
despertou o sentido de ver o espetáculo - o drama - aspecto
fu ndamental no circo-teatro:
Oito anos pra cá mel horou muito pr a circo devido às novelas. As nov elas ajudaram
mui to o circo, po rque quando surgiu a televisã o no Brasil, o c irco foi muito preju-
dicado. Então era novidade, todo mundo queri a ver TV e no circo não sobrava públi co.
Depo is com eço u a apare cer as novel as: pro circo-te atro ficou ótimo , porque o que
se apresenta em capí tulos, dur ante cinco ou seís meses, nós aprese ntamos em duas
horas. Só qu e, claro , lá tem recursos que nós não temos aqui. Mas o teat ro que nós
ap resentamos é válido tamb ém : em du as horas nós apresentamo s tudo. Não pr ec isa
co ntinuidade nout ro dia. Então a novela em TV ajudou muito o ci rco-teatro.
(Carlito, Circo do Carl ito )
A te levisão , para os ci rcos de pi cadeir o, só de palh açadas, abateu um pouquinho .
Mas para o circo-teatro ajud ou bastante. Aj udou bastante porque o povo assiste a
nove la e vem ver um dr ama que equ ivale às nove las. Então evo lui u pra nós . Estava
morto o círco . . . dep oi s que começ ou a surg ir as novelas , a te levis ão , começou a
levantar o circo novamente, cir co-teatro começo u a leva ntar novamente.
(Mári o Ben ell í, Circo Ame ri can)

3P
Pressionado pe los mei os de co municação de massa - cinema e televi são
- o circo foi obr igado a modificar seu espetá culo para sobreviver. Os
nú meros de picad eiro dim inuíram, dando lu gar ao teatro, aos shows
de música e à luta l ivre. Foi mod ificado, incl usive, o horário das
apresentações : de 8:45h, para as 9: 15h, pos sibi li t ando ao púb li co
t ermi nar de assist ir à novela:

A única coisa que te m atr apa lha do um pouco é os horários de cert as novelas, que
acaba m às nov e ho ras. A gent e ant igament e t inha o hor ári o de começa r o espetác ulo :
qui nze para as nove é o horá rio de tradi ção dos circos. Nós já co meçamo s às nove,
que é pra dar tempo da pessoa ter min ar a novela e sair co rrendo pro c irc o.
Nessa vila, qu e eu cito sempre, Iguatemi, era cinco pr as nov e e voc ê não via ninguém
dentro do ci rco . A gente baixava a ca beç a e fala va : " Hoje é dia qu e vamos embora,
vam os do rmir mais cedo ... " Mas quando era nov e, a gent e olh ava pra bai xo e via
aq uela fi la de senhor as puxand o c rianças, correndo. Oua ndo era nove e cinco o
ci rco estava lot ado.
(Jo an ito , Circo do Chiq ui nho)
Ouando tem uma novela assim, q ue é muito assistida, então a ge nte inic ia o esp etá cu lo
um pouq uin ho mais tarde. Espera termin ar a novel a e co meça e dá par a pegar se mpre
uma boa ca sa.
(Marco Antôn io , Chic o Biru ta, Circo Band eiran tes)

Pau listão no Jardim

Trailer. Circ o Paulistão .

É opimao gera l que o número de ci rc os aumentou . M as isto é apenas


um a hipót ese ot irnista, pois não ex istem dados que a confi rm em .
Chiqu inho di z que não pode cal cul ar o número de circos novo s, " por que
ci rco , sabe, t em vin t e aqui , dal i uma sem ana, j á não t em nenhum, já

39
saíram tudo". E Marco Antôn io, do Ci rco Bandei rant es. coloca-nos outro
aspect o do problema , ao apontar as difi cu ldades dos novos peque nos
proprietários . que depo is de um curto período , esmagados pe la
co ncor rência. são obrigados a vender o circo, vo ltando à antiga cond ição
de empregados:

ENTR EVISTADOR : Você ac ha que o número de c irco está aume ntando ou di minuindo ?
M . A .: Está aume ntand o, mas aumentand o des or denada mente, sabe? Então, no cas o,
mu it os artistas hoje em dia eles saem de um circo pra mon tar um circo também .
Mas ele monta um circo muito peq ueno, que não oferece co nd ição, porq ue t udo ,
no caso , é a q ualidade , pr a família passar por ali e o circo ser bom, né, e ent rar.
Então ele mon ta aquele c irc o pequeno e começa a ir mal, começa a ir bem mal, ele
desiste e vo lta novame nte a ser cont ratado . Então nor malmente o que aco nte ce é isso :
o artista sai. monta um c irco , vende e vo lta para ser contr atado .
(Ma rco Antônio , Ch ic o Biruta. Circo Band eirantes)

Vocação

A pes ar de tod os os problem as que são obri gados a enfr ent ar -


habita ção pr ecária. im possi bili dade de estudo. baix a remuneração,
suj eiç ão a um regime de t rabalho em que dif ic il mente há folga e co mplet o
desamparo das in st itu ições governa menta is - , o art ist a circense se vê,
po r outro lado. re comp ensado pelo fato de poder exe rcer sua arte,
obt endo dessa maneir a uma sat isfação pessoa l no trabalho:
Eu gosto de teatro , por isso esto u com o Carlilo ainda. É q ue eu gosto de faze r
aquilo qu e est á na minh a alma .
(Garrafinha , Circo do Carlito)

Encon t ramos. inclusive . art istas que , exerc endo outro t rabal ho que lhes
gar ant e a subs is t ênci a, não são re munerados por sua art e, exerc endo-a
por si mpl es pra zer :

ENTREVISTADO R: Então quer dizer que no circo vo cê faz um cachezinho a mais ?


EUZÉB IO : Não , a ge nte vem só passear, não tem prob lema.
ENTREV ISTADOR: Voc ê faz o t rabalho po r amizade e não por di nheiro?
EUZÉBIO : Mai s pel o esporte . né? A gente gost a, a gente vem sem pre aqui, a ge nte
já gosta de t rabalhar então vem um e fala: " ô, tem um papel pr a voc ê aí t raba lhar" .
(Euzébio Gomes Pietro , Ci rco do Chi qu inho)

Ap renden do com os pais . com os proprietár ios de ci rco ou mesm o


através dos meios de com unicação de massa, o trabalh o do art ist a
circe nse é des envolv ido sem método . aleat oriame nte, o que não im pede
de encont rarmos t ale nt o e qualidade em sua obra:
Meu fi lho vai nasc er ago ra, vai nasc er no palco mesmo, com lona velha ou sem lon a.
Mi nha mulher já tá de cinco meses e esse vai ser de ci rco, po rque eu vou qu ebr ar
a perna dele tod inh a pra ser t rapezista .
(Rob erto de Carvalh o, Cir co Pauli stão)
Compo r, vo cês devem saber que não é a gente querer , é do m. Então eu já te nho
esse dom. não é, desde pequ eno . O Ti noco ele já não tem esse dom de esc rever, não
é? Então eu escrevo , arrumo a música. e ele ent ão dá o últ imo ret oqu e, com o se diz.
( . . . ) Ah I Isso já é de natureza, já é por . . . Já acho que é dom, que a pessoa j á
nasce, porque eu com o Tinoco nós de idad e . . . eu, por exemplo, tinh a dez ano s
e nós cantava assim , fazi a dire itinho, mas sem saber. Um fazia a primeira, outro a
segunda voz.
(T ónico, da du pla Tonic o e Tinoco , Circo do Chiquinho)

O rel acionamento da equ ipe de trabalh o - troca de expenenc ias ,


estímulo e segurança, advindos do respeito entre ele s, também é um dos
fatores de desenvolv imento da arte circens e:
E gosto de esta r co m o Carl ito , desd e o di a em que el e se r semp re o que ele é:
o Car lito. Não ofe nde r a famí lia dos Martins. Um dia qu e ele levar essa vid a sempre
me tratando do jeito que est á me tratand o eu vou con t inuand o no circo , senão paro
out ra vez de circo e não volto mai s.
(Garrafinha, Cir co do Carlito)
ENTREVISTAD OR : Você contra ce na muito com os irmãos, não é? Com o é essa ligação ?
MARIOVALDO : É que a gente tá mais amb ientado, ent ende? Mas semp re aparece
pesso a qu e tem mais vontad e, qu e vai bem també m, que a ge nte se apega e trabalh a
direitinho. A mesm a coisa, talv ez me lhor. Esse é o ramo artlstlco.
(Mariovaldo Benelll , Circo American )

O artista circ ense reconhece , mesmo intuitivament e, o que é esse " dom"
de algumas pessoas para a arte . Ouando alguém não se adapta a
determinado papel e não demonstra nenhuma inclinação para a arte, se
a situação económic a da famíl ia permite , não é obrigado a traba lha r :
Ela é doméstica mesmo. Não depend e nada do circo . Não tem vocação pra nada.
Ent ão, por esse mo tivo não pon ho ela pra traba lhá . Não gosta, então não vamo s
for ç ar a natureza. Não adianta subir aqui em cima e não sab er representá. A gente
já qu e tem um pouco de costume com os dramas, a gente represen ta, mas é meio
forçado. às vezes agrad a, às vezes não agrad a . . .
(Dem étri o, Cir co do Chiqui nho)
Não é tod o mundo que tem a capacidad e de trabalhar em te atro . Tem as pessoa
escolhi da no circo, que fala me lhor. Tem uns que já não servem , a gen te tem
q ue escolhe r os qu e têm mais gab arito , qu e fala melh or, têm a voz mais bonita,
fal e alt o.
(Mr. Jones, Circo Pau listão)

M as aquele qu e se sente "bastante artista" v ê-se frustrado , porque


aspira a um a ascensã o artístic a e social em outros meios onde poss a
ex ercer sua arte . Mas devid o a sua própr ia condição marginal , à
concorrênci a do mercado e à estrut ura intern a do ci rco , vê-s e
impossibilitado de trabalhar no complexo industri al dos meios de
comunicação de massa:
Olh a, atriz de te levi são não vou dizer , mas uma ponta! Eu não sou gananc iosa,
um a pon ta. Uma pon tinh a qualquer pr a mi m num a novela, numa coi sa qualquer eu
ac ei tar ia de co raç ão. Ago ra, se eu encontrasse uma pessoa qu e me desse uma mão-
zinha, é aquele negócio , a gente precisa de um empurrão, enco ntrando um que empu r-
ra, né? Uma chancez inha , a ge nte então tem . . . a probabilidade, nê?
(Etelvin a Gaivão. lia, Ci rco Arco-íri s)
Eu sou frustrada, porque eu qu eri a ir mais além , não que eu não gos te de circo
eu gosto de c irc o - gosto de teat ro . Eu tiv e oportunid ades boas aqui em São Paulo,
mas eu sou frustrad a.
(Lourdes Leal , Circo do Carlito)

41
Frust rados ou não, os artistas circenses con t inuam lutando , tentando
sobr eviver , apesar das pés simas cond ições de traba lho . Agarra m-se
àquilo em que acredit am e que lhes t raz satisfação , mesmo que
momentânea: su a arte:

Nem deixo ni nguém desanimá, porque eu acho que cir co é isso. Porque acho que
enchente. t rovoada, falt a de din heiro, nada di sso é probl em a, um arti sta não pode
se dei xá vencer, não é?
(Lourdes Leal, Circo do Carlito)
Apesar de t udo, a gente gosta de circo. Sof re daqui , sofre dal i, ganh a daqu i, cai dal i,
a gente não larga.
(Pingolim , Circo Paulistão)
Olha , o pessoal de circo eles morrem dentro do ci rco , vi u? Eles preferem morrer
dentro do circo e fic ar encostado numa cadeirinha balançando. Eles pod e fica r velho ,
não fazer nada, mas ele está aqu i na cadeirinha, olhando o circo dele, balançando,
olhando o cirquin ho velho de le. Existe aquele d itado: " quem beb e ág ua de ntro do
circo , fica acostumado, sempre quer vo ltar" .
(Rob erto de Carva lho, Circo Pauli stão)

Circo e governo

Os circos necessit am de dois alvarás para poderem f unci onar: um anual ,


exped ido pe lo Departamento de Diversões Públ icas, e outro expedid o
pe la Junt a Comerci al , mediante ate st ado de antecedentes . De posse
desses dois documentos, o proprietário está legal ment e apt o a trabalhar
com seu circo.
A censu ra rara ment e in terfere nos espe táculos e, quando o faz , vi sa
o aspecto moral das representaç ões. Mas , na realidade, ela demonstra
se r supé rflu a, na medida em que as peç as são ext remament e
conservadoras e não ferem a mo ral instituída :

SENHA .

CIRCO T. CHIQUINHO
SENHA
ESPETACULO
N.·
---
42
o espetáculo do circo é na base da família , então nós não permitimos pornografia
demasiada. Se a gente abusar da pornografia é ruim pra gent e também , porque o
povo já afasta do circo. Se a gente usar da pornografia ess as pesso as não vão
deixar os fil hos, as filhas virem ao ci rco .
(Joanito, Circo do Chiqu inho)

CARTOEZ INHOS ,

43
Os circos ante rior ment e recebiam uma subvenção anual. Est a f oi sustada
(não se cons egui ram apurar as verdadeiras razões), deixando os
circ enses à mercê de sua própri a sorte 6:
Atualm ente o circ o não recebe nada do governo. Não tem aquela ajud a que o circo
pr ecisa. Não tem apoi o. A últim a ajuda foi de cinco mil por ano . É anual : c irco méd io ,
c in co - ci rco pequeno, tr ês (que é esse aqui) e o circo , o circo crasse " A" , oito ,
mil, qu e é os grandão.
(Pingolim , Circo Paulistão)

O empr esário faz ia um reque ri mento e dava ent rad a nos papéis para
a obtenção de verba :
A ge nte ent ra com a papelad a na Secreta ria de Turismo, então eles vêem o pro -
gr ama. Nós som os obrigad os a dar um espetáculo sup ercircense. Então não pod e
ter vio leiro, não pode ter shaw - só núm eros . Nós somos ob ri gad os a dar do ze
número s ci rcen ses. Por exemp lo: cac hor ro, macac o, salto, bola, equilí brio, ara me,
magia, palhaço, corda , esc ada . São números circ ens es. Dá esses doze núm ero s no
bairro em qu e está. A gente vai na deleg aci a pegar o alvará e nesse espetá culo vai
o polic iamento para conf irmar leg alm ent e que no espetáculo oc orreu os doze núm eros.
Esse espetá c ulo é gr atui to . E o bo letim que é feito pra Secretari a é aprov ado.
Dist ribu i o convite e o circ o lota . São duas ho ras de esp etáculo , doze números de
g raça. E no boleti m explica : " É oferecido pelo Governo do Estado de São Paulo ".
É bacana. E depo is, então qua ndo chega o dia , o c ir co vai lá e recebe aqu el a
importância do governo.
(Etelv ina Gaivão, lt a, Circo Arco-ír is)

O arti sta circense , com contrato verbal , sem sindicali zação, vê-se privado
dos seus direitos de t rabalhador: não t em aposen ta dor ia, assist ência
médica, dent ári a, hospi t alar , fundo de garant ia, etc . Alguns art istas se
ins crev em no INPS com o autónomos, na tentativa de obter alguma
gar antia pr ofission al , mas os at ravancament os buro cráticos desanimam
mui tos:

Eu cre io que estou encer rando minha carr ei ra de artista, po rque chega um ponto em
qu e o art ist a vai cria ndo uma desilusão, porque nós nem reconhecido s so mos como
elementos de uma soc iedade . Somo s marginali zados. Se queremos nos fili ar ao INPS,
tem os que nos fi liar fo rçados: ou se fili a co mo motorista - eu sou f il iado como
artista circe nse, mas f iz força pr a is so. Então nós preci sávamos não ser marg inaliza dos .
É simplesme nte que eu sinto isso da minh a arte, de terminar assim , sem ver ser
reconheci do pelo governo, que nós somos gent e e nós mere cemos ter um apoio da
soci edad e: te r lima aposent ador ia e se te mos hoj e . .. mas hoj e, estam os lá de engra-
çad inho - no INPS, porque eles abr ir am lá um par ênteses pro pess oal de circo .
É só nisso que me sint o frustrado, mas eu gost o da art e.
(Garrafi nha , Circo do Carl ito )

6. Em ju lho de 1976 foi rearli cu lada a Comissão de Circos , Circos-Teatros e Pavi-


lhões, do Con selho Estad ual de Cul tur a da Secreta ria da Cultura, Ciência e Tecnolog ia
do Estad o de São Paul o, que distribui atualm ente a sub venção aos ci rcos . Para se
obter essa verba anual é nece ssário ser proprietário de ci rco , possu ir os dois alvar ás
e os comp rovantes da insc riç ão dos artistas no Depar tam ento de Divers ões Públicas.
Além d isso , o cir co é obrigado a dar um espetáculo como contraprestação de
servi ços. A Prefeit ura , se for no interior do Estado , ou a Del egacia Regional , se for
na capi ta l, dão um comprovante para obtenção da verba.
Não. Nada , nada. Segu ro. Nada. Se a ge nte se machucar, cai r ou é sar ar normal-
mente, ou fazer massa ginha, ou com prar remé dio na far mácia, ou socorrer em Pronto
Socorro , não é? Ah! aí é uma not a! A í é mais car o pra gent e. Então ele tem que
tom ar muito cuid ado pra não cair , pra fazer o número e não cair e quebrar a perna .
Pra não prejudicar ele, e se preju d icar ele nós não temo co ndi ção de gas tar um
milhão de c ruzeiro em curati vo, num agessamento.
(Robe rto de Carva lho, Cir co Paulistão )

Margina lizados pe lo gover no, sem nenhum apoio le gal, os artistas


vêem-se igualment e marg i nal izados pel a população, 'como um grupo
sem qua lifi cação moral :

o nos so concei to . .. então a nossa tur mi nha é un ida, mas para os olhos do públi co
nós so mos gentinha; pelo contrá rio , nós não somo s, é ge nte que traba lha , que sofre ,
qu e ga nha pouco .
(Etelvin a Gaivão , lt a. Circo A rc o- Iri s)
Eu que ro continu ar trabalhando no circo, eu gost o. Quero morrer aqui dentro. Eu
nasc i e quero mo rrer aqui. A vida de circ o é bo a, mas tem ho ras que a ge nte come
f ilé, com e um monte de coisas. M as tem horas que a gente com e abóbo ra, mand ioca
e não tá nem aí, sabe ? A gente sofre basta nte que. . . o povo, a bem dizer, não
gos ta, sabe? Eles não gostam mesmo de gente de circo - assim eu ac ho , né?
(Jand ira Ben elli . Ci rco America n)

Esquecidos pelos poderes púb licos e mui t as vezes desacreditados pela


população, os art ista s circenses, numa tentativa de sobrevivência ,
unem-se, apoiando-se mut uament e:

Uma tur ma unida é. .. sof remos ju ntos , então é aquele negóci o: te m dono de circo
grand e, eu te nho um pequeno, aquele tem um pior ainda , so mos amigos. Nós
nos conside ramos todos igu ais, é muit o bac ana. Há muita igualdade no ambie nte.
Agora, é lóg ico exi ste aqu eles avent ureir os, né? Inc lusive meni nas que não é daqui ,
não é nada , vem apenas pr a est rag ar o amb iente. São de outr o set o r e ac ham
qu e aqu i têm campo . Mas pe lo contrário, em circo, esse ti po de menina não fo rma ,
que nós temos de ntro do circo eleme ntos qu e produz .
(Ete lvina Gaivão, Ita, Circo Arco-i ris)

Mas essa uniã o não vai muito além do pl ano emocio nal , v isto que na
práti ca el a não ocor re. Não cons t atamos nenhum mov ime nto efetivo
de luta po r seus direito s. Por exe mp lo , quanto à questão da distribuição
da verba estatal. dada ant igament e, os art ista s tê m opiniões is oladas e
divergentes :
José Mar t ins Leal (Ga rrali nha) e Cássio Roberto Mar tins
-'"

45
o circo peque no geralm ente recebe um milhão, dois, três milhões ; agora, os circo s
gra ndes rece bem mais , po rque têm mais despesas. Então têm que receber mais.
(Walde mar Nunes, ex-propri etário de circ o)
Agora essa verba, a úni ca cois a que eu acho, que essa verb a deveria ser em parte s
igu ais. Por que o rico deve ganh ar mais que o pobre 7?
(Etelvina Gaivão , Ita, Circ o Arco- íris)

Essas opi niõe s que não cheg am a cr iar gr upos di ssidentes e de lu ta,
corroboram, assim, a idéia de uma classe circens e desuni da e sem
força para cri ar um órg ão que def enda seus direitos.

7 . A Comissão de Circ o, Cir cos-Teatro s e Pavil hões forn ece atualmente a mesma
quantia para todos os circos.

46
C IRCO/ESTRUTU A
EMPRESARIAL
Ao cont rá r io do que oc or re na maio r parte das empresas t eat ra is, o
empresár io c ir ce ns e se confunde sempre co m a figu ra do proprie t ário
do c ir co. Ele é o dono da est rut ura mat er ial do circo; ele é quem estipula
as rel ações de t rabalho co m seus assalariados ; cab e-lh e o planejamento
da polític a de ingre ss os, esta belece a linha de repertório, investig a
ou manda rea lizar inve st iga ções qu e lh e permi tam detectar qual o
pon to da cidade ma is favorável às t emporadas do circo; age como um a
esp éc ie de encar re gado de rel ações públicas de seu empreendiment o,
servindo de porta-voz de uma certa ideologi a ju nto a su a audiência
(o c ir co encarado como um a ação de família para as famíli as) , ou pro-
cu rando estabelec er cantatas pessoais com aut or idades ou i ndiv íduos
em posi çõ es de influênci a que o poss am auxi lia r de alguma maneira;
vis ando o êx it o de seus objet ivos , ou ainda movimentando t odo um
esquema de divulgação, com características mui to rópri as e cujo bom
dese mpenho é ess encia l à con tinuidad e do ci rco .
O empresá rio de c irco é quase sempre um circense , nas suas origens
fam il iare s ou na sua op ção de vid a, tom ada na mais remota infâ ncia .
Geralmente f ilho e neto de ci rc ens es, casado com ci rcense , ele mui tas
v ezes encoraj a os f ilhos a segui r a profiss ão, inco rporando-os as suas
ativ idades. A famí lia circense. quando propri et ária, revela-se através de
um a co nstelação assoc iada a um empreend im ento artístico (pai , mãe ,
f i lho s, f ilhas, genros , noras , netos e netas), po rém, guardando nas rela-
ções de tra balho o mesmo esqu ema de dom in ação pres ente na estrutura
f amili ar - o pai e a mãe são ta mbém os patrõ es de seus filhos, genros
ou noras , que a eles se subm et em dupl ame nt e (com o filhos e como
assa lariad os) sem , no ent anto, mani f est ar em relação a essa sujeição
um a crít ica ou uma consciê ncia mu ito c laras . Para os f i lhos do proprie-
tá r io do Ci rco do Carli t o, po r exe mplo, o orden ado é enca rado como
um a mesada, o traba lho no ci rco quase com o um a obr ig ação de um filho
ob ed ient e e grat o em re laçã o a seus pai s.
Em t orn o dess a cons t el ação maio r gr avi t am out ras conste laç ões, forma-
das por peq ue nas f amíl ias assalar iadas, que desempenham no ci rco uma
séri e mu ito divers ifi cada de f unç ões (art is t as , capatazes, cenotécni cos),
suj ei ta s a um regi me salar ial bast ante du ro que , no ent anto , v em mas -
cara do pe lo proprietári o do ci rc o, at ravés de um a at it ude patro nal t ípi ca :
a exigü ida de do salário não deve ser tom ada com um fato em si , segundo

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o patrão, mas deve ser compl emen tada por uma vis ao mais abrangente ,
pois o assal ari ado mora no próprio espaço des tin ado ao empre endi-
mento c ir ce nse, em car avanas ou barra cas, que forn ecem a seu mora-
dor condi ções mínimas de con fo rt o (água e lu z, pagos pe lo patrão) .
Coexistin do com ess as co nste lacões fa mi liare s, encont ramos ta mbém
assalar iados isol ados, em mui t o meno r núm ero , vivendo igu almente no
circo e submetidos às mesm as disposi ções que reg em o re lac ioname n-
to das famílias circe nses com o patrão-emp resári o.
Vi a de regra o empreendimento circense apre sent a-se economicament e
precá rio , sobretudo devid o à conc orr ência da tel evis ão; daí a necessi -
dade de um a po lí tic a de preços de ingressos ext raordinariame nte flexí-
vel, adapt ada não só às condiç ões espec íf icas de cada bairro onde o
c irco se apresent a. como ta mbém às vari ações clim áticas, capita is no
qu e di z respeito ao comparec imento dos especta dore s.
A estrutura empresar ial do circ o. para sua sobrevivênci a, tem de re cor-
rer a um ref orç o importa nt íssimo: a prese nça de art ista s convidados.
que gozam de enorme prestígi o ju nto ao púb lico do circo, at ravé s de sua
ataação em outros me ios de comu nicação (rád io, televis ão, e, em me-
nor esc ala, cinema). Essas atrações (cantores. duplas serta nejas) trazem
um reforço substa ncia l ao orça me nto do circo, mesmo cobrando por
su a par t ic ipaçã o parcel as às vezes exorbita ntes da renda auf eri da, sob
a fo rma de cac hês ou percentagens da bilhete r ia. Elas, no enta nt o. fo r-
ta lecem a imagem do circo jun to ao públ ico, cr iando uma expect at iva
extrema me nte favoráve l ao empree ndime nt o, que se to rna um ponto de
atração para o espectador dos bairros, suje ito a to do t ipo de car ência.
O maior ou menor suc ess o do empreen di me nto repousa em uma estru-
tura empresar ial determ inada. cuj as di f erent es partes decompore mos a
segui r : os prop r ietá ri os , os assalar iados. os artist as conv idado s, preços
dos ingressos, renda, progra mação, divul gação, desp esas de manute n-
ção, re laçõ es com as sociedades arre cadadoras de direitos aut ora is.
subvenções of ici ais e asse nta mento do circo. Chega rem os desta fo rma
ao del ine amento de um perf il do circo , enquanto estrutura empre sar ia l,
tendo o cuidad o de lembrar que os dados fo ram sem pre levant ados a
par ti r dos depoimento s prestad os pelos circenses engaja dos nos dife-
rentes aspecto s abordados, e os quais não hesit aremos em reproduzir
com a freq üênc ia j ul gada necessár ia.

Proprietários

Dos ci nco circos estud ados. dois obedece m ao mod elo que denomin a-
remos "famíli a! " : O Am er ic an e o Circo do Carli to são operad os basi -
camente por fa mílias inteiras que, numa organização mai s pobre. mui-
t o oc asion al ment e lançam mão de co nt rata dos (Am eric an) e que , em
um empreendimento considerave lm ente mais bem -suced id o, em pregam
tam bém um corpo de co ntratados (Circo do Carlito); dois out ros repou-
sam na base de uma socied ade praticada entre dois sócios (Circo do

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Chiqui nho e Circo Paul istã o) ; f inalme nte , o Circo Bandeira ntes é de um
único prop rie tário (o co nhe cid o cantor sertanej o Toni co, da dup la Toni co
e Tino co). que. no enta nto , de lega ple nos poder es a um gerente (est e,
contudo , não se co nfessa c lara me nte assalariado e, cont rar iando as in-
formaçõe s de Tonico, se dec lara seu assoc iado) .
O Circo Am er ican , dentro de nossa amos tragem, pod e ser consid erado
o mais tradic io nal de todos: há uma cont inuidade de tra balho , qu e co-
meça em 1942, qua ndo se us propri et ár ios assum em a co ndição de em-
presários; sua proprietár ia perten ce às dec antadas "dinastias " ci rc en-
ses, que no seu caso alcançam sete gerações atua ntes no circo po r-
tuguês ; os oi to fi lhos do casal, um genr o, um a nora e alguns netos são
os art ist as assa lar iados do Circo American .
Maria Dantas Bene l li é a matriarca do Ame r ican. Seu pai er a clown e a
mãe , trapezista . Começou no circo como tra pezista e malabarista. A gora
t raba lha só em dr amas , pois af irma : " Não tenho mais idade para va-
r iedades ."
Trabal hou como assa lariada no Circo-Teatro A rethu za e no circo de Pau-
lo Simões , um dos mais t radi ci onai s emp resár ios do Esta do de São
Paulo . Passou a ser pro pr ietária em 1942, depoi s do casame nt o. Veio
co m a famíli a para São Paulo, depois de um a séri e de dificuldad es no
Paran á, onde o circo esteve du rante mui tos anos , encont rando todo ti po
de pro blemas po r parte de prefeitos e del egados de po líc ia, qu e preju-
dica vam enormeme nte seu t rabalho . É mãe, sogra ou avó de qu ase tod os
os arti sta s da compa nhia . É ta mbé m a pessoa mai s ex per iente do circo ,
conhece as t éc nicas de re pre se ntação e sabe de cor t odos os text os
do repe rtór io. Exer ce as f unçõ es 'd e direto ra art íst ica, atriz e pon to du-
rante os ensaio s. Ela, o mari do e os f ilhos moram no circo .
M ári o Bene ll i, ex-sarge nto do Exérc ito, casou com a circense M ar ia
Dantas . Ab andonou o Exérc ito e j untou-s e ao c irco . Nunca t rabalhou co-
mo assalari ado , poi s começ ou adq uir indo um c irco , em 1942. Ap rendeu
a t rabalhar corno at ar , mas j á er a " muito ve lho" para aprender os núme-
ros de pr ime ir a parte (trapézio , acrobacia) . Faz o papel de cínico nos
dramas , fu nc io na co mo ensa iador , pint a cenários e aj uda na const rução
da nov a lon a. Vemos, portanto , que o cas al propri etá r io , graças a seus
talentos e habi lid ades, acumula uma série de fun ções de capita l im -
portância par a o fun cion am ento do circo, tanto no pl ano artístico com o
eco nôm ico.
Outro circo " de fa m íl ia", o do Car lito, t em oit o anos de atividade s se·
guidas. Só na reg ião do ABC fun cion ou durante c inc o anos , centrado em
Santo André. Carli to, o proprietár io , não conta, mas foi sócio do Circo
Band eirant es . Supõe-se que seus em pr eendim ento s tiv eram muito su-
cesso, a ponto de permit ir- lhe possuir seu próprio circo . Inic ialment e,
afirma, pr et endi a dedic ar-se ao futebol , em Poços de Caldas (nasceu em
Varginh a, M inas Gerais) . Entusiasmou-se pelo Circo Liendo , de passa-
gem pel a c idade, e ali se colocou , carregando água. Perc ebeu que, por
suas def ici ênc ias profissionais , não ter ia oportun id ade e passou para

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um circo pequeno, o do Ag ripino, onde, verdadeiramente, começo u sua
carreira circense, tomando parte em sketches, pecinhas, pontas, etc.
.. . fu i me aperfeiçoando cada vez mais ( ... ) Muita vontade eu tinha, dali eu já fui
progredindo, progred indo, consegui fazer bons papéis, da li eu vim pra S. Paulo, mas
antes de vir eu me casei. Viemos pra São Pau lo, arran jei uma colocação aqui em São
Paul o, mas a serragem do c irco já estava no meu sangue. Não adianto u. Larg uei e
vo lte i para o circo outra vez. Daí, fo i já, eu e min ha sen hora faze ndo papé is pr in c ip ais ,
esses qu e você viu os men inos fazer hoje nós já faz íamos, e muitas peças, papéis
principais .

A espo sa e os quatro fi lhos de Car l it o t amb ém t rabalh am no circo. M o-


ram em um a casa e a explicação para o f ato é dada pelo próprio Carl ito:

Eu e nossa família, nós mor amo s em nossa casa mesmo, porque a gente tem outros
afazeres além do circo , a gent e faz também pr ogr amas de rádio , e há outros negócios
ta mbém . Então nós não dá pr a morar no c irco, primeiro porque a familia é grande.
São em casa, na minh a casa, em sete: eu, a esposa e cinco fi lhos , entã o não dá
pra parar num circo dev ido aos out ro s afaze res.

Alg uns dess es af azere s são det alhados por Carl ito: aprese nta o pr oqra-
ma de Tonico e Tinoco, às cin co horas da manhã, na Rádio Bandeirantes,
e tam bém às se is horas da tarde, na mesma emissora. Ele, no enta nt o,
consid er a o ci rco sua at ividade pr inc ipal , inform ação dada aliás com
mu it a ênfa se :
o que eu te nho eu agra deç o ao ci rco . Tudo o que eu consegui foi no circo . Se eu
pude dar alguma coi sa aos meus f il hos fo i debaixo da lona sem morar.

o Circo Paul ist ão enquad ra-se, como enunc iamos, em out ro mode lo:
o dos associados que se une m para explorar o empre endim ento . Perten-
ce a Ma rco An t ôni o Semi oni [Pin golim) e a Roberto Carvalho. Est e últ i-
mo é quem descreve o ruinos o processo da compra do circo :
Pelo preç o que nós pag amo , este circo foi caro , porque o c irco não estava com
muitas co ndições. Estava que nem estas co ndições. Eu pag uei dezoito milhões, uma
coisa abs urda, po rque. . . eu sei lá . . . tap earam , porqu e há muita tapeação entre
os circens es. Então eu co mpr ei muito caro . Sab e o qu e é? Se a gente olha a lo na
de no ite, sab e? .. Eu fu i lá assist i um espet áculo e gost ei , sabe? E pergunt ei, q uanto
que voc ês querem po r este circo e comp rei, mas eu comp rei e não pensei antes,
po rq ue se eu passo de dia , vi a o mater ial, a lona, e não dava dezoi to mi l, dava dez.
Então eu me pr ejudiqu ei em oi to mil , por qu e não valia dezoito , valia dez milhão.
A lona a ge nte de noit e não vê estre linha, porque qu ando o pano está estrelado é
o nde que vemos rasquinho. Entã o eu vi de noi te, eu vi boni to. O circo estava grande.
Eu falei : "Bo m, vale dezoito milh ão. Toma aí" . Comprei porqu e eu gost ava, eu
gos tei do c irco. Estava com um circo menor, que eu tin ha vend ido aquele. .. pr a
com prar este . Que este aí estava aqui em São Paulo. Então eu comprei, mas perdi
di nheiro com ele, porqu e o pano estava muit o ruim . Estava fur adinho e então co meç ou
a est relar e agora acabou de vez mesmo .

Pingo lim , um dos malsuc edi dos sóc ios do circo Paulistão, circense há
dezenov e anos, está at ualment e com vinte e set e anos . A fa mília ma-
t erna era t oda de cir censes. É palhaço, como ele próp ri o se define:
. . . o palh aço gera lmente é um ator por si próprio ( . .. ) sendo palh aço mesmo a
ge nte já é ator .
Pin go lim.

Faz t elep ati a, " quebra galho " em peça, drama , comédia . Sua expe riência
lev a-o a assumir a di re ção do grupo , do qual é citado Gomo "secretá rio " .
Decl ara-se empre sário e empregado:
. . , falta empre gado , a gente vai fazer limp eza. Não tem pr oblema algu m.

Conta ter comp rado at ualme nte um circo só para ele.

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Robert o Carvalho é o SOCIO de Pin golim. É f ilho de ci rcense, e em re-
lação a sua vocação, declar a:

. . . eu peg uei desc endência de meu pai.

