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Cap.

17 – Do padrão Ouro a Bretton Woods


Gustavo Douglas Silva

1- O que significa sistema monetário internacional e que aspectos ele trata, basicamente?

Refere-se ao conjunto de regras ou convenções que governam as relações financeiras entre países. Formam o
aparato institucional que mantém as relações entre as diversas economias.

Trata de como se dará a conversão de uma moeda – Que está associada aos padrões de ajuste das taxas de câmbio e
os preços relativos de diversas moedas. Trata-se também do padrão monetário a ser adotado, que são definidos por
sua vez pela natureza dos ativos de reserva.

2- Qual o principal objetivo de um sistema monetário internacional e quais suas condições?

Sua eficiência não é um fim em si mesmo e seu principal objetivo é viabilizar a fluidez das relações econômicas entre
países, proporcionando a maximização dos ganhos com o comércio e os benefícios derivados dos movimentos de
capital. Para isso, depende da existência de estabilidade do meio de pagamento escolhido e da complementaridade
de interesses entre os países.

3- Qual a distinção entre um instrumento monetário em um país e internacional?

A diferença é que, o instrumento monetário em um país tem a exigência de ser meio de troca aceito e servir de meio
de conta, essas são condições para a existência do dinheiro em uma economia. O mesmo pode ser dito em relação a
servir como reserva de valor. Internacionalmente, as mesmas condições devem existir. Mais nesse caso existe uma
concorrência entre as moedas internacionais, para estabelecer a moeda que será o meio de troca internacional, a
unidade de conta e a reserva. E, para ser a escolhida existe a questão de que a moeda é um bem coletivo e deverá
ser estável e extremamente confiável.

Um país para ter sua moeda escolhida está ofertando ao mundo um bem público. E ofertará sua moeda em troca de
bens (ativos ou moedas), o que lhe dá vantagens como o ganho de senhoriagem. Sua moeda torna-se um
compromisso ou obrigação que ele assume.

4- Porque se tenta minimizar a concorrência da oferta de moeda e qual a maneira de se induzir confiança?

O sistema monetário durante muito tempo tem se preocupado em criar estruturas institucionais capazes de
minimizar os efeitos da concorrência na oferta de moeda internacional, e para convencer potenciais usuários
estrangeiros que a moeda escolhida é confiável e tem valor estável e previsível. O maneira mais comum de induzir
confiança é tornar a moeda conversível livremente em outro ativo como o ouro, cuja quantidade é restrita e cuja
quantidade o país da moeda escolhida não tem o poder de controlar. Isso dá credibilidade.

5- O que é o problema da consistência? Como lidar com tal problema?

Para ter um sistema monetário internacional é necessário ter regras claras e aceitas por todos os países que dele
participam. O problema da consistência deriva do suposto básico de que, a soma dos déficits e superávits dos
balanços de pagamentos têm que zerar, ao final de um período para todos os países (numa troca, o lançamento de
um deve corresponder a lançamento contrário feito pelo outro) isso implica que o país emissor deverá ter o
resultado de seu BP obtido passivamente. Ele deverá equivaler ao resultado da soma dos n-1 países outros.

Para lidar com isso, pode o país emissor se tornar passivo e abre mão de definir metas externas; ou se estabelecer
mecanismos de ajuste automático, com taxas de câmbio flexíveis ou, a coordenação de políticas entre países.

6- No caso de Bretton Woods, qual dessas possibilidades era a pretendida? Qual a questão básica?
No sistema do tipo Bretton Woods estava vinculado à primeira hipótese, e a questão básica era justificar porque um
país como no caso os EUA abririam mão de sua capacidade de influenciar suas contas externas. A resposta está na
sua posição diferenciada: o fato de sua moeda nacional ser usada como reserva de valor permitia a esse país
absorver ganhos (senhoriagem) derivados da não-necessidade de manter entre seus ativos outras moedas (que
rendem retornos limitados) para financiar eventuais déficits futuros. Isso obrigaria a esterilizar os efeitos de
movimentos de reservas.

7- Quais as características básicas do padrão ouro? O que ele pretende assegurar?

As três características básicas são: Conversibilidade das moedas em ouro; liberdade para movimentação
internacional do ouro; existência de regras que relacionam a quantidade de moeda em circulação a um estoque de
ouro. Além do mecanismo que assegura a estabilidade de preços (limita o raio de ação das autoridades monetárias),
ajusta o equilíbrio do BP. Ele pretendia ser capaz de gerar equilíbrio internacional, sem intervenção dos governos.

8- Como funcionava o modelo básico e quais suas condições?

