Você está na página 1de 7

HISTÓRIA DA ÁFRICA DO SÉCULO XX

MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA

-1-
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1- Examinar as múltiplas resistências africanas à partilha;

2- Analisar a trajetória de alguns dos maiores líderes dos movimentos de resistência;

3- Avaliar até que ponto esses movimentos tiveram êxito.

A partilha da África foi um ato que dividiu e defendeu os interesses dos países europeus e dos Estados Unidos,

que, desde meados do século XIX, comungavam o “fardo do homem branco” e, justamente por isso, acreditavam

que tinham a missão de civilizar todas as sociedades que não compartilhassem seus modelos de organização e

governo. Esse furor civilizador, no entanto, trazia em seu bojo o gérmen do colonialismo, que se remodelava em

meio à conjuntura oitocentista. Embora algumas lideranças africanas tenham participado do processo que

resultou na partilha do continente, a maior parte dos estados africanos esteve aquém das decisões que

culminaram na colonização do continente. Nesta aula, vamos analisar alguns movimentos de resistência levados

a cabo por grupos e importantes nomes de diferentes regiões da África, demonstrando assim que a colonização

esteve longe de ser um movimento pacífico e acordado pelos habitantes do continente colonizado.

A resistência e suas múltiplas facetas

Embora grande parte das sociedades africanas estivesse passando por um momento de reorganização ou de

fragmentação política e possuísse um arsenal bélico infinitamente inferior ao europeu, diversos movimentos de

resistência foram organizados em toda a África antes da partilha do continente.

De modo geral, esses movimentos foram liderados por chefes religiosos (islâmicos, cristãos e sacerdotes da

chamada religião tradicional da África) que usavam a religião como elemento agregador de diferentes povos e

etnias para promover a organização necessária para lutar contra os invasores.

Fique ligado
Na realidade, a resistência africana foi anterior à partilha propriamente dita. Antes mesmo de
1885 e da redefinição do continente africano, muitas sociedades e lideranças não viam com
bons olhos a crescente presença europeia em suas terras.

-2-
Resistência ao poderio inglês

Os ingleses tiveram de lidar com movimentos de resistência em diferentes lugares.

Na África Ocidental, as elites do império Ashanti, por exemplo, resistiram à entrada inglesa durante setenta anos.

Os ashantis, que haviam sido parceiros comerciais dos ingleses durante o período de legalidade do tráfico

transatlântico, não concordaram com a diminuição de sua soberania diante da crescente presença inglesa em seu

território.

Os ingleses tiveram de lidar com movimentos de resistência em diferentes lugares. Na

África Ocidental, as elites do império Ashanti, por exemplo, resistiram à entrada inglesa

durante setenta anos. Os ashantis, que haviam sido parceiros comerciais dos ingleses

durante o período de legalidade do tráfico transatlântico, não concordaram com a

diminuição de sua soberania diante da crescente presença inglesa em seu território.


1823
Os conflitos entre os ashantis e os ingleses datam de 1823, quando foi declarada a primeira

guerra Anglo-Ashanti. Na ocasião, os ingleses já tentavam dominar parte do território por

meio das negociações de Sir Charles McCarthy, mas os termos não foram aceitos pelas

lideranças, que acabaram assassinando McCarthy e expulsando os demais britânicos da

região.

Trinta anos depois, em 1853, os ashantis tornaram a entrar em guerra contra os ingleses a

1853 fim de defender o controle do rio Pra. O conflito durou mais de dez anos terminou com a

vitória ashanti graças às numerosas epidemias que assolaram as tropas inglesas.

Em 1891, na tentativa de expulsar os franceses que tentavam controlar seu território ao

mesmo tempo que buscavam as minas de ouro da região, os ashantis se tornaram um


1891
protetorado inglês. Dessa vez, os britânicos vieram muito mais armados e dispostos a

controlar a região, enfrentando uma guerra que durou mais de cinco anos.

Somente em 1896, quando os ingleses introduziram a metralhadora nos combates,


1896
garantindo sua vitória sobre os ashantis, que foram de fato incorporados à Costa do Ouro.

Os xonas e os zulus

Conforme mencionado anteriormente, os ingleses tiveram de enfrentar outros movimentos de resistência no

continente africano. Na parte sul da África, destacam-se os movimentos feitos pelos xonas e pelos zulus.

-3-
Os grupos xona e ndebele que viviam no atual Zimbábue organizaram movimentos insurretos que contaram com

a participação ativa de líderes religiosos. Entre 1896 e 1897, o líder religioso Milmo teria sido o responsável por

fomentar o ódio contra os colonos ingleses. Segundo o sacerdote, os britânicos eram responsáveis pela seca e

pelas pragas de gafanhoto que assolaram a região desde o início da década de 1890.

Tanto os xonas quanto os ndebeles pegaram em armas e, sob o nome de chimurengas (que significa revolta na

língua xona), lutaram por dois anos contra os ingleses. A supremacia bélica e o grande número de soldados

britânicos trouxeram a vitória para os colonos.

Depois da morte do líder Milmo, os xonas e os ndebeles foram unificados e ficaram sob o comando da empresa

do britânico Cecil Rhodes. Ainda que tenham saído derrotados, os africanos dessa região reconhecem a Primeira

Batalha Chimurenga como o primeiro passo na luta pela independência, que ocorreria quase um século depois.

