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DOMINE A

TOMOGRAFIA

DOMINE A
TOMOGRAFIA
CURRÍCULO:

Prof. Dr. Felipe Ferreira Costa

-Especialista em Endodontia - OCEx


-Especialista em Radiologia Odontológica - UNIGRANRIO
-Doutor em Ciências Odontológicas - Clínica Integrada - FO - USP
-Sócio diretor nas clínicas ODT Digital e DRX Radiologia - RJ
-Sócio fundador Vox3d - Centro de estudos em tomografia

Prof. Dr. Lucas Rodrigues Pinheiro

-Especialista em Radiologia Odontológica - FO - USP


-Doutor em Ciências Odontológicas - Radiologia - FO - USP
-Doutorado “Sanduíche" na University of Louisville, EUA
-Radiologista nas clínicas Radface e Voxel no estado do Pará.
-Professor do Centro Universitário do Pará - CESUPA.

Profa. Dr. Maria Clara Rodrigues Pinheiro

- Especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia - HRAC - USP


- Mestre em Radiologia Odontológica - FOP - UNICAMP
- Doutoranda em Radiologia Odontológica - FOP - UNICAMP.

ENDODONTIA 02
ÍNDICE

Introdução 04.
Morfologia complexa 11.
2.1.2 Detecção de rarefações ósseas periapicais 16.
2.1.3 Sinusopatias odontogênicas 19.
2.1.5 Trauma dentários 25.
2.1.6 Reabsorções Dentárias 28.

Referências 45.

ENDODONTIA 03
Utilização da Tomografia Computadorizada
por Feixe Cônico (TCFC) em Endodontia

Na endodontia, um exame clínico criterioso Dentre estas, consideram-se as distorções,


associado aos exames de imagens ampliações e sobreposições de estruturas
complementares são essenciais para o sucesso anatômicas que podem influenciar diretamente
do tratamento. Entretanto, objetivando eleger o nas diferentes etapas das intervenções
exame de imagem adequado para cada caso, é endodônticas, desde o conhecimento da
imprescindível que o profissional solicitante anatomia dentária individual, planejamento e
compreenda as vantagens e limitações que as êxito do tratamento do paciente, pois este
diferentes técnicas radiográficas podem método de imagem fornece imagens
apresentar. bidimensionais que representam estruturas
tridimensionais.
Dentre estas, as radiografias intra-bucais
eram consideradas como os exames de imagens Em contrapartida, o advento da Tomografia
mais apropriados e aceitos nesta especialidade. Computadorizada por Feixe Cônico (TCFC),
Apesar de continuarem sendo consideradas o desenvolvida no final dos anos 90, propiciou a
método de imagem mais popular, ao eleger utilização de um aparelho compacto capaz de
estes exames, deve-se considerar que existem realizar exames tridimensionais das estruturas
limitações que podem dificultar um diagnóstico do complexo maxilofacial ao alcance do dentista
assertivo. clínico. Sendo assim, a partir dos anos 2000, a
TCFC tem sido utilizada na Odontologia e
especialmente em Endodontia.

ENDODONTIA 04
Por isto, a Associação Americana de Identificação de anormalidades do sistema
Endodontia (AAE) e a Academia Americana de de canais radiculares e determinação da
Radiologia oral e maxilofacial (AAOMR) curvatura das raízes antes do tratamento e
desenvolveram uma declaração em 2011, que foi retratamento endodôntico.
revisada em 2015, objetivando guiar os clínicos
em relação às aplicações da TCFC nos Diagnóstico de patologias periapicais em
tratamentos endodônticos como um pacientes que apresentam sinais e sintomas
coadjuvante ao planejamento. Logo após, no ano clínicos contraditórios e não específicos
de 2014, a Sociedade Européia de Endodontia, associados a dentes tratados ou não
também publicou a sua declaração de posição endodonticamente sem evidências de patologia
sobre este tema. Segundo as diretrizes identificada pelas imagens convencionais e nos
estabelecidas por estas entidades, seguem as casos onde as sobreposições das raízes ou áreas
indicações da utilização da tomografia: do complexo maxilofacial são determinantes
para realizar o tratamento.
Identificação de potenciais canais acessórios
em dentes com suspeita de morfologia Diagnóstico de patologias não endodônticas
complexa baseada em imagens convencionais. e determinação da extensão da lesão e seus
efeitos sobre as estruturas adjacentes.

