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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CUIABÁ-MT
2014
Simone Simionato dos Santos Laier
CUIABÁ-MT
2014
iii
Dedicatória
Dedico esse trabalho a todos da minha família, pois sem eles, não teria motivação
para conquistar todos os meus sonhos.
iv
Agradecimentos
Os agradecimentos são muitos, e sendo assim, vou começar pela minha família, que é muito
grande, e por isso citarei alguns representantes:
Meu pais queridos Helena e José,
Meu esposo Anderson e filho amado Pedro,
Fernanda e Mariana, minhas irmãs,
Tia Dirce (Bia), que representará todos os meus tios neste agradecimento,
Meus avós,
Meus sogros Edineuza e Josias,
Meus cunhados Andréia, Alessandro e Rafael,
Meus primos e à minha sobrinha.
Aos meus colegas de mestrado, professores e todos que fizeram parte dessa jornada!
Em especial à Elisangela, companheira das viagens e correrias, e que por sua vez representará
todos que conviveram comigo durante este período.
Rosalina, que nos momentos de orientações, foi uma amiga que conquistei.
Finalmente,
A você que:
Me orientou adequando o seu saber, ao meu desejo de aprender;
Me incentivou quando mais precisava;
Me foi flexível nos prazos, quando me atribulava;
Me dispensou tempo e paciência;
Me foi generosa entendendo minhas limitações;
Me indicou caminhos para que eu conduzisse meu trabalho;
Me incentivou sempre!
Obrigada Professora Dra. Gladys Denise Wielewski!
v
Epígrafe
"Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável
para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu
próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer."
[...]
“Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina
utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que se adquira um senso prático daquilo
que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser
assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do
que uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as
motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu
lugar exato em relação a seus próximos e à comunidade. Os excessos do sistema de
competição e de especialização prematura, sob o falacioso pretexto da eficácia, assassinam o
espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas
ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita,
desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem.”
(Albert Einstein)
vi
RESUMO
A presente pesquisa de mestrado tem por objetivo estudar Aspectos do Pensamento Algébrico
revelados por acadêmicos da Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática, com
Habilitação em Matemática, da UFMT - Campus de Sinop/MT. Trata-se de uma pesquisa de
natureza qualitativa, exploratória e investigativa, em que buscamos estudar as manifestações
dos acadêmicos em relação à Álgebra, usando como procedimento a Resolução de Problemas
matemáticos. Os instrumentos utilizados para a produção de dados incluíram a aplicação de
questionários para a caracterização do perfil dos sujeitos; oito problemas matemáticos e
registros audiovisuais. A partir do que foi produzido pelos sujeitos, organizamos os dados e
procedemos à análise em dois enfoques: o primeiro para identificar aspectos do pensamento
algébrico revelados na resolução dos problemas matemáticos, elementos na resolução que
evidenciassem uma sequência de etapas ou procedimentos para chegarem à resposta, além de
verificarmos se haveria a produção de algum significado para a atividade em questão; o
segundo enfoque visou considerar as concepções de Álgebra apresentadas e o posicionamento
em relação à Resolução de Problemas matemáticos. Diante disso, para o primeiro enfoque,
identificamos nos registros apresentados, que os sujeitos procederam com certa regularidade
nas operações, desenvolveram algum tipo de processo de generalização nos problemas, além
de usar linguagem algébrica ao expressarem-se matematicamente. No que tange às etapas para
a resolução dos problemas, percebemos que cada sujeito manteve uma regularidade nas
soluções apresentadas, ou seja, lançaram mão dos mesmos recursos que utilizaram para
resolver um problema, nos demais, como se fosse uma característica pessoal para organizarem
suas ideias. Para o segundo enfoque, o que apresentaram, acerca de seus conhecimentos
algébricos, nos ofereceu a possibilidade de refletir sobre como esses futuros professores lidam
com a Álgebra e atividades envolvendo a Resolução de Problemas matemáticos. Disto,
conseguimos identificar que os sujeitos não tiveram experiências que proporcionassem o
trabalho com a Resolução de Problemas a favor de uma nova forma de trabalhar e explorar os
conteúdos matemáticos. Em relação à aprendizagem da matemática por meio da Resolução de
Problemas, não identificaram, de fato, a possibilidade de aprender com essa metodologia,
mesmo considerando-a importante para o processo de desenvolvimento do raciocínio e
pensamento algébrico. Sobre os Aspectos do Pensamento Algébrico que foram revelados,
podemos concluir que, em relação às dimensões da Álgebra, predominantemente ela se
destaca como aritmética generalizada com uso das letras para expressar um modelo aritmético
em seu aspecto funcional. Operaram com a variação de grandezas, com o uso de letras
expressando relações e funções e para o estabelecimento de equações que utilizam letras
como incógnitas.
ABSTRACT
This master's research is aimed at studying the aspects of algebraic thinking shown by the
students of the Licentiate’s Degree program in Natural Sciences and Mathematics, with
specialization in Mathematics, of UFMT (The Federal University of Mato Grosso) – Sinop
Campus, MT. This is a qualitative, exploratory and investigative research, in which we seek
to study the manifestations of students in relation to algebra, using the procedure of
mathematical problem solving. Data for this research were collected through questionnaires
aimed at the profiling of subjects, eight mathematical problems and audiovisual records. From
what was produced by the subjects, the data were organized and the analysis proceeded in two
distinct approaches: the first one intended to identify aspects of algebraic thinking revealed by
solving mathematical problems and the elements of the problem solving that could reveal a
sequence of steps or procedures used to reach the answer, as well as check whether there
would be a production of meaning for the activity in question; the second approach aimed to
consider the concepts of algebra presented and the stance in relation to mathematical problem
solving. For the first approach, we identified in the records presented, that the subjects
proceeded with some regularity in operations and developed some kind of generalization
process for the problems, in addition to using algebraic language to express themselves
mathematically. Regarding the steps taken to solve the problems, we noted that each subject
maintained a regularity of the solutions presented, i.e., they applied the same resources used
to solve a problem to the other ones, as if it were a personal characteristic to organize their
own ideas. For the second approach, what the subjects presented about their algebraic
knowledge provided some support for our reflecting on how these prospective teachers
perceive algebra and the activities involving mathematical problem solving. These results
suggest that the subjects had had no experiences that provided the opportunity to work with
problem solving encouraging a new way of working and exploring mathematical content. In
what learning mathematics through problem solving is concerned, the possibility of learning
from this methodology was not, in fact, identified, even though they consider it important for
the development process of reasoning and algebraic thinking. Regarding the aspects of
algebraic thinking that were revealed, we can conclude that, in relation to the extent of
algebra, it predominantly stands out as generalized arithmetic, using letters to express a
mathematical model in its functional aspect. The subjects operated with variables, using
letters to express relations and functions, in order to establish equations that use letters as
unknowns.
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Rotas de transmissão do saber grego e do saber hindu antigos para a Europa
Ocidental. .................................................................................................................................. 29
Figura 2: Modelo de Cooperação Investigativa. ....................................................................... 51
xi
LISTA DE RESOLUÇÕES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 15
As motivações profissionais ..................................................................................................... 15
Algumas considerações sobre a formação de professores de matemática................................ 16
Algumas produções sobre pensamento algébrico ..................................................................... 18
A pesquisa: problema e objetivos ............................................................................................. 20
Organização da dissertação ...................................................................................................... 21
CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 22
1 A ÁLGEBRA ........................................................................................................................ 22
1.1Uma breve evolução histórica da Álgebra ........................................................................... 22
1.1.1 Babilônia...................................................................................................................... 23
1.1.2 Egito ............................................................................................................................ 24
1.1.3 Matemática Pitagórica ................................................................................................. 25
1.1.4 Álgebra Grega Antiga .................................................................................................. 25
1.1.5 China............................................................................................................................ 27
1.1.6 Índia (matemática hindu) ............................................................................................. 27
1.1.7 Arábia .......................................................................................................................... 28
1.1.8 Europa.......................................................................................................................... 28
1.2 Perspectivas da Álgebra ..................................................................................................... 31
1.2.1 Concepções de Álgebra ............................................................................................... 31
1.2.2 Pensamento Algébrico ................................................................................................. 35
1.2.3 Aprendizagem da Álgebra ........................................................................................... 43
1.2.4 A Álgebra na formação de Professores ....................................................................... 46
1.3 O Conhecimento Matemático para a Álgebra .................................................................... 48
1.3.1 Produção de Significados ............................................................................................ 49
CAPÍTULO II ........................................................................................................................... 52
2 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ........................................................................................ 52
2.1 Perspectivas da Resolução de Problemas ........................................................................... 54
2.1.1 George Polya: o pai da resolução de problemas .......................................................... 55
2.1.2 Outras discussões ......................................................................................................... 60
2.2 A Resolução de Problemas no contexto da presente pesquisa ........................................... 64
2.3 A Resolução de Problemas Algébricos .............................................................................. 64
2.4 A Resolução de Problemas na Formação de Professores ................................................... 66
xiv
As motivações profissionais
1
Neste momento do texto, optamos em usar a 1ª pessoa, por se tratar das experiências pessoais.
2
Especializações Lato Sensu em: Gestão da Educação Profissional e Tecnológica (UFMT), PROEJA (IFMT) e
Metodologia do Ensino de Matemática e Física (FACINTER).
16
Nos anos finais da década de 1980, o professor passa a ser visto como alguém que
pensa e que reflete sobre sua prática, e entra-se na década de 1990 tendo como foco
investigativo “as cognições dos professores acerca da sua própria formação”. As
compreensões iniciais que daí emergem conduzem os pesquisadores a se
interessarem pelo que os professores pensam sobre sua própria formação e como
percebem e validam seu desenvolvimento profissional. (PASSOS et al, 2009, p.197-
198).
Um dado importante apontado no texto de Passos et al. (2009) foi de que havia um
tratamento isolado das disciplinas específicas e das disciplinas de formação – pedagógicas –
17
ou seja, muita discussão teórica sobre formação docente, mas poucas evidências empíricas
que referenciassem as práticas e as políticas para formação.
A formação do professor de Matemática passou a ser discutida, evidenciada e
divulgada por meio das pesquisas, principalmente após a licenciatura tornar-se um foco
investigativo, com a avaliação dos cursos, propostas de estruturação curriculares, sugestões de
disciplinas e discussões sobre teoria e prática. O ensino de graduação, considerando
concepções, crenças, construções dos saberes, posturas reflexivas e críticas em situações
envolvendo estudantes e professores, teve seu destaque somente a partir de 2000 (Passos et al,
2009).
Passos et al. (2009) mostra ainda a relevância dada à questão da formação
Matemática e/ou conteúdos matemáticos que também foram enfocados nas considerações de
diversos pesquisadores. Assim, a licenciatura é vista como um espaço que é identificado pela
necessidade de formar um aluno que saiba matemática, ao mesmo tempo em que deva saber
como ensinar essa Matemática em sala de aula.
Dessa forma, as discussões sobre formação de professores caracterizam-se pela
definição de formação; de seus objetivos e funções; do que se espera ao final de seu espaço
formativo; dos conteúdos matemáticos e pedagógicos propostos; da construção dos saberes
que esse professor deve ter para enfrentar os desafios a serem encontrados na sala de aula
(NACARATO; PAIVA, 2006).
Assim, entendemos que a formação do professor de matemática na licenciatura,
inicialmente está pautada na elaboração de condutas que desenvolvam a capacidade de
compreender que suas habilidades matemáticas podem ser exploradas para potencializar sua
prática no ensino.
Moreira (2010) nos mostra que o processo de formação do professor de matemática
pode se articular com a prática docente de diferentes formas. Assim, a pesquisa contemplará
um enfoque na resolução de problemas, indicando possibilidades para que o aluno entenda
como a exploração de atividades por meio dos problemas matemáticos pode estar voltada
para sua formação, e consequentemente contribuir para sua prática futura.
Nacarato e Paiva (2006) baseadas em Shulman (1986) enfatizam a necessidade de
repensar a formação inicial em relação aos conteúdos trabalhados e suas respectivas
metodologias, e para isso, é preciso investir na constituição de um saber pedagógico
disciplinar nos cursos de licenciatura. Sendo assim:
18
3
A busca foi realizada no primeiro semestre do ano de 2012, somente em meios virtuais, e foram evidenciados
trinta e três trabalhos, destes, apenas nove faziam referência direta ao pensamento algébrico.
19
Das nove produções, que foram publicadas dos anos de 2007 a 2011, oito foram
dissertações de mestrado e uma, tese de doutorado.
Vale ressaltar que identificamos nestas nove produções a importância do estudo
sobre pensamento algébrico, as quais foram fundamentais para nos indicar um referencial
4
A descrição com detalhes das produções contidas no quadro 1 poderá ser consultada em anexo.
20
Que aspectos do Pensamento Algébrico são revelados por alunos do Curso de Licenciatura
em Ciências Naturais e Matemática: Habilitação em Matemática?
Desta forma, construímos nossos objetivos. O objetivo geral pautou-se então em
Estudar aspectos do pensamento algébrico revelados por futuros professores de Matemática
ao resolverem problemas que têm o potencial para mobilizar esse tipo de pensamento,
evidenciados em seus registros e reflexões sobre eles.
A partir do objetivo geral, surgiram os objetivos específicos:
Identificar aspectos do pensamento algébrico revelados pelos estudantes durante a
resolução dos problemas.
Identificar e caracterizaras concepções da Álgebra que os estudantes apresentam.
Identificar os processos envolvidos para a resolução dos problemas.
Compreender em que a atividade algébrica, por meio da resolução de problemas, pode
contribuir para o desenvolvimento do Pensamento Algébrico.
Organização da dissertação
1.1.1 Babilônia
que possuía características de uma álgebra retórica5. Já era possível resolver equações
quadráticas6, discutir equações cúbicas e biquadradas (ou quárticas). Eves (2004) aborda
sobre as tábuas de Yale, que datam de cerca de 1600 a.C., as quais catalogam centenas de
problemas não resolvidos de equações simultâneas que levam à resolução de equações
biquadradas. “Os babilônicos eram infatigáveis construtores de tábuas, calculistas
extremamente hábeis e certamente mais fortes em Álgebra do que em geometria. É
impressionante a profundidade e a diversidade dos problemas considerados por eles.” (p. 63).
Temos no quadro 3 um problema algébrico babilônico.