Palhaço , agora está atu ando com o " clorn" (sic). Faz galãs em comédia s,
quando é necessár io. Dem onstra ndo mais uma ve z a vers atilid ade do
c ircense, toca bat er ia, cant a, apresenta os números e f az um número
de mímica, imitação de Charles Chap l in . Tem , como Pingoli m , vi nte e
sete anos.
De nt ro do mesm o padrão associ at ivo , o Ci rc o do Chiq uinho reve la o
ace rto de uma in ic iati va . Franc isco Peres (Chiqu inho) é pr opri etário do
ci rc o desde 1967, co nform e seu relato:

A gent e ac hava que o cir co ia ser melho r negóc io , né? Então nós compramo um
circo , aq uele Circo Bandeirantes, que tinh a luta livre. Então o circ o estava enc ostado
lá e a gente comprou. Eu e mais o Carlit o nós comp ramo o ci rco e depois com-
pramo o pa no. E nós trab alhava com o Tonico e Tin oco . Saímo s de tra ba lhar
com eles pr a toc ar o c irc o sozinho . E foi bem. Armamo na Vil a Gua ran i, e dai já
fomo melho rando o circo. Fomo lá pra Santo André. Hoj e nós temo um c irco
ca da um . Quer dizer que daquele circo saiu mais dois ci rco .

Int er rogad o a re speito do lev antamento de cap it al necessár io para se


montar o c irco , re sponde :

Dinheiro a gent e t in ha um pouqui nho. Cir co assim eles não vendem a vist a. Entã o
a gente dá uma entra di nha . . . Pouca né? O pr ime iro que nós compra mo, nós de-
mo . .. deixa eu ver - dois milhão .. . não, não c hego u a dois milhão. Um mi lhão
e me io de entrada, qu e nós t inha gu ard ado , e treze ntos contos por mês.

Chi quinho te m cinqüenta anos. É ator cômi co e secr et ário da dupl a ser-
tanej a Tonico e Tino co , seus ir mãos. Com eço u a tra balhar em c irco.
. .. um dia num circo, out ro dia num outro . . . de po rte iro , trabalh ava na porta, né?
Fazia a portaria pro Tonico e Tinoco. Ficava na porta recebendo os ingr essos e de
vez em quando entrava pra cant ar no shaw deles.

Post er iorm ent e, to rn ou-se ator cômi co e é uma das figuras centrais do
ci rco que leva seu nom e.
O outro pr oprietário , Edson de Carv alho (Joanito é seu nom e artístico)
t em tr in t a e um anos. É ta mbém ato r cô mic o. Nasceu em circo e aos seis
mes es in ici ou a car re ira . Caso u com um a " moça de praça" , mas levou-a
para o circo. É re lações públicas da Rádi o Cont inental, na área sertanej a.
Recusa -se a decl arar quanto ganha co m o ci rc o, mas uma das mar cas
de sua prosperi dade é o fato de que ta nto ele quant o Chiquinho res idem
fora. Joanito tem automóve l e mora em uma casa , na Vi la Prude nte . Ele
e seu sócio irão estrear mais um c ir co, o Chiquinho n.? 2. Ele ficar á na
gerência gera l dos doi s c ircos.
Com o Circo Bande ira ntes chegam os ao exe mp lo único, em noss a amo s-
t ragem , de uma empresa per t encent e a uma ent idade que não o expl ora
diret amen te. delegand o to dos os seus podere s a um preposto .

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o circo foi mon ta do há t rês anos e meio e cham ava-se origin ariament e
Circo Tonico e Tinoco . Porém , mesmo quando se apr esenta em seu cir-
co , a dupl a t rabalha em reg ime de porce nta gem na bilh et eri a.

o Circo Bandeirant es é nosso . .. ele tem a vida dele, não depende da dupla, e nem
nóis também não dependemo dele. Então, de modo s que o circ o é com pletamente
separad o . . .

o circo, info rma Tonico , é di ri gido por Marco Antôni o M artini , o Chi-
co Bir uta .

No fim do mês, a gente acerta co nta com Marco e pag a todas as despesas, a
SBAT .. .

Tonico (João Salvad or Peres), em ent revist a, cont a que com põe, t oca
e canta desde a adolescência , sem anteced ent es art íst icos f amil iares (f a-
mí lia de pequenos si t iant es da regi ão de São M anuel ). Veio com seu
irm ão Tinoco para a capita l. em 1942, e entraram para a Rádio Di f usora
at ravés de concurso. Daí passaram a gravar discos, fazer show s e f il mes ,
escrever peça s. Excursion aram por todo O Brasil. com exc eção do Norte.
At uam em circo desde 1945. Pioneiros do gên ero sertanejo em circo ,
che gar am a t er compa nhia . Hoje não são mais emp resá rios, apenas pro-
pri et ár ios de ci rc o. •

Marco Antô nio M artin i (Chico Biruta) declara-se sócio de Tonico na pro-
pr ied ade do cir co, não apenas empr egado. Nasceu em circo e nele pas-
sou quase toda a vida . Seu pai era proprietário do Circo Universo , sua
mãe tamb ém el-a ci rcense. Não mora no circo , po is quando ele foi
mon tad o j á mo rav a em cas a própria. É aux iliado na administração do
circo por Gazola, seu parceiro nos núme ros cômicos.

Assa lariados

Pode mos distingu ir , nos circos est udados, quatro mod alidades de assa-
lar iados : os famili ares dos propri et ários (f i lhos, genros , noras). que es-
ta be le ce m com os pais e sogros vínculos empregat ícios . mas de natu -
reza um tanto espec ia l - detalhad a mais adiant e - as famílias circe n-
ses (em gera l um casal ou ent ão o che fe da f amíl ia e seus filh os), co m
um contrato coletivo de t rabalho , que via de regra se rev ela altamente
favo rável ao ' pr opriet ár io do cir co; circen ses que se engajam a t ít ulo
i ndi vidu al . em geral a longo pr azo; e circens es ou t écnicos empregados
unicam ente em f uncão de int er ess es im ediatos do ci rco . Ao lad o des sa
categoria de as s al ~ri ados coe xiste um peq ueno núm ero de circenses,
qu e co labor a gr aciosamente com o circo, por razões purament e indi-
v iduais. É o cas o da at riz Lourdes Leal. com vin te e sete anos de car-
reira no circ o, espos a do ato l' Garrafinh a, e com longa tradição no circo- '
-teat ro. Def ine-s e como uma " co labora dora" do Cir co do Carli to , ond e
tra balh a.

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· . . por livre e espontâ nea vontad e e não como contratada e sempre como . .. como
colaboradora. Eu não ganho nad a, não quero nada, não ex ijo nad a. É prazer, eu
t rabalho por pr azer. Só unicam ent e por pra zer. Ele quis. Quis me contratá, vive lut ando
pr a me contrat á, pr a f icá efetiva ...

O ponto do Circo do Carlito, (ex-circense), nada ganha por su a atuaç ão


que segundo ele, ocorre por pura dedicação ao ci rco . Trata-s e, eviden-
t ement e, de casos isol ados , de pessoas que encontraram fo ra do circo
condições de sobrevivência. Só mesmo a precaríssima estrutura econô-
mica do circo-tea tro da periferia de São Paulo comportaria esses rasgos
de generoso amadorismo, nascido de um profundo amo r à art e circense.
O assalariado, quando tem vínculo familiar com o proprietário do circo,
acei ta tacitamente compartilh ar com o pai ou sogro t odas as dificulda-
des que poss am sobrevir. É o que transparece do depoimento da pro -
prietá ri a do Circo American, Dona Maria Dantas Benelli , ao explicar o
regime sal arial vigente em relação a seus oi to filhos , genr o e nora:
Nós pagamo a eles como se paga um outro art ist a. Recebe quatro cento s co nto por
se mana ca da um del es, só que tr ês casados. Três casados têm suas barr aqu inhas,
tê m suas despesas separadas. Aqui , só eu e minh as men inas. Então ca da filho meu
eu pago qu ando pod e e qu and o dá. Mas se tiver mau tempo , uma pr aça ruim .
hoje tá bom, senhor , então qu and o a pr aça é ruim então dá o que a gent e po de .
A gent e com e e bebe, tá tudo jun tos. São meus filho, meus neto , então não tem
problema.

No Circo Paulist ão, quase t odos os f ilhos do pr oprietári o Robe rto Car-
valho , menores de idade, trabalh am nos espet áculos , em nú mero s de
des locação ou nas peças encenadas, e dur ant e o dia fr eqüent am a es-
co la. Quando repen samos na' precar iedade do Paulistão, perc ebemos
qua nta eco nomi a signific a o t rabalho dess es pequ enos artista s.

Sandra Martins. Bast idores. Circo do Carlito

Os três f ilhos do proprietário do Circo do Carli t o mora m com os pais ,


em casa. Indepen dentemente de seus ta lent os e habi litações, rec ebem
o mesm o salár io semanal: CrS 200,00 (" . . . mas a gente faz porqu e gos-
t a", ressalva Cássi o Roberto Martins , o palhacinho Carruíra, um dos
ma is est imados artista s do Carl ito) . Seu irmão W aldi ney , at ol' nos núm e-
ros de segunda parte, procu ra aument ar seus ganhos vendendo refres-
cos na por ta do ci rco.
O que caract eri za as famílias ci rc enses assalariada s é o conju nto de
difere nte s habilidad es evidenciadas por seus membros . Dona Maria
Gomes da Silva está no Circo do Chiquinho há cinco anos. Nasceu em
circo, é ci rcense há quare nt a e um anos.
Eu faç o div ersos pap éis em peça. Faço pap el bo m, papel ruim , papel cô rnico, diversos.

Seu filh o, o palh aço Tanaka, t oc a, canta , at ua nas peças , pin t a cenários:
Eu pinto e bor do dentro do c irco.
Atiro faca na rolet a girató ria, de c ima do arame e faço número de arame .

Cris t ina, irmã de Tanaka, é at ri z infantil (tem dez anos) e faz desloca-
ção, o que aprende u co m sua irm ã. Esta , cujo nom e não apur amos , é
atriz e foi v ist a prot agoni zando "índi a" , drama de aut or ia de Cascatinh a,
da dup la serta nej a Casc ati nha e Inh ana.
A fa mília de M I'. Jones , do Circo Paulistão, é das mais vers át ei s. O
chefe , MI'. Jones , nasceu e criou-se no circo , e é filho de circ enses.
Rec it a dura nt e o espe tá culo. Sua esposa Wilm a conta :

Eu faço partn er para ele, (Mr . Jones) na pra nc ha gira tóri a. Eu ten ho minha filh a qu e
já est á fazendo deslocaç ão.
Quer d izer , ele traba lha no ara me e eu faço partner. Depois eu entro, na seg und a
vez, co m ele, na ro leta girató ria .

Wilma também toma parte nos dramas e comédias:


Em todo ' biquinho a gent e ent ra. Falta , entra co rrend o outro . Não tem problema.

Ser ia engano supor que a vers ati l id ade da fa mília de ci rcenses enc ontra
corre spon dênci a em um a remu neração salarial proporcional às habi li -
ta cõe s de seu s membros . Dona Maria Gom es da Silva e seu s quatro
filhos , segu ndo dec larações do próprio dono do Circo do Chiqui nho,
rece bem todo s apenas qui nhen tos cr uzeiros por sem ana. No me smo ci r-
co um único casal ganha t rezentos cruze iros por sema na. E o artista '
contratado in divi dual ment e ganha
. , . confo rme o valor del e,

se gundo re lata Chiqui nho


. . , então é du zentos, ce nto e cin q üenta, duzentos e cinqü enta, duz entos.

Sem pr e, poré m, em prim eiro pl ano, o qu e é levado em conta , por oc a-


si ão da con trat ação, é a mul tipl icidade de f unções que o artist a é capaz
de exercer. Com is so os int eress es patronais fic am plenamente aten-
didos . O proc edim ento é explicitado por Joanito , um dos sócios do
Circo do Chiquinho:

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Quando a gent e contrat a o art ista a gent e diz: " Olha gent e, lá não te m papel fi xo" .
Porque tem circo que diz: " você vai fazer só as velh as, você vai fazer só o galã" .
Aqui a gente já avisa que aqui não tem papel fi xo. Porq ue de repente aquela pessoa
vai embora, a outra já fez aquele papel. Então , o único que é fixo é o meu cunhado,
que fic a na por ta. O restant e nós revezamos tudo.

Coe xis tin do com a f amí lia de circe nses , enco nt ramo s nos circos-tea tros
um número consid erável de art istas contrat ados , todos com a car acte-
rís ti ca de ve rsa t ilidade que parec e ser a marca e a orig inalidade dess e
agrupament o hu mano.
Joanes Dândaro, do Ci rco do Carlito , at ualment e com cinqüenta e oito
anos de idade , é ci rc ense desde a id ade de vinte anos . Trabalhou em
vários cir cos e teatros. É ta mbém elet ricis t a, e foi ele qu em fez t oda
a instalação elétr ica do Ci rco do Carlito, no qual está há oito anos.
Al ém de trabalhar como ato r pri nci pal em várias peças, é ta mbém con-
t ra-regra , maquinista e pinta cenários. É enca rre gado da conservaçã o
do guard a-roupa (dobr ar , guarda r, zelar pe los fi guri nos).
Rome u é por t ei ro do mesm o cir co, à noite, e durant e o dia guia a peru a
que faz a prop aganda do circo, em dois períodos : das nove às doze ho-
ras e das quinz e às dezoito hor as.
Edison Xavier da Silva, natural de Recife , pinto r letrista, aju da no as-
sen tamento do Circo do Carl ito . Eis como encara a importânc ia de
seu trabalho :
I:õ necessário haver um pintor letrista. Por exemplo, se alguém adoece e não pode
fazer determin ada peça, o pintor letr ista tem que escrever logo outra placa com o
nome da out ra peç a.

Edison Xavier da Silv a, pin tor letrista .


Eventua lmente é at or nas peças encenadas na segu nda parte.
José Martins Leal (Garrafin ha) é o se cretári o do Car lito e um dos pri n-
ci pais atores . É de família trad ic iona l no ci rco (f amília Pery) . Tem cin-
qüenta e quatro anos de idade, e está no circo desde os dois anos.
Palhaço desd e os cinco anos, fo i também equilibrista. Chegou a se r
proprietário de um circo (o Sales , circo-teatro) . Teve depois o Sale scope ,

. .. circo de atrações, o globo da morte , trapezi stas voad ores, ti po assim Vostok,
Tihany, tip o assim de circ o - o ci rco de atrações.

Comprou em seguida o Circo Canadá, e depois


um peq uenininho - o ci rco do Garrafinha, que sof reu uma enchente aqui na Vila
Industrial onde as águas levaram tud o. Deixou eu sozinho e min ha senh ora no ter reno,
mas ai nda nós levantamos o circo. Que mor re tudo, mas alma de palhaço, alma de
artista, não.

Foi ensaiador de t eat ro, esc reve peças , é associado à Sociedade Bra-
sileira de Autores Teatrais (SBATl. desde 1949, e proprietário de um t iro
ao alvo, ar mado, na oc asião da pesquisa , ao lado do Ci rco do Carlito.
O ci rcense Gazola é auxiliar direto de Ma rco Antônio Martini, Chico
Biruta , na administração do Circo Bandeirantes.
Pro cir co muda r, pra ver terreno assim pra outros lugares sou eu e esse rapaz que
está ai na frente que é o Gazo la., que é companheirão nosso .

Informa Chico Biruta:


Gazola é
. . . enca rregado de trazer o público na propaganda. Ele é que faz as gravações aí.

Declara-se:
ator genéric o. Inter preto o papel que vier . Galã, baixo cormco, centro dramát ico ,
rústi co, cínlco. mas a maior parte dos papéis que eu faço é tud o de cl nlco, band ido ,
malquerido do público.

Trabalha em circo desde os onze anos de idade, quand o fugiu de casa.


Casou-se no meio ci rcense , do qual nun ca mais se af astou. Fora do
ci rco possui empres a de publicid ade , grava prog ramas de tevê , f itas
de public idade para fir ma e outros shows que percorrem o interio r. Gra-
va f ita s para Sílvio Santos e para quase to das as casas comer ciais da
Lapa (publicidade vol ante , pub l icidade interna nas lojas). Traba lh ou du-
rant e ci nco anos emurna novel a.
O circo-t eat ro recor re também à mão-de-obra temporária. Isto pode
oc orrer por oca sião do assentamento do circo, conforme nos conta Dona
Maria Dantas Benelli, do Circo American:
. . . a gente arruma uns treis ou quatro pra ajudá a montá , nê?

A encenação de grandes montagens exige também a contratação de


atares extras:

57
Agora, tem no caso " O Céu Uniu Dois Corações" , só nesse dr ama trabalham dezoi to
pessoas . Agora t em uns dias tamb ém que a gente consegu e t razer pessoas de for a.
pesso as que j á são de circo e pararam aqui em São Paul o e a gent e t á sempr e
em contato com eles. Então telefo na no dia e eles vêm também trab alhar.
(Depoim ento de Chico Biruta, do Circo Bandeir antes)

Out ras vezes, a part icipação de at or es extras se dá de maneira int ei-


rame nte ocasion al , confo rm e o depoimento de Euzébio Gomes Pietro ,
ex-ass alari ado de circo , onde trabalho u duran te quat ro anos, f azendo
loc ução , toc ando bat eria e atuando em peças. Atualm ent e é serv ent e em
uma ind úst ria e nos momentos disponíveis trabalha no Ci rc o do Chi o'
quinho,

. .. vem só passear, não tem probl ema . . .

Declara que atu a


. . . mai s pelo espor te. A gente gosta. A gente sempre vem aqui - a gent e já gosta
de trabalha r, então vem um e fala: "ô , tem um papel pra você hoje ai."

Interrog ado a re spe ito de pagament o, res ponde evasivament e:

A gen te semp re ach a o da gen te, né?

A quant id ade de assa lariad os, no empreend ime nto circense, não encon-
tra correspondê nc ia exata com o seu sucesso ou insucesso. Um dos
mais prósp eros, o do Carlito , empreg a v int e pessoas, contando a fam ília
do proprietário. No extremo opost o, o Paulistão ocup a dezess ete pes-
so as. E o American, da famí lia Benelli, que se aprox ima da média , agru -
pa doze pessoas . O bem -su ced ido Circo do Chiquinh o dá ocupação a
vin te pessoas; e o Circo Bandeirant es , tam bém em boa situação f i-
nance ira ,

entre art istas no caso de pal co , empr egados e func ion ário, dá umas vi nte e cin co
pessoas ,

segundo inform a M arco Antônio M artini , Chico Biru ta.


Como evidência de uma organização emp re saria l inc ip iente, não encon-
t ramos caso al gum de contratos esc ri to s. É inte ress ante ver mais de
perto como assalariados e pat rõe s encara m o fato. Int errog ada a res-
pei to, Dona M aria Gomes da Si lva, circens e do Ci rc o do Ch iquinho ,
reve la:

Não ten ho contrato. Vai fi cand o . . . até o tempo que a gent e quer ficar vai fican do .
Acha ndo boa a casa vai ficando. O dia que a gente enjoar . . . .

Seu patrão, Joanit o, j á demons tra um a consciê ncia bem mais aguda de
um a política patronal:
Quando eles choram . .. " Ah, eu vou embora , por que o outro vai me dar tanto" , aí
é aumentado. Quand o volta : "Ah, eu vou embora por que . . . " Aí eu digo: " Tanto eu
não posso dar, mas j á que você está aqui dou tant o . . . " Porqu e a gente paga o
arti sta com aquele po vo que vem no c irco. Se a ge nte abrir a mão - dar um alto
o rd ena do pr a ele - daq ui uns doi s meses ele vem ped ir aum ento e o sen hor não
tem co ndição. Então o senhor é obrigado a deixar ele sair. Então o sen hor procura
co ntratar por um orde nado min imo que pude r segu rar. Por qu e assim qu ando ele vem
pedir aume nto o senhor dá o aumento e ele fica satis feit o. Isso é de nós qu e já
vive mos no meio.

Nessa ques tão de sal ários , a imprecisão das inf ormações é a regra.
Chico Biruta, administra dor do Ci rco Bandeirantes , simplesmente se re -
cusa a revelar quanto ganham seus art ist as:
dá pra viver, dá pr a viv er. Dá pra qu ebrar o galho , nê?

Há, no entanto, um a informação definida a respeito do tra tamento pre-


ferencial dado ao palhaço , que ainda é a figu ra mais querida e presti-
giada do circo :

. .. pa lh aço ganha mais. Bom, me rece , não? Porqu e um palh aço de ci rco pr a ser
pal haço de c ir co não é mol e, não, viu? É uma atr açã o.
(Depoimento de Chiquinh o)

Cartaz pintad o por Ed ison

A t ít ulo mera me nte in dicativo , report amos alguns salários apurados


durante a pes quisa: no Circo do Carlito , um pin to r let rista ganha oito-
ce ntos cruz ei ros por mês ; Pororoca, se u capataz , faz números na pri mei-
ra parte (faca girató ri a e pr atos) e é ator na segunda. Ele e os três filh os,

59
que t rabalham no ci rco, ganham mensalmente dois mil cru zei ros. Um
cas al de circense s recebe no Circo do Chiqu inho t rezent os cruzeiros
po r sem ana. Toni co , dono do Circo Bandeirant es , revel a que

· .. tem art ista . . . que gan ha qu inhentos co nto por semana, te m out ros que ganha
t rezentos, casa l lá qu e ganha seiscent os po r semana, tem os ca mara da lá que car-
reg a ca mi nhão, esses ganh a duzento s po r seman a.

A imensa maiori a dos assalar iados mora nos fund os do circo, em barra-
cas , traile rs ou chassis de caminhões adaptados . A água e a luz que
cons omem são pagas pe los donos dos circos . Os salários são receb i-
do s semanalmente:

· . . a gen te co ntrata ca chê . Cach ê então é di ário, um tanto po r dia. Então a ge nte
soma aqu el e ta nto po r di a e todo domingo a gent e paqa os di as que tr aba lha ram .
Domin go antes da matinê então a gent e paga .

Em caso de doença

· . . a gente paga a mesma coisa. Agor a, se fa ltar por um motivo qua lqu er , outro
mo ti vo, entã o a ge nte desconta o dia .

Atrações

A pr esença, na pr ime ira parte dos espetáculos, de grandes àt rações de


rádi o e te levisã o (dupl as serta neja s, côm ico s, cantores), alterou subs -
tanc ialme nt e a fe ição artística e emp resaria l do circ o-teatro, para gra n-
de ir ritação dos puri sta s, que enxergam no fato um desvirtuame nto da
arte ci rcense. São exatamente essas atrações, porém, que t razem um.
reforço f inanceiro poderoso ao circo-teatro, na medida em que motivam
um púb l ico áv ido de ver e ouvir seus ídolos, que as te las da t elevisão
ou as ondas do rádio to rn am distantes: as duplas Sul in o e M arueiro , Cas-
catinha e Inhana, Jacó e Jacoz inho, Vi ei ra e Vieiri nha e sob retud o Tonico
e Tinoco, amados e admirados há quarenta anos. Da área de te lev isão
vêm os cantores Paulo Sérg io , M arcos Roberto , Roberto Barreiros , Már-
cio Greick, Nilton César, at é .mesmo Wanderley Cardoso e Agna ldo Ti-
móteo, e mais os côm icos de Os Trapal hõe s: Dedé, Renato Aragão, M us-
sum e Zacari as.

o show de Roberto Barrei ros.


no Circo do Carlito

nO
Se os artistas convidados se tornam um a grande mot ivação para se ir
ao circo , o ben ef ício acaba recaindo sobre os pr ópri os circens es , qu e
vêem seu pr est ígio af irmado per ant e o público:

Então o público de longe que vem ver Ton ico e Tino co, qu e ouve at ravés do rádio ,
então o públ ico vem e vê o nosso elenco trabalha ndo , que nós é que aprese ntamos
a peça, e depois é o shaw de Tonico e Tinoco. Quer diz er , para nós, alé m do
Ton ico e Tino co tr azer o pú bli co, nos ajuda de ssa maneira: () pesso al conh ece o
nosso trabalh o através do Tonico e Tinoco.
(Depoimento de Carlito)

Em ger al, os artis t as conv idados t rabalham na base de uma divisão equa-
litári a dos lucros da bilheteria (cin qüenta por cento) . De preferên cia
apre senta m-se nos circ os às sextas , sábados e dom ingos, os dias "no-
bres " da se mana. A percentagem na bi lh et er ia é encarada como um
pro cesso ma is seguro , devid o aos azares a que está expost o o circo:
~ porque você não tem condição de dar um cach ê, po rqu e a gent e jog a muito com
o tempo. Você vê: dá uma chuva oito hor as, oi to e mei a da no ite , ninguém sai de
casa , porq ue não te m condição mesmo .
(Depoimen to de Chico Bi ruta , do Circo Bandeirantes)

No enta nt o, alguns cantores mais conhecidos só traba lham na base do


cachê . É o que suc edeu, por exemplo , com Wanderl ey Cardoso e Agnal-
do Timóteo , que se apresent aram no Cir co Bandeirantes. Ainda assim ,
o ar ranj o acabou sendo lucrati vo para ambas as par tes :
Mas foi um rapaz qu e pag ou o cac h ê, essa parte pro circo saiu mesm o cinq üenta
po r cento .. . O Wande rley fo i o seguinte: ele teve três shows nu m d ia. Então o rapa z
arru mou doi s fora e coloc ou ele aqui no circo. Então fic ou barato . Ficou , fi cou, po r
cinc o mil c ruzei ros o cach ê do ci rco.
(Depo imento de Chico Birut a)

Atra ções mais modestas, e que se apresenta m em circos igualmente


modestos , aceit am dividi r os riscos:
O artista-cachê vem no circo quase sem co mpro misso nenhum. Se chov e, a gente
não paga. Dá o dinheiro da condu ção. Se dá o espetáculo, ou bom ou rui m, ent ão
a gente é obrigad o a pagar o pr eço fix o que ele . . . qu e a gente t rata com ele.
(Depoim ento de Pingo li m, Circo Paulistão)

A lguns cantores jovens pedem, além do cach ê, aj uda par a gasol ina, ou
um ext ra para pagar um conjunto . Os show s event ualment e cobrem os
preju ízos de uma temporada fraca:
Quan do a praç a fra cassa com a comp anhi a a gente jo ga o show.
(Pingolim)

Em se t rat ando de um circ o t ão simp les qu anto o Paul istão, até me sm o


os núm eros de ci rco-t eatro podem ser preenchidos por art ist as convi-
dados. A dupla Sul ino e M arue iro , em conj unt o com o el enco do Paulis-
tão , apr esentava, por ocasi ão da pesqui sa, a peça " Quat ro Pis toleiros
do Infern o". Para essa montagem, a dupl a tro uxe seu pró prio elenco,
agregando-o ao elen co do ci rco. Os lucros f ora m entã o di vididos entre
os donos do circo e os co nv id ados , na bas e de cinqüenta por cento.

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A reação da pl at éi a é sempre fa voráve l às atrações vindas de fo ra . No
Circo Bandeirantes até mesmo os núm ero s de lut a l ivre têm sua ve z:
Ah, e luta livre também que esqueci de fa lar , que funci ona barbaridade também .
Eles vêm duas, tr ês vezes, a reação da platéia é impressionante, quando te m essas
atr ações - luta livre. shows etc.
(Chico Biruta, Circo Bandeirantes)

Nenhum dos circos-teatros pesquisados funciona portanto , sem a pre-


sença de artistas convidados. São eles que garantem. até certo ponto .
a continuidade do trabalho do circense, na per iferia da cidade gra nde .

Assentamento do circo

o circo sofre violentamente a pressão exercida pela urbanização sempre


crescente da Grande São Paulo:

A gente tem muita fe licidade quand o enc ont ra num bair ro centr al um terreno. Então
a gente .. . alugamos . . . a gente procura o proprietário e faz negócio com ele e eles
cobram . " Varia muito. Muitos a gente explica a situação do circo . muitos não
cob ram alto, outros não querem sab er , cobram ta mbém.
(Carlito , Circo do Car lit o)

Wald iney Martins, f i lho de Carl ito , reve la que em relação aos terrenos
da Prefeitura as dificuldades não são menores:
o terreno da Prefeitura tem difi culdad e dependendo do fi sca l, do encarregado do
setor. Se o encarre gado do setor não gosta de gente de circo , entende , ele não cede
mesmo . não ced e, pode falar com todo o mundo lá dentro. Se o grande chefão , o
tubarão ali dentro não servir, ai não cede mesmo . É preciso de grandes amizades,
é prec iso de grandes ligações dentro da Pref eitura. O grande problem a de circo é
terreno . Eu sei porque tou há quinze dias pra conseguir . . . hoj e eu consegui ,
gr aças a Deus , eu consegui.

Se o circense passa por cima das determ inações legais. a situação


pode se tornar dramática:
Quando a gent e arma em território da Pref eitura, lugar qu e a gente ach a bom, a
gente joga o circo. Quando a Prefeitura descobre eles dão quarenta e oito horas
pra gente se retirar. Senão o cam inhão pega e leva par a o depósito.
(Pingolim , Circo Paulistão)

Em alguns casos, o processo de "de scoberta" de um terreno vanta-


joso para o assentamento do circo implica um verdadeiro reconheci-
mento do território :

Ficamos o dia todo rodando e estamos co m duas praças prontas ( . .. ) O Gazola


sempre tá andando , sabe , fazendo publicid ade . como ele disse há pouco. Então ele ,
qu ando ele vê um terreno bom , assim , int eressant e, então ele vem e fal a. Então nós
vemos juntos depois. Então aí o Gazola procura informar quem é o dono do terreno,
então nós vamos falar com o don o. entrá em ente nd imento.
(Chic o Bir uta. Circo Bandei rantes )
Joanito , do Circo do Chiquinho, ao relatar as grandes dificuldades en-
contradas para se poder assentar o circo nos locais escolhidos , revel a
a imensa fle xibil idad e de ação que o circense foi obrigado a desen-
volver :

Com o nós t emos um a dificuldade em São Paulo de t er renos! Há um t er reno às vezes ,


mas fica fora. Outras vezes o dono não deixa armar. Outro, a Prefe itu ra não autoriza.
As vezes é uma coisa tão si mples que eu acho qu e deveria m faci litar essa part e.
Principalment e no ci rco qu ando é documentado. Então quando não tem terreno grand e,
a gente então ti ra essa parte do meio e arma ele pequ enininho . Somente os doi s redon-
di nho s. A lotação fic a bem menor, mas é a mane ira da gent e chegar.

Pingolim fala do local ideal para o assentamento do circo: aquele mais


pr óximo a um comércio movimentado, ou que seja ponto obrigatório de
pass agem dos moradores do bairro :

O local a gente esco lhe um ambiente qu e tem mais part e de com erc io e que é mai s
passarela de pessoas, ente nde? Que nem está aqui , no miolin ho da vila. Se a gente
jo gar mais pra cim a, já não é bo m o ponto. Então a gen te esco lhe assi m, na beira
da avenida, onde tem part e de com érc io.

A cess ão de um t err eno para assentamento do circo e os aluguéis co-


brados não se enca ixam em regras fixas.

Tem pessoas .. . Depend e da conv ers a. A gent e conv ers ando . . . se for português
cobra, se for a lemão cobra. Então qu ando a gente encont ra uma alma boa , eles
cedem. A ge nte dá uma perm anent e para o próprio dono do terreno e eles entr am
um mês intei ro. Mas tem pessoas que co bram um milh ão, do is milhão e a gen te é
obrigado a pagar po r semana .
(Pingo li m, Cir co Paulis tão)

. . . de um milhão para cima . Eu já chegu ei a pagar até tr ês mil por mês pelo
terreno. E qu ando é da Prefeitura então a gente procura loc ali zar a subprefeitura do
bair ro, então a ge nte vai lá e conversa com o chefe , os fis cais, a gente entra, mas
é preciso fazer um requer im ento e o requ erim ento sempre demora muito tempo.
(Wald iney Marti ns, Circo do Carlito)

Pi ngol im informa que, em se tra tando de t errenos municipais, é neces-


sár io pagar à Pref ei t ura um a ta xa, ou ent ão cinqüenta e cinco dos in-
gre ssos carim bados.
O proce sso de montagem e desmont agem do circo é realizado, nos
ci rcos ma is prósp eros , pelo capataz e mais alguns co tra tados. O Circo
Paulis tão, em su a simpli cidad e, re corre aos pr éstimo s de moleques da
v izinhança. Chiquinho (Ci rco do Chiquinho) e Chico Biruta (Ci rco Ban-
dei rantes) det alh am-nos t odo o processo de des arm ar e armar um ci rco:
Bom , gera lmente a gente dá o últ imo espetáculo de domingo , né? Então, do mingo à
no ite, term inou o espetáculo, j á temo ca pataz que t rata, né? O que cuida do circ o,
nós chamamos de capataz . Ago ra no int erior o ca pataz é o que to ca a bo iada , né?
Aqu i o capata z é o qu e to ma conta do materi al do circo . Então ele já tem os empre-
gado s. Nós temos um só. Agora circ o maio r te m mais empregado, tem até dez empr e-
gados. Então o capataz e o empregado, já aquela noi te ele quase não dorm e.

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Já fica os dois desa rmando o miolo do circo, aque las tábu as, 'amontoando, deixando
tudo certinho. Agora che ga de manh ã já encosta o caminhão, então já ju nta mais
pessoas que trabalham na com panhia. Eles já são obrig ados tam bém a aj udar, no
contrato já diz q ue são obri gados a ar mar e desa rmar. Então desarma o c irc o,
carrega tudo no caminhão. Chega lá no terr eno já o capat az j á faz a med ida, corre
a tre na lá, mede a distância do circo e de lá já vão montando o circo - cinco dias
mais ou menos - demora pra montar.
(Chiquinho)
t tudo com cabo de aço aqui no meio . Então, limparam tudo o circo primeiro, então
desa rma. . . Inclu siv e esse palco que nós tamos gravando aqui em cim a, são duas
ca rret as com roda em bai xo , pra fic ar bem prático. Então quando mud a é fe-
chada uma parte del e, uma tamp a, ela fec ha, engata no ca minhão e ela vat rod ando .
Então limp a aq ui , li mpa, no caso, a geral, t ira as cadeir as e depo is a lona é solt ada por
um cab o de aço , devagar, até ela descer no c hão. Que elas não .. . é d ividida, não
é intei riç a, a lona, no caso, elas são divid id as em . . . São seis partes que tem.
Enr o la, no cam in hão. Dai co meça de novo no outr o ter reno.
(Chi co Bi ruta )

A lg uns circos possuem ve ículos pr ópri os par a o tran sporte, mas não é
o caso do Circo do Chi quinho , por exemplo. Para tanto recor re-se a ca-
minhão alugado, geralm ente em quat ro v iagens. O pre ço to t al do carr e-
t o varia de seiscentos a mil e duzentos cruzeiros . Ist o, ress alva Chi-
qu in ho, porq ue o dono do caminhão é amigo dos prop r iet ários do circo.

Lotação e freqüência do público

Com evidente exagero, Pingolim info rma que seu circo , o Paulistão,
aco lhe até mil e oitoce ntos espectadores. Na verdade, o circo tem ca-
pacidade par a abriga r no máximo oitocentas pessoas .
Seg undo M ari onildo Bene l li, do Circo American, o circo tem su a capa-
cid ade pl ena na cota de mi l a mil e duzentas pessoas .
." gent e em pé . . . nos corredores . . . nas laterais.

Sentadas , de sete centas a oitocentas pessoas. A lotação médi a é de


qu at roc entas a quinhentas pessoas, como ocorreu na noi t e da pesqui sa.
Chiquinho decl ara que o circo aco lhe seiscen tos esp ect adores "mas
bem sup erlot ado " , ressal va. Informa que no meio da semana a fre-
qü ência cai ,

. .. mas a gent e bota às vezes, quando cai , senhoras e senh oritas e meninas, grátis,
qu e é pra dar mais públi co , pr a gente mostrar a companhia.

