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Cosmovisão (João 8.

12-20)
Início dos estudos em 10 jan. 2023; pregação no domingo, 15 jan. 2023.

Introdução: Terrorismo, manifestação política, vandalismo, qual é a sua conclusão


sobre o que aconteceu no dia 08 de janeiro de 2023 em Brasília? Embora o que prevaleça seja
a conclusão dos juízes, há muitas opiniões divergentes.
Cada um de nós tem uma maneira de enxergar a vida e todos os acontecimentos que a
envolvem. Dizemos que isto é a cosmovisão de cada indivíduo. Neste parágrafo de João 8.12-
20, temos um exemplo de como a nossa cosmovisão pode afetar a maneira como
interpretamos os fatos e as informações que nos rodeiam. Podemos encontrar aqui pelo
menos três tipos de cosmovisão
1 – (Primeiro tipo) COSMOVISÃO SEGUNDO A CARNE (LÓGICA) (12-15)
12 De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não
andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida. 13 Então, lhe objetaram os
fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; logo, o teu testemunho não é verdadeiro. 14
Respondeu Jesus e disse-lhes: Posto que eu testifico de mim mesmo, o meu
testemunho é verdadeiro, porque sei donde vim e para onde vou; mas vós não sabeis
donde venho, nem para onde vou. 15 Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo.
1.1 Jesus começa o diálogo com judeus declarando-se “a Luz do mundo”, que todos
deveriam seguir para terem a luz da vida e não andarem em trevas. Os fariseus não gostam
nada disso, e o acusam, de certa forma, de estar sendo arrogante e presunçoso, dando
testemunho de si mesmo. Mas a resposta de Jesus foi que, embora ele estivesse falando de si
mesmo, estava dizendo a verdade, e é isto que vale. Ele não poderia mentir a respeito de si
mesmo só porque, “segundo a carne”, ou seja, segundo o entendimento e as regras que
regem a sua lógica, isto não é permitido.
1.2 Somos orientados pelas Escrituras a não confiarmos na “carne”, para não sermos
decepcionados. Lendo o livro do profeta Jeremias (17.5-10), podemos notar o quanto isto é
perigoso. Inclusive nem na nossa própria “carne” (coração, entendimento), nós devemos
confiar, mas somente no SENHOR.
5 Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o
seu braço e aparta o seu coração do SENHOR! 6 Porque será como o arbusto solitário
no deserto e não verá quando vier o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto,
na terra salgada e inabitável. 7 Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja
esperança é o SENHOR. 8 Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que
estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha
fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto. 9 Enganoso
é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o
conhecerá? 10 Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e
isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações
(Jeremias 17.5-10).
1.3 Por outro lado, não podemos nos esquecer de que somos seres humanos, e como
tal temos limitações em nosso campo de visão, de forma que é muito difícil deixarmos de
interpretar o nosso mundo através dessa cosmovisão. Existe um conto chinês interessante que
ilustra bem essa cosmovisão e a atitude que podemos ter a esse respeito.
Um pobre camponês despertava a inveja das pessoas mais ricas da região por possuir
um extraordinário cavalo branco. Sempre que lhe ofereciam uma fortuna pelo animal,
o ancião respondia: “Este cavalo é muito mais do que um animal; para mim, é um
amigo. Não posso vende-lo”. Certo dia o cavalo desapareceu. Os vizinhos, reunidos
diante do estábulo vazio, logo começaram a dar palpites: “Pobre idiota, era previsível
que o roubassem. Por que não o vendeu?” O camponês se mostrou mais circunspecto:
“Não exageremos”, comentou. “Digamos que o cavalo não se encontra mais no
estábulo. É um fato. Tudo o mais não passa de mera especulação. Como saber se é
uma felicidade ou uma desgraça? Conhecemos apenas um fragmento da história.
Quem pode dizer o que acontecerá?” Os aldeões zombaram do velho. Quinze dias
depois, o cavalo branco voltou. Não havia sido roubado; apenas escapara e retornara
acompanhado de uma dúzia de cavalos selvagens. Os aldeões tornaram a se reunir:
“Você tinha razão quando disse que não era uma desgraça, mas uma bênção”.
“Digamos somente que o cavalo branco voltou. Como saber se é uma felicidade ou
uma desgraça? Isso não passa de um episódio. Podemos conhecer o conteúdo de um
livro lendo apenas uma frase?” Comentou o camponês. Os aldeões se dispersaram,
convencidos de que o velho tinha perdido o juízo. Ganhar 12 lindos cavalos sem
dúvida era um presente dos céus. Quem poderia negar isso? O filho do camponês
encarregou-se de domar os animais. No entanto, um deles o derrubou no chão e o
pisoteou. Os aldeões mais uma vez foram opinar: “Pobre amigo! Você tinha razão,
esses cavalos selvagens não trouxeram sorte. Seu filho único ficou aleijado. Quem irá
ajudá-lo na velhice? Coitado, temos pena de você”. “Não tirem conclusões
precipitadas”, retrucou o camponês. “Meu filho não pode mais usar as pernas, só
isso. Quem sabe o que esse fato representa? A vida se revela pouco a pouco, ninguém
pode prever o futuro.” Algum tempo depois, a guerra eclodiu e todos os jovens da
aldeia foram obrigados a se alistar, exceto o filho do camponês, que ficara inválido.
“Velho”, queixaram-se os aldeões, “você tinha razão, seu filho não pode mais andar,
mas ele vai permanecer ao seu lado enquanto os nossos vão acabar mortos na guerra”.
“Não julguem assim tão rápido”, respondeu. “Seus filhos foram convocados, o meu
permanece em casa, é tudo o que podemos dizer. Só Deus sabe se isso é bom ou
ruim”.
MATSUOKA, Juliana. Um conto chinês: O velho e o cavalo. Universo Empático. Disponível em:
https://universoempatico.com.br/velhoeocavalo/ Acesso em 15 jan. 2022.

