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Cadernos PDE
I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O Papel do Gestor como líder na constituição do clima e da
cultura organizacional no espaço escolar
Silvia Vieira Dias1 - Professora SEED - PR
Maria Sílvia Bacila Winkeler2 - UTFPR
RESUMO
ABSTRACT
This article brings a discussion about the importance of the role of the Manager
in the climate and organizational culture in the public school environment, from a
bibliographical survey with democratic school management concepts, leadership, and
organizational culture and climate, through the analysis of data collected with
structured questionnaire applied in a public school in the State of Paraná. With this, it
was possible to notice that the constitution of the environment for a negative or positive
viewpoint on the part of the members of the school community, it has to do with the
role the school Manager (Director) has in this school community and it also influences
the teaching learning process.
Quando se passa pelas escolas públicas é possível notar diferenças nas suas
estruturas físicas no que diz respeito ao cuidado e à manutenção das mesmas, bem
como notam-se alterações no que se refere ao ambiente de trabalho em si, se é um
ambiente alegre, descontraído, com liberdade para a exposição de ideias e opiniões;
ou se as pessoas estão desanimadas e descontentes, oprimidas por terem que
obedecer a ordens e não possuírem a oportunidade de participar das decisões
tomadas. Essas diferenças comportamentais geradas no ambiente escolar são o
objeto de estudo do clima e da cultura organizacional.
Neste sentido, em tempos atuais, em que as políticas públicas educacionais
traçadas têm enfatizado a necessidade de aumento do nível de escolaridade da
população, a melhoria da qualidade de ensino ofertada, bem como a busca de
garantias de acesso e permanência dos alunos nas escolas da rede pública, fundada
na democratização da gestão escolar, questiona-se como a ação dos gestores pode
contribuir para a qualidade do ensino, partindo da análise do clima e da cultura
organizacional do espaço escolar público.
O objetivo deste trabalho foi propor uma análise do clima e da cultura
organizacional do espaço escolar público estadual por meio de pesquisa qualitativa a
fim de conhecer e favorecer o trabalho da gestão escolar visando à melhoria da
qualidade de ensino nas escolas públicas analisadas. Segundo André e Lüdke (1986),
citado por Winkeler (2014), os estudos qualitativos são muito relevantes na área
educacional e possuem algumas características que contribuem para isso: as ações
são melhores entendidas por serem analisadas naturalmente em seu contexto; diante
disso, “toda e qualquer informação é relevante” para compreender o objeto de estudo;
promove a análise de todo o processo da pesquisa e não apenas do resultado da
mesma; privilegia “as distintas possibilidades de cada sujeito, de cada contexto, do
que determina aquela situação a ser pesquisada”. Dessa forma, não as hipóteses não
estão definidas, mas se modificam no decorrer da pesquisa.
Com essa proposta, procurou-se averiguar como a ação dos gestores pode
contribuir para a qualidade do ensino, partindo da análise do clima e da cultura
organizacional no espaço escolar, uma vez que, segundo Paro (2001), “se queremos
uma escola transformadora, precisamos transformar a escola que temos aí ... Nesse
sentido que precisam ser transformados o sistema de autoridade e a distribuição do
próprio trabalho no interior da escola”.
Dessa forma, é necessário um conhecimento geral dos problemas enfrentados
pela comunidade escolar por parte dos gestores para que estes possam realizar um
planejamento que pode e deve se iniciar a partir do trabalho deles mesmos,
considerando que são os próprios gestores que irão fazer a diferença para que haja
um trabalho em equipe de modo a haver um esforço coletivo e uma mobilização
conjunta para superar as dificuldades do cotidiano escolar, o que justifica plenamente
este trabalho, que foi realizado junto aos gestores e demais integrantes da
comunidade escolar do Colégio Estadual Zumbi dos Palmares que se localiza no
município de Colombo, região metropolitana de Curitiba.
Neste artigo serão apresentadas considerações teóricas referentes à gestão
democrática na escola, clima organizacional, cultura organizacional e tipos de
liderança obtidas por meio de pesquisa bibliográfica contemplando autores como Paro
(2001) e Lück (2009), (2010), dentre outros.
