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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Reconhecer os principais encontros e eventos importantes para a discussão de meio ambiente e educação

ambiental: Tbilisi; Moscou; Rio-92.

1 Introdução
“Podemos ajudar a tornar o mundo um lugar melhor ao não cairmos em armadilhas mentais que levam à

negação e à inação, e ao manter nossos sentimentos poderosos de esperança ligeiramente à frente de nossos

sentimentos imobilizantes de desespero.” (Miller Junior, 2007).

Ainda segundo o mesmo autor, contribuímos de forma diretas e indiretas para os problemas ambientais que

enfrentamos. Entretanto, por não querermos nos sentir culpados pelos danos ambientais que podemos estar

criando, tentamos não pensar muito nessa questão.

A quebra deste paradigma é feita, quando grupos se reúnem para discutir a questão das possibilidades de

preservação do meio e de mudanças de políticas públicas para que isso ocorra da melhor forma: para a

sociedade e para a natureza.

Vamos conhecer esses grupos?

2 Surge a educação ambiental


“A insatisfação gerada por uma série de situações, como o crescimento desordenado das cidades, a exclusão

social, o autoritarismo, a ameaça nuclear, os desastres ambientais resultantes da ação humana, entre outros

problemas, foi reunindo cada vez mais pessoas em torno de questões relativas ao meio ambiente, à qualidade de

vida e à cidadania.” (Pelicioni, 2009).

“Ao longo da década de 1960, ocorreram manifestações populares em diversos países, por exemplo Brasil, Japão,

antiga Tchecoslováquia, EUA, em razão de problemas como a ditadura, a ocupação soviética, a Guerra do Vietnã,

entre outros. Na França, essa movimentação atingiu seu apogeu ao longo de 1968, quando vários grupos –

estudantes, artistas, intelectuais e operários – articularam uma grande greve nacional contra o status quo.”

(Simonnet, 1981).

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Figura 1 - Greve de 1968: Estudantes da Universidade Sorbonne protestam nas ruas de Paris

Já nessa época, vemos que o movimento ecológico colocou em xeque a estrutura de necessidades, o modo de vida

das pessoas e as relações entre a humanidade e o mundo, segundo Castoriadis e Cohn-Bendit (1981).

Mas por onde andava a questão de educação ambiental?

A educação ambiental (EA) na década de 1960, ainda não estava bem delineada e, por vezes, era confundida com

educação conservacionista, aulas de ecologia ou atividades propostas por professores de determinadas

disciplinas.

Essa educação ora privilegiava o estudo compartimentalizado dos recursos naturais e as soluções técnicas para

os problemas ambientais locais, ora visavam despertar nos jovens um senso de maravilhamento em relação à

natureza.

(Pelicioni, 2002 apud Pelicioni, 2009).

Vários autores apontam a Keele Conference on Education and Countryside, realizada em 1965, na Universidade

de Keele (Inglaterra), como um marco a partir do qual o termo Environmental Education (educação ambiental),

que circulava em meios específicos, alcançou ampla divulgação (Martin e Wheeler, 1975 apud Pelicioni, 2009).

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3 Conselho para Educação Ambiental
Pouco tempo depois, na Grã-Bretanha, implantou-se o Conselho para Educação Ambiental, voltado para a

coordenação de organizações envolvidas com os temas educação e meio ambiente. Já em 1970, segundo Pelicioni

(2009), o Conselho para EA fazia o seguinte alerta por meio de um relatório:

... pessoas diferentes atribuem diversos significados {à EA}, e também muitos dos que usam o termo

não têm certeza do que querem dizer. Parte da confusão emerge da tendência de ministrantes de

diversas disciplinas em se apropriar do termo “ambiental” para sua área, qual seja ecologia,

geografia, história, arqueologia, arquitetura, planejamento, sociologia ou estudos rurais. Alguns

pensam exclusivamente em termos de ambientes naturais, outros em ambiente urbano ou em

qualquer estágio do ambiente construído.