1.4 Nós podemos fazer como esse velho camponês, não nos precipitando em nossas
conclusões, sabendo que a nossa cosmovisão, querendo ou não é em grande medida limitada
pela carne, mas também podemos depositar nossa esperança em Deus, que, como numa
canção que conhecemos, nos faz andar “acima dos problemas, acima das tribulações; acima
do pecado, acima das tentações; acima das minhas dores, acima das perseguições; acima
deste mundo, acima das desilusões”.
VALADÃO, Ana Paula. Lugares Altos. São Paulo: Diante do Trono, 2003.

1.5 Assim, embora o nosso julgamento seja, em grande medida, baseado em nossa
cosmovisão, que é segundo a carne, nós podemos descansar em Deus que, conforme o jargão
evangélico, “está no comando”. Isto é verdadeiro quando consideramos o contexto de
Romanos 8.22-28.
22 Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até
agora. 23 E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito,
igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do
nosso corpo. 24 Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é
esperança; pois o que alguém vê, como o espera? 25 Mas, se esperamos o que não
vemos, com paciência o aguardamos. 26 Também o Espírito, semelhantemente, nos
assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. 27 E aquele que
sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus
é que ele intercede pelos santos. 28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito. (Romanos 8.22-28)
2 – (Segundo tipo) COSMOVISÃO SEGUNDO O PAI (AS ESCRITURAS, A LEI, A FÉ) (16-18)
16 Se eu julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e aquele que
me enviou. 17 Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é
verdadeiro. 18 Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica
de mim.
2.1 Jesus fala, nesta segunda parte do parágrafo, que o seu julgamento, sua maneira
de tirar conclusões a respeito do assunto, era verdadeira, pois acompanhava a opinião do
próprio Pai celestial. Ora, o Pai não erra, ele sempre está certo.
2.2 Para chegarmos a ter esse tipo de cosmovisão, só se tivéssemos perfeita
comunhão com o Pai, como a que Jesus tinha. Mas, ainda que não sejamos perfeitos, por
meio da fé nós podemos ser guiados por aquele que tudo vê. Ouçamos os conselhos de Tiago,
no primeiro capítulo de sua carta às doze tribos da dispersão:
2 ¶ Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações,
3 sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. 4
Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em
nada deficientes. 5 Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus,
que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. 6 Peça-a,
porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar,
impelida e agitada pelo vento [...].
16 Não vos enganeis, meus amados irmãos. 17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito
são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou
sombra de mudança. 18 Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da
verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. 19 Sabeis estas
coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para
falar, tardio para se irar. (Tiago 1.2-5, 16-19)
2.3 Os judeus deveriam crer nas palavras de Jesus, quando ele disse que é a Luz do
mundo, e não ficar limitados em sua cosmovisão segundo a carne. Se eles cressem, e não se
precipitassem em fazer julgamentos apressados, em serem “tardios para ouvir e prontos para
falar”, talvez pudessem enxergar, pelo menos um pouco, através da cosmovisão segundo o
Pai, e deixar de andar nas trevas, e desfrutar da luz da vida.
3 – (Terceiro tipo) COSMOVISÃO SEGUNDO A EXPERIÊNCIA (19-20)
19 Então, eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me
conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu
Pai. 20 Proferiu ele estas palavras no lugar do gazofilácio, quando ensinava no templo;
e ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora.
3.1 João nos informa que esse diálogo se deu “no lugar do gazofilácio”. Este lugar fazia
parte do pátio de entrada no Templo, onde as mulheres também podiam entrar.
Diferentemente dos pátios mais internos, que eram mais restritos. Jesus gostava de ensinar
ali, provavelmente porque era o lugar mais “democrático” do templo. Todos podiam ouvir
seus discursos e ensinamentos, pois falava abertamente. Embora seu discurso despertasse a
inveja e o ódio das autoridades constituídas, “ninguém o prendeu, porque não era ainda
chegada a sua hora”.
