Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DE ENTEROPARASITAS EM PACIENTES
HEMODIALISADOS DE UMA REGIÃO DO PANTANAL
MATO-GROSSENSE
Cáceres
Mato Grosso, Brasil
2018
BIANCA TESHIMA DE ALENCAR
Cáceres
Mato Grosso, Brasil
2018
BIANCA TESHIMA DE ALENCAR
Essa dissertação foi julgada e aprovada como parte dos requisitos para a obtenção
do título de Mestre em Ciências Ambientais.
Banca examinadora
CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2018
DEDICATÓRIA
Primeira a Deus por sempre proporcionar tudo no seu devido tempo e por sua
devida razão.
Ao meu orientador Professor Dr. Antonio Francisco Malheiros, muito obrigada
por todo conhecimento, orientação e paciência a mim dedicados. Pelo exemplo de
profissional e pessoa, sou muito agradecida pelo privilégio de ser sua orientada e
por todas as oportunidades e experiências a mim proporcionados, foi realmente uma
jornada gratificante e enriquecedora.
mL Mililitros
PI Parasitas Intestinais
pmp Pacientes por Milhão de pessoa
PMSB Plano Municipal de Saneamento Básico
SEMA/MT Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Mato Grosso
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
________________
The environment has an intrinsic relation with human health and its collectivities.
Within this relationship is the transmission of intestinal parasites, directly related to
the environment and highly prevalent in communities in situations of environmental
insalubrity, inadequate sanitation infrastructure, and related to hygiene, cultural
aspects and health conditions of the individual. Among the group of individuals most
susceptible to the involvement of enteroparasites are patients with Chronic Renal
Insufficiency CRI under hemodialysis program. Objective: To correlate the
environmental factors with the index of enteroparasitic positivity of the hemodialysis
patients from Pantanal Mato-Grossense. Methods: A cross-sectional study with 53
hemodialysis patients residing in the city of Cáceres-MT in the year 2017. Pearson's
chi-square (x²) and Odds Ratio (OR) tests were used for association analysis. For the
analysis of the coprological exams the techniques of Hoffman and Sheather and
kappa test were used to analyze agreement between the methods. Results: The
positivity index in the fecal samples of the patients reached 92.45% positivity, most of
which were single-parasite, followed by biparasitism. Blastocystis spp., Was the most
prevalent protozoan in the samples, being the biparasitic association most found
among the species Blastocystis spp. / Endolimax nana. In the present study it was
not possible to identify an association between the index of enteroparasite positivity
and the environmental factors to which hemodialysis patients are exposed. The
performance of the diagnostic methods between Hoffman and Sheather presented
substantial agreement by the calculation of Kappa. The index of enteroparasite
positivity of the hemodialysis was high and although no statistical significance of
association was found, the study site presents some deficient environmental aspects
regarding health conditions such as sanitary sewage and water conditions distributed
to the community, which can be inferred at risk of parasitic contamination for
immunosuppressed as well as children and the community in general. The results
obtained through this study emphasize the importance of the investigation of
enteroparasites in this specific group and the accomplishment of more in depth
studies about the enteroparasitic association and the factors that may be influencing
this affection, emphasizing also the implementation of measures of basic sanitation
and programs continuing health education with these patients.
______________
1. INTRODUÇÃO
2013; KULIK, et al., 2008; GIL, et al., 2013; SEYRAFIAN et al., 2006; SEYRAFIAN et
al., 2011; HAWASH, et al., 2015).
O município de Cáceres possui um sistema ambiental com condições
favoráveis a contaminação enteroparasitária, principalmente no que tange
abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. (PLANO
MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO-PMSB, 2015).
Uma vez que o município de Cáceres possui um centro de tratamento renal
de referência da região, possuindo aproximadamente metade de seus pacientes
residentes no município, identificar a presença e as condições ambientais envolvidas
na disseminação de enteroparasitas nestes pacientes faz-se relevante sob a
perspectiva de um melhor equacionamento de situações de insalubridade ambiental
no Pantanal Mato-grossense por potenciais patógenos humanos que podem
acometer individuos com sistema imunocomprometido.
