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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO GERAL

Dentre os recursos naturais, sem dúvida que a água constitui-se no


mais importante, por ser elemento fundamental tanto à vida, como para todas
as atividades desenvolvidas pelo homem. Conseqüentemente, deve-se garantir
primeiramente as fontes de águas, que satisfaçam as demandas quantitativas e
qualitativas, de maneira segura e confiável para os diversos usos de qualquer co-
munidade. Assegurada a quantidade, é essencial que a qualidade seja adequada
para um determinado uso, ou seja, cada finalidade exigirá determinadas carac-
terísticas qualitativas da água. Assim, as exigências do grau de pureza, definido
por padrões de qualidade, através de valores limites, máximos ou mínimos, de
diversos parâmetros físico-químicos e microbiológicos, irão variar de acordo com
o emprego da água.
O uso múltiplo das águas e as características de qualidade de cada um
serão diferenciadas, por exemplo, caso a água seja utilizada para uso domésti-
co, na forma de água potável para alimento e higiene; para uso industrial como
insumo, como parte dos processos de fabricação ou limpeza; para uso agrícola
na irrigação de culturas vegetais; para dessedentação de animais ou cultivo de
camarões; na geração de energia elétrica para movimentação de turbinas hidráu-
licas ou geração de vapor em termoelétricas; na navegação; para balneabilidade,
pesca ou recreação aquática; na área urbana, em limpeza de ruas, na manutenção
de parques e jardins ou como excesso das águas pluviais; como transporte ou
receptor de resíduos líquidos e até mesmo sólidos.
Conforme o uso ainda, as exigências de qualidade das águas poderão re-
querer correções de algumas de suas propriedades, de modo a atingir os padrões
específicos para se obter a qualidade mínima correspondente. Daí a necessidade
na maioria das vezes, do tratamento das águas, captadas em mananciais superfi-
ciais ou subterrâneos, para fins produtivos, seja para abastecimento público ou in-
dustrial, por exemplo. Na natureza, a qualidade das águas vai sofrendo alterações
de acordo com as fases do ciclo hidrológico; de maneira semelhante, após o uso
da água tratada para uma determinada finalidade, as características se alteram,
resultando nas águas servidas ou residuárias, que são os esgotos ou efluentes
líquidos.
Os diferentes usos das águas naturais podem levar a conflitos de inte-
resses, daí a importância que se deve dar hoje à gestão integrada dos recursos
hídricos. As águas residuárias urbanas e industriais em geral, em função dos di-
Introdução geral

versos poluentes que carreiam, são também motivos para aqueles conflitos, em
especial quando confrontadas com o uso do corpo d’água em questão para o
abastecimento de água. Assim, denota-se a importância para a qualidade da água
de um corpo d’água, para um abastecimento seguro e para a proteção ambiental
no sentido mais amplo, dos sistemas adequados de esgotos sanitários e efluentes
industriais.
Essa importância torna-se maior quando se verifica que, inúmeros outros
fatores relacionados com as águas residuárias, necessitam uma maior atenção,
ou seja, o controle da qualidade das águas, ou o controle da poluição num senti-
do mais amplo, assume papel vital para os diversos usos mencionados. É ainda
necessário realçar que muitos daqueles fatores estão diretamente relacionados
com as atividades industriais com seus variados tipos de processos, produtos,
resíduos e efluentes; com as práticas agrícolas no tocante ao uso de solo, manejo
da água, fertilizantes e defensivos agrícolas; e com a crescente e muitas vezes, de
maneira desordenada, da urbanização. Para esse controle, é fundamental o co-
nhecimento e aplicação de diversas técnicas, em especial nas áreas de engenha-
ria, química e biologia. Na área de engenharia se destacam aquelas relacionadas
com os campos de saneamento ambiental, hidráulica e hidrologia.
Os objetivos do controle da qualidade das águas são relacionadas com a
conservação e melhoria das fontes ou mananciais, aplicação da tecnologia apro-
priada para a correção ou tratamento quando necessário e distribuição e uso se-
guro no destino final; e se estende para a coleta, transporte, tratamento e disposi-
ção adequados das águas residuárias no ambiente, após o uso da água. O próprio
esgoto tratado, dependendo novamente do uso, como é o do caso de irrigação
controlada, pode ser uma fonte de nutrientes e de água, esta de qualidade infe-
rior, comparada com água de abastecimento, evidentemente, porém, ainda assim
suficiente para aquele uso.
Para um eficiente controle da qualidade das águas, além do conhecimen-
to de suas propriedades naturais, é importante saber os conceitos, a importância,
a aplicação, como determinar analiticamente e o significado de cada um dos parâ-
metros que no conjunto conferem à água, as suas características físicas, químicas
e biológicas.
Estas características em geral são agrupadas ou consideradas nos aspec-
tos estéticos, como é o caso da cor e turbidez em excesso, odor e sabor objetá-
veis, presença de sólidos em suspensão ou material flutuante sólido ou líquido
(óleos) visíveis; fisiológicos ou organolépticos, como os sais dissolvidos e outros
constituintes microbiológicos (bactérias e algas) e químicos, inorgânicos e orgâ-
nicos, que conferem à água excessiva salinidade, patogenicidade, toxicidade ou
riscos à saúde se ingeridos; ecológicos, como é o caso do pH, temperatura, maté-
ria orgânica biodegradável, oxigênio dissolvido, nitrogênio e fósforo, importantes
para a sustentação e equilíbrio da vida animal e vegetal nos corpos d’água; eco-
nômicos, como a presença excessiva de dureza (cálcio e magnésio) que podem
provocar incrustações em paredes de tubulações e instalações, excesso de boro
e alumínio e sais em geral, que podem impedir o uso da água para irrigação de di-

