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UFPA

ESTUDO E AVALIAÇÃO DAS PROTEÇÕES DE LINHAS DE


TRANSMISSÃO 500 kV DA ELETROBRÁS-ELETRONORTE
LOCALIZADAS NA SUBESTAÇÃO DE TUCURUÍ

Wendell Carlos de Oliveira


2º Período / 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TUCURUÍ

TUCURUÍ – PARÁ
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TUCURUÍ

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

WENDELL CARLOS DE OLIVEIRA

ESTUDO E AVALIAÇÃO DAS PROTEÇÕES DE LINHAS DE


TRANSMISSÃO 500 kV DA ELETROBRÁS-ELETRONORTE
LOCALIZADAS NA SUBESTAÇÃO DE TUCURUÍ

TRABALHO SUBMETIDO AO COLEGIADO DO


CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA PARA
OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO
ELETRICISTA.

TUCURUÍ

JUNHO / 2010
ESTUDO E AVALIAÇÃO DAS PROTEÇÕES DE LINHAS DE
TRANSMISSÃO 500 kV DA ELETROBRÁS-ELETRONORTE
LOCALIZADAS NA SUBESTAÇÃO DE TUCURUÍ

Este Trabalho foi julgado em 18 de junho de 2010 adequado para obtenção


do Grau de Engenheiro Eletricista e aprovado na sua forma final pela banca
examinadora que atribuiu o conceito .................................................

_______________________________________

Prof. MSc. Andrey Ramos Vieira

ORIENTADOR – FEE/CTUC/UFPA

_______________________________________

Prof. MSc. Claudomiro Fábio de Oliveira Barbosa

MEMBRO – FEE/CTUC/UFPA

_______________________________________

Eng. Especialista Wanderley Pereira dos Santos

MEMBRO – ELETROBÁS-ELETRONORTE

_______________________________________

Prof. MSc. Cleison Daniel da Silva

DIRETOR DA FACULDADE DE

ENGENHARIA ELÉTRICA
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus Pais, Esposa,


Filhos, Irmão, familiares e amigos pelo apoio, incentivo
e confiança no decorrer da minha formação acadêmica.
AGRADECIMENTOS

À Deus, que me deu além da vida, inteligência, saúde e força para realização
de qualquer trabalho.

Aos meus pais que mesmo estando longe, sempre me deram forças, sempre
acreditaram em mim e sem o apoio deles nada disto seria possível.

À minha esposa e filhos que sempre estiveram junto de mim nesta caminhada
e sem eles nada disto teria sentido.

Ao meu Orientador Andrey Ramos, pelo apoio constante e paciência durante


a realização deste trabalho.

Ao professor Rafael Bayma, que desde o começo do curso mostrou grande


interesse pela pesquisa e foi peça fundamental para concretização desta conquista.

Ao meu irmão, por sempre acreditar em mim e me dar forças.

Ao meu grande amigo Édson Lopes que nunca mediu esforços para me
ajudar e sempre me deu enorme apoio.
À todos os amigos da nossa turma de engenharia pelos momentos de
descontração e pela amizade que foi vinculada, em especial ao amigo Marcelo Sales
que ao longo do curso sempre se dispôs a me ajudar.

Aos meus amigos Jaidro, Cézar, Ribamar, Bartolomeu, Isaque, Berg,


Marlúcio, Emerson, Carlos Viana, Mira, Lobato, Tenório, Antenor, Klênio, Gilson,
Miller, Artur, Dias, Ricardo, Socorro, Conceição e Kátia pelo apoio.
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ix

LISTA DE TABELAS xiii

RESUMO xiv

CAPÍTULO 1 Introdução 01

1.1 Transmissão de Energia Elétrica 01

1.2 Configuração do Sistema Elétrico de Energia 03

1.2.1 Sistema Radial 03

1.2.2 Sistema em Anel 04

1.3 Proteção de Sistemas de Energia 05

1.4 Componentes de um Sistema de Proteção 09

1.4.1 Serviços Auxiliares 10

1.4.2 Transdutores (TCs e TPs) 11

1.4.3 Disjuntores 14

1.4.4 Relé 18

1.5 Estatísticas de Defeitos no Sistema Elétrico 21

1.6 Objetivos 22

CAPÍTULO 2 Proteções de Linhas de Transmissão 24

2.1 Características das Proteções de Linhas de Transmissão 24

2.2 Relés de Sobrecorrente 24

2.2.1 Relé de Sobrecorrente Instantâneo 26

2.2.2 Relé de Sobrecorrente Temporizado 27

2.2.2.1 Relé 51 de tempo Definido 28

2.2.2.2 Relé 51 de tempo Inverso 28


2.2.3 Relé de Sobrecorrente de Neutro 32

2.2.4 Coordenação de Relés de Sobrecorrente 32

2.2.4.1 Coordenação de Relés de Tempo Definido 33

2.2.4.2 Coordenação de Relés de tempo Definido

com Elemento Instantâneo 33

2.2.4.3 Coordenação de relés de Tempo Inverso 34

2.2.4.4 Coordenação de relés de Tempo Inverso

com elemento instantâneo 34

2.3 Relés Direcionais 35

2.3.1 Relés Direcionais de Potência 35

2.3.2 Relés Direcionais de Sobrecorrente 37

2.3.2.1 Polarização do Relé Direcional 39

2.3.3 Relés Direcionais de Sequência Zero 42

2.3.4 Coordenação com Relés de Sobrecorrente e Direcional 44

2.4 Relés de Distância 44

2.4.1 Tipos de Curtos-Circuitos 45

2.4.1.1 Curtos-Circuitos Trifásicos 45

2.4.1.2 Curtos-Circuitos Fase-Fase-Terra 46

2.4.1.3 Curtos-Circuitos Fase-Fase 47

2.4.1.4 Curtos-Circuitos Fase-Terra 48

2.4.2 Relé de Distância 49

2.4.2.1 Relés de Impedância 50

2.4.2.1.1 Direcionalidade do Relé de Impedância 52

2.4.2.1.2 Impedância vista pelo Relé de Impedância 53

2.4.2.1.3 Zonas de Atuação do Relé de Impedância 54

2.4.2.1.4 Ajustes e Temporização das Zonas do

Relé de Impedância 55
2.4.2.2 Relés de Admitância 56

2.4.2.2.1 Direcionalidade do Relé de Admitância 58

2.4.2.2.2 Zonas de Atuação do Relé de Admitância 59

2.4.2.2.3 Ajustes e Temporização das Zonas do

Relé de Admitância 60

2.4.2.3 Relés de Reatância 61

2.4.2.3.1 Relé de Reatância e o Arco Elétrico 63

2.4.2.4 Formas Geométricas das Características dos

Relés de Distância 65

2.4.2.5 Fenômenos que Influenciam na Atuação dos

Relés de Distância 67

2.5 Teleproteção 67

2.5.1 Tipos de Canais Piloto 68

2.5.2 Esquemas de Teleproteção 68

CAPÍTULO 3 Proteções Adotadas pela Eletronorte em suas Linhas

de Transmissão de 500 kV na Subestação de Tucuruí 70

3.1 A Eletronorte 70

3.2 Proteções das Saídas de Linhas de 500 Kv 71

3.2.1 Proteção de Distância 72

3.2.2 Proteção Contra Oscilação de Potência 72

3.2.3 Proteção Energização Sob Falta (SOTF) 73

3.2.4 Proteção Envolvendo Teleproteção 74

3.2.5 Proteção de Fraca Alimentação (Week Infeed) 76

3.2.6 Proteção de Sobrecorrente 77

3.2.7 Proteção de Sobrecorrente de Neutro 78

3.2.8 Proteção de Tensão 78


3.2.9 Localização de Defeitos 78

3.2.10 Proteção Contra Falha de Disjuntor 79

3.2.11 Proteção Religamento automático 79

3.2.12 Função de Sincronismo e Verificação de Tensão 80

CAPÍTULO 4 Cálculos dos Ajustes da Função Distância das Linhas

de 500 kV da Eletronorte na Subestação de Tucuruí 83

4.1 Cálculo dos Ajustes da Proteção de Distância 83

4.1.1 Dados da Linha de Transmissão 83

4.1.2 Relação de Transformação do TC e do TP 83

4.1.3 Dados do Banco de Capacitor Série Instalado em Marabá 84

4.1.4 Cálculo das Impedâncias da Linha TCMB-LA7-04 84

4.1.5 Cálculo do Fator de Compensação Residual 86

4.1.6 Cálculo da Resistência de Carga e Ângulo de Carga 87

4.1.7 Geometria Poligonal com Direcionalidade 88

4.1.8 Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Primeira Zona 90

4.1.8.1 Influência da Compensação Série 90

4.1.8.2 Influência da Resistência de Falta 92

4.1.9 Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Zona Controlada 94

4.1.10 Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Segunda Zona 96

4.1.11 Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Terceira Zona 97

4.1.12 Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Quarta Zona 98

4.1.13 Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Quinta Zona 98

CAPÍTULO 5 Propostas de Melhoria em Algumas Funções de Proteção

para Estudos em Trabalhos Futuros 101

5.1 Localização de Defeitos 101


5.2 Relé de Distância 105

CAPÍTULO 6 Conclusão 108

APÊNDICES 110

Apêndice A 110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 113


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1.1 Sistema Interligado brasileiro 02

FIGURA 1.2 Sistema Radial 03

FIGURA 1.3 Sistema em anel 04

FIGURA 1.4 Esquema de Seletividade de Proteção 06

FIGURA 1.5 Relação da Potência e Tempo de Atuação da Proteção 07

FIGURA 1.6 Zonas de Proteção 08

FIGURA 1.7 Esquema de Proteção Principal e de Retaguarda 09

FIGURA 1.8 Componentes de um Sistema de Proteção 10

FIGURA 1.9 Banco de Baterias 11

FIGURA 1.10 Esquema de um TC com Braços de Medição e Proteção 12

FIGURA 1.11 TCs Tipo Bucha, Janela, Pedestal e Barra

Respectivamente 12

FIGURA 1.12 TPI e DCP Respectivamente 13

FIGURA 1.13 Circuito de Acionamento de um Disjuntor 14

FIGURA 1.14 Disjuntor a Óleo 15

FIGURA 1.15 Disjuntor a Ar Comprimido 16

FIGURA 1.16 Disjuntor a Vácuo 17

FIGURA 1.17 Disjuntor a SF6 18

FIGURA 1.18 Conexão dos Terminais de um Relé 19

FIGURA 1.19 Relé Eletromecânico 19

FIGURA 1.20 Relé Estático 20


FIGURA 1.21 Relé Digital 20

FIGURA 1.22 Relés Numéricos 21

FIGURA 2.1 Esquema Trifásico de Proteção de Sobrecorrente 25

FIGURA 2.2 Curva (T-I) do Relé de Sobrecorrente 26

FIGURA 2.3 Curva (T-I) do Relé de Sobrecorrente Instantâneo 27

FIGURA 2.4 Curva (T-I) do Relé 51 de Tempo Definido 28

FIGURA 2.5 Curva (T-I) do Relé 51 de Tempo Inverso 29

FIGURA 2.6 Curvas de Atuação da Família Normal Inversa para

Relés de Sobrecorrente 30

FIGURA 2.7 Curvas Típicas da Atuação para Cada Tipo de Família 31

FIGURA 2.8 Coordenação Completa do Relé de Tempo Definido 33

FIGURA 2.9 Coordenação de Relés de Tempo Definido com

Elemento Instantâneo 34

FIGURA 2.10 Coordenação de Relés de Tempo Inverso 34

FIGURA 2.11 Coordenação de Relés de Tempo Inverso com

Elemento Instantâneo 35

FIGURA 2.12 Esquema com Relé Direcional de Potência 36

FIGURA 2.13 Diagrama do Relé de Sobrecorrente Direcional 37

FIGURA 2.14 Esquema de Atuação do Relé 67 conectado a um

Determinado SEP 37

FIGURA 2.15 Diagrama Fasorial das Grandezas de Relé Direcional 38

FIGURA 2.16 Diagrama Fasorial do Limiar de Operação do Relé

Direcional 39
FIGURA 2.17 Polarização com Conexão a 0° 40

FIGURA 2.18 Polarização com Conexão a 30° 40

FIGURA 2.19 Polarização com Conexão a 60° 40

FIGURA 2.20 Polarização com Conexão a 90° 41

FIGURA 2.21 Esquema com Relé de Sobrecorrente Monitorado pelo

Relé Direcional 41

FIGURA 2.22 Esquema Geral da Ligação do Relé de Neutro 42

FIGURA 2.23 Polarização por Tensão de Sequência Zero 43

FIGURA 2.24 Conexão do Relé Direcional de Sobrecorrente Digital

de Fase e de Neutro em um SEP 43

FIGURA 2.25 Coordenação de um Sistema em Anel com Relés de

Sobrecorrente e Direcional 44

FIGURA 2.26 Diagrama Esquemático e o Equivalente de Fase de uma

Falta Trifásica 46

FIGURA 2.27 Diagrama Esquemático e de Conexão das Sequências

do Curto Fase-Fase-Terra 46

FIGURA 2.28 Diagrama Esquemático e de Conexão das Sequências

do Curto Fase-Fase 47

FIGURA 2.29 Diagrama Esquemático e de Conexão das Sequências

do Curto Fase-Terra 48

FIGURA 2.30 Diagrama Unifilar do Relé de Distância 49

FIGURA 2.31 Princípio de Funcionamento do relé de Impedância

Eletromagnético 50
FIGURA 2.32 Esquema no Plano R-X do Relé de Impedância 51

FIGURA 2.33 Esquema com Dois Relés de Impedância sem

Direcionalidade 52

FIGURA 2.34 Relé de Impedância em Conjunto com o Relé Direcional 53

FIGURA 2.35 Esquema com Dois Relés de Impedância em Conjunto

com o Relé Direcional 53

FIGURA 2.36 Zonas de Atuação do relé de Impedância 55

FIGURA 2.37 Zonas de Atuação do Relé 21/67 na Barra A 56

FIGURA 2.38 Diagrama fasorial do Limiar de Operação do Relé de

Admitância 58

FIGURA 2.39 Esquema no Plano R-X do Relé de Admitância 58

FIGURA 2.40 Esquema com Dois Relés de Admitância Conferindo

Direcionalidade ao Sistema 59

FIGURA 2.41 Zonas de Atuação do Relé de Admitância 59

FIGURA 2.42 Ajustes das Zonas de Atuação do Relé de Admitância 60

FIGURA 2.43 Diagrama do Lugar Geométrico do Limiar de Operação

do Relé de Reatância 62

FIGURA 2.44 Impedância Vista pelo Relé 21 63

FIGURA 2.45 Redução no Alcance dos Relés de Impedância e

Admitância pela Resistência de Arco 63

FIGURA 2.46 Relé de Reatância com duas Zonas Acoplado ao Relé

de Admitância 64

FIGURA 2.47 Impedância Vista pelo Relé de Reatância e Admitância 64


FIGURA 2.48 Detalhe Referente à Figura 2.47 65

FIGURA 2.49 Relés de Distância com Zonas Distintas de Atuação 66

FIGURA 2.50 Esquema Simplificado de Teleproteção 67

FIGURA 3.1 Esquema Envolvendo Arranjo do Tipo Disjuntor e Meio 71

FIGURA 3.2 Característica da Oscilação de Potência em um Sistema

Elétrico de Potência 73

FIGURA 3.3 Esquema Simplificado de um Sistema Carrier 75

FIGURA 3.4 Estrutura do Esquema POTT 76

FIGURA 3.5 Trecho de Atuação da Proteção Stub Bus 77

FIGURA 3.6 Diagrama Envolvendo as proteções de uma LT de 500 kV

da Eletrobrás-Eletronorte 81

FIGURA 4.1 Característica Direcional no diagrama R-X 88

FIGURA 4.2 Exemplo de Geometria Poligonal com Direcionalidade 89

FIGURA 4.3 Direções das Zonas do Relé 21 90

FIGURA 4.4 Transitório da Impedância de Falta em Linhas com

Capacitor Série 90

FIGURA 4.5 Banco de Capacitor Série Conectado em um Sistema

Elétrico 91

FIGURA 4.6 Relés 7SA612 e 7VK611 100

FIGURA 4.7 Diagrama R-X dos Valores Ajustados no Relé 7SA612 100

FIGURA 5.1 Esquemático da Teoria das Ondas Viajantes 103

FIGURA 5.2 Exemplo de um Sistema que usa Ondas Viajantes para

Localização de Defeitos 104


FIGURA 5.3 Sistema que usa Ondas Viajantes Integrado com o

Google Earth 104

FIGURA 5.4 Curvas Características da Proteção de Distância

Adaptativa 107

FIGURA 5.5 Curva de Proteção de Distância Adaptativa e de

Distância Convencional 107


LISTA DE TABELAS

TABELA 1.1 Percentual de Falhas por Tipo de Defeito 22

TABELA 1.2 Percentual de Falhas por Equipamento Protegido 22

TABELA 1.3 Percentual de Falhas pela Causa da Falta 22

TABELA 2.1 Parâmetros de Ajuste das Curvas de Tempo em Relés

Digitais 31

TABELA 2.2 Tipos de Canais Pilotos Utilizados Atualmente 69

TABELA 4.1 Capacidade e Comprimento da Linha de Transmissão 84

TABELA 4.2 Relações de Transformação do TC e do TP 84

TABELA 4.3 Dados do Banco de Capacitor Série da Subestação de

Marabá 85

TABELA 5.1 Valores Medidos na LT Tucuruí-Altamira (230 kV e

325 km) da Eletronorte 105


RESUMO

Este trabalho tem como objetivo reunir de forma concisa o conhecimento

técnico necessário para o entendimento das proteções usadas pela empresa de

energia Eletrobrás-Eletronorte em suas linhas de transmissão de 500 kV. Com isso,

é apresentada uma metodologia baseada em informações de várias referências

bibliográficas que abordam este tema ou alguns dos tópicos deste trabalho.

Antes de apresentar a filosofia e os critérios utilizados nesta abordagem, é

necessário rever os conceitos básicos utilizados para explanação de todas as

proteções de linhas utilizadas pela referida empresa, assim como, para efetuar os

cálculos pertinentes ao ajuste dos parâmetros da função de distância, que é a

principal função dos relés digitais, implantados especificamente para proteção das

linhas de transmissão de 500 kV.

As equações e métodos de cálculos utilizados para os ajustes dos parâmetros

da função de distância são baseados nas Componentes Simétricas de Sequência de

Fortescue, nas leis de Kirchhoff, na lei de Ohm, nos sistemas equivalentes de

Thévenim e na análise nodal. Saber como estes valores de ajustes são calculados e

entender como eles são utilizados para traçar o diagrama R-X do relé é de extrema

importância.

Para concluir este trabalho, são apresentadas propostas de estudos de

melhorias de algumas dessas funções de proteção para aplicação em trabalhos

futuros, pois, apesar desses relés usufruírem de excelentes algoritmos de cálculo

utilizados para sua parametrização, não são muito precisos, no que diz respeito à
função de localização de defeitos e a função de distância quando esta fica

submetida às dinâmicas do sistema elétrico de potência.

No capítulo 1 são apresentados os tipos mais comuns de proteções


utilizadas em linhas de transmissão.

No capítulo 2 são apresentadas todas as Funções de proteção intrínsecas


dos relés digitais usados pela empresa Eletrobrás-Eletronorte na proteção de suas
linhas de transmissão de 500 kV, na subestação de Tucuruí.

No capítulo 3 são efetuados todos os cálculos pertinentes aos parâmetros de


ajustes da função de distância, intrínseca dos relés digitais usados pela empresa na
proteção de suas linhas de transmissão de 500 kV, na subestação de Tucuruí.

No capítulo 4 são apresentadas propostas de melhorias em algumas funções


de proteção para estudos em trabalhos futuros.