O núm ero exato de espectadores é difícil de se r pr eci sado:

Quando é pagan te assi m a gente tem um cálculo , agora quando é senho ras e senho -
rit as, gr átis , nóis já não pod e' te r. Tem veiz que lota mesmo o c irco - lota, e pa-
gantes aparece muito pouco. Ago ra, qu ando põe tudo pagante, um c ruze iro as senhoras
e senhoritas, varia, né, duz entos ou duzentos e cinqüenta lug ares por noite.

Ouando se apresentam grandes atraç ões o circo lota:


Bilh eteri a. Circo Pau listão

Bem, aqui na Vila J aguara no dia qu e mais col oc amo s gente aqui dentro foi no d ia
q ue ve io incl usive o M ussum, o Mussum e o Ded é. Colo camo s mil e qui nhe ntas
pessoas, mil quat rocentos e noventa , por aí, assi m, mil e qui nh ent as. Fora os qu e
var ar am por baixo e não deu pra con ta r.
(Ch ic o Bi ruta, Cir co Band eir antes)

A fr eqüênc ia do público ao ci rco está li gada às va ria ções climáticas, e


por oc asi ão da t emporada chuvosa a s ituação se torn a dramática para
alguns:
Quan do chove . . . com o está . . . com este pano assi m . . . o c irco é ve lho, mas o
burac o é novo , então a gen te perd e o espetác ulo. Transfer im o o espet ác ulo. Muita
gent e rec lama. Muitas vezes a gent e está no meio do espe tác ulo. Ent ão nós perde
porq ue muitas vezes a turm a quer o d inh eiro de volta. Então nós somos obri-
ga do a devolver e o t raba lho que já estava na metade, nós t raba lhamo de graça,
porq ue te mo qu e de volve r os ingressos e o dinh eir o. Tu do isso at ra palha. Um a lona
furada at rapalha a g tl nte. Pior te mpo pra tempo rad a do c irco é esta época (verão,
época das chuvas, qu and o fo i feita a pesqu isa) ainda mais esta época com essa lo na
ve lha é a pior coisa. Tem mui to circo que está parad o, encostado, por que não tem
co ndições, mas como a gent e está uependendo de c ir co a gent e tem que toca r
nestas cond içõ es.
(Pin goli m, Cir co Pau listão)

Determ in adas époc as do ano são mais f avoráveis à af luência do públi-


co , e is to suc ede no interior , por ocasião das safras . Na capi tal a fre-
qüência ao circo é boa durante o período de 10 a 25 de cada mês , mas

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depois . . . "tem uma queda muito grande " . Esclarecendo melhor , conta
Marionildo Benell i a respei to do comportamento do público:

· . . eles rece be m o pa game nto, as moças , as senho ras gastam na feira e os hom ens ,
q ue sobra um pou qu inho , podem vir ao c ir co . Mas q uando passa o dia 25 a gente
sente um a queda bem g rande. Inclusive a gente abaix a o preço do circo pr a fac ilitá,
pra eles po derem vir , né?

Programação e duração das temporadas

Os espetáculos , em princípio , são dados de t er ça-feira a domingo . A s


matinês se rea lizam aos sábados e domingos. Est e pl anejamento , no
entanto, tem que se r mui to ma leável. Lembremo s que a pesqu isa foi
real izada na temporada de chuva e est e fator imp ossib ili tou o Circ o
Paul istão de pr ogra mar mat inês .
Em geral , a folg a do ci rce nse oco r re às segund as-f eiras. No Circo do
Chiq uinho , no entanto , a ún ic a fo lga do artista se dá na Sext a-f eira Santa.
A s t emporadas se esten dem , enquant o forem boas as possibi li dades de
se explo rar uma praça :

· . . de vint e dias a um mês e meio , a méd ia. Por exemplo, se a praça tá ruim , vinte
dias já é mui to . Já ch egu emo a fi car uma semana só. Uma semana num local e já
muda r pra out ro . Ag ora tamb ém já chegamo a fic ar dois meses num lugar só. Se a
pr aça compe nsa ent ão a gente vai fica ndo .
(Depo imento de Chiqu inho, Ci rco do Chiquinh o)
Se cor re r bem, a ge nte fic a. Se co rrer bem a parte fin an ceira, a praça agü enta mai s
uma semana. Então a gente pod e tr azer mai s um show, pra sába do qu e vem e dom in-
go e então nós fica mo pr a agüent á a despesa da gen te . Ag ora, se não ag üent a,
então . . .
(Pingo li m, Ci rco Paulistão)

Est atí st icas pr ecisas a respei to da fre qüênc ia dos es petá culos nos são
dadas pelo pessoal do Ci rco do Chiqui nho . Na regi ão ond e esta va m as-
senta dos, po r ocas ião da pesqui sa, percorreram os seguintes pontos:
Santa M adalena , com noventa e cinco espetáculos ; Ora tório, trint a e
seis esp et ácu los, e João Ramalho, trinta e oito espe tácu los. Fic ou cerca
de sete anos em Sant o A ndré e um ano nas vi las vi zinhas. No ano da
pesquisa (1976) o circo :

· . . de rep ent e dá uma saidinha pr a Vil a Ema, como já estive aqu i hã tr ês anos
atrás. Já é São Paulo. Dia 17, Sáb ado de Alelui a, est á mar cad a noss a estréia em
Santo Andr é novam ent e. Quer di zer, volt amos pra Santo André novamen te.
(Depo imen to de Jo anito , Circo do Ch iqu in ho)

Os ci rcenses do Circo Am erican estavam no local da pesquis a ("p raça ")


havi a um mês , o qu e é cons iderado por eles razoável como resu lt ado .
Ficam dois meses nu ma pra ça " boa" e já ch egar am a f icar apenas um a
sema na em uma praça " ruim ". A mobi lid ade do circo é dete rmin ada pel a
afluênci a do público . Dura nte um ano de t rabalho, o American per correu

66
os seguintes pontos da cidade: Jardim Esther, Vila Ric a, Vila Ema, Santa
Clara, São Miguel, Vila Progresso, Vila Mara, Jardim Helena , Bairro do
Lajeado e pela segunda vez Vila Progresso .

Preços dos ingressos e renda da bilheteria

Os pre ços dos ingressos, muito flexíveis , são estabel ecidos em função
das possibilidades econôm icas do públ ico a que se destinam. A este
res pei to existe um ce rto planejamento , que nos é revelado po r Chiqu inho :

o pre ço , d ia da sem ana , tem que ser bem barato senão não vai ningu ém, né? Por
exemplo, nóis lá, ad ul to cob ra mo 5 c ru zei ros - cr ian ça , um c ruzeiro. Senhor as e
sen horitas, às vezes gr átis . Qu and o é no co meço da pr aça a !le nte bot a sen ho ras
e senhoritas e cr iança a um cruzeiro. E adu lto , hom em, vamos diz er , c inco cruz ei ros
- que esse é o pr eço que n óls cobra. Dia de shaw a gent e enf ia um pouqu inho
mais a faca , né? Por exempl o, shaw a gente cobra dez cru zeiros geral, c riança cinco
e cad eira qu inze. É um pre ço razoável , né?

" senho ras, senhori tas e me ninas , g rátis "

Segundo o mesmo Ch iquin ho , os preços vari am de bairro para bairro:

As vezes a gent e ch ega num bairro e a ge nte procura saber co mo é que tá , se tá


bom de d inheiro . Então a gente va i nas casas come rcia ntes - eles já estão mais
ou menos a par, eles já informam pra gente , então a gen te exp erime nt a cobrar um

67
pou quinho mai s ca ro - se acauso ver que de u resultado entã o fi ca naquele preç o.
Nos bairros mais cent rais , bairro mais no cent ro, vamos dizer, então é o ba irro que
a gente pode co brar um pouq ui nho mais, que é ba irro que quase todo mundo tem
carro, então eles têm mais dinheiro , é bairro que a gente pode cobrar um pouqui nho
mais. Ago ra bai rro mais afastado, de co nduçã o, daí já é bairro qu e pode cobrar
bem baratinho, sen ão não vai ninguém no ci rco .

Em relação a bairros economicament e mu ito car entes , Joanito , sócio


de Chiqu inho , inf orma adota r o seguint e re curso:

. .. pro c irco func io na r: a gent e bo ta senhor as e senhoritas gratuito, menin as a . um


cru zeiro, menin os dois, adulto c inc o c ruze iros . Depen de do bai rro . Depe nde do
bairro . Se é muito pobre a gente tem qu e pô r um pr eço mínim o.

Soment e em um caso - o do ' Circo Paul istão - f oi poss ív el apurar a


ren da po r no it e, est imada em t rês mi l e quinh ento s a quatro m il cru-
zeiros, quando t udo vai bem . Há, no enta nto , noit es em que a renda
'cai a vinte e oi to cruz eiros .

Divulgação

A eficiência da di vul gação está , evident iment e, l igada ás possi bi lidades


econâmicas do c irco-te atro. Em urna organização t ão bem- suce dida quan-
to o Ci rco Bandeira ntes , ela se faz at ravés de um ji pinho de propagan-
da de sua propr iedade:

. .. para roda r o dia todo aí na rua.


(Depoim ento de Ch ico Biru ta)

Fachada. Circo Bandeirantes.

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o Circo Paul ist ão. sem co ndições de possuir cond uçã o própria, é obri -
gado a alugar um carro, precar iamente equi pado, par a f azer a divulgação
pelos bai rros .
O Ci rc o Ameri can lança mão de vários canais para a divulgação do s
es petá culo s:

Nós usamos prog ramas e o carro vol ant e na ru a, é o qu e nós us amos . E o Ely
Correa, o Léo Canho to , o Robertin ho, pela rádio eles anunciam qua ndo o c ir co vai
est reá ou qua ndo el es vão vê. É a úni ca propaga nd a, que a te levisão não dá, não
pod e tá pondo propagan da q ue é mu ito ca ro. Tem a pro pa ganda volante, d iá ria,
carro na rua, os pro gra mas , nos bairro s, e os shows q ue o Léo Canhoto , o Ely
Co rrea anu nciam pelo rád io. O Ely pe la Tup i, o Léo pel a Reco rd, qu e eles anu n-
cia m pra gente.
(Dep oimen to de Dona Mar ia Dan tas Ben ell i)

Os esquema s de divu lg ação de que lança mão o Circo Bandeirantes são


variados e vão desde um trab alho de ve rdadeira catequização da pla téia
at é o emprego de re cursos es peta culo so s, desti nados a impressi onar e
motivar o públ ico em potencial.
Marco Antô nio, Chico Bir ut a, exe mpl if ica processos de divulgação no
seu c irco:
Semp re no nos so espe tác ulo da estré ia eu sempre entro, em vez de ent rar de Bi rut a
eu ent ro com a cara limpa, como a ge nte fa la, né, pra conver sar com a platéi a,
abe rtura de nossa temp o rad a, dizendo pras famílias qu e podem vir no nosso circo.
Porqu e, no rmalm ente, quando cheg a um circo num bairro, então as fam ílias se af astam
porqu e sempre 'dá bri ga, sai aqu eles palavrões na platéia, né, ent ão nós , nós toma-
mo s cuid ado . Não sei se vo cés repararam naqu el e cabo da polícia que tava o
temp o todo ai. Ele é contratado ex c lusivo. Aonde o circo vai ele acompanha o circo,
que é pr a ma nter a ord em. Temos també m dois rapa zes à paisana - aquele alemão
qu e estava aí, e outro rapazinho também que é jus tamente pra isso - qualquer
pessoa qu e se po rtar não conveniente com o espetáculo a gente tira pra fora, quer
d izer, tira na educ ação , fazendo a pessoa entender, essa pessoa inclusive vol ta pra
ser nosso amigo.

Este mesmo circo encena peças de terror, destinadas a causar grande


impacto sobre a platéia. A imaginação dos dirigentes do circo não é
poupada, nessas ocasiões tão especiais:
Nesses dias de "Lobisomem " a gente coloca nosso cam inhão na rua , nós fazemos
um jaula em cima do caminhão, e sai uma pessoa do circo, sabe , caracterizado de
lobisomem. Porque nós temos a roupa, a máscara. Então põe a jaula em cima do
caminhão, é um sucesso , vai todo mundo atrás do caminhão, até homens, mulheres,
pessoas de idade, .então nas esquinas o caminhão pára, sabe. E li. gente faz de
propósito . O caminhão sai com alto-falante, esse rapaz que tá aqui ele grava. Anun-
ci ando "Hoj e no Circo-teatro Bandeirantes 'A Maldição do Lobisomem "', dá umas
garg:'llhad as meia loucas, né? Chama uma mulher do circo e dá um grito ' de terror.
Isso daí tudo gravado, né, e depois sai no caminhão com dois alto-falantes. Sai
então no cam inhão anunciando no alto -falante e também nessa jaula vai o lobisomem,
pára na esq uina, o caminhão pára , então abre a jaula, ali o lo bisomem ameaça sair
da jaula e pular, mas a gente toda vez tá sabendo como é e se diverte. E a turma
dá no pé , sabe.

O melhor horário para a divulgação no bairro é de manhã e de tarde ,


explica Chiquinho:

69
Bem de tardezinha, depois das cinco horas que o pessoal começ a a vir do se rviço ,
então ele sal até escurecer.

o esquema de divulgação começa a ser acionado , no Circo


do Chiquinho ,
no momento em que se inicia o processo de assentamento:

Por exemplo, leva c inc o dias pra armar o circo. Durante esses cinco dias ele sai
todo dia avisando : " Tal dia é a estr éia, em tal lugar" . Então sai o carro na rua, roda
o bairro int eirinho. No dia da estr éia ele tamb ém sai e avisa . " Hoje estréia" , então
o pesso al já está sab endo do circo naqu ela localidade.
(Depo imento de Chiquinho)

Carlito , além de proprietário , funcion a como uma especte de mestre-


-de-cerimônias , de relações públicas do circo . No di a em que foi ence -
nada a peça "O Céu Uniu Dois Corações " , por exemplo, no intervalo entre
um ato e outro, dirigiu-s e de improviso ao público , lanç ando mão de um
discurso altamente envolvente e que funcion a como excelente veículo
de divulgação do circo. Entre os muitos argumentos de persuasão usados
por Carlito , em relação ao público , vale a pena notar os seguintes, mais
extensamente detalhados na apresentação em anexo (p. 122):

- agradecimentos ao público por prestigiar o espetáculo , apesar da


chuva:

- manifestação de esperança de que o espetáculo corresponda à ex-


pectativa das famílias presentes;

- expressão do desejo de que o público encontre no espetáculo o di-


vertimento , a mensagem e a ternura que aí veio procurar;

- divulgação da programação da semana, com horários , nome das pe-


ças, descrição breve de seu conteúdo e muita ênfase na mensagem
das peças que, segundo ele, transmitem "uma cultura extraordinária".

Aliás , o circo usado como veículo de ensinamento, como instrumento di-


dático a serviço das famílias , é a tônica de todo o improviso de Carlíto,
que se propõe , como todos os seus colegas de profissão, a fazer um
tipo de arte "de família para as famílias" .

Equipamentos do circo

Chiquinho enumera o equipamento de seu circo , que podemos conside-


rar característico de um empreendimento medianamente bem -sucedido:
lonas , madeiramento, mastros, cadeiras, arquibancadas, madeiramento de
palco, aparelhagem de luz (precária). aparelhagem de som , instrumentos,
um pequeno guarda-roupa e caravanas . Os Benelli , do Circo American,
em situação econômica um tanto precária no momento da pesquisa, ti-
veram de recorrer ao empréstimo de quatro refletores e cinqüenta lãrn-
padas. Declararam, no entanto , possuir um aparelho de som e duas cal-
xas acústicas . Possuem um caminhão-residência , mas para o transporte
do circo alugam caminhões.

Cenários e figurinos

Os cenários são conceb idos em função da extrema mo bilidade do circo :

São todos cenários de pano que tão enrolados ali , quer dize r, desceu já é uma
casa rica , uma casa pobre . . .
(Depoim ento de Chico Bi ruta , Circo Bandeirantes)

O número de cenários varia de acordo com a maior ou menor prospe-


ridade do circo:

. . . o circo que pode, vamos di zer assim, então cada peça eles têm um ce nário,
casa pobre, tem bosque. Pra apoteose tem o céu. Agora tem outro que toda peça é
o mesmo cenário.
(Depoimento de Ch iqu inho, Circo do Ch iqu inho)

Boa parte dos figurinos são confeccionados por elem entos do circo ou
comprados fora . No entanto,

. . . tem artista que já tem um bom guarda-roupa, então usa o próprio guarda-roupa.
(Depo imento de Joanito, Circo do Chiquinho) .

Cenário. Circo Bandeirantes.

71
A lo na
A lo na, um dos equipament os mais preciosos do ci rco , requer cuidados
muito esp eci ais. Ela só pod e ser reti rada quando seca, poi s se enr o-
lada mo lhada queim a, devido à pr esen ça de determ in ado age nte quími co
empregado no seu ti ngiment o. Esse mesmo agente é respon sáve l pe la
durabil ida de da lona. Normalm ente gasta-se mil e duzentos, mil e t re-
zentos metros de tecid o para co nfe cc ioná-Ia, o que é fe ito em apro xi-
mad amente um mê s e mei o. A lona do Circo Bande ir ant es é fe ita por
um ci rcense espec ial izado . O proces so é o segu inte :
ela é feita em gomo , todo separad o, depois que é juntado tod as as parte s.

Muitas ve zes sucede que é o próprio dono do circo que confecciona


a lona :
Pod e não fi car assi m tão bem-f eitin ha, bo nita co mo essa ... e tem out ros que fic am
bem, né? Dep end e de com o ele apr end eu. Muitos ci rco s os própr io s don os do c irco
fazem a lo na. Agora, quem não quer pe rde r tempo em fazer, como é o nosso caso ,
nó s já pagamos, mandamos fazer. já vai buscar e co loc a e não tem pr ob lema. Dá
um temporal - rasgo u, manda pra ele, ele conserta e pronto.
(Depo im ento de Ch ico Biruta , Circo Bandeira ntes)

Na feitura da lona são empregados pano , barb ant e, co rda s. cera , t inta ,
para f ina, querosene, óleo de ríc ino e vaselin a, estes últimos it ens des -

" O Casam ento de Chico Biruta".


tinados à impermeabilização . A lona, no entanto , é de duração muito
limitada . Como diz Mário Benelli , do Circo American, " o circo é ingrato
sobre a .Iona". .
Essa "ingratidão" deve-se à ocorrência de temporais e o Circo Ameri-
can, no ano anterior à pesquisa, chegou a perder três lonas :

. . . deu temporal na segunda lona nova. Levou embora. Fizemos outra. Dal i uns
dois, três meses, levou embora outra veiz. Fizemo outra, que o ci rco não pode morrer.
Ir pra frente sempre. Então a gente não .. . não deixa morrê, não de ixa a peteca
cai. Então tiramo dinheiro do banco, fizemo outra lona. Foi embora outra veiz . Tem-
poral levou embo ra outra veiz . Até barraca do meu filho, levou ludo embora.
(Depoimento de Mário Benelli)

Na Grande São Paulo, a durabilidade da lona se vê comprometida pela


poluição corrosiva , que obriga o circo a uma peregrinação dramática
de bairro a bairro, quase urna fuga:

A lona, aqu i em São Paulo , ela dura menos. Porque há a polui ção em São Paulo.
Pr in c ipalmente na região do ABC . Por exe mplo, tem a ref ina ri a de petróleo , tem a
Petroqu ímica. Então ali em Capuava, a gente só vai lá quando a lona já está pra
tro car . Se ficar ali um mês perd e a lona. É como da maresia. Na reg ião do litoral, se
bot ar um pano , uma lona, é do is, três meses e não tem ma is pano. Então a gente
pro cur a sair aqui da região de São Paulo onde a polu ição é grande. A própria
polu ição come. Na reg ião de Perus , se foge pra Perus, tem o cimento . Se foge pro
lado de Santo André, ali na beirada tem a refinaria, que é a Petroqu ím ica. Se desce
pro litoral , tem a mar esia. Enf im, tem os probl emas de poluição. Se não é uma
polu ição é outra qu e acaba com a lona. Come tudo. Por exemplo , eu tenho uma lona
aqui, essa lona da mar qu ise da frente , ela é um mês mais velha que essa aqui. E
o senhor vê a diferença dela. Está totalmente preta já , e é verde. Foi a lona que
nós pusemos lá no Capuava.
(Depo imento de Joanito , Circo do Carlito)

Despesas de manutenção

Joanito , do Ci rco do Chiquinho, revela que as despesas do circo são


extremamente elásticas, dependendo de numerosos e imponderáveis
fatores:

A desp esa do circo - nunca tem uma despesa fixa , porque tem a quantidade do
artista. Mas mesmo a quantidade do artista é variável , porque tem sem anas que a
gente . . . como a semana vai bem . . . a gente dá uma cai xinha - cois inha, um cafe-
zinho - mas sai fora do or çamento.
Tem, por exemplo, na armação , duas ou tr ês pessoas a mais pra ajudar a armar o
circo. A pessoa tá desempregada - " olha, você quer dar uma mãozinh a?" Então dá
um pouqu inho mais.
Na semana que tem que mud ar o circo tem a despesa 'do ca minhão , de Light, que
a gente faz um depósito adiantado. E tem as vár ias despesas - - lâmpada. Toda vez
qu e vai estrear tem qu e comprar no min imo qu in ze ou vinte lâmpad as, sempre quebra.
Lá fora, por exe mplo, se está chovendo , a lu z tem qu e ficar acesa. Então ela es-
quenta e estou ra. Lâmpada, aparelhagem de som qu e sempre dá uns probleminhas.
Mi crofone, por exemplo , hoj e deu um problemi nha que era um fio zinho qu e estava
escapadinho. Tem que comprar um plug novo. Sempre passa fora do or çamento

73
uma bas e, no rrururno de qu inh entos co ntos, sem conta r o salá rio dos arti stas. Isso
fechando a mão pra não gastar.
Depo is tem a época da lona. Nós temos uma reservinha, di vid ir ela, porqu e a lona
se aca ba - em dez ou onz e meses a gen te pr ec isa tro car de lon a. Entã o precisam os
fazer outra. Se a gente deixar de recolher ,na hora de fazer lona .. . não tem o
dinhe iro.
É o que muita gente de circo faz - ele só pensa na hora - foi bem! Daí ele vai
co mprar carr o, comp ra isso, comp ra aq ui lo, e esquece do cir co . E o c irco é um ser
tam bém , Não é humano, mas tem manutenção . Agora nós estamo s t ro cando a part e
de madeirament o de le, vamos tro car essa semana. Daí vem pintura. Quer dize r, sem pre
tem uma cois inha pra gastar. Nunca a despesa do circo é harmôn ica, nunca é aqu ele
fixo. Semp re tem o inespe rado.
(Dep oimen to de Joa nito , Circo do Chiquinho)

Chiquinho est i ma o gasto di ário do ci rco em


. . . trezentos a quatrocentos cru zeiro s por noite, pra mon tar uma peça mais ou
menos . Que aí a ge nte, além de ter a companh ia tem que arru mar artista de fora
- que art ista de fora cobra cach ê, tudo, né?

Direitos autorais
O Circo American mantém um repertório de cerca de oi tenta peças,
em geral adquiridas na Livraria Teixeira ou então conseguidas direta-
mente com os autores. Segundo seu proprietário , M ário Benelli, a
Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) arrecada mensalmente
uma t axa de cinqüenta cru zeiros, relativa a todos os t extos encenados.
No depoimento de Chiquinho, do Circo do Chiquinho, essa arrecadação
é semanal. Isso lhe dá o di reito de levar qualquer peça. Mesmo as
peças " ant igas" têm que pagar ,
. . . porque se o autor já faleceu então tem a família.

Subvenções oficiais
Ch ico Biru ta informa que houve um tempo em que eram dadas subven-
ções ao circo (pela Comissão de Circos, Circos-Teatro e Pavilhões , do
Conselho Estadual de Cultura, da Secretaria Estadual de Cultura,
Esportes e Turismo).
Agora fazem dois anos que não se rec ebe mais. Mas a subvenção que era dada era ,
no caso , muito pequena, então não .. . quer di zer, sempre era bom , mas. . . girava
no caso de um circo de pr imeira categoria, que é o nosso, girava em torno de oito
mil cr uzeiros. Daí houve muito rolo lá, parece que pararam.

74
75
o ESPETÁCULO NO CIRCO
A idéia do circo como espetáculo do excêntrico, das exceções e con-
trastes, diluiu-se na periferia . Os grandes números de trapézio , as
exibições de animais quase já não existem, tornando-se exclusividade
das grandes empresas (também raras), localizadas em áreas mais pró-
ximas ao centro e destinadas a um público de poder aquisit ivo bem
maior. A presença viva do circo nas regiões mais afasta das (quarenta
minutos , uma hora de carro da Praça da Sé), a sua existência como
acontecimento deve-se ao fato de ter se tornado casa de espetáculo,
local de encontro ou de se ver alguma coisa pertencente a uma parte
muito grande da população. Operários , pequenos comerciantes , encar-
regados de tarefas braçais e suas respectivas famílias conseguem,
reunidos, integral participação no divertimento que lhes é proposto .
A primeira definição de espetáculo circense nos foi dada por Marco
Antônio Semioni (Pingolim):

Entra na primeira parte os art istas do circo com o cõmico (palhaço, no caso) . Depo is
o show dos artistas que vêm de fora e depois a apresentação da peça .

Os artistas do circo

Essa primeira parte executada pelos artistas do circo, embora modesta,


sofrendo ligeiras influências dos meios mais fortes de comunicação ,
conserva ainda a 'verdadeira essência do espetáculo circense: uma arte,
cujas origens se situam na vida e no aprendizado em comum . O picadeiro
- como é denominada essa primeira parte - é uma amost ragem
rápida, variada, adaptada a cada local, de longas experi ências transmi-
tidas de pai para filho, de colega para colega, de criança para criança .

ENTREVISTADOR : Quantos anos você tem?


R. : Nove.
ENTREVISTADOR : O que voc ê está ensinando pra ela?
R: Deslocação ( . . . ) É virar. É deslocar todo o corpo ( . . . ) Em todos circ o eu
é que ensino as meninas .
(Regina, Circo Paulistão)
As frases "a gente de manhã põe as criança pra tirá número" , " a gente
quebra o galho", indicam os responsáveis por essa primeira parte , refe-
rida linhas acima .

Número de piracog ia eu também sei fazer. As vezes eu contrato esses número e


fico de olho. É onde que a gente começa a aprender coisas novas . Comecei a
apr ender trap ézio . Na outra praça vou fazer trapézio. É um núm ero perigoso. A gente
pod e cair, quebrar as costelas. Mas tudo isso aí é a vida . A vida tem que (ser)
ganha assim . Ou morre ou não morre .
(Roberto Carvalho, Circo Paulistão)

Rarissimamente há contribuição do artista de fora. Baseia-se pois no


aprendizado familiar , ainda que no momento , pouco esenvolvido, mas
de qualque r fo rma voltado para at rações específicas : a deslocação, a
pirofagia , o trapézio. Leila, menina de onze anos , filh a de Roberto Car-
valho , propriet ário do Circo Paulistão deseja, quando crescer , "ser
bastante artista" (bastante evidentemente no sentido de saber desem-
penhar todos os papéis , todas as funções que um artista de circo tem
obrigação de desempenhar).

Tem uns até que br iga pra fazê número de fogo . Tem a moc inha Tânia que faz
par te de canto e ba ilado . Tem trez e anos. É a mais velha. Tem vez que o menino
invoc a: " Não vou entrá pra fazer número de fogo , porque a turma vai enjoar da
minha cara" . Então entra a mocinha que é diferente. Entra de biquín i e tudo. Depois
a menina di z: " Hoje eu vou fazer can to e bailado" . Então tem que entrá o men ino.
(Robe rto Carvalho, Circo Paulístão)

Carli to , proprietá rio de uma organi zação mais estruturada , chama atenção
para um núme ro que um de seus contratados-residentes executa em
dias de picadeiro :
Eles (Orl ando e Mar ia) fazem número de chicote. Ele com c hicote na mão e ela·
então segura, por exemplo, uma flor nos lábios. A uns dois metros de dis tância,
ele com o ch icote, parte a flor ao meio . É um núme ro arriscado, mas vistoso.
(Carlito , Circo do Carlito)

ENTREVISTADOR : Orlando , quem te ensinou esse núme ro?


ORLANDO : É , eu comec ei tr abalhando no ci rco , vendendo pirulito . Semp re faltava
al guém . . . Mas ch egou uma certa época que foi prec iso tra balhar sér io. Ar eu
come cei a trab alh ar em vôo s: vôo s da mor te . . . Naqu el e tempo chamava " me agarrre,
pelo amo r de Deus" , po rque os v ôos daqu ele tempo eram sem rede . Eu era o
con duto r de vôos. Dal i já c rie i co ragem, já fu i fazendo trap ézio, fi z esc ada giratória
( .. . ) Encontrei a minha esposa em Santo Andr é, co meç amos a namo rar ( . . .) De-
pressa per cebi que ela servi a pra ser a minh a esposa em circo. Ela também gostava
muito ( ) mas fui cansan do de número de ar, precisei passar pra número de
c hão ( ) Mas não tinh a gin ástic a sufic iente pra fazer núm ero de c hão: barra, saltar,
essas co isas. Aí então me ada ptei ao ch ico te, ao laço , ao número de faca e ventri-
loqu ia, co isinhas q ue não sem mui to sacrifício se apr ende. E o chicote c riou meus
fil hos tod inhos.
(Or lando, Circo do Carlito)

o t reino é fei to ger almen te pel a manh ã, segundo M I'. Jones , um dos
artistas do Circo Paulistão:

77
A gente levanta . Antes de tomar café a gente ensaia um pouco pra pegá mais
agi lidade no corpo. Porqu e se a gente come e depois ensaia, o corp o fic a pesado
e a gen te fi ca sem agilidade. É uma ginástica . . .
Eu faço equilí brio no arame. Depe nde muito do equilíbrio e eu tenho que dei xá o
corpo mole , sempre leve. E na rolet a giratória (que a gente se equilibra) no arame
pra atirá as faca, quando ela gira , prec isa te r muito golpe de vista . Muita atenção
e cuídad o.

A precariedade do espaço , o pouco desen volvimento das habilidades


emp obrecem de certa form a a primeira parte do espe táculo . O artista
Demétrio (Dem a) aponta como pr oble ma a f alta de ensaiador es :

Então as cri ança s não estão apr endendo mais a trabalhar em circ o. Ninguém apre nde
mais a saltar, fazer paradas , números de vôos. O picade iro está dimí nui ndo. Os
pais pr ocuram ensai ar mais os fi lhos a trabalhar em t eatro . ( .. . ) Não sei por que,
mas ningu ém mais quer ensaiar os fi lhos pra trabalhar em núme ros de ar ( . . . )
A atração do circo era o vôo. Hoje em dia tem poucos voadores, saltar inos, acrobat as.
Muitos pai s não ensinam. Então a gente está decaind o porqu e a sociedade não
ajuda de maneira nenhuma .

A inda hoj e, a figura mai s atraente dessa primeir a parte continua a ser
o palhaço e seu companheiro, o clown (chamado de " clorn" pe los cir -
censes) . Uma das modalidades des sa apr esentação consi ste na pre senç a
do palhaço na plat éia , sentad o entre as crianç as, negando-se naque le
dia a traba lhar. Incorpora , com sucesso, as cri anças as suas graças ,
dizendo -se em compan hia da fa mí lia , apontando cada uma delas como
sua mãe, seu pai, seus i rmãos. Conve nc ido pelo com panheiro, con cede
ir ao centro e a conver sa vai t omando impulso, tornan do-se cada vez
ma is di reta e mali ci osa . Um diá logo , nem semp re longo, vai condu-
zindo a desfechos cômicos , dando margem às improv isações .

Pingoli m inicia seu número j unto ao público infantil.

78
Se existem cria nças conto rcionista s e t rapezista s, existem t ambém
aque las com nítid a vo cação para a com icidade . Inici am-se nas matin ês
infantis em cantat a dir et o com o púb lico menor. É o caso de Ricard o
Di as Neto, órfão agre gado à fa mí lia Carva lho que " est á apre ndendo a
ser palhaço" :
Tem vez que eu fa lo e faç o gesto, se pint o . . . O nar iz eu pinto verme lho, a boca
pingada ansim. Pinto os o lhos, tudo. Visto um paletó rasgado e s6.

Ric ardo Dias Neto, apr endiz de palhaço .

Ter sem pre um palhaço no grupo é a preocupação dos pro pri et ários.
Segundo os próprios circe nse s, sua participação é imp ortantíss ima
porque de seu êxito junto ao público infanti l depende o sucesso de
uma praça , pois em princípio é a criança quem traz a famíl ia ao circo.
Int errogado sobre um tipo de gra ça que faz, baseada na simples t ro ca
de letras , Mariovaldo Benel li respond e :
(Faço) justamente porque as cr ianças gostam disso . Porque se fal á uma palavra
corretamente tem certas crianças que não entendem . Então tr ocando a palavra, pra
cr iança se torna mais fác il, mais engraçad o e ela ente nde melh or. É porque a alma
do palhaço é a cr ia nça . O palhaço é a al ma do circo. Geralmente a criança gostando
do pal haç o, os pa is te rão que vir. É esse o cas o.

Mesmo em circo s, cuja orga nizaçã o emp res ari al nos pareceu bem ma is
est rut urada sobre o element o "ídolos de per iferia " , a figura do palhaço -
-aprendiz não dei xa de ser um dado de import ânci a merecendo a aten ção
de sóc ios e propriet ários:
Aqu i nós tem os um ga roto novo , talv ez ele sej a até o mais novo . . . Ele tem . . .
Quantos anos , Maria? Dezoito. Dezoito anos . É o nosso pal haço aqu i, oficial da
com pan hia.
(Edson de Carva lho, Joa nito, Circo do Chiq uinho)

79
o show dos artistas que vêm . . .
O show dos artistas , realizado já no palco (e não no picadeiro) é o
vestígio do rádio e da televisão nas zonas periféricas.
Unem-se nesse show a presença do grande centro (sons e maneiras) a
uma rememoração: uma visão nostálgica de suas or igens (uma platéi a
mais velh a ou os rec ém-ch egados migrantes).
Essa parte do espetáculo é, no momento, o número mais vigoroso das
apre se nta ções circenses. Nela há possibilidades de total participação.
As pal avr as iniciais do apresentar : "Boa-noite /Boa-noite /Este boa-
-noite está fraco /Quero um boa-noite mais quente" dão começo a um
ritu al perf eita me nte reconhecido por atores e público . O prim eiro
enco ntra-se perfeitamente à von tade numa fun ção por demais vista e
adm irada: a do apre sentador de auditório. Isso lhe dá um a espécie de
euforia, for ça e conseqü ente domínio. Quanto ao segundo , é com
im enso agrado que vê chegada a hora de participar, desempenhar-se
confo rme a im agem de público , projetada pelos prog ram as da TV.
Desse show participam figuras conhecidas. Roberto Barreiros apresen-
t ando-se no Circo do Carlito em 16/1/76 relembra às várias faixas do
público ali presentes quem ele é:
. .. eu ac red ito que voc ês tenham me visto no programa " Ho tel do Soss ego " , on de
eu vivia a fig ura do Escov inha, aqu el e cara que conversava com a lata de lixo e
co m a vasso ura e paqu erava a Ja cqu elin e Mirna. Mais rec entemen te eu tra bal he i na
TV Tupi , Canal 4. Programa " Aleg rissimo" . .. e tamb ém no " Essa Gent e Ino cent e" ,
ond e eu vivia a figura do vira-lata, aque le cacho rro qu e era apa ixo nad o pela Lady
(canta: " Mas acontece que eu sou um vira -lata . . . " ). Atu al ment e eu esto u na TV
Glo bo: um domingo sim , um dom in go não , vocês me vêem ao lado do Golias no
p rog ra ma Si lvi o Sant os ( . . . l. Al ém da ge nte fazer tud o isso , nas ho ras vagas a
gente dubla desenh os ani mados para a TV . . . Mas eu gostari a, ap esa r da mi nha
afo nia , da mi nha rouquidão, de lembrar alg umas vozes das mais co nhecidas, pra
você s. Qu em é qu e já não ouviu aqu ela hiena que viv e di zendo assim : " ah! que
azar! " . . .

