Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
APRESENTAÇÃO
Tendo por premissa um livro que mudou minha maneira de ver a prática
filosófica – O que é a filosofia?, de Gilles Deleuze e Félix Guatarri -, procurei pensar as
consequências, para o ensino de filosofia, de assumirmos a “definição” dada pelos
autores franceses à disciplina: “conhecimentos por puros conceitos” (1992, p. 15), na
medida em que “ a filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos”
(1992, p.10).
“Será que podemos utilizar também no ensino superior essa estratégia para
formarmos filósofos e não apenas comentadores e historiadores”. (grifo
nosso).
PRÓLOGO
“Essa é a celebre frase defendida por Kant. Será que podemos superar esta
dicotomia?” (grifo nosso).
Nessa direção, penso que podemos investir em pensar a educação filosófica
como uma forma de resistência. Resistência ao momento presente, momento de
contínua aceleração, no qual nada mais é duradouro; resistência à opinião generalizada,
ao jogo daqueles que tudo sabem sobre todas as coisas. (Pag. 22).
Dizendo de outro modo, um ensino de filosofia vale pelos efeitos que pode
produzir. É certo que, no âmbito das grandes políticas, da educação maior, planejam-se
efeitos para a filosofia: fazer de todos cidadãos, mesmo que por cidadãos entendam-se
os consumidores no mercado global. Não deixa de ser uma filosofia prática, alheia ao
enciclopedismo. Mas, por outro lado, uma filosofia criativa, voltada para os problemas
vividos, visando equacioná-los conceitualmente, pode ser potencialmente
revolucionária. Pode ser uma arma de produção de autonomia, mesmo no contexto de
uma sociedade de controle. (Pag. 30).
ENSINO DE FILOSOFIA E TÁTICAS DE RESISTÊNCIA
Vivemos uma sociedade de controle, para usar o termo proposto por Deleuze.
Nesse contexto, o ensino de filosofia preconizado na educação maior é também um
instrumento de controle. Para que fazer de todos, cidadãos? Porque os excluídos da
cidadania estão também excluídos das formas democráticas de controle (por mais
paradoxal que tal expressão possa parecer). Filosofia para a cidadania; filosofia para o
controle: eis o que nos propõe a educação maior. (Pag. 31).
Mas há uma questão anterior àquela das possibilidades e dos limites do ensino
de filosofia, uma questão tão antiga quanto a própria filosofia. Para que possamos
discutir e exercitar o ensino de filosofia no nível médio, devemos antes de tudo nos
perguntar: mas o que é mesmo filosofia? (Pag. 37).
O procedimento da escolha, por sua vez, traz embutidos pelo menos dois riscos
graves: o de se cair no dogmatismo, ao professar que apenas essa perspectiva adotada é,
de fato, filosofia; e o de se cair no relativismo, ao afirmar que, em filosofia, tudo vale.
(...). (Pag. 38).
DA ENSINABILIDADE DA FILOSOFIA
A perspectiva de Savater é a de que o ensino do processo de filosofar aos jovens
deve ser feito por meio de grandes temas, como a morte, a liberdade, o tempo, a beleza,
a convivência. (...). (Pag.42).
DA APRENDIZIBILIDADE DA FILOSOFIA
Pode até haver métodos para ensinar (eles pelo menos servem para tranquilizar
as consciências perturbadas dos professores), mas não há métodos para aprender. O
método é uma máquina de controle, mas a aprendizagem está para além de qualquer
controle. (...). (Pag. 47).
Dito de outra maneira, a lógica da explicação implica que aquele que aprende
renuncie a seus pontos de vista, cedendo aos pontos de vista do mestre, o sábio. Nessa
lógica, afirma Rancière, há não apenas uma atividade intelectual (do aprender), mas
também uma atividade social, de renúncia e resignação. (...). (Pag. 49).