Você está na página 1de 7

Capítulo 1 1

1
Introdução

Este estudo experimental descreve a adaptação e modificação de uma


unidade de refrigeração por absorção, transformando-a num aparato para
investigação e coleta de dados. Estuda-se o desempenho de um sistema de
refrigeração por absorção de vapor de amônia e água (SRA), tendo como fonte
de calor, fluxo de gases quentes, provenientes do rejeito de um processo
industrial ou da exaustão de um motor de combustão interna, como mostrado na
Figura 1-1.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916665/CA

Figura 1.1 - Ciclo de absorção acionado pelo calor de rejeito do motor de


combustão interna.

O aparato experimental em questão funciona por resistência elétrica de


potência variável. O seu desempenho é comparado com o funcionamento do
mesmo ciclo tendo como fonte de calor um soprador térmico, operando com e
sem regeneração do calor.
Capítulo 1 2

Pretende-se com a comparação anterior (resistência elétrica, soprador


térmico, com e sem regenerador) demonstrar que o sistema de escape dos
gases de descarga de um motor de combustão interna direcionados ao
aquecimento do gerador, o tubo bomba do sistema de refrigeração por absorção,
pode produzir as mesmas características de funcionamento do ciclo de absorção
funcionando a resistência elétrica. Observa-se também que, com um estudo e
projeto cuidadoso, o acoplamento do gerador do sistema ao duto de escape do
motor do veículo não prejudica o desempenho da unidade de propulsão (como
aumento da perda de carga na descarga, reduzindo a admissão de ar no motor).
Pode-se, assim, construir o sistema com tamanho reduzido, obtendo uma menor
massa embarcada e consumo de potência mecânica para mover o compressor.

1.1
Motivação e Justificativa
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916665/CA

A motivação deste estudo é demonstrar a viabilidade termodinâmica da


utilização de um equipamento de refrigeração por absorção, em substituição ao
ar condicionado convencional, que funciona por compressão de vapor.
Atualmente, com o avanço da tecnologia, busca-se maximizar o
aproveitamento de energia disponível, com o menor custo possível de aquisição.
O interesse crescente neste campo se deve à busca de soluções dos sérios
problemas relacionados ao fornecimento de energia.
A cogeração é uma área de pesquisa não só em voga, mas extremamente
atrativa, motivando a realização de um trabalho experimental com um ciclo de
absorção gerenciado por outra fonte de energia.
Objetiva-se sua viabilidade termo-mecânica com o aproveitamento de calor
de rejeito, e se propõe o retorno da construção, em larga escala dos ciclos de
refrigeração por absorção.
Deve-se mencionar que, apesar do coeficiente de desempenho térmico
encontrado, COP Térmico ou COP de Carnot, apresentarem um valor
expressivamente baixo, torna-se oportuno lembrar que, além da metodologia de
cálculo ser diferente, a fonte energética é gratuita e, atualmente, desprezada,
visto que os gases de descarga do motor de combustão interna são direcionados
para a atmosfera.
Este estudo, resumidamente, é uma investigação experimental para o uso
de refrigeração por absorção, podendo ser aplicado em veículos automotores,
Capítulo 1 3

que podem usar o calor de rejeito dos gases de exaustão, como a fonte geradora
principal de energia térmica.
Isto seria uma alternativa para substituir o sistema convencional de
refrigeração por compressão de vapor, acionado mecanicamente pelo
compressor, através de um conjunto de engrenagens, polias e correias ou com
um motor exclusivo para este fim, como nos casos de alguns ônibus ou
caminhões frigoríficos (Horuz, 1999).
Vários fatores apontam favoravelmente pela utilização do ciclo de
refrigeração por absorção, como redução de combustível, custo operacional,
custo aplicativo e o reduzido impacto ao meio ambiente.
Uma sugestão importante sobre os custos de implantação deve ser feita, já
que o sistema de absorção tem um custo não só de material, mas também de
operação bem mais reduzido que o de compressão.
Deve-se observar, também, que possíveis vazamentos, tanto da
substância absorvente (água) quanto do refrigerante (amônia), não atacam o
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916665/CA

meio ambiente, seja destruindo a camada de ozônio ou contribuindo para o


efeito estufa, como ocorre com os gases à base de CFC e os R134a (Tyagi,
1988).

