Você está na página 1de 12

Revista EDaPECI

São Cristóvão (SE)


ISSN: 2176-171X v.19. n. 2, p. 165-176
mai./ago. 2019
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E PRÁTICAS EDUCATIVAS COMUNICACIOANIS E INTERCULTURAIS

DOI:http://dx.doi.org/10.29276/redapeci.2019.19.211396.165-176

A criança e a Internet: análise bibliográfica acerca dos riscos e benefícios percebidos


por crianças
---------
The child and the Internet: bibliographic analysis on the risk and benefits of children
---------
El niño y la Internet: análisis bibliográfico acerca de los riesgos y beneficios
percebidos por niños

Mayara Waleska Oliveira de Ataide1


Adilson Rocha Ferreira2
Deise Juliana Francisco3

Resumo: O presente artigo está voltado para problemática na área das Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação (TDIC) e Educação, no tocante à investigação do cuidado das crianças no uso da Internet. O tema
foi abordado por meio de uma revisão de literatura, objetivando responder de que forma os estudos dos últimos
10 anos abordam a utilização da Internet pelas crianças, levando em consideração a concepção delas, e nesse
processo, como compreendem os riscos e benefícios que as mesmas podem oferecer diante da sua interação com
a rede. A busca pelos dados se deu por meio do Periódico Capes e SciELO, sendo selecionados 10 artigos para
análise, nos quais foi constatada a abordagem de questões essenciais acerca dos riscos e benefícios oferecidos pela
Internet diante da interação online realizada por crianças. De acordo com os estudos analisados, constatou-se que
as crianças possuem domínio tecnológico e que sua interação online ocorre de forma fluente e que, diante de sua
interação online, possuem concepções claras dos riscos que Internet pode oferecer.

Palavras-chave: Criança, Cultural digital. Internet.

Abstract. The present article is oriented to problematic in the area of Digital Technologies of Information
and Communication (TDIC) and Education, regarding the investigation of the care of children in the use of
the Internet. The theme was approached through a literature review, aiming to respond to how the studies
of the last 10 years address children’s use of the Internet, taking into account their conception, and in this
process, how they understand the risks and benefits that the can interact with the network. The search for
the data was made through the Capes and SciELO Periodical, and 10 articles were selected for analysis, in
which it was verified the approach of essential questions about the risks and benefits offered by the Internet
in front of the online interaction carried out by children. According to the analyzed studies, it was found that
children have a technological domain and that their online interaction occurs fluently and that, given their
online interaction, they have clear conceptions of the risks that the Internet can offer.

Keywords: Child. Cultural digital. Internet.

Resumen. Este artículo está dirigido a la problemática en el área de Tecnologías Digitales de Información y
Comunicación (TDIC) y Educación, en relación con la investigación del cuidado de niños en el uso de Internet. El tema
se abordó a través de una revisión de la literatura, con el objetivo de responder a cómo los estudios de los últimos

1 Graduada em Pedagogia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL).


2 Mestre e Doutorando em Educação, Professor da Secretaria de Estado da Educação de Alagoas (SEDUC/AL),
Membro dos grupos de pesquisa “Saúde Mental, Ética e Educação” e “Comunidades Virtuais UFAL” (UFAL).
3 Doutora em Informática na Educação, Professora na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Líder do grupo de pes-
quisa “Saúde Mental, Ética e Educação” (UFAL), Membro do grupo de pesquisa “Comunidades Virtuais UFAL” (UFAL).
166166

166 Revista EDaPECI

10 años abordan el uso de Internet por parte de los niños, teniendo en cuenta su concepción y, en este proceso,
cómo entienden los riesgos y los beneficios que tienen. Puede interactuar con la red. La búsqueda de los datos se
realizó a través de la publicación periódica Capes y SciELO, y se seleccionaron 10 artículos para su análisis, en los
que se verificó el enfoque de las preguntas esenciales sobre los riesgos y beneficios que ofrece Internet frente a la
interacción en línea realizada por los niños. De acuerdo con los estudios analizados, se encontró que los niños tienen
un dominio tecnológico y que su interacción en línea ocurre con fluidez y que, dada su interacción en línea, tienen
concepciones claras de los riesgos que puede ofrecer Internet.

Palabras clave: Cultural digital. Niños. Internet.

INTRODUÇÃO intervêm junto dos adultos. As crianças não


recebem apenas uma cultura constituída
Por muito tempo, as crianças eram vistas que lhes atribui um lugar e papéis sociais,
na sociedade, mas não eram ouvidas em re- mas operam transformações nessa cultura,
seja sob a forma como a interpretam e inte-
lação ao seu direito de se expressar, tendo
gram, seja nos efeitos que nela produzem, a
em vista que nem sempre eram levadas em
partir das suas próprias práticas.
consideração suas características próprias
e visão de mundo. Neste sentido, Sarmento
Portanto, não se deve negar que a
(2000) afirma que as mesmas não eram con-
criança tem competências, pois elas são
sideradas como seres sociais de pleno direito,
seres cheios de emoções, aspirações,
sendo a infância considerada como categoria
sentimentos e vontades próprias. Diante
social apenas no final do século XX, no qual as
disso,torna-se necessário trilhar um cami-
primeiras tentativas de implantação de uma
nho que favoreça a maturidade e postura
nova abordagem sociológica da infância ocor-
das mesmas. Percebe-se que, atualmente,
reram na década de 30.
de forma geral, desde muito cedo as crian-
A sociologia da infância reconhece as
ças têm algum tipo de contato com o mun-
crianças como sujeitos que são capazes de
do tecnológico, seja através de um celular,
falar e atuar diante das experiências viven-
tablet, computador, videogame, entre ou-
ciadas, com pontos de vista próprios sobre o
tros. Sendo assim, o acesso e a utilização
mundo no qual vivem. Sendo assim, a infân-
da internet está cada vez mais precoce.
cia é uma categoria social que se forma por
Nessa perspectiva, a problemática central
sujeitos ativos, porém em formação. Consi-
do presente artigo está voltada à compre-
dera-se que as próprias crianças interpretam,
ensão de que forma ocorre a relação da
agem no mundo, produzem suas próprias
criança com a internet a partirdas concep-
culturas e contribuem para a construção da
ções trazidas pelos estudos nos últimos 10
cultura adulta. Corsaro (2011, p. 18) afirma
anos sobre esta temática.
que a “perspectiva sociológica deve consi-
As crianças no século XXI já nascem em
derar não só as adaptações e internalizações
uma época na qual a tecnologia se tornou
dos processos de socialização, mas também
essencial para as relações sociais, portanto,
os processos de apropriação, reinvenção e re-
se torna bastante difícil não fazer o uso dela,
produção realizados pelas crianças”.
até mesmo as crianças antes de serem alfa-
Por muitas vezes as crianças são vistas
betizadas aprendem e dominam o uso de tais
apenas como uma reprodução do mundo
ferramentas, consequentemente facilitando
adulto, não sendo consideradas agentes so-
o acesso a internet.
ciais que são capazes de se expressarem e
Considerando que as crianças têm o aces-
opinarem em determinadas situações. Diante
so às novas tecnologias desde cedo, em um
disto, Sarmento (2000, p. 512) afirma:
estudo realizado pela Revista Crescer com
1.045 mães e pais de crianças de 0 a 8 anos,
Não são apenas os adultos que intervêm
junto das crianças, mas as crianças também
apresentou os seguintes dados:

