Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O presente estudo tem como objetivo a análise do sistema prisional brasileiro e como
este será capaz de lidar com a pandemia que o mundo vem enfrentando. Trata-se de
uma análise crítica acerca de um sistema falido e que não possui infraestrutura
suficiente para combater o coronavírus. O estudo não possui a pretensão de solucionar
a problemática, haja vista sua complexidade, e sim de convidar o leitor a refletir sobre
a pandemia da COVID-19 no sistema prisional brasileiro e como este sistema, que já
estava em colapso, será capaz de evitar a contaminação dos presos pelo novo
coronavírus. A pesquisa tem natureza qualitativa exploratória, utilizando-se de revisão
bibliográfica e dados estatísticos.
Abstract
This paper aims to analyze the Brazilian prison system and how it will be able to deal
with the pandemic that the world has been facing. It is a critical analysis of a failed
system that does not have enough infrastructure to fight the coronavirus. The study
does not intend to solve the problem, given its complexity, but to invite the reader to
reflect on the pandemic of COVID-19 in the Brazilian prison system and how this
1
Advogada. Pós-graduanda em Direito de Família e Sucessões pela Universidade Estadual de Londrina
(UEL). Bacharelada em Direito pela mesma instituição. E-mail:
contato@gabrielamarquesadvogada.com.br
2
Bacharela em Direito pela Universidade Estatual de Londrina (UEL), Londrina/PR. Pós-Graduanda em
Direito Civil e Processo Civil pela mesma instituição. E-mail: julia_gn_@hotmail.com
3
Servidor Público TJSP. Especialista em Processo Civil pela Escola Paulista da Magistratura (EPM). Pós-
graduando em Processo Penal pela Escola Paulista da Magistratura (EPM). E-mail: thiagoems@tjsp.jus.br
system, which was already collapsing, will be able to avoid contamination of prisoners
by the new coronavirus. The research has an exploratory qualitative nature, using
bibliographic review and statistical data.
INTRODUÇÃO
Em meio a esse caótico panorama do sistema prisional brasileiro que, por si só,
já é um grande problema a ser enfrentado, acrescenta-se a pandemia do novo
coronavírus, o COVID-19; se antes já se vivia um caos dentro das unidades prisionais,
imagine o que são esses ambientes, que sofrem de superlotação, enfrentando um
novo vírus; destaca-se que essa já é uma realidade catastrófica para a população como
um todo, como, então, o sistema prisional será capaz de lidar com essa pandemia?
1. O ENFRENTAMENTO DO NOVO CORONAVÍRUS (COVID-19) NO SISTEMA
PRISIONAL
O Brasil não possui um sistema de saú de capaz de lidar com a pandemia, uma
vez que nã o há estrutura hospitalar suficiente para atender aos infectados,
conforme bem elucida Á tila Iamarino, doutor em microbiologia pela USP (UOL,
2020); ressoa a todo instante a iminência de colapso da saú de pú blica.
No que concerne ao sistema prisional em si, realidade nã o é diferente. A Lei
de Execuçã o Penal (Lei nº 7.210/84), no capítulo II, seçã o III, dispõ e sobre a
assistência à saú de do preso, de modo a garantir a integridade física e mental do
indivíduo; a redaçã o do §2º do art. 14 esclarece que “quando o estabelecimento
penal nã o estiver aparelhado para prover a assistência médica necessá ria, esta
será prestada em outro local, mediante autorizaçã o da direçã o do estabelecimento”
(BRASIL, 1984); contudo, ainda que a LEP seja clara, na prá tica nã o é tã o simples.
A realidade evidencia que os estabelecimentos penais nã o possuem
infraestrutura capaz de prover assistência médica necessá ria, nã o é a toa que
muitos presos morrem por doenças tratá veis, como tuberculose, HIV, diabetes, etc.
Um estudo realizado pela Escola Nacional de Saú de Pú blica mostra que 30% das
mortes da populaçã o carcerá ria foram causadas por doenças infecciosas (FIOCRUZ,
2020).
O defensor Ricardo André de Souza, subcoordenador de Defesa Criminal do
Núcleo do Sistema Penitenciário da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, em
reportagem dada à UOL, explica que até mesmo problemas simples de pele evoluem e
causam a morte do preso, por falta do tratamento adequado (UOL, 2020).