No capítulo 5 são apresentadas as conclusões pertinentes aos assuntos


referenciados neste trabalho.
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1 – Transmissão de Energia Elétrica

O consumo mundial de energia elétrica aumenta continuamente sendo mais


evidentemente observado nos países em crescimento. Mundialmente o
desenvolvimento da infraestrutura implicou na necessidade do fornecimento de
energia para regiões mais distantes dos centros geradores e o desenvolvimento de
uma estrutura de transmissão que minimizasse o problema das interrupções no
fornecimento de energia elétrica. O resultado é a interconexão das regiões
separadas geograficamente e dos sistemas que antes funcionavam isolados, através
de linhas de transmissão de longa distância, maximizando a utilização das fontes de
energia já existentes e o fornecimento contínuo de energia elétrica para o sistema.

O sistema elétrico brasileiro com tamanho e características que permitem


considerá-lo único no cenário mundial, se caracteriza por ser um sistema
hidrotérmico de grande porte com predominância de usinas hidroelétricas. Esse
sistema é formado por três grandes sistemas interligados através de linhas de
transmissão, um reunindo as empresas das regiões sul, sudeste e centro-oeste,
outro as concessionárias da região nordeste e a última as empresas da região norte.
Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), atualmente, apenas 3,4% da
capacidade de produção de eletricidade do país encontra-se fora desse sistema, em
pequenos sistemas isolados, localizados principalmente na região amazônica.
O sistema interligado brasileiro permite transportar com eficiência e
segurança a energia produzida até os centros de consumo, através de várias rotas
alternativas de transmissão de energia. Melhor ainda, essas interligações
possibilitam o intercâmbio de energia entre as regiões, permitindo obter grandes
benefícios a partir da diversidade de comportamento das vazões entre rios de
diferentes bacias hidrográficas. A figura 1.1 mostra o sistema interligado brasileiro.
Figura 1.2 – Sistema interligado brasileiro.
A interligação do sistema elétrico de potência trouxe, além de vantagens
econômicas, novos problemas como um todo. Nesse tipo de sistema, as
perturbações causadas por uma falta podem se estender a todo sistema causando
grandes prejuízos, tais como:

a. Caos urbano devido a cortes de energia;


b. Perda de vidas humanas;
c. Incêndios;
d. Perda de equipamentos de alto custo, e/ou imprescindíveis para o
processo;
e. Perda de receita resultante de corte prolongado do suprimento de energia.

É importante, portanto, minimizar os efeitos desastrosos provocados por


defeitos em sistemas elétricos. Para esse fim, utilizam-se os sistemas de proteção.

1.2 – Configuração do Sistema Elétrico de Potência

A maneira como os componentes elétricos de um Sistema Elétrico de


Potência (SEP) estão interconectados e a configuração desse sistema, ambos
exercem uma influência muito grande na maneira pela qual os sistemas de proteção
serão configurados.

1.2.1 – Sistema Radial

Um sistema radial, como mostra a figura 1.2, é um arranjo em que a energia


flui apenas em uma direção, tendo os geradores conectados em uma única barra de
geração alimentando múltiplos consumidores. Por possuir tal característica, este tipo
de sistema é geralmente associado a um sistema de distribuição.
Figura 1.2 – Sistema radial.

A construção de tal sistema é relativamente econômica devido a sua


simplicidade. Todavia, do ponto de vista da confiabilidade deixa muito a desejar
pelas altas taxas de descontinuidade de energia e perdas de cargas, provocando
grande descontentamento por parte dos consumidores. Do ponto de vista do sistema
de proteção, um sistema radial apresenta uma baixa complexidade, pois a corrente
de curto-circuito flui no mesmo sentido, isto é, da fonte para o local da falta [1].

1.2.2 – Sistema em Anel

É o tipo de sistema em que a energia pode fluir em qualquer sentido, no caso


de defeito, o curto-circuito é alimentado por correntes elétricas provenientes de todos
os lados. A corrente de curto-circuito sempre converge para o ponto de defeito,
proveniente de todos os lados do sistema elétrico. Logo, para haver seletividade, a
proteção deve ter características direcionais. O sistema em anel é muito mais caro
que o radial e também muito mais difícil a coordenação de sua proteção [1]. A figura
1.3 mostra um exemplo de sistema em anel.
Figura 1.3 – Sistema em anel.

A grande vantagem do sistema em anel é que para defeitos nas linhas de


transmissão, a proteção atua desconectando somente a linha defeituosa sem
desenergizar as barras e os trechos sem defeitos, portanto, sem perda de cargas.
Tem-se assim, garantido o suprimento de energia para os consumidores.

1.3 – Proteção de Sistemas de Energia

Proteção de sistemas elétricos é o termo utilizado para descrever a ciência e


a operação dos dispositivos de proteção, dentro de uma determinada estratégia,
com o objetivo de maximizar a continuidade dos serviços e minimizar os danos às
propriedades e pessoas, devido às situações anormais no sistema elétrico. A
estratégia deve ser planejada e estudada para não somente proteger os sistemas e
seus componentes contra faltas, mas também proteger as partes sãs dos efeitos dos
componentes sob condições de defeito [2].

A função principal do sistema de proteção é desligar rapidamente qualquer


elemento do sistema, tão logo condições anormais de operação tenham sido
detectadas naquele componente, evitando assim que a mesma cause danos
maiores ou comprometa a operação dos demais elementos do sistema. Além disso,
a proteção também promove a indicação da localização e do tipo do defeito, visando
mais rápida reparação e possibilidade de análise da eficiência e características de
atenuação da proteção adotada [3].

A implantação de um bom e eficiente sistema de proteção deve atender os


seguintes requisitos básicos:

a. Seletividade – Capacidade de retirar de operação exclusivamente o


elemento defeituoso, preservando na íntegra o restante do sistema, ou
seja, a proteção deve prover a máxima continuidade de operação do
sistema protegido com um mínimo de desconexões no caso de uma falta
no sistema. Com isso se diz que a seletividade determina a coordenação
de proteção. A figura 1.4 mostra um esquema de seletividade da proteção.

à Disjuntor (Dj) BàBarramento F à Falta

Figura 1.4 – Esquema de seletividade de proteção.


b. Confiabilidade – É a medida do grau de certeza com que o sistema de
proteção desempenha corretamente sua função, ou seja, o sistema deve
ter certeza da operação correta quando necessário (dependabilidade e
evitar a atuação indevida durante a operação normal do sistema ou na
presença de faltas fora de sua zona de operação (segurança).

c. Rapidez e velocidade – É a capacidade de resposta do sistema de


proteção dentro do menor tempo possível de modo: a minimizar o tempo de
duração da falta e conseqüente perigo para os equipamentos; a assegurar
a continuidade do suprimento e a manutenção das condições normais de
operação nas partes não afetadas do sistema; a auxiliar na manutenção da
estabilidade do sistema pela remoção do distúrbio antes que este se
espalhe e conduza a uma perda de sincronismo e conseqüentemente ao
colapso do sistema de potência; e por último, deve evitar ou diminuir a
extensão dos danos no sistema, dado que a energia liberada durante a
falta é proporcional a resistência, ao quadrado da corrente e a duração da
falta (R.I².t). Na figura 1.5 pode-se observar que quanto maior for o
carregamento do sistema, menor será o tempo de permanência da falta
neste sistema.

Fase-Terra

Fase-Fase
Carga

Fase-Fase-Terra

Trifásico

Tempo

Figura 1.5 – Relação da potência e. tempo de atuação da proteção.


d. Sensibilidade – O sistema de proteção deve possuir a habilidade de
distinguir entre alterações normais no sistema, como energização de
transformadores, manobras nas subestações ou aumento de carga no
sistema, e anomalias causadas por curto-circuito, retirando de operação
apenas a parte do sistema que se encontra sob falta, deixando o resto do
sistema operando normalmente. É a capacidade do sistema de proteção
identificar uma condição anormal que exceda um valor limite ou de pickup
para qual inicia uma ação de proteção quando as quantidades sentidas
excedem o valor limite. A expressão 1.1 mostra como se obter o fator de
sensibilidade.

onde:

Fs à é o fator de sensibilidade;

Isc,min à é a corrente de curto-circuito no extremo mais afastado da falta;

Ipickup à é o valor mínimo de corrente especificada no relé, em que


sensibiliza a proteção causando o início da operação nos relés, ou seja, é o
valor determinado para o relé operar.

A sensibilidade deve ser tal que a proteção perceba um curto-circuito


que ocorra na extremidade do circuito mesmo que o defeito seja de
pequena intensidade.

e. Economia – Avaliada no sentido de se ter máxima proteção com menor


custo, considerando sempre a relação custo/benefício, que é a essência da
engenharia.

f. Coordenação – É o estudo e a aplicação de ajustes e esquemas no sentido


de garantir os requisitos básicos de seletividade e velocidade, ou seja,
garantir que haja sempre uma ou mais proteções de retaguarda que
detecte a mesma anormalidade e atue de acordo com tempos pré-
estabelecidos caso a proteção mais próxima do defeito falhe na atuação
sem, no entanto, comprometer a seletividade. Logo, a coordenação é o ato
ou efeito de dispor de dois ou mais dispositivos de proteção em série
segundo certa ordem, de forma a atuarem em uma seqüência de operação
pré-estabelecida.

g. Zonas de proteção – São definidas como uma parte do SEP que possui
uma região definida por linhas imaginárias limitadas pelos disjuntores, as
quais devem ser protegidas contra eventuais anormalidades que podem vir
a ocorrer. Um sistema de proteção possui uma ou mais zonas de proteção,
que são identificadas pelos dispositivos a ser protegidos por elas. A figura
1.6 mostra parte de um SEP dividido em várias zonas de proteção.

Proteção do
Proteção Proteção do Proteção da Proteção do Proteção da
Equipamento Proteção do
do Barramento de Linha de Barramento Linha de
de manobra e Transformador
Gerador Alta Tensão Transmissão Intermediário Transmissão
controle

Figura 1.6 – Zonas (ou zoneamento) de proteção.

h. Proteção primária e de retaguarda – A proteção primária é aquela que tem


a função de detectar e eliminar uma anormalidade dentro de sua zona de
atuação, ou seja, com seletividade, velocidade e confiabilidade.
Dependendo do grau de importância do elemento protegido podem ser
concebidas duas proteções primárias denominadas “Duplicadas” ou
“Primária+Alternada”. Existe também por especificação ou escolha de
projeto a proteção de retaguarda, que tem como finalidade ser a segunda
ou terceira proteção a detectar a mesma anormalidade da primária,
atuando caso esta venha a falhar. A proteção de retaguarda pode ser
especificada como “Retaguarda Local” se estiver conectada no mesmo
local de instalação da proteção primária ou “Retaguarda Remota” se estiver
conectada em outro componente, adjacente aquele ao qual está instalada a
proteção primária. A figura 1.7 mostra o esquema envolvendo proteção
primária e de retaguarda.

Subestação A Subestação B Subestação C

TC TC TC TC
Dj Dj Dj Dj
TP TP TP TP

Re Re Re Re

Re Re Re Re
ReàRelé

Figura 1.7 – Esquema de proteção principal e de retaguarda.

1.4 – Componentes de um Sistema de Proteção

O sistema de proteção é composto por um conjunto de dispositivos e de


vários outros subsistemas, os quais contribuem com o processo de detecção e
isolamento do elemento defeituoso. A seguir tem-se a descrição dos componentes
que formam o sistema de proteção. A figura 1.8 apresenta um diagrama simplificado
desses elementos.
Figura 1.8 – Componentes de um sistema de proteção.

1.4.1 – Serviços Auxiliares

São responsáveis por manter funcionando os equipamentos de proteção de


forma ininterrupta, fazendo-os atuar em caso de “black-out”. Em subestações de
grande porte é comum ter duas fontes distintas de alimentação em corrente
alternada (CA) que suprem o sistema de corrente contínua (CC) através de
retificadores. No caso de perda das fontes CA, são utilizados geradores de
emergência ou bancos de baterias para alimentarem o sistema de CC, garantindo
uma maior confiabilidade ao sistema de proteção. A figura 1.9 mostra um banco de
baterias.
Figura 1.9 – Banco de baterias.

1.4.2 - Transdutores (TCs e TPs)

Os transformadores de instrumento, ou transdutores, são os transformadores


de correntes (TCs) e de tensão, também denominado de transformadores de
potencial (TPs). Quando aplicados aos sistemas de potência, esses equipamentos
têm a função de permitir o acesso às correntes e tensões em amplitudes menores,
com segurança, e também isolar galvanicamente os instrumentos ligados nos seus
enrolamentos secundários do sistema de alta tensão. Os valores nominais dos
enrolamentos secundários desses transdutores são padronizados para que os relés,
os instrumentos de medição e os de controle de quaisquer fabricantes possam ser
conectados sem qualquer problema. Em vários países os enrolamentos secundários
dos TCs são padronizados em 5 A, enquanto que na Europa utiliza-se o padrão 1 A.
A tensão do secundário dos TPs é padronizada em 115 V (tensão de linha), ou 66,4
V (tensão de fase). A seguir são caracterizados cada transdutor:

a. Transformadores de corrente (TC) – É um transformador destinado a


reproduzir, em escala reduzida, a corrente primária em seu circuito
secundário, mantendo sua posição fasorial, ou seja, o TC deve reproduzir
no seu secundário, uma corrente que é uma réplica em escala da corrente
do primário do SEP. São dispositivos que têm o primário ligado em série
com o circuito principal e o secundário ligado aos relés e/ou instrumentos
de medição e controle, cujo valor de corrente depende da corrente primária
e do número de espiras do enrolamento (relação de transformação). São
projetados para suportar, por poucos segundos, as correntes elevadas de
curtos-circuitos (Icc), que podem alcançar 20 vezes o valor da corrente
nominal (In). Os TCs devem ser precisos até sua classe de exatidão, 2,5 ou
10% para uma Icc de 20 x In. O TC pode contemplar tanto características de
proteção quanto de medição. Para tanto, o braço do núcleo magnético da
bobina secundária de medição deve ser fino para saturar durante os curtos-
circuitos, evitando a perfuração da isolação dos TCs de medição por
sobrecorrente, já o braço da bobina secundária de proteção deve ser
grosso para não saturar no instante do curto-circuito, mantendo a precisão
até sua classe de exatidão. A figura 1.10 mostra um esquemático de um
TC contendo braços de medição e proteção.

Figura 1.10 – Esquemático de um TC com braços de medição e proteção.

- Tipos de TCs – Quanto ao tipo, os transformadores de corrente podem


ser: tipo bucha, tipo janela, tipo pedestal e tipo barra. Na figura 1.11
pode-se observar exemplos desses tipos de TCs.
(a) Bucha (b) Janela (c) Pedestal (d) Barra
Figura 1.11 – Tipos de TCs.

- Relação de transformação – Define-se a relação de transformação do


TC, como sendo o termo designado pela expressão 1.2.

onde:

Ns à é o número de espiras do enrolamento primário;

Np à é o número de espiras do enrolamento secundário;

Ip à é a corrente no primário;

Is à é a corrente no secundário.

Assim, pela Norma Brasileira (NBR) 6856 da Associação Brasileira de


Normas Técnicas (ABNT), as correntes primárias do TC são de 5, 10,
15, 20, 25, 30, 40, 50, 60, 75, 100, 150, 200, 250, 300, 400, 500, 600,
800, 1000, 1200, 1500, 2000, 2500, 3000, 4000, 5000, 6000, e 8000A.
Os valores sublinhados são os usados segundo a norma da American
National Standards Institute (ANSI).

b. Transformadores de potencial (TP) – É um transformador destinado a


fornecer o sinal de tensão a instrumentos de medição, controle e proteção.
Este deve reproduzir no seu secundário uma tensão com o menor erro
possível, ou seja, a tensão deverá ser uma réplica da tensão do SEP. Esse
dispositivo tem o primário ligado em paralelo com o circuito principal e o
secundário ligado aos relés e/ou instrumentos de medição e controle, cujo
valor de tensão depende da tensão primária e do número de espiras do
enrolamento (relação de transformação). São projetados para suportar, por
um período longo, uma tensão que poderá ser até 20% maior que a tensão
nominal (Vn).

- Tipos de TPs – Quanto ao tipo os transformadores de potencial podem


ser: transformadores indutivos (TPI), transformadores capacitivos
(TPC), divisores capacitivos de potencial (DCP), divisores resistivos de
potencial (DRP) e divisores mistos (capacitivos e resistivos). Na figura
1.12 pode-se observar exemplos desses tipos de TPs.

(a) TPI (b) DCP


Figura 1.12 – Alguns tipos de TPs.

- Relação de transformação - Define-se a relação de transformação do


TP, como sendo o termo designado pela expressão 1.3.

onde:

Ns à é o número de espiras do enrolamento primário;

Np à é o número de espiras do enrolamento secundário;


Vp à é a tensão no primário;

Vs à é a tensão no secundário.

1.4.3 – Disjuntores

São os responsáveis pela interrupção de correntes de falta tão rapidamente


quanto possível, de forma a limitar a um mínimo os possíveis danos causados aos
equipamentos pelos curtos-circuitos. Além da corrente de falta, o disjuntor dever ser
capaz de interromper correntes normais de carga, correntes de magnetização de
transformadores e reatores e as correntes capacitivas de bancos de capacitores e de
linhas em vazio. O disjuntor deve também ser capaz de fechar circuitos elétricos não
só nas condições normais de carga como na presença de curtos-circuitos. As
funções mais freqüentemente desempenhadas pelos disjuntores são, em primeiro
lugar, a condução de correntes de carga na posição fechada, seguindo-se o
isolamento entre duas partes de um SEP. A figura 1.13 ilustra o circuito de
acionamento de um disjuntor, onde o relé detecta a condição de anormalidade por
meio de transdutores (TCs e/ou TPs).

Disjuntor

Figura 1.13 – Circuito de acionamento de um disjuntor.


Durante a abertura dos contatos principais do disjuntor é necessária uma
rápida desionização e resfriamento do arco elétrico. Para que a interrupção seja bem
sucedida é necessário que o meio extintor retire mais energia do arco elétrico
estabelecido entre os contatos que a energia dissipada pela corrente normal ou de
curto-circuito. Os disjuntores são classificados e denominados segundo a tecnologia
empregada para extinção. Os tipos mais comuns de disjuntores são:

a. Disjuntores a óleo – O princípio de extinção do arco nos disjuntores a óleo


é baseado na decomposição das moléculas de óleo pela energia do arco,
essa decomposição resulta na produção de gases (principalmente o
hidrogênio), sendo a quantidade de gás liberada dependente da magnitude
da corrente e da duração do arco. O gás liberado em primeiro lugar tem um
efeito refrigerante muito acentuado, e, em segundo lugar, ele causa um
aumento de pressão em torno do arco, determinando uma elevação do
gradiente de tensão necessário à sua manutenção [4]. Na figura 1.14 tem-
se o exemplo deste tipo de disjuntor;

Figura 1.14 – Disjuntor a óleo.


b. Disjuntores a ar comprimido – Neste tipo de disjuntor a extinção do arco é
obtida a partir da admissão nas câmaras de ar comprimido (armazenado
num reservatório pressurizado), que soprando sobre a região entre os
contatos determina o resfriamento do arco e sua compressão. A reignição
do arco em seguida à ocorrência de um zero de corrente é prevenida pela
exaustão dos produtos ionizados do arco da região entre os contatos pelo
sopro de ar comprimido. A intensidade e a rapidez do sopro de ar garantem
o sucesso do disjuntor nas corridas energéticas (liberação x absorção de
energia) e dielétrica (tensão de restabelecimento x suportabilidade
dielétrica). Para a interrupção do arco, abrem-se ao mesmo tempo as
válvulas de sopro e de exaustão em cada câmara, de maneira a ventilar a
região entre os contatos. Após o fim do movimento do contato móvel, que
ocorre num tempo predeterminado para permitir a extinção dos arcos, as
válvulas se fecham, deixando o disjuntor aberto, com as câmaras cheias de
ar comprimido à pressão de serviço, livre de produtos ionizados. Na
operação de fechamento, as válvulas de sopro e exaustão podem ser
abertas ligeiramente para ventilar a região entre contatos, impedindo a
contaminação da câmara por resíduos provenientes da vaporização de
material dos contatos [4]. Na figura 1.15 tem-se o exemplo deste tipo de
disjuntor.