1.1.2 Egito
5
A descrição dos problemas era feita por textos, com ausência de símbolos que pudessem representar as
incógnitas.
6
Pelo método de substituição numa fórmula geral, pelo método de completar quadrados.
7
O Papiro de Moscou é de aproximadamente 1850 a.C. e possui 25 problemas, não se sabe a autoria, e hoje está
exposto em Moscou; O Papiro de Rhind ou de Ahmes data de 1.650 a.C., onde um escriba de nome Ahmes,
ensina as soluções de 85 problemas de aritmética e geometria. Este papiro foi encontrado pelo egiptólogo inglês
Rhind no final do século 19 e hoje está exposto no Museu Britânico.
8
Origem prática, pois muitos dos problemas lidam com questões de balanceamento de rações, armazenamento de
grãos etc.
9
Há alguns que tratam de progressões aritméticas e geométricas.
25
Eves (2004) trata dos três estágios no desenvolvimento da notação algébrica, sendo
eles:
10
Números triangulares, números quadrados, números pentagonais etc.
26
Metade deles leva as equações lineares simples numa incógnita, uma dúzia a
sistemas de equações simples em duas incógnitas, um a três equações em três
incógnitas e um a quatro equações a quatro incógnitas. Há também dois casos de
equações indeterminadas do primeiro grau. [...] Embora seja fácil resolver esses
problemas com nosso moderno simbolismo algébrico, deve-se admitir que uma
resolução retórica requereria uma atenção mais elevada. Já se observou que se
podem resolver muitos desses problemas com a álgebra geométrica, mas acredita-se
que na realidade, eles foram resolvidos aritmeticamente, talvez mediante a regra de
falsa posição12[...] Não se sabe quando a álgebra grega passou da forma geométrica
para a forma aritmética, mas provavelmente isso ocorreu já ao tempo de Euclides.
(EVES, 2004, p.206-207)
11
Considerado maior algebrista grego. Em sua obra “Aritmética”, introduziu uma notação simbólica com
símbolos diferentes para o quadrado de uma incógnita, para o cubo e assim sucessivamente.
12
Método numérico empregado para resolver equações lineares, no qual se escolhia um valor arbitrário, no qual
era substituído pelo valor desconhecido, e eram feitas comparações com os resultados, até que se chegasse ao
valor que solucionasse a equação.
27
1.1.5 China
Pouco se sabe sobre a matemática hindu antiga, embora que, por volta de 450 d.C.
até o fim do século XV, despontaram matemáticos hindus importantes, sendo:
Āryabhata: Século VI, teve destaque por direcionar o terceiro capítulo de seu livro de
astronomia, exclusivamente à matemática.
Brahmagupta: foi o mais eminente matemático do século VII. Em seu trabalho de
astronomia, dedicou o 12º e o 18º capítulos à matemática.
Mahāvīra: escreveu sobre matemática elementar.
Bhāskara: do seu trabalho Dialema de um sistema astronômico, duas partes merecem
destaque, sendo Lilāvati (que trata de aritmética) e Vijaganita (que trata de álgebra,
com destaque para a extração de raízes de equações.)
Bhāskara foi um dos últimos matemáticos hindus que fizeram contribuições
importantes, tendo em vista que grande parte da matemática produzida por eles são resultantes
dos textos contidos em Lilāvati e Vijaganita. A habilidade dos hindus na matemática volta-se
para a aritmética, pois eram exímios calculadores. Entretanto, deram contribuições
significativas à Álgebra, apresentando uma forma sincopada, onde utilizavam iniciais de
palavras para representar os termos das operações, como por exemplo, um número de raiz
quadrada tinha o termo ka(da palavra karana, “irracional”), antes da quantidade. Dentro do
desenvolvimento da Álgebra, os hindus sabiam que uma equação quadrática com solução real,
13
Problemas sobre agricultura, procedimento em negócios, engenharia, agrimensura, resolução de equações.
Essa produção não possui caráter demonstrativo tal qual o sistema grego.
28
tinha duas raízes formais, unificando a solução algébrica pelo método de completamento de
quadrados, e ainda pelo método conhecido como o de Bhāskara.
1.1.7 Arábia
“Não fora o trabalho dos intelectuais árabes, grande parte da ciência grega e hindu se
teria perdido irremediavelmente ao longo da Baixa Idade Média.” (EVES, 2004, p. 260). Os
árabes realizaram traduções das obras mais importantes da matemática grega e hindu, e
muitos intelectuais, financiados pelo reinado árabe, dedicaram-se a escrever sobre
matemática. Um dos mais famosos foi Mohammed ibn Mûsâ Al-Khowârizmî, que escreveu
um importante tratado de Álgebra e sobre os numerais hindus. Outros mais dedicaram seus
escritos à Álgebra, sendo Abû Kâmil e al-Karkhî. Eves (2004) afirma que a mais profunda
contribuição algébrica dos árabes, foi a resolução geométrica de uma equação cúbica, feita
por Omar Khayyam.
No período anterior a Maomé, os árabes escreviam todos os números em palavras,
influência grega; mas em função do vasto território conquistado, foi preciso a adoção de um
simbolismo abreviado, para facilitar os registros. Sendo assim, a álgebra árabe era
predominantemente retórica.
1.1.8 Europa
Figura 1: Rotas de transmissão do saber grego e do saber hindu antigos para a Europa Ocidental.
Foi no período da Idade Média (500 a 1600 d.C.) que a matemática foi difundida pela
Europa, por meio das traduções latinas feitas por intelectuais que tiveram contato com o
conhecimento muçulmano; pelas relações entre o reino normando da Sicília e o Oriente; e
pelo intercâmbio comercial entre a Europa Ocidental e o mundo árabe (Eves, 2004).
Avançando para o século XV, a atividade matemática foi concentrada nas cidades
italianas de Nuremberg, Viena e Praga, com trabalhos produzidos em aritmética, álgebra e
trigonometria.
A Álgebra que ficara por mais de dois séculos praticamente esquecida, é retomada
em um dos trabalhos que mais se destacaram no século XV, com a edição impressa de Summa
14
Leonardo Fibonacci (1175-1250), também conhecido como Leonardo de Pisa ou Leonardo Pisano.
30
15
Mais conhecida como Sūma de Luca Pacioli (1445-1509), que compila muitas fontes matemáticas para a
aritmética, álgebra e geometria.
31
[...] pode-se dizer que a álgebra simbólica teve um bom andamento, que os cálculos
com numerais indo-arábicos se padronizaram [...] que se resolveram as equações
cúbicas e quárticas e a teoria das equações progrediu [...] O campo estava preparado
para os notáveis avanços do próximo século.
Verificamos que a Álgebra teve uma evolução histórica que perpassou todo o
período em que foram evidenciados registros do desenvolvimento da matemática. Uma forte
tendência é sua configuração adotada em cada período, considerando suas formas de
representação, ou seja, tem-se muito forte a importância que foi atribuída à linguagem
algébrica, e por isso, se estende até hoje, quando se atribui à álgebra forte relação com o uso
de letras e símbolos, uso de equações, restringindo sua utilidade ao que discutiremos adiante,
sobre a tendência letrista arraigada à definição de álgebra.
16
a) Duplicação do cubo ou problema de construir o lado de um cubo, cujo volume é o dobro do de um cubo
dado; b) Trissecção do ângulo ou problema de dividir um ângulo arbitrário dado em três partes iguais; e c)
Quadratura do círculo ou problema de construir um quadrado com área igual a de um círculo dado.
32
Álgebra (ál.ge.bra) s.f. Mat Parte da matemática que usa letras e símbolos para
representar números e valores.
Algébrico (al.gé.bri.co) adj. Relativo à Álgebra [...] (SARAIVA, 2010, p. 36).
Álgebra (ál.ge.bra) s.f. Mat. Estudo das operações com grandezas abstratas,
representando as quantidades por meio de letras. [...]
Algébrico (al.gé.bri.co) adj. 1 Que se refere ou se resolve por meio de álgebra. 2
Que resulta de uma série de operações (soma, subtração, multiplicação, extrato de
raiz, etc.) realizada de maneira combinada ou separada. 3. Fig. Que tem precisão,
rigor. (BECHARA, 2011, p. 249)
Percebemos que aos significados atribuídos à Álgebra, sempre é feita menção de que
é um ramo da matemática, e a definem em duas direções; sendo a primeira como a parte da
matemática que generaliza números e operações; e a segunda pelo caráter de apropriação de
letras e símbolos nas operações. Além disso, a palavra equação está presente em quase todas
as definições.
Entendemos assim, que ao mencionar sobre Álgebra, naturalmente pensamos em
letras, símbolos e equações. Entretanto, a Álgebra não se limita somente a essa ideia, para
tanto, buscaremos com esse estudo, trazer as discussões que estão postas na literatura, para
esclarecermos tais afirmações.
Queremos com isso potencializar as abordagens feitas na dissertação para
oferecermos uma análise e discussão adequada em relação à Álgebra e suas concepções.
Como a formação inicial de professores de matemática deve considerar esse assunto elemento
importante para a construção da aprendizagem da Álgebra, necessária ao ensino da disciplina,
reforçarmos essa ideia no trecho a seguir, pertinente para nossa discussão:
17
Algébrico, Algebricamente.
33
Essa realidade trazida pelos autores americanos Coxford e Shulte (1995) nos leva a
repensar alguns aspectos sobre a Álgebra na formação de professores de matemática.
Os significados atribuídos à Álgebra são sempre relacionados com o caráter
generalizador das operações matemáticas e sua tendência letrista18. Essa concepção reforça a
condição atual de que na maioria dos casos, o ensino da Álgebra continua servindo-se em
treinar os alunos para armazenarem informações pertinentes ao conteúdo e estarem aptos a
desenvolver as técnicas e manipulações algorítmicas (COXFORD; SHULTE, 1995).
Mas o que é a Álgebra de fato? Tanto Coxford e Shulte (1995) quanto Lins e
Gimenez (1997) afirmam que não é fácil definir a Álgebra. Para entendermos isso,
consideramos que:
18
De achar que a Álgebra somente se caracteriza por se utilizar de letras e símbolos no lugar nos números.
19
Como apresentado no tópico 1.1 da presente dissertação: álgebra retórica álgebra sincopada e álgebra
simbólica.
34
20
De Retórica para Sincopada, de Sincopada para Simbólica.
35
21
O transformismo algébrico caracteriza-se por uma sequencia de tópicos que, partindo do estudo das expressões
algébricas, passava pelas operações com essas mesmas expressões, chegando às equações, para finalmente
utilizá-las na resolução de problemas.
38
Com isso, somos chamados à atenção ao fato de que apenas caracterizar a atividade
algébrica do ponto de vista de descrever procedimentos, nos leva a uma associação a
conteúdos. Lins e Gimenez (1997) destacam duas grandes linhas, tratando-se de
caracterização da atividade algébrica: caracterizá-la pelo uso de determinadas notações, ou
caracterizá-la pela presença de certos conteúdos. Segundo os autores, ambas detêm-se apenas
na descrição e complementam que, caracterizações por conteúdo ou por notação deixam de
40
fora aspectos que seriam relevantes para caracterizar a atividade algébrica, ou o pensamento
algébrico, e, portanto, as definem como externalistas.
A partir deste pressuposto, consideram uma terceira linha para a caracterização da
atividade algébrica: esta resulta da ação do pensamento formal, que a partir da definição de
Piaget22, entendem ainda que “o pensamento formal é algébrico” (p. 97), caso em que o
estágio operatório formal é alcançado; e isso construiria em alguma Atividade Algébrica, que
a nosso ver, manifesta uma forma de Pensamento Algébrico. Nesse sentido, definem essa
terceira linha como internalista.
Seguindo com os autores, verificamos também outras abordagens, destacando o
reconhecimento de padrões e, apresentando a quarta linha, partindo de G. Vergnaud, sobre
Campos Conceituais23, constituídos por:
a) Um conjunto de esquemas operacionais e de invariantes;
b) Um conjunto de formas notacionais; e,
c) Um conjunto de problemas que são resolvidos pelos esquemas e ao mesmo tempo
dando sentido a eles.
Percebemos em Lins e Gimenez (1997) que seu trabalho ressalta o que se quer
promover para a Educação Algébrica por meio do ensino, e discutem uma abordagem para o
ensino e aprendizagem da Álgebra. São contundentes ao defenderem que a atividade algébrica
não se resume em cálculo literal. Sugerem que ao pesquisar ou investigar o pensamento
algébrico, o que importa é “enfatizar que toda operação é realizada segundo uma lógica, e que
é essencial investigar essas lógicas, se quisermos entender as formas de pensar dos nossos
alunos.” (p. 114).
Finalizando, no projeto de Educação Algébrica estudado pelos autores, são
considerados dois objetivos centrais: o primeiro é permitir que, os alunos sejam capazes de
produzir significados para a álgebra; o segundo é que, os alunos desenvolvam a capacidade de
pensar algebricamente. Assim, o desenvolvimento de habilidades e técnicas seria uma
consequência, e propõem a articulação de recursos postos em jogo na resolução de problemas
ou na condução de uma investigação.
Outros autores que nos subsidiaram em nossa construção teórica foram Fiorentini,
Fernandes e Cristóvão (2005), que em seu estudo averiguam as potencialidades pedagógicas
das investigações matemáticas no ensino da Álgebra elementar, identificando, sobretudo,
22
O pensamento formal consiste em refletir as operações (concretas), portanto em operar sobre operações ou
sobre resultados e, consequentemente, em agrupar operações de segundo grau.
23
Campo conceitual, nesse caso, substitui a noção de um conceito isolado.
41
Os autores acreditam que tais aspectos podem ser mobilizados e desenvolvidos pelos
alunos, a partir de tarefas exploratórias ou investigativas, cuidadosamente planejadas, tendo
em vista essa finalidade. Para a análise da resolução dos problemas a ser feita pelos alunos,
elencam ainda aspectos que contribuem para a identificação da evolução do Pensamento
Algébrico:
[...] que vai de uma fase pré-algébrica (quando o aluno utiliza algum elemento
considerado algébrico – letra, por exemplo – mas não consegue, ainda, concebê-lo
como número generalizado qualquer ou como variável), passa por uma fase de
transição (do aritmético para o algébrico, sobretudo quando o aluno aceita e concebe
a existência de um número qualquer, estabelece alguns processos de generalização,
podendo ou não utilizar a linguagem simbólica), atingindo, enfim, um Pensamento
Algébrico mais desenvolvido (expressando capacidade de pensar e se expressar
genericamente, sobretudo quando o aluno aceita e concebe a existência de grandezas
numéricas abertas ou variáveis dentro de um intervalo numérico, sendo capaz não só
de expressá-las por escrito, mas, também, de operá-las). Cabe, contudo, esclarecer
42
que, para nós, o aluno pode atingir a terceira fase do Pensamento Algébrico, sem
necessariamente fazer uso de uma linguagem estritamente algébrico-simbólica.
