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REVISTA TRitiS (eee) PONTOS

4.2

Amizade e auto-identidade: contri-


buições giddensianas para uma
teoria dos afetos*

Nina Gabriela RESUMO: Esse trabalho visa apresentar em que a teoria giddensiana pode servir para pensar as rela-
Rosas ções entre amigos. Acredita-se que ao utilizar as noções que envolvem o conceito de identidade, confor-
me cunhadas por Anthony Giddens. seja possível entender como as relações de amizade estão estrutu-
radas. As considerações sociológicas pontuadas aqui devem ser vistas como hipóteses; como possíveis
Granduanda em
embasamentos a fim de fazer um mapeamento dos vínculos amicais da atualidade. Se os indivíduos são
Ciências Sodas/
capazes de criar e sustentar reflexivamente uma narrativa a respeito da própria vida, é proveitoso per-
UFMG
ceber como as amizades se comportam frente a isso. Chega-se ao final, com a expectativa de que esse
ensaio possa representar uma pequena contribuição para uma teoria das afetividades.
Palavras-chave:
Anthony Giddens; ABSTRACT: This paper presents as major goal an exposition about how Giddens's theory can be useful
amizade; auto- to think the relationships between friends. At using the notions that involves the identity concept, as
identidade; rela- conceived by Giddens. it is hoped to be able to understand how this relationships are structured. The
ções de amizade; sociological considerations that are pointed here should be seen as hypothesis; as possible abasements
sociabilidade. for a systematization about friendly connections in the contemporary world. lf the individuais are capable
of create and maintain a reflexiva narrativa about their own lives, it is worth to note how the friehdships
KeyWords: are related to that. Finally, it is expected that this paper can represent a small contribution for the
Anthony Giddens; affection theory.
friendship; self-
identity; friend's
relationships; so- Introdução discutir como a amizade está estruturada numa
ciability. época em que o indivíduo é dotado da capacidade
O tema da amizade já foi alvo de muitos dis- de organizar sua biografia reflexivamente. 2
cursos e de diálogos diversos. 1 Se for lançado um- Anthony Giddens é um dos autores mais im-
olhar sobre as relações que os indivíduos estabe- portantes do século XX e XXI e seu destaque é
*"Esse trabalho é uma
dispensável mencionar. Acentua-se, porém, que
parte do projeto que realizo no leceram entre si ao longo do tempo e do espaço,
Pet de Ciências Sociais. Agra- ele traz em seu livro Modernidade e Identidade
deço imensamente aos alUnos é possível perceber que muito já foi dito sobre a
integrantes desse programa e (20021 uma síntese das afetividades contempo-
ao tutor Prof. Bruno Reis pelos
amizade, e, no entanto, ela quase não aparece
râneas, acoplada à afirmação de que os indivíduos
comentários e sugestões; aos no cenário da discussão sociológica atual. Sem
pareceristas da Revista Três modernos são capazes de contar uma história co-
Pontos pelas observações de tentar concluir de forma precipitada e/ ou justi-
grande valia; ao Prof. Renan erentemente organizada sobre sua própria vida.
ficar que is.so se dá por meio do declínio da rela-
Springer de Freitas pela corre- A importância que o esforço sociológico desse
ção sistemática, ao Prof. Paulo ção amical, é notório que, hoje, as amizades não
Henrique Osório pela orien- autor tem para se pensar a amizade está no fato
tação e amizade; a Rafael AI· aparecem como preferência temática de reflexão,
meida e Cláudio Castro Corrêa
dele conferir à identidade ("auto-identidade") um
embora permeiem todo o âmbito cotidiano. Dire-
pelo apoio e motivação." atributo de reflexividade e autonomia em termos
cionar esforços para tal abordagem se torna re-
de organização da vida particular e, assim, ser
1 Inicio esse trabalho levante, além disso, por essas relações também
esclarecendo que ao contrá- possível pensar como as amizades se compor-
rio do que parece, esse tema constituírem parte da esfera íntima - se assim
já foi o cerne de uma dezena
tam frente a isso. A partir de suas elucidações
de obras em diversas épocas.
é possível classificá-las de antemão - que é tão pode ser concluído que interpretar a própria tra-
(Ver VINCENT-BUFFAULT, 1996 presente em discussões diversas sobre a família, jetória de vida. organizando-a autonomamente, é
e ORTEGA, 2002). Tais obras,
no entanto, tinham muitas ve- a sexualidade, o espaço público, entre outras. próprio da modernidade. Se isso pode ser dito,
zes um caráter dialógico P/ ou
filosófico, estando muito vezes
O que apresento sobre as relações de amiza- como as relações de amizade são caracterizadas
circunscritas a um contexto es- de nesse ensaio é proveniente de uma pesquisa hoje? Esse é o tema a que me proponho. Nes-
pecifico, e por isso, não as clas-
sifico aqui como propriamente em andamento, que visa compreender as afeti- se artigo, porém, inicio a pontuação de algumas
do campo da sociologia, apesar vidades amicais modernas (dos dias de hoje) e,
de lançar mão delas, na maior considerações sobre tal temática. Por meio da
parte das vezes, via outros au- para tanto, revisa como a amizade era entendida teoria de Giddens, a posição que se assume des-
tores.
e formulada ao longo do tempo. Apesar de as as- de o início é que a categoria de identidade como
2 Essa capacidade é, serções demonstradas serem fruto. desse estu- ele a compreende, além de levar as concepções
segundo Anthony Giddens,
própria da modernidade.
do, não cabe aqui a apresentação dessa genealo- identitárias para além da questão da diferença/
Parto desse pressuposto sem gia. Muito menos trago a pretensão de abarcar. reconhecimento 3 , pode fornecer um aparato te-
questioná-lo. Já adianto que
todas as reflexões pontuadas em poucas linhas, uma síntese de tudo o que já órico e, por que não, instrumental. para realizar
como hipóteses serão testa-
foi escrito sobre a amizade. Ao contrário, a ten- uma pesquisa empírica sobre as relações entre


