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Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 784.739 - MT (2015/0231947-0)

RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


AGRAVANTE : BB LEASING S.A.ARRENDAMENTO MERCANTIL
ADVOGADO : CINARA CAMPOS CARNEIRO E OUTRO(S) - MT008521
AGRAVADO : ADALBERTO ALVES DE MATOS
ADVOGADO : ADALBERTO ALVES DE MATOS (EM CAUSA PRÓPRIA) -
MT004502
EMENTA

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL


(CPC/1973). AÇÃO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS C/C INDENIZAÇÃO. REMUNERAÇÃO PELA
SUCUMBÊNCIA. RESCISÃO ANTECIPADA DO CONTRATO.
ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS. VIABILIDADE. OFENSA
AO ART. 535 DO CPC/1973. INOCORRÊNCIA. ACÓRDÃO
RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM O ENTENDIMENTO
DESTA CORTE SUPERIOR. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO
CONHECIDO PARA, DESDE LOGO, NEGAR PROVIMENTO
AO RECURSO ESPECIAL NA PARTE CONHECIDA.

DECISÃO
Vistos etc.
Trata-se de agravo em recurso especial interposto por BB LEASING
S.A.ARRENDAMENTO MERCANTIL, em face da decisão que negou seguimento a
recurso especial, aviado pela alínea "a" do inciso III do art. 105 da Constituição
Federal, ao fundamento de ausência de violação ao art. 535, inciso II, do CPC/1973,
bem como de incidência das Súmulas 83 e 211/STJ (e-STJ fls. 617-622).
Em suas razões, infirmou especificamente as razões da decisão agravada (e-STJ
fls. 626-639) .
No recurso especial, alega a parte recorrente violação aos arts. 20, §§ 3º e 4º,
267, inciso IV, 295, inciso II, e 535, inciso II, todos do Código de Processo Civil de
1973, aos arts. 113, 421, 422 e 473, todos do Código Civil, e aos arts. 22 e 23, ambos
da Lei nº 8.906/1994, sustentando, em síntese, omissão do v. acórdão quanto ao fato
de que o contrato firmado faz lei entre as partes e dispõe que somente é cabível o
arbitramento judicial de honorários na falta de estipulação ou acordo; que o Tribunal
de Origem não se manifestou quanto à questão de que a condenação está determinando
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o pagamento antes do sucumbente quitar o débito, configurando antecipação de
honorários; que mesmo diante da resilição contratual, o contrato é válido até onde
cumprido, devendo ser mantido na forma acordada; ausência de interesse processual
do recorrido; que restou estabelecido no contrato de prestação de serviços advocatícios
que o advogado será remunerado exclusivamente pelos honorários de sucumbência;
bem como que o contrato expressamente prevê a proporção devida em caso de rescisão
durante o trâmite da ação. Aduz, pois, que deve ser excluída a sua condenação aos
honorários, de forma a manter o que foi acordado.
Apresentadas contrarrazões (e-STJ fls. 611-614).
É o relatório.
Passo a decidir.
Inicialmente, esclareço que o juízo de admissibilidade do presente recurso será
realizado com base nas normas do CPC/1973 e com as interpretações dadas, até então,
pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (cf. Enunciado Administrativo n.
2/STJ).
Ato contínuo, percebe-se que a irresignação não merece acolhida.
O recorrente, em sede de recurso especial, alega ofensa aos arts. 20, §§ 3º e 4º,
267, inciso IV, 295, inciso II, e 535, inciso II, todos do Código de Processo Civil de
1973, aos arts. 113, 421, 422 e 473, todos do Código Civil, e aos arts. 22 e 23, ambos
da Lei nº 8.906/1994, sustentando, em síntese, omissão do v. acórdão quanto ao fato
de que o contrato firmado faz lei entre as partes e dispõe que somente é cabível o
arbitramento judicial de honorários na falta de estipulação ou acordo; que o Tribunal
de Origem não se manifestou quanto à questão de que a condenação está determinando
o pagamento antes do sucumbente quitar o débito, configurando antecipação de
honorários; que mesmo diante da resilição contratual, o contrato é válido até onde
cumprido, devendo ser mantido na forma acordada; ausência de interesse processual
do recorrido; que restou estabelecido no contrato de prestação de serviços advocatícios
que o advogado será remunerado exclusivamente pelos honorários de sucumbência;
bem como que o contrato expressamente prevê a proporção devida em caso de rescisão
durante o trâmite da ação. Aduz, pois, que deve ser excluída a sua condenação aos
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honorários, de forma a manter o que foi acordado.
O acórdão recorrido, por sua vez, negou provimento ao agravo regimental,
mantendo a decisão monocrática, a qual assim assentou (e-STJ fls. 538-539):
As partes firmaram contrato de prestação de serviços de advocacia
em que foi convencionado na cláusula sétima o seguinte: (...)
Como visto, a remuneração se refere ao período de vigência do
contrato.
No entanto, não há menção alguma sobre como ela se dará caso
ocorra rescisão. E é nesse ponto que reside o interesse do apelante, já
que essa situação aconteceu.
Diante disso, o arbitramento dos honorários tem lugar, sem, contudo,
revogar a cláusula que definia a forma de pagamento enquanto a
avença estava em vigor, somente acrescentando como será depois da
rescisão.
Ademais, é imperioso que seja arbitrada a verba, caso contrário, o
cliente enriqueceria indevidamente às custas do trabalho exercido
pelo advogado, o que não se admite.

