Você está na página 1de 6

67

GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801)


NOTA CIENTÍFICA

PRODUTIVIDADE DE FEIJÃO AZUKI EM FUNÇÃO DE DOSES DE POTÁSSIO


EM COBERTURA

Roni Fernandes Guareschi1*


Márcio José da Costa Araujo1
Paulo Roberto Gazolla1
Anísio Corrêa da Rocha1

Resumo: O presente trabalho objetivou avaliar a produtividade do feijão Azuki [Vigna


angularis (Willd.)] adubado com crescentes doses de potássio em cobertura. O experimento
foi instalado em campo, num Latossolo Vermelho distroférrico. Adotou-se um delineamento
experimental em blocos ao acaso com 5 tratamentos e 3 repetições. Os tratamentos foram:
testemunha (nenhuma aplicação em cobertura), 20, 40, 60 e 80 kg de K2O ha-1, aplicados 25
dias após a emergência das plantas. A cultura respondeu em produtividade à adubação
potássica em cobertura até a dose de 42,18 kg de K2O ha-1, produzindo 1.638,41 kg ha-1.

Palavras-chave: Vigna angularis, nutrição mineral, adubação potássica.

Abstract: The objective of this work was to evaluate the grain yield of Azuki [Vigna
angularis (Willd.)] bean through increasing levels of top dressing potassium fertilization. The
experiment was carried out under field conditions in a red latosol. The experimental design
was in completely randomized blocks with five treatments and three replicates. The
treatments were: control (O kg K2O ha-1), 20, 40, 60 and 80 kg K2O ha-1, applied 25 days
after emergence. The grain yield increased till 42.18 kg K2O ha-1 where 1.638.41 kg ha-1 was
recorded.

Key words: Vigna angularis, mineral nutrition, potassium fertilization.

INTRODUÇÃO

O feijão representa a principal fonte de proteínas das populações de baixa renda


(MESQUITA et al., 2007) e constitui um produto de destacada importância nutricional,
econômica e social (VIEIRA et al., 1998).
O feijão Azuki, uma espécie originária da China, onde é cultivada há séculos vem
ganhando espaço no Brasil. É muito popular no Japão, onde é usado em mingaus e sopas, em
vários tipos de bolos e doces, e misturado com arroz. No Brasil, ainda é pouco conhecido,
sendo cultivado, sobretudo, pelos colonos japoneses (VIEIRA et al., 2000).

1
Instituto Federal Goiano - Campus de Rio Verde, CP 66, CEP.: 75901-970, Rio Verde – GO. Email*: roniguareschi@gmail.com.
Autor para correspondência

Recebido em: 23/09/2008. Aceito em: 22/04/2009.


Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 02, p.67 - 72, mai/agos. 2009.
68

R. F. Guareschi et al.

No Brasil, as estatísticas do aumento no caracterizada pelo crescimento lento, plantas


consumo de fertilizantes mostram uma com raízes pouco desenvolvidas, caules
evolução média anual de 5,3%, a partir de fracos e muito flexíveis, plantas mais
1987 até 2002 (VEGRO & FERREIRA, suscetíveis a ataques de doenças, além da má
2004). O uso eficiente de fertilizantes formação de sementes e frutos (PITTELLA,
minerais é o fator que, isoladamente, mais 2003).
contribui para o aumento da produtividade São escassos os estudos em relação à
agrícola. Em função das grandes quantidades exigência nutricional do feijão Azuki. Sendo
envolvidas, a ineficiência no uso de assim, esta espécie tem sido cultivada,
fertilizantes representa uma perda econômica utilizando adubações recomendadas para o
significativa (ISHERWOOD, 2000). feijoeiro comum. Considerando que o feijão
Nas formulações de fertilizantes, comum e o feijão Azuki são espécies
geralmente, o potássio (K) aparece como distintas, justificam-se estudos, visando ao
nutriente obrigatório, respaldado pelo desenvolvimento de tecnologias de adubação
paradigma de que os teores de K trocável no especificamente para a cultura do feijão
solo são baixos. Assim, é necessário Azuki.
preservá-los com adubações potássicas para Desta forma, o objetivo deste trabalho
garantir o desenvolvimento das plantas foi avaliar a produtividade da cultura do
(KAMINSKI et al., 2007). A disponibilidade feijão Azuki em função de doses crescentes
do K no solo ocupa uma posição de potássio em cobertura.
intermediária entre o N e o P, isto é, não sofre O experimento foi instalado na área
lixiviação tão intensa quanto o primeiro e experimental do Instituto Federal de
nem é fixado tão fortemente como o segundo. Educação, Ciência e Tecnologia Goiano –
O risco de lixiviação do K é maior nos solos Campus Rio Verde, no Sudoeste de Goiás,
arenosos (LANA et al., 2002). De maneira em uma gleba de 135 m2, com predominância
geral, os locais de maior concentração desse de Latossolo Vermelho distroférrrico,
nutriente no solo coincidem com os locais de precipitação pluviométrica anual em torno de
maior umidade, evidenciando seu movimento 1.740 mm, clima tropical quente, com estação
por fluxo de massa. chuvosa e seca bem definida e relevo
O nutriente K tem ação fundamental relativamente plano.
no metabolismo vegetal, pelo papel que Foram coletadas 30 amostras simples
exerce na fotossíntese, atuando no processo (0-20 cm) na gleba, sendo formadas duas
de transformação da energia luminosa em amostras compostas (cada uma com 15
energia química (ALMEIDA & amostras simples) e enviadas ao Laboratório
BAUMGARTNER, 2002; MALAVOLTA, de Solos da instituição para análise química
2006). Por outro lado, a sua deficiência é (Tabela 1).

