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Steel frame - fundações (parte 1)

A partir desta edição, mostraremos, em


seis etapas, como construir uma casa
em steel frame. Os artigos, publicados
um mês sim outro não, obedecerão à
seguinte programação: nesta edição
(junho), fundações; agosto, estruturas;
outubro, fechamentos; dezembro,
instalações; fevereiro, cobertura; abril,
acabamentos.

O steel frame é um sistema construtivo racional constituído de perfis leves de


aço galvanizado, que formam paredes estruturais e não-estruturais depois de
receber os painéis de fechamento. Por ser um processo industrializado de
construção, permite executar a obra com grande rapidez, a seco e sem
desperdícios. Como se observa na figura 1, esse sistema é formado por painéis
que possuem perfis metálicos (montantes, guias, cantoneiras, chapas e fitas
metálicas), formando uma espécie de esqueleto que se torna a estrutura da
edificação.

Como se vê, uma grande vantagem do


sistema é gerar uma estrutura leve e,
conseqüentemente, as fundações podem ser,
de maneira geral, simples. Por ser
constituído de painéis, admite-se que a
transmissão da ação da estrutura à fundação
se dá uniformemente, ao longo de toda sua
extensão.

Fundações mais utilizadas


As soluções mais empregadas para
fundações de construções em steel frame são o radier, sapatas corridas e vigas
baldrame.

Como qualquer fundação, requer uma boa impermeabilização a fim de se


evitarem infiltrações e umidade.

Por ser um sistema autoportante, a fundação deve estar perfeitamente nivelada


e em esquadro, permitindo a correta transmissão das ações da estrutura. O
sistema steel frame possui pouca maleabilidade para ajustes na obra e,
portanto, não deve sofrer nenhuma interferência decorrente de desvios da
fundação. Eventuais paredes fora de esquadro deverão ter as devidas soluções
previstas na etapa de concepção do projeto.

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Radier
O radier é um tipo de fundação rasa, constituída de uma laje em concreto
armado com cota bem próxima da superfície do terreno, na qual toda estrutura
se apóia. Geralmente, é dimensionado com base no modelo de placa sobre base
elástica, seguindo a hipótese de Winckler. Neste caso, o solo é visto como um
meio elástico formando infinitas molas que agem sob o inferior da placa,
gerando uma reação proporcional ao deslocamento.

Estruturalmente, o radier pode ser liso (como uma laje com espessura
constante e sem nenhuma viga enrijecedora) ou formado por lajes com vigas
de bordas e internas, para aumentar sua rigidez. A escolha de um ou outro
esquema depende da resistência do solo, das cargas atuantes sobre o radier e
da intensidade e aplicação das ações da estrutura. Na figura 3, temos um
exemplo de radier sem vigas enrijecedoras e na figura 4, com vigas
enrijecedoras.

A experiência e a literatura recomendam radier apenas quando a soma das


áreas das sapatas é grande em relação à projeção da edificação. Porém, no
caso de edificações residenciais, cujas cargas são relativamente baixas, a opção
pelo radier para a fundação passa a ser interessante, principalmente se houver
repetição, como é o caso de conjuntos habitacionais com edificações-tipo.
Quando bem-executado e nivelado, prescinde de contrapiso, podendo receber
diretamente o revestimento.

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O radier deve possuir certo desnível em seu contorno para que o painel fique
protegido da umidade. A calçada deve ser executada de forma que permita o
escoamento das águas pluviais, recomendando-se uma inclinação em torno de
5%. A distância do contrapiso ao solo, conforme recomenda a boa norma, deve
ser de pelo menos 15 cm, para evitar a penetração de umidade (figura 5).

A execução do radier permite locar as furações para instalações hidráulicas,


sanitárias, elétricas e de telefonia. Essas locações devem ser precisas em
relação às posições e diâmetro dos furos, para que não ocorram transtornos na
montagem dos painéis, nas colocações das tubulações e dos acessórios e nos
serviços subseqüentes. Os ajustes tornam-se muito difíceis se houver grande
desalinhamento.

Observa-se, na figura 6, que as instalações executadas no radier encontram-se


embutidas no painel. A figura 7 mostra a tubulação em local diferente do
previsto, necessitando ajustá-la para a posição correta dentro do painel.

O radier mostra-se mais competitivo quando a edificação possui um só nível e


todos os painéis referentes ao primeiro pavimento são assentados na mesma
cota.

Considerando-o como uma estrutura de concreto armado, o radier é


interessante, pois demanda poucas fôrmas, principalmente de madeira, cuja
participação no custo da estrutura convencional pode chegar a 20%.

Se a altura para dimensionamento do radier demandar que parte dele fique


enterrado, pode-se utilizar o solo como fôrma em suas faces, desde que possua
resistência necessária.

Para a execução do radier é necessária a limpeza da superfície do terreno ou


até mesmo a retirada de uma camada superficial que pode prejudicar a
transmissão da carga para o terreno. Em seguida, deve-se proceder a correta
compactação do solo, para se obter uma boa camada de suporte.

Sapata corrida
A sapata corrida é um tipo de fundação rasa contínua que recebe as ações dos
painéis e as transmite ao solo. Pode-se dizer que é uma viga de concreto
armado de base alargada (aba), para melhor distribuir a ação oriunda do painel
(ou parede) ao solo. É construída numa vala sobre um solo cuja resistência é
condizente com a intensidade de carregamento a ela transmitida pela largura

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da aba da sapata. O solo do fundo da vala deve ser apiloado e um lastro de


concreto magro geralmente é colocado.