Convém colacionar, ainda, o seguinte trecho do v. acórdão proferido em sede de


embargos de declaração (e-STJ fls. 579-580):
Contudo, essa cláusula não resolve a questão, pois continua
vinculando o pagamento ao término e sucesso da ação, embora o
advogado não atue mais nela.
Conforme posicionamento do STJ, na avença rescindida por só uma
das partes "não se aplica a regra pela qual apenas seria remunerado
o serviço ao final e por conta do devedor, uma vez que o mandante
revogou o mandato e extinguiu o contrato de prestação de serviços,
impedindo a obtenção do resultado"(REsp 402.578/MT, Rel. Min. Ruy
Rosado de Aguiar, DJ de 12/8/2002.
Ademais, o advogado não atuará mais na lide e, portanto, sua
remuneração dependerá do êxito do serviço prestado por terceiro.
Logo, cabível o arbitramento dos honorários.

Com efeito, quanto à alegada violação ao art. 535, inciso II, do Código de
Processo Civil de 1973, vislumbra-se a não ocorrência de nulidade por omissão,
obscuridade, ou contradição, tampouco de negativa de prestação jurisdicional, no
acórdão que decide, de modo integral e com fundamentação suficiente, pela
viabilidade do arbitramento dos honorários, sobretudo pelo fato de que, "conforme
posicionamento do STJ, na avença rescindida por só uma das partes "não se aplica a
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regra pela qual apenas seria remunerado o serviço ao final e por conta do devedor,
uma vez que o mandante revogou o mandato e extinguiu o contrato de prestação de
serviços, impedindo a obtenção do resultado" (REsp 402.578/MT, Rel. Min. Ruy
Rosado de Aguiar, DJ de 12/8/2002."
O juízo não está obrigado, ainda, a se manifestar a respeito de todas as
alegações e dispositivos legais suscitados pelas partes.
A propósito:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE
COMPRA E VENDA DE TERRAS, FLORESTAS E DE CESSÃO DE
DIREITOS. OFENSA AOS ARTS. 458 E 535 DO CPC.
INDEFERIMENTO DA PROVA ORAL. CERCEAMENTO DE
DEFESA. SÚMULA Nº 7 DO STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Não há que se falar em violação dos arts. 458 e 535, ambos do
CPC, quando o acórdão resolve fundamentadamente as questões
pertinentes ao litígio, mostrando-se dispensável que venha examinar
uma a uma as alegações e fundamentos expendidos pelas partes.
2. O Tribunal de origem concluiu que a produção de prova oral era
desnecessária ao julgamento da lide porque eram suficientes as já
constantes nos autos.
3. No caso, infirmar a conclusão a que chegou o Tribunal de origem
em relação à necessidade de produção de novas provas para o
julgamento da lide é providência inviável neste âmbito recursal, à luz
da Súmula nº 7 do STJ. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no
AREsp 702.273/RJ, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 01/10/2015, DJe 06/10/2015).

