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XVII ERIAC

DECIMOSÉPTIMO ENCUENTRO
REGIONAL IBEROAMERICANO DE CIGRÉ
Ciudad del Este, Paraguay
21 al 25 de mayo de 2017 CE-B5

Comité de Estudio CE B5 – Protecciones & Automatización

SUBESTAÇÕES TOTALMENTE DIGITAIS – DESAFIOS, TENDÊNCIAS E


PARADIGMAS DERIVADO DA IMPLEMENTAÇÃO COMPLETA DA NORMA IEC
61850 PROCESS BUS (IEC 61850-9-2):

DENYS LELLYS
GE GRID SOLUTIONS
BRASIL
:
PALAVRAS-CHAVE
IEC61850, Merging Unit, Projeto, Sample Values, Fibras ópticas, Station Bus, Process Bus, Switch,
IEEE 1588

RESUMO

O conceito moderno de subestações totalmente digitais (“Full digital substation”) está baseado no fato
de que a corrente e a tensão proveniente dos transformadores de instrumentos ou simplesmente TC e TP
não convencionais ou NCIT (Non conventional instrument transformer), como também todo os sinais
de status dos equipamentos (disjuntor, secionadoras, transformadores, etc), sejam convertidos desde o
ponto primário de conexão no campo e sejam transmitidos, via fibra óptica, para os aparelhos digitais
de medição e proteção distantes, muitas vezes, por centenas de metros do pátio da subestação.

Embora a tecnologia já seja de amplo conhecimento e os IED e os TC´s ópticos já estejam disponíveis
no mercado ainda existem diversos desafios e paradigmas que devem ser superados como, por exemplo,
a capacitação das equipes técnicas das empresas para especificação, configuração e testes do TC óptico,
e principalmente do barramento de processo devido à necessidade de conhecimentos específicos de
redes ethernet no que tange a configuração de rede virtual (VLAN), Merging Unit, SAV (sample
analogue values) como também os procedimentos de testes estabelecidos na norma IEC 61850 edição
2.

Também serão apresentados os novos desafios e superação de paradigma, como por exemplo,
eliminação do fenômeno de saturação, EMC, eliminação de cabos, redução de canaletas, com as novas
tecnologias de transformadores de corrente ópticos cuja especificação, aplicação e configuração da parte
eletrônica pertencem agora à equipe de automação e proteção se comparado com os tradicionais
transformadores de corrente convencionais que era especificado e aplicado pela equipe de subestação.

1. BARRAMENTO DE PROCESSO

A norma IEC 61850 já é amplamente usada por muitas empresas na América latina, em especial no que
se refere à implementação do barramento da subestação (Goose, MMS, SCL, etc), e mais recentemente
os TC´s ópticos e o barramento de processo nas novas subestações totalmente digitais (exemplos SE
Zulia 8 – Venezuela) em conformidade com a IEC 61850-9-2 LE (Sample values, Merging Unit, PTP,
etc) que nos remete a novos desafios e superação de paradigmas.

O princípio de funcionamento do barramento de processo, está baseado na aquisição de corrente e tensão


dos transformadores de corrente e potencial (convencional ou não convencional), em seguida
transmitidos e convertidos pela “merging unit” para valores amostrados (“sample analogue values -
SAV”), com taxa de amostragem de 80 (proteção) e/ou 256 amostras/ciclo (medição) e transmitidos por
fibra óptica para o “switch” 61850 gerando um barramento de processo, conforme figura 1. Também
pode ser feita a aquisição de sinais digitais dos equipamentos do pátio (exemplo: status da posição do
disjuntor) e transmitidos pela merging através de mensagens Goose (IEC 61850-8-1) para o barramento
de processo.

Outro aspecto muito importante e desafiador para o correto funcionamento das redes ethernet,
principalmente do barramento do processo é a precisa sincronização das mensagens SAV proveniente
das diversas merging unit da subestação totalmente digital, sendo mandatória a adoção de 02 (dois)
sistemas redundantes de sincronização, por exemplo, sistema americano GPS e recentemente o sistema
russo de posicionamento global Glonass. Neste aspecto tanto o relógio de sincronismo como o switch
das redes ethernet da subestação muda de status e cresce de importância pelo trafego de informação e
os níveis de prioridade e velocidade requerida para execução das funções de proteção, automação,
supervisão preconizada na norma IEC61850, tornando o switch tão importante quanto o IED de proteção
e controle.

