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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

PROBLEMATIZANDO A CONSTRUÇÃO DO PPP QUE CONTEMPLE A


REALIDADE DAS ESCOLAS LOCALIZADAS NO CAMPO

Rosana Aparecida da Cruz - UTP


Simeri de Fátima Ribas Calisto - UTP
Resumo

Este texto apresenta parte da pesquisa que vem sendo desenvolvida em dez escolas
localizadas no campo, em um município da Região Metropolitana de Curitiba. A
referida pesquisa tem como objetivo problematizar a reestruturação dos Projetos
Políticos-Pedagógicos destas escolas redimensionando novos olhares no que tange a
adequação dos mesmos à realidade dos sujeitos do campo. Neste estudo destacamos o
processo de reestruturação que vem sendo desenvolvido por meio de um trabalho
coletivo que envolve pais, professores, funcionários, coordenadores e diretores das
escolas. A metodologia utilizada configura uma investigação-ação, na medida em que
os sujeitos envolvidos estão comprometidos com uma transformação da realidade,
discutindo e reavaliando as situações, num constante processo de reflexão-ação,
articulado à concepção problematizadora da educação, nos termos de Paulo Freire. As
ações foram desenvolvidas mediante encontros constantes com a comunidade escolar,
para análise dos Projetos Político-Pedagógicos, para estudos sobre a educação do campo
e sobre as etapas a serem respeitadas no processo de reconstrução destes documentos.
Para este estudo, utilizou-se como suporte teórico Arroyo (2004, 2010), Caldart (2004),
Freire (1987) e Veiga (1995). Os resultados da pesquisa vêm sinalizando que o Projeto
Político-Pedagógico elaborado na coletividade é um desafio, porém possível de ser
realizado. Também se constatou que os professores, os pais, os funcionários e a
comunidade, ao serem envolvidos na elaboração dos Projetos Políticos- Pedagógicos
das escolas, percebem-se como protagonistas da educação, não aceitando mais a
condição de meros destinatários que recebem algo pronto e acabado, mas como
construtores do próprio conhecimento, o que lhes encoraja a lutar coletivamente pela
melhoria do processo educacional.

Palavras-chave: Projeto Político-Pedagógico. Escolas localizadas no campo. Trabalho


coletivo.

Introdução

O Projeto Político-Pedagógico vai delinear as ações educativas no âmbito


escolar sendo necessária a participação efetiva da comunidade escolar em sua
elaboração.
No que se refere às escolas localizadas no campo este documento deve
contemplar as especificidades locais, valorizando a cultura, o trabalho, os modos de
vida e a identidade das pessoas que moram e vivem no campo. No entanto, o que a
realidade nos mostra é um Projeto Político-Pedagógico distante do contexto das práticas
sociais.

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Nas pesquisas realizadas nos municípios da região metropolitana de Curitiba no


que tange às escolas localizadas no campo, constatamos que os Projetos Políticos-
Pedagógicos são desarticulados das práticas sociais e organizados sem a participação
coletiva dos professores e comunidade.
Neste estudo apresentaremos uma parte da pesquisa desenvolvida num
município da região Metropolitana de Curitiba, com o objetivo de problematizar a
reestruturação dos Projetos Político-Pedagógicos das escolas localizadas no campo. Esta
pesquisa está vinculada aos estudos desenvolvidos junto a um projeto do Observatório
da Educação financiado pela CAPES.
A metodologia utilizada configura uma investigação-ação, na medida em que os
sujeitos envolvidos estão comprometidos com uma transformação da realidade,
discutindo e reavaliando as situações, num constante processo de reflexão - ação,
articulado à concepção problematizadora da educação, nos termos de Paulo Freire.