Figura 1.15 – Disjuntor a ar comprimido.


c. Disjuntores a vácuo – Nestes disjuntores o arco que se forma entre os
contatos é bastante diferente dos arcos em outros tipos de disjuntor, sendo
basicamente mantido por íons de material metálico vaporizado proveniente
dos contatos (catodo). A intensidade da formação desses vapores
metálicos é diretamente proporcional à intensidade da corrente e,
conseqüentemente, o plasma diminui quando esta decresce e aproxima-se
de zero. Atingido o zero de corrente, o intervalo entre os contatos é
rapidamente desionizado pela condensação dos vapores metálicos sobre
os eletrodos. A ausência de íons após a interrupção dá aos disjuntores a
vácuo, características quase ideais de suportabilidade dielétrica [4]. Na
figura 1.16 tem-se o exemplo deste tipo de disjuntor.

Figura 1.16 – Disjuntor a vácuo.

d. Disjuntores a SF6 – O SF6 é um dos gases mais pesados conhecidos,


sendo cinco vezes mais pesado que o ar. À pressão atmosférica, o gás
apresenta uma rigidez dielétrica 2,5 vezes superior à do ar. A rigidez
dielétrica aumenta rapidamente com a pressão, equiparando-se à de um
óleo isolante de boa qualidade à pressão de 2 bars. É um gás
excepcionalmente estável e inerte, não apresentando sinais de mudança
química para temperaturas em que os óleos empregados em disjuntores
começam a se oxidar e decompor. Os disjuntores que usam o SF 6 são
também denominados de pressão única porque o gás permanece no
disjuntor, durante a maior parte do tempo, a uma pressão constante de 3 a
6 bars, servindo de isolamento entre as partes com potenciais diferentes. A
pressão necessária à extinção do arco é produzida em cada câmara por
um dispositivo tipo (puffer), formado por um pistão e um cilindro, em que
um desses dois elementos ao se movimentar desloca consigo a parte
móvel e comprime o gás existente no interior do cilindro. A compressão do
SF6 por esse processo produz pressões da ordem de 2 a 6 vezes a
pressão original e no intervalo entre a separação dos contatos e o fim do
movimento o gás, assim comprimido, é forçado a fluir entre os contatos e
através de uma ou duas passagens (nozzles), extinguindo o arco formado
nas câmaras do disjuntor [4]. Na figura 1.17 tem-se o exemplo deste tipo de
disjuntor.

Figura 1.17 – Disjuntor a SF6.

1.4.4 – Relé

O relé é a parte lógica do sistema de proteção. Pode ser um dispositivo


(analógico ou digital) de proteção, que atua a partir da comparação dos dados
medido no SEP com valores pré-ajustados nos sensores do próprio relé. Os relés
recebem sinais de tensão e/ou corrente através de transdutores (TCs e/ou TPs),
compara com valores pré-definidos, e caso identifiquem a existência de alguma
anormalidade, os relés enviam comandos de abertura (trip) para o(s) disjuntor(es) e
este isola a parte do SEP sob falta do restante do sistema. Esta ação mantém a
continuidade no fornecimento de energia elétrica e minimiza os danos causados aos
equipamentos e/ou pessoas. Por exemplo, quando da ocorrência de um curto-
circuito, a Icc sensibiliza o relé, este por sua vez opera, enviando um sinal para a
abertura do disjuntor. Com a abertura do disjuntor, o trecho defeituoso é
desconectado do sistema, mas este continua a operar com a mesma configuração
anterior, apenas desfalcado do trecho onde ocorreu a falta. A figura 1.18 mostra o
esquemático dos terminais de um relé em conjunto com o circuito de abertura de um
disjuntor.

Figura 1.18 – Conexão dos terminais de um relé.

Quanto aos aspectos construtivos os relés são classificados da seguinte


forma:

a. Relés eletromecânicos – Os relés eletromecânicos são os tradicionais, os


pioneiros da proteção, elaborados, projetados e construídos com
predominância dos movimentos mecânicos provenientes dos acoplamentos
elétricos e magnéticos. Os movimentos mecânicos acionam o relé,
fechando os contatos correspondentes. Estes relés atuam basicamente
através da atração magnética ou indução eletromagnética. A figura 1.19
mostra um exemplo deste tipo de relé.
Figura 1.19 – Relé eletromecânico.

b. Relés eletrônicos ou estáticos – Os relés estáticos são construídos com


dispositivos eletrônicos, próprios e específicos aos objetivos da proteção.
Nestes relés, não há nenhum dispositivo mecânico em movimento, todos
os comando e operação são feitos através de um circuito eletrônico
(hardware) próprio ao objetivo a que se destina. Qualquer regulagem é
efetuada pela mudança física no parâmetro de algum componente
eletrônico (reostato, capacitância, etc.). A figura 1.20 mostra esse tipo de
relé.

Figura 1.20 – Relé estático.

c. Relés digitais – São relés eletrônicos gerenciados por microprocessadores


específicos a este fim, onde sinais de entrada das grandezas e parâmetros
digitados são controlados por um software que processa a lógica de
proteção através de um algoritmo. Ele pode simular um relé ou todos os
relés existentes em um só hardware. O relé digital pode efetuar várias
funções, tais como: proteção, supervisão de rede, transmissão de sinais,
conexões com computador local ou computadores centrais, auto-
supervisão, religamento de disjuntores, identificação do tipo de defeito,
localização de defeitos, oscilografia, sequência de eventos, sincronização
de tempo via Global Positioning System (GPS), medição de grandezas
obtenção de dados para relatórios, etc. A figura 1.21 mostra esse tipo de
relé.

Figura 1.21 – Relé digital.

d. Relés numéricos – São relés digitais com um refinamento tecnológico que


utiliza um especializado Processador Digital de Sinal (PDS) incorporado ao
microprocessador otimizado tecnologicamente de acordo com o algoritmo
de proteção utilizado no relé. A figura 1.22 mostra este tipo de relé.

Figura 1.22 – Relés numéricos.

Hoje as empresas do Brasil, e de todo o mundo, não estão mais adquirindo


relés eletromecânicos e muito menos os estáticos. Todas as aquisições são de relés
digitais. Isto produz um alívio no carregamento dos TCs, que agora passa a ser
mínimo.

Em proteção a relés, são muito utilizados os termos em inglês (pickup) que é


designado em referência à menor corrente que é possível fazer o relé operar, isto é,
a menor das correntes que deixam o relé no limiar de operação; e o (dropout) que se
refere ao limiar de desoperação do relé, ou seja, é a maior corrente que produz a
desativação do relé.

1.5 – Estatísticas de Defeitos no Sistema Elétrico

Em um sistema elétrico, o levantamento estatístico dos defeitos (causa, tipo


e equipamentos afetados) é de primordial importância para implantação de um
sistema de proteção confiável e de custo compatível com os equipamentos a ser
protegido, levando em consideração o grau de incidência de defeitos nesses
equipamentos. A seguir são apresentados alguns dados estatísticos sobre a
ocorrência de defeitos em um SEP de um modo geral, considerando:

a. O tipo de falta – Na tabela 1.1 pode-se verificar que a maior incidência de


defeitos são do tipo Fase-Terra.

Tabela 1.1 – Percentual de falhas por tipo de defeito.

Tipo de Falta Porcentagem

Fase - Terra 81 %

Fase - Fase 10 %

Fase - Fase - Terra 6%

Trifásica sem Terra 1,5 %

Trifásica com Terra 1,5 %


b. O equipamento protegido – Na tabela 1.2 pode-se verificar que a maior
incidência de defeitos acontece nas linhas de transmissão.

Tabela 1.2 – Percentual de falhas por equipamento protegido.

Equipamento Porcentagem

Linha de Transmissão 69,7 %

Distribuição 9,2 %

Barramentos 6,7 %

Geradores 4,7 %

Outros Equipamentos 2,6 %

Sistemas Externos 1,0 %

Consumidor 0,4 %

Outra 5,7 %

c. A causa da falta – Na tabela 1.3 pode-se verificar que a maior causa dos
defeitos é decorrente dos fenômenos naturais.

Tabela 1.3 – Percentual de falhas pela causa da falta.

Causa Porcentagem

Fenômenos Naturais 50,2 %

Falha de Equipamento 12,0 %

Falha humana 9,0 %

Falha operacional 8,5 %

Outras causas 20,3 %


1.6 – Objetivos

Esta dissertação tem como objetivos:

 Apresentar as principais características das proteções das linhas aéreas de


transmissão de 500 kV da Eletrobrás-Eletronorte na Subestação de Tucuruí;
 Apresentar a memória de cálculo e plotagem no diagrama R-X, dos
parâmetros de ajustes pertinentes a função distância, intrínsecas dos relés
digitais empregados na proteção das linhas de 500 kV da Eletrobrás-
Eletronorte na Subestação de Tucuruí;

 E por último apresentar propostas para trabalhos futuros, visando à


melhoria de algumas funções pertinentes aos relés digitais empregados na
proteção das linhas de 500 kV da Eletrobrás-Eletronorte.

No próximo capítulo são apresentados os tipos mais comuns de proteções


utilizadas em linhas de transmissão.

CAPÍTULO 2
PROTEÇÕES DE LINHAS DE TRANSMISSÃO

2.1 – Características das Proteções de Linhas de Transmissão

Pela própria natureza do SEP, o elemento mais vulnerável às falhas são as


linhas de transmissão (LTs), especialmente se for considerada sua dimensão física,
visto que ela fica exposta aos maiores riscos como intempéries, descargas
atmosféricas, etc. Com isso, a proteção de LTs deve garantir que todo defeito seja
eliminado tão rapidamente quanto possível, sendo também desligada uma única
seção da linha, com a mínima extensão possível. Para a proteção de LTs deve-se
levar em consideração o valor da Icc, o efeito da carga, a direcionalidade (sistemas
com mais de uma fonte de curto-circuito) e a configuração do sistema.

Na proteção de linhas são usadas diversas classes de relés. Em ordem


crescente de complexidade, pode-se citar: relés de sobrecorrente (instantâneos,
temporizados ou direcionais), relés de distância e proteção piloto (fio piloto, onda
portadora, microondas ou fibras ópticas) [3]. A seguir são tratadas as principais
características dos relés citados acima.

2.2 – Relés de Sobrecorrente

Os relés de sobrecorrente têm como grandeza de atuação a corrente elétrica


do sistema. Devem atuar quando o valor de corrente atingir um valor igual ou
superior ao ajuste previamente estabelecido para o mesmo (corrente mínima de
atuação) [1]. Por exemplo, quando a Icc ultrapassa a corrente de ajuste do sensor do
relé, o mesmo atua de forma instantânea ou temporizada, conforme a necessidade
do sistema.
A proteção com relés de sobrecorrente é a mais simples e barata, porém, é a
mais difícil de aplicar, e também a que requer mais rapidamente reajuste, ou mesmo
substituição, à medida que o sistema é modificado. É usada basicamente para
proteção de falta entre fases e fase/terra, em circuitos de distribuição de
concessionários e sistemas industriais, e em circuitos de subtransmissão onde a
proteção de distância não possa ser justificada economicamente (sistemas radiais).
Como proteção de fase a terra, esse tipo de proteção é usada até mesmo em LT
(que usam relés de distância como proteção de fase), bem como proteção de
retaguarda em linhas cuja proteção primária é feita por fio piloto [3]. A Figura 2.1
apresenta um esquema envolvendo a proteção de sobrecorrente.

Ib

Figura 2.1 – Esquema trifásico de proteção de sobrecorrente.

No sistema elétrico, no caso de defeito, para se ter uma segura e adequada


operação do relé, é necessário ajustar os parâmetros do relé de modo a atender a
expressão 2.1.

I currto min imo no final do circuito protegido


1,4 a 1,5 I no min al de c arg a  I ajuste  (2.1)

onde:
à{

O relé deve suportar, sem operar, as variações de carga rotineira do sistema.


Deste modo, de acordo com a expressão 2.1, deve-se deixar uma folga de 40% a
50% na corrente de carga, para o relé absorver, sem operar, as flutuações de carga.
Essa folga, também é uma margem para possibilitar as transferências de carga,
devido às manobras na configuração da rede do sistema elétrico em operação e de
futuras expansões, devido, principalmente, ao crescimento da carga [1].

A característica do tempo de operação de um relé de sobrecorrente é


normalmente definida pela curva Tempo versus Corrente (ou curva T-I) como mostra
a figura 2.2. Ele também pode operar instantaneamente ou ter uma temporização
intencional para uso como proteção de backup.

ta

Figura 2.2 – Curva (T-I) do relé de sobrecorrente.

2.2.1 - Relé de Sobrecorrente Instantâneo

O relé de sobrecorrente instantâneo atua instantaneamente para qualquer


corrente maior que seu ajuste, ou seja, ele fecha seus contatos num tempo muito
pequeno assim que a corrente ultrapassa o valor limite. No campo da proteção,
“instantâneo” significa sem temporização intencional, logo, sua utilização visa
diminuir o tempo de atuação da proteção para faltas dentro de seu ajuste de
proteção.

Esses relés não são na essência da palavra instantâneos, o seu tempo de


atuação é o correspondente ao da movimentação dos seus mecanismos de atuação,
em outras palavras, esses relés são projetados para operar com a máxima
velocidade levando em consideração a tecnologia utilizada. Tipicamente o tempo de
operação desses relés fica em torno de 0,5 a 1,5 ciclos.

Segundo a ANSI/IEEE e a International Electrotechnical Commission (IEC),


esses relés são conhecidos pelo número 50. Na a figura 2.3 podemos observar que,
a corrente de pickup (valor limite de operação) do relé 50 é ajustável e o usuário
pode escolher esse ajuste em uma faixa relativamente ampla.

t (s)

I (A)

Figura 2.3 – Curva (T-I) do relé de sobrecorrente instantâneo.

O cálculo dos ajustes do relé é de grande importância para a qualidade da


proteção. Levando em consideração esses parâmetros, os elementos de
sobrecorrente instantâneos têm seu ajuste definido somente na sua corrente de
pickup, portanto, eles devem operar para valores de corrente bem maior que a
corrente de carga e possuir sobrealcance transitório levando em consideração certos
parâmetros do SEP [5] e [6].

No caso de um relé 50 eletromecânico, a corrente de ajuste deve ter valor de


125 a 135% acima da corrente máxima para a qual o relé não deve operar e
corrente de ajuste de 90% da corrente mínima para a qual o relé deve operar. Caso
seja utilizados relés digitais ou estáticos a corrente de ajuste deve ter valor de 110%
acima da corrente máxima para a qual o relé não deve operar [5].

2.2.2 - Relé de Sobrecorrente Temporizado

É o relé que tem na sua própria funcionalidade característica temporizada, ou


seja, a sua atuação ocorre após certo tempo. Segundo a ANSI/IEEE e a IEC, esses
relés são conhecidos pelo número 51. Eles podem ser de tempo definido e de tempo
inverso [1].

2.2.2.1 – Relé 51 de Tempo Definido

Nestes relés o tempo de operação é fixo, mas em compensação esse tempo


pode ser ajustável (assim como o valor limite da corrente). Em um relé de tempo
definido bem projetado o tempo de operação será sempre o mesmo, independente
do valor de corrente. A figura 2.4 mostra a curva de um relé 51 de tempo definido.
t (s)

I (A)

Figura 2.4 – Curva (T-I) do relé 51 de tempo definido.

2.2.2.2 - Relé de Sobrecorrente Temporizado de Tempo Inverso

Neste tipo de relé, não se escolhe o tempo de atuação, mas sim a sua curva
de atuação. Esta curva é fisicamente escolhida, dependendo das características e
condições da coordenação dos relés presentes na proteção, na qual estão inter-
relacionados.

O tempo de operação do relé é menor à medida que a corrente se torna


maior, ou seja, o tempo de atuação do relé é inversamente proporcional ao valor da
corrente. Em outras palavras, o relé irá atuar em tempos decrescentes para valores
de corrente igual ou maior ao valor da corrente mínima de atuação. A figura 2.5
mostra a curva de um relé 51 de tempo definido.
t (s)

Ajustável

Ajustável

I (A)

Figura 2.5 – Curva (T-I) do relé 51 de tempo inverso.

As características de tempo-inverso podem ser aplicadas em todos os tipos


de sistemas radiais, ou seja, em redes onde a faixa de variação da corrente de curto-
circuito é larga, que é ocasionada pela mudança da capacidade de geração. A
coordenação depende de uma cadeia (escada) de tempos diferentes para a mesma
corrente de curto-circuito. Isto garante uma seqüência de seletividade na abertura
dos disjuntores, sempre objetivando eliminar o defeito, deixando sem energia o
menor número de consumidores.

Os fabricantes demarcam as curvas de atuação dos relés em percentagem


ou na base 10. Assim as curvas podem ser: Curva: 0,5; 1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10 ou
curva: 5%, 10%, 20%, 30%, 40%, 50%, 60%, 70%, 80%, 90%, 100%. Na figura 2.6
pode-se observar que todas as curvas são referenciadas a curva de 100%, sendo
que as outras curvas têm o seu tempo referido ao da curva de 100%. Em resume,
para um respectivo curto-circuito, o tempo de atuação do relé corresponde à
percentagem em relação ao tempo da curva 100% [1].
m (A)

Figura 2.6 – Curvas de atuação da família normal inversa para relés de sobrecorrente.

Estes relés têm como ajustes a corrente de pickup (onde deve haver uma
diferença segura entre a corrente de carga máxima e a Icc mínima) e o tempo
(parâmetro de ajuste independente, cujo objetivo é propiciar a coordenação entre
relés). Para ajustar o valor da corrente, usa-se a expressão 2.1 já descrita
anteriormente. Para o ajuste das curvas de tempo em relés digitais usa-se a
expressão 2.2

 
 
 k 
T  M * E  (2.2)
 I  
    1

  I disparo  

onde:

T à tempo para atuação da proteção, em ms;

M à ajuste de tempo (fator de multiplicação);

I à corrente de curto calculada, em A;


Idisparo à ajuste da corrente de disparo, em A.

As três famílias de curvas de tempo-corrente mais usuais dos relés de tempo


inverso são:

a. Normalmente Inversa – É a família de curvas mais comum, onde o tempo de


operação é inversamente proporcional ao valor de atuação, esse tipo de
curva permite que o relé opere com razoável rapidez para uma faixa grande
de Icc;

b. Muito Inversa – Possui uma característica mais íngreme, que faz com que
ele opere lentamente para baixos valores de Icc e opere rapidamente para
altos valores de Icc;

c. Extremamente Inversa – Apresenta uma característica bastante íngreme,


sendo adequado para sistemas que empregam fusíveis como proteção,
tornando a coordenação mais eficaz para este tipo de proteção.

De acordo com a família de curvas escolhida pelo usuário, os parâmetros “k”


e “E” assumem os valores apresentados na tabela 2.1.

Tabela 2.1 – Parâmetros de ajuste das curvas de tempo em relés digitais.

Característica k E

Normal Inversa 0,14 0,02

Muito Inversa 13,5 1,0

Extremamente Inversa 80 2,0

A figura 2.7 mostra curvas típicas de atuação para cada tipo de família,
verificam-se também ajustes de pickup e de tempo para um relé de sobrecorrente.
Figura 2.7 – Curvas típicas de atuação para cada tipo de família.