(FIORENTINI; FERNANDES; CRISTÓVÃO, 2005, p. 5-6).
Por este quadro temos a ideia de que a Álgebra escolar precisa evoluir nas quatro
dimensões, o que leva à uma adaptação ao uso da sua linguagem e consequentemente, a uma
estruturação do que chamamos de pensamento algébrico.
Pode ser que esses aspectos da Álgebra no Ensino Fundamental não sejam
desenvolvidos na íntegra, pois privilegiam fundamentalmente o estudo do cálculo algébrico e
das equações, muitas vezes descoladas dos problemas. Apesar de esses aspectos serem
necessários, eles não são absolutamente suficientes para a aprendizagem desses conteúdos
(PCN, 1998).
As recomendações dos PCN para a compreensão de conceitos e procedimentos
algébricos indicam a necessidade de um trabalho articulado com essas quatro dimensões
mostradas no quadro 9,ao longo do Ensino Fundamental. Nesta premissa, acredita-se que a
habilidade de pensar abstratamente, pode ser trabalhada de forma significativa, se, aos alunos,
46
forem proporcionadas experiências variadas envolvendo noções algébricas, nas séries iniciais,
mesmo que de modo informal24, em um trabalho articulado com a Aritmética. Assim, os
alunos adquirem base para uma aprendizagem de Álgebra mais sólida e rica em significados.
Em situações em que os alunos possam investigar padrões, tanto em sucessões
numéricas como em representações geométricas e identificar suas estruturas, construindo a
linguagem algébrica para descrevê-los simbolicamente, favorece a construção da ideia de
álgebra como uma linguagem para expressar regularidades.
As atividades algébricas propostas em todos os segmentos do ensino devem
possibilitar que os alunos construam seu conhecimento a partir de situações-problema que
confiram significados à linguagem, aos conceitos e procedimentos referentes a esse tema,
favorecendo o avanço do aluno quanto às diferentes interpretações das letras25.
Vemos com isso que, a maior dificuldade para explorar o currículo é garantir que os
alunos possam estender e aprofundar seus conhecimentos sobre números e Álgebra, mas não
isoladamente de outros conceitos, nem em separado dos problemas e da perspectiva sócio-
histórica que está na origem desses temas (PCNEM, 2000).Estes conteúdos estão diretamente
relacionados ao desenvolvimento de habilidades que dizem respeito à resolução de problemas,
à apropriação da linguagem simbólica, à validação de argumentos, à descrição de modelos e à
capacidade de utilizar a matemática na interpretação e intervenção no real.
Tomando como referência o texto de Araújo (2008), tendo em vista o tratamento que
a autora dá à questão da formação de professores no contexto do ensino de Álgebra, no que
tange aos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, em que os programas seriam mais
eficientes se fossem conduzidos em função da prática docente, entendemos que os estudantes
em processo de formação não atribuem sentido na aprendizagem da Álgebra, que lhes é
apresentada de forma descontextualizada, sem que seja proporcionado o desenvolvimento do
pensamento algébrico.
A autora destaca que “o pensar matemático e a utilização da linguagem algébrica
muitas vezes não são desenvolvidos devidamente nas salas de aula de matemática”. (p. 331).
Concordamos quando a autora cita Trajano, destacando a definição de Álgebra relacionada
com a resolução de problemas, uma vez que “é a parte das matemáticas que resolve os
24
Jogos, exploração de ferramentas como calculadoras, softwares, materiais manipuláveis etc.
25
Que podem ter função de variável, incógnita, parâmetro etc.
47
problemas e demonstra os teoremas quando as quantidades são representadas por letras.” (p.
332).
Segundo Araújo (2008), a evolução histórica do ensino da Álgebra passa por
transformações importantes, a saber:
Década de 1930 – prevalecia um ensino de caráter reprodutivo, mais instrumental, útil
para resolver equações e problemas;
Década de 1960 – com o surgimento da Matemática Moderna, a Álgebra passa a
ocupar mais destaque, e o seu ensino estava pautado sob um rigor maior,
preocupando-se com os aspectos lógico-estruturais dos conteúdos e com a precisão da
linguagem algébrica. Nesse período, destaca-se o seguinte:
Quanto ao pensamento algébrico, Araújo (2008) afirma que mudanças para o ensino
da Álgebra são necessárias, e que para tal, além dos aspectos formais, o ensino seja
direcionado para a construção de um pensamento algébrico. Desta forma, devemos entender
que a linguagem expressada no caso da Álgebra, é, ao menos a princípio, a expressão de um
pensamento, que infelizmente ainda não faz parte de muitos processos de aprendizagem.
Araújo define o pensamento algébrico a partir de Fiorentini, Miorim e Miguel
(1993), do qual compartilhamos esta definição: caracteriza-se “pela percepção de
regularidades, de aspectos invariantes em contraste com aqueles que variam as tentativas de
expressar ou explicar a estrutura de uma situação problema e a presença do processo de
generalização” (p. 341).
possam oportunizar a produção de algum significado para a álgebra, e sendo assim, teceremos
a seguir, considerações que identificamos pertinentes sobre a produção de significados.
Para os autores, esse modelo constitui-se por atos de comunicação entre professor e
alunos. Tem como característica básica da comunicação a escuta ativa, que neste caso, para
nossa pesquisa, será de suma importância, pois durante a análise, procuraremos entender os
fatos e manifestações contidas no que o acadêmico26 produz, e assim, tentar descobrir os
aspectos do pensamento algébrico e se significados são produzidos no interior da atividade
matemática. Assim, entendemos ser possível perceber a perspectiva do aluno, pois a
investigação será pautada por um contato estabelecido entre sujeito e pesquisador, que em seu
papel de investigar a atividade, tentará perceber, reconhecer e avaliar o que o sujeito pensa,
formula e constrói em um problema matemático.
Buscamos neste trecho, expor o que entendemos sobre a produção de significados, e
como construímos nosso esquema para a investigação.
A produção de significados envolve a construção de conceitos, adaptar diferentes
representações para problemas distintos. É como se o aluno fosse capaz de dar sentido a tal
atividade, compreendendo as estruturas matemáticas que estão envolvidas para a resolução de
um problema matemático.
26
Sujeito da pesquisa.
CAPÍTULO II
2 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
27
Mais adiante no subtítulo 2.5 apresentaremos alguns exemplos destes tipos de problemas.
54
matemática pode se desenvolver por um processo mais rico e criativo. Sendo assim lançamos
mão do seguinte:
O núcleo desse estudo de caso desafiará o formalismo matemático, [...] Seu modesto
objetivo é formular a questão de que a matemática não-formal, semi-empírica, não
progride mediante monótono aumento do número de teoremas indubitavelmente
estabelecidos, mas mediante incessante aperfeiçoamento de opiniões por
especulação e crítica, pela lógica das provas e refutações (LAKATOS, 1978, p. 18).
Uma grande descoberta resolve um grande problema, mas há sempre uma pitada de
descoberta na resolução de qualquer problema. O problema pode ser modesto, mas
se ele desafiar a curiosidade e puser em jogo faculdades inventivas, quem resolver
por seus próprios meios experimentará a tensão e gozará o triunfo da descoberta.
Experiências tais, numa idade susceptível, poderão gerar o gosto pelo trabalho
mental e deixar, por toda a vida, sua marca na mente e no caráter.
Um professor de matemática tem, assim, uma grande oportunidade. Se ele preenche
o tempo que lhe é concedido a exercitar seus alunos em operações rotineiras,
aniquila o interesse e tolhe o desenvolvimento intelectual dos estudantes,
desperdiçando, dessa maneira, a sua oportunidade. Mas se ele desafia a curiosidade
dos alunos, apresentando-lhes problemas compatíveis com os conhecimentos destes
e auxiliando-os por meio de indagações estimulantes, poderá incutir-lhes o gosto
pelo raciocínio independente e proporcionar-lhes certos meios para alcançar seus
objetivos.
Um estudante cujo curso inclui matemática tem, também, uma oportunidade única,
que ficará evidentemente perdida se ele considerar esta matéria como uma disciplina
com que precisa obter tantos créditos e a qual deverá esquecer, o mais rápido
possível, assim que passar pelas provas finais. A oportunidade pode ser
desperdiçada até mesmo se o estudante tiver algum talento natural para a
Matemática, pois ele, como todos os outros, precisa descobrir seus talentos e seus
gostos: ninguém poderá saber se gosta de torta de maça se nunca houver provado. É
possível, porém, que chegue a perceber que um problema de matemática pode ser
tão divertido quanto um jogo de palavras cruzadas, ou que o intenso trabalho mental
pode ser um exercício tão agradável quanto uma animada partida de tênis. Tendo
experimentado prazer no estudo da Matemática, ele não esquecerá facilmente e
haverá, então, uma boa probabilidade de que ela se torne alguma coisa mais: um
28
Séries, teoria dos números, combinatória e teoria das probabilidades.
29
Publicado originalmente em Princeton, pela Princeton University Press, em 1945.
56
Essa passagem do livro de Polya “A Arte de Resolver Problemas” nos deu a clareza
de que a resolução de problemas, sendo trabalhada de forma a desenvolver as habilidades
acima descritas, fornece meios para que o aluno melhore seu desenvolvimento em
matemática, e ao professor, caminhos para que o ensino possa ser potencializado, por meio de
problemas matemáticos que ofereçam a exploração do raciocínio e pensamento matemático
do estudante, diante de conhecimentos já adquiridos, mas principalmente, diante da
possibilidade de desdobrar esses conhecimentos e talvez aprender outros mais.
Sendo assim, como ponto de partida para dissertar sobre a resolução de problemas,
temos Polya, que estabeleceu uma sistematização de etapas para que um problema
matemático pudesse ser resolvido, e propôs o que chama de heurística moderna, que estuda os
métodos e regras que são utilizados para uma invenção, uma descoberta:
30
Utilizamos a tradução de Heitor Lisboa de Araújo - A arte de resolver problemas: um novo aspecto do método
matemático. 2. reimp. Rio Janeiro: interciência, 1995, referente à segunda edição da obra, publicada em 1975.
31
Notações matemáticas, figuras, esquematizações etc.
32
Mais adiante no subtítulo 2.5 apresentaremos alguns exemplos destes tipos de problemas.
57
Toda essa argumentação nos leva ao que Polya apresenta nas etapas que sugere para
resolver um problema. São quatro e implicam em passos a serem seguidos para qualquer
natureza de problema, sendo:
I. Compreensão do Problema: é preciso compreender o problema, identificar o
que deve ser buscado para sua solução, se possui dados, incógnitas, variáveis,
condicionantes.
33
A chamada Heurística é, em suma, um corpo especial de doutrina para uso daqueles que, depois de terem
estudado os Elementos comuns, desejam adquirir a capacidade de resolver problemas matemáticos e somente
serve para esse fim. É resultado do trabalho de três homens: Euclides, o autor dos Elementos, Apolônio de Perga
e Aristeu, o Antigo. Ela ensina os procedimentos da análise e da síntese.- tradução de analyomenos de Pappus
apresentada por Polya (1987, p. 104).
58
A alegação que Polya apresentou para argumentar o quanto estas quatro fases são
indispensáveis, presume que ao procurarmos a solução para um problema, pontos de vista
variam continuadamente e por vezes precisamos mudar as estratégias. Polya ainda destaca que
geralmente é inútil executar detalhes sem perceber a conexão principal ou sem ter feito uma
espécie de plano. Se o estudante verificar cada passo, equívocos são evitados e muitos efeitos
podem ficar perdidos se ele deixar de reexaminar e de reconsiderar a solução completa.
A construção do conhecimento lógico matemático não pode ser limitada à simples
memorização de técnicas. Esse conhecimento tem sua fonte nas relações que o indivíduo pode
criar. Ao propormos situações que possibilitem a resolução de problemas, temos que explorar
as potencialidades que do aluno, por meio da interação com a atividade, quando este
desenvolve técnicas operatórias, as quais não dependem de conceitos memorizados, mas sim,
construídos gradualmente.
Cada vez que o aluno mobiliza conhecimentos e apresenta técnicas operatórias que
estão inseridas em um processo para a resolução de um problema, de certo modo, este aluno
está seguindo etapas, mesmo inconscientemente, para que tenha sucesso em sua solução.
O interessante, é que nessa premissa, Polya é o percursor de uma estruturação e
esquematização do que está envolvido quando tratamos de estudar o que está por trás de uma
resolução. Por isso, apresentamos no quadro 12, uma esquematização dos termos que o autor
apresenta em sua obra, para o que considera importante na resolução de problemas:
Estes termos citados no quadro servem para nos dar uma visão do que pode ser
importante para a resolução de problemas, além de serem considerados importantes para
facilitar o processo. Quando Polya (1987, p. 101) afirma que um futuro matemático “deverá
sem um hábil solucionador de problemas”, entendemos que o aperfeiçoamento de suas
59
habilidades pode ser desenvolvido se considerar os processos acima descritos. Isso nos remete
também à ideia de que a leitura de um problema deve ser feita de maneira arguciosa, para que
as atitudes tomadas frente a uma resolução, sejam apropriadas para compreender todos os
processos utilizados.
Quadro 12: Termos e definições para a resolução de problemas
Termo Definição
Analogia É uma espécie de semelhança em que objetos análogos coincidem em certas
relações das suas respectivas partes.
Condicionante É uma das partes principais de um problema de determinação, e dependendo
das partes que a constituem, podem ser redundantes ou contraditórias.
Contradição Quando partes de um problema são opostas e incompatíveis, como no caso da
condicionante.
Corolário Teorema que se demonstra a partir de outro teorema já demonstrado.
Decomposição e Constituem importantes operações mentais. Auxiliar na visão geral do
Recomendação problema quando organizado em partes para facilitar a solução.
Definições São descrições dos significados de termos matemáticos, por meio de outros
termos que já são conhecidos.
