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Arildo Louzano da Silveira

1ª Edição

São José do Rio Preto – SP


2020

Direitos autorais do texto original 2020


Todos os direitos reservados
Citações da Bíblia Sagrada extraídas da versão Revista e Atualizada
de Almeida; Referências ao texto original grego baseadas em
STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong. Sociedade Bíblica do
Brasil (Bíblia Online). São Paulo, 1999
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira

Louzano da Silveira, Arildo


Por que estais olhando para as alturas?
(Atos 1-5) / Arildo Louzano da Silveira.
São José do Rio Preto, SP: Independente,
2020.
245f.
1. Bíblia. 2. Atos. 3. Apóstolos. 4.
Pregação. 5. Expositiva. I. Título.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Para Vilma Luiza, minha amada esposa.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Apresentação

“Enquanto os discípulos olhavam para o


céu, deviam estar com o sentimento de quem
se despede de uma pessoa muito querida,
desejando que ela ficasse. Depois de ouvirem
os anjos, e de se conformarem com a partida
do Senhor, aguardaram, por todo o restante de
suas vidas, a sua volta”.
Aguardando, aprenderam também a olhar
ao seu redor, às ovelhas que não tinham pastor,
chamando-as ao redil, dando-lhes missões,
ensinando-as a guardar tudo o que aprenderam
da parte de Deus.
Esta conclamação se estende até nós,
separados deles por milhares de anos e de
quilômetros, mas unidos no Espírito eterno
que os moveu. Eu atendi a este chamado desde
a minha mocidade, desejando ardentemente
que a minha vida não fosse vã, muito menos
profana. Por isto me sinto feliz pelos dons que
Deus me deu, os quais me possibilitaram
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
conceber e escrever estes ensaios, que
resultaram num primeiro livro (Ensaios sobre
Marcos: Andando com Jesus) e agora este, no
qual me aventuro a publicar sermões
expositivos, parágrafo a parágrafo do livro de
Atos, a maioria deles pregados na Igreja
Bíblica de São José do Rio Preto.
Este volume abrange os capítulos de 1 a
5, que disponibilizo enquanto continuo
realizando o mesmo trabalho com os capítulos
subsequentes.
Desejo a você, amado leitor, que aprecie
este humilde trabalho, e que ele possa lhe
proporcionar uma agradável, desafiadora e
esclarecedora leitura. Como no primeiro livro,
deixo registrado, na última página, meus
dados para contato. Sinta-se à vontade para,
através destes canais de comunicação, sugerir,
corrigir, acrescentar informações, caso seja
compelido a isto.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
No amor de Cristo,
Arildo Louzano da Silveira, São José do
Rio Preto, SP, maio de 2020.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira

Índice

1. Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1.1-11) . 9

2. A ascensão dos discípulos (Atos 1.12-14) ................. 19

3. O décimo segundo (At 1.15-26) ................................ 29

4. Pentecostes (Atos 2.1-13) .......................................... 41

5. As Promessas de Deus (Atos 2.14-36) ...................... 53

6. Aliança Premiada (Atos 2.37-41) .............................. 68

7. Uma Igreja de Sucesso (At 2.42-47).......................... 78

8. Ambiente de Salvação (Atos 3.1-10) ......................... 89

9. Reprovados (Atos 3.11-16) ..................................... 101

10. Voltar atrás (Atos 3.17-26) ................................. 110

11. Anunciando a ressurreição (Atos 4.1-4) ............. 122

12. Os Poderes que nos regem (Atos 4.5-14)............ 132

13. A vontade irresistível de Deus (Atos 4.15-22).... 141


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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
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14. Deus é soberano (Atos 4.23-31).......................... 146

15. Uma igreja rica (At 4.32-35)............................... 157

16. José, um homem de procedência (Atos 4.36,37). 174

17. Os pecados de Ananias e Safira (Atos 5.1-11) .... 184

18. A congregação do Senhor (Atos 5.12-16)........... 196

19. Conflito de poderes (Atos 5.17-25) .................... 212

20. Despertando Sentimentos (Atos 5.26-33) ........... 222

21. Respeito e dignidade (Atos 5.34-42)................... 235

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira

1. Por que estais olhando para as alturas?


(Atos 1.1-11)
A televisão tem descoberto que os Reality
Shows fazem sucesso. As pessoas são
colocadas num ambiente delimitado, muitas
vezes hostil, e com recursos escassos, para
testar sua capacidade de resistência, e para que
todos que tenham acesso às imagens observem
as suas reações. Os participantes aceitam
submeter-se a estas condições adversas em
troca de dinheiro ou outros benefícios.
A vida dos discípulos, em certo sentido,
pode ser comparada a um reality show. Jesus
mostrou-se ressuscitado, para que ficasse
documentada a ressurreição, e em seguida
ausentou-se, deixando aos discípulos a
responsabilidade de serem suas testemunhas.
Começou nesse momento uma jornada que se
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
estende até os nossos dias. Enquanto
cumpriam a sua jornada, contavam com o
auxílio do Senhor, mas não de forma
completa.
O primeiro auxílio dado pelo Senhor aos
discípulos foi o estabelecimento do reino de
Deus, mas somente no coração dos crentes.
Os versículos 6 e 7 dizem: “Então, os que
estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor,
será este o tempo em que restaures o reino a
Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete
conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou
pela sua exclusiva autoridade”.
Eu não posso dizer, como alguns dizem:
“O Brasil é do Senhor Jesus!”. Não é ainda. O
Brasil, infelizmente, é do carnaval, é dos
corruptos, da dengue, do Zica vírus. Os
discípulos, naturalmente, estavam ansiosos
pelo reino messiânico. Quem não anseia por
um rei que é justo, bondoso, misericordioso,
poderoso, que vai estabelecer um reino onde
haja paz, segurança, saúde, justiça, e plena
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
alegria? Mas os discípulos, e nós também, não
podemos querer antecipar o estabelecimento
desse reino. A data e a ocasião propícias são
de exclusiva autoridade do Pai. Jesus nos dá
vida abundante, proteção, saúde,
prosperidade, mas “com perseguições”
(Marcos 10.30). Não é o momento ainda de
nos livrarmos de todas as tribulações da vida.
Nós, os que cremos, somos do Senhor Jesus,
mas o mundo inteiro “jaz no maligno” (1ª João
5.19).
O segundo auxílio dado pelo Senhor aos
discípulos foi o poder do Espírito Santo, mas
não para benefício próprio. O versículo 8
diz: “mas recebereis poder, ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da
terra”.
Eles não podiam fazer nada sem o
Espírito Santo. Deviam aguardar que ele os
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
enchesse de poder e sabedoria. O Espírito lhes
deu tanto poder, que falaram em outras línguas
sem terem estudado idiomas, executaram juízo
(como no caso de Ananias e Safira), curaram
enfermos, ressuscitaram mortos. Mas este
poder não podia ser usado em benefício
próprio. Somente para o serviço necessário ao
Reino. Não puderam ressuscitar Tiago, que foi
decapitado. Não puderam executar juízo sobre
os seus perseguidores, como fizeram com
Ananias e Safira. Não podiam fazer o que
desejava o seu coração, mas somente aquilo
que era o propósito de Deus.
Quando Jesus lavou os pés dos apóstolos
e lhes disse que deveriam fazer como ele deu
exemplo, os apóstolos certamente não
imaginavam a extensão do significado destas
palavras. Os apóstolos se tornaram
testemunhas de Jesus e, como ele deu
exemplo, sofreram até à morte, perseguições e
torturas, por amor do seu nome.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Nós recebemos o Espírito Santo no
momento em que cremos. Mesmo assim, não
está garantido que seremos sábios e poderosos
em todos os nossos atos. A Bíblia diz que
devemos procurar ser cheios do Espírito
(Efésios 5.18-6.24).
O Espírito Santo nos batiza no lugar da
água. A água lava o corpo, e com o corpo
limpo sinalizamos que a alma também está
limpa. Mas o Espírito Santo produz a própria
limpeza da alma. Ele nos faz nascer de novo,
faz com que as coisas antigas passem e tudo se
faça novo. Mas acontece que nós, tendo
recebido uma “casa limpa”, acabamos
enchendo-a de entulhos novamente.
O terceiro auxílio dado pelo Senhor aos
discípulos foi a sua própria presença, mas
não fisicamente. Os versículos 9 a 11 dizem:
“Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às
alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu
dos seus olhos. E, estando eles com os olhos
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois
varões vestidos de branco se puseram ao lado
deles e lhes disseram: Varões galileus, por
que estais olhando para as alturas? Esse Jesus
que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo
como o vistes subir”.
Enquanto os discípulos olhavam para o
céu, deviam estar com o sentimento de quem
se despede de uma pessoa muito querida,
desejando que ela ficasse. Depois de ouvirem
os anjos, e de se conformarem com a partida
do Senhor, aguardaram, por todo o restante de
suas vidas, a sua volta.
Se Jesus estivesse presente fisicamente,
falaríamos com ele sobre o que está nos
perturbando, e ele resolveria o problema na
mesma hora. Quando queremos convencer
alguém da importância de ir à Igreja, nós
dizemos: Jesus está presente lá. Mas é um
argumento fraco. Se disséssemos: a Soraya
Moraes vai estar lá! Eu garanto que as pessoas
até pagariam ingresso para entrar na Igreja. E
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
se fosse então o Paul Washer? Nos dias 17 a
21 de outubro de 2016 realizou-se a 32ª
conferência Fiel: “Edificando Igrejas
Saudáveis”. No site de divulgação
encontramos informações sobre a presença
dos Preletores: Augustus Nicodemus Lopes;
Greg Gilbert; Jonathan Leemann; Mark
Dever; Mez McConnell; Miguel Núñez. Como
estarão mais de dois reunidos em nome de
Jesus, ele também vai estar lá, mas, é claro,
nem precisa dizer isto. Centenas de pessoas
pagarão até R$ 250,00 para estar lá. Por que?
Pela presença de Jesus? Não. Acontece que
pessoas como a Soraya Moraes e Paul Washer
e preletores famosos, nós podemos ver com os
olhos, ouvir com os ouvidos, e a Jesus, não.
Ao nosso Senhor, nós temos que ver com os
olhos da fé, e ouvir com o coração. Nós temos
que crer sem sentir. Nossa alma anseia pela
presença física do Senhor Jesus, mas ainda não
o temos.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Nós cantamos em nossa igreja um cântico
chamado “As nuvens negras”. Um trecho dele
diz: “As nuvens negras, e a dor em mim, eu
não compreendo, não sei seu fim; há muitas
coisas a esclarecer, mas sei que um dia hei de
saber; nós falaremos, num porvir de amor;
conversaremos, eu e o Senhor; pois mil
perguntas vou lhe fazer, lindas respostas vai
me conceder; meu sofrimento encobrirei com
um sorriso e o vencerei; nas provas duras e até
no fel, prossigo firme, Deus é fiel”. Glória a
Deus por essa esperança!
Deus não nos dá o peixe pronto, pelo
contrário, ele nos ensina a pescar. A pergunta
dos anjos aos discípulos, que contemplavam a
ascensão de Jesus, foi: Por que estais olhando
para as alturas? Esta pergunta se parece com a
que Jeremias fez a Baruque em Jeremias 45.1-
5:
[...] assim lhe dirás: Isto diz o Senhor: Eis
que o que edifiquei eu derrubo, e o que
plantei eu arranco, e isso em toda esta terra.
E procuras tu grandezas para ti mesmo? Não
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
as procures; porque eis que trarei mal sobre
toda a carne, diz o SENHOR; porém te darei
a tua alma por despojo, em todos os lugares
para onde fores.

Jesus ressuscitou, mas não estabeleceu


ainda o seu reino terreno. Seus discípulos
receberam poderes, mas não para salvarem a
si mesmos (foram mártires). Não era a vontade
de Deus, embora estivesse em seu poder,
restaurar todas as coisas. O Pai reservou esse
tempo para sua exclusiva autoridade.
Jesus concluiu a obra redentora. Agora
somos salvos pelo seu sangue. Nós que cremos
e recebemos a salvação, não precisamos fazer
nada para pagar o preço, nossa dívida foi
cancelada. Mas alguém dirá: é só isso? Um
pecador faz o que quer, depois se arrepende, e
não precisa pagar nada? E ainda tem a garantia
da vida eterna? É claro que não é bem assim.
Jesus nos salvou, e agora pertencemos a ele.
Ele nos deu exemplo de como sofrer pela
causa celestial. Ele tem uma tarefa para nós,
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
até que chegue o momento do nosso resgate.
Deixou para os seus discípulos a
responsabilidade de testemunharem a respeito
da salvação.
Por que ficamos olhando para as alturas?
Olhemos ao redor. Somos testemunhas de
Jesus. Vamos fazer o nosso trabalho direito.
Há uma nuvem de testemunhas nos
observando.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
2. A ascensão dos discípulos (Atos 1.12-14)
A visão de Cristo ressuscitado finalmente
transformou os discípulos. Agora eles estavam
prontos para obedecer, esforçando-se para
andar juntos nos caminhos preparados pelo
Senhor. Este texto nos apresenta, literal e
espiritualmente, um movimento ascendente
dos discípulos, em direção aos propósitos
celestiais.
Subida para Jerusalém (Primeiro degrau:
Obediência) -v. 12

“Então, voltaram para Jerusalém, do


monte chamado Olival, que dista daquela
cidade tanto como a jornada de um sábado”.
Num período dentro dos 40 dias entre a
ressurreição e a assunção, os discípulos
voltaram para a Galileia. O Senhor, porém,
tinha um plano para que recebessem
coletivamente o derramamento do Espírito
Santo na cidade de Jerusalém. Apesar de
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
tantas provas incontestáveis, a natureza
humana e as tentações tinham um peso enorme
no comportamento dos discípulos, que
poderiam acabar se dispersando, sem dar
continuidade à obra de proclamação do
evangelho. Este, com certeza, foi um dos
motivos de Jesus ter aparecido a Pedro e mais
seis discípulos no mar da Galileia, conforme a
narrativa de Jo 21.1-3, 15-17:
Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se
aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e
foi assim que ele se manifestou: estavam
juntos Simão Pedro, Tomé, chamado
Dídimo, Natanael, que era de Caná da
Galiléia, os filhos de Zebedeu e mais dois dos
seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro:
Vou pescar. Disseram-lhe os outros:
Também nós vamos contigo. Saíram, e
entraram no barco, e, naquela noite, nada
apanharam. [...] Depois de terem comido,
perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho
de João, amas-me mais do que estes outros?
Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te
amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus
cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela
segunda vez: Simão, filho de João, tu me
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
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amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu
sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia
as minhas ovelhas. 17 Pela terceira vez Jesus
lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me
amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter
dito, pela terceira vez: Tu me amas? E
respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as
coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe
disse: Apascenta as minhas ovelhas.

Pedro obedeceu e, como pastor dos


demais discípulos, levou-os ao encontro
marcado com o Senhor no Monte das
Oliveiras, uma escala em sua subida para
Jerusalém. Do monte das oliveiras podiam
contemplar a gloriosa cidade. Aquele monte
era um lugar aprazível, um lugar de boas
lembranças, pois frequentemente pousavam
ali com o Mestre. Se fosse pela vontade deles,
provavelmente ficariam ali mesmo, até que o
Senhor voltasse nas nuvens.
Subir para Jerusalém não seria fácil. Entre
outros incômodos, eles ainda corriam perigo

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
de prisões e perseguições. Mas era preciso
obedecer a Jesus.
Subida para o cenáculo (Segundo degrau:
Comunhão)- v. 13

Quando ali entraram, subiram para o


cenáculo onde se reuniam Pedro, João,
Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu,
Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o
Zelote, e Judas, filho de Tiago.

Um cenáculo era um cômodo no andar de


cima de uma casa, espaço comumente usado
para refeições em família. Este cenáculo, em
particular, devia ser bem sofisticado e
espaçoso, para caber muitos discípulos.
Provavelmente era parte da casa da mãe de
João Marcos.
A subida para o cenáculo representava,
literalmente e espiritualmente, estar em
comunhão. Tantas pessoas, tão diferentes,
precisavam de muito esforço para se manter
em comunhão. Do pouco que sabemos dos
discípulos, podemos afirmar que Pedro era
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
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impulsivo e às vezes grosseiro; João e Tiago,
ambiciosos e sensacionalistas; Tomé era
desconfiado. Mateus, por sua profissão
rentável, devia ser acostumado a hábitos
refinados. Simão Zelote, um ativista político.
Estes discípulos, há muito pouco tempo atrás,
estavam brigando entre si, para ver quem seria
o maior. Havia também muitas mulheres, as
quais, tradicionalmente, precisam de muita fé
e boa vontade para “pensar concordemente”.
Aprendemos em 1a João 1.7 que se
“andarmos na luz, como ele está na luz,
mantemos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de
todo pecado”. Precisamos seguir este exemplo
e também “subir ao cenáculo”, valorizando a
comunhão com os irmãos. Se devemos
valorizar as reuniões com nossa família de
sangue, muito mais devemos valorizar as
reuniões com nossos irmãos em Cristo.
Devemos orar e trabalhar para que os
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
membros nossa família de sangue também se
tornem membros de nossa família em Cristo.
Se nós cremos que somente aqueles que creem
em Cristo e recebem a salvação, irão para o
céu, então temos que admitir que se os
membros de nossa família de sangue não
vierem estar conosco nas reuniões de
adoração, então existe uma grande chance de
que fiquemos separados deles por toda a
eternidade. Eles precisam saber que nossa fé é
coisa séria, e uma das maneiras mais eficazes
de mostrar isto a eles é sendo assíduos aos
cultos, mesmo que isto às vezes represente
deixá-los por um momento de lado.
Nossos parentes precisam entender que
temos encontros marcados com Deus e os
irmãos periodicamente. Lá em casa, no
começo, foi mais difícil e traumático, mas
agora eles já se acostumaram. Se recebemos
visitas, quando chega a hora de ir à Igreja, nós
os convidamos. Se não quiserem nos
acompanhar, pedimos licença, dizemos para
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
ficarem à vontade, que assim que o culto
terminar, estaremos de volta para
continuarmos o “bate-papo”.
Subida para o trono de Deus (Terceiro degrau:
Oração) v.14

“Todos estes perseveravam unânimes em


oração, com as mulheres, com Maria, mãe de
Jesus, e com os irmãos dele”.
A oração é o degrau mais alto que eles
podiam subir, para estar pertos do Pai. O Pai é
que podia acalmar seus corações, dar consolo
e segurança. Aqueles que antes não podiam
ficar nem uma hora vigiando, agora oravam
intensamente.
A obediência leva à comunhão, que
promove a oração, que por sua vez nos motiva
e capacita à obediência.
Imagino como deveriam ser as reuniões
no cenáculo, naqueles dez dias que antecediam

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
o Pentecostes. Tomavam refeições, contavam
histórias, formavam-se pequenos grupos
conversando animadamente pelos cantos do
salão. Num daqueles dias Pedro, de repente,
numa pausa, fica pensativo, e começa a se
lembrar dos acontecimentos, desde os mais
remotos até os mais recentes. Lembra-se que,
numa noite, estando no mar da Galileia, com
alguns amigos, aproveitando a brisa suave,
tomou uma decisão e disse: “vou pescar”.
Então desperta para o momento presente, olha
para o grupo assentado ao redor, e diz, com
aquele mesmo tom resoluto: “vou orar”, ao
que recebe resposta semelhante à daquele dia
à beira-mar: “também nós vamos contigo” (Jo
21.3).
A oração dos discípulos tinha duas
características: Unanimidade e Perseverança.
Sobre a importância da unanimidade, Jesus
disse que “(...) se dois dentre vós, sobre a
terra, concordarem a respeito de qualquer
coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
concedida por meu Pai, que está nos céus”
(Mateus 18.19), e sobre a perseverança, Jesus
muitas vezes ensinou “sobre o dever de orar
sempre e nunca esmorecer“ (Lc 18.1).
Às vezes, eu chego a especular o motivo
de algumas orações coletivas não serem
respondidas em nossa congregação. Será que é
porque não estamos perseverando, e será que
não estamos sendo unânimes, ou seja, está
faltando “um voto” na urna de apuração das
orações que temos apresentado a Deus? Seu
voto, meu irmão, pode ser muito mais
importante do que você imagina.
Conclusão

A visão do Cristo ressuscitado


transformou os discípulos. Eles obedeceram,
andaram juntos e perseveraram na oração,
num movimento ascendente rumo aos
propósitos celestiais. Quanto a nós, discípulos
tardios, não tivemos o privilégio de ver o

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
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Senhor, mas podemos subir os mesmos
degraus de obediência, comunhão e oração,
nos tornando bem-aventurados, porque Jesus
disse: “Bem-aventurados os que não viram e
creram” (Jo 20.29).

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
3. O décimo segundo (At 1.15-26)
Quando um crente fiel toma uma decisão
importante, como mudar de ministério, mudar
de cidade, mudar de igreja, geralmente ele dá
o testemunho dizendo que está fazendo o que
entende ser a vontade de Deus para sua vida.
Mas um crente fiel sempre faz a vontade de
Deus? Como é que ele pode ter certeza de que
não está fazendo, em vez disso, a sua própria
vontade? Alguns parâmetros podem nos
ajudar a decidir qual é a vontade de Deus em
uma determinada situação.
1º parâmetro: As Escrituras (15 -22)

Naqueles dias, levantou-se Pedro no meio


dos irmãos (ora, compunha-se a assembleia
de umas cento e vinte pessoas) e disse:
Irmãos, convinha que se cumprisse a
Escritura que o Espírito Santo proferiu
anteriormente por boca de Davi, acerca de
Judas, que foi o guia daqueles que prenderam
Jesus, porque ele era contado entre nós e teve
parte neste ministério. (Ora, este homem
adquiriu um campo com o preço da
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
iniquidade; e, precipitando-se, rompeu-se
pelo meio, e todas as suas entranhas se
derramaram; e isto chegou ao conhecimento
de todos os habitantes de Jerusalém, de
maneira que em sua própria língua esse
campo era chamado Aceldama, isto é,
Campo de Sangue.) Porque está escrito no
Livro dos Salmos: Fique deserta a sua
morada; e não haja quem nela habite; e:
Tome outro o seu encargo. É necessário,
pois, que, dos homens que nos
acompanharam todo o tempo que o Senhor
Jesus andou entre nós, começando no
batismo de João, até ao dia em que dentre nós
foi levado às alturas, um destes se torne
testemunha conosco da sua ressurreição.

Pedro identificou um problema a ser


resolvido, e buscou sabedoria para a solução.
Faltava o décimo segundo apóstolo. Ele se
levanta no meio da assembleia, cita Salmos
69.25 e 109.8, e aplica esse texto à situação em
que estavam vivendo. Era uma “pregação
expositiva”.
Nós também, quando queremos saber a
vontade de Deus para nossas vidas, temos que

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
ler as Escrituras. Salmos 119.9 pergunta: “De
que maneira poderá o jovem guardar puro o
seu caminho?” e ele mesmo responde:
“Observando-o segundo a tua palavra”.
Quando eu assumi o emprego no Banco
do Brasil na cidade de Macaubal, tive que
tomar decisões difíceis. Uma delas foi se eu
devia mudar para lá ou ficar em Rio Preto.
Algumas pessoas me aconselharam a ficar lá
durante a semana, e voltar para casa nos fins
de semana. Mas eu descartei logo essa
possibilidade, pois ficaria longos períodos
longe de minha esposa, e a Bíblia diz em 1
Coríntios 7.5: “Não vos priveis um ao outro,
salvo talvez por mútuo consentimento, por
algum tempo, para vos dedicardes à oração e,
novamente, vos ajuntardes, para que Satanás
não vos tente por causa da incontinência”.
Além disso, ficar longe a semana inteira
prejudicaria o cumprimento de meu dever
como pai. Dever esse declarado, por exemplo,
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
em Dt 6.6,7 “Estas palavras que, hoje, te
ordeno estarão no teu coração; tu as
inculcarás a teus filhos, e delas falarás
assentado em tua casa, e andando pelo
caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.”
Então decidi que deveria ficar em Rio Preto e
viajar diariamente para o trabalho.
Desta forma, seguindo o exemplo dos
discípulos, eu achei auxílio, pelo parâmetro
das Escrituras, para decidir o que era a vontade
de Deus para a minha vida naquele momento.
2º parâmetro: A opinião dos conselheiros
(18,19,23)

(Ora, este homem adquiriu um campo com o


preço da iniquidade; e, precipitando-se,
rompeu-se pelo meio, e todas as suas
entranhas se derramaram; e isto chegou ao
conhecimento de todos os habitantes de
Jerusalém, de maneira que em sua própria
língua esse campo era chamado Aceldama,
isto é, Campo de Sangue.) […] Então,
propuseram dois: José, chamado Barsabás,
cognominado Justo, e Matias.

32
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Para descobrir a vontade de Deus a
respeito do décimo segundo apóstolo, Pedro
buscou, além das Escrituras, o conhecimento
das pessoas ao seu redor.
Pedro tinha segurança ao associar o
cumprimento das Escrituras a fatos
publicamente reconhecidos. Todos os
habitantes de Jerusalém sabiam que um campo
foi comprado com o dinheiro da traição de
Judas, e todos testemunharam que a sua morte
foi trágica, por meio do suicídio. Os discípulos
também concordaram com sua tese, de que
Judas cumprira aquelas profecias e era
necessário substituí-lo no apostolado. Todos
concordaram também que os candidatos mais
indicados para a vaga eram José e Matias.
Provérbios 11.14 diz: “Não havendo
sábia direção, cai o povo, mas na multidão de
conselheiros há segurança”. Algumas vezes,
estamos prontos para tomar uma decisão
importante, e as pessoas vêm conversar
33
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
conosco, dando o seu parecer a respeito do
assunto. Devemos ouvi-las. Não temos,
necessariamente, que seguir seus conselhos,
mas devemos ouvir e ponderar. Se as pessoas
são mais velhas, e notadamente sábias,
devemos atribuir aos seus conselhos um peso
maior.
Em 1Reis 12.1-19 lemos que Roboão, ao
assumir o reino no lugar de seu pai, Salomão,
precisou de muita sabedoria para responder ao
povo que pedia alívio de encargos. Ouviu
primeiro o conselho dos mais velhos, e depois
dos mais jovens. O conselho dos idosos era
mais sensato, mas ele preferiu o conselho dos
mais jovens, que resultou numa guerra civil e
divisão do país em dois reinos rivais.
Existem alguns conceitos que são óbvios,
e que nem precisamos parar para pensar se
quisermos fazer o que é certo. Todos sabem
que não se deve roubar, nem matar. Devemos
ser honestos, não devemos mentir, não
devemos ser egoístas nem hipócritas. Estas
34
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
coisas fazem parte do que chamamos de
“senso comum”.
De acordo com Michel Paty1, podemos
dizer que “o senso comum é uma disposição
geral de todos os seres humanos para se
adaptar às circunstâncias da existência e da
vida ordinária”
O senso comum, isoladamente, não deve
servir como parâmetro para nossas decisões,
mas pode ser muito útil orientar-se por ele em
questões que não contrariem nenhum
princípio das Escrituras.
Voltando ao assunto do meu trabalho em
Macaubal, eu tinha outra decisão importante
para tomar: não tinha ônibus disponível nos
horários que eu precisava, e ir de carro era

1 PATY, Michel. A ciência e as idas e voltas do senso comum. São


Paulo: Sci. stud. vol.1 no .1, mar. 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
31662003000100002 Acesso em 17 fev. 2016.

