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VOLUME DE AR VARIÁVEL: ESTRATÉGIAS DE CONTROLE

por Mercato Automação20 de abril de 2021


Situações de crise econômica, como a decorrente, ou mesmo a
necessidade de projetos e sistemas que visem eficiência energética, geram
novas demandas e, consequentemente, a busca e desenvolvimento de
novas tecnologias.
Em 1970, com a crise norte-americana do petróleo (base da matriz
energética americana) e a necessidade de condicionar o ambiente interno
de forma mais econômica e com alta qualidade, popularizou-se a
utilização de sistemas de volume de ar variável (VAV) em aplicações de
AVAC (Aquecimento, Ventilação e Condicionamento de Ar) para conforto
(CHEN & DEMSTER, 1996, p3). Passados quase 50 anos de evolução,
principalmente no quesito controles, hoje temos no VAV um reconhecido
e consolidado sistema de condicionamento de ar.

Volume de ar constante (VAC) versus volume de ar variável (VAV): Tipos


de sistemas e seus funcionamentos

Existem diversas variações sobre a forma de controle da temperatura dos


ambientes climatizados. Um exemplo, é o sistema de controle unitário,
que mantém toda área atendida por uma mesma Unidade de Tratamento
de Ar (UTA) e sob a mesma temperatura. Este sistema, em geral, tem um
sensor de temperatura instalado no ambiente atendido ou no duto de
retorno de ar, próximo à UTA, monitorando a mistura do ar do ambiente.
A partir do sinal emitido por esse sensor, a vazão de água gelada que
passa pela serpentina da UTA é regulada através de uma válvula de
controle de duas ou três vias, ajustando, desta forma, a temperatura do ar
insuflado. Esse sistema é conhecido como sistema de controle de
temperatura com volume de ar constante (VAC), uma vez que não há
variação na vazão do ar insuflado, e sim na sua temperatura.

Principais vantagens do sistema VAC


a) Menor investimento inicial: Necessita de menor quantidade de
controladores, instrumentação e equipamentos, pois não utiliza caixa VAV
(assunto abordado na sequência deste artigo);
b) Manutenção facilitada: Em virtude da centralização do fornecimento de
ar condicionado em uma única UTA;
c) Simples operação do sistema de AVAC: Em função do baixo número de
equipamentos instalados;
d) Qualidade do ar interior (IAQ): Sistemas de VAC apresentam maior
autonomia sobre controle do fluxo de ar externo, que visam a renovação
do ar interior, para manter a qualidade do ambiente.

Figura 1. Típico de diagrama para controle de climatização

Em sistemas de controle individualizado por ambiente, conhecidas como


zonas, (onde a temperatura pode ser regulada de forma independente),
cada ambiente tem seu próprio sensor de temperatura, cujo sinal
determina o posicionamento do damper (registro que regula a passagem
de ar) de volume de ar variável (VAV), instalado no duto de insuflação do
ambiente. Neste caso, o ajuste da temperatura é feito através do ajuste
do volume de ar insuflado sobre o ambiente, conforme apresentado na
figura 1.
Assim, no sistema de VAV para controle de temperatura, utiliza-se um
sistema de controle em malha fechada, normalmente utilizando
inversores de frequência, para determinar a velocidade do ventilador da
UTA a partir da pressão na rede de dutos de insuflação de ar,
proporcionando dentre outros benefícios uma significativa redução no
consumo da energia elétrica consumida pelos ventiladores dos
climatizadores, quando operando em cargas parciais.
Sistemas VAV utilizam muito menos energia do que sistemas VAC, pois a
velocidade do ventilador da UTA é reduzida para atender às exigências
atuais de demanda dos ambientes. Ao contrário, o ventilador da UTA do
VAC está sempre operando a uma velocidade que atenda às piores
condições. A energia exigida pelo ventilador varia com o cubo do fluxo de
ar, de maneira a que uma pequena redução no fluxo de ar pode ter um
impacto significativo sobre o consumo de energia (vide gráfico na figura
2).