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


A criança e aEDITORIAL
Internet: análise bibliográfica acerca dos riscos e
benefícios percebidos por crianças 167

40% das crianças de 5 a 8 anos já têm seu A questão norteadora deste estudo en-
próprio tablet. A pesquisa também indica contra-se voltada para a seguinte problemá-
que 76% das crianças acessam o computa- tica: de que forma os estudos dos últimos 10
dor diariamente e que 59% das crianças de anos abordam a utilização da internet pelas
até 2 anos passam de 30 minutos a 2 horas
crianças, levando em consideração a concep-
usando o smartphone todos os dias (REIS,
ção delas, e nesse processo, como compreen-
2013, s/p).
dem os riscos e benefícios que a mesma pode
oferecer diante da sua interação com a rede?
Sendo assim, pode-se perceber que tais
O presente trabalho teve como principal
levantamentos apontam para a facilidade
objetivoanalisar de que forma os estudos,
do uso da internet por meio da implantação
realizados nos últimos 10 anos, abrangem as
de aparelhos tecnológicos no cotidiano das
concepções sobre riscos e benefícios na inte-
crianças. A Internet, para além de um possível
ração das crianças pela internet. No qual, es-
risco, é também, e sobretudo, um benefício.
pecificamente, buscamos:Investigar as ques-
Logo, se faz importante explicar previamente
tões dos riscos e benefícios que surgem com
qual o lugar que tais termos irão ocupar ao
a era digital oferecidos as crianças;avaliar de
longo deste estudo. Sendo assim, entende-se
que forma os estudos apontam a interação
por riscos tudo aquilo que está relacionado a
das crianças na rede da internet; identificar
situações em que as crianças relatam e que
se os estudos abordam a supervisão dos pais
podem gerar comprometimento de suas con-
frente o uso da internet pelas crianças e de
dições físicas e psicológicas, como por exem-
que forma ocorre;descrever quais são os si-
plos: conversa de cunho sexual com adultos,
tes mais utilizados pelas crianças na internet;
conversas que exponham a situação financei-
conhecer qual o conhecimento que a criança
ra dos pais, jogos de suicídios e de automuti-
tem frente a um risco posto pela internet.
lação, entre outros. Segundo estudo realiza-
Com o propósito de atender ao objetivo
do pelo Projeto europeu EU Kids Online, por
principal da pesquisa, foi realizado levanta-
Pontes e Vieira (2008, p. 2740), acerca dos
mento bibliográfico através da base de dados
riscos que a internet possa oferecer: “de uma
do Portal de Periódicos da Capes e SciELO
forma geral, os riscos que geram maior preo-
(Scientific Eletronic Library Online), no perío-
cupação são os que têm uma natureza social,
do de agosto a outubro de 2018.
ou seja, os que podem ter um forte impacto
O trabalho, além dessa introdução, está
na vida social, emocional e física de crianças
estruturado em outrascinco seções. Na seção
e jovens”.
2, abordaremos o referencial de teórico que
Em outra vertente, os benefícios que a in-
sustenta toda a pesquisa, através de estudos
ternet podem oferecer são muitos. Em todo
realizados acerca da Sociologia da Infância e
o mundo, as crianças utilizam cada vez mais
sua ressignificação. Na seção 3, discutiremos a
a Internet como uma fonte de informação,
relação da tecnologia na infância e a interação
comunicação, socialização e entretenimento,
da criança com a internet. Na seção 4, serão
seja através de situações que as crianças rela-
descritos os procedimentos metodológicos uti-
tam nas quais elas usufruem por meio de jo-
lizados na pesquisa. Na seção 5, os resultados e
gos, redes sociais, vídeos, músicas, entre ou-
discussões alcançados com a análise dos dados
tros. Segundo Pontes e Vieira (2008, p. 2740):
obtidos. Finalizando com a seção 5, na qual será
As vantagens e oportunidades que a Rede relatado as considerações finais deste estudo.
das redes oferece são evidentes. Em todo
o mundo, os mais jovens utilizam cada vez 2 RESSIGNIFICANDO A SOCIOLOGIA DA IN-
mais a Internet como uma fonte de infor- FÂNCIA
mação, comunicação, socialização e entre-
tenimento. A Internet permite aos jovens Por volta dos anos 2000, era muito di-
cultivar diferentes pontos de vista e oferece fícil encontrar estudos acerca das crianças,
um acesso à informação mais igualitário.