Na sequência, serão apresentados os dados coletados por meio de
questionário estruturado aplicado a integrantes da comunidade escolar do colégio em
questão, seguido de uma análise destes dados que culminará nas considerações
finais, conciliando teoria e prática de modo a contribuir para a constituição da gestão
democrática e, consequentemente, para o processo ensino-aprendizagem do ensino
público.
Uma ação realmente inovadora deve ser realizada com o objetivo final de
aproximar as pessoas da comunidade junto à escola que os atende, a fim de que se
crie um eixo transparente e seguro entre comunidade e escola. Em contraponto, sabe-
se com toda ação proposta ou projeto em educação requer tempo para que se
concretize, o que se percebe hoje é que a gestão democrática ainda não existe
fielmente na sua definição. O que se almeja de fato é uma gestão participativa na qual
a principal alternativa para que a escola se transforme em um ambiente de
crescimento contínuo e integrado, buscando a participação e o comprometimento de
todos.
A democracia da gestão escolar necessita de três processos básicos que
devem estar integrados a um projeto pedagógico compromissado com a eficácia de
uma sociedade moderna e justa: a participação da comunidade escolar na escolha
dos dirigentes escolares, a instituição do conselho ou colegiado escolar, formado por
representantes da própria comunidade escolar, pais, funcionários, professores, alunos
– com poderes deliberativos e decisórios e o repasse de recursos financeiros às
escolas que assegure a ampliação da autonomia.
A gestão democrática só será constituída por meio da prática de uma cultura
democrática e do diálogo como princípio participativo. As potencialidades e obstáculos
da participação da população na gestão da escola se encontram dentro e fora da
escola. Destacam-se, com relação aos determinantes internos à unidade escolar,
quatro tipos de condicionantes; materiais, institucionais, político-sociais e ideológicos.
Com relação aos condicionantes materiais, trata-se das condições objetivas em
que se desenvolvem as práticas e relações no interior da unidade escolar. Na
realidade brasileira educacional, em geral, não se pode esperar condições ótimas de
trabalho como também a ocorrência de relações democráticas cooperativas. Da
ausência dessas condições podem contribuir para o retardamento de mudanças que
favoreçam o estabelecimento de tais relações. Entretanto, quando se fala em escolas
públicas é que na medida em que, alcançar os seus objetivos com um mínimo de
eficácia faltam recursos de toda ordem. Todavia é preciso tomar cuidado, não permitir
que essas dificuldades materiais sirvam como desculpa para nada fazer na escola.
Percebe-se tal fato quando, ao lado das reclamações a respeito da falta de recursos
e das modestas condições de trabalho não se desenvolve nenhuma tentativa de
superar tal condição ou de pressionar o Estado no sentido dessa superação, ou até
mesmo que a união de todos os envolvidos (pais, alunos, funcionários, comunidade)
que ao tornarem consciência das dificuldades, podem desenvolver ações para superá-
las. Segundo Paro (2001):
Assim, de acordo com Lück, 2009, para ser um bom diretor escolar é necessário
conhecer quais os desafios que a sociedade apresenta para a escola e sua
organização bem como para todos da comunidade escolar. Para tal, deve-se ter em
mente uma série de aspectos que englobam a educação, buscando respostas
conjuntas para questionamentos, como:
Vale lembrar a expressão popular que afirma que “a escola é a cara do diretor”,
ou seja, a ele cabe liderar para o sucesso ou para o fracasso, por isso é imprescindível
que ele tenha conhecimento do clima e cultura organizacional da sua comunidade de
modo a buscar as transformações necessárias para a melhoria da qualidade do ensino.
Assim, o trabalho do gestor deve estar focado no modo coletivo de ser e fazer
da escola, nas suas relações interpessoais, em suas tendências e articulações dentro
e fora da escola. A boa gestão de cultura e do clima organizacional indicará em um
projeto educativo de sucesso.
Se o gestor tem objetivos transformadores e vê a necessidade de a escola
organizar-se democraticamente, ele irá exercer influências no que diz respeito às
formas de organização do trabalho, sua distribuição e implementação, sintonizar as
relações interpessoais, os estilos de comunicação mediar as reações das pessoas
diante dos desafios enfrentados e ainda equacionar as influências externas, como as
determinações impostas e orientações propostas pelo sistema educacional e os
recursos que lhes são disponibilizados.