das mais tarde.
tativa do trabalho é tecer algumas considerações amigos. Acrescenta-se que da teoria giddensiana
sociológicas minimamente sensíveis aos textos toca-se nos conceitos de "relações puras". "con-
históricos e filosóficos, com o único objetivo de fiança básica". "segurança ontológica" e "casulo
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protetor" que permeiam a compreensão do que bre as relações modernas não é tão satisfatória.
ele denomina de "auto-identidade". Nela poderiam ser enxertadas algumas conside-
Espera-se poder contribuir em alguma medida rações sobre a fragilidade dos vínculos modernos,
para a reflexão e sistematização ao menos con- entre outras, que fariam sua análise mais fidedig-
ceitual das relações de amizade, aplicando nas e na. Para tanto, a evocação das "relações puras"
descobrindo-as por meio de matizes que ainda não de Giddens pode acrescentar alguns pontos não
foram explorados em relação a elas. Para isso, percebidos por Ortega em seu esforço de traçar
segue-se uma seção destinada a fazer conside- a história da amizade. 4
rações sociológicas sobre a história das relações Além de Ortega, aponta- se a importância de
de amizade, outra a pontuar conceitualizações Francesco Alberoni e Anne Vincent-Buffault. Al-
de Anthony Giddens, e por último, uma tentativa beroni é um filósofo do século XX que volta seu
de se explicar em quê a teoria giddensiana pode esforço para compreender o valor universal da
contribuir para se pensar as relações de amiza- amizade. Buffault, historiadora também desse
de, apontando para uma análise da sociabilidade mesmo século, marca sua relevância para esse
amical hoje. tema ao descrever a amizade no século XVII e
XVIII. 5 Essa escolha se fundamenta por eles con-
Sobre as relações de amizade templarem, em suas referências, obras de diver-
sos outros autores clássicos e contemporâneos
As considerações tecidas a seguir são pau- sobre a amizade, ao passo que não seria possível,
tadas principalmente na obr.a de Francisco Or- para mim, estudá-las uma a uma. A limitação da
tega, filósofo contemporâneo, que dedicou parte escolha é evidente. 6 O importante a ser frisado,
de seu esforço intelectual a fazer uma genealogia no entanto, é que os vínculos de amizade podem
das relações de amizade lGenealogias da amiza- ser considerados como algo que, ao olhar retros-
de, 20021 e de compreendê-las frente à esfera pectivamente com olhares modernos, seriam
pública (Para uma política da amizade: Arendt, classificados como outro tipo de afetividade.
Derrida, Foucault, 2000J. A exposição de Orte- Ao estudar a trajetória histórico-filosófica da
ga l2002J trata da amizade da Grécia antiga, de amizade perceber-se uma divi.são clara e dicotô-
Roma, do cristianismo primitivo, da Renascença mica, mesmo que aparentemente grosseira. De
e da Modernidade. Ele consegue definir os con- um lado, pode-se pensar (hipoteticamente) numa
tornos do que seria "amizade" em cada contexto linha que norteia o pensamento de autores que 3 Infelizmente não
possível discorrer sobre a forma
desses, a partir da diferenciação da amicitia fren- concebem a amicitia7 como dotada de um conte- como o interacionismo e outras
vertentes do pensamento so-
te a outras relações sociais como o matrimônio, údo imut~vel. Eles buscam, a partir daí, extrair ciológico entendem e abordam
o parentesco, a irmandade religiosa, etc. A meu do contraste com as relações vigentes, o que é a identidade. Espera-se que
essa diferença seja minima-
ver é possível extrair duas considerações funda- a verdadeira amizade. Dentro dessa perspectiva, mente dedutível na medida em
que a teoria da auto-identidade
mentais para o desenvolvimento desse trabalho, pode ser colocada - com acento para a grande
é exposta abaixo.
a partir do pensamento de Ortega. Em primeiro diferença de suas teorias amicais -a perspectiva
lugar, ao traçar uma história da amizade, o autor platônica e aristotélico-ciceroniana. Consoante 4 Eu poderia me ater
apenas em fazer aponta-
acaba por demonstrar como esse vínculo é cir- com essa busca pelo aspecto normativo desse mentos complementares e
tipo de afeto destaca-se Francesco Alberoni. substitutivos da concepção
cunstancial e ligado às contingências das confi- moderna de amizade apre-
gurações nas quais ele se desenvolve; mesmo que Acentuo a presença desse autor para abolir pos- sentada por Ortega. Em prin-
cípio, quero com essa eluci-
se tenha uma concepção universalista de como a síveis deduções de que esse pensamento de que dação apenas afirmar que em
amizade deve ser. Segundo, sua explanação so- a amizade tem um conteúdo indelével já foi su- se tratando de afetividade
contemporânea, lanço mão
de outras considerações que
não apenas as dele. Não des-
conheço as produções recen-
tes do autor sobre "bioiden-
tidade" e "biosodabilidade",
mas não considero que esses
conceitos sejam interessantes
para essa discussão.