Nesse contexto, o ministro Marco Aurélio, no julgamento da ADPF 347, teceu
uma importante crítica neste sentido:
Logo, não é necessário sequer pensar em uma doença de alcance mundial para
compreender que o sistema prisional carece muito de estrutura, haja vista que este já
não conseguia resguardar a saúde dos presos antes; acrescenta-se agora mais um
agravante: a pandemia COVID-19.
4
Todos os Estados da Federação possuem déficit de vagas, segundo dados das inspeções nos
estabelecimentos penais cadastrados no CNJ (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2020).
como a do Ministério da Saúde de evitar aglomerações de pessoas em um ambiente
caracterizado pela aglomeração?
5
Objeto da Reclamação 39756, ao que restou indeferido o pedido de liminar contra a suspensão.
prisão domiciliar; no caso de adolescentes, a aplicação preferencial de medidas
socioeducativas em meio aberto e reavaliação das decisões que determinam
internação provisória; assim como realizar audiências de réu preso por
videoconferência e redesignar audiências de réu solto (BRASIL, 2020).
Em suma, é sensível a questão acerca das medidas a serem adotadas, uma vez
que o sistema penitenciário deveria ter condições mínimas de combater a pandemia
nas suas dependências, mas, infelizmente, o já propagado “estado de coisas
inconstitucional”, agora tem que enfrentar um vírus em plena ascensão.
Os Direitos Humanos são aqueles direitos inerentes ao ser humano e não foram
“inventados”; trata-se do reconhecimento de aspectos básicos da vida humana que
precisam ser respeitados (PORFÍRIO, 2020). Esses direitos passam a ser amplamente
considerados e reconhecidos no período pós Segunda Guerra Mundial, uma vez que o
mundo preocupava-se com o resgaste dos valores de humanidade, haja vista que
inúmeras atrocidades foram cometidas durante a Guerra (VERÍSSIMO, 2019).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada em 1948 e foi
essencial para a consolidação dos direitos ali elencados; são 198 países-membros
signatários da Declaração, incluso o Brasil. Trata-se de um documento composto por
30 artigos que abordam direitos do indivíduo, como liberdade de expressão, liberdade
religiosa, direito à vida, etc. (PORFÍRIO, 2020).
A Constituição Federal de 1988 nasce à luz dos direitos humanos, uma vez que
trata da dignidade da pessoa humana já em seu primeiro artigo, no inciso III (BRASIL,
1988); Ingo Wolfgang Sarlet traz uma boa explicação sobre esse princípio:
A superlotação carcerária tem sido uma das maiores violações aos direitos
humanos dos presos no Brasil, sobretudo pelas péssimas condições dos
compartimentos de clausura. Celas em que se amontoam dezenas de
presidiários, sem o mínimo de conforto e higiene, conforme determinam
tanto as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos quanto a Lei de
Execução Penal Brasileira.
CONCLUSÃO
A pandemia chegou ao Brasil no final de fevereiro, até março não havia notícia
de casos de contaminados na população carcerária, o que havia era somente uma
projeção do que o sistema prisional viria a enfrentar.
REFERÊNCIAS
BIANCHI, Paula; COSTA, Flávio. “Massacre Silencioso”: doenças tratáveis matam mais
que violência nas prisões brasileiras. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/08/14/massacre-
silencioso-mortes-por-doencas-trataveis-superam-mortes-violentas-nas- prisoes-
brasileiras.htm. Acesso em 28 mar. 2020.
CERIONI, Clara. Como os estados brasileiros estão agindo para conter o coronavírus.
Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/como-os-estados-brasileiros-estao-
agindo-para-conter-o-coronavirus/ Acesso em: 28 maio 2020.
LEÃO, Ana Letícia. Dráuzio Varella: ‘Os médicos não gostam de trabalhar em cadeias’.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/drauzio-varella-os-medicos-nao-
gostam-de-trabalhar-em-cadeias-23967620 Acesso em: 29 maio 2020.
VITAL, Danilo. STF derruba conclamação para que juízes analisem condicional de
presos. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-mar-18/stf-derruba-
conclamacao-juizes-analisem-condicional-presos Acesso em: 28 maio 2020.