Você está na página 1de 76

FREI ATANASIO BIERBAUM, O. F. M.

NÃO
TEMAS

Editora
MENSAGEIRO DA Ff Ltda.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
Frei Atanásio Bierbaum, O. F. M.

Versão livre Prol. José Hansel

NAO TEMAS

Considerações sõbre

a confiança em Deus

3.• Edição revista e aumVltada - 1943

EDITORA MENSAGEIRO DA F� LTDA. - BAIA

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
NIHIL OBSTAT-Salvador, 14-7-943.

Frei Bruno Moos. O. F. M. - Cens. Dioc.

REIMPRIMATUR- Salvador, 14-7-943.

Mons. Apio Silva Vig. Geral,

DIREITOS RESERVADOS

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
À minha Mãe
que nas múltiplas vicissitudes da vida deu a
seus filhos o exemplo duma confiança
heróica na Providência.

Aos inesqueclveis amigos


Dr. Germano Muller
e
Dr. José de SA Nunes
pálida prova de minha
profunda amizade.

O TRADUTOR.

Cruz Alta (R. G. S.), maio de 1943.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
TANTOS DIZEM ...
Sim. há muitos a diz rr c re p e t i r que o
..

princípio da sab edoria é o temor de


Deus.H (1)
E' v e rd adeira tal st!ntença. E não só
isso, ac h a se até na Sagrada Escr itura
- .

Abusa-se, porém, muito de sta ie nu ína pa­


lavra de Deus. O sentido desta passagem
(bem como de o utr a s congêneres) é, que a
ve rdadeira sabedoria consiste em s c r v i r
a D e u s Tomada no sentido verbal fala
.

tão sómente do temor, enquanto ê ste cons­


titue o comêço da sabedoria.
A-pesar-disso comprazem-se não poucos
em falar de Deus como dum patrão severo
que quase não tem outro mistér, senão cas­
tigar, vingar-se e am ed ronta r com sua jus­
tiça as almas dos pobres mortais. Esque­
cem-se -os tais que a mesma Escritura con­
sidera o verdadeiro e g e n u í n o temor
de Deus de maneira bem diferente, pois
ouçam:
-,Vós, que temeis o Senhor, firmai-vos
na sua misericórdia ... crêde-lhe ... esperai
ne le ... amai-o !" (2)
Isso não tem que ver nada; com o temor
se rvi l. De fato, Deus não gosta de ser ser­
vido com mêdo. ,Serví ao Senhor com ale-

(I) Veja Apêndice.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
9

!{riH !" 0> l'nsina o Antigo TestJmcnto �..·


o No\'o afirma Dt>us amn ao q ue d<i
..

com alegria." C.t)


Não obstantl', imímtras línguas. livros
l' corações andam a repetir Não ameaçou
.kstís-Cristo rc p ct id�• s vacs com o j ui zo
c inferno ? Não nos devemos, portanto,
l'•)mpenctrar de profundo t em or �
E' ,·crdadc ter Nosso Senhor proferido
mais d� uma vez tais ameaças. A quem,
no ent anto, foram dirigidas ? Principal­
mente aos soberbos, ao s preguiçosos e aos
hcm�ns sem fé, sem amor.
Não c abe porém, a mínima d úv id a que
,

o assunto predileto do m esm o Jesús foi a


confiança.
Não tem a i s! São estas as palavras
anunciando sua vinda ao gênero humano
e a ti. leitor amigo .

V i n de
· a m i m v 6 s t o d os ! será mais
tarde sua voz terna e carinhosa. Não diz:
- Vinde, vós que jamais empanastes o
esp lendor imaculado da vossa alma. - se­
não : - Vinde a mim vós todos que estais
aflitos c sobrecarregados. e .eu vos aliviarei.
<•Confia filha !>> (5) diz à a l ma a invo ­
--

car seu auxílio.


«Confia filho.> (6) assim rala ao para-
lítioo pecador.
C o n f i a i ! (7)
--é êsse como que seu
testamento para ·os discípulos e também
para tí.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
10

Torna-se evidente que Nosso Senhor


c x i g e a confiança pelas reprimendas que
faz aos que estão destituídos dêste dom
precioso. Q u a ntas vezes Nosso Senhor pro­
feriu tais queixas amargas !
Porque vos importais tanto das coisas
terrenas, «homens de pouca fé !)> (8) A
Pedro : - «Homem de po u c a fé, por q u e
duvidaste ?» (9)
Aos discí pu l os trepidantes res po n de :
(<Oh homens de pouca fé, po rq u e estais ali
a cuidar na falta de pães ?» (1 0)
Não fala do mêdo e temor, senão da
confiança e entrega total n Deus onipo­
tente e misericordioso. P�lo ·exposto pa­
rece não ser nada tão desagradável ao
Divino Salvador como a desconfiança e o
desânimo.
Animado do espírito do Mestr e, seu
maior discípulo, o apóstolo S. Paulo, der­
rama em nossa alma qual bálsamo divino
as maravilhosas palavras : «Não recebes­
ks . . . o espíriro da servidão no temor, re­
cebestes, porém, o espírito da adoção de
filhos.» (11)
Como são diferentes tais má ximas com­
paradas com as que tantos POr aí vendem
C01Tl() verdadeira sabedoria e regra de vida.
Deveriam ser suficientes estas palavras da
oossa Religião para encher-vos o coração
de sincera confiança
http://alexandriacatolica.blogspot.com/
11

Mas haveremos de cons idera r a inda mo­


tivos mais profundos, que todos só hão de
servir para gerar c desenvolver em nós
urna confiança inabalável.
Vejamos um por um êsses motivos.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
DEUS REGE O MUNDO
Scní verdade que hoje l'lll dia Deus ain­
da governa o mundo ? Não são os Estado�
Unidos, ou a I n glaterr a ou os jude·u s ? Não
é o din he ir o a mola onipotente, não é a
moeda de ouro o soberano do mundo ?
A-pesar-de tudo isso permanece de pé a
verda d e : Deu s governa o mundo. Afifmam­
no c provam-no a Providência, Oniciência
e Onipotência divinas.
Da Pmvidência diz-se com razão
Por decreto de D e u s suas o b r as
.

·existem d e s d e ·O início ... Deu a


s u a s o b r a s u m a p o t ê ncia q u e ja ­
m a is a f r o u x a. . . n ã o c a n s a m , e
s u a a t i v i d a d e jamai s esmorece.
I< N e n h u m p O• r á a o o u t r o o b s t á -

c u 1 o p o r t o d a a e t e r n i d a d e . » (1 2)
Qu em tudo rege, é o Criador, melhor
L'Onhecedor do meca nismo do m un do do ,

q ue qualquer homúnculo que se mete a


c<sabichão» para reger e critica r o q u e não
entende.
Cristo afirma categóricamente - 1< Até

os cabelos d a vossa ca beç a todos estão


contados ! )I (13) Vê-se qu e Deus não negli­
gen cia as co isas, qu e a n ó s escapariam
por nos parecerem de importânci a qu ase
nula. O gra nd e S. Ambrósio faz; a êste res­
peito a sábia reflexão : - S i f o s s e· in -

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
13

r o 11 t r p :t r :1
,. c n i e n f) c u s. d L' I a s
t· u i <.J :1 r it o mais i nconveni -
• rn 11

t' 11 t c t L' r i a s i d o r r i á -I as.

Não há nada para D�us, absolutamcntL'


n:tda, .que se subtráia ü sua amorosa Pro­
\'idência, poi" diz a E sc r i tu ra -- �<Fez êle
<r peque no c o S!rande e cui<.Ja do me smo
modo de todos.)) (14)
Acaso não há, n�m pode haver. Em tudo
:tl{ea Pro·vidência << Tu do o que quer,fa1.
o S enh o r no céu e na terra, no m a r e em
todas as profundezíls.;; (15)
E' a P rovide nci a que dirig e as co lossais
massas s idércas a seguir suas trajetóri as
seculares com majestade soberana, é a
Providência que dir ige o vôo do sabiá a
procurar o ninho ; é a Provid ênci a que di­
rige o bewurinho a cruza r, sem cuidados,
nosso caminho, é a Provi dên cia enfim que
atenta em nosso globo para q ue, na célere
vi agem pelo e s pa ço imenso não se desvie
u m centímetro sequer da rota a seguir.
A Providência dirige o:atrossim os povos,
·

os ·estados e os próprios rege ntes, a-pesar­


-de a miud adas vezes parecer-nos que tudo
vai às avessas . «0 cora cã o do rei e stá na
mão do Senhor co mo os córregos : i ncli na ­

..o a tudo que quiser.» (16) «Engrandece os


povos e os extennina.>> (17)
A Provid ê ncia div i na dirige finalmente
cada individuo em particular, tanto a mim,
o omo a ti ! Devemo s, pois, exclamar com
http://alexandriacatolica.blogspot.com/
14;

-o profeta-re-i : - <:Deus mesmo nos re-ge


ete r name n te..; (18)
Nada, portanto, nada é obra do acaso:
tudo, tudo provém da mão amorosa do
nosso Pai. Dobremos reverentes o joe·lho
e confessemos : -- '!Tua P r ovidên ci a nos
governa . >; (19)
Como é gra n d ioso e ao mesmo t empo
co nsolador o que escreve S. Agostinho
Não h á criatura. que nã o esteja
sujeita à Providência, que i r a o u
não queira. Deu s cuida de cada
q u a I d c n 6 s , c o m o s e êI c .e x i s -
tissc- sózin ho e cuida d e t od os,
como se fos sem u m só h omem.
Apenas na eternidade haveremos de
·p'erscrutar os maravilhosos segredos da
Providênci a. E' certo, porém, ser verda­
deira i n j u s t i ç a contra a bondade e pro­
vidência de De us, t emê-lo em demasi� te­
mer aquêle, que não esquece nenhuma de
suas obras e muito menos um filho seu.
Se soubesses, quanto te quer, leitor ama­
do. . . se o soubesses ...
Repres enta-te amiúde a Deus J>erscru­
tando teu coração angustiado, desanimado
e torturado pelo temor. O Senhor então
há de descortinar-te a Providência a cuidar
de tudo, a interessar-se por � e a dizer:
- Homem de pouca fé, porque duvidaste ?
Não te esqueç as jamais da amorosa Pro­
vidência de Deus, venha o que vier - �

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
15

em vez do temor apossar-se-á do teu co . ra­


(âo uma co n fia n ç a filial.
Oh Deu s, quem não desejará entregar­
se à tua Pro\'idência como o filhinho que
se aco nch � ga confianteao s eio da mãe7inha
querida? Quem não exclamará oom Jó.
tomado da confiança mais intrépida
\·Mt:smo se me matar, confiarei nele!» (20)
• • •

Outra prova de que D eus rege o mundo


é sua oniciência, da qual confessa o mesmo
Jó:- Deus contempla os confins da terra
e vê tudo o queestá debaixo do céu. (21)
Salomão confess a -- <<Os o Ih os de
D e u s exce de m e-m lu cid e z o so l :
vêem t o d o s o s c a m inh o s d os ho­
men s, os a b is mos m ai s p rof u n­
do s e os reca nto s mais sec retos
do s c or a c õe s )) . . . (22) E o príncipe dos
apóstolos declara diante de Jesús-Cr isto
com a máxima clar eza : - « Senh o r, s a -
b e s tu d o ! » (23)
De fato, para Deus nãohá passado nem
futuro. Á sua oniciência fudo é p r e se n -
t e , mais presente do que a nós o são as
páginas d um livro abero t . Sã o-lhe presentes
os e t mpos em que a terra ain da não girava
no ��,.>aço I! são-lhe presentes os. �P.-nr�os
em que o ú lti mo dos homens exalará o
derradeiro suspiro.
São-lhe presentes as trevas da noite, a
escuridão .das selvas, o fu ndo da s m inas,

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
16

o horror das masmorras c o� segredos de


cada qu:u·to. r:-lhl' presente todo corarão
<. om s�us sofrimentos <.: an.gtístias. (Ju� � �

melhor do que êlc perscruta uosso íntimo?