1.2
Breve Histórico

Um breve histórico, por Radermarcher e Antoniolli (2001), é apresentado a


seguir. Em 1777, a refrigeração por absorção foi idealizada por Nairn, muito
embora o primeiro refrigerador comercial usando absorção só tenha sido
construído em 1823 por Ferdinand Carré (Costa, 1996).
Em 1860, Ferdinand Carré requereu patente do ciclo de refrigeração por
absorção, nos EUA. Foi, provavelmente, a sua primeira aplicação usada pelos
Estados Confederados durante a guerra civil americana, já que os Estados do
Norte haviam cortado o fornecimento de gelo natural para o sul (Stoecker e
Jones, 1985).
A primeira máquina a funcionar de forma intermitente foi feita na Inglaterra
por John Leslie em 1810.
Assim que as máquinas por compressão utilizando motores elétricos foram
desenvolvidas por volta de 1915, as máquinas de absorção foram gradualmente
sendo esquecidas e relegadas a segundo plano.
Capítulo 1 4

Em 1930, a Arkla construiu uma máquina de absorção de 5 a 20 TR para


aplicação em ar condicionado utilizando brometo de lítio e água.
Em 1945, Willis Carrier projetou a primeira máquina de refrigeração para
produção em escala a LiBr.
Em 1958, no Japão, a Kawasaki fabricou a primeira máquina de absorção,
e começou a produção em larga escala em 1959.
Em 1962, surge a Ebara, sendo o maior fabricante nos últimos anos.
Em 1964, surge a primeira máquina de duplo efeito fabricada pela
Kawasaki.
Em 1965, a Ebara é a primeira a ter sistemas combinados, fabricando uma
máquina acionada por turbina a vapor e uma de absorção acionada pelos gases
da descarga da turbina.
Em 1966, a Ebara produz uma máquina para baixas temperaturas,
menores que -25°C para 25 TR e –5°C para 440 TR.
Em 1968, a Kawasaki lança a primeira máquina de duplo efeito e fogo
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916665/CA

direto.
Em 1970, a Mitsubishi-York instalou um sistema de cogeração
administrando energia em Tokyo, utilizando uma máquina de refrigeração
centrifuga acionada por turbina a gás, e os gases de descarga acionando um
boiler de absorção.
Em 1971, a Ebara produz a primeira máquina de simples efeito com
bomba de calor acoplado e em 1974, produz a primeira máquina de duplo efeito
usada em bomba de calor.
Em 1977, a Hitachi constroe uma máquina de 1500 TR de fogo direto.
Em 1978, a Ebara e a Kawasaki num consórcio, chegam a 30% de
melhoria de eficiência para máquina de fogo direto.
Em 1979, a Ebara fabrica em escala máquinas de fogo direto de 40 a 75
TR.
Em 1980, a Hitachi projeta uma máquina de 200 TR acionada por energia
solar.
Em 1980, a Yazaki Sogio e Tokyo Sanyo projetam máquinas de absorção
de duplo efeito de 20 a 30 TR.
Em 1987, Tokyo Sanyo e Ebara iniciam a nova era de equipamentos
inteligentes e acionados por micro processamento.
Capítulo 1 5

1.3
Revisão Bibliográfica

Vários trabalhos podem ser encontrados na literatura atual disponível, a


respeito de ciclos de refrigeração por absorção e sua eventual aplicação a
motores térmicos:
Barger et al. (1969) demonstraram a liberação de calor e porcentagem
energética, suas temperaturas, vazões e velocidades nos tubos de descarga dos
motores, de acordo com o tipo de combustível usado, regime de funcionamento,
tipo de operação e tipo de máquina e implemento agrícola de arrasto.
Taylor (1987), em estudo sobre motores a combustão interna, apresenta
dados sobre os gases de descarga, suas temperaturas e vazões de acordo com
o regime de funcionamento e potência durante testes em bancos de prova e
condições normais de funcionamento. Estuda também, o ciclo de resfriamento
do motor, incluindo, a água dos trocadores de calor (radiador), temperaturas e
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916665/CA

vazões tanto nos dutos (mangueiras), quanto na própria bomba d’água.


Tyagi (1988) faz menção ao uso de refrigerantes de baixa pressão,
amônia e água, que são fluidos da classe natural e não atacam a camada de
ozônio.
Pereira e Martins (1990) obtém resultados experimentais com a
construção otimizada de um fogão a lenha de alvenaria. Estudaram os efeitos no
rendimento térmico, tipo de madeira utilizada para lenha. Em paralelo,
estudaram a conjugação entre o fogão e um refrigerador por absorção, onde foi
adaptado, junto ao queimador, um tubo sifão devidamente pressurisado, levando
vapor de água a alta pressão para um trocador de calor que aquecia o “boiler” do
refrigerador de absorção. Resultados satisfatórios foram obtidos.
Riffat e Wong (1994) analisam a termodinâmica do aproveitamento do
calor de rejeito de máquinas operando com recompressão de vapor.
Costa (1997) apresenta um estudo experimental sobre o uso de
refrigeração por absorção em motores de embarcações a regime constante de
rotações. Observaram, para os casos estudados, um super dimensionamento,
dado que há grande quantidade de energia disponível, tanto para o aquecimento
de águas quanto para a refrigeração de recintos, resultando em mais um caso de
cogeração bem aplicado.
Capítulo 1 6