2. REVISÃO DA LITERATURA
das águas residuais oriundas da área urbana da cidade uma vez que os esgotos não
coletados pelo sistema coletivo se misturam com as galerias de águas pluviais e
chegam até os corpos receptores. (PMSB, 2015).
No diagnóstico de avaliação da situação dos serviços de limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos no município de Cáceres o PMSB (2015), apontou que
embora o serviço de coleta de lixo abranja 80% da população o serviço apresenta
precariedade e irregularidade, observando em diversos pontos da cidade o descarte
de resíduos.
Todo lixo gerado pela cidade de Cáceres era descartado na área do “Lixão”
localizado na bacia de drenagem do Riacho Peraputanga, a qual apresenta
frequentes registros do afloramento dos aquíferos freáticos nas estações chuvosas.
Ainda devido a implantação do lixão a mais de 20 anos, acarretou a
descaraterização na flora original no local (PMSB, 2015). Sendo o local considerado
nocivo ao meio ambiente e contaminador do lençol freático. Em julho de 2016 o lixão
foi desativado no município e foi ativado o Aterro Sanitário, implantado na zona rural
denominada Tarumã, a 13,5 Km do centro urbano da cidade de Cáceres, em uma
área total de 26,54 ha. (CÁCERES GOVERNO MUNICIPAL, 2016).
Hymenolepis nana-18,6%
Strongyloides stercoralis-5,4%
Ascaris lumbricoides-4,9%
Trichuris trichiura-0,5%
3. OBJETIVOS
4. MATERIAL E MÉTODOS
18 anos já são responsáveis por seus atos, residir no município de Cáceres faz parte
do critério de seleção uma vez que a clínica atende pacientes de outras cidades da
região que não possuem o bioma pantanal, e indivíduos com algum déficit cognitivo
não poderiam responder aos questionamentos.
5. RESULTADOS
Raça/Cor
Pardo 28 52,8 1 -
Branco 9 17,0 1,58 0,20
Negro 11 20,8 2,71 0,09
Indígena 5 9,4 2,99 0,08
Escolaridade
Analfabeto 11 20,8 1 -
Ensino fundamental incompleto 23 43,4 1,12 0,20
Ensino fundamental completo 12 22,6 0,01 0,91
Ensino médio completo 3 5,7 -
Ensino superior incompleto 1 1,9 -
Ensino superior completo 3 5,7 -
Zona de residência -
Urbana 46 86,8 1 -
Rural 7 13,2 14,40 <0,01
Tipo de moradia
Material da residência
Alvenaria 52 98,1 1
Madeira 1 1,9 - -
Tipo de Piso
Cerâmica 45 84,9 1
Cimento queimado 8 15,1 14,58 <0,01
Quintal
Cimento 8 15,1 1
Grama 6 11,3 - -
Terra 41 77,4 - -
Não Possui 5 9,4 - -
Banheiro
44
Interno 51 96,2 1
Externo 5 9,4 - -
Tipo do Banheiro
Cimento queimado 5 9,4 1
Ladrilho 48 90,6 - -
Condições ambientais
Origem da água
Rede Publica 32 60,4 1
Cisterna ou poço 23 43,4 1,36 0,24
Água Mineral 21 39,6 2,3 0,12
Características da água
Límpida 26 49,1 1
Turva 17 32,1 1,76 0,18
Com gosto ruim 18 34,0 1,2 0,27
Com odor 4 7,5 1,79 0,18
Lançamento de esgoto
Rede Geral 11 20,8 1
Fossa 42 79,2 11,61 <0,01
Destinação do Lixo
Queimado 3 5,7 1
Recolhido Pela prefeitura 50 94,3 23,66 <0,01
Hábitos de higiene
Costuma andar descalço
Sim 7 13,2 1
Não 46 86,8 14,40 <0,01
Antes de alimentar-se
Sempre 48 90,6 1
Às vezes 5 9,4 - -
Tempo de tratamento em HD
Ate 1 ano 8 15,1 1
2 a 4 anos 19 35,8 0,65 0,42
5 a 8 anos 15 28,3 0,06 0,79
≥ 10 anos 11 20,8 0,09 0,76
Possui Diabetes
Sim 19 35,8 1
Não 34 64,2 3,82 0,05
Presença de sintomatologia
Flatulência 27 50,9 1,00
Adinamia 31 58,5 0,23 0,63
Perda de peso 7 13,2 1,84 0,17
Distenção Abdominal 18 34,0 1,50 0,22
Náuseas 13 24,5 2,97 0,08
Vômitos 8 15,1 2,46 0,11
Plenitude pós-prandinal 31 58,5 0,23 0,63
Dor abdominal 21 39,6 0,90 0,34
Diarreia 7 13,2 1,84 0,17
Manchas na Pele 4 7,5 1,98 0,15
Prurido 18 34,0 1,50 0,22
Transtorno Alimentar
Não 45 84,9 1
Sim 10 18,9 14,4 <0,01
Barro 3 5,7 - -
Terra 3 5,7 - -
Tijolo 4 7,5 - -
Sim 15 28,3 1
Não 38 71,7 8,73 < 0,01
Frequência
Nunca, consulta apenas na 38 71,7 1
clínica
Frequenta UBS 15 28,3 8,73 <0,01
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Helmintos 1 1,89
Ascaris lumbricoides 2 3,77
Negativos 4 7,55
Figura 3. Tipo de infecção parasitaria identificada nas amostras fecais dos pacientes
hemodialisados, residentes no município de Cáceres-MT, 2017.