35
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
muito caro. A solução seria comprar uma
motocicleta. Pedi opinião para muitas pessoas.
Eu mesmo achava a motocicleta um meio de
transporte muito perigoso, principalmente na
rodovia. Muitos procuraram me desencorajar,
mas alguns que tinham experiência com
motocicletas achavam que não tinha
problema, se eu tomasse os devidos cuidados.
O que pesou mais, porém, na decisão de eu
comprar a moto, foi o fato de que, embora a
maioria das pessoas ache que a motocicleta é
um veículo muito perigoso, ele é aceito com
naturalidade pela maior parte da sociedade
como um meio de transporte viável. Assim,
tanto quanto aos discípulos, o “senso comum”
me ajudou a tomar a minha decisão.
3º parâmetro: A oração (24 -26)

E, orando, disseram: Tu, Senhor, que


conheces o coração de todos, revela-nos qual
destes dois tens escolhido para preencher a
vaga neste ministério e apostolado, do qual
Judas se transviou, indo para o seu próprio
lugar. E os lançaram em sortes, vindo a sorte
36
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado
lugar com os onze apóstolos”.

Era a primeira vez que os discípulos se


comunicavam com Jesus através da oração. A
comunicação deixou de ser direta, porém
agora era mais acessível. O Senhor podia falar,
ao mesmo tempo, com cada um dos 120 ou
mais discípulos.
As decisões importantes em nossas vidas
sempre devem ser precedidas de oração. Jesus
passou a noite inteira orando antes de escolher
seus 12 apóstolos. Ele orou intensamente no
jardim do Getsâmani, e pediu que seus
discípulos orassem com ele, pois tinha que
decidir se ia seguir adiante ou passar o cálice
angustiante que completava a sua obra
redentora.
Se você puder adiar uma decisão difícil,
espere pelo menos passar uma noite, para que
você tenha oportunidade de orar sobre o
assunto. De preferência, espere até que passe
37
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
pelo menos por um culto de oração, assim
você poderá pedir que outros também orem
junto.
Cantamos um hino que diz: “Oh, que paz
perdemos sempre; oh, que dor no coração, só
porque nós não levamos tudo a Deus, em
oração!”
A oração pode mudar tudo. Pode fazer
você se acalmar, pode fazer você se lembrar de
algo importante, pode fazer você se curvar
perante a vontade soberana de Deus. Por mais
que você esteja firme num propósito, não é
prudente “bater o martelo” sem antes falar
com Deus. Este foi o erro de Josué, quando fez
um acordo precipitado com o povo de Gibeão,
sem pedir conselho ao Senhor (Josué 9.14), e
depois descobriu que havia sido enganado.
Os discípulos parecem ter tomado todo o
cuidado em sua decisão de escolher o
substituto de Judas. Mas será que eles ouviram
bem a voz de Deus? Alguns acham que, na
38
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
verdade, o décimo segundo apóstolo foi Paulo,
e não Matias. Não é tão fácil definir a vontade
de Deus para nossas vidas. As Escrituras nos
dão princípios, mas não todos os detalhes.
Deus fala conosco através das pessoas, mas as
pessoas erram e discordam muito.
Quando um pastor amigo meu, um
homem muito sábio, homem de oração, teve
que decidir sobre seguir ou não algumas
orientações médicas, enfrentou oposição de
parentes e amigos, também homens muito
sábios, homens de oração, porque decidiu não
confiar totalmente no que os médicos diziam.
É óbvio que alguém estava enganado, mas
quem? Os médicos, que teoricamente sabiam
o que diziam? Meu amigo, o sábio pastor? Ou
seus amigos e parentes, todos homens
acostumados a tomar decisões importantes
sempre dependendo de Deus através de
orações? Acho que só saberemos a resposta
quando estivermos no céu.
39
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Através da oração obtemos respostas a
muitas dúvidas, mas é muito comum nós
deixarmos a inclinação do nosso coração
interferir na mensagem de Deus para nós.
Quando buscamos a vontade de Deus
para nossas vidas, é prudente associarmos o
conhecimento das Escrituras, o conselho de
pessoas notadamente sábias e muita oração.
Assim, teremos maior chance de acertar nas
escolhas mais importantes.

40
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
4. Pentecostes (Atos 2.1-13)
A festa do Pentecostes começou num
tempo em que Israel era uma comunidade
agrícola. A época da colheita era motivo de
grande alegria e de gratidão a Deus, que
concedia fartura na produção dos grãos.
Faziam-se festas para comemorar. Deus queria
que essas festas fossem dedicadas a ele, e não
a outros deuses. Naquele tempo a vida era bem
simples. A alegria do povo era participar
dessas festas, com fartura de comida e de
bebida. Hoje, mais da metade da população
vive em áreas urbanas, onde o modo de viver
é bem sofisticado, e a maioria nem se dá conta
de onde vem seu alimento, pois o têm com
fartura.
Aquele feriado de Pentecostes, o primeiro
depois da morte e ressurreição de Jesus,
tornou-se célebre, pois Deus se manifestou
maravilhosamente através dos discípulos
reunidos em Jerusalém, inaugurando uma
41
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
nova era em que o Espírito Santo veio para
ficar.
Como um espírito pode se fazer notar?
Ele precisa assumir uma forma em que os
homens possam senti-lo. Foi assim que o
Espírito de Deus se manifestou naquele dia.
Ouviu-se o som de um vento impetuoso, viu-
se línguas semelhantes a fogo, pousando
sobre cada um dos discípulos, que começaram
a verbalizar a mensagem espiritual.
Vento (1,2)

Quando Jesus tentava explicar a


Nicodemos a nova ordem que estava para
instituir, através de um povo renascido
espiritualmente, em, João 3.3-8, ele diz:
[...] Em verdade, em verdade te digo que, se
alguém não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos:
Como pode um homem nascer, sendo velho?
Pode, porventura, voltar ao ventre materno e
nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em
verdade, em verdade te digo: quem não
nascer da água e do Espírito não pode entrar
42
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
no reino de Deus. O que é nascido da carne é
carne; e o que é nascido do Espírito é
espírito. Não te admires de eu te dizer:
importa-vos nascer de novo. O vento sopra
onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes
donde vem, nem para onde vai; assim é todo
o que é nascido do Espírito”.

Fogo (3)

Quando Deus iniciou um projeto através


de Israel, ele começou a revelar-se ao povo
que iria divulgá-lo por todo o mundo. Lemos
em Êxodo 24.17 que “o aspecto da glória do
SENHOR era como um fogo consumidor no
cimo do monte, aos olhos dos filhos de Israel”.
Quando Deus instituiu o ritual de
adoração, manifestou-se também com fogo,
como vemos em Levítico 9.24-10.2
E eis que, saindo fogo de diante do
SENHOR, consumiu o holocausto e a
gordura sobre o altar; o que vendo o povo,
jubilou e prostrou-se sobre o rosto. Nadabe e
Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu
incensário, e puseram neles fogo, e sobre
43
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
este, incenso, e trouxeram fogo estranho
perante a face do SENHOR, o que lhes não
ordenara. Então, saiu fogo de diante do
SENHOR e os consumiu; e morreram
perante o SENHOR.

Palavra (4-13)

Era com palavras bem claras que Deus


queria verbalizar sua mensagem. Um novo
momento na história da humanidade
começava. Uma nova nação, desta vez
espiritual, começaria a divulgar o nome de
Deus para todo o mundo.
Quando Deus se revelou a Elias, em 1Rs
19.11-13,
Disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte
perante o SENHOR. Eis que passava o
SENHOR; e um grande e forte vento fendia
os montes e despedaçava as penhas diante do
SENHOR, porém o SENHOR não estava no
vento; depois do vento, um terremoto, mas o
SENHOR não estava no terremoto; depois do
terremoto, um fogo, mas o SENHOR não
estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio
tranquilo e suave. Ouvindo-o Elias, envolveu
o rosto no seu manto e, saindo, pôs-se à
44
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
entrada da caverna. Eis que lhe veio uma voz
e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?

Aconteceu fenômeno semelhante no


Pentecostes: Ouviu-se o som de um vento
impetuoso, mas era apenas um prelúdio. Viu-
se fogo, mas Deus não falou através do fogo.
Então começaram a discursar sobre as
grandezas de Deus, falando em outras línguas,
mas ainda não era nessa manifestação
sobrenatural que Deus queria falar
plenamente, naquele momento. Quando Pedro
começou a pregar, ousada mas serenamente,
ali é que Deus manifestou-se plenamente.
Eles estavam simplesmente reunidos

Quando pensamos no momento do


derramamento do Espírito Santo, podemos nos
deixar levar pela impressão de que eles foram
cheios porque pediam isto intensamente em
oração. Pediam orando com todas as suas
forças, até que Deus, finalmente, como se
fosse num êxtase coletivo, lhes concedeu o
45
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
que pediram. Mas, será que de fato foi assim?
O texto que lemos não diz que eles estavam,
necessariamente, orando. Provavelmente, sim,
mas não necessariamente. O derramamento do
Espírito foi um ato soberano de Deus para
cumprir um propósito específico.
Naquele dia de Pentecostes o espírito
Santo batizou e ao mesmo tempo “encheu” os
discípulos.
Há diferença entre ser batizado com o
Espírito Santo e ser cheio do Espírito Santo.
Todos os crentes são batizados em um corpo,
pelo Espírito Santo (1Co 12.13). Mas o ser
cheio do Espírito Santo depende da vontade e
dos propósitos específicos de Deus.
Deus pode apoderar-se de quem quer
para, através dessa pessoa, fazer a sua vontade.
Ele escolheu João Batista para ser cheio do
Espírito Santo, antes dele nascer (Lc 1.15). O
Espírito do Senhor apossou-se também de
Sansão (Jz 14.6,19; 15.14) e de Saul (1Sm
46
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
10.6,10; 16.13), várias vezes, mesmo que não
fossem pessoas tão exemplares.
Se nós também quisermos ser cheios do
Espírito Santo, precisamos deixar o coração
aberto e preparado, conforme Efésios
capítulos 5 e 6 nos orientam, mas não devemos
esperar que isto nos garanta que Deus vai nos
honrar, usando-nos para falar em outras
línguas, fazer milagres, falar ousadamente.
Não podemos cobrar isto de Deus, pois a sua
vontade é soberana. Devemos fazer a nossa
parte, nos qualificando, como fazem os que
procuram uma vaga de emprego. Devemos
dizer ao Senhor: “eis-me aqui, estou pronto”,
e aguardar até que sejamos escolhidos para
uma missão importante.
Um dos sinais de que os crentes estavam
cheios do Espírito Santo, no início da Igreja,
era que falavam em outras línguas. Estando já
amadurecida, um pouco mais tarde, os sinais
poderiam ser outros. Nos tempos do ministério
47
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
consolidado de Tiago e Pedro, alguém cheio
do Espírito Santo poderia mostrar sinais
fazendo justamente o contrário. Em vez de
falar, controlar a sua língua.
Ouçamos as sentenças de Tiago e Pedro,
a seguir:
“A língua, porém, nenhum dos homens é
capaz de domar; é mal incontido, carregado
de veneno mortífero” (Tiago 3.8).
“Pois quem quer amar a vida e ver dias
felizes refreie a língua do mal e evite que os
seus lábios falem dolosamente” (1ª Pedro
3.10).
Nós somos frágeis, e correremos o risco
de nos enchermos, não do Espírito de Deus,
mas de um espírito estranho. Em 1ª Coríntios
14.23, Paulo chama a igreja à sensatez,
dizendo: “Se, pois, toda a igreja se reunir no
mesmo lugar, e todos se puserem a falar em
outras línguas, no caso de entrarem indoutos

48
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
ou incrédulos, não dirão, porventura, que
estais loucos”?
O propósito de Deus, naquele momento,
de falarem em línguas, era chamar a atenção.
Era um espetáculo, uma introdução à pregação
que Pedro estava prestes a realizar.
Devemos tomar cuidado. Satanás não
quer que nós sejamos cheios do Espírito Santo,
mas quer, ele mesmo, controlar as nossas
vidas. Ele frequentemente se utiliza da
artifícios para nos enganar, imitando os dons
de Deus. Mas o seu fruto é abominável ao
Senhor. É o caso de Nadabe e Abiú, que
tentaram levar fogo estranho diante do Senhor,
e foram exterminados instantaneamente; é o
caso também de Ananias e Safira, que
tentarem imitar o espírito voluntário com que
Barnabé ofertava à Igreja, e espiraram ali
mesmo, aos pés dos apóstolos (At 5.3,4).

49
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Se Deus quiser agir por meio de nós, ele
agirá no seu tempo e da sua própria maneira,
produzindo em nós bons frutos. Haverá,
porém, pessoas que não gostam destes frutos.
Nós vemos no último versículo deste
parágrafo, em Atos 2.13, que algumas pessoas
achavam que os discípulos estavam
simplesmente embriagados.
Quando crentes em Cristo decidem ser
batizados na água, como Jesus ordenou,
presume-se que eles já tenham recebido o
Batismo do Espírito Santo, no momento em
que se arrependeram dos seus pecados e
entregaram sua vida a Jesus. Nasceram de
novo, pela fé em Jesus. Vão às águas,
conduzidos por um vento que não sabem de
onde vem nem para onde vai. Foram e ainda
serão purificados das impurezas deste mundo,
pelo fogo que procede do altar de Deus, e
comunicam a todos os presentes que estão
decididos a Servir o Senhor que os resgatou
dos caminhos do pecado, trazendo-os para a
50
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
luz. O fato de eles estarem obedecendo, os
tornam fortes candidatos a serem cheios do
Espírito Santo. Oremos para que o Senhor
possa usar esses pequeninos para fazer
grandes coisas.
E você? Já foi batizado? Você tem se
qualificado para que Deus possa utilizá-lo?
Paulo foi qualificado, ainda antes da sua
conversão. Estudou na melhor “faculdade”,
com os mestres mais rigorosos; Lucas
qualificou-se como médico e pesquisador,
antes de ser usado pelo Espírito de Deus para
escrever o evangelho e o livro de Atos.
Uma palavra sobre o movimento pentecostal
moderno

Os irmãos pentecostais nos exortam a não


sermos frios, pois por causa de nossa frieza,
não manifestamos o poder do Espírito. Pode
ser. Se um crente é frio, ele estará mais longe
de ser um instrumento de Deus, quando ele

51
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
quiser manifestar o seu poder. Nós, porém,
costumamos nos defender, dizendo que não
somos frios, mas sensatos. Pode ser. Um
crente sensato, ligado em obediência e oração
ao Senhor, dificilmente será enganado por
qualquer espírito, ainda que ele se apresente
como vindo da parte de Deus. Nós exortamos
os irmãos pentecostais a não serem muito
emotivos, que por quererem tanto ser
controlados pelo Espírito de Deus, pode
acontecer de descuidarem do domínio próprio,
e acabarem se tornando vulneráveis a outros
espíritos que, achando um “veículo
desgovernado”, logo assumem o controle.
Quem está com a verdade? Deus. Se nós
nos colocarmos na posição de observadores,
procuraremos evidências. Haveremos de
concordar que, se Deus agir, os frutos serão
bons, excelentes, perfeitos. Se Deus agir por
meio de espetáculos, ou discretamente, os
frutos serão os mesmos, pois é o mesmo Deus
que está agindo.
52
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
5. As Promessas de Deus (Atos 2.14-36)
Nós vivemos numa época em que as
notícias são instantâneas. Os acontecimentos
mais importantes são divulgados
instantaneamente em todo o mundo, e logo
todos ficamos sabendo. Eu gosto de
acompanhar as notícias pela TV e pela
Internet. Fico, às vezes, muito ávido,
procurando notícias a toda hora, como se eu
quisesse que noticiassem logo aquilo que eu
gostaria que acontecesse. Que a justiça seja
feita, que os malfeitores sejam punidos, que
um mundo melhor esteja despontando no
horizonte. Notícias importantes e urgentes
costumam ser inseridas abruptamente,
interrompendo-se a programação com uma
música de grande impacto.
Neste parágrafo do livro de Atos, Pedro
“interrompe a programação” da festa do
pentecostes para fazer um anúncio à multidão
presente em Jerusalém. Ele anuncia uma boa
53
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
notícia, que era de interesse universal, que
afetaria o mundo até ao final dos tempos.
Tratava-se do anúncio do cumprimento de
preciosíssimas promessas de Deus.
Primeira promessa: o derramamento do
Espírito (14-21)

Pedro se levantou e começou advertindo


os judeus, juntos com todos os habitantes de
Jerusalém que estavam ali presentes, que
aqueles homens não estavam embriagados,
mas o que ocorria era o cumprimento da
profecia do profeta Joel:
E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor,
que derramarei do meu Espírito sobre toda a
carne; vossos filhos e vossas filhas
profetizarão, vossos jovens terão visões, e
sonharão vossos velhos; até sobre os meus
servos e sobre as minhas servas derramarei
do meu Espírito naqueles dias, e
profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no
céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e
vapor de fumaça. O sol se converterá em
trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o
grande e glorioso Dia do Senhor. E
54
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
acontecerá que todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo.

Ao mundo, que parecia totalmente


perdido, sem solução, Deus enviou o seu
Espírito para produzir seus frutos
restauradores (Gálatas 5.22). Alguém poderia
imaginar o mundo sem a presença do Espírito
Santo? Fica difícil para nós, que estamos tão
acostumados. Mas podemos comparar a
ausência do Espírito Santo com a ausência de
ar para respirar. Ninguém sobreviveria. Antes
do Pentecostes já havia a atuação do Espírito
Santo, mas não de forma tão intensa e perene.
A presença do Espírito Santo é manifesta
na presença de cristãos, do evangelho, da
Igreja. Alguns já se aventuraram, e tentaram
banir a Igreja e, consequentemente, preceitos
bíblicos da sociedade. São obviamente
tentativas fracassadas. Everton Fernando

55
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
2
Alves, em um artigo publicado no site
“Criacionismo”, citando Zerubavel, afirma
que:
[...] A França (1793-1805) mudou a semana
de sete dias para uma semana de dez dias, e
a União Soviética (1929-1940) a mudou para
uma semana de cinco dias, ambos os países
acreditando que os sete dias fossem mera
influência religiosa. A experiência da
mudança terminou em fracasso completo em
ambos os países, e a semana voltou ao seu
modelo original.

Na introdução de seu livro “A idade


média”, Hilário Franco Júnior3 destaca que a
Igreja foi muito criticada com o surgimento do
iluminismo:

2 Alves, Everton Fernando. O design inteligente e o ciclo semanal


de sete dias. Disponível em:
http://www.criacionismo.com.br/2015/04/o-design-inteligente-e-o-
ciclo-semanal.html Acesso em 02 fev. 2017, citando Zerubavel E.
The Seven Day Circle. Chicago: Univ. of Chicago Press, 1985.
3 FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade média: Nascimento do
ocidente. 2ª edição Revista e Ampliada. São Paulo: Brasiliense,
2001. p. 10.

56
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Denis Diderot (1713-1784) afirmava que
“sem religião seríamos um pouco mais
felizes”, Para o marquês de Condorcet
(1743-1794), a humanidade sempre marchou
em direção ao progresso, com exceção do
período no qual predominou o cristianismo,
isto é, a Idade Média. Para Voltaire (1694-
1778), os papas eram símbolos do fanatismo
e do atraso daquela fase histórica, por isso
afirmava, irônico, que “é uma prova da
divindade de seus caracteres terem subsistido
a tantos crimes”.

Essas críticas, com certeza, estavam


direcionadas à igreja oficial, de maneira
generalizada. De um certo ponto de vista,
poderíamos até concordar com Voltaire,
quando afirmava de forma irônica que a
subsistência da Igreja em meio a tantos crimes
é uma prova de que Deus estava agindo.
Estava de fato agindo, mas não nos falsos
cristãos, e sim nos verdadeiros, os quais se
tornaram templos do Espírito Santo, fazendo o
bem e preservando o mundo segundo os
propósitos de Deus.
57
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
O derramamento do Espírito possibilitou
que pessoas simples, e não somente os reis,
sacerdotes e profetas, fossem instrumentos de
Deus para fazer a sua obra. Chamaríamos isto,
em nossa linguagem moderna, de
“democratização” da “religião”. Homens de
Deus, através da história, resistiram à
elitização da religião, e mesmo que pagassem
caro pela “rebeldia”, foram usados por Deus
para manterem viva a chama da “fé que uma
vez por todas foi entregue aos santos” (Judas
3).
Um dia, cremos nós, os
dispensacionalistas, a Igreja será arrebatada e
este mundo terá a amarga experiência de um
mundo sem a presença (intensa e perene) do
Espírito de Deus. Será como sufocar pela falta
de oxigênio (espiritual).

58
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Segunda promessa: A ressurreição dos mortos
(22-32)

Pedro continua seu discurso dizendo que


Jesus, o Nazareno, por intermédio de quem
Deus realizou muitos milagres, prodígios e
sinais, foi morto pelos judeus, que o
crucificaram por mãos de iníquos. Porém,
Deus o ressuscitou, “rompendo os grilhões da
morte; porquanto não era possível fosse ele
retido por ela”. Neste ponto de sua pregação,
cita Davi no salmo 16:
Diante de mim via sempre o Senhor, porque
está à minha direita, para que eu não seja
abalado. Por isso, se alegrou o meu coração,
e a minha língua exultou; além disto, também
a minha própria carne repousará em
esperança, porque não deixarás a minha alma
na morte, nem permitirás que o teu Santo
veja corrupção. Fizeste-me conhecer os
caminhos da vida, encher-me-ás de alegria
na tua presença.

Pedro faz a devida aplicação do texto


citado, afirmando que o salmista não estava se
59
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
referindo a si mesmo, mas à ressurreição de
Cristo, “que nem foi deixado na morte, nem o
seu corpo experimentou corrupção”. Declara
então, abertamente, que “este Jesus Deus
ressuscitou, do que todos nós somos
testemunhas”.
A morte sempre foi o grande problema do
homem. Costuma-se dizer, quando se quer
enfatizar habilidades em resolver problemas:
“só não damos jeito para a morte”. De fato, a
morte não tem jeito para o homem, mas Deus
resolveu o problema, e deixou isso evidente
quando ressuscitou a Jesus dentre os mortos.
Desde então, todos os que morrem em Cristo
têm esperança. Seus familiares e amigos não
precisam se entristecer em demasia. Em cada
funeral de um crente, ainda neste terceiro
milênio, esta esperança é reafirmada, e é por
isso que a vida continua.
Mas se Deus não tivesse cumprido a sua
promessa, cumprimento que se inicia com a
ressurreição de Jesus, onde estaria a nossa
60
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
esperança? Qual a motivação de vivermos e
realizarmos grandes ou pequenas obras?
Nossa motivação seria focalizada meramente
no tempo presente, como quem diz: “Se os
mortos não ressuscitam, comamos e bebamos,
que amanhã morreremos” (1ª Coríntios
15.32). Philip Yancey, em seu livro “O Jesus
que eu Nunca Conheci”4, faz a seguinte
observação a respeito da ressurreição:
Cheguei à conclusão de que há duas
maneiras de olhar para a história humana.
Uma é focalizando as guerras e a violência, a
esqualidez, a dor, a tragédia e a morte. Dessa
perspectiva, a Páscoa parece uma exceção de
conto de fadas, uma contradição atordoante
em nome de Deus. [...] Há outro jeito de olhar
para o mundo. Se tomo a Páscoa como ponto
de partida, o único fato incontestável acerca
de como Deus trata aqueles a quem ama,
então a história humana se transforma na

4 YANCEY, Philip. O Jesus Que Eu Nunca Conheci. Tradução:


Yolanda M. Krievin. Editora Vida, 2002. p. 178.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
contradição e a Páscoa é uma pré-estreia da
realidade final. A esperança então flui como
lava por baixo da crosta da vida cotidiana.
Isso, talvez, descreva a mudança na
perspectiva dos discípulos quando estavam
sentados nos quartos trancados discutindo os
incompreensíveis acontecimentos do
Domingo de Páscoa. Num sentido nada havia
mudado: Roma ainda ocupava a Palestina, as
autoridades religiosas ainda ofereciam um
prêmio por suas cabeças, a morte e o mal
ainda reinavam do lado de fora. Entretanto,
gradualmente, o choque do reconhecimento
deu lugar a uma longa e lenta contracorrente
de alegria. Se Deus podia fazer isso...

A Igreja subsiste e os crentes continuam


sendo o sal da terra e a luz do mundo, porque
Deus cumpriu a sua promessa de ressurreição,
sinalizando que cumprirá cabalmente todas as
suas promessas, inclusive a vitória sobre a
morte, o último inimigo a ser destruído,
conforme 1ª Coríntios 15.26.
Terceira promessa: O estabelecimento do
reino (33 -36)

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo
recebido do Pai a promessa do Espírito
Santo, derramou isto que vedes e ouvis.
Porque Davi não subiu aos céus, mas ele
mesmo declara: Disse o Senhor ao meu
Senhor: Assenta-te à minha direita, até que
eu ponha os teus inimigos por estrado dos
teus pés. Esteja absolutamente certa, pois,
toda a casa de Israel de que a este Jesus, que
vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.

