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Trilha 02 Definição e Propriedades do Pensamento


Sumário

1 Introdução ao estudo da trilha de aprendizagem p. 4


2 Os três campos do pensamento p. 6
3 Definição e propriedades do pensamento p. 7
4 Síntese p. 20
5 Referências p. 23
4
Introdução ao
estudo da trilha de
aprendizagem

Na trilha de aprendizagem anterior, definimos o Pensamento


+ Representação como a manipulação interna das representações mentais
mental: é uma a fim de caracterizar reais ou possíveis estados/eventos
descrição interna
do mundo, e que está frequentemente a serviço de algum
de algo no mundo
externo, que pode
objetivo (HOLYOAK & MORRISON, 2005).
ser manipulada
para formar outras Nós temos alguns objetivos para esta trilha de aprendizagem.
descrições. Primeiro devemos entender que o campo de estudo do
+ Lembre-se de que, Pensamento é abrangente e por este motivo é estudado
por razões didáticas, em três partes: Raciocínio, Resolução de Problemas e
nós dividimos um
Julgamento e Tomada de decisão.
fenômeno em três
partes estudáveis,
todavia, na prática, Segundo, vamos aprender as propriedades que integram
fazemos uso o Pensamento. Iremos defini-los e expor as principais
combinado de características que o compõem. Para isso, começaremos pelo
todas as formas de Raciocínio, que embasa todas as nossas outras capacidades
pensamento.
de pensar. Seu objetivo será compreender a importância do
raciocínio e suas principais formas (dedutivo e indutivo).

Depois veremos a Resolução de problemas, e como essa


forma de pensamento nos ajuda tanto em tarefas do dia a
dia, como nos grandes dilemas que enfrentamos ao longo da
vida. Neste e-book, discutiremos as principais estratégias
para solucionar problemas. Seu objetivo será entender cada
uma dessas estratégias e quando devemos usar cada uma.
Além disso, vamos examinar quando a estratégia adotada não
resolve o problema, e o que podemos fazer para chegar ao
nosso objetivo.

Por fim, será introduzido o Julgamento e a Tomada de


decisão. Você aprenderá a definição clássica e racional dessa
5 capacidade. E posteriormente veremos o que atualmente
sabemos sobre ela, embasados em estudos científicos. Sobre
este tema, seu objetivo será compreender como evoluímos
nosso conhecimento sobre esta capacidade mental, e porque
não somos seres tão racionais quanto já se acreditou um dia.

Ao realizar a leitura do e-book, procure resgatar da memória


exemplos da sua vida, isto ajudará a reforçar os conceitos que
serão abordados.
6
Os três campos do
pensamento

Este e-book tem como objetivo explanar sobre as três


formas principais de pensamento: Raciocínio, Resolução de
Problemas e Julgamento e Tomada de decisão.

O primeiro a ser visto será o Raciocínio, pois conforme


veremos, ele dá alicerce para a formação dos conceitos, e
para a organização das informações em categorias, ou seja, a
capacidade de raciocínio determina como conceitualizamos o
mundo. Devemos confiar nas conclusões que tiramos sobre
as coisas e o mundo?

Depois veremos as estratégias de Resolução de Problemas,


como identificar qual a melhor forma de solucionar
as questões que a vida nos coloca. Será que estamos
solucionando da melhor forma possível? E por que, às vezes,
não encontramos a solução para o problema?

Para finalizar esta trilha de aprendizagem, vamos começar a


estudar o Julgamento e Tomada de Decisão. Veremos como
os teóricos propunham como são feitas nossas avaliação e
escolha, e como os cientistas passaram a demonstrar que
nossas escolhas nem sempre são as melhores possíveis.