Ou t ro participan t e important e do show é a dupl a caipira. João Salv ador


Peres (Tonico) da dupl a Toni co e Tinoco atri bui a ambos a re sponsa-
bi lida de de te r despert ado esse in t er esse:
Quand o nós começamo no rádio , o prim ei ro sec retá rio nosso era do no de um circo,
ch am ava-se Sert ãozinho . Então ele fal ou : " Olha, vo cês vão fazer um showzin ho, lá
no meu circo " . E foi nov id ad e, ente nde u? Novidade. Enc heu o ci rco . Então da li qu e
com eçamo a trabalh ar em ci rc o, qu e ant es de nós, prop rietári o nenhum de circ o
- nem conhec ia dup la caip ira . nem davam show. Entã o nós sorno pion eir os dessa,
dessa penetração em circo dos arti stas do rádio, os viol eiro s.

A pres enç a da dupla caipira no circo é t ão forte que os enredos de suas


modas se pro longam em peças te at rais de sucesso , formando um reper-
tório específico : dra mas sertanejos, de autor ia de Tonico , Cascatinha,
Zé Fortuna . . .
Há nessa aprox imação cir co-art ista de rádio ou te vê um interesse mútuo.
Joanito, sócio do Ci rco do Chiqui nho e ta mb ém ator f ala sobre o
prob lema:

An
Eu acho que nós dependemos muito do rádio , como eles dep endem muito do circo
tamb ém. Que o circo é o veículo de comunicação deles cheg arem ao povo também.
Que eles não vão depender só de shows que eles fazem em ba iles , em exposições
agro pecu ár ias, qu e agora tem bastante no país . O circo pra eles é importante também
tanto quan to eles são importantes pra nós.

Entre piadas e números de canto , Roberto Barreiros informa, percebendo


naquele auditório possibilidades para aumentar seu público :

Eu qu eria conv id ar você s para que ouvissem o nosso pro grama, muito hum ilde,
par a atend er a sua cartinha, o seu ate nd imento, todos os domingos na Rádio Gazeta ,
de 11 a 1 da tard e. O program a chama-se " Domingo com Roberto Barrei ros " e visa
única e exclusivamente atend er ped idos mus ica is de voc ês. Eu ficaria muito feliz
de passar a recebe r ca rtas aq ui de todos voc ês desta reg ião. Posso contar com
voc ês, ac redito. E qu ero também conv id á-los para agora, no mês de março , assistirem
nosso pr imeiro filme , noss a pr ime ira longa-metragem , uma comédia supercolorida
chamada Louco por mulheres. Ah! um lembrete : esta semana aqu i, nós estamos
lan çando o nosso mais recent e compacto para a gravadora Copacabana, TV-Rio.
Trata-se de do is temas da novela " O Pecado Cap ital ". Acre dito que muita gente
já deve esta r segu indo aqui " O Pecado Capital " . Eu gravei pra vocês A canção de
Wilma" , o " tema" de Wilma, aquela música da flautinha , entendeu? (assobia) .
Eu gr avei, cantando: A mão desenhando . ..

Perguntamos a Joanito : " Você acha que daria para se fazer um espe-
táculo de circo só com o teatro, s ó com os artistas do circo , sem
convidar ninguém de rádio ou de tevê?"

JOANITO : Não. Eu acho qu e seria difícil. Aí, to rna-se um a colaboração mútua . Porque
a gente poderia levar . . . t eatro . Mas eu acho que fica meio cansativo . Então pr a
gente var iar duran te a semana nós contratamos o show. Dificil mente a gente bota o
show , de segunda a sexta-feira. Mas no sábado e domingo pro povo ter uma atração
diferent e, a gente bota . Por exempl o, o caso do Tonico e Tlnoco, do Pedro . .. ,
do Roberto Leal - qu e ago ra esse portuguezinho está bem no auge. Então o povo tem
praze r em vir ao ci rco , há uma motivação pro povo vir ao circo. Vê pela televisão ,
ouv e por d iscos , então vem ao circo.

A apresentação da peça

Outro momento importante do espetáculo ci rcense é a " apr esent ação


da peç a" , ou sej a, o t eatro, tamb ém articulado conforme as preferências
e caracte rísticas dos bairros visitados.

Tem pra ça qu e eles preferem mais d rama. Tem praça qu e é mais com édia. A gen te
fa la: " vocês q uerem dra ma, amanhã? " " Não. Nós querem o com éd ia." Praça que
tem muit a malo ca iada, a turma gost a é de ficar dando risada. Praç a que te m gente de
f amí li a, gosta de dr ama. O marido, a senhora, a avó, eles gost am mais de sent ir
o dr ama. Palh aç ada eles vão ver na televisão.
(Roberto Carvalh o, Circo Paulistão)

Você joga, por exemplo , um dr ama. Então , você not a q ue a platéia não aceita, porq ue
é aquele baru lho. Então quer dizer que a platéi a não aceitou o drama. Entã o você
apela pro espetá culo que m nem o de hoje, sabe? ( . . .) Ant eont em jogamos uma peça:
" A Esc rava Isaura" . Um d rama qu e tem negóc io de ti ro. Bang-bang , eles gostam . . .
(Maria Benelli , Circo Ameri ca n)

81
o repertório do circo perma nece o mesmo. Há muito que não se vêem
novida des. Cem t ít ulos , segundo alguns ; duzentos , segundo out ros ,
per te ncem às comédi as de auto res desc onhecidos , às peça s ser tan ej as,
aos dramas propriam ent e ditos.
A com édi a (ou chanchada) é uma cont i nuação mais longa e elaborada
do núme ro apr esent ado pel o palhaço e seu compan heiro. Move m-se com
ext rema li berdade, emb ora seus te mas sejam trad ic ionais e per fe ita -
mente conh eci dos pelos intérpre tes . Permitem contu do a improvis ação
dos di álogo s e têm abertura suf iciente para acolher o aconteci mento
do momen to, a mudança do local, ou o t alent o inventivo de algum novo
intér pr et e. Não se conhec em seus autores e, segundo Marco An tôn io
M art i ni , "é uma co isa muit o ant iga ( .. . ) desd e aqueles te mpos do
com eço, antes do Piol im" .

Chiquinho , at ol' e propr ietário de ci rco , refere-se às chanchadas que o


público e at ores conhecem : " A Me nina Vi rou " , "O Mo rt o que não
Morreu " , " A Chácara Mal-Ass omb rada" , " O M acumb eiro da Vil a Indus-
t riai " . E nos fal a da que ele mesmo escreve u, ate ndendo ao gost o do
público e ao assunto em moda:

A gen te põe um nom e, põe out ro, conforme o nome da época. Por exe mplo, eu
agora leve i uma que eu pus o nom e de " Eu não Quero mais Pepi no" , por causa
daqu ela música do J acó , do Jacozinho ( .. . ) Isso aí não tem co mentário. Isso aí é
na hor a que a gent e vai inventando. É chanchada pra c ria nç a. Até gente grand e
go sta . Vai um, solta uma bolinha, outr o solta outra . Vai com o pepi no, qu ebra na
cabe ça do outro . . . é com edinha.

Essas comédias vivem da agilidade de seus inté rpretes :

Gera lmente, a t urma do circo já conh ece. Sai de um cir co e vai pro outr o e é qu ase
o mesmo repertório dess as c hanc hadin has. É qu ase a mesma coi sa. Só que um
leva um pouco mais, outro meno s, mas é aquilo lá.

ENTREVISTADOR: Voc ês combin am alguma cois a antes de começar o espetáculo ?


CHIQUINHO: Não senhor. É na hora que sai.
ENTREVISTADOR : Mas co mo é que começa a peça? Como é que vocês fazem
para iniciar o espetá culo?
CHIQUINHO : Pr á começá então nós f ala: " você ent ra lá, fala isso" , depois entra
ou tro e fala aqu ilo e vai entrosan do até mais ou menos uns quarenta minuto. Assim
cinqü enta minuto mais ou menos , a dur ação da co med inha. Ago ra tem um que
dirige . . .
(Chiquinho , Circo do Chiqu inho)

A comédia " O Casamento do Chico Biruta " é tamb ém de aut or desco-


nhecido . Mistura um personagem fix o (Chico Birut a) a um enr edo comum
à comédia de costumes : a cheg ada de parentes moradores na roç a, a
uma residênci a da cidade. A graça, sempre apoi ada no ta lent o do atol'
cômico, entremeia-se de mal-entendidos e, conseqüentemente, de
qüiproquós.
" O Casamento de Chico Bi ruta ".

83
W ilm a e Roberto explicam a seu modo como se pr eparam par a um
esp et áculo desse t ipo .
WILMA : Eu não sei se vão pr ecisa r de mim hoje. Depend e. Se eles não trazem na
caravana uma mulher junto, então eu ensaio e na hora eu entro . . . Com nói s não
tem esse negócio . . . E c inco minu tos e já ent ro em cena. Eles ensinam o que eu
tenh o de dize r na hor a que eu ent rá.
ROBERTO : Ela faz o papel de Margarida. Eu sou .. . o meu pap el é de marido dela.
Eu c hamo Raymundo . Ela fa la : " Oh, Raymundo! " E eu: " Oh, meu amor , Margarida.
Como vai meu amor ? Tud o bem ?" Bem dr amát ico. É assi m qu e a gent e leva. Lá
at rás é tudo respeito. Mas na cena a gente vai . . . essas palavr as assim . O mari do
dela não pode nem fica r com c iúm e. O pr obl ema é esse. A ge nte se abraç a: " Oh,
meu amor!" Se abraça, dá um bei jo di sfarça dam ente, que nem na novel a, que nem no
teatro, mas tudo dec entemente que é pro púb lico não se revol tá. Então a gente leva
t udo assim, na base da brin cadeir a e a mesma coisa pro públi co, pra agr adar o
público tam bém.
Ent re a comédi a e o cham ado "drama sério" está a peça sertaneja, cujos
aut ores são nomes conhecidos no gênero: Zé Fortun a, Casc atinh a,
Tonico. Tendo como po nt o de partid a o t ema central de uma de suas
mú si cas de sucesso , sua aceit ação perant e o púb lico cir cense está
pr at icamente garan tid a pelo êxit o ant erior do disco e pela presença da
dupla sertan eja como at ores no desenr olar da peç a "e como aut ores-
-cant ores antes ou depo is de la.
Tonico nos con ta com o começou a se interessar po r ess a modalidade
de espe t áculo:
Essa pr imeir a (peça) não fui eu que escrevi. Foi um amigo, até um arti sta de circo
muito ant igo. (lO a est ória de Chi co Mineiro) . Chico Minei ro foi (a estória) que mais
vendeu e vende dis co até hoje ( . .. ) Aí esse co lega falo u assim : por que voc ês não
fazem uma peci nha, representan do o Chi co Mineiro, a mor te do Chico Mineiro, o
enredo faz um ato , não é? E faz o show , que dizer um show completo . Ent ão aí,
peg amo vi nte mil réis .

Um dos text os mais fam osos do gênero é " A Marca da Ferra dura ":
Vou contar o que aco nteceu
Com um rico fazendeiro ,
Um homem sem relig ião,
O seu Deus er a o din he iro " ."

TONICO : Deve ser lenda. Então eu sempre guardei aquilo na idéia . Aí , quando nós
entramo no rádi o, eu esq ueci desse tema, esqueci. Aí aparece u esse Lo urival dos
Santo s com essa músic a A marca da fer radu ra e então aí eu me alem bre i, falei:
" Olha a estória qu e a mi nha avó co ntava" . Então, nós grava mo ela e de acor do
com o sucesso , então fiz a peça " A Marca da Ferradura" , quer di zer, pro sujeito
ent rá a cava lo na igr eja , pra ele sur rá os outros, eu falei tem que se começá po r
exe mplo numa fazenda .. . Sê o valentã o c riado pel o tio, né? E então, depois, ele
muito bruto, casa e . . . aí foi ind o . " . Veio vind o o enredo d' " A Ma rca da Ferradur a" ,
até chega r naquel e final. Quer dizer . .. que no teatr o, a gente não pod e, não tem
condiçõ es de mostr ar aq ui qu e a ge nte esc reve, né?

O burro foi jud iad o,


mas na igreja não entro u
q ue o dono não respe itava ,
seu burr ão arres pe itou.

A peç a foi armada em t orno do perso nagem mau . A su a volta estã o o


tio e a tia "bondosos" , Luzia (a mulher sofredora], Terez inha (a f i lha],
um professor , o personagem côm ico (o moleque Chico Biruta), o
ceguinho vindo do norte. O nascimento de uma fi lh a cega é moti vo para
que o vil ão des conf ie da traição da esposa , e mate o ce go e a mulher .
Diri ge-se entã o a Apare ci da do Norte, numa espécie de peregrinação
mald it a:

Esta cena ver dadeira


Muit a gente pr ese nciou .
O burr o deu um corvoce .
O seu dono ele mat ou.
O d inhe iro compra tudo ,
Mas a mo rte não comprou.
A arma do fa zendei ro

85
Com certeza não sarvou.
Bem na porta da igreja,
O seu bu rrão refugou .
A marca da ferradu ra
Lá na esc ada ficou .

Mas no drama há uma chance para o fazendeiro. Depois da trigésima-


nona cena vem o final pedido pelo autor: "atrás do cenário já deve estar
preparada a apoteose com um a mulher vestida de Nossa Senhora e
também Luzia, vestida de branco",
TEREZINHA : Este é o tio Clement e? Que fe li c idade eu pod er vê-lo, meu bondoso tio.
É: como eu pensava . Ti a Anast ácia este é o lugar onde minha mãe mandou eu vir?
Ond e está ela? Ela não disse que me esper ava aqui?
ANASTÁCIA: Sua mãe está lá de nt ro na igrej a. Vamos rezar para ela .
FIRMINO (entrando, dando a impressão que está puxando um cavalo) : Vamos , cavalo
maldito . . . Eu di sse que entrava a cavalo nesta ig reja e vou entrar . . . (cena à
vontade, até qu e ele vai até ao bast ido r e volta, caindo, dando a impres são qu e
levo u um coi ce do cavalo. Entr a com a camis a aberta e já deve ter no peito a
marca da f erradu ra) (cen a à vontade). Cavalo mald ito! Ago ra eu quero ver se esto u
bom de pontaria . . . vou dar um tiro na sant a (quando ele aponta há uma ex plosão
e ele ca i. No fundo apa rece a apoteose . Depois Terezinh a vem e pega Firmino, leva
ele até a santa . Terezinha faz o sinal da cruz . Firm ino qu er fazer e não sabe. Então
Terezinh a peg a a sua mão e faz co m ela o sinal da cruz).

Uma outra espécie de te xto ser ia o dr ama "séri o". Melhor ser ia cha-
má-lo dramalhão ou melodrama, pois ainda conserva as características
do gênero : uma popularização dos elementos trá gicos , um esboço do
grotesco e um estilo mui to pró ximo do enfático. O exemplo mais típico
é "O Céu Uniu Dois Corações", te xto dos mais represent ados em circo
atualmente. Seu autor é Antenal' Pimenta. Marco Antônio Semioni
resume-a:
" O Céu Uni u Dois Cora ções " é muito simples. É: a estória de um casal qu e eram
namorados e a fam íli a se imp ôs. Depoi s o rapaz foi estudar em Portugal par a advo -
gado e a moça . . . Eles jog am, a famíli a do rapaz, jogou a famíli a da moça num a
trag éd ia. A mãe da moç a fica ceqa' . No final os do is morre. A apoteose é qu e a
mo ça aparece num coração mesmo , todo í1uminado. Que r diz er, com ilum ina ção
própria. Ela aparece vest ida de no iva e dá as mãos pro no ivo . E então se di z: " 'O
Céu Uniu Dois Cor açõ es" , o dr ama dos namorado .'

" O Céu Uniu Dois Cor ações" . Circ o do Carlito

1 . Marc o Ant ôni o enganou-se. A cega é a avó da moça, e o noiv o estuda med icin a.

86
Precedendo a apote os e há o di álogo :

ALBERTO: Eu me incumb o de procurá-lo por tod a a part e e entregá-lo à polícia .


FRANCISCO (passa pel a cortin a): Ninguém me pegará . (Atira em Alberto. Confu são).
FERNANDO : Estás ferido? Vou chamar um médico.
ALBERTO: Não é pr eci so. Nely chama-me. Está esperando por mim , na porta do
rein o da felic id ade eterna e co mpleta. Estou a ca minho, Nely querid a . .. Nely .. .
Nety,

" O Céu Uniu Doi s Coraçõe s" . Apoteos e fin al

Mais algumas falas e ao fundo já se vê Nely, que "e stende a mão para
Alberto que chega logo a seguir " .
Pingolim entusiasma-se com esse final : " a gente vendo aquilo é que
nem fosse cinema . .. "
Geralmente os dramas - demonstrando alta qualidade de descendência
- falam muito em " complet ar estudos em Portugal " , " car ruagens" ,
"bosques" e "ricos fidalgos ". Temas célebres mistu ram -se , numa única

87
peça , e palavras banais lembradas no momento nem sempre cond izem
com as apon tadas acima .
"M aconha, o Veneno Verd e" (ou " A Erv a do Diabo " ) nada mais é do qu e
o ve lho f ilme de Emil Janll ings, Tentação da 'carn e, baseado , por su a
ve z, numa nov el a de Perley Sheehan . Seu enredo acha-s e resumido em
A Cena Muda , de 3/ 11/1927:

" Maconha, o V eneno Verde " . Joanes


Dândaro e Garrafinha. Circo do Carlito

August Sch iller é um ho nrado func ionári o de banco. Levava uma vida pacata co m
a esposa e fi lhos. Dava concertos à no ite com a família. Cert a noite, se u pat rão lhe
pede que vá ur gent emente a Chicago levar uns t itulos , valo ri zados demais na ocasião
( .. . ) August no t rem conh ece uma lou rinha de ar inoc ente e fica ca tivado por ela.
E puro encantamento ! Ele é um velhinho hon esto e ela uma jovenzinh a pura. Ele
se deixa levar pela lábi a da menin a. Se embebeda. Acorda no d ia segu inte num
quar to est ranho e sem os docu mentos. Encon tra a lou rinha, rindo entre amigos numa
tab ern a. Aca ba sendo co nduzido pelos cúmplices da desclassificada até uns trílhos
de via fé rrea. Há luta, um t rem vem vindo e o chefe da quad rilh a é esmagado. Todos
foge m. A po lí ci a encontr a o cor po irr econhec ível e not icia a mort e de Sc hil ler no
c ump rimento do dever. O pobre August Schi ller se vê num di lema, que todos já
con hec emos . Prefere o ano nimato de mor to-vivo para salvar a honra da fa mília ( .. . )
Cheg a o Nat al e ele não resis te: volt a ao seu velho lar e espia pela janela. A políc ia
vem e pren de. Os fi lhos interc edem. August é solto e não se revela.

" Maconha. o Veneno Verd e" .


Circo do Carlit o

A ver são ci rce ns e modi f ica -se em alg uns pont os. Schill er não dá con-
cert os em famíli a, mas br inca " amorosament e" com os f i lhos de
pegador . . . A ge nt i l lour inha não o lev a apenas a beber , mas o força a
ex per ime ntar uns cigarros " esquis it os " . Passando por morto , nosso herói
(não se chama Schi ll er , mas Oswaldo de Andrade) vaga de bar em bar,
até um dete rm inado dia , em que se vê obr igado a mata r alguém po rque
essa pesso a se refer ia ao seu f il ho - agora um promoto r fa moso -
de f or ma desabonadora. Est á claro que em j uízo se rá acusa do pelo

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próprio filho e defendido pelo noivo da filha . A peça enve reda aqui
pe la não me nos fa mosa " A Ré M is te rios a" , sem deixar de lado um
fi lósofo-vagabundo-bêbado que faz lem brar " Deus lhe Pague" , de Joracy
Camargo . O prom ot or o acusará, não perd endo a ocas ião de , em lo ngas
t iradas, apont ar o "terrível víci o":

" Maconha, o Veneno Verd e" . Cir co do Carlito.

PROMOTO R: Esse ví cio terrível! Essa árvore gigan te que repr esen ta a erva maldita!
Os galhos são as c riatu ras ino ce ntes vít imas desse víci o e des se trafi ca nte . As f lores
representam juntamente com as fol has, as lágrimas das famílias qu e, in felizmente,
po ssam ter um caso com o este. E essa árvo re gigante, sen ho res e senh oras do júri ,
cad a dia qu e passa, cre sce , c res ce , assusta dora mente!

No fi nal do j ulgamento (no intervalo o público havi a sido convidado a


f or mar o cor po de ju rados) Oswaldo é absolv ido e, ant es de se retirar
da cidade , quer ver pela última vez a famíli a. A mulher o reconhece .
LÚCIA : Oswaldo! Oswaldo !
OSWALDO : Lúcia ! Lúc ia! (aplausos do púb lico)

Mas por pouco tempo ficam juntos . Oswa ldo tem um colapso. Antes
ainda consegue dizer : " Ouerida Lúcia, me perdoa . Este f oi o meu ún ic o
pecado! "
JOSÉ (entrando) : Mamã e, esse hom em qu eria lhe fazer algum mal?
LÚCIA : Meu fi lho , este homem é seu pai!
JOS É: Que ironi a da sorte! O hom em qu e eu qu eri a corid enar é meu próprio pai!
(músi ca altíssima, tema de ... E o vento levou)

" M aconha, o Veneno Verd e" , t alv ez sej a um dos únicos dramas levado
a sério pelos cômicos , que , em outros t ext os dramáticos, quebram o
clima com piadas e gozações . Ao cômico cabe , em última análise, esta-

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bele ce r o contato com o público. Mesmo em espetácu los cujo tema não
perm ite uma partic ipação maior, o cômico sempre aparece com grande
destaq ue . O que parecia apenas um momento do espetáculo , tra nsfor-
ma-se, assum indo maior importânci a, tanto em relação ao significado
do texto quanto à relação ater/p úblico. É o caso de "O M ilagre de Nossa
Senho ra da Aparecida", onde o ator cóm ico empurra vio lentamente os
cegos e os coxos, personage ns da peça, sob o aplauso ent us iástico da
platé ia .

" M aconha, o Veneno Verde " . Gaby M artin s e Carl it o.

(É peça) de sent imento, mas te m tamb ém uma gr ande part e c õmlca, que é a cargo
do Biruta, qu e ele é o empregado do hot el. Quando entra aqueles aleija dos, sabe?
O povo morre de rir. Ele brig a co migo, no caso que eu ent ro lá. Ele avança em
mim , puxa a mul eta do aleijado pr a dar em mim . O ale ijado cai no chão , qu er dizer,
uma confu são ... Ent ão nessa peça, o po vo c ho ra, o povo vi bra, o pov o ri e a peça
tem de tudo.
(Gazola, Circo Band eirantes)

Outra peça is enta de comicid ade é "A Paixão de Cristo " .


Chamas-me Jud as/venho vender Jesus num lugar long e daqui ch amad o Misim ani /Lá
est á Jesus ond e estareis embosc ado/ em Jesus darás um beijo pr a indi cá- lo aos sol -
dados e naqu ele qu e eu der um beijo é qu em deveis pr ender qu e é Jesus.

Com er ros e acré scimos , o que Mr. Jones nos recitou é um trecho de
"O M árti r do Calv ár io " , de Eduardo Garrido, levado à ce na com sucesso
em São Paulo , desde o início do século. Exig ênci as de mon t agem
(núm ero mui t o gr ande de at ores , cená r io s e fi gur inos próprios , deco-
ração mais ou menos perfe ita ) torn aram a peça pro ibitiva aos el enc os
at uais. O qu e não quer dize r que não te nha per manec ido na memória
do ci rcense , como um texto exe mplar .

Q(l
(É a peça ) mais caprichada que a ge nte leva . . . Então a gente tem que ensaiar uma
coi sa bem dr amática. Então te m qu e ser uma coisa mais prolongada ( . . .) pra da r
tem po de fazer os cenário s. Pega r uns galho de árvo re, pôr numa lata. Fazer uma
coisa bem caprichada ( ... ) Compram o saco de fari nha, passamo um fundo ne le
( .. . ) São dez ce nários. Em cada parte leva um cen ári o. Levanta um, abaix a outro .
Tud o corr ido. Então é preci so prepará tudo isso. Antes tem que faz er a roupa do
Judas pra ele. Mand á cost urá a roupa de Judas. Porque a minha mulher costur a.
Todo s nós costuramo . Cada um faz uma roupa. Tem que sê roupa cap ric had a.
Então demora. Senão , sai uma coisa avacalhada. Então é pr efer ível levá uma com é-
dia do que fazê " A Paixão de Cr isto " . Entã o vamo levá uma coisa que pr este
pro pú blico e não uma co isa avac alhada . Porque se levá uma co isa avacalhada (vão
di zer) : " Isso aí não é ' A Paixão de Cristo '! Isso aí é programa de t el ev is ão, programa
do Ron i Cóce gas . Isso aí é tu do palhaçada! Pref ir o vê com éd ia !" Então temo que
faz ê uma co isa bem dramática pro púb lico ch orá , porque tem pessoa s que ch ora ,
devido ao dra ma do artista.
(Roberto Carv alho, Circo Paulistão)

.. . pelo menos Sexta-feira da Paixão nós levamo s a "Paixão d e Cristo". Uma peç a
muito bonita , de doze quadros , t udo co lorido. Tivemo uma lota ção, uma coi sa mais
lind a. Foi a me lhor lotação que tive mo aqu i nes t a praça . Nem os show dos artista
con seguiu fazê a pr aça que nós ti vemo . Tivemo uma lota ção muito boa e a peç a
é bon ita .
(Mar ia Benell i, Circo Amer ican)

" A Paixão de Cr isto " . Circo do Carl ito.

91
92
95
Os ensaios

o predomínio da comédia e a conseqüente liberdade de se improvisar


e por outro lado - no caso do drama - a cristalização do repe rtório
não requerem ensaios demorados.
ENTREVISTADOR : Alguém ensa iou voc ês a primeira vez para representar " O Casa-
mento de Chico Biruta"?
M.A.: É como eu fale i. Nessa ai houve um ensaio da nossa parte. Então nós falamo :
" Vamo levá 'o Casamento do Chico Bi ruta' , né?" Então um começou a lembrar
uma parte dess a comédi a e outros a lemb rá de outras. Então nós começamo a
ensaia r e ass im é que mon t amo essa . Agora, as outras, a maio ria das peças tem a
cópia, né? ( . .. ) Essa vai na orelh ada, como a gente costuma chamar na gír ia. Agora
as outras assim são mais difíceis. Porque nessa de hoje se a gente se esquece
alguma co isa de falá não tem problema.
(Marco Antônio Martini , Circo Bandeirantes)

Em nível um pouco mais alto, o processo é dos mais antigos : algumas


indicações sucintas sob re os personagens e marcações sem grandes
inventivas , apenas visando a cer ta ordem na movimentação.
ENTREVISTADOR : Quando o senhor está preparando uma peça, cada ator toma conta
do seu papel , ou tem algu ém que vai dando uma ajeitad inha , fa lando: " É melhor
entrar assim ; é melhor voc ê fica r aqui , agora"?

CHIQUINHO : Aí , po r exemplo, te m o diretor artíst ico do circo. Ele marca o ensa io


e ele sabe tudo. Ele não pega a peça . Já na peça tem os seus rascunho . Então
o encenador po de mudar, confo rme o escritor esc reve. Se ele acha que está errado,
se ele ac ha qu e fi ca melhor, ele pegá uma cad eir a por exemplo, e p ôr perto da
mesa, ou 'se el e ach a que não pode pegar aquel a cadei ra, então ele muda . Sem
autorização . Ele faz da mod a dele . Então , cada ensaiador tem um modo. Tem o
pon to, a gent e senta lá, o ensaiador senta na frente e os art ist as tudo lá na fundo,
conform e fosse repre senta r. Então vai entrando um artista, o po nto vai apontando
as falas e o ensa iador está do lado e está falando : " Agora você senta nessa cadeira
verde , ago ra voc ê vai lev anta r e vai até a mesa e pega o te lefone". Uma co isa assim,
mais ou menos. .
(Chiquinh o, Circo do Chiqu inho)

ENTREVISTADOR : O senhor é o ensa iador?


ENSAIADOR : Tem mui tas peça que eu não conheço. As peç a qu e eu não conheço
tem o Joanito que já conhece. Tem a pat roa dele , a Fátima . Agora, as peça que
eu conheço , ent ão quem ensaia sou eu.

ENTREVISTADOR: Quanto tempo mais ou menos voc ês ensa iam cada peça?
ENSAIADOR : Meia ho ra mais ou meno s, ou duas horas , conform e a peça. Tem
peças que leva mais tempo.
ENTREVISTADOR : Quan to tempo ?
ENSAIADOR : A gente ensaia de um dia pro outro .

Mesmo quando se referem aos velhos tempos, nos quais havia um


verdadeiro preparo antes da estréia , os atores dão ênfase aos problemas
de marcação.
No meu tempo ensa io era uma sabat ina ( . . . ) Tinha um ensaiador chamado Arthur
Carvalho que, mesmo que a gente fazendo uma criadinha pra entregar uma bandeja

96
de caf é, f azia a gente voltar vinte vezes ( . . . ) Havia dois ensaios di ários . Primeiro
se fazia a le itu ra da peça, co m o maior sil ên cio. Depois a d istribui ção dos papéis.
Ning uém rec lama va ( .. . ) Depo is o pr im eiro ensai o de marcaçã o pr a marcar com
lápi s : pass a dois, pass a trê s . . . aque le negócio .
(Lourdes Leal, Circo do Carli to)

" 0 Céu Uniu Dois Coraçõ es" . Joa nes Dând aro e Lud ervan Batista. Circo do Carlilo

" Três Almas par a Deus" . Paulo Silva Pin helr o. Ci rc o do Car lito

D . Mar ia Ben ell i lem br a-se, ta mbém, de um pas sado onde havia o
encargo import ant íss imo de ensa iador :

Eu já t iv e bons ens aiador es . O Sr. A ry Câmara, o Sr . Osm an, um que não sei se viv e
ainda, o Sr . Rogéri o Campos . Ouando eu era meni na eu t ive um ensaiador que me
ens inav a até o jeito de se ajoe lhar, de põr as mãos. Eles me ens inara m isso . Eu
tive um ensa iador pr a mim agor a ensinar meus fi lhos .

Ma s . . .

97
Hoje não se ensa ia mais, porque um mora aqui, outro em Santo A ndré, out ro não
sei onde . . .
(Lou rdes Leal , Ci rc o do Car lito )

Um ensaio nos dia s de hoj e é rel atado por Fátim a de Carvalho , figura
j ovem e entusiasta:
Não é prop ri amen te ensaiar porque as peças do circo t odo mundo já co nhece . Então
a gent e pega a peça, aponta alguma cois a que a gent e lemb ra. Al guma cena . Um
ajuda e fala: " Ah! Aquela cena era assim! Eu conheci assim !" Todo mundo aj uda,
col abo ra com a gente . Quer dizer que a gente lembra mais. Peça que alguém não
con hece a gen te já co nhece, vai e ex pli ca. A gente colabora.

Interpretação
Vimos que o palhaço (em números is olad os ) e o cô mico (nas cha n-
chadas e dramas) caracteri zam-s e pe la extrema l iberdade criat iva e
con seqüente f le xibi lidade no manejo do di álo go, sugerido pe lo imedi at o
das situa ções e do coti di ano. Ist o conduz, ev identemente, a um j eito
de representar mais despoj ado e pró ximo da maneira de se r do público.
A liás, púb lico e par ce ir o são eleme nt os primordi ai s, ne st e tra balho .

Esse aí a gente conhece só no olhar . No palco, um olha pro out ro e já sabe o que
tem que falar.
(Gazola, Circo Bandeirantes)

Não precisa nem ensaiar.


(Mar co Antônio Mar tini, Circo Band eiran tes)
ENTREV ISTAD OR: Como é que vocês pr epa ram as peças, as com édias ?
BENELLl: As peças já são escrita s, são ensaia das, t udo direitinho, cada um com o
seu pape l. Decora. Sempre tem o pon to, assim vai. Agora , coméd ia, iss o j á é do
t empo ant igo , qualquer palhaço hoje em dia sabe comédia de cor e salteado. Às
vezes a gent e procura mud ar um pouqu inho a comédia pra diferenc iar um palha ço
do outro. Geralmente quando a gente vem numa cidade ou numa vil a que sej a, e
leva uma com édia , da outra vez, a gent e procura fazer um pouqu inh o dife rente pr a
mod ificá, pro po vo não da r o desfecho da piada qu e a gent e vai dar. É isso aí.
ENTREVISTADOR : Quer dize r que o pessoal combina entr e si o que vai fazer ?
BENELlI: Sim , justamente, comb in a. Mas na hora, se há um palpi te na platéia a
gente modifica, sem alguém perce ber que foi modificado, pra evitá qu e alguém
estrague o desfecho da piada.
(Mariovaldo Benelli, Circo American)
Resp onder às necessidades imediatas do público é privilégio do ator
cõmic o (atualmente o elemento mais valorizado numa organi zação cir-
cen se, como j á vim os) .
Cássi o Robert o Ma rtins foi tre inado pelo pai. Está com dezesseis anos
apenas e na peça "O Céu Un iu Dois Corações " encarrega-se do papel
de um garoto gago. Seu comportamento é cômico . Não refreia a imagi-
nação, como pudemo s observar, numa das apresentações. Tratava-s e de
um a cena em que era discutido o pagamento de umas car tas importan-
tí ss imas . Frases como: " se gritares, sua avó morrerá!" , " vamos, as
cart as ! " não o impediram de ter subitam ente a idéia de curvar-se na
fren te do vilã o. par a que ele ass ina sse o cheque em suas costas.

98
ENTREVISTADO R: Hoje voc ê fez uma improvisão e pe gou seu pai no pulo (o pa i fazia
o vilão).
CASSIO: É aque la (cena) que eu falo da ca neta . Veio na cab eç a e eu falei : " Não
vai esc rever mais pra baixo" . E ele deu risa da.
( . . . ) Isso vem na cabeça, na hora, conforme a dei xa. Tem ' uma aí que eu im provisei.
O cara talou: " Quero pei to de per u" . Eu estava saindo . Aí vo ltei : " Mas o senh or
que r peito de pe ru , com soutien ou sem soutien?" . Assim . Veio na ca beç a, na hora.
Confo rme ele (o ou tro ato r) fa la, ve m na cabeça.

" O Céu Uniu Dois Co rações ". Carlito e Cássio Roberto. Cena improvi sada.

o velho drama ain da preserva o status de t exto esc r ito (às vezes até
impre sso) . " O Mundo não me Quis" , " M est iça", " O Céu Uniu Dois Cora-
ções " , "Maconha, o Veneno Verd e" ou "O seu Único Pecad o" , " Indla"
" Escrava Isaura" , " O Bandido de Serra Morena" , "A Cabana do Pai
Tomás " , " Tua M ãe Honrarás" impressionam certos atores . E algu mas
vezes ainda se fala em est udo, mesm o quando r or estudar se entenda
decorar o te xto .