Afirma o livro dos livro s Só tu couhc­
res o coração ck todos os filhos Llos ho­
mens., (24)
E não é só is�o. Afinn<� mais a Escri­
tura Ao Senhor n ...·u� tôuas a:; COÍS"IS
l'r.1m conhecidas. :rn�rs de tê-las criado ; r
.1ssim também pcr':\cruta tôdas, dep
· ois que
as fez ..., (25)
Se os homens, os � rnig-os r o-s próprios
pnrrntes te esquecessem - o Deu s onici­
t•nte não te esquecná ! Onde quer que es­
tej as - na pátria ou no exílio, no alto mar
ou numa água-furtada Deus jamais te

esquecerá!
Não te enche êste pe n sam e nto duma con­
f ia nç a sólida, filial ? Não és injusto p a r a
rom Deus, tendo - l he mêdo ? Ter mêdo
d aq uele que não te pode esqu ece r , que se
'
lembra de· ti, m es mo quando tu o esqueces
c ofen des !
O franciscano Agostinho de Montefeltro
fo·i, no século passado, um dos a póst ol o s
mais insignes de tôda a Italia. As maiores
catedrais eram p eq uen as para conter a
rn,assa dos ouvintes. A Providência per­
mitiu, porém, fôsse caluniado e tivesse que
retira r-se da pregação. F oi -uma prova. mui
dura. O padre MGnte fel t ro aceitou-a da

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
17

mão de Deus e, r et i r ando s e à solidão do


claustro, era-lhe g rand e co nso l a ção repe­


tir : -- Deus sabe como es tão as coi s a s ! -
E sua confia nça não vacilou.
Quem não se sent i rá feliz nas mãos de
Deus, que tudo sabe ?
• • •

Vejamos uma prova a mais de que .Deus


rege o mu ndo. E' sua onit>otência. Clà ss i ­
camente é esta descrita no livro de Jó : -
«i:le é ·forte por própria ene rgia. Quem lhe
resiste e :permanece na paz ? Tr ans porta os
montes, e os que subverteu no seu fur or,
não no souberam. Sacode a terra do seu
l uga r, fazendo estremecer suas colunas.
Ordena ao sol, e êste não se levanta, e
como sob um sigilo fecha as est rê ias. Ex­
tende sózinho o c éu e caminha sôbre as
vagas do mar . . . Realiza coisas gra ndes e
inoompreensíveis e maravilhosas, que é im­
possível enume rar.>> (26)
Corno o universo em pêso, reflete dia
por dia a onipotência! Um exempl o dentre
muitos : A luz do Sírio ·alcança-nos após
9 anos, as estrêlas ·da Ursa maior ap6s 70,
das Plêiadas apÓs :JOO anos ! A Via-Láctea
cont ém uns 40 milhões de semelhantes sóis
flamejantes !
A lu z da nebulosa Andrômeda leva não
menos de meio milhão de anos. Vemos,
portanto, esta nebulosa com<Y ela era há

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
18

ntt'io mi l h 5 o dr :ano!-. ! Como de fato hoje


t!, s<J o \'L·râ a humanidade após mais mdo
milhão (k ano� ! Para n6.:; homcn�. cuja
<·xistfncia é tão efêmrn1, rcum·m-o;c já <k
alguma maneira p�rr meio <k tais distiinci:•�
lr passado, o pn:"Sl·ntc e o futur:u.

A-p(·s;tr-dc p:trrL·rr incomprct.'nsh·cl a


grandcn1 dêstcs si�tl·mas sid(·rais, há ou­
tros maiores a cksc r c.:vn sC'us giros no
l'spaço im e n so em distânciJs que a Jíngua
humana já não sabe cmmci�1r. Resta-nos,
pois, dobrar o joelho diante <.laquêlc, que
tudo c rio u diante do Criador onipotente,
,

p-ois o universo incoml'nsurávd com seus


colossais sistemas sola r es, suas nchulos:as
imperscrubíveis, s u rgiu do nada a um
simples aceno da sua vontade.
A outro aceno de sua \'Ontade divina,
o mesmo universo subme r giria de novo
no nada ! Não aumentará tnl onipotência
tua co.nfiança ?
Não que r e r ás entre-gar teu destino nas
mãos daquêle, a quem até os \ Cntos e o
'

ma r obedecem ? Não que r erás con fiar de


verdade naquêle que quebra os cetros dos
re i s quais raminhos secos e liv ra de cadeia�
e masmorras, embo r a os homens construam
:portas de ferro e montem dúzias de
guardas?
Não hás de presentear teu coração àquele
que de si afinnar pode : - «A mim é dado
todo o poder no céu e na t erra ?» (27)

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
19

Qur injustiça, trat:11· a um Oru� tão


pollt>roso com desânimo l' pouca fé ! Lem­
lna-te das palavras dn profeta Jeremias
('Bcm-a\'cnturado o que põe sua con­
fiança no Senhor ! . . Srrá qual árvore
.

plantadél :, beira dágua. não teme o


calor a \ ir : suas folhas permanecem ver­
'

des e não se fa1 cuidados no tempo da


sêca ; jamais deixa de prodn1ir frutos." (2�)

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
MAS ...
Aí já vens com objeções. A primeira den­
tre todas é : - Porque então há tanta mi­
séria no mundo?
O ímpio filósofo Schopenhauer chegou a
dizer : - Se existisse um Deus, eu não que­
reria sê-lo : pois teria o coração em fr•m­
galhos ao ver a miséria humana.
Eis a resposta :
Em Nogent d' Abesse perto de Reims
aproximou-se em 1917 (na grande g uerra)
um soldad o com a excitação estampada
,

no rosto, do cura militar. falou sôbre a


relig ião e concluiu dizendo : - Agora aca­
bei decisivamente oom esta tapeação !
- Tapeação? Tua afirmação. não deixa
que desejar quanto. à clareza. Espero que
os motivos sejam tão :claros como tuas
palavras.
. - Sim, reverendo, são claros como o
sol ao meio-dia. Acredito que Deus existe,
mas, ao ver dia a dial tanta misé ria como
,

nã o duvidar da bondade de Deusl e deses­


perar? Deus talvez seja um bom regente
do mundo. mas bom pai não é.
- Concordo quanto à múita miséria A
conclusão que daí tiras, é, porém, mais mi­
serável ainda. Eu digo: Deus não só é
um bom regente do mundo senão também
.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
21

bom pai. M a s o s f i I h o s é q u e n à o
p r es ta m ! Se êl e s s e mp re f ize s­
s em o q ue p a ra s eu be m lhes é or­
\.lcn a d o, e n tão só ha v e r i a p az c
a I e g r i a n o m u n d o . O mingau que nós
mexemos, temos que· comê-lo. embora seja
muito salgado. Não façamos a Deus res­
nonséível por nossas maluquices.
De feito, a mór parte dos sofrimentos
os homens mesmos a provocam por sua
livre vontade. Deus concedeu-nos a liber­
!dade e jamais há d'e tirá-la. Deixa. por­
tanto. ao mal uma influência espantosa,
nem pretende acabar com esta influência.
como êle mesmo o declara na parábola do
Evangelho : - «Deixai-os cresttr ambos (o
trigo e a zizânia) 'até a messe.» (29)
Se Deus quisesse impedir o mal, deveria
a cada passo intervir com milagres, mu­
dando assim necessàriam.ente tôda a ordem
ch natureza. Muitas vezes dizemos (p. ex.
no caso de uma guerra, revolução etc )
. . •

- Deus assim o· q u i s 1- quando mais


acertado seria dizer : - Deus o p e r m i -
t i u . Não exijamos contas de Deus, da­
quilo que os homens provocaram com sua
livre vontade.
• • •

Mas - dizes - vemos tão pouco a Pro­


vidência divina no govêmo do mundo !
Tens razão. Lembra-te, porém, que Deus
é Deus e misteriosos e impe·r scrutáveis são

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
22

seus caminhos. Julgas {)Or acaso que nós


homens, com nossa migalha de entendi ­
mento podemos comprcend�r o Deus Todo­
- rlO d cro so ?
A Santa Igreja rcp.:te na festa da Santís­
sima Tr indade as paluvras de S. Paulo : - ­

·Oh profundidade das riqueLas da sabedo­


ria c da ciência de Deus ! Quão i ncomp re­
l'nsívris são os seus juizos c inescrutáveis
os se us caminhos !�> (30)
Os jui zos de Deus são, pois, incompre­
ensíveis c seus cam in hos inescrutáveis. Já
o A ntigo Testamento o ensina - (<Meus
pensamentos não são os vossos pensamen­
tos, n em meus caminhos os vossos.>> (31)
Que de m a l há n is so ? - E' Deus por­
ventura menos p revidente, oniciente e oni­
potente , porque nós }Jomens não sabemos
explicar seus c am inh os ?
Como é que procedes, viajando de trem ?
-- Não estás as senta do no carro sem cui­
dados, contemplando c a mp i nas verdejantes,
pinheir-os e sbe ltos e a · pais age m iluminada
pel·o·s raios ful gurantes do so l ?
Eis que entras num tunel. Ao redor . cs­
l'Uridão. Nem por isso o temor de ti se
apodera, p ois tua subconciência ou conciên­
cia te diz : Q maquinista sabe o �que tem de
fa ze r, levará a bom termo minha viagem.
Procede do mesmo modo para com Deus,
Jeito-r amigo. E' êle o melhor maquinista
da vida humana e conduzir-te-á tantQ pelas

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
23

a)�gres \'ár1t:as da fclicidadt·, como pelo es­


curo tunl'l d�t prontção e do sofrimento.
Deixa-te guiar por êk, como to aconsclh.t
o apóstolo das Jrl:ntcs Qlll'r \i\· a­
mes, quer morramos, ao Senhí}r pérlcn­
cemos.>, (32)
• • •

Se Deus cuida tão bem de todos, t>orque


tanta pobreza, tanta fome. tanta miséria ?
Lembra-te, antes dr tudo, das palavras
de Jcsús:
-<<Buscai primeiro o reino de Deus c sua
justi<:a. e todas -e s sas cois:ts (i. é, o ncces·
sário.. para viver) ,·os serão d adas de acrés­
cimo.>, (33)
Deus não tem nenhuma obrigação nem
vontade de dar de comer c vestir a to -
d·o s o s pec ado r e s e pe r ver sos!
A experiência tepete a afirmacão de
Daví : - <(Fui jovem e tornei-me velho, mas
não vi nen hum justo (!) abandonado ou
seus descendentes à procura de pão.» (34)
Não são precisamente as famílias com mui­
tos filhos que dão ao Estado/ e à Igreja os
homens mais prestimosos ?
Finalmente n ão deixa Deus d� cuidar
daquelés que o 'ofendem c dêle não se im­
portam. Também para estes faz nascer o
sol e frutificar as plantas. Não os castiga
·
l."'illO o merecem ; concede. lhes tempo su­
ficiente afim que se convertam, mostrando

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
24

dêstc modo ser para todos pai bom e r>rc­


vidente.
... * •

A1ais uma objeção Se D eus rege: o


-

mundo, não preciso rezar, nem trabalhar,


porque tudo acontece, como êlc o p r ev ê !
Vai longe d emais tua lógica . A Provi­
dência e On ipotê ncia de Deus não se te
opõe como f o r ç a b r u t a I o u f a t a I i -
d a de i r r e s i s t í v e I . Pelo c o n t r á r i o ,
diz a Escritura que «êle ordena tudo com
amor,i, (35) i . é, a sabedoria divina em
gc·vernando o mundo acomoda-se com
carinho às pror,�nsões pessoais e à von­
tade livre dos homens.
Deves, portanto, rezar e rc·zar com gran­
de confiança. A Bíblia to reco m enda milha­
res de veres. Não é supérflua tua oração,
não c-o n t r a r ia os pla nos da Providência, se­
não que e stá i n c I u i d a p o r Deu s
nos seu s pl a n o s.
Pela comparação segu i nte entenderás me­
lho-r a solução desta dificuldade. Um r e­
-

gi m en to de sold ado s vai à batalha. Outr o


regiment·o está n a retaguarda. O marechal
determinou de antemão:- Se- pedirem a
ajuda do segu n do regimento, êste irá, se
n ão na pedirem, não irá !
Do mesmo m odo o general que d irig e as
batalhas de tu a vida determinou auxiliar­
te, se· lho pedires, se lho pedires com con­
fiãnça. Que acontecerá, se não pedes ?

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
25

Dr v e s t r aba I h a r. E' esta uma nor­


ma eterna para todo o gênero humano.
Deus te ornou com talento c capacidade
para êstl' fim. Seria. pois, contraprodu­
c<.>nte entre gar te a um «d oke far niente,>;
-

ronvencido de que tudo se realiz a como


Drus o q uer Aplica-se aquí bem <lPiicado
.

o rifão : - Ajuda-te, que Deus te ajudará.


O célebre filós o fo franciscano João
Sccto e ncon trou certo dia no camPO um
lavrador semeando e rogando p ragas. O
franciscano fez-lhe ver com am abi lid a d e
que tal não devia fazer, lembrando-lhe ao
m esmo tempo o castigo reservado a tais
pe-cados.
- Qual o que ! retrucou amuado o
-

co l ono - se Deus determinou salvar-me,


hei de salva r -me, não o bs t a n�e as muitas
pragas que rogo.
Se Deus dete rminou que êste cam po

produza frutos. há de produlí-los sem o


teu esfôroo. Não é, pois. preciso semear!
O lavrador tornou-se pensativo e reco­
nhc-c�u que Deus e o homem devem ag·ir
de mãos dadas.
Recapitulando : Deus respe i ta a indivi­
dualidade de· cada qual, nem quer oprimir
a natureza humana. Daí o áureo conselho :
Reza com confiança sempre maior. como
se tudo dependesse de Deus ; trabalha com
toda a e ne gia como se tudo dependesse
r .

de ti mesmo!

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
26

Vivn, I>OÍs, a confiança !