Percurso da pesquisa na reestruturação do Projeto Político-Pedagógico

A pesquisa está sendo realizada em dez escolas de um município da Região


Metropolitana de Curitiba, desenvolvida por meio de um trabalho coletivo que envolve
pais, professores, coordenadores pedagógicos, diretores e comunidade.
Até o momento foram desenvolvidas seis ações, a saber: 1)Discussão da
Concepção da Educação do Campo e o Projeto Político-Pedagógico; 2) Discussão sobre
a Concepção da Educação do Campo versus Educação Rural e o PPP. Apresentação do
diagnóstico sobre a identidade das dez escolas. Análise do Projeto Político –
Pedagógico; 3) Discussão e análise sobre o PPP nas comunidades das escolas
localizadas no campo; 4) Grupos de estudos nas comunidades referentes ao marco
situacional; 5) Organização coletiva do I Seminário do marco situacional de cada
comunidade; 6) Grupos de estudos coletivos referente ao segundo marco conceitual.
As discussões percorridas no município estão sendo gradativas, iniciaram em
2012 e durante dois anos foram realizados debates com a comunidade escolar. Na
sequência estão sendo realizados encontros para estudos sobre concepções teóricas
inerentes ao Projeto Político-Pedagógico para a realização do II Seminário referente ao
marco conceitual. Daremos continuidade, após o seminário, ao marco operacional
constituindo junto à comunidade escolar as estratégias de ação no Projeto Político-
Pedagógico.

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Pensar coletivamente requer garra e comprometimento, ultrapassando barreiras e


resistências, almejando um novo caminhar e diante dos debates realizados com as dez
instituições de ensino, destacamos na análise dos pais, professores, funcionários,
diretores e coordenadores alguns aspectos que precisam de reflexão sobre o PPP: 1)
Distanciamento do contexto da identidade dos sujeitos do campo nas práticas
educativas; 2) Um Projeto Político-Pedagógico que não foi elaborado coletivamente; 3)
Revisão das diferentes disciplinas adequando-os com a realidade; 4) Ampliar a
discussão da educação do campo; 5) Construir um PPP diante das práticas sociais; 6)
Formação Continuada coerente com a especificidade de cada escola; 7) Para esta
reestruturação há necessidade de reestruturar conteúdos, filosofia, avaliação
institucional, concepção de gestão, concepção de avaliação, articulação entre a
Educação Infantil e Ensino Fundamental, Ensino de Nove Anos; 8) Para uma boa
educação tem que ter um bom projeto; 9) Valorização dos profissionais pela
comunidade e salário digno; 10) Rotatividade de professores e falta de profissionais; 11)
Encaminhamentos e atendimentos aos alunos com dificuldades na aprendizagem para os
profissionais específicos; 12) Falta de um professor de informática (instrutor) e curso
para o professor; 13) Condições da estrutura quanto ao transporte escolar sendo
necessário ter monitores, cinto de segurança, verificar horário, lotação, capacitação aos
motoristas; 14) Estrutura física (falta quadra coberta, biblioteca, salas de informática,
refeitório, salas de aula, banheiros, reforma e manutenção, escola integral etc.; 15)
Formações continuadas atendendo as especificidades; 16) Lanche variado e cardápio
elaborado pela nutricionista; 17) Mais cobrança com relação ao processo ensino e
aprendizagem.
As questões apontadas pelos professores, pais, coordenadores, diretores e
funcionários destacam a necessidade de ter momentos de discussão sobre a gestão
democrática na escola, formação continuada, a concepção da educação do campo,
planejamento, avaliação, princípios filosóficos, prática pedagógica, articulação entre os
níveis de ensino, ensino de nove anos, contextualização dos conteúdos, ampliação do
conceito da Educação do Campo, identidade e trabalho com a pesquisa, bem como
problematizar e discutir outros assuntos para o bom andamento e qualidade na
educação.
Os dados destacados acima evidenciam que os professores, pais, funcionários e a
comunidade escolar,quando convocados a participar coletivamente do processo de
reestruturação dos PPPs, colocam-se na posição de protagonistas da educação, não

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aceitando mais a condição de meros destinatários recebendo algo pronto e acabado, mas
que se percebem construtores do próprio conhecimento e capazes de lutar juntos pela
melhoria do processo educacional.

