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A SALVAÇÃO NO

CRISTIANISMO

Thalles Fonte Boa Coelho


Aluno do ICLS

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TÓPICOS

A UTILIDADE DO SOFRIMENTO PARA O CRISTÃO – p. 3

O SOFRIMENTO COMO UMA OPORTUNIDADE


ESPIRITUAL – p. 5

SOBRE COMO EM QUALQUER LUGAR ENCONTRAMOS


A CRUZ E COMO LEVÁ-LA CORRETAMENTE – p. 7

O ATO DE ABANDONO QUE DEVEMOS REALIZAR


PRINCIPALMENTE QUANDO COISAS RUINS OU DIFÍCEIS
ACONTECEREM CONOSCO – p. 9

COMO DEUS É O AUTOR REAL DE TUDO O QUE


ACONTECE CONOSCO, INCLUSIVE DAS COISAS RUINS –
p. 11

QUAL O EFEITO DO SOFRIMENTO SOBRE NÓS – p. 13

COMO PASSAR DO ESTADO DE UMA MÁ PESSOA PARA


O DE UMA BOA PESSOA, COMO PASSAR
RELATIVAMENTE BEM POR MOMENTOS
TURBULENTOS NA MINHA VIDA – p. 14

COMO REALIZAR AS TRÊS BOAS OBRAS INDICADAS


PELO CRISTO PARA SERMOS SALVOS – p. 17

SÃO CINCO OS PASSOS PARA SE PRODUZIR O PÃO – p.


18

COMO É A PESSOA QUE FAZ PÃO – p. 22

OS DOIS PRIMEIROS PEDIDOS DO PAI NOSSO E COMO


TORNÁ-LOS PRESENTES NA NOSSA VIDA – p. 23

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COMO OBTER A PREFERÊNCIA DOS SANTOS – p. 27

LECTIO DIVINA E OS ESTÁGIOS DA ORAÇÃO:


ATIVIDADES QUE CONTRIBUEM PARA A DISCIPLINA DE
PIEDADE E SANTIFICAÇÃO – p. 28

INTRODUÇÃO

Reúno aqui neste livro tudo o que sei para que tenhamos
uma vida de piedade mais completa.

Espero que ajude e sirva de guia para quem está


começando agora a querer buscar sua própria salvação
e se tornar um piedoso.

Não que eu seja um, mas me esforço apenas para


repassar aqui material muito útil distribuído pelos meus
professores do Instituto Cultural Lux et Sapientia (ICLS).
Para quem se interessar o site do Instituto é icls.com.br

• A UTILIDADE DO SOFRIMENTO PARA O


CRISTÃO

“O sofrimento é a maravilha do universo” (Georges


Bernanos)

O sofrimento é a maravilha do universo pois ele nos dá


a oportunidade de sermos fiéis a Deus, nos mantendo
sob Seu amor e sob Suas leis mesmo nos piores

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momentos da nossa vida. Pois este sim é um grande
mérito e uma vida vivida assim é digna de merecimento.

Pois de que vale o amor a Deus numa vida em que tudo


transcorre ao nosso favor? Numa vida assim, tanto o
bom quanto o mau agradeceria a Deus, pois tudo lhes
transcorre bem.

Deus pede para que façamos coisas difíceis por amor a


Ele, tal como é revelado nessa passagem:

São Mateus 5,44-48

[44]Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem


aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e]
perseguem.

[45]Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois


ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os
bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.

[46]Se amais somente os que vos amam, que


recompensa tereis? Não fazem assim os próprios
publicanos?

[47]Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de


extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?

[48]Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai


celeste é perfeito.

Por isso, na sua vida, pouco importa se você vai parar de


sofrer ou não, mas sim o que você fará com o seu
sofrimento. Nosso dever é espiritualizá-lo, perdoando o

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que fizeram conosco e carregando a cruz, todo dia, sem
choramingar, imitando assim a Cristo.

São Mateus 5,39-41

[39]Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém


te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra.

[40]Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica,


cede-lhe também a capa.

[41]Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com


ele, anda dois mil.

Perdoar as faltas dos outros cometidas contra nós é o


verdadeiro método para se alcançar o perdão divino
para os seus próprios pecados.

São Mateus 6,14-15

[14]Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas,


vosso Pai celeste também vos perdoará.

[15]Mas se não perdoardes aos homens, tampouco


vosso Pai vos perdoará.

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• O SOFRIMENTO COMO UMA OPORTUNIDADE
ESPIRITUAL

Se não houvesse circunstâncias adversas, como


teríamos a oportunidade de provar nosso amor e
fidelidade a Deus?

Este trecho do livro Imitação de Cristo nos ensina mais


sobre a perspectiva que devemos ter diante do
sofrimento:

“Não te julgues inteiramente desamparado, ainda


quando, de tempos a tempos, te mando alguma
tribulação ou te privo de alguma consolação desejada;
porque é este o caminho por onde se vai ao Reino dos
Céus. E isto, sem dúvida, convém mais a ti e a todos os
meus servos, serdes exercitados nas adversidades, do
que se tudo vos sucedesse à vossa vontade. Eu conheço
os pensamentos escondidos, e sei que muito importa à
tua salvação seres, às vezes, privado de toda consolação
espiritual, para que não te exalte o bom progresso e te
desvaneças do que não és. O que dei posso tirar, e dar
de novo, quando me aprouver.