2.2.3 – Relé de Sobrecorrente de Neutro

Também conhecido como relé de sobrecorrente de seqüência zero, só é


sensível às correntes de seqüência zero, então, toda corrente do sistema elétrico
que escoa pela terra tem seu reflexo no relé de neutro. Esses relés são conhecidos
pelo número “50N ou 51N” sendo esta nomenclatura referenciada a unidade
instantânea ou temporizada respectivamente.

No sistema elétrico as correntes que geram componentes de seqüência zero


são os curtos-circuitos monofásicos à terra, curtos-circuitos bifásicos à terra, cargas
desequilibradas aterradas e abertura de fase de sistemas aterrados [1].

2.2.4 – Coordenação de Relés de Sobrecorrente

Os relés devem operar o mais rápido possível, dentro da sua seletividade de


proteção. Para formar uma cadeia de proteção onde o relé mais próximo do defeito
atue prioritariamente, deve haver uma escada de tempos de atuação sucessivos dos
relés, garantindo a proteção de vanguarda e sucessivas retaguardas. A
Coordenação de relés é necessária, porque o sistema de proteção também está
sujeito a falhas, com isso a atuação da proteção de retaguarda é imprescindível [1].

Dentro desse tema, defini-se também o tempo de coordenação (Δt), que é a


mínima diferença de tempo que dois relés mais próximos da cadeia de proteção
devem ter para garantir a coordenação. Isto significa que a proteção mais próxima
do defeito deve eliminar o curto-circuito, com garantia que o relé a montante não
ative o circuito de abertura do disjuntor de sua competência [1].

Para haver coordenação, os tempos de operação de dois relés sucessivos,


devem satisfazer a expressão 2.3.

Trelé mon tan te  Trelé Jusante  t (2.3)

onde:

Trelé jusante à é o tempo de atuação do relé a jusante;

Trelé montante à é o tempo de atuação do relé a montante para a mesma I cc;

Δ à é o tempo de coordenação.

O tempo de coordenação é composto do tempo de operação do mecanismo


de abertura do disjuntor, tempo de extinção do arco elétrico pelo disjuntor, tempo de
sobrepercurso (relés eletromecânicos) do relé e tempo de segurança.

2.2.4.1 – Coordenação do Relé de Tempo Definido


A coordenação com este tipo de relé é realizada levando em consideração
que o relé mais afastado deve ter o menor ajuste de tempo possível, e os relés a
montante mais próximos, devem ter um tempo de ajuste cuja diferença de tempo é o
Δ , e assim sucessivamente [1]. Essa coordenação é simples, mas não atende a
filosofia de proteção, pois, pela característica da coordenação, os seus tempos de
atuação são muito altos. A figura 2.8 mostra um diagrama completo da coordenação
usando este tipo de relé.

tA
t
tB
t
tC
A B C
TC TC TC
Dj Dj Dj

51 Re 51 Re 51 Re

Figura 2.8 – Coordenação completa do relé de tempo definido.

2.2.4.2 – Coordenação de Relés de Tempo Definido com Elemento Instantâneo

A coordenação levando em consideração essa configuração deve ser


efetuada primeiramente ajustando o elemento instantâneo de todos os relés,
utilizando a Icc trifásica a 85% da linha de transmissão a jusante do relé
correspondente, o restante da coordenação segue as mesmas regras do item
2.2.4.1 [1]. A figura 2.9 mostra um diagrama completo da coordenação usando este
tipo configuração.

51A
tA
t 51B
tB
t
tC 51C
A B C
D
TC 50A TC 50B TC 50C
Dj Dj Dj

50 50 50
Re Re Re
51 51 51
Figura 2.9 – Coordenação de relés de tempo definido com elemento instantâneo.

2.2.4.3 – Coordenação de Relés de Tempo Inverso

Na coordenação do relé de tempo inverso, não se escolhe o tempo de


atuação. Deste modo, esta coordenação é um pouco mais complexa e trabalhosa.
Os relés a montante devem coordenar com os relés a jusante em todo trecho de
superposição de zona, neste caso, o ponto crítico sempre é o curto-circuito no local
do TC a jusante [1]. A figura 2.10 mostra um diagrama completo da coordenação
usando este tipo de relé.

A
relé
a do
Curv lé B
a do re
Cu rv r el é
C
a do
A B Δt C Cur v D
a 1/ 2
Cur v
Dj Dj Dj Dj

51 Re 51 Re 51 Re Re 51

Figura 2.10 – Coordenação de relés de tempo inverso.

Pode-se notar que, devido à curva de tempo ser inversa, prouduz-se uma
proteção coordenada mais adequada de acordo com a filosofia de proteção, ou seja,
os curtos-circuitos e maiores intensidades são rapidamente eliminados [1].

2.2.4.4 – Coordenação de Relés de Tempo Inverso com Elemento Instantâneo

Esta proteção utilizando relés de tempo inverso com elemento instantâneo é


a melhor proteção possível com estes tipos de relés. Porém, ela exige um pouco
mais de trabalho para ser implementada. A figura 2.11 mostra um diagrama
completo da coordenação usando este tipo de configuração.

5 1A
51B
51C
A B C D
TC
50A TC
50B 50C
TC
Dj Dj Dj

50 50 50
Re Re Re
51 51 51

Figura 2.11 – Coordenação de relés de tempo inverso com elemento instantâneo.

Esta configuração de proteção é a que se enquadra melhor no perfil da


filosofia de proteção, isto é, os curtos-circuitos de maiores intensidades serão
eliminados instantaneamente e as temporizações têm tempos reduzidos,
principalmente para curtos-circuitos maiores [1].

2.3 – Relés Direcionais

Um relé direcional é capaz de distinguir entre o fluxo de corrente em uma


direção ou outra. Em circuitos de corrente alternada isso é feito pelo reconhecimento
do ângulo de fase entre a corrente e a grandeza de polarização (ou de referência)
que pode ser tensão ou corrente [3]. Este relé tem uma característica associada à
direção da corrente e não apenas ao módulo da corrente medida.

A direcionalidade é dada pela comparação fasorial das posições relativas da


corrente de operação e da grandeza de polarização. Esta defasagem é que produz o
sentido da direção do fluxo de energia da corrente de operação ou da corrente de
curto-circuito [1].
Há basicamente dois tipos de relés direcionais, que diferem no modo como
são ligados, são eles: relés direcionais de potência e relés direcionais de
sobrecorrente.

2.3.1 – Relés Direcionais de Potência

Para aplicações de proteção direcional que não sejam contra curto-circuito,


os relés direcionais de potência (32) são exigidos. Estes relés operam para
condições do circuito onde as cargas estejam praticamente balanceadas e que o
fator de potência esteja próximo ao valor unitário [7].

A conexão do relé é definida como sendo o ângulo pelo qual a corrente de


carga equilibrada com fator de potência unitário, fluindo no sentido de desligamento,
adianta-se da tensão aplicada no circuito de entrada do relé [3].

Esta proteção é geralmente utilizada contra a motorização do gerador


síncrono de propriedade do consumidor, pois, estes geradores são movidos pela
energia de máquinas primárias como a turbina a vapor ou motor a combustão. Logo,
não podem operar motorizados, devido à mesma provocar danos principalmente na
máquina primária. Quando ocorrer algum problema, no qual o gerador síncrono
repentinamente passa a operar como motor, o sentido da corrente inverte, isto é, as
correntes vêm do sistema externo para o motor, ficando na mesma direção do relé
direcional de potência, que atua instantaneamente desligando o disjuntor [1]. Na
figura 2.12 pode-se observar um esquema usando o relé direcional de potência para
proteção contra motorização do gerador síncrono.
Vem da concessionária

Dj TP
32
indústria 5 % In TC Re

Figura 2.12 – Esquema com relé direcional de potência.

2.3.2 – Relés Direcionais de Sobrecorrente

O relé direcional de sobrecorrente (67) é um dispositivo que atua quando a


corrente tem um sentido pré-estabelecido de acordo com sua referência de
polarização [1]. Como, durante um curto-circuito, a corrente é extremamente
atrasada em relação à tensão, é necessário que os relés de proteção contra curto-
circuito estejam ajustados para desenvolver conjugado máximo nestas condições de
corrente [3]. O relé de sobrecorrente direcional está simbolicamente representado no
diagrama da figura 2.13.

Circuito
TC Protegido
Dj

I da fase A Bobina de
Corrente

I de
TP polarização Bobina de
67 Tensão
Figura 2.13 – Diagrama do relé de sobrecorrente direcional.

A figura 2.14 mostra como seria o esquema de atuação do relé 67 conectado


a um determinado SEP.

Subestação A Subestação A
TC TC
Dj Dj Dj Dj
TP TP

Re Re

Re
Re

Figura 2.14 – Esquema de atuação do relé 67 conectado a um determinado SEP.

O diagrama fasorial das grandezas envolvidas no relé direcional está


apresentado na figura 2.15

Figura 2.15 – Diagrama fasorial das grandezas do relé direcional.


O funcionamento de um relé direcional de sobrecorrente é mostrado pela
expressão 2.4 que representa a equação característica do relé.

(2.4)

onde:

H à é a medida da sensibilidade do relé;

r à é o ângulo de sensibilidade máxima;

θ à é o ângulo entre os sinais de entrada E1 e E2, que podem ser: duas correntes,
duas tensões ou uma tensão e uma corrente.

Essa equação fornece a medida de sensibilidade máxima (H) de um relé


direcional, que será utilizada para traçar suas características de funcionamento. Esta
medida é válida no limiar de operação do relé. O diagrama fasorial dos lugares
geométricos da corrente Ia, tal que se mantenha sempre o limiar de operação do relé
está representado na figura 2.16.

Normal

era
op

era
o op

r
Im

Vpolarização =V bc
Polarização à 90°

Limiar da Operação

Figura 2.16 – Diagrama fasorial do limiar de operação do relé direcional.


A menor corrente Ia que deixa o relé no seu limiar de operação é a Im,
também conhecida como corrente de pickup do relé. A expressão 2.5 representa a
posição de Im.

̇ (2.5)

O termo direcional é caracterizado neste caso pela posição relativa da onda


de corrente em relação à onda de tensão elétrica. A defasagem correspondente
caracteriza a direcionalidade do relé [1]. Portanto, o ideal seria sempre escolher o
ângulo r no relé que tenha o mesmo ângulo da LT, ou mais propriamente o ângulo
da Icc do trecho protegido.

Geralmente, o fabricante do relé 67 eletromecânico possibilita quatro opções


de escolha do ângulo r, já no relé 67 digital, a escolha do ângulo r é livre
obedecendo a uma faixa de variação que fica em torno de 20º a 80º.

2.3.2.1 – Polarização do Relé Direcional

Dependendo do local e da característica da linha de transmissão, algumas


escolhas das tensões de polarização podem ser mais convenientes, sendo que as
polarizações mais usuais são as seguintes: 0°, 30°, 60° e 90°.

Os relés direcionais de sobrecorrente polarizados com tensão-corrente


podem ser conectados no TP de diversas maneiras, sendo que cada uma delas será
mais eficiente para determinados tipos de faltas e menos para outros. A seguir são
apresentados alguns esquemas de conexões com as respectivas polarizações:

a. Polarização com conexão a 0º - A figura 2.17 mostra um esquema com este


tipo de conexão.
V1 3

I1 2
TC
1

I3 I1
V1
V3 TP
I2 Relé
V2

Figura 2.17 – Polarização com conexão a 0º.

b. Polarização com conexão a 30º - A figura 2.18 mostra um esquema com


este tipo de conexão.

V1 V13 3

I1
30° V3 TC
2
V13
1
V23 TP

V3 I1
Relé
V2

Figura 2.18 – Polarização com conexão a 30º.

c. Polarização com conexão a 60º - A Figura 2.19 mostra um esquema com


este tipo de conexão. Para o relé direcional da fase 1, a tensão de
polarização pode ser:
 – V3;
 V1 - V2;
= - V3
V1 V13 3
I1
60° 2
TC
V23 1
TP

V3 I1
V2 Relé
Figura 2.19 – Polarização com conexão a 60º.

d. Polarização com conexão a 90º - A figura 2.20 mostra um esquema com


este tipo de conexão. As tensões são referenciadas ao relé da fase 1 ao
neutro, isto é, da tensão V1. Fazendo a composição vetorial, verifica-se que
a tensão de polarização V23 está defasada de 90º em relação à tensão V1.

V1 3

I1 2
TC V23
1
V23 TP

V3 I1
Relé
V2

Figura 2.20 – Polarização com conexão a 90º.

Os elementos direcionais são geralmente utilizados para determinar a


direção da falta, com o objetivo de controlar os elementos de sobrecorrente,
supervisionar os elementos de distância aumentando sua segurança e formar as
características de distância quadrilateral. A figura 2.21 apresenta um esquema
utilizando o relé de sobrecorrente direcional consorciado com a proteção de
sobrecorrente, onde o relé 67 controla a operação do relé 51 por meio da abertura
ou fechamento do circuito da bobina de sombra do relé de sobrecorrente. A bobina
de sombra tem seu início e fim no contato normalmente aberto (NA) do relé
direcional.
A

B Barra

TP

C
TC
67 T
c b a

52
Disjuntor

Eixo
51 Disco
Falta

Circuito Protegido

Figura 2.21 – Esquema com relé de sobrecorrente monitorado pelo relé direcional.

2.3.3 – Relés Direcionais de Seqüência Zero

Como o próprio nome indica, este relé deve ter sua bobina magnetizante de
corrente energizada pela corrente de seqüência zero (I 0) do curto-circuito ou da
carga aterrada, mas desequilibrada. Este relé também deve possuir uma tensão
polarizante de seqüência zero (V0), que aparece no momento do curto-circuito ou do
desequilíbrio das cargas aterradas atendidas [1]. A figura 2.22 mostra uma conexão
do elemento direcional de terra polarizado por 3V0.

TP

TP

TC Relé

Disjuntor
Figura 2.22 – Esquema geral da ligação do relé de neutro.

Nesta conexão, de acordo com as marcas de polaridade, o relé recebe como


sinais de entrada -3V0 e 3I0. A conexão residual dos TCs é usada como um filtro de
corrente de sequência zero. Com o objetivo de obter 3V 0, um grupo de TPs
auxiliares é conectado em (estrela aterrada - delta aberto), funcionando como um
filtro de tensão de seqüência zero tradicional [6].

O uso de TPs auxiliares não é um requisito obrigatório. Os TPs primários


podem ser conectados (estrela aterrada – delta aberto) para fornecer o 3V0 para o
relé, se as tensões de fase do secundário não forem necessárias. Pode-se também
optar por TPs com dois secundários, sendo que um grupo de secundários pode ser
conectado em estrela para fornecer as tensões de fase e outro grupo conectado em
delta aberto para fornecer 3V0 [6].

Para o relé de neutro operar adequadamente na direção pretendida, deve-se,


inverter a polarização na bobina de corrente do relé de neutro (3V 0, -3I0) ou, inverter
a polarização na bobina de tensão do relé de neutro (-3V0, 3I0) [1]. Em ambas
alternativas, a corrente de operação está atrasada da tensão de polarização, e
devido a esse atraso, o valor de 60º é normalmente usando para o ângulo de
máximo torque de operação do relé, com a corrente atrasada da tensão. A figura
2.23 mostra um esquema de como ficaria o diagrama de polarização por tensão de
seqüência zero.

Im

Falta na direção
reversa

Re
3V0
60°

I terra = 3 I 0
Falta a frente

Figura 2.23 – Polarização por tensão de sequência zero.


Assim como o relé direcional de fase monitora o relé de sobrecorrente de
fase, o relé direcional de neutro monitora o relé de sobrecorrente de neutro.

No relé digital não há necessidade de se inverter fisicamente a polaridade de


qualquer grandeza, porque o software interno do relé já considera esta operação
para este tipo de curto-circuito [1]. A figura 2.24 mostra a conexão do relé direcional
de sobrecorrente digital de fase e de neutro em um SEP.

Figura 2.24 – Conexão do relé direcional de sobrecorrente digital de fase e de neutro em


um SEP.

2.3.4 – Coordenação com Relés de Sobrecorrente e Direcional

Para uma direção, a coordenação, utilizando relés de sobrecorrente é feita


no mesmo modo, como apresentado no item 2.2.4. Primeiramente, é feita a
coordenação em um dado sentido, depois no sentido oposto.

A coordenação completa de um sistema em anel utilizando relés de


sobrecorrente auxiliados pelos relés direcionais é apresentada na figura 2.25.
R A
rva RB
Cu rva RC
Cu rva
Cu
A B C D

Dj Dj Dj Dj Dj Dj
TC TC TC TC TC TC

RA Re Re R3 RB Re Re R2 RC Re Re R1

R3
rva
Cu
R2
rva
Cu R1
rv a
Cu

Figura 2.25 – Coordenação de um sistema em anel com relés de sobrecorrente e direcional.

2.4 – Relés de Distância

Antes de abordar o assunto sobre o relé de distância propriamente dito, faz-


se uma introdução sobre os tipos de faltas que podem ocorrer nos SEP.

Os curtos-circuitos são geralmente chamados defeitos ou faltas, e ocorrem


de maneira aleatória nos SEPs. Suas conseqüências podem ser completamente
danosas ao sistema, se não forem prontamente eliminados pelos dispositivos de
proteção. O estudo do curto-circuito tem por finalidade permitir o dimensionamento
dos diversos componentes do sistema e a execução da coordenação de relés de
proteção. A demais, o estudo possibilita a seleção de disjuntores, e a especificação
de pára-raios [8].

Como verificado no capítulo anterior (tabela 1.1 e tabela 1.2), a grande


maioria dos curtos-circuitos num SEP são do tipo Fase-terra e ocorrem nas linhas
aéreas devido ao seu elevado comprimento e a sua grande exposição aos
fenômenos físicos naturais. Em particular, as descargas atmosféricas provocam
sobretensões elevadas, as quais podem contornar as cadeias de isoladores e
causar uma falta para terra.

2.4.1 – Tipos de Curtos-Circuitos

Nos SEPs podem ocorrer curtos-circuitos simétricos que estão relacionados


às faltas trifásicas, ou assimétricas que englobam as faltas fase-terra, fase-fase e
fase-fase-terra.

Por serem equilibrados e simétricos, tanto nas condições normais de


funcionamento como no decorrer de curtos trifásicos, os sistemas trifásicos podem
ser representados e calculados utilizando-se uma de suas fases e o neutro. Todavia,
tal procedimento não pode ser adotado quando ocorrem faltas assimétricas, as quais
provocam desequilíbrio dos sistemas. Nesses casos, os métodos tradicionais de
cálculo pelas leis de kirchhoff revelam-se muito trabalhosos e de trato difícil, devido à
presença de máquinas rotativas. O método das componentes simétricas facilita os
cálculos devido a sua simplicidade [8]. Quando as faltas não apresentam resistência
de falta são ditas como metálicas, ou seja, o contato é direto (entre fases ou a terra),
sem a presença do arco elétrico. Mais detalhes sobre o método das componentes
simétricas podem ser encontrados em [8] e [9].

2.4.1.1 – Curtos-Circuitos Trifásicos

É o tipo de falta de menor ocorrência no SEP, a qual não provoca


desequilíbrio no sistema, logo, admite-se que todos os condutores da rede são
solicitados de modo idêntico e conduzem o mesmo valor eficaz de corrente de curto.
Por isso é classificado como curto circuito simétrico e seu cálculo pode ser efetuado
por fase usando o Teorema da Superposição e o Teorema de Thevenin. A figura
2.26(a) e (b) representa respectivamente um diagrama esquemático e o equivalente
de fase do curto-circuito trifásico.

Z1 i1
rede a ia

b ib

c ic E1 Zg

Zg Zg Zg

(a) (b)

Figura 2.26 – (a) diagrama esquemático e (b) equivalente de fase de uma falta trifásica.