O sistema de VAV é também um grande aliado no tocante à distribuição


uniforme de ar, pois possui ajustes de vazão máxima e mínima (através de
controlador digital) para cada caixa VAV, garantindo que não seja
insuflado no ambiente uma vazão de ar maior que o valor máximo
configurado, bem como assegurando uma vazão mínima para renovação e
circulação do ar ambiente.

Figura 2. Variação do consumo de energia pela variação da velocidade do


ventilador
Principais vantagens do sistema de VAV

a) Número menor de UTA’s;


b) Menor espaço utilizado: Demanda por menor área necessária dedicada
para as casas de máquinas das UTA’s;
c) Custo de energia: Sistema que propõe reduções significativas no
consumo da energia elétrica utilizada nos ventiladores das UTA’s;
d) Dinâmico: Ajusta as temperaturas por zonas e conforme variação da
ocupação dos ambientes e envoltória, gerando um ambiente mais
confortável para os ocupantes;
e) Flexibilidade: Um sistema VAV pode se adaptar automaticamente à
distribuição do ar para uma nova distribuição de cargas de calor em uma
zona, não sendo afetado por mudanças de layout do ambiente atendido.

Os itens necessários na instalação que formam um sistema de


condicionamento de ar através de VAV, constituem-se de:

– Dutos de distribuição com ar proveniente da UTA;


– Caixas VAV, por padrão de fabricante, já fornecidas com a estrutura para
medição multipontos de pressão diferencial (tubos de pitot) e damper
para regulagem de vazão máxima e mínima através de sua abertura e
fechamento;
– Atuador de damper, normalmente com funcionamento elétrico, que fica
acoplado ao damper para prover sua abertura e fechamento;
Figura 3. Atuador de Damper
– Sensor de temperatura ambiente para monitoramento da climatização
do ambiente;
– Controlador digital que, por padrão dos fabricantes, embarca o
elemento sensor de pressão diferencial que será conectado na estrutura
de medição disponibilizada pelo fabricante da caixa VAV. Este mesmo
controlador receberá o sinal do sensor de temperatura do ambiente
controlado e, com base nesta informação e no setpoint ajustado nas
configurações do equipamento, irá ajustar a posição do atuador de
damper (exemplificado na figura 4).

Figura 4. Controlador digital para sistemas de VAV

Convencionalmente, os sistemas de VAV podem ser projetados de 2


maneiras:

1. Single-Duct: Neste modelo de aplicação há apenas um duto de


insuflação de ar, proveniente de uma UTA dedicada para refrigeração.
Opcionalmente, um reaquecimento do ar pode ser adicionado ao sistema,
através de resistências elétricas ou fluxo de água quente em uma
serpentina, ambos embarcados na caixa VAV. Sistemas de VAV com
reaquecimento elétrico (HONEYWELL ENGINEERING MANUAL OF
AUTOMATION, 2004, p 406), devem prever uma vazão mínima de ar para
que a função de reaquecimento seja habilitada, como forma de proteção
contra superaquecimento das resistências elétricas e possíveis danos ao
sistema. Em sistemas single-duct, o controle de temperatura do ambiente
é realizado diretamente pela quantidade de ar que será entregue ao
ambiente. O controle desta variável fica também a cargo do controlador
digital, que recebe a informação do sensor de temperatura ambiente e
ajusta a posição do damper de acordo com a demanda de climatização
atual do ambiente. Este modelo é o mais utilizado em sistemas de VAV no
Brasil, e serve de base para o desenvolvimento deste artigo técnico.
2. Dual-Duct: Constituído por dois dutos de insuflação, um para
fornecimento de ar frio e outro fornecendo ar quente, proveniente de
UTA’s distintas. Neste sistema o ar é misturado e a proporção da mistura é
definida pela informação do sensor de temperatura instalado no duto de
descarga do ar no ambiente, sendo tratado por um controlador
digital que irá ajustar as posições dos dampers das VAVs (de ar quente e
ar frio) conforme o setpoint ajustado e a variação da temperatura deste ar
de mistura.