A gente está sem fazer nada. Então a ge nte tá le mb ran do : "Mam ãe .. . mamãe" .
Então a ge nte fica gua rda ndo aquele "mamãe " . Pra quando chegar a hor a a gente
não preci sá de pa pel, po rq ue a ge nte não vai carre gá o pa pel, pr a não fic á feio. A
mes ma coisa que o art ista que va i can tá , não vai carreg ar a m úsica. Então a gente
deco ra. Fic a len do aqu il o.
(Roberto Carval ho, Circo Paulistão)

A não-renovação do repertório , as ve lhas estruturas dramát icas, t ipos e


situaçõe s marcadas, vis ando a uma comuni cação di reta (apoiada s pe los
sons musicais de . . . E o vento levou ou O rosário) condu zem a uma
i nt erpreta ção enfáti ca, imprópria a nuances interpret ativas :

99
INSPETO R: Vou condu zir este homem para a cadeia .
NELY : Não ! Não levem meu pa i!
SANTA : Não levem meu filho . Tenham dó desta po bre cega!
FERNANDO: Inút il. mãe. Ago ra comp ree ndo . Caí numa cil ada. Todas as provas são
contra mim .
SANTA : Meu filho , sem você o que seria desta po bre cega e desta infeli z cri ança ?
FERNA NDO: Não sei , mãe . Só Deus sab erá! (" O Céu Uniu Dois Co rações" - f im
do primeiro ato)

Joanes Dãndaro . exc ele nte at or do Circo do Carli t o, af irma: " Geralment e
todas as peças que levam aqui, os papé is se i t odos. Já estão na cabeça .
Essas não pr ec iso estu dar ."
O int érpret e de vocação co loca alg uma coisa sua nessa cr ist alização.
Sua inte ligên ci a, sens ibil idade ou até mesmo sagacidade, aj udam-no a
estabe lecer uma comun icação (em termos de criação) mais imediata
com uma rea lidade mais amp la .

A gente lê mais ou menos a peça, com o se estives se lendo um script. Então mais
ou meno s a gent e esc uta o pont o. O pont o fa la e a gente re cebe , capta e t ransmit e.
Então a gente sent e a forç a do papel e co meça a dram ati zar , de maneira que a
gente bem pod e interp reta r, at ravés do papel.
(Dem a, Cir co do Chiquinh o)

Maria Benelli re lemb ra sua própria famí lia , onde todos os gêne ros re que-
ri dos pel os t extos encontram repre se nta nt es :

. . . a gente ta mbém prec isa pegar o tip o mais ou menos da pessoa . Aquele ali dá
mais pra papel d ramático . Eu te nho um fil ho alto que é mais pra esse s outro s
papéis . .. O meu espos o já é o "c inico", ele faiz os papéis de mau, então tud o de
acordo. A mi nha famíl ia é bom porq ue nós já temo quase tod os os papéis, todos
os personagens. Eu tenho um filho, aqui, o mo reninho ( . . .) faz um pape l aí nas
" Tr ês Almas par a Deus", faz um papel de um médico que fica louco. Faz muito
bem mesmo. Ele tem um pouquinho de estudo e depois quando o papel manda a
gen te ensina eles a fazerem . Não temos dificu ldad e nenhum a, nenhum a. Não existe
dificu ldade.

Há casos onde vida e sofrimento em com um ate nuam as habitua is


in t erpret ações este re otipa das. Mais um a vez cit amos Ma r ia Bene lli ,
"sét im a ge ração de ci rc o, cinqüenta e quatro anos de vida n ôrnade " :

ENTREVISTADO R: Além de de co rar a senhor a faz algum a coisa para o papel ?


M. BENELLI : Não, porq ue geralme nte , por exemplo , faze r o papel de uma mãe.
Eu faço o pape l de mãe, vamos supor . Agora, na vida real, nós te mo muit os pro -
bl ema na noss a familia, já tiv emo s casos meio dur o . . . assim. . . qu er dizer que
papel de drama .. . tem dias qu e nós . .. Eu levo "Maco nha" , se o senhor assistir, no
fina l do dr ama tá todo mun do da cas a cho rando , po rqu e parec e que é uma coisa
na famili a, ente nde? Nunc a houve um cas o assim, mas é o caso que a ge nte com eça
a lembrá de nosso passa do. Por exe mp lo, lá no Paraná pe rdi uma filha com on ze
anos, uma meni na, desast rada. Tem dr ama qu e ela trabalhava. A ge nte representando
lembra, então a gente leva com o uma coi sa real. O senhor vê, noss a famíli a, nós
tí nhamos circo muit o bom , fomos muito rico , tí nhamos ca rro e cami nhão. Depoi s
da morte dessa menina minh a, depo is qu e essa men ina morreu .. . nós ficam o mei o,
sabe ? Os filhos. . . A ge nte traba lha porque a vida nossa , o ramo noss o é esse .
Mas não é mais como naquel es tempos, a gente tinh a aqu ele gosto pra trabalhar,
agora a gente t rabalha mai s pra podê sob rev ivê a família. Quer dize r qu e pelos
de sgosto s qu e nós já t ive mos na famíli a noss a, meu s fil hos , nós rep resent amos um
drama como . . . ac ho com o manda mesmo . . . O drama vai mui to bem , modé sti a à
parte, va i mu ito bem mesmo.

Lourdes Leal baseia-se em experi ência s pe ssoais que eventualmente


se assem elham às do personagem . " Enca rna" , ou sej a, tenta decifrá-lo,
conh ecê-lo e dá grande importância à marcaçâ o de cena , não se adap-
t ando m uito à espontane ida de dos atore s mai s jovens.

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. .) .
" O Céu Uniu Doi s Co rações". Lo urd es Leal.

ENTR EVISTA DOR: Como a senh ora faz para sen tir uma outra reali dade?
L , L . : Enca rn ando a peça, to man do co nhecimento do enredo e om bre ando o papel
que estou fazend o. Se eu est ou fazendo uma cega , eu tenho a impressão nítida que
eu est ou cega. Se eu est ou fazendo uma louca, q uero . . . me sin to completame nte
fora de mim . Se estou fazendo um a cómica, aí o espírito fu ncio na. Cr io bolinhas,
apartes . . . Tenho o espírito mu ito bom para comi cidade.
ENTR EVISTADO R: Dona Lourd es, o que é "encarn ar" um papel?
L.L. : Vamos fazer de con ta qu e eu vou fazer o papel de uma VIuva, vá lá! ( . . . )
Dig am os que lá no c irco me dig am : " Dona Lourdes, a senh ora vai fazer o pap el de
um a viúva. O pap el de uma viúv a que está sofre ndo a pressão de um milionário.
Seu mari do morreu.. . a senh ora ficou na misé ria .. . está sendo perseguida .. . o
filho está doente . . . ele precisa de um auxilio .. . " Entã o eu me transporto com o
se eu fosse realmente aquela criatura precisando de tudo. Todo aqu ele problema passa
para dentro de mim . Esqueço que tenho a minha casa ; onde eu moro, como eu sou ,
o que eu tenh o e que não tenho aqueles problemas.

ENTREVISTADOR : E fora de cena, como a senhora estuda os seus papéis?

101
L . L .: Leio a pe ça inte ira. Me in tero, fico inteirad inh a no assunto, pr a ver quem é
aque le, quem é aquela, o qu e é que vão fazer, pra sabe r onde cheg a o meu pap el.
O q ue eles pret en dem de mi m. E o que eu posso of er ece r par a o púb li co.
No " Céu Uni u Dois Cor ações" int er pr et o aquel a cega com um amo r mar avi lho so .
Porqu e eu acho qu e aquil o é triste. O filho vai para a ca de ia, a mãe fi ca com
aquela net inh a peq uena, cega, coisa e ta l. Então eu pro curo dar tudo de mim no
pa pe l. Se é uma c inica eu me torno uma cín ica. Não tem dúvi da. E eu não go sto
de brincar no fu ndo do palco, não, porqu e é pa ra não perd er aque la linh a. É um
t ipo de flu ido qu e o artista sent e. Eu sou assim. Ent ão me compen et ro. Agora não
po sso bri ncar. Vou ent rar . Vou faze r tal pap el e não quer o desv iar a ate nção , o
pensam ento da quilo que estou fazendo. Então eu entro com aquele amo r, com
aquele carin ho. Go sto q uando o pov o chora, quando eu c ho ro e qua ndo o povo
ri quando eu faço graça ( . . . ) Isso pra mim é vid a.

ENTREVISTADOR : As experi ências de vid a da senho ra auxi liam na con strução do


pap el ? Essa avó, por exe mplo, quando a senhor a faz esse pap el, a senhora se
lem bra que tamb ém é avó ?
L . L . : Mas não tem a menor d úvida! Não tem dúvid a! Então naqu el e mom ento qu e
a neta está ali , na cama. Nossa! Aí eu vibro ! Puxa vi da! É a min ha neta que está ali!
Nossa Senhora! Eu ficv lo uca! E também . . . a gente vê tan ta coi sa! Porq ue eu não
posso dizer que te nho gr and e cul tur a. É rudimenta r, é prim ária . . . cu rso primár io.
Mas a academ ia qu e eu c ursei fo i muit o gra nd e, não é? O vest ib ula r fo i muit o duro.
Foi a academ ia do mu ndo. Isso dá uma exp eri ênc ia!
ENTREVISTADOR : A senhora diz qu e assi ste tele visão, que gosta de obse rva r (os
atores) . O trabalho deles infl uencia, de alg um modo, o seu trabal ho?
L . L . : Não. Não gosto muito de có pia . Toda vida eu fui eu mesma. Eu nunca copie i
nin gu ém. Nunca procure i fazer um gesto de uma atriz de te levisão , de artista de
c inema br asi leiro, ame ricano, seja lá de ond e for! Semp re admirei. Vibro j unt o! ( . . . )
Mas não procuro imitar. Toda vi da quis ser eu. To da a vid a qu is ser eu mesma.
As vezes vejo uma passag em de ce na . . . uma marc ação de ce na .. . pra chegar no
outro lado. Digo pr o meu vel ho : " . . . mas que passa gem bem marcada da quele
ator . . . " pra chegar no outro , pra dar um tapa, pr a dar um emp urrão . . . um re mo nte
de cena . . . uma virada numa porta pra mim é de su ma impor tância ... Mas é qu e
não se usa mais no circo . . . anti gamente havi a marc ação espanhola . . . Agora a
ma rc ação é à vo nta de . . .

Cenários e figurinos

o espaço cênico, peq ueno em relação à ar ena (apr oxim adament e quatro
por sete metros) é enqua dr ado por barnbolinas e painéis pint ados.
"Muito color ido s " - como sal ientam atares e em presári os, a fim de
i mpressionar o público. Na cena, alg uns mó ve is co bertos com fazendas
de co r ou rendões , suger em um ambiente mais r ico. "Bo sque", "casa
rica" , "casa pobre " servem ao re pertório único . Seus atares são aqueles
qu e além das tarefas hab it uais ainda mexem com pincéis .

. . . ge ralmente no circo tem um que sabe pin tar. Aqui no circo o cara tem que ser
do s sete instrumentos. Faz-se de tudo um po uco. Entã o sempre aparece um que
sabe pin tar . Então a ge nte refor ma aquele cenár io de " casa ve lha ", já todo descorad o,
entã o pin ta-se outra vez. Daquele ce ná rio de "casa velha" faz-se uma " casa ri ca",
faz-se um " bosque" . Ger alm ente tem alg uém qu e se in teressa em pintar, fazer um
ce nário novo .
(Car lit o, Circo do Car lit o)

102
" Três A lmas para Deus" . Jo anes Dânda ro.

Pingolim está entre os que gostam de pi ntar :


Nós compra sac o de fari nha. Vê as part e pri nc ipal da peç a que use mais cená rio.
Se é um dra ma que tem muit a passagem de rua a ge nte bo la uma passagem de
rua com préd io s. Se é uma passag em que é feita dent ro de uma casa e exige
muitas passa ge dentro daquela casa, então a ge nte faz o cen ário rep resentando
aquela casa, quer dizer . .. é comp ondo a peça mesmo é que vai o cenário.

E Mr. Jones não se esquece de dizer que , devid o à t elevisão, deve-se


fazer ape lo às cores para que elas possam im press ionar , o mai s pos-
sível , os ol hos daque le s que al i estão. Não acredita me smo que qualquer
tevê poss a fazer me lhor do que os grandes efe itos de luz, azul e ver me-
lha, que acendem e apagam nas apot eoses celes ti ais . .
Quant o aos figurinos , a coisa já é mais simples. Somen te para os dramas
onde se use m "roupas .. . assi m, fra nceses ou roupa de campo nês " a
obrig ação de tê -Ias caberá ao circo . Nos outros casos: "Os artistas, a
mai oria , j á tem a roup a ade quada ao papel " .
CHIQUINHO: A maioria é de les mesmo. Agor a, uma roup a mais diff c il, assim, então
o ci rco é q ue tem que arrumar. Por exe mplo: uma bat in a de padre, uma roupa de
sol dado. Então isso o c irco é obri gado a ter : c int urão , revólver. Ago ra roupa assim:
terno , sa pato, ca da art ista tem a ro upa de le mesmo.
ENT REVISTA DOR: E qu ando um art ista não tem um tern o, po r exe mplo. O circo dá ,
ou vai se m tern o mesmo ?
CHIQUINHO : AI te m qu e arr umar empre stado, porq ue se ele vai fazer o papel , q ue
tem que ser de terno e gravata, se não te m ou tro pra fazer o papel, então ele tem
qu e arru mar de qualq uer jeito. Empresta do amig o, arruma o te rno pra fazê o pa pel ,
aquel a noi te.
(Chiq uinho, Circo do Chiqu inho)

No Circo do Ch iquinho , Fát ima de Carva lho , at riz e às vezes ensaia-


dora , como j á vimos , é quem cui da dessa part e. " Entra em f unção com
os demais artistas e trocam idéias . Ela comanda, mas tro ca idéi as ",
afirma Joanito .
103
o ponto

Compet e ao "pont o" acompa nhar o t ext o escri t o, f alando-o em voz


bai xa e subli nhando suas intençõ es quando necess ário. Situa-se na
ma io ria das vezes em frente aos atares , no palco , mas evid ent ement e
em nível mais baix o, a fim de não atrapalhar a visão do esp ectador .
Em circo s mais pobres, ond e nem sequer existe a " caixa do ponto ",
a peça é aponta da dos bastidores. Apes ar do rep er tório ser sempr e o
mesmo, dizem os artistas que sua pr esença, além de ofe rece r uma certa
segurança, ajuda -os, no sentido de não se confundirem quant o ao t exto ,
levado uma única ve z, e logo t rocado no dia seguint e.

o pon to . Circo do Carlilo.

ENTREViSTADOR : Natu ralmen te essa necessidade do ponto é porq ue as peças são


levadas, uma po r dia , não é?
CARlITO : Exato . Nós aqui. A nossa tem porada em cada bairro é de tr inta, t rinta e
c inco di as. Então ca da noite é uma peça diferente . . . Então o ponto está lá pra
que não haja con fu são.
(Carlilo, Circo do Carlilo).
ENTREVISTAD OR: Os atores, el es não decoram o pape l?
PONTO: Sim . Por exemplo. Lá em casa, quando nós tí nhamos ci rco, nós não íamos
pa ra o palco sem de corar o pap el. Eu mesmo , par ticularmente , nunca pisei e acho
que não vou pi sar no palco: se não tiver o pape l de co rado.
ENTREvISTADOR : Mas mesmo assim usam o ponto?

104
PONTO: . . . para alguma eventualid ade. No rmalmente os arti stas conhece m o papel
de cor, mas , às vezes, surge o probl em a. Sai, por exemplo , uma fa mí lia. Eu não
se i se o senho r sabe qu e o artista de circo receb e seman al rrente, então , às vezes ,
venc e no domi ngo o co nt rat o dele e ele sai. Ent ra uma famil ia nov a, a comp anh ia
às vezes está começa ndo a pr aça, prec isa afirm ar a praça. Aco nte ce qualquer im-
pr evisto co m O art ista e um ou o utro é jog ado em c ima do pal co sem a necessária
ex periênc ia e o necessário conheci mento. Aí ent ão a responsabi lldade do po nto é
mu ito maio r. A gent e tem que segurar ali. Eu não sei , particularmente entendo qu e
a fun ção do pon to é j ustamente, às vezes, dar uma ce rta Inf lex ão , segurar o art ista
mesmo e di zer. às vezes, se é um arti sta novo e não sabe a hor a ce rta de ent rar
ou sair, dar a de ixa para que ele entre, c hamá-lo em cena , nc mom ent o exato, pa ra
que a peça não fiqu e pr eju dicada.
ENTREVISTADOR: Mesmo para os atares que sabem os seus papé is voc ê serve
de ponto ?
( . . . ) a gent e sem pre dá a prime ira fa la, se a gente percebe que o artista vai de s-
lanchando, então, às vezes, a gente segu ra, mas sempre acompanhando o texto.
As vezes, acontece incl usive de le pular lá pra f rente, fa lar alg uma coi sa adiantado.
(Ponto do Circo do Carlito)

No Ci rco A merican o ponto já não existe . Má rio Benelli gostaria de ouvir


os diálogos como uma sucessão de fa las naturais :
. . . nós ensai amos antes as peças sabend o o que vai fazê , pr a fa lá de co r o que
tem que d izê. Tem que ser no rm almente . .. O senhor tá falando aq ui, estamo
con versand o nó is aqui. Pára. Responde. Sabe o que vai fazê , o que vai fa lá, não
pre cisa esperá o ponto. Um segundo pra falá, para gente respondê. Eu não ad mito
que o artista entre lá com o po nto . Tem qu e entrá lá sabe ndo o que vai fazê, que
o públiC O paga pra assis ti um dr ama e não pra assi sti uma seg unda pessoa falá.

105
o PÚBLICO NO CIRCO
A periodicidade da pes quisa e su a propost a, cent rada na criaç ão do
espe t áculo , exclui a possib il idade de se fazer uma ava liação do públi co
ci rcense at rav és da obs erva ção direta. A ssim, os dados obt idos são
ext raído s das dec larações dos artistas, re gistrando-se pois, declara çõ es
de caráter opin at ivo e os relat os de experiência. É o art ist a circen se
que se respo nsabiliza aqui pela configu ração do seu púb li co. Por outro
lado, a inci dência das mesmas informa ções em dif eren t es dep oim ent os
possibili ta algumas con clusões gera is.

Características sócl o-econõrnlcas

Uma constante do circo-teatro é sua loc ali zação nas zonas periféri cas
da cidade . Areas em que a rarefação de se rviços e a concent ração
indust rial torna m desvalorizados os terrenos e, portant o, mais acessível
o preço da morad ia. O esp et áculo circense se dirige a um a população
assalariada , de baixo poder aquis itivo. E o ci rce nse expressa esse
conhe cimento através da po lítica de preços . O ingresso torna-se mais
caro à medida que o circo se aproxima do centro e vice-versa. O público
assala riado é reconhecido pelo ritmo de afluência: o flu xo de especta-
dores aumenta depois do di a 10 de cada mês , e com eça a decai r a
partir do dia 20. Também na divulg ação, o circo aproveita o movimento
de entrada e saída para o t rabalho, anunciando o espetá culo nas t ermi -
nais de t ranspo rt e. Os depoim ent os in dicam um a concentração da
popula ção desse s bairros nos tra nsportes bairro-ci dade . Iss o per mi t e
supo r que a f orça de trabal ho não é tota lme nt e absorvida pe las in dús-
trias que se local izam nas proxim idades. As observações que seg uem
del ineiam um contorno amplo desse público , semp re no entender dos
circense s. .

(O público) deve se r operár io. Porqu e é gente que chega mu ito tar de em casa.
De manhã se vê assim nas filas do ônibus da c ida de pr os bairros é que despej a
quem nem, vamos dizer na gíria assim , que nem formi gueiro. Um com maleta, outro
com coisa na mão. Tudo traba lhador mesmo . É fábri ca, é indústria, é escritório.
Na Vila Califórnia, já é bairro mais afastado, então é bairro que é pobre um pouco.
Lá nós cobrava, por exemplo, senhoras e senhoritas, dois cruzeiros e eles pagavam.
Melhor horário (para a divulgação) é de manhã e de t ard e mesmo . Bem de ta rdezinha,
depois das c in co hor as, em qu e o pessoal com eça a sai r do servi ço. Então ele sai
até escure cer.
(Chiqui nho, Circo do Chiquinho)
No caso da regiã o aq ui onde nós estamos (Vila Jagu ara) a rnarona do público são
pessoas qu e tra balham na Lapa , no co mérci o. E em muita s in dúst rias pe rto daq ui,
como a Danone. Aqu i perto e em tod as as fábr icas. Aq ui é um set o r qu e te m mui to . . .
que é industr ial, né?
De acordo com a praça, de acor do com a época tamb ém funciona muito . Depo is do
d ia 10 é que func iona uma pra ça, por causa do pag amento.
(Mar co Antôni o Mar tini, Circo Bandeirantes)

Algumas praças , qu anto mais no centro , a gent e con segu e mais bilh eteria . Quanto
mais no cen tro melhor pro nosso t ipo de espetác ulo. Por incrivol qu e pareç a, quan to
mais no centro nós Vamos de São Paulo , melho r pra nós . Quan do nós entramos num
bairro central, há mai s possib ilidade de o públic o que mora no bairro ter mais
dinhe iro . Estão todo s bem estabi lizados, são quase todos proprietári os, então há
aquela so bra de dinheiro para div ersão. Agora num bair ro mais long e é mais aq uelas
pessoas que vivem de alu guel e já chegam em casa bron queado s com o t rabal ho.
Pega r ônibus lotad o, já cheg a em ca sa fora de hora, vai jant ar for a de hor a. Então
nem pensa em div ersão. Se tem televis ão , ac ho qu e nem telev is ão assiste. Vai dormir
logo pr a levan ta r no outro dia , pegar no se rviço outra vez. Ago ra mais no centro
as pessoas não vivem desse negóci o de ônibus , trem de subú rbio . Você pode ver:
ca da casa, cada ,um tem seu carro . Então dá te mpo de mandar as cri anças no circo.
(Carlito , Circ o do Carlito)
O ci rco é divertime nto daquelas pessoas qu e não podem, vam os supor, tomar um
ôni bus e vi r aqui assistir um cinema na cidade. O circo é onde você sent e que
aq uele po vo que não tem rec urso ri , se d iverte, esquece . Naquela ho rinh a ele s
esquece m daqu eles problemas. Quer di zer , nós todos temos problemas , mas pri nci-
palmente a per ife ria.
O preço vari a muito . Sabe por qu ê? Porq ue tem bairro pobre. Então aí a base é
de ac ord o com o povo dali. Senão o povo não vem mesm o, que eles não tê m. Não
sobra. Então o ci rco te m tod a ess a vantagem pro po vo, pra cl asse C.
(Ton ico)

107
Relação com o espetácul o

o espetáculo dialoga com a platéi a, especialm ent e na primeira parte,


que ant eced e o t eat ro. Há um ata r que est imula e con t rol a as respostas
do públi co, f unc ionando t ambém como apresentado r. Essa relação é
ut ilizada pe los art istas para investigar as pr efe rên cias do audit óri o.
Nos bairros em que há uma reação favorá ve l ao drama nos prim eiros
dia s da t emp orada, o repertóri o subse qüente procura sat isfazer essa
preferên cia. Ex iste um espect ador para a comédi a e out ro para o drama.
Nem os artistas mais expe r iente s sabem explic ar as razões que det er-
minam a pre ferênc ia de dete rmi nado bairro . Out ra part icul ari dade des sa
re lação é a manifestação sonor a da platéia durant e todo o espetáculo ,
inclusive dura nte o teatro. O art ist a está habituad o a operar rnodlfl-
caçõ es no rot eiro para re sponder a essas mani f est ações.
An t es da relação imedi ata palco-pl at éi a, o art ista entra em contato com
seu públ ico , tenta ndo at raí-lo para o ci rco. Nesse pro cesso aprende a
conhecer seu futuro espe ctador.
Ent re o pes soa l do circo e a população do bairro há uma di nâmica de
relacionamento t oda especial. Enquant o nômade, art ista, difere nt e,
" vagabundo " , os circenses são considerados com espan to e descon-

H1A
Rebian apresenta ndo o espetáculo.

f iança . Sua aparent e efervesc ência contrasta com a rotina dos subúrbios
ma is dist antes . E não são raros os momentos em que o contraste desen-
cadei a um confli to, refleti ndo-se na t empora da.
É pr ováv el qu e, no circ ens e, a consciênc ia da rep ul sa e da atração

Público sobe ao palco para tom ar part e na cena f inal de " O' Casam ento
de Ch ico Bi ruta " , no Circo Band eiran tes.

109
simultâne a que exerce sobre a comunid ade seden t ári a sej a mais aguda
do que em out ros níveis da ativid ade artíst ica. Isso porque a hostilid ade.
quando oco rre, t oma a forma insofism ável da agres são materia l aos
ben s e às pes soas do circo.

A prese nça do públi co.

110
Para pode r realizar o espetáculo, o circo deve primeiramente garantir
uma imagem simpática até superar as possíveis oposições. O artista
se obriga a ser pessoalmente afável, oferecendo uma espécie de cartão
de visitas de bom comportamento . Visita os comerciantes, pede infor-
mações, entabula conversas . Durante o assentamento atrai as crianças
e os desocupados com a oferta de entradas gratuitas em troca de uma
"mãozinha" na limpeza do terreno ou na armação da lona .
Ouando o espetáculo começa, o apresentador pode referir-se aos
"amigos" presentes na platéia. Cita nomes e dei xa patente essa inti-
midade adquirida como evidência de um vínculo com o bairro.
Nessa acomodação forçada para enraizar ao máximo a convivência
temporária , o artista aprende a conhecer as peculiaridades de um deter-
minado público.
Há certamente traços comuns entre os habitantes da periferia que o
circo j á incorporou à sua linguagem. Mas , além disso, o circense
aprende os nomes das figuras mais importantes de cada bairro, distin-
gue os que podem protegê-lo ou prejudicá-lo .
Também os espectadores refratários, ou perigosos , são especialmente
considerados. No caso do Circo Benelli, a família atraiu um líder natural
dos mar ginais de um bairro . Uma vez contatado, o rapaz ofereceu gentil-
men te uma espécie de " proteçã o" ao circo . Comparece a todos os
espe t áculos e exe rc e su a autoridade sobre espectadores agressivos ou
indisciplinados. Como recompensa, adquire o status de amigo da arte,
f reqüent a as rodas de música da caravana e é sempre apresentado como
um amigo muito especial.
Outra forma de expressar o conhecimento adqui rido é incorporar ao
espetáculo as info rmações recebidas sobre a comu nidade . Ouando a
maioria da populaç ão é constituída por migrantes nordestinos, uma
personagem câm ica ou simpática se transforma imediatamente em
" baiano". Ou então em " caipira" inclinado à música sertaneja, se a
or igem da população for predominantemente ru ral.
O impo rt ante é aprender e trabalhar todas as possíveis brechas para
refo rç ar a identificação . É o espetáculo que tem por obrigação adaptar-se
à realidade do espectador.
Essa aceita ção indiscriminada da realidade do público i nt egra a filosofia
da arte circense . Porque quer apenas divertir, o circo deve conhecer as
preferênci as e mesmo os caprichos da pla téia para poder satisfazê-los.
Compete ao artista um conhecimento sensível , mais do que intelectual,
das aspirações de seu público .

É que a gente tem qu e agradar o público . Então a gente procura pesquisar no


ba irro o que funciona. Então, de acordo com o bai rro, a ge nte precisa trazer o
artista adequado.
O público não é bobo. O público nota que , no caso, não int eressa que o espetãculo
seja bom, mas quando hã o interesse do art ista em agradar a platéia. É a maneira
nossa, fãcil assim de comunica r com a platéia.
(Marco Antôn io Martini, Circo Bandeirantes)

111
Tem bai rro que gosta mais de d rama, né? Por exe mplo , lá no bair ro o nde nós
esta mos, na Vi la Cali fó rnia, já no tei que o pess oal não gosta de chanchada , com é-
di nha que eu falei agora. Já notei que o pess oal go sta mui to mais de d rama senti -
mental e que tem a part e cóm ica no meio. Entã o esses dr amas que nem "O Céu
Un iu Dois Corações" , "Filhos de Ninguém", esses dramas que a gente leva. Então
eles gostam mais desses que de chanch ad inhas . Não sei por quê não. É só a gente
investigando um por um, o que é mais difícil.
(Chiquinho , Circo do Chiquinho)

Baleiro . Circo do Carlito .

Então a ge nte aprese nta, sai fora daqu el a rotina e faz assi m esse cí nico meio
gozador, tirando sarro da platéia. E a pla téi a vaiando e a ge nte provoc ando mais
pra vaiar mesmo. At é q ue cheg a um ponto em que a pl atéia não vê a hora de a
ge nte entrar em cena pra vaiar.
(Gazol a, Circo Bandeira ntes)
Há muita diferença de um bai rro pra outro. Tem bairro qu e se ada pt a muito melhor
ao drama. É um púb lico quietin ho. Então ele aceita dra ma, que é a co isa mais linda
do mu ndo . Tem bai rro que j á gosta de comédia, gosta de bagu nça .
Te m públi co qu e 'a gente chega e, na pr ime ira semana, é um sac rifí c io pra fazê
aque le pessoa l com pree ndê o que é o tea tro. Como tem bairro que a gente chega
e já recebe a gente de braços abertos. Como tem ba irro também qu e a ge nte estréia
no sábado e na segunda-feira já desarma e vai embora. Não que o povo não ven ha;
vem, mas exi ste aqu ela rebeldia.
. . . a gente lança um d rama, uma comédi a. Por ali a gente te m uma base. Em dois
espetá culos a gente tem uma base de como é o bai rro .
(Jo ani to , Circo do Chiquinho)

Comportam ento do público

Duran te o espet áculo, o diálogo ent re ato res e público permite não só
o aplauso como a crític a, nem sempre delic ada. O res ultado disso é uma
absolut a fal ta de cerimôni a entre as duas partes .
Então se a gen te não consegue ac almá eles nos primeiros espetáculos . . . a ge nte
sempre pr ocura, por pior que seja, fazê amizade com eles . Se a gente não co nsegue a
amizade deles , então a gente desarm a o circo e sai da pr aça.
(Joanito , Ci rco do Chiquinho)

112
Qualquer pessoa que se porta r não con veniente com o espetáculo a gente tira pr a
fora. Quer dizer, tira na educação, fazendo a pessoa entend ê. Essa pesso a inclusive
vol ta pra ser nosso amigo.
(Marco Ant ônio Mart ini , Circo Bandeir antes)

Sempre tem aquele que entra no circo e acha que lá ele pod e fazer o que qu er.
Então co meç a a atrapal há o espetáculo. Tem o responsável para chegar lá e falá
com ele na educação. Se ac aso não atendê , então aí ele ch ama o reforço e é
ob riga do a tirá ele pr a fora. O suj eito entra no circo embriagado, ach a que tem
que ficar lá. Sempre dá essas co nfusões.
Quando pisca a Iyz dent ro então eles já sabe m, já ente nde. Porque quando come ça
a pi scar a luz eles j á sabe. Antigamente a gente tinh a um sin aleiro em cima do
palco, que era esc rito "sil êncio". Então acendia aquel e lá, o públi co já sabia que
tin ha alguém fazendo barulho. Como a gen te não tem aquilo lá, si naleir o, então a
gent e acende a luz. Eles já ficam quieto porque os outros já vê quem que tá
fazendo barulh o.
(Chiqui nho , Circo do Chi quinho)

Espectadore

Ideal mente, o público é constituído por famílias. Isso quer dizer que
não só espet áculo é planejado dent ro de val ores considerado s
"famíli a" , como a próp r ia divu lgação se ut iliza dos hábit os fam ili ares.
A s cria nças e as mulhe re s são isca s para atr air ao circo os out ro s
membros da fam íli a. Situad o fora do cont role efet ivo da censu ra elas-
slflcat órl a. o circo admi t e espect adores de t odas as faixas etá rias.
Crianças, adultos e velhos partici pam dos espetá culos not urn os em
igual propor ção. É fr eqüente nos espet ácu los a presença de crianç as
de col o que as mães não puderam deix ar em casa. O espetá cul o
orie nta-se naturalmente no sent ido de sat is fazer essa divers idade etária.

Então nós fizemos eles ver que o circo não é nada dis so. inclusive voc ês tive ram
opor tunidade de ver hoj e o tipo de pessoa que vem. Faml li a, crian ças, pessoas de
idade, não é mesmo ?
Pessoas que nun ca for am ao ci rco vêm aqui, uma vez, vira fre guês. É o caso do
Dr. Uno Miguel, do Dr. Élcio , adminis tra do r da Prefei tura de Pirituba.
(Marco Antônio Martini, Circo Bandei rantes )

Carl ito apresentando o espetáculo

113
f'
Eu esc revo e agrada mesmo, que é um mod o assim expansi vo. O espec tador, ele
se sent e à vontade porque o enredo das nossas peç as, criancinha assim entende ,
acompanha e compreende.
(Tonico)
O púb lico no nosso caso é o segui nte: as c rian ças vêm, assi stem e gost am. Então
as cri anças tra zem os pais. Depo is os pais tornam-se habitués do circo.
Esperamos que o espetáculo esteja co rrespondendo à expectati va da s famílias que
vier am procurar aqu i o dive rtimento, a mensagem e a tern ura.
(Carlito, Circo do Carlito)

114
CONCLUSÃO
Quase todos os circenses - referindo-se ao problema da escolaridade
- mencionam a existência de uma le i que obrigaria as escolas estat ais
a receberem seus filhos , ind ependent ement e dos prazos norm ais de
acei tação de novos alunos . Que le i é essa ? Quando f oi promulgada?
Ninguém sabe responder.
Como mu itos outros t óp icos da relação co m os podere s públicos, ess a
le i é uma espécie de fá bula que corre de boca em boc a. Nenh um dos
int eressados se propõe a ve ri f ica r sua existência ou exigir seu cumpri-
ment o. A apat ia é um sin to ma do di vór cio entre urna comun id ade de
pro f iss io nais e a legislação do país, sem que nenhu ma das duas partes
se int er ess e verdadeiramen t e pela dissolu ção desse hiato 1.
Da me sm a for ma que se comp ort a em relaç ão ao probl ema da escol a-
ridade , o circe nse não chega a se com pe net rar de seus direito s ou
deveres de ci dadão, perm anecendo cautel osament e ao largo de t odo
envo lv iment o com i nst it uições que pos sam , eventu alment e, protegê-l o
com o prof iss ional e cidadão, mas que cer t ament e ex ig ir ão ta ref as em
que não est á dispost o a empenhar-se . As raras e irregulare s experiências
de co nt ato são nar radas como uma odisséia burocrátic a de re sultado s
ef et ivos pouco compensadores.
Num quadro mais amplo , esses i ndícios acabam defi ni ndo a parti cipação
que o ci rco at ri bui a si mesmo, na vi da soc ial do país. Consid era-se à
ma rg em. E, até certo ponto, compreende ess a marginalidade como con-
dição de sob rev iv ência da f orm a da arte e do tipo de t rabalho que
realiza.
Especialmente em São Paulo, onde prevalece a divisão social do trabalho,
uma vida comunitária de pro dução coleti va corresponde a um modelo
arcaico e de difíc il manuten ção. Por outro lado, adapt ar-se a organizações
predominantes na cid ade sign ificaria desaparecer como forma de vida
e como proposta artística.

1 . Na , rea lidade nenhum circense foi capaz de fornecer detalhes pr ecisos sobre a
lei , identificada mais tarde pe los pesquisadores, com o auxflio do advogado Artelino
U. de Macedo Silva.