Figura 1 – Barramento de processo e subestação

Os valores amostrados (SAV) são disponibilizados no barramento formado por um ou mais “switch”
ethernet 61850 e potencialmente qualquer IED (por exemplo: registrador de perturbações, relé de
proteção e medidores) podem subscrever e processar as mensagens SAV disponibilizadas no barramento
de processo, conforme a parte 9-2 da norma IEC61850.
Figura 2 – Arquitetura do barramento de processo

A tabela 1 apresenta as configurações dos IED da rede de comunicação da figura 2:

• T1000 – Switch 61850


• RT430/434 – Relógio de sincronismo
• MU320 – Merging Unit
• P444 – Relé de Proteção GE com placa 9-2
• RPV311 – Registrador de Falhas

TABELA 1

O switch ethernet T1000 61850 foi configurado com 03 redes VLAN (10, 20 e 21) adicionais distintas.
A figura 3 apresenta a associação das 12 (doze) portas do Switch T1000 com suas respectivas VLAN´S.

Figura 3 – Configuração VLAN do Switch

• Configuração do relé de proteção P444 9-2:

No projeto foi usado relé de distância P444 (ANSI 21) da GE com placa traseira com entrada (fibra
óptica/RJ45) em conformidade com a norma IEC61850-9-2.
A figura 4 a seguir apresenta a parametrização do relé de proteção:

Figura 4 – Parametrização do relé de proteção

2. NCIT (TC NÃO CONVENCIONAL) – TRANSFORMADORES DE INSTRUMENTOS


ÓPTICOS

Nas últimas décadas têm sido utilizados largamente os transformadores de corrente e tensão
convencionais (principio eletromagnético) com a finalidade de suprir corrente e tensão para os relés,
medidores, registradores e unidade de controle, etc., entretanto, nos últimos 20 anos, com o avanço das
novas tecnologias no campo do processamento digital e das fibras ópticas, permitiram aos centros de
pesquisas e principalmente os fabricantes avançarem rapidamente e disponibilizarem os novos
transformadores de corrente ópticos cujo principio de funcionamento de um dos modelos de NCIT
disponíveis está baseado na conversão eletro-óptica (Faraday effect) conforme mostrado na figura 2.

Esta tecnologia está baseada no princípio de que a corrente primária é convertida, através do efeito
magnético-óptico de Faraday, ou seja, os sensores eletro-ópticos, instalados no ponto de conexão do
transformador de corrente não convencional está enlaçado no condutor e realizam o processamento da
conversão eletro-óptico, cuja proporcionalidade é direta e linear, ou seja, quanto maior a corrente maior
será a deflexão do ângulo no sensor eletro-óptico. Uma das vantagens imediata desde princípio é a não
ocorrência de saturação como ocorre em TC convencional.

Basicamente a corrente elétrica quando circula pelo condutor, envolvido pelo material Faraday (sensor
óptico), gera um campo magnético que por sua vez atua na propagação da luz produzindo uma
polarização linear que gira (ângulo de rotação) na presença de um campo magnético e é diretamente
proporcional a corrente passante pelo condutor.
Figura 1: Princípio eletro-óptico (Faraday Effect)

Portanto, a finalidade principal dos transformadores de instrumentos não convencionais que é também
conhecida como transformadores de instrumentos ópticos, devido a sua tecnologia estar baseada em
técnicas de fibra óptica, são de suprir com os valores amostrados (“sampled analog values”) os aparelhos
de proteção e medição.

Devido ao formato circular, o sensor óptico localizado no topo da coluna isoladora mostrado na figura
1, também é chamado de “donut”.

Há possibilidade de serem especificados TC´s ópticos com 02 (dois) sensores ópticos (redundantes).

O TC óptico é composto pelas seguintes partes:

• O Sensor óptico que capta a corrente no lado de alta do condutor (parte a);
• O Conversor Secundário Eletrônico (parte b) ou Merging Unit (M.U) que recebe o sinal óptico
do sensor realiza o processamento e converte em sinal digital sincronizado para produzir a
saída (até 04 saídas) de corrente e tensão (nota 1) no padrão conforme a IEC 61850-9-2;

• O cabo de fibra óptica (parte c) que é instalado dentro da coluna de isolador de porcelana e por
esta fibra trafega o sinal óptico desde a parte de alta até o conversor secundário.

