Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ABSTRACT
At the end of the years 60s, emergence period for the debate of the environmental crisis that
revealed the limits of development and showed the dark side of the dominant economic
rationality, great social movements occurred around the world that criticized our model of
civilization. Since that, a "field environment" was consolidated in which tensions and political
disputes are developed. Inside, those who have questioned the development and all its
implications and that are related to the counterculture and all the tension with science and
technique. But also those who are moved to the environmental technical-scientific logic,
strengthening, for example, as did the Club of Rome (which funded the study Limits to
Growth), the carrying capacity of the planet was running out and articulated the interests of
large multinational capital to technicians and scientists and had great influence in the World
Conference on the Environment held in Stockholm in 1972, where the environmental issue
has become institutionalized in government mechanisms, especially in supranational
institutions and gaining importance in international relations. The strength of the discourse of
technical efficiency shifted the environmental issue in the search for alternative technologies
associated with the restructuring of productive capital accumulation. The environmental
debate to approach the idea of development, the concept of "sustainable development" in
which economic rationality induces the discourse of sustainability, where the ecological
balance and environmental justice would be achieved by economic growth driven by free
market mechanisms. Today, we have a hegemony of the market logic, including the
progressive consolidation of the term "green economy" that replaces the sustainable
development as ideological support for this market environmentalism. This does not eliminate
the tensions and other perspectives within the environmental field that is visualized in social
struggles re-appropriation of nature.
Mas também estão aqueles que deslocam a questão ambiental para lógica técno-
científica, como por exemplo, o Clube de Roma (grandes empresas mundiais como Fiat,
XEROX, Ollivetti, Remington Rand, IBM), que articulava os interesses do grande capital
multinacional aos técnicos e cientistas. Esse Clube financiou o estudo Limites do Crescimento
(1971) que argumentava que a “capacidade suporte” do planeta estava se esgotando (PORTO-
GONÇALVES, 2002; 2006).
Esse trabalho foi influenciado pelas ideias de um pensamento neomalthusiano do final
da década de 60, que na época era embasada principalmente em duas publicações
importantes: em 1966, Paul Ehlich publicou “The Population Bomb”, com argumento central
defendendo que a capacidade humana de produção alimentos só seria maior a custas de uma
grande devastação ambiental e que o grande crescimento populacional geraria milhões de
pessoas a passarem fome a partir das décadas de 70 e 80; em 1968, Garret Hardin publicou
“Tragedy of the Commons”, no qual defendia que a disputa dos bens comuns por uma
população cada vez maior geraria sua destruição e que era necessário que esses bens fossem
privatizados ou geridos pelo Estado para evitar que eles fossem explorados de forma
destrutiva (COSTA; 2005).
O relatório Limites do Crescimento teve grande importância na primeira grande
Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972 (PORTO-
GONÇALVES, 2002). Nessa conferência, também teve papel de destaque em sua
organização um ator muito importante dentro do campo ambiental, o Banco Mundial, em que
seu então presidente, Robert MacNamara, afirmou publicamente durante o evento a
necessidade de se conciliar crescimento econômico e respeito ao meio ambiente (PEREIRA,
2011). A questão ambiental passou a ser institucionalizada em mecanismos governamentais,
principalmente em instituições supranacionais (PORTO-GONÇALVES, 1996) e a ganhar
importância nas relações internacionais, constituindo um dos principais vetores da nova des-
ordem mundial (HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006).
Desde então, Porto-Gonçalves afirma que “[...] veremos aproximações e tensões no
interior do campo ambiental entre perspectivas mais tecno-científicas e outras mais
abertamente preocupadas com questões culturais e políticas” (PORTO-GONÇALVES, 2006
p. 68) e que “[...] quase sempre, se procura deslocar o debate do terreno público para o terreno
técno-científico, como se esses dois campos fossem excludentes” (PORTO-GONÇALVES,
2002, p40). A disputa dentro do campo ambiental resulta em um discurso que é mais
legitimado, levando em consideração o que Zhouri coloca:
[...] as relações de poder entre os sujeitos sociais que conjugam determinados significados
de meio ambiente, espaço e território, consolidam certos sentidos, noções e categorias que
passam a vigorar como as mais legítimas e passíveis de sustentar as ações sociais e
políticas. Em conseqüência, produzem um efeito silenciador e, portanto, excluem outras
visões e perspectivas concorrenciais (ZHOURI, 2007, p.2).