ENDODONTIA 05
Avaliação intra ou pós operatório de Sendo assim, seguindo as indicações e
complicações tais como: sobreobturações necessidades inerentes para cada indivíduo, o
endodônticas, instrumentos endodônticos objetivo deste capítulo é elucidar as diferentes
fraturados , identificação de canais calcificados e vantagens que a Tomografia computadorizada
localização de perfurações. por Feixe Cônico pode oferecer ao endodontista,
uma vez que, esta especialidade é diretamente
Diagnóstico e conduta de trauma dependente da utilização de exames por
dentoalveolar, especialmente fraturas imagem.
radiculares, luxações e/ou deslocamento de
dentes e fraturas alveolares.

Localização e diferenciação de reabsorções


interna, externa ou reabsorção cervical invasiva
de outras condições e determinação de um
tratamento apropriado e prognóstico.

Planejamento de casos cirúrgicos para


determinar a exata localização do ápice radicular
e para avaliar a proximidade das estruturas
anatômicas adjacentes.

ENDODONTIA 06
2.1 Indicações Clínicas da Tomografia
em Endodontia

2.1.1 Estudo da Anatomia Radicular

A anatomia radicular representa um dos Ainda segundo a recomendação 3 da


grandes desafios na Endodontia. Alterações Declaração da Associação Americana de
anatômicas fazem parte da rotina do consultório Endodontia de 2015, a TCFC deve ser considerada
de Endodontia, e por este motivo, recursos como exame de escolha para o tratamento
complementares como a magnificação e a TCFC inicial em dentes com potencial para canais
têm sido utilizados para a realização do extras e suspeita de morfologia complexa, tais
planejamento e tratamento endodôntico, como os dentes anteriores inferiores,
aumentando assim, a previsibilidade dos pré-molares e molares, além de anomalias
tratamentos. dentárias.

Segundo o trabalho de Matherne et al 2008.


Onde foi realizada uma comparação entre
detecção de condutos por meio de radiografias
periapicais digitais e TCFC, em 41% dos dentes, os
observadores falharam em detectar a presença
de um ou mais canais quando utilizavam
radiografias periapicais.

ENDODONTIA 07
Anatomia Molar Inferior

Anatomia complexa de um molar inferior


(dente 36). Corte Sagital (A); Cortes coronais
mostrando a raiz distal (B), que apresenta
achatamento em terço cervical e os dois
condutos se unindo em terço médio radicular
(seta). Já os canais mesiais (C) apresentam
trajetórias independentes (Canal mésio
vestibular – seta amarela; canal mésio-lingual –
seta branca).

ENDODONTIA 08
Anatomia Molar Superior

1º molar superior com quatro condutos


radiculares. Imagem coronal demonstrando
as raízes DV e P (A); Imagem coronal
demonstrando a raiz mésiovestibular com
seus condutos MV e MV2 (B); Imagem sagital
demonstrando o conduto mésiovestibular
(C); Imagem sagital demonstrando o
conduto MV2 (D); Imagem sagital
demonstrando o conduto P (E).

ENDODONTIA 09
Anatomia de Pré-molar

Pre-molares superiores. Imagem sagital dos


dentes 24 e 25 (A). Imagem coronal
demonstrando que o dente 24 apresenta dois
condutos radiculares que se unem em terço
médio e terminando assim, em um único forame
apical (B). Imagem coronal demonstrando que o
dente 25 apresenta dois condutos radiculares
que se unem em terço médio e terminando
assim, em um único forame apical (C).

ENDODONTIA 10
MORFOLOGIA COMPLEXA
Legenda: Na figura 01 observam-se rarefações
periapicais associadas aos dentes 37 e 34. Nas
imagens axiais e coronais (figuras 2, 3 e 4) pode-se
observar a existência de um conduto lingual sem
material obturador na raiz do dente 34 (sinalizado
com seta amarela).

01 02

03 04

ENDODONTIA 11
A ausência de tratamento e material endodôntico
neste conduto pode ter sido a causa da existência
da rarefação óssea associada a este dente. Já nas
figuras 5 e 6, observa-se que a lesão periapical
associada a raiz distal do dente 37 promoveu
reabsorção radicular externa em terço apical desta
raiz (seta amarela).