Se refletires bem e julgares as coisas segundo a verdade,


não deves afligir-te tanto com a adversidade, nem
desanimar, mas, ao contrário, alegrar-te e dar-me
graças. Até deve ser tua única alegria que Eu te aflija
com dores, sem poupar-te. "Assim como meu Pai me
amou, também Eu vos amo a vós" (Jo 15,19), disse Eu a
meus diletos discípulos, e, entretanto, não os enviei às

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delícias temporais, mas às grandes pelejas; não às
honras, mas aos desprezos; não aos passatempos, mas
aos trabalhos; não a descansar, mas sim a produzir fruto
copioso na paciência. Meu filho, lembra-te destas
palavras.”

Imitação de Cristo – Cap. 30, 4 e 6.

• SOBRE COMO EM QUALQUER LUGAR


ENCONTRAMOS A CRUZ E COMO LEVÁ-LA
CORRETAMENTE

A respeito disso, encontramos um maravilhoso discurso,


também no livro Imitação de Cristo.

“Pois os que agora ouvem e seguem, docilmente, a


palavra da Cruz, não recearão a sentença da eterna
condenação.

Então, todos os servos da cruz, que em vida se


conformam com CRISTO crucificado, com grande
confiança chegar-se-ão a CRISTO Juiz.

Por que temes, pois, tomar a Cruz, pela qual se caminha


ao reino do Céu?

Na Cruz está a salvação; na Cruz a vida; na Cruz amparo


contra os inimigos; na Cruz a abundância da suavidade
Divina; na Cruz a fortaleza do coração; na Cruz o
compêndio das virtudes; na Cruz a perfeição da
santidade.

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Não há salvação da alma, nem esperança de vida, senão
na Cruz. Toma, pois, a tua cruz, segue JESUS e entrarás
na vida eterna.

O SENHOR foi adiante, com a Cruz às costas, e NELA


morreu por teu amor, para que tu também leves a tua
cruz e nela desejes morrer.

Porquanto, se com ELE morreres, também com ELE


viverás. E, se fores seu companheiro na pena, também o
serás na Glória.

Verdadeiramente, da Cruz tudo depende e em morrer


para si mesmo está tudo; não há outro caminho para a
vida e para a verdadeira paz interior, senão o caminho
da Santa Cruz e da Continua mortificação.

Vai para onde quiseres, procura o quanto quiseres e não


acharás caminho mais sublime em Cima, nem mais
seguro embaixo, do que o caminho da Santa Cruz.

Dispõe e ordena tudo conforme teu desejo e parecer, e


verás que sempre, hás de sofrer alguma coisa, de bom
ou mau grado teu; o que quer dizer que sempre haverás
de encontrar a cruz... Ou sentirás dores no corpo, ou
tribulações no espírito. Ora serás desamparado de
DEUS, ora perseguido pelo próximo, e, o que é pior, não
raro serás molesto a ti mesmo.

E não haverá remédio, nem conforto que te possa livrar


ou aliviar. Cumpre que sofras quanto tempo DEUS
quiser. Pois DEUS quer ensinar-te a sofrer a tribulação
sem alivio, para que de todo te submetas a ELE, e mais
humilde te faças pela tribulação.

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Ninguém sente tão vivamente a Paixão de CRISTO
como quem passou por semelhantes sofrimentos.

A cruz, pois, está sempre preparada, e em qualquer


lugar te espera. Não lhe podes fugir, para onde quer que
te voltes, pois em qualquer lugar a que fores, a levarás
contigo, e sempre a encontrarás em ti mesmo.

Volta-te para cima ou para baixo, volta-te para fora ou


para dentro, em toda a parte acharás a cruz; e é
necessário que sempre tenhas paciência, se queres
alcançar a paz da alma e merecer a coroa eterna.

Se levares a cruz de boa vontade, ela te há de levar e


conduzir ao termo desejado, onde acaba os sofrimentos,
posto que não seja neste mundo. Se a levares de má
vontade, aumenta-lhe o peso e fardo maior te impões;
contudo é forçosa que a leves.”

Imitação de Cristo, livro II, capítulo 12, p. 106

• O ATO DE ABANDONO QUE DEVEMOS


REALIZAR PRINCIPALMENTE QUANDO COISAS
RUINS OU DIFÍCEIS ACONTECEREM CONOSCO

Abandonar-se COMPLETAMENTE em Deus e em Sua


Providência sem um pingo de sentimento de "vítima
coitadinha injustiçada pelos homens" diante d'Ele. Esse
abandono deve ser atualizado o tempo todo ou, pelo
menos, sempre que nos lembrarmos e especialmente
quando coisas ruins acontecerem, sejam elas exteriores
ou interiores.

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Nunca esquecer que os deveres para com Deus e para
com o próximo devem ser realizados com dedicação,
mas que os resultados pertencem TOTALMENTE à
decisão divina.

O que nos acontece de bom é por Sua bondade e o que


nos acontece de ruim é por Sua justiça, já que Ele não
nos deve ABSOLUTAMENTE NADA.