O funcionamento do padrão ouro requer que a economia opere em concorrência perfeita, com flexibilidade de
preços e salários; pleno emprego dos fatores de produção, com a demanda por moeda apenas transacional e oferta
de moeda em função do estoque de ouro. Um aumento da quantidade de moeda em circulação eleva o nível dos
preços internos e, com isso, caem as exportações e aumentam as importações. Para saldar esse déficit, os países irão
demandar mais ouro pois terão que pagar em ouro (o que significa que o importador, para pagar sua compra, deverá
comprar ouro junto ao governo, entregando cédulas de papel). Ou seja, esse processo reduz o estoque de reservas
(ouro) disponíveis, afetando negativamente a oferta de moeda, o déficit ao ser pago em ouro corresponde a redução
da moeda circulando. Com isso caem a demanda, os salários e os preços, reestabelecendo a estabilidade interna e
provocando ajuste no comércio externo.

9- Que aspectos controversos são apresentados?

Os critérios efetivos para emissão que nem sempre correspondia a uma relação fixa com a disponibilidade de ouro
pois alguns países tinham regras de proporcionalidade. Atuação do sistema bancário na expansão da quantidade de
moeda em circulação. Rigidez na redução de salários, a atuação dos bancos centrais, os efeitos diferenciados entre
países industrializados e os demais países. Existência de movimentos de capital, compensando o resultado
comercial, em função de manipulação de taxas de juros.

10- O que aconteceu no período de entre-guerras?

Nos anos imediatos após o fim da guerra (1919-23), as paridades entre as principais moedas oscilaram de forma
pronunciada. Isso estimulou as autoridades de diversos países a buscar a volta da estabilidade obtida nos vinte anos
anteriores à guerra. Entretanto, as pressões inflacionárias nesse período levaram à escassez relativa de estoques de
ouro. Para superar essa escassez, o Comitê Financeiro da Conferência de Genebra, de 1922, recomendou a adoção
mundial do padrão-Ouro.

Em que pesem as novas condições, ao saírem da 1ª Guerra, os países com perdas de capacidade produtiva e
experimentando inflação, e querendo elevar seu estoque de riquezas (ouro) para poder se recuperarem e pagarem
reparações, começaram a praticar política de desvalorização de suas moedas competitivas. Assim, um país
desvalorizava sua moeda em um percentual, para baratear seus produtos e aumentar a sua exportação, e outros
desvalorizavam ainda mais. Essa política de empobrecer o vizinho (“beggar thy neighbour”) levou à interrupção do
comércio.
11- Qual a preocupação de Bretton Woods e o que isso originou?

Era uma reunião de países não-comunistas, com o propósito de reformar o sistema monetário internacional. Finda a
2ª Guerra, para não repetir a experiência do fim da 1ª Guerra. O conjunto de medidas acordadas naquela
oportunidade desejava lidar com desequilíbrios externos dos países participantes e definir um aparato institucional
para prover liquidez e financiar o desenvolvimento econômico dos países, em especial os devastados pela guerra.
Os acordos para pagamentos internacionais podem ser de tipo bilateral ou multilateral.

Para isso criou-se o FMI – para fiscalizar e controlar se os países estavam mantendo a regra combinada de câmbio
fixo (mantido em relação ao dólar).

Criou-se o Banco Mundial. E uma organização que ficou apenas em um tratado, para comércio internacional e
regulação desse comércio, o GATT. A moeda americana, fixada e conversível ao ouro, era a principal (embora não a
única para pagamentos internacionais).

12- O que foi a era de escassez de dólares?

A era da escassez de dólar acontece do fato de que, logo ao final da guerra, com a economia americana não tendo
passado por destruição física de suas fábricas e parques industriais, levou a que os EUA fossem o país que mais
exportasse para todo o mundo. Mas, para isso, ele deveria receber fosse em ouro (cujas reservas dos países
europeus estavam em níveis críticos) fosse em dólares, a moeda principal (que eles não possuíam nem podiam
emitir). Assim essa época ficou conhecida como período de escassez de dólares e, para não prejudicar o comércio os
Estados Unidos lançaram medidas para ajudar (Plano Marshall e créditos comerciais do Eximbank norte americano)
as economias em reconstrução, injetando dólares.

13- Qual o resultado da política americana do período?

O resultado da política americana do período foi que, ao financiar a reconstrução europeia, via Plano Marshall,
dólares foram emitidos. Com a possibilidade de dominarem mercados europeus, as empresas americanas partiram
para se transnacionalizarem, investindo na Europa. Logo em seguida às empresas e para não perderem sua clientela
foram os bancos americanos que se instalaram na Europa.

A guerra fria, a ajuda militar externa aos aliados, daí decorrente, somaram-se aos gastos da guerra da Coréia e
Vietnã. Além disso, em função da guerra fria, os Estados Unidos começaram a gastar emitindo dólar com a corrida
espacial. O resultado foi que tanto dólar foi parar fora dos Estados Unidos, que gerou o mercado de eurodólar, sem
qualquer controle das autoridades européias. Esse mercado “off shore” (sem regulamentações) não afetava as
economias europeias e nem a americana, no primeiro caso, por serem consideradas reservas. No segundo por estar
fora dos Estados Unidos.

14- Do ponto de vista da confiança o que isso acarretou?