Cristo reina, mesmo que todas as forças


do mundo pareçam se mostrar desfavoráveis.
Seu reino, entretanto, não está totalmente
firmado, uma vez que ainda há rebeldes a
serem convertidos ou neutralizados. Quando
todo joelho se dobrar a Jesus, então é que ele
reinará completamente, tanto de fato como de
direito. Romanos 14.11 diz: “Como está
escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante
de mim se dobrará todo joelho, e toda língua
dará louvores a Deus”. Sobre este assunto,
conhecido como a tensão entre o “já” e o

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
“ainda não”, escrevem muitos teólogos e,
dentre eles, John Stott5:
Que Jesus considerava e descreveu o reino
como um fenômeno presente, disso não há
dúvida. Ele ensinou que o tempo do
cumprimento havia chegado; [8] que agora o
"valente" estava amarrado e desarmado,
facilitando que lhe saqueassem os bens,
como era evidente a partir de seus
exorcismos; [9] que o reino já estava ou"
dentro" ou "entre" as pessoas; [10] que agora
se podia "entrar" nele ou "recebê-lo"; [11] e
que, desde o tempo de João Batista, seu
precursor, que havia anunciado sua chegada
iminente, o reino de Deus vinha sendo
"tomado por esforço" e que "aqueles que se
esforçam" se haviam "apoderado dele".[12]
Na perspectiva de Jesus, porém, o reino era
também uma expectativa futura. Ele só seria
aperfeiçoado no último dia. Assim ele olhava
em direção ao fim, e ensinou seus discípulos
a fazerem o mesmo. Eles deviam orar
"Venha o teu reino" [13] e "buscá-lo

5 STOTT, John R. W. - O "Já" e o " Ainda Não". Disponível em:


https://pt.scribd.com/doc/51557203/O-Ja-e-o-Ainda-Nao-John-Stott
acesso em 08 fev. 2017.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
primeiro", [14] dando prioridade a sua
expansão. Às vezes ele se referia ao estado
final de seus seguidores em termos de
"entrar" no reino [15] ou "recebê-lo". [16]
Suas parábolas, principalmente as rurais (p.
ex. a parábola da semente que crescia
secretamente, a do grão de mostarda, a do
trigo e do joio), [17] conciliam os processos
de plantar, crescer e colher. Como semente,
o reino já tinha sido plantado no mundo;
agora, através da invisível atividade divina,
ele iria crescer até o fim. [...]
A essência do período intermediário entre o
"já" e o "ainda não", entre o reino que veio e
o reino que virá, é a presença do Espírito
Santo no povo de Deus. Por um lado, a
dádiva do Espírito é a bênção que distingue
o reino de Deus e é, portanto, o principal
sinal de que a nova era se aproxima. [43] Por
outro lado, já que o fato de o Espírito habitar
em nós é apenas o princípio da nossa herança
no reino, ele é também a garantia de que um
dia o resto haverá de ser nosso. O Novo
Testamento usa três metáforas para ilustrar
isso. O Espírito Santo é "as primícias",
garantindo assim que virá a plena colheita;
[44] ele é o "penhor", ou a primeira parcela
do pagamento, garantindo com isso que
65
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
haverá o pagamento completo; [45] e é o
antegosto, garantia de que o banquete
completo será desfrutado um dia. [46]
Assim, o Espírito Santo é "tanto o
cumprimento da promessa como a promessa
do cumprimento: ele é a garantia de que o
novo mundo de Deus já começou, e também
um sinal de que esse novo mundo ainda há
de vir." [47]
[8] P. ex Mc 1.14; Mt 13.16-17 [9] Mt 12.28-
29; cf. Lc 10.17-18 [10] Lc 17.20-21 [11] P.
ex. Mc 10.15 [12] Mt 11.12; Lc 16.16 [13]
Mt 6.10[14] Mt 6.33 [15] Mc 9.47; cf. Mt
8.11 [16] Mt 25.34 [17] Mc 4.26-29; Mt
13.31-32, 24-29,36-42 [...] [43] P. ex. Is
32.15; 44.3; Ez 39.29; Jo 2.28; Mc 1.8; Hb
6.4-5 [44] Rm 8.23 [45] 2 Co 5.5; Ef 1.14
[46] Hb 6.4-5 [47] Johannes Blauw, The
Missionary Nature of the Church (1962;
Eerdmans,1974).

Conclusão:

Deus cumpre suas promessas, mas isto


não acontece no tempo e do jeito que nós
queremos. Assim como ele cumpriu suas
promessas do derramamento do Espírito, da
ressurreição dos mortos e do estabelecimento

66
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
do reino, também cumprirá a promessa do
juízo vindouro. Só escaparão aqueles que
invocarem o nome do Senhor.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
6. Aliança Premiada (Atos 2.37-41)
Outro dia fomos buscar minha cunhada e
meu sobrinho na rodoviária. Eles vieram a Rio
Preto para comprar um automóvel. Concluído
o negócio, receberam do vendedor, como
brinde, cupons para concorrerem a carros
novos, e nos deram alguns. É bom receber
brindes. Às vezes eles nos incentivam a fechar
negócios. Neste parágrafo de Atos, vamos
perceber que Deus nos dá não apenas brindes,
mas verdadeiros “prêmios” que nos
incentivam a “assinar o contrato” da sua
aliança.
As pessoas presentes à festa do
Pentecostes entenderam a pregação
evangelizadora de Pedro, o seu coração ficou
compungido, tanto que perguntaram o que
deviam fazer para reparar seu pecado. A
resposta do apóstolo revelou que Deus propõe
aos homens um acordo, uma aliança. Essa
aliança seria formalizada por meio do
arrependimento e do batismo em nome de
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Jesus Cristo. Deus ainda ofereceu prêmios
para quem aceitasse fazer parte dessa aliança.
Primeiro Prêmio: A remissão dos pecados
(37,38)

“Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-


lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos
demais apóstolos: Que faremos, irmãos?
Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e
cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo para remissão dos vossos
pecados [...]”

Pedro anunciou aos compungidos de


coração que, aceitando fazer uma aliança com
Deus, receberiam também a remissão dos seus
pecados. Para entendermos bem o que isso
significa, vamos comparar duas palavras
homófonas: remição e remissão. O site do
Projeto JurisWay6 nos ensina o seguinte:

6 Qual é a diferença entre Remição e Remissão? Disponível em:


http://www.jurisway.org.br/v2/pergunta.asp?idmodelo=5622 –
Acesso em 20 mar. 2016.
69
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
‘Remição’ (com ç), significa ‘resgate,
reaquisição, libertação, quitação’. Ex.: O
direito de remição é transferível e cabe,
primeiramente, ao próprio devedor.
‘Remissão’ (com ss), significa ‘indulto,
perdão, referência, envio’. Ex.: ‘Concedei-
nos a remissão de nossos pecados...’.

Num material de estudo do Centro


Universitário Unisalesiano, encontramos um
comentário sobre o código 385 do Código
Civil brasileiro7:
REMISSÃO DE DÍVIDAS - Conceito de
remissão: é o perdão da dívida. Consiste na
liberalidade do credor em dispensar o
devedor do cumprimento da obrigação,
renunciando o seu direito ao crédito. Traz
como consequência a exoneração (liberação)
do devedor do cumprimento da prestação por
ele assumida (art. 385, CC).
Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo
devedor, extingue a obrigação, mas sem
prejuízo de terceiro.

7 Disponível em:
http://www.unisalesiano.edu.br/salaEstudo/materiais/p293184d7504/
material4.pdf – Acesso em 20 mar. 2016.
70
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Baseando-nos nestes conceitos, podemos
entender que o homem não podia remir
(pagar) seus pecados, por isso Deus ofereceu-
se para remitir (perdoar), como também já
dizia o Salmo 49.7,8: “Ao irmão,
verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem
pagar por ele a Deus o seu resgate (Pois a
redenção da alma deles é caríssima, e cessará
a tentativa para sempre.)”
Quer fazer uma aliança com Deus? Leve
como “prêmio” a remissão dos seus pecados,
e não fique mais ansioso quanto à sua remição.
Segundo Prêmio: O dom do Espírito Santo
(38,39)

[…] e recebereis o dom do Espírito Santo.


Pois para vós outros é a promessa, para
vossos filhos e para todos os que ainda estão
longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso
Deus, chamar.

Temos a presença constante de Deus


conosco. Por isso podemos dizer: Vai com
71
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Deus! Enquanto o outro responde: Fica com
Deus! Então um vai com Ele e outro fica com
Ele. A presença de Deus conosco é como o ar
que respiramos. O Espírito de Deus está
conosco, habitando nos verdadeiros crentes, e
muitas vezes não percebemos, porque é como
o ar que respiramos, mas se nos fosse tirado,
ficaríamos apavorados. Segundo os médicos
Roberto Kalil (cardiologista) e Rafael
Stelmach (pneumologista), em entrevista à
seção “Bem Estar”8 do portal G1 (Globo),
Nos pulmões cabem 4 a 6 litros de ar,
dependendo do tamanho da pessoa e do sexo.
A cada vez que alguém respira, 0,5 litro de ar
é renovado. Como a frequência normal é de
12 a 20 respirações por minuto, respira-se
pelo menos 360 litros de ar em uma hora;
8.640 por dia e 3.153.600 em um ano.

8 Bem Estar – Portal G1 05/04/2011 10h30 - Atualizado em


25/04/2012 16h32 – Disponível em:
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2011/04/tres-em-cada-dez-
brasileiros-sentem-falta-de-ar-com-frequencia-diz-medico.html
Acesso em 20 mar. 2016.
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Aquele que aceita fazer uma aliança com
Deus recebe como “Prêmio”, além da
remissão de seus pecados, o dom do Espírito
Santo. Recebe fôlego, vida espiritual em
abundância, muito mais preciosa do que os
três milhões de litros que recebemos por ano.
Terceiro Prêmio: Uma vida abençoada (ajuste
de percurso) (40,41)

“Com muitas outras palavras deu


testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos
desta geração perversa. Então, os que lhe
aceitaram a palavra foram batizados,
havendo um acréscimo naquele dia de quase
três mil pessoas”.
Uma coisa perversa dá a ideia de uma
coisa deformada, sinuosa em vez de reta. A
vida perversa é de muito sofrimento, e o
Senhor nos oferece oportunidade de acertar
nossos caminhos para uma vida abençoada,

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
como a vida do homem bem-aventurado
descrita no salmo número um:
Bem-aventurado o homem que não anda no
conselho dos ímpios, não se detém no
caminho dos pecadores, nem se assenta na
roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer
está na lei do SENHOR, e na sua lei medita
de dia e de noite. Ele é como árvore plantada
junto a corrente de águas, que, no devido
tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não
murcha; e tudo quanto ele faz será bem
sucedido. Os ímpios não são assim; são,
porém, como a palha que o vento dispersa
(Salmo 1.1-4).

Quando lemos os jornais ou assistimos


aos noticiários, é inevitável que fiquemos
chocados com tanta violência, com tanta
criminalidade que domina este mundo. Numa
linguagem popular, costuma-se dizer que tudo
isso acontece por que “falta Deus no coração
das pessoas”. Existem também tentativas mais
acadêmicas de se explicar este fenômeno,
como na monografia de Tânia Braga de

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Paula9, apresentada no curso de Direito da
UNORP em 2013, o qual diz o seguinte:
Dentre outros fatores externos que
influenciam na criminalidade, o mais
importante, é sem dúvida nenhuma o fator
econômico. Não existem somente esses
fatores externos, existem também fatores
internos que estão no íntimo do ser humano
e que são fatores que influenciam também na
criminalidade como, por exemplo, uma
infância abandonada, pais separados,
crianças órfãs, lares desfeitos e que afetam o
subjetivismo do ser humano

Quem faz uma aliança com Deus recebe


como “prêmio”, além da remissão dos pecados
e do dom do Espírito Santo, uma vida
abençoada, reta, e não perversa.

9 PAULA, Tânia Braga de. Criminologia: Estudo das escolas


sociológicas do crime e da prática de infrações penais. Unorp, São
José do Rio Preto, 2013. p. 30. Disponível em:
https://www.anadep.org.br/wtksite/cms/conteudo/19308/Monografia
.pdf Acesso em 20 mar. 2016.
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Tendo o alívio de saber que é perdoado de
seus pecados e contando com a presença
constante de Deus em seu Espírito, o “homem
bem-aventurado” tem poder para ajustar o
percurso de sua vida, de maneira que “os
fatores internos” que estão no seu íntimo não
vão influenciá-lo a uma vida criminosa, mas a
uma vida que glorifica a Deus e abençoa os
seus semelhantes. Ele não vai abandonar as
suas crianças, não vai desfazer o seu lar, e vai
afetar positivamente o “subjetivismo do ser
humano” que dele depende. Em outras
palavras: terá Deus no seu coração.
Conclusão

Façamos uma aliança com Deus por meio


do arrependimento de nossos pecados e do
batismo em nome de seu Filho Jesus Cristo.
Precisamos de Deus em nossas vidas, ele é o
nosso Criador e somente ele sabe o que é
melhor para nós. Recebamos como prêmios a
remissão dos pecados, o dom do Espírito

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Santo, e uma vida abençoada já neste mundo.
No porvir, a vida eterna.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
7. Uma Igreja de Sucesso (At 2.42-47)
Você já deve ter ouvido a história de
alguém que fez sucesso na sua carreira. Todos
os que eu conheço têm uma história
empolgante para contar. Muitos tiveram uma
vida muito sofrida, mas conseguiram vencer
por causa de sua persistência. A Igreja de
Cristo é o exemplo supremo de uma história
de persistência. A Igreja inicial, conhecida
como a igreja primitiva, era uma comunidade
persistente, perseverante nas boas práticas.
Neste parágrafo podemos identificar pelo
menos três boas práticas nas quais a igreja
perseverava, e que são o segredo do seu
sucesso: Perseverança no culto; perseverança
no amor; perseverança no testemunho.
Primeira boa prática: Perseverança no culto
(42,43)

Os discípulos que se converteram no dia


de Pentecostes adotaram um estilo de vida que
lhes fazia bem e que agradava a Deus. Dentre
78
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
as boas práticas que adotaram, estava a
perseverança nos cultos. Isso significa que
perseveravam na doutrina dos apóstolos, na
comunhão, no partir do pão (seguramente uma
referência à ceia do Senhor) e nas orações.
Tudo isso porque em cada alma havia temor, e
em reverência prestavam culto regularmente,
com todos os elementos litúrgicos, e muitos
prodígios e sinais eram feitos por intermédio
dos apóstolos. Esse modelo de culto aqui
revelado nos faz refletir sobre a importância da
presença de cada um desses elementos
litúrgicos mencionados.
a) A doutrina dos apóstolos
Todo culto deve ter doutrina, deve ter
ensino da Palavra de Deus. Às vezes queremos
fazer um culto diferente, só com músicas, só
com testemunhos, só com oração, só com
teatros e jograis. Acredito que isso seja
aceitável uma vez ou outra, de preferência
num culto extra, que não seja no principal, do
79
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
domingo. Porque o ensino da Palavra é
essencial para que sejamos exortados a viver
de modo agradável ao Senhor. O tempo em
que a palavra é pregada nos cultos é tão
pequeno, comparado com a quantidade de
horas de outras atividades na semana, que por
isso mesmo deve ser muito bem aproveitado.
O pregador deve certificar-se de que está
realmente pregando a Palavra, uma vez que o
tempo é precioso e não deve ser desperdiçado
com discursos vazios, mesmo que sejam
interessantes.
b) A comunhão
A comunhão é inerente aos cultos.
Quando nos ajuntamos, trocamos
cumprimentos, contamos as novidades,
compartilhamos experiências. É fácil ter
comunhão nos cultos. É natural. Mas não
devemos nos esquecer que a comunhão deve
ser praticada entre todos, e não somente com
as pessoas com as quais temos maior
afinidade. É necessário maior esforço para
80
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
conversar e mostrar interesse para com as
pessoas que não conhecemos, que estão
visitando a igreja pela primeira vez, que são de
difícil relacionamento, seja por causa da
timidez, seja por causa da altivez.
c) O partir do pão (a Ceia do Senhor)
O partir do pão, termo que designa
também a Ceia do Senhor, é uma ordem
expressa de Jesus, para que nos lembrássemos
da Nova Aliança selada com o seu corpo e com
o seu sangue. Parece que a Ceia era celebrada
em todos os ajuntamentos, mas por muitos
motivos, no decorrer da história, as igrejas têm
variado a frequência desta celebração para
uma vez na semana, uma vez ao mês, quinzena
ou ano. Jesus apenas mandou que fizéssemos
isso “todas as vezes” (1 Coríntios 11.25) em
memória dele.
d) A oração

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
A oração, é óbvio, não pode faltar no
culto. Afinal, é a maneira de nos
comunicarmos com Deus, a quem prestamos
culto. Uma oração pública é diferente de uma
oração particular, assim como uma conversa
particular é diferente de uma manifestação em
uma reunião. Quando oramos publicamente,
devemos considerar que estamos falando com
Deus na presença de outros irmãos e, assim, é
necessário sermos educados, medir as
palavras, pronunciar de forma alta e clara de
forma que todos possam avaliar o que
dissemos e dar o seu “amém”, caso
concordem.
O Senhor fazia muitos prodígios e sinais
por intermédio dos apóstolos. Hoje nós não os
temos conosco e Deus poderá fazer o mesmo
por intermédio de quem julgar conveniente e
necessário. Neste ponto um alerta se faz
apropriado: são os frutos de um profeta que o
identificam como verdadeiro servo do Senhor,
e não os prodígios e sinais. Muitos milagres
82
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
são feitos por pessoas que praticam a
iniquidade, conforme Mateus 7.22,23.
Segunda boa prática: Perseverança no amor
(44,45)

Os primeiros crentes procuravam estar


sempre juntos e, para que isso fosse possível
na prática, consideravam tudo o que tinham
como bens comuns. De maneira especial, os
que ficaram em Jerusalém abandonaram suas
terras e suas fontes de renda nos locais de
origem e, até que se readaptassem à vida
urbana era necessário grande apoio. Por isso,
os irmãos emprestavam suas casas, suas
camas, seus jumentos, suas ferramentas de
trabalho, repartiam o alimento. Se precisassem
de dinheiro, não hesitavam em vender as suas
propriedades e bens, distribuindo o produto
entre todos. Era uma nova comunidade, unida
por sua fé no Messias ressuscitado.

83
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Essa boa prática do amor tem sido
exercitada tradicionalmente em todas as
comunidades cristãs. Quer saber se uma
comunidade é verdadeiramente cristã? A
fórmula foi ensinada pelo Senhor Jesus: “Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos: se
tiverdes amor uns aos outros” (João 13.35). E
o próprio João, que anotou estas palavras do
Mestre, ensina em sua primeira carta geral:
“Filhinhos, não amemos de palavra, nem de
língua, mas de fato e de verdade” (1 João
3.18).
Terceira boa prática: Perseverança no
testemunho (46,47)

A população testemunhava que os


primeiros discípulos perseveravam
diariamente e unânimes em cerimônias no
templo, bem como “partiam pão de casa em
casa e tomavam as suas refeições com alegria
e singeleza de coração, louvando a Deus”.
Esta prática devota dos novos discípulos era
um bom testemunho, de maneira que
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
contavam com a simpatia de todo o povo.
Muitos dos que testemunhavam sua boa
prática foram atraídos, queriam também ser
participantes dessa humilde e alegre
comunidade, pelo que o Senhor lhes
acrescentava, dia a dia, os que iam sendo
salvos.
Antigamente, no Brasil, era mais fácil
identificar um crente. Ele era aquela figura que
passava todos os domingos em frente à nossa
casa, com um livro de capa preta debaixo dos
braços, acompanhado de sua família. Hoje é
um pouco mais difícil reconhecê-los, porque
os crentes deixam uma bíblia na igreja e outra
em casa, isso quando não a carregam em
arquivo digital no seu celular. Mas ainda assim
a comunidade cristã pode ser facilmente
identificada, porque não são ícones como
livros de capa preta seus distintivos mais
importantes, e sim o seu testemunho, seu
modo de viver diante das pessoas que estão ao
85
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
seu redor. Às vezes fico pensando se não foi
uma comunidade de crentes que comoveu
tanto o coração de um homem ateu que
escreveu uma linda poesia10, manifestando sua
comoção diante de um testemunho de
simplicidade e perseverança mesmo numa
sociedade injusta e cruel:
Tem certos dias em que eu penso em minha
gente; E sinto assim todo o meu peito se
apertar; porque parece que acontece de
repente; como um desejo de eu viver sem me
notar; igual a como quando eu passo no
subúrbio; eu muito bem, vindo de trem de
algum lugar; e aí me dá como uma inveja
dessa gente; que vai em frente sem nem ter
com quem contar; são casas simples com
cadeiras na calçada; e na fachada escrito em
cima que é um lar; pela varanda, flores tristes
e baldias; como a alegria que não tem onde
encostar; e aí me dá uma tristeza no meu
peito; feito um despeito de eu não ter como
lutar; e eu que não creio, peço a Deus por

10 Gente Humilde – música de Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto,


Vinícius de Moraes e Chico Buarque. 1969

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
minha gente; é gente humilde, que vontade
de chorar...

Entretanto a comunidade cristã, humilde


e alegre mesmo diante das provações, é
poderosa para convencer, por meio do Espírito
que nela habita, este mundo “do pecado, da
justiça e do juízo” (João 16.8).
Conclusão

A igreja primitiva era persistente,


perseverante nas boas práticas. E a igreja
atual? Será que anda se esquecendo de práticas
que jamais deveriam ter sido abandonadas?
Não seja assim entre nós! Façamos grande
esforço para perseverar nos cultos, com todos
os seus elementos essenciais. Seguindo a
ordem de Hebreus 10.24, “consideremo-nos
também uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras”. E
sejamos perseverantes no bom testemunho de
tal forma que, caso falem mal contra nós,
“fiquem envergonhados os que difamam” o
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
nosso “bom procedimento em Cristo” (1ª
Pedro 3.16). Nossa esperança é o Senhor.
Vamos perseverar em todas as boas práticas
para que, colaborando assim com o Senhor, ele
nos acrescente mais pessoas salvas, e nos dê a
graça de sermos uma igreja de sucesso.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
8. Ambiente de Salvação (Atos 3.1-10)
A salvação estava alcançando milhares,
em Jerusalém. Jesus, o Salvador, deixou aos
seus apóstolos a missão de anunciar que a
salvação havia chegado. Salvação que não era
para todos, mas somente para aqueles que a
desejassem de todo o coração.
A leitura desse parágrafo de Atos me
lembrou uma parábola que Jesus contou em
Lucas 14.15-24, onde certo homem deu uma
grande ceia e convidou muitos, mas quando
enviou o seu servo para reunir os convidados,
estes começaram a dar desculpas. Um falou
que comprou um campo e precisava vê-lo;
outro disse que comprou cinco juntas de bois
e tinha que experimentá-las; outro disse que
não podia ir porque tinha acabado de se casar.
Então, irado, ele mandou o seu servo sair
depressa para as ruas e becos da cidade e trazer
os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. É
uma pena para quem rejeitou ir à festa daquele
89
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
homem, porque o mesmo representa Deus
chamando as pessoas para seu ambiente de
salvação. Aqui em Atos nós encontramos uma
possível aplicação daquela parábola, uma
história real, contando a maneira como a
salvação atingiu um homem, coxo de
nascença. Ele foi avançando, adentrando num
ambiente de salvação, como se estivesse
entrando na festa da parábola de Jesus. A
entrada do homem coxo nesse ambiente de
salvação se deu através de pelo menos quatro
passos:
Primeiro passo: Tornou -se candidato à
salvação por estar cumprindo o seu dever
(1,2).

Pedro e João estavam subindo ao templo


para a reunião de oração da hora nona. O
homem, coxo de nascença, era levado e posto
diariamente à porta do templo conhecida como
Formosa, e ali pedia esmola aos que entravam.

90
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Os judeus zelosos costumavam reservar
alguns momentos no decorrer do dia para se
dedicarem à oração. Daniel, por exemplo,
“três vezes por dia, se punha de joelhos, e
orava, e dava graças, diante do seu Deus”
(Daniel 6.10). O salmista já cantava em
Salmos 55.17: “À tarde, pela manhã e ao
meio-dia, farei as minhas queixas e
lamentarei; e ele ouvirá a minha voz”. O
Senhor Jesus, mesmo estando na cruz, clamou
a Deus com a mais profunda dor do seu
coração, por volta da preciosa hora nona,
como podemos ler em Mateus 27.46.
Os dois apóstolos, zelosos judeus,
estavam no cumprimento de seu dever, indo ao
templo para a oração da hora nona, e pelo
caminho encontravam outros que também
estavam cumprindo o seu dever. Homens
como o gentio Cornélio que, de acordo com
Atos 10.30, tornou-se candidato a ouvir o
evangelho da salvação quando observava a
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
mesma hora nona de oração em sua casa.
Homens como aquele coxo que era impedido
de entrar no templo para orar, mas diariamente
cumpria o seu dever de se assentar à porta para
pedir esmolas. Devia estar orando em seu
íntimo quando chamou a atenção de Pedro e
João, que o identificaram como um legítimo
candidato à salvação.
Segundo passo: Tornou -se aberto à salvação
quando olhou para aquele que podia ajudá -lo
(3-5).

Prestes a entrar no templo, os apóstolos


ouviram a súplica daquele que lhes implorava
uma esmola. “Pedro, fitando-o, juntamente
com João, disse: Olha para nós” (v.4).
Imagino o homem coxo olhando atentamente
para Pedro e João, esperando receber alguma
esmola, com uma atitude de humildade, de
quem estava numa condição miserável,
procurando quem pudesse lhe ajudar.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
O gesto de olhar para os apóstolos era
muito mais do que uma mera visualização.
Sendo os apóstolos mensageiros da salvação
em Cristo, o gesto de olhar para eles abriu o
caminho daquele homem para a salvação.
Jesus disse em Mateus 6.22 que os olhos
são a “lâmpada do corpo”. Na conversa que
teve com Nicodemos (João 3.14), o Mestre
revelou que se tornaria como a serpente de
bronze no deserto, pois na direção desta,
levantada por Moisés para salvar os que eram
picados por serpentes venenosas, deveria olhar
todo o que se reconhecesse necessitado de
salvação (Números 21.9). Assim os pecadores
arrependidos devem olhar para Jesus, com
uma fé semelhante à de Abraão que, quando
Deus o mandou olhar para as estrelas do céu,
creu que o Senhor faria igualmente numerosa
a sua posteridade, e a sua fé lhe foi imputada
para justiça (Gênesis 15.5; Romanos 4.3).