Desde 1980 vem crescendo o interesse pelo estudo e pela renovação das
teorias existentes no que diz respeito à cultura que permeia as organizações
empresariais como um todo. Observar a cultura, segundo Teixeira (2002) “permite
recolocar o fator especificamente humano nas organizações”, estas que até então
eram analisadas sob uma ótica mais estrutural e como “espaço de exercício e luta
por poder”. De acordo com Teixeira (2002, p.16):
O gestor e o espaço escolar possuem uma relação muito estreita que deve ser
analisada, estudada e refletida, pois, na contemporaneidade, a gestão escolar precisa
preocupar-se mais com os fins da Educação, com a eficácia da escola no cumprimento
de sua função social, e com os resultados que devem ser buscados e, para tanto, há
necessidade da eficiente gestão, de liderança ativa e, também de atuar visando tornar
o espaço cada vez mais funcional e dinâmico, adequado ao processo educativo
escolar onde trabalham.
Sobre a questão da liderança, como ela é algo interpessoal, possui várias
definições, uma delas, apresentada por Montana e Charnov (2000), citado por Botelho
e Krom (2010), “A liderança é um processo pelo qual um indivíduo influencia outros, a
realizar os resultados desejados”. Nessa perspectiva, destacam-se três formas de
liderança: a liderança autocrática (somente o líder fixa as diretrizes, define e distribui
tarefas, sem participação do grupo); a liderança liberal, conhecida também como
laissez-faire (mínima participação do líder, o grupo tem liberdade total para as
tomadas de decisões coletivas ou individuais); e a liderança democrática (o líder
assiste e estimula o grupo a tomar decisões, dividir tarefas e esboçar os meios para
se atingir um objetivo).
A fim de avaliar o impacto dessas três formas de liderança, em 1939 Ralph K.
White e Ronald Lippitt, da Universidade de Iowa nos Estados Unidos fizeram estudos
envolvendo meninos de dez anos que foram orientados alternadamente durante seis
semanas para a execução de tarefas dentro das três perspectivas de liderança. Dentre
os resultados, obteve-se, segundo Botelho e Krom (2010):
4% 0%
0% 0% 0%
Concordo plenamente
Concordo parcialmente
Discordo Parcialmente
Discordo Plenamente
100%
Gráfico 3: Compartilha o processo de tomada de decisões com todos os membros da comunidade escolar?
0% 4%
Concordo plenamente
12%
Concordo parcialmente
Discordo Parcialmente
84%
Discordo Plenamente
0%
5%
Concordo plenamente
19%
Concordo parcialmente
76% Discordo Parcialmente
Discordo Plenamente
Neste estudo foi possível observar que o papel do gestor, através da sua
competência e liderança, influencia na definição do clima e da cultura organizacional,
uma vez que tudo o que ele faz ou deixa de fazer interfere na qualidade do ensino
ofertado na comunidade escolar analisada, evidenciando a afirmação de Paro (2001)
“se queremos uma escola transformadora, precisamos transformar a escola que
temos aí ... Nesse sentido que precisam ser transformados o sistema de autoridade e
a distribuição do próprio trabalho no interior da escola”.
É importante considerar que mais estudos baseados nesta temática mostram-
se necessários, relevantes e de grande pertinência pela atualidade do tema e pela
força que a liderança do gestor e a gestão democrática exercem no sucesso ou na
falha do processo de ensino-aprendizagem na sociedade em que vivemos.
REFERÊNCIAS
LÜCK. Heloísa. Liderança em Gestão Escolar. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
RODRIGUES, Cinthia. O que faz e o que pensa o gestor escolar? Revista Gestão
Escolar – Editora Abril. Disponível em: http://gestaoescolar.abril.com.br/formacao/faz-
pensa-gestor-escolar-507667.shtml Acesso em: 17/10/14.
SILVA. Eunice Maria Ferreira. Gestão Escolar: novas abordagens, novos olhares
e novas propostas. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2006.Disponível em:
http://intranet.ufsj.edu.br/rep_sysweb/File/vertentes/Vertentes_29/eunice_silva.pdf
Acesso em 10 de outubro de 2015.
https://docs.google.com/file/d/0B13VuK2fmdqKMUhWbDhRTWc1NXc/edit. Acesso em
29/05/2014.