Demonstração por Procedimento matemático que mostra a falsidade de uma suposição derivando
absurdo dela um absurdo evidente.
Demonstração indireta Estabelece a verdade de uma afirmativa por revelar a falsidade de uma
suposição oposta.
Diagnóstico Caracterização mais rigorosa do aproveitamento do aluno. Serve para
determinar a eficácia do mesmo frente à resolução do problema.
Elementos auxiliares São introduzidos com o objetivo de facilitar a resolução do problema,
acrescentados além dos que foram inicialmente considerados.
Equacionamento É como tradução de uma língua para outra, e pode contribuir para esclarecer a
natureza de certas dificuldades. Significa expressar por símbolos matemáticos
uma condicionante que está expressa por palavras.
Figura Importante auxílio para problemas de todos os tipos, não só dos geométricos.
Ajuda no processo de esquematização e equacionamento do problema.
Generalização Passagem da consideração de um elemento para a consideração de um
conjunto mais abrangente.
Lema Quer dizer “teorema auxiliar”, que se admite para uma resolução.
Mestria Aplicação de uma regra observando os procedimentos do problema, com
naturalidade e discernimento (é o oposto de pedantismo).
Notação É uma forma de representação adotada para a linguagem matemática, como
por exemplo, o sistema de numeração.
Paradoxo Seria como um absurdo, mas que ajuda na prova de uma solução.
Particularização Passagem de um certo conjunto de elementos, para a consideração de um
apenas um dos elementos dados de um certo conjunto
Pedantismo Aplicação literal e rígida de uma regra, sem exame, pautada apenas em
procedimentos matemáticos mecânicos.
Persistência, esperança São qualidades importantes para se resolver um problema, vez que não se
e sucesso limita somente a questões intelectuais.
Raciocínio heurístico É aquele que não se considera final e rigoroso, mas provisório e plausível,
com o objetivo de descobrir a solução de um problema.
Regressão Significa “voltar pra trás”, e pode ser usada para resolver um problema por um
processo inverso.
Termos Podem descrever uma atividade de resolução de problemas.
Teste dimensional Rápido e eficiente para verificar fórmulas geométricas ou físicas.
Variação do problema Serve para observar situações com mais sucesso, para variar tentativas e
explorar outras possibilidades.
Fonte: Polya (1987)
60
A matemática pode ser encarada sob dois aspectos diferentes. Aquela exposta nos
livros de ensino, como algo criado, ordenado e sem contradições, bastando-se por si própria,
como disciplina construída por regras, teorias e conceitos que devem ser obedecidos.
Também, ser pautada por dúvidas, perturbações, longo trabalho de descoberta, diante de um
ambiente de vida social que exerce influência no processo de criação do ser humano, diante
de suas necessidades e busca por conhecimento.
Quando a questão “Matemática é para todos?” Onuchic (2011) responde claramente
que sim, desde que ela seja trabalha “nas diferentes fases da escolaridade, em diferentes
ramos, de acordo com a linguagem criada para cada uma delas: aritmética; álgebra;
geometria; medida; e análise de dados e probabilidade” (p. 2).
A autora destaca ainda que nas décadas de 1960 e 1970, o ensino de matemática no
Brasil e em outros países do mundo, foi influenciado pelo Movimento da Matemática
Moderna, que propunha o ensino acentuado no domínio de símbolos e uma terminologia
complexa, com excesso de formalização, distanciamento das questões práticas e comprometia
o aprendizado.
Neste mesmo período, as investigações sobre resolução de problemas surgiram, de
forma a buscar uma sistematização de como aplicar na educação matemática e suas
implicações curriculares. Apesar de as discussões sobre a resolução de problemas terem sido
iniciadas bem anteriormente à década de setenta, foi somente a partir daí que os educadores
matemáticos passaram a aceitar a ideia de que o desenvolvimento da capacidade de resolver
problemas poderia ser explorado, e assim, as discussões ganharam o mundo (ONUCHIC,
1987). A autora ainda traz:
Assim, entendemos que vista como meta, a resolução de problemas deve ser o
maior objetivo da aprendizagem matemática. Todos os conceitos matemáticos,
princípios e algoritmos devem ser desenvolvidos por meio de um conhecimento
significativo e habilidoso, para que essas competências sejam aplicadas na solução das
situações-problema. Portanto, vista como meta, a resolução de problemas é o motivo
principal de se estudar matemática (DANTE, 2009).
Nesta metodologia, os problemas são propostos aos alunos antes de lhes ter sido
apresentado formalmente o conteúdo matemático necessário ou mais apropriado à
sua resolução que, de acordo com o programa da disciplina para a série atendida, é
pretendido pelo professor. Dessa forma, o ensino-aprendizagem de um tópico
matemático começa com um problema que expressa aspectos-chave desse tópico e
técnicas matemáticas devem ser desenvolvidas na busca de respostas razoáveis ao
problema dado. A avaliação do crescimento dos alunos é feita, continuamente,
durante a resolução do problema. (ONUCHIC; ALLEVATO, 2005, p. 221).
Essa proposta é inovadora, e refletimos que preparar os alunos para produzir seus
próprios conhecimentos demanda um planejamento detalhado e o entendimento de que os
mesmos, em seu cotidiano desenvolvem intuitivamente operações que envolvem conceitos
matemáticos e, sendo assim, cabe ao professor, direcionar atividades que façam com que cada
aluno perceba que ele próprio pode desenvolver seu raciocínio e criar novas situações.
64
Segundo Freudenthal, “a matemática é mais que uma técnica. Aprender matemática significa
conquistar a atitude para um comportamento matemático” (apud D’AMORE, 2007, p.3).
34
Schoenfeld destaca os conteúdos que envolvem equações e sistemas lineares com duas variáveis, seus processo
de resolução, representação gráfica e transformações algébricas.
66
35
O ensino era pautado no excesso de formalização, enfatizando as propriedades e suas abstrações, distanciando-
se das questões práticas e da contextualização.
68
Assim, para Toledo e Toledo (2009, p.84) “os problemas de matemática devem envolver
muito mais aspectos do que a simples aplicação de operações”.
Nos dois exemplos do quadro 14, temos a exploração dos algoritmos36, que podem
ser resolvidos passo a passo, e têm por objetivo treinar a habilidade em executar operações e
reforçar o conhecimento. O primeiro para o treino de expressões numéricas, que para serem
36
Conjunto de regras pré-estabelecidas sequenciadas, necessárias à resolução de algum problema ou cálculo.
69
resolvidas devem ser respeitados os sinais e ordem das operações; e no segundo exemplo, são
treinadas as regras das operações, considerando a posição das casas decimais.
Esse tipo de problema exemplificado no quadro 16 envolve operações que não estão
contidas explicitamente no enunciado, que geralmente não podem ser traduzidos diretamente
para a linguagem matemática, nem pela aplicação automática de algoritmos. Exigem um
tempo para pensar e arquitetar um plano de ação, uma estratégia. Serve para estimular a
curiosidade dos alunos, além de permitir o desenvolvimento da criatividade, pois podem ser
resolvidos de formas diferentes. Este problema, por exemplo, pode ser resolvido
70
Neste caso, exemplificado no quadro 17, retratam situações reais do dia a dia e que
exigem a matemática para serem resolvidos. Também são conhecidos por situações de
contextualização. No caso do exemplo exposto acima, para auxiliar no processo de resolução,
podem ser levantados os seguintes questionamentos:
a) Quantos alunos comem merenda por dia? E por mês?
b) Quantos quilos de arroz, macarrão, tomate, cebola, sal, etc. a escola recebe por mês?
c) Qual é o preço atual, por quilo, de cada um desses alimentos?
d) Qual é o salário mensal da merendeira?
e) Quanto se gasta de gás?
Por meio de conceitos, técnicas e procedimentos matemáticos procura-se
matematizar uma situação real, organizando os dados em tabelas, traçando gráficos, fazendo
operações etc. Normalmente requerem uma pesquisa ou levantamento de dados, para que
sejam apresentados como resultado de um trabalho que considerou uma situação real do
cotidiano do aluno.
Este exemplo exposto no quadro 19 mostra que com o novo problema, substituindo o
x2por y, é possível realizar a resolução, e encontrar um meio de chegar à solução do problema
original, e nesse caso, chamamos o y de incógnita auxiliar.
Quadro 20: Exemplo de problema rotineiro
1) Resolva a equação x2 – 3x + 2 = 0
2) Calcule a área do triângulo cuja base é 3 cm e a altura é 4cm.
3) Conhecendo as relações trigonométricas do triângulo retângulo,
encontro os valores de seno, cosseno e tangente dos ângulos α e β
Isso nos diz que as atividades que desenvolvam processos mecânicos até podem ser
exploradas, pois muitas vezes as habilidades dos alunos são aperfeiçoadas na repetição de
72
procedimentos. Entretanto, estas atividades não servem para outra função, e empobrece o
desenvolvimento do raciocínio e pensamento matemático.
A pesquisa foi realizada com sete sujeitos, todos alunos do Curso de Licenciatura
em Ciências Naturais e Matemática, da UFMT - Campus de Sinop/MT. Neste tópico
abordaremos algumas características do Curso e identificaremos algumas características dos
sujeitos.
O universo da pesquisa contempla um grupo de sujeitos que está em formação
inicial, no Curso de Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática: Habilitação em
Matemática, e desta forma, a discussão sobre formação de professores foi indispensável.
Nesta conjuntura, destacamos que o objetivo foi discutir aspectos do pensamento algébrico
revelados por futuros professores de Matemática ao resolverem problemas que têm o
potencial para mobilizar esse tipo de pensamento, evidenciado em seus registros e reflexões
sobre. No contexto de sua formação inicial, partindo dos dados produzidos, em segundo plano
buscamos também compreender em que a atividade algébrica pode contribuir para o
desenvolvimento do pensamento algébrico e para conjecturarmos sobre a formação desses
sujeitos, no que diz respeito à álgebra.
3.2.1 O Curso
transformação linear; espaços com produto interno; Auto valores e Auto vetores.
Transformações no Plano; Diagonalização de Operadores. Aplicações.
7º Semestre - Álgebra para o Ensino Médio (30 horas): Estudo de tópicos de álgebra
na educação básica.
7º Semestre - Álgebra (75 horas): Grupos – definição e exemplos, subgrupos,
permutações; Relação de equivalência, congruência, inteiros módulo n, divisibilidade;
Grupos: propriedades elementares, geradores, produto direto, classes laterais, teorema
de Lagrange; Anel: definição e exemplos, domínio de integridade, subanel, corpos,
isomorfismo, característica; Homomorfismo de grupos: definição e exemplos, núcleo
de um homomorfismo, grupos quocientes, teorema fundamental do homomorfismo;
Polinômios: propriedades operatórias e algébricas do anel dos polinômios sobre um
corpo k. Teorema Fundamental da Álgebra.
Essas disciplinas visam principalmente, preparar o acadêmico para a prática
docente, e assim devem contemplar os conhecimentos científicos do respectivo
conteúdo. Damos destaque especial à disciplina do 7º semestre – Álgebra para o
Ensino Médio, que pode ser explorada não somente para trabalhar os conteúdos da
Álgebra Elementar, mas pode ser um momento de inserir as discussões envolvidas na
formação inicial dos acadêmicos. No contexto dessa formação inicial é que surge a
oportunidade de propor e apresentar as metodologias para explorar os conteúdos de
Álgebra.
3.2.2 Sujeitos
A pesquisa foi realizada com sete sujeitos. Todos são alunos do Curso de
Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática: Habilitação em Matemática, matriculados
regularmente no oitavo Semestre.
A escolha dos sujeitos foi feita a partir do critério de estarem matriculados no oitavo
semestre, e sendo assim, como o número de alunos regulares no referido semestre era
reduzido, optamos por trabalhar com todos, o que nos deu sete sujeitos.
No quadro 23, temos um panorama do perfil desses estudantes. Esclarecemos que os
nomes são fictícios para preservar a identidade dos mesmos.
77
37
Todos os modelos dos questionários constarão nos apêndices.
79
Questionário para fechamento das atividades: composto por três blocos de questões
abertas (Identificação; Sobre a Álgebra; Sobre os Problemas aplicados –
contemplando perguntas que nos permitiram obter dados em relação à formação inicial
e aprendizagem da Álgebra). Foi o último instrumento aplicado.
Além dos instrumentos acima descritos, utilizamos também outros dois, que não
necessariamente seguiram uma ordem, mas que foram aplicados em todos os momentos da
produção dos dados, que foram:
Problema 3: Irmãos
João tem três irmãos. Ele chega em casa, se dirige ao primeiro irmão e fala:
- Se você dobrar o que eu tenho no bolso, lhe dou 20 reais.
Seu irmão dobra o que ele tem no bolso e João lhe dá os 20 reais e parte para o segundo irmão, e fala:
- Se você dobrar o que eu tenho no bolso, lhe dou 20 reais.
Seu irmão dobra o que ele tem no bolso e João lhe dá os 20 reais, e parte para o terceiro irmão, e fala:
- Se você dobrar o que eu tenho no bolso, lhe dou 20 reais.
Seu irmão dobra o que ele tem no bolso e João lhe dá os 20 reais e fica sem nada no bolso.
Pergunta:
Como pode ele dobrar 3 vezes o que tinha no bolso e acabar sem nada?
Fonte: adaptado de http://manthanos.blogspot.com.br/2011/12/o-problema-dos-tres-santos.html38.
38
Este problema foi utilizado em sala de aula, no Curso de Ciências Naturais e Matemática, na disciplina de
Tendências em Educação Matemática do quinto semestre, ministrada por mim, que na ocasião cedi a carga
horária para a Professora Elizabeth Quirino de Azevedo, para realizar parte de sua pesquisa de Doutorado em
Educação Matemática, na qual, explorava a Resolução de Problemas como Metodologia de Ensino-
Aprendizagem-Avaliação. A disciplina em questão abordava a Resolução de Problemas, a Engenharia Didática e
a Transposição Didática, e foi propositalmente escolhida pela Professora Elizabeth, pois as sequências
elaboradas para sua pesquisa estavam em consonância com o que a ementa propunha.
39
A figura que se obtém com a folha de papel é a representação da superfície lateral de cilindros.
82
Problema 7: Ladrilhos
Problema 8: Tanques
Para que a leitura da análise seja facilitada, optamos por organizar identificações para
nos referirmos aos instrumentos, sendo que para cada instrumento utilizamos um código para
identificação.