Na próxima trilha, entraremos a fundo no campo do


Julgamento e Tomada de Decisão e veremos as distorções de
pensamento a que todos nós estamos sujeitos, mas das quais
muitos de nós ainda não estão conscientes.
7
Definição e
propriedades do
pensamento

Mas se o pensamento corrompe a


linguagem, a linguagem também
pode corromper o pensamento.
(George Orwell, 1946)

Raciocínio

O mundo que está a sua volta é captado pelos seus sentidos,


sua atenção é direcionada a um objeto que está no mundo,
você então codifica as informações deste objeto, sua cor,
tamanho, textura, cheiro, peso. Essas novas informações que
estão sendo recebidas pelo seu cérebro são comparadas
com as referências que você já possui: este objeto é pequeno
(em relação a sua mão), é verde (médio, nem muito claro, nem
muito escuro), sua superfície é rugosa (parece uma laranja).
Isso é um limão! Seu pensamento tem a capacidade de captar,
considerar e usar as informações que recebe sobre aquilo
que está no mundo (tanto interna quanto externamente).
Ainda melhor, você foi capaz de imaginar a situação descrita
acima de forma vívida? Visualizou um limão em sua mente, ou
ainda, imaginou-se segurando um limão em suas mãos? Tudo
isso sem de fato ter um limão em mãos!

O Raciocínio é essa capacidade de manipular uma


representação mental do mundo (o limão). Em outras
palavras, quando recebemos uma informação (tanto interna
quanto externa a nós), o uso que fazemos dessa informação
chama-se Raciocínio.

Representação mental é o conhecimento de mundo


armazenado em nosso cérebro (GAZZANIGA, 2018). Pode
ser armazenado em dois formatos:
8

Quadro 1 - Formas
de representação
mental. Fonte:
Elaborado pelo autor.

+ Raciocínio: A capacidade de Raciocínio é o processo de chegar a


articulação interna conclusões com base em princípios e provas. Portanto, a
das informações que
partir daquilo que já é conhecido, somos capazes de chegar
obtemos no mundo
externo.
a uma nova conclusão. Ou ainda, a partir de suposições,
podemos inferir uma nova teoria. O estudo do Raciocínio
pode ser dividido em duas categorias: a dedução e a indução.
Esses dois tipos de Raciocínio se diferenciam conforme
a relação estabelecida entre a premissa e a conclusão
(STERNBERG, 2015).

Melhor dizendo, utilizando o Raciocínio dedutivo, nós


chegamos a uma conclusão particular a partir de um conjunto
9 de observações e hipóteses gerais pré-estabelecidas. Nesta
forma de raciocínio, premissas verdadeiras necessariamente
levam a uma conclusão válida (STERNBERG, 2015):
a.  Premissas: teorias ou fatos previamente conhecidos.
•  Teoria: Indivíduos terão que se adaptar às mudanças
climáticas para perpetuar a espécie;
•  Hipóteses: Indivíduos que se adaptam melhor ao
meio têm mais probabilidade de sobreviver;
•  Indivíduos que se adaptam melhor ao meio têm mais
probabilidade de passar sua genética para a próxima
geração;
•  Observação: O mundo está passando por mudanças
climáticas, e isto está afetando a sobrevivência dos
seres vivos.
b.  Conclusão/Confirmação: previsão baseada em
evidências prévias.
Indivíduos terão que se adaptar às mudanças climáticas
para perpetuar a espécie.

Ou seja, neste exemplo o aquecimento global é um fato, e


nossa sobrevivência depende do mundo em que vivemos.

Por sua vez, o Raciocínio indutivo é probabilístico, ou seja,


chegamos à conclusão provável baseada em observações
10 particulares. Isto é, as observações fornecem suporte
provável apenas para a conclusão obtida, não podendo ser
generalizada para outras situações (STERNBERG, 2015).
a.  Observações:
Exemplo:
O canarinho voa.
O sabiá voa.
A pomba voa.
b.  Conclusão: previsão específica baseada nas
observações obtidas.
Exemplo: Animais com asas sabem voar.