4 Educação ambiental – Brasil


No Brasil, durante a década de 1960, ocorreu uma nova onda de produção legislativa – o novo Código Florestal, a

nova Lei de Proteção aos Animais e a criação de vários parques nacionais e estaduais. Entretanto, continuavam

não sendo discutidos problemas fundamentais como o estilo de desenvolvimento que o país deveria adotar, a

poluição, o zoneamento das atividades urbano-industriais, entre outros. Como observa Drummond (1997):

... a disseminação da consciência ambientalista no Brasil foi muito prejudicada pelos altos e baixos da

democratização do país. A ditadura de 1964 desmobilizou a cidadania, resultando numa atuação

estatal tímida e particularmente voltada para a preservação do chamado ambientalismo geográfico,

naturalista, ou seja, ainda voltado para a criação de áreas naturais protegidas.

5 Conferência de Biosfera
No final da década de 1960, percebemos que a problemática ambiental suscita debates no mundo: A UNESCO

(em colaboração com outras entidades) organiza a Conferência Intergovernamental de Especialistas sobre as

Bases Científicas para Uso e Conservação Racionais dos Recursos da Biosfera, ou simplesmente, a Conferência da

Biosfera.

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Esse evento, em Paris, deu continuidade ao tema da cooperação internacional em pesquisas científicas, que havia

sido inicialmente abordado, em 1949, na Conferência Científica das Nações Unidas sobre a Conservação e

Utilização de Recursos (Pelicioni, 2009).

6 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente


Humano
A cidade de Estocolmo (Suécia) sediou a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

Humano, em 1972 que foi a primeira conferência temática da ONU e reuniu representantes de 113 países

(Pelicioni, 2009).

Em decorrência de uma das recomendações oriundas da Conferência da Biosfera e atendendo à solicitação dos

representantes suecos presentes na XXIII Assembleia Geral da ONU (1969), uma vez que a Suécia estava

sofrendo os efeitos da poluição gerada em outros países.

Segundo McCormick (1992), em Estocolmo foi a “primeira vez que as questões políticas, sociais e econômicas do

meio ambiente global foram discutidas em um fórum intergovernamental, com a perspectiva de realmente

empreender ações corretivas”, o que produziu maior envolvimento tanto por parte dos governantes e das

instituições supranacionais quanto das Organizações Não-Governamentais (ONGs), mesmo tendo participado de

fóruns distintos. Nessa fase, portanto, a visão conservacionista estava dando lugar a um movimento mais amplo.

O mesmo autor afirma que foi:

“o acontecimento isolado que mais influiu na evolução do movimento ambientalista internacional,

pois confirmou a tendência em direção a uma nova ênfase sobre o meio ambiente humano. O

pensamento progrediu das metas limitadas de proteção da natureza e conservação dos recursos

naturais para a visão mais abrangente da má utilização da biosfera por parte dos humanos.

A própria natureza do ambientalismo mudou: da forma popular, intuitiva e provinciana com a qual

emergiu nos países mais desenvolvidos no final dos anos 60, para uma forma de perspectivas mais

racionais e globais, a qual enfatizava o esforço no sentido de uma compreensão plena dos problemas

e do acordo sobre uma ação legislativa efetiva. Forçou um compromisso entre as diferentes

percepções sobre o meio ambiente defendidas pelos países mais e menos desenvolvidos”.

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7 Desdobramentos de Estocolmo: Tbilisi, Moscou e Rio 92
Importantes desdobramentos de Estocolmo foram as iniciativas voltadas para a recuperação da saúde ambiental

do planeta, por meio do incentivo à implantação de políticas públicas, órgãos ambientais estatais, cooperação e

acordos internacionais, além da ênfase na necessidade da generalização de esforços para a educação ambiental.

A própria Declaração sobre o Ambiente Humano, gerada no evento, enfatizou a necessidade de mais trabalhos

em educação voltados para as questões ambientais (Pelicioni, 2009).

Após Estocolmo e seguindo sua recomendação de número 96, que atribuiu grande importância estratégica à EA,

foram realizados diversos encontros nacionais, regionais e internacionais, dentro os quais, destacaremos:

Conferência de Tblisi;

Conferência de Moscou

Conferência do Rio de Janeiro

7.1 Tbilisi, 1977

A primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental – Conferência de Tbilisi, constituiu-se

num marco histórico para a evolução da EA. Foi realizada em Tbilisi na capital da Geórgia, de 14 a 26 de outubro

de 1977, organizada pela UNESCOA, em cooperação com o Pnuma. Até o presente, é a referência internacional

para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental.

