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Tarefa 1 – 1ª parte
O conto "Amor" de Clarice Lispector é, segundo Pineda (2004), um texto aberto, ou seja,
algo que apresenta diferentes direções possíveis. Podemos a partir do texto problematizar o amor
como algo que dá sentido a vida, o que encontra eco no pensamento do filósofo Luc Ferry (2008).
Para Ferry, “o amor é uma das poucas coisas absolutas, indiscutíveis hoje em dia. E a única coisa
capaz de dar sentido à vida é o absoluto”. Para problematizar o amor, Lispector captura uma cena
cotidiana, assim ela consegue que sua personagem central estabeleça com o leitor uma relação
identificatória. Porém, devido a natureza subjetiva e múltipla desta relação, vemos em Ana
fragmentos de nós mesmos. Experiências que se intercalam com os diversos recortes de nossas
próprias vivências. A imparcialidade narrativa com que o texto descreve o cotidiano de Ana é rico
em imagens e alusões, que paralelamente as emoções da personagem, evocam em nós, leitores,
percepções reflexivas também sobre nosso cotidiano.
A intensa preocupação de Ana com a dinâmica das tarefas domésticas e o receio com a
“hora perigosa” evidenciam uma fuga que é própria da Humanidade – a fuga do Desejo. Para
Taffarel (2019), Lacan define o Desejo como diferente da necessidade e também da demanda. Em
seu blog Taffarel pontua que o desejo, segundo Lacan (2002), “tem uma relação intrínseca com a
incompletude, com a falta. Com um apelo, um pedido que esconde e indica uma demanda, e uma
tentativa de alcançar um preenchimento que, nessa concepção, está sempre além” (TAFFAREL,
2019). Desta forma, fugimos do desconhecido e também daquilo que fingimos não conhecer, do
mal-estar das coisas encobertas na alma ou em nossa consciência, fugimos então do nosso Desejo.
Não é raro na sociedade o estereótipo daquele que desiste e esquece de si mesmo para se
dedicar apenas a um outro. Este outro pode assumir variadas formas (uma relação romântica, o
trabalho, a família, uma ideologia). O problema é a alienação que permeia este tipo de entrega, que
acaba por ser um mecanismo de fuga, onde o sujeito foge de si mesmo e de suas questões internas,
provocando as vezes a falsa sensação de que se está tudo bem resolvido. É o tipo de abnegação
altruísta que cobra um alto preço, o preço de não viver enquanto se vive pelo Desejo do outro.
Entretanto, a segurança de Ana é perturbada por um momento de epifania, a imagem do cego
provoca, em Ana, um movimento de abalo, um tremor que ameça ruir as várias camadas de
abnegações e distrações de si mesma acumuladas no decorrer dos anos, e a leva a um confronto a
tanto adiado – o confronto com seu próprio Desejo.
A partir deste encontro com o cego, “a vida arrepiava-a, como frio”. Ana passa a sentir a
vida de uma forma e perspectiva diferente, “era um mundo de se comer com os dentes...era
fascinante”, ela passa a ter fome de um mundo que a fascina. Tal como a fome biológica perturba as
entranhas do corpo, a fome de vida perturba a alma. “parecia à beira de um desastre..., sua alma
batia-lhe no peito”. E uma vez que somos confrontados com nosso próprio Desejo, a fuga já não é
uma alternativa. “Não havia como fugir... seu coração se enchera com a pior vontade de viver.
Referências
FERRY, Luc. Entrevista com Luc Ferry. Superinteressante. Abril. com, v. 22, 2008.
TAFFAREL, Marisa. O desejo segundo Jacques Lacan. Blog de Psicanálise SBPSP. 2019.
Disponível em: https://www.sbpsp.org.br/blog/o-desejo-segundo-jacques-lacan/ . Acessado em
07/04/2021.
Tarefa 1 – 2ª parte
Em seu conto O Brâmane, Voltaire fala de um homem muito sábio, rico, com um lar
bem governado que aparentemente, tinha tudo para estar satisfeito, mas chega a lamentar a própria
existência. As questões filosóficas que o sábio Brâmane não consegue responder o levam a uma
profunda angústia, a uma infelicidade imensa. Já a personagem “velha ignorante”, que aparece no
conto, não se preocupa com qualquer questão filosófica e demostra uma imensa felicidade. Como
ocorre em geral nos contos de Voltaire, em seu conto “O Brâmane” o homem virtuoso sofre. Apesar
de todo esforço despendido na busca da sabedoria, da felicidade o Brâmane é infeliz, sente-se
envergonhado. A mensagem que Voltaire nos transmite é que o investimento no conhecimento
filosófico não é garantia de felicidade.
Referências
Tarefa 1 – 3ª parte
Você já viu, com certeza, esse quadro icônico, imagem até muito forte, de um velho gigantesco
devorando um homem, com desespero nos olhos. Sempre aparece em jogos ou filmes de terror, e
geralmente é assimilado ao medo que temos de ser consumidos pelo tempo, representado pelo titã
Cronos.
A pintura escolhida para a execução da tarefa sobre a pedagogia da imagem foi a pintura a
óleo sobre reboco de Francisco de Goya: Cronos devorando um filho. Segundo o site DA AULA, a
pintura fazia parte da decoração dos muros da casa que Goya adquiriu em 1819 chamada a Quinta
del Sordo. Goya, o artista por trás dessa obra foi pintor oficial da corte do Rei da Espanha durante a
época da Revolução Francesa.
A obra, junto com as restantes "Pinturas negras" foi trasladada de reboco para tela em 1873
por Salvador Martínez Cubells por encomenda de Frédéric Émile d'Erlanger, um banqueiro belga,
que tinha intenção de vendê-las na Exposição Universal de Paris de 1878. Contudo, as obras não
atraíram compradores e ele próprio doou-as, em 1876, ao Museu do Prado, onde atualmente se
expõem.
O tema está relacionado, segundo Freud, com a melancolia e a destruição e estes traços estão
presentes nas pinturas negras. Com expressão terrível, Goya situa-nos frente do horror canibal das
faues abertas, os olhos em branco, o gigante envelhecido e a massa informe do corpo sanguinolento
do seu filho. O ato de comer o seu filho foi visto, do ponto de vista da psicanálise, como uma
figuração da impotência
https://www.daaula.net
https://www.daaula.net/2020/02/historia-pintura-de-francisco-goya.html