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Economia
Brasileira
Universidade do Sul de Santa Catarina
Economia
Brasileira
UnisulVirtual
Palhoça, 2014
1
Créditos
2
Amilton de Carvalho Guedes
Kátia Macedo
Luis Augusto Araújo (Organizador)
Economia
Brasileira
Livro didático
Design Instrucional
Eliete de Oliveira Costa
4ª edição
UnisulVirtual
Palhoça, 2014
3
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2014 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Livro Didático
330.981
E22 Economia brasileira: livro didático / organizador, Luis Augusto
Araújo ; [conteudistas], Amilton de Carvalho Guedes, Kátia
Macedo ; revisão e atualização de conteúdo, Luis Augusto
Araújo ; design instrucional Eliete de Oliveira Costa. – 4. ed. –
Palhoça : UnisulVirtual, 2014.
198 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-622-8
4
Sumário
Introdução | 7
Capítulo 1
A economia brasileira do período colonial
à origem da indústria | 9
Capítulo 2
Desenvolvimento econômico e a inflação
dos anos 1970 e 1980 | 27
Capítulo 3
Setor externo: o balanço de pagamento
e a crise da dívida externa | 55
Capítulo 4
Abertura comercial, privatização e os
planos de estabilização | 83
Capítulo 5
Estabilização, desequilíbrios
macroeconômicos e as reformas | 111
Capítulo 6
As mudanças recentes na economia
brasileira: a euforia | 147
Considerações Finais | 191
Referências | 193
5
Introdução
Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição
diversas ferramentas e canais de acesso, tais como: telefone, e-mail e o Espaço
UnisulVirtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o
que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois a sua
aprendizagem é o nosso principal objetivo.
Equipe UnisulVirtual.
7
Capítulo 1
9
Capítulo 1
Seção 1
Constituição do Capitalismo e o Mercantilismo
O Capitalismo surge a partir das primeiras fortunas entre os burgueses da Idade
Média, com um novo sistema econômico e social baseado na iniciativa particular,
na propriedade privada dos meios de produção e gosto pelo investimento de
capitais com fins lucrativos.
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Economia Brasileira
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Capítulo 1
Seção 2
Pacto colonial e os ciclos econômicos
O chamado pacto colonial não é a expressão adequada para atender ao objetivo
de sua criação. O pacto colonial dá ideia de um acordo formal, ou contrato, entre
as metrópoles e as colônias.
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Economia Brasileira
13
Capítulo 1
Por outro lado, vale ressaltar que durante esse período as fronteiras do território
colonial português sofrem um aumento, levando um alargamento da fronteira
sobre o domínio ibérico, atingindo assim a região da Amazônia.
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Economia Brasileira
Para melhor administrar essa nova forma de exploração, Portugal criou leis
específicas e organizou um esquema de administração, criando um órgão
chamado de Intendência Mineira, que exercia várias funções administrativa,
judicial e tributária. A última função, considerada a mais importante, servia para a
cobrança de imposto, que equivalia a um quinto de qualquer quantia extraída de
ouro, ficando esse imposto conhecido como “quinto”.
Contudo, outras atitudes mais drásticas foram tomadas pela Coroa portuguesa, com
essas vieram as decretações da cota mínima, sendo que 100 arrobas ou 1500 quilos,
deveriam ser espontaneamente doados à Coroa ou de forma compulsória no
derrame na hora da fundição. Com essas medidas, acaba acontecendo uma revolta
dos mineradores, conhecida como a Inconfidência Minera.
15
Capítulo 1
Ano
Estados
2003 2004 2005
Seu cultivo inicialmente era restrito, devido às leis rigorosas impostas pela Coroa
portuguesa sobre a implantação de indústrias no Brasil, afinal, os produtos
consumidos aqui deveriam ser importados da Europa.
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Economia Brasileira
Seção 3
O início da produção cafeeira e as principais
regiões produtoras de café
A importância da produção cafeeira no Brasil geralmente é relacionada à Crise
do Café e à evolução do processo de industrialização brasileiro. Para você obter
um melhor entendimento do que irá ver a seguir, torna‑se necessário apontar
e descrever características peculiares ao ciclo do café, que estão vinculadas
à ascensão da produção capitalista no Brasil. Para isso, é necessário levantar
algumas questões históricas sobre esse produto.
Você sabia que, inicialmente sem valor comercial, o café era utilizado
apenas para o consumo?
17
Capítulo 1
Tabela 1.2 ‑ Principais produtos agrícolas para exportação (porcentagem sobre valor global das exportações)
18
Economia Brasileira
É a partir de 1880 que São Paulo passa a superar a produção do Rio de Janeiro,
sendo que houve, nesse período, um deslocamento da produção da região do
Vale do Paraíba em direção ao Oeste paulista. Essa mudança levou a produção
para um solo mais apropriado, ocupando áreas das cidades de Campinas,
Sorocaba, Ribeirão Preto, Araraquara e São José do Rio Preto. Essas novas áreas
de produção avançaram com a redução do trabalho escravo e a incorporação do
trabalho assalariado.
Seção 4
A vinda dos imigrantes para o Brasil e o comércio
e as operações financeiras no ciclo do café
A partir da década de 1880, com o crescimento da produção cafeeira e
o deslocamento do centro geográfico de produção para o Oeste paulista,
ocorrem mudanças marcantes no processo produtivo do café, entre elas
podemos destacar a substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado,
incrementando a imigração no Brasil, em favor dos interesses dos cafeicultores
de São Paulo.
19
Capítulo 1
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Economia Brasileira
Essa Crise teve seu momento máximo quando ocorreu a quebra da Bolsa de
Valores de Nova York em 1929, e ficou conhecida como Crise Mundial de 1929.
Essa crise foi caracterizada pela produção que superava o consumo.
Seção 5
A Crise de 1929 e a origem da indústria
Com a crise que a economia cafeeira começou a enfrentar, alguns mecanismos
de defesa foram implantados. O mais utilizado foi a redução cambial para conter
a queda na redução das exportações, com preços mais acessíveis, diminuindo
as perdas para os fazendeiros. Outra medida foi adotada em 1906, quando o
Governo de Taubaté, com ajuda de investimentos estrangeiros, passou a comprar
o excedente da produção de café, o que acabou incentivando ainda mais a
produção e retardando uma crise cafeeira. Mas essa política não conseguiu
se manter por muito tempo, pois com a Crise, as reservas de ouro do Brasil
chegaram quase a zero.
21
Capítulo 1
Esse ato por parte do Governo consistiu na queima de 1/3 da produção de café
no período de 1931 a 1939. Para o financiamento de tal prática, utilizaram‑se os
impostos sobre a exportação e a expansão do crédito.
22
Economia Brasileira
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Capítulo 1
É importante saber que no início do século XX, mesmo com a produção brasileira
centrada no café e na borracha, destinados à exportação, o processo de
industrialização já havia iniciado.
Seção 6
Processo de substituição de importação
Durante a crise internacional de 1929 houve a necessidade de iniciar a produção
interna do que antes era importado, sendo assim, surge no Brasil um processo de
industrialização com base no processo de substituição de importação (PSI), como
você pode ver a seguir:
24
Economia Brasileira
25
Capítulo 1
26
Capítulo 2
Desenvolvimento econômico e
a inflação dos anos 1970 e 1980
27
Capítulo 2
Seção 1
Evolução da produção e dos setores
econômicos brasileiros
Nesta seção, inicialmente, você analisará o crescimento econômico brasileiro
durante as décadas de 70 e 80. Em seguida, com a análise dos diferentes setores
de produção econômica, você aprenderá sobre o avanço do setor secundário no
Brasil, por meio da industrialização, que gerou profunda mudança na estrutura
econômica brasileira.
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Economia Brasileira
Setor terciário – é composto pelas unidades de produção que tem como função
a prestação de serviços, tais como: educação, saúde, comércio, propaganda etc.
A produção desse setor difere dos demais setores, por não ter forma de material
(ou ser tangível).
No período colonial, como você viu no capítulo 1, o Brasil passou por diversos
ciclos econômicos como o do açúcar, do ouro etc. Nesse período, não era
permitida a produção de bens manufaturados no Brasil. Até sua independência,
o Brasil ficou caracterizado como uma colônia de exploração.
29
Capítulo 2
30
Economia Brasileira
Veja, como exemplo, uma empresa produtora de calçados que está aumentando
sua produção. Para isso necessitará de couros e outras matérias‑primas advindas
do setor primário. Aumentando a produção de calçados, esses serão repassados
ao setor terciário (serviços) para atendimento ao consumidor final.
Seção 2
A participação regional na produção e o PIB
per capita brasileiro
Nesta seção, você poderá comparar a produção por Estados e regiões no
Brasil, bem como a produção brasileira em relação a outros países, por meio de
dados quantitativos.
31
Capítulo 2
Tabela 2.1 ‑ Participação regional no PIB brasileiro no período de 1970 a 1990 (%), a preço constante
do ano 2000
Todos os resultados das Contas Regionais podem ser acessados pelo link
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2011/
default.shtm.
Você deve observar que o Rio de Janeiro, durante todos os anos da década de
1980, manteve praticamente inalterado o seu PIB, próximo de 100 milhões de Reais.
Figura 2.3 ‑ Evolução do PIB dos Estados do Sudeste do Brasil, em milhão de Reais, a preços constantes
de 2000
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Economia Brasileira
Figura 2.4 ‑ Evolução do PIB dos Estados do Sul do Brasil, a preços constantes de 2000, em milhão
de Reais
Você já deve ter observado nas figuras anteriores (e também poderá observar
nas figuras seguintes) que ocorreu uma redução da atividade econômica no
último ano da série histórica. Isso ocorreu para todas as regiões do Brasil. Como
veremos nos próximos capítulos, o Plano Collor I promoveu uma violenta retração
da economia no ano de 1990, ‑ 4,3% ao ano (a.a.).
33
Capítulo 2
Figura 2.5 ‑ Evolução do PIB dos Estados do nordeste do Brasil, a preços constantes de 2000, em milhão
de Reais
As duas últimas regiões iniciam o primeiro ano da série histórica, com uma
participação regional de 6% e encerram o período com 10,1% do PIB brasileiro.
Nessa série histórica de 1970 a 1990, destacam‑se, no Centro‑Oeste, Goiás e o
Distrito Federal, alternando de posição em quatro ocasiões, sendo que em 1990
o Estado de Goiás detinha 16,17 milhões de Reais e o Distrito Federal 14,86
milhões de Reais.