115
Embor a seja clara a presença do ernpresan o e a exploração do assala-
riado, a divis ão de t aref as, no circo, está muito longe de uma def inição.
Todos devem f azer t udo, desde arma ção do circo até números artí st icos.
E mesmo na arte to dos devem est ar prep arados para o drama, a com i-
ci dade ou o picadeiro. A apti dão ind ividual para det ermi nada modali dade
não exi me o artista de out ras f unções .
A excepcio nalida de dessa f orma de vida e de traba lho dentro do quadro
atual da soci edade urbana só pode ser prese rva da através de esforço ,
cons cien te ou não , par a mant er o iso lament o.
Na arte esse esforço se manifesta no respeit o a uma tradiç ão de forma
e cont eúdo. Para o art ist a circense , a melhor f orma de entret er o
públic o é ofe recer um esp et áculo que em nada ameace a est abil idade
dos valores que ainda são fi xos. .
O que i mpede a união dos amant es, no drama , é a intriga part icular de
um vilão . Quant o à coméd ia, a gr aça maior é extraída das si t uações,
ignorando a prof undidade mai s comprometedora da comé dia de carac-
teres. Em nenhum dos dois gêneros há ind ícios de uma recorrên ci a ao
social, como te ma da arte . Tanto nos amores quant o nos dese ncont ros
graciosos é perce pt íve l a interferênci a do dest ino.
É de se supor que o circ o não possa expressar uma vi são crít ic a de
uma sociedade da qual não parti cipa at ivam ent e. Também o det ermi -
nis mo que eman a dos espetáculos correspo nde à visão que o artista
te m de si mesmo. Quase to dos nascera m no circo e dificilmente se
adaptam a outras atividades. Sua arte pretende a int emporalidade.
As atua l izações , ent retant o, acontecem. De manei ra bastante f orçada,
no caso da cont rat ação de cantores de rádi o e da televisão . Mas t ambém
de form a natural, na comunicação direta ent re a platéia e o côm ic o.
Nesses momentos improvisa dos , o circo se perm ite conh ecer a peculia-
rida de daquele púb lico e daquele bairro . A piada mod erniz a-se e é mai s
ou menos provocativa , de acordo com a reação da plat éia . É esse ta lvez
o único mom ento de inven ção e novidade do espetácul o.
Do cômico se exige ta lento especi al. Artisticamente é a pesso a mai s
imp ort ante da com panhia. Essa valorização deixa ent rever que o circo
admite a imp ort ância de números mais próximos da vid a contem po-
rânea. A penas não desej a transform ar-se radicalment e. Por t udo isso,
o número cômico é apris ionado dent ro de uma estrut ura centenária
de espetácu lo , que limita sua expansão.
Outras mud anças de nat ureza art íst ica não podem ocorrer, simples-
mente pela falta de informação decorr ente do isolamento. Mesmo a
onipresente t el evisão, que inte gra as carava nas , f unciona como um
modelo ext er ior, que o circo não t em con diçõe s de i mit ar . Ut il iza-a
in direta ment e, como veículo publ ic itári o. Os empréstim os de natureza
artíst ica formam apenas o revest iment o do espet ácul o, sem alt erá-lo
subst ancialment e. Nat uralmente, tudo o que depende de uma t ecnologia
mais compl exa está além das possibili dades do ci rco.
Mai s do que a art e, é o modo de vid a que define o ci rcense para si
mesmo. Não co nsi dera . atual mente , que seu trabalho exij a um treina-

11 6
ment a muito especi al. Pelo menos o tra balho no eat ro. É fre qüent e
a ent rada de um atar imp rovi sado, no mom ento do espet áculo. sem que
o elenco se pert urbe com a repent ina alt eração da qual idade.
A decadênc ia do pic adei ro f ez desaparecer o acro bata de treinamento
int enso e cons tante . Hoj e, o espe tá cu lo se apói a no repert óri o conhe-
cido e na pr esença do pont o. garantindo, sem a menor cer im ônia , o
desconhecimento com plet o de algum atar.
Se essa arte não é cons iderada uma habil idade especi al, o ci rcense
af i rma, ainda assim, seu pr azer nesse t rabalho.
Na realidade, desde o assentamento até o espetáculo, o circo exige um
corpo de conhecimentos especializados que se forma a part ir de uma
longa prática. Tanto que essa aprendizag em se inicia na infância. O que
acont ece é que o circense não visu aliz a esse conjunto de operações e
não valoriza seu próprio t rabalho como um todo. Essa é uma rnanifes-
t ação concreta do con flito permanente com os valores do mundo
exterior à caravana. No circo se ganha muito pouco e as possibilidades
de ascensão são nulas. Além do mais, a habilidade de um ci rce nse só
pode ser utilizada no circo; não tem outro mercado.
O circense se reconhece em situação de superioridade. ou pelo menos
enxerga as vantagens da sua opção, no conf ront o com o t ipo de vida
de seu públ ico. Entre sua própria vida e a da cl asse operári a, acabam
por se decidir pelo direito de locomoção e pela relativa l ibe rdade que
usuf ruem, num meio social em que a hierarquia é quase invisível. Do
j eit o de ex isti r, livre. surg e a disponibil idade. element o pri mor dial dessa
at ração in esgotáve l exercida pel o espet ácufo e pelo profi ss ion al do circ o.

117
ANEXOS
1. Filmes sobre o circo e circenses

1.1. Circo Bico-Bl co. M inutagem : 45'. Filme Super-8. Direção, roteiro
e fotograf ia: Mônica Oli va e Victo r Nozek. Original em pode r dos
autores. São Paulo, 1976.

1. 2 . Circulando. M inutag em : 20'. Doe. 35m m j 16m m. Direção e rot ei ro :


Inês Vil lar es. Produção: Esco la de Comunic ações e Artes da Uni-
ve rs idade de São Paulo . Document ário sobre o Circo Bandeira nt es,
em São Paulo. Orig inal da ECA, 1975.

1.3 . Sua majestade, Piolim. M inutagem: 10'. Doe. 35m m j 16mm . Dire-
ção e pro dução: Suzana Amaral Rezende. Text o e narração:
A belardo Pint o (Piolim) - Sob o patrocínio da Comi ssão Estadual
de Cinema , do Conselho Est adual de Cul tura, 1972.

118
DOCUMENTACÃO
' 1. Textos

1 . 1. Manuscritos
Peres Fil ho, A .: " O Mundo não me Quis", Drama em sete at os
(49 pp.l ".

1. 2, Datilografados
Pimenta, Ante nor: "O Céu Un iu Do is Corações ". Drama dos
enamorados, Peça em cinco longos atos (57 pp .) " .

Ton ico : "A Ma rca da Ferradura" . Drama or igi nal em três ato s e
uma apote ose (24 pp. ) " ,

Tonico e Tinoco : "Mão Cr tml nosa'". Peça em três atos (23 pp.) " .

1 .3. Impressos

1 . 3 . 1. Livros
Cervelatti , Alessandro : Questa sera grande spettacolo: storia
dei circo italiano, Milano , Avanti, 1961.

Cervelatti, Alessandro: Storia dei circo, Bologna, Poligrafici


Resto dei Carlino, 1956.

Gómez de la Cierna, Ramón: EI circo, Valencia , Sampere, s.d .

Leydi , Roberto : La piaza: spettacolo popolari italiani, Milano,


Avanti , 1959.

Noronha , Paulo de : O circo. São Paulo, Cruzeiro do Sul, 1948 · .

Thétard, Henry . La merveilleuse histoire du cirque, Prisma, 1947,


2 vols .

• O material assinado com asterisco acha-s e à disposição dos Interessados no


Centro de Documentação e Info rmação sob re Arte Bras ile ira Contemporânea.

119
Tonic o: História e sucessos de Tonico e Tinoco, São Paulo , Edi-
t ora Prelúdio Lt da., 1960 *.
Tonico: Vila do Riacho - contos sertanejos, São Paulo, Editora
Prelúdio Lt da., s.d. * .
1 . 3 .2 . Artigos aparecidos em publicações periódicas
Barr iguel li , José Cláudi o : " O t eat ro pop ular ru ral: o ci rco-teat ro"
em Debate & Crítica, São Paulo, n.O 3, pp. 107-1 20, 1974* .
Lionnet , Henry : "Les ci rq ues" , em Les Spetacles à Travers les
Âges (1931). pp. 199-242.

2. Gravações

2.1. Depoimentos gravados e transcritos


Ci rco A merican: Mari a Danta s Benelli , M ár io Bene!l i , M arionildo
Benell i , M ar ia Jandira Benel li *
Ci rco Bandeira nte s: M arco A nt ônio Ma rt i ni (Chico Bi rut a) e
Gazola *
Ci rco do Carli t o: José M artins Leal (Garra fi nha). Lourd es Leal.
Prof essor , Joanes Dândaro, Carl it o, Orlando e Ma riza, Edison
Xavier da Sil va, Gaby Martins , Valdinei Ma rt ins . Sandra M art ins
e Cássi o Roberto M art ins (Carru íra) *
Ci rco do Chiqu in ho : Edson de Carvalho (Joanit o). Fát ima de Car-
valho, Sebast ião Demét ri o Costa (Dema), Ma ria Gomes da Si lva.
Cr ist ina Gomes da Silva, Tanaka, Euzébi o Gomes Píet ro, Fran
cisco Salvador Peres (Chlquínho)"
Circo Paul ist ão: Leil a, Teima, Regina, Robson de Carvalho. . Hi·
cardo Di as Neto , Roberto de Car valho. M r . Jones, W i lma, Marco
Ant ônio Sem ioni (Pingoli m) *
Outros: Tonico, da dupla Tonico e Tino co ; Pezão; A ri st ides ,
gerent e do Ponto Chie: Ete lv ina Gaivão de Arru da (ltal: W aldemar
Nunes; Homem do Post e *

2 . 2. Espetáculos gravados
2 . 2 . 1. Fragmentos, em cassett e
" O Céu Uniu Dois Corações "; " O Rei dos Ladrõ es"; " Três A lmas
para Deus " ; " O Casam ent o do Chico Bir ut a" ; " A Marca da Fer-
radura" ; " Indla": Números de picadeiro do Circo Paulist ão *
2 .2 . 2 . Gravação integral, em rolo
" Os Milagres de Nossa Senhora Aparecida" *

3. Audiovisual
3 .1 . O circo-teatro em São Paulo. A udiovi sual com quarent a minutos
de duração, de aut oria de Berenice Raul ino e Maria Lúci a Pere i ra *
4. Fotografias

4. 1 . Espetáculos
"O Céu Uniu Doi s Corações " ; " O Rei dos Lad ões ": "Maconha,
Veneno Verde. a Erva do Di abo"; "T rês A lmas para Deus"; números
de pic adeiro do Circo Paulistã o *

4 .2 . Outras

Fotos de bast idore s. caravanas e público. Fot os do Pont o Chic e


os circ enses seus freqüent adores *

5. Slides

5 . 1. Espetáculos
"O Casament o do Chi co Bir ut a"; " O Céu Uni u Dois Corações";
"A Paixão de Cristo " ; números de variedades do Ci rco Jóia *

5.2 . Outros
Slides do públ ic o e de criança s circens es *

6. Filme Super-B

6 .1. Circo Dema - M inutagem : 20' - Direção. roteiro e f ot ogr afi a:


Sebastião Demét rius Costa (Dema) - Produção : Centro de
Document ação e Informação sobre Ar t e Brasil ei ra Cont empo-
rânea - S. Paulo. 1976 *

121
o ESPETÁCULO/
DOIS MOMENTOS
" O Céu Uniu Dois Corações" - Discurso de Carlito antes do términ o
do espetáculo .

Gravado no Circo do Carlito, em 1.°/ 2/ 1976

Os meus agradec imentos por esta rem aqui prestig iando a noss a cas a, os nossos
espet áculos, apesa r da gr ande chuv a que caiu; os amig os que aqui est ão honran do
esta casa com a sua presença , os nos sos agradecimento s pe los sen hores estarem
aqui pres tigian do o nosso espetáculo.
Espera mos que o esp etá culo esteja co rrespondendo à expectat iva qu e as Iarnlllas
vieram pro cu rar aqui, o divert imento, a men sag em e a ternura. Esperamo s qu e a
peç a esteja até aqui corre spond endo àquilo que os senhores imaginaram qu e ser ia
a apresentação da mesma. Se nós estiv ermos apr esenta ndo a peça a contento , fel iz
nós ficamos. Se não estive rmos , nós pedimos desc ul pas e pr ometemos nu ma out ra
opo rtuni dade, em out ro esp etá culo, dar mai s de si; nós esta mos fazendo tud o para
compe nsar o seu tr abalho em vir até noss o c irco par a assistir o nosso teatro.
Eu quero con vidá-los para os noss os pr óxi mos espetáculos e avisar às famí lia s qu e
aqu i estão qu e a nossa co mpanhia não pára. É espetáculo diário. Não tem folga .
Ama nhã , po r exemp lo , segun da-fei ra, nós voltam os a apresent ar grande teat ro. Eu
quero expli car que amanhã o teatro que vamos apresentar é uma peça de la nçamen to
de sábado ou domi ngo 1 , mas vai ser apr esenta da amanhã em preços no rm ais . Mas,
nós qu eremos apresentar par a as famí lias teatro especial. Mos traremos amanh ã
teat ro-poema, mensagem. A peç a de amanh ã te m uma ternura ext raord inári a, a peça
de ama nhã te m uma mensagem toca nte , uma mensagem qu e vai di reta aos co rações.
Ama nhã uma hom enage m às mães. Tem tod os os anos o dia das mães, mas pra
nós o dia das mães é tod os os dia s. Então a nossa oportuni dade de homenage ar as
famflias que aqui estão pr estigiando todas as noites os nossos espetáculos.
Nós temos que fazer alg o alé m do espetácu lo para as fam íli as que tão bem estã o
nos recebendo . A peça de amanh ã é mensagem, é um pre sent e às famíli as. Nós
estaremos amanhã aqu i, apresentando nest e palco um teatro extrao rdinário, dedicado
às mães , a linda, a peça-poema "Mãe, o Amor Mais Puro " . Amanhã nest e palco,
"Mãe, o Amor Maís Puro " , em grande teat ro, teatro de art e especi al.
Ped imo s aos senhores; seg unda-feira, nós queremos ver bastante gent e dentro dest e
circo . par a nós mostrarmos a peça que transmi te uma mensagem, uma cultura extra-
ord inár ia. Eu rec omendo ess a peça princi palm ent e às crian ças ; os filhos devem ve r
essa peç a de amanhã , porque ela ens ina muit a coisa que nós , filhos, precisamos
apren de r, não importa a idade . " Mãe, o Amor Mais Puro", só pelo t it ulo da peç a

1 . Nos sába dos e dom ingo s escolhem-se as mel hores peças do repertório par a
serem apresentadas.

122
os senhores já pod em aquilatar o qu e será o espetá culo de amanhã. " Mãe, o Amo r
Mais Puro " . Com pensa você vir no c ir co amanhã para ver ess e grande teatro. E
(in audível) senho ras e me ni nas, nas gera is amanhã, um cr uzeiro nas gerais para
assistir " M ãe, o A mor Mais Puro" . Convid amo s as famílias para vi r, os cavalhei ro s
pagam as gerais, mas têm d ireit o às ca de iras. Os rapazes estud antes pagam meia
ent rada de gera i, e te rão direit o às cade iras ; os meninos pagarão me ia entrad a e
também terão d ir eito às cad eiras. Ao passo que as senhoras El senhoritas e meninas
levam van tagem nas gerais, mas nas cad eiras têm que pagar meio ingresso, qu e é
o mesmo ingres so que paga o estudante e o men ino. Is so nas cadeiras . Nas gera is
é só um cru zeir inho.
As famíli as qu e aqui est ão e princ ipalmente algu ém que veio hoje pela primei ra vez,
esperam os que você qu e est á aqui pela primeira vez, e to rcemos até para que voc ê
esteja go stando do espetáculo, e qu e não seja ho je a últ ima vez que voc ê venha.
Venha sempre, porqu e a sua co mp an hia dentro desse c ir co , a sua presenç a mu ito
nos hon ra e mu ito nos prestig ia. Os que já estã o acost umados a ver, acompanhar
o nosso espetácul o aq ui, todas as no ites, nós ag radec emos tamb ém do fundo do
coração e pedim os que conti nuem a nos prest igi ar, porque com o nós diz emos todas
as noites, est e c ir co não é nosso. Pert ence a vocês. Esse circ o é de você . É te atro-
cultur a. Talvez não um t eat ro extraordinário , mas tem a vantagem de esta r mais
per t o das fam íl ias e as peças, nós procuramos sempre peças que t r ansmite alg o de
ensi nament o. Ess e é o nosso int uito de apresentar' tea tro q e ensine algo , t eat ro
que tenha mensagem , tea tro que tenh a cultura, teatro qu e ens ina, teat ro que inst ru i,
que educa e qu e dis trai, qu e é mu ito importante par a nós.
O que está pre parado atrás de stas cort inas é bonito. Não vou cham ar de lin do
porq ue (inaud ível) no c irc o de ap resentar uma co isa e dizer lind a. Mas é bem
preparad inho. É modesto , mas com pensa ver o que est á pre parado at rás dest as
co rtinas , o fi nal apoteótico da peça qu e também é uma mens age m o que está pre-
parado aq ui atrás. Compensa, então, voc ê ficar até o f im e pe ço des culp as (po r)
ult r apassar o horário de t érm ino do espet áculo, mas os senh ore s são tes t emunha s
qu e a chuva tamb ém colabo rou para nós at rasarmos o mesmo.
Senho ras e senhores, amanhã, " Mãe, o Amor Mais Pu ro " , presen te as suas mães.
Nós ag radecemos de cor açã o os nos sos am igo s que aqu i estão fotografando a peç a,
fazendo pesqu isa sobre teatro , pessoas importantes que estão prestig iando o noss o
espetá cu lo, ali ás é pela te rcei ra vez. Isto nos ani ma, nos cq,nforta. Ver nosso c irc o
ser esc ol hido de nt re muitos qu e ele s já for am, escol her em o nosso também para
fazer o trabal ho, pa ra fazer a pesquisa sobre teatro-ci rce nse. Obrigado ,' eu ag rade ço
à senhora, a senhor a represent a os out ro s ; eu agradecend o à senhora, eu agradeço
aos out ros ta mbém . M uit o obrigado por pre st igi ar o noss o espetáculo e merecer o
nosso aplauso po r estar fazendo a reportag em do espetáculo (aplausos) .
Vamos então co m o últi mo ato da peça. Senhoras e senho res e cri anças , de ponta
a ponta! Cadeiras ! També m de coraçã o. Não é uma palavra d iff c il (inaudível.). . .
Mas, de coração, muit o ob rig ado , Vil a Mafalda! Muito obrig ado , Vila Formos a!

123
Um número de picadeiro: Circo Paulis tão

" CLOM" : Õ rapa z, vem trab alhar!


PALHAÇO : Hei n?
CL . : Vem t rabalhar.
PAL. : Tá fala ndo comig o?
CL . : Eu anunciei hoj e você no espetáculol
PAL . : Hoj e eu não posso trabalhar. Estou co m a minha familia.
CL . : Está com ge nte de sua família ?
PAL.: A min ha mãe, meus irm ãos, meu pai (vai mostrand o as c rianças).
CL. : Você nem pag ou in gresso , rapaz . . .
PAL.: Pague i vinte cruz eiros.
CL.: Ah ! Seu menti roso . Como é que vo cê pagou vint e cruzei ros, se você está na gera l !
PAL.: É. Vin te cr uzei ros.
CL. : Oh ! Eu não estou vendo nem sua mãe, nem seu pai . . . Cadê sua mãe?
PAL.: Minh a mãe está aqui (most ra uma men ina).
CL .: Deixa sua mãe e vem trabalh ar!
PAL .: Posso ir trabalh ar?
Eu vou se vo cê dis ser um versinho : "P ingoli m, Pingolinzin hol da f lor do regol Vem
meu nego !"
CL. : Como é o verso ?
PAL. : (repete)
CL.: (di z de novo)
PAL .: Eu vou . Mam ãe prepara porque daqu i a pouco eu quero mamar.
CL.: Você é um tremendo palhaço, cara.
PAL.: Po r que eu sou palhaço ?
CL .: A pessoa qu e usa pintu ra no rosto é palhaç o.
PAL .: Mulhera da! Seg ura aí que voc ê vai apanhar agora! Mul hera da . . .
As senhoras e senh oritas que usam pintura no rosto, quer d ize r que é palhaço ?
CL.: Você entendeu mal. As mulhere s, as moci nhas, as senho ras casadas usam pin-
tura pela moda.
PAL . : Ah! É? Eu . . . seu uso pintura pela mo . . . eda.
CL.: Eu vou t rabalhar sozinho. Não quero saber mais de você. Eu sou um cara que
faço poema, faço poesia. Não quero saber de vo cê mais. Você não sabe fazer poesia.
PAL.: Quer dizer qu e a minha part e está encerrada? Tá bom. Agora é o Robert o
que vai falar.
CL. : Hoje .
PAL.: Hoje .
CL. Rapaz, deixa eu t rabalha r sozinho.
PAL.: Tá.
CL. : Hoje eu estiv e num briga feia, lá no largo da Bar ra Funda . . .
PAL .: Rancaram as suas calças e cuspi ram na . . .
CL. : Você est á me atr apalhando . Deixa eu falá a minha poesi a! Voc ê não sabe
nem rima r.
PAL. : Eu ri mo. É só você falar.
CL . : Que rima , rima nada !

i ') "
PA L . : Rimo . Eu sou um rimador!
CL . : Eu est ive num a briga fe ia, lá no largo da Bar ra Funda . . .
PA L . : A rrancaram as sua s cal ças e cusp iram nas . . . suas costas!
CL . : Ond e está a rima ?
PAL. : Vira pra lá. Você que r saber onde está a ri ma?
Aq ui está as costa e a rima está ali embaixo .
CL . : Esta no ite eu tiv e um sonho muito esquis ito .
PAL. : Sonhei qu e estav a co men do azeitona de ca brito.
CL . : Hoje faz uma ho ra .. .
PAL. : Que você apanho u da Don a Aurora.
CL. : Não vou mais fazer poesia . Voc ê não deixa. Quero fica r sozi nho .
PA L . : Fique sa bendo q ue eu com prei uma grand e faz enda .
CL . : Você? Dou até risada! Um cara dess es . . . Não tem condição de ser faze nd eiro .
PAL. : Min ha fazenda tem de so bra tudo.
CL . : Tem tud o ? Plantação ? Tu do ?
CL. : Tem arr oz ?
PAL . : É aquela arrozad a . . .
CL. : Tem feij ão?
PAL. : E aque la feijãozada . . .
CL.: Tem Iingüiça?
PAL. : É aquel a lin güiçad a . ..
CL. : Onde é que voc ê viu pla nta ção de Iingüiça?

PAL. : Você podia ter um ca mi nhão de Iingü iça e fazer uma plan taç ão .
CL . : Tem caf é?
PAL.: Café é o essenci al da minha faze nda . Presta aten ção: a minh a faze nda é a
úni ca que dá cada pé de café do tamanho deste mast ro.
CL . : Como é qu e ééééé?
PAL . : O pé de café da minha fazenda é tão gr and e, mas tão g rand e qu e do is grão
enc he o sac o I
CL . : Lá tem abó bora ?
PAL. : Chi . . . é uma abobr ada .. .
CL. : Tem mand ioca ?
PAL . : É uma mand ioc ada .. .
CL . : Tem cará?
PAL . : Não. Na minha faze nda não tem isso não . Não tem isso não . A minh a fa zend a
é tão gran de, tão grand e q ue eu vou montar uma venda na minha faz enda.
CL . : Vai mon ta r uma venda? Ah! J á se i pra vend ê ping a! Botequ inho .
PAL . : A minha faz enda não vend e ping a.
CL . : Vai vender ar roz da plantação da sua faze nda ?
PAL .: Não ve nde arroz ta mbém não .
CL. : Então o que ela vai vender?
PAL . : A mi nha fazenda só vend e fumo .
CL. : Pera aí. Com o é que vo cê vai fazer pra vend ê fum o? Fum o qualq uer um compra
em- ba rr aqu inha. Não é nov idade.

125
PAL . : A maior novidade da minha fazenda é vendê fumo. E eu vou vendê fumo . . .
à bossa-nova!
CL .: Bossa-nova?
PAL . : Eu ar rumei um sarilho de poço e enr ole i 'o fumo no sarilho. O freguês ch ega
lá. . . Ol ha, eu vou vender fumo, por hora, hein?
CL . : Por hora? Pera aí . .. Isso é d iferente. Voc ê está fazendo essa criação?
PAL . : É . . . Má .. . Cr iação.
CL . : Como é esse negócio?
PAL . : Você chega lá e pede cinco minutos de fumo .
CL . : E como é que você faz?
PAL .: Eu pego lá no carretel. Lá no saril ho. O fregu ês sai segurando a ponta do
fu mo e eu marco no relógio : c inco mi nuto. Um mi nuto. Eu marco no relógio.
CL : Uma hora?
PAL .: Eu marco no relógio .
CL . : Ah! eu vou dar ri sada . . . Eu sou o maior co rredor da corrida de S. Silvestr e.
PAL. : Quan to mais você co rrê mais f umo voc ê vai levá.

126
INVENTÁRIO DA PESQUISA
PESQUISA : CIRCO - ESPETÁC ULO DE PERIFERIA
Sup ervi soras da Á rea: MA RIA THEREZA VARG A S (at é març o 1978) /
RENI CHAVES CAR DOSO (a parti r março 1978)
Pesquisad ores: CA RLOS EUGENIO MAR CON DES DE MO URA / CLÁ UDIA
DE A LENCA R BITTENCOURT / L1 NNEU DIA S / M ARI A THEREZA VA RGAS
/ MA RIÂNG ELA ALVE S DE LIM A
Dat a: dezembro 1975 a agosto 1976

Objetivos: Dentro do t ema prop ost o: São Paulo , dire ito e av esso, anál ise
de duas esp écies de esp et áculo : o realizado no ce nt ro, e o realizado
nos bairro s peri fér ic os. Semel hanças e con trast es na sua cri ação e
ent re os seus criado res .

1. PAPÉIS IMPR ESSOS

1. 1 Livros

Salv ado r Pérez, João . Vila do riacho ( 1)


Salvador Pérez, João. Histórias e sucessos (2)
Quei roz Tel le s, Carlos . " M uro de A rrim o" (3)

1 . 3A Volantes

Waldema r Nunes . A present ação ( 1)


Carvalhi nho . A present ação. Núm eros de palhaço (2)
Xuxu. Ap rese nt ação. Números (3)
" M uro de Arri mo " . Anúnc io do espet ácu lo (4)

1.6 Cartazes

Ci rco - Lut a-livre ( 1)

127
r
Ci rco . Apresentação de cantora (2)
Circo . Tonico e Tinoco (3)
Circo . Tonico e Tinoco (4)
Ci rco . Ap re sentação Nil t inho e Vald eci (5)
Propaganda em pre gos/vend a mater ial de ci rco (6)
Propaganda empregos / vend a mater ial de circo (7)
Propaganda empregos / venda mate ri al de circo (8)
Prop agand a empre gos/ve nda mater ia l de circo (9)
" Absurd a Pessoa" - es petáculo t eat ral (10)
"Ai de t i , M at a Hari " - espet áculo t eatral (1 1)
" Lição de A nat omia" - espet áculo t eat ral (12)
" Mu ro de Arri mo " - es pet áculo t eat ral ( 13)

1.8 Outros

"Absu rd a Pessoa " (1)


"Li ção de A nat om ia" (2)
" M uro de Arrimo " (3)
"Rocky Horror Show" (4)
"Roda Cor de Roda" (5)

2. PAPÉIS DATILOGRAFADOS

2 .4 Entrevista s

Ci rco Ame r ica n (co nju nt o) (1)


C irco Bandeirant es (con junto) (2)
Circo do Carlito (con jun to) (3)
C irco do Ch iqui nho (con j unt o) (4)
Ci rco Paulistão (co nj unto) (5)
Francisco Pere z (C hiqui nho) (6)
João Salvador Perez (Toni co) (7)
Lenin e Tavares (pro duto r "Abs urd a Pessoa") (8 )
Má rc ia Real (atr iz "Absurda Pessoa " ) (9)
M ir iam M eh ler (at ri z " Absu rd a Pessoa" ) (10 )
Roya l Bex iqa 's Company (el enc o " A i de ti " ) ( 11)
Naum Al ves de Souza (cenóg raf o "Ai de ti 'l (12)
Paul o Herculano (mus ic o " A i de ti") ( 13)
Caci lda Lanuza (atriz " Lição de A natom ia") (14)

128
Dirceu Camar go (i lum inador " Lição de Anatomi a" ) (15)
Geraldo Dei Rey (at ar " Liç ão de An at omia" ) ( 16)
Glauco Mi rko Laurell i (pro dut or " Lição de
A natamia"I ( 17)
Imara Reis (at riz "Li ção de An atomia" ) ( 18)
A nt ôni o Abuj amra (diret or " M uro de A rrim o" ) ( 19)
A ntô nio Fagundes (at ar " M ur o de A rr im o" ) (20)
Carlos Oueiroz Tell es (aut or " M uro de A rrimo ") (21)
Odavla s Petti (d iret or "H ock y Horror Show " ) (22)
Paulo Vill aça (at or " Hocky Horro r Show " ) (23)
Irene Ravache (atriz " Roda Cor de Roda") (24)
João José Pompeo (at or "R oda Cor de Roda" ) (25)
Lei lah Assunção (aut or" Roda Cor de Roda" ) (26)
Lílian Lemmertz (atriz " Roda Cor de Roda" ) (27)
Luiz Antônio M. Correa (diretor " Slrnbad" ) (28)

2 .8 Roteiros

"Slmbad, o Marujo" ( 1)

2 .10 Outros

Relação de ci rcos existentes ( 1)


Relação de film es documentários sobre circo
e teatro (2)
Relação de mo vimento - SBAT (3)
Bibliografia - Ci rco (4)
Regulament o para uma escola de circo (projeto) (5)

4. PAPÉIS REPRODUÇÕES

4.1 Xerox

" A Marca da Ferradura" - t ext o t eat ral de Tonic o ( 1)


" M ão Criminos a" - t ext o te at ral de Tonico (2)
" O Céu Uniu Dois Corações" - t ext o t eat ral de
A . Pimenta (3)
" O M undo não me Ouls" - t exto t eat ral de
Al varo Pérez Filho (4)
"Ai de t i Mata Har!" - croquis cenár io (5)

129
..Ai de t i Mata Harl " - texto teatral do grupo (6)
"Absurda Pessoa " - t ext o teatral de Alan
Ayckbourn (7 )
" Liç ão de An ato mi a" - roteiro de Carlos Mathus . (8)
..Roda Cor de Roda" - texto tea t ral de Leil ah
A ssunção (9)
"Sl mbad, o Ma ruj o" (I) - roteiro Grup o Pão e
Ci rco (10)
"Slmbad, o M aruj o" (II) - roteiro Grupo Pão e
Circo (11)

4 .1 Xerox cr íti cas e reportagens

A crí tica aos crít icos, por Renat o e Esthe r. Regina


Pentea do, Fol ha Ilustrada, 14. 11 . 75 (" Ab surda" ) (12)
"S ábato responde" . Sábat o Magaldi. Folha de SP,
21. 11 .75 ("Absurda") (13)
" Grau superio r". J. A . Flecha. Veja, 24 .12 .75
("Ai de ti " ) (14)
" Um to rneio de bons desempenhos" . S. M agaldi.
Jorn al da Tarde s/d ("Ai de t i") (15)
" A rqu ét ipos do cotidia no" . Jornal da Tarde, 10 .
10 . 75 (" Lição de A nat omia " ) (16)
" Uma boa peça pr esa" . S. M agaldi. Jornal da
Tarde, 14 . 10. 75 (17)
" A t eres, os únicos qu e se salvam" . Il ka Zanot t o.
O Estado de S. Paul o, 15 . 10 . 75 (" Lição de A na-
t omia") (1 8)
"A crânica que não consegui escrever . . . " Igná-
cio Loyo la Brandão s/d (" Lição de Anat omia " ) (19)
"Li ção de A nat omia". Hilton Vi ana. Diário de São
Paulo , 19 .10 .7 5 (" Lição de Ana to mia" ) (20)
" Lição de An atom ia " . Di ári o de S. Paul o, 1.° . 11 . 75
(" Liçã o de An at omia" ) (21)
"Desce o pano". Klebe r Afonso, Última Hora,
9 .1.76 (22)
"No palco . uma t rágica report agem" . Jorn al da
Tarde, 21.11 .75 ("Muro de Arrimo") (23)
"Jogo de seleção inspira monólogo". O Estado
de S. Paulo, 21.1 1 .75 (" Muro de Arrimo") (24)
"Na simpl ic idade. a fo rça". IIka Zanotto. O Es-
tado de S. Paulo, 25 . 11 . 75 (" M uro de A rr i mo") (25)

130
" An t ônio Fagundes reto rn a" . Di ário de São Paulo,
25. 11 . 75 ("M uro de Arrimo") (26)
" Est e é o pr ólogo " . Sábato Maga ldi. Jorn al da
Tarde , 26 . 11 . 75 (" M uro de Arri mo" ) (27)
'''Mu ro de A rr imo ' um excel ente es pet áculo ", s/ d
27 . 11 . 75 (28)
"Operár io no palco " . Jeffers on Dei Rios . Folha
de São Paulo, 29. 11 . 75 (29)
"O operári o Antônio Fagundes ". Hil t on Viana.
Di ár io de São Paulo, 30 . 11 . 75 (30)
" Fagundes, galã de mãos ásperas " . Maria Am ália
Rocha Lop es , Jornal da Tarde, 9 . 1 . 76 ("Muro " ) (31)
"Elias não agüen t a mai s derrubar o mu ro" . Jorn al
da Tarde, 31 . 1. 76 (" M ur o de Arri mo " ) (32)
"Es se te xto , v ocê só pode ouv ir " . Jornal da Tarde,
16 . 5 .7 5 (" Roda Cor de Roda" ) (33)
" Lei lah, o mais fort e pers onaqern de Lei lah" . Regi-
na Pent eado . Folha Il ustrad a. 15 .10 . 75 . (" Roda") (34)
" Lei lah , apr esent a" . Jorn al da Tarde, 15 .10 .75
(" Roda" ) (35)
" No te orem a de Leil ah" . Sábato Magald i. Jorna l da
Tarde , 17 . 10 . 75 (" Roda Cor de Roda" ) (36)
"Trab alho que pode re pre sent ar". Mariângel a A .
Li ma. O Estado de S. Paulo , 18 . 10 .7 5 (" Roda" ) (37)
" Duas ót imas at r izes" . Edmar Perei ra. O Est ado
de S. Paulo, 6 . 11 . 75 I" Roda Co r de Roda" ) (38)
" Ag ora só se f ala nela" . Regi na Pentead o. Foi a
Il ust rada , 7.1 1 .7 5 (" Roda Cor de Roda") (39)
" Leil ah" . Ma rta G óes . Aqui , 20 a 26 . 11 . 75 ("R oda") (40)
"Superfi c ial e grat uit o". M ar iânge la A . Li ma. O Es-
tado de S. Paulo, 30 . g . 76 (" Rocky Horror Shaw ") (41)
" O rock-horro r no palc o" . Sábato Ma gald i. Jo rn al
da Tarde, 7 . 10 . 75 (" Rocky Horror Show " ) (42)
" Uma bem-sucedid a alq uim ia " . Ezequiel Nev es,
Jornal da Tarde , 10 . 10. 75 (" Rocky Horr or Show") (43)
" Rock sem hor ror e show" . Jefferson De i Rios.
Fol ha de S. Paul o, 10.1 0.75 (" Roc ky ") (44)
" Paulo Vi l laça: Minha carreira" . Carl os A . Gou-
vea. Folha, 23.10 .75 (45)
" Pão e circo. alegria e agr essão" , Lena Fr ias,
Jornal do Bras i l, 15 . 10 . 75 ("Simbad , o M aruj o " ) (46)
" Grupo Pão e Circo vol ta hoj e" . Hilton V iana.
Diário de São Paulo, 22 . 11. 75 (47)