Tabela 1. Análise química do solo da gleba experimental do Instituto Federal de Educação,


Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde

Amostra pH Mat. Orgânica P K Ca Mg Al


....H2O..... .......g dm-3........ ...................... mmolc dm-3 ...................
Gleba experimental 6,0 33,05 10,30 9,00 94,00 27,3 0,0

Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 02, p.67 – 72, mai/agos. 2009.


69

Produtividade de Feijão…

Adotou-se um delineamento que a cultura, durante todo seu ciclo,


experimental em blocos ao acaso com 5 mostrou-se muito rústica, tornando
tratamentos e 3 repetições. Os tratamentos dispensável o uso de defensivos agrícolas.
foram: testemunha (nenhuma aplicação em A colheita foi realizada na maturação
cobertura), 20, 40, 60 e 80 kg de K2O ha-1. fisiológica da cultura, 80 dias após a
Cada parcela apresentava 5 linhas de emergência. A produtividade foi estimada na
semeadura com espaçamento entre linhas de área total da parcela, pelo fato das plantas
0,45 m e 4 m de comprimento, totalizando estarem muito embaraçadas. Se as bordaduras
uma área de 9 m2. não tivessem sido consideradas, haveria
Na adubação de semeadura, utilizou- considerável perda de grãos. Os grãos
se 300 kg ha-1 do adubo formulado 4-14-8. colhidos em cada parcela foram beneficiados,
Em cobertura, além dos tratamentos de doses pesados e a umidade determinada e corrigida
crescentes de cloreto de potássio (KCl), para 13%. Os dados foram submetidos à
aplicou-se também 100 kg de N ha-1, análise de variância pelo programa estatístico
utilizando uréia como fonte nitrogenada. SAEG 8.0 e, posteriormente, aplicada a
No dia 15 de novembro de 2007, a análise de regressão para avaliar a relação
gleba foi dessecada, utilizando 1,92 kg ha-1 funcional entre produtividade e doses
do princípio ativo glifosato. Dois dias após a aplicadas.
dessecação, foi realizada a semeadura Os efeitos da adubação potássica em
mecanizada, distribuindo-se 15 sementes por cobertura sobre a produtividade do feijão
metro linear. Devido à presença de uma boa Azuki ajustaram-se ao modelo quadrático
cobertura do solo na gleba experimental, o (Figura 1). Esse comportamento mostra que
manejo químico das plantas daninhas em pós- as doses de KCl estabelecidas nos
emergência não foi realizado, já que as tratamentos foi adequada para o estudo, já
plantas daninhas foram controladas pelo que houve incremento significativo com as
efeito supressor da palhada de colonião. doses iniciais (20 kg K2O ha-1), passando por
Periodicamente, foi realizado um um pico máximo e decrescendo na dose mais
monitoramento de pragas e doenças, sendo elevada (80 kg K2O ha-1).

Figura 1. Produtividade de feijão Azuki, em função de doses de K2O em cobertura.

Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 02, p.67 – 72, mai/agos. 2009.