Para este tipo de curto-circuito a corrente de falta pode ser calculada usando
a expressão 2.6.

onde:

i3Ø à é a corrente de curto-circuito trifásica;

E1 à é a tensão de pré-falta;

Z1 à é a impedância de sequência positiva;

Zg à é a impedância de falta.

2.4.1.2 – Curtos-Circuitos Fase-Fase-Terra

É um tipo de falta assimétrica (desequilibrada), que ocorre quando há um


curto-circuito entre duas fases, e estas entram em contato com um ponto aterrado. A
figura 2.27(a) e (b) representa respectivamente um diagrama esquemático e o
diagrama de conexão das seqüências para o curto-circuito fase-fase-terra.

Z1 Zf i1 i0 3Zg
rede a ia = 0
i2
b ib Zf
Zf Zf
c ic
ib + ic E1
Zf Z2 Z0

Zg

(a) (b)
Figura 2.27 – (a) diagrama esquemático e (b) conexão das seqüências do curto fase-fase-
terra.

Para este tipo de curto-circuito, analisando o diagrama das seqüências


acima, conclui-se que, a corrente de falta pode ser calculada pela expressão 2.7.

( )

onde:

i2ØT à é a corrente de curto-circuito fase-fase-terra;

Z0 à é a impedância de sequência zero;

Z1 à é a impedância de sequência positiva;

Z2 à é a impedância de sequência negativa;

E1 à é a tensão de pré-falta;

Zf à é a impedância entre as fases envolvidas no curto;

Zg à é a impedância de falta.
2.4.1.3 – Curtos-Circuitos Fase-Fase

É um tipo de falta assimétrica, que ocorre quando há um curto-circuito entre


duas fases de uma rede. A figura 2.28 (a) e (b) representa respectivamente um
diagrama esquemático e o diagrama de conexão das seqüências para o curto-
circuito fase-fase.

Z1 i1 Zf

rede a ia = 0
i2
b ib

ic Zf E1
c Z2

(a) (b)
Figura 2.28 – (a) diagrama esquemático e (b) conexão das seqüências do curto fase-fase.

Para este tipo de curto-circuito analisando o diagrama das seqüências (figura


2,28 (b)), conclui-se que a corrente de falta pode ser calculada pela expressão 2.8.

onde:

i2Ø à é a corrente de curto-circuito fase-fase;

ic à é a corrente de curto-circuito da fase C;

ib à é a corrente de curto-circuito da fase B;

E1 à é a tensão de pré-falta;

Z1 à é a impedância de sequência positiva;

Z2 à é a impedância de sequência negativa;


Zf à é a impedância entre as fases envolvidas no curto.

2.4.1.4 – Curtos-Circuitos Fase-Terra

É um tipo de falta assimétrica, que ocorre quando há um curto-circuito entre


uma fase de uma rede, e esta entra em contato com um ponto aterrado. A figura
2.29 (a) e (b) representa respectivamente um diagrama esquemático e o diagrama
de conexão das seqüências para o curto-circuito fase-terra.

Z1 i1 3Zg Z0 i0

rede a ia

b ib = 0
Z2
c ic = 0 Zg E1

i2

(a) (b)
Figura 2.29 – (a) diagrama esquemático e (b) conexão das seqüências do curto fase-terra.

Para este tipo de curto-circuito e analisando o diagrama das seqüências


acima, conclui-se que a corrente de falta pode ser calculada pela Expressão 2.9.

onde:

i1Ø à é a corrente de curto-circuito fase-terra;

E1 à é a tensão de pré-falta;

Z0 à é a impedância de sequência zero;


Z1 à é a impedância de sequência positiva;

Z2 à é a impedância de sequência negativa;

Zg à é a impedância de falta.

Depois de verificarmos como ocorrem e como são calculadas as correntes de


curto-circuito no SEP, pode-se agora dar ênfase a análise e o princípio de
funcionamento da proteção de distância.

2.4.2 – Relé de Distância

O relé de distância recebeu este nome genérico, devido a sua filosofia de


funcionamento se basear na impedância, admitância ou reatância vista pelo relê.
Como esses parâmetros são proporcionais à distância, daí a origem do nome deste
relé. Na verdade o relé vê o parâmetro da linha ou sistema e não a distância
propriamente dita. Este relé supre a deficiência dos relés citados anteriormente,
produzindo uma proteção fácil de ajustar e coordenar. O relé de distância opera
medindo o parâmetro da LT até o ponto do curto-circuito ou da carga, baseando-se
nas grandezas medidas por TCs e TPs. O código ANSI para o relé de distância é 21.
Na figura 2.30 está representado o diagrama unifilar da conexão do relé 21.

TC
Dj

21 Relé

TP

Figura 2.30 – Diagrama unifilar do relé de distância.


São vários os fatores a serem considerados para uma medição correta da
impedância de falta, entre eles destacam-se: o tipo de falta, as fases envolvidas na
falta, a resistência de falta, o acoplamento mútuo entre linhas, o carregamento pré-
falta, fontes intermediárias e a presença de compensação série na linha de
transmissão. Portanto, a impedância não se resume à simples razão entre tensão e
corrente medidos pelo relé (Z=V/I), o que implicaria em um relé de distância de baixo
desempenho [10]. Os relés 21 representam uma classe de relés que são conhecidos
por relé de impedância, relé de admitância (MHO) e o relé de reatância.

2.4.2.1 – Relés de Impedância

O relé de impedância opera para valores de impedância menores que um


valor pré-estabelecido (valor de ajuste).

Este relé mede continuamente a corrente e a tensão do loop de falta,


monitorando a impedância vista pelo relé. A corrente de polarização pode ser vista
como a grandeza de operação, enquanto o sinal de tensão é a grandeza de restrição
à operação. Durante condições de curto-circuito, a probabilidade de operação
aumenta em função da redução da impedância do loop de falta, que acompanha a
redução da tensão, e o aumento das correntes de curto associadas aos sinais de
polarização do relé. O esquema da figura 2.31 mostra um relé convencional
eletromagnético. Este opera quando a força da grandeza de operação excede a
força da grandeza de restrição.

Batente

Vem do TP Km
τ- τ+ Circuito DC
Vem do TC Bobina de
Bobina de
Operação
Retenção
(τ +)
(τ -)
Figura 2.31 – Princípio de funcionamento do relé de impedância eletromagnético.

A expressão 2.10 representa a ação das forças que agem no braço,


produzindo torque resultante.

onde:

Km à é o torque devido à mola de restrição.

Trabalhando no limiar de operação, ou seja, no ponto de equilíbrio, onde o


torque resultante é nulo, e manipulando de maneira adequada a expressão 2.10
obtém-se:

Dividindo a Expressão 2.11 pelo termo , temos que:

( )

Em função do elevado valor de corrente em situações de falta, concluímos

que o termo da expressão 2.12 pode ser desprezado. Feito esta consideração e

admitindo a lei de ohm, obtém-se:

( ) √
Da teoria de circuitos elétricos, a impedância pode ser representada por um
número complexo, dado por:

No diagrama fasorial R-X, a expressão 2.14, representa a equação de uma


circunferência com centro na origem e raio igual a K, como mostra a figura 2.32.

jX
Região Região
De Não De Não
Operação Operação
Região
de K

Operação R

Região Região
De Não De Não
Operação Operação

Figura 2.32 – Esquema no plano R-X do relé de impedância.

Analisando a expressão 2.13 e a figura 2.32, pode-se concluir que para


qualquer impedância posicionada sobre a fronteira da circunferência, o relé 21
estará no seu limiar de operação. Para qualquer impedância localizada dentro da
região da circunferência o relé 21 irá operar, e qualquer impedância vista fora da
região da circunferência, o relé 21 não irá operar [1].

O ajuste do relé 21 é dado pela sua impedância de ajuste, que é exatamente


o raio da circunferência, o qual já foi denotado na expressão 2.13.

2.4.2.1.1 – Direcionalidade do Relé de Impedância


Pela característica da figura 2.32, pode-se constatar que o relé de
impedância não possui direcionalidade. A figura 2.33 mostra um exemplo do
problema causado pela não direcionalidade do relé de impedância considerando um
sistema em anel com duas LTs.

jX

C
B ƟBC
80% LT BC

80% LT AB
ƟAB
A R

Figura 2.33 – Esquema com dois relés de impedância sem direcionalidade.

Como se pode notar no trecho comum (hachurado), os dois relés atuariam


instantaneamente, mas somente o relé A atuaria corretamente, já o relé B atuaria
indevidamente. Isto ocorre devido a não direcionalidade do relé de impedância.
Deste modo para que o relé de impedância possa operar num sistema em anel, o
mesmo deve operar em conjunto com um relé direcional 67. Neste esquema o relé
direcional monitora a operação do relé de impedância [1]. O acoplamento desses
dois relés pode ser observado na figura 2.34.

Normal
jX (Máximo
Não Atua Torque)

Atua Limiar do
Relé de
Impedância

R
Não Atua

Limiar do
Relé
Direcional
Figura 2.34 – Relé de impedância em conjunto com o relé direcional.

Como se pode perceber pela análise da figura 2.34, o acoplamento do relé


21 com o relé 67 confere direcionalidade à proteção e somente os defeito
localizados na frente do relé dentro de sua zona de proteção serão detectados e
eliminados. Se for conferido direcionalidade aos dois relés da figura 2.33, a proteção
terá condições de atuar adequadamente para o sistema em questão, como mostra a
figura 2.35.

jX

C
B ƟBC
80% LT BC

80% LT AB

AA R

Figura 2.35 – Esquema com dois relés de impedância em conjunto com o relé direcional.

2.4.2.1.2 – Impedância Vista Pelo Relé de Impedância

Como foi visto anteriormente, o relé de impedância está conectado via


secundário do TC e TP, portanto, o valor regulado no relé de impedância deve
corresponder ao valor real da impedância no trecho da LT que se queira proteger. O
valor da impedância vista pelo relé de impedância é:
como:

Fazendo as substituições necessárias, tem-se:

onde:

Zprimária à é o valor da impedância real no primário;

Zsecundária à é o valor da impedância vista pelo relé de impedância;

RTC à é a relação de transformação do TC;

RTP à é a relação de transformação do TP.

2.4.2.1.3 – Zonas de Atuação do Relé de Impedância

O relé de impedância não possui apenas uma zona de alcance, como


mostrado anteriormente. Este possui três ou quatro zonas, onde, para qualquer
defeito dentro do círculo da primeira zona, a atuação do relé é instantânea, e para
qualquer defeito dentro dos círculos das outras zonas a atuação será temporizada.
Este relé opera como se fossem três ou quatro relés em um só.

A temporização da 4ª zona é maior que a da 3ª zona que é maior que a da 2ª


zona. Por segurança, a 4ª zona seria mais uma retaguarda longa, cuja regulagem
alcançaria grande extensão do sistema elétrico em questão. No entanto, alguns
relés podem ter a 4ª zona com direção oposta as demais zonas, ou seja, a referida
zona está direcionada reversamente.

As características de atuação do esquema de zonas do relé de impedância


são mostradas na figura 2.36.

jX

Z3
Z4
Z2

Z1

Limiar do
Relé
Direcional

Figura 2.36 – Zonas de atuação do relé de impedância.

2.4.2.1.4 – Ajustes e Temporização das Zonas do Relé de Impedância

Ajustar um relé de impedância para cobrir uma determinada distância de uma


LT não apresenta dificuldade pelo fato de se ter a impedância da linha pré-calculada
com muita precisão.

Esta facilidade para um relé de distância se torna mais evidente quando se


tenta ajustar, por exemplo, um relé de sobrecorrente, onde o valor a ser ajustado
dependerá do valor de Icc pré-calculado. Na prática, a Icc poderá no máximo ser
aproximadamente igual ao calculado. Entretanto, é comum possuir correntes
menores ou muito menores que o previsto, em vista das impedâncias envolvidas
caso a caso [11].
Considerando um relé de impedância com três zonas, o ajuste da
impedância e tempo deve ser feita para cada zona em separado. A filosofia de
regulagem e ajuste de tempos de coordenação são apresentados da seguinte
maneira:

a. 1ª zona – Para esta zona, o ajuste do relé de impedância deve possuir valor
de 80% da LT a jusante do relé, como também, deve disparar
instantaneamente, ou seja, (T1 = 0) para qualquer defeito que ocorra na
linha protegida.

b. 2ª zona – Para esta zona, o ajuste do relé de impedância deve possuir valor
de 100% da LT a jusante do relé somado a 50-60% da LT seguinte, como
também, deve possuir uma temporização (T2 = T1+Δt = 0+Δt = Δt) para
qualquer defeito que ocorra na linha protegida.

c. 3ª zona – Para esta zona, o ajuste do relé de impedância deve possuir valor
de 100% da LT a jusante do relé, somado a 100% da LT seguinte, somado
a 20-30% da próxima LT, como também, deve possuir uma temporização
(T3 = T2+Δt = 2Δt) para qualquer defeito que ocorra na linha protegida.

A figura 2.37 apresenta um diagrama unifilar mostrando as zonas de atuação


de um relé de impedância com supervisão de um relé direcional conectado em uma
barra A específica.
3ª Zona

2ª Zona

1ª Zona
A C D
TC
B
Dj Dj Dj Dj Dj Dj

21 Re
TP
80% LT AB 50% LT BC 30% LT CD

Figura 2.37 – Zonas de atuação do relé 21/67 na barra A.

2.4.2.2 – Relés de Admitância

Também conhecido como relé MHO, é um relé de distância 21 que segue a


mesma filosofia do relé de impedância, mas com características um pouco diferente.
O relé de admitância do tipo eletromecânico tem um cilindro de indução onde atuam,
a corrente que produz torque de operação e a tensão que produz o torque de
restrição [1].

A expressão 2.16 representa a iteração dos fluxos magnéticos originados


pela tensão e corrente, que produz no relé de admitância o torque motor.

onde:

r à é o ângulo de máximo torque do relé de admitância;

E à é a tensão de polarização do relé (restrição);

I à é a corrente efetiva de operação do relé;

θ à é o ângulo de defasagem entre E e I.


Trabalhando no limiar de operação, ou seja, no ponto de equilíbrio, onde o
torque resultante é nulo, e manipulando de maneira adequada a expressão 2.17
obtém-se:

Dividindo a expressão 2.18 pelo termo , a referida expressão resulta em:

Pode-se notar que o termo da expressão 2.19 é a admitância. Feito esta

consideração, obtém-se:

Como a impedância Z é o inverso da admitância Y, pode-se também


expressar a expressão 2.20 em função de Z. Isto é:

θ θ

Fazendo o diagrama fasorial jBxG de todas as admitâncias que satisfazem a


expressão 2.20, obtém-se a figura 2.38.
jB

Não Opera Limiar da


Operação

Opera Normal

Figura 2.38 – Diagrama fasorial do limiar de operação do relé de admitância.

O lugar geométrico no diagrama R-X da impedância Z que satisfaz a


expressão 2.21, é uma circunferência como mostra a figura 2.39

jX

Z Máx

Opera

r
R

Figura 2.39 – Esquema no plano R-X do relé de Admitância.

2.4.2.2.1 – Direcionalidade do Relé de Admitância


Como se pode notar na figura 2.39, a circunferência do relé de admitância

passa pela origem, seu diâmetro têm ângulo r com valor de ( ) e possui

centro igual a ( ). Pela Própria característica da circunferência, conclui-se que o


relé de admitância é direcional, sendo esta natureza muito importante, pois a sua
seletividade é garantida, sem utilizar-se de um relé direcional adicional. Em outras
palavras, o relé só atua para defeito cuja impedância esteja dentro do circulo e na
frente do ponto de instalação do relé, o que faz com que ele possa ser utilizado
diretamente na proteção dos sistemas em anel [1].

A figura 2.40 mostra um exemplo da direcionalidade do relé de admitância


considerando um sistema em anel.

jX C

80% LT AB

Limiar da 1ª
B BC Zona do Relé B

80% LT AB

Limiar da 1ª
AB Zona do Relé A
A R

Figura 2.40 – Esquema com dois relés de admitância conferindo direcionalidade ao sistema.

2.4.2.2.2 – Zonas de Atuação do Relé de Admitância

Da mesma forma como o relé de impedância, o relé de admitância também


contém três zonas de atuação, que estão representadas na figura 2.41.
ra
pe
oO
jX


Zona 3 Z Máx

Zona 2

Zona 1 Não Opera


r
R

Figura 2.41 – Zonas de atuação do relé de admitância.

2.4.2.2.3 – Ajustes e Temporização das Zonas do Relé de Admitância

Os procedimentos para os ajustes das zonas de atuação do relé de


admitância são praticamente os mesmos para os ajustes das zonas de atuação do
relé de impedância. A diferença é que para o relé de admitância estes ajustes
devem ser corrigidos, porque a característica da inclinação da circunferência do
limiar de operação do relé de admitância, ou seja, o ângulo de inclinação do
diâmetro ou ângulo de máximo torque do relé r não coincide com o ângulo natural da
impedância da LT, a qual o relé está protegendo. Os ajustes reais das zonas de
atuação do relé de admitância são mostrados na figura 2.42.

30% LT CD
jX
C CD
50% LT BC Z3 zona
jX B
80% LT AB
 BC Z2 zona
B
Z Ajuste

2 3
C
AB
r Limiar do Relé
de Admitância AB
r
A A R
R
Figura 2.42 – Ajustes das zonas de atuação do relé de admitância.

De acordo com a figura 2.42, pode-se calcular os ajustes das zonas de


atuação do relé de admitância da seguinte forma:

a. 1ª zona – A impedância de ajuste (Zajuste) do relé de admitância relativo a


esta zona é:

b. 2ª zona – A impedância real para proteger esta zona, será a corda da


circunferência do limiar da 2ª zona, cujo valor é:

onde:

θ2 à é o ângulo da impedância .

c. 3ª zona – A impedância real para proteger esta zona, será a corda da


circunferência do limiar da 3ª zona, cujo valor é:

| |

onde:

θ3 à é o ângulo da impedância .

2.4.2.3 – Relés de Reatância


É um relé de distância que opera somente com sensibilidade na reatância do
sistema protegido. Seu torque motor é dado pela expressão 2.25.

Trabalhando no limiar de operação, ou seja, no ponto de equilíbrio, onde o


torque resultante é nulo, e manipulando adequadamente a expressão 2.25 tem-se:

Dividindo a expressão 2.26 pelo termo , a referida expressão resulta em:

Em função do elevado valor de corrente em situações de falta, conclui-se que

o termo da expressão 2.27 pode ser desprezado. Feito esta consideração

obtém-se:

E considerando que:
Portanto, a expressão 2.29 acaba se transformando na expressão 2.30, que
representa o lugar geométrico do limiar de operação do relé de reatância.

O lugar geométrico do limiar de operação do relé de reatância e de todas as


impedâncias que satisfazem a expressão 2.30 está representado na figura 2.43.
Não Opera

jX

Limiar de
Operação
Opera

Figura 2.43 – Diagrama do lugar geométrico do limiar de operação do relé de reatância.

Conforme se pode observar na figura 2.43, os relés de reatância ocupam


uma área infinita no diagrama polar, não são capazes de discriminar direcionalidade
a proteção e só atuam para valores de reatância menores que os valores de ajustes
do relé. A grande vantagem desses relés reside no fato de os mesmos são
insensíveis ao efeito das resistências de arco voltaico.
2.4.2.3.1 – Relé de Reatância e o Arco Elétrico

Em qualquer curto-circuito, no local do defeito, sempre haverá a presença do


arco elétrico [12]. O arco elétrico tem característica puramente resistiva, logo, sua
resistência elétrica equivalente é paralela ao eixo das resistências no diagrama R-X.
Portanto, a impedância vista pelo relé será a impedância da LT somada com a
resistência do arco elétrico (Zvista = Zdefeito + Rarco elétrico) [1].