Figura 2.6 ‑ Evolução do PIB dos Estados do Centro‑Oeste do Brasil, a preços constantes de 2000,
em milhão de Reais
Por último, na região Norte, os dois primeiros Estados produtores (ver Figura 2.7)
detêm 78,53% do PIB regional. O primeiro produtor é o Estado do Pará, que
obteve uma produção de 18,98 milhões de Reais, contribuindo com 41,69% do PIB
regional. O segundo produtor é o Estado do Amazonas, que obteve uma produção
de 16,78 milhões de Reais, com uma participação de 36,85% do PIB regional.
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Economia Brasileira
Figura 2.7 ‑ Evolução do PIB dos Estados do Norte do Brasil, a preços constantes de 2000, em milhão
de Reais
Tabela 2.2 – Evolução do PIB das regiões brasileiras no período de 1970 a 1990, a preço constante do
ano 2000
35
Capítulo 2
A Figura 2.8 mostra o PIB per capita no Brasil entre 1970 a 1990. Observe que se a
produção brasileira fosse distribuída igualmente para toda a população, os brasileiros
receberiam os valores representados no eixo da ordenada do gráfico abaixo.
Figura 2.8 – Evolução do PIB per capita no Brasil entre 1970 a 1990, com valores em mil Reais de 2012
Nas duas décadas, a economia brasileira passou por duas fases distintas, em
termos de crescimento econômico. Na década de 1970, apresentou uma das
maiores taxas de crescimento do PIB per capita do mundo. O PIB per capita
cresce rapidamente, partindo de R$9.350,00 em 1970 e chegando a R$15.690,00
em 1970.
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Economia Brasileira
Ferreira (2013, p. 130) observa que entre 1950 e 1980 a renda per capita brasileira
expandiu‑se a uma taxa de 4,4% ao ano (a.a.), o que representou um aumento de
quase quatro vezes no período.
Você deve notar que, por exemplo, nas regiões mais pobres, os indivíduos
recebem mais renda a partir de transferências do governo. Isso significa
que nessas regiões a renda per capita tende a ser relativamente mais
elevada que o PIB per capita.
Por outro lado, na década de 1980, esse crescimento desapareceu dando lugar
à estagnação e à instabilidade, que caracterizou esse período. Observe que
o PIB per capita de R$16.810,00, em 1980, reduz a R$14.690,00 em 1983 e,
em seguida, com ligeira oscilação, eleva seu valor a R$16.910,00 em 1989.
Seção 3
Desenvolvimento econômico no Brasil
Há seis décadas e meia, o Brasil era um país agrícola, com renda per capita muito
baixa e seus indicadores sociais bastante precários. Esse quadro mantinha‑se
desalentador, quando comparado ao desempenho de outros países.
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Capítulo 2
Entre 1950 e 1980, o Brasil cresceu a uma das taxas mais elevadas do mundo,
deixando de ser predominantemente rural para tornar‑se urbano. Ocorreu intensa
transferência de recursos da agricultura para setores mais produtivos, como
serviços e indústria.
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Economia Brasileira
Tabela 2.3 ‑ Brasil e regiões: coeficiente de Gini (renda domiciliar per capita), 1970‑1991
39
Capítulo 2
A Figura 2.9 apresenta uma série histórica anualizada do coeficiente de Gini para
o Brasil, no período 1976‑1990.
O Índice de Gini do Brasil no período entre 1976 a 1990 oscilou um pouco acima
e abaixo de 0,60. No início da série, em 1977, sofre uma redução de 0,62, para
um pouco acima de 0,58 em 1981. Em seguida, o índice apresenta alguma
oscilação ao redor de 0,59 até 1986. A partir desse último ano, esse índice tem
aumento, ano após ano, chegando próximo a 0,64 em 1989.
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Economia Brasileira
Seção 4
Índice de desenvolvimento humano (IDH) no Brasil
O IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano e
foi criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya
Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998.
Para o cálculo do IDH, o Programa das Nações Unidas utiliza uma metodologia
concentrada nas variáveis: esperança de vida, educação e PIB per capita.
41
Capítulo 2
42
Economia Brasileira
Aqui no Brasil, o IDH tem sido utilizado pelo governo federal e por administrações
regionais por meio do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH‑M).
Seção 5
Saga brasileira: a luta para domar o dragão
Ao longo de sua história, o Brasil viveu uma intensa batalha contra o tormento
inflacionário. Segundo vários economistas, o inimigo foi vencido (domado), mas
não morreu.
43
Capítulo 2
44
Economia Brasileira
Bacha (2012, p. 12) cita a proposição de alguns economistas para lidar com uma
inflação tão alta, uma vez restaurada a democracia:
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Capítulo 2
Leitão (2013, p. 17) observa que nos anos 1950 surgiu a ideia de que a inflação
era considerada um combustível para o crescimento. Os ministros que queriam
controlar as causas dos problemas eram trocados por outros que propunham
expansão dos gastos.
46
Economia Brasileira
Figura 2.10 ‑ Comportamento da Inflação medida pelo IGP‑di (% a.a.) no período de 1970 a 1990
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Capítulo 2
Seção 6
Os planos de estabilização dos anos 1980
Os planos de estabilização, também chamados de “pacotes”, continham diversas
medidas de política econômica (monetária, fiscal, cambial e creditícia), visando a
estabelecer o controle dos preços e, consequentemente, a estabilização da economia.
Você estudará uma síntese do que foram esses planos: o Cruzado (1986),
o Bresser (1987) e o Verão (1989).
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Economia Brasileira
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Capítulo 2
50
Economia Brasileira
51
Capítulo 2
O BTN foi criado pela Mais uma vez a tentativa de acabar com a inflação não
medida provisória obteve êxito. Em primeiro lugar, o governo não conseguiu
nº 48, e teve seu valor
fixado em Cz$ 1,00.
realizar o ajuste fiscal. Em segundo lugar, algumas novidades
introduzidas pela Constituição de 1988 trouxeram ganhos na
renda dos trabalhadores, incentivando o consumo.
Até aqui você estudou sobre as principais causas da inflação e que nos anos de
1980, o governo implantou vários planos de estabilização econômica.
Vimos os principais pontos dos planos Cruzado, Bresser, e Verão. Todos esses
planos tinham características próprias, porém, todos eles tinham o mesmo
objetivo: controlar a inflação. Todos foram implantados e sem alcançar os
resultados almejados.
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Economia Brasileira
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Capítulo 3
55
Capítulo 3
Seção 1
Evolução do balanço de pagamentos
Na economia mundial existe alguma nação que apresente condições de produzir
todos os bens e serviços de que necessita? A resposta, com certeza, é negativa
para a grande maioria das nações, o que faz surgir a necessidade de as nações
estabelecerem trocas entre si.
a. Na balança comercial
»» Ampliar as exportações por meio de incentivo ao setor exportador;
»» Reduzir as importações por meio da taxação e de impostos
sobre os produtos;
»» Pressionar as empresas para promoverem processos de
nacionalização de componentes na produção;
»» Promover desvalorizações cambiais.
56
Economia Brasileira
Com relação ao país que possui déficit em transações correntes, Leite (2011,
p. 32) observa que:
O grande volume de capitais que saem do país anualmente para pagar juros e
amortizar a dívida pode ser compensado por dólares que entram por meio de
exportações. Por isso, o desempenho da balança comercial passou a ser de vital
importância para o país.
57
Capítulo 3
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
‑ Balança
0.2 ‑0.3 ‑0.2 0.0 ‑4.7 ‑3.5 ‑2.3 0.1 ‑1.0 ‑2.8 ‑2.8
comercial (Fob)
Exportação
2.7 2.9 4.0 6.2 8.0 8.7 10.1 12.1 12.7 15.2 20.1
de bens
Importação
‑2.5 ‑3.2 ‑4.2 ‑6.2 ‑12.6 ‑12.2 ‑12.4 ‑12.0 ‑13.7 ‑18.1 ‑23.0
de bens
‑ Serviços
‑1.1 ‑1.3 ‑1.5 ‑2.1 ‑2.8 ‑3.5 ‑4.2 ‑4.9 ‑6.0 ‑7.9 ‑10.1
e Rendas
‑ Transferências
unilaterais 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.1 0.0 0.1
Correntes
Transações
‑0.8 ‑1.6 ‑1.7 ‑2.1 ‑7.5 ‑7.0 ‑6.4 ‑4.8 ‑7.0 ‑10.7 ‑12.7
correntes
Conta capital
1.3 2.2 3.8 4.1 6.5 6.4 8.5 6.2 11.9 7.6 9.6
e financeira
Resultado
0.5 0.5 2.5 2.4 ‑1.0 ‑1.1 2.7 0.7 4.3 ‑3.2 ‑3.5
do balanço
Fonte: Adaptado de Banco Central do Brasil (2014).
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Economia Brasileira
59
Capítulo 3
Você deve lembrar também que para países pobres e com altas dívidas, são
cobrados juros bem acima dessas taxas básica, dependendo da avaliação do
risco da operação.
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Economia Brasileira
Você deve lembrar que nesse período o país passou por vários planos
econômicos que tentaram conter a inflação, que, no entanto, não obtiveram êxito,
não é mesmo?
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
‑ Balança
‑2.8 1.2 0.8 6.5 13.1 12.5 8.3 11.2 19.2 16.1 10.8
comercial (Fob)
Exportação
20.1 23.3 20.2 21.9 27.0 25.6 22.3 26.2 33.8 34.4 31.4
de bens
Importação
‑23.0 ‑22.1 ‑19.4 ‑15.4 ‑13.9 ‑13.2 ‑14.0 ‑15.1 ‑14.6 ‑18.3 ‑20.7
de bens
‑ Serviços
‑10.1 ‑13.1 ‑17.0 ‑13.4 ‑13.2 ‑12.9 ‑13.7 ‑12.7 ‑15.1 ‑15.3 ‑15.4
e Rendas
‑ Transferências
unilaterais 0.1 0.2 0.0 0.1 0.2 0.1 0.1 0.1 0.1 0.2 0.8
correntes
Transações
‑12.7 ‑11.7 ‑16.3 ‑6.8 0.1 ‑0.2 ‑5.3 ‑1.4 4.2 1.0 ‑3.8
correntes
Conta capital
9.6 12.7 12.1 7.4 6.5 0.2 1.4 3.3 ‑2.1 0.6 4.6
e financeira
Resultado
‑3.5 0.6 ‑4.5 0.0 7.0 ‑0.5 ‑3.8 1.0 1.2 0.9 0.5
do balanço
Fonte: Adaptado do Banco Central do Brasil (2014)).