Quando mencionarmos os dados produzidos a partir do questionário de
caracterização do sujeito (QCS), os identificaremos com a sigla seguida do número da questão
e seu respectivo bloco. Por exemplo: (QCS – 1B4, Pedro) que representa a resposta do sujeito
Pedro para a primeira questão do bloco quatro do questionário de caracterização do sujeito.
Para os problemas da pesquisa, trataremos de identificá-los por: P1 – Problema dos
pássaros empoleirados; P2 – Problema dos números ímpares; P3 – Problema dos irmãos; P4 –
Problema dos Cilindros; P5 – Problema dos homens ceifadores; P6 – Problema do quadro
4x4; P7 – Problema dos Ladrilhos e P8 – Problema dos tanques.
Como ao final de cada problema aplicamos um questionário para seu fechamento,
identificaremos como questionário para fechamento do problema. Por exemplo: (QFP1) que
representa o questionário para fechamento do problema 1.
Para o questionário final da pesquisa, que foi feito para o fechamento das atividades,
usaremos (QFA – 1B2) que representará a primeira questão do bloco dois, do questionário
para fechamento das atividades.
Para os dados produzidos nos registros audiovisuais, utilizaremos (RAV – P1, João)
para tratarmos, por exemplo, do registro audiovisual do problema 1 do sujeito João; ou (RAV
– QCS – 12B4, Mariana), para mencionarmos o registro audiovisual referente à fala de
Mariana durante a aplicação do questionário de caracterização do sujeito, da décima segunda
questão do bloco 4.
CAPÍTULO IV
4 ANÁLISE
40
Esses aspectos foram construídos a partir da fundamentação teórica.
87
Fonte: dados produzidos durante encontro com Pedro, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Douglas, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
A resolução apresentada por João assemelha-se com o que Pedro fez, mas ao final
João entendeu que quando x + y + z = 42 tratava-se da representação do número de pássaros
quando era o mesmo, adotou com x o valor da incógnita, encontrando o valor de 14.
Posteriormente somou os valores 6, 8 e 4, e encontrou quantos pássaros tinha inicialmente em
cada árvore, apresentando a resposta esquematizada, e mostrando que a soma realmente
condizia com o valor de 60 pássaros. João disse que gostou do problema, que problemas
como este são interessantes para desenvolver o raciocínio.
João teve o mesmo procedimento de etapas seguidas por Pedro na resolução do P1:
fez a leitura do problema em voz alta, escolheu uma forma para representar os dados,
registrou na folha os dados, realizou as operações que achou pertinente, conferiu a resposta e
esquematizou registrando os valores e conferindo se a soma equivalia a 60.
Para o P1, diante da resolução de João, conseguimos identificar os quatro passos para
a resolução de problema, com a utilização de equacionamento, diagnóstico e notação.
90
Fonte: dados produzidos durante encontro com Paula, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mateus, transcritos pela pesquisadora.
Mateus apresentou uma solução breve, e assim como Paula, não recorreu à expressão
algébrica. Fez uma abordagem mais geral para as operações, considerando o total de pássaros,
e por meio de uma esquematização de linhas e colunas nas quais organizou as informações,
encontrou os valores. Explicou que executou cálculos mentais por achar o problema simples
91
Bom, se o problema diz que são sessenta pássaros no total, então posso considerar
que poderia ter em cada árvore vinte pássaros. Só que o número de pássaros é igual
somente após voarem seis da primeira, oito da segunda e quatro da terceira, o que
totaliza dezoito pássaros que voaram das três árvores. Assim, sessenta menos
dezoito é igual a quarenta e dois, que dividindo por três, dá quatorze. É isso que
sobrou de pássaros em cada árvore. Isso significa que se eu somar quatorze e seis,
fica vinte; quatorze e oito fica vinte e dois; e quatorze e quatro fica dezoito. Essa é a
solução (RAV- P1, Mateus).
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mariana, transcritos pela pesquisadora.
41
Tratada no capítulo 1, no tópico 1.1
92
Fonte: dados produzidos durante encontro com Valter, transcritos pela pesquisadora.
era 60. Na segunda parte subtraiu das incógnitas, os valores de pássaros que voaram, e
utilizou a letra x, para representar a quantidade de pássaros nas árvores, que ao final, eram
iguais. Por último, somou a essa quantidade, as parcelas de pássaros que voaram, encontrando
a resposta. Percebemos que Valter utilizou a mesma letra (x) para duas representações
diferentes, sendo na primeira para indicar o número de pássaros da 1ª árvore, e na segunda
situação, para indicar a quantidade de pássaros nas três árvores, que segundo o enunciado, era
a mesma.
A sequência de Valter evidenciou muito a necessidade de organização dos dados
para a resolução do problema. Ele afirmou que sem essa organização nunca consegue chegar à
solução. Sendo assim, houve o reconhecimento do problema, o estabelecimento de um plano,
e a validação da resposta (pois conferiu se a soma equivalia a sessenta). Novamente foi
perceptível que etapas são seguidas, e estas têm aspectos que remetem às sugeridas por Polya.
Diferentemente dos demais sujeitos, Valter recorreu à utilização de figura para auxiliar na
esquematização e no equacionamento do problema. Também fez a utilização de notação
algébrica.
Diante das resoluções para P1, temos no quadro 24 os aspectos do pensamento
algébrico que identificamos.
Quadro 24: Organização dos aspectos do pensamento algébrico apresentadas nas resoluções do P1.
Sujeitos Aspectos do Pensamento Algébrico revelados na resolução de P1
Utilizaram um conjunto de linguagens que expressem o domínio de conceitos
Todos matemáticos;
Manipularam operações e estabeleceram relações, mesmo as aritméticas;
Produziram mais de um modelo aritmético para uma mesma situação-problema ou,
Douglas
reciprocamente, criaram vários significados para uma mesma expressão numérica.
João e
Como, por exemplo equações para representar a quantidade de 60 pássaros e equações
Mariana
para representar 42 pássaros.
Pedro, Interpretaram uma igualdade como equivalência entre duas grandezas ou entre
Douglas, duas expressões numéricas.
João, Transformaram uma expressão aritmética em outra mais simples.
Mariana e Desenvolveram/criaram uma linguagem mais concisa ou sincopada ao
Valter expressar-se matematicamente.
Quadro 25: QF P1
Qual o nível de dificuldade
Muito alto
Médio
Baixo
Alto
encontrado para resolver este
problema?
Pedro X
Douglas X
João X
Sujeitos
Mariana X
Mateus X
Valter X
Paula X
Fonte: organizado pela pesquisadora.
Isto nos estranhou, pois esperávamos que os sujeitos o considerassem fácil, tendo em
vista os recursos matemáticos utilizados para sua resolução. A respeito disso, temos o
comentário de Mariana feito no QFP1 “a resolução de um problema envolve muito o
pensamento/interpretação para depois da resolução do mesmo” (transcrição dos registros de
Mariana). A dificuldade que os sujeitos encontraram em resolver o P1 pode ser atribuída à
dificuldade de interpretação.
Nesse aspecto, em relação ao que identificamos acerca das etapas apresentadas pelos
sujeitos para a resolução do P1, nos mostra que Pedro, Douglas, João, Mariana e Valter
utilizaram de certa sequência de etapas e conseguiram rapidamente resolver e apresentar com
clareza dos dados do problema, além de nos oferecer maior facilidade de identificarmos
aspectos relacionados ao pensamento de cada um. Os recursos mais utilizados são o
equacionamento e o uso de notação para a resolução do problema.
95
Fonte: dados produzidos durante encontro com Pedro, transcritos pela pesquisadora.
Assim, enquadramos sua solução seguindo as três primeiras etapas de Polya, em que
Pedro lançou mão de realizar o diagnóstico do problema, fez o equacionamento utilizando
notação algébrica e em sua conclusão identificamos uma demonstração indireta.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Douglas, transcritos pela pesquisadora.
generalização e demonstração indireta, quando tenta justificar sua resposta afirmando que o
número em questão não pertence ao conjunto dos números naturais.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mateus, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mariana, transcritos pela pesquisadora.
Mariana representou a soma dos números por A, B e C, cuja soma é 20, mas não
manipulou expressões para chegar a uma solução. Listou números ímpares até dezessete, e
visualizou que não teria solução, pois nenhuma soma de quaisquer de três números da lista,
poderia resultar em vinte. Identificou o padrão e regularidade da operação apresentada, e
apenas considerou a propriedade aritmética dos números pares e ímpares, apenas produzindo
significado em relação ao número ímpar, sem recorrer à sua forma algébrica.
Além de ter feito a leitura do enunciado do P2 em voz alta, não identificamos o
estabelecimento de uma sequência de etapas para apresentar sua resolução. Seus recursos
limitaram-se à demonstração indireta, equacionamento, além de apresentar uma contradição.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Valter, transcritos pela pesquisadora.
Fez essas tentativas em voz alta: “qualquer desses valores que listei, se tentar somar de três
em três, nunca vai dar vinte!” (RAV – P2, Valter). O sujeito percebeu e tentou expressar
regularidades ou invariâncias, desenvolvendo de certa forma um processo de generalização,
produzindo assim significados considerando as operações segundo suas propriedades
numéricas e aritméticas. Podemos dizer que ele mostrou neste problema, uma solução que
evidencia ter se utilizado de um pensamento algébrico, pois utilizou elementos algébricos,
mas não operou com as expressões apresentadas, de forma a concebê-las como uma
generalização de números ímpares.
Semelhantemente à Mariana, Valer não evidenciou uma sequência de etapas para
apresentar a resolução do P2, mas tentou em seu registro final, mostrar que diante do que
registrou acima, o problema não tinha solução, e de certo modo, isso é uma característica de
validação. Para chegar à apresentação do resultado, Valter fez um diagnóstico, esboçou um
equacionamento, mas acabou não utilizando notação algébrica, e para justificar sua resposta,
usou como recurso a demonstração indireta.
Com essas resoluções apresentadas, organizamos no quadro 26, os aspectos do
pensamento algébrico evidenciados para P2 e os significados produzidos.
Fundamentalmente, todos percebem as propriedades das operações de números pares
e ímpares, mas somente os sujeitos Pedro e Douglas mostraram uma esquematização
completa, abordando tanto a generalização das operações, quando os procedimentos
algébricos para expressar a veracidade de suas afirmações. João, apesar de ter apresentado
uma solução simples e puramente retórica, conseguiu afirmar sua resposta.
Quadro 26: Organização dos aspectos do pensamento algébrico e dos significados produzidos para P2.
Sujeitos Aspecto de Pensamento Algébrico revelado na resolução do P2
Perceberam regularidades nas operações de números ímpares.
Pedro e Desenvolveram algum tipo de processo de generalização.
Douglas Desenvolveram uma linguagem algébrica para expressar-se
matematicamente.
Muito alto
Qual o nível de dificuldade encontrado
Médio
Baixo
Alto
para resolver este problema?
Pedro X
Douglas X
João X
Sujeitos
Mariana X
Mateus X
Valter X
Paula X
Fonte: organizado pela pesquisadora.
O P3 foi escolhido, pois percebemos nele um potencial para explorar o uso ou não da
álgebra para solucioná-lo. Apresentaremos nas resoluções os dados produzidos pelos sujeitos,
e em seguida os aspectos revelados para o pensamento algébrico e os recursos mobilizados
para a resolução do problema.
102
Fonte: dados produzidos durante encontro com Pedro, transcritos pela pesquisadora.
Pedro estabeleceu para sua resolução, uma variável para cada etapa indicada no
problema, sendo x, y, z para representar as quantidades que tinha no bolso antes de os irmãos
dobrarem as quantias. Desta forma, encontrou facilmente o valor, por meio de expressões
algébricas com incógnitas para representar os valores desconhecidos. Não tentou resolver do
final para o início e isso nos indica que tem o domínio para a construção de expressões
algébricas e as manipula com facilidade. Percebeu um padrão, e fez as representações por
meio da álgebra sem dificuldade.
Assim como no P1 e no P2, percebemos que Pedro, para resolver P3 também
manteve uma lógica em suas etapas, pois fez o reconhecimento do problema, esquematizou
uma forma de resolvê-lo, registrou as informações realizando as operações necessárias e ao
final apresentou a resposta como forma de validar sua resolução. Os recursos utilizados foram
o equacionamento, utilização de notação algébrica. É possível ainda afirmar que por meio da
condicionante posta no enunciado de P3, Pedro pode determinar de que maneira poderia
resolvê-lo, e fez um diagnóstico para operar com as equações que montou.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Douglas, transcritos pela pesquisadora.
103
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
João registrou somente a parte final de sua resolução. Foi interessante, pois durante a
filmagem, ele questionou o problema, após ter lido três vezes. Pediu esclarecimentos e por
duas vezes perguntou “isso não é pegadinha não professora?” (transcrição da fala de João).
104
Após silenciar por alguns instantes, registrou o processo apresentado na resolução 16, e
explicou:
Se no último irmão ele João ficou com zero reais, isso significa que o que foi
dobrado equivalia a vinte reais, e então posso dizer que ele chegou para esse irmão
com dez reais no bolso. Esses dez reais foi o que sobrou do segundo irmão, e então
podemos dizer que o segundo irmão ao dobrar o valor fez com que João ficasse com
trinta reais, o que indica que tinha sobrado quinze reais da conversa com o primeiro
irmão, e somando com vinte reais que ele deu, significa que o dobro da primeira
quantia era de trinta e cinco reais, o que pode me indicar o seguinte... (transcrição da
fala de João).
Fonte: dados produzidos durante encontro com Paula, transcritos pela pesquisadora.
Paula apresentou sua solução conforme resolução 17, mas começou preenchendo as
linhas e colunas do último para o primeiro valor, usando a estratégia de resolver do final para
o começo, operando mentalmente em todos os cálculos, e dispensando a utilização de
105
expressões algébricas. Apesar de ao final, seu raciocínio ter aparentado que achou o problema
simples, ela teve dificuldades de chegar ao esquema. Por vezes, pediu auxílio, e como
optamos por não fornecer nenhuma informação aos sujeitos com indicativos para as
resoluções, ela queixou-se de ter dificuldades em interpretar os dados, e isso se estendia a
situações que iam além dos problemas resolvidos na presente pesquisa.