No extremo sul do continente, os ingleses encontraram um exército zulu armado e determinado a impedir o

avanço colonial. Na realidade, esse embate entre os zulus e os britânicos remonta a meados do século XIX,

quando houve uma usurpação do trono zulu por meio da linhagem de Cetshwayo.

Fique ligado
Esse episódio enfraqueceu a organização política do reino, facilitando, assim, a entrada dos
ingleses a partir da década de 1870. Mesmo sem contar com o apoio de todos os chefes de seu
reino, Cetshwayo e os zulus causaram a maior derrota da Inglaterra, matando cerca de 1.600
soldados britânicos. Essa luta ficou imortalizada como Batalha de Isandhlawana, ocorrida em
22 de janeiro de 1879.

Batalha de Isandhlawana

Ainda que bem-armados e com uma organização tática bem-estruturada que fazia inveja ao Exército britânico, os

ingleses mudaram suas táticas de guerra e começaram a realizar pequenos conflitos, que levaram à tomada de

Ulundi, a capital do reino zulu.

-4-
Saiba mais
Após esse episódio, o rei Cetshwayo foi capturado e levado para a Cidade do Cabo, retornando
ao reino zulu seis anos depois, a fim de aplacar uma guerra civil que assolava a região. Morto,
possivelmente por envenenamento, em 1884, Cetshwayo foi sucedido por seu filho de apenas
15 anos.

Religião e resistência

Os franceses também sentiram na pele o poder dos movimentos de resistência.

Na primeira metade do século XIX, em 1830, quando a partilha ainda não fazia parte dos planos europeus, a

França tomou à força a cidade de Argel (capital da Argélia).

A rapidez e a violência desse episódio geraram um duplo movimento de resistência por parte dos futuros

argelinos. No entanto, ainda que numerosos conflitos tenham ocorrido, a divisão entre os revoltosos e a

superioridade militar dos franceses propiciou a vitória dos últimos. Em 1848, a Argélia se transformava em um

dos departamentos da França.

Saiba mais
Como muçulmano ferrenho, Omar Tall lutou tanto contra o cristianismo que acompanhava a
presença cada vez mais constante dos franceses em seu território quanto contra as sociedades,
que considerava animista. Os mais de quarenta anos de luta terminaram em 1868, quando
Omar Tall morreu em um ataque. Sua figura até hoje é relembrada nos atuais países do Mali e
do Senegal.

No atual Senegal, Omar Tall foi o líder de diversos conflitos contra os invasores. Nascido no final do século XVIII,

transformou-se em um dos mais poderosos líderes políticos e religiosos da parte ocidental do continente.

A religião foi uma importante arma na luta contra a presença europeia na África

No atual Sudão, um poderoso exército chefiado pelo líder muçulmano Samori Touré conseguiu resistir aos

franceses entre 1882 e 1900 graças às táticas de deslocamento das tropas pelo território e ao fato de os ferreiros

da região terem copiado os fuzis utilizados pelos europeus, diminuindo assim a diferença na tecnologia bélica.

-5-
No atual Sudão, um poderoso exército chefiado pelo líder muçulmano Samori Touré conseguiu resistir aos

franceses entre 1882 e 1900 graças às táticas de deslocamento das tropas pelo território e ao fato de os ferreiros

da região terem copiado os fuzis utilizados pelos europeus, diminuindo assim a diferença na tecnologia bélica.

As vitórias africanas

Mesmo com a supremacia bélica, os europeus não foram capazes de colonizar dois países africanos: a Libéria e a

Etiópia.

A Libéria foi um país criado em 1847, após a declaração de Independência da Sociedade Americana de

Colonização, criada pelo estadunidense Robert Finley, que pretendia levar todos os negros livres e libertos dos

Estados Unidos para lá.

Fique ligado
Embora países como a França e a Inglaterra exercessem forte pressão para ocupar a região, a
República da Libéria conseguiu manter sua soberania durante o período colonial por meio de
acordos feitos em 1885 e em 1892, em que seu território foi demarcado.

A história da Etiópia está muito atrelada aos movimentos de resistência descritos anteriormente.

Saiba mais
Embora a Itália tenha empreendido diversas invasões ao território etíope, conseguindo até
mesmo colonizar a atual Eritreia, o movimento comandado pelo Imperador Menelik II
conseguiu impedir a invasão italiana. O lema dos etíopes era “morrer antes de ceder uma
polegada do território etíope”. O rei etíope, que era um cristão ortodoxo, conseguiu apoio de
grande parte da população islâmica, formando assim uma unidade política coesa e um exército
forte.

Batalha de Adowa

O confronto decisivo, conhecido como Batalha de Adowa, ocorreu em 1896, ocasião em que quatrocentos

soldados italianos foram mortos pelo exército de Menelik II.

No início do século XX, a Etiópia foi reconhecida como reino independente pelas nações europeias.

-6-
Saiba maisFilme: A Batalha de Argel. Direção: Gillo Pontecorvo. 1965

O que vem na próxima aula


•Analisou exemplos de resistência africana à entrada europeia no continente;

•Examinou a relação existente entre os movimentos de resistência e a religiosidade na África;

•Estudou alguns dos mais importantes ícones da luta dos africanos contra a colonização.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Analisou exemplos de resistência africana à entrada europeia no continente;
• Examinou a relação existente entre os movimentos de resistência e a religiosidade na África;
• Estudou alguns dos mais importantes ícones da luta dos africanos contra a colonização.

-7-

Você também pode gostar