Durante os anos finais da ditadura militar aconteciam debates pela realização de uma nova
constituição em diversos grupos da oposição. Na década de 1970, quadros importantes da
política brasileira já debatiam a questão, que também era abraçada por diversos intelectuais do país. Um exemplo conhecido foi quando Gofredo da Silva Telles leu um documento intitulado Carta aos brasileiros, que fazia uma defesa jurídica do Estado de Direito no Brasil. Ela atacava a Constituição outorgada pelos militares e afirmava que uma Constituição somente era válida se fosse elaborada pelos representantes do povo em uma Assembleia Nacional Constituinte ou se elaborada durante um processo revolucionário legítimo. Esse discurso em defesa da redemocratização foi ganhando força à medida que o regime militar se enfraquecia. Tanto que nos últimos governos foram tomadas medidas que indicavam isso, como a revogação do AI-5. Em 1984, acontece no país o movimento Diretas Já, uma exigência popular de que o presidente brasileiro que seria eleito em 1985 viesse de eleição direta, com participação popular. Porém, a emenda dessa reivindicação acabou sendo derrotada. Diante disso, os políticos da oposição juntaram-se na defesa da composição de uma Constituinte e de uma nova Constituição. Após tantos anos sob um regime de ditadura militar, o povo se viu esperançoso com a eleição de Tancredo Neves (candidato de oposição), pois esperavam uma nova democratização, mas que dessa vez fosse favorável a população e atendesse as suas necessidades. No entanto, o Presidente então eleito não chegou a tomar posse, pois faleceu logo após, e seu vice Jose Sarney é quem assume a Presidência. Então, a nova Constituição foi promulgada em 5 de outubro de 1988 pela Assembleia Nacional Constituinte eleita em 1987, e consolidou a transição do Regime Militar para a Nova República, após 20 anos de repressão e direitos individuais reprimidos em nome do interesse do Estado. O texto garantiu os direitos políticos e individuais dos cidadãos brasileiros, eleições livres e diretas e o fim da censura imposta até então. Além disso, foi definida a função social do Estado, que deve prover serviços públicos de saúde e educação de qualidade para a população, sem qualquer forma de discriminação. Ainda em resposta ao período autoritário, a Constituição de 1988 proibiu a tortura e a interrupção da ordem democrática. A partir de então, qualquer alteração no sistema político deve ser feita de maneira pacífica e democrática, por meio do debate aberto e inclusivo, e da participação dos três poderes. Essas garantias surgiram diretamente das demandas da sociedade brasileira, que havia sofrido a repressão de um regime autoritário, que desrespeitava frequentemente os direitos dos cidadãos. A Constituição de 1988 se diferencia, não só da Constituição de 69, mas de todas as outras em razão de sua índole humanitária. Sendo conhecida como a Constituição Cidadã.