Por fim, devemos pedir perdão constantemente por


nossas falhas diante d'Ele e do próximo.

ESSE é o "esforço interior" necessário e a nossa parte no


caminho da santidade. TODA a ascética religiosa está a
serviço disso.

Como regra geral, a única maneira de se adquirir essa


virtude espiritual é buscando a companhia e o afeto de
quem já a domina. Esse é um dos sentidos mais
profundos e místicos da intercessão e da comunhão com
os santos.

“Ó meu Deus, eu não sei o que hoje me há de suceder;


ignoro-o por completo; mas sei certamente que nada
poderá acontecer-me que Vós não tenhais previsto,
regulado e ordenado de toda a eternidade; e isto me
basta.

Adoro os vossos desígnios impenetráveis e eternos e a


eles me submeto de todo o coração. Quero tudo, aceito
tudo e uno o meu sacrifício ao de Jesus Cristo meu divino
Salvador. Peço-Vos, em seu nome e pelos seus
merecimentos infinitos, paciência nas minhas penas e

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submissão perfeita e inteira a tudo o que me suceder
segundo o vosso divino beneplácito.

Assim seja.”

• COMO DEUS É O AUTOR REAL DE TUDO O QUE


ACONTECE CONOSCO, INCLUSIVE DAS COISAS
RUINS

Todo mundo atribui a Deus a autoridade quando


acontece alguma coisa boa com elas. É muito comum
ouvirmos “ah, recebi a bênção de Deus de ter um filho",
“recebi a benção de Deus de receber essa herança”, etc.
Nessas horas todo mundo lembra que Deus é o agente
absoluto, é o agente primeiro daquilo ali; é fácil
esquecermos as causas intermediárias quando nos
acontece uma coisa boa. No entanto, quando nos
acontece alguma coisa ruim, a causa absoluta, o agente
primeiro, é Deus da mesma forma.

Se o seu filho morre, se você perde dinheiro, se você fica


doente: Deus é o agente primeiro, além das causas
intermediárias.

Então a pessoa tem que recordar que TUDO o que


acontece pra ela, tudo, tudo, tudo, Deus é o agente real
por trás daquilo. E não é uma questão de que as causas
intermediárias não existem; elas existem, e Deus mesmo
é o criador delas, inclusive. Deus é quem dá existência
às causas intermediárias. Então Deus é o agente real de
tudo em última instância; de tudo, sendo bom ou ruim.
Então devemos nos lembrar disso o tempo todo.

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No entanto devemos estar atentos a respeito do que a
moral religiosa nos pede para fazer em determinados
casos.

Por exemplo, se vem alguém e mata seu filho, Deus


também ordena uma certa resposta moral da sua parte,
seja essa resposta mandar o cara pra cadeia ou matar
ele, etc. Ou seja, a situação exige uma resposta moral,
então você tem de agir de acordo com ela, de acordo
com o que pede sua religião, mas sem esquecer que
Deus é o agente daquilo. Isso é CONFORMIDADE COM
DEUS.

Quando alguém te faz algo de bom, você agradece mas


se recorda de que o agente real daquilo, o autor, é Deus.

E quando alguém te faz algo de mau, você então se


protege, ou faz justiça, qualquer coisa que a moral
religiosa te exige, mas você também recorda que Deus
também é o agente real daquilo: não aconteceria isso se
Deus não quisesse. Todo bem e mal que nos acontece
procede de Deus, com exceção dos nossos pecados, é
óbvio.

Temos de acreditar que Deus é o agente de tudo.


Quando te acontece algo de bom, a resposta da moral
religiosa é a gratidão, o contentamento e etc; quando te
acontece algo de ruim, a resposta é tentar consertar,
fazer justiça e se conformar, não se revoltar com aquilo.

Independente das respostas, Deus é o agente, então


você nunca se revolta.

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Nunca ama mais aquilo que é bom do que Aquele que
deu o que é bom.

Nunca se revolta contra aquilo que é aparentemente


mau pra você, porque Deus é o agente de tudo.

Então todo bem e mal que te acontece se você ter a


resposta adequada, que é gratidão e conformidade,
ambas as coisas servirão para sua felicidade eterna. Este
é o sentido de “todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus".

E se você tiver a resposta errada, que é amar mais a coisa


boa do que Deus e se revoltar contra o destino diante da
coisa má: as duas coisas servirão como lenha pro inferno
pra você.

• QUAL O EFEITO DO SOFRIMENTO SOBRE NÓS

O sofrimento é como um juízo que revela quem é bom e


quem é mau.

Se uma pessoa é má e perde o filho, a família, seus bens,


logo acha ser tudo uma injustiça contra ela e começa a
roubar, matar, buscar se suicidar, etc. Ela baixa de nível,
ela fica pior. Não porque ela se tornou uma pessoa má,
mas porque ela já era; o sofrimento só mostrou isso. Por
isso o sofrimento é como um julgamento sobre a pessoa.

O sofrimento separa os bons dos maus. É como uma


espada que divide.

São Lucas 2,34-35

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[34]Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis
que este menino está destinado a ser uma causa de
queda e de soerguimento para muitos homens em Israel,
e a ser um sinal que provocará contradições

[35]a fim de serem revelados os pensamentos de muitos


corações. E uma espada transpassará a tua alma.