5 Cito esses autores


aqui por eles terem sido base
para as reflexões sociológicas
que proponho nessa intro-
dução sobre a as relações de
amizade. Considerações mais
pontuais sobre suas obras
não fazem sentido nesse
contexto.

6 Como conseqüência
disso, reconheço que o que é
dito sobre amizade nesse tex-
to pode incorrer nas mesmas
interpretações, talvez errône-
as ou limitadas, dos críticos
aqui evocados. Espero que
essa forma de construção de
um panorama das relações
de amizade não seja por isso
comprometido.
REVISTA. TRêS (e e.) PDNTDS Nina Gabrie/a Rosas
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perado. De acordo com a divisão que proponho, "Nascida essencialmente da atividade guer-
do outro lado, paralelamente, notar-se-ia um pen- reira, a mitologia da amizade heróica e ca-
samento norteado por uma percepção de que as valheiresca está ligada ao perigo e à ação,
amizades são históricas, strictu senso, condizen- à fraternidade de armas, ao exercício da
tes com as relações estabelecidas com a famí- coragem, do heroísmo, a uma solidarie-
lia, a noção· de ciência, a prática da sexualidade dade frente ao adversário. Na época mo-
e da política. Para esses autores, a amizade não derna e contemporânea, ela é transposta
possui qualquer atributo ou atribuição metafísi- para a vida civil ou profissional e para uma
ca visto que é condizente com a estrutura social sociabilidade masculina que tende a cele-
que configura determinado grupo. Essa segunda brar suas especificidades, distinguindo-se
forma de pensamento pode ser encontrada em do universo feminino". (8uffáult, 1996,
Agostinho, Buffault, Ortega, dentre outros. To- p.14J
ma-se essa última imagem da amizade como po-
sição central para esse artigo. Assim, o que se pode perceber é que mesmo
A perspectiva da amizade como fenômeno aqueles autores que se propunham ou acabavam
meramente histórico 8 começa a ser vislumbrada por defender uma amizade dotada de atributos
na análise platônica do "philos". Apesar de Platão metafísicos e universais, corroboraram para a
ter um compromisso com a busca pela verdade demonstração de que a amizade é um fenômeno
e pelo amor - daí se vê sua possível crença no histórico, circunstancial, dotado das caracterís-
conteúdo inato da amizade - é em seu próprio ticas particulares de cada sociedade.
trabalho· para conceituá-la enquanto tal que se Pensando nas relações de amizade no contexto
percebe a relação desta com o eras paidikon, típi- da "modernidade tardia", de antemão é possível
co da Grécia antiga. Na medida em que os jovens ressaltar as transformações ocorridas nesse tipo
gregos eram iniciados na filosofia, nas atividades de vínculo. Obviamente, é possível notar que não
físicas e na sexualidade, por meio de um víncu- se fala de amizade no sentido dos pares famosos
lo com homens mais velhos, surgia a "antinomia de amigos, como Montaigne e La Boetié, ou nem
dos rapazes", uma ambivalência presente nessa mesmo de acordo com as concepções clássicas
relação. Os jovens passivos sexualmente esta- rapidamente apresentadas. Em linhas gerais, as
vam destinados a não exercerem sua cidadania relações modernas são dotadas de uma comple-
na "polis". Como tentativa de sublimar essa "ars xidade própria a essa modernidade. O efeito das
