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LEIRIA
Junho de 2004
Introdução
1.1. A sociedade
1.2. A criança
A criança à medida que vai crescendo, desenvolve-se como um todo, integrado
com uma intensa dinâmica aos níveis social, físico e cognitivo, acompanhada de uma
crescente diferenciação, tornando-se num ser cada vez mais único.
«À medida que cresce, a criança torna-se progressivamente mais ciente de que
as pessoas diferem umas das outras e dela própria. Ao mesmo tempo, adquire uma
concepção mais clara do seu próprio eu e da sua personalidade, o que ela realmente é,
aos seus próprios olhos e aos dos outros» (Gleitman; 2002: 746).
Após o nascimento, a criança é categorizada de “menino” ou “menina”, o que
determinará grande parte das características da interacção entre a criança e o meio a que
passa a pertencer. Desta forma, desencadeia-se um processo de socialização diferencial,
no qual a criança vai aprendendo e adquirindo as normas e valores definidos
previamente como adequados e desejáveis para a sua categoria sexual e, que vão de
encontro às expectativas culturais definidas e próprias de cada sociedade. A criança
apreende a realidade social de formas diferentes, de acordo com as interacções que
estabelece com os outros, a sua família, os seus pares e outros adultos.
É no seio familiar, que a criança forma os seus marcos de referência, valores, e
códigos que posteriormente a irão construir, como sujeito social, com consciência de
pertencer a um determinado grupo, relacionando-se com indivíduos diferentes, mas com
características comuns. Empenhando-se emocionalmente num género como
consequência de um processo de identificação parental.
O pai e a mãe apresentam-se à criança como os primeiros modelos,
influenciando a forma como se posicionará na sociedade e, também a forma como vai
construindo a imagem do outro sexo. «A primeira valoração do feminino e do
masculino ocorre na família, com a consequente subalterizaçao do sexo feminino.»
(Romão; 1990: 168).
«Durante a socialização primária os pais reforçam positivamente ou
negativamente, com comportamentos diferentes, a conduta do filho ou da filha. De uma
forma consciente ou inconsciente, estão-se assim a propor à criança modelos a imitar,
modelos com os quais vai aprender a ser rapaz ou rapariga». (Vieira; 1998: 108).
Através de ambientes extrafamiliares, nomeadamente no Jardim de Infância, a
criança tem oportunidades para contactar com os outros, seus iguais que, tal como ela,
procuram e constroem a sua identidade. É através desse contacto que a criança
experimenta relações e sentimentos diferentes, necessários para a superação dos vários
estádios de maturação.
Desta forma, a educação pré-escolar oferece à criança uma nova e cada vez mais
ampla gama de experiências de «[...] expansão sensorial e relacional, de abertura
intelectual genérica, de progressão flexível do subjectivo para o objectivo, configurando
as primeiras estruturas cognitivas que permitam à criança aproximar-se de uma
assunção lógica e relacional da realidade cultural.» (Zabalza; 1992: 71). A escola é assim
chamada a actuar sobre um sujeito possuidor de uma bagagem de experiências prévias
que estão marcadas pelo meio familiar e sócio-cultural de origem, sobre um sujeito com
um ritmo particular de aprendizagem que é resultado do seu próprio potencial de
desenvolvimento.
O jardim de infância permite à criança entrar no mundo dos adultos através do
desempenho de papeis, reproduzindo modelos sociais e acontecimentos do meio que a
rodeia. O seu significado e contexto confundem a criança ou escapam à sua
compreensão, no entanto ajudam a dar um sentido próprio às situações e aos
acontecimentos (Hohmann; 1992: ).
A sala do jardim de infância encontra-se espacialmente dividida em áreas
específicas, que proporcionam os jogos de faz de conta. A área da casa transforma-se
numa área de simulação e de desempenho de papéis, onde as crianças têm a
oportunidade de trabalhar em conjunto, de exprimir ideias e de comunicarem com os
outros, respondendo assim às suas necessidades.