• COMO PASSAR DO ESTADO DE UMA MÁ


PESSOA PARA O DE UMA BOA PESSOA, COMO
PASSAR RELATIVAMENTE BEM POR
MOMENTOS TURBULENTOS NA MINHA VIDA

Bom, para essas perguntas, Cristo nos responde de


forma muito clara no Sermão da Montanha, que é como
que um resumo dos quatro evangelhos e onde
praticamente tudo está ali.

E o que o Cristo responde? Primeiro ele faz uma


comparação da nossa alma com uma casa, dizendo:

São Mateus 7,24-27

[24]Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as


põe em prática é semelhante a um homem prudente,
que edificou sua casa sobre a rocha.

[25]Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os


ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não
caiu, porque estava edificada na rocha.

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[26]Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as
põe em prática é semelhante a um homem insensato,
que construiu sua casa na areia.

[27]Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os


ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e
grande foi a sua ruína.

Aqui, a tempestade e os ventos podem ser interpretados


como as tribulações e os momentos difíceis pelos quais
passamos na nossa vida terrestre, e Cristo diz nessa
passagem que se a alma estiver bem edificada,
construída sobre a rocha, ela não será destruída e não
se arruinará, por maior que seja essa tempestade.

E o que é essa rocha que o Cristo diz ser o lugar onde


você deve edificar sua alma? São as Palavras dEle; mais
exatamente as que ele acabou de falar, que constituem
o Sermão da Montanha.

Se observarmos bem esse Sermão, veremos que nele se


destacam três obras principais que o Cristo manda fazer.
São elas: Oração, Jejum e Esmola. E é acrescentado um
requisito que hoje em dia anda muito esquecido, que é
a necessidade de fazer essas boas obras em segredo,
longe do olhar dos homens.

São Mateus 6,1-2.5-6.16-18

[1]Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos


homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não
tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.

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[2]Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta
diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e
nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em
verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.

[5]Quando orardes, não façais como os hipócritas, que


gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das
ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu
vos digo: já receberam sua recompensa.

[6]Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e


ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar
oculto, recompensar-te-á.

[16]Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os


hipócritas, que mostram um semblante abatido para
manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos
digo: já receberam sua recompensa.

Realizando essas três obras regularmente, que dentro


da tradição chamamos de disciplina de piedade,
estaremos fundando e edificando nossa alma sobre a
rocha. E graças a Deus isso não é tão difícil. A religião é
simples e Cristo nos explicou tudo direitinho e já
mastigado.

Um outro significado para a casa edificada na rocha, que


sobrevive às tempestades e tormentas, é a alma do justo
que permanece de pé mesmo depois do Juízo Final,
quando o Cristo vier para dizer pessoalmente se
estaremos salvos ou condenados eternamente.

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Neste sentido o esforço do sujeito para seguir os
mandamentos e realizar essas três obras continuamente
se consuma na sua salvação.

Cristo no Sermão da Montanha afirma que quem


cumpre os mandamentos e tem sua disciplina como ele
estipulou ali, terá sua alma salva.

São Mateus 7,24

[24]Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as


põe em prática é semelhante a um homem prudente,
que edificou sua casa sobre a rocha.

• COMO REALIZAR AS TRÊS BOAS OBRAS


INDICADAS PELO CRISTO PARA SERMOS
SALVOS

Devemos esclarecer bem no que consiste exatamente


cada um dos elementos da disciplina de piedade, e para
isso nada melhor do que apelar para uma analogia com
o processo de fabricação do pão. Só que neste caso, o
que estaremos fabricando aqui é o Pão espiritual, aquele
que Deus disse a Adão que este comeria do pão com o
suor do próprio rosto.

Gênesis 3,19

[19]Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que


voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te
hás de tornar.

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A terra a que iremos retornar, com o esforço constante
de fazer o Pão, é o próprio paraíso. Porém isto só se
efetivará na nossa morte.

O suor aqui é entendido como o gesto de você se


contrariar para fazer as coisas que você não gosta da
religião, é o esforço de fazer coisas que você não gosta.
Sejamos sinceros, quem aqui gosta de orar, jejuar e dar
esmolas em segredo?

Quem não gosta dos três é o que está na melhor posição,


pois este esforço seu de se contrariar se tornará Pão pra
você, um alimento para sua alma imortal.

• SÃO CINCO OS PASSOS PARA SE PRODUZIR O


PÃO

1. Primeiro temos de colher o trigo, depois moê-lo,


depois adicionar água, depois bater a massa
formada e por fim colocar no forno. O ponto é:
como isto se traduz em termos espirituais? O
primeiro passo, colher o trigo, significa toda vez
que participamos das atividades em grupo da
igreja que tem a intenção de tornar Cristo
presente, assim como os sacramentos.

Exemplo: A missa, a leitura do Evangelho em grupo,


rezar o terço em grupo, participar de vigílias e etc.

Nessas atividades colhemos trigo, que em outras


palavras se chama graça santificante. Mas não devemos

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fazer como a maioria e parar por aí. Ou seja, não basta
ir a missa, colher o trigo, e não fazer mais nada.
Precisamos elaborar esse material para podermos
consumi-lo.