3.2 No final desse diálogo, Jesus diz aos judeus que eles não o conheciam, e nem ao
Pai, dando a entender que, se passassem a conhecê-los, sua experiência de viver e andar com
Deus permitiria que não tirassem conclusões precipitadas, mas ouvissem com atenção as suas
palavras, para entenderem que, de fato, Jesus é a Luz do mundo, e quem o seguisse não
andaria nas trevas, mas teria a luz da vida.
3.3 Quando estávamos nos primeiros passos da construção deste templo, um dos
bons pedreiros que nos ajudaram foi o Zéca, irmão do Glaci. Ele era um pedreiro muito
experiente, acostumado a comprar terrenos, construir casas e vende-las, fazendo ótimos
negócios. Mas ter o Pastor Alden como mestre de obras era um grande desafio. Uma vez ele
ficou muito revoltado, quando foi encarregado de construir um banheiro externo ao lado da
casa que existia nos fundos (demolida no início dos anos 2000 para dar lugar à quadra do
OANSE). O Zéca ficou revoltado, pois sua experiência lhe dava consciência de que a estrutura
que foi exigida pelo Pastor Alden era infinitamente mais reforçada (e trabalhosa) do que o
necessário. Segundo ele, parecia que, em vez de um banheiro, ele estava construindo o
primeiro andar de um grande edifício. Bem, vocês devem saber quem, no final, venceu este
debate caloroso entre teoria (neste caso, representada pelo Pastor Alden), e a experiência do
habilidoso pedreiro.
3.4 A experiência de andar com Cristo e ter a luz da vida nos proporciona as duas
coisas: teoria e prática ou, podemos também dizer, teologia e piedade. Uma das passagens
mais belas e impactantes da Bíblia é o Salmo 34, onde Davi se expressa baseado, tanto em sua
teologia quanto em sua experiência, “quando se fingiu de amalucado na presença de
Abimeleque [ou Aquis, rei de Gate – 1ª Samuel 21.10-15] e, por este expulso, ele se foi” (Nota
de introdução ao Salmo 34, ARA):
1 ¶ Bendirei o SENHOR em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios.
2 Gloriar-se-á no SENHOR a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão. 3
Engrandecei o SENHOR comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome. 4 Busquei o
SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores. 5 Contemplai-o e
sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame. 6 Clamou este aflito, e o
SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações. 7 O anjo do SENHOR acampa-
se ao redor dos que o temem e os livra. 8 Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom;
bem-aventurado o homem que nele se refugia. 9 Temei o SENHOR, vós os seus
santos, pois nada falta aos que o temem. 10 Os leõezinhos sofrem necessidade e
passam fome, porém aos que buscam o SENHOR bem nenhum lhes faltará. 11 Vinde,
filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR. 12 Quem é o homem que
ama a vida e quer longevidade para ver o bem? 13 Refreia a língua do mal e os lábios
de falarem dolosamente. 14 Aparta-te do mal e pratica o que é bom; procura a paz e
empenha-te por alcançá-la. 15 Os olhos do SENHOR repousam sobre os justos, e os
seus ouvidos estão abertos ao seu clamor. 16 O rosto do SENHOR está contra os que
praticam o mal, para lhes extirpar da terra a memória. 17 Clamam os justos, e o
SENHOR os escuta e os livra de todas as suas tribulações. 18 Perto está o SENHOR dos
que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido. 19 Muitas são as
aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra. 20 Preserva-lhe todos os ossos, nem
um deles sequer será quebrado. 21 O infortúnio matará o ímpio, e os que odeiam o
justo serão condenados. 22 O SENHOR resgata a alma dos seus servos, e dos que nele
confiam nenhum será condenado (Salmo 34).
3.5 Se passarmos a conhecer Jesus e ao Pai celestial, e unirmos nossa teologia à nossa
experiência com o bondoso Deus, poderemos ter uma cosmovisão muito mais ampla do
simplesmente a que é segundo a carne, pois, pela fé, adotaremos, pelo menos em parte, a
cosmovisão do Pai, revelada nas Escrituras, e, pela experiência, nos fortaleceremos em nossa
cosmovisão deste mundo e de tudo o que nos afeta, direta ou indiretamente.
CONCLUSÃO
Jesus é a Luz do mundo, é pelo seu conhecimento que podemos chegar às melhores
conclusões a respeito das questões mais importantes de nossa vida, adotando uma
cosmovisão mais ampla, gozando de uma experiência possível somente àqueles que creem e
obedecem ao nosso Senhor Jesus Cristo, a Luz do Mundo.

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