A força do neoliberalismo ambiental, “desenvolvimento sustentável” e “Economia
Verde”
No desenvolvimento histórico do campo ambiental, o debate se desloca para a busca
de tecnologias alternativas, assimilando uma das características da subjetividade da
modernidade, a crença na capacidade redentora da técnica, ou no fetiche da tecnologia
(NOVAES, 2007), onde grandes setores empresariais relacionados à restruturação da
acumulação do capital, como as indústrias ligadas aos novos materiais, à micro-eletrônica e à
biotecnologia, se envolveram fortemente (PORTO-GONÇALVES, 1996). Segundo Milton
Santos:
A ideia de ciência, a ideia de tecnologia e a ideia de mercado global devem ser encaradas
conjuntamente e desse modo podem oferecer uma nova interpretação à questão ecológica,
já que as mudanças que ocorrem na natureza também se subordinam a essa lógica
(SANTOS, 2008, p 238).
Ganha muita força uma linha dentro do campo ambiental, baseada em uma
racionalidade econômica, com o discurso da eficiência (melhoria de procedimentos de
produção) e da escala (menor consumo de matérias para produção), em que não se questiona o
objetivo, que é a acumulação capitalista (ACSELRAD, 2004a). Aqui é importante destacar a
ponderação de Acserlad:
[...] a noção de eficiência que prevalece em determinadas sociedades, por exemplo, não
pode ser absolutamente considerada como trans-histórica ou onivalente. A eficiência das
técnicas pode variar de sentido no tempo e no espaço [...].O padrão tecnológico das
atividades resultará, portanto, de escolhas técnicas que são condicionadas por estruturas de
poder (econômico e também de controle sobre os recursos do meio material) vigentes. Tais
estruturas procuram atualizar-se permanentemente pela disseminação de categorias de
percepção que fazem valer socialmente os critérios dominantes de “eficiência”, “capacidade
competitiva”, “níveis de produtividade” etc, critérios estes que tendem a legitimar e
reforçar a superioridade real e simbólica dos dominantes (Acserlad, 2004b, p. 16).
Um meio ambiente único é então evocado para soldar as forças sociais da cidade. O
discurso ambiental serve também para isto; não exclusivamente, mas é, também, apropriado
por este viés – o de que o “ambiente” é uno, diz respeito a todos, é supra-classista e justifica
devermos darmos-nos as mãos, fazer uma só e inelutável política para protegê-lo. No
entanto, mesmo que em nome do interesse de todos, é a política de algum grupo que será
feita. (ACSELRAD, 2007, p. 4)
Estabelece-se um novo tipo de exclusão política e social, onde se legitima apenas a
participação dos que possuem o conhecimento técnico e capacidade organizativa e de ação,
geralmente grandes ONGs e fundações equipadas e institucionalizadas (ZHOURI, 2007).
Nesse contexto, se legitima o neoliberalismo ambiental que, através da
mercantilização da natureza, fortalece uma geopolítica econômico-ecológica que aprofunda as
diferenças entre países centrais e periféricos (que revalorizam sua capacidade de absorver a
poluição produzida pelos países centrais), não apenas pela super-exploração visível de
recursos, mas por estratégias de apropriação dos bens naturais camufladas sobre as novas
funções atribuídas à natureza (LEFF et. al., 2002).
Progressivamente ganha força até se tornar hegemônica, dentro do campo ambiental, a
lógica mercantil, onde a problemática ambiental é apropriada por grandes corporações e
organismos financeiros multilaterais (como Banco Mundial), os quais conduzem suas agendas
com propostas neoliberais, beneficiando o papel do mercado e das organizações não-
governamentais (essas que estão cada vez menos relacionadas com movimentos sociais e mais
com empresas, órgãos financeiros multilaterais e governos que as financiam). Essa hegemonia
fica evidente nas grandes conferências ambientais (PORTO-GONÇALVES, 2006;
HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006; PEREIRA, 2011) e culmina na consagração
da “economia verde” na última grande conferência ambiental, a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), conhecida também como Rio+20.