erótica" problemática, Platão desenvolve o que mídias e dos meios de comunicação tem gerado
Ortega interpreta como "ontologia platônica da outras relações de tempo/ espaço. A 'livre' pos-
philia", uma forma de prevalecer com o caráter sibilidade de escolha de gênero e a extensão ou
educativo dessa relação abstraindo a s-exualidade frouxidão das categorias renda, faixa etária, raça,
que ela continha. etc. , podem levçr a amizade a perpassar tais fron-
Outro exemplo digno de nota está na concep- teiras ou a ficar reclusa em alguma dessas barrei-
ção cristã primitiva, que considerava incorreto o ras. Ou pode ser até mesmo que as relações de
emprego do termo amizade, visto que ele cono- amizade em nossa cultura sejam residuais, persis-
tava o particularismo, o egoísmo e a posse da tindo ainda como grandes bolsões de tradição. De
relação amical, bem como as alianças políticas e todo modo, seria vago tentar delinear essas fron-
militares que eram estabelecidas e que poderiam teiras sem um trabalho de campo. Não obstante,
caracterizá-las. Dessa forma, o vínculo da frater- o que se visualiza é que as influências das relações
nidade universal, do amor a Deus e à família da com os amigos na vida do indivíduo dito moderno,
fé estava destinado à caritas christiana, ao amor reflexivo, capaz de "perpetrar suas ações" e es-
ágape. Acontece assim uma inversão da hierar- truturar as instituições à sua volta, 'são obscuras
quia pagã, que considerava a amizade como o me- e ainda pouco sondáveis.
lhor vínculo de convivência. 9
No próprio exercício da amizade, portanto, ha- Sobre a teoria· de Anthony Gid-
7Os termos amícitía,
amizade e amical são utiliza- via uma busca por definí-la enquanto tal, pensá-la dens
dos com o mesmo significa-
do. As variações são apenas
e repensá-la, refinando-a ou descartando-a como
recurso estilistico. modelo de referência. A ligação da amicitia com Giddens dedicou parte de sua obra a tratar
outras instituições sociais (em sentido lato) afe- a questão da modernidade, da transformação da
8 As considerações
apresentadas sobre a aná- tava diretamente os atributos e atribuições des- intimidade e da identidade. Nesse período onde
lise platônica da phi/ia e da
amizade cristã são oriundas
, tinados a ela. Ou seja, a amizade aparece como se observa o surgimento dos estados nacionais,
do pensamento de Francisco um fenômeno eminentemente social, no sentido a contenção das emoções, o refinamento e eleva-
Ortega.
de ser passível de alteração tão logo, ou parale- ção do patamar de embaraço, como pontuou Nor-
9 Esses são apenas al- lamente, se alterassem outras configurações so- bert Elias, Anthony Giddens elabora e apresenta
guns exemplos, dentre diver-
sos, que podem ser evocados
ciais. Um exemplo disso é a amizade dos conven- o "tipo ideal" de vínculo da época -as "relações
para pensar as amizades não tos e colégios do século XVIII, que organizavam puras". Elas são o avesso da solidariedade tradi-
como inatas e dotadas de
atributos atemporais, mas, a educação das moças e dos rapazes em função cional feudal e são caracterizadas, principalmen-·
historicamente organizadas da separação dos sexos e da disciplina militar (no te, por estarem além das relações econômicas,