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


168168

168 Revista EDaPECI

ao contrário dos dias atuais, que no cenário No entanto, percebe-se que as crianças
educacional há uma grande quantidade de possuem a capacidade de se posicionar e de
estudos relacionados à sociologia da infân- serem compreendidas em seu lugar na socie-
cia e das crianças. Segundo Corsaro (2011, dade, operando transformações sociais e cul-
p. 17): turais.De acordo com estudos realizador por
Lima, Moreira e Canhoto (2014, pp. 99-100),
A socialização da infância tem recebido acerca da Sociologia da Infância, a partir do
extensa cobertura em textos introdutórios olhar voltado para as crianças e suas culturas:
básicos da sociologia; novos periódicos e
seções de associações nacionais e interna- A criança é um ser humano também do
cionais dedicados à sociologia da infância hoje que não pode ser limitado ao aman-
foram criados; e cursos sobre a sociologia hã, precisa ser compreendida a partir de si
da infância são atualmente oferecidos com mesma e do seu próprio con¬texto. Repre-
frequência. senta um sujeito social, que não está pas-
sivo em seu processo de socialização, faz
Sendo assim, pode-se perceber que o in- história e produz cultura. Esse reconheci-
teresse do estudo por essa área foi crescen- mento de ator social ativo é um dos pres-
te desde 2000 até os dias atuais, é relevante supostos básicos propostos pela Sociologia
que o questionamento sobre o motivo das da Infância.
crianças terem passado despercebidas na
sociologia por tanto tempo seja levado em A ressignificação da sociologia da infância
consideração. De acordo com Corsaro (2011), foi ganhando espaço a partir do aumento das
as crianças por muito tempo foram excluídas, perspectivas interpretativas e construtivistas,
tornando-se submissas perante a sociedade, que segundo Corsaro (2011, p.19), “as crianças
inclusive, nas concepções teóricas da própria eram participantes ativos na construção social
infância, no qual eram comuns serem consi- da infância e na reprodução interpretativa de
deradas muitas vezes dentro da perspectiva sua cultura”, contrariando a ideia das teorias
do que se tornarão e não pelo que são. A in- tradicionais da sociologia, que visava a criança
visibilidade da criança é vista por Sarmento apenas como meros consumidores da cultura.
(2007) como processo que nasceu de uma No entanto, faz-se necessário compreender a
série de concepções historicamente constru- origem de tais teorias e suas significações, no
ídas sobre as crianças e seu papel no mundo qual grande parte se deram através da ideia de
social e cultural. socialização, em consequência disto, origina-
As perspectivas teóricas interpretativas e ram dois modelos diferentes neste processo,
construtivistas na sociologia também foram que foram: modelo determinista e o modelo
fundamentais na ressignificação do conceito construtivista (CORSARO, 2011).
da infância na perspectiva sociológica, levan- O modelo determinista apresentava a
do em consideração a origem de tudo. Corsa- ideia de a criança ser tomada pela sociedade,
ro (2011, p. 19) apresenta em seu argumento ou seja, para a criança ser integrada a socie-
a importância destas perspectivas quando dade, ela precisava ser moldada e treinada.
aplicadas à sociologia da infância: Dentro do modelo determinista, surgiram
dois tipos de abordagens, que são: os mode-
As perspectivas interpretativas e con- los funcionalistas e reprodutivistas. O Mode-
strutivistas argumentam que as crianças, lo funcionalista ganhou ênfase por volta dos
assim como os adultos, são participantes anos 1950-1960, no qual visava entender de
ativos na construção social da infância e que maneira as crianças se integravam na so-
na reprodução interpretativa de sua cul-
ciedade. Para ingressarem na sociedade, as
tura compartilhada. Em contraste, as teo-
mesmas precisariam ser moldadas a fim de
rias tradicionais veem as crianças como
“consumidores” da cultura estabelecida se apropriarem dos termos estabelecidos,
por adultos. evitando assim, tornar-se uma ameaça.

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


A criança e aEDITORIAL
Internet: análise bibliográfica acerca dos riscos e
benefícios percebidos por crianças 169

De acordo com Corsaro (2011, p. 20), 23), esta concepção se faz importante para o
tendo como base o pensamento de Talcott entendimento da sociologia das crianças, pois
Parsons, “o ingresso da criança nesse siste- permite compreender que elas “percebem e
ma é problemático porque, embora tenha organizam seus mundos de maneira qualitati-
potencial para ser útil ao seu funcionamento vamente diferente dos adultos”. Partindo da
contínuo, ela também é uma ameaça até que visão sociocultural do desenvolvimento hu-
seja socializada”. Ou seja, a criança deveria se mano de Vygotsky, a criança vai crescendo a
adequar às exigências da sociedade para que partir de suas ações coletivas, onde suas inte-
pudesse ser agregada a ela, aprendendo a rações sociais auxiliam na aquisição de novas
agir de acordo com as normas sociais e valo- competências e conhecimentos, habilidades
res, de forma que não fosse um risco, porém psicológicas e sociais.
tal modelo não se fortaleceu e foi perdendo a No conceito de reprodução interpretati-
preferência, dando abertura para os modelos va, a criança é vista como participante ativa
reprodutivistas, que acreditava que as crian- da sociedade, onde negociam, compartilham
ças de classe mais alta tinham mais acesso e criam culturas com a sociedade. Pode-se
ao acervo cultural da sociedade, portanto, a entender que:
condição financeira era um pressuposto para
um tratamento diferenciado, como afirma O termo reprodução inclui a ideia de que
Corsaro (2011, p. 21): as crianças não se limitam a internalizar
a sociedade e a cultura, mas contribuem
Os pais oriundos de grupos de classe so- para a produção e mudança culturais. O
cial mais elevada podem garantir que seus termo também sugere que as crianças es-
filhos recebam educação de qualidade tão, por sua própria participação na socie-
em prestigiadas instituições acadêmicas. dade, restritas pela estrutura social exis-
Teóricos reprodutivistas também apontam tente e pela reprodução social. (CORSARO,
para um tratamento diferenciado dos in- 2011, p. 32).
divíduos nas instituições sociais (especial-
mente no sistema educativo) que reflete e Sendo assim, as crianças vão conseguindo
apoia o sistema de classes dominante. espaço na sociedade por mérito delas, pois são
seres ativos e capazes de produzir transforma-
Tais modelos se preocupavam mais com ções culturais. Elas não são apenas crianças
os resultados que essa socialização das crian- que recebem a cultura que lhe são atribuídas,
ças iria causar, ignorando a verdadeira impor- mas a integra e produzem a partir de suas prá-
tância, que é, de fato, as crianças e a infân- ticas (SARMENTO, 2000). A partir da reprodu-
cia na sociedade, sendo consideradas como ção interpretativa a criança exerce seu papel
produtoras de sua própria cultura e não como produzindo coletivamente suas culturas de pa-
consumidoras. res e seus mundos, fornecendo uma base para
Adentrando aos modelos construtivistas, uma nova sociologia da infância.
segundo Corsaro (2011) teve bastante influ-
ência das teorias de psicologia do desenvolvi- 3 A TECNOLOGIA E O MUNDO INFANTIL
mento, nas quais a criança passou a ser vista
de forma mais ativa, possuindo a capacida- 3.1 A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA IN-
de de construir sua própria interação com FÂNCIA
o mundo. Jean Piaget e Lévy Vygotsky são
considerados estudiosos que trabalham bem Desde muito cedogrande parte do públi-
esta abordagem. co infantil tem o contato com algum tipo de
Dentro deste contexto, Jean Piaget acredi- tecnologia digital, seja um celular, um tablet,
tava que a criança se desenvolvia intelectual- um computador, TV, videogame, entre ou-
mente através de uma progressão de estágios tros, no qual a sua utilização acontece cada
diferentes. De acordo com Corsaro (2011, p. vez mais precoce e vem aumentando a cada