Note que para este raciocínio precisamos de um número de


observações confiável para chegarmos a uma conclusão mais
provável, caso contrário, se achar que já conheceu todos os
animais com asas existentes no mundo, você poderá concluir
que todos voam, o que não é o caso dos dois animais abaixo.

! Ainda que nossas conclusões nem sempre sejam


racionais, existe um valor adaptativo para essa capacidade.
Imagine como seria se não fossemos capazes de realizar
inferências? Como poderíamos prever o perigo? E se não
11 fossemos capazes de generalizar? Teríamos que testar
todas as situações e nos colocar em risco?

Essa capacidade de induzir uma conclusão a partir de


observações nos permite encontrar as similaridades entre
objetos, seres vivos e situações que encontramos no mundo
(lembre-se de todos os animais com asas que você conhece).
Ou seja, recuperar informações análogas na memória de
longo prazo (busca por similaridade e estrutura relacional
dos conceitos) e, a partir disso, encontrar semelhanças que
os unem para formar conceitos e esquemas (generalização).
Assim, utilizando esse raciocínio análogo, pressupomos que
quanto mais similares são as categorias das premissas em
relação à categoria da conclusão, mais forte é o argumento.

Quando não sabemos exatamente quais propriedades são


relevantes para nossa atenção, nós tendemos a confiar na
semelhança para gerar inferências e categorizar objetos em
tipos. A semelhança é um excelente exemplo de fonte de
informação geral. Mesmo quando não temos conhecimento
específico sobre algo, podemos usar a similaridade como
método padrão para raciocinar sobre ele.

Como seria a
+ Imagine que está vivendo numa época em que ninguém
sua vida, se
não formasse nunca tivesse visto o fogo, quando um raio cai sobre uma
conceitos? Você árvore e esta começa a queimar! Você então se aproxima
teria que colocar daquele brilho intenso e abrasador, estende sua mão em
sua mão em todas direção a um galho da árvore. Naquele momento, você
as fontes de luz
sente uma dor nunca antes sentida. Pronto. A partir deste
e calor que se
momento, toda vez que você vir algo que seja similar
assemelhassem
àquela que queimou àquela radiação vermelha e quente, você se lembrará de
a árvore. Ou seria ficar longe! Você criou um conceito: “essa luz queima”;
mais vantajoso você generalizou uma informação: “não tocar neste tipo de
criar uma categoria luz”.
em que tudo o que
se parece com
aquela chama pode E é utilizando essa capacidade de raciocínio que formamos
provocar uma dor os conceitos e esquemas sobre aquilo que conhecemos do
profunda quando mundo. E esse ato de comparar o que conhecemos no mundo
tocada? e formar conjuntos nos ajuda a entender o mundo a nossa
12 volta e a economizar tempo no dia a dia (explicarei mais sobre
isso adiante).

Formar conceitos nos auxilia na categorização do mundo e


na comunicação sobre eles. Esses conceitos são formados
a partir de agrupamentos mentais baseados nas
propriedades compartilhadas dos objetos, eventos,
ideais ou pessoas. Os conceitos são armazenados em nosso
cérebro em forma de representação mental simbólica (ex.:
a palavra fogo representa toda combustão acompanhada de
desenvolvimento de luz, calor e, na maioria das vezes, chamas
(MICHAELIS, 2015)).

Essa habilidade de formar conceitos é essencial, como já foi


dito, pois, ao dividirem o mundo em unidades gerenciáveis,
eles aceleram o processo de Comunicação e demandam
menor esforço para transmitir e captar informações
(economizando tempo no seu dia a dia). Como a imagem
abaixo demonstra, independentemente de sua aparência,
sabemos que o conceito de uma cadeira é aquilo em que
sentamos, e comumente possui um assento, um encosto, e
quatro apoios.
13 Você sabia que animais também são capazes de formar
conceitos? Por exemplo, pombos categorizam fotos
de carros, gatos, cadeiras e flores mesmo sem nunca
terem visto os estímulos reais. E os macacos apresentam
mudanças nos padrões de ativação do lobo frontal durante
tarefa de classificação de fotos entre cães e gatos.