e constituidas.
caso masculino), decaindo depois em detrimento políticas e religiosas .
da amizade mista. Isso é explicitado logo no co- Esse vínculo se trata de uma relação iniciada
meço da obra de Buffault: pela satisfação que o contato com Q out~o pro-
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porciona e vai se estender até quando esse be- sociológicas e principalmente antropológicas atu-
nefício perdurar. Giddens aponta a am,izade como ais sobre identidades). Não se trata também de
um exemplo desse afeto que se mantém exclu- um epifenômeno, percebido somente na infância
sivamente pelas recompensas que traz para os ou adolescência. Consoante com o estilo de vida,
envolvidos CGIDDENS, 2002, p. 871 (Francesco AI- · com a auto-reflexão da modernidade, enfim, com
beroni concebe a amizade também como uma re- as demandas às quais os indivíduos se deparam,
lação que se mantém pelos encontros sucessivos essa identidade supõe uma narrativa, uma forma
e que são responsáveis pela concepção de uma de organizar o mundo à sua volta, de modo pesso-
temporalidade granular). Essa forma de relacio- al. A auto-identidade não se trata, portanto, de
namento se caracteriza pela ausência quase ab- um conjunto de escolhas feitas pelos indivíduos
soluta de obrigatoriedades recíprocas e pode ser ou de seus percursos de vida, antes, é a forma
rompida tão logo não apresente mais valor intrín- com a qual ele faz tais escolhas, refletindo, ge-
seco. Isso não quer dizer que não exista tensão renciando, revendo, desfazendo e refazendo suas
no relacionamento, mas que ela é uma ameaça tomadas de decisão.
significativa que pode provocar seu rompimento. Complementarmente , Giddens ressalta que
Outro atributo desse afeto é que a relação pura é é importante para os agentes terem espaços
organizada de modo aberto: uma avaliação pesso- em que possam ser totalmente honestos con-
al é feita periodicamente com vistas a validar ou sigo mesmos. Dessa forma, é possível rever os
não o compromisso requerido. Ela também se ca- acontecimentos, as escolhas feitas e as pessoas
racteriza pela intimidade que confere e pelas sa- com as quais se relacionou, e conferir a esses ce-
tisfações necessárias que proporciona, além da nários novas cores, introduzir ou alterar falas e
confiança que requer e exige para que seja pros- passos, colocar numa nova ordem. Dessa forma,
seguida. Esse tipo de vínculo aparece, segundo o trata-se de constituir um "eu" reflexivo, corrigin-
autor, na amizade, no casamento e nos domínios do o passado e antecipando o futuro. A autobio-
da sexualidade. Requer, em suma, confiança mú- grafia tem essa função de remodelar a história de
tua, reciprocidade, decisão de ambos em perma- vida do indivíduo por meio de suas próprias maos.
necerem mutuamente vinculados, autodomínio, Assim:
autenticidade e comprometimento.
Em um mundo tão plural, como a maior parte
'Y.. .] a
autobiografia - particularmente no
dos autores que tratam da modernidade o conce-
sentido amplo de uma auto- história inter-
be, os indivíduos têm uma vasta gama de opções
pretada, produzida pelo indivíduo em ques-
de escolhas para fazer cotidianamente. Giddens
tão, seja escrita ou não - está realmente
chama esse conjunto de escolhas que se rotini-
no centro da auto- identidade na vida social
zam e as atividades e caminhos mais ou menos
moderna. Como qualquer outra narrativa
coerentes a que um indivíduo abraça de "estilo
formalizada, ela é algo que deve ser tra-
de vida". Não há como não tomar essas decisões
balhado, e certamente demanda esforço
cotidianas. Apesar da liberdade em se fazê-las,
criativo". (GIDDENS, 2002, p. 751
elas são obrigatóriaq. Adicionalmente, coloca-se
que elas preenchem não só as necessidades prá-
Anthony Giddens elabora um conceito que
ticas como "dão forma material a uma narrativa
aponta para uma característica que segundo ele
particular de auto- identidade" (GIDDENS, 2002,
é própria da época vigente. Essa habilidade com-
p. 791.
Além dessa postulação do protótipo da relação patível e desenvolvida pela modernidade não tem
típica da modernidade, tomo o conceito de "auto- sido até então valorizada como objeto de investi-
identidade" desenvolvido por Anthony Giddens. A gação científica. Uma ressalva importante nesse
inovação do autor está em conferir uma roupa- sentido é que o autor, ao propor o conceito de
gem totalmente nova à noção de identidade. Além "auto-identidade", faz uma junção tanto do que
disso, ressalto que o que é interessante para o é vivenciado por um recém nascido até o que é
propósito desse trabalho é que a "auto-identida- maturado na idade adulta. Giddens faz isso por
de" não é uma série de características distinti- meio da pontuação dos mecanismos de "confian-