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


170170

170 Revista EDaPECI

dia. Atualmente, as crianças estão imersas em Diante do crescente aumento da utiliza-


uma sociedade que o aumento de produtos ção das tecnologias pelas crianças, Dornelles
eletrônicos destinados a ela é constante. Se- (2005) considerou a concepção de infância
gundo Barra (2004), tais tecnologias acabam como cyber-infância, no qual salienta que as
tendo bastante influência nas formas de rela- tecnologias afetam a idade pueril do ser hu-
cionamento das crianças com a informação e mano, afirmando que:
comunicação, como é abordado no estudo de
Pimentel (2017, p. 32) acerca da aprendiza- Pensar acerca da cyber-infância é pensar
gem da criança na cultura digital: problematizando os efeitos dos fenômenos
intelectuais e culturais que afetam as infân-
Nossos mundos e nossas relações sociais cias atuais. Pensar sobre estas infâncias é
estão se tornando digitais ou incorporan- pensar diferente do que pensava antes.
do o digital no cotidiano, implicando numa Pensar a infância naquilo que ela nos incita,
série de modificações em nossas ações e nos perturba, nos marca, nos atormenta,
pensamentos diários, inclusive em nossa nos cativa (DORNELLES, 2005, p.79).
relação com o que sabemos e como usa-
mos este saber de forma prática. Portanto, torna-se necessário pensar a in-
fância e considerar tudo que a cerca, não po-
No século XXI, a tecnologia vem se tor- dendo ignorar que o mundo tecnológico está
nando um alicerce para se manter as relações cada vez mais presente na vida das pessoas,
sociais, a qual vem se tornando quase impos- inclusive das crianças.
sível não ter o contato com a mesma. Como
afirma Pimentel (2017, p. 38), “as mudanças 3.2 CRIANÇA E SUA INTERAÇÃO COM A REDE
advindas dos avanços tecnológicos e das mí- (INTERNET)
dias digitais estão ocorrendo em toda a socie-
dade, conduzindo-a a novas formas de traba- Considerando que as crianças estão cada
lhar, comunicar-se, aprender, pensar e viver”. vez mais tendo acesso precoce ao mundo tec-
Portanto, é cada vez mais comum encontrar nológico e, sobretudo, a internet, se faz neces-
crianças com algum aparelho eletrônico na sário pensar como acontece essa interação com
mão. Diante deste cenário, Hanaver (2005) a rede. Partindo do pressuposto da Sociologia
afirma que em vez das pessoas estarem sain- da Infância, na qual a criança deve ser conside-
do para se divertir com amigos, elas simples- rada como um sujeito ativo e participante da
mente preferem ficar em frente ao computa- sociedade, Barra (2004, p. 61) salienta que:
dor teclando com outras pessoas. Segundo Os novos estudos sociais da Infância, dire-
Rosado (2006, p. 3), “este rápido processo é cionando a sua atenção para o papel da crian-
refletido na forma como o público infanto- ça como sujeito ativo inclusive no âmbito das
-juvenil aprende a comunicar-se, e a praticar tecnologias, contribuem muito para que se
uma atividade imprescindível na infância e na saiba um pouco mais acerca da apropriação
adolescência: o jogar bolas, bonecas hoje dis- ativa que as crianças fazem das novas tecno-
putam lado a lado com os jogos eletrônicos”. logias, como leem e interpretam as mensa-
Sendo assim, percebe-se que a era da gens por elas veiculadas.
Cibercultura se faz presente nos dias atuais, A internet proporciona novos meios
que segundo Lévy (2010, p. 17) “é o conjunto de comunicação e informação, no qual por
de técnicas, de práticas, atitudes, de modos muitas vezes permite ao sujeito ter a sensa-
de pensamento e de valores que se desen- ção de estar lado a lado com alguém que se
volvem juntamente com o crescimento do encontra a quilômetros de distância ou até
ciberespaço”. Já para Lemos e Cunha (2003) mesmo buscar informações que não estão ao
e Santos (2013), a cibercultura é a re¬lação nosso alcance fisicamente. Segundo Castells
entre as Tecnologia Digitais de Informação e (2003, p. 197), “a Internet permite a enclaves
Comunicação (TDIC) e cultura. afluentes segregados continuar em contato