61
Capítulo 3
Como mostra a Tabela 3.2, nesse período havia mais saída do que entrada de
capitais no país. Assim, o balanço de pagamentos passou a apresentar déficits
significativos, destacando‑se o ano de 1986, cujo montante ultrapassou os
US$ 3,8 bilhões.
Giambiagi (2011, p. 78) menciona como resultado desse novo cenário internacional
o racionamento do crédito para os países altamente endividados e a deflagração
da “crise da dívida” latino‑americana. Lembrou o caso do México, primeiro país
latino‑americano a declarar moratória em agosto de 1982, e também o longo
período de estancamento do fluxo de capital para os países em desenvolvimento.
Seção 2
Histórico da dívida externa brasileira
Uma das consequências das relações econômicas do país com o resto do mundo
é a dívida externa. Você já parou para pensar o que compõe a dívida externa?
Os capitais externos são obtidos por meio de empréstimos, quando não possuem
uma destinação específica, ou na forma de financiamentos, quando estão
vinculados a programas e projetos de investimentos específicos que necessitam
de aprovação (construção de estradas, hidrelétricas etc.) para serem liberados.
62
Economia Brasileira
A dívida externa pode ser considerada dívida externa bruta quando ela inclui as
reservas internacionais, e dívida externa líquida, quando se excluem as reservas.
Lacerda (2013, p. 108) discorre que “no campo contábil, o estoque da dívida
externa bruta é o resultado acumulado da parcela dos déficits em transações
correntes não financiados pelo ingresso de capitais de risco ou pela redução das
reservas internacionais do país”.
63
Capítulo 3
Em 1973, já com uma dívida externa elevada (US$ 12,6 bilhões), ocorre o
“primeiro choque do petróleo”, originário da crise no Oriente Médio. Essa alta no
preço do petróleo provocou um grande impacto nas importações, e, a partir daí,
a balança comercial começou a apresentar déficits constantes.
Lacerda (2013, p. 136), sobre a origem e crescimento da dívida externa sustenta que:
No final dos anos 1970, quando o estoque da dívida já era significativo, houve
uma mudança na situação internacional:
64
Economia Brasileira
Você pode concluir que a situação das contas externas tornou‑se extremamente
grave a partir do final dos anos 1970.
Seção 3
A crise da década de 80
O quadro internacional agravou‑se em 1982 e fez com que o fluxo de capitais
externos no Brasil cessasse. Assim, o Brasil recorreu ao Fundo Monetário
Internacional, que concedeu empréstimos ao país condicionados à adoção de
medidas de ajuste fiscal, como o arrocho salarial e liberalização dos mercados
(de bens e financeiros), o que viria a abrir as portas para o neoliberalismo dos
anos 90.
O final dos anos 70 é marcado por grande alteração na condução da política econômica
nos EUA. O FED – Federal Reserve (banco central norte‑americano), que vinha até então
sustentando, com emissão monetária, a ampliação da liquidez internacional, passou a
adotar uma política monetária restritiva, adotou o sistema de taxas de câmbio flutuantes
em 1973. Com esse aperto monetário, em conjunto com os profundos déficits públicos
que se mantinham naquele país, houve um aumento substancial nas taxas de juros,
transformando‑o no grande absorvedor da liquidez mundial.
65
Capítulo 3
Leite (2011, p. 76) também sintetiza como esse problema mundial, “a crise da
dívida”, ocorreu:
A crise da dívida
México 86,0
Venezuela 32,1
Fonte: World Bank (1982).
66
Economia Brasileira
Todos esses fatos fizeram com que a dívida externa bruta atingisse a casa dos
US$ 100 bilhões em 1984, ao mesmo tempo em que reduziu a capacidade
do país em obter novos recursos para efetivar o seu pagamento. O país, que
fora recebedor líquido de capitais nos anos 70, torna‑se, a partir de 1983, um
exportador de capitais, por exemplo, sob a forma de pagamento da dívida ou
remessa de lucros das empresas estrangeiras instaladas no Brasil.
67
Capítulo 3
O Brasil teve que recorrer ao FMI no final de 1982, assinando um acordo, cujo
objetivo central era o equilíbrio das contas externas. As principais medidas eram:
•• maxidesvalorização cambial;
•• ajuste da taxa de câmbio de acordo com a inflação do período;
•• arrocho salarial;
•• redução dos gastos públicos;
•• aumento dos impostos;
•• controle monetário e aumento das taxas de juros.
68
Economia Brasileira
Mas você deve estar se perguntando se essa dívida é pagável ou não, não é mesmo?
Bem, digamos que o problema da dívida não esteja no seu montante, mas
sim no seu prazo e nos juros que incidem sobre ela.
CDE = DE ‑ RI
X
Onde,
CDE = coeficiente da dívida externa;
DE = dívida externa;
RI = reservas internacionais;
X = exportações de 1 ano.
69
Capítulo 3
Até aqui, você pode concluir que o peso da dívida externa limitou consideravelmente
as possibilidades de desenvolvimento da economia brasileira. Lembre‑se de que
o esforço do governo brasileiro, ao longo de toda a década de 1980, foi de gerar
superávit na balança comercial para pagar os juros dessa dívida.
Seção 4
Composição do comércio exterior e suas barreiras
Nesta seção, você estudará sobre o comércio exterior brasileiro, ou seja, de que
forma o Brasil se relaciona comercialmente com os demais países. Em seguida,
aprenderá como eram distribuídas as exportações do país nos anos de 1970 a
1990 e vários exemplos de barreiras existentes no comércio internacional.
Até o início da década de 90 o Brasil era uma das economias mais fechadas
do mundo, ou seja, para proteger a economia nacional, ele impunha muitas
restrições sobre a compra de produtos importados de outros países. Essas
restrições eram feitas por intermédio de mecanismos como:
70
Economia Brasileira
Para você ter uma ideia, durante a década de 80 a balança comercial registrou
uma média anual de US$ 26 bilhões em exportações e US$ 16 bilhões em
importações.
Você deve lembrar que a moeda brasileira está valorizada quando se recebe
menos Reais por US$ 1 e, ao contrário, a moeda encontra‑se desvalorizada.
Agora pense no exemplo acima e imagine quando isso envolve milhões de dólares!
Com esse exemplo você pode entender porque os exportadores não gostam
quando a preço do dólar está caindo. Nesses casos os exportadores ganham
menos Reais pelos produtos que vendem. Para receber a mesma quantia é
preciso que eles aumentem os preços dos produtos, e quando isso acontece,
o exportador corre o risco de perder o cliente.
71
Capítulo 3
Essa medida significou a eliminação das tarifas sobre mais de dois mil produtos,
impedidos de entrar no país durante quase vinte anos.
Todos concordam que a abertura comercial foi um dos pontos mais importantes
para a recuperação econômica do país, que ocorrerá mais intensamente em
meados da primeira década do século XXI. Os resultados positivos da balança
comercial dos últimos anos têm colaborado sobremaneira para o equilíbrio do
balanço de pagamentos. Voltaremos a discutir esse tema nos próximos capítulos!
Para você ter uma ideia, o café representava 65% das exportações totais
do país no início do século XX, e manteve‑se assim até a década de 30.
Tabela 3.3 ‑ Exportações brasileiras por fator agregado e participação sobre total geral (%)
72
Economia Brasileira
73
Capítulo 3
Você viu nesta seção que o Brasil tem ampliado sua participação no comércio
mundial, não só quantitativamente como também na diversificação dos produtos
exportados. Na medida em que a agricultura é um dos setores mais protegidos
do mundo, o sucesso das negociações agrícolas nos diversos fóruns hoje
existentes, seguramente trará significativos benefícios à economia brasileira.
Seção 5
Sistema financeiro brasileiro
Nesta unidade, seu estudo será sobre sistema financeiro. Você vai compreender
alguns conceitos e a evolução histórica do sistema financeiro brasileiro, bem como
das principais instituições que o compõem.
74
Economia Brasileira
Rede de mercados e instituições que têm por função transferir fundos disponíveis
dos poupadores para investidores vemos representado na Figura 3.3.
75
Capítulo 3
O sistema financeiro tem como função a captação de recursos que implica custos
para as instituições financeiras. Os recursos captados são disponibilizados a pessoas
físicas ou jurídicas que pagam a taxa de empréstimo à instituição financeira.
A diferença entre os valores pagos pelo custo médio de captação e a taxa média
de empréstimo determina a receita das instituições financeiras, denominada de
spread bancário.
O sistema financeiro brasileiro possui duas fases distintas para análise, que abrange
o período anterior e o período posterior a 1964.
76
Economia Brasileira
77
Capítulo 3
78
Economia Brasileira
79
Capítulo 3
b. Atua como “banco dos bancos” por meio das seguintes funções:
»» regula os serviços de compensação de cheques;
»» regula o sistema financeiro brasileiro;
»» fiscaliza as instituições financeiras.
O Banco Central do Brasil possui características que diferem dos bancos centrais
de outros países, como o dos EUA. O banco central dos EUA contém a chamada
independência em relação ao poder executivo, ou seja, os gerentes do banco
central possuem mandato fixo e não são indicados pelo presidente dos EUA,
não podendo por ele serem demitidos.
80
Economia Brasileira
81
Capítulo 3
82
Capítulo 4
83
Capítulo 4
Seção 1
Modelo de desenvolvimento no início dos anos 90
A economia brasileira sofreu uma profunda reestruturação produtiva, influenciada
pelas medidas liberalizantes propostas por organizações com vínculos a Washington,
como o FMI e o Banco Mundial. Esse assunto será abordado neste capítulo e será
útil para você entender, especialmente, a abertura comercial e a privatização.
A primeira metade dos anos 90 é marcada pela continuidade da “saga dos planos
heterodoxos” na condução de políticas econômicas voltadas ao combate da
inflação. Esses planos buscavam uma queda abrupta da inflação e traziam como
principal elemento o congelamento de preços.
84
Economia Brasileira
Souza (2008, p. 201) resume em quatro pontos o que ficou conhecido pelo
documento Consenso de Washington:
85
Capítulo 4
86
Economia Brasileira
Os principais títulos emitidos pelo Brasil neste acordo foram os Par Bonds e os
Discount Bonds. Em abril de 2006, o governo brasileiro faz o resgate antecipado
dos títulos bradies e elimina da dívida externa brasileira todos os títulos
relacionados com o plano Brady.
Seção 2
Abertura comercial nos países em
desenvolvimento e no Brasil
A globalização da economia corresponde ao aumento da interdependência entre
as pessoas, as empresas e as nações. Mariano (2012, p. 71) define globalização
da economia como “um processo de intensificação das trocas comerciais,
capitais e serviços realizados entre os países”.