70

R. F. Guareschi et al.

A produtividade máxima atingida foi que caracteriza o consumo de luxo


de 1.638,41 kg ha-1, com a utilização 42,18 (MARSCHNER, 1998; GOMMERS et al.,
kg de K2O ha-1. Estes resultados evidenciam 2005).
uma boa produtividade do feijão Azuki e se A resposta à adubação aos tratamentos
assemelham a rendimentos obtidos por utilizados em um solo com alto teor de K
Gazolla et al. (2007) na região de Rio Verde, pode estar relacionada ao fato da fonte
GO. utilizada ser o KCl. Segundo Malavolta
Os resultados deste experimento (2006), a velocidade de absorção deste
discordam com os de Silveira & Damasceno nutriente será maior se este estiver associado
(1993) e Lima et al. (2001), que relatam se o ao cloro. Para manter a neutralidade elétrica,
solo apresenta de 50 a 60 ppm de K cátion e ânion devem ser absorvidos juntos
normalmente não se obtém resposta à pela raiz. Desta forma, possivelmente o feijão
adubação potássica. O solo onde foi realizado Azuki tem a capacidade de se beneficiar do
este experimento apresentava 351 ppm de K efeito íon acompanhante, pois mesmo com
(Tabela 1) e o feijão Azuki respondeu às teor alto de K no solo, a cultura respondeu à
doses crescentes de adubação potássica. Em adubação potássica.
ensaios de longa duração, se o solo possui É bem conhecida a interação iônica no
teores de nutrientes considerados médios a processo de absorção dos nutrientes pelas
altos, eles pouco se alteram durante os raízes das plantas, ou seja, a presença de um
períodos de cultivo e, após 10 anos, não há nutriente em excesso pode reduzir a absorção
aumento da produtividade em função do de outro, favorecendo sua deficiência
aumento de doses. No entanto, as formas não (FAQUIN, 1994). No presente trabalho, a
trocáveis variam sua disponibilidade, dose mais elevada de KCl (80 kg K2O ha-1), o
aumentando nas doses mais altas e excesso de K aplicado pode ter levado a um
diminuindo nas doses mais baixas desbalanço nutricional entre esse nutriente, o
(BRUNETTO et al., 2005). Tal cálcio e o magnésio, contribuindo para a
comportamento indica que estas formas redução da produtividade da cultura do feijão
participam da dinâmica de disponibilidade de Azuki (MOTA et al., 2001; CARNICELLI et
K no solo, o que afeta a produtividade das al., 2000) e prejuízo no desenvolvimento do
culturas (KIST et al., 2004). sistema radicular e da parte aérea da planta
Similarmente a este trabalho, Bertolin ocasionado pelo elevado índice salino do
et al. (2008) obtiveram crescente fertilizante (GRANGEIRO & CECÍLIO
produtividade de feijão guandu, até a dose de FILHO, 2004). Isto influenciou
-1
30 kg K2O ha , em um solo com teor de K negativamente o desenvolvimento fisiológico
equivalente a 547 ppm. Para o feijão comum das plantas.
(Phaseolus vulgaris L.), o K é exigido em Neste trabalho, a dose de K2O
quantidades relativamente elevadas, menores considerada econômica foi de 42,18 kg ha-1,
apenas que as de N. Além disso, a quase que possibilitou a maior produtividade
totalidade do K é absorvida pelo feijoeiro até (1.638,41 kg ha-1) de grãos. Esse resultado
40-50 dias após a emergência (LIMA et al., representa um incremento de 601,13 kg ha-1
2001). Quando o solo apresenta um elevado de grãos, em relação ao tratamento
teor de K, sua absorção pela planta pode ser testemunha sem a aplicação de K2O em
até quatro vezes mais que a de N, podendo cobertura. O feijão Azuki responde à
caracterizar o consumo de luxo. Isso ocorre adubação potássica em cobertura até a dose
porque as plantas, em geral, possuem mais de de 42,18 kg ha-1, atingindo a produtividade
um mecanismo de absorção de K, inclusive máxima de 1.638,41 kg ha-1.
para teores mais altos no solo.
Por isso, elas absorvem quantidade
acima de sua necessidade metabólica, que é
acumulada em organelas da célula vegetal, o
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 02, p.67 – 72, mai/agos. 2009.
71

Produtividade de Feijão…

REFERÊNCIAS fontes e doses de potássio. Horticultura


Brasileira, v. 22, p.740-743, 2004.
ALMEIDA, M. C.; BAUMGARTNER, J. G.
Efeitos da adubação nitrogenada e potássio ISHERWOOD, K. F. Mineral fertilizer use
na produção e na qualidade de frutos de and the environment. Paris: IFA/UNEP,
laranjeira-valencia. Revista Brasileira de 2000. 106p.
Fruticultura. v. 24, p. 261-268, 2002.
KAMINSKI, J.; BRUNETTO, G.;
BERTOLIN, D. C.; SÁ, M. E.; BUZETTI, S. MOTERLE, D. F.; RHEINHEIMER, D. S.
Doses de fósforo, potássio e espaçamentos Depleção de formas de potássio do solo
entre linhas na produção de sementes e afetada por cultivos sucessivos. Revista
fitomassa de guandu em semeadura tardia. Brasileira de Ciência do Solo, v. 31, p. 1003-
Scientia Agraria, v. 9, p. 261-268, 2008. 1010, 2007.