O Projeto Político-Pedagógico e a Educação do Campo

Veiga (1995) afirma que o Projeto Político-Pedagógico significa rumo, direção,


intencionalidade coletiva. E essa intencionalidade deve se articular com o projeto de
campo assumindo a identidade campesina.
A Educação do campo consiste numa iniciativa desenvolvida pelos movimentos
sociais na busca por uma escola de qualidade valorizando os povos que vivem no
campo. Ela nasce com a intenção de lutar pela desigualdade e pelas injustiças sociais.
Segundo Caldart,

Construir uma escola do campo significa pensar e fazer a escola a partir do


projeto educativo do campo, tendo o cuidado de não projetar para ela o que
sua materialidade própria não permite; trazer para dentro da escola as
matrizes pedagógicas ligadas às práticas sociais; combinar estudo com
trabalho, com cultura, com organização coletiva, com postura de transformar
o mundo (CALDART, 2004, p. 157).

Pautados nos princípios da Educação do campo ressaltamos a importância de


uma reflexão participativa na reestruturação do Projeto Político-Pedagógico com a
comunidade escolar, que considere as matrizes formadoras pedagógicas citadas por
Arroyo (2010): a terra, o trabalho, a identidade, a vivência da opressão e os movimentos
sociais. Estas matrizes são fundamentais na elaboração do PPP. Muitas vezes há uma
distância dos significados vivenciados pelas crianças, jovens, adolescentes e idosos nas
práticas educativas privilegiando as relações urbanocêntricas e distantes da concepção
da Educação do campo.

Considerações finais

É importante pensar um Projeto Político-Pedagógico que seja constituído


coletivamente, lutando por espaços mais dignos de justiça social, enfrentando um
sistema das relações desiguais vindas da sociedade capitalista. Um projeto voltado à
valorização da especificidade da classe trabalhadora. Como aponta Caldart (2004, p.12)

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“um conjunto de ideias que possam orientar o pensar (especialmente dos educadores)
sobre a prática de educação da classe trabalhadora do campo; e, sobretudo, possam
orientar e projetar outras práticas e políticas da educação”.
A partir do momento em que toda a comunidade escolar, passa a pensar
coletivamente sobre a realidade existente diante do que desejam, passa a projetar novos
rumos em busca da transformação desta realidade. É um processo contínuo e uma luta
árdua, uma intencionalidade comprometida coletivamente, buscando elaborar, executar
e avaliar constantemente o processo. É o que Freire (1987, p. 78) afirma: “Existir
humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo”.
É necessário levar em conta na elaboração do PPP a formação humana, um
olhar muitas vezes distante dessa realidade e que precisa ser recuperado. Há privilégios
num saber sistematizado e tradicional que perpassa de gerações a gerações, sendo
preciso quebrar este paradigma que historicamente foi construído, e torna-se um desafio
imenso, pois é necessário sair da zona de “conforto”, e vivenciar o movimento, a ação
constituída por todos. ”Temos que recuperar o humanismo pedagógico que foi enterrado
por uma tecnologia imperativa, pela burocratização da escola, que foi enterrado pelas
políticas públicas educativas” (ARROYO, 2004, p.75).

Referências

ARROYO, Miguel Gonzáles. As matrizes pedagógicas da educação do campo na


perspectiva da luta de classes. In: MIRANDA, S. G.; SCHWENDLER, S. F.
(Orgs.).Educação do campo em movimento: teoria e prática cotidiana. Curitiba: Ed.
UFPR, 2010. p. 35-53.

_______. A Educação básica e o movimento social do campo. In: ARROYO, M. G.;


CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. (Orgs.). Por uma educação do campo. Petrópolis:
Vozes, 2004. p. 65-86.

CALDART, Roseli Salete. Elementos para a construção do projeto político e


pedagógico da Educação do campo. In: MOLINA, M. C.; JESUS, S. M. S de.
Contribuições para a construção de um projeto de educação do campo. Brasília:
Articulação Nacional Por uma Educação do Campo, 2004. p. 10-31.

_______. Por Uma Educação do Campo: traços de uma identidade em construção. In


ARROYO, M. G.; CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. (Orgs.).Por uma educação do
campo. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 149-158.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

VEIGA, Ilma Alencastro. Projeto político pedagógico da escola: Uma Construção


Possível. Campinas, São Paulo: Papirus, 1995.

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