05 06

ENDODONTIA 12
Legenda: Por meio das imagens axiais
(figuras 01 a 03), pode-se observar que o 01 02
dente 48 apresenta sua raiz em forma de
C (C Shaped). A seta amarela na figura 02,
destaca esta variação anatômica.
Já as setas amarelas da figura 04
apontam para os três forames existentes
na raiz deste dente.

03 04

ENDODONTIA 13
Interconduto em Molar Superior

Legenda: Presença de interconduto entre os


condutos radiculares da raiz mésiovestibular do
dente 26. Imagem coronal dos condutos MV e
MV2 (A e B) e Imagem coronal dos condutos DV
e Palatino (C).

ENDODONTIA 14
Caso Anatomia - Dens in Dente

Dens in dente. Invaginação de esmalte no dente


22 se estendendo ao terço médio de sua raiz,
classificada como Tipo 2 de Oehlers. Ainda se
nota lesão periapical associada à sua raiz.
Imagem axial (A); Imagens coronais (B e C);
Imagem Sagital (D). Reconstrução 3D por meio
de renderização volumétrica (E).

ENDODONTIA 15
2.1.2 Detecção de Rarefações Ósseas Periapicais

A lesão periapical é uma inflamação local Já nos anos 60, Bender demonstrou que as
associada ao periápice dentário decorrente da alterações na angulação do feixe de raios X
formação de subprodutos de bactérias que podem aumentar, diminuir ou mascarar uma
causam uma resposta inflamatória nos rarefação periapical, demonstrado assim, a
tecidos periapicais e, consequentemente a limitação deste exame em relação a este
reabsorção do osso alveolar decorrente de diagnóstico tão importante na prática clínica.
traumas, irritações ou infecções. Esta, por sua
vez, representa a principal indicação para o Este mesmo pesquisador ressalta a
tratamento endodôntico e, por isto, a importância do percentual de perda óssea
avaliação por meio de exames de imagem necessária para que a radiografia periapical
norteia o planejamento e o tratamento detecte a rarefação e a proximidade da
endodôntico (Tsesis et al., 2020). rarefação às corticais ósseas.

As radiografias periapicais são indicadas na


detecção destas lesões, porém alguns fatores
fazem com que esta técnica radiográfica
tenha uma acurácia menor em relação a
Tomografia na detecção de rarefações
periapicais.

ENDODONTIA 16
Atualmente, muitos estudos têm sido Estudos como o de Velvart et al 2007. Afirmam
realizados demonstrando a limitação do que todas as lesões detectadas cirurgicamente
diagnóstico da região periapical por meio da também foram detectadas por meio de imagens
radiografia periapical em comparação à de TCFC. Logo, é indispensável uma avaliação
Tomografia. Em um deles (Uraba et al.), a taxa de cautelosa quando as radiografias periapicais são
detecção entre rarefações periapicais por meio de utilizadas com o objetivo de detectar rarefações
radiografia periapical e da tomografia foi de 31,5% periapicais pela possibilidade de ocorrência de
e de 52,2%, respectivamente. um resultado falso-negativo. Portanto, a TCFC é o
método considerado como padrão-ouro neste
Uma atenção especial deve ser dada à maior diagnóstico.
discrepância na região posterior das arcadas
superior e inferior, provavelmente isto se deva à
maior sobreposição de estruturas da arcada
superior e a alta densidade da cortical óssea
observada na arcada inferior.

Esta discrepância estatística também se deve


ao fato de que por meio de um exame
tridimensional, o observador consegue avaliar
todas as estruturas anatômicas envolvidas sem
sobreposições; permitindo, assim, que a tarefa de
diagnóstico seja mais precisa.

ENDODONTIA 17
Legenda: A figura 01 é uma radiografia
01 02
periapical de uma paciente que
apresentava fístula em região de
tuberosidade direita. Um cone de guta
percha foi inserido por esta fístula e este
apontava para a região do terceiro molar.
Entretanto, nenhuma rarefação óssea
periapical fora observada neste exame
radiográfico. Por este motivo, esta
paciente foi encaminhada para a
03 04
realização de uma Tomografia
Computadorizada onde se nota uma
lesão periapical associada às suas raízes
vestibulares se estendendo à região de
tuberosidade (figuras 02, 03 e 04).