Aqui no Brasil, esse processo é intensificado a partir dos anos 90. Você já parou
para pensar sobre a importância da abertura comercial como uma das dimensões
da globalização da economia? Lembre‑se que, além da comercial, existem a
dimensão produtiva e financeira da globalização da economia.
87
Capítulo 4
88
Economia Brasileira
Admita que com uma economia aberta seja possível melhorar a situação do
país com a proteção a alguns setores. Este é o argumento para a defesa
da indústria nascente, que foi utilizado na economia brasileira ao longo do
processo de industrialização.
1. A perda dos benefícios obtidos por conta dos ganhos de escala, que
se constituem em um dos argumentos favoráveis à abertura comercial;
2. A existência de custos elevados de aprendizado na produção de
novos produtos configura vantagens às empresas que primeiro se
estabeleceram no mercado. Essa situação representa barreiras à
entrada de novas empresas e pode não conferir benefícios para os
países consumidores do produto.
Nas próximas linhas, você poderá acompanhar a discussão sobre como se deu a
abertura comercial nos países em desenvolvimento e no Brasil.
Você saberia argumentar alguns motivos que justifiquem termos sido, até o
início dos anos 90, uma das economias mais fechadas do mundo?
89
Capítulo 4
Você deve lembrar que, para realizar o PSI, era necessário importar, especialmente
máquinas e equipamentos, com objetivo de ampliar a capacidade produtiva.
Em decorrência disso, mesmo praticando um PSI voltado para atender a demanda
doméstica, havia uma importante participação do mercado internacional em
nossa economia. Além de atender à demanda doméstica, as políticas comerciais
protecionistas tinham também o objetivo de conter os desequilíbrios relacionados
ao Balanço de Pagamentos (especialmente graves nos anos 80).
De acordo com Rego (2011, p. 204), existe um razoável consenso de qual seja
a resposta para as duas primeiras questões, porém, a última questão tem uma
resposta mais polêmica. Um indicativo de resposta às indagações anteriores é
apresentado a seguir:
90
Economia Brasileira
Tabela 4.2 ‑ Evolução da liberalização comercial do Brasil no período 1988 – 1995, tendo por base as
tarifas de importação (%)
Tarifa média 51,3 37,4 32,3 25,3 21,2 13,2 11,2 13,9
Você deve observar na Tabela 4.2, que a abertura comercial no Brasil teve início
ainda no governo José Sarney, em 1988. Durante esse período, acabaram as
formas mais importantes de controle de quantitativo de importação, e aplicou‑se
um controle tarifário com alíquotas reduzidas gradualmente. O anúncio das
reduções graduais, feitas com antecedência pelo governo, tinha por objetivo
preparar os produtores nacionais para uma economia mais aberta.
O valor das importações do Brasil, que havia aumentado 13% no primeiro ano do
governo Collor, estacionou até o final de seu mandato.
91
Capítulo 4
92
Economia Brasileira
Seção 3
O governo Collor: Planos Collor I e II
Você estudou anteriormente que a primeira metade dos anos 90 é marcada
pela continuidade da “saga dos planos heterodoxos” na condução de políticas
econômicas voltadas ao combate da inflação.
93
Capítulo 4
Figura 4.1 – Taxa de inflação mensal no período 1980 a 1989, medidas pelo IGP‑di da Fundação Getúlio
Vargas
•• Reforma monetária
Adoção de redução drástica da liquidez da economia por meio do
bloqueio da metade dos depósitos à vista, 80% das aplicações do
overnight e fundos de curto prazo, e aproximadamente um terço dos
depósitos de poupança. A medida objetivou evitar as pressões de
consumo e retomar a capacidade do Banco Central de fazer política
monetária ativa.
94
Economia Brasileira
95
Capítulo 4
Segundo Bresser Pereira (1991), existem três explicações para a volta da inflação:
96
Economia Brasileira
Observe que:
97
Capítulo 4
98
Economia Brasileira
Nesse período, o Brasil tem certo alívio do ponto de vista externo. As altas
taxas de juros, a manutenção da taxa de câmbio real e a abertura financeira,
combinadas com um cenário de desaquecimento internacional, contribuem para
a entrada de capital externo no país e elevação de reservas.
Concluímos que o período Collor de Mello marca a volta dos recursos externos
ao Brasil e traz à baila a discussão sobre a abertura comercial (mudança na
estratégia de comércio exterior) e sobre um tema ainda hoje controverso:
a privatização. Esse último é o nosso próximo assunto.
Seção 4
Privatização
Você inicia o estudo de um tema controverso e que tomou um bom espaço na
mídia nos anos 90: as privatizações.
99
Capítulo 4
100
Economia Brasileira
Giambiagi (2011, p. 136) utiliza a metáfora que será preciso uma “cenoura” e um
“porrete” para fazer a “carroça da indústria nacional” voltar a andar. Cita Erber e
Vermulm (1993), que concebem a Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE)
como sendo uma “pinça” que possui uma “perna” para incentivar a competição e
a outra “perna” para incentivar a competitividade.
Outra interessante reflexão feita por Gremaud (2011, p. 581) é sobre a difusão de
novas tecnologias, novos métodos de produção e mesmo novos produtos que
criam a oportunidade de modificar o modo de fornecimento dos serviços públicos.
O avanço tecnológico minimizaria as preocupações citadas anteriormente sobre a
falta de concorrência em certas atividades.
101
Capítulo 4
Tabela 4.3 – Processo de privatização: um resumo até o ano de 1994, com valores em milhões de US$
Moedas
Nº de Valor Dívidas
Tipo Período Total podres/
empresas arrecadado transferidas total
1981‑89 39 735
Entre 1991 e 1992 foram vendidas 18 empresas, ainda durante o governo Collor,
representando um valor total arrecadado de US$5.371 milhões. Segundo
102
Economia Brasileira
Você pode concluir que nos governos Fernando Collor e Itamar Franco foram
privatizadas 33 empresas federais, uma arrecadação de US$ 8.6 bilhões, com
transferência para o setor privado de US$ 3,3 bilhões em dívidas.
103
Capítulo 4
Seção 5
A economia brasileira entre 1990 ‑ 1994
Nas seções anteriores, você estudou as reformas relacionadas à abertura
comercial, a política de privatização e os Planos Collor I e II, que ocorreram no
período 1990 – 1994.
Figura 4.3 ‑ Variação real anual do PIB do Brasil, em % a.a.: período 1989 a 1994
104
Economia Brasileira
O ano de 1992 foi o último com taxa de crescimento negativa para o PIB
brasileiro até a chegada do ano de 2009, que diminui 0,33%, sob os efeitos
da crise financeira mundial de 2008.
105
Capítulo 4
Em linhas gerais, você pode concluir que o crescimento médio do PIB brasileiro
no período 1990‑94 foi baixo: 1,3% a.a.
Figura 4.4 – Comportamento da taxa de inflação mensal brasileira, IGP di: 1989 – 1994
O Plano Collor I fez com que ela cedesse vertiginosamente, mais ainda em
patamares elevados, vindo sofrer aceleração logo em seguida. Segundo Cordeiro
(2005, p. 111), “a variação do IPCA em dezembro foi de 18,45%, o que perfazia o
total de 927,4% ao ano”.
Mais uma vez o dragão da inflação não estava domado. A adoção do Plano
Collor II em janeiro de 1991 faz a inflação cair e, como padrão, voltar a crescer
continuamente nos meses seguintes.
106
Economia Brasileira
Souza (2008, p. 217) afirmou que o Brasil, entre fins de 1980 até fins de 1992,
somente nos dois primeiros anos do governo Sarney escapou de adotar uma
política recessiva. Sobre isso, destaca:
O período é marcado por superávits no saldo balança comercial, que pode ser
verificado na Figura 4.5.
Figura 4.5 – Balança comercial: exportações, importações e saldo, em US$ milhões, 1989 – 1994
107
Capítulo 4
Giambiagi (2011, p. 157) faz a seguinte afirmação, que pode ser verificada no
gráfico anterior:
[...] nos dois primeiros anos do período (1990 – 91), houve uma
forte retração nas exportações, em relação aos patamares
anteriores. Entretanto, nos três anos que se seguiram, as
exportações – especialmente as de manufaturados – tiveram um
comportamento significativamente expansivo.
O mesmo autor questiona a tese de que a política econômica deve ter como
preocupação central o déficit público e propõe:
O deficit público pode O déficit público não foi a causa determinante do processo
ser caracterizado como inflacionário vivido pela economia brasileira desde os anos
deficit primário (DP), 1980 até o início dos anos 1990. A questão central tem de ser
quando as despesas buscada na crise da dívida e na incapacidade do país de garantir
com juros e correção fontes externas de financiamento do Balanço de Pagamentos.
monetária são excluídas (LOPREATO, 2002, p. 279).
do cálculo do deficit.
O deficit público pode
ser caracterizado como Mas o bom resultado das contas públicas no período de
deficit operacional (DO) 1990 até 1993, não conteve a aceleração inflacionária.
quando somente as
A Tabela 4.4 mostra os números do déficit operacional
despesas com correção
monetária (CM) são e do resultado primário, além dos valores de juros reais
excluídas do cálculo. líquidos pagos no período de 1990 a 1994.
108
Economia Brasileira
Ainda sobre a tese de que para debelar a inflação é preciso cortar o gasto público,
Souza (2008, p. 218) afirma:
5.5 Conclusão
Dessa forma, neste capítulo, você estudou a mudança de modelo de desenvolvimento
pela qual passou nossa economia no início dos anos de 1990, que foi influenciado
pelo surgimento, no cenário internacional, do chamado Consenso de Washington e do
Plano Brady.
109
Capítulo 4
A primeira metade dos anos 90 foi marcada pela continuidade dos sucessivos
planos de combate à inflação, que traziam como principal elemento o
congelamento de preços, com exceção do Plano Real (um dos assuntos da
próxima unidade). Você conheceu os planos de estabilização do governo Collor:
Plano Collor I e Plano Collor II.
110
Capítulo 5
Estabilização, desequilíbrios
macroeconômicos e as reformas
111
Capítulo 5
Seção 1
O Plano Real: contexto econômico
A primeira metade dos anos 90 é marcada pela continuidade dos sucessivos
planos de combate à inflação, que traziam como principal elemento o
congelamento de preços. O último plano que você estudou, o Plano Collor II,
também não obteve êxito no controle do processo inflacionário.