Razões para a utilização de sistemas de VAV

O controle adequado do fluxo de ar é importante para os princípios


fisiológicos, levando-se em consideração os parâmetros definidos pelas
normas voltadas para a qualidade do ar interior (do inglês IAQ).
O sistema de VAV tem como aplicação principal a climatização por zonas,
mas pode auxiliar em sistemas de distribuição de ar, pressurização,
exaustão e renovação do ar interno.

Controle do nível do CO2 por controle de ventilação por demanda (DCV)

Um meio de manter a qualidade do ar interno é diluir materiais


indesejáveis (por exemplo, Dióxido de Carbono, compostos orgânicos
voláteis etc.) com a inserção de ar externo no ambiente. Nesse tipo de
aplicação, torna-se ainda mais desejável o controle através de VAV, tanto
para as caixas de VAV que atendem as necessidades de climatização dos
ambientes, quanto para os ventiladores responsáveis pela inserção do ar
externo por controle de ventilação por demanda (DCV) no sistema de
tratamento de ar.
DCV é a forma de controle de inserção do ar externo capaz de apresentar
as melhores reduções de custos com energia elétrica, com a otimização
da utilização dos ventiladores de ar externo, controlando a variação da
vazão de ar no monitoramento do nível de CO2 do ambiente
interno (conforme figura 5).

Figura 5. Gráfico de comparação de desempenho do sistema DCV x Vazão


constante de ar externo. (Fonte: adaptação da apresentação Comercial
Carrier ComfortID)

Um dos índices que melhor representa o nível de contaminação de um


ambiente é o nível de dióxido de carbono (CO2). Isso porque as pessoas
liberam este gás como processo normal de seu metabolismo, por meio da
respiração. Assim sendo, os níveis de CO2 fornecem um retrato adequado
de como se encontra ocupado um determinado ambiente.
As normas e portarias estabelecem o nível de 1000 ppm (partes por
milhão) de CO2 como nível máximo de concentração em ambientes
climatizados. A Norma Standard 62.1 de 2016 da ASHRAE (American
Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers)
apresenta que: [...] é coerente com o processo de renovação de ar que
seja permitido que o controle por demanda reduza a renovação total de ar
externo em períodos em que o ambiente se encontra com baixa
ocupação”.
A combinação destes dois sistemas (VAV e DCV) é atualmente o que existe
de mais moderno para economia de energia em sistemas de ar
condicionado. Os sensores de CO2 podem ser acoplados aos controladores
do sistema VAV para que os dois trabalhem integrados fornecendo a
quantidade e qualidade de ar necessárias ao ambiente. Como o sistema de
volume de ar variável (VAV) trabalha com dampers motorizados para cada
ambiente, podemos fazer com que o ar exterior seja intensificado nas
zonas mais ocupadas otimizando em muito o sistema como um todo.

Exemplos de aplicação

A utilização de sistemas de climatização com a aplicação de VAV têm


avançado notoriamente onde as características do projeto permitem.
O controle da temperatura de bulbo seco (conforto térmico), umidade
relativa, taxas de renovação de ar, bem como a necessidade de maior
captação de ar externo e atenuação de níveis de ruídos são premissas
básicas para a definição de utilização de sistemas de VAV (CHEN &
DEMSTER, 1996, p4).
Projetos típicos onde os sistemas VAV são comumente aplicados
apresentam uma característica em comum: edifícios nos quais ao longo do
período de funcionamento há grande variação da sua carga térmica
interna, como, por exemplo: grandes áreas comerciais, edifícios de
escritórios, zonas hospitalares, clínicas e consultórios, salas de aula e
agências bancárias.
Figura 6. Exemplo de Aplicação

Transformando isso em números, tomaremos como exemplo uma


instalação com potência de ventiladores de 100 kW, equivalente a 5 TR
em potência de refrigeração para climatizadores. A simulação,
apresentada na figura 5, considera o mesmo número de horas trabalhadas
para os sistemas de VAC e VAV. Pode-se observar que ocorre uma redução
significativa do consumo de energia dos ventiladores quando da aplicação
de sistemas VAV.

Simulação de eficiência energética entre sistema de VAC x VAV

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