A categorização dos conceitos é o processo pelo qual


determinamos se uma entidade pertence à um grupo. Ela
permite uma vasta variedade de funções subordinadas,
como por exemplo, uma vez que uma nova entidade foi
categorizada, pode-se usar este conhecimento para
compreensão e predição de novas informações que parecem
pertencer àquela categoria (lembre-se que não precisa tocar
em todas as labaredas para testar se queima!).

Isto é, uma cadeira ainda será uma cadeira se tirarmos o


encosto, e se ela não tiver quatro apoios? Mas ainda será
uma cadeira, se não houver assento? É a nossa definição
da categoria cadeira que determinará o conceito e onde
podemos sentar (esquemas).
14 Nós podemos categorizar os conceitos segundo:
1.  a sua definição para formar um conjunto de conceitos
(ex.: cadeira - peça de mobília composta de um assento
individual e de um encosto, com ou sem braços);
2.  a hierarquia entre eles (ex.: continente – país – Estado
– cidade);
3.  o protótipo daquele conceito para formar uma
categoria, isto é, a imagem mental ou o exemplo
mais refinado que melhor incorpora os aspectos que
relacionamos a uma categoria (ex.: a forma mais clássica
de cadeira que todos conhecemos);
4.  o exemplo para formação da categoria, ou seja,
quando uma única representação não engloba tudo o que
conhecemos daquela categoria (ex.: uma cadeira ainda é
uma cadeira, mesmo que ela esteja sobre rodinhas!).

Nós também categorizamos as situações que vivenciamos,


os esquemas. Com o mesmo objetivo dos conceitos, eles
nos auxiliam na identificação dos eventos, economizando
tempo e possibilitando respostas mais rápidas e adaptadas.
Assim, os esquemas ajudam na aprendizagem sobre a
interação nos diferentes ambientes. Podemos usar os
esquemas em situações que as regras já são conhecidas.
(ex.: o cinema é um lugar para assistir filmes, onde se deve
ficar em silêncio). Também utilizamos esquemas quando
estamos desempenhando papéis, ou seja, nós temos funções
específicas dentro de contextos específicos. (ex.: uma pessoa
se comporta diferente quando está assistindo a um filme no
cinema em comparação à quando ela em sua própria casa).

Assim, categorizar os eventos do mundo (esquemas) nos


ajuda a saber como agir e o que esperar das situações
que encontramos ao longo da vida. Infelizmente, podemos
+ Você com certeza cometer erros, e generalizar uma categoria de situações
conhece exemplos baseado em poucas evidências. Ou seja, uma pessoa pode
de generalizações estar cansada e não sentar numa caixa de madeira porque
arbitrárias e as
aquilo não foi definido como cadeira por ela. Ou uma outra
consequências
destrutivas que elas pessoa pode ter uma conduta inadequada e desagradar
causam. outras pessoas ao sentar-se numa mesa, por considerar
aquilo um assento.
15 Os estereótipos são generalizações indevidas baseadas
! em evidências parciais e arbitrárias, normalmente
relacionadas às crenças de gênero e etnia. O motivo pelo
qual precisamos nos tornar conscientes do modo como os
esquemas controlam nosso raciocínio é que eles podem
inconscientemente nos levar a pensar erroneamente.

Um exemplo interessante desse fenômeno cognitivo foi um


experimento no qual houve uma mudança nos procedimentos
de audição para uma orquestra sinfônica, que passou a
ocultar a identidade do candidato para o corpo de jurados.
Usando dados de audições reais, as audições às cegas
aumentaram a probabilidade de mulheres serem contratadas.
As evidências deste estudo sugerem que o procedimento de
audição às cegas promoveu a imparcialidade na contratação e
aumentou a proporção de mulheres nas orquestras sinfônicas
(GOLDING & ROUSE, 2000).