112
Economia Brasileira
demanda de moeda a ser emitida pelo Banco Central. Segundo Giambiagi (2011,
p. 143), existia um desajuste fiscal ex ant (isto é, entre os gastos e as receitas
orçadas) muito elevado, mas, conforme a inflação ia corroendo os gastos do
governo em termos reais (e suas receitas mantinham‑se relativamente protegidas),
surgia ex post, um déficit apenas moderado.
A adoção do novo plano não poderia incorrer nos mesmos erros dos planos
anteriores. Para Gremaude (2011, p. 449), as medidas deveriam:
Segundo Bacha (2012, p. 139), isso ocorreria quando não houvesse inflação,
uma vez que, se o déficit operacional está em equilíbrio, a oferta monetária deixa
de crescer, contribuindo para o fim da inflação. Nesse sentido, o controle do
déficit nominal era um problema monetário, e não fiscal.
Souza (2008, p. 224) identifica oito etapas em que o Plano Real foi desdobrado:
1) renegociação da dívida externa e suspensão da moratória; 2) criação da “âncora
113
Capítulo 5
Seção 2
A implementação do Plano Real
Você estudou que o Plano Real pode ser concebido como um programa em três
estágios, de modo a evitar os equívocos e os fracassos dos planos anteriores.
O ataque ao processo inflacionário foi apresentado ao país por Fernando Henrique,
em 7 de dezembro de 1993.
114
Economia Brasileira
Souza (2008, p. 222) comenta que a ideia básica do PAI pode ser assim resumida:
“O diagnóstico sobre a causa fundamental da doença inflacionária já foi feito. É a
desordem financeira e administrativa do setor público”. Por isso, a terapia preconizada:
o governo deve arrumar a sua própria casa e colocar as contas em ordem.
115
Capítulo 5
Segundo Souza (2008, p. 227), o FSE seria abastecido por três fontes de recursos:
Para Giambiagi (2011, p. 145), as mudanças introduzidas pelo PAI e pelo FSE
não se mostraram suficientes para assegurar o equilíbrio fiscal sequer em 1995.
Lembre‑se também de que reformas estruturais, consideradas fundamentais
para a estabilidade duradoura, não foram feitas. Essas reformas não tiveram sua
aprovação no Congresso.
A URV seria corrigida diariamente pela taxa de inflação medida por vários índices
(IGP‑M, IPC‑FIPE e IPCA), sendo que o seu valor nessa fase seria a própria taxa
de câmbio (paridade fixa de um para um com o dólar).
116
Economia Brasileira
Bacha (2012, p. 143) explica que os contratos com preços e salários foram
redenominados nessa nova unidade de conta, com poucas exceções. Os termos
das conversões poderiam ser negociados livremente, com exceção dos salários,
aluguéis residenciais, mensalidades escolares e preços e tarifas públicos.
Bacha (2012, p. 144) sustenta que a principal finalidade deste segundo estágio era:
117
Capítulo 5
DE AO REAL
Jô Soares
118
Economia Brasileira
Você deve lembrar também que o Plano Real foi implantado em condições de
período eleitoral, inclusive para a presidência da República. Bacha (2012, p. 151),
sobre o momento político, lembra o seguinte:
119
Capítulo 5
120
Economia Brasileira
121
Capítulo 5
Gremaude (2011, p. 452) comenta que “com a manutenção da taxa real de juros
elevada e como permanecia o excesso de liquidez internacional, o fluxo de capital
externo se manteve”. Como o Banco Central deixou o câmbio flutuar, ocorreu
uma profunda valorização da taxa de câmbio, estimulando a importação em
uma economia aberta e com um volume significativo de reservas. Isso travou
a possibilidade de aumento do nível geral de preços e ficou conhecido como a
“âncora cambial” do Plano Real.
Giambiagi (2011, p. 153) avalia que o Plano Real apresentou características comuns
aos planos de estabilização baseados em âncora cambial adotados em países com
longa história inflacionária. Entre essas características, destacou as seguintes:
122
Economia Brasileira
Seção 3
O primeiro governo FHC: os esforços em favor
da estabilização
A estabilização foi o tema dominante no primeiro governo de Fernando Henrique
Cardoso, que tomou posse em 1º de janeiro de 1995.
Até aquele momento, o sucesso inicial do Plano Real era incontestável. A inflação
havia caído de pouco mais de 40% ao mês para 1 a 2% no final do ano de 1994,
conforme ilustrado na Figura 1.4, ver p. 27 da primeira unidade.
O governo Fernando Henrique inicia com intensa pressão. Giambiagi (2011, p. 166)
aponta pelo menos quatro razões:
123
Capítulo 5
A visão existente no começo de 1995 era de que a inflação voltaria com força e
a indexação se reinstalaria na economia. Assim, no mês de março daquele ano,
considerando as pressões e desequilíbrios que ameaçavam a sustentação do Plano
Real, o governo brasileiro adotou um conjunto de medidas, com destaque para:
Os efeitos dessas medidas logo apareceram. Bacha (2012, p. 171) comenta que,
a partir do segundo semestre de 1995, verificou‑se uma recuperação das perdas
das reservas internacionais (algo em torno de US$10 bilhões). Atraídos pela
rentabilidade das aplicações em moeda local, os investidores retornaram ao país.
No final de 1995, o Brasil acumulou US$ 59 bilhões de reservas internacionais.
A situação esteve sob controle até a primeira metade de 1996, quando os déficits
comerciais começam a aumentar.
124
Economia Brasileira
Figura 5.1 ‑ Taxa de juros Over/Selic (% a.a.) ‑ Banco Central do Brasil: jul/1994 a dez/2002
125
Capítulo 5
Figura 5.2 – Comportamento da taxa de inflação mensal brasileira, IGP di: 1995 – 2002
A inflação anual para o ano de 1995, medida pelo mesmo indicador, foi de 14,8%;
e em 1996, já se encontrava abaixo de dois dígitos, marcando 9,3%. Nos anos
seguintes caiu para 7,5% em 1997 e 1,7% em 1998.
Oliveira (2005, p.136) observa que um dos mecanismos para o controle da inflação
adotado no período foi a abertura comercial. A oferta internacional contribuiu para a
estabilização principalmente dos preços agrícolas. Explica o autor:
126
Economia Brasileira
serviços tem grande importância no seu cálculo, o que não ocorre no Índice de
Preços por Atacado (IPA). Esse fato explica o % mais alto para o IPC quando
comparado ao IPA.
Tabela 5.1 – Variação de preços acumulada para alguns itens selecionados – agosto/1994 a janeiro/1997
Item % Item %
Índice de Preços por Atacado (IPA) 22,88 Índice de Preços ao Consumidor (IPC) 55,04
Vários itens da Tabela 5.1 ilustram o fato de que a variação de preços no setor
de serviços ficou bem acima da variação dos preços dos produtos industriais.
O preço dos alimentos aumentou 20,93%, enquanto comer fora de casa ficou
48,14% mais caro. O mesmo ocorreu com os preços dos medicamentos, que
aumentaram em 39,36%, enquanto os preços de serviços médicos e dentários
subiram 92,46%.
A eficácia dos remédios para a estabilização era cada vez menor e trazia consigo
alguns efeitos colaterais indesejáveis. Você estudará, neste material didático, dois
desses efeitos principais: o desequilíbrio externo e a crise fiscal.
Seção 4
Desequilíbrio do setor externo e a crise fiscal
Você conheceu até aqui aspectos da implementação do plano econômico de
maior êxito na história brasileira de combate à inflação. Apesar do sucesso
em seus primeiros meses de Plano Real, a gestão macroeconômica deixava a
economia brasileira numa rota insustentável.
Bacha (2012, p. 124) aponta causas múltiplas para essa tendência: a apreciação
da taxa de câmbio, o déficit do setor público, a indexação salarial e a expansão
do crédito para o setor privado.
127
Capítulo 5
Você deve lembrar que, numa economia aberta, a taxa de câmbio é uma variável
importante. O fluxo de comércio exterior e as decisões de investimento de
empresas internacionais são influenciadas pelo seu preço. A Figura 5.3 descreve
a trajetória da taxa de câmbio mensal entre julho de 1994 a julho de 2002.
128
Economia Brasileira
Figura 5.4 ‑ Importações e Exportações (FOB) mensais, em US$ (milhões) ‑ Banco Central do Brasil:
jan/1994 a dez/2002
129
Capítulo 5
130
Economia Brasileira
Souza (2008, p. 259), sobre a ameaça de explosão das contas externas, comenta
Segundo Leite (2011, que, no final de 1996, as reservas somavam “US$ 60 bilhões
p. 58), o IED é um no conceito de liquidez internacional e estimava‑se que
investimento de longo havia no país US$ 62 bilhões de capitais especulativos”.
prazo e representa um
As reservas seriam pulverizadas, caso esses capitais fossem
importante canal para
os fluxos internacionais afugentados do país.
de capitais privados.
É a operação na qual Outro importante movimento de capital internacional
uma empresa cria ocorre por meio do Investimento Externo Direto (IED).
uma subsidiária no
A Figura 5.6, a seguir, mostra o fluxo de IED que
exterior ou compra uma
empresa já existente aumentou de forma exponencial no país durante o
em outro país. governo Fernando Henrique.
Figura 5.6 ‑ Investimentos diretos estrangeiros no país ‑ US$ (bilhões) ‑ Banco Central do Brasil: 1994
a 2002
Oliveira (2005, p. 143) comenta que muitas empresas privadas brasileiras foram
vendidas para grupos estrangeiros, como Bamerindus, Lacta, Metal Leve,
Cofap e outras. Por outro lado, tomando o exemplo do setor automobilístico,
verificou‑se: o ingresso da montadora Renault, Peugeot‑Citroen, Honda, Toyota e
outras; e a construção ou ampliação da planta da GM, em Gravataí, Volkswagem,
em Curitiba, e Ford, em Camaçari.
131
Capítulo 5
Figura 5.7 ‑ Reservas internacionais ‑ liquidez internacional – em US$ milhões: jan/1994 a dez/2002
Bacha (2012, p. 171) comenta que os dados indicam uma mudança muito
significativa entre o início de 1995 e o final de 1996:
132
Economia Brasileira
Depois do efeito da crise asiática ter passado, em abril de 1998, ocorre o pico
das reservas cambiais de US$ 74 bilhões, na série mostrada na Figura 2.6.
Em seguida, sob os efeitos da moratória decretada pela Rússia em agosto,
as reservas declinam de US$ 70,2 bilhões, em julho de 1998, para US$ 45,8
bilhões, em setembro de 1998.
Após esse período, entre 1999 e 2002, as reservas cambiais situam‑se entre
US$ 30 e US$ 40 bilhões e não apresentaram qualquer oscilação brusca
semelhante ao que acontecera anteriormente.