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


A criança e aEDITORIAL
Internet: análise bibliográfica acerca dos riscos e
benefícios percebidos por crianças 171

entre si e com o mundo, ao mesmo tempo bre o assunto. Existem, porém, pesquisas
em que rompem seus laços com o ambien- científicas que se baseiam unicamente na
te descontrolado que os cerca”. Sendo assim, pesquisa bibliográfica, procurando refer-
pode-se considerar a internet como uma das ências teóricas publicadas com o objetivo
de recolher informações ou conhecimen-
formas de transmitir cultura e conhecimento
tos prévios sobre o problema a respeito do
de forma rápida. Castells (2003), considera a
qual se procura a resposta.
internet como a maior invenção tecnológica

dos últimos tempos, principalmente pela sua
Esta metodologia possibilita a identifica-
capacidade de conectar pessoas do mundo
ção das possibilidades e lacunas no campo do
todo nas mais variadas ocasiões.
conhecimento investigado a partir da litera-
De acordo com Fantin (2008), as crianças
tura existente. A busca pelos artigos foi rea-
devem ser consideradas como produtoras
lizada por meio da base de dados do Portal
de cultura, que elas recriam seus próprios
de Periódicos da Capes e SciELO (Scientific
significados a partir dos conteúdos que elas
Eletronic Library Online) que serviram como
recebem, sendo assim este processo “implica
instrumento para coleta de dados, durante
pensar que a criança também é criadora de
os meses de agosto a outubro de 2018. Fo-
cultura, e pode intervir em todo o processo
ram utilizados os seguintes termos de busca:
cultural” (FANTIN, 2008, p. 149), exigindo que
internet, criança (children), riscos, cultura
o indivíduo que adentra ao mundo da inter-
digital (digital culture). Como critérios de in-
net, necessita de uma postura reflexiva e in-
clusão das referências bibliográficas, buscou-
terativa, pois esse ambiente se encontrar em
-se trabalhos revisados por pares, publicados
constante movimento. E de acordo com Barra
no idioma português, no período de 2008 a
(2004), é através da interatividade e interco-
2018, com disponibilidade de texto comple-
nectividade que a internet vem ganhando es-
to em suporte eletrônico. Tais critérios foram
paço no dia a dia das crianças fazendo parte
selecionados pela credibilidade das informa-
do seu universo e cultura.
ções e pelo grau de exigência feita a estes es-
Porém, deve-se atentar que, ao mesmo
tudos em agregar o maior número de biblio-
tempo que a internet apresenta uma trans-
grafias relacionadas ao tema pesquisado.
formação positiva para o mundo, faz-se ne-
A coleta de dados foi realizada por meio
cessário compreender que a mesma também
de publicações de autores e análise crítica dos
apresenta algumas incertezas, podendo se
artigos selecionados na íntegra, sendo desta-
constituir em um lugar perigoso e imprevisí-
cado os elementos fundamentais para análise.
vel (BARRA, 2004).
O levantamento dos artigos se deu através
do acesso ao site do Periódico Capes e SciE-
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
LO, durante os meses de agosto a outubro de
2018, realizando a busca por assunto, é solici-
Levando em consideração a pretensão do
tado que se coloque palavras chaves que irão
estudo, o trabalho desenvolvido teve como
permear a investigação. A seleção da bibliogra-
suporte os preceitos de estudo exploratório,
fia se deu através da identificação do título do
através da análise bibliográfica, segundo Fon-
artigo e da leitura dos resumos, foram locali-
seca (2002, p. 32):
zados 2.659 estudos distribuídos nas bases de
dados utilizadas para presente investigação,
A pesquisa bibliográfica é feita a partir
do levantamento de referências teóricas
porém foram rejeitados 2.648 em razão de
já analisadas, e publicadas por meios es- incongruência com a metodologia escolhida.
critos e eletrônicos, como livros, artigos Deste total, apenas 21 artigos se enquadraram
científicos, páginas de web sites. Qualquer aos critérios de inclusão, sendo removidos 11
trabalho científico inicia-se com uma pes- deles por serem duplicados (os mesmos foram
quisa bibliográfica, que permite ao pes- encontrados em buscas diferentes), conforme
quisador conhecer o que já se estudou so- a representação na figura 1.

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


 
172172

Revista 11 
172 removidos  EDaPECI
deles  por  serem  duplicados  (os  mesmos  foram  encontrados  em  buscas 
diferentes), conforme a representação na figura 1. 
Figura 1 –Etapas do processo de seleção de artigos para a revisão bibliográfica deste estudo
Figura 1 –Etapas do processo de seleção de artigos para a revisão bibliográfica deste estudo 

 
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
Fonte: Elaborado pelos autores (2019). 

 
A primeira busca se deu através do Periódico Capes, no qual no primeiro momento, foi 
A primeira busca se deu através do Periódi- terceiro levantamento se deu através do ter-
co Capes, no qual no primeiro momento, foi mo “cultura digital AND criança”, resultando
feito o levantamento através dos termos “criança AND internet”, no qual foram encontrados 
feito o levantamento através dos termos “cri- em 113 trabalhos, dentre estes foram selecio-
458 artigos que faziam menção a estas palavras, porém dentre eles só foram considerados06 
ança AND internet”, no qual foram encontra- nados apenas 03 artigos relacionados com a
dos que 
artigos  458 atenderamaos 
artigos que faziam menção
critérios  de  inclusão,  temática
a estas sendo  abordada452 
descartados  na presente pesquisa.
trabalhos,  por  não 
palavras, porém dentre eles só foram consid- A segunda busca ocorreu a partir da
apresentarem  conformidade 
erados06 artigos aos  pontos 
que atenderamaos essenciais 
critérios da  de
Base pesquisa, 
dados no  qual  a  maioria 
da SciELO, no qual deles 
o levan-
de inclusão, sendo descartados 452 trabalhos, tamento das informações foi realizado da
estavam voltados para área da saúde. Para melhor compreensão e autenticidade da análise 
por não apresentarem conformidade aos pon- mesma forma, sendo efetuada através da
realizada  acerca  da 
tos essenciais da relação  das 
pesquisa, nocrianças  com  a  internet, 
qual a maioria também 
busca por foi  utilizado 
assunto. O primeiroos  seguintes 
deles ocor-
deles estavam voltados para área da saúde. reu a partir das seguintes palavras: children
termos: children AND internet, no qual foram levantados 769 artigos, sendo selecionados 05 
Para melhor compreensão e autenticidade da AND internet, sendo encontrados 47 arti-
deles que atenderam aos critérios de inclusão da presente pesquisa. O segundo levantamento 
análise realizada acerca da relação das crian- gos, dentre estes selecionados 04 artigos
foi  ças com acom 
realizado  internet, tambémdescritores: 
os  seguintes  foi utilizado os para
internet  AND análise.
riscos,  O
no segundo levantamento,
qual  foram  encontrados afim
seguintes termos: children AND internet, no de apresentar legitimidade a busca, se deu
1244 artigos relacionados a estas palavras, sendo considerados apenas 05 artigos, de acordo 
qual foram levantados 769 artigos, sendo sele- através dos seguintes termos: criança AND
cionados 05 deles que atenderam aos critérios internet, porém não houve resultados, fato
com os critérios de inclusão. O terceiro levantamento se deu através do termo “cultura digital 
de inclusão da presente pesquisa. O segundo que também se deu ao realizar a busca pelos
levantamento foi realizado com os seguintes seguintes vocábulos: cultura digital AND cri-
descritores: internet AND riscos, no qual foram ança. O terceiro levantamento foi realizada a
encontrados 1244 artigos relacionados a estas partir das palavras: internet e riscos, sendo
palavras, sendo considerados apenas 05 arti- encontrados 28 trabalhos, dentre estes sele-
gos, de acordo com os critérios de inclusão. O cionados 03 artigos.