O Raciocínio é que possibilita o uso, o que fazemos com


as informações que recebemos. Ele é a base para nosso
aprendizado sobre o mundo e, portanto, fundamental para
a nossa sobrevivência. Essa capacidade nos possibilita
construir o mundo em que vivemos.

Resolução de Problema

A Resolução de problemas é o uso do Pensamento para


desenvolver soluções quando precisamos superar
obstáculos, responder a uma pergunta ou atingir
um objetivo. Para isso, devemos utilizar as informações
disponíveis para alcançar uma meta.

+ Lembre-se de que A abordagem adotada é o que chamamos de estratégia


apenas recuperar para solucionar o problema. Esta abordagem dependerá
uma informação
da identificação do tipo de problema. Eles podem ser
da memória não
é resolver um
estruturados ou não estruturados. Entretanto, na vida real, as
problema, pois duas categorias formam um continuum, assim, um problema
solucionar envolve pode ter partes estruturadas e não estruturadas.
a aplicação de uma
série de passos para
se aproximar do
objetivo.
16 Os problemas estruturados ou bem-definidos são aqueles
em que é possível identificar os passos para solucioná-lo,
as soluções possíveis são testáveis, você tem conhecimento
das regras (ex.: jogo de xadrez), e elas são acessíveis (ex.:
seguir receita de bolo), todas as ações que buscam a solução
são visíveis e aplicáveis e a solução é relativamente fácil de
operar.

+ Você sabia que trabalhar em grupo, muitas vezes, facilita


a resolução de um problema? Isto porque a colaboração
possibilita uma variabilidade de habilidades que contribuem
para soluções melhores.

Já os problemas não estruturados são alusivos (carecem de


caminhos claros para a solução), infinitos e não estão restritos
a uma regra específica, é preciso senso de orientação
para buscar informações relevantes e cada formulação do
problema tem uma solução em potencial (ex.: uma pessoa
está em casa e não encontra o celular). Mas é a criatividade e
o bom senso que irão determinar a solução em potencial mais
válida (ex.: ela tenta ligar para seu telefone com o telefone
fixo). Por não ser bem definido, podemos reestruturá-lo para
procurar outros ângulos de abordagem. Por este motivo,
também são chamados de problemas de insight, pois, para
encontrar uma solução, eles devem ser vistos de uma nova
maneira, diferente da forma como foi apresentado a princípio
(ex.: o celular estava para vibrar e a pessoa ainda não
consegue encontrá-lo. Então ela decide parar de procurar e
resolve refazer seus passos até a última vez que se lembrava
de ter visto o telefone; por sorte, ela se lembra de ter dado
risada de um vídeo quando estava tomando água, e lá estava o
celular, dentro do armário dos copos!).

Uma vez identificado o problema, podemos adotar uma


+ Não há uma única estratégia para resolvê-lo:
estratégia ideal para 1.  Tentativa e erro é a forma mais rudimentar, e como
tratar de todos os
o nome já anuncia, é testar uma solução até que alguma
tipos de problemas.
Uma estratégia funcione (ex.: quando você esquece uma senha de
ótima depende do acesso e tenta algumas até conseguir);
problema e dos 2.  Insight é uma estratégia de reenquadramento de um
métodos que a problema, que envolve a re-conceituação do problema
pessoa prefere.
17 ou de uma estratégia para solucioná-lo. Esta estratégia
implica detectar e combinar informações antigas e novas
para obter uma visão renovada tanto do problema como
da solução;
+ Veja exemplos 3.  Algoritmos são uma sequência de estratégias que,
clássicos de Karl se seguidas passo-a-passo, garantem uma solução;
Duncker e de
Normain Maier em
Gazzaniga (2018, p.
324-327).