2. Depois de colhido o trigo precisamos triturá-lo


para virar farinha. E como fazemos isso?
Fazemos isso decidindo todo dia: Hoje vou rezar
independente de como eu me sentir; ou, hoje
vou jejuar independente do quê, dar esmolas
independente do quê. Isso “tritura” os
elementos contrários a Deus na nossa alma,
assim como a pedra do moinho tritura o trigo.
Estudar as coisas da religião e investigar a
verdade dela também entra no esforço para
moer o trigo.

3. Com o trigo tornado farinha, precisamos agora


adicionar a água para ela se tornar uma só
massa. Para fazer isso em termos espirituais
precisamos do jejum, pois o jejum reúne todos
os desejos em um só: o desejo de comer. Esse
fazer jejum que o Cristo fala é passar fome.
Quando estamos com fome não desejamos o
carro do ano, ser promovido, ter uma
namorada, etc. Não. Durante o jejum só
queremos comer a coxinha que vimos no bar da
esquina. E por isso o jejum está associado ao
adicionar água à farinha para formar uma só

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massa, pois ele reúne todos os desejos em um
só.

Dicas para o jejum: Todas quartas e sextas, comer


somente uma refeição por dia. Começando o jejum no
dia anterior às 18hs e terminando no dia do jejum às
18hs também, completando assim 24hs de jejum,
somente tomando água. É recomendado fazer uma
transição suave do estado de jejum para o de desjejum

4. Depois de formado uma só massa, o próximo


passo é bater a massa para capturar ar e assim
fazer a massa ficar macia. Para isso precisamos
da oração, pois orando estamos falando com
Deus, e nessa conversa está ocorrendo uma
troca de ar: inspiração e expiração.
Conversando com Deus por meio da oração é
fazer algo de mim subir até Ele e algo dEle
descer até mim. Um dos significados da palavra
Espírito é justamente ar. Por isso a oração é
análoga ao processo de bater a massa para
torná-la macia.

Dica para oração: Começar rezando um Terço por


dia, depois pular para um Rosário completo e ter
como meta final conseguir rezar três Rosário
completos.

5. Agora nossa massa já está feita e falta apenas a


forma final, a consistência final. E para

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realizarmos este último passo precisamos
colocar a massa no forno. E como fazemos isso
espiritualmente? Dando esmolas. Por quê?
Porque dando esmolas (dinheiro) algo sai de
nós, que são justamente aqueles desejos
terrenos que acumulamos durante o jejum. O
mesmo acontece quando colocamos o pão no
forno: parte da água que tinha nele sai, e ele fica
mais firme, mais sólido. A esmola também está
ligada ao assar o Pão no forno porque o que se
acende em nós é o fogo da Caridade. Ela
também é um fogo que nos separa de um bem
material para nos manter unidos a um bem
espiritual. O propósito da esmola é
permanecermos unidos à nossa caridade.

Dicas para esmola: O ideal, a meta final de esmola é


30% a 50% dos seus ganhos. Mas pode-se começar
com pouco, ou dar pouco, dependendo das suas
capacidades é claro.

Este é o processo para se fabricar o Pão espiritual


indicado pelo Cristo no Sermão da Montanha.

É esse Pão que nos dará força para não cair em pecado
mortal e também para continuar se empenhando nessa
nossa Obra de Salvação.

Salmos 103,15

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[15]e o vinho que alegra o coração do homem, o óleo que
lhe faz brilhar o rosto e o pão que lhe sustenta as forças.

Sobre como produzir Vinho não falaremos aqui, pois


esta parte se trata não da Obra de Salvação, mas da Obra
de Perfeição.

É o Pão que garantirá também que seremos salvos, pois


Deus já falou que só se põe no Pão e no Vinho.

Se fabricarmos Pão durante toda a vida, depois da morte


Cristo olhará para esse Pão e dirá: Hum... Gostei desse
Pão que você fez. E virá e te dará um pouco de Vinho e
depois vocês irão consagrá-los juntos.

• COMO É A PESSOA QUE FAZ PÃO

Fazendo Pão a pessoa ainda não é santa, mas sua obra


é. Dessas três coisas – oração, jejum e esmola – Cristo
disse que devemos fazer todas elas, e não somente uma
ou duas.

Depois de uns três a cinco anos fazendo Pão, poderemos


perceber alguns sinais nessa pessoa: Ela terá paz e
estará na ambiência do Espírito Santo. Os problemas da
vida dela não afetarão mais como antigamente a alma
dela, ela permanecerá firme e em paz. Ela se torna firme
e estável na religião, terá um sabor delicado, não
excessivo – do mesmo modo que o pão não tem um
sabor excessivo. Quando você conversar com a pessoa
que tem Pão você sentirá que os sabores que te
incomodam se afastarão, você sentirá força, sentirá que

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ela tem uma firmeza que não precisa se afirmar. Em
suma: Ela será um Pão pra você porque ela tem Pão.

E saiba: aquele produz Pão e Vinho tem sua vida, em


termos humanos, completa; ele já não deixa nada a
desejar. Essa é uma característica dessas pessoas. Elas
tem uma paz que os outros não têm. Os outros não têm
paz porque a vida não está completa, tem algo que elas
não sabem se vão conseguir, não sabem se vai acontecer
ou, ainda que vá, não sabem se vai ser amanhã, ano que
vem ou depois. A pessoa que tem Pão e Vinho sabe que
aquilo de que o homem precisa e aquilo que torna a sua
vida deliciosa já está presente nelas.