93
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Algumas pessoas, por outro lado, perdem
a vida porque não conseguem controlar o seu
olhar, como foi o caso da mulher de Ló,
convertida numa estátua de sal (Gênesis
19.26). Samuel precisou reformular a maneira
como olhava para as pessoas, e aprendeu isso
quando foi à casa de Jessé para escolher um
rei, e à primeira vista se encantou com a beleza
do porte de Eliabe, ao que o Senhor lhe disse:
“Não atentes para a sua aparência, nem para
a sua altura, porque o rejeitei; porque o
SENHOR não vê como vê o homem. O homem
vê o exterior, porém o SENHOR, o coração”
(Gênesis 16.6,7).
A maioria dos homens de hoje fecha os
olhos para a realidade da presença de Deus,
como criticou Isaías: “Liras e harpas,
tamboris e flautas e vinho há nos seus
banquetes; porém não consideram os feitos do
SENHOR, nem olham para as obras das suas
mãos” (Isaías 5.12). Eles deveriam orar como
no Salmo 119.18: “Desvenda os meus olhos,
94
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
para que eu contemple as maravilhas da tua
lei”. Deus anunciou em Zacarias 12.10 que
algumas pessoas um dia “olharão para aquele
a quem traspassaram” com “espírito de graça
e de súplicas”, e “chorarão por ele como se
chora amargamente pelo primogênito”.
Somos todos aconselhados pelo Senhor
em Apocalipse 3.18 a tratar de nossa
deficiência visual: “Aconselho-te que de mim
compres [...] colírio para ungires os olhos, a
fim de que vejas”.
A maneira como olhamos a vida pode nos
transformar em pessoas abertas ao
recebimento da salvação. Assim aconteceu
com aquele homem coxo no momento em que
olhou para Pedro e João.
Terceiro passo: tornou -se beneficiário da
salvação quando creu e começou a caminhar
em nome de Jesus (6 -8)

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Pedro lhe disse: “Não possuo nem prata
nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em
nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!”
(v.6). Tomou o coxo pela mão direita e o
levantou. Seus pés e tornozelos se firmaram
instantaneamente. De pé num salto, “passou a
andar e entrou com eles no templo, saltando e
louvando a Deus”.
O que Pedro fez na realização da cura do
homem foi o que Jesus costumava fazer: dava
tarefas aos doentes que curava, talvez para que
tivessem a oportunidade de demonstrar a sua
fé, como em Marcos 2.11: “Eu te mando:
Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua
casa”, em João 5.8: “Levanta-te, toma o teu
leito e anda”, ou em João 9.7: “Vai, lava-te no
tanque de Siloé”, e também em Lucas 17.12-
14: “Ide e mostrai-vos aos sacerdotes”. Todos
os que recebem a Salvação em Jesus devem
corrigir o seu andar, conforme Colossenses
2.6: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o
Senhor, assim andai nele”, e em 1 João 2.6:
96
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
“aquele que diz que permanece nele, esse deve
também andar assim como ele andou”.
Se o coxo não tivesse crido, se não tivesse
levantado e começado a andar em nome de
Jesus, não teria se tornado beneficiário da
salvação. Notemos que sua primeira atividade
como homem curado foi honrar a Deus,
entrando no templo, saltando e louvando.
Quarto passo: Tornou -se proclamador da
salvação quando tributou louvores a De us
(9,10)

Todo mundo que estava no templo viu o


homem andando e louvando a Deus, e
reconheceram todos que era o mesmo que
antes esmolava assentado à Porta. Isso fez com
que eles se enchessem de admiração e
assombro.
Quem é salvo pela graça de Deus, como
foi o caso do homem coxo, não pode deixar de
proclamar o que lhe aconteceu. Hebreus 13.15
97
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
nos exorta para que, “por meio de Jesus,
ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de
louvor, que é o fruto de lábios que confessam
o seu nome”. Podemos fazer como o salmista
que resolveu: “Bendirei o SENHOR em todo o
tempo, o seu louvor estará sempre nos meus
lábios” (Salmos 34.1). Adotando essa atitude,
segundo Salmos 40.3, “muitos verão essas
coisas, temerão e confiarão no SENHOR”.
Antes que o louvor cheque à nossa boca, ele
passa pelo nosso coração, e por isso Filipenses
4.8 insiste: “[...] se alguma virtude há e se
algum louvor existe, seja isso o que ocupe o
vosso pensamento”.
Há outras formas de louvar além de cantar
e orar, como sugere Filipenses 1.11, quando
Paulo ora para que a igreja fique cheia “do
fruto de justiça, o qual é mediante Jesus
Cristo, para a glória e louvor de Deus”. Por
esta declaração entendemos que os frutos de
justiça, as boas obras praticadas por aqueles
que são salvos pela graça de Deus, o
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
glorificam e o louvam. Uma vida de fé,
superando em Cristo todas as dificuldades que
envolvem o ato de viver, pode louvar a Deus,
como deseja 1 Pedro 1.7 a seus leitores, “para
que, uma vez confirmado o valor da vossa fé,
muito mais preciosa do que o ouro perecível,
mesmo apurado por fogo, redunde em louvor,
glória e honra na revelação de Jesus Cristo”.
Conclusão

Você já entrou neste ambiente de


salvação que Deus lhe preparou? Se você é um
cumpridor de seus deveres, se está procurando
fazer a sua parte, se não está desprezando o
chamado de Deus, como fizeram os homens da
parábola daquela festa, então você é um
candidato à salvação e precisa tornar-se
aberto, olhar para Jesus, tal qual se revela na
Bíblia, porque ele é o único que pode te dar
salvação. Se você crê e recebe, se torna
beneficiário da salvação e passa a caminhar
nos passos de Jesus. Você vai se alegrar com a
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
salvação que lhe foi dada, e em meio aos
louvores se tornará um proclamador da
salvação, pelo seu modo de viver, e pelas suas
palavras.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
9. Reprovados (Atos 3.11-16)
Um milagre aconteceu. O povo estava
atônito. Queria saber o significado daquilo.
Fitaram Pedro e João, esperando uma
explicação. Pedro aproveita que recebeu a
atenção do povo e prega-lhes o evangelho,
pretendendo fazer mais um milagre: a cura da
cegueira espiritual. Este parágrafo de Atos
contém a primeira parte de sua mensagem, na
qual ele pretende abrir os olhos dos ouvintes
para o fato de que eles foram avaliados e foram
reprovados.
Uma avaliação semelhante foi feita no
tempo do profeta Daniel, quando Deus
reprovou o profano rei Belsazar, de Babilônia,
o qual foi medido, pesado e sentenciado à
divisão do seu reino (Mene, Mene, Tequel,
Parsim – Daniel 5.24-30). O povo de
Jerusalém, por sua vez, foi reprovado em pelo
menos três matérias:

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
1 – Reprovado em matéria de justiça (11 -13)

O homem coxo apegou-se a Pedro e a


João. Todo o povo correu atônito para perto
deles, ajuntando-se no pórtico chamado de
Salomão. Aproveitando a oportunidade, Pedro
iniciou um discurso: “Israelitas, por que vos
maravilhais disto ou por que fitais os olhos em
nós como se pelo nosso próprio poder ou
piedade o tivéssemos feito andar?” Então lhes
apresentou o verdadeiro responsável pelo
milagre que presenciaram, o “Servo Jesus”,
glorificado pelo “Deus de Abraão, de Isaque e
de Jacó” mas traído e negado perante Pilatos,
o juiz secular, que já tinha decidido não
crucificá-lo, reconhecendo que era justo.
O povo, que incitou o governador-juiz a
condenar Jesus e dar liberdade a Barrabás, e o
próprio Pilatos, que tinha autoridade para
impedir a injustiça, todos se enquadraram na
reprovação proferida em Isaías 5.20-23, que
diz:

102
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem,
mal; que fazem da escuridade luz e da luz,
escuridade; põem o amargo por doce e o
doce, por amargo! Ai dos que são sábios a
seus próprios olhos e prudentes em seu
próprio conceito! Ai dos que são heróis para
beber vinho e valentes para misturar bebida
forte, os quais por suborno justificam o
perverso e ao justo negam justiça!

2 – Reprovado em matéria de gratidã o (14,15)

Eles negaram o Santo e o Justo, pedindo


que se lhes concedesse um homicida. Mataram
o Autor da Vida, a quem Deus ressuscitou
dentre os mortos, sendo os apóstolos
testemunhas oculares.
Salmos 19.1 diz que “os céus proclamam
a glória de Deus, e o firmamento anuncia as
obras das suas mãos”. Os homens, porém,
além de se esquecerem do benefício, ainda
mataram aquele que lhes deu vida.
Simão Pedro e os seus companheiros
também foram tentados a virarem as costas
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
para o autor da vida, quando Jesus proferiu um
duro discurso que levou muitos discípulos,
horas depois de terem sido alimentadas pelos
pães e peixes, a abandonarem o discipulado.
Naquela ocasião a graça do Pai levou Pedro e
os demais, do grupo dos doze, a raciocinarem:
“Senhor, para quem iremos? Tu tens as
palavras da vida eterna” (João 6.65-68).
O povo que ouvia o discurso de Pedro
precisava reconhecer que, ao pedirem para si a
liberdade de um homicida e a morte do Autor
da Vida, estavam satisfazendo os desejos e
seguindo os passos do diabo, que “foi
homicida desde o princípio e jamais se firmou
na verdade” (João 8.44), sendo por isso
reprovado em matéria de gratidão.
3 – Reprovado em matéria de fé (16)

Foi pela fé no nome de Jesus que o


homem coxo se fortaleceu à vista e para o
reconhecimento de todos. A fé que vem por

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
meio de Jesus deu ao homem saúde perfeita
diante de todas aquelas testemunhas.
Uma vez um jovem pediu a um pastor
conselhos sobre uma decisão difícil. Devia ou
não batizar suas filhas gêmeas de um mês de
idade, sendo que uma delas tinha um grave
problema no coração? Ele temia que ela não
sobrevivesse, e se angustiava, perguntando-se
se deveria batizá-las para que elas fossem
libertadas do “pecado original”, e assim
tivessem garantida sua entrada no céu. O
pastor sentiu que aquele jovem precisava
exercitar a sua fé. Esclareceu que algumas
igrejas faziam batismo de crianças, e que ele
podia batizá-las se quisesse, porém na sua
opinião o mais importante naquele momento
não era o batismo. Havia uma preocupação do
pastor com o jovem pai e sua esposa, para que
assumissem a responsabilidade de começar a
frequentar fielmente uma igreja que
valorizasse o ensino da Palavra, e que
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
aprendessem para poder ensinar suas filhas a
andar no caminho do Senhor. Sugeriu que
orassem para que Deus desse às crianças
saúde, e que crescessem fortes e pudessem
aprender os caminhos do Senhor o mais cedo
possível. Não se sabe o que o pai aflito decidiu
no íntimo do seu coração, mas se ele creu, e se
entregou de todo o coração ao Senhor para
aprender e praticar a sua vontade, certamente
houve salvação naquela casa. Ele pensava na
salvação por meio de um único ato de fé, o
batismo, mas o pastor tentou abrir-lhe os olhos
para o fato de que a fé salvadora não se limita
a apenas um ato, pois revela-se plenamente
por meio da perseverança em seguir os
caminhos do Salvador.
Foi com o propósito de ensinar uma fé
perseverante que Paulo e sua equipe voltaram
às cidades envolvidas no apedrejamento do
apóstolo, logo depois do ocorrido,
“fortalecendo a alma dos discípulos,
exortando-os a permanecer firmes na fé; e
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
mostrando que, através de muitas tribulações,
nos importa entrar no reino de Deus” (Atos
14.22).
Jesus há de “julgar o mundo com justiça”
(Atos 17.31), e o Pai já estabeleceu um dia de
julgamento, cuja data somente ele conhece.
Nesse dia só serão salvos os que têm com Deus
uma aliança, não somente por palavra, mas
que pela graça de Deus passaram na prova dos
que “andam nas pisadas da fé que teve
Abraão” (Romanos 4.12). Ora, todo mundo
conhece os pecados de Abraão. Ele foi salvo,
porém, apesar dos seus pecados, pela graça de
Deus, e trilhou o seu caminho como um
pioneiro entre os que decidem associar-se a
Jesus para salvação mediante a fé. Entretanto,
os que se diziam filhos do patriarca, segundo
a carne, foram reprovados nesta matéria.
Conclusão

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Haverá um julgamento. Não poderemos
nos esquivar. Hoje temos a admoestação e a
exortação da Palavra de Deus, mas no dia do
Senhor, a sentença final. Em matéria de
justiça, Deus espera de nós que a promovamos
e a pratiquemos em todos os âmbitos de nosso
alcance. Ela é “cega”, imparcial. Não pode
estar contaminada por nossos interesses
imediatos. Em matéria de gratidão, somos
“muito obrigados” à honra e obediência para
com o Autor da Vida, a quem devemos amar
de todo o nosso coração. Em matéria de fé, ela
deve se mostrar em nossas decisões, nas horas
de crise, com toda perseverança. Os homens
da história foram reprovados, mas, advertidos
em vida, podiam ainda corrigir sua conduta.
Façamos isso, enquanto estamos no meio do
caminho, para que no último julgamento não
sejamos tidos como reprovados.
Os homens da história foram reprovados,
mas advertidos em vida, podiam ainda corrigir

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
sua conduta. Façamos isso, enquanto estamos
no meio do caminho.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
10. Voltar atrás (Atos 3.17-26)
Esta parte da mensagem de Pedro me faz
lembrar a história de José, quando seus irmãos
foram lhe pedir perdão por sua traição. Ele
disse que não deviam se afligir. Na verdade,
eles haviam agido mal, mas Deus, através
disso, salvou-os, bem como toda a sua família
(Gênesis 50.17,20).
Na situação semelhante encontrada neste
texto de Atos vemos que, diante da disposição
de Deus em perdoar, o povo que estava em
Jerusalém precisava se arrepender e se
converter, pois era grande o seu pecado. Caso
atendessem ao apelo de Pedro, se
arrependendo e se convertendo, levariam pelo
menos quatro vantagens: o cancelamento dos
seus pecados; o refrigério de presenciar a
vinda de Cristo e a restauração de todas as
coisas; a certeza de que não seriam banidos,
mas estariam entre o povo escolhido de Deus;
e a bênção prometida através da
descendência de Abraão.
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Primeira vantagem: o cancelamento dos seus
pecados (17 -19)

O que o povo fez, fez por ignorância,


assim como o fizeram as autoridades então
constituídas. Foi dessa forma que Deus
cumpriu o que havia anunciado por meio dos
profetas, dizendo que o seu Cristo havia de
padecer. Por isso foi dada ao povo uma
chance: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos
para serem cancelados os vossos pecados”.
Podem existir abusos quando o assunto é
perdão de pecados. Foi assim no caso de
Johann Tetzel, nascido em 1465 em Pirna,
Alemanha, frade dominicano e pregador, o
qual se tornou o grande comissário do Papa
para indulgências (cartas que davam direito a
perdão de pecados) na época de Lutero. Numa
ilustração que chama a atenção para o absurdo

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
que foi a prática de venda de indulgências,
conta-se11 que,
de acordo com Lutero, depois que Tetzel
tinha recebido uma quantidade substancial
de dinheiro em Leipzig, um nobre
perguntou-lhe se era possível receber uma
carta de indulgência para um pecado futuro.
Tetzel rapidamente respondeu que sim,
insistindo, no entanto, que o pagamento tinha
de ser feito de uma só vez. Esse nobre o fez,
recebendo logo a seguir a carta selada de
Tetzel. Quando Tetzel deixou Leipzig, o
nobre lhe atacou ao longo do caminho, deu-
lhe uma grande surra, e o mandou de volta de
mãos vazias para Leipzig, com o comentário
de que esse era o pecado futuro que ele tinha
em mente. O Duque George no início ficou
bastante furioso por este incidente, mas
quando ouviu toda a história, deixou-o ir sem
castigar o nobre”.

Pedro, no entanto, apresentou ao povo


uma possibilidade real de cancelamento de

11 Fonte: Luthers Schriften, Herausg. von Walch. XV, 446.


Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Tetzel
Acesso em 08 abr. 2016.
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
pecados. Uma oferta irrecusável, gratuita,
oferecida através do apóstolo pelo único a
quem foi dado o poder de fazê-lo: o Senhor
Jesus Cristo. Não era uma oferta vazia,
enganosa, fraudulenta, como foi no caso de
Johann Tetzel.
Segunda vantagem: ver a Cristo e os tempos
de refrigério (no tempo de restauração de
todas as coisas) - 20,21

Caso se arrependessem e se
convertessem, viriam da presença do Senhor
tempos de refrigério, Deus lhes enviaria o
Cristo, o qual já estava designado, Jesus, ao
qual era necessário que o céu recebesse até aos
tempos da restauração de todas as coisas,
conforme Deus falou por meio dos seus santos
profetas desde a antiguidade.
Os tempos de refrigério e a restauração de
todas as coisas são um desejo universal. Quem
não gostaria de viver num mundo ideal, sem

113
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
guerra, sem doença, sem sofrimento, sem
catástrofes? Este era o anelo do povo de Israel,
e tem sido o anelo de todos os povos em toda
a história. Falando sobre a expectativa popular
da volta de Cristo e da consequente
restauração de todas as coisas, Craig C. Hill12
afirma que
[…] A Agonia do Grande Planeta Terra,
best-seller de Hal Lindsey escrito na década
de 1970 [...] argumentava que o mundo
estava pronto para um cataclismo,
literalmente ‘de proporções bíblicas’, depois
do qual Cristo voltaria para reinar por mil
anos. Ele calculou que essas coisas deveriam
acontecer dentro de quarenta anos — uma
‘geração bíblica’ —, a partir da fundação do
moderno Estado de Israel, em 1948. Isso
significa que o fim do mundo deveria ter
ocorrido em 1988. ‘Muitos eruditos que têm

12 HILL, Craig C. O Tempo de Deus. Tradução de Carlos Caldas e


Jarbas Aragão. Viçosa, MG: Editora Ultimato, jul. 2004, p. 17.
Disponível em: http://www.ultimato.com.br/file/capitulos/Tempo-
de-Deus-leia.pdf Acesso em 09 abr. 2016.

114
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
dedicado toda a vida ao estudo das profecias
da Bíblia creem assim’.

Thomas Ice, escrevendo para a revista


Chamada da Meia Noite13, em fevereiro de
2014, também fala do mesmo assunto, e
declara:
Primeiro, creio que o Espírito Santo estava
extremamente ativo, movendo-se sobre
minha geração rebelde como Ele jamais
havia feito. O Senhor usou livros como O
Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, o qual
certamente fez milhões virem a Cristo por
meio de sua influência. Filmes como A Thief
in the Night [Um Ladrão na Noite], de
Russell Doughten, ensinavam sobre o
Arrebatamento antes da Tribulação e
também foram um catalisador que levou
muitas pessoas a Cristo. Doughten apresenta

13 ICE, Thomas. Um Ladrão na Noite. Porto Alegre: Chamada,


2014. Disponível em:
http://www.chamada.com.br/mensagens/ladrao_na_noite.html
Acesso em 09 abr. 2016. Filme citado no artigo: A Thief in the
Night [Um Ladrão na Noite] de Russell S. Doughten, Jr. - 1972.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
o Arrebatamento como Cristo vindo feito um
ladrão na noite.

Os anos que antecederam o de 2000


foram os anos em que nossa igreja mais
cresceu, pois muitos aceitaram a Cristo ou se
reaproximaram da Igreja com medo de que o
mundo acabasse na virada do milênio. Cristo
ainda não voltou, e os que o esperam podem
até ficar impacientes e perderem a fé, mas
podemos dizer, pela expectativa de vida nos
dias atuais, que a espera raramente será mais
do que 100 anos (eu creio que, quando a morte
vem, essa espera torna-se mais agradável para
os filhos de Deus, pois já estarão na presença
do Senhor, como numa “sala vip”).
Para o povo que ouvia a pregação de
Pedro era vantajoso o arrependimento e a
conversão, pelos quais lhes seria dado o
privilégio de presenciar esse tão almejado
tempo de refrigério.
Terceira vantagem: habitar no meio do povo
de Deus (não ser banido desse povo) - 22-24
116
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Moisés já dizia com verdade:
O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos
irmãos um profeta semelhante a mim; a ele
ouvireis em tudo quanto vos disser.
Acontecerá que toda alma que não ouvir a
esse profeta será exterminada do meio do
povo.

Todos os profetas, desde Samuel,


também anunciaram esses dias.
Podemos entender melhor a figura de
alguém que é banido do povo quando
pensamos na situação de um presidiário nos
dias de hoje. No artigo intitulado “O sistema
prisional brasileiro”, disponível no portal da
faculdade Estácio14, lemos o seguinte relato:

14 O sistema prisional brasileiro. Rio de Janeiro: Faculdade


Estácio, 2009. Disponível em:
http://portal.estacio.br/media/1597224/artigo%20sistema%20prision
al%20brasileiro%20pseudonimo%20mtjr%20penal.pdf Acesso em
09 abr. 2016.

117
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
[...] nada disso impede que uma infinidade de
criminosos tenham seus direitos básicos
jogados por terra, como no massacre do
Carandiru quando a Polícia Militar em busca
de retomar o Complexo durante uma
rebelião, invadiu-a e executou sumariamente
103 detentos que somados a outros que
aparentemente foram mortos em conflitos
entre os próprios detentos somaram 111
mortos. Também conquistou repercussão
nacional o caso do 42 Distrito Policial que
confinou 51 detentos que planejavam uma
tentativa de fuga em apenas uma cela de 1,5
x 4m sem ventilação que levou a morte de 18
destes por asfixia.

Se neste mundo os que estão “banidos” da


sociedade enfrentam situações
desesperadoras, imaginamos o que significará
ser banido para sempre do povo que Deus tem
selecionado para a vida eterna. Mas os que se
arrependessem e se convertessem teriam a
certeza de não estar entre os banidos quando
chegar o momento de Deus separar para si o
seu povo.

118
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Quarta vantagem: ser abençoado (ser livre da
maldição) - 25,26

Os ouvintes de Pedro eram “filhos dos


profetas e da aliança que Deus estabeleceu”
com seus pais, quando disse a Abraão: “Na tua
descendência, serão abençoadas todas as
nações da terra”. Deus ressuscitara o seu
Servo e o enviara primeiramente a eles para
abençoá-los, no sentido de que cada um se
apartasse das suas perversidades.
Uma pessoa amaldiçoada não tem paz na
vida e pode ficar enlouquecida como Lady
Macbeth, personagem de William
Shakespeare que, atormentada pela culpa, não
conseguia livrar-se da impressão de que
possuía sangue em suas mãos. Deus
amaldiçoou o homem por causa do seu
pecado, logo no início da criação, conforme
Gênesis 3.17-19:
E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de
tua mulher e comeste da árvore que eu te
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
ordenara não comesses, maldita é a terra por
tua causa; em fadigas obterás dela o sustento
durante os dias de tua vida. Ela produzirá
também cardos e abrolhos, e tu comerás a
erva do campo. No suor do rosto comerás o
teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste
formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.

O pai de Noé tinha esperança de que Deus


amenizaria essa maldição, por isso lhe deu
esse nome, “dizendo: Este nos consolará dos
nossos trabalhos e das fadigas de nossas
mãos, nesta terra que o SENHOR
amaldiçoou” (Gênesis 5.29). O mesmo Noé,
mais tarde, porém, amaldiçoou seu neto,
Canaã, “e disse: Maldito seja Canaã; seja
servo dos servos a seus irmãos” (Gênesis
9.25). Em Deuteronômio 27 e 28 Moisés
determinou que o povo, do alto do monte Ebal,
pronunciasse maldições para os que fossem
desobedientes à Palavra de Deus. O último
versículo do Antigo Testamento, em
português, termina com a palavra maldição
(Malaquias 4.6). Mas Deus oferecia ao povo,
por meio da pregação de Pedro, a vantagem,
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
caso se arrependessem e se convertessem, de
assumirem sua participação na linhagem dos
que são abençoados.
Conclusão:

Assim como o povo de Jerusalém, nós


também precisamos reconhecer os nossos
pecados, nos arrependermos e nos
convertermos. Se reconhecermos os nossos
pecados e voltarmos atrás, Deus é fiel e justo,
e nos consolará com as mesmas vantagens,
cancelando nossos pecados, fazendo-nos
presenciar os tempos de refrigério e a
restauração de todas as coisas, de forma que
não estaremos entre os que serão banidos do
seu povo, mas entre os que têm fé naquele que
é a bênção das nações.

121
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
11.Anunciando a ressurreição (Atos 4.1-4)

Quando os deputados votavam o


impeachment na Câmara em 2016, eu assisti a
uma boa parte dos discursos. Ouvindo os
argumentos, notei muitas coisas razoáveis, e
muitas coisas não tão razoáveis. Havia
deputados que em minha opinião foram muito
sensatos, respeitando o lado oposto, embora
tivessem que tomar partido e decidir de que
lado estavam. Um deles fez um discurso
interessante, sintetizando bem uma diferença
de características entre a oposição e os
governistas, dizendo que a oposição não tinha
ídolos, mas eles sim, tinham (Lula e Dilma).
Não sei se devo considerar bom ou ruim o fato
de as pessoas na política aderirem a um líder
carismático e tomarem o seu partido.
Mas, por outro lado, quando o assunto é
religião, é claro que nós cristãos temos um
líder que é digno de adoração, Jesus Cristo,
aquele que ressuscitou dentre os mortos para
ser o Rei dos reis e Senhor dos senhores
122
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
(Apocalipse 17.14). Como servos dele, temos
a obrigação de tomar seu partido, e anunciar a
mensagem da ressurreição. Quando um cristão
toma partido e anuncia corajosamente a
mensagem da ressurreição, sua prática pode
gerar pelo menos três resultados.
Primeiro resultado: perturbação do ambiente
(1,2)

Enquanto Pedro e João ainda falavam ao


povo, “sobrevieram os sacerdotes, o capitão
do templo e os saduceus, ressentidos por
ensinarem eles o povo e anunciarem, em
Jesus, a ressurreição dentre os mortos”.
Existe muita gente que pode ficar
ressentida quando se fala a verdade, mas ela
precisa ser dita. Em 2ª Timóteo 4.2, por
exemplo, Paulo exorta um jovem pastor a
pregar a palavra, insistir, “quer seja oportuno,
quer não”. Seguindo este princípio, os
apóstolos anunciaram ali, naquele ambiente do

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
templo, equivalente à igreja de hoje, uma
mensagem que era conflitante com o que
defendiam as autoridades mais influentes.
Além de ter potencial para perturbar o
ambiente da própria igreja, uma mensagem
sincera e baseada na palavra de Deus pode
gerar perturbação também em outros
ambientes, como nos exemplos a seguir:
a) Quando visitamos uma pessoa doente,
em seu leito, queremos falhar-lhe sobre a
importância de aceitar Jesus como Senhor e
Salvador, mas os familiares às vezes não
querem que os “perturbemos” com essa
mensagem, que no seu ver podem abalar a sua
tranquilidade;
b) No restaurante, quando vamos tomar
refeições em família ou entre irmãos,
costumamos fazer uma oração conjunta, em
voz alta, para agradecer. Isto pode perturbar
um pouco o ambiente, pois a prática não é
usual;

124
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
c) Quando vamos distribuir versículos ou
evangelizar de casa em casa, perturbamos o
sossego das pessoas nos seus lares;
Há perturbações, porém, que não são
recomendáveis, por não serem éticas ou
produtivas. Há um princípio importante
revelado em 1ª Coríntios 14.23, que diz: “Se,
pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar,
e todos se puserem a falar em outras línguas,
no caso de entrarem indoutos ou incrédulos,
não dirão, porventura, que estais loucos?”
Este princípio mostra que devemos nos
preocupar com as pessoas de fora, para que
não interpretem mal as nossas motivações e
costumes. Não podemos usar, por exemplo, o
ambiente de trabalho ou o tempo em que
deveríamos estar trabalhando para
evangelizar.
Segundo resultado: represálias (3)

125
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
As autoridades prenderam os apóstolos,
recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte,
sendo já tarde.
Vivemos num país que nos garante o
direito de culto e de expressão, e nos
consideramos felizes por isso, mas a lei não
nos garante isenção de represálias, mesmo que
veladas ou de baixa intensidade, por parte de
pessoas que não concordam com nossa
maneira de adoração e de expressão. Podemos
citar alguns exemplos de represálias a que
estamos sujeitos:
a) Pessoas às vezes passam na rua aqui
em frente da igreja e, na hora do culto, gritam
provocações;
b) Pessoas estacionam seus carros na
frente da Igreja, bloqueando a entrada do
estacionamento, sem respeitar os horários de
culto (essa atitude pode ser apenas falta de
educação, mas também pode ser entendida
como uma espécie de retaliação);
126
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
c) Os rumos da sociedade moderna
tendem ao liberalismo de costumes, e com
liberais assumindo cada vez mais o poder, os
cristãos zelosos serão cada vez mais criticados
e limitados em sua liberdade de ensinar, já que
ensinam a ortodoxia e o conservadorismo das
Escrituras;
d) Uma irmã que, anos atrás, abandonou
um bom emprego para torna-se seminarista,
sofreu duras críticas, e o pastor foi acusado de
subverter o futuro da moça. Essa crítica vinha
até mesmo de crentes considerados fiéis;
e) Um casal de missionários, que
conhecemos bem, foi expulso pelo órgão do
governo, da tribo Zoé, à qual evangelizavam;
outro casal ainda, sustentado parcialmente por
nossa igreja, no começo do seu ministério, foi
expulso da tribo Deni, por líderes
comunitários dos próprios indígenas.