131
"As avent uras de um mar inh eiro f amoso". Folha
de São Paulo, 2 .1 2.75 ("S imbad , o M aruj o") (48)
" ' Si mbad', um ret rat o do t eatro br asilei ro" . Clóvis
Garcia. O Estado de S. Paulo, 7 .12 .7 5 (49)
" Talent o e bel eza plást ica" . Sábat o M agaldi. Jor-
nal da Tarde, 10 . 12 . 75 (" Simbad, o Maruj o" ) (50)
" Simbad, o M aru j o" . Jairo A . Flecha. Veja,
24 .12 . 75 ("S imbad, o M arujo") (51)
" At rizes abandonam 'Sirnbad'". O Estado de S.
Paulo s/d ("S imbad, o Ma rujo") (52)
"S NT poderá punir os t rês artistas " . O Estado de
S. Paulo. s / d (" Si mbad, o M aruj o") (53)
"At eres de ' Slmb ad' dão suas expl icações" . Últim a
Hora, 10 e 11 . 1. 76 (54)

4.1 Xerox artigos

" Teatro pode ser (já é) um bom negóc io" . Me r·


cabo Global, s/d (55)
" O teatro popular rural: Circo-Teatro " . José Cláu-
dio Barriguelli. Debate e Crítica, n." 3 (56)

4 .6 Ampliações fotográficas

" O Céu Uniu Dois Cora ções " - Circo do Carl it o (1/ 48)
" O Rei dos Ladrões " - Circo do Carli t o (49/69)
"M aconha" - Circo do Carlit o (70/ 132)
"Três A lmas para Deus " - Cir co do Carli to (133/ 174)
Bastidores , públ ico, bale iros - Ci rc o do Carli to (175/ 269)
Picade iro - Circo Paulistão (270/ 297)
Carava nas. crianças - Ci rco Paulistão (298/ 446)
Pont o Ch ic - local de encont ro dos arti st as
de circo (447/ 592)
"Absur da Pessoa" - atores, público, espetá culo (593/ 717)
Públic o - "Absurda Pessoa " (718/ 721)
Bast idores - " Absurda Pessoa " (722/ 728)
" A i de ti , M at a Har i " - esp et áculo (729/ 765)
Bast id ores - " A i de t i , Mata Hari " (766/ 769)
" Lição de A natom ia" - espetá culo (770/779)
"Muro de A rrimo " - espet ácul o (780/ 847)
Público - "Muro de A rrimo " (848/ 8491

132
Bastidore s - "Muro de Arrimo" (850/853J
"Rocky Horror Shaw " - espetácul o (854/942 )
Público - " Roc ky Horror Sha w" (943/951)
" Roda Cor de Rod a" - es pe tá cul o (952/ 988)
" Roda Co r de Roda" .- bas tido re s (989 /992)
" Si mbad , o M ar uj o" - es pet ácu lo (993/1087 )
Público - " Sirnbad, o Marujo " (1088/1092 )
Bastido res - "Simbad , o Marujo" (1093 /1108 )

5. ÁUDI O

5 . 1A Cassettes

Circo American (entrevista conj .) (1)


Circo Bandei rantes (entrevista Chi co Bi ruta
e Gazola) (2 )
Circo do Carlito (Carlito/con j .) (3 )
C irco do Car l it o (en trev ist a conj. ) (4)
Circo do Car l ito (e nt rev ist a con j. ) (5)
Circo do Chiquinho (entrevista conj .) (6)
Circo Paul istão (e nt revi sta con j .) (7 )
Francisco Pere z (Chiquinho - entrevista) (8)
João Salva do r Perez (Toni co - entrevista) (9)
Lourdes Leal (atriz/entrev ista) (10)
Ponto Chic (vários/ ent rev ista) (11 )
Ponto Ch ic (vár ios / entrev i st a) (12)
" O Cé u Un iu Doi s Coraçõe s" (trechos peça) (13)
" O Rei dos Ladrões" (trechos peça ) (14)
"Três Almas par a Deus " (trechos peça ) (15)
"Maconha " (trech os peça ) (16 )
" O Casame nto de Chico Biruta " (trechos peça) (17 )
Espet áculo Circo Jóia (trechos) (18 )
"A Ma rca da Ferradura" (trechos peça ) (19)
índia - show - trechos (20 )
Ci rco Paulistão - espet áculo (21)
" Li ção de An atomi a" - peça (22)
Lenine Tavares (e mpr esár io/ ent revi st a) (23)
Márc ia Real (atriz/ ent rev ista ) (24 )

133
Miriam Mehler (at riz/ ent revist a) (25)
Royal Bexiga's Company (26)
Royal Bex iga's Company (elenco/entrevist a) (27)
Naum A. Souza (cenógrafo/entrevista) (28)
Paulo Herculano- (músico/ entrevista) (29)
Silnei Siqueira (diretor/entrevista) (30)
Caci Ida Lanuza (atriz/ entrevista) (31 )
Dirceu Cam argo (iluminador/entrevista) (32)
Geraldo Dei Rey (ator/ entrevista) (33)
Gl auko Mi rko Laurel li (empresá rio/entrevista) (34)
Imara Reis (atriz/entrevista) (35)
Antônio Abujam ra (diretor/entrev ista) (36)
A nt ônio Fagundes (ator/entrevista) (37)
Carlos Oueiroz Telles (autor/entrevista) (38)
Ângela Rodrig ues (atriz/entrevista) (39)
Odavlas Petti (diret or/ ent revista) (40)
Paulo Villaça (at or/ ent revist a) (41 )
Irene Ravache (atriz/entrevista) (42)
J. J. Pompeo (ator/entrevista) (43)
Leil ah Assunção (autor/entrevista) (44)
Lílian Lemmertz (atriz/entrevista) (45)
Luiz An tônio Martinez Correa (diretor/entrevis ta) (46)

5.1 B Rolo

"Os Milagres de N. S. Aparecida" - espe t áculo tn


" Os Milagres de N. S. Aparecida" - espetáculo (2)
"Os Milagres de N. S. Apa recida" - espetáculo (3)
"Os Milagres de N. S. Aparecida" - espe táculo (4)
Circo Bandeirantes (ruídos) (5)
Circo Bandeirantes (ruídos) (6)
"Ai de ti, Mata Harl " - peça/espet áculo (7)
"Ai de ti, Mata Hari" - peça/espetáculo (8)
"Absurda Pessoa " - espetáculo (I) (9)
"Absurda Pessoa" - espetáculo (II) (10)
"Muro de Arrimo" - espetáculo (11 )
"Roda Cor de Roda" - espetáculo (I) (12)
"Roda Cor de Roda" - espet áculo (II) (13)

1 ~A
6. VISUAL

6 . 1A Negativos - 35mm (1/1 .108)


Idem 4 .6

6 .4A Oiapositivos - 35mm

"O Casamento do Chico Biruta" - espetáculo (1/59)


Circo Bandelrastes - aspectos (60/65)
" O Céu Uniu Dois Corações" - espetáculo (66/87)
"A Paixão de Cristo" - espetáculo (88/182)
Público (Circo do Carlito) (183/188)
Circo Jóia - show (189/202)
Público (Circo Jóia) (203/211)
Circo Paulistão - aspectos (212/214)
Crianças (Circo Paulistão) (215/247)
Ponto Chic (248/250)
"Absurda Pessoa" (espetáculo) (251/275)
"Muro de Arrimo " (espetáculo) [276/295)
" Rocky Horror Show" (espetáculo) [296/322)
"Roda Cor de Roda" (espetáculo) [323/339)
"Slrnbad, o Marujo" (espetáculo) [340/348)

6 .7 A Filmes - Super-8

Circo Dema - filmado por um circense (coI.) (1)


Circo Dema - filmado por um circense (cópia) (2)
Trechos - circense D. Arethuza (a montar) (3)

6.7B Filmes - 16mm

"Lição de Anatomia" - coI. chamada para TV (1)

AUDJOVISUAL SOBRE A PESQUISA. Realização de Berenice Raulino e


Maria Lúcia Pereira . 40 mino

135
INVENTÁRIOS DE OUTRAS
PESQUISAS DA ÁREA DE
ARTES CÊNICAS
PESQUISA : TEATRO OPERÁRIO NA CIDADE DE SÃO PAULO

Supervisoras da Area: MARI A THEREZA VAR GAS (até março 1978)


RENI CHAVES CARDOSO (a par tir março 1978)

Pesqu isado ras : M ARI A THEREZA VA RGAS / MARIÂNGELA ALVES DE


LIM A

Objetivos: Docu ment ar uma form a teatral específi ca da ci dade de São


Paulo. Considerando-se que essa forma de t eat ro desapareceu em
1962, a document ação terá o cará ter de memória.

1. PAPÉIS IMPRESSOS

1 .1 Livros

Rocha , A rthu r. Deus e a natureza (1)


Dini z, Bapti st a. O veterano da liberdade (2)

2. PAPÉIS DATILOGRAFADOS

2 .4 Entrevistas

Ger mi nal Leuenroth, Jayme Cuberos , Cuberos


Neto, Ma ria Valverde e Cecíl ia Dias , ant igos com -
ponent es do te at ro do Centro de Cultura Social ( 1)
Entrevist a com o atual pr esid ent e do Gugli elmo
Oberdan (2)

2.4 Notícias jornal

A Lant erna : 1901-1903-1905-1909-1910-1911-1912-


1913-1914-1915·1916 (3)
o Amigo do Povo: 1902-1 903-1904 (4)
La Battaglia: 1904-1905-1906-1907-1908-1909-HI10-
1911·1912· 1913 (5)
O Li vre Pensado r : 1904-1905 (6)
O Chapeleiro : 1905-1918 (7)
A Ter ra Li vre : 1905-1906-1 907-1908-1910 (8)
A Luta Prol etária: 1908 (19)
A Plebe: 1917-1919-1 920-1921-1922-1923-1924-1927-
1932-1933-1934-1935-1947-1948-1949-1952 (10)
Alba Rossa: 1919-1920 (1 1)
Novo Rumo: 1906-1907 (12)
O Trabalhador Vid rei ro: 1931 ( 13)
O Trabalhador: 1932-1933 (14)
O Socialist a: 1933 (15)
O Trabalhador Padeiro: 1935 ( 16)
Dealbar: 1967 ( 17)

2.4 Notícia s revistas

Kultur : 1904 (18)


A Aurora: 1905 (19)
A Vida: 1914 (20)
II Pasquino Co lonia le : 1920 (21)
Renovação: 1921 (22)

2.4 Crítica teatral jornai s

" Elv i ra, a Monj a" . A ntoni us . O Liv re Pensador ,


24 .7 . 1904 (23)
"A Electra ", de Pérez Galdós. Edit or ial. A Lant er-
na, 20 .1.1901 (24)
" O Deve r" , Jos é Rizol. A Plebe, 7-1 7 . 10 . 1903 (25)
" Teseu " , R. F. A Plebe , 18 .8 .1934 (26)
" Pr imeiro de Ma io" . Novo Rumo, 22. 11 .1907 (27)

2 .4 Crânicas jornais

"As festas de propaganda e o baile". Lúcifer.


Terra Livre, 17.2.1910 (28)
"O teatro católico". João Eduardo . A Lanterna,
16 .6.1914 (29)

137
"A Escol a Moderna de São Paulo". A non. A
lanterna, 11. 9 . 1915 (30)
"O Teat ro e a Igreja" . Romualdo Figueiredo . A
lanterna, 28 .2 .1916 (3 1)
" A art e do palc o: o t eat ro livre" . Rom ual do Fi-
guei red o. A l anterna, 25 .3 . 1916 (32)
"A art e do palco : uma iniciat iva". Romua ldo Fi-
gueiredo . A lanterna, 15 .4 .19 16 (33)
" Teatro do povo" . Crist ia no de Carval ho. Novo
Rumo, 19 .9 . 1906 (34)
" A arte do palco: fa lência dos mondro ngos " . Ro-
mu aldo Figueiredo. A lanterna, 2.9 . 1916 (35)
" Registro de uma peça: 'F lo rea l' " . A Terra livre,
13 .6 . 1906 (36)
" Regi stro de um a peç a: 'O s Esmagados' " (37)
" O bai le". Lucifero. A Terra livre, 5 . 2 . 1907 (38)
"Arte e revo lução". Ne no Vasco . A Plebe,
6 .11.1920 (39)
" A dança e o futebol " . S. Cost a. A Plebe,
30 . 10 . 1917 (40)
" Balan cete de uma fe sta op erári a" . A Terra livre,
1.° .6 .1 907 (4 1)
" Caf aje stes inte lectuais ". Doming os Rib eiro Fi-
lho. A Plebe, 23 .8.1 919 (42)
" Em São Paulo fec ham-se as esco las modern as".
A dél io . Spartacus, 29 . 11 .1 919 (43 )
" O rie ntação teatral " . Arsenio Palácios. Prome-
teu. Ano I, n," 1 (44 )

2 .4 . Revistas

2. 10 Ce ntro de Cul tu ra Soci al (Bases de A cord o) ( 1)


Gru po Dramático Teatra l Soc ial (Bases de A cord o) (2)

2 .1 0 Textos

" Os Dois Ladrões " . A ikin e Barbau lt ( 1)


" Sua Sant ida de" . A . de A ndrade Silva (2)
"Ter ror Noturn o" . Fábi o Luz (3)

138
4. PAPÉIS REPROD UÇÕES

4 .1 Xe rox

" Pri mo M agg io" . Texto teatral de Pietro Gori ( 1)


" Pr ime iro de Ma io " . Texto t eatral de P. Gori (2)
" O Pecado de Simoni a" . Texto teatral de eno
Vasc o (3)
" A o Relen t o " . Text o teatral de Afon so Schmi dt (4)
" O Cora ção é um l.ablrl nt o ". Texto t eatral de
Pedro Cat al lo (5)
" Uma M ulher Di f erente " . Texto tea t ral de Pedro
Cat al lo (6)
" Como Rola um a Vid a". Texto t eatral de Pedro
Cata llo (7)
" M isér ia" . Text o t eat ra l de Giovani Baldi (8)
" Hibel lion i " . Text o te at ral de Giovan i Baldi (9)
"G reve de Inqu i l inos". Texto tea tral de Neno Vasc o ( 10)
" M ar ieta , a Her oína" . Text o t eatra l de Isal tino
dos Sant os (11)
"O Inf ant ic ídio " . Text o te at ral de Mo tta A ssumpção (12)
" M i lit arismo e Misé ria" . Texto t eat ral de Ma rino
Spagnolo (13)
L'ldeale" . Texto t eatra l de Pietro Gor i (14)
"A Ins ensata" . Text o t eat ral de Pedro Cat all o (15)
" A Bande ira Prolet ár ia " . Texto teatral de Marina
Spagnolo . (16)
" Leão X , o Celerad o " . João de M ed ie is. Texto
t eat ra l de A. de An drade e Si lv a (17)
" Pedra que Rola" . Texto t eat ra l de José Oi ticica (18)
"Quem os Salv a" . Text o t eat ral de José Oiticica (19)
" A zalam " . Texto t eat ral de José Oiti cica (20)
" A Casa dos Mil agres " . Traduç ão de Pedro Cat all o (21)
" Os M or t os " . Flore ncio Sánch ez (22)
" II Diri tto di A mare" . Texto te atra l de M ax Nordau (23)
" Electra " . Texto teatral de Pérez Gald ós (24)
"La Via d'U sc ita " . Text o t eat ral de Ve ra Starkoff (25)
" II M aes t ro " . Text o tea t ra l de R. Rouse lle (26)
"H es ponsabili t à" . Texto t eat ral de Jean Grav e (27)

139
\
"Una Commedia Sociale". Texto teat ral de G.
Maiato (28)
" Trist e Carneval e" . Ano n. Texto t eat ral (29)
" Leone" , Texto t eat ral de M ario Rapisardi (30)
" ln M anciura ". Texto tea t ral de Alf red Savoir (31)
"L'Assalto ". Texto t eatra l de C. A. Traversi (32)
"II Viandante e l'Eroe". Texto t eat ral de Fel ice
Vezzani (33)
"La Lettera". Text o t eatra l de Jean Cont i (34)
" O Veterano da Liber dade". Texto t eat ral de Bap-
tista Diniz (35)
"E . Zola Innanzi ai Crocodilli ". Texto t eat ral de
Fel ice Bastera (36)
" Gaspa r, o Serralheiro " . Text o te at ral. Anon . (37)
" Avat ar " . Texto teatral de Marcell o Gama (38)
"O Último Quadro " . Texto tea t r al de Felipe Gi l (39)
" Terror Noturno". Peça cinem atog ráf ic a de Fábio
Luz (40)
"Prim eiro de Maio " . Texto teatral de Demetrio
Alati (41)
Poes ias e hinos (42)
" O Semead or ". Texto t eat ral de Avelin o Foscolo (43)
" Os Imi grant es " . Text o t eat ral de Marino Spagnolo (44)

4. 1 Xerox volantes

" Os Mo rtos" . A núncio /Programa - CCS (45)


" Uma Mulher Di fer ente". Anúncio/Prog rama
CCS (47 )
"O Poder das Almas " , pelo CCS (48)
CCS - di vul gação abertura Teat ro de Ensaio (49)
" Pense Al to " . Anúncio / Progr ama - CCS (50)
"A Som bra". Grandioso bail e familiar - CCS (5 1)
" A Sombra " . A núncio / Programa - CCS (52)
"Ciclone" . Anúnc io/Programa - CCS (53)
"A Insensata ". Anúncio/Programa (54)
" Tabu " . Anúncio/Programa (55)
" Nossos Filhos", (56)
Grande Festival Proletário - Salão Celso Garcia (57)
Confrat erni zação - 1.° de Maio - Itaim (58)
Associação Au xili adora das Classes Laboriosas (59)

4 .1 Xerox convites

Grandios o f estival artístico - CCS (60)


Grandioso festival artístico - CCS (61)
Gra ndi oso fe stival artíst ico - CCS (62)
Gra ndioso festival artístico - CCS (63 )
" Pense Alto", pelo grupo teatral do CCS (64)
Grandioso f est ival artístico (65)
Grandioso festi val artístico (66 )
"Feitiço " , pelo grupo teatral do CCS (67)
Grandioso f est ival artí st ico - CCS (68)
Gra ndi osa fest a (69)
Gr andioso f est iva l artístico - CCS (70)
Gran dioso festi val artíst ico - CCS (71)
Espetáculo t eat ral pelo CCS (72 )
Epetá culo tea tral pelo CCS (7 3)
Gran dioso f est ival artí stico - CC S (74 )
Fest ival com emo rativo : 1886-1948 (75)
Fest ival come morativo ao 1.° de M aio,
prom . CCS (76)
Fest ival Hispano-Americano (77)
Festival artístico (78)
Festival artístico (79)

4.1 Xe rox programas

" A o Relen t o" . Ato variado , pelo CCS (80)


" Os Guerrei ros" , pelo Labo ratório de Ensaio do
CCS (81)
" O Coração é um Labirinto " , pelo CCS (82)
" Os Mortos " , pelo CCS (83)
"O Coraç ão é um Labirinto , pelo CCS (84)
" O Poder das Massas ", pelo CCS (85)
" Ciclone ", pelo CCS (86)
" Tabu " , pelo CCS (87)

141
" Sombras", pel o CCS (88)
" Juego de Ni nas" , pelo Grupo Iberi a (89)
" Pense Al to " , pelo CCS (90)
" É Proi bid o Suic idar-se en Pr imavera" , pelo
Gru po Ib eri a (91)
" O Maluco da Aveni da" , pelo CCS (92)
" O que Eles Querem ", pelo CCS (93)
" M orena Clara" , pe lo Grupo Iber ia (94)
Expos ição inaugura l do Laborató r io de Ensaio (95)
Programação do Labor atór io de Ensaio (96)
" Deus lhe Pague " , pelo CCS (97)
"O Vagabund o" , pelo grupo da Uniã o dos
Operár ios em fá bricas de te cid os (98)

4.1 Xerox correspondência

Carta ao prefeit o so li cit ando o Ci ne-Teatro


Oberdan para o CCS (99)
Carta ao pr efeit o soli citando o Teat ro Colombo
para o CCS (100)

4.1 Xerox críticas e reportagens

Cent ro de Cult ura Social. Pedro Catall o


" O Libertário " , j unho-j ulho, 1963 (101)
" Teatro Soc ial em São Paulo" . Ação Direta.
set. 1968 (102)
Festival Art íst ico do Cent ro de Cult ura Soc ial.
A Plebe, 1. . 10 . 1957
0
(103)

4.1 Xerox vários

Convocação dos sócios do CCS (104)


Camp anha pró reabertu ra do CCS (105)
Proposta de sócio - CCS (106)
A lvará de funci onamento do Dei para o CCS (107)
A lv ará da Prefeitura para o CCS (108)
A lvará do Jui zado para o CCS (109)
SBATjUBC - direito de apresentação para o CCS (110)
SBAT - guia de recolhimento - "Ao Relento",
de A. Schm id t (111)

1A')
5. ÁUDIO

5 . 1A Cassett es

Entr evista com os ant igos part icipant es do Grupo


Teatral do Centro de Cultura Soc ial (Ger minal
Leuenrot h, Jayme Cub eros, Cub ares Neto. M ar ia
Valve rde e Cec íli a Di as) (1 /2 )
Entrevista com o atu al pr es iderue do Guglie lmo
Obe rdan (3)

6. VISUAL

6 .4A Diapositivo s

A sso ciação das Classes Labo r iosas (s alão), Gu-


glielmo Oberdan (s alão de teatro e sal ão de baile,
fachada), Ci ne-Teat ro Oberd an (fac hada, ent rada
dos arti stas), participant es do Gru po Teat ral do
Ce nt ro de Cultura Social. pano de boca do t eat ro
da Feder ação Oper ária (1/ 228)

143
PESQUISA : CORPO DE BAILE MUNICIPAL

Supe rv iso ras da Á rea: M ARIA THEREZA VARGAS (até março 1978) /
RENI CHAVES CARDOSO (a partir março 1978)

Pesquisador : L1NNEU DIAS

Dat a: setemb ro 1976 a julho 1977

Objeti vos: Det er minar os moti vos que le varam a Pref ei t ura M unicip al a
agir nesse setor cultural. quais as molas inici ais dessa ação, como se
des envolveu o processo e qual sua sit uação pre sente. Estudo e organ i-
zação da entidade ; di f iculd ades e pr ob lem as.

4. PAPÉIS REPRODUÇ ÕES

4.1 Xerox

Programa, ·7 . 4. 69 (" Les sylph ides" , " Coppelia",


" M aracat u") (1)
Pro grama. 23. 5 . 69 ("Le s sylphld es" , " Coppelia" ,
" M aracat u ") (2)
Programa, 25 . 5 .6 9 ("Les sy lphides ", "C oppelia",
" Ma racatu " ) (3)
Programa , 16 .11 . 69 ("La go dos cis nes", " Div ert i-
mento" , "Noite de Valpurg is ") (4)
Programa, 18 .1 1. 69 ("Lago dos cisnes" , "D iverti -
mento", " Noit e de Valpu rgis " ) (5)
Progr ama, 25 . 11 .6 9 (" Lago dos cisnes " , " Di verti-
mento " , " Noite de Valpurgis ") (6)
Programa, 14 . 12 .69 ("Sere nata ", " ln memoriam " ,
" Dança s indígenas") (7)
Pro grama , 21 .3 .70 (" Carmina burana") (8)
Pro gram a, 20.3 .70 ("Carmina burana " ) (9)
Prog rama, 22.3 .70 ("C armina burana") (10)
Programa, 13 . 4. 70 (Pr imei ro Encontro dos Parques
Infa-ntis, "Les sylphides" , " ln memoriam" , "Dan-
ças indigenas") (11)
Program a, 15 .7 .7 0 ("Carm ina burana") (12)
Programa, 18.7 .7 0 ("Carm ina bura na") (13)
Programa , 17.8.70 ("Gise le") (14)
Programa , 18.8 .70 (" Divert iment o" , "ln mem o-
ri am ", " A legr ia e glória de um povo ", "Ma-
raca t u" ) (15)
Prog rama , 24 . 11 . 70 (" Galaah" ) (16?

144
Pro grama, 26 . 11 . 70 (" Galaah ") (17)
Prog rama, s/ d (" Galaah") (18)
Prog rama, 10 . 7 . 71 (" Lago dos cisnes " , " Di vert i-
mento " , " Noit e de Valpu rgis " ) (-19)
Programa, 31 .7 .71 ("Lag o dos cisnes" , " A bem -
amada", " ln me moriam " , " Noi t e de Val purgis ") (20)
Prog rama, 22 .8 .71 (" Les syl phl des " , Ópe ra: O
maest ro de Capela, " ln mem oriam " ) (2 1)
Pro gram a, 21 .10 . 71 (Ópera: O el ixi r de amor ) (22)
Programa. 8 . 11 . 71 (Ópera : O elixi r de amo r ) (23)
Pro gra ma, 18 . 11 . 71 ("O mae stro de Cape la" , "ln
memoriam" , " O tele fone ") (24)
Programa , 20 . 11 .7 1 ("O maestro de Capela", "ln
memo riam " ) (25)
Progra ma, 3 .1 2 . 71 (" Diagr ama", "G rand pas-de -
deu x " , "Coppe ll a" ) (26)
Programa, 11 . 3 . 72 (" Ser enata" , "Ad ági o da rosa",
" A legr ia e gl ór ia de um povo " ) (27)
Programa, 10 .3 . 72 . (" Serenata ", " Adágio da ros a" ,
"Aleg ri a e glór ia de um povo " ) (28)
Programa , 12 .3 .7 2 (" Sere nata" , " A dágio da ro sa" ,
"Al egr ia e glória de um pov o") (29)
Programa, 24 .9 .72 (" II guarani ") (30)
Prog rama , 29 .9 . 72 (" Diagrama", " ln memori am",
"O milagre " ) (31)
Programa, 1.° . 10 . 72 ("D iagrama ", " ln me mori am" ,
" O milagre") (32)
Programa, 22 .7 . 73 ("Les sylphides " , "ln memo-
riam " , " Noit e de Valpu rgis" ) (33)
Prog rama, 9 . 9 . 73 (" Poesia dos deuses", " A dage" ,
" Hé" ) (34)

4 .6 Ampliações fotográficas (18 x 24)

" A s sílfides" (1/20)


"Adág io da rosa " (21/28)
" D. Quixote " (29/40)
"O elixi r do amor" (41/47)
"O milagre " (48/62)
" . . . Ivonice Sat ie" (63)
" Noite de Valpu rg is " (64/70)
" Lago do s cis nes" (71/84)

145
"Danças húngaras" (85/ 89)
"O guarani" (90/91)
"ln memoriam " (92/ 97)
" Serenat a de Mozart" (92/ 103)
" M aracat u" (104/ 110)
" Pas-de-quat re" (11 1/1 12)
" Coppel ia" (113/ 124)
"Di agrama" (125/ 129)
" Divertimento " (130/ 132)
"P araíso " (133/ 14 1)
" M edéia" (142/ 151)
"U ma das quatro'.' (152/1 72)
"Galope" (173/ 180)
" Cenas" (18 1/ 189)
" Sem t ít ulo" (190/1 98)
" Soledad" (191/ 208)
" Corações futurist as" (209/ 231)
"M ulheres " (232 /254)
"Canções" (255/ 272)
" A pocal ip sis " (273/ 283)
" Nosso t empo" (284/ 292)
"Danças sacr as e profanas" (293/ 303)
" Puls a ções " (304 / 316)
" Opus" (31 7/ 330)
" Era uma vez " (331/ 348)
"P ercussão para oito " (349/ 361)

5. ÁUDIO

5 . 1A Cassett es

Patty Brown (dançarina/entrevista) (1)


A. Carlos Cardoso (coreógrafo/entrevista) (2)
A . Carlos Cardoso (coreógrafo/entrevista) (3)
A. Carlos Car doso (coreógrafo/entrevista) (4)
Carlos Demitre ( dançari no/ ent rev ist a) (5)
Carlos Demitre (dançarino/entrevista) (6)
Paulo Nathanael (entrevista) (7)
Elenice Ferreira (dançarina/ ent revist a) (8)

146
José Luiz Paes Nu nes (ex-diret or do DC ) (9)
Lia M arques (dançar ina/ ent rev ist a) ( 10)
M ar íl ia Franco (co reógraf a/ ent revi st a) (11)
Luiz M endonça de Fr eitas (ex-SMC) (12)
Ivonice Satie (dançar ina/ ent revi st a) (13)
M ar ilena A nsaldi (dançar ina. c or eóg rafa/entrev.) (14)
M ari lena A nsa ldi (danç ar ina, coreó graf a/entrev .) (15)
Sábat o Ma galdi (at ual SCM) (16)
Si dney A stol f i (dançar ino/ ent rev ista) (17)
Vict or Navarr o (coreógraf o/ ent rev ist a) (18)
Johnny Fran kli n (ex -di ret or do CBM / entrev :) ( 19)
Gilbert o Panicali (ent revi st a) (20)
Lígia Leit e (entrevista) (21)

6. VISUA L

6 . 1A Negat ivos 35 mm (254)

6 . 4A Diapositivos 35 mm

Co rpo de Baile (ensaios) (1/103)


"Apocali ps is " (espet áculo) (104/ 116)
"U ma das quatro " (espet áculo) (1 17/ 124)
"Canções " (esp et áculo) ( 125/1 51)
" M ulheres " (espet áculo) (152/ 160)
"C oraçõ es f ut ur ist as" (espet áculo) (161/ 200)
" osso t empo " (espet áculo) (201/ 206)
"Pu lsações " (207/ 211)

6 . 78 Fi lm es 16 mm

" Ap ocal lpsis" - coreog ra fia de Vi ctor Navarro .


co lor ido - direção de A loysio Raulino , 26 m m sonoro (1)

A denda :

2. PAPÉIS DATILO GRA FA DOS

2 .4 Ent revi st as

Jess ia Port o (diret ora -M unic ipal) (1)

147
Marília Franco (coreógrafa) (2)
Lia Marques (dançarin a) (3)
Luiz M endonça de Freitas (ex-SMC) (4)
Paulo Nathanael (5)
A. Carlos Cardoso (coreógra fo) (6)
Elenice Ferre ira (dançarina) (7)
Carlos Demi tre (dançarino) (8)
Iva nic e Sat ie (dançari na) (9)
Lígia Leit e (10)
Mari len a Ansaldi (dan çarin a/co reógrafa) (1 1)
Pat ty Brow n (dançarina) ( 12)
Sábat o M agaldi (at ual SMC) ( 13)
Vi ct or Navarr o (coreógrafo ) (14)

148
PESQUISA : ENCENA NDO QORPO SANTO - UM PROCESSO
DE CRIAÇÃO M ARGI NAL
Supervisoras da Ar ea: MA RIA THEREZA VARGAS (at é março 1978) /
RENI CHAV ES CARDO SO (a partir março 1978)
Pesq uis adores : CARLOS E U G ~ N I O MAR CONDES DE MOURA/CLAUDIA
DE ALENCAR BITTENCOURT (Ar ea de A rtes Cênicas)/CHRISTINE CON·
FORTI SERRONI (Área de Lit erat ura)/ JOÃ O BAPTISTA NOVELLI JUNIOR
( Área de Arqu itetu ra)
Data : setembro 1976 a f evereiro 1977

Objetivos: Acom panhament o. por parte dos pesqu isadores . enquan to


observ adores part icipant es, de um processo de cr iação te atra l exerci do
à marg em do sistema, e rela tivo à encenação de peça s e verbetes cons-
tantes da Enc iqlopéd ia ou seis meses de uma enferm idade , do escr it or
. José Joaqui m de Campos Leão Qorpo Santo . Tentat iva de pesquisa
interdisc iplinar.

1. PAPÉIS IMPRESSOS

1. 3A Glorific ação d'al ma ( 1)

2. PAPÉIS DATILOGRAFADOS

2. 1 A nál ise do pro ces so de cr iação (f ormaçã o do


Grupo Lant erna de Fogo. Etapas do t rabalho,
complement ação através dos t ext o,s em anex o) (1)
Visão crítica do grupo sobre Qor po Sant o (2)
Relaç ões dos anexos (3)
Dive rsos sob re Qor po Santo (4)
Reuniões. Debates (9 de set . a 24 de nov.) (5)

2 .4 Entrevistas

Alice Gonçalves (grupo) (1)


Blue tte Santa Clara (grupo) (2)
Carlos de Moura (grupo) (3)
Cláudia de. Alencar (grupo) (4)
Flávio Fonseca (grupo) (5)
Heloísa C. Bueno (gr upo) (6)
J. Baptist a Novelli (grupo) (7)
J . Lúcio Albuquerque (8)
Liliane Barabino (grupo) (9)

149
Luiz Galizia (grupo) (10)
Marce lo An toniazzi (gr upo) (11)
M. A rgent ina Bibas (grupo) (12)
M ino ra Narut o (grupo) (13)
Mônica Oli va (gru po) (14)
Ricardo Lobo (gr upo) (15)
Victor Noszek [grupo) (16)

4. PAPÉIS REPRODUÇÕES

4.1 Xerox críti cas e reportagens

Oorpo Santo . Dario de Bittencourt . Corr eio do


Povo. PA , 13.8 . 1966 (1)
A lgumas idéi as de O. S. Dari o de Bittencourt.
Correio do Povo . PA, 24. 8 . 1966 (2)
Oorpo Santo . Al varo Port o Aleg re, PA , 27. 8. 1966 (3)
"Oorpo Santo . a surpresa da semana" . Guil her-
mi no Cesar. Correio do Povo. PA . 25.8 .1966 (4)
" Ouern tem medo de Oorpo Santo? " Jeffer son
Barros. Correio do Povo. PA, 31. 8. 1966 (5)
" O enferm o Oorpo Sant o e o modernismo " ,
Olyntho Sanmart in. Correio do Povo. PA, 12. 3 ,
1967 (6)
" O sensacional Oorpo Sant o" . Van M ichalski.
Jornal do Brasil. RJ, 8 .2 . 1968 (7)
" Grup o levar á aut or gaúcho" , O Estado de São
Paulo, 17 ,2 . 1968 (8)
" Teatro de Oorpo Santo ganha corpo" . Folha de
S. Paulo, 20 , 2. 1968 (9)
" Teatr o e a ção". O Estado de São Paulo, 16.4 .
1968 (10)
" Oorpo Santo . do mit o à realidade". Guilhermi no
Cesar . Jornal do Brasi l. RJ, 4. 5 . 1968 (11)
"P ri mei ra crítica" . Van M ichalski. Jornal do Bra-
sil. RJ, 15.5 . 1968 (12)
" Em cena as loucuras do dr. Oorpo Santo . que
não são assim tão loucas". Van Michalski. Jorna l
do Brasil. RJ. 17 ,10 . 1976 (13)
" Um autor maldito? Nem tanto ", O Diário. Pira-
clcaba , 15.1 0 .1976 (14)

u:: n
4.1 Xerox doe. censura

Matheus e Matheusa (15)


As relaçõe s naturais (16)
Eu sou vida, eu não sou morte (17)

4.1 Xerox anúncios

Oorpo Santo um século depo is (18)


Eu sou vid a, eu não sou mort e (19)

4.1 Xerox livros

Fotocópia da edi ção orig inal de Enciqlopédia . Ll-


vro 4 (20)
As relações naturais e outras comédias. José
Joaquim de Campos Leão Oorpo Santo (21)
Os homens precários. Fl ávio Aguiar (tese de
mestrado em Teoria Literária) (22)

4 .6 Ampliações fotográficas 8 x 12 p / b, 12 x 18 coI.

