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Gallo, Sílvio.

Metodologia do ensino de filosofia: Uma didática para o


ensino médio. Papirus. Campinas, 2012.

APRESENTAÇÃO

Quando fui trabalhar na Universidade Metodista de Piracicaba, em 1990, em um


curso também de licenciatura, minha intenção foi se tornando a de não repetir, ali, os
equívocos que eu identificava no curso da PUC e que, parece-me, são comuns à maioria
dos cursos de licenciatura em filosofia. (Pag. 11).

O problema consiste no fato de que os filósofos dão pouca ou nenhuma


importância à questão do ensino. Os cursos preocupam-se em ensinar filosofia,
transmitir o legado de sua história, às vezes preparando o pesquisador especializado
nesse campo. (Pag. 11 e 12).

(...). O título do livro anuncia a tônica do que procuramos produzir com o


congresso: um trabalho de natureza filosófica sobre o ensino de filosofia; ou, para dizer
de outra maneira, tomar o ensino de filosofia como problema genuinamente filosófico.
(Pag. 14).

Tendo por premissa um livro que mudou minha maneira de ver a prática
filosófica – O que é a filosofia?, de Gilles Deleuze e Félix Guatarri -, procurei pensar as
consequências, para o ensino de filosofia, de assumirmos a “definição” dada pelos
autores franceses à disciplina: “conhecimentos por puros conceitos” (1992, p. 15), na
medida em que “ a filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos”
(1992, p.10).

“Será que podemos utilizar também no ensino superior essa estratégia para
formarmos filósofos e não apenas comentadores e historiadores”. (grifo
nosso).
PRÓLOGO

Começarei por discutir a “ensinabilidade” da filosofia, buscando superar a


célebre discussão sobre se ensinamos a filosofia ou se ensinamos a filosofar. (Pag. 20).

“Essa é a celebre frase defendida por Kant. Será que podemos superar esta
dicotomia?” (grifo nosso).
Nessa direção, penso que podemos investir em pensar a educação filosófica
como uma forma de resistência. Resistência ao momento presente, momento de
contínua aceleração, no qual nada mais é duradouro; resistência à opinião generalizada,
ao jogo daqueles que tudo sabem sobre todas as coisas. (Pag. 22).

“Silvio Gallo como anarquista que é sempre tem de a politizar a filosofia! A


filosofia deve ser estudada e apreendida como um saber historicamente
construído pela humanidade e pela sua importância para a humanidade. Se
politizarmos todos os saberes acabamos caindo no dogmatismo, seja, ele de
esquerda ou de direita.” (grifo nosso).

A FILOSOFIA NOS TEMPOS HIPERMODERNOS

Ora, sabemos que o pensamento é um exercício de paciência. Se o exercício do


filosofar, o trato com o conceito, é um empreendimento de paciência, ele está fora de
nosso tempo. Mas o exercício do filosofar consiste também em insistir no
extemporâneo, em trazer para o tempo presente as inquietações que são deste tempo.
Exercitar o filosofar em nossos dias é, pois, uma forma de resistir a essa aceleração, a
essa fluidez, a essa falta de tempo para o conceito. E ensinar o exercício da filosofia é
uma forma de militar nessa resistência, ampliando-a para mais pessoas. (Pag. 23).

Como pensar a relação maior/menor no âmbito da educação? Se uma educação


maior é aquela do âmbito das políticas de ensino gestadas nos ministérios e secretarias,
a dos grandes planos, dos macroplanejamentos, uma educação menor é aquela que se
pratica nas salas de aulas, entre quatro paredes, no âmbito do pequeno, como
resistência, como produção de algo que se coloca para além e para aquém das grandes
políticas. (Pag. 26).

De novo a ideia de resistência e militância! Essas ideias devem ser


fortemente combatidas no ensino de filosofia. (grifo nosso).
A FILOSOFIA NA ESCOLA

Dizendo de outro modo, um ensino de filosofia vale pelos efeitos que pode
produzir. É certo que, no âmbito das grandes políticas, da educação maior, planejam-se
efeitos para a filosofia: fazer de todos cidadãos, mesmo que por cidadãos entendam-se
os consumidores no mercado global. Não deixa de ser uma filosofia prática, alheia ao
enciclopedismo. Mas, por outro lado, uma filosofia criativa, voltada para os problemas
vividos, visando equacioná-los conceitualmente, pode ser potencialmente
revolucionária. Pode ser uma arma de produção de autonomia, mesmo no contexto de
uma sociedade de controle. (Pag. 30).
ENSINO DE FILOSOFIA E TÁTICAS DE RESISTÊNCIA

Vivemos uma sociedade de controle, para usar o termo proposto por Deleuze.
Nesse contexto, o ensino de filosofia preconizado na educação maior é também um
instrumento de controle. Para que fazer de todos, cidadãos? Porque os excluídos da
cidadania estão também excluídos das formas democráticas de controle (por mais
paradoxal que tal expressão possa parecer). Filosofia para a cidadania; filosofia para o
controle: eis o que nos propõe a educação maior. (Pag. 31).

Sociedade de controle! Nem Jurgen Habermas que é da escola de frankfurt e


o maior filósofo atualmente defende estas teses. (grifo nosso).
Professores de filosofia, precisamos acreditar no mundo e gerar acontecimentos.
Usar nossas aulas como trincheiras, como espaços de resistência. Fazer da sala de aula,
esse espaço de solidão, um agenciamento coletivo capaz de promover articulações e a
circulação dos conceitos produzindo autonomia, que é a única coisa que permite o
enfrentamento da máquina de controle. (Pag. 32).

Mais uma vez a hiperpolitização da filosofia, mais parece um discurso


fascista. (grifo nosso).
1 – AS MÚLTIPLAS COMPREENSÕES DA FILOSOFIA E SEU
ENSINO

Mas há uma questão anterior àquela das possibilidades e dos limites do ensino
de filosofia, uma questão tão antiga quanto a própria filosofia. Para que possamos
discutir e exercitar o ensino de filosofia no nível médio, devemos antes de tudo nos
perguntar: mas o que é mesmo filosofia? (Pag. 37).

A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA E SEU ENSINO

O procedimento da escolha, por sua vez, traz embutidos pelo menos dois riscos
graves: o de se cair no dogmatismo, ao professar que apenas essa perspectiva adotada é,
de fato, filosofia; e o de se cair no relativismo, ao afirmar que, em filosofia, tudo vale.
(...). (Pag. 38).

DA ENSINABILIDADE DA FILOSOFIA
A perspectiva de Savater é a de que o ensino do processo de filosofar aos jovens
deve ser feito por meio de grandes temas, como a morte, a liberdade, o tempo, a beleza,
a convivência. (...). (Pag.42).

DA APRENDIZIBILIDADE DA FILOSOFIA

Pode até haver métodos para ensinar (eles pelo menos servem para tranquilizar
as consciências perturbadas dos professores), mas não há métodos para aprender. O
método é uma máquina de controle, mas a aprendizagem está para além de qualquer
controle. (...). (Pag. 47).

A DEFESA DE UM ENSINO ATIVO

Dito de outra maneira, a lógica da explicação implica que aquele que aprende
renuncie a seus pontos de vista, cedendo aos pontos de vista do mestre, o sábio. Nessa
lógica, afirma Rancière, há não apenas uma atividade intelectual (do aprender), mas
também uma atividade social, de renúncia e resignação. (...). (Pag. 49).

Segundo Rancière, podemos identificar três tipos de mestres: o explicador, o


ignorante e o livro aberto. (...). (Pag. 49).

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