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Universidade Federal do Tocantins

Campus Universitário de Porto Nacional


Curso de História

Quinto Período
Disciplina: Métodos da História
Docente: Dr. George Leonardo Seabra
Coelho
Discente: Kallyni Henrique Pereira
Texto fichado: LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos
(Fontes impressas). In Fontes históricas
Páginas (111-154)

PORTO NACIONAL
2021
Fichamento:

No cenário atual, dois outros pontos, relacionados e não coincidentes, merecem destaque:
a história imediata, voltada para o tempo presente, seara até bem pouco exclusiva de
jornalistas e sociólogos, e o que se consagrou como “retorno” da História política, nunca
totalmente abandonada, mas vítima de significativo ostracismo durante grande parte do
século XX. p.114
“Muito frequentemente misturamos as duas porque os mesmos historiadores militam
pelas duas causas. Mas as duas não coincidem. O interesse pelo político não é próprio da
história recente e o político não está exclusivamente ligado à proximidade no tempo.”
(René Remond, citado por LUCA). P.115
A observação é importante, pois evidencia o esforço para libertar a abordagem política da
acusação de apego ao efêmero. P.115
No lugar de “retorno” do político parece mais apropriado usar revivescência ou
renovação, uma vez que não se prescinde das contribuições teórico-metodológicas
alcançadas nas últimas décadas, como bem atestam não apenas a enfática declaração
citada, mas também a aproximações e cruzamentos entre os âmbitos da História cultural,
que está no centro das renovações historiográficas, e da História política, na sua acepção
renovada, expressas em termos de política cultura e cultura política. P.115
Podemos então os fios da meada: diante do quadro sempre mutável de desafios e
inquietações teórico-metodológicas, que lugar a historiografia brasileira tem reservado à
imprensa? P.115 A imprensa sob suspeição
Na terceira edição de Teoria da História do Brasil (1968), o historiador José Honório
Rodrigues dedicou dois parágrafos à História da imprensa e, embora tomasse o jornal
como das “principais fontes de informação histórica”, ponderava que “nem sempre a
independência e exatidão dominam o conteúdo editorial”, caracterizado como “mistura
do imparcial e do tendencioso, do certo e do falso”. P.116
Ao comentar os procedimentos críticos demandados pelos jornais, Glénisson ponderou
que estes se revestiam de “complexidade desanimadora. Sempre será difícil sabermos que
influências ocultas se exerciam num momento dado sobre um órgão de informação, qual
o papel desempenhado, por exemplo, pela distribuição da publicidade, qual a pressão
exercida pelo governo”. Ele endossou as palavras do historiador Pierre Renouvin, que
insistia na importância crucial de se inquirir a respeito das fontes de informação de uma
dada publicação, sua tiragem, área de difusão, relações com instituições políticas, grupos
econômicos e financeiros, aspectos que continuavam negligenciados seja pelos
historiadores que recorriam à imprensa, seja pelos que se dedicam a escrever sua História.
P.116
Num texto pioneiro, Ana Maria de Almeida Camargo foi além das recomendações
metodológicas próprias dos ensaios teóricos e avaliou como os desafios estavam sendo
enfrentados na prática. Depois de reiterar as armadilhas reservadas pela imprensa -
“corremos o grande risco de ir buscar num periódico precisamente aquilo que queremos
confirmar, o que em geral acontece quando desvinculamos uma palavra, uma linha, ou
um texto inteiro de uma realidade”. P.117
Foi justamente no momento em que a imprensa passava a figurar como importante fonte
primária que veio a público o trabalho de Nelson Werneck Sodré, um dos poucos a
abordar a história da imprensa brasileira desde os seus primórdios até os anos 1960. P.117
O estatuto da imprensa sofreu deslocamento fundamental ainda na década de 1970: ao
lado da História da imprensa e por meio da imprensa, o próprio jornal tornou-se objeto de
pesquisa histórica. P.118

