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RECURSO ESPECIAL Nº 1927697 - MG (2021/0078213-7)

RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES


RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS
EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA
RECORRIDO : DANILO NOGUEIRA RAMOS NUNES
ADVOGADO : DAYANE ROSE SILVA - MG123277

EMENTA

PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. ENSINO. VIOLAÇÃO AO ART. 1.022


CPC. NÃO CARACTERIZADA. ENSINO. REVALIDA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 356 E 282/STF. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO EM PARTE E, NESSA EXTENSÃO, NEGADO PROVIMENTO.

DECISÃO

Trata-se de recurso especial do INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E


PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA contra acórdão do Tribunal Regional
Federal da 1ª Região, assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. REVALIDAÇÃO DE


DIPLOMAS MÉDICOS EXPEDIDOS POR INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO
ESTRANGEIRAS (REVALIDA). LEGITIMIDADE PASSIVA DO INEP.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRELIMINARES AFASTADAS.
MÉRITO. MOMENTO DE APRESENTAÇÃO DO DIPLOMA PARA FINS DE
INSCRIÇÃO NO REVALIDA. SENTENÇA MANTIDA. I - O Exame Nacional
de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação
(Revalida) é aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que visa revalidar os diplomas
estrangeiros, compatíveis com as exigências de formação correspondentes aos
diplomas de médico expedidos por universidades brasileiras. A finalidade do
exame é aferir a equivalência curricular e definição de aptidão para o
exercício profissional da medicina no Brasil, em cumprimento ao disposto no
art. 48 da Lei n. 9.394/96. II – Foi atribuída ao INEP, por meio da Portaria
Interministerial n. 278 do Ministério da Educação e da Saúde, a
implementação do exame Revalida, com a colaboração das universidades
públicas participantes, razão pela qual possui legitimidade passiva para
figurar no polo passivo da relação processual e, consequentemente, é a
Justiça Federal competente para processar e julgar o feito, nos termos do
inciso I do art. 109 da Constituição Federal. III – O mandado de segurança é
via judicial adequada para a insurgência do(a) impetrante, no que se refere ao
momento de apresentação do diploma de medicina no exame Revalida,
norma esta fixada no edital, para uma situação concreta e particular, matéria
exclusivamente de direito. IV - “Não há ilegalidade ou abuso de poder na
exigência, no ato da inscrição, de diploma devidamente reconhecido pelo
Ministério da Educação ou por órgão correspondente no país de conclusão do
curso, para fins de participação no Exame Nacional de Revalidação de
Diplomas Médicos expedidos por universidades estrangeiras (Revalida).”
(IRDR 0045947-19.2017.4.01.0000, DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL
PAES RIBEIRO, TRF1 - TERCEIRA SEÇÃO, e-DJF1 28/02/2019.V – No que

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interessa ao caso concreto, os efeitos do IRDR citado estão assim modulados:
d) “Para os procedimentos de revalidação de diploma que ocorreram no ano
de 2017 e anteriores, as inscrições realizadas por força de medida liminar,
excepcionalmente, devem ser homologadas, e os processos extintos, com
resolução de mérito, uma vez que não é mais possível o retorno ao status quo
ante.” VI – Objetivando o(a) impetrante afastar a exigência de apresentação
do diploma no ato da inscrição no Revalida regido por edital de 2017, que
dispunha sobre os procedimentos e prazos do Revalida 2017, e tendo obtido
decisão liminar favorável, deve ser mantida a sentença que concedeu a
segurança. VII - Recurso de apelação interposto pelo INEP e remessa oficial
aos quais se nega provimento.

No recurso especial, a parte recorrente aponta violação aos seguintes dispositivos


legais: (a) art. 1.022 do CPC, alegando que Turma, ao negar provimento aos embargos
de declaração, não apreciou a tese aventada de que o incidente de resolução de
demandas repetitivas n. 0045947-19.2017.4.01.0000/DF, teve sua modulação de efeitos
para os “procedimentos de revalidação de diploma que ocorreram no ano de 2017 e
anteriores” - o IRDR refere-se às revalidações finalizadas em 2017 ou anos anteriores, o
que ocorre somente após aprovação do participante no REVALIDA, aprovação da
documentação pela IES e efetiva revalidação do diploma estrangeiro. (b) arts. 41 da Lei
8.666/1993, 48, 53, V, e 54 da Lei 9.394/1996 e 207 da CF, aduzindo que: i) o
instrumento editalício produzido pelo INEP, e disponível para todos os inscritos no
processo seletivo, pode e deve estipular os requisitos a serem observados para fins de
revalidação, sendo inaceitável a concessão e privilégios a um ou outro candidato; ii) o
recorrido não logrou demonstrar o cumprimento do requisito de diploma autenticado
por autoridade consular, não havendo falar em direito líquido e certo à revalidação do
diploma; (c) arts. 296, 300, 302, 10 e 493 do CPC, alegando que: i) o fato de ter sido
inscrito e realizado a prova não impedem de ter seu resultado anulado, ante a ausência
de amparo legal a justificar sua manutenção no certame; ii) não prospera a assertiva
acerca da teoria do fato consumado, pois esta somente deve ser considerada se o fato
tiver se aperfeiçoado ou estiver prestes a se aperfeiçoar sob a égide do direito.
Foram apresentadas contrarrazões.
Sobreveio juízo positivo de admissibilidade.
O Ministério Público, em seu parecer, opinou pelo parcial provimento do recurso
especial e, nesse extensão, pelo desprovimento.
É o relatório. Passo a decidir.
A insurgência não merece prosperar.
Preliminarmente, afasto a alegada violação ao art. 1.022 do CPC, pois o Tribunal
de origem enfrentou a matéria posta em debate na medida necessária para o deslinde da
controvérsia, conforme razões abaixo:

(...) Quanto ao mérito, ressalto que a Terceira Seção desta Corte, em Incidente
de Resolução de Demandas Repetitivas, firmou a tese jurídica de que “Não há
ilegalidade ou abuso de poder na exigência, no ato da inscrição, de diploma
devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação ou por órgão
correspondente no país de conclusão do curso, para fins de participação no
Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por
universidades estrangeiras (Revalida)”: (...)
Os efeitos da tese jurídica firmada no IRDR acima citado foram assim
modulados:(...)a) a tese jurídica definida deverá ser imediatamente aplicada
ao Revalida atualmente em curso, excluindo-se do procedimento os
candidatos que não são portadores do diploma, tendo-se como momento de
corte a data da inscrição; b) Os processos atualmente em curso serão julgados
liminarmente improcedentes, caso a pretensão neles deduzida contrarie o
entendimento firmado no presente IRDR, conforme dispõe o art. 332, inciso
III, do Código de Processo Civil; c) Os recursos que contrariarem a
compreensão ora firmada, serão liminarmente desprovidos, pelo relator,
conforme disposto no art. 932, inciso IV, alínea "c", do CPC, ou providos

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liminarmente, caso já apresentadas as contrarrazões, se a decisão recorrida
for contrária ao presente entendimento, na linha do art. 932, inciso V, alínea
"c", do CPC; d) Para os procedimentos de revalidação de diploma que o
correram no ano de 2017 e anteriores, as inscrições realizadas por força de
medida liminar, excepcionalmente, devem ser homologadas, e os processos
extintos, com resolução de mérito, uma vez que não é mais possível o retorno
ao status quo ante. Determinação que também será aplicável aos recursos em
curso.(...) Objetivando o(a) impetrante afastar a exigência de apresentação do
diploma de Medicina no ato da inscrição do REVALIDA regido por edital de
2017, que dispunha sobre os procedimentos e prazos do REVALIDA 2017, e
tendo obtido decisão liminar favorável, deve ser mantida a sentença na forma
em que prolatada. Pelo exposto, nego provimento ao recurso de apelação
interposto pelo INEP e à remessa oficial.

Cumpre destacar ainda a afirmação do Juízo a quo no julgamento dos embargos


de declaração:

(...) a modulação dos efeitos do IRDR citado no voto nada fala em necessidade
de finalização do Revalida, mas apenas em manutenção das inscrições
realizadas por força de liminar em exames relativos aos anos de 2017 e
anteriores. Em outras palavras, se a modulação não dispõe acerca da
necessidade de finalização dos exames de REVALIDA em curso, não há
porque interpretar no sentido pretendido pelo embargante. Se o embargante
não concorda com a conclusão a que se chegou no acórdão embargado, deve
interpor os recursos cabíveis para obter a reforma do julgado, o que é inviável
em sede de embargos de declaração.

A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza


ofensa ao ordenamento jurídico, pois não há que se confundir entre decisão contrária ao
interesse da parte e negativa de prestação jurisdicional.
Melhor sorte não socorre o recorrente quanto à alegada violação aos arts. 41,
caput, da Lei 8.666/1993, 3º e 5º da Lei 5.540/1968 e 48, 53, V, 54, da Lei 9.394/1996 e
296, 300, 302, 10 e 493 do CPC.
As indicadas violações não comportam exame no âmbito desta Corte de Justiça,
porquanto ausente o necessário prequestionamento. O recorrente apresentou nas razões
do recurso especial matéria de defesa não discutida no Tribunal de origem, o que
impossibilita o julgamento do recurso neste aspecto, nos termos das Súmulas 282/STF e
356/STF, respectivamente: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando não
ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada"; "O ponto omisso da
decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de
recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento."
Ante o exposto, com fulcro no art. 932, III e IV, do CPC/2015 c/c o art. 255, § 4º,
I e II, do RISTJ, conheço em parte do recurso especial e, nessa extensão, nego-lhe
provimento.
Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 26 de maio de 2021.

MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES


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