Giambiagi (2011, p. 172) aponta a situação fiscal crítica como o segundo grave
problema do período que foi caracterizada pelos seguintes fatos:
133
Capítulo 5
Figura 5.8 – Dívida líquida total do setor público mensal ‑ com Petrobras e Eletrobrás ‑ (% PIB) ‑ Banco
Central do Brasil: 1994 a 2002
Segundo Oliveira (2005, p. 147), a política de juros adotada pelo governo foi
determinante para a elevação da dívida, que tinha como causas: a assunção de
dívidas estaduais e municipais pelo governo federal; o ajuste de contas do setor
imobiliário; e o socorro ao setor bancário através do Programa de Estímulo à
Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer).
Tabela 5.2 ‑ Necessidade de financiamento do setor público como % do PIB – Conceito Operacionala
134
Economia Brasileira
Figura 5.9 ‑ Carga tributária total (% PIB) ‑ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Sistema de
Contas Nacionais: 1994 a 2002
Souza (2008, p. 265) observa que o pacote fiscal de 1998 inaugurou uma
trajetória de aumento da carga tributária até o final do governo Fernando
Henrique. Só a partir do ano de 1999 que começam a ser gerados crescentes
superávits primários, possibilitando o pagamento de juros.
135
Capítulo 5
Seção 5
O segundo mandato de FHC: a tríplice mudança
de políticas e as mudanças estruturais
A década de 1990 tem tudo para ser reconhecida como uma “década de
transformações”, época em que o primeiro governo FHC será marcado por uma
importante mudança comportamental. Com o dragão da inflação dominado,
os consumidores passam a comparar os preços, forçando uma disputa entre as
empresas que sofriam a concorrência dos produtos importados.
136
Economia Brasileira
A situação econômica era tão desfavorável que o governo não esperou as eleições
para começar a negociar um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI),
em troca de um empréstimo de US$ 41,5 bilhões.
Giambiagi (2011, p. 176) comenta que este acordo não previa mudanças na política
cambial, mas contemplava um aperto fiscal em que o superávit primário passaria a
2,6% do PIB, em 1999, 2,8% do PIB, em 2000 e 3,0% do PIB, em 2001.
Giambiagi (2011, p. 177) aponta alguns fatos que explicam a baixa inflação
registrada quando da desvalorização cambial:
137
Capítulo 5
138
Economia Brasileira
139
Capítulo 5
Além do ajuste fiscal ter sido feito por elevação das receitas de impostos,
algumas mudanças estruturais relacionadas ao comportamento das despesas
foram implementadas. As principais mudanças foram:
140
Economia Brasileira
Gremaude (2011, p. 480) observa que, apesar dessas mudanças estruturais, o gasto
público manteve um crescimento elevado durante todo o período. Isto reflete a
dificuldade existente de se cortar gastos no país.
141
Capítulo 5
142
Economia Brasileira
Figura 5.11 – Evolução do PIB ‑ variação real anual ‑ (% a.a): 1994 a 2002
Gremaude (2011, p. 485) avalia que o Brasil, com o câmbio flutuante, poderia
ter encontrado um caminho para o crescimento sustentado pelo tripé: metas
de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Esse tripé só produziu seus
efeitos no ano 2000, em especial pela desvalorização cambial. Nesse ano, o país
apresentou a maior taxa de crescimento econômico do segundo mandato de
FHC, 4,31% a.a.
No ano de 2001, você pode observar que há uma forte queda na taxa
de crescimento, agora em torno de 1,31% a.a. A economia brasileira foi
fragilizada por uma combinação de eventos, incluindo a desaceleração da
economia mundial (causada pelo atentado terrorista de 11 de setembro,
o maior da história nos EUA), o “colapso” da economia argentina (o Brasil
foi afetado pelo aumento do risco da região, diminuindo a entrada de
capitais) e a crise de energia (com a necessidade de racionamento de
energia elétrica).
143
Capítulo 5
Figura 5.12 ‑ Taxa mensal de desemprego aberto da região metropolitana de São Paulo (%) – Fundação
Seade/PED: jan/1994 a dez/2002
144
Economia Brasileira
Aprendeu que o segundo governo FHC foi muito diferente do primeiro. Após a
crise cambial de 1999, mudou o tripé da política macroeconômica adotando:
o câmbio flutuante, o sistema de metas para a inflação, e a austeridade fiscal
com metas para o superávit primário.
145
Capítulo 6
As mudanças recentes na
economia brasileira: a euforia
147
Capítulo 6
Seção 1
Início do governo Lula
Você já descobriu que o governo Fernando Henrique terminou com um quadro de
instabilidade econômica relacionada a pressões cambiais, a uma aceleração da
inflação e ao risco‑país. As medidas implementadas no seu governo não foram
suficientes para gerar crescimento sustentado.
Pois bem, lembre‑se também que o governo precisou lidar com uma sucessão
de choques adversos: a crise de energia, o estouro da bolsa de valores Nasdaq,
o 11 de setembro, a moratória da Argentina e a forte possibilidade de assumir a
presidência da república um partido de esquerda.
•• redução das despesas com juros (pela queda acelerada dos juros
e/ou pela renegociação da dívida);
•• redução do superávit primário;
•• repulsa ao acordo com o FMI;
148
Economia Brasileira
149
Capítulo 6
Segundo Giambiagi (2011, p. 197), a posse de Luiz Inácio Lula da Silva teve um
significado político‑ideológico importante: representou a ascensão da esquerda
ao poder. O governo de Lula “encarnou” uma mensagem de transformação
comparável apenas à posse de Salvador Allende no Chile, nos anos de 1970.
Souza (2008, p. 288), sobre o discurso do presidente eleito, lembra que não se
tratava de qualquer mudança e cita os seguintes trechos do discurso:
150
Economia Brasileira
Segundo Souza (2008, p. 288), a ampliação de sua base política teve um peso
decisivo na eleição de Lula.
A coligação “Lula Presidente” era composta pelos partidos PT, PL, PC do B, PMN
e PCB, e a coligação “Grande Aliança” pelo PSDB e PMDB. Após a vitória de Lula,
em nome da governabilidade, o PMDB foi convidado a fazer parte do governo,
mesmo tendo apoiado o candidato José Serra para a presidência em 2002.
Tabela 6.1 ‑ Distribuição das bancadas partidárias na Câmara dos Deputados na eleição legislativa
de 2002
PT 91 17,7
PFL 84 16,4
PMDB 74 14,4
PSDB 71 13,8
PPB 48 9,4
Observe que o PT obteve apenas 17,7% dos votos na Câmara dos Deputados.
A aprovação de uma emenda exigiria a soma de todos os votos dos quatro
partidos com mais bancadas, explicando a necessidade do chamado
“presidencialismo de coalizão”, adotado no governo Fernando Henrique e, agora,
no governo Lula.
151
Capítulo 6
Segundo Giambiagi (2011, p. 204), essa era uma questão aberta, em razão das
dificuldades para se conhecer as taxas futuras de juros e de crescimento do PIB,
existindo uma percepção de que o superávit de 3,75% do PIB, para 2003, já não
era mais suficiente. Lembrou também a existência de uma fórmula para calcular
o superávit primário necessário para manter estável a relação dívida pública/PIB,
que é:
p = d . (i – q) / (1 + q) – s
Assim:
152
Economia Brasileira
A Tabela 6.2 mostra o conjunto de superávit primário requerido para valores de taxas
de juros e de crescimento da economia, considerando uma dívida inicial de 55% do
PIB e uma senhoriagem de 0,4% do PIB (numa condição de inflação baixa).
Tabela 6.2 – Superávit primário requerido para estabilizar a relação dívida pública/PIB (% PIB),
com d = 0,55 e s = 0,004
2 3 4 5
153
Capítulo 6
Segundo Cardoso (2013, p. 206),o governo Lula, nos dois primeiros anos de seu
mandato, efetivamente promoveu duas reformas estruturais:
154
Economia Brasileira
Após o segundo ano de seu governo, Lula deixou de lado as agendas de reformas
e buscou apoio junto à ala contrária às políticas implementadas até ali. Você deve
lembrar que em meados de 2005 ocorreram denúncias de corrupção envolvendo
pagamentos a parlamentares, isso ficou conhecido por “mensalão”.
Seção 2
Acertando o alvo e a estabilidade monetária
A gestão do governo Lula manteve o tripé metas de inflação, regime de câmbio
flutuante com intervenção e ajuste fiscal. No período entre 2003 a 2010, o regime
de metas de inflação foi capaz de manter a estabilidade monetária, mesmo tendo
o país retomado o crescimento econômico.
155
Capítulo 6
Legenda:
Linhas tracejadas: Limites superior e inferior
Linha cheia: Meta de inflação
A Figura 6.1 mostra que, nos cinco anos entre 2005 e 2010, a meta estabelecida
para a inflação foi de 4,5%, com uma banda de 2% para cima ou para baixo.
O limite superior, considerando a banda era 6,5% e o inferior 2,5%. Note que,
neste período, a inflação observada sempre se manteve no intervalo da banda,
revelando a eficiência das medidas adotadas.
156
Economia Brasileira
Arida (2012, p. 213) apontou, no final do primeiro ano do governo Lula (dezembro
de 2003) as seguintes interpretações correntes para as elevadas taxas de juros:
Curado (2011, p. 95) considera três aspectos centrais que podem justificar a
manutenção de elevadas taxas de juros:
157
Capítulo 6
A Figura 6.2, a seguir, exibe o histórico das taxas de juros nominais (% a.a.) fixadas
pelo Copom, no período de janeiro de 2003 a janeiro de 2013, mostrando uma
importante redução de sua taxa de juros.
Figura 6.2 – Histórico das taxas de juros nominais (% a.a.) fixadas pelo Copom, período de janeiro de
2003 a janeiro de 2013
158
Economia Brasileira
Em 2002, o Brasil liderava o ranking das taxas de juros reais com 11,1% a.a. e,
o segundo colocado, a Turquia, tinha um juro real de 9,4%.
Em dezembro de 2010, o Brasil também liderava o ranking com 4,8% a.a. de juros
reais e, a África do Sul, em segundo lugar, tinha juros reais de 2% a.a.
Souza (2008, p. 299), aponta outro tema relevante relacionado às elevadas taxas
de juros reinantes em nosso país:
159
Capítulo 6
Finalmente, deve‑se ressaltar também que, apesar de o país ter taxas de juros
muito elevadas no contexto internacional, os picos e os vales exibidos no gráfico
anterior de cada ciclo foram cada vez menores (indicando a tendência de baixa
da taxa de juros ao longo do período).