+ É como a expressão 4.  Heurísticas são atalhos mentais, ou seja, utilizam


popular diz: não é estratégias previamente conhecidas a fim de economizar
preciso reinventar a
tempo e aliviar a carga cognitiva. Este método não
roda!
garante a resolução do problema, como o Algoritmo.
Porém, essa estratégia requer menos esforço de atenção
e memória, pois, ao trazermos a informação nova para
algo familiar, somos capazes de assimilar a situação e
responder com mais rapidez. Isso pode nos ajudar a
reconhecer e evitar situações de risco e nos possibilita
usar as informações de forma adaptativa.

A resolução de problema pode ser compreendida como a


capacidade do pensamento de articular mentalmente uma
forma de sair de uma situação e alcançar uma outra condição
desejada e, mais ainda, é a habilidade de mentalmente
executar as estratégias que alcançarão esse objetivo.
18 Julgamento e Tomada de Decisão

Geralmente pensamos em nós


mesmos sentados no banco do
motorista, com controle final sobre
as decisões que tomamos e a
direção que nossa vida toma; mas
essa percepção tem mais a ver
com nossos desejos - com como
queremos nos ver - do que com a
realidade. (Dan Ariely)

O Julgamento e a Tomada de decisão é o nome dado ao


processo de avaliações e escolhas que fazemos ao
longo da vida, tanto em decisões diárias (ex.: O que eu vou
almoçar?) quanto decisões importantes (ex.: Devo mudar de
emprego?).

Conforme vimos na videoaula, a teoria clássica (normativa)


acreditava que os seres humanos escolhiam sempre a opção
mais vantajosa possível (nosso senso comum nos leva a crer
que isso é verdade, afinal, quem escolheria algo pior se poder
escolher o melhor?).

! Porém, um modelo alternativo que se baseou em


experimentos com tomadores de decisão vem ganhando
força e inclusive um prêmio Nobel em Economia para
Amos Tversky e Daniel Kahneman em 2002. Este modelo
alternativo causou grande impacto quando mostrou que
não somos tão racionais quanto acreditávamos. Isto porque
conseguiram provar que nossas decisões muitas vezes são
baseadas no processamento automático das informações,
e nossos julgamentos muitas vezes são intuitivos (as
heurísticas). Como falamos anteriormente, as heurísticas
geralmente são eficazes, porém, esses atalhos podem nos
levar a decisões precipitadas.

Na próxima trilha, abordaremos as principais heurísticas


que todos nós usamos, e discutiremos suas vantagens e
desvantagens.
19 Dr. Louise Banks: Onde estão
todos? OK. Bem, vamos começar.
Hoje estamos falando do português
e por que soa tão diferente das
outras línguas românicas. A
história do português começa no
reino da Galiza ... na Idade Média,
onde a linguagem era vista como
expressão da arte. (A CHEGADA –
filme, 2016)
20
Síntese

Nesta segunda trilha de aprendizagem, nós abordamos as


três linhas clássicas do estudo do Pensamento. Para ajudar a
fixar os conceitos aprendidos, faça os exercícios propostos
no ambiente virtual.

Começamos vendo a importância do Raciocínio (assista


ao vídeo recomendado para esta trilha, contém exemplos
e exercícios sobre o método dedutivo e indutivo). Esta é a
capacidade de organizar os conhecimentos que adquirimos
do mundo, e também é a forma como articulamos essas
representações, associando conceitos e criando novas
concepções.

Você já reparou como a nossa espécie busca similaridades


entre objetos e eventos? Sempre buscando padrões, sejam
geométricos, ou até mesmo de comportamento. É nossa
forma mais básica de compreender o que está à nossa volta
(ou seja, fogo queima).

Mas, além disso, você sabe o que mais o nosso raciocínio


nos permite? Ele nos permite criar arte e cultura, assim como
o sistema político e econômico. Sem ele, existiria o mundo
e todos os seres vivos, porém nada do que o ser humano
criou. Pois é com o raciocínio que somos capazes de partir
de algumas evidências e imaginar além delas, criando novas
ideias, que podem ou não ser testadas posteriormente (a
teoria é um conhecimento especulativo, de caráter hipotético
e sintético (MICHAELIS, 2015)).