Quando as crianças se distribuem pelas várias áreas, verifica-se que são
influenciadas pelos estereótipos de género ao preferirem os brinquedos e jogos tidos
como típicos e adequados ao seu género. «Inquestionavelmente a adopção dos
comportamentos esperados socialmente e o empenhamento preferencial nas actividades
apropriadas ao seu género, cujas características podem diferir substancialmente das
actividades apropriadas ao outro género, fazendo com que rapazes e raparigas tenham
experiências distintas, o que se poderá repercutir no seu desenvolvimento motor,
cognitivo, social e afectivo.» (Neto et al; 1999: 16)
O que se verifica é que, quando as meninas e os meninos se envolvem em
brincadeiras, o estereótipo do papel masculino é mais rígido, mais controlado que o do
feminino. Deste modo, o menino é mais pressionado socialmente a ter atitudes e
comportamentos enquadrados no seu género, paralelamente, nas meninas não existe um
controlo tão apertado.
Na legislação actual portuguesa é valorizada a promoção do desenvolvimento
pessoal e social da criança numa perspectiva de educação para a cidadania, fomentando
a sua inserção em grupos sociais diversos e contribuindo para a igualdade de
oportunidades. Apesar desta ser a posição oficial do estado, existem fortes oposições
sociais e culturais que a contrariam, nomeadamente os meios de comunicação social, em
especial destaque para a televisão; os manuais escolares; outros livros dirigidos às
crianças, e outros materiais pedagógicos, que oferecem modelos estereotipados, de
acordo com a realidade social, onde estão inseridos. Sendo por isso, veículos de
desigualdade e modelos distorcidos que “ensinam a discriminação” (Souta;1990:70).
Além destes aspectos há ainda a referir o papel do educador, marcado pela sua
própria história, que condiciona toda a sua actuação profissional.
1.3. As profissões
A Formação Pessoal e Social é uma área transversal, que atravessa todas as áreas
da educação pré-escolar que se articulam entre si. Esse facto tem a ver com a forma
como a criança se relaciona consigo própria, com os outros e com o mundo, num
processo que envolve o desenvolvimento de atitudes e valores. Todas as componentes
curriculares deverão contribuir para o desenvolvimento nas crianças de atitudes e
valores, que lhes permitam tornarem-se cidadãos conscientes e solidárias, com
capacidade para resolver problemas, inserindo-se na comunidade como indivíduos
autónomos e livres.
A educação pré-escolar encontra-se marcada por finalidades educativas de
socialização, contribuindo para que a criança aprenda a tomar consciência do eu e dos
outros, e que desenvolva valores morais, comportamentais, afectivos, cívicos, estéticos
e espirituais.
Os valores não se ensinam, vivem-se no dia-a-dia, na relação com os outros. A
vivência do quotidiano, em grupo, implica o constante confronto de opiniões e a procura
de soluções para os conflitos. A consciência da existência das diferentes perspectivas e
valores, vai de alguma forma fomentar atitudes de tolerância, compreensão do outro e
respeito pela diferença, contribuindo desta forma, para a construção da identidade, da
auto-estima e do sentimento de pertença colectiva.
O Jardim de infância é a primeira etapa da educação, devendo proporcionar à
criança um clima aberto e tranquilo, bem como actividades e aprendizagens que a levem
a desenvolver-se num todo, onde a aceitação das diferenças sexuais e sociais são uma
forma de igualitar as oportunidades no processo educativo. É de forma lúdica que a
criança manifesta as suas vivências e os seus sentimentos, mas também é desta forma
que a criança poderá desenvolver o valor da Cidadania, através de atitudes de auto-
estima, respeito mútuo e tolerância.
Apesar de termos consciência de que muitos outros valores e atitudes estão
subjacentes na nossa actividade diária, incidiremos a nossa atenção sobre os referidos
anteriormente, a partir da actividade que nos propomos desenvolver – O cantinho do
Cabeleireiro.
De seguida, procuramos apresentar de forma sucinta, o valor e as atitudes em foco
no nosso trabalho:
Cidadania pode ser definida como um comportamento característico da vida em
sociedade, devendo todos os cidadãos estar conscientes dos seus direitos e deveres, e
predispostos a construir uma sociedade de direito e liberdade, de justiça e de
solidariedade.
