Constantino Santos *
O nosso “ambiente” interno
Viver em equilíbrio com o nosso corpo
Há não muito tempo os entusiastas da
técnica e da ciência previam o virtual
desaparecimento das doenças infecciosas. Desde
a descoberta da penicilina que a crescente
variedade e poder dos antibióticos criava um
entusiasmo fácil pelo seu uso. Em menos de
uma década o mundo inteiro foi confrontado
com a temeridade destas atitudes. Velhas
doenças a que já não se dava importância –
como a tuberculose -, e novas epidemias
comparáveis à peste do século XIV,
demonstraram-nos de uma maneira evidente que
o adversário tinha sido subestimado.
Os falsos optimismos, nesta matéria,
têm sempre alguma coisa em comum. Radicam
num entusiasmo excessivo sobre o poder do
homem sobre a natureza, sem cuidar de
entender que toda a intervenção tem um custo,
nem sempre previsível.
Se nos países ditos subdesenvolvidos
as doenças decorrentes das más condições de
higiene e habitação são o problema mais visível,
no nosso orgulhoso mundo ocidental o
problema são as doenças decorrentes do
comportamento. Na nossa sociedade a saúde
depende, cada vez mais, do modo como agimos.
À mesa, ao volante, no trabalho, no descanso,
enquanto lemos ou cozinhamos, estamos a
tomar decisões que moldam o nosso futuro.
O número de diabéticos tem
aumentado, em Portugal, de modo proporcional
ao aumento do nível de vida. Isto é, quando há
mais dinheiro aumentam as doenças da
civilização – diabetes, gota, angina de peito,
acidentes de automóvel, etc. – pelo mau uso que
cada um de nós pode fazer da sua capacidade de
compra. Embora a ciência tente descobrir novas
respostas para os problemas, essas soluções não
são suficientes porque não é possível obrigar
ninguém a comportar-se de modo saudável.
Por exemplo, sabe-se que os air-bags
dos automóveis reduzem o risco de lesões
graves em caso de acidente, mas eu
posso preferir gastar o meu dinheiro em jantes
bonitas ou num auto-rádio.
Posso gostar mais de gastar dinheiro
em roupa ou num aparelho novo de televisão, do
que trocar os pneus gastos do meu carro.
Pode acontecer que o medo de uma
trombose não me impeça de beber demasiado.
Talvez o prazer de andar numa mota de
escape aberto seja superior à surdez que estes
condutores vêm a sofrer.
Ou a bronquite seja aceitável para
quem fuma.
Ou seja preferível tomar medicamentos
para dormir em vez de desligar a televisão à
noite.
Toda uma longa lista de decisões que
tomamos todos os dias, permanentemente, e que
desenham o nosso futuro e o futuro das
próximas gerações:
Está preocupado com o cancro do
pulmão? Não queime plásticos, nem pneus.
Assusta-se com as gastrenterites? Lave
as mãos com frequência, não deixe comida ao ar
livre, evite os produtos de confeitaria, não tome
antibióticos sem necessidade.
Tem um parente que sofre do coração?
Reduza o número de fritos e de sal na comida.
Ande a pé.
Ouviu falar de cancro do intestino?
Coma mais hortaliças e verduras.
Cancro da pele? Proteja-se do sol em
excesso.
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E sobretudo, viva em harmonia consigo
mesmo,
tenha objectivos concretos e adequados
às suas possibilidades,
encare as dificuldades com humor.
* Médico, Assistente de Clínica Geral