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


A criança e aEDITORIAL
Internet: análise bibliográfica acerca dos riscos e
benefícios percebidos por crianças 173

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES a preocupação do jogo de asfixia que circula


pela internet, no qual 60% das crianças entre 7
A apresentação dos resultados demonstra- a 9 anos já experimentaram tal prática, sendo
da neste tópico objetiva promover uma visão de suma importância que haja um trabalho em
da interação da criança com a internet, a par- conjunto de prevenção pelos órgãos compe-
tir da análise dos 10 artigos selecionados nas tentes, com o intuito de sensibilizar os adultos,
bases de dados consultadas. pais e responsáveis, no qual possam tentar
Mediante o objetivo de investigar as identificar tais comportamentos suspeitos que
questões dos riscos e benefícios que sur- levam a esse tipo de “jogo”.
gem com a era digital oferecidos as crianças, No entanto, além dos riscos que podem
no qual dentre os artigos selecionados, foi ser encontrados na internet, também deve
considerado o estudo elaborado por Bieging ser levado em consideração que a mesma
(2012), ao realizar uma investigação com 24 também oferece inúmeros benefícios, sendo
crianças, sendo 13 meninas e 11 meninos, foi destacado também a importância da tecno-
constatado que mediante a fala das mesmas, logia do desenvolvimento da criança,no qual
os riscos oferecidos pela internet são o bul- pode ser destacado em um estudo realizado
lyngvirtual, sequestro de pessoas, pessoas que por Francisco e Silva (2015, p. 280), ressal-
fingem ser alguém, entre outras. Cairoli (2010, tando que “as tecnologias estão interferindo
p. 345), também ressalta que “a internet pode diretamente em suas rotinas se, por isso, am-
funcionar como um elo entre a vida privada e pliam a nossa memória, garantem novas pos-
o espaço público”. Sendo assim, a criança se sibilidades de bem-estar e fragilizam as ca-
torna alvo fácil de golpes causados pela inter- pacidades naturais do ser humano”. No que
net, se tornando motivo de preocupação para diz respeitoa internet, ao analisar os estudos,
a maioria dos pais. Devido aos riscos que a in- pode-se perceber que os artigos analisados
ternet possa oferecer, pais ou responsáveis se concordam que o número de crianças que
sentem inseguros frente a este mundo tão ab- acessam o mundo tecnológico aumenta cada
erto e desconhecido para eles, sendo possível vez mais, prova disso, é o estudo de Almeida,
confirmar tal concepção através das falas das Alvez e Delicado (2011) no qual aponta que
próprias crianças, que no estudo realizado por no ano de 2008, cerca de 75% das crianças já
Almeida et. al (2011, p. 358), afirma “meu pai utilizavam a internet. Fantin (2015, p.197) res-
que começou a dar-me alguns conselhos como salta que “as crianças de hoje não são como
ir para outros sites, para me ajudar a ver o que as crianças que fomos, visto que hoje elas são
é perigoso”. crianças leitoras, telespectadoras, produtoras
Gasque (2016), também apresenta em seu de conteúdos postados e compartilhados em
trabalho, mediante estudo sobre e internet e rede, navegadoras do ciberespaço, internau-
mídias sociais, o risco que a mesma pode ofer- tas, etc”. Em conformidade, Almeida et al.
ecerimpedindo o aprendizado e a memória da (2013, p. 342), ressalta que:
criança, ocasionando um raciocínio superficial
e seu uso contínuo e exagerado atrapalha a As crianças lideram na apropriação e uso
estrutura cognitiva da criança. Corroborando competentes de novas tecnologias de in-
com a mesma ideia, Fantin (2015) afirma que formação e comunicação, revelando in-
o brincar da criança vem se modificando de tensidades de utilização e níveis de pro-
ficiência superiores aos adultos e exibindo
acordo com a cultura digital que está sendo
notáveis capacidades de navegação e co-
inserida em seu cotidiano, podendo a inter-
municação no ciberespaço.
net ser um fator de risco quando utilizada em
excesso. Vale salientar queexiste muitos casos
Ainda segundo estudo de Almeida et al.
de jogos que acabam influenciado em práticas
(2013), o uso frequente da internet desde
nocivas ao ser humano. O estudo realizado por
2006 a 2012 aumentou de forma progressiva,
Guilheri; Andronikof e Yazigi (2017), ressalta
se expandido de 35,6% para 60,3%.