Ademais, verifica-se que o v. acórdão, ao concluir pela viabilidade do


arbitramento de honorários, em caso de rescisão contratual pela ora agravante, de
forma antecipada, encontra-se em consonância com o entendimento desta Corte
Superior, incidindo, pois, o óbice constante da Súmula 83/STJ, veja-se:
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL. COBRANÇA. HONORÁRIOS
CONVENCIONADOS. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. NÃO
OCORRÊNCIA. O TRIBUNAL NÃO É OBRIGADO A REBATER, UM
A UM, OS ARGUMENTOS DA PARTE. ARTS. 130 E 333, I, DO
CPC. ARBITRAMENTO JUDICIAL. VERBA
HONORÁRIA.EXISTÊNCIA. CONTRATO. POSSIBILIDADE.
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PRECEDENTES. INCIDÊNCIA. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. Não há ofensa ao art. 535 do CPC, pois o Tribunal de origem
decidiu a matéria de forma fundamentada. O julgador não está
obrigado a rebater, um a um, os argumentos invocados pelas partes,
quando tenha encontrado motivação satisfatória para dirimir o
litígio.
2. A indicação dos dispositivos sem que tenham sido debatidos pelo
Tribunal de origem, nem mesmo após o julgamento dos embargos de
declaração, obsta o conhecimento do recurso especial pela ausência
de prequestionamento. Aplicável, assim, o enunciado n. 211 da
Súmula desta Corte Superior.
3. "O entendimento adotado pelo Tribunal de origem está em
consonância com aquele perfilhado pelo STJ, no sentido de que,
'embora haja pactuação entre as partes, vinculando os honorários
advocatícios à sucumbência, nada impede o arbitramento judicial
da verba profissional, caso haja o rompimento antecipado do
contrato, levando-se em consideração as atividades até então
desenvolvidas.'" (AgRg nos Edcl no Ag n. 770.849/RS, Rel.
Ministro Fernando Gonçalves, Quarta Turma, julgado em 9/6/2009,
DJe 22/6/2009).
Incidência, na hipótese, da Súmula 83/STJ.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg nos EDcl no AREsp 600.367/SP, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
28/04/2015, DJe 18/05/2015) - g.n.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. AÇÃO DE ARBITRAMENTO.
CISÃO PARCIAL DA EMPRESA. VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 165,
458 E 535 DO CPC. INOBSERVÂNCIA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. ENCERRAMENTO ANTECIPADO DO
CONTRATO. VERBA DEVIDA DE FORMA PROPORCIONAL.
PRECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. MAJORAÇÃO DOS
HONORÁRIOS. SÚMULA 07/STJ. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. "Os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as
teses levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial,
bastando que as decisões proferidas estejam devida e coerentemente
fundamentadas, em obediência ao que determina o art. 93, inc. IX, da
Lei Maior. Isto não caracteriza ofensa aos arts. 165, 458 e 535 do
CPC" (AgRg no Ag 1203657/MT, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe
30/06/2010).

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2. Na hipótese, o entendimento adotado pelo Tribunal de origem
está em consonância com aquele perfilhado pelo STJ, no sentido de
que, "embora haja pactuação entre as partes, vinculando os
honorários advocatícios à sucumbência, nada impede o
arbitramento judicial da verba profissional, caso haja o rompimento
antecipado do contrato, levando-se em consideração as atividades
até então desenvolvidas." (AgRg nos Edcl no Ag 770.849/RS, Rel.
Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em
09/06/2009, DJe 22/06/2009) . Incidência da Súmula 83/STJ na
hipótese.
3. O Tribunal de origem, ao manter o patamar dos honorários
advocatícios naquele em que foi estabelecido pela sentença,
amparou-se no acervo probatório dos autos. A análise das razões
recursais e a reforma do aresto hostilizado, com a desconstituição de
suas premissas, como pretende o agravante, demandaria
necessariamente no reexame de provas. Incidência da Súmula 7/STJ.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 292.919/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/03/2015, DJe
27/03/2015) - g.n.

Assim, melhor sorte não socorre ao recorrente.


Ante o exposto, com base no art. 932, inciso IV, do CPC/2015 c/c a Súmula
568/STJ, conheço do agravo para, desde logo, negar provimento ao recurso
especial na parte conhecida.
Advirta-se que eventual recurso interposto contra este decisum estará sujeito às
normas do CPC/2015 (cf. Enunciado Administrativo n. 3/STJ).
Intimem-se.
Brasília (DF), 19 de abril de 2017.

MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


Relator

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