127
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
f) Numa nota da Folha de São Paulo de
10/04/201515 nós lemos que um “evangélico é
acusado pelo MPF de proselitismo, por pregar
a índios em Santarém (PA) [...] acusado de
perturbar o ‘direito a manutenção de culturas
próprias’. O Coordenador da FUNAI [...] diz
que o órgão condena o proselitismo religioso
porque pode haver impacto negativo para as
tribos”.
Terceiro resultado: colheita de frutos (4)

Apesar do discurso de Pedro ter sido


interrompido pela sua prisão, “muitos dos que
ouviram a palavra a aceitaram, subindo o
número de homens a quase cinco mil”.

15 MARQUES, José. Evangélico é acusado de proselitismo por


pregar para índios. Folha de São Paulo/Poder, 10/04/2015.
Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1614712-evangelico-e-
acusado-de-proselitismo-por-pregar-para-indios.shtml Acesso em 17
abr. 2016.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
O resultado que todos queremos é que o
nosso trabalho dê muitos frutos. Foi este um
dos resultados da pregação de Pedro e João. Às
vezes, porém, nosso trabalho parece não
frutificar. Quando isto acontece, podemos
atribuir pelo menos três razões para o fruto não
vingado, com respectivos versículos que as
ilustram:
a) Não semear a Palavra;
Como, porém, invocarão aquele em quem
não creram? E como crerão naquele de quem
nada ouviram? E como ouvirão, se não há
quem pregue? (Romanos 10.14)

b) Não regar a planta (não persistir, não


demonstrar amor, não dar exemplo de vida);
Pelo contrário, segundo é santo aquele que
vos chamou, tornai-vos santos também vós
mesmos em todo o vosso procedimento (1ª
Pedro 1.15);
Mantendo exemplar o vosso procedimento
no meio dos gentios, para que, naquilo que
falam contra vós outros como de malfeitores,
observando-vos em vossas boas obras,
129
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
glorifiquem a Deus no dia da visitação (1ª
Pedro 2.12);
Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a
vosso próprio marido, para que, se ele ainda
não obedece à palavra, seja ganho, sem
palavra alguma, por meio do procedimento
de sua esposa (1ª Pedro 3.1);
Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da
justiça, bem-aventurados sois. Não vos
amedronteis, portanto, com as suas ameaças,
nem fiqueis alarmados; antes, santificai a
Cristo, como Senhor, em vosso coração,
estando sempre preparados para responder a
todo aquele que vos pedir razão da esperança
que há em vós, fazendo-o, todavia, com
mansidão e temor, com boa consciência, de
modo que, naquilo em que falam contra vós
outros, fiquem envergonhados os que
difamam o vosso bom procedimento em
Cristo, porque, se for da vontade de Deus, é
melhor que sofrais por praticardes o que é
bom do que praticando o mal (1Pe 3.14-17);

c) Não encontrar receptividade;


Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E,
ao semear, uma parte caiu à beira do
caminho, e vieram as aves e a comeram.
Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era
pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda
130
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e,
porque não tinha raiz, secou-se. Outra parte
caiu entre os espinhos; e os espinhos
cresceram e a sufocaram, e não deu fruto
(Mateus 4.3-7).

Conclusão

Deus nos conceda a graça de que


cumpramos a nossa obrigação e anunciemos
coerentemente, corajosamente, a mensagem
da ressurreição. Fazendo isto, podemos ser
tidos como meros perturbadores da ordem e
até receber represálias, mas se formos fiéis e
corajosos, é grande a possibilidade de
colhermos bons frutos. E assim, irmãos,
possamos honrar nosso “grande Deus e
Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13). Tomemos
partido, anunciemos a ressurreição!

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
12.Os Poderes que nos regem (Atos 4.5-14)

Em tempos de quarentena, como os que


foram enfrentados no início de 2020, quando
choviam opiniões e teorias de conspirações,
ficamos, muitas vezes, sem saber o que é
correto, ainda mais quando testemunhávamos
os conflitos constantes entre poderes
executivos federais, estaduais e municipais,
que vez ou outra acabavam entrando em
choque também com o legislativo e o
judiciário.
Em certo momento, foi permitido que as
igrejas voltassem a realizar cultos, desde que
obedecessem às recomendações de
distanciamento mínimo, entre outras, mas
ainda assim existia muito temor com respeito
à contaminação do vírus, de forma que a
expectativa era de que as coisas não voltariam
ao normal tão cedo.
Neste parágrafo de Atos 4.5-14, podemos
perceber que também os apóstolos se viam
132
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
envolvidos em conflitos entre os poderes que
os regiam.
Primeiro temos, nos versículos 5 a 7, o
que podemos chamar de poder político,
representado pelas “autoridades, os anciãos e
os escribas com o sumo sacerdote Anás,
Caifás, João, Alexandre e todos os que eram
da linhagem do sumo sacerdote”. Estes eram
homens poderosos em seu tempo, e seu poder
havia sido conquistado com muito esforço. Era
necessário clamarem seus direitos por
hereditariedade, e o reconhecimento dos
poderes políticos dos dominadores romanos.
Sobre estas autoridades, R David Jones16
comenta que:

16 JONES, R David. Pedro e João Perante o Sinédrio. Site Fatos


Bíblicos. Disponível em: http://www.bible-
facts.info/comentarios/nt/pedroejoaoperanteosinedrio.htm?LMCL=i
XdYQ9 Acesso em 19 abr. 2020.

133
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Anás era sumo-sacerdote, posição vitalícia
segundo a lei mosaica (Números 35:25), mas
as autoridades romanas nomearam seu genro
Caifás para tomar o seu lugar no ano 14 A.D.,
após apenas 7 anos. Supõe-se que João era
filho de Anás, e Alexandre era um homem de
destaque naquele tempo, segundo o
historiador Josefo. Os outros, que “eram da
linhagem do sumo sacerdote”, desejando
continuar em seu agrado, decerto iriam
aprovar o que ele determinasse.

As autoridades políticas constituídas em


nossa sociedade são, geralmente, legítimas,
tanto que a Bíblia nos ensina a respeitá-las,
conforme Romanos 13.1: “Todo homem esteja
sujeito às autoridades superiores; porque não
há autoridade que não proceda de Deus; e as
autoridades que existem foram por ele
instituídas”.
Por trás do poder político, porém, pode
atuar o mundo espiritual, conforme nos dá a
entender Efésios 2.2, quando predominam os
pecados “[...] nos quais andastes outrora,
segundo o curso deste mundo, segundo o
134
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
príncipe da potestade do ar, do espírito que
agora atua nos filhos da desobediência”.
Depois, nos versículos 8 a 12, o poder que
fica em destaque é o poder divino, pois Pedro
não falava com a autoridade de um político,
mas sim pelo poder do Espírito Santo. A
coragem e a clareza na resposta de Pedro ao
sumo sacerdote e demais autoridades, lembra
o que Jesus garantiu aos seus discípulos, ao
falar das tribulações do fim dos tempos, em
Lucas 21.15: “porque eu vos darei boca e
sabedoria a que não poderão resistir, nem
contradizer todos quantos se vos opuserem”.
Em resposta à interpelação a respeito da
cura maravilhosa daquele coxo de nascença,
que antes mendigava à porta do templo, ele
declarou com firmeza: “em nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes,
e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos,
sim, em seu nome é que este está curado
perante vós”. E ainda avisou: “este Jesus é
135
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
pedra rejeitada por vós, os construtores, a
qual se tornou a pedra angular. E não há
salvação em nenhum outro; porque abaixo do
céu não existe nenhum outro nome, dado entre
os homens, pelo qual importa que sejamos
salvos”.
Por último, nos versículos 13 e 14, entra
em cena o poder das evidências. As
autoridades, sabendo que os discípulos “eram
homens iletrados e incultos, admiraram-se; e
reconheceram que haviam eles estado com
Jesus”. Além do mais, “vendo com eles o
homem que fora curado, nada tinham que
dizer em contrário”.
Homens iletrados discursando à altura de
autoridades políticas, um aleijado de nascença
curado diante de milhares de pessoas, eram
evidências de que a mão do Jesus Ressuscitado
estava agindo e, para não despertar a revolta
do povo, as autoridades nada mais podiam
fazer naquela hora, senão ameaçar e depois
libertar os discípulos.
136
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Os que desejam argumentar contra a
verdade, sabem que têm uma dificílima missão
de esconder os fatos. Foi isto o que estas
mesmas autoridades tentaram fazer, quando
subornaram os guardas do sepulcro para
mentirem, dizendo que, enquanto
adormeceram, os discípulos roubaram o corpo
de Jesus (Mateus 28.11-15). A ressurreição de
Jesus Cristo dentre os mortos, até hoje,
encontra quem a negue, assim como há quem
negue que a terra seja redonda, mas, contra as
evidências, não adiantam argumentos.
Há quem insista em argumentar com
palavras bonitas, utilizando frases de efeito ou
bravatas, mas Pedro podia dispensar estes
artifícios. O homem que nasceu aleijado, que
esmolava à porta do Templo, a estimados
quarenta anos, ali estava diante dos olhos de
todo o povo, e ninguém podia negar que um
milagre havia sido feito, dando autoridade ao
discurso dos apóstolos.
137
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
As pessoas nem sempre precisam de
milagres; às vezes, bastam pequenos gestos,
para se conquistar a credibilidade. Quando
Tiago discute com os judeus da dispersão, a
respeito da importância das obras no processo
da salvação, ele faz um desafio: “mostra-me
essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras,
te mostrarei a minha fé” (Tiago 2.18). João,
falando do amor em ação, faz um apelo aos
seus filhinhos: “não amemos de palavra, nem
de língua, mas de fato e de verdade” (1ª João
3.18).
É por isto que, consciente ou
inconscientemente, as evidências estão entre
os poderes que nos regem, mesmo que mil
palavras eloquentes tentem desviar a nossa
atenção da verdade dos fatos.
Conclusão
Há poderes que nos regem e, cedendo a
estes poderes, vamos tomando decisões ao
longo de nossas vidas. Pode ser o respeito aos
138
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
que detêm o poder político, o temor a Deus, o
medo de um vírus que, evidentemente, está
rondando do lado de fora, procurando alguém
para contaminar.
Quando estes poderes estão em harmonia,
é mais fácil viver. Quando entram em conflito,
porém, seja entre si, seja com outros poderes
que regem o nosso coração, só é possível
prosseguir se adotarmos uma firme posição.
Foi assim com Pedro e João que, neste caso,
foram obrigados a confrontar o poder político,
levando as autoridades, contra a sua natureza,
a se submeterem ao poder divino e ao poder
das evidências.
Ditas estas coisas, tenho duas perguntas a
te fazer, caro leitor: quais poderes estão
regendo a tua vida? Há conflitos entre estes
poderes? Provavelmente você, como eu,
seguiu as recomendações das autoridades em
saúde, para evitar a contaminação da Covid-
19. Mas eu te convido a refletir, também, sobre
139
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
a necessidade de se proteger, por meio da
confissão de fé e da submissão ao nome do
Senhor Jesus Cristo, de um perigo
infinitamente maior, cujas consequências são
eternas, pois, conforme alertou o apóstolo
Pedro, “não há salvação em nenhum outro;
porque abaixo do céu não existe nenhum outro
nome, dado entre os homens, pelo qual
importa que sejamos salvos”.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
13. A vontade irresistível de Deus (Atos
4.15-22)
Tal como acontece numa disputa política,
destas que estamos acostumados a presenciar
nos parlamentos, neste parágrafo de Atos
vemos que há um embate em que Deus estava
agindo para fazer prevalecer a sua vontade, e
as autoridades eclesiásticas e políticas
vigentes não podiam fazer nada para conter o
progresso do evangelho, pois suar fragilidades
os tornavam impotentes.
Não podiam negar a manifestação do poder de
Deus (15-17)

Eles mandaram os apóstolos, por um


instante, saírem do sinédrio, para que
pudessem consultar uns aos outros, dizendo:
“Que faremos com estes homens? Pois, na
verdade, é manifesto a todos os habitantes de
Jerusalém que um sinal notório foi feito por
eles, e não o podemos negar”. A única

141
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
providência que podiam tomar para tentar
impedir que houvesse maior divulgação entre
o povo, era ameaçá-los para não falarem mais
no nome de Jesus. Mas até mesmo ameaças
não os impediriam, pois eles tinham diante de
si “uma porta aberta, a qual ninguém pode
fechar” (Apocalipse 3.8). Muitos sinais e
prodígios foram feitos pelos apóstolos,
autenticando sua pregação, mas era o “sinal do
profeta Jonas”, a ressurreição de Jesus, o
maior e mais evidente sinal que ecoaria pelos
séculos vindouros nos “quatro cantos” do
mundo.
Não podiam impedir testemunhas fiéis de
falarem (18 -20)

Chamando-os de volta ao sinédrio,


ordenaram aos apóstolos que não falassem
mais no nome de Jesus. Mas Pedro e João
responderam: “Julgai se é justo diante de Deus
ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus”.
Não era possível que eles deixassem de falar
as coisas que viram e ouviram da parte de
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Jesus, o qual recebeu do Pai toda a autoridade,
no céu e na terra, e lhes ordenou em Mateus
28.18-20 que fizessem discípulos de todas as
nações. Conforme as palavras de Jesus em
Lucas 19.40, se os discípulos se calassem, as
próprias pedras clamariam. Mas não foi
preciso incomodar as pedras, porque logo uma
multidão inumerável de discípulos em todos
os tempos seguiria o exemplo dos apóstolos,
levando o evangelho aos povos distantes e em
qualquer lugar onde houvesse oportunidade,
inclusive nos exílios e nas prisões.
Não podiam castigar aqueles a quem Deus
protegia (21 -22)

Ameaçando-os novamente, os soltaram,


pois não tinham como os castigar, uma vez
que o povo glorificava a Deus pelo milagre
que tinham feito naquele homem que fora
coxo desde o nascimento, há mais de
quarenta anos. Os apóstolos podiam dizer
naquele dia que estavam descansando “à
143
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
sombra do Onipotente”, nenhum mal lhes
sucederia (Salmos 91.1, 10), e como Josué
podiam ser fortes e corajosos, na medida em
que obedeciam à ordem de Deus, que disse: “o
SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer
que andares” (Josué 1.9).
Com os inimigos fragilizados, a vontade de
Deus prevaleceu

O Cristo Ressurreto foi divulgado e crido


em todo o mundo. Uma igreja local, em algum
momento, por algum motivo, pode não
crescer, mas a Igreja de Deus tem crescido, e
crescerá até quando Deus enviar Jesus para
“colher os seus frutos”.
Segundo a interpretação
dispensacionalista da escatologia, estamos na
época da Igreja Morna, e Jesus está a ponto de
vomitar-nos de sua boca. Nós que conhecemos
a Palavra de Deus estamos sendo alertados
para que não nos tornemos como a maioria.
Não precisamos ser a Igreja morna. Só
144
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
depende de nós, pois a vontade de Deus, ele
ainda vai fazer prevalecer com sinais, para que
os inimigos não possam negar; com servos
ousados no falar, para que os inimigos não
possam impedir; com proteção, de forma que
os inimigos não possam castigar.
Eventualmente Deus vai permitir sim, que as
evidências sejam negadas, que os cristãos
sejam impedidos de falar, que sejam
castigados, mas a regra geral é que Deus nos
livrará do poder maligno se nós obedecermos
à sua comissão e espalharmos o evangelho
onde quer que andemos, pois essa é a vontade
irresistível de Deus.

145
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
14. Deus é soberano (Atos 4.23-31)
Pedro e João saíram do Sinédrio
apreensivos por causa das ameaças das
autoridades. Num momento eles estavam se
regozijando com o poder de Deus em curar o
homem coxo, em conceder-lhes intrepidez
para profetizar aos homens no templo, ao levar
uma multidão ao arrependimento e fé em
Jesus. No outro momento, tiveram que
enfrentar uma noite na prisão, e a pressão
psicológica dos escribas e anciãos, que os
interrogaram e proibiram de falar no nome de
Jesus.
O que deveriam fazer? Ignorar as
ameaças, ou procurar um lugar longe das
autoridades para evangelizar? Precisavam de
uma luz, colocar os pensamentos em ordem, e
decidir que rumo seguir daquela hora em
diante. Para sair desta crise, eles recorreram
aos outros irmãos para compartilhar suas
ansiedades; apoiaram-se nas escrituras
(especificamente Salmos 2.1,2) para
146
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
reafirmarem a soberania de Deus, orando
àquele que fazia intervenções soberanas na
história da humanidade.
A criação de todas as coisas

A Primeira intervenção soberana de


Deus, reafirmada pelos discípulos, foi a
criação de todas as coisas, conforme vimos
nos versículos 23 e 24, porque, uma vez soltos,
se reuniram com os irmãos para relatar o que
haviam passado, bem como as ameaças das
autoridades. Os irmãos, unânimes, levantaram
a voz a Deus em oração, dirigindo-se a ele
como o Soberano Senhor, o que fez o céu, a
terra, o mar e tudo o que neles há. De fato, em
Gênesis (1.1-3, 26, 27) somos informados a
respeito da criação, que:
No princípio, criou Deus os céus e a terra. A
terra, porém, estava sem forma e vazia; havia
trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de
Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus:
Haja luz; e houve luz. [...] Também disse
Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
147
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
conforme a nossa semelhança; tenha ele
domínio sobre os peixes do mar, sobre as
aves dos céus, sobre os animais domésticos,
sobre toda a terra e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o
homem à sua imagem, à imagem de Deus o
criou; homem e mulher os criou.

Há quem acredite que o mundo nasceu


por acaso, em uma negação da soberania do
Deus criador; mas nós que cremos, tributamos
gratidão àquele a quem todas as criaturas têm
que prestar contas.
Conforme a enciclopédia livre17, o livro
revolucionário conhecido como “A Origem
das Espécies”, de Charles Darwin, apresenta a
Teoria da Evolução. Sua primeira edição foi
em 1859, apresentando o que acreditava serem
“evidências abundantes” da evolução das
espécies, de que a “diversidade biológica é o
resultado de um processo de descendência” e

17 A Origem das Espécies. Wikipédia. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Origem_das_Esp%C3%A9cies
Acesso em 21 maio 2016.
148
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
de que os “organismos vivos se adaptam
gradualmente através da seleção natural”, e
ainda que “as espécies se ramificam
sucessivamente a partir de formas ancestrais”.
É significante que essa ramificação é
ilustrada pelo naturalista com o nome de
“árvore da vida”, termo que, biblicamente, tem
muito significado, desde o início, em Gênesis
(2.9), até o final, em Apocalipse 22.2, onde se
pode ler respectivamente que “do solo fez o
SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores
agradáveis à vista e boas para alimento; e
também a árvore da vida no meio do jardim
[...]”; e “no meio da sua praça, de uma e outra
margem do rio, está a árvore da vida, que
produz doze frutos, dando o seu fruto de mês
em mês, e as folhas da árvore são para a cura
dos povos”.

149
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Na mesma enciclopédia18, lemos que no
ano de 1927, “o padre e cosmólogo belga
Georges Lemaître (1894-1966)” propôs que a
expansão do universo seria o resultado da
"explosão" de um "átomo primordial", teoria
também conhecida como o Big Bang. Segundo
essa teoria, aprimorada na década de 1940, o
universo surgiu há pelo menos 13,7 bilhões de
anos, “após uma grande explosão resultante da
compressão de energia.”
De acordo com o site Brasil Escola19,
ainda hoje essa é a explicação mais aceita
pelos cientistas sobre a origem do universo,
reforçada pela observação de que “o universo
não é estático e se encontra em constante
expansão, ou seja, as galáxias estão se

18 Big Bang. Wikipedia. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Big_Bang Acesso em 21 maio 2016.
19 FRANCISCO, Wagner de Cerqueria e. Big Bang - A Teoria do
Big Bang. Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/big-bang.htm. Acesso em
21 maio 2016.
150
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
afastando umas das outras”, levando-os à
conclusão de que, “no passado elas deveriam
estar mais próximas que hoje, e, até mesmo,
formando um único ponto”.
Mas a Revista Galileu20 nos informa que
a teoria do Big Bang começa a ser
questionada, porque recentemente
descobriram que o tempo de 13.7 bilhões de
anos “é insuficiente para explicar a formação
atual do Universo”. Pesquisadores
descobriram “um buraco negro com uma
massa de 12 bilhões de sóis” que, pela lógica
conhecida pelos cientistas, deveria ter
começado a se formar antes do tempo
estimado do Big Bang. Assim, o Universo
seria “80 milhões de anos mais velho do que
se acreditava”. Ao anunciar essa descoberta,

20 GALASTRI, Luciana. A teoria do Big Bang pode ser extinta.


Revista Galileu, 31/03/2015. Disponível em:
http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2015/03/teori
a-do-big-bang-pode-ser-extinta.html acesso em 21 maio 2016.
151
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
“George Estfhathiou , diretor do Instituto
21

Kavli de Cosmologia da Universidade


Cambridge”, confessou que "há um pouquinho
menos do que não compreendemos."
Cientistas que creem na criação, tal como é
descrita na Bíblia, reescreveriam essa
confissão de ignorância dos evolucionistas da
seguinte forma: “Há um pouquinho menos do
muitíssimo que não compreendemos”, ou
melhor, ainda: “Há um infinitésimo que
passamos a compreender dentro da infinitude
de nosso desconhecimento”
O comportamento daqueles que tentam
desacreditar o que Deus revelou nas Escrituras
é descrito em Salmos 10.4: “O perverso, na
sua soberba, não investiga; que não há Deus
são todas as suas cogitações”. Vivendo os
tempos como os atuais, e observando como os

21 Universo é mais velho do que se previa, dizem cientistas. Site


da SCB, 2013. Disponível em:
http://www.scb.org.br/scb/index.php/noticias/2060-universo-e-mais-
velho-do-que-se-previa-dizem-cientistas Acesso em 21 maio 2016.
152
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
homens incrédulos tratam as questões bíblicas,
nós poderíamos orar como o autor do Salmo
10, nos versículos 1 a 5:
Por que, SENHOR, te conservas longe? E te
escondes nas horas de tribulação? Com
arrogância, os ímpios perseguem o pobre;
sejam presas das tramas que urdiram. Pois o
perverso se gloria da cobiça de sua alma, o
avarento maldiz o SENHOR e blasfema
contra ele. O perverso, na sua soberba, não
investiga; que não há Deus são todas as suas
cogitações. São prósperos os seus caminhos
em todo tempo; muito acima e longe dele
estão os teus juízos; quanto aos seus
adversários, ele a todos ridiculiza.

O plano de salvação

A segunda intervenção soberana de Deus,


reafirmada pelos discípulos, foi a revelação e
execução do Plano de Salvação, conforme
versículos 25 a 28, onde continuam sua oração
se dirigindo a Deus como aquele que disse,
“por intermédio do Espírito Santo, por boca
de Davi [...]: Por que se enfureceram os
153
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
gentios, e os povos imaginaram coisas vãs?”,
referindo-se aos reis da terra e às autoridades
que se uniram “contra o Senhor e contra o seu
Ungido”. Reconhecerem que, de fato,
“Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e
gente de Israel” se ajuntaram em Jerusalém,
contra o santo Servo Jesus, ungido por Deus, e
fizeram tudo o que a mão e o propósito do Pai
haviam predeterminado. Os discípulos
apoiaram-se na Palavra de Deus
(especificamente Salmos 2.1,2), para fazerem
essas observações em sua oração.
Se alguém nega a legitimidade das
profecias, tanto das que se cumpriram quanto
das que hão de se cumprir, nega também a
soberania de um Deus que planejou toda a
história e conhece todos os detalhes do futuro,
dando-nos por escrito um vasto relato do que
já fez e do que ainda pretende fazer. A morte
de Jesus não foi um acaso, mas já havia sido
determinada pelo Deus soberano, que assim

154
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
providenciou o resgate da humanidade da
condenação do seu pecado.
Curas, sinais e prodígios

A terceira intervenção soberana de Deus,


reafirmada pelos discípulos, foi a realização de
curas, sinais e prodígios, para autenticar a sua
palavra, conforme os versículos 29 a 31, onde
eles continuam a oração pedindo ao Senhor
que olhasse para as ameaças que receberam
das autoridades, e concedesse àqueles servos
que anunciassem com toda a intrepidez a sua
palavra, estendendo a mão “para fazer curas,
sinais e prodígios” em nome de Jesus, o santo
Servo. No final da oração, o lugar onde
estavam reunidos tremeu, e todos ficaram
cheios do Espírito Santo, de forma que
anunciavam com intrepidez a palavra de Deus.
Esses milagres e todos os demais, narrados ou
não nas escrituras, revelam a soberania de um
Deus que pode interferir no curso natural das
coisas para fazer prevalecer a sua vontade.
155
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Deus é soberano

Os discípulos, ao orarem, se colocaram na


condição de servos (doulos), escravos, diante
de um Deus soberano, suplicando-lhe que os
ajudasse a cumprir a ordem que por ele mesmo
lhes fora dada. Naquele momento crítico, os
discípulos reafirmaram sua confiança na
soberania de Deus, que pode inclusive ser
reconhecida nas suas intervenções soberanas
na história da humanidade, quais sejam a
criação de todas as coisas, a revelação e
execução do plano de salvação, e a realização
de curas, sinais e prodígios, para autenticar a
sua palavra.
Vamos nos colocar aos pés desse Deus
soberano, crendo na salvação que veio por
meio de seu filho Jesus, esforçando-nos para
andar nos caminhos por ele traçados,
purificando nossas vidas de coisas que o
desagradam, cumprindo os propósitos pelos
quais, em sua soberania, ele nos tem colocado
onde estamos.
156
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
15. Uma igreja rica (At 4.32-35)
A igreja nominal de Cristo alcançou
muita riqueza nos seus quase dois mil anos de
existência. Como exemplo, podemos citar
uma notícia no portal G122, em junho de 2017,
a qual diz que
O Instituto para as Obras de Religião (IOR),
mais conhecido como o banco do Vaticano,
ganhou € 36 milhões em 2016, frente aos €
16,1 milhões de 2015, segundo comunicado
divulgado nesta segunda-feira (12). "Este
resultado foi obtido graças a uma atividade
de negociação eficaz, em um contexto de
grande volatilidade dos mercados, de
instabilidade política (...) e de baixas taxas de
juros", disse o IOR. O banco explica ter
continuado em 2016 "a servir com prudência

22
Banco do Vaticano tem faturamento de € 36 milhões em 2016.
Portal G1, 12/06/2017. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/banco-do-vaticano-
tem-faturamento-de-36-milhoes-em-2016.ghtml Acesso em 01 out.
2017.
* 36 milhões de euros = R$ 123 milhões em 01/01/2017; 16 milhões
= R$ 59.856 milhões; 5,7 bilhões = R$ 21.323,7 milhões.
157
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
e a oferecer serviços financeiros
especializados à igreja católica em todo o
mundo". Em 2016 o IOR tinha cerca de
15.000 clientes, principalmente religiosos,
congregações e trabalhadores do Vaticano.
No dia 31 de dezembro administrava € 5,7
bilhões em fundos.