Você pode concluir que, ao longo dos dois governos de Lula, as metas de inflação
foram cumpridas dentro do intervalo de tolerância, com uma tendência contínua
de queda. A mesma tendência pode ser dita em relação ao comportamento da
taxa de juros, que contribuiu para acertar o alvo e a estabilidade monetária.
Seção 3
A “fantasia fiscal” e as contas públicas
O emprego da expressão “fantasia fiscal” no título é apenas para enfatizar que o nosso
país tem sido conduzido como se não estivesse sujeito a limites, especialmente no
que diz respeito ao gasto público. A expressão foi empregada por Giambiagi (2012,
p. 15), em sua recente publicação, o livro “Além da euforia”, que discute os riscos e as
lacunas do modelo brasileiro de desenvolvimento contemporâneo.
O aumento do gasto público pode ser financiado pelo aumento dos impostos,
pela emissão de dívida pública, ou em última instância, por mais inflação.
Em relação à situação fiscal, lembre‑se de que uma das primeiras medidas
anunciadas pelo governo Lula foi a elevação da meta de superávit primário para
4,25% do PIB. Pois bem, a partir de agora você aprenderá como se desenvolveu
a política fiscal e o desempenho das contas públicas nos dois governos Lula.
160
Economia Brasileira
Neste material didático, você descobriu que, de fato, a economia brasileira nos
anos de 1990 vinha de um processo de deterioração da situação fiscal, quando
passou a conviver, na década atual, com superávits primários. Vamos verificar
como se deu esse processo de ajustamento na direção do almejado equilíbrio
fiscal durante o governo de Lula.
161
Capítulo 6
Obs.: O dado de 2013 corresponde ao acumulado de janeiro, até o mês de outubro de 2013.
Fonte: Adaptado de Ministério da Fazenda (2012, p. 83).
162
Economia Brasileira
Obs.: O dado de 2012 corresponde ao acumulado em doze meses, até o mês de outubro de 2012.
Fonte: Adaptado de Ministério da Fazenda (2012, p. 83).
Giambiagi (2011, p. 215) identificou uma nítida mudança de postura com a saída
de Antônio Palocci e a chegada de Guido Mantega no ministério da Fazenda,
manifestando ou nos seguintes elementos:
163
Capítulo 6
Segundo Curado (2011, p. 96), a prometida reforma tributária não saiu do papel,
ou seja, não houve simplificação e nem ocorreram reduções da carga tributária.
Por outro lado, ocorreram avanços importantes, com destaque para a evolução
da dívida pública. Esse último é o nosso próximo assunto.
A Figura 6.5 mostra a evolução da dívida líquida do setor público, que caiu
de 60% do PIB em 2003, para 40% do PIB em 2010, e chegou a 35% do PIB
durante o ano de 2012.
164
Economia Brasileira
Figura 6.5 ‑ Dívida líquida total do setor público (% PIB) ‑ Banco Central do Brasil
Souza (2008, p. 303), considerando o triênio 2002 a 2005, comenta que a melhoria
da relação dívida/PIB se deveu não à desaceleração do crescimento da dívida em
valores absolutos, mas ao crescimento do PIB alavancado pelas exportações.
165
Capítulo 6
Figura 6.6 ‑ Carga tributária total (% PIB) ‑ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Sistema de
Contas Nacionais: 2003 a 2012
Tabela 6.3 ‑ Taxa de crescimento da receita e da despesa totais do Governo Central por períodos
(% a.a.) que inclui transferências a Estados e Municípios
Despesa primária é também Segundo Giambiagi (2011, p.223), nos dois primeiros
conhecida como despesa
anos do governo Lula, a política adotada no segundo
não financeira, corresponde
ao conjunto de gastos que governo Fernando Henrique foi mantida. De acordo
possibilita a oferta de serviços com essa política, o crescimento da receita (3,3%)
públicos à sociedade, ocorre a taxas superiores às de incremento da
deduzidas às despesas
despesa primária (2,2%) do governo central,
financeiras. São exemplos
os gastos com pessoal, que incluem as despesas do Tesouro Nacional,
custeio e investimento. da Previdência social e do Banco Central.
Pode ser de natureza
obrigatória ou discricionária. A despesa primária apresentou um crescimento médio
(GLOSSÁRIO DE TERMOS anual de 6,4% nos seis últimos anos do governo
ECONÔMICOS, 2013).
166
Economia Brasileira
Lula, 2005‑2010, que se baseou nas transferências diretas a indivíduos, por meio
de medidas como o aumento do salário mínimo, das aposentadorias, seguro
desemprego, o programa Bolsa‑Família, e outras. Esse padrão de gestão implicou
num estímulo ao consumo.
Rodrigues (2010, p.18) identificou, entre 1991 e 2008, os períodos em que a política
fiscal foi de fato expansionista ou contracionista, tendo por base o comportamento
das finanças públicas e da característica do ano. No período mais recente, de 2003
em diante, as tendências relativamente claras foram as seguintes:
Você estudou que a carga tributária brasileira somou 35,3% do Produto Interno
Bruto em 2011, estabelecendo nova marca recorde.
167
Capítulo 6
Seção 4
O desempenho externo e o balanço
de pagamentos
Você já descobriu que, com a introdução da política de flutuação cambial, a moeda
brasileira sofreu um processo contínuo de desvalorização. A taxa de câmbio,
influenciada pelo atentado de 11 de setembro de 2001, pela crise argentina e,
depois pelo chamado “risco‑Lula”, alcançou valores superiores a R$ 3,00.
A Figura 6.7 descreve a trajetória da taxa de câmbio nominal mensal entre janeiro
de 2002 a dezembro de 2012, que ao longo dos dois governos Lula apresentou
uma apreciação substancial.
Figura 6.7 ‑ Taxa de câmbio nominal ‑ R$ / US$ ‑ comercial venda média: 2002 a 2012
168
Economia Brasileira
Figura 6.8 ‑ Importações e Exportações ‑ (FOB) ‑ US$ (milhões) ‑ Banco Central do Brasil: 2002 a 2011
Curado (2011, p. 101) identifica dois fatores essenciais para explicar o aumento
da participação de produtos não industriais e a queda das exportações de
produtos de alta tecnologia:
169
Capítulo 6
Devido a essas mudanças apontadas por Curado, até o ano de 2000 a China não
constava entre os dez principais países de destino das exportações brasileiras.
Já em 2009, a China se tornou o principal destino das exportações brasileiras.
Figura 6.9 ‑ Participação percentual dos maiores parceiros comerciais do Brasil (% do total exportado)
Obs.: Os dados de 2012 correspondem ao período de janeiro a outubro. Nos parceiros do MERCOSUL
não se incluiu a Venezuela.
Fonte: MDIC e Ministério da Fazenda (2012).
Você deve notar que na crise externa do Brasil nos anos 1998/1999, a China
demandava produtos brasileiros em torno de 1% do total exportado. Já em
2012, o peso da demanda da China foi superior a 17% das nossas exportações,
representando um aumento significativo da capacidade de influenciar variáveis
relevantes da economia brasileira.
170
Economia Brasileira
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Transações
4,18 11,68 13,99 13,64 1,55 ‑28,19 ‑24,30 ‑47,27 ‑52,48 ‑54.25 ‑81.37
correntes
‑ Balança
24,79 33,64 44,70 46,46 40,03 24,84 25,29 20,15 29,81 19.40 2.56
comercial (Fob)
Exportação
73,08 96,48 118,31 137,81 160,65 197,94 153,00 201,92 256,04 242.58 242.18
de bens
Importação
‑48,29 ‑62,84 ‑73,61 ‑91,35 ‑120,62 ‑173,11 ‑127,71 ‑181,77 ‑226,23 ‑223.18 ‑239.62
de bens
‑ Serviços e
‑23,48 ‑25,20 ‑34,28 ‑37,12 ‑42,51 ‑57,25 ‑52,93 ‑70,32 ‑85,27 ‑76.49 ‑87.30
Rendas
‑ Transferências
unilaterais 2,87 3,24 3,56 4,31 4,03 4,22 3,34 2,90 2,98 2.85 3.36
Correntes
Conta capital
5,11 ‑7,52 ‑9,46 16,30 89,09 29,35 71,30 99,91 112,39 70.01 73.78
e financeira
Resultado
8,50 2,24 4,32 30,57 87,48 2,97 46,65 49,10 58,64 18.90 ‑5.93
do balanço
Fonte: Elaboração do autor, 2014 (a partir de informações do Banco Central do Brasil).
Você deve observar que em todos os anos do período entre 2003 e 2012, o Balanço
de Pagamentos apresentou superávit. Esse resultado foi obtido graças à contribuição
da conta capital e financeira, que a partir de 2006 se apresentou superavitária.
171
Capítulo 6
Você deve lembrar que situação similar ocorreu na década de 90, quando o
ingresso de capitais estrangeiros no Brasil continuou até o final da década,
ocasionando um aumento das reservas internacionais.
172
Economia Brasileira
Figura 6.11 ‑ Reservas internacionais em US$ milhões (liquidez internacional): 2002 a 2012
173
Capítulo 6
Seção 5
A retomada do crescimento econômico com
distribuição de renda
No campo da economia real, você se lembra de como ocorreu a variação do PIB
brasileiro desde o início do governo Collor? Já estudamos que, a partir de 1980,
antes mesmo de Collor, ocorreu um colapso do crescimento do PIB brasileiro do
qual o país não se recuperou mesmo após a estabilização em 1994.
174
Economia Brasileira
175
Capítulo 6
A Figura 6.14 exibe, com mais detalhes, a evolução das taxas anuais de
crescimento do PIB brasileiro e mundial para o período 2002 a 2012.
176
Economia Brasileira
Pois bem, no começo de 2003, com o dólar pressionado, a taxa Selic anualizada
chegou a 26,5% e, a partir daí, apresentou progressiva redução até 16%, em
maio de 2005. As reduções na taxa básica, com algumas altas durante o período
2003/2010, contribuíram para a retomada do crescimento e também para que as
taxas de crescimento do PIB fossem as mais intensas em duas décadas.
No segundo governo Lula, período entre 2007 e 2010, excluindo o ano de 2009,
as taxas de crescimento do PIB foram superiores aos 5% a.a. A taxa média
de crescimento do período foi 4,62%, ficando 31% acima do crescimento da
economia mundial (ver Tabela 6.5).
177
Capítulo 6
Figura 6.15 ‑ Evolução do PIB per capita do Brasil (a preços de 2012): 2002 – 2012
Você deve observar que a partir de 2004 o PIB per capita apresenta forte elevação
nos valores, tendo sofrido uma ligeira queda em 2009.