vas que um agente deve ter. mas sim a capacida- ça básica" e "segurança ontológica. Para tratar
de inerente ao indivíduo moderno de contar uma de "auto-identidade", ele lança mão de certa en-
história para si ou para outros sobre sua p~ópria genharia de formação da mente e da personali-
vida, dotando-a de coerência e significado, sendo dade. Nesse sentido, o autor explica que a "se-
possível, a partir disso, dar seqüência às ativida- gurança ontológica" é o que oferece respostas
des cotidianas. Giddens enfatiza que essa habili- às questões existenciais: interrogações sobre a
dade é própria apenas da modernidade e não deve finitude da vida, sobre a origem do ser em termos
ser confundida com autoconsciência. A falta ou a· de realidade, questionamentos quanto à percep-
deficiência dessa aptidão resulta em problemas ção de outras pessoas, enfim, perguntas sobre
psíquicos. A noção de auto-identidade, portanto, a coerência do que é presenciado pelo indivíduo.
trata de um processo de criação, sustentação e Para responder a essas questões, as relações
continuação de uma narrativa biográfica referida de confiança desenvolvidas nos primeiros vínculos
internamente. Não se pode dizer, nesse sentido, ("confiança básica") são responsáveis pela con-
em perder, achar ou reunir identidades fragmen- solidação de um real, por um sentido de "irreali-
tadas (assim o autor se distancia das discussões dade" que conforta e protege contra ansiedades
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e ameaças potenciais_ Destarte, ele percorre indivíduo a possibilidade de exercer mudança, inclu-
outro trajeto que não o dos "estudos culturais", sive no que diz respeito à afetividade amical, visto
conferindo à identidade um caráter bem afim às que trata da institucionalização do privado como
características da modernidade reflexiva. produto da rotinização de ações individuais para as
qÍJaishá .liberdade de decisão. 11 Esse raciocínio du-
Algumas considerações plo pode ser encontrado em outros escritores, mas
no autor, ele está presente envolvendo a concepção
Pensar as relações de amizade na contempo- de identidade e deve ·ser enfatizado. Citando-o:
raneidade é um caminho muito extenso que pode
ser realizado por várias veredas diferentes. A ·~ modernidade deve ser entendida num
opção por trabalhar esse tema se deve ao fato nível institucional; mas as transformações
de muito já ter sido dito a respeito de um "dever introduzidas pelas instituições modernas
ser" da amizade e quase nada na direção de uma se entrelaçam de maneira direta com a
teoria social dos afetos. O designo cunhado aqui vida individual, e portanto com o eu. {... ]O
é o de cooperar homeopaticamente nesse últi- eu não é uma entidade passiva, determina-
mo sentido. Para isso, é necessário acrescentar da por influências externas; ao forjar suas
que algumas impossibilidades impediram a cita- auto-identidades, independentes de quão
ção pontual de um trabalho importante nesse locais sejam os contextos específicos de
trato 10 . Acredita-se, todavia, conseguir dar um ação, os indivíduos contribuem para {e pro-
passo adiante por meio da inserção de catego- movem diretamente] as influências sociais
rias giddensianas para se pensar a amizade nos que são globais em suas conseqüências e
dias de hoje. Com essa proposta, contudo, não implicações". [GIDDENS, 2002, p. 9J
ignoro que outras possibilidades de entendimen-
to serão inevitavelmente obscurecidas, como Com isso, se conclui que as mudançás mais
por exemplo, uma discussão relativa a outros singelas nas organizações das amizades podem
aspectos da sociabilidade que poderia ser apre- e devem implicar na promoção de alterações das
sentada por meio da consideração de Bauman, formas institucionalizadas desse .afeto. Em con-
Simmel ou Mauss [entre outros), passíveis de trapartida, ou no sentido inverso, novas estrutu-
serem relacionadas ou complementarem a noção ras de afetividade condicionarão as condições em
de amizade atual. que as amizades serão desenvolvidas. 12
Giddens também é sensível em notar as trans- Assim, vislumbro propor algumas implicações
formações da esfera íntima como duplamente re- que a nova aptidão de cunhei sócio-psicológico
lacionada à modernidade. Por um lado, ele acentua ("auto-identidade") traz para a compreensão das
que mudanças nessa esfera são decorrentes de relações amicais. A concepção de que amizade é
transformações "macro", mas também declara que uma simples aproximação de "iguais" mediada por
as alterações "micro" podem e têm arrolamento afinidade, maneira trivial de pensar o afeto entre
com formas institucionais. Essa defesa confere ao amigos, é pintada com novos matizes por meio