A sequência utilizada por Paula na resolução de P3 evidenciou em relação às etapas
de Polya, o estabelecimento de um plano, por ter organizado seus registros em forma de
tabela. Isso facilitou a resolução, que a levou à validação da resposta. O recurso que se
destacou enquadra-se na regressão.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mateus, transcritos pela pesquisadora.
Mateus tentou atribuir valores que João42 tinha inicialmente, de forma aleatória, e no
início nos deixou pensar que iria resolver por tentativa e erro. Mas ao perguntar “posso
resolver de trás para frente ou tenho que demonstrar com álgebra?” respondemos que poderia
resolver da forma que ele achasse conveniente. Mateus resolveu da mesma forma que Paula,
do final para o início, partindo do terceiro irmão para finalmente chegar ao valor correto.
Mateus revelou em sua resolução, os mesmos aspectos de Paula, e o recurso da
regressão também foi identificado.
42
Personagem do P3, que aparecia no enunciado.
106
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mariana, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Valter, transcritos pela pesquisadora.
Valter resolveu pela mesma linha de pensamento de Pedro e João, e como diferencial
somente registrou as operações aritméticas que indicavam todas as etapas feitas por João43 do
primeiro ao terceiro irmão.
Identificamos por meio de seus registros que foi obedecida uma ordem para registrar
sua resposta, adequando-se às quatro etapas sugeridas por Polya. Como recursos, evidenciou o
equacionamento e notação algébrica.
Em síntese, o P3 nos indicou que nem sempre os sujeitos entendem ser necessário
recorrer a alguma representação algébrica, e segue no quadro 28, a organização do que
identificamos como aspectos do pensamento algébrico, presentes nas resoluções.
43
Personagem do P3, que aparecia no enunciado.
108
Apesar de quatro dos sete sujeitos não terem esquematizado a resolução por meio de
expressões algébricas, isso não indica a ausência de aspectos do pensamento algébrico, pois
só o fato de expressar estruturas aritméticas e operar de um processo inverso, já nos indica
que existe a apropriação de técnicas para operarem em atividades algébricas.
Em relação ao Questionário QFP3, temos no quadro 29 a síntese:
Muito alto
Médio
Baixo
Alto
encontrado para resolver este
problema?
Pedro X
Douglas X
João X
Sujeitos
Mariana X
Mateus X
Valter X
Paula X
Fonte: organizado pela pesquisadora.
Pudemos perceber que três sujeitos consideraram o problema de nível baixo, dois de
nível médio e dois de nível alto. De fato, tem em Paula a manifestação de sua dificuldade,
pois disse: “muito difícil esse problema! Eu nunca gostei de problemas desse tipo, que
parecem uma pegadinha que a gente não sabe se tem solução ou não” (RAV – P3, Paula).
Em geral, este problema foi questionado pelos sujeitos, que indagaram muito sobre o
enunciado, se não era “pegadinha” como disse Paula.
Pedro disse “este tipo de problema, que envolve processos de pensamento mais
elaborados, fazem a gente pensar mais, e às vezes, depois que descobrimos que é mais
simples do que parece, vemos o quanto a interpretação nos faz falta” (RAV – P3, Pedro).
Com a fala de Pedro citada no parágrafo anterior, e com o que identificamos nos
processos utilizados para a resolução do P3, temos que, boa parte do sucesso obtido na
resolução de um problema, surge de uma etapa muito importante: a apropriação do problema.
É a partir dela que a nosso ver, todas as outras etapas poderão ser executadas. No caso desse
problema, ficou mais difícil identificarmos uma sequência de etapas que determinasse uma
ordem com início, meio e fim.
109
Fonte: dados produzidos durante encontro com Pedro, transcritos pela pesquisadora.
Pedro antes de iniciar os cálculos, disse: “é lógico que o cilindro de maior área da
base terá o maior volume, pois proporcionalmente, a área está ao quadrado, e a altura é
considerada uma vez só” (RAV – P4, Pedro).
Em sua resolução identificamos que ele conhecia as fórmulas geométricas para o
cálculo de área e volume, mas que as utilizou para demonstrar o que percebera inicialmente.
Como visto nos problemas anteriores, Pedro sempre teve o cuidado de organizar os dados e
esquematizar a resolução para que fosse bem compreendida e não houvesse questionamentos.
Para resolver o P4, Pedro seguiu quatro etapas principais: leitura e interpretação das
informações, identificação da resposta (deduziu pelo padrão geométrico da proporcionalidade
das medidas) e registro dos cálculos para validação de sua afirmação inicial. Seu processo se
adequa às quatro etapas que temos discutido nos problemas. O equacionamento, notação
algébrica, generalização e analogia foram os recursos que identificamos na solução de P4
apresentada por Pedro.
110
Fonte: dados produzidos durante encontro com Douglas, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
João teve a mesma percepção que Pedro, mas com a diferença de ter organizado os
dados mais sofisticadamente, e justificando de forma mais completa sua resposta. As etapas e
recursos para a resolução seguiram a mesma sequência de Pedro e Douglas.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Paula, transcritos pela pesquisadora.
No registro da resolução 24, Paula não mostrou ter entendido o padrão geométrico.
Quando questionada sobre sua resposta, não soube dizer se a afirmação contida no enunciado
era verdadeira.
Como sua resposta foi dada prontamente ao lhe entregarmos a folha com P4, as
etapas para a resolução não ficaram claras. Como ela registrou somente dados que já estavam
112
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mariana, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Valter, transcritos pela pesquisadora.
Valter conclui que o cilindro B tem maior volume que o A. Teve o mesmo processo
de pensamento de Pedro, João, Douglas e Mariana, mas os cálculos para obter o valor do
volume do cilindro B foram feitos incorretamente. Os recursos foram os mesmos, apesar de
sua notação ter sido apresentada de outra maneira.
As etapas seguidas por Valter para resolver o P4 foram menos minuciosas do que as
utilizadas por Pedro, João, Douglas e Mariana. Mesmo assim, percebe-se que ao estabelecer e
escolher seguir passos que obedeçam a uma lógica, as chances de resolver o problema
corretamente podem aumentar.
O que percebemos nas resoluções apresentadas para P4, é que nenhum dos sujeitos
tentou resolver o problema de forma genérica, e dos que resolveram, o fizeram com os dados
numéricos, apesar de terem recorrido às fórmulas algébricas para cálculo da área do círculo e
volume do cilindro.
114
Alto
Pedro X
Douglas X
João X
Sujeitos
Mariana X
Mateus X
Valter X
Paula X
Fonte: organizado pela pesquisadora
Este problema nos mostra um fato preocupante em relação aos sujeitos Mateus e
Paula, que não identificaram o padrão geométrico44 de generalidade do problema, que os
outros sujeitos perceberam, mesmo não tendo realizado a resolução de forma genérica.
Em relação às etapas utilizadas para a resolução do problema, uma característica
importante surge. Pudemos perceber que quando um problema é dado, quanto mais detalhes
44
Na fórmula do volume, a presença do quadrado do raio na base, influencia no volume final.
115
são extraídos dele, e quanto mais cuidado é tomado para sua resolução, representação, registro
e formalização, a validação (quando buscada) é mais facilmente mostrada.
O P5 foi resolvido de forma correta pelo sujeito Pedro, sendo que os demais
resolveram, mas não concluíram com a resposta correta. Valter nem chegou a terminar sua
resolução, desistindo deste problema.
Os processos que apareceram nas resoluções basicamente pautaram-se no uso de
frações, equações e representações das figuras dos pastos.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Pedro, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Paula, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
117
Muito alto
Médio
Baixo
Alto
encontrado para resolver este
problema?
Pedro X
Douglas X
João X
Sujeitos
Mariana X
Mateus X
Paula X
Fonte: organizado pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Pedro, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mateus, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mateus, transcritos pela pesquisadora.
45
Como a resolução apresentada por Mateus foi longa, dividimos em duas partes para facilitar a apresentação
completa.
121
a + b + c + b = 31 b + d + b + d = 31
c + d + a + d = desco. c + a + a + c = 31
d + b + a + b = 30 b + d + b + a = desco.
c + a + c + d = 32 a + c + d + c = 32
a + c + 2d = e a + 2b + d =
a + 2b + c = 32 2b + 2d = 31
a + 2b + d = 30 2a + 2c = 31
a + 3c + d = 32 a + 2c + d = 32
c–d=2
2b – 2c = -2 → 2c – 2b = 2 → c – b = 1
a + 2c + d = 32 2b + 2d = 31 a+c = b+d
2a + 2c = 31 a + 2b + c = 32
a–d=1 a + c – 2d = 1
c–d=2 a + 2b + c = 32 C- 33 = 1 a+c= 31
a–d=1 (d + c) + 2b = 32 4 2
a + c – 2d = 1 31 + 2b = 32 4c – 33 = 4 a + 37 = 31
a+c=b+d 2 4c = 4 + 33 4 2
c–b=1 31 + 4b = 64 4c = 37 a= 31 + 37
4b = 64 - 31 c= 37 2 4
4b = 33 → b= 33 4 a= 62 - 37 a= 25
4 4 4
a–d=1
25 - d = 1 → -d = 1 - 25 → -d = 4 – 25 → -d = - 21 → d = 21
4 4 4 4 4
a + c + 2d → 25 + 37 + 2. 21 = 62 + 42 = 104 = 26
4 4 4 4 4 4
a + c + 2d = 26
a + 2b + d → 25 + 2. 33 + 21 = 46 + 66 = 112 = 28
4 4 4 4 4
a + 2b + d = 28
Fonte: dados produzidos durante encontro com Douglas, transcritos pela pesquisadora.
122
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mariana, transcritos pela pesquisadora.
O que pode justificar o fato de Douglas ter chegado ao resultado numérico errado, é
que não fez a validação, ou o que Polya chama de retrospecto. Basicamente, os recursos
mobilizados foram o equacionamento e notação algébrica.
Paula resolveu de maneira diferente dos outros sujeitos, conforme resolução 35, e
percebemos que ela tentou uma abordagem facilitadora, quando justificou seu raciocínio por
meio da soma dos valores da linha, que teriam de ser iguais à soma dos valores da coluna. Ela
percebeu que tinha uma linha igual a uma coluna e descobriu o valor da soma dos símbolos da
coluna 2, que era igual à soma dos símbolos da linha 3.
Ela estabeleceu um plano, e para sua execução, buscou como recurso o que podemos
enquadrar como teorema auxiliar, em que identificou uma condicionante. Para ela, a figura
auxiliou no processo de percepção dessa característica, e que por meio de uma demonstração
indireta, ou melhor, de uma abordagem facilitadora, obteve a resposta.
123
Fonte: dados produzidos durante encontro com Paula, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
46
Dividimos a resolução de João em quatro partes por ser muito extensa.
124
Na primeira parte (resolução 36), João fez uma organização dos dados do problema,
substituindo cada símbolo por letras, e construiu um sistema de quatro equações lineares que
representavam as somas dos valores das linhas.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
125
Na terceira parte ele então passou a substituir os valores um a um, até encontrar os
quatro valores (x, y, z, w), e finalmente, representa a soma desconhecida referente à segunda
coluna, e a soma desconhecida referente à segunda linha.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
João não visualizou que a soma da linha 3 era equivalente à soma da coluna2.
Entretanto, utilizou o método de resolução que mais demandou conhecimentos e habilidades
de manipulação algébrica.
João deixou evidente que para resolver o P6, seguiu etapas que auxiliaram seu
processo de resolução. Com mestria, fez o equacionamento e manipulou as equações com
notação algébrica.
Este problema foi o que os sujeitos mais demandaram tempo para resolver. Valter
permaneceu por 39 minutos na tentativa de resolvê-lo, mas desistiu, sem fornecer registros
que oferecessem uma possibilidade de análise. Disse que esse tipo de problema era
“desestimulante para os alunos, pois era cansativo e não mostrava nenhuma utilidade” (RAV
P6, Valter).
Em relação ao nível de dificuldade, o quadro 34 nos mostra que quatro, dos seis
sujeitos que o resolveram, consideraram-no, de nível alto. Paula, apesar de ter tentado uma
resolução facilitada, atribuiu o maior grau de dificuldade para o problema. Como Valter não
resolveu o problema, não indicou o grau de dificuldade.
126
Muito alto
Médio
Baixo
Alto
encontrado para resolver este
problema?
Pedro X
Douglas X
João X
Sujeitos
Mariana X
Mateus X
Paula X
Valter
Fonte: organizado pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Pedro, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Douglas, transcritos pela pesquisadora.
Já na resolução 41, feita por Douglas, identificamos que ele construiu uma sequência
de razões entre o número de ladrilhos pretos pelo número total de ladrilhos da figura,
estabelecendo assim razões entre as quantidades de ladrilhos.
Douglas não mostrou ter seguido alguma sequência para resolver o P7. Como fez a
leitura e seu registro permanecendo o tempo todo em silêncio, as etapas não ficaram de fato
claras. Além disso, é visível que não há um fechamento que conclua alguma resposta concreta
do problema. A produção dos significados na atividade ficou limitada somente ao
estabelecimento das relações de correspondência entre os ladrilhos.
Douglas condicionou sua observação aos dados da figura e tentou apresentar uma
solução que remete à generalização.
129
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
que identificou nas quantidades de ladrilhos e entre o que registrou para expressar essas
quantidades.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mariana, transcritos pela pesquisadora.
Das resoluções apresentadas para discussão, a de Mariana foi a que mais indicou
uma sequência que obedeceu a uma lógica com início, meio e fim para apresentar sua solução
e resultados. Essa maneira se enquadra em apropriar-se da situação, estabelecer um plano,
executá-lo e validá-lo.
Além disso, Mariana, por meio das figuras do enunciado, conseguiu construir
elementos auxiliares que ajudaram-na no equacionamento que apresentou, por meio de
notação algébrica.
Quadro 36: QFP7
Muito
Alto
alto
Baixo
Pedro X
Douglas X
João X
Sujeitos
Mariana X
Paula X
Valter X
Fonte: organizado pela pesquisadora.
131
Este problema foi desenvolvido por Lins e Gimenez (1997) como proposta de
atividade para explorar o aspecto da produção de significado.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Pedro, transcritos pela pesquisadora.
132
Fonte: dados produzidos durante encontro com Douglas, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com João, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mariana, transcritos pela pesquisadora.
Fonte: dados produzidos durante encontro com Mateus, transcritos pela pesquisadora.