Sede, local , espaço cên ico (1/15)


Ensaios , improvisações (16/ 276)
Púb lico (277/279J
Atores (1/24)
Element os cên ico s (25 /26)
Espetáculo (27 /76)

5. ÁUDIO

5 . 1A Cassettes

A impossib ilidade da santificação atividades (1)


A. impossibilidade da santificação atividades (2)
A impossibilidade da santificação atividades (3)
A impossibilidade da santificação atividades (4)
A impossibilidade da santificação atividades (5)
Diversos (6)
Espetáculo trípl ice (7)
Espetáculo t rípl ice (8)
Espetáculo tríplice (9)

151
6. VISUAL
6 .1A Negativos coI.
Ensaios/ Espetá cu los (37)
Negativos p/b
Local, ens aio s , exe rcí cios (299)

6.4A Slides
Espetácu lo (20)
6 .7 A Filmes coI.
Exer cícios do grupo . Reali zação de Victor Noszek ( 1)
Espetáculo. Realização de Vict or Noszek (2)
Eu sou vida. eu não sou morte . 14 mino Sonoro .
Reali zação Haroldo Mari nho Barbosa . Elenco :
Tetê Medina, José W il ker e Renato Machad o ( 1)

BIBLIOGRAF IA CO NTEMPORÂNEA SOBRE TEATRO BRASILEIRO


Materia l coletado pelo pesquisador CARLOS EUGÊNIO M . DE MO URA
Objetivo: Arrol amento e f ichame nto de f ont es cont empor âneas , sec un-
dár ias e imp ressa s, a partir do teatro j esuít ico e até 1976, apare ci das
sob for ma de art igos, ensaio s ou pequenas mo nografias , em publica-
ções pe riódica s (jorn ais e rev ista s espe cializadas, nacionais e es-
t rangeiras), t endo por objetivo agrupar estudos que no mo ment o apr e-
'sent am-se espar sos e de difí cil local izaçã o.

2. PAPÉIS DATlLOGRAFADOS
2 .10 Fichas - 4 x 6 Temas
A rqui tetura t eatral
Artistas associados
Artistas unidos
Ass istência social
Autores
Atores
Atrizes
Bibl iotecas
Bibliografia
Bienal das Art es Plásticas de Teatro
Ceno grafia - Cenógrafos
Cenotécnicos - Contra- re gras
Cens ura

1S?
Os comediantes
Congressos - Encontros - Simpósios
Cia. Bibi Ferrei ra
Cia. Dram ática Brasileira
Companhia Nyd ia Licia - Sérgio Cardoso
Coral falado
Crítica e crítico s
Crítica - Encenação de peças br asileiras
Crítica - Escol as de te atro
Crítica - Teat ro amador
Crítica - Teatro universitário
Crítica - Teatro profissional
Cr ítica - Encenação de peças es trangeiras
Cr ítica - Escolas de t eat ro
Crítica - Teatro amador
Crítica - Teat ro unive rsitário
Crítica - Teat ro pr of is si onal
Debates
Declamação
Di cionários
Direito autoral - Jurisprudênci a
Di re ito autoral - Conc ursos
Diretores
Dramaturgia - Autores brasileiros
Dramaturgia -- Concursos
Dramaturgia enc enada - Estatísticas
Dr amaturgia est rangeira encenada no Brasil
Empresários - Produt ore s
Ent idades govername nt ais
Entidades patronais
Ensino de teatro
Exposições
Eva e seus artistas
Figurinos
Grupo Ensaio
Grupo Oficina
Grupo Studio São Pedro
Ingressos

153
Interpretação
Legislação
Leituras dramáticas
M ági.cas
M em ór ias - Reminiscências
Mú sicos de teatro
Peças de tea tro - Sinopses
Periód icos
Prêmios
Previdência social
Programas
Públ ic o
Resenhas
Subvenções oficiais
Teat ro amador
Teatro amador - Fest ivais
Teatro e abol ição
Teat ro aplicado à educação
Teat ro de Arena
Teatro de bonecos
Teat ro Brasilei ro de Comédia
Teatro brasi le iro contemporâ neo
Teat ro brasil eiro no ext erio r
Teat ro de brinquedo
Teatro e car ic atu ra
Teatro e cinema
Teat ro de cos tumes
Teatro e carnaval
Teatro e o cego
Teatro e dança
Teatro de emergência
Teat ro de estudantes
Teat ro experimental
Teat ro - História - Biógrafos
Teatro - História - Brasi l
Teat ro - História - Bahia
Teat ro - História - Compa nhias est rangeiras no Brasil
Teatro - História - Inde pendência

154
Teatro - História - Imperadores
Teatro - História - Goiás
Teatro - História - Rio Grande do Sul
Teatro - História - Rio de Janeiro
Teat ro - His tória - São Paulo
Teatro - Hi st ór ia - Tempo colonia l
Teatro in fantil
Teat ro de juventude
Teatro e literatura
Teatro e modernistas
Teatro musicado
Teatro negro
Teatro no Nordeste
Teatro no Estado - Ceará
Teat ro no Estado - Espírito Santo
Teatro no Est ado - Goiá s
Teatr o no Est ado - M inas Gerais
Teatro no Estado Pará
Teat ro no Esta do - Paraná
Teat ro no Estado - Pernambuco
Teatro no Estad o - Rio Grande do Norte
Teat ro no Estad o - Rio Grande do Sul
Teat ro naturalis t a
Teat ro popu lar
Teat ro Popular de Arte
Teat ro e romantismo
Teatro e televisã o
Teatro universitário
Teatros - Amazonas
Teatros _0Ceará
Teatros - Espírito Santo
Teatros - Fernando de Noronha
Teatros - Goiás
Teat ro s - Maranhão
Teatros - M inas Gerais
Teat ros - Pará
Teat ros Paraná
Teat ro s - Pernambuco

155
Teatros - Rio Grande do Sul
Teatros - Rio de Janei ro
Teatros - São Paulo
Temporadas teatra is - Balanços
Temporadas teatrais - Est at íst icas
Temporadas teatrais - Resenhas
Tempo radas teatrais - Belo Horizonte, Rio e São Paulo
Tem poradas tea t rais - Rio de Janeir o
Temporadas t eat rais - Rio e São Paul o
Temporadas tea t rais - São Paulo
Teses
Traduções
Tít ulos de peças (1/ 136)

ARQUI VOS'

Arquivo Fotográfico Fredi Kleeman

Respons ável pel o A rquivo : M ARIA LÚCIA PEREIRA

2. PAPÉIS DATILOGRAFADOS

2 . 10 Fichas t écni cas dos espet áculos docum entad os


pelo fotógrafo (1)

6. VISUAL

6 . 1B Negativos - 6x6

- Espet áculos do Teat ro Brasileiro de Coméd ia


Espet áculos do Teatro Intimo Nice tte Bruno
Teatro das Segundas-F eiras
Escola de Arte Dramática
Espetáculo da Cia . Del miro Gonça lves
Espet áculos do Teatro Cacilda Becker
Espetáculos da Cia. Nydia Licia - Sérgio Cardoso
Espetáculo do Teat ro Ofic ina: " O Rei da Vela "
Espetáculos do Teatro Popular do SESI
Recital de Victorio Gassman
Carrocel - danças

1!>R
Personal ida des do t eat ro paulista [1/12000)
Arquivo Teres a Mo ura Bastos

Materi al cedido por empréstimo para rep roduç ão, con tendo parte do
acervo documen t al do Grupo Oficina
Responsável pelo arqu ivo: CARLO S EU G~NIO M . DE MOU RA

4. PAPÉIS REPRODUÇÕES

4 .1 Xerox

"0 Rei da Ve la " . Texto de Osw ald de Andrade ( 1)


"G racla s, Sefior" . Cria ção do Grupo (2)
" Canudos" . Cri ação do Grupo (3)
"Os Pequenos Burg ues es". Texto de M áximo
Górki (4)
"Os Inimigos ". Texto de Má x imo Górki (5)
" As Três Irmãs" . Texto de An to n Tchekhov (6)
" Na Selva das Cidad es" . Texto de B. Brecht (7)
"Ga li leu Galil ei " . Texto de B. Brech t (8)
"Mahagonny ". Texto de B. Brecht (9)
A notações, cadernos. recortes, crí t icas (10)
Corre spondência , edi t ais, pla nta-b aixa. borderaux.
depoim entos [11]

4 .6 Ampliações fotográfica s - 18 x 24
"A lncubadel ra" , "Vento Fort e para um Papagaio
Subir ", "A Vida Imp ressa em Dól ares " , " A ndor-
ra" , "Os Pequenos Burgueses", "Quat ro num
Quart o" , " O Rei da Vel a", "Os Ini migos", " Na
Selva das Cidades ", " Gali leu Galilei " , "Graclas,
Sefior "
Excursão, pessoal do Grupo [1/400)

Arquivo Francisco da Silva Costa


Responsá vel pelo Arquivo : MARIA LÚCIA PEREIRA

1. PAPÉIS IM PRESSOS
1.2 A rt igos sob re te atro brasil eiro e portugu ês [1/480)
1 .3A Cartazes [ anúnc ios de espetáculos e f ilm es le-
vados nos ci nemas Eden e Avenida, em Espíri to
Sant o do Pinhal ) [1/120)

15 7
DOCUMENTOS - VÁ RIOS

4. PAPÉIS REPRODUÇOES

4 .1 Xerox

Projeto de construção de um teatro, de aut oria


de Luís Carlos Ripper (1)
Recortes de jornal e fotos sobre o Grupo Mam-
bembe. de São Paul o, e sua excursão aos t err l-
tórios e ao Cent ro-Oeste (2)
Documentos sob re a encenação de "A Capital
Federal", em São Paulo . pelo Grupo de Cleyde
Váconis (3)
Recort es, notícias e comentários sobre a enc e-
nação de "A Noite de Iguana", pelo Teat ro Ca-
cilda Becker, no Rio de Janeiro (4)

4 .6 Ampliações fotográficas

O bailado do deus morto (Oswald de And rade) (1/ 11)


Casa Teatral (1/ 14)

5. ÁUDIO

5.2A 78 rpm

"P ega-fogo" , de Jules Renard. com Cacilda Be-


cke r , Zl ernblnsk l. Wanda de Andrade Hame l e
Cleyde Váconis (gravação origi nal - primeiras
aprese ntações da peça) ( 1)

5 .2C 33 rpm

"Isso Devia Ser Proibido" , texto de Brául io Pe-


droso e Walmor Chagas . Mús icas de Júli o Me-
daglia (2)

5.1B Rolo -

Cópia da gravação referida em 5 . 2A - 78 rpm (1)

ANUÁRIO - 1977

Fichas técnicas sobre espetáculos levados no ano de 1977 (teatro ofi-


ciai, teatro amador, estrangeiro. infant il. alternat ivo. estudant i l) , bem
como reci tais , conferênc ias, leituras dramáti cas, prog ramas de TV com
artista s de tea tro. Relação das escolas de t eatro, cursos , livros e teses .
Obituário . Prem iações.
A com panham as fichas notas sobre a Casa Teatral , O sindicato, A
Casa do Ator e os rest aurant es como ponto de encontro dos art ist as
de t eatro.

COBERTURA DE EVENTOS

1975 - Verif icar Pesquisa 1 da Área de Art es Cênicas


1976

1. PAPÉIS IMPRESSOS

1.8 Programas

" Os lks " ( 1)


" A legro Desburn" (2)
" Mockinpott " (3)
" Dr . Knock " (4)
" Pano de Boca " (5)
" Concert o n.O 1" (6)
"Laço de Sangue " (7)
" A Mo ratória" (8)
" A Noi te dos Campeões " (9)
" Seria Cômico se não Fosse Sér io" ( 10)
" Mahagonny " ( 11)
" Vamos Brincar de Papai e M amãe Enquant o Seu
Freud não Vem " ( 12)
" Bonif ácio Bilhões " [ 13)
" Por Dentro/Por Fora" (14J
"A Margem da Vida " ( 15)

2. PAPÉIS DATILOGRAFADOS

2.4 Entrevistas

Paulo Autran ("Dr. Knock") (1)


Jorge Andrade ("A Mo ratória ") (2)
Fauzi Arap ("Pa no de Boca") (3)
Fernando Peixo to í " Mahagonny ") (4)

159
5. ÁUDIO

5 . 1A Cassettes

Paulo Autran (" Dr . Knock") ( 1)


Jorge And rade ("A Mo rat ória") I e II (2)
Fauzi Arap (" Pano de Boca") I e II (3)
Fernando Peixoto (" M ahagonny") (4)
A ntônio Abu jamra (5)
M aril ena Ansa ldi e cria dore s de " Por Dentro/
Por For a" (6 )
Marilena An saldi (7 )
Debat e sob re a peça " Pano de Boca " (8)

5. 1B Rolo

"Alegr o Desbum " (gravação do espetácu lo) (1)


"Mockl npott " Idem (2)
"D r. Knock " Idem (3)
"Pa no de Boc a" Idem (4)
" Gent e Fina é Out ra Coisa" Idem (5)
" Concert o n.o 1" (6)
"A Mor atór ia" Idem (7)
" A Noit e dos Campeões" Idem (8)
" Seria Cômico se não Fosse Sério" Idem (9)

1976

5 .1 B Rolo

"Mahagonny" (gra vação do espet áculo) (10)


"Vamos Brin car de Papai e Mam ãe Enquanto
Seu Freu d não Vem" (gravação do espetá culo) (11)
" Bonifácio Bilhões " Idem (12)
"P ont o de Partida" Idem (13)
" A Rain ha do Rádio" Idem ( 14)
"À M argem da Vid a" Idem (15)
"Mumu" Idem (16)
"Carl a, Gigi e Margot" Idem (17)
"Dorot éla Vai à Guer ra" Idem (18)

160
"Tudo Bem no A no que Vem" (grav ação do
espetáculo) (19)
"A Flor da Pele" Idem (20)
"A Bolsinha Mágica de Marly
Emboaba" Idem (21)

4. PAPÉIS REPRODUÇÕES

4 .6 Ampliações fotográficas 18 x 24 - P/b

" Os Iks" (espetáculo) (1/78 )


"Feira do Adultério " Idem (79/ 110)
" A legro Desburn" Idem (110/1 38)
" Gaiola das Loucas" Idem (139 /167)
"Morro do Ouro" Idem (168/195)
" Mocklnpott " Idem (196/21 9)
"Dr. Knock " Idem (220 / 265)
"Pano de Boca" Idem (266/3 13)
" Gent e Fina é Outra Coisa" Ide m (314/371)
" Concert o n.O 1" Idem (372 / 4 17)
"Laço de Sangue " Idem (418/455)
"A Moratória" Idem (456/495)
" A Noite dos Campeões" Idem (496 /537 )
"Tempo de Espera" Idem (538 / 562 )
" Seria Cômico se .. . " Idem (563 / 611)
"Mahagonny " Idem (612/680 )
" Vamos Brincar de Papai e Mamãe
Enquanto Seu Freud não Vem" Idem (681(720)
"Bonifácio Bilhões" Idem (721/760)
"Ponto de Partida" Idem (761/809 )
"A Rainha do Rádio" Idem (810/824)
" Romance" -Idem (825/859)
" Os Homens" Idem (860(875)
"Por Dentro/Por Fora " -Idem (876/919)
"A Margem da Vida" Idem (920(974)
"Sai de Mim Tinhoso"
"Tudo Bem no Ano que Vem" ldera (975/980)
"A Bolsinha Mágica de Marly
Emboaba" Idem (981/1020)

161
6. VISUAL

r.. 1A Negativos - 35 mm

" Os Iks" (esp et áculo) (1/102)


"Feira do Adultério" Idem (103/ 149)
"Al egro Desb um" Idem (150/ 180)
" Morro do Ouro" Idem (181/21 7)
" Moc kinpott" Idem (218/244)
" Dr. Knock" Idem (245/298)
"P ano de Boca" Idem (299/382)
"Gente Fina é Out ra Coisa" Idem (383/ 454)
"Conce rto n.O 1" Idem (455/ 663)
"Laço de Sangue" Idem (664/821 )
" A Moratóri a" Idem (822 /86 1)
"A Noite dos Campeões" Idem (862/ 903)
" Tempo de Espera" Idem (904/ 943 )
"Se ria Cômi co se não Fosse
Sério" Idem (944 / 1114)
" Mahagonny " Idem (1115/1298)
" Vamos Brincar de Papai e Mamãe
Enquanto Seu Freud não Vem" Idem (1299/1366)
"Bonifácio Bilhões" Idem (1377/1 507 )
" Pont o de Part ida" Idem (1508/ 1587)
"A Rainha do Rádio" Idem (1588 / 1641)
"Romance" Idem (1642 /1736)
" Os Homens" Idem (1737/ 1771)
"P or Dentro/ Por Fora" Idem (1772/1 816)
" A Margem da Vida " Idem (18 17/1 900 )
" Tudo Bem no Ano que Vem" Idem (190 1/ 2041)
Fachadas de t eatro em São Paulo Idem (2042/ 2058)

6 . 4A Diapositiyos - 35 mm

" Os lks" (espetác ulo) (1/ 20)


"Fe ira do Adultério" Idem (21/37)
" A leg ro Desbum" Idem (38/5 3)
"Gaiola das Loucas" (espetáculo) (54/66)
"Morro do Ouro" Idem (67/71 )
" M ockinpot t " Idem (72/83)
"D r. Knock " Idem (89/109)
" Pano de Boca" Idem (110/127)
" Gent e Fin a é Outra Coisa" Idem (128/146)
" Concert o n.o 1" Idem (147/158)
"Laço de Sangu e" Idem (159/1 70)
" A Moratór ia" Idem (171 /184)
"A Noite dos Campe ões" Idem (185/ )
" Tempo de Espera" Idem (185/199)
" Ser ia Cômico . . . " Idem (200/212 )
" M ahagon ny " Idem (213/229 )
" Vamos Brinc ar de Papai e Mam ãe
Enquanto Seu Freud não Vem " Idem (230/ 311)
" Bonif ácio Bilhões" Idem (312/32 1)
" Romance" Idem (322/ 348)
" Os Homen s" Idem (349/ )
"Por Dentro/ Por Fora" Idem (349/377)
"À Margem da Vida" Idem (378/417)
" Sai de M im Tinhoso " Idem (418/ 434)
" Tudo Bem no Ano que Vem" Idem (435/456)
Fachadas de t eat ro em São Paulo (457/533)

1976

Adenda:

1. PAPÉIS IMPRESSOS

1.6 Cartazes

" Os Iks " (1 )

4. PAPÉIS REPRODUÇOES

4 .6 Ampliações fotogr áfi cas - 18 x 24

Fachadas de ·t eat ro em São Paul o (13)

163
TEATRO ESTRANGEIRO

II Festival Internacional de Teatro

1. PAPÉIS IMPR ESSOS

1.3D Catálogo ( 1)

1.8 Programas

" Les Mille et une Nui t s de Cyrano de Berge rac " (1)
"Maitre et Serv iteur" (2)
"Voltalre's Folies " (3)
"Tête d'Or" (4)
"Heln . oo?" (5)
"Ca lígula" (6)
"La Revolución" (7)
" Pranzo di Famiglia" (8)
" La Morte della Geome t ri a" (9)
"Allias Serralon ga" ( 10)

1. 6 Cartazes
"I nouk" ( 1)
" Eis Jogl ars (2)
"Calígula " (3)

5. ÁUDI O

5 . 1A Cassettes
Representantes da França (ent .) ( 1)
Representantes do Irã Ie nt. ) (2)
Representantes da Islândia Ien t.l (3)
Representantes da Espanha (ent.l (4)
Representantes de Uganda (ent.l (5)
" A l li as Serralonga" (espetáculo) (6)

60 VISUAL

6 04A Diapositivos
"Renga Moi" (espetáculo) (1/ 14)
" Calí gula" Idem (15/36)

1~A
"Hein . . . 7" (espetá culo) (37 / 46)
"P ranzo di Fami gli a" Idem (4 7/ 60)
"La Morte della Geomet ria" Idem (6 1/ 67)
" lndian Danças " Idem (68/7 6)
1976
TEATRO ESTRA NGEIRO

6. VISUAL

6 . 4A Diapositivos

" A ll ias Serralonga" (es petáculo) (77/1 09 )


" lnouk" Idem ( 110 / 120)
" Les Mille et une Nu its de
Cyrano de Bergerac" Idem (121 /123)
"Tête d' Or " Idem ( 124 /129 )
" La Revoluc ión" Idem ( 130 /1 40 )

1977

1. PAPÉIS IM PRESSOS

1.6 Cartaz es

" Pont o de Luz" ( 1)


"Lua de Neon" (2)
"M aflor " (3 )
" A Morte do Cai xeir o Viajante" (4)
" M ort e e Vid a Severi na" (5)
"Os Filhos de Ken ned y" (6)
" A d ló s Geralda " (7)
" Pedr ei ra das Almas " (8)
" O Poet a da Vila" (9 )
" Delí r io Tropical " (10 )
" Pequenas Histór ias de Lorca" (11)
" Belos e Mal ditos " ( 12)
" A Inf id el idade ao Alcanc e de Todos " ( 13)
" Cerimôni a par a um Negro Assassinad o" ( 14)
" Comp uta , Computador, Computa " ( 15)
" Os Pequ eno s Burgueses " ( 16)
"Foll ias Bíbli cas " ( 17)

165
"E scuta, Zé" (18)
"BrechtjW eill " ( 19)
" Maratona" (20)
" Chá e Simpatia" (21)
" Crimes Del icados" (22)
" O Santo Inquérito" (23)
" Mort os sem Sepultura " (24)
"B oy M eets Boy " (25)
" O Diário de Anne Frank" (26)
"O Últi mo Carro " (27)
" Esperando Godot " (28)
"Domingo Zeppelin" (29)
"A Orgia" (30)
"T lde Moreyra e sua Banda de Najas" (3 1)
"A Viagem de Pedro. ji Afortunado" (32)
"Onde Cant a o Sabiá" (33)

1 .8 Programa s

"Cancão de Fogo" (1)


" A Farsa da Noiva Bombardeada" (2)
" Pont o de Luz" (3)
" O Processo" (4)
"M achado de As sis est a Noite" (5)
"A Históri a é uma Hist ória" (6)
"Lua de Neon" (7 )
"Maflor" (8)
"A Morte do Caixeiro Viajante" (9)
"M orte e Vida Severina" (10)
"Os Filhos de Kennedy " (11)
"S ocó" (12)
"O Romance dos Dois Soldados de Herodes" (13)
"Adiós Geralda" (l4)
"G ot a d'Água " (15)
" Torre de Babel " (16)
"Os Parceiros" (17)
"P ost o Avançado " (18)

1~~
" Pedreira das Al mas " ( 19)
"O Poet a da Vil a" (20)
" Clndere la do Pet róleo " (2 1)
" Delírio Tropical " (22)
" Pequenas Hi st órias de Lorca" . (23)
" Consta nt i na" (24)
" Os M ais Fortes " (25)
" A Infid el idade ao Alcance de Todos" (26)
" O Contestado " (2 7)
" Comput a, Com putador . Computa " (28)
"Desligue o Proje tor e Espie pelo Olho M ágico" (29)
" Os Pequenos Burgueses" (30)
" Fol li as Bíblicas " (3 1)
" Escuta, Zé " (32 )
" Tr lpt olerno XVII" (3 3)
"As Criadas" (34 )
" Alta Rotatividade " (35)
"Eu . Ricardo Bande ira" (36)
"Brecht/Weill " (37J
"Sonata sem Dó " (38 )
" M arat ona" (39)
" A Arvore dos Mamulengos" (40)
" Apenas América " (4 1)
" A Dama do Camarote " (pr ograma/ not iciári o) (42)
" Chá e Simpatia " (43 )
"Crimes Delicados" (44)
" O Santo Inquérito" (45)
" M ort os sem Sepultura " (46)
" Boy Meets Boy " (47)
" O Diário de Anne Frank " (48)
" O Último Carro " (49)
" Grupo Mambembe" (50)
" Festi val Mambem bão/Mambemb i nho " (5 1)

1977

1. PAPÉIS IMPRESSOS

1.8 Programas

167
"Esperando Godot" (52)
"Domingo Zeppel in" (53)
" A Di va do Barato " (54)
"T ide Moreyra e sua Banda de Naja s" (55)
" Como Arranj ar Marido" (56 )
" A Pata da Gazela" (57 )
"A Vi agem de Pedro, o Afort unado " (58)
"Onde Cant a o Sabiá" (5 9)
" A uto de Nat al Corinthie nse" (60)
Festival de Nat al - Teatro M unicipal (61)
Seminário de Dramatur gia Brasileira (62)
Poesi as (Larg o de São Franc isco) (63)

2. PAPÉIS DATILOGRAFA DOS

2 .4 Entrevistas

Luiz Serra (at or "Últi mo Carro " ) (1)


Ele nco (" Últim o Carro ") e João das Neves (2)
Lygi a de Paula (at rlz-ani rnado ra do Movimento
Zero Hora) (3)

2 . 1O Conferên cias

Fern ando A rrabal, no Rut h Escobar ( 1)


Fern ando A rrabal , no Rut h Escobar (2)

4. PAPÉIS REPRODU ÇÕES

4 .6 Ampliações fotográficas

Ziembinski, Abílio Pereira de Al meida e A lfredo


M esqui t a (homenagem) (1/10)
A lfredo M esquita (in auguração teatro) (11/20 )
Home nagem a Procópio Fer rei ra (50 anos de
teatro) (21/43)
" Canc ão de Fogo" (espet áculo) (44/ 102)
"A Epidemia" Idem (103/ 129)

1fiA
"Ponto de Luz" (espetáculo) (130/138)
"Maflor" Idem (139/148)
" A Morte do Cai xeiro Viaj ant e Idem (149/162)
"Os Filhos de Kennedy " Idem (163/175)
"Gota d'Agua" Idem (176/193)
"Torre de Babel" Idem (194/212)
" Viva Olegário" Idem (213/224)
"Pedreira das Almas " Idem (225/234)
"Volpone" Idem (235/250)
" Delí r io Tropical" Idem (251/260)
"Pequenas Histórias" Idem (261/2 70)
"Cerimônia para um Negro
Assassinado" Idem (271/288)
"Os Pequenos Burgueses" Idem (289/306)
"Follias Bíblicas" Idem (307/373)
"Escuta. Zé" Idem (374/506)
"O Santo Inquérito" Idem (507/5 18)
" O Último Carro" Idem (519/53 0)

5. ÁUDIO

5 . 1A Cassettes

Luiz Serra (atar, " O Último Carro") ( 1)


Elenco ("O Último Carro") e João das Neves (2)
Lygia de Paula (at riz-ani mador a do Movimento
Zero Hora) (3)
Grupo Ornitorrinco (4)
Debates Ciclo Mambembão I (5)
Debates Ciclo Mambembão II (6)
Entrevista Maranhão - Sindicato I (7)
Entrevista Maranhão - Sindicato II (8)
Entrevista Francisco Colman - Casa do Atar (9)
Entrevista com Benê Mendes sobre os rest aurant es
da classe (10)
Entrevista com Antônio Maschio e Márcio Aurélio
sobre os restaurantes da classe (11)
Entrevista com os proprietários do restaurante
Montechiaro (12)

169
Entrevista co m os pro pri et ários do res t aurant e
Orvi etto (13)
Conferência do Sr . Júl io A maral sob re Ci rco (trech os) ( 14)
Con f er ência do Sr . Júli o A maral so bre Circo (trechos) (15)
Leitu ra da peça " Calabar " (16)
Idem " Cala bar " (17)
Idem " M ul heres de Atenas" (18)
Idem " Trivial Si mples" (19)
Idem "T r iv ial Si mples " (20)
Idem " A Passagem da Rainha" (21)
Idem "Barre ta" (22)
Idem "Ba rr ela" (23)

5 .1 B Rolo

"P onto de Luz" (espetá culo ) (1)


" O Proc esso" Idem (2)
"M achado de A ss is est a Noite" Idem (3)
" A Morte do Caixei ro Viaj ant e" Idem (4)
"Morte e V ida Severina" Idem (5)
" Os Filhos de Kennedy " Idem (6)
"Socó" Idem (7)
" Torre de Babel " Idem (8)
"Viva Olegári o " Idem (9)
"Post o Av ançado " Idem ( 10)
" Pedr eira das Al mas " Idem (11)
" Vaipane" Idem ( 12)
" O Poet a da Vi la e seus Amo res " Idem (13)
"Delí rio Trop ica l " Idem ( 14)
" Pequenas Hist ór ias de l.orca" Idem ( 15)
"Ceri mônia para um Negro
A ssassinado" Idem (16)
"Com put a, Comput ador, Computa " Idem (17)
"Os Pequenos Burgueses" Idem (18)
"Dois Homens na Mina" Idem (19)
"Dercybi ônl ca" Idem (20)
"O Santo Inqu éri to" Idem (21)
" M ort os sem Sepultu ra" Idem (22)
" O Diári o de A nne Frank" Idem (23)

<'1 {\
"O Úl tim o Carro " (espetáculol (24)
"A Farsa de Inês Perei ra" Ide m (25)
"Esperando Godot" Idem (26)
" Domingo Zeppelin" Idem (27)
" O Amor do Não" Idem (28)
"A Via gem de Pedro , o Afortunado " Ide m . (29)
" Aut o de Natal Corinth ie nse" Idem (30)
Conf er ência do Sr. Júlio A maral sobre Circ o (31)
Conf erência do Sr . Júlio Ama ral sob re Ci rc o (32)
Co nf erência do Sr. Júlio A maral sobre Circo (33)
Co nf erê ncia do Sr. Júl io Amara l sobre Circo (34)
Conferênc ia Raymundo M agalh ães Júni or sobre
José de Al enca r (35)

6. VIS UAL

6 . 1A Negativo s - 35mm

" Canc ão de Fogo " (espetá culo) (1/ 59)


" Pesadel o" Idem (60/1 01)
" Pont o de Luz" Idem (102/182)
" M af lor " Idem (183/288)
"A Morte do Caix ei ro . . . " Idem (289/5 19)
" Gota d' A gua" Idem (520/667)
"Torr e de Babel " Idem (668/768)
" Viva Oleg ár io" Idem (769/ 908)
" Volp one " Idem (909/1 027)
"P edreira das A lm as" (espetácu lo e lnau qu ra çâo) (1028/1191)
" Delírio Trop ical " (esp etá culo e inau guração) (1192/ 1343)
"P equenas História s " (e spet áculo e inau gur ação ) (1344/1484)
"Ceri mô nia para um Negro Assass in ado"
(espetá culo e in augu ração) (1485/ 1597)
"Os Pequeno s Burgue ses " (espetáculo
e inaugura ção) (1598/1 780)
" O Santo Inq uéri to " (espet áculo e i nauguração) (178 1/1880)
"O Último Carro" (es pet áculo e in augu ração) (188 1/ 1933)
Alfredo Mes quit a (inauguração t eat ro) (1934/2055)
Homenagem a Procópi o Fer r eira (50 anos de
t eat ro) (2056/2205)

171
1977

6. VISUAL
6.4A Diapositivos - 35mm coI.
"P ont o de Luz" (espet áculo) (1/ 30)
" M af lor " Idem (31/ 49)
"A M orte do Caixei ro Viaj ante " Idem (50/ 69)
" Got a d'A gua" Idem (70/ 89)
"T orre de Babel" Idem (90/ 112)
"Vi va Ol eg ário" Idem (113/ 143)
" Pedreira das A lmas" Idem (144/ 164)
" Volpone" Idem (165/ 181)
"Delírio Tro pi cal " Idem (182/ 202)
"P equenas Histórias" Idem (203/ 223)
" Cerimônia para um Negro
A ssassinado" Idem (224/ 240)
" Os Pequenos Burg uese s" Idem (24 1/ 261)
" Fol li as Bíbl lcas" Idem (262/ 337)
"O Santo Inquérit o" Idem (338/ 362)
"O Último Carro "
1978
1. PAPÉIS IMPRESSOS
1.6 Cartaz es
(1)
" Depois do A rco-Irls" (2)
" Jogos na Hora da Sest a" (3)
" Teat ro Livre da Bahla" (4)
" Zoo Hi st ory " (5)
" M argarida, M argot do Melo-F io " (6)
" Caixa de So m br a s (7)

1.8 Progra mas


(1)
" Depois do A rco -Iris " (2)
"Jogos na Hora da Sest a" (3)
"Zoo History " (4)
"Margarida . Margot do Meio-Fio" (5)

172
"Caixas de Sombras" (6J
"Rua 3, n." 8"

2. PAPÉIS DATILOGRAFADOS

2.4 Entrevistas

Plínio Marcos (autor, "O Poeta da Vila") (1)

5. ÁUDIO

5 . 1A Cassettes

Henrique Suster (I , II e III) Empresário (1)


Fauzi Arap (autor, "O Amor do Não") (2)
Plínio Marcos (autor . "O Poeta da Vila") (3)

5.18 Rolos

"Investigação na Classe Dominante" (espetáculo) (1)


"Chuva" (espetáculo) (2)
" Rezas de Sol para a Missa de um Vaqueiro " (3)
"Jogos na Hora da Sesta" (4)
" Na Festa de São Lourenço" (5)

4. PAPÉIS REPRODUÇÕES

4 .6 Ampliações fotográficas - 18 x 24
"Na Festa de São Lourenço" (5)
" M argarida, Margot do M eio-Fio" (74/123)

173
PESQUISAS EM ANDAMENTO

I - GRUPOS ATUANDO À MARGEM DO SISTEMA CONVENCIONAL


DE PRODUÇÃO

Objetivos: Análise de grupos amadores, . semiprofissionais ou profis-


sionais , cuja atuação, sistema de produção ou linha ideológica escapam
das utilizadas pelos chamados grupos convencionais.

II - O TEATAO NOS ANOS 70

PROJETOS DE PESQUISAS

(As pesquisas abaixo relacionadas são projetos iniciados a parti r do


levantamento acima exposto . Os títulos são provisórios . Esses projetos
foram escritos levando-se em conta a década de 70. Seguindo o t ítul o.
do projeto vem o nome do pesquisador.)

I - O ESPAÇO CÉNICO DO TEATRO PAULISTA NAS DI:CADAS DE


60 e 70, Mariângela Al ves de Lima
II - O IRRACIONALISMO NO TEATRO PAULISTA, Cláudia de Alencar
Bittencourt
III - BUSCAS, TENDÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS DO TEATRO PAULISTA
NA DÉCADA DE 70, VISANDO O ATENDIMENTO DE UM PÚBLICO
POPULAR, Mari a Lúcia Pereira
IV - A PRODUÇÃO TEATRA L NOS ANOS 70, Berenice Albuquerque
Raulino
V - TEATRO'E CRIATIVIDADE, Maria Thereza Vargas
VI - A EXPRESSÃO INFANTIL NOS ANOS 70, Lídi a Izecson

174
SUMÁRIO

7 INTRODUÇÃO DA ÁREA DE ARTES C ~NICAS


13 APRESENTAÇÃO
16 RELAÇÕES SOCIAIS NO CIRCO
47 CIRCO/ ESTRUTURA EM PRESA RIAL
76 O ESPETÁCULO NO CIRCO
106 O PÚBLICO NO CIRCO
115 CONCLUSAO .
118 ANEXOS
119 DOCUMENTAÇÃO
122 O ESPETÁCULO/DOIS MOMENTOS
127 INVENTÁRIO DA PESQUISA
136 INVENTÁRIOS DE OUTRAS PESQUISAS DA AREA DE ARTES
C~NICAS

174 PESQUISAS EM A NDAMENTO

175

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