178
Economia Brasileira
Aqui no Brasil, a partir do segundo ano do governo Lula, o maior otimismo com
a evolução da economia proporcionou um aumento na demanda por emprego,
ocasionando uma redução nas taxas de desemprego. A Figura 6.16 exibe o
comportamento da taxa de desemprego aberto – RMSP (%), durante o período
2002 a 2013.
Figura 6.16 ‑ Taxa de desemprego ‑ aberta ‑ RMSP ‑ (%) – Fundação Sistema Estadual de Análise de
Dados, Pesquisa de Emprego e Desemprego (Seade/PED)
179
Capítulo 6
180
Economia Brasileira
2. O Índice de Gini (indicador que indica maior desigualdade quanto mais próxima
de um; e maior equidade quanto mais próximo de zero) das pessoas ocupadas
caiu de 0,57 em 2001 para 0,52 em 2009. Entre as causas desse fenômeno,
destacam‑se: a) a elevação do salário mínimo; b) o aumento do emprego, em
particular do emprego formal com carteira assinada; c) o incremento da taxa de
escolaridade; e d) a queda do trabalho infantil (Souza, 2010).
Tabela 6.7 – Evolução e a classificação dos estados brasileiros segundo o IDH‑M de 1991, 2000 e 2010
181
Capítulo 6
182
Economia Brasileira
Barros (2013, p. 447) comenta que a maior parte das políticas regionais voltadas
para a redução das desigualdades regionais no Brasil, baseadas no subsídio
ao capital ou suporte aos investimentos nas regiões mais pobres, trouxe muito
pouco resultado concreto. Sobre esse assunto, concluiu:
Dos indicadores sociais apresentados anteriormente, dois deles são muito utilizados
para representar a forma de como a renda está distribuída: a estratificação por faixas
de renda; e, a utilização do Índice de Gini.
183
Capítulo 6
O Índice de Gini do Brasil, no período entre 1993 a 1998, oscilou um pouco acima
de 0,60. Em seguida, sofreu uma pequena queda, passando em 2002 para 0,59.
A partir de 2003, com a recuperação da economia, esse índice tem reduzido, ano
após ano, chegando a 0,53 em 2012.
Mariano (2012, p. 52) destaca que o Brasil apresenta um dos piores quadros
de concentração de renda. De acordo com dados do IBGE, no ano de 2009,
a parcela dos 50% mais pobres ficava com 15,25% da renda e 1% da população
mais rica ficava com 12%. Uma década atrás, em 1999, esses números eram
14% e 13%, respectivamente, para os 50% da população mais pobre e 1% para
a população mais rica.
Soares (2008, p. 6), em seu texto para discussão, procurou responder se o ritmo
de queda da desigualdade no Brasil está adequado ou não. Concluiu que o ritmo
de queda na desigualdade é adequado, mas que o desafio será manter esse
ritmo por várias décadas para alcançar o nível de desigualdade, por exemplo,
do Canadá. Soares explica que:
184
Economia Brasileira
Schwartzmann (2012, p. 297) comenta que ainda persiste no Brasil a ideia de que
os principais problemas sociais do país são o baixo acesso aos serviços públicos
essenciais e a pobreza extrema. No entanto, existem relativamente poucos
pobres no Brasil quando se adota a linha de extrema pobreza sugerida pela ONU:
“apenas 3,8% da população têm renda per capita inferior a US$ 1,25 por dia”.
(SCHWARTZMANN, 2012, p. 297).
Obs.: Não existem dados para os anos de 1994 e 2000, que foram preenchidos por mim com números
intermediários.
Fonte: Adaptado de IPEADATA (2013).
Até 1995, a taxa de pobreza oscilava próximo de 40%, quando passou para o
patamar de 35% como resultado do Plano Real (com a queda observada nas
taxas de inflação). Permaneceu nesse patamar até 2003, quando passou a cair
continuamente até atingir 21% em 2009.
185
Capítulo 6
O maior aprofundamento dessas questões vai além dos limites desta disciplina.
Entretanto, vale a pena transcrever parte das conclusões de Schwartzmann (2012,
p. 297), em seu artigo “Repensando a agenda social”:
Concluímos, pois, estar na hora de desenvolver uma nova agenda social para o
Brasil, que seja equânime, ao privilegiar o acesso dos mais pobres à seguridade
social; realista, ao reconhecer a restrição orçamentária; e eficaz, ao lidar com a
complexidade das tarefas à frente com uma gestão responsável e consequente
dos recursos públicos. Mais especificamente, as novas políticas sociais brasileiras
precisam ir além da miséria, para cuidar das necessidades básicas da grande
massa da população brasileira – os 80% das famílias brasileiras com renda per
capita inferior a R$1.300 por mês.
186
Economia Brasileira
Para focar as políticas sociais nesses 80%, é preciso lidar com alguns problemas
políticos e legais complicados. Boa parte dos chamados gastos sociais beneficia
não os 80% mais pobres, mas os 20% mais ricos. É assim com a previdência
do servidor público, a gratuidade das universidades públicas, os gastos do SUS
com remédios pelas de ações judiciais. É assim também com os “bicos” que os
policiais fazem para dar segurança aos mais ricos, nas suas 48 horas de descanso
remunerado. Para ter dinheiro para praticar política social de qualidade para os
80% mais pobres, é preciso limitar os privilégios dos 20% mais ricos, o que significa
confrontar as corporações que representam seus interesses.
Os problemas legais para focalizar os gastos sociais nos 80% mais pobres derivam
de uma peculiar, mas disseminada, interpretação dos princípios constitucionais
da universalidade e da igualdade. Na interpretação corrente, as desigualdades
dos benefícios sociais não devem ser corrigidas com o redirecionamento dos
gastos públicos, mas sim pela expansão dos gastos e a extensão para os demais
dos benefícios já conquistados por uma minoria de 20% que são considerados
direitos adquiridos. É claro, entretanto, que não há dinheiro suficiente para essa
expansão. O país tem uma carga tributária elevadíssima para seu nível de renda e
mesmo assim os orçamentos públicos continuam deficitários. A única maneira de
implantar os princípios da universalidade e da igualdade na prestação dos
serviços públicos é partindo de baixo para cima, e não de cima para baixo
[grifo meu]. A equidade se impõe como o princípio norteador básico das políticas
sociais, numa sociedade tão desigual como a brasileira.
Você deve reconhecer que são enormes os avanços do país quando se compara
a situação atual com aquela descrita na primeira metade dos anos 1990.
O “dragão da inflação” foi domado e a longa década perdida ficou para trás.
Desfrutamos de um período de estabilidade e crescimento com distribuição de
renda, ainda que estejamos numa situação nada confortável em relação a esse
último indicador.
187
Capítulo 6
Seção 5
Dilma Rousseff: as nossas insuficiências
Você observou que esta unidade contemplou indicadores econômicos com dados
dos anos 2011 a 2013, período do governo Dilma. Longe de querer realizar uma
abordagem sobre o governo atual, as próximas linhas se ocupam, principalmente,
em apontar algumas insuficiências de nossa economia.
[...] Aos que ainda não estão enxergando a nova realidade que se
configura, minha sugestão é que abram os olhos para aproveitar
as imensas oportunidades que se colocam no Brasil. (MANTEGA,
2012, p. 2).
Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, em 2013, o Brasil continua com
alguns problemas similares aos que existiam em meados da década de 1990,
que precisam ser enfrentados.
Segundo Giambiagi (2012, p. 266), existem algumas tarefas mais ou menos claras
para serem implementadas, a fim de que o país possa crescer vigorosamente e
de forma animadora no longo prazo:
188
Economia Brasileira
189
Capítulo 6
190
Considerações Finais
Esperamos ter cumprido com a mediação entre os futuros profissionais das ciências
econômicas com o conteúdo da economia brasileira. Como comentamos no início
deste livro, temos uma ambiciosa expectativa de que isso produzirá frutos que,
se bem cultivados, poderão mudar a sua história de vida pessoal e profissional.
191
Referências
BACHA, Edmar Lisboa. Belíndia 2.0: fábulas e ensaios sobre o país dos
constrastes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
193
Universidade do Sul de Santa Catarina
CYSNE, Rubens Penha (org.). Plano real ano a ano. Rio de Janeiro: FGV, 1998.
FRAGA NETO, Armínio. Dez anos de Metas para a Inflação. In: Banco Central do
Brasil. Dez Anos de Metas para a Inflação - 1999-2009. Brasília: Banco Central
do Brasil, 2011. 456 p. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/Pec/Metas/10_
anos_metas_inflacao_completo.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2013.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 24. ed. São Paulo: Nacional,
1991.
FURTADO, Celso. O capitalismo global. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 83 p.
194
Economia Brasileira
LEITÃO, Miriam. A Saga Brasileira: A longa luta de um povo por sua moeda.
São Paulo: Record, 2013.
LEITE, André Luis da Silva. Finanças internacionais: livro didático / André Luís
da Silva Leite, Graciella Martignago; revisão e atualização de conteúdo Joseane
Borges de Miranda ; 3. ed. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011. 134 p. : il. ; 28 cm.
195
Universidade do Sul de Santa Catarina
PEREIRA, Luiz C. Bresser. Economia brasileira: uma introdução crítica. 3. ed. rev.
e atual. São Paulo: Ed. 34, 2000. 222 p.
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 44. ed. São Paulo:
Brasiliense, 2000. 364 p.
REGO, José Marcio; MARQUES, Rosa Maria (Orgs.). Economia brasileira. 2a ed.
São Paulo: Saraiva, 2003.
REGO, José Marcio; MARQUES, Rosa Maria. Economia brasileira. 3ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2006.
196
Sobre os professores
conteudistas
Amilton de Carvalho Guedes
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC); graduado em licenciatura de disciplinas especializadas pelo
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná; pós‑graduado, em nível
de especialização em economia, pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Atua como professor da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)
desde 1988. Leciona em diferentes cursos, com ênfase nos cursos de Relações
Internacionais, Administração e Ciências Contábeis.
197
Economia Brasileira
O livro apresenta uma análise diversificada da
economia numa perspectiva histórica que permitirá
ao aluno desenvolver uma melhor compreensão
dos fatos mais marcantes do desenvolvimento da
economia brasileira do período colonial até os dias
atuais, focando particularmente os últimos vinte
e cinco anos. Em cada capítulo você confirma o
acesso a dados históricos e análise da economia
brasileira sob diferentes aspectos.
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9 788578 176228