A Revista Forbes, em janeiro de 2013, fez


uma lista dos cinco pastores mais ricos do
Brasil. Segundo o jornal Correio News23,
A revista americana de economia e negócios
Forbes avaliou o patrimônio dos principais
pastores evangélicos do Brasil e elaborou
uma lista dos cinco mais ricos. Em primeiro
lugar, disparado, ficou Edir Macedo (foto),
chefe da Igreja Universal do Reino de Deus.
A revista estima que seu patrimônio líquido
seja de pelo menos US$ 950 milhões (R$ 1,9

23 Os Pastores mais ricos do Brasil, segundo a Forbes. O Correio


News, maio 2016. Disponível em:
http://ocorreionews.com.br/portal/2016/05/29/fortuna-de-pastores-
brasileiros-chama-a-atencao-da-forbes/ Acesso em 01 out. 2017.
Citando como fontes a revista Exame, 29 de maio de 2016, e o artigo
de ANTUNES, Anderson. The Richest Pastors In Brazil. Site da
Forbes, 17/01/2013. Disponível em:
https://www.forbes.com/sites/andersonantunes/2013/01/17/the-
richest-pastors-in-brazil/#1105384d5b1e Acesso em 01 out. 2017.
158
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
bilhão). [...] Valdemiro Santiago, da
Mundial, em segundo lugar. Forbes estimou
que a patrimônio líquido do pastor que
aparece na TV chorando pedindo dinheiro
seja de US$ 220 milhões (R$ 440 milhões).
[...] Silas Malafaia, da Assembleia de Deus
Vitória em Cristo. A revista avaliou o seu
patrimônio líquido em US$ 150 milhões (R$
300 milhões). [...] R.R. Soares, o quarto
colocado na lista dos mais ricos. O fundador
da Igreja Internacional da Graça de Deus teve
seu patrimônio líquido estimado em US$ 125
milhões (R$ 250 milhões). Estevam
Hernandes Filho e sua mulher Sônia, da
Igreja Renascer, ficaram em quinto lugar,
com patrimônio líquido estimado em US$ 65
milhões (R$ 130 milhões).

A Bíblia, porém, fala da riqueza que a


Igreja tinha no início de sua formação. Em
Atos 4.32-35 podemos notar que havia pelo
menos três recursos abundantes que faziam da
igreja primitiva uma igreja rica.

159
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Primeiro recurso abundante na igreja:
Comunhão (32)

“Da multidão dos que creram era um o


coração e a alma. Ninguém considerava
exclusivamente sua nem uma das coisas que
possuía; tudo, porém, lhes era comum”.
Gostamos de brincar, quando alguma
cozinheira erra na medida do arroz, e ele fica
grudado, dizendo que é um arroz “unidos
venceremos”; é senso comum a ideia de que a
“união faz a força”; pensando nisso, as
empresas modernas e bem sucedidas sempre
se empenham para manter, da melhor forma
possível, o seu “clima organizacional”. Na
igreja, há milênios, ecoa o apelo a “Evódias” e
a “Síntiques” para que “pensem
concordemente, no Senhor” (Filipenses 4.2).
Apesar de não faltarem apelos, houve
divisão na igreja desde os primórdios,
conforme veremos em Atos 6, com os
helenistas murmurando contra os hebreus. Até
160
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
mesmo líderes exemplares como Barnabé e
Saulo tiveram desavenças que os levaram a se
separar no ministério (Atos 15.36-40). A
história da igreja é uma história de divisões. É
inevitável a divergência de opiniões.
Por isto mesmo, a comunhão dos cristãos
é um milagre operado pelo Espírito Santo, que
os mantém unidos no que é fundamental em
termos de fé, e do “amor uns aos outros”, que
é o autenticador dos que são
reconhecidamente discípulos de Cristo. A
comunhão se materializa no
compartilhamento de bens, quando o crente
considera que suas posses não são
exclusivamente suas, mas estão à disposição
do Senhor, para socorrer a quem precisa. Este
hábito de comunhão, de compartilhar seus
bens, ainda prevalece na igreja, entre os que
sinceramente servem ao Senhor Jesus. Entre
os bens que se compartilham em nome da
comunhão, o que mais chama a atenção é o
161
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
dinheiro. A Pesquisa de Orçamentos
Familiares24 (POF) realizada entre 2002 e
2003, divulgada pelo IBGE em março de
2012, mostra que
As famílias que têm como principal membro
um praticante da religião espírita têm
rendimento médio mensal de R$ 3,796 mil –
valor 2,9 vezes maior que o rendimento
médio dos evangélicos pentecostais, de R$
1.271, que têm o menor rendimento. Ainda
assim, a proporção entre o ganho e o volume
gasto com doações, pagamento de pensões,
mesadas e dízimos, na classificação de outras
despesas correntes, é muito maior entre os
evangélicos: de 21,4% entre os pentecostais
(R$ 22,79), chegando a 34% em outras
correntes evangélicas (R$ 59,16). Entre os
espíritas, esta participação é de 8,2% (42,58).

Embora os números acima possam nos


dar uma noção da maneira como os crentes

24 JULIANA RANGEL – Espíritas são os mais ricos e


evangélicos doam mais. O Globo online. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/economia/espiritas-sao-os-mais-ricos-
evangelicos-doam-mais-4158120#ixzz4sJZ6Klotstest 29/08/2007,
atualizado 03/03/2012 Acesso em 10 set. 2017.
162
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
administram seus bens, é importante lembrar
que a comunhão não se resume, nem tem como
principal exemplo as contribuições
monetárias. A prática da comunhão, do
ajuntamento proativo e constante dos crentes,
pressupõe a consideração de que cada
indivíduo é um mero administrador de seus
bens. Tudo o que ele possui, o seu tempo, e até
mesmo sua própria alma, pertencem ao
Senhor. Deus permita que o abundante recurso
da comunhão esteja ainda presente em cada
comunidade verdadeiramente cristã.
Segundo recurso abundante na Igreja: Poder
(33a)

“Com grande poder, os apóstolos davam


testemunho da ressurreição do Senhor Jesus,
(...)”.
Os apóstolos eram um canal de grande
poder, vindo de Deus, manifestando-se na
igreja, alcançando os pobres e necessitados. O

163
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
poder de fazer milagres dava respaldo à
mensagem do evangelho. Jesus disse aos
apóstolos, em Atos 1.8: “mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e
sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e
até aos confins da terra”. Paulo também,
embora não estivesse com Jesus no Monte das
Oliveiras, recebeu o mesmo Espírito,
conforme diz em 1Coríntios 2.4: “a minha
palavra e a minha pregação não consistiram
em linguagem persuasiva de sabedoria, mas
em demonstração do Espírito e de poder”. Os
santos todos, da igreja, receberam poderosos e
diversos dons, de acordo com 1ª Coríntios
12.10: “[...] a outro, operações de milagres; a
outro, profecia; a outro, discernimento de
espíritos; a um, variedade de línguas; e a
outro, capacidade para interpretá-las”. O
apóstolo orou pelos efésios (3.16) “para que,
segundo a riqueza da sua glória”, Deus
concedesse que eles fossem “fortalecidos com

164
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
poder, mediante o seu Espírito no homem
interior”. O evangelho que chegou aos
tessalonicenses não foi somente em palavra,
“mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo
e em plena convicção”, assim como eles
sabiam ter sido o procedimento de Paulo e
seus ajudantes entre eles e por amor deles (1ª
Tessalonicences 1.5). O jovem pastor Timóteo
foi alertado por seu mentor de que não lhe fora
dado por Deus “espírito de covardia, mas de
poder, de amor e de moderação”, de forma
que ele não devia se envergonhar do
“testemunho de nosso Senhor, nem do seu
encarcerado”, Paulo, pelo contrário, deveria
participar com ele “dos sofrimentos, a favor do
evangelho, segundo o poder de Deus” (2ª
Timóteo 1.7,8).
Assim, quem quiser dar um testemunho
poderoso, não pode deixar que seja
enfraquecido pelo poder do pecado. Uma
palavra com credibilidade depende muito do
165
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
caráter de quem a profere, mas, sobretudo,
depende desse abundante recurso que é o
poder do Espírito Santo, poder esse que
compõe o “patrimônio espiritual” desta rica
igreja de Cristo.
Terceiro recurso abundante na igreja: Graça
(33b-35)

[...] e em todos eles havia abundante graça.


Pois nenhum necessitado havia entre eles,
porquanto os que possuíam terras ou casas,
vendendo-as, traziam os valores
correspondentes e depositavam aos pés dos
apóstolos; então, se distribuía a qualquer um
à medida que alguém tinha necessidade.

Lemos, na Wikipédia25, que “Caridade


(lat caritate: Amor de Deus e do próximo.
Benevolência, bom coração, compaixão.
Beneficência, esmola.) é um termo derivante

25 Caridade. Wikipedia. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Caridade Acesso em: 04 jun. 2016.
166
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
do latim caritas (afeto, amor), que tem origem
no vocábulo grego chàris (graça)”.
Em certo momento do ministério público
de Jesus, ele enviou os doze numa missão,
dizendo: “curai enfermos, ressuscitai mortos,
purificai leprosos, expeli demônios; de graça
recebestes, de graça dai” (Mateus 10.8). Esta
prática de ser gracioso se estendeu à igreja,
tornando-se obrigação de todos os crentes.
Quando falamos de comunhão, pensamos
mais na comunidade dos crentes, mas quando
falamos de Graça, o público-alvo é mais
amplo. Assim como nosso Pai celeste “faz
nascer o seu sol sobre maus e bons e vir
chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5.45),
assim também deve ser graciosa a igreja.
Quanto mais rica for de bens terrenos, mais
responsabilidade terá para com os pobres. Isto
vale também para os indivíduos. Parece que
essa consciência de responsabilidade está bem

167
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
expressa numa notícia veiculada no portal de
notícias da Uol26, em maio de 2016:
Conhecida como Baronesa Thyssen, Carmen
Cervera, a sétima mulher mais rica da
Espanha, incendiou as redes sociais ao
declarar que "ser rica é difícil" e "é muita
responsabilidade". Em uma entrevista
publicada no jornal especializado em
economia "Cinco Dias", a aristocrata
declarou: "Ser rico sempre é difícil, é pior do
que ser pobre. Vem uma grande
responsabilidade para si mesma e para as
pessoas que dependem de você."

O sábio Salomão, em seus estudos sobre


a vida na terra, disse em uma de suas
conclusões que
Onde os bens se multiplicam, também se
multiplicam os que deles comem; que mais
proveito, pois, têm os seus donos do que os

26
Milionária causa polêmica ao dizer que "ser rica é difícil".
UOL/Internacional, 24/05/2016. Disponível em:
http://noticias.uol.com.br/ultimas-
noticias/ansa/2016/05/24/milionaria-causa-polemica-ao-dizer-que-
ser-rica-e-dificil.htm Acesso em 04 jun. 2016.
168
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
verem com seus olhos? Doce é o sono do
trabalhador, quer coma pouco, quer muito;
mas a fartura do rico não o deixa dormir
(Eclesiastes 5.11,12).

Embora o rico, se não quiser lutar contra


a própria natureza, seja praticamente obrigado
a ser gracioso, a graça que vem de Deus não
depende de ser rico ou não. Os pobres
costumam ser mais graciosos do que os ricos,
ao compartilhar o pouco que têm.
Frequentemente, Deus abençoa os seus filhos
para que sejam canais de bênção para outros.
A graça de Deus para conosco tem o objetivo
de nos estimular às boas obras, conforme 2ª
Coríntios 9.8: “Deus pode fazer-vos abundar
em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em
tudo, ampla suficiência, superabundeis em
toda boa obra”.
O crente que cumpre bem o seu papel de
ser gracioso é ainda mais abençoado, porque
aqueles que são por ele ajudados oram a seu
favor “com grande afeto, em virtude da
169
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
superabundante graça de Deus” que neles há
(2ª Coríntios 9.14).
Pedro nos faz uma exortação: “Servi uns
aos outros, cada um conforme o dom que
recebeu, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus” (1ª Pedro 4.10).
Clive Staples Lewis27, famoso escritor
britânico, escreveu sobre a caridade, dizendo:
Não acredito que alguém possa estabelecer o
quanto cada um deve dar. Creio que a única
regra segura é dar mais do que nos sobra. Em
outras palavras, se nossos gastos com
conforto, bem supérfluos, diversão etc. se
igualam ao do padrão dos que ganham o
mesmo que nós, provavelmente não estamos
dando o suficiente. Se a caridade que
fazemos não pesa pelo menos um pouco em
nosso bolso, ela está pequena demais. É
preciso que haja coisas que gostaríamos de
fazer e não podemos por causa de nossos
gastos com caridade. Estou falando de

27
LEWIS, C.S. Cristianismo Puro e Simples. São Paulo: Martins
Fontes, 2005, p. 34, 48.
170
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
"caridade" no sentido comum da palavra. Os
casos particulares que afetam parentes,
amigos, vizinhos ou empregados, de que
Deus, por assim dizer, nos força a tomar
conhecimento, exigem muito mais que isso:
podem inclusive nos obrigar a pôr em risco
nossa própria situação. [...] A regra comum a
todos nós é perfeitamente simples. Não perca
tempo perguntando-se se você "ama" o
próximo ou não; aja como se amasse. Assim
que colocamos isso em prática, descobrimos
um dos maiores segredos. Quando você se
comporta como se tivesse amor por alguém,
logo começa a gostar dessa pessoa.

De acordo com Emerson Detoni28, Santo


Agostinho ensinava que
[...] Credere in Deum implica um caminhar
até Deus, um movimento de amor.
Movimento que compreendemos
perfeitamente quando lemos o Enchiridion e

28
DETONI, Emerson. Santo Agostinho: Fé, Esperança e Caridade.
Disponível em:
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/2010_02_05
.pdf Acesso em 04 jun. 2016.
171
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
percebemos que a fé na existência de Deus
não pode estar desprovida da Caridade, como
era a fé dos demônios, que acreditavam
unicamente para evitar Jesus e não para viver
Nele (Ench. 2.8). A verdadeira fé “reclama”
a graça, através da qual pode cumprir as boas
obras que conduzem a Deus. Ou seja, a fé
impetra a graça e ao receber o Espírito de
amor, torna-se ativa (Ench. 31.117). Na visão
de Agostinho, a única fé que se justifica é a
fé que se faz ativa por meio do amor.

Conclusão

A riqueza que o Espírito Santo trouxe à


Igreja a tornou abundante em comunhão,
poder e graça. Resultados diferentes são
produzidos pelo espírito do mundo. Paulo
falou à igreja em 1ª Coríntios 2.12: “Ora, nós
não temos recebido o espírito do mundo, e sim
o Espírito que vem de Deus, para que
conheçamos o que por Deus nos foi dado
gratuitamente”. Mas tinha uma preocupação,
a de que a igreja acabasse influenciada pelo
espírito que está no mundo, e por isso fez
declarações como a que lemos em 2ª Coríntios
172
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
12.20: “Temo, pois, que, indo ter convosco,
não vos encontre na forma em que vos quero,
e que também vós me acheis diferente do que
esperáveis, e que haja entre vós contendas,
invejas, iras, porfias, detrações, intrigas,
orgulho e tumultos”. Qual espírito está agindo
em nós hoje? Quando Jesus voltar, nos
encontrará agindo segundo o Espírito que nos
deu, ou segundo o espírito do mundo?
Sejamos sóbrios, vigilantes, e utilizemos bem
os abundantes recursos que o Espírito Santo
nos dá, para que a riqueza que se destaque na
igreja seja de comunhão, poder e graça.

173
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
16. José, um homem de procedência (Atos
4.36,37)
José, a quem os apóstolos deram o
sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho
de exortação, levita, natural de Chipre, como
tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o
preço e o depositou aos pés dos apóstolos.

Existe uma estratégia de mercado muito


utilizada em todo o mundo, que é a marcação
do produto com um selo de procedência. Um
dos produtos que se beneficiam dessa
estratégia, no Brasil, é a carne bovina. O
Sebrae Nacional publicou no seu site29 um
artigo dizendo que
O Pampa Gaúcho é conhecido como a “terra
do churrasco”. Os produtores da região
querem ser identificados não somente pelo

29
Selo de procedência valoriza carne em até 40%. Sebrae
Nacional, 2014. Disponível em:
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/selo-de-
procedencia-valoriza-carne-em-ate-
40,45089e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD Acesso em
12 jun. 2016.

174
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
sabor da carne preparada, mas também pela
boa procedência do que vai para a
churrasqueira. Desde 2006, mais de 70 deles
usam o registro de Indicação Geográfica
fornecido pelo Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI). O selo
certifica a qualidade da carne local. Juntos,
os criadores da região reúnem um rebanho
bovino de mais de cem mil cabeças. O selo
garante valorização de até 40% no preço da
carne, segundo o secretário-executivo da
Associação dos Produtores de Carne do
Pampa Gaúcho da Campanha Meridional
(ProPampa), Rogério Jaworski. Só os cortes
mais nobres recebem a etiqueta.

Embora nem toda carne procedente dos


Pampas tenha o selo de qualidade, é inegável
que a região adquiriu boa fama pela tradicional
qualidade de seus produtos.
Existe um conceito semelhante quando o
assunto é o caráter de alguém. Muitas vezes,
ao comentarmos o comportamento de certas
pessoas, repetimos ditados como: “tal pai, tal
filho”, “filho de peixe, peixinho é”. Temos
175
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
esse costume por reconhecermos que, muitas
vezes, o caráter de um homem está ligado à
sua procedência. É o caso de um homem
chamado José, apresentado no texto bíblico, o
qual foi “selado”, pelos seus conhecidos, com
pelo menos três identidades de procedência.
Filho da exortação

A primeira identidade de procedência,


com a qual José foi selado, é a de “filho da
exortação”, cuja pronúncia na língua
aramaica, Barnabas (português Barnabé),
tornou-se o nome pelo qual ele ficou mais
conhecido. A palavra grega que foi traduzida
por “exortação”, é a palavra “paraklesis”,
também traduzida por “consolação” em Lucas
2.25, numa referência ao Messias que acabara
de nascer. Em Romanos 15.5, Paulo se refere
ao Pai como o Deus da paciência e da
consolação [paraklesis]. Já o evangelista João
registra que Jesus apontava o Espírito Santo
como o portador da consolação, após a sua
partida. Usando a palavra grega “parakletos”,
176
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
traduzida em nossa versão como
“consolador”, ele se refere várias ao Espírito,
conforme os versículos abaixo:
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, a fim de que esteja para sempre
convosco (João 14.16);Mas o Consolador, o
Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu
nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos
fará lembrar de tudo o que vos tenho dito
(João 14.26);Quando, porém, vier o
Consolador, que eu vos enviarei da parte do
Pai, o Espírito da verdade, que dele procede,
esse dará testemunho de mim (João
15.26);Mas eu vos digo a verdade: convém-
vos que eu vá, porque, se eu não for, o
Consolador não virá para vós outros; se,
porém, eu for, eu vo-lo enviarei(João 16.7).

Jesus também ensina o mestre


Nicodemos, dizendo:
O que é nascido da carne é carne; e o que é
nascido do Espírito é espírito [...]. O vento
sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não
sabes donde vem, nem para onde vai; assim
é todo o que é nascido do Espírito (João
3.6,8).
177
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
É certo que José havia passado por essa
experiência descrita por Jesus, a do novo
nascimento, o nascimento do Espírito, tanto
que passou a ser reconhecido como Barnabé,
o “filho da exortação”, ou melhor, o “filho da
consolação” [paraklesis]. Quem quiser
receber também a mesma identidade de
procedência, precisa nascer de novo, nascer do
Espírito Santo, e andar sob a sua direção,
como fazia José Barnabé.
Filho de levi (levita)

A segunda identidade de procedência,


com a qual Barnabé foi selado, é a de “filho de
Levi”. Barnabé era um levita, portanto, um
filho de Levi. Havia outro levita famoso
mencionado por Jesus na parábola do Bom
Samaritano (Lucas 10.32). Será que Barnabé,
um dia, foi um levita como aquele, que passou
de largo para evitar um homem ferido na beira
da estrada? Pelo sim ou pelo não, o fato é que
neste caso ele aproveitou a oportunidade de
mostrar compaixão pelos necessitados,
178
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
doando voluntariamente o dinheiro da venda
de uma propriedade. Todos os que se
consideram religiosos, cedo ou tarde terão
oportunidades de mostrar compaixão
condizente com a fé que propaga. Se você é
daqueles que carrega o nome de crente em
qualquer lugar onde esteja, as pessoas vão
esperar que você aja como crente, que tenha
atitudes compatíveis. Não podemos fugir à
responsabilidade de nos comportarmos
conforme o exemplo de Jesus. Tiago (1.26) faz
um alerta para o fato de que,
Se alguém supõe ser religioso, deixando de
refrear a língua, antes, enganando o próprio
coração, a sua religião é vã. A religião pura e
sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é
esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações e a si mesmo guardar-se
incontaminado do mundo.

José soube exercer bem a sua


religiosidade, honrando e fazendo ser honrado
o título de “filho de Levi”.

179
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Filho de Chipre (natural de Chipre)

A Terceira identidade de procedência,


com a qual José Barnabé foi selado, é a de
filho de Chipre (natural de Chipre). Essa ilha
do Mediterrâneo, localizada entre a Cilícia e a
Síria, era fértil e encantadora. Existem outras
duas passagens, na Bíblia, onde se menciona
que alguém é procedente de Chipre. Em uma
dessas passagens, fala de discípulos
inovadores, que não se contentaram em pregar
somente aos judeus, mas pregaram também
aos gregos (Atos 11.20). Em outra, fala de um
velho discípulo chamado Mnasom, que
hospedou Paulo e sua equipe na fatídica
jornada até Jerusalém (Atos 21.16).
Será que essas três passagens revelam que
os habitantes da ilha tinham a fama de serem
boas pessoas? Levar a fama de fazer parte de
uma determinada comunidade pode ser uma
grande responsabilidade. Como será que as
pessoas reagem, ao dizermos o nome da igreja
que frequentamos? Qual será a nossa fama?
180
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Há uma música de Erasmo Carlos30, onde
ele brinca com a preocupação em manter sua
fama. Diz assim um trecho da letra:
Meu bem, chora, chora, e diz que vai embora.
Exige que eu lhe peça desculpas, sem
demora. E digo não, por favor, não insista e
faça pista; não quero torturar meu coração.
Perdão à namorada é uma coisa normal, mas
é que eu tenho que manter a minha fama de
mau!

Será que nós estamos preocupados em


manter a nossa fama, seja ela qual for? Paulo,
certa vez, apelou para uma espécie de
“chantagem emocional”, desafiando os
coríntios a serem generosos na contribuição
aos seus irmãos da Judéia, de modo que
comprovassem sua boa fama (2ª Coríntios 9.1-
4):

30
CARLOS, Erasmo, CARLOS, Roberto. Minha fama de mau.
Gravadora Elenco. Rio de Janeiro, 1983.
181
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Ora, quanto à assistência a favor dos santos,
é desnecessário escrever-vos, porque bem
reconheço a vossa presteza, da qual me
glorio junto aos macedônios, dizendo que a
Acaia está preparada desde o ano passado; e
o vosso zelo tem estimulado a muitíssimos.
Contudo, enviei os irmãos, para que o nosso
louvor a vosso respeito, neste particular, não
se desminta, a fim de que, como venho
dizendo, estivésseis preparados, para que,
caso alguns macedônios forem comigo e vos
encontrem desapercebidos, não fiquemos
nós envergonhados (para não dizer, vós)
quanto a esta confiança.

Enquanto Chipre, e até mesmo a Acaia,


podiam se orgulhar de sua boa fama, o mesmo
não se pode dizer a respeito de outra ilha,
Creta, porque a sua fama não era muito boa,
conforme Tito 1.12: “Foi mesmo, dentre eles,
um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre
mentirosos, feras terríveis, ventres
preguiçosos”.

182
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Conclusão

Quanto será que valem as nossas


“identidades de procedência”? Os gaúchos dos
Pampas e de outras regiões certificadas com o
“Registro de Indicação Geográfica”, podem se
gabar da boa qualidade dos seus produtos.
Barnabé, por sua vez, era um exemplo a ser
seguido, por seu amor prático, representando
bem os “filhos da exortação” (nascidos do
Espírito Santo), os “filhos de Levi”
(religiosos), e os “filhos de Chipre”, local de
seu nascimento. Todos esses podiam se
orgulhar do seu bom representante, e afirmar
confiantemente que José era um homem de
procedência.