Radiografia periapical cedida pelo Dr.


Alexandre Harnist

01 02

ENDODONTIA 18
2.1.3 Sinusopatias Odontogênicas

A proximidade do seio maxilar com as raízes Por serem técnicas bidimensionais, a


dos dentes posteriores, principalmente dos radiografia periapical e a radiografia
primeiros e segundos molares, faz com que as panorâmica apresentarão deficiência na
patologias de origem dentária sejam observação do envolvimento dos dentes
consideradas como fontes potenciais de posteriores com o seio maxilar adjacente.
rinossinusites.
Consequentemente, alguns casos de
A sinusopatia de origem odontogênica é sinusopatia de origem odontogênica serão de
uma doença comum e segundo estudos difícil detecção através destes exames; em
recentes como o de Maillet et al 2011. Pode contrapartida, a TCFC tem ampla indicação
representar até 51,9% dos casos de nestes casos.
rinossinusites. As causas desta patologia
podem ser as mais diversas, tais como: fístula
oro-antral crônica, corpos estranhos
introduzidos no interior do seio maxilar (raízes
dentárias, instrumentos fraturados, etc.), lesões
periapicais oriundas de dentes localizados na
arcada superior e cistos odontogênicos.

ENDODONTIA 19
Legenda: Nas figuras 01 e 02, por meio das
imagens axial e coronal, observam-se dois
condutos radiculares na raiz
mésiovestibular do dente 16 (sinalizado em
setas amarelas) e lesão endoperiodontal
associada a mesma.

01 02

ENDODONTIA 20
Nas Figuras 03 e 04 e 05 nota-se
reabsorção alveolar severa em região 03 04
dos dentes 17 e 16 e além disso, nota-se
que a lesão periapical associada a raiz
mésiovestibular do dente 16 promove
abaulamento e rompimento da
cortical inferior do seio maxilar direito.
Sendo assim, há uma grande chance
do velamento total deste seio maxilar
(rinossinusite), observado nestas
figuras, ter causa odontogênica.

A Figura 06 é uma reconstrução 05 06


tridimensional que ilustra o caso.

ENDODONTIA 21
Sinusopatia

Lesão periapical associada às raízes


vestibulares do dente 16 promovendo o
rompimento (seta branca) da cortical inferior
do seio maxilar direito. Esta lesão pode estar
relacionada com o espessamento mucoso
deste seio maxilar (sinusopatia
odontogênica). Imagem sagital em região de
suas raízes vestibulares (A), imagem sagital
em região do conduto MV2 (B), imagem
sagital em região do conduto palatino (C),
imagem coronal em região da raiz
mésiovestibular demonstrando seus dois
condutos radiculares, destaque (seta
amarela) para ausência de obturação no
conduto MV2 (D), imagem coronal
demonstrando os condutos disto-vestibular
e palatino (E).

ENDODONTIA 22
Sinusopatia 2

Lesão periapical associada às raízes


vestibulares do dente 27 promovendo o
abaulamento da cortical inferior do seio
maxilar esquerdo. Esta lesão pode estar
relacionada com o espessamento mucoso
deste seio maxilar (sinusopatia
odontogênica). Imagem sagital em região
de suas raízes vestibulares evidenciado
conduto MV2 sem obturação (A), imagem
sagital das raízes vestibulares na região do
conduto MV1 (B), imagem coronal em região
da raiz mésiovestibular demonstrando seus
dois condutos radiculares independentes
(C), imagem coronal demonstrando os
condutos distovestibular e palatino (D) e
imagem sagital em região da raiz palatina
(E).

ENDODONTIA 23
A
Lesão em Pré Molar Superior com possível
Sinusopatia Odontogênica

Dente 25 com um conduto radicular bifurcando


em terço médio radicular. Imagens sagitais nas
regiões dos condutos vestibular (A) e palatino (B)
evidenciando lesão periapical (setas amarelas)
associada à sua raiz promovendo abaulamento
da cortical inferior do seio maxilar esquerdo. B
Existe uma possível relação entre esta ocorrência
e o estado sinusal atual (sinusopatia
odontogênica crônica). Destaca-se o
espessamento das corticais das paredes sinusais
(seta branca) no corte coronal (C), característica
de processos crônicos.