Deus rege o mundo com Sllél Providência
amorosa, sua oniciência cin.:uuspecta, sua
onipotência animadora. Reger;i também os
teus destinos, contanto que sejas dócil às
suas insinuações.
Fm ti, St:nhor, confiei, nunca jamais hei
de ser confundido !

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
DEUS AM A AO M UNDO
Não poucos escritores ialam de Deu:-;,
intitulando·o tão sómcntt.• S c n h o r. Eu
prefiro a denominação de bom Pai do
céu, como a aprendí em criança dos lábios
de minha mãe querida. Deus é d� fato· tão
bom, tão amável, tão condescendente com
nosSãs fraquezas, que bem lhe quadra o
nome de <<bom Pai do céu.»
Inúmeras são as passagens da Sagrad�•
Escritura a respeito do amor com que Deus
·1braça tôda a criação e por ela se interessa.
Aprendemos ali que o bom Pai do céu
tem para com tôdas as criaturas um cora­
ção ·compassivo, cuidando de tôdas c.om
amor desinteressado. Descreve-se como dá
de beber à fôlha de capim, como refresca
'
a várzea sedenta com rócio celeste, como
reveste as florzinhas do campo dos mati­
zes mais encantadores, como pr·esenteia as
avezinhas com os vestidos mais finos ;
como dia por dia convida ao banquete inú­
meros milhões de criaturas e criaturinhas
do ar, da terra e das, profundezas do oce­
ano. Compendiando seu hino de louvor, a
Escritura diz com simplicidade magistral
(\Abres tua mão, enchendo de benção
tudo o que vive.>) (36)
Se Deus dedica tanto amor a seres sem
·
inteligência c vontade; fàcilmentc podes ti-

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
28

rar conclusões a res pei t o do seu amor para


com os homens. seus filhos queridos.
Tomado de admiração, pergu nt a o pro­
feta-rei : - « Q u e é o h o m e m p a r a
dêle te· l e m b r a r e s c o f i l h o d o ho­
m c m p a r a o v i s i t a r e s �� ? (37)
Merecem lembradas as recomendações de
S. Francisco de Assiz a um sú d ito seu
-Irmão Caetano, sempre estás a pregar
da eternidade, do ju i zo implacável. de como
o sol e as est r êlas 1:airã01 do céu, da peni­
tência em sacos de cinza. Acompanhas estas
prédicas com rugas na testa. com o rosto
petrificado e com olhares severos. Os ou­
v intes enchem-se de m ê do. O Senhor. po­
rém, não quer ser temi do. Digo-te. ir mão,
para o futuro hás de esco lher assuntos mais
alegres.
- Indica-me. por favor, al guns dêstes
assuntos.
-fala. por exemplo. como o bom Deus
fez a casinha da terra tãO' b ela e agr adável,
como organizou um côr:o de r ou xinói s e
outros cantores afim de alegrar-nos com
sua música, como arranjou as grandes lan ­
ternas do so l e d a l ua para podermos ver
nossos rostos felizes dia e noite, co mo o
mesroo Deus a moroso faz crescer boas fnt­
tas nas árvores. faz brotar das en tr a nhas da
terra uma aguinha tão saudável e boa. con­
cedendo-nos além d isso risos de conten ta­
mento e urna convivência alegre com nos-

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
29

sos irmãos, ue modo que temos que ser


bons, amar uns aos outros e prorromper na
exclamação -Oh Pai do céu, obrigado,
muito obrigado !
Deus é amor. Jesús-Cristo no-lo confir­
mou proclamando diante do mundo todo
- «Só Deus é bom.>· (38) Significam estas
palavras que com a bo nd ade amorosa de
Deus nenhum bem e nenhuma pessoa se
pode comparar.
O mesmo Salvador fal a, com predileção,
de Deus como do Pai. -«Sabe vosso Pai
de quanto necessitais, antes que lho peçais.»
(39) Como é consoladora a frase:- «0
Pai vos ama !» (40) A oração que .nos ensi·
nou começa com as p alavras altamente sig­
nificativas: «Pai nosso!» (41) Nesta oraçã o
por excelência não achamos nenhum ves­
tígio de temor ou mêdo.
As relações de Deus para 00011 o mund o
e os homens são as de um bom pai para
com seus filhos.
Cristo o disse - acredita-o ! Deus é teu
Pai ! Hás de temê-lo? Deus é teu Pai !
Hás de tr atá lo com desconfianca e mêdo?
-

Deus é teu Pai ! Com que sentimentos


deves re z ar o Padre-nosso. exclamando
com S. Francisco de Assiz : - C omo é glo­
rt·Õ.So e grandioso ter um pai no céu!
• • •

Outra prONa de que Deus ama o mundo .

é a encarnação de seu filho Unigênito.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
:·w

{Ju.1l foi o motivo do mist�rio d:t '-'11·


carnação, mistério superior a quulquer iu­
ttligência c que nem pelos a n j os pode ser
candignamentc celebrado, quanto ml·nos
pt:la Jíngu:1 dos míseros m orta i s ? Porqu�:
a Sl'g·unda pessoa da Santíssima Trindadl·
se fez homem ?
A resposta é uma só : ·-Por t<�l modo
:unou J)('us o mundo que lhe dru seu Filho
Unigênito para que não pereça quem nele
crê, antes tenha a vida e terna >> (42)
.

Viu nosso bom Pai gemer seus filho s


sol> o pêso de tr abal hos, pobl'eza, sofri­
mentos e p ecados Teve dêl e s compaixão,
.

quis ajudá-los a todo o custo.. E man dou


seu filho Unigênito a êste vale d e misérias.
Não o enviou como grande senhor, prín­
cipe ou imperador, senão como s i m p I e s
o p e r á r i o para, enobrece ndo o trabalho,
,

torná-lo mais agradável.


Enviou-o pobre e necessitado, afim de
pôr uma auréo-la gloriosa na pobreza. En­
vi:ou-o à miséria, para amarmos o sofrimen­
to. Deus n ão se eng anou em suas contas.
Um raio de luz celestial perpassou pelo
mundo· tenebroso, iluminando o trabalho, a
pobreza e o sofrimento.
S. Paulo exc la ma cheio de aleg ria a­,

-pes a r de imerso em privações, trabalhos e


-

penas : - c<Estou cheio de consolação,


transborda-me a alegria em toda a nossa
tribulação.» (43)

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
�- Frrrnei�r(J dt· Assi1 n;io q ueri a t'l'/ar

uma A re-.1\:\:tria, mco;;mo st: com da


�l·qucr
pmkssr livrar-st: de todos os padccim(.'ntos.
S. João de Deus pedia como recompl.!nsa
de tudo o p:tra a glória dirina
qUL' fiLcra
tão �ómcntc ·uma coisa : sofrer e st:r t.lcs­
pre:tado por amor a Jcs ús !
S. C:arnilo sofreu durante dezenas t.le :1110�
rim·o moléstias dolorosas. Dcnomiuava c�­
t�rs doenças apreciação cheiH de ciência
-

sobrrnatur<tl ! as <.'inro misericórdias de


Deus.
S. Teresa adotara como lema : Sofrer
ou morrer ! enquanto S. Madalena de Pa:t­
Jis rer>ctia : -- Morrer não, sofrer sim ! ·- ·

Quantos ou tros eleitos transbordavam de


júbilo por terem a honra de sofrer por anos
a fio na alma e 1101 corpo.

Se lancares o olhar em roda de ti, ama­


do leitor por certo hás de ver bastantes
,

al mas nos oonventos e no século a receber


da mão do Pai celeste a pobreza e os sofri­
mentos como presente especial, seguindo
nisso o exemplo de nosso amá ve l Salvador.
A encarnacão é de fato, só e só uma
obra de amor do nosso bom Pai do céu.
Com razão escreve. pois, o apóstolo do
amor : -«Nisto se manifestou o amor de
Deus para conosco, que Deus enviou seu
filho Unigênito ao mundo. afim que por
êle vivamos.» (44)

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
32

Cada ano lembramo-nos vi vame nt e desta


verdade na noite de Natal, noite de magias
profundas, de dulçorosos encantos : noite
de poesia intensa a vibrar na alma do cren­
te em frêmitos de idílios, ecos não adorme­
cidos ainda dessa noite venturosa, em que
estremecerem de pasmo e júbilo os pa sto­
res ao contemplarem peJa vez primeira o
Divino Infante.
Não nos patenteia o amável Menino, re­
clinado na mangedoira, o amor imenso. de
Deus para rom os pobres pecadores ?
• • • 11

A última prova a revelar-nos êste amor


é nossa comitiva na viagem para o além.
Somos pere·grinos e forasteiros. Nossa pá­
tria é o céu, a bem-aventurança eterna. O
caminho, porém, é bem acidentado. Ai de
nós, se estivermos sózinhos !
Nosso bom Pai tornou providências, dan­
do-nos como primei ro companheiro o santo
anjo da guarda. «Aos seus anjos mandou ...
que te preservassem em todos os teus ca­
minhos.» (45)
Gomo é bela a êste respeito a explicação
do Catecismo Romano : - Assim como os
pais providenciam afim de q ue os filhinhos,
se estes têm que empreender uma viagem
perig<lSa e difícil, sejam acompanhados de
pessoas que os protejam e ajudem nos pe­
rigos, assim o Pai celestial deu a cada qual
de nós anjos por companheiros no caminho
à pátria celeste. Com sua ajuda poderemos

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
evitar os laços dos adversários, e reba t er­
lhes os ataques perversos ; sob sua dire(;ão
permaneccn.·mos no c a m in ho certo, de mo­
do que nenhum t:rnbust� do inimigo enga­
nador nos des vi e do caminho que condul
ao céu.
Qual é a utilidade que o Deus de i men ­
sa majestade aufere dos pobres mortais em
r ecompe n s a dos s e us benefícios ? Que ser­

viços podes prestar-lhe, leitor amigo ?


Não obstante, êk te rodeia de tantos cui­
dados!
Mais ainda.
Preparou-te uma refeição como confôrto
na tua viagem de peregrino -o santíssimo
sacramento ·do seu amor. Se em espírito
fôsses bater à portinha do tabernáculo e
perguntasses: - Dize-me, Senhor muito
amado, porque é que te escondes nos es­
curos tabernáculos dia e noite sob as es­
péci-es de pão ? Por que Senhor ?
A resposta seria:- Faço-o por causa de
ti, filho querido. Faço-o para estar perto
de ti, perto de tua alma', que amo apaixo­
nadamente, faço.-o para entrar amiúde em
teu coração, afim que não desfaleças na
pere.grinação à pátria querida.
Ouçamos o ensino da Santa Madre Igre­
ja: Quando Nosso Redentor quis V·�ltar
dêste mundo ao Pai instituiu êste sacra­
mento, em que de alguma maneira exhau­
riu os tesouros de seu amor.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
34

Na ccmitiva que o bom Pai celestia l or­


ga n izcu acha-se a.0 sua própria Mãe s an ­
tíssima. De al.o da cruz ressoam-nos no
cc..ração �ls palavras do .'v\estrc ao· cxp;rar
<Eis teu filho ! Eis tua mãe !;, (-16)
Quis que Maria, sua lv\ãe bendita, fôsse
igualmente Mãe nl)ssa amantíssima, para
que tivéssemos urna mãe não· só na terra.
também no. céu : mãe, a interessar-se por
nessa salva çã o com os desvelos mais ter­
nos. Já Ih� agradeceste alguma vez essa
mãe tãc carinhosa ?
Deus não. tem própriamente- proveito al­
gum de nós pübres terrígenos. . . A-pesal'
-disso . . . quantos mimos de amor! Have­
remos de temer êsse Deus ? Ou corres­
penderemos com inteira confiança ao seu
amor inigualável ?
Sim, bom Pai do céu, tu és em verdade
o n fiar tio só-
meu melho.r amigo; quero c ·

mente em ti!

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
NOVAS OBJEÇOES

Sei que rn.tis uma V(:Z rep::tcs a objeção


Se é \'erundc quL: D\!us ama1 o mund o c a
tcdos nós, porque tnntos s::>frimcntús, ·L�UI­
ta miséria?