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


174174

174 Revista EDaPECI

A fim de avaliar de que forma os estudos mente ou indiretamente os riscos oferecidos


apontam a interação das crianças na rede da pela internet e pelo mundo tecnológico. Em
internet. Segundo Almeida et.al (2011), ao contrapartida, 09 delestambém fazem menção
realizar o estudo sobre as práticas de uso da aos benefícios que a mesma também oferece.
internet pelas crianças, constatou que tal uso
acontece de diferentes formas, no qual den- 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
tre elas estão: jogar online, conversar com
amigos, assistir filme e ouvir músicas, postar O universo tecnológico está cada vez mais
fotos, entre outros. Segundo estudo realizado inerente ao cotidiano das crianças, suas fer-
com 24 crianças, por Bieging (2012), ressalta ramentas são manuseadas sem dificuldade,
que destaca algumas das atividades realizadas que demonstra a facilidade das mesmas em
pelas mesmas, referente a sua interação on- serem inseridas nesse contexto do mundo
line, algumas delas são: Jogos, Youtube, trab- online,sendo oacesso à rede cada vez mais
alho de escola, Facebook, filmes, entre outras. fácil, em diversos ambientes diferentes. Con-
No entanto, percebe-se que o maior índice se forme o objetivo principal do artigo, no qual
encontra ao acesso das páginas do Facebook, consistiu em analisar de que forma as literatu-
apesar das crianças não terem a idade mínima ras nos últimos 10 anos, abrangem as concep-
exigida para tal aproximação com esse tipo de ções sobre riscos e benefícios na interação das
mídia social. Monteiro e Osório (2015) relatam crianças pela internet. O primeiro passo real-
que de acordo com as falar das crianças ent- izado foram estudos fundamentais servindo
revistadas em sua pesquisa acerca dos riscos e como base teórica deste artigo, sendo consid-
oportunidades que as novas tecnologias ofer- eradas aquelas relevantes para a construção
ece, a maioria dos meninos preferem jogar na da resposta da questão norteadora desse es-
internet, já as meninas gostam mais do Face- tudo. O trabalho buscou conceituar a Socio-
book, de preferência para realizar postagem logia da Infância e a relação da criança com a
de fotos. tecnologia, especificamente a internet.
O presente artigo também procurou iden- De acordo com as análises realizadas,infere-
tificar se os estudos analisados abordam a su- se que as crianças, diante de sua interação
pervisão dos pais frente o uso da internet pelas online, possuem concepções claras dos riscos
crianças e de que forma ocorre.De acordo com que internet pode oferecer, dentre os quais
Bieging (2012, p.155), “os pais afirmam esta- estão a violência sexual, pornografia, pedofilia,
rem presentes nestas tarefas de monitorar aliciamento, assédio, ameaças, bullying, entre
seus filhos/as e, além disso, garantem que essa outros. Em outra vertente, também foi consid-
é uma forma eficaz de saber o que e com quem erado pelos estudos os inúmeros benefícios
as crianças estão interagindo”. Ainda segundo proporcionados as mesmas, no qual promove
estudo realizado por Patraquim et. al (2018, enormes oportunidades para o desenvolvim-
p.13), “mais de 70% dos cuidadores revelaram ento da criança, tornando-se também como
preocupação com a vigilância do conteúdo vi- um veículo facilitador da comunicação, ofer-
sionado, quer dos programas televisivos, vid- ecendo também um leque de oportunidades
eojogos e páginas da internet”. de entretenimento.
Diante de tais análises realizadas dos ar- Tendo em vista os objetivos do presente
tigos selecionados, pode-se constatar que estudo, pode-se concluir que todos foram al-
ambos se dialogam e possuem pontos de cançados, de forma que a análise dos 10 arti-
convergência quando se trata dos riscos e gos selecionados respondeu a problemática da
benefícios que a internet pode oferecer, no pesquisa. De acordo com a intenção de avaliar
qual por muitas vezes os pais se sentem inse- de que forma os estudos apontam a interação
guros e preocupados com a interação online das crianças na rede da internet, constatou-se
de seus filhos.Dentre os 10 artigos analisados, que as crianças possuem domínio tecnológico
é possível concluir que todos abordam direta- e que sua interação online ocorre de forma flu-

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


A criança e aEDITORIAL
Internet: análise bibliográfica acerca dos riscos e
benefícios percebidos por crianças 175

ente. Diante da questão da supervisão dos pais CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: re-
frente o uso da internet pelas crianças, con- flexões sobre a internet, os negócios e a so-
clui-se que dentre os entrevistados nos estu- ciedade. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2003 (Trad.
dos, a maioria se preocupa com o que as crian- Maria Luiza X. de A. Borges).
ças fazem na internet, com isso busca sempre
estar por perto para dar suporte e aconselhar, CORSARO, William A. Sociologia da Infância.
quando necessário. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 384 p.
Assim, de acordo com os resultados desta
pesquisa, pode-se concluir que, é de suma im- DORNELLES, L. V. Infâncias que nos escapam:
portância e quase inevitável a relação da criança da criança na rua à criança cyber. Petrópolis,
com a internet, porém se torna necessário estar RJ: Vozes, 2005.
atento as possibilidades que a mesma oferece.
Tal estudo proporcionou aprendizagem signifi- FANTIN, M. Crianças e games na escola: entre
cativa para esse mundo que é tão utilizado nos paisagens e práticas. Revista Latino Americana
dias atuais e que merece atenção devida. de Ciências Sociales, Niñez y Juventud, v. 13,
n. 1, p. 195-208, 2015. ISSN 1692-715X. Dis-
REFERÊNCIAS ponível em: http://www.scielo.org.co/pdf/rlcs/
v13n1/v13n1a12.pdf. Acesso em: 01 out. 2018.
ALMEIDA, A. N.; ALVES, N. A.; DELICADO, A.
As crianças e a internet em Portugal: Per- FANTIN, Monica. Do mito de sísifo ao vôo do
fis de uso. Sociologia, Problemas e Práticas, pégaso: as crianças, a formação de professo-
Oeiras, n. 65, p. 9-30, jan. 2011. Disponív- res e a escola estação da cultura. In. FANTIN,
el em: https://repositorio.iscte-iul.pt/bit- Mônica; GIRARDELLO, Gilka (orgs.). Liga, roda,
stream/10071/2950/1/n65a1.pdf. Acesso em: clica: Estudos em mídia, cultura e infância.
10 out. 2018. Campinas, SP: Papirus, 2008.