1O Alusão a Cláudia
Rezende Barcellos. Os signifi-
cados da amizade.

11 Creio não ser in-


teressante para esse tema
entrar nas controvérsias que
o raciodnio da estruturação
pode gerar. Apesar de não
desconhecer essa discussão,
tomo Giddens como base
para a análise aqui desen-
volvida.

12 Além do exposto so-


bre a amizade, muito poderia
ser pontuado sobre o amor,
que é outro tipo de sentimen-
to sempre presente nas tenta-
tivas de se definir o que são
relações amicais. Entretanto,
pensa-se que a exposição
desse artigo, apesar de não
detalhar o enamoramento,
contém descrições (para fins
de análise) fidedignas sobre
os afetos de amigos.
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dessa concepção. Em primeiro lugar, insere-se dão origem a essa carapaça de proteção que fil-
nesse percurso a idéia de reflexão, que vai além tra perigos potenciais, protegendo o indivíduo de
da reflexividade da modernidade tardia. O que ansiedades e ameaças a sua integridade. Essa
se aborda, como já norteado, é a capacidade do casulo é um sentido de "irrealidade" que coloca
agente de ver "por cima" e gerenciar suas pró- entre parentes riscos eminentes que abalam a
prias atitudes, o que também pode ser suposto sensação de segurança indispensável ao segui-
para as relações de amizade. Isso não mais sig- mento da rotina. Ressalta-se que apesar da "se-
nifica pensar apenas como se o que funcionasse gurança ontológica" e a "confiança básica" esta-
fosse unicamente um comportamento estímulo- rem .confinadas às relações das crianças com os
resposta. Não é o fato apenas do indivíduo perce- cuidadores, o casulo pode ser abalado até mesmo
ber que o outro não possui as atribuições neces- na vida adulta, pode ser rompido temporariamen-
sárias para fazer parte de seu grupo de amigos te, e prejudicando o indivíduo em sua trajetória. O
que orientará a definição de uma "rede" de con- que poderia afetá-lo, segundo o autor, são acon-
vivência. Mas marcantemente, a capacidade dele tecimentos que remetem às questões existen-
em eleger, constituir, estabelecer e comandar um ciais de alguma forma, como acidentes de carro,
conjunto de próximos de maneira condizente com mortes de parentes e conhecidos, entre outros.
suas expectativas e anseios. Isso não significa Com o tempo, o casulo é restaurado e a normali-
tratar a amizade de forma apenas instrumental dade reina novamente. Como dito:
e funcional (também não quer dizer descartar es-
sas dimensões), mas é, principalmente, conferir "Confiança, relações interpessoais e uma
a habilidade de estruturar relações, que vai além convicção da "realidade" das coisas andam
da definição de contatos profissionais interes- de mãos dadas nos ambientes sociais da
santes. 13 vida adulta. As repostas do outro são ne-
A auto-identidade, também, é proposta por cessárias na sustentação de um mundo
Giddens tanto como sólida o bastante para asse- "que é observável" e "que reponde", e no
gurar a continuidade de vida ao indivíduo, quanto entanto não há como confiar em termos
frágil, suficientemente, que outra história qual- absolutos".lGIDDENS, 2002, p. 531
quer poderia ser contada em detrimento da atu-
al. Nesse sentido, se assim mesmo o for, as rela-
As relações de amizade podem ter influência
ções de amizade podem contribuir para a história
nesse processo de re-erguimento do casulo, não
de vida pessoal. Isso só seria legítimo (consoante
mais· no sentido de firmarem uma confiança que
com o pensamento giddensianol com a validação
é básica e seria formada na infância, mas na pos-
dos agentes, ou seja, se os indivíduos corrobo-
sibilidade de em conversas de intimidade restau-
rassem, mesmo que de forma indiretamente
rarem a segurança momentaneamente perdida.
consciente, para que outros interferissem em
A partir do ponto que se é considerado que os
suas tomadas de decisões, das menores, como
amigos podem oferecer suporte a um rompimen-
comprar uma roupa, a maiores tais como ingres-
sar numa universidade, fazer um aborto, mudar to de matrimônio ou à saída da casa dos pais, es-
de país, se casar. .. sas interferências se tornam mais significativas;
Concomitantemente, é possível supor baseado pois se passaria a recorrer aolsl amigolsl para a
nas asserções já mencionadas, que as relações obtenção de recursos que apoiassem as ações
de amizade propiciam aos indivíduos a montagem individuais. Se essa hipótese for percebida como
. um leque que forneça parâmetros comparativos, faceta do "real", os amigos estarão amplamente
ou seja, elementos de possíveis atitudes, que os envolvidos com as respostas que os agentes se
levem a (rel constituírem, lrel significarem e lrel dão quanto a assuntos cotidianos ou até mes-
ordenarem a própria percepção, servindo de re- mo na constituição de uma veracidade dialógica a
cursos para suas ações. Isso significa dizer que respeito da existência.
a credibilidade nos amigos faz funcionar uma en- Conforme aponta Alberoni (apesar de pensar
grenagem que configura (talvez até não conscien- que isso serve para a amizade em qualquer época
temente) quais são as coisas certas e erradas, da vidal, relacionar-se com o outro é descobrir a
aquilo que deve ou não ser feito; por meio da jun- diferença e o risco da solidão individual, é perceber
ção de uma (ou mais) "moral"que é reunida. Nes- tanto as desigualdades quanto as semelhanças,
se sentido, se relacionar com um amigo implicaria é se descobrir. É, deste modo, uma outra forma
em escolher não só a amizade, mas, se aquele de se relacionar consigo mesmo. O amigo é visto
indivíduo fará parte das referências que se quer como alguém que aponta o caminho condizente
colecionar. Isso levaria a pontuar os vínculos de com nossos gostos e preferências, mas sem o 13 Nesse ponto é im-
portante acrescentar que há
amizade nos dias de hoje como significativamente qual não seria possível enxergar sozinho. Ele não novas formas de extensão e
presentes na organização da vida dos agentes. E é ditador de suas próprias vontades, mas, na me- gerência do grupo de ami-
zade, como a internet, blogs
se isso for observável, a amizade precisa voltar dida em que se relaciona permite ao outro a des- e espaços afins. Além disso,