Você quer conhecer Deus? Se você é cristão e quer


conhecer a Deus só tem um jeito, e esse jeito é universal:
Pão e Vinho é o que todo mundo tem que fazer.

• OS DOIS PRIMEIROS PEDIDOS DO PAI NOSSO E


COMO TORNÁ-LOS PRESENTES NA NOSSA VIDA

Os pedidos do Pai Nosso visam nos libertar de


infelicidades fundamentais. Aqui trataremos apenas dos
dois primeiros pois eles são mais urgentes e mais
rapidamente realizáveis em nossas vidas.

O PRIMEIRO PEDIDO

O primeiro pedido “Santificado seja o Teu Nome" trata a


respeito da nossa relação com Deus diante das coisas

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ruins que acontecem conosco. Nesse primeiro pedido
pedimos para que Deus remova das nossas vidas tudo
aquilo que nos afasta de uma amizade pessoal com Ele,
mesmo que algumas dessas coisas nos pareçam
indispensáveis e muito queridas. Nesse caso estamos
pedindo para sofrer uma dor de separação entre uma
coisa muito boa para nós, porém que nos impede
particularmente de ter uma amizade com Ele.

Quando essa ocasião acontecer, de perder algo muito


querido por nós, porém ilícito para uma amizade com
Ele – pois é isso mesmo que estamos pedindo –,
devemos ter uma atitude de pobreza de espírito, e
afirmar conosco mesmos: Talvez aquilo de que me
separei não seja tão bom assim pra mim, portanto nada
sei a respeito daquilo que é bom ou mal pra mim, só
Deus sabe, e Ele governa a minha vida, portanto só me
cabe ser conforme às ações dEle na minha vida e
recorrer a Ele quando algo que me parecer “bom" for
tirado.

Ser pobre de espírito aqui é ser pobre de opinião a


respeito do que é bom ou mau pra gente mesmo. É
saber que isso, só Deus sabe.

Executando essa atitude de pobreza de opinião nessa


ocasião que pedimos a Ele, damos a oportunidade para
ser realizada em nós a primeira petição do Pai Nosso,
que é o dom do Temor de Deus, que se completa numa
graça que percebemos com profunda certeza: sei muitas
coisas sobre a minha vida, mas não sei o que é realmente
bom ou mau pra mim. Ao mesmo tempo, nada sei sobre

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Deus, exceto que Ele é o único que pode me fazer
escapar desse vale de lágrimas e entrar no Reino dos
Céus .

Essa primeira perfeição espiritual se refere a quem


percebeu claramente que não sabemos o que é a nossa
vida e este mundo, mas sabemos que Deus é a única
saída dessa condição e a única cura para nossas
deficiências.

“E Deus Disse: Faça-se a luz! E a Luz se fez. E Deus viu


que a luz era boa, e separou a luz das trevas.”

O SEGUNDO PEDIDO

No segundo pedido, “Venha a nós o Teu Reino", estamos


procurando uma firmeza para as nossas vidas, como
complemento da insegurança que obtivemos no
primeiro pedido. E no que se baseia essa segurança e
firmeza que podemos obter realizando o segundo
pedido? Ela se baseia nas Leis de Deus, pois quem segue
Suas Leis e sabe que as está seguindo, conscientemente,
caminha com segurança nesta vida e faz suas escolhas
com muito mais tranquilidade. Basicamente, para nós
nos tornarmos, como diz a segunda bem aventurança,
herdeiros da terra, necessitamos correr atrás dessa
herança que já nos foi prometida, que é toda a tradição
cristã. Ou seja, para caminharmos com segurança,
sabendo que estamos cumprindo a Lei de Deus e os
exemplos contidos nas Escrituras em forma de histórias,

25
precisamos ler as Escrituras todos os dias para
resgatarmos assim essa herança.

O efeito de quem lê bastante as Escrituras é justamente


o que pedimos no segundo pedido “Venha a nós o Teu
Reino": a pessoa passa a adquirir uma firmeza na vida
dela pois ela sabe que tudo aquilo que ela escolhe pra
vida dela, tudo aquilo que ela decide e toma como
atitude, já está presente na Bíblia. Ela toma como
modelo de suas ações os exemplos dos santos e a Bíblia.
Assim ela antecipadamente sabe se aquela atitude é a
correta ou não, pois ela sabe que aquilo que ela decidiu
já foi anteriormente, na Bíblia, querido por Deus. E sabe
que, escolhendo aquilo, seu destino é o Céu e a sua
salvação.

Com o tempo, a pessoa que busca ler as Escrituras todos


os dias para realizar esse segundo pedido do Pai Nosso,
perceberá ao ler a Bíblia, que ela é como que um espelho
da sua própria vida, da sua própria rede de decisões e
motivos.