BRUNETTO, G.; GATIBONI, L. C.; KIST, S. L.; MOTERLE, D. F.; KAMINSKI,


RHEINHEIMER D. S.; SAGGIN, A.; J.; RHEINHEIMER, D. S. dos. Depleção de
KAMINSKI, J. Nível crítico e reposta das potássio por cultivos sucessivos em Argissolo
culturas ao potássio em um Argissolo sob de textura média. In: CONGRESSO
sistema plantio direto. Revista Brasileira de BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 31.,
Ciência do Solo, v. 29, p. 565-571, 2005. Lages: 2004. Anais... (CD-ROM).

CARNICELLI, J. H.; PEREIRA, P. R. G.; LANA, R. M. Q.; HAMAWAKF, O. T.;


FONTES, P. C. R.; CAMARGOS, M. I. LIMA, L. M. L.; ZANÃO JÚNIOR, L. A.
Índices de nitrogênio na planta relacionados Resposta da soja a doses e modos de
com a produção comercial de cenoura. aplicação de potássio em solo de cerrado.
Horticultura Brasileira, v. 18, p. 808-810, Bioscience Journal, v. 18, p. 17-23. 2002.
2000.
LIMA, E. V. de.; ARAGÃO, C. A.;
FAQUIN, V. Nutrição mineral de plantas. MORAIS, O. M.; TANAKA, R.; GRASSI
Lavras: ESAL-FAEPE, 1994. 227p. FILHO, H. Adubação NK no
desenvolvimento e na concentração de
GAZOLLA, P. R.; GUARESCHI, R. F.; macronutrientes no florescimento do
ROCHA, A. C. Avaliação de espaçamentos feijoeiro. Scientia Agricola. v. 58, p. 125-
entre linhas para o cultivo de feijão Azuki. In: 129, 2001.
Semana de Ciência e Tecnologia do Centro
Federal de Educação Tecnológica, 2007, MALAVOLTA, E. Manual de nutrição
Rio Verde. Anais... Rio Verde: CEFETRV. 1 Mineral de Plantas. São Paulo: Editora
CD. Agronômica Ceres, 2006. 638p.

GOMMERS, A.; THIRY, Y.; DELVAUX, B. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of


Rhizospheric mobilization and plant uptake higher plants. San Diego: Academic Press,
of radiocesium from weathered soils: I. 1998. 889p.
Influence of potassium depletion. Journal of
Environmental Quality, v. 34, p. 2167- MESQUITA, F. R.; CORRÊA, A. D.;
2173, 2005. ABREU, C. M. P. de.; LIMA, R. A. Z.;
ABREU, A. F. B. de. Linhagens de feijão
GRANGEIRO, L. C.; CECÍLIO FILHO, A. (phaseolus vulgaris L.): composição química
B. Exportação de nutrientes pelos frutos de e digestibilidade protéica. Ciência e
melancia em função de épocas de cultivo, Agrotecnologia, v. 31, p. 114-1121, 2007.
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 02, p.67 – 72, mai/agos. 2009.
72

R. F. Guareschi et al.

MOTA, J. H.; SOUZA, R. J. de.; SILVA, E. VEGRO, C. L. R.; FERREIRA, C. R. R.


C. da. Efeito do cloreto de potássio via Evolução do consumo de fertilizantes no
fertirrigação na produção de alface-americana
estado do Mato Grosso. Informações
em cultivo protegido. Ciência e
Econômicas, v. 34, p. 07-14, 2004.
Agrotecnologia, v. 25, p.542-549, 2001. VIEIRA, R. F.; VIEIRA, C.; MOURA, W.
M. Comportamento do feijão Azuki em
PITTELLA, L.C. Fertilização. 2003. [on diferentes épocas de plantio em Coimbra e
line]. Disponível em: Viçosa, Minas Gerais. Revista Ceres, v. 47,
http://www.bonsaimorrovelho.com.br/bcmv_ p. 411-420, 2000.
mt_ fertilizacao.html . Acesso em: 18 jan.
2008. VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T. J. de;
BORÉM, A. Feijão: aspectos gerais e
SILVEIRA, P. M.; DAMASCENO, M. A. cultura no Estado de Minas.Viçosa:
Doses e parcelamento de K e de N na cultura Universidade Federal de Viçosa, 1998. 596 p.
do feijoeiro. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v. 28, p. 1269-1276, 1993.

Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 02, p.67 – 72, mai/agos. 2009.

Você também pode gostar