Esta Conferência produziu um documento, publicado em 1980, chamado “Livro Azul”, que até hoje é uma

importante fonte de consulta para ações em EA. De uma forma sintética, o documento explica que:

Mediante a utilização dos avanços da ciência e da tecnologia, a educação deve desempenhar uma função capital

com vistas a criar a consciência e a melhor compreensão dos problemas que afetam o meio ambiente. Essa

educação há de fomentar a elaboração de comportamentos positivos de conduta com respeito ao meio ambiente

e à utilização de seus recursos pelas nações.

A EA deve dirigir-se a pessoas de todas as idades, a todos os níveis, na educação formal e não formal. Os meios de

comunicação social têm a grande responsabilidade de pôr seus enormes recursos a serviço dessa missão

educativa.

A EA, devidamente entendida, deveria constituir uma educação permanente, geral, que reaja às mudanças que se

produzem em um mundo em rápida evolução. Essa educação deveria preparar o indivíduo, mediante a

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compreensão dos principais problemas do mundo contemporâneo, proporcionando-lhe conhecimentos técnicos

e qualidades necessárias para desempenhar uma função produtiva, com vistas a melhorar a vida e proteger o

meio ambiente, prestando a devida atenção aos valores éticos.

Ao adotar um enfoque global, sustentado em uma ampla base interdisciplinar, a EA cria uma perspectiva dentro

da qual se reconhece a existência de uma profunda interdependência entre o meio natural e o meio artificial,

demonstrando a continuidade dos vínculos dos atos do presente com as consequências do futuro, bem como a

interdependência entre as comunidades nacionais e a solidariedade necessária entre os povos.

7.2 Moscou, 1987

Dez anos depois da Conferência de Tbilisi, trezentos especialistas de cem países e observadores da IUCN,

reuniram-se em Moscou, CEI (17 a 21 de agosto de 1987) para o Congresso Internacional em Educação e

Formação Ambientais, promovido pela Unesco/ Unep/IEEP, conhecido como o Congresso de Moscou.

O Congresso objetivou a discussão das dificuldades encontradas e dos progressos alcançados pelas nações, no

campo da EA, e a determinação de necessidades e prioridades em relação ao seu desenvolvimento, desde Tbilisi.

Fez uma análise da situação ambiental global e não encontrou sinais de que a crise ambiental houvesse

diminuído. Ao contrário, o abismo entre as nações aumentou e as mazelas dos modelos de desenvolvimento

econômico adotados se espalharam pelo mundo, piorando as perspectivas para o futuro.

Concordou-se que a EA deveria, simultaneamente, preocupar-se com a promoção da:


• conscientização,
• transmissão de informações,
• desenvolvimento de hábitos e habilidades,
• promoção de valores,
• estabelecimento de critérios e padrões,
• e orientações para resolução de problemas e tomada de decisões.
Portanto, deveria objetivar modificações comportamentais nos campos cognitivos e afetivos.

7.3 Rio 92

A Conferência do Rio, ou Rio-92, como ficou conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

e Desenvolvimento (Unced ou Earth Summit), veio contrariar os que gostam de tornar as coisas mais

complicadas. Através do capítulo 4, Seção IV da Agenda 21, a Rio-92 corroborou as recomendações de Tbilisi

para a EA. Ficou patente a necessidade do enfoque interdisciplinar e da prioridade das seguintes áreas de

programas:
• Reorientar a educação para o desenvolvimento sustentável.
• Aumentar os esforços para proporcionar informações sobre o meio ambiente, que possam promover a
conscientização popular. Promover o treinamento.

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8 Conclusão
É importante termos a percepção de que a discussão da educação ambiental transcende a educação formal e os

próprios encontros especializados no assunto, mas parte também da educação familiar e social.

Somente através da união desses fatores é que poderemos ter esperança de que a preservação ambiental, para

nosso presente e futuro no planeta, realmente aconteça.

Reforçamos que não foram somente estes três encontros com foco na discussão de educação ambiental que

ocorreram no mundo, mas que estes foram os marcantes para a divulgação do assunto.

O que vem na próxima aula


Na próxima aula, você vai estudar:
• As discussões sobre modelo de desenvolvimento, desigualdade social, globalização.
• A inserção da educação ambiental nesse contexto.

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