183
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
17. Os pecados de Ananias e Safira (Atos
5.1-11)
Um belo casal. O nome dele, de acordo
com o Léxico Strong31 (SBB, 1999) significa:
"graciosamente dado pelo SENHOR". O nome
dela é uma pedra preciosa, mencionada várias
vezes na Bíblia, como em Êxodo 24.9,10: “E
subiram Moisés, e Arão, e Nadabe, e Abiú, e
setenta dos anciãos de Israel. E viram o Deus
de Israel, sob cujos pés havia uma como
pavimentação de pedra de safira, que se
parecia com o céu na sua claridade”.
Seus pais, ao lhes darem estes nomes,
certamente almejavam que protagonizassem
uma bela história, mas Ananias e Safira
ficaram famosos, infelizmente, por causa do
seu pecado. Venderam uma propriedade,
entraram em acordo, retiveram parte do valor,

31
STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong. Sociedade Bíblica
do Brasil (Bíblia Online). São Paulo, 1999

184
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
depositaram o restante aos pés dos apóstolos.
Foram repreendidos por tentarem mentir ao
Espírito Santo. Caíram, expiraram, foram
sepultados.
Vamos analisar, a seguir, os possíveis
pecados de Ananias e Safira, que provocaram
a ira de Deus, e que são tão comuns em nossos
dias:
O pecado do desvio de donativo

Eles podem ter se aproveitando da


situação favorável para vender um bem por um
bom preço, convencendo o comprador a pagar
um valor mais alto, alegando que era para
caridade. Esse tipo de pecado pode estar
ocorrendo, também, em nossos dias. Cito
como exemplo uma reportagem da revista

185
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
32
VEJA , veiculada em 2012, a qual diz o
seguinte, a respeito da Cruz Vermelha:
A organização [...] firmou sólida reputação
de neutralidade [...] completa 100 anos de
atividade justamente em 2012. Um
aniversário, infelizmente, tisnado por um
triste revés [...], investigação das contas
misteriosas, que vinha ocorrendo em
sindicâncias internas, extrapolou o âmbito da
organização em fevereiro, [...] Letícia Del
Ciampo [...] entrou com duas ações no
Ministério Público estadual [...] além de
constatar que Petrópolis não recebeu um
tostão do dinheiro que foi parar nas contas
secretas do Maranhão, ela descobriu desvios
em outras áreas. Ambulâncias novas que
deveriam estar servindo a região nunca
apareceram, e as antigas estão sem
manutenção há muito tempo, o que
praticamente inutilizou a frota. Há sinais de
problemas também em um convênio feito

32
LEITÃO, Leslie. MP detecta desvio milionário de doações à
Cruz Vermelha. São Paulo: Revista Veja (On Line), 06 ago. 2012.
Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/mp-aponta-
desvio-milionario-de-doacoes-a-cruz-vermelha. Acesso em 1º jul.
2016.

186
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
com o governo do Distrito Federal com o
objetivo de passar à Cruz Vermelha a gestão
de uma Unidade de Pronto Atendimento
(UPA) em Brasília. Em 2010, a Cruz
Vermelha-Petrópolis recebeu 3,7 milhões de
reais adiantados, mas ela nunca prestou
serviço algum e está sendo cobrada na
Justiça pela devolução do dinheiro. "A Cruz
Vermelha brasileira está cometendo crimes
contra a humanidade. Desde que assumi o
cargo, o que mais ouvi foram pessoas
dizendo que catástrofes são ótima
oportunidade para ganhar dinheiro", dispara
Letícia.

Também o site G133, mencionando o


Jornal Nacional em 2014, afirma:
Cruz Vermelha: R$ 17 milhões em doações
foram desviados para ONG Dinheiro teria

33
Cruz Vermelha: R$ 17 milhões em doações foram desviados
para ONG. São Paulo: Jornal Nacional (Online), 25 jul. 2014.
Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2014/07/cruz-vermelha-r-17-milhoes-em-doacoes-
foram-desviados-para-ong.html. Acesso em 1º jul. 2016.

187
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
sido doado para ajudar em quatro campanhas
humanitárias. Segundo auditoria, valores
foram repassados para instituto no
Maranhão. A Cruz Vermelha brasileira
anunciou nesta sexta-feira (25) que R$ 17
milhões em doações foram desviados para
uma ONG no Maranhão, entre os anos de
2010 e 2012. O dinheiro teria sido doado para
ajudar em quatro campanhas humanitárias:
para vítimas da chuva na Região Serrana do
Rio, combate à dengue no Brasil, tsunami no
Japão e para a Somália, que sofreu uma crise
alimentar por causa da seca.

É abominável aproveitar-se da miséria de


outros para se enriquecer. Provérbios 17.5 diz:
“O que escarnece do pobre insulta ao que o
criou; o que se alegra da calamidade não ficará
impune”.
O pecado da religiosidade como pretexto

Outro pecado que Ananias e Safira


podem ter cometido, que provocou a ira de
Deus, e que é tão comum em nossos dias, é o
de se aproveitar da religiosidade para realizar
seus propósitos obscuros.
188
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Cito como exemplo a questão do
“mercado gospel”, que é muito cobiçado por
seu potencial. Lemos no site Terra34, em 2015,
que
[...] A fé têm sido a tábua de salvação para
muitos negócios. Em certos casos,
literalmente. Com 42,2 milhões de potenciais
consumidores, segundo dados do Censo
2010 do IBGE, o mercado evangélico tem
gerado cada vez mais oportunidades para
quem busca empreender [...].

Segundo “Pequenas Empresas, Grandes


Negócios”35 (2015),

34
Mercado evangélico cresce ao apostar em consumidor fiel. Site
Terra, 07 dez. 2015. Disponível em:
https://www.terra.com.br/economia/vida-de-empresario/mercado-
evangelico-cresce-ao-apostar-em-consumidor-
fiel,ccccff10d0f6156d00846f3f517978c3mgqxuxdu.html. Acesso
em 04 dez. 2017.
35
SOUZA, Lázaro Evair de. A fé alavanca as vendas. Pequenas
Empresas, Grandes Negócios (Online), 2015. Disponível em:
http://revistapegn.globo.com/Empresasenegocios/0,19125,ERA4554
86-2482,00.html Acesso em 03 jul. 2016.

189
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Para muitos, é preciso ser evangélico para
fazer negócios nesse segmento. Outros
duvidam: 'Não necessariamente', diz o
empresário Elias de Carvalho, do Bom
pastor. 'Basta entender os códigos ou ter
alguém em sua equipe com esse
conhecimento', completa.

O site “O Fuxico Gospel”36 (2014) dá


umas dicas para se ter sucesso no mercado
gospel: “1 - criar uma grife de roupas; 2 –
Escrever uma biografia; 3 – Uma linha de
cadernos; 4 – Criar uma gravadora; 5 –
Tornar-se um pastor”.
Há muitos empreendimentos que podem
ser desenvolvidos sem más intenções, mas
sempre existe o perigo de se esquecer o
verdadeiro propósito da vida cristã. Paulo já
advertia, em 1ª Timóteo 6.5,6,10: “[...]
altercações sem fim, por homens cuja mente é

36
Dicas para ganhar muito dinheiro. Site O Fuxico Gospel, 2014.
Disponível em: http://www.ofuxicogospel.com/2014/03/5-dicas-
para-ganhar-muito-dinheiro-no.html. Acesso em 03 jul. 2016.

190
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
pervertida e privados da verdade, supondo
que a piedade é fonte de lucro. De fato, grande
fonte de lucro é a piedade com o
contentamento. [...] Porque o amor do
dinheiro é raiz de todos os males; e alguns,
nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos
se atormentaram com muitas dores”.
Um fato curioso nesta história é que
Ananias e Safira sofreram uma punição muito
severa, enquanto a gente vê tantas
barbaridades maiores sendo cometidas por
outras pessoas, sem que Deus lhes trate da
mesma maneira. Isso reforça a tese de que a
intervenção divina nos caminhos da
humanidade tem sido a mínima possível, como
um pai que dá instruções aos filhos e fica
observando de longe, para ver como se saem
no desenvolvimento de suas
responsabilidades. No final, sim, seremos
todos chamados em juízo e daremos

191
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
explicações de todos os nossos atos, recebendo
a sentença.
A história fala de outros momentos em
que a desaprovação de Deus se mostrou
devastadora e instantânea. Vejamos abaixo
alguns casos:
Nadabe e Abiú

Levíticos 10.1-3 conta que


Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram
cada um o seu incensário, e puseram neles
fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo
estranho perante a face do SENHOR, o que
lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante
do SENHOR e os consumiu; e morreram
perante o SENHOR. E falou Moisés a Arão:
Isto é o que o SENHOR disse: Mostrarei a
minha santidade naqueles que se cheguem a
mim e serei glorificado diante de todo o
povo. Porém Arão se calou.

Acã

Lemos em Josué 7.1, que


Prevaricaram os filhos de Israel nas coisas
condenadas; porque Acã, filho de Carmi,
192
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de
Judá, tomou das coisas condenadas. A ira do
SENHOR se acendeu contra os filhos de
Israel.

Então Acã, pego em seu pecado,


confessou, em Josué 7.21:
Quando vi entre os despojos uma boa capa
babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma
barra de ouro do peso de cinquenta siclos,
cobicei-os e tomei-os; e eis que estão
escondidos na terra, no meio da minha tenda,
e a prata, por baixo.

Finalmente, nos versículos 24 a 26, lemos


horrorizados a severa punição que Acã sofreu:
Então, Josué e todo o Israel com ele tomaram
Acã, filho de Zera, e a prata, e a capa, e a
barra de ouro, e seus filhos, e suas filhas, e
seus bois, e seus jumentos, e suas ovelhas, e
sua tenda, e tudo quanto tinha e levaram-nos
ao vale de Acor. Disse Josué: Por que nos
conturbaste? O SENHOR, hoje, te
conturbará. E todo o Israel o apedrejou; e,
depois de apedrejá-los, queimou-os. E
levantaram sobre ele um montão de pedras
[...].
193
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Punição esperada

Poderíamos ainda citar os casos de Uzá


(2º Samuel 6.6,7), e de Geazi (2º Reis 5.20-
27), mas o que é mais importante, agora, é
olharmos para o futuro. Lemos em Atos
17.30,31, que
Não levou Deus em conta os tempos da
ignorância; agora, porém, notifica aos
homens que todos, em toda parte, se
arrependam; porquanto estabeleceu um dia
em que há de julgar o mundo com justiça, por
meio de um varão que destinou e acreditou
diante de todos, ressuscitando-o dentre os
mortos.

Jesus advertiu em Mateus 12.36: “Digo-


vos que de toda palavra frívola que proferirem
os homens, dela darão conta no Dia do Juízo”.
Deus puniu exemplarmente Ananias e
Safira, assim como outros personagens ao
longo da história bíblica, e devemos ter isto
como um aviso. Não caiamos nos mesmos
pecados, tentando a Deus. Não sejamos meio-
cristãos, não amemos o mundo, nem as coisas
194
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
que há no mundo, pois Ananias e Safira
receberam severa punição, mas, e quanto a
nós? Será que não temos cometido piores
pecados? Que a graça e a misericórdia de
Deus, em Cristo Jesus, possam nos redimir.

195
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
18. A congregação do Senhor (Atos 5.12-
16)
Os apóstolos faziam milagres, e todos os
crentes comportavam-se de forma peculiar, de
forma que agradasse a população. Mas
ninguém ousava ajuntar-se a eles. Podemos
comparar a atitude da população do tempo
apostólico com os dias de hoje, pois vemos
que, da mesma forma, há grandes
ajuntamentos em jogos de futebol, shows,
bares e boates, e das pessoas que se ajuntam
nesses ou noutros lugares para a prática de
coisas que lhes dão prazer, poucos há que
ousariam se ajuntar para fazer o que fazem,
estando numa igreja. Apesar de ser comum
ouvirmos que “o mundo está perdido”, ainda
existe certo pudor que faz o povo distinguir o
que é um ambiente santo e o que é um
ambiente profano. Reunindo-se numa igreja,
as pessoas não ousariam se comportar como se
estivessem num estádio de futebol ou num bar.
Não ousam ajuntar-se aos crentes. Ainda bem!
196
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Outro dia, brincamos numa aula de Escola
Dominical, sugerindo que podíamos chamar
um grande astro pop para fazer um show e
assim encher a igreja. Por que não colocamos
essa ideia em prática? Porque é inconcebível,
tanto para nós quanto para os fãs do astro pop.
Apesar de a população não ousar ajuntar-
se aos discípulos, as pessoas lhes tributavam
grande admiração. A expressão original
poderia ser traduzida como: "eles
engrandeciam os crentes". Se eles
engrandeciam os crentes é porque acreditavam
que eram especiais, que realmente tinham uma
aliança com Deus, o que lhes dava privilégios
dignos de quem é amigo do Deus Poderoso. O
povo acreditava nisto, mas não queria se
ajuntar a eles. Pode ser que batessem palmas,
que os incentivassem a viverem uma vida de
fé, mas não queriam se ajuntar a eles.
Encontramos entre o povo de hoje muitos que
têm esse tipo de fé. Uma fé assim, no entanto,
197
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
não pode salvar suas almas. Para ser salvo
desta geração perversa, é preciso mais do que
admirar, engrandecer a Deus e aos seus filhos.
É preciso ter um tipo de fé que ousa ajuntar-se
a eles, colocar-se em posição de evidência,
pegar a Bíblia e caminhar até a igreja, ir para
o culto enquanto os colegas e conhecidos
ficam em casa, vão para os bares ou para o
estádio de futebol.
O resultado visível daquele movimento
histórico era que crescia mais e mais a
multidão de crentes, tanto homens como
mulheres, e eles estavam frequentemente
congregados. Podemos notar, pela narração do
texto indicado, que havia pelo menos três
motivos para eles se congregarem
frequentemente.
Adoração (12)

“[...] E costumavam todos reunir-se, de


comum acordo, no Pórtico de Salomão”.

198
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
A palavra adoração não aparece neste
texto, mas a ideia de adoração encontra-se no
fato de que eles se reuniam periodicamente no
templo, especificamente no Pórtico de
Salomão. O templo, todos sabem, é um lugar
de adoração. Foi idealizado e edificado para
promover a adoração.
Deus quer que nós o adoremos, porque
este é um dos motivos pelos quais ele nos
criou. Jesus, ao responder às tentações de
Satanás, citou o antigo testamento no trecho
em que diz: “[…] Ao Senhor, teu Deus,
adorarás, e só a ele darás culto” (Mateus
4.10; Lucas 4.8; Êxodo 23.24; Deuteronômio
5.9).
Todos os domingos, em nossa igreja, nos
reunimos para celebrar o que chamamos de
“culto de adoração”. Mas nós estamos, de fato,
adorando? Adorar significa prostrar-se de
forma humilhante. Já fui a mais de uma igreja
onde, em dado momento do culto, fomos
199
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
dirigidos a nos ajoelharmos no chão. Isto já
aconteceu também aqui em nossa igreja
algumas vezes, mas não é um hábito. Se nós
não nos prostramos literalmente, então o que
estamos fazendo em substituição a isso?
Temos uma forma melhor de adorar do que
literalmente nos prostrarmos fisicamente até o
chão?
O publicano de Lucas 18.13 tinha uma
forma melhor de adorar, pois ele ficou “em pé,
longe” e “não ousava nem ainda levantar os
olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó
Deus, sê propício a mim, pecador!”.
Ana, mãe de Samuel, também tinha uma
forma melhor de adorar, “porquanto Ana só no
coração falava; seus lábios se moviam, porém
não se lhe ouvia voz nenhuma;” (1º Samuel
1.13). Ana e o publicano se humilharam
perante o Senhor. Mesmo que não estivessem
fisicamente prostrados, estavam prostrados na
atitude do seu coração.

200
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Em algumas igrejas, as mulheres ainda
são orientadas a usar o véu, por causa de 1ª
Coríntios 11.5-15. O ato de cobrir a cabeça
simbolizava humildade por parte da mulher.
No mundo existe outras situações em que
cobrir a cabeça simboliza humildade. Por
exemplo, há muito tempo atrás, nas escolas, os
professores costumavam colocar os alunos
problemáticos num canto da sala, e colocavam
em suas cabeças um “chapeuzinho de burro”.
Existe também uma expressão que usamos
quando alguém se sente ofendido com algum
comentário que fizemos, achando que era uma
indireta para ele. Nós dizemos: “se a carapuça
serviu...” Em nossa igreja, não temos o hábito
de exigir o uso do véu, porque temos uma
forma melhor de mostrar submissão. Oramos
para que as mulheres de nossa igreja aprendam
a se comportar como Pedro orientou em 1ª
Pedro 3.3-5:
Não seja o adorno da esposa o que é exterior,
como frisado de cabelos, adereços de ouro,
201
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
aparato de vestuário; seja, porém, o homem
interior do coração, unido ao incorruptível
trajo de um espírito manso e tranquilo, que é
de grande valor diante de Deus. Pois foi
assim também que a si mesmas se ataviaram,
outrora, as santas mulheres que esperavam
em Deus, estando submissas a seu próprio
marido.

Nós, homens e mulheres, nos


congregamos para nos humilharmos diante de
Deus. Isto é o cerne da adoração. Ninguém
deve se congregar para se ostentar, mas para
se humilhar. Somos ensinados em Filipenses
2.3 que cada um deve considerar os outros
superiores a si mesmo. Se nós conseguirmos
praticar isto, vão acabar quase todos os nossos
problemas de relacionamento. Você já viu um
escravo reclamar porque o seu senhor não
notou a sua presença, porque não o
cumprimentou, porque foi indelicado com ele?
Jesus quer que nós nos tornemos escravos
(servos) uns dos outros por amor (Gálatas
5.13). Isto sim é que é uma boa adoração.

202
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Comprometimento (14)

“[…] E crescia mais e mais a multidão de


crentes, tanto homens como mulheres,
agregados ao Senhor”
A palavra traduzida para “agregados”, de
acordo com Strong (1999)37, é a palavra grega
prostithemi, que tem o significado de juntar-se
a uma companhia. Muitas vezes alguém me
pergunta: “por qual time você torce?”. Às
vezes eu digo que é o Internacional, às vezes
digo que é o Curitiba, às vezes o Palmeiras, e
às vezes eu digo que não torço por nenhum
time. Mas eu gostaria muito de dizer que jogo
no time de Jesus, que “visto a camisa”,
mesmo. Para que isto seja verdade, eu preciso
mostrar-me comprometido com o seu reino.
Era assim que a igreja primitiva se mostrava.

37
STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong. Sociedade Bíblica
do Brasil (Bíblia Online). São Paulo, 1999

203
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Se houvesse uma camisa de uniforme, eles iam
querer ter uma. Se tivesse um álbum de
figurinhas, iam querer colecionar. Iam colar
adesivos em seus violões e em suas motos e
carros, porque eles queriam estar praticamente
grudados com o Senhor e tudo o que se
relacionava com ele. Por isso se congregavam
frequentemente, para ouvir dos apóstolos tudo
o que Jesus falava e fazia. Nós devíamos ser
assim também na igreja, devíamos grudar nos
estudos, agarrar nas promessas de Deus,
decorar versículos, nos agregar à companhia
de Jesus.
Minha avó paterna não tinha muitos
luxos, se contentava com pouco e não me
lembro de ouvir, de sua parte, uma reclamação
sequer. Só uma coisa a deixava transtornada,
era quando perdia o seu pequeno rádio de
pilhas. Ela amava muito o seu rádio. Era
pequenino, cabia na palma de sua mão, e ela
se deitava sempre com ele ligado, bem
pertinho do seu ouvido, para escutar, de
204
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
madrugada, o seu programa favorito, o
programa do “Zé Bettio”. Quando ela
procurava o rádio e não o encontrava, saía pela
casa perguntando: “Alguém viu o meu Zé
Bettio”? Era o nome do seu rádio de pilhas.
Nós devíamos ser zelosos assim para ouvir, na
congregação, tudo o que se relaciona com o
nosso Senhor Jesus. Devíamos ser como
Maria, irmã de Marta que, segundo Lucas
10.38-42, não perdia por nada neste mundo
uma oportunidade de ouvir o que Jesus tinha
para dizer. Ela se desligava de tudo para ouvir
o Mestre quando ele falava, assim como os
homens fazem hoje para assistir a um jogo de
final de campeonato.
Mostrar-nos comprometidos, agregados
ao Senhor Jesus, eis um bom motivo para
estarmos congregados.
Busca de curas (15,16)

“[...] e todos eram curados”.

205
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Todos os que se congregavam pedindo
curas, eram curados. Por que isto não acontece
hoje? Por que muitos vêm à igreja pedindo
cura, mas não são curados? Vamos analisar
com mais calma esta questão. Será que, de
fato, não existem mais milagres?
Eu me lembro de um acontecimento que,
para mim, foi muito marcante, uma postagem
de um irmão, no grupo da igreja, quando ele
foi curado do câncer na garganta. Ele tirou
uma foto de seus joelhos no chão, dizendo que
esta era a posição que ele prontamente
assumiu ao sair do consultório, depois de
receber a notícia de que o tratamento havia
tido um excelente resultado, e que havia sido
curado de um câncer na garganta. Foi um
milagre! Todos sabem que as pessoas não se
curam de câncer facilmente. Quem conheceu
este irmão, e sabe de quem estou falando,
talvez me diga: “você não sabe que esse irmão
morreu de câncer?” De fato, ele morreu de
câncer, porque havia outro câncer atingindo o
206
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
seu pulmão, e desse outro ele não foi curado.
Mas a alegria que ele sentiu e a glória que ele
deu a Deus na cura do primeiro câncer foram
legítimas e o acontecimento foi reconhecido,
de fato, como um milagre.
Outra irmã, esposa de pastor, muito
querida em nossa igreja, certa vez escapou da
morte por um milagre. Se você soubesse de
quem estou falando, certamente protestaria em
seu íntimo: “você não sabe que essa irmã
morreu por causa de um terrível câncer? Que
oramos fervorosamente, mas não fomos
atendidos quanto à sua cura?” Mas eu estou
me referindo ao que aconteceu 20 anos antes
de sua morte, quando ela tinha cerca de 54
anos, e escapou da morte num acidente
extremamente grave, no caminho para o
seminário onde lecionava. Segundo o
testemunho do pastor, seu marido, ela chegou
a morrer e ressuscitar várias vezes, deitada na
beira da estrada, enquanto o pastor orava
207
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
pedindo a Deus que ela não morresse. Ela
milagrosamente sobreviveu, voltou a dirigir, e
exerceu diligentemente o seu ministério até
aos 74 anos, quando o Senhor a tomou para si.
Isto foi um dos muitos milagres que a nossa
igreja já presenciou.
“Mas espere um pouco!”, diria um irmão
de coração inflamado. “Não force a barra! O
novo testamento narra milagres excepcionais.
Paralíticos andando, cegos enxergando,
mortos ressuscitando. É disto que estamos
falando quando dizemos que na igreja
primitiva se operavam milagres”. Aqueles
milagres eram mesmo excepcionais. Lázaro,
por exemplo, irmão de Marta e Maria, foi
ressuscitado depois de quatro dias, quando seu
corpo já estava em decomposição. Mas
desviemos um pouco o nosso olhar para além
deste acontecimento extraordinário. Vamos
olhar mais em redor. Alguém porventura acha
que, depois deste milagre, Lázaro e suas irmãs
viveram felizes para sempre? Quando um
208
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
pregador muito empolgado narra
eloquentemente este milagre, ele pode levar a
congregação ao delírio. Mas um pregador
honesto deve admitir que este não foi o final
da história. Basta ler João 12. 10, 11, e
ficaremos sabendo que “[...] os principais
sacerdotes resolveram matar também Lázaro;
porque muitos dos judeus, por causa dele,
voltavam crendo em Jesus”. É isto! Lázaro não
deve ter aproveitado por muito tempo sua vida
ressurreta. É quase certo que os judeus logo o
assassinaram.
Você vai à sua igreja em busca de um
milagre? Você não está errado, nem querendo
demais. Você precisa mesmo ter fé. Sem fé é
impossível agradar a Deus; “[…] é necessário
que aquele que se aproxima de Deus creia que
ele existe e que se torna galardoador dos que
o buscam” (Hebreus 11.6). Tenha fé, e Deus
lhe fará milagres. As irmãs de Lázaro,
provavelmente, tiveram que suportar a tristeza
209
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
e a angústia da perseguição e, provavelmente,
o assassinato de seu irmão querido, mas antes
tiveram a maravilhosa experiência de que o
Senhor é bondoso, pois receberam seu
milagre.
O irmão e a irmã de nossa igreja, dos
quais falei acima, partiram precocemente, nos
deixando angustiados e com saudades, mas
antes também tiveram a experiência de que o
Senhor é bondoso, e receberam os seus
milagres.
Reflexão

Quando estivermos congregados em


nossa igreja, vamos nos lembrar de que
estamos reunidos para a verdadeira adoração,
para nos mostrarmos comprometidos com o
Senhor, querendo aprender e nos apropriar de
tudo o que lhe diz respeito. E tenhamos fé,
porque ele é poderoso para atender aos nossos
pedidos, nos dar paz em meio às tribulações.

210
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Ele ainda é, e sempre será, o Deus que faz
milagres. Contemos com isto.
Gostaria de deixar também uma palavra a
você, que ainda não se juntou a nós. Oro para
que, um dia, você tenha a “ousadia” de fazê-
lo. Que Deus, por sua graça e misericórdia, nos
reúna e nos conserve sempre como a
Congregação do Senhor.

211
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
19. Conflito de poderes (Atos 5.17-25)
Muitos falam, hoje em dia, sobre o perigo
de haver uma crise entre poderes, no nosso
país. Durante o processo de impeachment, em
2016, havia um presidente interino e uma
presidente afastada. Grande parte das
autoridades que julgavam a presidente eram
também alvos de graves acusações. Nos vários
processos em curso envolvendo políticos,
observava-se que um juiz mandava prender, e
outro mandava soltar; um juiz mandava
bloquear bens e outro mandava desbloquear.
Estes conflitos, porém, são considerados
normais dentro de um país democrático. Há
instâncias inferiores e instâncias superiores.
Há delimitações na esfera de atuação entre os
três poderes da república. Não haveria estes
conflitos se hão houvesse democracia. Assim,
podemos dizer que o conflito entre os poderes
é como um “efeito colateral” da democracia.
O texto indicado nos faz lembrar que Deus
permitiu que os homens tivessem poderes
212
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
espirituais, que muitas vezes geram conflito,
mas também acabam contribuindo para o
avanço do evangelho.
O poder da inveja (17,18)

Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e


todos os que estavam com ele, isto é, a seita
dos saduceus, tomaram-se de inveja,
prenderam os apóstolos e os recolheram à
prisão pública.

O poder da inveja é muito grande e


contribui para o mal. Tiago 3.16 diz que “onde
há inveja e sentimento faccioso, aí há
confusão e toda espécie de coisas ruins”. O
poder da inveja é classificado como um dos
mais nocivos em Provérbios 27.4: “Cruel é o
furor, e impetuosa, a ira, mas quem pode
resistir à inveja?”. Sabemos, por meio de
Marcos 15.10 e Mateus 27.18, que foi por
inveja que Cristo foi entregue a Pilatos para
ser crucificado.