A n·spcsta é facil. Deus não deixa de


ser be;m Pai, enviando provações c sofri­
mentos. Precisamente ..:ntão podem-se-lhe
aplicar as pJ)avras de S. )cão --«Deus é
amor.>> (47) Parece paradoxo, porque é di­
ficil para nós hcmens ekv<tr o pensamento
a esferas mais a l tas. Pretendemos ser feli­
zes já neste mundo. Advi n do algum sofri­
mento� começamos a choramingar, duvi­
dando do a mor de nosso Pai celestial.
A verdade. porém, é que fomos destina­
dos a o u t r a felicidade - à \'ida bem­
aventurada do Além. Podemos imaginar
a Deus raciocinando do modo seguinte : -
Tão agarrados estão os homens às alegrias
da te r ra que, se dêles dependesse. ali fica­
riam para todo o sempre. Quero, p;>rém,
tê-los junto a mim nas delícias celestiais.
D e v o , pois, e·nv i a r-l h es s o f r i ­
m e n t o· s afim de criarem nojo dos bens
Ida te rra e sa udades da pátria além das
estrêlas. Dêste geito. mais fàcilmente a lc�m ­
çarão seu d estino.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
36

Não v e mo s n este ractoct mo como q u e


crista lizado o a m or d e Deus !'
Bem observa S. O rcf{ório Magno ao qUL'
i:m10s explicando O s s o f r i m e n to �
que n os atribulam n est e m u n d o ,
força m - n os a procu rar a D e u s .
Para co n v e n cer-te v i sita os gra n des hos­
,

llitais, que fa la rão do am or pate rn a l d e


n osso De us Talvez m a i s do q u e terias es­
.

perado . . .falar-te-ão de teus semelhantes


que entraram no hospital emaranhados nos
la cos do pecado, submersos na lama da in i­
q u idad e sem fé, sem esperança . . A do­
, .

ença cruel trouxe-lhes a reflexão, o arre ­

p endimento . . . Sofrimentos atrozes abri­


ram l hes as portas do paraíso . . .
-

lembra-te da terrível guer ra civil na


E sp anha em que foram massacrados m i l ha ­
res e centenas de m i l hare s. A quantos que
tri l havam o caminho do mal brilhou a luz
da eternidade ! Aju stando suas contas na
confissão, torn aram se em seguid a heróis e
-

mártires. O sofrimento conduziu-os a uma


morte santa.
No porto da fe li ci dade imperecedoura há
de aflorar a gra ti dão aos lábios de todos
que durante a viagem não compreenderam
bem a uti l i dade dos vendava i s a mudar por
vezes a d i reçã o do frágil batel.
O afamado dominicano João Taulero, en­
contrando-se certa vez com um mendigo ,

cujas roupas rasa-adas mal encobriam um

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
37

co rpo cheio de tu mores mal ignos, sa u d o u­


-o c o m um «Bom dia ! ,>
Respondeu o mend igo com certa facc i­
riec, afirmando que jamais tivera um dia
mau. Admirado de tal resposta, inquiriu
Taulcro, como isso era possível, estando
l'm tão m ísero estado.
Expl icou-se o mendigo : - Estou certo
de que Deus me envia a pobreza, o sofri­
mento e qualquer acontecim ento d o loroso
p o r q u e m e a m a , porque sabe que, afi­
nal de contas, isso me convém. Ten ho, por­
tanto, razão de estar alegre e louvar a
Deus em tudo que acont�er. porque tudo
é um presente seu. Assim é que ainda não
experimentei d ias maus.
Sabedoria grande a dêsse mendigo! Ve­
mos nesse exemplo às cl aras a pujança
duma fé viva e duma ooo fiança sem limites,
sabedoria ignorada pelos grandes desta
terra, mas conhecida dos humildes e das
pessoas de boa vontade.
Envergonhemo-nos diante dêste mendigo
e não sejamos míopes nos dias do sofri­
mento. Entrega-te, a mado leitor, sem re­
servas a teu Deus. Se êle te fere, é p o r
a m or. é para livrar-te das bugigangas
terrenas, para aperfeiçoar tua alma e ama­
durecê-la por assim dizer, a fim que recebas
o passa-porte à pátria verdadeira.
Repete amiúde o conse·lho do Espírito
Santo : - << A q u e m o S e n h o r a m a , a

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
38

êst r cast iga e co m p raz-se nele,


cc m o u m p a i c m s e u f i I h o , C48)
bem ccm o aquilo d0 apóstolo das gentes
P e r s l v {' r n i f i r m e s Deus age
conosco como um p a i com seus
fi l hcs. Qua l o fi lho que não é
( 01 s t i g a d c
' p� Io pa i ? Sc n ào vos
c a st i g a s s e, n ã o s e r í e i s fi l h o s. . .
C a s t i g a - n o s p a r a n o s s o b e m !» (49)
• • •

Como, porém, 'interpretar as p a b v ra s do


mesmc S. Paulo : - (<Com temor e tremor
empenhai-vcs na obra da vossa salva-
·

ção ? >, (50)


Tais palavras hão de inquietar-nos ? Ab­
solutamente. Não devemos insistir no sen ­

tido verbal. Um grande exegeta traduz esta


passagem, como segue : - Trabalhai na
vossa salvação com grande cuidado.
• • *

Se Deu s ama t anto os ho m en s, porque


j á nã o Os socorre com milagres ? E' consi­
d�rá\·el o número de cristãos cuja fé va­
cila ao ver tantas injustiças, blasfêmias,
atrocidades, tanta corrupção . . .e - Deus
não se mexe ! .Onde está seu amor ?
Demos de ba rato que os milagres hoje
em dia "São raros. Sempre os há entretanto,
p. ex. : em Lou rd es, nos sepulcros dos san­
tos, nos lugares de romaria, etc. Gostaria­
mos, oontudo, (f� apreciar m a i s milagres.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
39

Ccnverter-sc-i:l o m u ndo , em v ;: nd o algum


g-ra n d e m i l agre ?
T c n d c f é e m m i n h ;l s � b r a s ! -

<: xcl a m c u o S a l vad )r. e os i ncrédulos · - não


se ccnverteram.
A c ser ·c�t rado o p a ralítico e n c h e r a m ­
s e d e t e m 'J r e l o u v a r a m a D e u s e ­
C CJ. S O (St' ;·a ]iqu:d ··. do.
A pós a mu lt i p lic � . ão dos pães, da res­
su rreiçãc de mortos, da cura de d oentes ,

n ã o durou muito tempo até que - o caso


estava liquidado !
D�sça da cruz e creremos n e l e !
- gritaram os i r.fiéis no Calvário. Se ti­
vesse descidc, teriam di to : - E's um pos­
sesso !
Os apóstdos S. P-edro e S. João tinham
curado o co xo Qual seria a atitude dOs
.

incrédulos ? Os Atos d o s Apostolos n o-la


descrevem admiràvelmente : - E e n t r a -
r a m a c o n f e r i r e ri t r e s i , d i z e n d o
u n s a o s o u t r o s : c< Q u e f a r e m o s a
estes hom e n s ? Porq ue ê l es têm
o b r a do u m m i l a g re ev i d e n t e e ,

t ã o n o t 6 r fo e rn a n i f e s t o a t .o d o s
o s m o r a d o r e s d ·e J e r u s a l é m , q u e
a b so l u t a m e n t e o n ã o p o d e m o s
n ·e g a r . » (51 )
A-pesar-da evidência dos fatos não aoei­
taram a doutrina dOIS 1apóstolos ; pelo con-

trário, perseguiram-nos.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
40

Não fa l a Deu s <:om basta nte cla reza n a s


colossais catástro fes, como sej a m t erremo­
tos, i n u n d a ções, i n c ê n d i o s, etc. q u e se re­
petem d ia a dia ? Ninguém gosta de ouvir
esta voL c - e x p I i <: a - s e t u d o n a t u -
r a I m e n t e . A idéia de um agente extra­
mu n d a no, da Providência divina - é coisa
obsoleta. Passemos à o rd em do dia !
Um célebre catedrático mod erno não he­
sitou em afirmar : - S e c o m m e u s p r ó ­
p rios o l h os v i s s e a ) g u m m i l a g re,
a n t e s ac r e d i t a r i a e s t a r e m m e u s
o l h o s e m d e· s a r r a n j o , d o q u e
a c e i t a r o m i l a g re !
Este catedrático moderno já teve correli­
gionários há perto de dois mil anos. pois
o Salvador afirmou : - «Não acreditariam,
�esmo se algu é m ressuscitasse· dos mor­
tos !» (52)
Estejamos, portanto, satisfeitos com os
inúmeros milagres que cotidianamente po­
demos contemplar na natureza. Admiremos
o grande milagre dos nossos tempos - a
Santa Igreja que superou a vicissitude dos
tempos. das dinastias, das guerras e re­
vo l uções sociais - permanecendo sempre
de pé. adornada oom a coroa da imortali­
dade a cingir-lhe a fronte !
• • •

Por q u e Deus não deixa no abismo do


nada os homens, dos quais sabe que vão
ser co.ndenatlos ?

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
41

Então De us como q u e d everia perg·un­


t a r-se a SI mesmo cada \ ' C Z que cri a u m
h o mem Apro \·citará êlc sua l i berd ade
p a ra pcct� r e i rá a o i nf e rn o ? Se Deu s de­
vesse d i rigir-se po r ta is cálcu los, tornar­
- sr. i a êle mesma. ·c scrm·o dos homens e do
-

�>ceado --- rebai xamento sem igual ! Tal


absurdo - quem tiver juizo há de entendê­
lo sem dificuldade -- não podemos admitir
em Deus. a pe sar d e sua bondade infinita.
- -

Não es q ueç amos que todo condenado


às penas eternas, repet e sem cessar : - E s -

t ou co n de n a do não tan to por cau s a


de Deus como p o r m i n h a p r 6 p r i a
,

c u I p a . Pod e ri a ter-me salvado. se tivesse


tido u m pouco de boa vontade.
• • •

Lemos na Bíb li a : - O homem não sabe.


se é digno do amor ou do ód i o (53) Pelo
.

co nt exto vemos. que o sentido desta pas­


sagem é : O justo não pode estar certo que
Deus lhe patenteia seu amor por bênçãos
temporais. co-mo não podem os s ab e r. se
Deus mostra ao pecador por de sgraças tem­
r>o ra i s seu ódio a o pecado. Só a l ém-tú mulo
aguarda-nos a verdadeira recompensa.
Expliquemos o ut ross i m o s en ti do daquilo
de S. P au lo : - «De nada m e argúe a con ­

ciência, a i n da que nem por isso estou jus­


ti ficado ; mas quem me 'julga, é o Senhor.»
(54) Fala o apóstol o das rivalidades entre
os Coríntios. Uns ufanavam-se dêste. ou-

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
42

trc s daquele mestre. S. Paulo, porém. n ã o


q u e r q uealguém o.; e cn �rand c(, a à C�istn de
outre m . Afirma s e r êh. m e s m o só s e r v o
d e C r i s t c . q u <.· d cn: réí p r c :>tar contas : t
Cristc, mesmo se J go ra n ã o se l embra de
falta alguma.
O fim de tais passage ns da Sagra da Es­
critu ra certament e n ã c é amedro n ta r-nos.
. ... .

Faze d esf i l a r mais u m a vez dbnte de teu


e s p ír ito tôd a a série de pro\'as do amor de
Deus para cem os ho;ucns, afim de entre­
gar-te cem ilimitada confiança ao D�s de
amor. Convence-te, a ma d o l e itor, que com
tal confiança hás 'de agradar mais a Deus
e trabalharás m a i s em teu pró p rio proveito,
porque a con fia n ça filial s-erá recompensa­
da lan amente.
Em Í853 fa lece u ·na Alemanha frei Alar­
do Bartscber, O. f. M. com a idade de 80
a nos. Pedira êle em suas orac;ões três gra­
ças : a pri me i ra, não ser atacado por do­
ença alguma ; a segunda, poder celebrar
até a morte o santo sacrifício da m i ssa ; a
terceira, entrar no céu sem passa r pelo
purgatório. ,
Não era pouco o que êste frei pedia a
·
Deus m as parece que nãq andou mal. poi s
a pri mei ra e segunda graça foram-lhe con­
cedidas de modo quase extraordinário;
Costumava o padre preparar-se desde as
três horas da madrugada para a santa mis-

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
43

sa, que reza\·a às cinco. A prepar ação er a


o riginal, poi s, a ga sa l h a do num cob ertor
(estu fa não adm itia na cela !), ajo� J h a v a-sc
na cama.
Numa m an hã o ancião, a l iás s�mpre pon­
tua l, não apareceu na s� cristia. Foram .1
cela, onde o encontraram aj oel h ad o n a
c a m a e recl inadc à pa.rcdc. J á passara à
vid a mel h c r. Se us tr m ão s de hábito .:stavam
co nvencidos te r l h e Deus concE dido tam­
-

bém a terceira gr aça I mplorada com tama­


n h a c c n fi a n ça e ingenuidade.
S. C a m i l o falava em t ôda s as suas aloc u­

ções do am o r de Deus e, o u v i n do algum


sermão em que se n ã o menciona v a êste
a mor afinnava : - E' u rn a n e I e m q u e
,

f a I t a o d i a m a n t ·e .