a fazer parte de uma agenda de pesquisa socio- coberta de coisas que não poderia fazê-las sem outros tipos de convivência
podem estar sob a égide da
lógica. a ajuda dele. Alberoni defendia que esses eram amizade. Não obstante, essas
são dimensões para outros
Outra possibilidade a ser apontada é uma ana- atributos de uma amizade universal, mas perce- trabalhos.
logia entre relações de amizade e as fragilidades beu essas características em pleno século XX,
do que Giddens chama de "casulo protetor". Para apontando muito pouco para a crise (ou simples-
ele, "confiança básica" e "segurança ontológica" mente mudança) desse tipo de afeto, o que me
REVISTA TRÊS [eee) PONTOS Nina Gabriela Rosas
4.2

permite pensar que ele vislumbrava essa relação entre outros, a amizade há que ser repensada
ideal ainda nos dias de hoje. enquanto prática de convivência. Mesmo que atu-
almente já se aponte, até por deduções de senso-
Final comum para uma decadência da família enquanto
instituição social, é preciso verificar quais são os
atributos que a amizade pode lançar mão.
Ainda é proveitoso pensar as afetividades en-
Concluindo, Anthony Giddens não tem uma
tre amigos e como elas estão dispostas no ce-
teoria das relações de amizade e revisitá-lo por
nário brasileiro do século XXI. Nota-se em diver-
meio dessa te'mática também seria também pro-
sas obras, que praticamente até o século XVIII, a
veitoso. No entanto, a proposta de usar a teoria
história da amicitia era uma história da amizade
da "auto-identidade" para se pensar as afetivi-
masculina. Os laços afetivos entre as mulheres dades entre amigos é apontar caminhos esti-
ou passavam despercebidos, ou nem sequer exis- mulantes para realizar observações práticas 14 e
tiam. Além disso, os vínculos amicais (se é que ao poder perceber a importância da amizade e sua
dar a eles esse nome não utilizamos de uma con- influência. Isso me faz pensar que o vínculo de
cepção moderna) se apropriaram da sexualidade amizade hoje pode estar resignado a ser somente
e a tinham como prática inerente. Por motivos instrumental, como muitas vezes tem sido; ser a
diversos (possíveis de serem pontuados em tese) impessoalização da(sJ rede(sJ de amigos, ou exis-
como a incorporação do sexo e do amor pela fa- tir apenas como resíduo de um tipo de vínculo que
mília por meio do matrimônio, a formulação da ca- em breve desaparecerá do cenário intersubjetivo
tegoria "homossexual" e do "homossexualismo", subsumido por outra forma de sociabilidade.

Submetido em Agosto de 2007


Aprovado em Outubro de 2007

14 O trabalho aqui ex-


posto é parte das elucidações
teóricas que dão suporte para
a pesquisa prática que estará
serão realizada .seqüente-
mente.
AMIZADE E AUTO-IDENTIDADE CONTRIBUIÇÕES GIDDENSIANAS PARA UMA TEORIA DOS AFETOS REVISTA TRêS (eee) PONTOS
4.2

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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do Programa de Ensino
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