135
Se os tanques são iguais, e no tanque da esquerda (X) faltam 9 baldes para enchê-lo,
no da direita (Y) faltam cinco baldes para enchê-lo, podemos então dizer que no
tanque X tem menos líquido que no tanque Y, e ainda que se fizermos a diferença
entre 9 baldes – 5 baldes, é porque no da direita tem 4 baldes a mais. (transcrição da
fala de Mateus)
Alto
Pedro X
Douglas X
João X
Sujeitos
Mariana X
Mateus X
Paula X
Valter X
Fonte: organizado pela pesquisadora.
136
Visto que todos os problemas foram apresentados, e que cada um propiciou análises
distintas, temos a seguir alguns aspectos gerais para tratarmos, com o objetivo de visualizar
um fechamento geral, baseados nas resoluções.
Considerando que o instrumento para registros dos dados que evidenciariam os
aspectos do pensamento algébrico fora a resolução de problemas matemáticos, traremos nessa
sessão, uma síntese das principais características evidenciadas em relação aos procedimentos
adotados para as resoluções, na tentativa de verificar se as estratégias utilizadas seguem
alguma ordem ou conjunto de etapas, tal qual apresentamos no referencial teórico discutido
no capítulo 2.
Os sujeitos não evidenciaram outro tipo de conhecimento mobilizado para a
resolução dos problemas e, ao serem questionados sobre os conhecimentos matemáticos que
137
utilizaram, não definiram ao certo, mas sempre relacionaram com algum conteúdo (aritmética,
álgebra, geometria).
Mesmo os problemas tendo dimensões diferentes um do outro, predominantemente,
pudemos perceber que, cada sujeito possuiu um aspecto particular que obedeceu em todos os
problemas.
Outro fator importante foi que para os sujeitos mais fiéis a um planejamento de
etapas para resolução de cada problema, como os casos de Pedro e João, o sucesso nos
resultados foram garantidos. Isso nos mostrou a potencialidade de explorar a resolução de
problemas como maneira de garantir um desenvolvimento mais autônomo do estudante,
quando envolvidos em atividades que exigem processos mais elaborados, e não somente uma
aplicação rígida de regras, pautada somente em procedimentos mecânicos.
O pensamento algébrico revelado nas resoluções feitas pelos sujeitos foi evidenciado
pela maneira em que se expressaram algebricamente. Fundamentalmente, produziram algum
significado para números e operações aritméticas, considerando suas propriedades,
formalizando seus esquemas operacionais e notacionais. Ao utilizarem elementos
considerados algébricos47, estabeleceram processos de generalização para então expressar as
grandezas por escrito e operá-las estruturalmente, e nos mostraram a existência de uma forma
de pensar, que entendermos ser o pensamento algébrico.
47
Letras e símbolos.
138
Quadro 40: Respostas apresentadas pelos sujeitos sobre o que entendem ser álgebra (QCS 1B4).
Pedro: “É quando abstraímos um problema real e resolvemos matematicamente. Representa
tudo dentro da matemática.”
Douglas: “A Álgebra inicialmente era apenas representar números através de letras. Com o
tempo percebi que a álgebra é muito mais que isso, que tange vários conhecimentos
matemáticos e sem ela alguns conceitos não poderiam ser representados”.
João: “Álgebra tem o papel de generalizar e formalizar os conceitos matemáticos”.
Paula: “É o estudo de espaços vetoriais. De todas as equações que envolvem letras e
números. Álgebra representa um meio importante na área matemática”.
Mateus: “A Álgebra representa em matemática o trabalho com variáveis, onde as mesmas
nos dão problematizações, ou seja, temos que encontrar soluções que se adequem a
equação”.
Mariana: “Álgebra é um conteúdo que envolve equações, sistemas. Acho muito interessante,
pois ela se torna a base da matemática no Ensino Fundamental onde o aluno aprende a
trabalhar a sua pureza”.
Valter: “Um estudo árabe, que envolve misturar geometria e aritmética”.
Fonte: transcrição dos dados produzidos com os sujeitos.
Em relação aos sujeitos gostarem ou não de álgebra, no QCS 3B4, tentamos verificar
este aspecto, que era complementado com a questão 10B4, em que indicavam um conceito de
1 a 5 para o grau de concordância da segunda linha (eu gosto de álgebra). Sendo assim,
apresentamos no quadro 41, as respostas obtidas e os conceitos atribuídos, segundo cada
sujeito.
139
O primeiro aspecto observado foi que as respostas das questões 3B4 e 10B4 estavam
de acordo. Pedro disse gostar da álgebra por ser difícil, ao passo que Paula não gosta pela
dificuldade. Os demais sujeitos afirmam que gostam da álgebra, e predominantemente
destacam sua importância nas operações matemáticas, bem como seu caráter generalizador.
Sobre o contato inicial com a Álgebra (QCS 2B4 e QCS 11B4), também percebemos
a presença da ideia das letras nas operações matemáticas para definir como iniciaram a
aprendizagem algébrica. No quadro 50, as respostas dos sujeitos foram diferenciadas, e
destacamos os registros de Mateus e Paula, em que revelaram certa insatisfação com a
questão, por apresentarem dificuldades.
Quadro 42: Respostas apresentadas pelos sujeitos sobre o contato inicial com a Álgebra.
Douglas:
QCS 2B4 Acredito que foi satisfatório, uma boa base ajuda a continuar.
QCS 11B4 Foi boa, acredito que se tivesse mais algumas, seria melhor.
João:
QCS 2B4: A princípio foi tranquilo (ensino básico), contudo, na segunda parte (metade) da
graduação no estudo algébrico da geometria.
QCS 11B4: Sim. Foi uma experiência muito boa pelo fato (papel) generalizador que a
álgebra tem.
Paula:
QCS 2B4: No ensino fundamental foi minha primeira experiência.
QCS 11B4: Sim, no curso de graduação. Minha experiência foi péssima, uma vez que eu
tenho muita dificuldade nessa disciplina e não concluí o curso por esse motivo.
Mateus:
QCS 2B4: Bem, por ser sempre um aluno com notas boas em matemática, e por sempre
buscar aprender novos conteúdos aplicados pelo professor, não tive dificuldades.
QCS 11 B4: Não tive nenhuma reprovação em álgebra, mesmo assim considero a álgebra
muito difícil de se aprender, passei por todas elas, mas tive muitas dificuldades.
Mariana:
QCS 2B4: Eu sei que foi no ensino fundamental na 3ª ou 4ª série quando o professor
trabalhava com a maçã, exemplos abstratos. Na faculdade trabalhamos muito também.
QCS 11 B4: Foi tranquilo. Lógico que na faculdade estamos lidando com a álgebra bem
abstrata, o que torna mais difícil, mas nada que um bom estudo não resolva.
Valter:
QCS 2B4: Meu pai é engenheiro, então sempre tive um contato mais próximo com
algoritmos e uma facilidade com eles.
QCS 11B4: Ótimas, principalmente na questão da história.
Fonte: registros dos sujeitos, transcritos pela pesquisadora.
graduação. Isso nos faz questionar o que acontece no processo de formação, para que os
estudantes não percebam que estas “duas” álgebras são as mesmas48? Talvez falte uma
construção sequencial dos conhecimentos, para mostrar que na realidade não há diferença
entre as duas, mas sim que etapas devem ser cumpridas a fim de respeitar o desenvolvimento
cognitivo dos alunos, e é neste ponto que surgem as dificuldades, pois as propriedades e
lógica das operações, a cada segmento do ensino, são pré-requisitos para o próximo, mas o
que vemos é uma dissociação dos conteúdos, o que leva a pensar que uma não tem a ver com
a outra.
Para QCS 4B4, identificamos o que os sujeitos achavam das atividades
algébricas, que também pode ser relacionado com QCS 10B4, no conceito atribuído para a
quarta linha (a álgebra é muito difícil). Seguem, no quadro,43 os resultados.
Novamente, temos no quadro 43, a nítida separação que os sujeitos fazem da álgebra
elementar e da álgebra vista na graduação. Pedro e Paula atribuíram a dificuldade,
principalmente por conta da bibliografia adotada no curso. Pedro ainda afirma que “quando
48
Dizemos isto porque a álgebra vista no ensino superior nada mais é do que um aprofundamento dos conteúdos
algébricos do ensino básico, e de uma abordagem das propriedades das operações matemáticas que provam todas
as regras estudadas na aritmética.
142
pego outras referências, consigo entender e resolver os exercícios, mas o que é usado aqui no
curso nem tem na biblioteca” (transcrição da fala de Pedro sobre QCS 4B4).
A respeito da utilidade da álgebra, obtivemos dados a partir do QCS 5B4, que se
complementava com o quinto conceito do QCS 10B4 (a álgebra não serve para nada). No
quadro 44 temos os resultados.
Quadro 44: Respostas do QCS 5B4 e 10B4 (quinto conceito).
Conceito atribuído para
“a álgebra não serve para
Sujeito Resposta QCS 5B4
nada”
QCS 10B4
Pedro Com relação à formação de um matemático, em todos os 1
momentos.
João Na resolução de problemas, mas para isso é preciso ter um bom 1
conhecimento algébrico.
Valter Em todos os momentos. 1
Douglas Ajuda no caráter de abstração, pois podemos representar 1
diversas situações sem ter seus valores numéricos.
Mateus Raciocínio lógico, na resolução de problemas do cotidiano, ele 1
abre o pensamento humano, tornando o mesmo capaz de pensar
para melhorar o seu meio.
Paula Em nível de mestrado e doutorado; na aplicação da matemática 1
pura.
Mariana Acho a Álgebra muito importante ela é útil tanto na dia-a-dia, 1
pois encontramos a maioria das situações-problema com
exemplos do cotidiano, aquela como: pneus, carta, moto, etc.
Fonte: transcrição dos dados produzidos com os sujeitos.
Por unanimidade, os sujeitos atribuíram menor conceito para o critério “a álgebra não
serve para nada”, o que nos indica que eles entendem sua importância na matemática.
Evidenciamos nas respostas de João, Douglas, Mateus e Mariana que para a resolução de
problemas, a álgebra apresenta-se muito útil, e neste sentido, temos no quadro 45, o que os
sujeitos julgam ser importante para a resolução de problemas algébricos.
relacionam a aprendizagem da álgebra com a prática de atividades que a contemple. Mas isso
não se trata da aprendizagem, e sim o domínio das técnicas operatórias pela repetição. Isso é
reflexo de um ensino mecanizado.
Iniciamos esse tópico com o QCS 6B4, em que no quadro 47, os sujeitos
predominantemente destacam sobre a atuação profissional, que depende da formação.
6 B4 - Que importância a Álgebra tem para sua formação?
Pedro, João, Valter, Mateus e Paula deram resposta afirmativa, mas não pudemos
deixar de observar que em aspectos anteriormente analisados, Paula não demonstrou em suas
respostas anteriores (sobre suas experiências com a álgebra no curso QCS 2B4, 4B4 e 11B4)
o que registrou na resposta dessa questão, e, desse modo acabou se contradizendo. Douglas
chama atenção para a estrutura do curso, que não contempla uma carga horária que seja
suficiente para abordar tudo. Ele concluiu sua resposta dizendo que “se fossemos
146
complementar a carga horária que eu acho que falta, precisaríamos de mais uns três semestres,
mas infelizmente no curso a gente só vê superficialmente” (RAV QCS 13B4, Douglas).
Mariana nem afirmou nem negou, mas entendemos com sua resposta que teve certa
insatisfação em relação aos professores que atuaram no curso, e disse “se eu tivesse
professores que enxergassem mais nossa situação, e percebessem que no futuro precisaremos
ensinar a álgebra, eles com certeza ensinariam de outra forma. É tudo muito fora do que
vivemos na prática, e não nos dá nenhuma base para sermos professores” (RAV QCS 12B4,
Mariana).
Os sujeitos apresentaram-se muito divididos nesse aspecto, mas não é nossa intenção
fazermos considerações sobre essa questão, pois avaliar o curso não cabe em nossa pesquisa,
mas foi um aspecto importante para entendermos o desenvolvimento dos sujeitos no decorrer
dos dados produzidos durante as inserções.
Pedro destaca que depende do problema, e ao questionarmos sobre o que ele quis
dizer com isso, temos que:
Quando temos problemas mais simples, que somente envolvem o uso de operações
matemáticas simples, às vezes nem precisamos recorrer à álgebra. Basta que
identifiquemos o tipo de operação e depois é só resolver. Para problemas mais
complexos, que não fazemos nem ideia por onde começamos a resolução, às vezes
só o pensamento lógico pode servir para chegarmos à resposta. Mas quando o
problema envolve alguma situação que precisa enxergar algum padrão ou realizar
algum processo de generalização, aí sim a álgebra entra com uma função muito
importante. É assim que vejo (RAV QCS 9B4, Pedro).
Para mim, os conhecimentos que até hoje foram úteis para resolver os problemas de
matemática, são conhecimentos variados, acumulados desde criança, quando
observava meu pai trabalhando, quando era estimulado da escola. Essa coisa de
estímulo tem muito a ver, pois se treinamos muito alguma coisa, ficamos bom nela,
e é assim com os problemas. É claro que os problemas podem explorar muitos
conhecimentos e que nem sempre sabemos todos, e nesse sentido entra a capacidade
de raciocínio lógico e de abstração (RAV QCS 9B4, Valter).
Com exceção à Mariana, que marcou as duas opções justificando que uma
complementa a outra, os demais sujeitos escolheram somente pela primeira opção. Desse
modo, identificamos aí, que existe nos sujeitos, a concepção de que fórmulas matemáticas não
auxiliam muito em situações que não envolvam cálculos mecânicos, e para a exploração de
atividades com resolução de problemas, fazem-se necessárias outras habilidades
contempladas nos conhecimentos matemáticos que o aluno possui.
149
Observamos dois aspectos desta situação: o primeiro é o fato de que não apareceu
um padrão de problema que fosse escolhido por todos os sujeitos, o que pode significar que
eles possuem aspectos do pensamento diferentes. Segundo, que o P4 não foi citado por
nenhum deles, e talvez isso seja um indício de que este problema que não trouxe um desafio
diferente aos sujeitos.
No caso dos problemas mais difíceis, os sujeitos não indicaram nenhum em
específico, e somente destacaram que o grau de dificuldade estava em entender o que o
problema estava pedindo e, em como proceder na resolução. No entanto, nos dados
produzidos no QFP, eles já haviam indicado o grau de dificuldade de cada problema (baixo,
médio, alto, muito alto).