Na década de 80, esse importante ator do neoliberalismo, ainda mantinha uma postura
de pouco diálogo e concessão com relação às demandas socioambientais apresentadas
principalmente pelas grandes ONGs ambientalistas com grande influência nos países centrais
do capitalismo. A partir da década de 90, devido a grandes pressões geradas pelos fortes
impactos socioambientais negativos dos projetos de desenvolvimento do banco, ele mudou de
postura, “esverdeando-se” e adotando uma “administração ambiental” com a contratação de
membros de ONGs ambientalistas. O banco também aproveitou a proximidade da ECO-92
para lançar seu relatório anual com o objetivo central de fortalecer o conceito de
“desenvolvimento sustentável” e assim melhorar sua imagem pública e coloca-lo com um ator
importante no debate das políticas ambientais (PEREIRA, 2011).
Porém isso não alterou em nada sua política neoliberal, apenas abrindo uma nova
oportunidade em sua agenda com respeito a mercantilização dos bens naturais. Com a
legitimidade do discurso do “desenvolvimento sustentável”, promoveu um regime
internacional de normas direcionado as instituições, em que os Estados só seriam aptos a
conseguir empréstimos mediante a restruturação das legislações nacionais relacionadas aos
bens naturais, que possibilitassem o livre comércio destes como ”ativos ambientais”
(PEREIRA, 2011).
Uma importante ferramenta que possibilitou o “esverdeamento” do Banco e o aumento
do seu poder de influência nas políticas ambientais foi a criação do Fundo Global para o Meio
Ambiente (Global Environmental Facility – GEF) que lhe possibilitou administrar recursos de
projetos ambientais internacionais. Com a legitimidade conferida pela ECO-92, com a
presença de 118 chefes de Estado, o Banco Mundial, através do GEF passou a ser a principal
fonte multilateral de financiamento para implementação da Agenda 21 (PEREIRA, 2011).
Outra força muito importante dentro do campo ambiental que gerou mudanças
significativas no rumo do debate ambiental é representada pelas grandes ONGs ambientalistas
que ganharam cada vez mais influência nas conferências ambientais da ONU e também nos
governos nacionais, especialmente nos países periféricos do capitalismo (DIEGUES, 2008).
Elas que antes tinham uma postura de enfrentamento aos grandes projetos de
desenvolvimento financiados principalmente pelo Banco Mundial, passaram a ser parceiras e
cogestoras de projetos financiados pelo Banco, tendo maior poder de influência nas políticas
de gestão ambiental (ZHOURI, 2006; PEREIRA, 2011; DIEGUES, 2008). Isso pode ser
exemplificado pelo discurso de uma das maiores ONGs ambientalistas, a World Wildlife
Fund (WWF), que no momento de um lançamento de campanha de suas estratégias florestais,
em 1995, colocou a prioridade nas interações positivas, construção de consenso e soluções
comuns para as questões de conservação e manejo florestal (ZHOURI, 2006). Temos então a
tendência a hegemonização do “ambientalismo de resultados”, em que, como diria Zhouri
“[...] as organizações voltam-se para uma acomodação ao paradigma dominante de adequação
ambiental, no bojo do atual modelo de sociedade” (ZHOURI, 2006, p.153)
Essas grandes ONGs ambientalistas como WWF, a Conservation International (CI), a
The Nature Conservancy (TNC), tem uma concepção preservacionista, com tendência a
separar os aspectos sociais e ambientais. Enfatizam os “perigos para a biodiversidade” como
perda de ambientes naturais, introdução de espécies exóticas, fragmentação dos ambientes e
prioritariamente investem seus esforços na criação de unidades de conservação integrais
apartadas da interação com a espécie humana, além de mecanismos financeiros para
compensação e regulação dos problemas ambientais (DIEGUES, 2008; ESCOBAR, 1998).
Como elas têm o apoio de organização financeiras multilaterais como o Banco Mundial ou
instituições como a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
(USAID), há fartura de recursos para implementar ou financiar suas ações, principalmente em
países periféricos do capitalismo que não possuem recursos. Assim, essas ONGs atuam de
diferentes formas, realizando treinamentos e formações, identificando de áreas prioritárias
para conservação e realizando planos de manejo, geralmente para áreas de proteção integral.