A criança desde cedo deve de ser educada para adquirir um comportamento cívico.
Esta educação está associada ao desenvolvimento cognitivo, emocional e sócio – moral
de cada indivíduo, e «também às informações que nos ajudam a conhecer e reflectir
sobre factos e acontecimentos, mas igualmente a valores, atitudes e crenças que nos
ajudam a tomar sobre eles posições reactivas e pró-activas. Ou seja, a pessoa deve
conhecer o Mundo, mas também deve conhecer-se a si própria, conhecer os seus estados
de espírito, ter uma imagem consciente de si própria, equacionar reflexivamente a sua
relação consigo própria, com os outros e com o mundo.» (Serra, :02)
A auto-estima é um conjunto de «...percepções, pensamentos, avaliações,
sentimentos e tendências comportamentais dirigidos para nós mesmos, para a nossa
maneira de ser e de nos comportarmos, para as características do nosso corpo e do nosso
carácter...» (Bonet, 2002: 14) que determinam as nossas atitudes.
Este sentimento tem o seu início na infância e é neste período, que deve ser
cultivado positivamente. Desta forma, possui um papel muito importante, pois ele
baseia-se na forma como a criança se vê a si própria, se gosta ou não do que vê, tanto a
nível físico como intelectual e também como acha que os outros a vêm.
O respeito mútuo é um sentimento que se desenvolve na criança em função da
interacção que ela estabelece com o seu meio social. Desde que nasce, a criança é
confrontada com uma série de normas básicas de convivência e de conduta, que têm
como finalidade «o respeito de si próprio e do outro, na consideração dos desejos
próprios e alheios, na predisposição para cumprir as regras do jogo e para ceder em caso
de conflito» (Bonet; 2002: 87).
O respeito pelo outro passa em primeiro lugar pelo respeito que tem de si própria,
dado que «a incompreensão de si é uma fonte muito importante para a incompreensão
do próximo» (Morin;1999:103). Uma vez que ao esconderem as suas próprias carências e
fraquezas, se tornam impiedosos para com as carências e fraquezas dos outros.
A diversidade está presente em todas as manifestações do ser humano, todos
somos diferentes e é essa diferença que nos torna únicos e singulares. O respeito mútuo
permite que a diferença seja aceite e compreendida, sendo «um hábito que se adquire,
como todos os hábitos, pela repetição dos actos, pela insistência em comportamentos
destinados a acabar com qualquer forma de separação do diferente pelo simples facto de
ser diferente” (Camps;1994:54).
Ser tolerante é saber respeitar e aceitar a riqueza e a diversidade das culturas
existentes no nosso mundo e os diferentes modos de exprimir a nossa qualidade,
enquanto seres humanos. A tolerância é fundamentada pelo conhecimento, abertura de
espírito, comunicação, liberdade de pensamento e de consciência.
Deste modo e, tendo em conta que a intolerância surge apenas em ambientes de
ignorância cultural, a educação pode e deve ter um papel preponderante, pondo em
convivência e harmonia as diversas culturas. A educação terá obrigatoriamente que ser
multicultural, partindo das vidas das próprias crianças e procurando compreender as
atitudes e ideias de cada uma. A tolerância, funda-se essencialmente no respeito pelo
outro e no direito de cada um ser aceite, em comunidade, tal como é.
A escola será assim um exemplo de prática da tolerância, «a fim de manter a
paz, a justiça, o respeito dos direitos do homem e de favorecer o progresso social. A
tolerância não se pode manifestar sob a sua forma mais activa senão num
enquadramento onde são respeitadas a dignidade humana e as liberdades públicas.»