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Qualidade das águas e poluição: aspectos físico-químicos

versas culturas e provocar a esterilidade e salinização dos solos, águas agressivas


que provocam corrosão de superfícies metálicas de tubulações e equipamentos.
Por conseguinte, o controle da qualidade das águas envolve necessaria-
mente a análise qualitativa e quantitativa de diversos constituintes, através da de-
terminação de diversos parâmetros que permitam avaliar a sua natureza ou con-
dições físicas, químicas e biológicas. Sucessivas avaliações podem formar uma
coleção de informações relevantes, que em geral compõem um programa de mo-
nitoramento. Amostragens simples para rápidas avaliações, ou monitoramentos
prolongados, requerem atividades de campo para coleta de amostras e trabalhos
analíticos em laboratórios para os exames físicos, análises químicas e exames
microbiológicos. Esses trabalhos analíticos se resumem determinar ou medir as
concentrações ou quantidades dos constituintes ou características da amostras
de água coletadas.
Para esses trabalhos analíticos, dependendo da natureza do programa
definido para o controle de qualidade de águas, é essencial a disponibilidade de
um laboratório, em geral de química e microbiologia, que faça uso de métodos
analíticos padronizados. A determinação das concentrações dos diversos cons-
tituintes de um corpo de água, da água de abastecimento fornecida ou de um
efluente, requer diversas atividades e por conseguinte, do conhecimento de di-
versos fundamentos, em especial de química. Conforme será detalhado no ca-
pítulo seguinte, um dos objetivos deste livro se refere aos fundamentos básicos
de química voltados para a engenharia sanitária e ambiental, que tenham apli-
cação direta para a determinação e interpretação de diversos parâmetros físicos
e químicos de qualidade das águas. Os parâmetros físico-químicos abordados
neste livro, voltados para o controle da qualidade das águas, se referem àqueles
mais representativos da área de saneamento ambiental e não tem a pretensão
de cobrir todo o extenso campo relativo à qualidade das águas, nem da química
analítica. Os parâmetros microbiológicos, em especial aqueles de bacteriologia e
algas, embora tão ou mais importantes que os físico-químicos, não são objeto do
presente trabalho. Seguiu-se, a título de comparação dos parâmetros físicos e quí-
micos para água de abastecimento, com os dos padrões de potabilidade segundo
a Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. Para efeito de qualidade de água de
corpos d’água e lançamento de efluentes, observou-se os padrões da Resolução
CONAMA 357/2005. Foi também citada em vários capítulos, a legislação ambien-
tal do Estado de São Paulo.
É esperado que o trabalho seja utilizado como suporte nos estudos e pro-
gramas de controle de qualidade das águas, nos aspectos físico e químico, para
aqueles que atuam nos aspectos qualitativos dos recursos hídricos, no saneamen-
to ambiental e de maneira mais ampla, na engenharia sanitária e ambiental.

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