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3.Que fatores influenciaram suas chances na vida? Quais os tipos de recursos que você
herdou de outros? Que recursos podem ter lhe faltado? Como seria sua vida se você
tivesse tido mais recursos e como seria se você tivesse tido menos recursos do que
tem/teve?
Resposta:
Meus pais vieram de famílias humildes, pobres, sem muitas oportunidades, mas sempre
acreditaram na Educação como meio de se criar novas oportunidades e de ter diferentes
perspectivas de vida. Desta forma, desde muito nova, fui influenciada a estudar, e escutava
que não existiria herança melhor que eles pudessem me dar, a não ser o acesso a uma
educação de qualidade, visto que dinheiro ou status, simplesmente poderiam acabar,
enquanto o conhecimento adquirido ao longo do tempo, não.
Poucos recursos básicos me faltaram nesta caminhada, sempre pude estudar em colégios
particulares, comprar material escolar e demais necessidades, mesmo que com algumas
dificuldades em determinados anos. Com a base que tive, ingressei em um curso que
desejava na Universidade e a cada dia, as oportunidades aumentam para um futuro melhor.
Com isso, acredito que recursos adicionais nestas condições, não mudariam muito a minha
realidade. Talvez, eu conseguiria estudar fora, fazer intercâmbio e conhecer outras
universidades, fatos que não consigo com a situação atual da minha família ou sem depender
de alguma bolsa estudantil e assistencial.
Com menos recursos, certamente a minha situação seria completamente diferente. É inegável
dizer que a educação básica no Brasil é escassa. Alunos de uma mesma série, mas em escolas
particulares e públicas, não possuem a mesma educação. Escolas públicas, por diversos
motivos, possuem poucos professores, greves e demais problemas. Enquanto em escolas
particulares, salvo exceções, o ano letivo ocorre normalmente, sem interrupções e com
qualidade. Esta desigualdade é tão evidente, que alunos de escolas públicas possuem cotas
nas Universidades Públicas. Além disso, a falta de recurso para se comprar material escolar,
ou necessidades básicas como alimentação e saúde, poderiam dificultar ainda mais a minha
ascensão social.
Concluo que a minha educação, herdada pelo esforço dos meus pais que não obtiveram tantas
oportunidades, fez com que a minha situação de vida fosse diferente, caso eu não tivesse
acesso a esses recursos.
4.Como a raça e etnia influenciam as oportunidades que você tem e os obstáculos que
você enfrenta? Como o racismo atua nesse processo? Até onde você é consciente de sua
raça e sua etnia, e das possíveis influências que elas podem ter em sua vida?
Resposta:
Apesar de me considerar preta, nunca senti nenhum obstáculo ao decorrer da minha vida,
em relação a isto, nem em relação a etnia que me considero encaixar. No Brasil, pelo reflexo
da escravatura e tudo o que esse período nos trouxe de herança, é evidente as desigualdades
sociais. É mais difícil ver um preto e pobre estar sentado na cadeira de uma Universidade,
assistindo a uma aula do curso de Medicina, e isto por diversos motivos, como a falta de
acesso à educação, a indispensabilidade de se trabalhar cedo, visto que os responsáveis não
podem custear todas as suas necessidades, do que um branco que teve acesso durante toda a
sua vida, a escolas particulares e cursos preparatórios.
Sou completamente consciente da minha raça e etnia, me considerando uma exceção neste
meio, pois tive acesso à educação e não precisei trabalhar cedo, para ajudar financeiramente
em casa. Apesar de ser preta, não precisei de cotas para ingressar na Universidade, pois meu
estudo foi completamente em escolas particulares, o que atualmente, considero uma grande
vantagem.
Desta forma, é inegável inferir que raça e etnia influenciam diretamente nos rumos que
determinado indivíduo irá seguir, muitas vezes, não por sua própria vontade, mas pelo o que
está enraizado na sociedade. Felizmente, está realidade vem mudando aos poucos e o desejo
de muitos é que não sejam apenas exceções, como eu fui, mas que as oportunidades, a
educação, acesso a saúde e alimentação de boa qualidade, seja para todos.
5.O que casos corriqueiros de assassinatos ou violência contra mulher por seus
parceiros nos dizem sobre a desigualdade de gênero e sobre o que é ser mulher no
Brasil? E como o gênero influencia nosso acesso aos recursos?
Resposta:
Apesar dos visíveis avanços que ocorreram no Brasil, como a aprovação da Lei Maria da
Penha, o feminicídio ainda é uma realidade. Seja de forma física, verbal ou moral, a violência
traz significativas consequências para a mulher na sociedade em que vive.
A sociedade brasileira é marcada por costumes patriarcais e machistas que contribuem para
a ideologia que o sexo masculino é considerado superior, e o feminino, inferior e frágil,
muitas vezes tratado como um objeto e sentimento de posse.
A violência, que pode levar a morte, é o auge de toda a desigualdade que as mulheres vem
sofrendo ao longo do tempo. Mas ainda aquelas que estão fora da realidade de serem
agredidas por seus parceiros, certamente já enfrentaram desigualdade em afazeres
domésticos, por exemplo, na Universidade, em cursos de especializações ou até no mercado
de trabalho. Mulheres com o mesmo nível de formação de um homem, muitas vezes,
recebem salário e recursos inferiores que os mesmos, pelo fato de serem mulheres.
Desta forma, é possível concluir a evidencia da desigualdade de gênero presente na
sociedade brasileira. No âmbito da problemática, encontra-se a diferença de afazeres, a
desconsideração de um trabalho feito por uma mulher, e em casos extremos, a agressão
física, moral e verbal, as inferiorizando, no lugar da valorização de tudo que elas, assim
como homens, podem oferecer para o crescimento da sociedade.