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
A MISERICÓRDIA DIVINA
Pai das m isericórdias e Deus de tod .t
con solação.>> (55) Com estas p a lav ras con­
sol ad o ras enaltece S. Paulo a Deus, a quem
a Igreja se d irige dizendo
- Oh Deus a q u em é p r ó p r i o (repara
bem no sig n i fi ca do desta expressão !), a
q ue m é pró p r i o com p a d e c e r- se
s e m p r e e p e r d o ar . . .
Não obstante, quanto s só se lembram de
Deus transid� de mêdo ! Quão pouCO$ co­
n he<:em a confiança íntima n a qu e l e, que
tanta compaixão tem de nós e tão facil m e n ­
te tudo perdoa ! De us merece o nome de
misericordioso por excel ên cia .
Ouçamos algumas passagens da Sagrada
Escritura : - « S e v o s s o s p e c a d o s f o -
r e m c o m o e s ca r l a t e , t o r n a r - s e ­
- ã o b r a n c o s c o m o a n e v e , se forem
e n c a r n a d o s co m o a p ú r p u r a , to r ­
n a r - s e - ã o c o m o a 1 ã . » (56) Diz o Se­
nhor : « Não quero a morte do pecador, se­
não que volte Ido seu < mi n ho e viva.» (57)
« êle se compadecerá de nós, tirará n ossas

iniquidades e sepultará nQ. fundo do m.1:r


todos os nos sos pecados.» (58)
Jonas afirma : - «Sei que és um Deus
clemente e m isericordioso, que perdoa a
malícia.» (59) O régio sa l mis ta cxulta : -
O Senhor faz sentir os efeitos de sua mi-

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
45

scri córd ia . . . O Senhor é m i sericordioso c


cheio de ternura, é sofredor c c hei o de be­
n i gnidade . . . N ão n os trata como merece m
uossos pcc�dos, n em n o s c ast iga s e gu n d o
a gTa n d eza de n ossas i n i q u idades. P o r ­
q u e , q u a nt o e s t ã o a I t o s o s c é u s
s ô b r e a t e r r a , t a n t o p r e v a l e c e 11
s u a m i s e r i c ó rd i a s ô b re os qu e o
t e m e m . E q u a n t o o o r i e n t e d i st a
do oci d ente, t a nt o a fastou de
nós nos s a s i n i q u i d a des. Como
u m p a i s e c o m p a d e c e d e s e· u s f i ­
I h o s , a s s i m o S e n h o r . . . (60)
Quantas pa lavras animadoras en co n tra s
nos Evangelhos, pa l avras as mais ter n as c
s u aves, saidas do Coração de n osso aman­
tíssimo Salvador. Se quiséssemos indicar
tôdas as passagens, em que é celebrada a
misericórd ia d ivi n a, seria um nunca acabar.
E' interessante a êste respeito o traba­
lho de S. Romualdo. Na sua cela confron­
tou oom paciência adm i rável todos os lu­
gares da Escritura a tratar da misericór­
dia e d a justiça de Deus. E o resultado ?
Quatro quintos de todas as passagens estão
a favor da mi seri córd i a, enquanto s ó u m
q u i n t o ·e s t á e m a b o n o d a j u s t i ç a .
Nota S. Romua l d o que mesmo esta quinta
parte está en tremead a de misericórdia.
Amado leitor, atende as súplicas de um
Deus, que amorosamente te convida a go­
zar as riquezas de suas i'racas ! Recorda

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
46

as parábol as de J esús : <\a m u lh e r que per­


deu a d racma ., o bom Pastor ; o bo m sama­
ritall(; : o pai a rece ber de braços ab\: rtos
c f i lho pródigo. São pará b o l as das q uais

e m j o rros de vivíssima l uz se projetam para


n csso íntimo as m istricórd ia!-' d i v i n as.
s� ab ri re s de par \.: 111 pa r as j an elas de
tua a l m a a �essa l uz, cre i o não poder5s
opôr-tc à atração q uase i rresistivel da bon ­
d a d e c misericórdia 'infin ita.
Aprofunda-1 c, por exemplo, na parábola
do bom Pastor. Conta-se no· salmo 52 que
êlc contemplou do céu os filhos dos ho­
mens, a ver, ·s c a c m e n o s u m tivesse en­
tendimentc, a ndando à procura d e f)eus.
Mas t o d o s tinham abcrrado do bom ca­
minhe , todos sem exceção. Que J que faz
o bom pastor ? Atiça os cãi!s à cata dos
transviados ? Castiga-os com o cajado ?
Envia flagelos ?
Pele contrário ; confrangeu-se-lhe o co­
ração. teve compaixão de sua grei, entoou
·comovedor ca nto elegíaco, findo o qual
pre fere o solene juramento : - << Eu mesmo
cuida rei de min has !'.v elhas . . O que está
.

perdido, hei de procurar ; o q u e está dis­


perse, reconduzirei, o que está q uebrado,
ligarei, o que Lestá traoo. roborarei . . . V6s,
minha grei . . sois homens ; eu, porém,
.

sou vosso Deus !>> (61 )


Cumpriu o juramento, abandonando as
99 ovelhas do Pai, a saber os anjos, e pai-
http://alexandriacatolica.blogspot.com/
47

milhando as rudes estradas do deserto d es­


ta terra à c::1ta da ovel h a p e rd i d a --- a hu­
m :m idadc.
Considera com isro, l eitor a m igo, mais
um c xempk' da Escri tura. O l ug,11· de des­
taque entre todos os povos é resen·ado
a Israel, e-;c � I h i do para :lsccndcntc do Mes­

sias. E ' o povo eleito com o qual Deus


trava relações í n t i mas, cc ndu- l o à terra
prcmetida e j unto dék crig� sua habitação
no Santo dos Santos. Em resumo.. o Altís­
simo se interessa por seu povo, como pela
menina dcs o-lhos.
E êsse mesmo po,-o é tão i nconstante,
tão ingrato. Hoje ad ora o seu Deus com
júbilo, aman hã o :abandona ; hoje r eceb e as
maiores graças. aman hã tem que ser casti­
gado ; hoje jura fidelidade, amanhã quebra
o juramento. O exímio conhecedor d os is­
raelitas, o grande Moisés dá-l hes o ates­
tado pouco lisonjeiro : - «Sempre andastes
ao desafi·o com o Senhor.>; (62)
Não obstante, Deus Nosso Senhor sem­
pre de novo de-rramou sôbre seu povo
abundantes graças e susciteu dentrt! êle o
Salvador.
O Testamento Novo está abarrotado de
texemplo.s. A samaritana junto ao poco
de Jacó vivia desregradamente - J esús
dela se compadece-.
A adúltera já era conduzida à morte -
·
jesús dela se compadece.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
48

O rmh l i ca no Le\" i pe rtencia à l a i a d o�


usuran o s J csús d ê l e se co m p a dece.
Mada lena era u m a peca d o ra ptíh lica
J esús del a se com padece.
Pedro n ega a seu Mestre, após ter rece­
bido a s provas m a is i nc.lubitávds de a mo r,
n e ga -o três Vl'ZCS em s e g ui d a -- Jesús d ê l e
se compadece.
O lad rã o que com o S a lvado r foi p re­
�·ado n a cruz - q ua ntos crimes nefandos
teria cometido ? Jesús d ê l c se compa­
-

dece.
O apóstolo S. Paulo confessa sem rcbu­
ços ter sido ·entre os pecadores o· maior,
ac rescenta, porém : -- «Por isto consegu i
misericórdia, afim de que J esús Cristo em
mim demonstrasse a plenitude de sua mi­
sericórd ia.» (63)
Este pecador e perseguidor d á Igreja
transformou-se na figura mais máscula de
apóstol·n - porque Jesús dêle se compa­
deceu.
O amor de Jesús não muda - é sempre
o mesmo. Os séculos são incapazes d e
oo·rroer a imensa bondade de seu Coração
a morosíssimo. Quem confiar neste amor
como Pedro - será salvo. Quem o despre­
zar como Judas - perde-r-se-á. Qual dos
dois pretendes imitar ?
Repete do mais íntimo da alma amiuda­
das vezes a hela jaculatória : Saarrado Co­
ração de Jesús, confio em vós !

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
49

Esclareceremos mais duas d i ficuldades,


cuja solução projetará luz ainda mai s abun­
dante s ôb re o P ai das misericórdias e o
Deus de tôda consolação.
Por que Cri sto nos a mou, sofreu, mor­
reu e i n sti tui u tôda a obra da Re d ençã o ?
A Igreja no-lo ensina no Credo da santa
Missa : - E creio em um s6 seu Fi lho
Nosso Senhor Jesús C ri sto que desceu do
-

céu p o r c a u s a d e n 6 s h o m e n s c d a
nossa s a l v a ç ão .
E a mesma Santa Igrej a nos ensina que
os sacramentos visam idêntico fim. Tôda
a obra da Redenção é, poi s efeito do amor
,

mi serioord ioso de Deus para com os ho­


men s S. Paulo jguaimente o a firma : - «E'
.

palavra fiel e d i gna de aceitação que Jesús­


Cristo veio ao mundo para salvar os pe­
c adores. » (64)
O programa de Cristo o evidenciaria ain­
da mais, se pos sível fôsse : - «0 Filho do
homem veio para p rocurar e salvar o que
estava perdido.» (65) «Não vim para salvar
os justos, senão os pecadores.» (66)
A opi n ião pública de· então confirma as
palavras do Redentor, pois diziam os fa­
riseus : - «Este acolhe os pecadores e come
em companhia dêles.» (67) E perguntavam
oom ira latente :aos discípulos : - «Por que
oome e bebe vosso Mestre com publicanos
e pecadores ?» (68) «Ch amavam lhe até de
-

amigo dos publicanos e p ecadores » (69)


.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
50

Na verdade, a :obra da Redenção é a


ob ra da admiravel misericórdia d iv i n a para
conosco. pobres p ec ad ores ! Consequcnte­
mente t anto mais há de aumentar"' nossa
con f ian ça quanto maior for o número dos
.

nossos P'ecados. Com razão, pois. I s a i as .

contemplando e m espírito a Cristo. rezava :


- «Deus é meu Salvador. estarei cheio de
confiança e sem temor.» (70)
A se gu nda pergunta é : Qual o e feito da
morte de Cristo e d e tôda obra da Re ­
denção ?
E'. em primeiro lugar. uma obra divina.
Quando o Onipotente age. sabemos que os
resultados não deixarão .de ser maravi ..

lhosos.
E'. em segundo luga r o efeito do amor
.

dum Deus. Quem se atreveria a descrever


êste amor ? O apóstolo das gentes parece
que o descreveu melhor na carta aos Ro ..

manos : - «Onde abundou o pecado, supe ..

rabundou a graça.» (71)


Oh, se tôdas as ·almas temerosas gravas­
sem profundamente esta máxima no co­
ração, máxima que é o hi no de louvor mais
�randioso à gr a n d iosa obra da Redenção.
O amor e a misericórdia de nosso Deus
são tão grandes :que os pecados da huma­
nidade inteira não lhes sofrem o confronto.
«A redenção é de fato superabundante,»
como a predissera Daví. (72)

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
51

Disso se segue q u e esta obra in igualável


c todo-poderosa há de arra nca r as a l mas
ao inferno, há de povoar o céu. Ou Sata­
naz terá a honra de arrebatar mais presas ?
Será êle de a l gum a man ei ra triunfador do
a mor onipotente ?
Acredite quem puder !
. . .

Consideremos ainda brevemente a graça


dos sacramentos. E ntra mo s n este mundo
com a mancha do. pecado original - o sa­
cramento do batismo fez resplandecer nossa
alma na alvura (le neve da graça, tornan­
do-nos filhos d e Deus.
São renhidas as lutas no mundo per­
verso ; o crisma revigora-nos, concedendo,
se p reci so for, a fortaleza dos m ártires .

O caminho para a pátria querida é longo


e penoso - o sacramento do altar, o pão
dos fortes robustece nossa alma.
E si sofremos derrotas, si caimos no
lodo desta terra - a confissão, levantando­
-nos, cura as !feridas.
Ao travar-se a �uta decisiva no findar da
e xistênci a - encorajam-nos os santos óleos
nesta última refrega.
Conservar a 'paciênqia e a pureza na vida
conjugal não é faci l - o sacramento do ma­
trimônio oferece as graças necessárias.
Trabalhar na salvação das almas exige
abnegação e devotamento não comuns - o
sacramento da ordem confere ao sacerdote
graças abundantíssimas.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
52

Sim, o misericordioso Deus providen­


ciou a tôdas ás nossas misérias e fraque­
zas ! Na fonte dos sete sacramentos jorram
as gracas para todos os que quiserem apro ..
veitá-las.
Se a-pesar-disso a conta de nossos pe­
cados tiver sido ·grande e, apÓs a confissão.
restarem muitas penas-também neste sen­
tido providenciou a bondade divina pelas
i n d u I g ê n c i a s fundo de reservas tão

grande . que jamais será exgotado.


Tens fé nas misericórdias do teu Deus ?
Canta e repete oom a Santa Igreja : - Oh
Deus. tu manifestas principalmente tua oni­
potência em compadecer-te e perdoar . . .