Também estudamos nesta trilha sobre nossa habilidade


de superar obstáculos, seja perder o celular em casa,
ou até mesmo decidir algo importante, como uma festa
de casamento. Já lhe ocorreu um problema que parecia
impossível até você enxergar a solução? A sensação que o
21 insight provoca é relatada por muitos como: “Nossa, era tão
fácil, como eu não vi isso antes?”. Isso porque, na verdade,
ela não é fácil, e sim resulta de um acúmulo de repertórios
que você adquiriu com suas experiências, e o fato de emergir
subitamente à consciência provoca a sensação de obviedade.
Mas nós sabemos que nem sempre é fácil enxergar um
problema de outra forma. E, agora, nós também aprendemos
que não há uma única estratégia que resolva todos os
problemas, mas sim uma tática mais apropriada para cada
situação específica.

No dia a dia é muito difícil detectar a natureza dos problemas


que surgem, e ainda mais complicado analisar de forma
correta e responder seguindo um plano de ação estratégico.
Você já imaginou como seria sua vida se toda a informação
fosse processada como se fosse a primeira vez? Nosso
armazenamento de longo prazo é praticamente ilimitado,
muito devido à própria inteligência de organizar os seus
conteúdos de forma eficiente, em múltiplas categorias (ex.:
uma mala de viajem organizada, com os itens dobrados de
forma correta e separados por categoria pode economizar
mais espaço que todos os itens espalhados e embaralhados).
Essa competência torna a busca por soluções mais rápida e
economiza tempo e espaço na sua memória de longo prazo
(ex.: caso precise trocar sua camiseta, você pode abrir sua
mala, e rapidamente saberá o exato lugar onde procurar). Nós
ficaríamos exaustos sem nossa capacidade de conceitualizar,
categorizar, associar as informações e, principalmente, sem a
nossa habilidade de responder de forma intuitiva.

Todos nós tomamos decisões de forma automática todos


os dias, é a forma como nosso cérebro lida com a carga
cognitiva e com o fato de estarmos sempre pensando.
Conforme vimos nesta trilha, nós normalmente respondemos
de forma automática, afinal, ao longo da nossa vida, vamos
criando um repertório de respostas para lidar com o mundo.
Você não ficou colocando a mão em todas a chamas desde
a primeira vez que se queimou. É possível que ainda assim
você tenha se queimado outras vezes, mas provavelmente
22 foram acidentes inevitáveis. Na realidade, é muito inteligente
a maneira como nosso cérebro opera, pois aprender sobre o
ambiente em que vivemos e criar atalhos mentais para saber
viver neste ambiente são atividades essenciais para a nossa
sobrevivência e perpetuação da nossa espécie.
23
Referências

A CHEGADA. Filme. Direção de Denis Villeneuve. 21 Laps


Entertainment, 2016. 116min.

ARIELY, D. Predictably irrational: The hidden forces that


shape our decisions. HarperCollins Publishers, 2008.

BEAR, F. M. Neurociências: Desvendando o Sistema


Nervoso. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

GAZZANIGA, M. Ciência Psicológica. 5ª ed. Porto Alegre:


Artmed, 2018.

GOLDIN, C.; ROUSE, C. Orchestrating Impartiality: The Impact


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Economic Review, 90 (4), p. 715-741, 2000.

HOLYOAK, K. J.; MORRISON, R. G. (Eds.). The Cambridge


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MICHAELIS. Fogo. 2015. Disponível em: <https://michaelis.


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PINKER, S. (2003). The Blank Slate: The Modern Denial of


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24 STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. 5ª ed. São Paulo:
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VAUGHN, R. How Advertising Works: An FCB Strategy


Planning Model. Unpublished internal FCB information piece.
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Universidade Presbiteriana

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