Por exemplo, ao ler a história de Noé, a pessoa com o


dom da Piedade, advindo desse segundo pedido do Pai
Nosso, perceberá algo assim: Ah, um dia também todos
me chamaram de louco por estar fazendo uma coisa
certa e mesmo assim eu continuei, e no final todos se
deram mal e eu bem; assim como todos acharam Noé
um doido por estar construindo uma arca, que Deus
pediu, e depois todos se deram mal, exceto ele.

26
Assim, a vida do sujeito, como conjunto de atos ou ações
começa a recordá-lo da Escritura, e assim o sentido de
muitas passagens é revelado de modo muito pessoal.

Aqui nesse pedido, devemos assumir o compromisso de


ler a Bíblia todos os dias, para efetivar o dom da Piedade
(segundo pedido) e assim adquirir a herança da terra.
Perceberemos na conclusão desse pedido que a lei de
Deus expressa nas Escrituras e nas vidas dos santos
mede e explica as circunstâncias das nossas próprias
vidas, e sentiremos já neste mundo forte segurança de
estamos num bom caminho.

• COMO OBTER A PREFERÊNCIA DOS SANTOS

É possível um não-santo reconhecer um santo? Sim,


existe um jeito. Tem uma coisa que antecede santidade
que é possível aos reles mortais, que se chama “adquirir
a preferência dos santos". Os santos amam todos os
seres humanos, mas eles preferem alguns sobre outros:
e como você faz pra adquirir essa preferência? Você tem
que fazer o seguinte – é um ato de confiança em Deus e
meio às cegas, mas é a melhor coisa que uma pessoa
pode fazer –quando, você na base da conjectura (tudo o
que você já leu sobre santidade) e você identifica uma
pessoa assim, como santa, também com base na opinião
de outras pessoas, você deve buscar servir essa pessoa.
Se você fizer isso e buscar servir essa pessoa, mesmo
que essa pessoa talvez não seja um santo mesmo, mas
você busca servi-la porque você está de acordo com a
sua convicção, de acordo com a sua relativa certeza e

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você está servindo ela por ela ser um santo, depois de
um tempo servindo ela você vai adquirir uma graça, que
em outras tradições, se chama de A Preferência dos
Santos. Assim, Deus irá te colocar em contato com os
verdadeiros santos, que estes por sua vez vão te dar
coisas que você nem imagina – em termos de certeza de
Deus. O jeito pra você chegar a isso aí é fazendo isso:
servir os que você acha que são santos.

Você acha que o cara é santo e vai servi-lo. Servi-lo


assim: Do que ele precisa? E aí, se ele for um santo,
ótimo; mas se ele não for, Deus vai te colocar em
contato com os verdadeiros santos e Deus vai fazer com
que você participe das experiências místicas dos santos
– os santos vão te dar isso. E aí você vai passar a
identificar todos os outros santos, não por achismo, mas
por certeza; não mais por conjectura, mas por
identificação imediata.

Assim, a pessoa que faz isso, não está santa, mas está no
grau da Preferência dos Santos. Os santos gostam dela
por algum motivo. Todos os santos vão falar: eu gosto
de todo mundo, mas desse aqui eu gosto mais, esse aqui
é mais legal, gosto mais da companhia dele.

• LECTIO DIVINA E OS ESTÁGIOS DA ORAÇÃO:


ATIVIDADES QUE CONTRIBUEM PARA A
DISCIPLINA DE PIEDADE E SANTIFICAÇÃO

Temos na tradição algumas formas de oração


interessantes, como a Lectio Divina, a Liturgia das Horas

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e o Pequeno Ofício de Nossa Senhora. Aqui entrarei em
mais detalhes sobre a Lectio Divina.

A Lectio Divina é uma forma, ao que tudo indica, de


colher Uvas. Pois assim como ensinamos a colher trigo e
a fazer Pão, também podemos colher Uvas e fazer
Vinho. A diferença é que com as Uvas já podemos comê-
las direto, diferentemente do trigo pra fazer Pão.
Algumas pessoas podem até comer trigo direto, mas
essas pessoas o comem como animais, estas não estão
fazendo o que o Cristo mandou, que é pegar o talento (a
Graça) e fazer render, ou seja, pegar o trigo e elaborá-lo
e torná-lo Pão, que já é um alimento consumível por
seres humanos.

Abaixo coloco alguns trechos do livro Escada do


Claustro, que nos indicam que realizar os quatro passos
da Lectio é, em termos espirituais, colher Uvas, degustá-
las e nos saciarmos delas:

“Eis uma palavra curta, mas cheia de suaves sentidos


para o repasto da alma. Ela oferece como que um cacho
de uva”

“A leitura, de certo modo, leva à boca o alimento sólido,


a meditação o mastiga e tritura, a oração consegue o
sabor, a contemplação é a própria doçura que regala e
refaz.”

Bom, nesse caso, no que se resume essa colheita de


Uvas que é a Lectio Divina? Como realizá-la? A Lectio
Divina se resume em quatro passos, em quatro degraus

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espirituais: a leitura, a meditação, a oração e a
contemplação.