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
NOVE DIFICULDADES
Não está escrito : - «Muitos são os ch a ­

mados e poucos os escolhidos ?» (73)


Abusam alguns desta passagem do Evan­
gelho, não tanto por má vonta d e óu rigo­
r i smo senão por falta de form a ção exegé­
,

tica. Mesmo santos, como S. Francisco de


Assiz, explicaram estas e outras passagens
ao pé da letra, não as rel acionando, como
era consentâneo, com as parábolas dos tra­
balhadores da vinha e do banquete nupcial.
A significação será, então, a seguinte :
Tu, pequeno povo de I srael, foste eleito
dentre todos os povos para conservar a fé
verdadeira. Mais tarde todos os outros po­
vos serão cha m ados a esta mesma fé. O
traslado do texto original grego seria : O
pequeno n ú mero foi e scolh i do enquanto a
,

gra n d e massa foi ch a m a da . Com o céu e


o i n ferno esta passagem n a d a tem que
ver.
Mas a palavra tão clara de Nosso Se.
n h or : - «Quão estreita a port a e quão
apertado o cam inho que leva à vida e quão
po u co s com êle acertam !>> (74)
Ao l e ito r superficial pa rece que· j esús
fa l a aqui claramente do nú mero s uperio r de
réprobos ; pe lo contexto, porém, vê-se que
também esta passagem � c re fere ao poyo
de I srael.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
54

O mesmo J esús. ao falar do d e s t i n o


da h uman i d a d e , anunciou a boa nova :
- «E virão do Oriente, do Ocidente, do
Norte e do Sul ao banquete do reino de
Deus.>> (75)
Que perspectivas róseas se abrem para
os destinos dos pov.os ! Longe, pois. o te­
mor ! Deus teria criado os homens para o
inferno ou há de condená-los tã·o fàcilmen­
te ? Toma êle em consideração t ô d a s a s
c i r c u n s t â n c i a s tôdas. Que consola­

ção para os transviados. os pagãos e os


herejes !
E' doutrina da Igreja Católica : Deus
não nega seu auxílio a quem faz o que es­
tiver em suas fôrças. Condena-se, pois, só­
mente aquele, que ·rejeita a graça de Deus.
O célebre escritor Paulo Keller descreve
no romance «Huberto» uma cena emocio­
nante. Ao encontrar o pai, que se havia en­
forcado, pergunta o fil ho : - Que fará
Deus de meu pai ?
Huberto responde : - J:le o sabe melhor
que nós. E é mais m isericordioso q ue nós.
Sim, Deus entende melhor o que h á de
fazl·r do que n ós, míopes, d outri nários, es­
drú xulos e parciais em ju l gar. E é mais
m isericordioso - êle que travou re l ações
com o ahôrto d a humanidade, com adtí ltc­
ros, M a d alenas, com ladrões !
Mu ito, sim, muito acontece não sem nos­
sa própria culpa, mas ao mesmo tempo so-

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
55

mos impel idos por dinamismos ocultos,


pelos q u a is o indivídUo não é inteiramente
responsável, de modo que Deu s será benig­
no no seu j ul gamento.
A C&Dciência da cu lpa é às vezes m aio r
do q u e a transgressão o requer. Deus ajus­
tará as contas com eq u i dade, mas nisso
mesmo está nossa consolação, pois ê l e é
tã o diferente dos homens . . .
Mas os p eca do s de minha vi da passada ?
Qu a ntos sofrem com esta pergunta, a­
p es ar-de terem tido a i ntenção de confes­
sar-se bem. Sobn \·eem-Jhes dúvida s e mais
dúvidas. E' em gera l · o s i n a l duma alma
escrupulosa dema i s, •OU a cu l pa é dalgum
sacerdote a abordar sem p re de novo a
questão : Est arão em ordem as confissões
do passado ?
Quiseste fazer bem tuas confissões?
Sim ? - Então fica des c a n sa do. Foste ab ·
solvido ? Bem : creia que os p eca dos foram
perdoados.
Se és de n atureza esc ru p u los a e o con­
fesso r te aco n s e l h ou que n ã o te impor­
tasses ma i s dos p eca d o s da vida p a ssada .
que não os confessasses de nO\'O - n este
caso n ã o d c v e s c n ã o p r e c i s a s i m·
po rtar-te dêJes.
Escreveu uma religiosa ao padre jesuíta
Ebl!rschwcilcr, falecido em odor de santi­
dade, que entregara todos os pe-cados da

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
56

Vida passada a No6SO Senhor, para C@le


p ô r t u d o e m o r d' ê m .
Respondeu-lhe o padre : - E' melhor de i..
xar os pecados em paz e não importar-se
ma is dêles. A í n ã o h á n a d a· a s e r p o s -
t o e m o r d e m . O passado está em ord em
e não devemos ·entregá-lo ao amor m iseri ­
cordioso de Jesús corno coisa, que deva
ser a r rum a da, senão como cou sa que êle
já pôs em ordem por seu amor misericor­
dioso. Jesús espe ra, pois, agradecimentos,
mas sem nos sa preocupação, como. se algo
aind a não esti vesse em pratos limpos .
. . .

Mas por que con fessamo -nos tantas


vezes ?
Pensas na comu nhão frequente, diári a.
e estás oonven ci do que deves confessar-te
am i úde . Não queiras ser neste ponto mais
católico que o Pap a . Quais são as máxi­
mas cat ó lica s quanto· à comunhão fre­
quente ?
Estando isento de p ecado mortal e tendo
i n tenção reta, podes receber cada dia a
santa comunhão - sem confessar-te. Ma is.
A santa comunhão a p a ga os pecados ve­
niais. Mais. Estando n a verdadeira d i spo­
sição de ânimo, pod es aproximar-te d a
santa mesa e g a n h a r t o d a s a s i n d u l ­
g ê n c i a s , m esmo se u m a ou ou tra vez
por sem a n a n ão com u ngas.
No seu opúsculo sôbre a com u n h ão fre­
quente, opúsculo recomendado com em pe-

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
57

nho por S .S. o · Papa Pio X, escreve ·o ca­


.

·nonista Dr. Antoni : Se q u eremos que a


comunhão cotidiana não seja u m sonho,
devemos ch egar ao ponto de diminuir o
númer-o das confissões n ão n ecessárias. En­
sinemos os fiéis a comun gar com alegria
e sem receio mesmo não se confessando
,

d u r a nte semanas e meses.


Com alegr i a e sem receio ! I sso é que
é ser católico. D e i x e m o s d e p a r t e
t o d o s o s r ec ei o s i n f u n d a do s ­
escrevi a o pap a Leão X I I I em sua última
·encíclica. Não tenhamos, portanto, mêdo
de Jesús-Hóstia e aproximemo-nos com
frequência do banquete eu c a rísti co .

• • •

Mas devo estar continuamente receiando


o pecado. Ah, .se não fôsse o pecado ! Não
diz a Escritura que o justo cai sete vezes
por d i a ?
Não, escrito está a p e n a s : ,,Q justo cai
s et e vezes.>> (76) Além disso refere-se esta
passagem aos sofrimentos e tri bulações,
não aos pecados.
,., E ' v e rdad e em m u i t a s coisas todos pe­
,

camos.» (77) Passagens semelhantes só


atestam que em consequênci a do pecado
o r i gi n a l não podemos evit a r todos os Jle­
cados e falta s de fraq ueza. Querem, pois.
i n cuti n d o-nos coragem, preservar-nos do
desân imo. Com nossa s fraquezas Deus há
de saber .. a rnmjar-SC'· p o r conhecê-las me­
l hor qu<.' nós mesmos.
http://alexandriacatolica.blogspot.com/
58

P·ode ser que sejas um dos que pensam


logo em pecado morta l , e assim nunca che­
gam a g.ozar da verdadeira alegri� dos fi­
lhos de Deus. E' certo que deves ter o
firme propósito de não cometer nenhum
pecado grave, e jamais devt"s amar o pe­
cado.
Que é o peca d o mortal ? E' a trans­
gressão de um preceito grave com plena
advertência do entendimento e pleno con­
sentimento da vontade. Se falta um s6 dês­
tes requisitos ou se duvidas seriamente si
estes requisitos se realizaram - podes estar
certo de que não foi pecado mortal. E'
inadmissível e contrári a aos teólogos a opi..
n ião que o homem, ·sem claramente o saber
e querer, pode submergir · no pecado grave.
Assim ·O célebre teólogo Pesch.
• • •

Mas os pecados contrd o sexto manda­


mento ?
Quanto a êstc ponto m e d it a 1. na máxima :
No corpo humano n ada há d e i mpuro. Este
�:o rpo, em t ô d a s as suas partes, é a maior
o bra de a rt e do Cri ador. Não pod es pois,
,

ver a l gu m a cousa deshon csta ou tocá-Ia,


mas podes fazê-lo com i n t e n ç ã o d cs -

h c n e s t a Cometes, portanto, um pecado


.

contra a ca st ida d e se p o r pensamentos,


o l harl's ou tatos de Q u a lq u e r man eira ex­
citas o deleite impuro.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
59

Se tens o hábito de pecar, aproveita


todos os meios <la graça para emendar-te.
Não tendo afeição aos prazeres ilícitos,
lembra-te que procurar pecados não é as­
cese boa. Deu s, porventura só ' quer na s ua
presença réus e d evedor es ? Não é Deus
nosso Pai e Jesús nosso irmão ? Reque r s e -

por is so da nossa parte u m trato a m i gáve l ,


confiante, e não o eterno choramingar por
causa de nossos pecados, sinal tanta vez
de mero amor •próprio.
:• . .

Tenho tanto mêdo do juizo após a



morte !
<<Nest duizo Deus também há de r e c o m ­
p e n s a r c a d a c ·o p o d e á g u a q u e
t i v e r e s d a d o p o r s e u a m o r . >l (78)
• • •

E o purgatório ?
Sofrem ali mui to as almas. A razão prin­
cipal é de Hão p oderem ver a Deu s face
a face. Abrindo, porém, as p o rtas do pur­
gatório, notarás que nenhuma al m a quer
sair. Preferem sofrer por est a re m inteira­
mente ronformadas com a von t ad e de
Deus.
As a l m a s até goza m de gra n des a legrias,
i t l egrias fu n d ad as nas segu i ntes verdades :
1 .'' Estamos s a l vos para tôda a eternidade
c j a m a i s potieremos perder-nos. 2.0 No s ­
s o s sofri m e ntos \·êrn de Deus. São, poi s.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
60

para nosso bem. 3.0 Deus nos ama, en­


quanto nós amamos só a Deus. 4.° Cada
mome nto aproxima-nos da bem-aventu­
r ança eterna. 5.0 Na terra esforçam-se almas
boas no sentido de e ncurtar nossas p en as.
6. o Pod emos rezar por nossos :parentes, co­
nhecidos e por 'tôda a humanidade.
Escrevem-se histórias fan tásticas ,a res­
peito do purgatório, histórias a que basta s
vezes falta o 'CU n ho da autenticidade. Não
exageremos · nunca a seve rid ade divina !
• • •

Tantos morrem im pe n iten tes !


Fácil é dizê-lo, tens prov4 ? Parece q ue
S. Teresa é de outro parecer : - A i n f i ­
n ita m i se ricó rd i a d e D e u s pe rse­
g u e a alm a huma n a até o ú ltimo
h á l i to .
A nosso ver a misericórdia bastantes ve­
Les começa a trabalhar quandp os homens
já desesperaram. Su ponha mos que a l gué m
morre sem sinais de arrepe ndimento. Diz
o douto prof. Dr. Zahn : - Com isto ainda
não está verificado como a g i u a a I m a
perante a graça no último momento d a
vida. A graça trabalha m a i s d o que se
patenteia a nossos olhos e nas p r o f u n -
d e z a s d a v o n t a d e reside às vezes ma h•
bondade ou menos malícia d o q u e o juizo
h u mano p arece averiguar.
Somos da mesma opi n i ão. Haverá mais
de um a con fessar p er a n t e a justiça divina :

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
61

- Fu i fraco, mas não fui mau. - Faltando


a maldade, a perversidade propriamente
dita não vencerá a graça. a misericórdia?
,

Confia, amado leitor, que o céu será


teu. Repete ootidianam·ente do íntimo de
tua alma : - Sacratíssimo Coração de
Jesús, confio em vós ! Em· t� Senhor, es­
perei, jamais hei de ser confundido !
E hás de experirnéntar as palavras de
S. Agostinho : - Diante das portas do i n ­

ferno está -a misericórdia !