Sobre a busca por uma forma para representar os dados do problema (QFA 5B3), O
quadro 55 mostra o que os sujeitos consideravam ser mais importante para entender e resolver
o problema.
Quadro 55: Respostas do QFA 5B3.
Sujeito
Pedro Sim.
João Sim. Com certeza isso é essencial.
Com certeza, as representações gráficas, como desenhos facilitam a
Valter
abstração.
Existem diversas maneiras de se resolver o problema e todas envolvem de
Douglas
modo geral representar os dados de algum jeito.
Acredito que sim, às vezes viajamos em tentativas para resolvê-lo que não
nos dão a solução, porém isso não é perdido, esse pensamento lógico torna o
Mateus
ser humano capaz de resolver problemas cada vez mais complexos somente
se treinar o cérebro.
Sim. Apresentando os dados a gente tem a noção do que se pede o problema,
Paula
facilitando o seu desenvolvimento e sua resolução.
Sim. Creio que cada um possui uma linha de raciocínio. Alguns preferem
Mariana
lógica, outros cálculo puro. O que agrada mais deve ser usado.
Fonte: transcrição dos dados produzidos com os sujeitos.
percebemos como eles têm dificuldade de relacionar as grandezas e visualizar padrões, como,
por exemplo, no caso do problema dos cilindros. Nossa hipótese é de que talvez esta, lhes seja
apresentada de forma mecânica, somente exigindo habilidades nas operações algébricas, sem
que sejam proporcionados momentos em que haja o desenvolvimento de aspectos do
pensamento algébrico.
O maior desafio está em contribuir para que estes futuros professores sejam
formados para confiar nas atividades que envolvem a resolução de problemas, criando uma
nova forma de abordar e ensinar a álgebra. Isso pode favorecer e potencializar o ensino para
construir e adquirir novos conhecimentos que envolvam o pensamento, organização,
descobertas, estabelecimento de relações e conexões.
Nos significados atribuídos à álgebra, ficou evidente o caráter generalizador das
operações matemáticas e sua tendência letrista. Essa concepção reforçou a condição de que
na maioria dos casos, o ensino da álgebra continua servindo-se em treinar os alunos para
estarem aptos a desenvolverem as técnicas e manipulações algorítmicas.
Podemos ainda destacar que o fato de a álgebra ser ensinada nas escolas de forma
mecanizada, em que os alunos recebem um treinamento para operar com as propriedades
algébricas, está diretamente relacionado com a formação inicial que os professores tiveram.
Buscamos com este estudo, além de identificar aspectos do pensamento algébrico
que os sujeitos revelariam na resolução dos problemas matemáticos, compreender como
concebem a Álgebra. Ao buscarmos interpretar o que foi respondido no questionário, fizemos
uma reflexão sobre o impacto que essa disciplina tem diante da formação dos mesmos.
Ficamos com o entendimento de que é preciso desenvolver a capacidade de aprender
e compreender a álgebra e desenvolvê-la nas atividades, aspectos que atribuímos ser de um
pensamento algébrico. Os instrumentos escolhidos para a produção dos dados também nos
forneceram a possibilidade de explorar a produção de significados dentro das dimensões
atribuídas à Álgebra e, deste modo, verificarmos que os sujeitos foram capazes de produzir
significados para os problemas e consequentemente, desenvolveram a capacidade de pensar
algebricamente. A resolução de problemas nos deu a condução da investigação, uma vez que,
se optássemos por uma sequência de atividades algébricas mecânicas, talvez identificássemos
as habilidades técnicas dos sujeitos em operarem as estruturas algébricas, mas não seria
possível determos aspectos do pensamento mais subjetivos.
O que de fato nos chamou atenção, e então voltamos para a questão inicial de nossa
pesquisa, é que em relação ao que é preconizado para as interpretações da álgebra, mostrado
153
no quadro 10, é que nos dados obtidos em campo, percebemos evidências das três primeiras
dimensões da álgebra, que são:
Aritmética generalizada: tendo o uso das letras para generalizações de um
modelo aritmético, e aparece nos procedimentos que os sujeitos realizaram
para expressarem operações que fornecessem uma solução aos problemas
propostos na pesquisa;
Funcional: tendo o uso das letras como variáveis ao expressarem relações e
funções ligadas à variação de grandezas;
Equações: quando operavam com as letras para representar incógnitas, e
assim conseguirem resolver as equações construídas para a solução do
problema.
Em seu aspecto estrutural, não evidenciamos em nenhum momento com os sujeitos,
o domínio das letras como símbolo abstrato, isso nos mostra a dificuldade que eles
apresentaram em proceder os cálculos algébricos para a obtenção de expressões equivalentes
e generalizadoras (identificamos isso nas resoluções do P7 e do P8).
Na tentativa de esclarecermos o que é Álgebra e Pensamento algébrico para os
graduandos, identificamos nas concepções e no que foi revelado pelos sujeitos, que a Álgebra
pode resumir um conjunto de afirmações a respeito de relações aritméticas. Sobre o
Pensamento Algébrico, este esteve presente em três momentos: i) modo de pensar
aritmeticamente, nos momentos em que foram utilizadas operações aritméticas, números e
relações de igualdades; ii) modo de pensar internamente, quando entendem o número como
objeto simbólico; iii) modo de pensar analiticamente, em todos os momentos que trataram as
incógnitas como dados dos problemas.
O que fica em nossas reflexões é que outras atividades poderiam ser exploradas para
evidenciar outros aspectos, mas que no contexto e universo da nossa pesquisa não couberam.
Assim, manifestamos o desejo de prosseguirmos com as discussões, em pesquisas futuras, que
possam nos dar informações mais refinadas em relação ao que são, de fato, aspectos do
pensamento algébrico. O que continua latente em nós é que se fossem outros sujeitos, em
diferentes segmentos do ensino, conseguiríamos os mesmos resultados? Fica a dúvida, ficam
as novas possibilidades para renovarmos os ares. A pesquisa pauta-se na premissa de que tudo
pode ser mudado, porém, depende da visão de quem a analisa, lê, avalia.
Como maneira de darmos continuidade à exploração dessas questões, temos um
trabalho pela frente, que tentaremos realizar junto ao curso, com ações durante as aulas, e
154
NACARATO, Adair Mendes; MENGALI, Brenda Leme da Silva; PASSOS, Cármen Lúcia
Brancaglion. A matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: tecendo os fios do
ensinar e do aprender. 1. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
PASSOS, Marinez Meneghello; et al. A Formação de Professores: uma revisão das últimas
décadas em revistas brasileiras da área de Educação Matemática. In: NARDI, Roberto
(org.). Ensino de Ciências e Matemática I: Temas sobre formação de professores. São
Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. p.194-209
PONTE, João Pedro da. Números e Álgebra no currículo escolar. In: I. Vale; A. Barbosa; L.
Fonseca; L. Santos; P. Canavarro (Eds.). Números e álgebra na aprendizagem da
Matemática e na formação de professores. Lisboa. SEM-SPCE, 2006, p. 5-27. Disponível
em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/docs-pt/06-Ponte(Caminha).pdf> Acessado em
04/07/2007.
SANTOS, Gefferson Luiz dos. Como professores e alunos do ensino médio lidam com
conteúdos algébricos em sua produção escrita. 2010. 135f. Dissertação (Mestrado em
Ensino de Ciências e Educação Matemática) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina,
2010.
SARAIVA JOVEM. Dicionário da língua portuguesa ilustrado. São Paulo: Saraiva, 2010.
SCHOENFELD, Alan H. Problem solving in the United States, 1970-2008: research and
theory, practice and politics. ZDM Mathematics Education. California-USA. 2007, p. 537-
551.
SHULMAN, Lee. Those who understand: the knowledge growths in teaching. Educational
Researcher, fev. 1986, p.4-14.
SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez (org.). Ler, Escrever e Resolver Problemas:
habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Das nove produções que foram publicadas nos anos de 2007 a 2011, oito foram
dissertações de mestrado e uma delas foi tese de doutorado.
Bonadiman (2007) apresentou a implementação e validação de uma proposta didática
elaborada com o objetivo de promover a compreensão das operações básicas envolvendo
expressões algébricas no ensino fundamental. Foi uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de
161
caso, que foi desenvolvida em duas fases, sendo a primeira abordando o uso das letras em
álgebra, e a segunda voltada para a produção de significados para as operações com
expressões algébricas. Seu estudo mostrou que a proposta implementada contribuiu para o
aprimoramento do pensamento algébrico dos sujeitos que produziram significados para as
operações realizadas com expressões algébricas, adquirindo melhor desenvoltura no domínio
e uso das letras e propriedades algébricas, tais como a comutatividade e distributividade da
multiplicação, se estendendo até para o domínio da realização de adição e subtração de
expressões algébricas. A autora destaca a importância de um trabalho do professor que
contemple a construção de propostas para dinamizar a aprendizagem dos alunos.
A pesquisa de Santos (2007) investigou a introdução do pensamento algébrico nos
livros didáticos de matemática e a influência que sua abordagem e o discurso dos autores
causam no ensino e aprendizagem da álgebra em sala de aula. Examinou também a influência
dos livros didáticos na concepção algébrica do professor e em suas ações pedagógicas. Foi
uma pesquisa qualitativa do tipo etnográfica, e pautou-se no discurso de professores de
escolas municipais, que atuavam no ensino fundamental. Os resultados evidenciaram alguns
aspectos de como os docentes pesquisados concebem o ensino da álgebra, suas crenças
algébricas e como estas estão impregnadas de mitos, conjecturas e preconceitos devido à
formação acadêmica que tiveram e à forma simplificada como a álgebra tem sido apresentada
ao longo dos tempos. Notadamente, as ações pedagógicas desses professores refletem um
currículo prescrito e/ou influenciado pelo livro didático.
O estudo de Panossian (2008) foi realizado com estudantes do 6º ano do Ensino
Fundamental, e objetivava identificar as dificuldades dos sujeitos em relação à álgebra, que
poderiam estar associadas às especificidades do conhecimento algébrico, à metodologia e
didática do ensino, e principalmente aos processos do pensamento e da linguagem. A análise
foi pautada na investigação qualitativa nas categorias de: qualidade do pensamento, qualidade
da linguagem e conceito de variável. Em suas considerações finais, afirma a importância em
reconhecer as manifestações do pensamento e da linguagem algébrica dos estudantes, e que
isso se configura como elemento principal que os professores devem considerar para
organizar suas ações para o ensino da álgebra.
Becher (2009) teve como objetivo mapear as habilidades algébricas desenvolvidas
por um grupo de estudantes do 1º ano do ensino médio, e constatou que os procedimentos
algébricos dos sujeitos baseavam-se na aprendizagem anterior da aritmética. Por meio de uma
investigação qualitativa, utilizou testes de avaliação sobre os conteúdos propostos em livros
didáticos e contou com o uso de um software.
162
49
Explicaremos no primeiro capítulo teórico.
50
Teoria social da aprendizagem desenvolvida por Wenger (1998), que expõe que a aprendizagem é
caracterizada pela prática social, em que aprender é consequência de “pertencer a” ou “ser membro de” uma
Comunidade de Prática, sendo que estas, em consonância com a teoria, podem estar em toda a parte, como no
trabalho, na família, em um grupo de amigos, na escola etc (CALDEIRA, 2010).
163
natural e alguns símbolos algébricos, considerando que muitas vezes o próprio enunciado das
questões possa ter norteado algumas das produções apresentadas.
Na tese de Freire (2011), foi investigado o desenvolvimento de conceitos algébricos
por professores dos anos iniciais do ensino fundamental. Por meio do uso de atividades
manipulativas e recursos digitais, a análise mostrou que os sujeitos apresentaram dificuldades
em entender noções básicas do pensamento algébrico51. Em uma segunda fase da pesquisa,
em que foi feito um planejamento para a utilização de atividades em sala, mostrou que as
atividades planejadas favoreceram o desenvolvimento de conceitos ligados ao pensamento
algébrico. A autora aponta que é preciso investir em formações continuadas em que os
professores passem a refletir sobre suas práticas educativas.
Pepece Junior (2011) realizou sua pesquisa com estudantes da EJA 52, e teve como
objetivo investigar indícios de pensamento algébrico e de possíveis erros na produção escrita
dos sujeitos em atividades algébricas envolvendo equações do primeiro grau. Realizou a
aplicação de uma sequência didática que era composta por sete atividades que foram aplicadas
aos sujeitos. Evidenciou em sua análise a pluralidade entre os mesmos e o aparecimento de
indícios de pensamento algébrico, como utilização de uma linguagem simbólica, padrões e
regularidades. Os erros encontrados nos registros foram classificados como: erro por falta de
conhecimento prévio do conteúdo ou termos utilizados, erro por falta de noção das quatro
operações, erro por falta de atenção na resolução, erro na apresentação do resultado, erro por
não apresentar solução para o problema e erro na interpretação do enunciado, ficando
evidente a dificuldade apresentada por alguns estudantes durante tal sequência.
51
Como, por exemplo, resolver equações do primeiro grau ou explicar diferenças entre atividades aritméticas e
atividades algébricas.
52
Educação de Jovens e Adultos.
APÊNDICES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
10 B4 - Indique seu grau de concordância com as informações abaixo (Optar por um dos
valores, sendo 1 para nota mais baixa e 5 para nota mais alta):
Grau de Concordância 11 22 33 34 45
Seu desempenho em Álgebra
Eu gosto de Álgebra
A Álgebra não é importante
A Álgebra é muito difícil
A Álgebra não serve para nada
A Álgebra desenvolve o raciocínio
Comentários:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
11 B4 –Se você já teve disciplinas de Álgebra no Curso, como foi a experiência?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
12 B4 - Quais conhecimentos sobre a Álgebra um professor deve possuir?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Bloco 1) Identificação
Nome:______________________________________________________________
2 B3 - A partir dos problemas propostos, o que você considera mais importante para resolver
problemas algébricos?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
3 B3 - Quais foram os problemas que mais gostou? Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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_________________________________________________________________________
4 B2 - Você achou que alguns problemas foram mais difíceis que outros? Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
5 B3 - Você acha que a busca por uma forma de representar os dados do problema são
importantes para entendê-lo e resolvê-lo?
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__________________________________________________________________________
6 B3 – Você acha que é possível aprender resolvendo problemas? Explique:
___________________________________________________________________________
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