43,39% (23)
53 pacientes
com monoparasitismo
POLIPARASITISMO
Blastocystis spp./ Cryptosporidium spp./ Endolimax nana 5 10,20
Blastocystis spp./ Entamoeba Coli/ Giardia lamblia 1 2,04
Blastocystis spp./Chilomastix mesnili/ Entamoeba coli 1 2,04
Blastocystis spp. /Endolimax nana/ Giardia lamblia 1 2,04
51
Animal de estimação
Sim 32 (60,37) 3 (5,66) 0,69 0,63 0,02-7,76
Não 17 (37) 1 (1,88)
Lançamento de esgoto
Rede Geral 10 (18,86) 1 (1,88) 0,82 0,77 0,06-21,40
Fossa 39 (73,58) 3 (6,66)
Destinação do Lixo
Queimado 2 (3,77) 1 (1,88) 0,08 0,13 0,01-4,71
Recolhido pela 47 (88,67) 3 (5,66)
prefeitura
*Sim: Usar filtro de barro, vela ou cloro. * Outros: Água sanitária ou vinagre.
6. DISCUSSÃO
intestino do hospedeiro para ser eliminado pelas fezes. Sua patogenicidade ainda
não é bem definida, mas entre os principais sintomas associados estão descritos
diarreia, dor abdominal, cólicas, desconforto abdominal e náusea. Estudos recentes
com genoma humano isolado demonstram que ele causa distúrbio na função da
barreia e permeabilidade da mucosa, causando intensa infiltração de células
inflamatórias, por isso existem pacientes sintomáticos e assintomáticos. (STENZEL,
BOREHAM, 1996; PHILIPPE et al., 2012).
Fatores físicos como mudança osmótica, drogas, estado metabólico pode
influenciar a morfologia do organismo. E agente antibacterianos como ampicilina,
estreptomicina e gentamicina não afetam seu desenvolvimento. Metronidazol parece
ser a medicação melhor indicada para o tratamento, mas ainda não é bem definida a
sua eficácia. (STENZEL, BOREHAM, 1996; TAN, 2008). Inclusive alguns estudos
apontam o fracasso do tratamento, indicando que este apenas reduz a carga
parasitária durante o tratamento. (STENSVOLD et al., 2009).
O E. nana trata-se de um enteroparasita não patogênico, com maior
prevalência em países subdesenvolvidos como África e a América do Sul. Sendo
seu principal meio de transmissão água e vegetais consumidos sem devida
higienização. (POULSEN, STENSVOLD, 2016). Segundo estudos de Simões et al.,
(2015) avaliando a relação entre condições ambientais e infecção parasitária de
indígenas Xukuru-Kariri na região sudeste do Brasil, observaram que a alta taxa de
infecção de 50% de Endolimax nana nestes indivíduos poderia estar relacionado a
falta de tratamento de água ou a contaminação desta pelos próprios moradores, por
meio de despejo de esgoto, disposição de lixo a céu aberto e defecação no solo.