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
SANTOS E FILHOS SEUS

Pela bôca d<>. profeta Isaías fala Deus


aos. homens com augusta majestade : -
«Quem com três dedos tomou o fardo da
terra, pesando os montes com um pêso e
as colinas com uma balança ? Quem ajudou
o espírito do Senhor, ou foi seu conse­
lheiro ou o instruiu ? . . . Eis, os ,povos de­
vem ser considerados como uma gota a
esoorrer no balde, como a lingueta da ba..
lança. Todas as nações são diante dêle,
oomo nada.» (79)
Esse Deus potente, além de ter cuidado
de nós, nem quer, por assim dizer, viver
e agir sem nós, Jpobres mortais; Sublima o
nosso nada, transfonnando-nos em santos
e filhos seus.
Em santos ? - Leve sorriso paira nos
teus lábios. Eu - um santo ? Tornar-se san­
to, dirás, é a vocação de poucos, não da
grande massa. De mim, e ntão, nem se fala!
- E contudo quer Deus fazer de ti um
santo. S. Paulo confirma-o bem claramente :
- «Esforçai-vos na santidade, sem a qual
n inguém vê a Deus.» (80)

Cristo apresenta o ideal de tôda santi­


dade, d i zen do : - «Sêde p erfeitos, como é
perfeito vosso Pai no céu.» (81)

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
63

O que Deus exige, não é tão difícil de


conseguir, porque nunca exige o impossí­
vel. Deves. portanto. tornar-te santo.
Faze, antes de mais nad� um oonceito
razo·ável da santidade. A boa vontade fará
O resto. tS u m dos tais a pensar que a san­
tidade consiste em coisas extraordinárias.
em jejuns, vigílias, penitências, mortifica­
ções. mi la gres etc ? e:rro lamentável êsse !
,

Observa por favor. a vida dos maiores


santos na casinha de Nazaré. Que é que
vês ? J esús, Maria e José não fazem nada
(de extraordinário, não praticam grandes
pe.:itências, não se ouve de u m só milagre !
S. José trabalha n o banco de marceneiro.
como qu al qu er jornaleiro ; Nossa Senhora
ocupa-se na cozinha e no jardinzinho .como
qu al qu er dona de casa, enquanto o menino
Jesús ajuda. já o pai, já a mãe, como qual­
q uer outro menino de sua idade.
Esses três são, entretanto. os maiores
santos da Igreja ! Disso se conclúe a su­
blime e consol adora verdade : A santidade
não é coisa extraordinária, senão o cum­
primento singelo e exato do dever !
Não i m po rta qual seja tua posição na
vida : se és p rofessor ou fazes rodeio numa
fazenda ; se trabalhas no escritório ou na
cozin h a ; se és comerciante forte ou ser­
vente no h ote l ; ·se gozas de bo a, saúde, ou
ês atacado de moléstia incurável ; se és
j ov em o u a neve da velhice já p ratei a teu

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
64

cabelo - dá tudo na mesma - cumpre com


tuas obrigações por amor de Deus e serás
santo, mesmo se o Papa não te canonizar.
Quão grande é a bondade divina, que
de modo tio fácil te quer atrair ! Não te
encherá de consolação e confiança tal ex­
cesso de amor ?
Tem outrossi m boa vontade, amado lei­
tor, boa vontade, evitando o pecado. En­
quanto tua alma estiver presa no cárcere
do corpo não deixarás de cair em faltas.
Há, porém, grande diferença em pecar por
maldade ou por f r a q u e z a . Nossas fra­
quezas o bom Pai do céu fàcilmente as per­
doa e desculpa, pois <<lembra-se de que so -

111()6 pó.» (82)


Se tiveres boa vontad�, hás de praticar
o bem. Tuas boas obras, porém, terão sem­
pre o sêlo da insuficiência e imperfeição.
As distrações hão de ser molestas, os san­
tos sacramentos não te inspirarão o afeto
almejado e de quando em quando hão de
dominar-te pensamentos de vaidade. Pa­
garás em tôdas as tuas ob ras o tributo à
fraqueza humana, mas tendo boa vontade,
Deus estará satisfeito e conduzir-te-á pe­
las veredas da santidade.
Li nu m livro ascético que nossas ora­
ções (o mesmo se entende de outras prá­
ticas religiosas) va l em tanto, quanto vale
a intenção ; assim corno o pai recebe com

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
65

alegrias as ervas que o fi l h i n ho lhe oferece


como «ramalhete !»
Oh sim, paz (aos homen s de boa von­
tade ! Paz àqueles que têm boa vontade,
mesmc se ca em em faltas, se amiúde trope­
çam e se !m u ita s de suas obras são imper­
feitas !
Por que ter mêdo ? - S. Fra ncisco de
Assiz costumava dizer : - Parece-me que
ao chegarmos lá em cima, Deus nos d irá
em primeiro lugar : Amargurastes-vos bas­
tante a vi d a -e te ria sido tão fácil . . .
. Os homens são tolos ! A tormen tam -s e
o(·.n m il cuidados para ach.ar a Deus e ser­
ví-10, e sq u ecendo-se a maioria de que a
coisa essencial consiste ·em termos a Deus
pOr Pai e s e ntirmo-n os filhos extremosos
dêste Pai na doce alegria do coração.
Deus - nosso Pai ! E' êste o cerne, a
quintessência da Religião.
Deus - nosso Pai ! Quantas vezes o
Evangelho nos lembra esta verdade su­
blime !
Deus - nosso Pai ! O Padre-nosso no-lo
põe diante dos olhos d ia a dia.
Deus -- nosso Pai ! Não to segredaram
as páginas singelas do livri n ho que tens
en tre mãos ?
O judeu do Antigo Testam�nto via em
Deus o Senhor e Legislador severo, con­
siderando-se a si mesmo criado e servo

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
66

seu. Nós, ao contrário, após ter recebido


a boa nova do Evangelho, devemos consi­
derar a Deus como a Pai que nos ama,
nos perdoa e por nós se interessa como
por seus filhos mui <.�ueridos.
Nosso lema há de ser : Amor e confi­
ança ! consoante as pa·Javras de S. Paulo
··- «Porq u anto não recebestes o espírito de
servidão outra vez no temor, porém, rece­
bestes o esp í ri to da adoçã o de filhos, no
qual clamamos : Abba ( Pa i) . » (83) e de
S. João : « V ê q u e c a r i d a de d e m o n s -
t r o u o P a i 'q u e . . . s o m o s f i I h o s d e
D e u s . » (84)
Quão poucos se aprofundam no abismo
de con sol ação, de ;energias vivificadoras,
que encerra nossa filiação divina. Quantos
continuam a considerar-se peões ou até
escravos de Deus, gemendo sob um j ugo,
que deveria ser leve e suave ! Em quantos
o pensamento predominante · é a l e mb ra n ç a
tdos pecados, das falta s ! A seu ver Deus ·
não faz outra cousa senão apurar e ca sti ga r
pecados e encolerizar-se.
Sois dignos de lástima. A responsabili­
dade de tal ·estado anormal da vossa a l ma
recai principalmente naqueles que forcejam
da r e ligiã o do amor uma religião d a lei ;
que por palavras e obras ensi naram a seus
semelhantes conce ntrar a at e n ç ão no pe­
cado c não no amor d e Deus, que é nosso
Pai amoroso.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
67

Quantas vezes sobreveio terrivel reação !


M ais d e um deixou de praticar a religião
c atóli ca, cujas alegrias íntimas nem chegara
a conhecer !
O e sp íri to da oo nfi a n ç.a c do a m o r sazona
frutos bem dh·ersos. Escreveu-me um se­
n hor em r el e v a n te posição social :-Li com
o má x i m o interêsse seu livrinho que de fato
a fu g e n t a o mêdo, t.lesperta a confiança, o
amor, c co nfere a paz d o coração. Conside­
ramo·s a Deus dum ·outro ponto de vista
e tem emos m ais o pecado do que
antes. - Boa lição essa' para os rigo ­

ristas !
f:raças a Deus, muitos já e nt en d er a m que
só a r e li g i ão do amor pode elevar nooso
e s pírito ; que só a religião da con f i an ça t!
capaz de satisfazer o :cora ção .
Como s e remo s felizes, após ter e ntrado
no nosso suco e sangue o espírito dos fi­
l h o s de Deus ! Já não duvidaremos dalgu­
ma verdade da fé, ma s juntaremos as mãos
ccmo quando crianças para adorar o que
nos não é dado perscrutar. Não nos lasti­
maremos em demasia dos nossos pe c ados
e faltas, senão a b r a ç a r emos com mais ca­

r i n h o o bom Pai que tudo perdoa.


A al m a co n fiante n ão está a cada mo­
mento re fl et i n do , se cum p riu seu de,·er em
tôdas a s minúcias, senão entrega-se à co n­
vicção de que Deus está satisfeito· com a
boa von t a d e de servir- l h e na s i ngeleza do

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
68

coração. Nem sobrecarregará a si ou ou­


trem com sacrificiozinhos cont ínuos, que a
impe dem de estar alegre e be m d ispost a .

A alma que confia não se ent rega a re­


ceios demasiados a re s pe ito da bem-aventu­
rança eterna. A ti r a se com certo arrôjo nos
-

braços do bom Pai do cé u exclamando : -


,

Então, eu não entrarei no céu ? N ã o és tu


meu Pai e eu ·teu filho ?
A alma que confia singelamente não se
at or menta com investigações sôbre os mis­
térios da Religião. Aceita tudo como os
Eva n gelhos e a Santa I greja no-lo ensinam.
Durante a e l ev a ção da santa hóstia a a l ­
ma confiante não fi xará o chão, transida de
mêdo, senão gostará de ver o seu Jesús
face a face. E ' êsse o de sej o do Papa
Pio X de santa memória. pois até con ce ­
deu uma indulgência ·especial àqueles, que
olhando a hóstia com fé e ven era çã o, di­
zem : Meu Senhor e meu Deus !
Lembremo-nos d a admoestação de Cris- ·

to : «Na verdade vos digo que, se vos não


conv e rte r de s e f i ze rdes como crian ças, não
ent rare is no rein o dos céus.» (85)
Ouçamos o que o Divino Salvador con­
fi ou à ven eráve l Benigna Consolata fcrre­
ro, fa lec i da em 1 91 6 em Como n a It áli a
- Esto u p reparando a ob ra da
minha m isericórdia. Quero que a
soc i e d a d e h u m a n a s e re nove, e

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
69

e s t a r e n ov a ç ã o s e r á a ob r a do
m e u amor.
A confianca é a chave dos tesouros de
minha misericórdia infinita
E' c e r t o q u e c e m p e c a d o s m e
ofendem mais que u m só, mas se
ê st e ú n i co p ec a d o f o r d e d e s co n ­
f i a n ç a, vu l n e ra m a i s m eu cora ­
c ã o , d o q u e c e m o u t ro s p ec a do s .
A d e s co n f i a n ç a v ú l n e r a m eu Co­
ração n o ponto m a i s sen sivet .
porque amo tanto os homens.
O q u e t e q u e r o d i z e r, r e s umo
n as p a l avras : A alma nunca h á
d e t e r m ê d o d e ·D e u s . . .
S a b e s q u a i s s ã o. a s a 1 m a s q u ·e
'
m ais utiIidade au ferem d a minha
bondade ? São as que têm mais
confiança.
A s almas confia ntes roub a m
m i n h as graças . . . J á a peque n a
j aculatóri a : Confio em vós ! ­
cnca nta meu Coração. por e ncer­
r a r a confi a n ç a . a fé. o a mor e a
humildade.
Acrescentar algo a estas sentenças saidas
do Coração Divino seria desvirtuá-las. São
a con firmação de tudo 4ue levamos dito.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
A RECOMPENSA
Consideraste, leitor a m i go , como Deus
rege o mundo, como o ama, dê l e se com­
padece e o atr,a'i ·a si.
Por certo nã o podes deixar de romper
no cântico de louvor do sa l m ist a : - «Deus
é nosso refúgio e fortaleza, o a l iado nos
perigos a avassa lar-nos ·em dem asia. Por
isso não precisamos temer, emb o ra a terra
e os montes se · precipitem nas profundezas
do mar. - O Deus dos exércitos está co­
nosco.» (86)
Viva a confi an ç a em ·Deus !
«Se tua con fi an ça não va ci l a r, há de ser
a causa duma r e c o- m p e n s a g r a n d e , )>
como assevera S. Paulo. (87)
Em que consiste esta r ecomp ensa ? Em
primeiro lugar a confiança' eleva e alegra
o coração. Os tímidos, os rece iosos, os sem
fé viva e n t re gam-se a certa melancoHa. Os
que confiam são l ev a dos ·como por .asas sô­
hrc tôdas as dificuldades da vida. São êles
de todo filhos de Deus, podendo usufru ir,
rmr as si m dizer, duma leviandade santa.
Deus sabe o que faz ! Deus é bom ! De
hora em h ora, Deus m elhora ! -- dizem c
cantam os tais.
Instrutivo é a êste respe ito o segu i nte
co nto (que de m a neira nenhuma pretende
ofender a ben emérita ordem de S. Bento).

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
71

Um belo dia estava S. Francisco , com al­


gun s de seus companheiros de visita numa
abadia. Enquanto conversava com o · abade,
di sputav am os m a i s quem era maior
, - S.
Bento ou o Padre Mestre Francisco.
- Que severidade, que espírito de peni­
tência v emos ·em nosso Fundador ! -excla­
m ava m os bened it i nos. P l a n tou e spi n he i ­
-

ros para s i e seus · filhos !