O valor máximo do arco elétrico é praticamente o mesmo em qualquer ponto


do sistema independentemente do local da falta. Partindo deste princípio a
impedância vista pelo relé 21 será como mostrada na figura 2.44.

jX B
Resistência do
Arco Elétrico

A
R

Figura 2.44 – Impedância vista pelo relé 21.

Devido às características mencionadas anteriormente, a resistência de arco,


pode jogar o ponto da impedância vista pelos relés de impedância e admitância para
fora da zona de atuação devida, causando uma redução do alcance na LT protegida,
como mostra a figura 2.45.
jX
80% LT AB
R Arco
Redução no
alcance

Impedância
vista pelo Relé

A R

Figura 2.45 – Redução no alcance dos relés de Impedância e Admitância pela resistência
de arco.

Este problema é facilmente contornado com o uso do relé de reatância. Mas


pelo fato de se tratar de um relé de características abertas (só vê reatância), poderá
causar atuação indevida quando a carga tiver elevado fator de potência e mesmo
para condições de cargas puramente resistivas e indutivas até um determinado grau,
o que o torna inconveniente quando não supervisionado por outro relé com
característica fechada no plano R-X. Por este motivo o relé de reatância deve operar
juntamente com um relé de admitância o qual deverá estar ajustado apenas em uma
zona. Como se pode observar, a figura 2.46 mostra um relé de reatância atuando
com duas zonas acoplado a um relé de admitância.

Relé de
Admitância
jX

3ª Zona

Relé de
2ª Zona Reatância

1ª Zona

Figura 2.46 – Relé de reatância com duas zonas acoplado ao relé de admitância.
Com o acoplamento dos dois relés (Reatância e Admitância) fica garantida a
imunidade em relação à flutuação da carga para qualquer situação, conforme mostra
a figura 2.47.

Lugar Geométrico
das Cargas
jX

Z Cidade
B

R
A
Z Vista pelo Relé

Figura 2.47 – Impedância vista pelo relé de reatância e admitância.

Analisando a figura 2.47, pode-se verificar que na operação normal do


sistema, a impedância vista pelo relé está longe e fora da circunferência, ou seja, do
limiar de operação do relé de admitância. Mas se houver um defeito na LT protegida,
mesmo com a influência do arco elétrico, o ponto se deslocaria. Todavia, mesmo
assim, seria visto pelo relé de reatância e admitância, fazendo com que a proteção
atuasse, eliminando o referido defeito. A figura 2.48 mostra detalhes da figura 2.47.

Relé de
Admitância
jX
3ª Zona
80% LT AB B 2ª Zona
CIDADE

Relé de
Reatância
1ª Zona

A R

Figura 2.48 – Detalhe referente à figura 2.47.


2.4.2.4 – Formas Geométricas das Características dos Relés de Distância

As formas geométricas das características dos relés são restringidas pela


tecnologia utilizada na fabricação dos mesmos, ou seja, quanto mais elevada é a
tecnologia, mais complexas serão as formas geométricas. Enquanto as
características normalmente obtidas no passado com a tecnologia dos relés
eletromecânicos eram apenas retas e círculos, com o apoio da tecnologia digital
moderna atrelada aos microprocessadores, pode-se obter características das mais
variadas formas, como na forma tomate, reticular, trapezoidal, retangular, poligonal,
etc..

Uma característica amplamente usada é a quadrilateral a qual possibilita


envolver a impedância dos circuitos de transmissão somada aos efeitos conjugados
de carregamento pré-falta e resistência de arco elétrico de curto-circuito. A figura
2.49 mostra alguns exemplos dos tipos de formas geométricas existentes com suas
zonas distintas de atuação, que podem ser configuradas nos relés com tecnologia
digital [1] e [13].
jX B jX B

A R A R

(a) Relé 21 Tipo (b) Relé 21 Tipo


Lente Tomate

jX B jX B

A R A R
(d) Relé 21 Tipo
(c) Relé 21 Tipo Poligonal
Paralelogramo jX B

A R
(e) Relé 21 Tipo
Blinder

Figura 2.49 – Relés de distância com zonas distintas de atuação.


2.4.2.5 – Fenômenos que Influenciam na Atuação dos Relés de Distância

Dentre os fenômenos que influenciam o desempenho do relé de distância,


destacam-se a resistência de arco, carregamento pré-falta, o acoplamento mútuo
entre linhas, as fontes intermediárias (infeed e outfeed) e a compensação série [14].

Esses fenômenos, dependendo das características do sistema em questão,


podem fazer com que o relé de distância venha subalcançar ou sobrealcançar os
seus ajustes de atuação, baseados na impedância da LT protegida.

2.5 – Teleproteção

Como já definido anteriormente, o sistema de proteção deve ser rápido e


seletivo na eliminação da falta no sistema protegido. Para o esquema convencional,
a combinação de alta velocidade com garantia de seletividade em geral não é fácil
de ser conseguido.

O esquema de teleproteção é uma solução inteligente que visa aliar a


rapidez de atuação de uma proteção à seletividade requerida. Este tipo de esquema
utiliza comunicação entre relés das barras adjacentes de uma LT. É um sistema de
proteção onde um dado terminal é informado pelo terminal remoto da existência de
falta na zona de interesse, utilizando-se de um sistema de transmissão via canal
piloto (fio piloto, onda portadora, microondas ou fibra óptica), com um transmissor e
um receptor em cada um dos terminais. A rapidez de atuação, aliada a seletividade,
é conseguida porque o terminal remoto, possuindo sensores adequados para
sentirem a direção do fluxo de corrente de falta, fornece quase que
instantaneamente esta informação ao outro terminal [14] e [15]. A figura 2.50 mostra
simplificadamente o esquema de proteção de uma LT utilizando a teleproteção.
Barra A Barra B

Dj Dj

RA RB
Re Via de Comunicação Re
Figura 2.50 – Esquema simplificado de teleproteção.

2.5.1 – Tipos de Canais Piloto

As características dos diferentes canais piloto utilizados atualmente são


mostradas na tabela 2.2.

Tabela 2.2 – Tipos de canais pilotos utilizados atualmente.

Canal Piloto Meio de Propagação Sinal

Fios telefônicos, cabos, DC, AC (60 Hz) ou AC


Fio Piloto
fios nus, etc. (áudio -20 Hz a 20 kHz)

Onda Portadora
Linha de transmissão. AC (30 kHz a 600 kHz)
(Carrier)

Ar, através de um sistema


Microondas AC (acima de 1000 kHz)
apropriado de antenas.

Fibra ótica no núcleo dos Ótico (comprimento de


Fibra Ótica
cabos pára-raios onda de 0,3 a 30 µm)

Na teleproteção é imprescindível que o meio de comunicação tenha alta


confiabilidade e alta velocidade. Isto porque a teleproteção é um componente
incorporado ao sistema de proteção. Desse modo, é importante considerar a
segurança do meio de comunicação, principalmente quanto à sua exposição física.
Geralmente em LTs, o sistema de comunicação abrange todo o comprimento da
linha, ficando exposto a intempéries, inclusive vandalismo [15].
2.5.2 – Esquemas de Teleproteção

A escolha de um esquema de teleproteção depende do comprimento da LT,


do tipo de proteção a ser utilizado, das características do sistema, do tempo de
desligamento requerido, do tipo de canal de comunicação e da filosofia particular de
cada empresa.

Atualmente existem vários tipos de esquemas de teleproteção em operação,


os quais podem ser classificados da seguinte maneira:

a. Bloqueio por Comparação Direcional ou Comparação Direcional por


Bloqueio (Blocking);
b. Desbloqueio por Comparação Direcional ou Comparação Direcional por
Desbloqueio (Unblocking);

c. Transferência por Disparo Direto por Subalcance (Direct Underreach


Transfer Trip – DUTT);

d. Transferência de Disparo Permissivo por Subalcance (Permissive


Underreach Transfer Trip – PUTT);

e. Transferência de Disparo por Sobrealcance (Permissive Overreach Transfer


Trip – POTT).

No esquema envolvendo teleproteção qualquer relé pode ser utilizado, sendo


mais comum o uso dos relés 21, 67, 50 e 51.

No próximo capítulo são apresentadas todas as Funções de proteção


intrínsecas dos relés digitais usados pela empresa Eletrobrás-Eletronorte na
proteção de suas linhas de transmissão de 500 kV, na subestação de Tucuruí.
CAPÍTULO 3

PROTEÇÕES ADOTADAS PELA ELETROBRÁS- ELETRONORTE EM


SUAS LINHAS DE TRANSMISSÃO DE 500 kV NA SUBESTAÇÃO DE
TUCURUÍ

3.1 – A Eletronorte

As Centrais Elétricas do Norte do Brasil (ELETRONTE), hoje chamada de


Eletrobrás-Eletronorte é uma empresa do setor elétrico brasileiro. Foi criada em 20
de junho de 1973, com sede no Distrito Federal, subsidiária das Centrais Elétricas
Brasileiras (ELETROBRÁS) e vinculada ao Ministério de Minas e Energia. É uma
sociedade anônima de capital fechado que atua no segmento de geração e
transmissão de energia elétrica de alta e extra-alta tensão na Região Amazônica
(estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia,
Roraima, e Tocantins). Por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN), a empresa
comercializa energia em todo o território nacional.

Na cidade de Tucuruí, a Eletrobrás-Eletronorte é responsável pela operação,


manutenção, obras de expansão e controle da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT) e
da Subestação de Tucuruí (SETC).

A subestação de Tucuruí é responsável pelo despacho, através das LTs, de


toda energia gerada pela UHT. Ela possui um total de onze linhas de interligação
com a UHT em 500 kV, sete saídas de linhas em 500 kV, totalizando 1877,5 km de
extensão, duas saídas de linhas em 230 kV, totalizando 334,6 km e três linhas de
interligação em 69 kV. Das sete saídas de linhas em 500 kV, quatro são interligadas
com a subestação de Marabá e três com a subestação de Vila do Conde. Para essa
classe de tensão o arranjo adotado pela empresa em suas subestações é do tipo
disjuntor e meio. Esse arranjo tem uma boa confiabilidade e flexibilidade nos que diz
respeito às manobras executadas no sistema. A figura 3.1 mostra um esquema
envolvendo o arranjo do tipo disjuntor e meio.

Barra 1 Barra 2

Linha de Linha de
Entrada Saída
Dj Dj Dj

Linha de Linha de
Entrada Saída
Dj Dj Dj

Figura 3.1 – Esquema envolvendo arranjo do tipo disjuntor e meio.

Essas linhas de 500 kV operam com elevada carga, transmitindo a maior


parte desta energia para o Sul, Sudeste e Nordeste através da interligação Norte/Sul
e Norte/Nordeste, sendo a outra parte consumida aqui no Estado, principalmente
pelas fábricas de alumínio (Alunorte e Albrás) e pela mineradora Vale do Rio Doce
(extração do minério de ferro na Serra dos Carajás).

A empresa vem investindo significativamente na modernização de


equipamentos e substituição de seus sistemas de proteção, onde, os relés
eletromecânicos estão sendo substituídos por relés de tecnologia digital, com um
tempo de operação bem inferior aos eletromecânicos, além de serem mais
confiáveis e flexíveis. Essa modernização é devido à empresa experimentar grandes
mudanças estratégicas e também pela questão das mudanças nas leis de
penalização aplicadas às empresas de energia elétrica pela Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL). A ANEEL vem impondo pesadas multas para tais
empresas, realizando auditoria no que diz respeito aos números de desligamentos e
seu tempo de duração.

3.2 – Proteções das Saídas de Linhas de 500 kV

Quase todas as proteções das saídas de linhas de 500 kV da Eletrobrás-


Eletronorte já foram modernizadas, por meio da implantação de relés digitais, cujos
fabricantes são: Siemens e ABB. Esses relés apresentam características
multifuncionais, isto é, apresentam várias funções de proteção, monitoramento e
supervisão em um único conjunto de hardware, as quais podem ser habilitadas ou
não, de acordo com a necessidade de cada empresa. A Eletrobrás-Eletronorte usa
dois conjuntos de proteção (Proteção Principal e Proteção Alternada) para proteger
suas LTs de 500 kV. Os tipos de proteções habilitadas para as saídas de linha de
500 kV serão abordadas nos itens seguintes.

3.2.1 – Proteção de distância

De todas as funções deste relé, a função de proteção de distância 21 é a


mais importante. Ela possui circuitos de onde obtém valores de corrente e tensão
para a medida de distância até a falta, comparando os valores medidos com os
ajustes estabelecidos para a proteção (Loops). O tipo de partida escolhida para esta
proteção foi a de subimpedância (Z<), isto é, partida por subtensão supervisionado
pela intensidade de corrente [16].

Essa função de proteção possui seis zonas de atuação, onde existem três
zonas independentes habilitadas para operar apenas para defeitos na direção da LT
(direcionais), uma zona independente habilitada para operar para defeitos em ambas
as direções da LT (bidirecional), uma zona controlada habilitada para operar apenas
para defeitos na direção da LT (direcional) e uma zona desabilitada. A figura
geométrica adotada para representar essas zonas de proteção é a poligonal [16].
Como as características das proteções de distâncias já foram abordadas no capítulo
2, não será dado ênfase a tal assunto neste capítulo. Mas são calculados todos os
parâmetros de ajustes da referida proteção no capítulo seguinte.

3.2.2 – Proteção Contra Oscilação de Potência

Logo após eventos dinâmicos do sistema elétrico, tais como: mudança de


carga, curto-circuito, religamentos e manobras. É provável que os geradores se
realinhem entre si de forma oscilatória, para atender ao novo balanço do sistema
(oscilação de potência). A proteção de distância registra elevadas correntes
transitórias durante a oscilação, e particularmente no centro elétrico, ocorrem baixas
tensões. Tensões baixas associadas a correntes elevadas pressupõem impedâncias
pequenas, que podem levar ao desligamento indevido do sistema pela proteção de
distância [16]. Estas variações nas impedâncias seguem vários traçados como, por
exemplo, os mostrados na figura 3.2.

Lugar Geométrico
das Cargas
jX

R
A

Figura 3.2 – Característica de oscilação de potência em um sistema elétrico de potência.


Na oscilação de potência, a variação da impedância vista pelo relé, ou seja, o
traçado dos lugares geométricos das impedâncias varia com uma certa velocidade
dada em (Ω/s). Isto é, não são tão rápidos como os provocados pelo curto-circuito. A
função contra oscilação de potência (68) é ativada no relé com intuito de bloquear
todas as zonas do relé 21, para aumentar a segurança da proteção contra uma
operação indevida provocada por oscilação de potência [16].

3.2.3 – Proteção Energização Sob Falta (SOTF)

Sempre que uma LT estiver aberta e ocorrer algum curto-circuito durante a


energização (fechamento do disjuntor), a atuação do relé 21 ficará prejudicada,
porque sua operação (memória) estará desativada naquele momento. Portanto,
durante a energização de uma LT sob curto-circuito, o gradiente de crescimento da
Icc (corrente de curto-circuito) é grande e o da tensão é muito baixo, prejudicando
ainda mais o ajuste (V/I) do relé 21. Conseqüentemente, para este tipo de defeito em
linha desenergizada (morta) que está sendo energizada, a função de sobrecorrente
High Speed (50HS), que é supervisionada pela função de subtensão (27), é
habilitada neste relé [15] e [16].

O objetivo desta função é acionar o desligamento imediato da linha após


uma energização sob falta com valores elevados de corrente. Isto é, ela é usada
como proteção rápida quando se energizar uma LT com o aterramento temporário
conectado, devido a um eventual esquecimento por parte da equipe de manutenção.
Esta proteção também é ativada no instante em que parte a função de religamento
automático de uma LT. Para tanto, ela fica ativa apenas durante o fechamento do
disjuntor, cujo estado deve ser informado ao relé através de alguma entrada binária.

3.2.4 – Proteção Envolvendo Teleproteção

Para este tipo de proteção a Empresa usa como canal piloto o esquema de
Ondas Portadoras Sobre Linha de Alta Tensão (OPLAT). Isto é, ela utiliza o próprio
cabo condutor da LT para propagação do sinal de comunicação. Este esquema
também é conhecido como sistema Carrier, ele é muito econômico para um pequeno
número de canais a longas distâncias, tem um baixo custo de manutenção e não
necessita de estações repetidoras para transmissão a longa distância [11]. Os
componentes básicos do sistema Carrier são:

a. Bobina de Bloqueio – A bobina de bloqueio é uma indutância em série com


a LT, ou seja, um circuito ressonante que apresenta alta impedância para
freqüência operativa do Carrier, porém com impedância desprezível à
freqüência do sistema (60 Hz), ela se mostra como um filtro passa-baixas.
Essas bobinas evitam que a energia do sinal Carrier adentre nas
subestações, ou seja, as altas freqüências produzidas pelo sistema Carrier
flua para dentro das subestações, que operam com a frequência de 60 Hz.
A indutância de uma bobina de bloqueio pode variar de 0,1 mH a 2,0 mH,
dependendo da faixa de freqüências que ela deve bloquear.

b. Divisor Capacitivo de Potencial (DCP) – O DCP é um banco de capacitor


em série, que é usado tanto como divisor de tensão para conexão de
equipamento de proteção e medição, como para o acoplamento do
transmissor e receptor Carrier, usado para a transmissão de dados, voz e
sinal para a teleproteção [15].

c. Equipamento de sintonia – A unidade de sintonia é utilizada para obtenção


da largura da faixa de frequências desejada, realização do casamento de
impedâncias e isolação galvânica [11].

d. Transmissor e Receptor Carrier – É o equipamento terminal de Onda


Portadora. O transmissor deve ter potência suficiente para assegurar o
mínimo de relação sinal/ruído no receptor correspondente, mesmo em
condições adversas do meio de transmissão. O receptor deve ter alta
seletividade para minimização dos efeitos de fontes externas de ruídos
indesejáveis ou sinais interferentes de outros enlaces que utilizam
freqüências adjacentes [11].
A figura 3.3 apresenta simplificadamente o esquema de um sistema Carrier
com seus componentes básicos.

Figura 3.3 – Esquema simplificado de um sistema Carrier.

A empresa adotou o sistema de Transferência de Disparo por Sobrealcance,


também conhecido pela sigla POTT, como esquema básico de teleproteção a ser
usado em suas LTs de 500 kV.

A função do esquema POTT (85) faz uso da zona controlada (Z1B) do relé
de distância. Ou seja, ocorrendo uma falta dentro desta zona, um sinal permissivo é
enviado para a outra ponta da linha (terminal remoto), a qual se desligará se houver
detecção de falta dentro de sua Z1B. Além dessa unidade, também se emprega
nesse esquema de teleproteção a unidade de sobrecorrente direcional contra faltas
a terra (67N) de alta sensibilidade. A característica de permissividade desse
esquema se deve ao fato de sua atuação efetiva em cada terminal (disparo do
disjuntor) requerer uma permissão do relé do terminal remoto. A estrutura do
esquema POTT encontra-se ilustrado na figura 3.4.
Equipamentos de
Teleproteção

Figura 3.4 – Estrutura do esquema POTT.

Se uma extremidade detectar um defeito reverso, o que caracteriza uma falta


externa, não ocorrerá atuação da sua Z1B. Conseqüentemente, o sinal permissivo
não será enviado ao terminal remoto, ou seja, o sinal permissivo será bloqueado.
Esta programação também é aplicada à unidade 67N.

Esse esquema de teleproteção adotado pela Eletrobrás-Eletronorte, portanto,


utiliza a zona controlada (Z1B) e a unidade 67N de alta sensibilidade para tornar o
seu sistema de proteção mais rápido e seletivo.