(documento da UNESCO 27C/25 (22)
Identificação:
2. Planificação
Conteúdos Objectivos
Área de Formação - Identificar as características necessárias para o desempenho da profissão de
Pessoal e Social cabeleireiro/a;
- Privilegiar o diálogo, sentido crítico e a reflexão sobre vários assuntos
inerentes ao tema;
- Desenvolver a iniciativa e a tomada de decisões nas actividades;
- Aceitar as pequenas frustrações e manifestar uma atitude positiva perante
situações adversas;
- Desenvolver as próprias vivências afectivas e manifestá-las de forma
socialmente aceitável;
- Promover a valorização e respeito pelas normas que regulam a convivência
nos grupos sociais a que a criança pertence e a participação na elaboração de
algumas dessas normas;
- Desenvolver atitudes de ajuda, colaboração, responsabilidade e cooperação,
coordenando os seus interesses com os dos outros;
- Compreender e valorizar as consequências dos próprios actos em si e nos
outros;
- Adequar o comportamento às necessidades, solicitações e exigências de
outras crianças ou adultos;
- Potenciar o desenvolvimento de condutas, hábitos e atitudes sociais;
- Reconhecer-se como pertencente a grupos (família, escola e grupo social)
Área de - Estimular a capacidade de representação de diferentes papéis;
Expressão e - Promover a expressão de sentimentos, emoções e vivências através de
Comunicação várias linguagens;
- Promover a participação activa das crianças na planificação e reflexão das
várias actividades;
- Desenvolver actividades criativas a partir da própria realidade;
- Desenvolver o interesse e esforço em melhorar e enriquecer as suas
próprias produções linguísticas;
- Desenvolver atitudes de precisão e rigor na descrição de situações.
Área do - Conhecer a organização do trabalho num cabeleireiro;
Conhecimento do - Valorizar a importância do trabalho do cabeleireiro/a para a comunidade;
Mundo - Conhecer os instrumentos e as suas funções, na profissão de cabeleireiro/a.
3. Estratégias /Actividades
4. Actividades Desenvolvidas
Esta actividade foi realizada por quatro crianças, em grupos rotativos de duas.
A pintura dos rolos de cartão foi realizada por oito crianças, em grupos rotativos
de duas. A construção dos bancos foi executada pela educadora, uma vez que implicava
cortar tábua, recortar esponja, coser tecido e colar com cola quente. As crianças foram
assistindo às várias fases desta actividade.
Esta actividade foi realizada por quatro crianças, uma de cada vez.
O papel para forrar o lavatório foi pintado por quatro crianças em simultâneo.
Depois de seco, outras duas crianças esponjaram o papel de outra cor.
Inicialmente foi arranjada uma caixa de cartão, onde foi feito um buraco num
dos topos. Depois, esta foi forrada com o papel de cenário pintado e no sítio do buraco
foi colada, com cola quente, uma bacia. Esta tarefa foi totalmente realizada pela
educadora sobe o olhar atento das crianças.
Antes desta área estar concluída, apenas tinha a mesa, a cadeira, os bancos, o
pequeno móvel de arrumação do material e alguns utensílios, as crianças quiseram
experimentá-la. Foram nove crianças (três rapazes e seis raparigas) para o canto, no
entanto havia outras que também queriam ir, mas por acharem que havia muita confusão
ficaram apenas a observar, e logo começaram a sugerir que deveria haver símbolos
nesta nova área (nesta sala de actividades, o número de crianças por área está estipulado
desde a criação de cada uma, existindo tantos símbolos identificativos de cada área
como o número de crianças que a pode frequentar), e uma das crianças mais novas dizia
mesmo para consigo “então o que é isto? isto não tem símbolos! Eu também quero ir!”
As crianças penteavam-se, sentavam-se nos bancos à espera e experimentavam os
utensílios que existiam. Todas as crianças estavam ansiosas por experimentar a nova
área.
1º Dia de observação
3º Dia de observação
5º Dia de observação
Este dia decorreu com normalidade no cabeleireiro, mantendo-se o ambiente
calmo e sem complicações. Não esteve sempre ocupado, no entanto, foi usado por
rapazes e por raparigas, sendo os seus comportamentos adequados, organizando-se sem
que fosse necessária a intervenção da educadora. No entanto, quando a educadora estava
presente, as crianças mostravam-se mais motivadas e criativas.
As crianças mostraram dominar o vocabulário próprio da actividade, mantendo
diálogos adequados ao cabeleireiro: “não prefere a cor vermelha, parece que fica melhor
com a sua cara”; “já acabei o meu cliente, pode vir outro”.