Nota 1: O conversor secundário eletrônico (M.U) possui uma entrada analógica convencional
dedicada para conexão aos TP convencionais.

Considerando as modernas tecnologias aplicadas no NCIT, como por exemplo, o processamento digital
e a fibra óptica, a seguir destacam-se as principais vantagens técnicas do TC óptico em comparação aos
TC convencionais:

• Eliminação de cabos de cobre, cujo custo nos últimos 10 anos cresceu 400%;
• Eliminação de qualquer possibilidade de explosão (segurança para as instalações e
equipamentos adjacentes e equipes de operação e manutenção);

• Redução drástica de estrutura de canaletas, edificações, obra civil, painel elétrico, etc.;
• Aumento da segurança do pessoal de operação e manutenção com relação a choques elétricos
haja vista que a corrente e tensão é transmitida através de fibra óptica;
• Redução de custos de manutenção devido ao fato que a fibra óptica possui supervisão
contínua e sua substituição é mais fácil se comparado com o cabo de cobre convencional;

• Redução de projeto de engenharia e mão de obra de instalação;


• Eliminação de fenômeno de saturação, interferência eletromagnética (EMC) e TC secundário
do “aberto”;
• Redução do peso a 10% em comparação a TC convencional;
• Facilidade de montagem em qualquer estrutura e em qualquer posição (horizontal, vertical,
inclinado, etc.), pois não há isolante no corpo do NCIT.

As características técnicas básicas do NCIT estão apresentadas na tabela 2, considerando exemplos


típicos para os níveis de 72,5; 245 e 550 kV, embora existam modelos de 36 kV a 1200 kV:

TABELA 2:
NCIT - Parâmetros Típicos 72,5 kV 245 kV 550 kV
Tensão Máxima do Sistema (kV) 72,5 245 550
Teste de Tensão de impulso (BIL) em kV 350 1050 18000
Faixa de Temperatura Ambiente (Graus -40 a +60 -40 a +60 -40 a +60
Celsius)
Peso (Kg) 34 60 120
Precisão (Medição) IEC classe 0,2S, IEEE classe IEC classe 0,2S, IEEE classe IEC classe 0,2S, IEEE
0,3; 0,15 0,3; 0,15 classe 0,3; 0,15

Precisão (Proteção) IEC classe 5P, IEEE 10% IEC classe 5P, IEEE 10% IEC classe 5P, IEEE 10%
classe 0,3; 0,15 classe 0,3; 0,15 classe 0,3; 0,15

Corrente térmica de curta duração 63 kA Rms por 1 Seg. 63 kA Rms por 1 Seg. 63 kA Rms por 1 Seg.

Faixa da corrente dinâmica 1.0 A a 5.000 A 1.0 A a 5.000 A 1.0 A a 5.000 A


contínua de operação

Devido ao seu peso reduzido e não possuir qualquer tipo de líquido isolante, os NCIT podem ser
montados em qualquer posição e dispensa qualquer necessidade de construção de base civil para
montagem, muito comum para caso de TC convencional.

3. CONCLUSÕES

Podemos concluir que embora a tecnologia já seja de amplo conhecimento, ainda existem diversos
desafios e paradigmas que devem ser superados como, por exemplo, a capacitação das equipes técnicas
das empresas para especificação, configuração e testes das novas subestações totalmente digitais
principalmente do barramento de processo que exige conhecimento especifico de redes e da norma IEC
61850.

Outro paradigma que deve ser superado é a especificação, aplicação e configuração do TC óptico (NCIT)
que pertencem agora à equipe de automação e proteção se comparado com os tradicionais
transformadores de corrente convencionais que era especificado e aplicado pela equipe de subestação.

4. REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

[1] – P44x – Distance Protection – GE - Technical Manual P44x/EN M/B11.


[2] – S. Richards – Digital substation 2.0 – Technical presentation.

[3] – Relatorio de Atividades REASON – Instalação em Campo M.U - 320.

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