Não se pode desprezar o peso de certa tradição, dominante durante o século XIX e as
décadas iniciais do XX, associada ao ideal de busca da verdade dos fatos, que se julgava
atingível por intermédio dos documentos, cuja natureza estava longe de ser irrelevante.
(...) O historiador (...) deveria valer-se de fontes marcadas pela objetividade, neutralidade,
fidedignidade, credibilidade, além de suficientemente distanciadas de seu próprio tempo.
P.111-112
Nesse contexto, os jornais, pareciam pouco adequados para a recuperação do passado,
uma vez que essas “enciclopédias do cotidiano” continham registros fragmentários do
presente, realizados sob o influxo de interesses, compromissos e paixões. Em vez de
permitirem captar o ocorrido, dele forneciam imagens parciais, distorcidas e subjetivas.
P.112
A crítica a essa concepção realizada já na década de 1930 pela chamada Escola dos
Annales, não implicou o reconhecimento imediato das potencialidades da imprensa, que
continuou relegada a uma espécie de limbo. P.112
Percorrer o caminho que vai da desconsideração à centralidade dos periódicos na
produção do saber histórico implica acompanhar, ainda que de forma bastante sucinta, a
renovação dos temas, as problemáticas e os procedimentos metodológicos da disciplina.
P.112
A prática historiográfica alterou-se significativamente nas décadas finais do século XX.
Na França, a terceira geração dos Annales realizou deslocamentos que (...) propunha
“novos objetos, problemas e abordagens”. P.112
Os aportes analíticos provenientes de outras Ciências Humanas, como a Sociologia, a
Psicanálise, a Antropologia, a Linguística e a Semiótica, ao mesmo tempo em que
incentivavam a interdisciplinaridade e traziam contribuições metodológicas importantes,
forçavam o historiador a refletir sobre as fronteiras da sua própria disciplina, cada vez
mais difíceis de precisar. P.112
Tais mudanças alteraram a própria concepção de documento e sua crítica, cujos pontos
essenciais foram sistematizados pelo historiador francês Jacques Le Goff. p.113 Ao lado
do vendaval causado pela História Nova, há que se mencionar a profunda renovação do
marxismo, particularmente marcante nos estudos de Raymond Williams, Perry Anderson,
Christopher Hill, Eric Hobsbawm e, sobretudo, E.P Thompson, reunidos em torno da New
Left Review (1960). P.113
Não cabe acompanhar aqui cada um dos abalos epistemológicos da disciplina. O que
parece relativamente assente no momento é o fortalecimento da História cultural,
tributária, em grau bastante variável, da Antropologia e ancorada no estudo das práticas
e representações sociais.P.114
Já a virada linguística ou desafio semiótico (linguistic turn, semiotic challege), ao mesmo
tempo em que evidenciou caráter narrativo do texto historiográfico e forçou a discussão
de sua natureza, gerou ácidas polêmicas quanto à (in)existência de referências externas
ao próprio discurso. Os debates ultrapassaram as fronteiras dos novos objetos, abordagens
e/ou problemas e introduziram outras fissuras no trato documental. Como assinalou o
historiador Antonie Prost, alterou-se o modo de inquirir os textos, que “interessará menos
pelo que eles dizem do que pela maneira como dizem, pelos termos que utilizam, pelos
campos semânticos que traçam” e, poderíamos completar, também pelo interdito, pelas
zonas de silêncio que estabelecem. P.114
A partir de outra perspectiva metodológica, as dissertações de Maria Helena Capelato e
Maria Ligia Prato (1974), fundidas no livro intitulado O bravo matutino (1980), voltaram
sua atenção para um jornal republicano de grande circulação e bem afirmaram a novidade
da abordagem escolhida:
“Os estudos históricos no Brasil têm dado pouca importância à imprensa como objeto de
investigação, utilizando-se dela apenas como fonte confirmadora de análises apoiadas em
outros tipos de documentação. A presente pesquisa ensaia uma nova direção ao instituir
o jornal O Estado de S. Paulo como fonte única de investigação e análise crítica. A escolha
de um jornal como objeto de estudo justifica-se por entender-se a imprensa
fundamentalmente como instrumento de manipulação de interesses e de intervenção na
vida social; nega-se, pois, aqui, aquelas perspectivas que a tomam como mero “veículo
de informações”, transmissor imparcial e neutro dos acontecimentos, nível isolado da
realidade político social na qual se insere.” (CAPELATO, PRADO. Citado por LUCA)
p.118

No que diz respeito ao primeiro aspecto, nas páginas dos exemplares escreve-se a própria
história da indústria gráfica, dos prelos simples à velozes rotativas até a impressão
eletrônica.
O mesmo poderia ser dito em relação ao percurso das imagens, que se insinua de forma
tímida nos traços das caricaturas e desenhistas e chega a açambarcar o espaço da escrita
com a fotografia e a fotojornalismo. P.132
É importante estar alerta para os aspectos que envolvem a materialidade dos impressos e
seus suportes, que nada têm de natural. Das letras miúdas comprimidas em muitas colunas
às manchetes coloridas e imateriais nos vídeos dos computadores, há avanços
tecnológicos, mas também práticas diversas de leituras. P.132
O conteúdo e os idealizadores
O historiador, de sua parte, dispõe de ferramentas provenientes da análise do discurso que
problematizam a identificação imediata e linear entre a narração do acontecimento e o
próprio acontecimento, questão, aliás, que está longe de ser exclusiva do texto da
imprensa. P.139
Os pesquisadores dos jornais e revistas trabalha com o que se tornou notícia, o que por si
só já abarcam um espectro de questões, pois será preciso dar conta das motivações que
levaram à decisão de dar publicidade a alguma coisa. P.140
Entretanto, ter sido publicado implica atentar para o destaque conferido ao acontecimento,
assim como para o local em que se deu a publicação: é muito diverso o peso do que figura
a capa de uma revista semanal ou na principal manchete de um grande matutino e o que
fica relegado às páginas internas. P.140
Em síntese, os discursos adquirem significados de muitas formas, inclusive pelos
procedimentos tipográficos e de ilustração que os cercam. A ênfase em certos temas, a
linguagem e a natureza do conteúdo tampouco se dissociam do público que o jornal ou
revista pretende atingir. P.140
De fato, jornais e revistas não são, no mais das vezes, obras solitárias, mas
empreendimentos que reúnem um conjunto de indivíduos, o que os torna projetos
coletivos, por agregarem pessoas em torno de ideias, crenças e valores que se pretende
difundir a partir da palavra escrita. P.140
Daí a importância de se identificar cuidadosamente o grupo responsável pela linha
editorial, estabelecer os colaboradores mais assíduos, atentar para a escolha do título e
para os textos programáticos, que dão conta de intenções e expectativas, além de fornecer
pistas a respeito da leitura de passado e de futuro compartilhada por seus propugnadores.
P.140
Igualmente importante é inquirir sobre suas ligações cotidianas com diferentes poderes e
interesses financeiros, aí incluídos os de caráter publicitário. Ou seja, à análise de
materialidade e do conteúdo é preciso acrescentar aspectos nem sempre imediatos e
necessariamente patentes nas páginas desses impressos. P.140
Sugestões práticas
O primeiro passo é localizar a fonte numa das instituições de pesquisa e averiguar as
condições oferecidas para a consulta. P.141

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