A década de 1960 foi caracterizada pela desconfiança em relação ao dólar. (a) a recuperação das economias
europeias, associada à expansão do mercado de Eurodólares e aos investimentos norte-americanos no exterior
causaram frequentes déficits de Balanço de Pagamentos por parte dos Estados Unidos; (b) o financiamento via
emissão da Guerra do Vietnã, do programa espacial e os esforços relacionados à Guerra Fria provocaram pressão
inflacionária que reforçou a tendência ao desequilíbrio externo; c) a oferta de ouro não aumentou de forma
proporcional à demanda, gerando pressão no mercado desse metal.

Muitos países passaram a questionar se a moeda americana ainda conservava a conversibilidade com o ouro e se sua
paridade podia ser confiável. Vários começaram a querer trocar suas reservas por ouro, trazendo instabilidade para
a moeda americana.
15- O que foi o dilema de Triffin?

A desconfiança em relação a um sistema baseado no lastro em ouro da principal moeda de troca e reserva de valor
tornou-se mais explícita a partir da publicação do trabalho de Triffin (1960), o qual originou o que ficou conhecido
como o "Dilema de Triffin". Começa com a desconfiança em relação ao lastro em ouro da moeda americana, o que a
faz perder a confiança para ser reserva de valor. Segundo Triffin, um sistema do tipo Padrão Ouro, seria
intrinsecamente instável, porque a expansão do comércio internacional (e da produção) só poderia ser mantida com
expansão da liquidez internacional.

A conversibilidade do dólar em ouro aumentava a demanda por dólares, para facilitar esse comércio. Mas os Estados
Unidos gastando muitos dólares, através do plano Marshall, e os gastos advindos da guerra fria, Coréia, Vietnã e
gastos da corrida espacial, geraram uma erosão na confiança na sua moeda. Logo, a menos que se estabelecesse
uma forma de prover liquidez mais racional, sempre a atividade comercial corria o risco de ficar estrangulada, em
função do déficit americano (os Estados Unidos não poderiam elevar mais a criação dos dólares). Se o fizesse,
poderia gerar uma corrida contra o dólar. Ou a conversibilidade do dólar-ouro teria que ser alterada. Para lidar com
essa situação, Triffin propunha três alternativas; tornar as taxas de câmbio flexíveis, elevar o preço do ouro ou criar
um Banco Central universal e uma moeda única.

Em síntese: para um país ser um grande industrial e participar ativamente do comércio, teria que gerar liquidez. Ao
fazer isso, teria que emitir. Mas se emitisse, todos começariam a duvidar da manutenção da paridade.

16- O que foi e como atuaria o FMI?

Ao Fundo Monetário são atribuídas duas funções: prover os países membros de um código de conduta internacional
e zelar pelo seu cumprimento. Cada país associado teria sua moeda fixada em relação ao dólar. Essa paridade
poderia variar em 1%, para mais ou para menos, em razão de problemas conjunturais do BP do país. Se o país
apresentasse desequilíbrio mais sério, poderia desvalorizar sua moeda em até 10% em qualquer sentido, desde que
comunicado ao FMI.

O Fundo agia como o fiscal e controlador da paridade fixada. Caso o país tivesse déficit estrutural, deveria ir ao
Fundo para que ele sugerisse as medidas que o país deveria tomar em sua economia, e o Fundo emprestaria os
recursos necessários para cobrir o déficit e iria autorizar desvalorizações necessárias. Para emprestar recursos, o
Fundo seria formado com cada país tendo fixada uma cota, como sócio, calculada em relação a sua participação no
comércio mundial. Dessa cota, teria que integralizar junto ao FMI 25% em ouro ou dólar, e 75% em sua moeda.

Caso necessitasse para saldar déficits conjunturais poderia “trocar” o valor que depositou em ouro ou dólar, por sua
moeda. Assim ficaria com 100% de sua cota em sua moeda, e poderia ter, sem nenhum empecilho, dólares para
pagar seu déficit. Essa primeira operação, chamada de tranche ouro não seria um “empréstimo” a rigor, pelo fato de
haver a “troca” de moeda citada. Caso apresentasse novamente déficits, poderia obter créditos junto ao Fundo,
sempre na condição de pegar moeda forte e colocar o equivalente em valor de sua moeda. Poderia fazer isso, obter
tranches crédito, por 4 vezes, até completar um total de 200% de sua cota, em sua moeda. (os 75% iniciais, mais a
tranche ouro, de 25%, mais as 4 tranches crédito, cada uma de 25% somando 100%).

Entretanto, a cada uma das 4 tranches crédito deveria se sujeitar a recomendações do Fundo, para corrigir sua
economia. Essas operações de crédito eram sob condicionalidades ou “stand by”. Além disso, outras linhas especiais
de crédito poderiam ser utilizadas como: Extended fund facility, Structural Adjustment Facility, Compensatory and
contingency financing facility, Enhanced structural adjustment facility e o Oil facility.

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