213
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Mas o poder da inveja pode ser revertido
para o bem. Eclesiastes 4.4 diz que “todo
trabalho e toda destreza em obras provêm da
inveja do homem contra o seu próximo”. Já vi
muitos automóveis com adesivos dizendo:
“Não tenha inveja. Faça como eu: trabalhe”. A
inveja acaba trazendo coisas boas se, por causa
dela, os homens se tornam mais produtivos.
Até mesmo quando se fala de evangelização,
pois Paulo disse em Filipenses 1.15, que
“alguns, efetivamente, proclamam a Cristo
por inveja e porfia”.
Quando aconteceu a reforma protestante,
a Igreja Católica foi abalada, e um dos
resultados foi que ela se viu obrigada a
apressar algumas reformas que já vinham
sendo amadurecidas há décadas ou séculos
antes. Nós podemos dizer, de certa forma, que
a inveja do sucesso do movimento protestante
levou a Igreja Católica a apressar sua própria
reforma, e alguns historiadores chamam essa
reação de “contrarreforma”. Um dos
214
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
resultados mais significantes desta reforma
católica foi o surgimento da “Companhia de
Jesus”, cujos membros eram chamados de
Jesuítas. Para nós, brasileiros, isto é ainda
mais relevante, pois foram os jesuítas os
maiores responsáveis pela evangelização do
Brasil, desde os primórdios do
“descobrimento”. Lemos na Wikipédia que38

“Desde 1549 chegara ao Brasil (Bahia) o


primeiro grupo de seis missionários
liderados por Manuel da Nóbrega, trazidos
pelo governador-geral Tomé de Sousa.
Certamente a maior obra jesuítica em terras
brasileira consistiu na fundação de São Paulo
de Piratininga em torno do seu famoso
colégio, ponto de origem da expansão
territorial e da colonização do interior do
país. As missões jesuítas na América Latina
foram controversas na Europa,
especialmente na Espanha e em Portugal,

38
Companhia de Jesus. Wikipédia. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus Acesso em: 28
jul. 2016.

215
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
onde eram vistas como interferência na ação
dos reinos governantes. Os jesuítas
opuseram-se várias vezes à escravidão
indígena. Eles fundaram uma série de
aldeamentos missionários - chamados
missões ou misiones no sul do Brasil, ou
ainda reducciones, no Paraguai - organizados
de acordo com o ideal católico, que, mais
tarde, acabaram sendo destruídos por
espanhóis, e principalmente por portugueses,
à cata de escravos”.

O poder da inveja dos sacerdotes e dos


demais saduceus lançou os apóstolos na
prisão, mas esse conflito somente atiçou mais
ainda o desejo deles de continuar sua obra de
evangelização e de promoção do Reio de
Deus.
O poder da obediência (19 -24)

Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as


portas do cárcere e, conduzindo-os para fora,
lhes disse: Ide e, apresentando-vos no
templo, dizei ao povo todas as palavras desta
Vida. Tendo ouvido isto, logo ao romper do
dia, entraram no templo e ensinavam.
Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que
com ele estavam, convocaram o Sinédrio e
216
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
todo o senado dos filhos de Israel e
mandaram buscá-los no cárcere. Mas os
guardas, indo, não os acharam no cárcere; e,
tendo voltado, relataram, dizendo: Achamos
o cárcere fechado com toda a segurança e as
sentinelas nos seus postos junto às portas;
mas, abrindo-as, a ninguém encontramos
dentro. Quando o capitão do templo e os
principais sacerdotes ouviram estas
informações, ficaram perplexos a respeito
deles e do que viria a ser isto.

Um anjo foi enviado para resolver o


problema que se formava na terra. Já imaginou
se os anjos não obedecessem ao Senhor? E se
os apóstolos não obedecessem? Eles podiam
questionar: “Mas como eu vou pregar no
templo, se as autoridades nos prenderam por
causa disso”?
A obediência cega levou os jesuítas ao
sucesso. Loyola, o fundador da Companhia de

217
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Jesus, disse : “Acredito que o branco que eu
39

vejo é negro, se a hierarquia da igreja assim o


tiver determinado”. Sua obediência era
louvável, o problema é que estava direcionada
a mortais falhos e potencialmente corruptos.
Às vezes, obedecer é difícil. Parece que a
ordem não faz sentido. Acho que Filipe sentiu-
se assim, quando Deus o mandou ir à estrada
de Jerusalém a Gaza (Atos 8.26). O discípulo
Ananias, mesmo sendo obediente, quando o
Senhor lhe mandou ir visitar Saulo, respondeu:
“Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito
desse homem, quantos males tem feito aos teus
santos em Jerusalém” (Atos 9.13). Paulo e os
companheiros provavelmente não entenderam
por que o Espírito os impediu de pregar em
Bitínia (Atos 16.7), mas atenderam

39 Companhia de Jesus. Wikipédia. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus Acesso em: 28
jul. 2016.

218
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
prontamente quando entenderam que deviam
partir para a Macedônia.
A obediência aos mandamentos de Deus
e à fé em Jesus podem nos colocar em muitas
situações de conflito, seja com autoridades,
seja com familiares, com melhores amigos,
com pessoas amadas, e até com nossos íntimos
desejos, mas Jesus nos ensinou a orar ao Pai:
“faça-se a tua vontade, assim na terra como
no céu” (Mateus 6.10). Ele mesmo, em grande
conflito, no Monte das Oliveiras, orou ao Pai:
“não se faça a minha vontade, e sim a tua”
(Lucas 22.42).
O poder da vida (25)

“Nesse ínterim, alguém chegou e lhes


comunicou: Eis que os homens que
recolhestes no cárcere, estão no templo
ensinando o povo”.
Os discípulos ainda estavam vivos. Foi
inútil a tentativa dos sacerdotes, de intimidá-
219
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
los. Libertados do cárcere, eram como brotos
renascendo, provando a força recebida de sua
raiz.
O poder da vida é dado por Deus, a
princípio, sem distinção, inclusive para quem
atenta contra a vida, como os que praticam o
terrorismo, que o mundo contemporâneo tem
lutado para desarraigar, mas sem sucesso. Por
mais que incrementem os aparatos de
segurança, os atentados vão surgindo de onde
menos se espera. O terrorismo trabalha para
impor o medo, e tendo recebido, de Deus, o
poder da vida, pretendem impor sua vontade
pelo terror da morte.
A vontade de Deus, porém, é que a vida
espiritual seja multiplicada por meio de sua
palavra, como diz Isaías 55.10,11:
Porque, assim como descem a chuva e a neve
dos céus e para lá não tornam, sem que
primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a
façam brotar, para dar semente ao semeador
e pão ao que come, assim será a palavra que
sair da minha boca: não voltará para mim
220
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
vazia, mas fará o que me apraz e prosperará
naquilo para que a designei.

Enquanto tivessem o poder da vida, não


haveriam conflitos que impedissem os
apóstolos de anunciarem a Palavra de Deus,
conforme já haviam declarado Pedro e João:
“[...] Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos
antes a vós outros do que a Deus; pois nós não
podemos deixar de falar das coisas que vimos
e ouvimos” (Atos 4.19,20).
Conclusão:

A inveja não é um bom guia, e a vida, sem


orientação correta, pode nos dar forças para
ofender o seu próprio Autor. Por isso, se
pudéssemos mensurar esses três poderes, o
maior seria o poder da obediência. Não a
obediência cega, mas uma obediência
iluminada pela Palavra de Deus. Assim
orientados, caminharemos para o equilíbrio,
em vez de conflito entre poderes.

221
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
20.Despertando Sentimentos (Atos 5.26-33)

Anos atrás, o assassinato da vereadora


Marielle causou muita comoção da população,
e houve manifestações populares em várias
cidades do país e até no exterior40. Muitas
pessoas morrem assassinadas todos os dias,
mas Marielle era uma mulher diferente, que
representava uma ideologia amada por alguns,
e odiada por outros. Da mesma forma, a
história deste parágrafo de Atos mostra que o
comportamento e a pregação dos apóstolos
despertavam sentimentos variados,
especialmente entre os judeus, que tinham
ciúmes do sucesso e da expansão da Igreja.

40
Semana começa com protestos contra a morte de Marielle no
Brasil e na Europa. Folha de São Paulo (online), 17/03/2018.
Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/03/semana-comeca-
com-protestos-contra-a-morte-de-marielle-no-brasil-e-na-
europa.shtml Acesso em 19 mar. 2018.

222
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Sentimento de respeito (26,27)

Nisto, indo o capitão e os guardas, os


trouxeram sem violência, porque temiam ser
apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos,
apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo
sacerdote interrogou-os.

Um dos sentimentos despertados pelo


comportamento e a pregação dos apóstolos
entre o povo é o respeito. Os apóstolos faziam
curas, livraram-se da prisão de forma
miraculosa, e eram praticamente venerados
pelo povo, que ficaria revoltado caso os
soldados os tratassem com violência na sua
frente.
Muitos líderes religiosos são respeitados
pelas autoridades. Silas Malafaia41, por
exemplo, recebeu título de cidadão benemérito

41
Conheça o pastor Silas Malafaia. São Paulo: Último Segundo -
iG @, 11/09/2012. Disponível em:
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-09-11/conheca-o-pastor-
silas-malafaia.html. Acesso em 18 mar. 2018.

223
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Eu tenho uma carteirinha de pastor, onde
constam alguns direitos garantidos por lei, que
me dão certos privilégios na hora de pedir
entrada num hospital. As igrejas no Brasil
estão isentas de impostos, pois o governo
reconhece a importância dessa instituição na
sociedade.
Um bom exemplo de que os cristãos, ao
longo do tempo, foram conquistando respeito,
inclusive pela mídia, é o caso dos cantores
gospel, que ultimamente têm sido chamados
para apresentações em programas de grande
audiência, e para entrevistas em rede nacional.
Em seu livro “A explosão gospel”42,
Magali do Nascimento Cunha cita Sandro

42
CUNHA, Magali do Nascimento. A explosão gospel: um olhar
das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil. Rio de
Janeiro: Mauad X: Instituto Mysterium, 2007.

224
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Baggio, para falar da trajetória dos cantores
gospel desde os pioneiros até os mais
modernos:
O primeiro cantor evangélico a inserir o
violão como instrumento musical litúrgico
foi Luiz de Carvalho, que ousou utilizá-lo
ainda nos anos 60 para acompanhar
composições religiosas de sua autoria que
continham ritmos populares. Foi o primeiro
a gravar um LP evangélico no Brasil.

A autora diz ainda que


A introdução dos “corinhos” começou por
volta dos anos 1950-1960 no Brasil,
especialmente por meio de organizações
como Palavra da Vida, Jovens da Verdade,
Mocidade para Cristo e Serviço de
Evangelização para a América Latina
(Sepal). Muitos dos corinhos mais antigos,
cantamos até hoje em nossa Igreja, como “há
momentos em que as palavras não resolvem,
mas um gesto de Jesus demonstra amor por
nós”. [...] Houve reação negativa das
comunidades à nova experiência musical, em
especial à tentativa de utilização de
instrumentos considerados profanos, como o

225
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
violão e o teclado. [...] Este quadro se alterou
nos anos 70 pela influência do Movimento de
Jesus e o surgimento dos conjuntos musicais
jovens. O movimento de Jesus foi fruto de
uma estratégia de evangelismo realizada nas
ruas no final dos anos 60, nos EUA [...].
Começaram a surgir “iniciativas até então
inovadoras como um nightclub e um café
aberto 24 horas para a juventude”. No Brasil,
como parte desta influência, surgiram
Vencedores por Cristo, Palavra da Vida e
grupo Elo, gravando discos que eram
distribuídos em livrarias evangélicas. “Todo
este processo que criou os corinhos dos anos
50 e 60, o Movimento de Jesus e a revolução
musical jovem dos anos 70 faz parte da
gênese do que é hoje denominado
movimento gospel, cuja explosão acontece
nos anos 1990. [...] A banda chamada
Rebanhão, formada no Rio de Janeiro em
1985, ficou conhecida como a precursora do
rock gospel brasileiro”. Depois veio a Igreja
Renascer em Cristo, a Igreja Universal, a
gravadora MK Music, que lançaram dezenas
de cantores gospel, expandindo um conceito
empreendedor ao estilo de empresas
seculares. Hoje os cantores gospel são
respeitados por toda a sociedade, a ponto de
aparecerem em programas nacionais de TV

226
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
em pé de igualdade com os cantores
seculares.

Tomando como exemplo a “Explosão


Gospel”, nós podemos dizer que, assim como
os primeiros discípulos, também nós,
evangélicos do Brasil atual, inspiramos um
certo sentimento de respeito diante das
pessoas no meio em que vivemos.
Rancor (28,29)

[...] dizendo: Expressamente vos ordenamos


que não ensinásseis nesse nome; contudo,
enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e
quereis lançar sobre nós o sangue desse
homem. Então, Pedro e os demais apóstolos
afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus
do que aos homens.

Um segundo sentimento despertado pelo


comportamento e a pregação dos apóstolos
entre o povo é o rancor. Os apóstolos, apesar
de terem sido tratados com respeito, não
estavam seguindo as instruções dos
sacerdotes. Além disso, sua mensagem
227
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
forçosamente lhes era ofensiva, pois era parte
integrante da mensagem do evangelho a
afirmação de que Jesus tinha morrido
injustamente, sem ter nenhum pecado,
deixando assim os acusadores e julgadores do
Filho de Deus numa situação, no mínimo,
delicada, diante do povo, por terem condenado
um inocente. A resposta dos apóstolos à
repreensão dos sacerdotes derruba de vez a
esperança que as autoridades poderiam ter de
controlar a situação. Ficou claro para eles que
os apóstolos não iam ceder às suas ameaças,
pois alegavam ter recebido ordens diretas de
Deus para continuar testificando.
Este sentimento de rancor tem se
reproduzido em pessoas que convivem com
crentes. Um dos primeiros jovens que
frequentaram nossa igreja, um recém
convertido, certa vez compartilhou que sua
mãe ficou ressentida porque ele não quis mais
ir à padaria comprar cigarros para ela, como
era o costume antes de se converter. Uma outra
228
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
jovem, alguns anos atrás, deu testemunho de
que sua mãe brigou com ela porque recusou
um emprego que a impediria de assistir aos
cultos nos domingos. Quando eu e minha
esposa nos convertemos, tivemos grandes
dificuldades para explicar a um casal de
amigos que não iríamos mais batizar o nosso
filho na igreja católica, e eles tinham vindo de
São Paulo especialmente para serem
padrinhos. Ficaram muito chateados e nossa
amizade se esfriou por algum tempo. Quase
perdemos a amizade. Um jovem crente com
uma carreira promissora deixou o patrão
decepcionado porque não quis mentir a
respeito de um sorteio a clientes num
programa de rádio, como seu superior havia
orientado. Histórias como estas são muito
comuns para aqueles que se entregam a Jesus
de todo o coração, procurando fazer a sua
vontade. Aqueles que decidem obedecer a

229
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Deus estão sujeitos a despertar este sentimento
de rancor nas pessoas ao seu redor.
Gosto muito de uma música que aprendi
nos primeiros dias de minha vida cristã, e que
expressa muito bem o dilema enfrentado
constantemente por um servo fiel a Deus:
“Estou seguindo a Jesus Cristo, deste
caminho, eu não desisto [...] Se me deixarem
os pais e amigos, se me cercarem muitos
perigos, atrás não volto, não volto mais [...].”
Ira (30-33)

O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a


quem vós matastes, pendurando-o num
madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o
exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de
conceder a Israel o arrependimento e a
remissão de pecados. Ora, nós somos
testemunhas destes fatos, e bem assim o
Espírito Santo, que Deus outorgou aos que
lhe obedecem. Eles, porém, ouvindo, se
enfureceram e queriam matá-los.

Existe ainda outro sentimento que foi


despertado pelo comportamento e a pregação
230
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
dos apóstolos entre o povo: a ira das
autoridades. O testemunho dos apóstolos era,
para os anciãos, um incômodo insuportável.
Estavam se sentindo como feras acuadas, cuja
reação natural é atacar quem as ameaça.
João Batista teve que enfrentar uma
“fera” assim. Foi preso pelo rei Herodes
quando repreendeu sua conduta pecaminosa.
Jesus advertiu seus discípulos em João
15.18,19: “Se o mundo vos odeia, sabei que,
primeiro do que a vós outros, me odiou a mim.
Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o
que era seu; como, todavia, não sois do
mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por
isso, o mundo vos odeia”. O apóstolo João nos
exorta em sua primeira carta geral: “Irmãos,
não vos maravilheis se o mundo vos odeia” (1ª
João 3.13). Ao afirmar isto, João talvez tivesse
em mente uma consolação de Jesus no sermão
da montanha: “Bem-aventurados sois quando,
por minha causa, vos injuriarem, e vos
231
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal
contra vós” (Mateus 5.11).
Em Atos 19.23-27 nós temos uma clara
ilustração da verdade de que os efeitos de um
testemunho e de uma pregação obediente a
Deus podem atrair um sentimento de ira:
Por esse tempo, houve grande alvoroço
acerca do Caminho. Pois um ourives,
chamado Demétrio, que fazia, de prata,
nichos de Diana e que dava muito lucro aos
artífices, convocando-os juntamente com
outros da mesma profissão, disse-lhes:
Senhores, sabeis que deste ofício vem a
nossa prosperidade e estais vendo e ouvindo
que não só em Éfeso, mas em quase toda a
Ásia, este Paulo tem persuadido e
desencaminhado muita gente, afirmando não
serem deuses os que são feitos por mãos
humanas. Não somente há o perigo de a
nossa profissão cair em descrédito, como
também o de o próprio templo da grande
deusa, Diana, ser estimado em nada, e ser
mesmo destruída a majestade daquela que
toda a Ásia e o mundo adoram.

232
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Conclusão

Devemos dar testemunho de nossa


salvação, e zelar pelos princípios da Palavra de
Deus, sem temer a reação daqueles que podem
nos fazer mal. Sabe qual é um claro sinal de
que estamos fazendo bem a vontade de Deus?
Quando o sentimento do mundo a nosso
respeito passar do respeito ao rancor e ao ódio.
Não nos deixemos abater pela resistência das
pessoas ao nosso redor para com a mensagem
do evangelho. Somos chamados para uma
batalha na qual já temos a vitória garantida.
Lembremo-nos da profecia proferida em
Mateus 16.18 “Também eu te digo que tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela”. Os sentimentos do
mundo são variados e, às vezes, imprevisíveis,
diante de fatos como o assassinato da
vereadora Marielle, ou de uma possível
expansão do evangelho impulsionada por
233
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
crentes que se tornem fiéis. Mas não é nossa
atribuição gerenciar sentimentos, e sim
obedecermos a Deus, venha o que vier.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
21. Respeito e dignidade (Atos 5.34-42)
Os apóstolos estavam prestes a serem
mortos pelos judeus, que não viam outro meio
de fazê-los parar de anunciar a Cristo
ressuscitado como o Messias prometido. Mas
Deus, surpreendentemente, suscitou-lhes um
defensor dentre os seus próprios inimigos, um
respeitado mestre da lei, chamado Gamaliel.
Este deu conselho aos seus pares para que
refletissem, deixando os apóstolos seguirem
para ver no que ia dar.
Será que Gamaliel convenceu-se de que
tinham matado Jesus injustamente, e quis
conter os judeus para que não cometessem o
mesmo erro novamente? Afinal, eram
honrados anciãos da nação de Israel, e tinham
que agir de acordo com a sua dignidade. O
discurso de Gamaliel e a narrativa deste
episódio nos faz pensar em pelo menos três
caminhos que as pessoas seguem para adquirir
respeito e dignidade.
235
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Um dos caminhos escolhidos pelas
pessoas é a instrução. Os versículos 34 e 35
dizem que um fariseu chamado Gamaliel,
mestre da lei, acatado por todo o povo,
levantou-se no Sinédrio, “mandou retirar os
homens, por um pouco, e lhes disse: Israelitas,
atentai bem no que ides fazer a estes homens”.
Gamaliel, ao que parece, foi um homem
bem decidido. Escolheu um caminho e o
perseguiu com excelência. Chegou a um ponto
em que era considerado digno de muita honra,
tendo se tornado um mestre da lei. O povo
todo o reconhecia e o acatava. Com certeza
não foi fácil para Gamaliel conquistar essa
posição. Para ser um doutor é preciso “ralar”
muito. Quem atinge esse grau, como Gamaliel
atingiu, merece ser chamado de doutor.
Há um grande perigo, porém, quando
conquistamos títulos, porque temos a
tendência de valorizar um título mais do que o
bom senso exige. Um bom doutor precisa ter
humildade como parte de suas virtudes. Esta
236
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
questão é bastante explorada na cultura
popular. Veja, por exemplo, um trecho da
música chamada “A Enxada e a Caneta”
(Teddy Vieira - Capitão Barduíno)43:
[...] A enxada respondeu:
- De fato, eu vivo no chão
Pra poder dar o que comer e vestir o seu
patrão
Eu vim no mundo primeiro, quase no tempo
de Adão
Se não fosse o meu sustento, ninguém tinha
instrução
Vai-te, caneta orgulhosa, vergonha da
geração
A tua alta nobreza não passa de pretensão
Você diz que escreve tudo, tem uma coisa
que não
É a palavra bonita que se chama educação

43
MARIGLIANI, Pedro Astenori, AZEVEDO, Teddy Vieira. A
enxada e a caneta. Disponível em:
http://www.beakauffmann.com/mpb_a/a-enxada-e-a-caneta.html.
Acesso em 08 abr. 2018.

237
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
Outro caminho que, infelizmente, é muito
usado para se adquirir respeito e dignidade é a
usurpação. Gamaliel continua falando nos
versículos 36 a 39 que, antes daqueles dias,
[...] se levantou Teudas, insinuando ser ele
alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de
quatrocentos homens; mas ele foi morto, e
todos quantos lhe prestavam obediência se
dispersaram e deram em nada. Depois desse,
levantou-se Judas, o galileu, nos dias do
recenseamento, e levou muitos consigo;
também este pereceu, e todos quantos lhe
obedeciam foram dispersos. Agora, vos digo:
dai de mão a estes homens, deixai-os;
porque, se este conselho ou esta obra vem de
homens, perecerá; mas, se é de Deus, não
podereis destruí-los, para que não sejais,
porventura, achados lutando contra Deus. E
concordaram com ele.

Gamaliel mencionou, nessa fala, duas


personagens históricas, as quais se encaixam
bem na categoria de usurpadores. Eles não
eram o que diziam ser, mas tinham muito
poder de persuasão e atraíram multidões atrás
de si. Uma dessas personagens era um homem
238
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
chamado Teudas, do qual lemos, na
Wikipédia44, que:
Seu nome, se for composto em grego, pode
significar "presente de Deus", apesar de
outros estudiosos acreditarem que sua
etimologia seja semítica e poderia significar
"flui com a água". Provavelmente, atuou
como um pregador messiânico (muito
recorrente na Judeia do século I) que se
propunha a liderar massas judaicas, para
fins de renovação religiosa e social.
Proclamando-se um profeta mandado por
Deus para socorrer o povo judeu que sofria
sob o "status quo" vigente (inclusive a
dominação romana), ele recorreu à tradição
do herói nacional, Moisés, assegurando
ser capaz de "abrir as águas" do rio
Jordão.

Existe, entretanto, um terceiro caminho, o


qual foi escolhido pelos discípulos, para
adquirir respeito e dignidade, que foi o

44
Teudas. Wikipedia. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teudas Acesso em 08 abr. 2018.

239
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
caminho da resignação. Lemos nos versículos
40 a 42 que,
Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e,
ordenando-lhes que não falassem em o nome
de Jesus, os soltaram. E eles se retiraram do
Sinédrio regozijando-se por terem sido
considerados dignos de sofrer afrontas por
esse Nome. E todos os dias, no templo e de
casa em casa, não cessavam de ensinar e de
pregar Jesus, o Cristo.

Os discípulos foram açoitados por falar


no nome de Jesus, mas não ficaram revoltados,
antes eles se regozijaram por terem sido
considerados dignos de sofrer afrontas por
esse Nome. Resignaram-se à vontade de Deus,
que é boa, agradável e perfeita. Se eles tinham
que sofrer, sofreriam com alegria, porque
assim poderiam retribuir um pouco do que
Jesus fez pela salvação de homens pecadores.
A resignação dá dignidade porque mostra
a nossa fé em Deus. Mesmo que o mundo não
reconheça, seremos reconhecidos no céu.
Segundo Hebreus 11.38, o mundo é que não é
240
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
digno daqueles que creem a ponto de se
resignarem ao sofrimento, sabendo que, se ele
nos afligir, é porque isto faz parte dos planos
de Deus para nossas vidas.
Leiamos o texto (Hebreus 11.36-38):
[...] outros, por sua vez, passaram pela prova
de escárnios e açoites, sim, até de algemas e
prisões. Foram apedrejados, provados,
serrados pelo meio, mortos a fio de espada;
andaram peregrinos, vestidos de peles de
ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos,
maltratados (homens dos quais o mundo não
era digno), errantes pelos desertos, pelos
montes, pelas covas, pelos antros da terra.

Paulo dá voz aos sentimentos dos


apóstolos, que se resignaram diante de tantas
aflições, para poderem cumprir sua nobre
missão de evangelizar a todos quanto fosse
possível. Em 1ª Coríntios 4.9-13 ele diz:
Porque a mim me parece que Deus nos pôs a
nós, os apóstolos, em último lugar, como se
fôssemos condenados à morte; porque nos
tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos,
241
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
como a homens. Nós somos loucos por causa
de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós,
fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós,
desprezíveis. Até à presente hora, sofremos
fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados,
e não temos morada certa, e nos afadigamos,
trabalhando com as nossas próprias mãos.
Quando somos injuriados, bendizemos;
quando perseguidos, suportamos; quando
caluniados, procuramos conciliação; até
agora, temos chegado a ser considerados lixo
do mundo, escória de todos.

Paulo reivindica algumas vezes sua


dignidade, adquirida em meio à sua resignação
para com a vontade de Deus. Uma passagem
em que ele faz isso de forma notável é Gálatas
6.12,14 e 17, quando desabafa:
Todos os que querem ostentar-se na carne,
esses vos constrangem a vos circuncidardes,
somente para não serem perseguidos por
causa da cruz de Cristo. [...] Mas longe esteja
de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
crucificado para mim, e eu, para o mundo.
[...] Quanto ao mais, ninguém me moleste;
porque eu trago no corpo as marcas de Jesus.

242
Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira
Concluindo, eu digo que podemos
conquistar respeito e dignidade, dependendo
de nossas escolhas. A instrução acadêmica é
um meio legítimo, desde que não seja vista
como uma finalidade em si, mas apenas um
meio de servir melhor no Reino de Deus.
Alguns vão por caminhos tortuosos, gabando-
se de coisas que supostamente realizaram,
usurpando posições que não merecem,
tornando-se, não raro, extremamente
populares e conquistando multidões de
seguidores iludidos. Mas a melhor e mais
nobre maneira de se conquistar dignidade é se
resignando à vontade de Deus, ainda que isto
represente muito sofrimento, e que o mundo
não entenda e não nos considere dignos de
respeito, porque, o que mais importa é o
reconhecimento do Deus eterno.
Já aconteceu, alguma vez, de você passar
por algum sofrimento injustamente? Quando
isso acontecer, entregue essa situação como
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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1-5)
Arildo Louzano da Silveira
oferta diante do trono de Deus, e considere-se
digno por ter a oportunidade de sofrer afrontas
em nome de Cristo.

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Por que estais olhando para as alturas? (Atos 1 a 5)
Arildo Louzano da Silveira

Para contato com o autor, utilize:


e-mail arildo.silveira@hotmail.com,
Telefone +55 17 99628-3453

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