ENDODONTIA 24
2.1.5 Trauma Dentário

Os casos de trauma dentoalveolar são


frequentes, especialmente, nos indivíduos
menores de 18 anos. Todos os casos de trauma
dentário devem ser minuciosamente avaliados,
incluindo anamnese associada a exames de TCFC,
pois esta técnica permite uma visualização que
poderá fornecer informações importantes para o
diagnóstico e, em consequência, para o
tratamento. Além deste exame ser mais
confortável para o paciente recém traumatizado
em comparação às radiografias periapicais.

Este tema será abordado detalhadamente na


parte 2 do Ebook, que será disponibilizado em
breve. Aguarde!

ENDODONTIA 25
Legenda: Neste caso, onde o paciente
jovem sofreu um trauma em região
anterior da maxila, podemos observar o
deslocamento do dente 11 além de
fraturas em rebordo alveolar em região
vestibular deste elemento dentário.

01 02 05

03 04

ENDODONTIA 26
Luxação

Caso de avulsão e reposicionamento do


dente 21. Imagens axiais (A e B) e sagitais (C
e D) mostrando posicionamento mais
vestibularizado em relação à sua posição
original e ainda se nota rompimento da
cortical óssea vestibular da região (seta).

ENDODONTIA 27
2.1.6 Reabsorções Dentárias

A reabsorção dentária é a perda de estrutura


dura da raiz (cemento e dentina) por ação de
células clásticas na face interna (reabsorção
interna) ou externa (reabsorção externa) da raiz.
Estas possuem uma incidência relativamente
comum na prática endodôntica e devem ser
diagnosticadas com a maior precocidade possível
para uma maior previsibilidade do tratamento
endodôntico.

Atualmente, a TCFC tem sido amplamente


utilizada e reconhecida como o método mais
acurado no diagnóstico de reabsorções,, pois
permite classificar e mapear a região reabsorvida.
Sendo assim, dentes que tenham a suspeita de
estarem por reabsorções internas ou externas
devem ser submetidos a tomografia com a maior
brevidade para que um planejamento
tridimensional seja realizado.

ENDODONTIA 28
2.1.6.1 Reabsorção Interna

É definida como uma condição que ocorre


dentro da câmara ou canal pulpar causando a
reabsorção da dentina circunjacente. A sua
etiologia frequentemente está relacionada a
traumas ou infecções (químicas ou bacterianas).
Além disso, pode ser classificada como reabsorção
interna inflamatória (RII) ou substitutiva (RIS)
(Patel et al., 2018).

Reabsorção interna inflamatória: Em exames


por imagem, esta patologia é caracterizada pela
presença de uma imagem radiolúcida/hipodensa
com formato redondo ou oval, que sugere a
dilatação do canal radicular, compatível com a
ausência de tecido mineralizado.

ENDODONTIA 29
Reabsorção Interna em Molar Inferior

Reabsorção interna localizada em terço apical da


raiz distal do dente 37. Observa-se imagem
hipodensa (setas) se iniciando no interior no
conduto radicular e com formato regular.
Imagens sagitais (A e B), imagem coronal da raiz
distal (C) e imagem coronal da raiz mesial (D).

ENDODONTIA 30
2.1.6.2 Reabsorção Externa

É o processo patológico que ocorre por dano ao O exame de TCFC é indicado em casos severos
cemento. A sua etiologia frequentemente está para avaliar a real extensão da reabsorção ou
relacionada a processos inflamatórios ou quando as raízes apresentam formato irregular
traumatismos que afetam o ligamento em dentes adjacentes a cistos/tumores ou dentes
periodontal como: movimentação ortodôntica impactados.
excessiva, má oclusão e traumastimo dentário
(avulsão ou luxação). Além disso, a reabsorção Reabsorção externa inflamatória: Esse
externa pode ser classificada de acordo com a sua processo patológico é associado frequentemente
patogênese: a dentes que apresentem o canal radicular
infectado/necrótico como resultado de lesões de
Reabsorção externa de superfície: Reabsorção cárie extensas. No entanto, o início da reabsorção
induzida por pressão de incidência comum, radicular externa também pode se caracterizar
observada na porção apical de dentes submetidos pela combinação de danos causados à superfície
à movimentação ortodôntica. Radiograficamente radicular e ao periodonto; após graves traumas
(radiografias periapicais) são observados dentes dentários.
com ápices radiculares arredondados e/ou com A progressão da reabsorção externa
raízes mais curtas, decorrente de uma aplicação inflamatória é associada diretamente pela
de pressão excessiva na movimentação vitalidade do dente afetado. Isto significa que um
ortodôntica. canal radicular infectado é capaz de disseminar
toxinas bacterianas para a área de reabsorção,
resultando na progressão da reabsorção externa.