Milanes (1997) determina os aprimoramentos que devem ser feitos, em


um sistema de refrigeração por absorção, para a fabricação de gelo, em regiões
rurais não providas de energia elétrica.
Teixeira (1997) refere-se à produção de frio via ‘chillers’ de absorção,
sendo empregado o calor gerado por motores diesel ou turbinas a gás
empregados na geração de energia elétrica, assim como sistemas de cogeração.
Gallego (1998) obteve resultados de viabilidade econômica de um
sistema de refrigeração por absorção, funcionando a partir da utilização dos
gases de descarga de uma turbina de geração de energia elétrica.
Andrade (1999) investigou a transferência do excedente de calor do
vapor das caldeiras da usina, para energizar um sistema de refrigeração por
absorção, com o intuito de manter constante e controlada a temperatura de
fermentação do álcool combustível.
Horuz (1999) relata um estudo experimental de um ciclo de refrigeração
por absorção, funcionando através da liberação dos gases de descarga de um
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916665/CA

motor Ford 150 Dover de 6 litros, diesel e turbo alimentado, que é usado no
Laboratório de Sistemas de Energia Elétrica da Universidade de Strathclyde.
Silvério (1999) apresenta uma simulação numérica de uma máquina por
absorção para a fabricação de gelo, operando em regime permanente. Sugere
ser uma ferramenta adequada para análise e posterior aperfeiçoamento de um
sistema de absorção.
Zukowski Júnior (1999) propõe a utilização da refrigeração por absorção
como alternativa, sugerindo que seja a metodologia de cálculo da eficiência
exergética e o COP, em máquinas de absorção para a produção de gelo.
Radermarcher e Antoniolli (2001) relatam o histórico da refrigeração por
absorção.
Lima et al. (2002) trabalharam com um ciclo de refrigeração por absorção
(Electrolux sem bomba) idêntico ao utilizado no presente trabalho. Ao contrário
de resistência ou soprador elétricos, obtiveram o próprio gás de escape de um
motor a combustão interna, operando sem carga. A utilização de um regenerador
(matriz metálica), para atenuar as variações de potência da fonte de calor,
conforme estudado no presente trabalho, foi originalmente proposta por Lima et
al (2002).
Reis e Silveira (2002) calculam a eficiência termo-mecânica ao consorciar
o sistema de refrigeração por absorção, gerenciado pelos gases de descarga de
um motor estacionário Chevrolet (Corsa), funcionando a gás GLP, obtendo
dados energéticos e exergéticos do conjunto.
Capítulo 1 7

1.4
Contribuição do Presente Trabalho

A partir da redução na produção, e na totalidade, dos refrigerantes


halogenados, exigida pelo Protocolo de Montreal, em setembro de 1987, e da
solicitação da parada de fabricação até o final de 1999, feita pela conferência de
Londres em 1991, está se fazendo necessário a substituição dos refrigerantes
halogenados e clorofluorcarbonados (CFC), por outros que não causem danos à
camada de ozônio, como a amônia usada nos ciclos de baixa pressão. Há,
então, a necessidade de se fazer vários estudos do comportamento destes
fluidos com os componentes do sistema de refrigeração, nos quais se incluem os
dispositivos do ciclo de refrigeração por absorção.
A proposta deste trabalho é (1) estudar novas formas de gerenciar energia
térmica, suficiente para colocar o ciclo de refrigeração por absorção em pleno
funcionamento; (2) avaliar o desempenho de equipamentos e acessórios ainda
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916665/CA

não testados, e (3) disponibilizar novos dados experimentais para estudos


futuros.
Estuda-se, também, a viabilidade técnica de colocá-lo a contento
funcionamento, aproveitando os rejeitos energéticos de qualquer processo
industrial onde ocorra liberação de energia na forma de calor, ou de um motor de
combustão interna, através dos gases de escapamento ou pela água de
refrigeração.

1.5
Organização do Trabalho

Esta dissertação está dividida em quatro capítulos, divididos da seguinte


maneira:
No capítulo 2 é feita a descrição do funcionamento do ciclo de absorção,
assim como de procedimento experimental.
No capítulo 3 são apresentados e comentados os resultados
experimentais da operação com resistência elétrica, com soprador de ar quente
(sem e com regenerador).
No capítulo 4 é apresentada a conclusão, onde são mencionados ajustes
e melhorias como sugestão para trabalhos futuros.

Você também pode gostar