Estudos que encontraram altas taxas de prevalência de; Blastocystis seguido
de Endolimax nana, demonstram que a presença destas duas infecções está
associada a condições sanitárias deficientes e podem contribuir para casos de
quadro de diarreia em crianças, (GRACZYK et al., 2005; SEGUÍ et al., 2017) este
achado pode estar relacionado à rota de contaminação similar entre ambos
protozoários.
No presente estudo Cryptosporidium spp. apresentou taxa de positividade de
15,09%, valor semelhante ao encontrado em estudo sobre a frequência de
Cryptosporidium spp. em pacientes imunocomprometidos realizado por Cengz et al.,
(2017), no qual obteve a segunda maior taxa de positividade de 11,5% em pacientes
com insuficiência renal crônica, e sendo este enteroparasita um importante
58
6.6. Considerações
7. CONCLUSÃO
Recomendações
Ações
8. REFERÊNCIAS
ANKARKLEV, J. et al. Behind the smile: cell biology and disease mechanisms of
Giardia species. Nature Reviews Microbiology, v. 8, n. 6, p. 413, 2010.
ASSIS E.M., OLIVIERIA R.C., MOREIRA L. E., PENA J.L., RODRIGUES L.C.,
MACHADO-COELHO G.L.L. Prevalence of intestinal parasites in the Maxakali
indigenous community in Minas Gerais, Brazil, 2009, Cad. Saúde Pública., v. 29, p.
681-690, 2013.
BASTOS, M. G.; CARMO, W. B.; ABRITA, R. R.; ALMEIDA, E. C.; MAFRA, D.;
COSTA, D. M. N.; GONÇALVES, J. A.; OLIVEIRA, L. A.; SANTOS, F. R.; PAULA, R.
B. Doença renal crônica: problemas e soluções. Jornal Brasileiro de Nefrologia, v.
26, n. 4, p. 202-215, dezembro, 2004.
CHEHTER, L.; CABEÇA, M. Parasitoses intestinais. Rev. Bras. Med., São Paulo, v.
1, n.1, 2000.
DRAIBE, S.A. Diálise crônica. In: Prado FC, Ramos JA, Valle JR. Atualização
terapêutica: manual prático de diagnóstico e tratamento. 22a ed. São Paulo: Artes
Médicas; 2005.
FLEISS J. L. Statistical methods for rates and proportions. New York: John Wiley, p
212-236, 1981.
KDIGO 2012 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of
Chronic Kidney Disease. Kidney inter, Suppl, v. 3, p. 1–163, 2013.
KULIK, R. A.; et al. Blastocystis sp. and other intestinal parasites in hemodialysis
patients. Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 12, n. 4, p. 338-341, 2008.
MARTINS, M.; et al. Progression of the load of waterborne and intestinal parasitic
diseases in the State of Amazonas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical., v. 48, p. 42-54, 2015.
MIGNATTI, A.; BOAG, Br.; CATTADORI, I. M. Host immunity shapes the impact of
climate changes on the dynamics of parasite infections. Proceedings of the
National Academy of Sciences, v. 113, n. 11, p. 2970-2975, 2016.
MOTA, M. E. F. A.; SILVA, G. A. P.; Diarréia por parasitas. Rev. bras. saúde
matern. infant., Recife, v. 2, n. 2, p. 117-127, maio - ago, 2002.
NEVES, D. P.; MELO, A. L.; LINARDI, P. M. Parasitologia humana. 12. ed. Rio de
Janeiro: Atheneu, 2011.
NEVES, R. J.; et al. Atlas municipal de Cáceres/MT: Uma proposta para o ensino da
geografia local. In: Tese de Doutorado em Geografia, UNEMAT, Cáceres, 2008.
POIRIER, P.; et al. New insights into Blastocystis spp.: a potential link with irritable
bowel syndrome. PLoS pathogens, v. 8, n. 3, p. e1002545, 2012.
SALGADO FILHO, N.; BRITO, D.J.A. Doença Renal Crônica: A Grande Epidemia
Deste Milênio. J Bras Nefrol, v. 28, n. 3, p. 1-5, Set, 2006.
SESSO, R.C.; et al. Inquérito Brasileiro de Diálise Crônica 2014. J Bras Nefrol,
v.38, n. 1, p. 54-61, 2016.