ENDODONTIA 31
Reabsorção Externa

Reabsorção externa em terço apical e médio do


dente 21. Imagem sagital (A), Imagem axial (B) e
imagem coronal (C).

ENDODONTIA 32
Reabsorção Cervical Externa em
Incisivo Central Superior

Reabsorção externa em terço apical e médio do


dente 21. Imagem sagital (A) e imagem coronal
(B) e (C).

ENDODONTIA 33
Radiograficamente, as raízes dos dentes Nas imagens radiográficas bidimensionais
acometidos são mais curtas ou com extremidades frequentemente é observada a ausência do
irregulares contígua a presença de imagem espaço do ligamento periodontal na face
radiolúcida associado ao terço apical da raiz. As proximal radicular. Por isto, indica-se a TCFC para
imagens de TCFC devem ser indicadas para avaliar a extensão da RES no dente acometido.
diagnosticar e avaliar a verdadeira extensão da
reabsorção externa. Assim, o tratamento
endodôntico poderá ser mais previsível, uma vez
que o clínico terá todas as informações
tridimensionais essenciais para realizá-lo.

Reabsorção externa substitutiva (RES): Esse


processo patológico reabsortivo é considerado
grave em decorrência da necrose de células do
ligamento periodontal, do cemento e da dentina.
A RES desencadeia uma ação osteoclástica das
células supracitadas que posteriormente serão
substituídas por osso alveolar depositado por
osteoblastos em um processo de remodelação em
dentes acometidos a severos traumas dentários
(luxação ou avulsão).

ENDODONTIA 34
Reabsorção cervical invasiva (RCI): É uma
modalidade de reabsorção externa onde células
clásticas se aderem à dentina exposta, abaixo do
epitélio juncional e passam a destruir o tecido
mineralizado de fora para dentro do dente, com
um padrão irregular e “evitando” o contato com a
polpa dentária.

A etiologia dessa reabsorção tem sido


estudada e alguns fatores principais têm sido
relatados como: forças mecânicas contínuas
geradas por intervenções ortodônticas,
traumatismo dentários, hábitos parafuncionais,
má higiene oral, e/ou a combinação destes
(Mavridou et al., 2017).

ENDODONTIA 35
Os dentes mais acometidos são os incisivos A RCI pode ser caracterizada clinicamente pela
centrais superiores, no entanto, a reabsorção presença de uma mancha rósea (pink spot), em
cervical invasiva (RCI) pode ocorrer em qualquer dentes com polpa vital, sangramento excessivo à
dente, desde que o cemento ou o ligamento sondagem e alteração do contorno gengival. No
periodontal esteja ausente ou danificado por entanto, só o exame de imagem associado ao
uma injúria ou por um defeito na junção histórico clínico do paciente, é capaz de propiciar
cemento esmalte (JCE). Esta dentina exposta um diagnóstico assertivo. Deve-se levar em
pode ser vulnerável às células clásticas que consideração o aspecto irregular desta reabsorção,
iniciarão um processo de reabsorção, porém se sua propagação circunferencial ao redor da
nenhuma estimulação adicional existir, o câmara pulpar e do canal radicular, além de sua
processo de cicatrização (formação de tecido característica direção corono-apical, sendo
semelhante ao osso) ocorrerá normalmente. considerados aspectos particulares desta lesão.
Entretanto, se um fator de estímulo citado acima,
se tornar presente por um tempo suficiente, as Hoje, sabe-se que o padrão irregular desta
células clásticas serão ativadas e iniciarão a reabsorção se deva à alteração da tensão de
reabsorção cervical invasiva. oxigênio naquele microambiente e que a
não-invasão da polpa nos estágios iniciais desta
reabsorção, se deva à formação da dentina
pericanalar.