3.2.5 – Proteção de Fraca Alimentação (Weak Infeed)

Se alguma das extremidades da linha apresentar pouca ou nenhuma


contribuição para o curto-circuito, sua função de proteção de distância, e até mesmo
a de sobrecorrente não atuarão. No esquema de teleproteção POTT, isto irá
ocasionar graves conseqüências, visto que o desligamento pela proteção depende
de recepção de sinal permissivo da outra extremidade da LT [16].
Neste caso, a função weak infeed (27WI) promoverá o reenvio (eco) do sinal
permissivo para outra extremidade da linha e, conseqüentemente, permitirá o
desligamento da linha pela teleproteção. Além disso, esta também pode produzir o
desligamento local da linha sob condições de fonte fraca. O eco é ativado quando há
recepção de sinal permissivo sem detecção de falta, estando o disjuntor fechado. O
desligamento local pode ser liberado, caso haja detecção de subtensão [16].

3.2.6 – Proteção de Sobrecorrente

Para a função de sobrecorrente, adota-se a característica de tempo definido


para os ajustes de seus parâmetros de atuação.

Considerando que a proteção de distância necessita das tensões para


funcionar adequadamente, e que a proteção de sobrecorrente de emergência
necessita apenas das correntes, esta função será automaticamente ativada, quando
houver perda dos sinais de tensão proveniente dos TPs. Em outras palavras, ela
funciona como função de retaguarda da proteção 21. Esta também é utilizada na
configuração disjuntor e meio, quando a seccionadora de linha está aberta com pelo
menos um disjuntor terminal fechado, onde há a possibilidade de ocorrer um curto-
circuito entre os disjuntores e a seccionadora de linha, a proteção que detecta esta
condição é denominada Stub Bus (50ST). A figura 3.5 mostra o trecho de atuação
da proteção stub bus.

Atuação da
Barra 1 proteção Barra 2
Stub Bus

Linha de Linha de
Entrada Saída
Dj Dj Dj

Figura 3.5 – Trecho de atuação da proteção Stub bus.


3.2.7 – Proteção de Sobrecorrente de Neutro

Em sistemas efetivamente aterrados, há grande possibilidade de haver falta


a terra com altíssima resistência de falta, tanto devido ao arco elétrico, quanto ao
aterramento das torres. Nesta condição, a proteção de distância provavelmente não
detectaria tais faltas, visto que a impedância medida estaria fora da característica
desta proteção [16].

Para estes casos, foram habilitadas as funções de sobrecorrente de neutro


que oferece maior segurança de atuação frente ao relé de distância, para tais tipos
de faltas. Esses relés de sobrecorrente também adotam a característica de tempo
definido para os ajustes de seus parâmetros de atuação.

3.2.8 – Proteção de Tensão

A proteção contra sobretensões (59) evita o estresse do equipamento elétrico


e problemas no isolamento, em virtude das altas sobretensões. Tensões
anormalmente altas freqüentemente ocorrem em linhas longas com baixo
carregamento, em sistemas ilhados com falha no regulador de tensão dos
geradores, após perda de grandes blocos de carga ou após o desligamento de
reatores de compensação da capacitância das linhas. A proteção 59 detecta as
tensões fase-neutro, tensões fase-fase, assim como também as tensões de
sequência positiva, negativa e zero [16].

A proteção de subtensão (27) pode ser aplicada, por exemplo, para


desconexão de equipamento elétrico ou em esquemas de rejeição de carga, onde
esta pode detectar problemas de estabilidade. Salienta-se que a proteção 27 detecta
as mesmas tensões da proteção 59, exceto as de seqüência negativa e zero.
3.2.9 – Localização de Defeitos

A determinação da distância da falta após um curto-circuito é um suplemento


importante das funções de proteção. A disponibilidade da linha de transmissão no
sistema elétrico pode ser aumentada quanto mais rápido se determinar o local da
falta e repará-lo. As funções de proteção contra curto-circuito simplesmente
comandam a partida da função de localização de falta. A função de localização de
falta pode ser iniciada por um comando de desligamento da proteção ou por cada
detecção de defeito. Essa proteção usa valores de impedância da linha para efetuar
seus cálculos a fim de fornecer a localização estimada do defeito.

3.2.10 – Proteção Contra Falha de Disjuntor (Breaker Failure)

Essa proteção detecta a falha de abertura de algum disjuntor envolvido na


ocorrência de uma falta qualquer no sistema sob sua supervisão. Esta falha do
disjuntor pode ser de origem mecânica ou elétrica.

A proteção contra falha de disjuntor (50/62BF) promove a abertura todos os


disjuntores mais próximos de modo a isolar o trecho sob curto-circuito do sistema em
questão. Os disjuntores mais próximos são geralmente os da barra na qual houve
falha do disjuntor [16].

Quando a proteção 50/62BF é acionada, perde-se a seletividade com vários


desligamentos de linhas ou cargas elétricas não envolvidas pelo defeito. De todas as
configurações de barras existentes, a de disjuntor e meio é a que menos sofre com a
perda de seletividade [15].

3.2.11 – Religamento Automático


A experiência mostra que cerca de 85% a 92% das faltas em linhas aéreas
de transmissão são do tipo temporários, ou seja, são eliminadas automaticamente
após o desligamento e religamento dessas LTs. Neste caso, o religamento
automático é adequado e vantajoso, diminuindo assim o tempo de indisponibilidade
do trecho defeituoso [16].

A função de religamento (79) executa o religamento tripolar da LT tanto para


faltas monofásicas como para faltas trifásicas. O acionamento desta função se dá
com o primeiro sinal de desligamento (trip) gerado por uma função de proteção
assinalada para iniciar o desligamento. Ela está ajustada para efetuar uma tentativa
de religamento tripolar com tempo morto de 10 segundos [16].

O tempo ajustado para essa função de religamento é chamado de tempo


morto, porque durante esse período o sistema ou a fase correspondente fica sem
tensão. Para maior chance de sucesso o tempo morto deve ser composto do tempo
de extinção natural do arco elétrico, do tempo de desionização (recuperação) da
rigidez dielétrica do ar e do tempo de segurança (folga), para estatisticamente não
haver reignição do arco elétrico neste período. [1] e [16].

3.2.12 – Função de Sincronismo e Verificação de Tensão

As funções de verificação de sincronismo e tensão (25) asseguram que a


estabilidade do sistema elétrico não seja prejudicada durante o fechamento da linha
sobre a barra. A função pode ser programada para verificar o sincronismo e tensão
durante o religamento automático, durante o fechamento manual ou ambos as
situações [16].
Esta função utiliza a tensão da LT e a tensão da barra para efetuar
comparações (magnitude, ângulo e freqüência), as quais são obtidas dos TPs. Para
que seja realizado o sincronismo, a diferença máxima de tensão entre a barra e a
linha deve ser de 11,1 V, a diferença máxima de freqüência entre a barra e a linha
dever ser de 0,2 Hz e a diferença máxima de ângulo entre a tensão da barra e a da
linha deve ser de 30° [16].

O procedimento de verificação de sincronismo e tensão pode ser selecionado


dentre os seguintes modos de operação:

a. Barra viva – Linha viva - ocorre à liberação de manobra quando a barra


energizada estiver em sincronismo com a linha energizada, ou seja, ocorre
liberação de manobra quando a diferença de tensão, freqüência e ângulo
entre barra e linha energizadas estiverem dentro dos limites ajustados.

b. Barra viva – Linha morta - ocorre à liberação de manobra quando a barra


estiver energizada e a linha desenergizada.

c. Barra morta – Linha viva - ocorre à liberação de manobra quando a barra


estiver desenergizada e a linha energizada.

d. Barra morta – Linha morta - ocorre à liberação de manobra quando a barra


estiver desenergizada e a linha desenergizada.

Como exemplo, a figura 3.6 mostra o diagrama funcional envolvendo as


unidades responsáveis pela proteção de uma determinada LT de 500 kV da
Eletronorte.
Figura 3.6 – Diagrama envolvendo as proteções de uma LT de 500 kV da Eletrobrás-
Eletronorte.

No próximo capítulo são efetuados todos os cálculos pertinentes aos


parâmetros de ajustes da função de distância, intrínseca dos relés digitais usados
pela empresa na proteção de suas linhas de transmissão de 500 kV, na subestação
de Tucuruí.
CAPÍTULO 4

CÁLCULO DOS AJUSTES DA FUNÇÃO DISTÂNCIA DAS LINHAS DE


500 kV DA ELETROBRÁS-ELETRONORTE NA SUBESTAÇÃO DE
TUCURUÍ

4.1 – Cálculos dos Ajustes da Proteção de Distância

Como já foi dito no capítulo anterior, a função de distância é a principal e mais


importante proteção das linhas de 500 kV da Empresa. Nesta capítulo é enfatizado a
operação de todos os cálculos referentes aos ajustes dos parâmetros relacionados a
esta proteção. Para tanto, é analisado como exemplo a proteção 21 da linha
Tucuruí-Marabá circuito quatro (TCMB-LA7-04), onde são utilizados os relés 7SA612
e 7VK611 da Siemens para proteção desta LT.

4.1.1 – Dados da Linha de Transmissão

A tabela 4.1 apresenta os dados referentes à capacidade máxima de


corrente desta linha de transmissão e seu comprimento.

Tabela 4.1 – Capacidade e comprimento da linha de transmissão

Bitola do Cabo Capacidade da Linha Comprimento da


Linha

4x954 MCM 4.040 A 217,2 km


4.1.2 – Relação de Transformação do TC e do TP

A tabela 4.2 apresenta as relações de transformação máximas dos TCs e


TPs utilizados na proteção da linha em análise seguindo o padrão Europeu.

Tabela 4.2 – Relações de transformação do TC e do TP

Equipamento Relações Existentes Relação Ligada

TC 3000 – 1 A 3000:1

TP √ 4500:1

4.1.3 – Dados do Banco de Capacitor Série Instalado em Marabá

Os dados do banco de capacitor série instalado na subestação de Marabá


encontram-se na tabela 4.3.

Tabela 4.3 – Dados do banco de capacitor série da subestação de Marabá

Subestação Impedância Impedância Corrente Nível de Tensão de


do Primário do nominal proteção corte do
Secundário MOV

Marabá 17,6 Ω 11,73 Ω 2.300 A 2,45 140,4 kV


(pico)

4.1.4 – Cálculo das Impedâncias da Linha TCMB-LA7-04

Utilizando os valores de base (Pbase = 100 MVA e Vbase = 500 kV), podem-se
obter os valores das impedâncias primárias em Ohms, na forma cartesiana e polar,
aplicando-se as expressões:
Onde os valores percentuais da resistência e reatância das expressões 4.2 e
4.2 foram obtidos através de estudo e testes de curto-circuito no sistema em
questão, e possui valores iguais a:

 Z1 = Z2= 0,146 + j 2,303 % (impedância de sequência positiva e negativa)


 Z0= 2,478 + j 11,146 % (impedância de sequência zero)

Substituindo esses valores percentuais nas expressões 4.1 e 4.2 tem-se na


forma retangular:

Estes valores podem ser calculados na forma polar utilizando as expressões:


( )

Para obter os parâmetros acima na forma polar, substituem-se os devidos


valores nas expressões 4.3 e 4.4, logo:

√ θ θ ( )

√ θ ( )

Utilizando as relações do TC e TP da linha, podem-se obter os valores das


impedâncias secundárias em ohms, aplicando-se as expressões:

Para obter os valores da impedância secundária, substituem-se os devidos


valores nas expressões 4.5 e 4.6, logo:
na forma polar tem-se:

√ θ θ ( )

√ θ ( )

4.1.5 – Cálculo do Fator de Compensação Residual

O cálculo deste fator é essencial para uma correta medida da distância da


falta (proteção de distância e localização de faltas) durante faltas para terra. Ele se
relaciona com a impedância de terra (ZG ou ZE). Isto é, ele se relaciona com o
retorno de corrente de terra que é usado para o cálculo da impedância Fase-Terra.
Esses valores podem ser calculados usando as seguintes expressões:
 Fator de compensação de seqüência zero resistivo

( )

 Fator de compensação de sequência zero reativo

( )

Substituindo os devidos valores nas expressões 4.7 e 4.8, tem-se que:

( ) ( )

Durante os testes e ensaios realizados, o valor de RE/RL = 5,32 mostrou-se


elevado para o ajuste da primeira zona da função 21 provocando, em alguns casos,
a atuação da primeira zona pela impedância de carga. Portanto, os ajustes adotados
de RE/RL para todas as zonas foram no valor de 2,00 e os de XE/XL para todas as
zonas foram no valor de 1,28.

4.1.6 – Cálculo da Resistência de Carga e Ângulo de Carga

Por meio da determinação desses parâmetros (resistência e ângulo de


carga) é que se define a característica trapezoidal para a área de carga, dentro da
qual a função de distância é impedida de partir, levando em consideração que em
linhas altamente carregadas, o risco da impedância de carga entrar nas
características das zonas de atuação da proteção de distância é elevado. Logo,
apresenta-se a característica trapezoidal para a área de carga com o intuito de se
evitar o risco de desligamento por correntes de carga [16].

Considerando a tensão mínima da linha sendo um valor 10% abaixo da


tensão base e o carregamento máximo da linha sendo de 2.000 A tem-se:

√ √

Transformando os valores primários para valores secundários, tem-se:

Aplicando um fator de segurança de 80% para a resistência de carga do


secundário, obtém-se:

Para o cálculo do ângulo de carga, considera-se um fator de potência de 0,8.


Com isso:

Aplicando uma margem de segurança de 8,1° para o ângulo de carga,


obtém-se:
Esses valores serão utilizados para a parametrização da zona de carga que
possui característica trapezoidal.

4.1.7 – Geometria Poligonal com Direcionalidade

A direção do curto-circuito é determinada utilizando o vetor de impedância da


linha (ZL), aliado a várias técnicas computacionais que dependem da qualidade de
valores medidos nos ensaios [16]. A figura 4.1 mostra o exemplo da característica
direcional desta proteção para esta linha, no diagrama R-X.

30,0°

Não-Direcional
Para Frente

22,0° R

Reversa
Não-Direcional

Figura 4.1 – Característica direcional no diagrama R-X.

É definida uma geometria no formato de polígono para cada uma das zonas
de atuação da função de distância. São cinco zonas independentes e uma
controlada, num total de seis. Em geral o polígono é definido por meio de um
paralelogramo que intersecta os eixos com os valores de R e X, juntamente com o
ângulo da Linha (φlinha). Um trapézio de carga com os ajustes da resistência de carga
(Rcarga secundário) e o ângulo da carga (φcarga) será usado para interceptar fora do
polígono à área da impedância de carga. Os parâmetros da linha e da carga são
comuns para todas as zonas. O paralelogramo é simétrico com relação à origem do
sistema de coordenadas R-X, contudo a característica direcional limita o alcance nos
quadrantes desejados [16].

Somente na primeira zona há um ângulo de inclinação (α), que pode ser


utilizado para evitar sobrealcance devido a uma eventual diferença de ângulo entre a
impedância de sequência positiva e de seqüência zero, ou a contribuição de ambas
as extremidades para um curto-circuito com resistência de falta [16].

A figura 4.2 mostra um exemplo da geometria poligonal onde, a terceira zona


possui direção reversa e a quinta zona é bidirecional (adirecional), ou seja, ela
detecta o defeito em ambas as direções da LT. Na figura 4.3 tem-se a noção de
como estão configuradas às direções das zonas da função 21.

X
Característica da
Pa

linha
ra
Fre
ten

Z5
Z4
Z2
Z1B
α
R e ve Z1
rsa

φ linha Área de carga


Área de carga φ carga

Para
Fren
te
Z3
R
ev
er
sa

Figura 4.2 – Exemplo de geometria poligonal com direcionalidade.


Bidirecional ( Adirecional)

Reversa Direcional
TC
Dj

21 Re
TP
Tucuruí Marabá

Figura 4.3 – Direções das zonas do relé 21.

4.1.8 – Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Primeira Zona

A primeira zona (Z1) do relê 21 é instantânea e está habilitada para detectar


e eliminar defeitos que estejam na direção da LT (direcional), e dentro de sua zona
de atuação. Esta zona será parametrizada para obter um alcance de 80% do
comprimento da linha, que corresponde a 80% do valor da reatância total da LT.

4.1.8.1 – Influência da Compensação Série

Sabe-se que a utilização de capacitor série numa LT tende a provocar a


redução da impedância medida pelo relé, devido à reatância capacitiva que se
subtrai da reatância indutiva da linha. Por outro lado, a corrente e tensão
apresentam um comportamento transitório durante um curto-circuito, com isso, surge
uma componente sub-harmônica, na faixa de 10 a 40 Hz, que provoca uma variação
da impedância medida pelo relé, na figura 4.4. Pode-se observar que a impedância
transitória segue uma curva em espiral até atingir o valor de regime, apresentando
alternativamente períodos de subalcance e sobrealcance.
X

ZF

Figura 4.4 – Transitório da impedância de falta em linhas com capacitor série.

Para levar em consideração o efeito dessas oscilações subsíncronas para o


cálculo do alcance da primeira zona, adotou-se o uso do fator de sobrealcance (k),
levando em consideração a tensão de corte do Varistor de Metal Oxido (MOV). Este
último é utilizado para proteção do banco de capacitor série instalado na subestação
de Marabá. O fator k é calculado por meio da expressão 4.9:

onde:

k à é o fator de sobrealcance;

UMOV à é a tensão de corte do MOV;

E à é a tensão de fase do sistema em questão.

A figura 4.5 apresenta um esquema básico com um banco de capacitor série


conectado em um sistema elétrico.
Linha

Banco de Capacitor

MOV – Varistor de
Metal Óxido

GAP

Figura 4.5 – Banco de capacitor série conectado em um sistema elétrico.

Levando em consideração os seguintes valores: E = 500 kV / √ = 288,7 kV;


UMOV = 140,4 kV; XL = X1 = 38,38 Ω e Xc = 11,73 Ω, tem-se:

desta forma:

4.1.8.2 – Influência da Resistência de Falta


A resistência de falta corresponde ao somatório das resistências de arco no
local da falta, à resistência do aterramento das torres, etc. O ajuste deve acomodar
estas resistências, mas ao mesmo tempo não deve ser muito maior que o
necessário. Com estes parâmetros, é possível definir um valor de resistência
separadamente para faltas fase-fase e fase-terra.

O mais importante para este ajuste em linhas de transmissão aéreas é a


resistência de arco, quando se consideram defeitos entre fases, e adicionalmente a
resistência de aterramento das torres, para defeitos à terra.

Para efetuar o cálculo da resistência de arco, usa-se uma aproximação


empírica supondo que sua tensão seja aproximadamente 2.000-2.500 V por metro,
logo, a resistência de arco será calculada usando-se a da expressão 4.10.

onde:

Larco à é o comprimento do arco elétrico;

IARCO à é o valor da corrente de curto-circuito mínima.

Adota-se a expressão 4.11 para efetuar o cálculo da resistência de falta


medida pelo relé

onde:
RF à é a resistência de falta;

IFR à é a contribuição de corrente da extremidade oposta da linha;

IFL à é a contribuição local de corrente lida pelo relé;

RE à é a resistência de terra;

RL à é a resistência da linha;

IE à é a corrente de terra.

Adotando um comprimento médio da cadeia de isoladores (equipamentos que


asseguram a isolação entre os cabos condutores e as torres) de 6 metros e uma
corrente de curto-circuito mínima de 1.000 A, tem-se que, a resistência de arco vale:

Para a resistência de aterramento das torres, adota-se segundo os dados da


empresa um valor médio RTORRE = 10 Ω, logo, para esses valores tem-se uma
resistência total de falta igual a:

Para o cálculo da resistência de falta medida pelo relé, vamos considerar que
a corrente de contribuição da barra remota é igual à corrente de contribuição da
barra local, como também a corrente de neutro é igual à corrente de fase. Desta
forma tem-se:
Substituindo os devidos valores na expressão 4.11 temos que:

Transformando os valores primários para valores secundários, tem-se:

Será adotado o mesmo valor da resistência de falta para o alcance resistivo


de fase e de neutro, optando por reduzir o valor de RE / RL para 2,0 e ajustando a
resistência de falta com uma margem de segurança em torno 0,9 Ω, tem-se:

Para obter o valor da resistência de ajuste, usa-se a expressão 4.12

Substituindo os devidos valores na expressão 4.12, o valor da resistência de


ajuste de Z1 será:

Como a primeira zona de proteção deve operar o mais rápido possível,


adotar o seu ajuste de tempo para faltas a terra e faltas entre fases em:
Como foi visto anteriormente o ângulo de inclinação (α) se referente à
inclinação da primeira zona e será ajustado com valor de 10° de acordo com testes
realizados em bancada, a fim de evitar o eventual sobrealcance desta zona.