Fazem isso seguindo critérios externos que tem mais relação com as instituições que as
financiam do que com as especificidades dos locais aonde são colocado em prática, gerando
conflitos com as comunidades locais que muitas vezes são expulsas de suas áreas originárias
(DIEGUES, 2008; PORTO-GONÇALVES, 2006).
Outro mecanismo importante que as grandes ONGs ambientalistas apoiam e ajudam a
executar, utilizando o conhecimento técnico e a eficiência com base no “desenvolvimento
sustentável” é a criação de certificação “verde” de produtos, o que pode ser demonstrado
pelas políticas de manejo florestal construídas principalmente para a Amazônia. Essas grandes
ONGs ambientalistas associadas ao setor madeireiro desenvolveram um mecanismo de
certificação de madeira chamado Forest Stewardship Council (FSC), com base na “construção
de consensos” e assim facilitando práticas industriais orientadas para eficiência na produção.
Apesar dos defensores da certificação alegarem que ela beneficia “comunidades locais”, ela
basicamente beneficia as grandes indústrias madeireiras de exportação (ZHOURI, 2006).
Zhouri afirma que “Como lugares vazios no contexto do mercado global, as florestas são
reduzidas ao estatuto de mercadoria para a sustentabilidade do hegemônico modelo
econômico” (Zhouri, 2006, p.165).
Outro exemplo de certificação “verde” mais recente e emblemático da “construção de
consensos” é o “selo verde” atribuído pela WWF em parceria com empresas como Bunge,
Cargill, Monsanto, Nestlé, Shell, Syngenta, Unilever para a produção de “soja responsável”
no Brasil, em 2011, ao Grupo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo que tem
áreas com plantio de soja em largas extensões principalmente no Mato Grosso (CM
AMAZÔNIA, 2013). Podemos ver que a retórica do “esverdeamento” pode ser empregada
largamente, incluso em situações como essa, em que um modelo de produção considerado
predatório e altamente impactante para o ambiente é considerado “verde”.
REFERÊNCIAS:
DAGNINO, Evelina. Sociedade Civil, Participação e Cidadania: de que estamos falando? In:
Daniel Mato (coord.) Politicas de Cidadania y sociedade Civil em tiempos de
Globalizacion. Caracas: FACES, Universidad Central da Venezuela, 2004.
ESCOBAR, Arturo. Whose Knowledge, Whose nature? Biodiversity, Conservation, and the
Political Ecology of Social Movements. Journal of Political Ecology, Tucson, Arizona, vol.
5, p. 53-82, 1998.
LEFF, Enrique el al. Más allá del desarrollo sostenible: La construcción de una racionalidad
ambiental para la sustentabilidad: Una visón desde América Latina. In La transición hacia el
desarrollo sustentable: Perspectivas de América Latina y el Caribe, México: Pnuma/INE-
Semarnat/UAM, pp. 479-578, 2002.
MOURA, Luiz Henrique Gomes; DURÃO, Marcelo. Falsas soluciones. America Latina en
movimento, El cuento de la economía verde, Quito, Equador, n468-469, 2011, p. 10-13
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo:
Edusp, 2008.
VIA CAMPESINA. Convocatoria a los pueblos y organizaciones de México y el Mundo
contra las falsas soluciones para combatir el calentamiento global, Foro campesinino y
indígena: Por la defensa de la vida y territorio, 26 set. 2012. Disponível em:
<http://viacampesina.org/es/index.php/acciones-y-eventos-mainmenu-26/cambios-climcos-y-
agro-combustibles-mainmenu-79/1469-foro-campesinino-y-indigena-por-la-defensa-de-la-
vida-y-territorio>. Acesso em 28 set. 2012.
ZHOURI, Andréa. Conflitos Sociais e Meio Ambiente Urbano. Série Documenta Eicos
“Comunidade – Meio Ambiente – Desenvolvimento”, Rio de Janeiro, n.17, p.1-8 , 2007.
Disponível
em:<http://www.psicologia.ufrj.br/pos_eicos/pos_eicos/arqanexos/documenta/documenta17
artigo4.pdf>. Acesso em 06 jul. 2013.