Em resumo acontece o seguinte processo:

“A leitura procura a doçura da vida bem-aventurada, a


meditação a encontra, a oração a pede, a contemplação
a experimenta”

No primeira passo, a Leitura, nós lemos um capítulo das


Escrituras selecionado por nós – pode ser o Evangelho
do dia – e daí prestamos bastante atenção, lendo
lentamente, procurando nessa leitura o momento em
que alguma parte da passagem nos fisgar a atenção sem
que façamos da nossa parte nenhum esforço ou
interferência. Nesse momento em que algo da
passagem nos fisgar a atenção, nós podemos parar e
seguir para o próximo passo.

O segundo passo, depois da Leitura, é a Meditação. No


que consiste a meditação ou a ruminação? Consiste em
pegar aquela parte que nos chamou a atenção e
ficarmos repetindo e repetindo (daí o termo ruminando)
até aquela repetição desembocar em alguma memória,
sentimento ou qualquer coisa nesse sentido. E se não
acontecer nada, durante uns vinte minutos de
repetição, podemos parar por aqui. Muitas das vezes a
Lectio para por aqui.

Caso acontecer de a repetição evocar alguma memória,


sentimento ou desejo, então você chegou ao terceiro
passo. Nesse momento você pode ter lido “Bem
aventurado os puros de coração”, aquilo ter te fisgado a

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atenção, daí você foi lá e repetiu concentradamente
várias vezes, e aí, de repente aquilo evoca em você,
profundamente, a seguinte certeza: Caramba, não sou
puro de coração, mas eu queria MUITO ser puro de
coração. Quando chegar a esse ponto, quer dizer que
você pode partir para a Oração, o terceiro passo. Essa
parte consiste em orar e pedir incessantemente aquilo
que você passou a enxergar com a meditação. Nessa
hora é como que se um fogo acendesse em você e você
passa então a desejar ardentemente por uma coisa.

O último passo surge naturalmente da Oração, ele


acontece quando Deus responde o que você estava
pedindo e realmente te dá a experimentar aquele objeto
a que você estava desejando com a Oração.

Assim se conclui a Lectio Divina.

OS GRAUS DA ORAÇÃO

Para obtermos também um fruto da oração, já nesta


vida, assim como acontece com quem chega até o
terceiro ou quarto degrau da Lectio, também podemos
seguir alguns passos da oração para se chegar até um
grau em que estaremos muito mais próximos de Deus
do que o nosso habitual.

Para isso vou simplificar aqui quais são esses passos, que
também são quatro:

O primeiro passo da oração é ter a intenção correta de


realizá-la. No caso do Pai Nosso, por exemplo, podemos

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ter a intenção básica de rezar essa oração porque ele
ensinou assim ou porque Cristo assim rezou. Desse
modo, iremos iniciar a oração repetindo várias vezes o
Pai Nosso com essa intenção subentendida. O primeiro
fruto desse primeiro estágio é, após um certo tempo
repetindo, e prestando atenção nos significados de cada
petição, é sentirmos o efeito de alívio e sensação de
limpeza na alma.

Assim, durante a oração, quando sentirmos essa


sensação de alívio e limpeza, devemos renunciar a esse
bem que recebemos, e continuar orando e prestando
atenção no significado da oração. O resultado disso é
que iremos subir mais um estágio e iremos receber
outro fruto, que é a compreensão mais profunda do
conteúdo da oração que estamos rezando.

Novamente, a atitude que devemos ter é a de renunciar


a esse bem. Como que colocando no banco pra render
juros. A diferença é que agora nossa atenção deve estar
voltada para a origem dessas compreensões. Rezando
assim, buscando a origem dessas compreensões, iremos
passar para o próximo estágio, que é o da oração de
quietude.

Nesse estágio da oração de quietude o fruto que virá


será uma satisfação imensa, muito forte. E do mesmo
modo, renunciaremos a este bem, para buscar a origem
dessa satisfação. Iremos rezar buscando a origem da
satisfação.

O estágio seguinte é o da contemplação, que pode não


acontecer com todos, já que nem todas as pessoas são

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de tipo contemplativo. Nesse estágio chega-se à origem
da satisfação imensa e portanto chega-se até o próprio
Deus. Aqui acontece a contemplação de Deus no nosso
interior.

E, chegando nesse estágio, mesmo que depois paremos


de orar e paremos de contemplar a Deus, esse quarto
grau de oração deixa uma marca profunda em nós, em
escala até ontológica, de modo que colheremos um
fruto que durará para sempre em nossa alma,
diferentemente do primeiro fruto, a sensação de
limpeza e alívio, que praticamente dura pouco tempo
depois de pararmos de orar.

Monto um esquema para facilitar o entendimento:

OS QUATRO ESTÁGIOS DA ORAÇÃO:

Oração verbal – requer: intenção correta – efeito:


alívio/limpeza

Oração de recolhimento – requer: voltar-se para o


conteúdo da oração – efeito: Compreensão

Oração de quietude – requer: voltar-se p/ origem da


Compreensão – efeito: satisfação imensa

Oração de contemplação – requer: voltar-se p/ origem


da satisfação – efeito: contemplação de Deus

Thalles Fonte Boa Coelho

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Aulas - O Homem, O Pão, Estágios da Oração, por Luiz
Gonzaga de Carvalho Neto; Lectio Divina por D. Bernardo
Bonowitz

Livros - Imitação de Cristo, Abandono a Providência Divina,


Escada do Claustro

Áudios - Tales de Carvalho

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