ALMEIDA, A.N.; ALVES, N. A.; DELICADO, A.; FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa


CARVALHO, T. Crianças e internet: a ordem científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
geracional revisitada. Análise Social, n. 207, v.
XLVIII, 2013, p. 340-365. Disponível em: http://FRANCISCO, D. J.; SILVA, A. P. L. Criança e ap-
analisesocial.ics.ul.pt/documentos/AS_207_ ropriação tecnológica: um estudo de caso
d04.pdf.Acesso em: 01 out. 2018. mediado pelo uso do computador e do tab-
let. HOLOS, [S.l.], v. 6, p. 277-296, dez. 2015.
BARRA, Marlene. Infância e internet: inter- ISSN 1807-1600. Disponível em: http://www2.
acções na rede. Ed. Autonomia 27, 2004, 187 p. ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/
view/2702. Acesso em: 10 out. 2018.
BIEGING, P. As crianças e a internet: navegan-
do pelo mundo virtual. Intexto, Porto Alegre, GASQUE, Kelley C. G. D. Internet, mídias sociais
n.27, p. 148-160, dez. 2012. E-ISSN 1807- e as unidades de informação: Foco no ensino-
8583. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/ aprendizagem.BrazilianJournalofInformationSt
index.php/intexto/article/view/23606. Acesso udies:ResearchTrends. n. 10, v. 2, p. 14-20, 2016.
em: 01 out. 2018. ISSN 1981-1640. Disponível em: http://www2.
marilia.unesp.br/revistas/index.php/bjis/article/
CAIROLI, P. A Criança e o Brincar na Contem- view/5929. Acesso em: 03 out. 2018.
poraneidade. Revista de Psicologia da IMED,
Passo Fundo, v. 2, n. 1, p. 340-348, jun. 2010. GUILHERI, J.; ANDRONIKOF, A.;YAZIGI, L.
ISSN 2175-5027. Disponível em: https://seer. “Brincadeira do desmaio”: uma nova moda
imed.edu.br/index.php/revistapsico/article/ mortal entre crianças e adolescentes. Carac-
view/45. Acesso em: 3 out. 2018. terísticas psicofisiológicas, comportamentais

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019


176176

176 Revista EDaPECI

e epidemiologia dos ‘jogos de asfixia’. Ciên- Crescer, 2013. Disponível em: https://revista-
cia & Saúde Coletiva, v. 22, n. 3, p. 867-878, crescer.globo.com/Criancas/Comportamento/
2017. ISSN 1413-8123. Disponível em: http:// noticia/2013/11/tv-ainda-e-mais-consumida-
www.scielo.br/pdf/csc/v22n3/1413-8123- que-dispositivos-moveis-aponta-pesquisa.
csc-22-03-0867.pdf. Acesso em: 10 out. 2018. html. Acesso em: 04 jun. 2018.

HANAVER. F. J. Impacto da informática nas re- ROSADO, Janaína dos Reis. História do jogo e
lações humanas. 2005. o game na aprendizagem. 2006. Disponível
em: http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/
LEMOS, A.; CUNHA, P. (Org.). Olhares sobre a seminario2/trabalhos/janaina.pdf. Acesso em:
cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003. 01 ago. 2018.

LÉVY, Pierre. Cibercultura.3º ed. São Paulo: Ed. SANTOS, L. Imagináriotecnológico de profes-
34, 2010. 272 p. sores: ser profes¬sor em tempos de tecnolo-
gias digitais. Dissertação (Mestrado em Edu-
LIMA, J. M.; MOREIRA, T. A.; CANHOTO, M.R. cação) - Pontifícia Universidade Católica do Rio
L. A sociologia da infância e a educação in- de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
fantil: outro olhar para as crianças e suas cul-
turas. Revista Contrapontos - Eletrônica, v. SARMENTO, M. J. Sociologia da infância: cor-
14, n. 1, jan-abr, 2014. Disponível em: https:// rentes, problemáticas e controvérsias. Cader-
siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/ nos do Noroeste, Porto, v. 13, p. 145-164, 2000.
view/5034. Acesso em: 03 ago. 2018.
SARMENTO, M. J. Visibilidade social e estudo
MONTEIRO, A. F.; OSÓRIO, A. J. Novas tecnolo- da infância. In: VASCONCELLOS, V. M. R.; SAR-
gias, riscos e oportunidades na perspectiva das MENTO, M. J. (Org.). Infância (in)visível. Ara-
crianças. Revista Portuguesa de Educação, n. raquara: Junqueira & Martin, 2007, p. 25-53.
28, v. 1, 2015, p. 35-57. Disponível em: http://
www.scielo.mec.pt/pdf/rpe/v28n1/v28n1a03. PATRAQUIM, C. et al. As crianças e a exposição
pdf. Acesso em: 02 out.2018. aos media. Nascer e Crescer – Birthand-
Growth Medical Journal, v. XXVII, n. 1, p. 11-
MOREIRA, Paula da Silva. O impacto da internet 21, 2018. Disponível em: http://www.scielo.
nas relações humanas. 2010. 46 f. Trabalho de mec.pt/pdf/nas/v27n1/v27n1a02.pdf. Acesso
Conclusão de Curso (Especialização) – Universi- em 02 out. 2018.
dade Candido Mendes, Rio de Janeiro, 2010.
Os autores gostariam de agradecer à Fundação
PIMENTEL, Fernando Silvio Cavalcante. A de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas
aprendizagem das crianças na cultura digital. (FAPEAL) pela concessão de bolsa de Douto-
Maceió: EDUFAL, 2017. 203 p. rado ao segundo autor e à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
PONTE, Cristina; VIEIRA, Nelson. Crianças e (CAPES) pela Bolsa PNPD da terceira autora.
Internet, riscos e oportunidades: um desafio
para a agenda de pesquisa nacional. In. MAR-
TINS, M. de L.; PINTO, M. (Orgs.). SOPCOM
- Comunicação e Cidadania, 5. Anais... Braga:
Centro de Estudos de Comunicação e Socie-
dade; Universidade do Minho, 2008.

REIS, Pâmela. TV ainda é mais consumida que Recebido em 21 de maio de 2019


dispositivos móveis, aponta pesquisa.Revista Aceito em 15 de julho de 2019

São Cristóvão (SE), v.19, n.2, p. 165-176, mai./ago.2019

Você também pode gostar