ENDODONTIA 36
Para a avaliação das RCI iniciais ou avançadas, a
TCFC têm sido o exame de escolha para
determinar a presença e realizar um mapeamento
tridimensional do tecido reabsorvido, além de
avaliar o possível envolvimento pulpar. Com isso, o
profissional, poderá avaliar a possibilidade de
reabilitação dos dentes acometidos.

Heithersay (1999), Patel et al. (2009) e Mavridou


et al. (2016) propuseram suas classificações
baseadas nos diferentes estágio deste processo
patológico:

ENDODONTIA 37
Heithersay (1999):

Classe 1: Presença de pequena lesão invasiva


reabsortiva próxima à área cervical com
penetração superficial na dentina;

Classe 2: Observa-se uma lesão reabsortiva


invasiva e bem definida que apresenta
penetração próximo à câmara pulpar coronal, mas
demonstra pouca ou nenhuma extensão para a
dentina radicular;
Classe 3: Presença de invasão mais profunda na
dentina pelo tecido reabsortivo, não apenas 01 02
envolvendo a dentina coronária, mas também o
terço coronário da raiz;

Classe 4: Observa-se um grande processo


reabsortivo que invade os terços cervical e médio
da raiz.

03 04

ENDODONTIA 38
Mavridou et al. (2016):

Estágio 1 (inicial): Presença de fator


predisponente com consequente porta de 01 02
entrada abaixo do epitélio juncional
caracterizando o estágio incial da lesão;

Estágio 2 (progressão): Observa-se área


radiolúcida/hipodensa que configura a presença
de tecido inflamatório, ou seja, que o processo de
reabsorção está em evolução;

Estágio 3 (fase reparativa): O defeito é


reparado em sua maior porção pelo crescimento e
aposição de tecido mineralizado reparador.

03

ENDODONTIA 39
Patel et al. (2018):

Extensão da RCI:

1 - Acima da crista óssea/ Nível da junção


amelocementária;

2 - Abaixo da crista óssea/ Estende-se para


o terço cervical da raiz;

3 - Estende-se para o terço médio da raiz;

4 - Estende-se para o terço apical da raiz.

ENDODONTIA 40
Progressão circunferencial:

A 90º
B 90º até ≤ 180º
C 180º até ≤ 270º
D 270º

ENDODONTIA 41
Proximidade da RCI com o canal radicular:
d: Lesão confinada à dentina;
p: Provável envolvimento pulpar.

A classificação acima é baseada em três etapas


que se completam para chegar a progressão de
RIC representada sempre por um número, uma
letra maiúscula e uma minúscula. A primeira
etapa é numericamente baseada com relação a
extensão da lesão observada por meio de
radiografias periapicais ou imagens de TCFC.

Quanto maior o número, maior será a


progressão da RCI. Já a segunda etapa, tem
correlação com a progressão circunferencial
que, por sua vez, é avaliada por meio da vista
axial das imagens de TCFC. Segundo os autores,
a raiz apresenta em média 360º, ou seja, as
letras A, B, C ou D representaram se a RCI
atingiu ¼ ou mais da raiz do dente acometido.

A última etapa, representa o quão próxima a


RCI está do canal radicular representadas
apenas pelas letras minúsculas d ou p.

ENDODONTIA 42
Reabsorção Cervical Invasiva em
Fase de Reabsorção

Reabsorção cervical invasiva em fase de


evolução. Observa-se nos cortes sagitais a porta
de entrada (seta) localizada na face distal da raiz
distal do dente 37, se estendendo ao terço médio
radicular (A e B) Nota-se camada de dentina
pericanalar (seta) (C). Nos cortes axial (D) e
coronal (E) é possível identificar que a lesão
ainda se propaga em 360 graus ao redor da
polpa dentária, com provável comunicação e se
encontra em fase de evolução. Classe 4 de
Heithersay e classe 3Dp de Patel.

ENDODONTIA 43
Reabsorção Cervical Invasiva em
Fase de Reparação
Reabsorção cervical invasiva em fase reparativa.
Observa-se na imagem sagital a porta de
entrada, localizada na face vestibular da raiz, em
terço cervical e se estendendo ao terço médio
radicular. Nos cortes axial (B) e coronal (C)
nota-se que esta lesão se propaga em 360 graus
ao redor da polpa dentária, tem provável
comunicação com a mesma e se encontra em
fase reparativa. Classe 4 de Heithersay e classe
3Dp de Patel.

ENDODONTIA 44
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