4.1.9 – Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Zona Controlada

Esta zona normalmente é utilizada em combinação com o religamento


automático e/ou a teleproteção. Pode ser ativada internamente pelas funções de
teleproteção, ou de religamento automático, ou externamente por meio de uma
entrada binária. Esta zona irá operar no tempo ajustado, quando receber um sinal de
permissão enviado pela outra extremidade da linha e enxergar defeito dentro desta
zona [16].

A zona controlada (Z1B) do relé 21 é instantânea e está habilitada para


detectar e eliminar defeitos que estejam na direção da LT (direcional), e dentro da
sua zona de atuação. Esta zona está parametrizada para obter um alcance de 150%
do comprimento da linha, que corresponde a 150% do valor da reatância total da LT,
logo:

Como na zona (Z1), a zona (Z1B) também terá o mesmo valor de ajuste para
os alcances resistivos de fase e de neutro, onde eles serão ajustados mantendo a
proporção R/X dos valores parametrizados na da primeira zona, logo:
Aplicando o valor da proporção acima nos cálculos de ajuste da zona (Z1B),
obtém-se:

Substituindo os devidos valores na expressão 4.12, o valor da resistência de


ajuste de Z1B será:

Adota-se o ajuste de tempo da zona controlada, para faltas à terra e faltas


entre fases em:

4.1.10 – Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Segunda Zona

A segunda zona (Z2) do relé 21 é temporizada e está habilitada para detectar


e eliminar defeitos que estejam na direção da LT (direcional), e dentro da sua zona
de atuação. Esta zona será parametrizada para obter um alcance de 200% do
comprimento da linha, que corresponde a 200% do valor da reatância total da LT,
logo:

Como na zona (Z1), a zona (Z2) também terá o mesmo valor de ajuste para
os alcances resistivos de fase e de neutro, sendo convencionado que esses ajustes
terão valor igual aos da zona controlada. Ou seja, elas terão o mesmo alcance em
termos de resistência. Os valores dessa zona serão ajustados mantendo a
proporção R/X dos valores parametrizados na da primeira zona, logo:

Aplicando o valor da proporção acima nos cálculos de ajuste da zona (Z2),


obtém-se:

Substituindo os devidos valores na expressão 4.12, o valor da resistência de


ajuste de Z2 será:
Adota-se o ajuste de tempo da segunda zona, para faltas à terra e faltas entre
fases em:

4.1.11 – Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Terceira Zona

A segunda zona (Z3) do relé 21 é temporizada e está habilitada para detectar


e eliminar defeitos que estejam na direção da LT (direcional), e dentro da sua zona
de atuação. Esta zona está parametrizada para obter um alcance de 120% do valor
do alcance da segunda zona, logo:

Como na zona (Z1), a zona (Z3) também terá o mesmo valor de ajuste para s
alcances resistivos de fase e de neutro, onde eles serão ajustados mantendo a
proporção R/X dos valores parametrizados na da primeira zona, logo:

Aplicando o valor da proporção acima nos cálculos de ajuste da zona (Z3),


obtém-se:
Substituindo os devidos valores na expressão 4.12, o valor da resistência de
ajuste de Z3 será:

Adota-se o ajuste de tempo da terceira zona, para faltas à terra e faltas entre
fases em:

4.1.12 – Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Quarta Zona

Esta zona do relé 21 encontra-se desabilitada por conveniência da empresa,


logo, não serão efetuados cálculos de ajuste da mesma.

4.1.13 – Cálculo dos Parâmetros de Ajuste da Quinta Zona

A quinta zona (Z5) do relé 21 é temporizada, e está habilitada para detectar


defeitos em ambas as direções da LT (bidirecional), ou seja, ela identifica defeitos na
direção da LT e na direção oposta da mesma. Esta zona está parametrizada para
obter um alcance na direção da LT de 120% do alcance da terceira zona, e um
alcance na direção oposta (reversa) com valor de 50% do próprio alcance na direção
da LT, logo:
e

Como na zona (Z1), a zona (Z5) também terá o mesmo valor de ajuste para
os alcances resistivos de fase e de neutro, onde eles serão ajustados mantendo a
proporção R/X dos valores parametrizados na da primeira zona, logo:

Aplicando o valor da proporção acima nos cálculos de ajuste da zona (Z5),


obtém-se:

Substituindo os devidos valores na expressão 4.12, o valor da resistência de


ajuste de Z5 será:

Adota-se o ajuste de tempo da quinta zona, para faltas à terra e faltas entre
fases em:
Isto porque, de acordo com o projeto, esta zona é utilizada apenas para
supervisionar as outras zonas do relé de distância.

As figuras 4.6 e 4.7 mostram, respectivamente os relés (7SA612 e 7VK611) e


o diagrama R-X dos valores ajustados no relé (7SA612).

Figura 4.6 – Relés 7SA612 e 7VK611.


X (Ω)
120
CARACTERÍSTICA DA
LINHA

110
Z5
100

90 Z3

80
45º 45º
Z2
70

60

Z1B
50

40

ÁREA
CARGA

30
86,37°
20
α =10°

Z1

DE
10

-80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 10 20 30 40 50 60 70 80


DE

R (Ω)

CARGA
-10
ÁREA

-20

-30

-40

-50

-60

-70

Figura 4.7 – Diagrama R-X dos valores ajustados no relé 7SA612.


No próximo capítulo são apresentadas propostas de melhorias em algumas
funções de proteção para estudos em trabalhos futuros.
CAPÍTULO 5

PROPOSTAS DE MELHORIAS EM ALGUMAS FUNÇÕES DE


PROTEÇÃO PARA ESTUDOS EM TRABALHOS FUTUROS

5.1 – Localização de Defeitos

Como foi visto nos capítulos anteriores, a Eletrobrás-Eletronorte utiliza os


relés digitais usados na proteção de suas LTs de 500 kV, com objetivo de localizar a
distância do ponto onde ocorreu o defeito (localizador de defeitos), por meio da
habilitação de tal função no relé.

Esses relés digitais funcionam com algoritmos de localização de faltas que


utilizam dados provenientes de um terminal de linha, os quais consideram as
componentes de freqüência fundamental. Isto é, são baseados na determinação da
impedância aparente da LT vista a partir do local de medida durante a falta. Esta
impedância é obtida em função dos parâmetros da LT, e dos fatores de freqüência
fundamental de tensão e corrente, originados em um dos terminais da linha.

As estimativas para essas localizações de faltas estão sujeitas a erros,


levando em consideração o efeito da corrente de carga, juntamente com a
resistência, tipo e ângulo de incidência da falta, além de outros problemas. Essas
técnicas também não apresentam bons resultados para defeitos de alta impedância
e/ou para linhas com compensação série.
Segundo estatísticas gerais, o erro médio da localização de falta que utiliza o
método por impedância é mais ou menos de 8%, dependendo do tipo de falta que
ocorre no sistema. Por exemplo, numa LT de 250 km, o erro na localização do curto-
circuito estaria em torno de 20 km, o que corresponderia a 50 torres, visto que o
espaçamento médio entre elas é de 400 m. Para a equipe que trabalha com
manutenções e reparos nessas LTs, este ocasionará perda de tempo na
manutenção. Segundo estatísticas da empresa, 45% do tempo gasto na
recuperação de suas LTs ocorre devido a erros na localização do ponto do defeito.

Esse problema é extremamente desfavorável aos propósitos da empresa,


como já citado, a ANEEL vem impondo pesadas multas (Parcela Variável) às
empresas que atuam na área de energia elétrica, devido ao tempo de
indisponibilidade de equipamentos, inclusive LTs. Por exemplo, a Eletrobrás-
Eletronorte paga por uma LT de 500 kV em média, R$ 6.000,00 de multa por cada
minuto que ela permaneça fora de operação devido aos desligamentos não
programados. Em outras palavras, se uma LT permanecer desligada por uma hora,
a empresa pagaria uma multa de R$ 360.000,00.

Com objetivo de minimizar a aplicação dessas multas, assim como a


diminuição do tempo de manutenção e reparos das LTs e a garantia de satisfação
dos clientes. A empresa poderia adotar um método mais eficiente para localização
de defeitos em suas linhas de transmissão. Para isso propõem-se duas idéias: a
primeira seria por pesquisas de projeto e desenvolvimento (P&D) junto às
universidades, tornando o estudo e aplicação particular à empresa. A segunda seria
pela aquisição de softwares mais eficientes com treinamento especializado aos
engenheiros responsáveis.

A localização de defeitos por Ondas Viajantes é uma técnica para detecção


de faltas que pode ser aplicada em qualquer LT. Sua aplicação nas linhas de 500 kV
da empresa seria de extrema importância.
Quando se fala em ondas viajantes, está-se referindo às formas de ondas de
propagação da energia sobre um sistema, neste caso, da propagação de energia
elétrica sobre uma linha de transmissão. Qualquer distúrbio em uma LT (descargas
atmosféricas, curtos-circuitos, ou uma alteração na condição de regime permanente)
dá origem às ondas viajantes, as quais representam uma composição da freqüência,
que pode variar de poucos kilohertz a diversos megahertz. Estas ondas, por sua vez,
deslocam-se do ponto onde ocorreu o defeito, para as extremidades da linha, de
acordo com a velocidade de propagação a qual é definida pelos parâmetros da LT.

Quando as ondas viajantes encontram certas descontinuidades físicas do


sistema, estas descontinuidades provocam a sua reflexão. Este sucessivo processo
continua até que as ondas sejam atenuadas e/ou extintas devido às perdas na linha,
alcançando o regime permanente do distúrbio. Desse modo, os transitórios gerados
pela falta e registrados nos terminais da linha conterão abruptas mudanças em
intervalos comensurados com o tempo de viagem dos sinais entre o ponto de falta
aos terminais da linha. Portanto, conhecendo-se o intervalo de tempo de viagem da
onda do ponto de falta aos terminais da linha e a velocidade de propagação da onda
na linha em questão, a distância do ponto da falta a um terminal de referência
poderá ser facilmente estimada. A figura 5.1 ilustra um esquemático da teoria das
ondas viajantes.

A B

Dj Dj

Curto- circuito

Figura 5.4 – Esquemático da teoria das ondas viajantes.

A Transformada Wavelet (TW) é a ferramenta matemática usada para


análise dos transitórios de alta freqüência gerados por um distúrbio em uma LT, com
o propósito de se determinar a localização do defeito. A TW é similar a transformada
de Fourier (TF). A TW decompõe o sinal em diferentes escalas, com diferentes
níveis de resolução, a partir de uma única função. Diferentemente da TF que fornece
uma representação global do sinal, a TW apresenta as representações locais no
domínio do tempo e da freqüência de um dado sinal.

As figuras 5.2 e 5.3 mostram, respectivamente, o exemplo de um sistema


usando ondas viajantes para localização de defeitos, e o referido sistema integrado
com o Google Earth, que mostra entre quais torres ocorreu o defeito.

Figura 5.2 – Exemplo de um sistema que usa ondas viajantes para localização de defeitos.
Figura 5.3 – Sistema que usa ondas viajantes integrado com o Google Earth.

A tabela 5.1 mostra alguns valores medidos por equipamentos que usam
ondas viajantes para estimação da distância da falta.

Tabela 5.1 – Valores medidos na LT Tucuruí-Altamira (230 kV e 325,7 km) da Eletrobrás-


Eletronorte.

DATA HORA TW (km) REAL (km) ERRO (km) ERRO (%)

20/09/2009 07:12:28 122,56 122,43 0,13 0,04%

27/09/2009 07:01:14 325,69 325,73 0,04 0,001%

10/10/2009 16:11:07 99,55 99,58 0,03 0,001%

22/10/2009 13:57:01 194,65 194,22 0,23 0,07%


11/11/2009 09:51:55 156,99 157,07 0,08 0,002%

Analisando a tabela acima pode-se observar que a utilização do método de


ondas viajantes para localização de defeitos é bem mais eficaz que o método de
localização de defeitos por impedância. Logo, a aplicação desta teoria para
localização de faltas é bastante promissora.

5.2 – Relés de Distância

Como foi visto anteriormente, a função de distância dos relés digitais que a
empresa utiliza para proteções de suas linhas de 500 kV, trabalha com a
proporcionalidade observada entre a impedância da LT e o seu comprimento.
Portanto, o que o relé de distância mede não é a distância propriamente dita, mas os
parâmetros da linha de transmissão.

Verificou-se também que são vários os fatores a serem considerados para


uma medição correta da impedância de falta, entre eles o tipo de falta, as fases
envolvidas na falta, a resistência de falta, o acoplamento mútuo entre as linhas, o
carregamento pré-falta, fontes intermediárias (infeed e outfeed) e a presença de
compensação série na LT. Com isso, a operação do relé de distância não envolve
apenas a medição de impedância. Uma vez medido o valor de impedância, o relé o
compara, por exemplo, com um valor fixo de impedância (alcance, ajuste) que
representa o trecho protegido de uma LT. Caso o valor medido esteja compreendido
na área definida pelo alcance, o relé de distância detecta que ocorreu uma falta no
trecho protegido e opera.

No capítulo anterior, verificou-se que a reatância capacitiva da compensação


série dessas linhas, é incluída nos cálculos dos ajustes dos parâmetros da função de
distância desses relés, como se ela fosse uma compensação fixa, o que na
realidade não acontece na prática, pois, os bancos de capacitores série inseridos
nas LTs de 500 kV da empresa são em sua maioria manobráveis. Portanto, apesar
da compensação série ficar inserida em maior parte do tempo no sistema, há
períodos que ela fica fora de operação. Este problema implicará em erros de
atuação da proteção de distância, no momento em que a compensação série não
estiver inserida no sistema em questão.

Os problemas causados pelos fatores anteriormente citados podem


ocasionar perda de seletividade e perda de confiabilidade da proteção. Para a
empresa tais problemas ocasionam: perda de receita devido aos sistemas que serão
desligados indevidamente, um maior tempo de recomposição do sistema e maior
quantidade de consumidores que serão afetados pela falta energia elétrica.

Como proposta de melhoria para aplicação em trabalhos futuros, cogita-se o


estudo sobre a tecnologia dos relés adaptativos baseados nas teorias das Redes
Neurais Artificiais (RNA).

Para suprimir certas deficiências na proteção de distância tradicional,


causada pela dinâmica do SEP em função da variação dos seus parâmetros de
operação emprega-se a filosofia de proteção adaptativa. Tal filosofia visa à criação
de zonas de proteção, para possibilitar que os relés de distância se adaptem à
realidade de operação do SEP em cada momento.

A proteção adaptativa (PA) é uma filosofia que busca realizar ajuste dinâmico
no sistema de proteção, permitindo um adequado desempenho deste, mesmo diante
das condições variáveis de operação do SEP. O principal argumento desta filosofia é
a possibilidade de alteração dos parâmetros do sistema de proteção, visando
adequar a característica de tomada de decisão, tendo como base as alterações das
condições de operação do SEP. Estas alterações são decorrentes, normalmente dos
chaveamentos sobre a rede, da inserção ou retirada de banco de capacitores do
sistema, da dinâmica das cargas e/ou das situações de faltas incidentes sobre o
SEP.

A proteção de distância adaptativa tem como meta a atualização das curvas


características relacionadas às zonas de atuação do relé. Mediante alguma
alteração significativa nas condições de operação do SEP, a abordagem proposta
deve ser flexível o suficiente para apontar, com base em um banco de dados que
representa as possíveis curvas de operação, a melhor curva que irá atender à
situação vivenciada.

As figuras 5.4 e 5.5 mostram, respectivamente, exemplos de curvas


características da proteção de distância adaptativa e uma curva da proteção de
distância adaptativa frente à curva da proteção de distância convencional.

Figura 5.4 – Curvas características da proteção de distância adaptativa


Figura 5.5 – Curva de proteção de distância adaptativa e de distância convencional.

No próximo capítulo são apresentadas as conclusões pertinentes aos


assuntos referenciados neste trabalho.
CAPÍTULO 6

CONCLUSÃO

Para uma adequada compreensão sobre proteção de sistemas elétricos de


potência, não basta apenas conhecer os critérios e condições importantes para o
funcionamento apropriado deste tipo de sistema, cuja finalidade é garantir a
segurança, confiabilidade, seletividade, rapidez e integridade dos equipamentos e
sistema elétrico como um todo. É necessário compreender tanto o funcionamento
dos equipamentos e dispositivos de proteção quanto os cálculos dos parâmetros que
determinam os valores de ajustes e os tempos de coordenação.

A proteção de sistemas elétricos de potência tem como intuito não só


proteger os elementos instalados, tais como linhas de transmissão, transformadores,
banco de capacitores, etc., mas também minimizar o tempo de desligamento de um
determinado trecho do sistema elétrico.

O estudo das proteções de linhas de transmissão é de extrema importância,


considerando que a LT é o elemento mais vulnerável às falhas num sistema elétrico
de potência. Com isso, a proteção de LTs deve garantir que todo defeito seja
eliminado o mais rápido possível, estando garantida a seletividade.

A proteção de distância em linhas de transmissão é amplamente utilizada


devido as suas características, ou seja, ela apresenta zonas de atuação que
garantem a retaguarda às LTs. Na Eletrobrás-Eletronorte ela é empregada como
proteção principal das LTs de 500 kV. Devido a essa extrema importância e
utilização, foi reunido e apresentado neste trabalho, um conjunto precioso de
informações consideradas indispensáveis para a avaliação de um sistema de
proteção de distância. Onde foram envolvidos desde o cálculo de parâmetros de
linha e de ajustes das zonas de atuação, o funcionamento e características dos
principais equipamentos utilizados indo até os principais critérios para sua devida
seleção, aplicação e ajuste da seletividade e coordenação destes dispositivos.

Apesar dos relés digitais possuírem alta tecnologia e vasta capacidade de


processamento, estes estão sujeitos a erros de atuação devido às mudanças na
dinâmica do sistema elétrico de potência (variação dos parâmetros de operação
deste sistema).

A função de localização de defeitos e a função de distância são as mais


afetadas por esse dinamismo do sistema. Isto porque, mesmo que esses relés
usufruam de excelentes algoritmos para cálculos utilizados em sua parametrização,
a precisão não chega a ser satisfatória no que diz respeito à função de localização
de defeitos e a função de distância, quando esta fica submetida às dinâmicas do
sistema elétrico de potência. A localização de faltas por ondas viajantes e a
tecnologia dos relés adaptativos, são vistos como formas viáveis de eliminar
problemas futuros causados por essas variações dos parâmetros do SEP.

Os objetivos de mostrar como funcionam e como estão instaladas as


proteções de linhas de transmissão, assim como, apresentar como são efetuados os
cálculos e ajustes dos parâmetros da proteção distância, que é a principal proteção
das linhas de transmissão aéreas, e de propor melhorias para algumas destas
funções, foram atingidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ed. UFSC, 2ª edição, Florianópolis, 2005.

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Livraria da Física, 1ª edição, São Paulo, 2006.

[18] - GONZALES, Juan I. P. R., Representação de Relés de Proteção em


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[19] - LIMA, Mauricio M. M., Alguns Fatores Afetando o Desempenho de Relés de


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