Os discípulos de S. Francisco sorriram.
Foram todos ao jardim · aca riciado pelo sol
da primavera . . . Ouvia-se o 'alegre gorgeio
da passarada. Contemplaram os tespinheiros
p l a ntados 'pelo próprio S. B ento e os fran­
cif,:anos tiveram que ouvir frases como
essas : - Eis o brazão do justo ! Dêste li­
vro hau re nossa alma bálsamo celestial !
Quem semeia lágrimas, colherá sorrisos !
Como a Moiséz, assim Deus· se man ifesto u
a n ós na sarça !
O prior até s e atreveu a dizer : - Quem
quise r pôr em seguro a salvação, leve um
raminho dêstes para conservar o santo te·
mor de Deus.
Mais uma vez sorriram os discípulos d e
S. Francisco. Este, c o m u m sorriso à flor
dos l ábios, tirou um ram i n ho do espinheiro.
Mas, oh milagre ! - no mesmo in stant e os
espinhos transformaram-se numa infinidade
de rosas.
Envergonhados afastaram-se os benedi­
ti nos, d irigindo-se cada qual à sua cela. E

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
72

que haveria de ver sôbre a mesa ? A vara


do espinheiro também ali se transformara
num ramo c h e io de rosas. Entenderam en­
tão os severos 'filhos de S. Bento que Deus
se alegra mais oom uma alma alegre e oon..
fiante, do que com austeridades, e que os
rostos sorridentes do Padre Mestre Fran ..
cisoo e de seus d iscípulos valiam mais que
cem rostos sorumbáticos de santos.>>
• • •

A confiança em Deus alivia os cuidados


e sofrimentos. Pesada carga oprime os fi ..
lhos de Adão. Ninguém está sem cuidado
e tribulação, pois uma cruz segue a outra.
O melhor afugenta-cuidados é a confiança
em Deus, que qual anjo protetor se coloca
ao lado do homem, protegendo-o contra o
desespêro e o desânimo.
Que triste seria, se o homem não tivesse
outra pátria, senão o pouco de lama, que
chamamos mundo. Os que sabem da sua
dignidade de filhos de Deus estão firmes
nos ventos e nas ·tormentas da adversidade.
a-pesar-de sua insuficiência e miséria pes­
soal. Seu protótipo é o santo Jó. Na apa­
rência Deus o esquecera. Escarnecia dêle a
própria espôsa : - Ainda permaneces firme
em tua ingenuidade ? Ma ldize a Deus c
morre ! - Não se dei xou contudo abalar
em sua oon fiança c experimentou o que
O a rcia Moreno a firm ava ao e xpirar : -
D e u s fl ã o m o r r e !

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
73

Outro exemplo d epa ra -se - nos no velho


Tobias. Parecia que o céu o havia desam·
parado. A espôsa e os parentes sorrindo
l he perguntavam : - Onde está agora tua
esperança ? - O velho Tobias .aferrou-se
em sua desdita às verdades da fé, não va·
cilou e - sua confiança não foi iludida.
De fato, esperando n o auxílio de Deus,
podemos suportar os sofrimentos mais atro­
zes, os golpes mais imprevistos. ·

Quantas vezes Deus mesmo prometeu


ajud a r-n os ! No l ivro dos Provérbios depa­
ramos oom as palavras animadoras : -
«Tem confiança no Senhor de todo o teu
C9facão ! Em todos os teus caminhos lem­
b.:a-te dêle e êle mesmo conduzirá teus
passos.» (88)
Grandiosa é i g ual m ente a exortação de
Salomão : - «Atendei, oh povos todos e re­
conhecei que nenhum a oonfiar no Senhor
foi desamparado.» (89)
E Jeremias exclama : - •< B e m - a v e n ·

tu rado o homem que põe no Se­


n h o r s u a c o n f i a n ç a )) (90)

Já ou vi m o s qua nto Cristo fa lou sôbrc


a con fi ança . Sim, Deus não abre de suas
mãos os seus. R eco n h ec e como seus os
4 u e, quais fil hos a moros o s, o consideram
como Pai. O temor de Deus é só o p r i n ·

r í p i o da sabedoria. A p t! r f c i ç ã o . a
c o r o a é a co n fi a n ça na Bondade di v i n a .

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
74

Esta confiança f az- nos adiantar céleres


no caminho da pe rfe i çã o. Diz a Escritura :
- Os joven s caem por causa da fraqueza
(i. é : as naturezas mais fortes são vítim as
da fadiga, sem a confiança em · Deus) ;
«aqueles, porém,)) continua a Escritura,
(<que confiam em Deus, renovam sua força,
alçam as asas quais aguias, correm e não
se ca nsa m, caminham e não se fadi­
gam.» (91 )
E' instrutiva neste sentido a história de
Daví e Golias. Ninguém queria pugnar
contra o g igan t e. Eis que se a presenta o
pequeno Davf. Saul vestiu-o com sua cou­
raça, oobriu-lhe a cabeça com o elmo de
aoo. Daví, porém, após ter dado alguns
passos, disse : - Assim não posso andar !
E, indo em vestes leves ao encontro do
g i ga nte, prostrou-o por terra.
Ah, quantos andam vestidos da oou raça
i nsuportável do t emor ! Não POde m pro­
gredir no amor de Deus, quintessência da
perfeição. Fora, p o rta n to, oom a couraça
do t emo r ! Vistamos a leve tún ica da con­
fiança fi l i a l e a · vitória será nossa !
O a pó sto lo do amor escreve : <<Temo.r
c amor não se tolera m ; -- o amor per­
reito suplanta o temor.» (92) S. Teres a con­
f i rm a o sobredito : - F a I o d e e x p e r i -
ê n c i a . U m a a l m a c o m m u i t a con ­
fiança em Deus adianta num d i a
m a i s , do q u e o u t r a s em c e m d i a s .

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
75

A confiança alivia finalmente as horas


derradeiras de nossa peregrinação terres­
tre. Vejamos dois fatos. A 2 de novembro
de 1 866 falecia o decano da catedral de
Mogúncia, Adão Francisco Lennig. Momen­
tos antes de expirar externou sua con­
v icção nos seguintes termos : - D e v o
a presentar-me diante do tribu­
n a l d i v i n o . rn a s n ã o t e n h o m ê d o .
C o n f io e m J e s ú s - C r i s t o . n o s m e ­
r e c i m e n t o s d ·e s u a s a n t a m o r t e ,
d e su a s s a ntas c h a ga s e d e s e u
s a n gu e d i v i n o.

Llna freira, estando às portas d a morte.


lamentava-se a S. Felipe .Neri. confessan­
do ter medo de ser condenada por causa
d e seus pecad06. Aí o santo .lhe mostrou
o crucifixo, perguntando : - Por quem
J esús sofreu e morreu n a cruz ? Pelos
-

pecadores. - respondeu a freira. Bem, re­


torquiu o santo. - então também morreu
por ti, a fim que teus pecados fôssem per­
doados e entres no céu. - Tais palavras
afugentaram todos os sentimentos de
temor.

O célebre franciscano Agosti nho de Mon­


tefeltro jazia no leito da morte. Na pri­
meira etapa de sua vida religiosa fôra êle
possante apóstolo da pa l avra no púlpito,
na segunda etapa maior ainda pelo sofri­
mento e pela obediência.
http://alexandriacatolica.blogspot.com/
76

O cardeal Maffi de Pisa, presidindo às


exéquias, exaltou as excelsas virtudes do
falecido. frei Agostinho recebera os úl­
timos sacramentos na segunda-feira da
Páscoa de 1 921 . Declarou por essa ocasião
como numa visão : - Faz poucos dias, ex­
pliquei na ca p e l a o Padre-nosso às cri­
anças. Jamais senti tanto a consolação
profunda que percebemos em contemplan­
do o céu, em podendo cha mar a nosso
Deus e Senhor de - Pai ! Nas peripécias
da vida terrena muitas coisas passam e já
ninguém delas s e importa. Mas. ao enfren­
tar a morte e o juizo, havemos mister de
um Pai no céu. - E expirou plàcidamente
n a paz do Senhor.
Leitor amigo, liberta-te das cadeias do
temor servil, levanta tuas mãos desimpe­
d idas para o sol do amor d ivino, afim
taue incendeie em teu coração a confiança
que gera a áurea liberdade dos filhos de
Deus.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
ORAÇÃO
Qual criancinha eu me chego a vós,
Deus amável e bondoso. Confesso solene­
mente : Ninguém no céu e na terra é tão
bom, como vós !
Evidenciais vosso amor e vossa oon­
dade, regendo o mundo todo e q ualquer
alma em particu lar. Com quanto carinho
cuidais da minha alma !
Evidenciais vosso amor e vossa bon­
dade pelo cuidado desinteressado para com
tôdas as criaturas e os homens em parti­
cular pela obra da Redenção.
Evidenciais vosso amor e vossa bon­
dade, tendo compaixão da humanidade pe­
cadora, como Pai das misericórdias e Deus
de tôda consolação. I nsinuais a nós, po­
b res terrígenos a chamar-vos com o suave
nome de : Pai ! e con sidt•rar-nos a nós
mesmos - filhos vossos e herdeiros da
magnificência do vosso reino.
Oh Deus bondoso e amável, reconheço
minha insensatez em ter-vos servido com
temor. Reconheço minha injustiça e con­
fesso minha ingratidão por ter-vos servido
com confiança tão frouxa, por ter-me im­
portado tão pouco d a vossa bondade e do
vosso amor.
Perdoa i , Deus amá\'el e misericordioso,
perdoai minha insensatez. De hoje em di-

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
78

ante quero tratar-vos só como a meu Pai


amoroso, sentindo-me feliz em ser vosso
filho. De hoje em diante não me inquie­
tarei por causa dos pecados da vida pas­
sada, porque p erd oa ste s e e sq u ecestes os
meus delitos ; nem me entristecerei por
causa de minhas misérias e faltas, pois
vós sabeis que tenho boa vontade e conh e ­

ceis m i n h as fraqu�zas melhor que eu.


De hoje em diante quero abandonar-mt!
aos vossos braços patern a is, esperando
firmemente me hajais de conceder uma
morte feliz e um lugar no céu p a r a goza r
em vossa companhia. as d elícias eternas .

Aceitai o pouco que possuo, aceitai a


única coisa que posso o ferecer-vos m in ha
boa vontade. Sim, Deus bondoso e amá­
vel, sabeis que quero servir-vos de todo
o coração.
Perante o 'Céu e a terra confesso e sem-·
prc confessarei : - Em \'ÓS, oh Deus bon­
dGso, fi e l e amável, con fiei, ja m a i i hei de
ser con fu n d ido. Assim seja.

http://alexandriacatolica.blogspot.com/
Apêndice
(1) s 1 10, 10 (47) 1 Jo 4, 1
(2) Ec 2, 7-10 (48) Pv 3, 1 1
(3) s 88, 1 (48) Hb 12, 'l-10
(t) 2 cor, 8,7 (50) Ftl 2, 12
(5) Mt 8, 22 (5 1 ) At Ap 3, 15·18
(8) Mt 9, 2 (5liJ Lc 18, 31
(7) Jo 18, 33 (53 ) Ec 8, 1
(8) Mt 6, 30 (54) 1 cor 4. t
(91 Mt H, 31 (55) 2 Cor 1 , 3
( 10) Mt 18, I (56) Is 1, 18
(11 )Rom 8, 15 (57) Ez 33, 11
(12) E C 1 8 , 28 · 28 (58) Mq 7, 19
CU) Lc 12, 7 (59) Jonas 4, 2
(lt) Sb 8, 8 (80) s 1 02, 8
(15) s 134, 8 (61) Ez 34
(18) Pr 2 1 , 1 (62 )Dt 31 . 27
(1'1) Jó 12. 23 (83) 1 TJm 1, 18
(18) s 47, 15 (84) 1 Tlm 1, li
(11) Sb 14, 3 185) Lc 18, 10
(20) Jó 13, 1 5 (88) Mt 9, 13
t 21) Jó 28, 24 (67) LC 15, 2
(22) Ec 23 , 28 ( 81) Me 2, 18
(23) Jo n, 17 (69) Le '1, 34
(24) 3 Reg a, 39 ( 70) b 12, 2
(25) Ee 23, 29 1'11 1 Rom 6, 20
(26) Jó 9, 4-10 (72 1 s 129, .,
(27) Mt 28, 18 ( 73 1 Mt 22. 14
(28) Jnn 17, 7 (741 Mt '1 , 14
(29) Mt 13, 30 175) Lc 13. 28
(30) Rom n, 33 (78) Pv 24 , 18
(31) 11 55 , 8 (77) Jac 3, 2
( 32) Rom 14, a (78) Mt 10, 42
(33) Mt 6, 33 (78) Ia 40, 14·17
(34) s 36, 25 (80J Hb 12, 14
(35) Sb 8, 1 ( 8 1 ) Mt 5, 48
(38) s 144, 18 C 82 J s 1 02, 1 4
(37) s a, 5 (83) Rom a, 1 5
c3a) Lc 1 8 , 111 (84) 1 Jo 3, 1
1 39) Mt 6, 8 f85) Mt 18, 3
(40) Jo 16, 27 ( 88) s 45
(tl) Mt 6, 9 1 87) Hb 10, 35
(42) Jo 3, 16 188) Pv 3, 5-6
(431 2 COl' 7, 4 t81 U Ec 2, 1 1
(44) 1 Jo 4 . 9 (90) J nn 17, 7
(45) s 110, 1 1 ( lU ) IB 4t', 30
(46) Jo 19, 26 t 9 2 ) 1 Jo 4, 18

http://alexandriacatolica.blogspot.com/

Você também pode gostar