A sapata corrida pode ser classificada em rígida ou flexível, dependendo das


dimensões das abas. O dimensionamento da armadura leva em consideração
essa diferença, devido à variação distinta da tensão normal no solo. Na prática,
adota-se geralmente a sapata rígida. A sapata corrida é interessante em solos
com boa resistência a aproximadamente 60 cm da superfície.

O contrapiso pode ser constituído de concreto ou de uma estrutura com perfis


galvanizados apoiados na sapata. A configuração da sapata corrida, contudo,
determina a necessidade de executar o contrapiso de maneira independente.
Nesse caso, pode-se fazer economia caso não haja necessidade de armadura, o
que já ocorre na adoção do radier. As figuras 8 e 9 mostram a execução do
contrapiso junto às fundações.

Viga baldrame
A viga baldrame é uma estrutura que se apóia em blocos de fundação
geralmente sobre estacas. Em residências, as estacas são geralmente brocas
executadas de maneira tradicional. A opção por viga baldrame, em conjunto
com os blocos de fundação, se dá quando a resistência do solo só é encontrada
em profundidades maiores.

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A viga baldrame permanece com a condição de possuir continuidade para o


apoio dos painéis (paredes) como nos casos citados anteriormente.
Estruturalmente, a viga baldrame pode ser considerada uma viga, por vezes
contínua, que se apóia nos blocos com a ação de seu peso próprio e das cargas
dos painéis. Pode-se dimensioná-la também como viga sobre base elástica,
obtendo-se certa economia na armadura.

Qualquer que seja a opção especificada para a fundação de construções em


steel frame, deve-se verificar o deslocamento de translação e rotação da
estrutura pela ação do vento.

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Para que esses efeitos sejam impedidos, a fixação da estrutura deve ser
executada de maneira que fique coerentemente ancorada à fundação.

A translação é uma ação decorrente de um deslocamento lateral da estrutura


que, supostamente fixa à base, desloca sua parte superior de maneira
excessiva, além dos limites exigidos técnica e construtivamente.

O tombamento é um deslocamento semelhante a uma rotação da estrutura


que, pela ancoragem imperfeita, sob a ação do vento, pode criar a tendência de
rotacionar a estrutura e desprendê-la da base.

Para que o conjunto estrutura- fundação interaja de maneira a não causar


esses deslocamentos, a ancoragem da estrutura deve ser bem dimensionada e
executada.

A ancoragem é a maneira construtiva que a estrutura deve se prender à


fundação e permitir que a transmissão dos esforços impeça qualquer
deslocamento indesejável.

Pode-se fazer a ancoragem química com uma barra roscada colada à fundação
em orifício executado após o concreto da fundação adquirir a resistência
especificada. A colagem é feita geralmente com resina epoxídica, que permite
uma ponte de aderência entre a barra e a fundação. A estrutura da edificação,
então, é fixada à fundação com uma barra rosqueada através de uma peça de
aço que se ajusta à guia do montante (um dos perfis verticais do "esqueleto" da
estrutura) e aparafusada. O montante geralmente é de perfil duplo, conforme
mostra a figura 10.

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Outra forma de fixar a estrutura é utilizar uma fita metálica chumbada à


fundação, para desenvolver a ancoragem. Nesse caso, a fita metálica - que
nada mais é que uma fita de aço galvanizada, com dobras para aumentar a
capacidade aderente - é chumbada à fundação para a fixação em conjunto com
o montante. O montante geralmente também é de perfil duplo, como na figura
11.

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A ancoragem tipo "J" é executada com um chumbador (fixado à fundação), que


se prende por parafuso a um pedaço de perfil e se fixa à guia. Essa, por sua
vez, fixa os montantes, conforme mostra a figura 12.

Outra forma de ancorar a estrutura é utilizar "parabolts". Trata-se de um


chumbador de expansão com torque radial e uniforme. Perfura-se a fundação e
fixa-se a guia com "parabolts" aparafusados.

Todos os tipos de ancoragem requerem uma guia. Trata-se de um perfil


estrutural na posição horizontal e nele são presos os montantes ou chamados
perfis verticais.

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A ancoragem também pode ser provisória, um processo utilizado na montagem


da estrutura, onde os painéis são fixados com pistola a pólvora, como mostra a
figura 13.

Considerações finais
Todos esses sistemas de ancoragem são
projetados de forma a racionalizar a
execução e montagem da estrutura, dentro
de critérios rígidos de qualidade. A fundação
deve, portanto, adequar-se a esse nível de
sofisticação, caso contrário o processo
poderá ter gargalos. A concepção
construtiva de uma edificação em steel
frame, tal como um produto acabado, deve
seguir padrões que, se bem observados,
levarão a um nível ótimo a relação custo-benefício, justificando-se como
sistema industrializado.

Antonio Wanderley Terni, Professor-doutor do Departamento de Engenharia


Civil da Unesp do Campus de Guaratingüetá-SP

Alexandre Kokke Santiago, Arquiteto, Mestre em Engenharia Civil, Construção


Metálica (UFOP)

José Pianheri, Engenheiro Civil, consultor, sócio diretor da Pienge Engenharia


e Construção Ltda.

Leia Mais

NBR 6122 - Projeto e Execução de Fundações. ABNT (Associação


Brasileira de Normas Técnicas).

NBR 6489 - Prova de Carga Direta Sobre Terreno de Fundação.


ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

NBR 6118 - Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento.


ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

NBR 6123 - Forças Devidas ao Vento em Edificações. ABNT


(Associação Brasileira de Normas Técnicas).

NBR 8036 - Programação de Sondagens de Simples


Reconhecimento dos Solos para Fundações de Edifícios. ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Steel framing: Arquitetura. Arlene Maria Sarmanho Freitas. CBCA


(Centro Brasileiro da Construção em Aço).

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