1 – OBJETIVOS
1.1. Nosso propósito com esta disciplina é propor aos nossos alunos do Curso de
Teologia Zayit e aos estudantes da Bíblia de modo específico a mais perfeita
interpretação da Bíblia de modo ortodoxo.
1.2. Nossa missão é obter uma intelectualidade com espiritualidade, vamos leva-lo à
pesquisa as Escrituras de modo profundo, apresentando a disciplina de um modo
simples e compreensível.
2 – INTRODUÇÃO
A difícil tarefa da interpretação bíblica fica ainda mais complexa quando se adiciona
mais um elemento ao processo, o da transmissão da mensagem em contextos
transculturais em uma sociedade avançada em conhecimentos e tecnologias. Tendo
como base a interpretação, a presente apostila se propõe a esquematizar determinados
fundamentos para a complicada tarefa da interpretação e transmissão da mensagem
bíblica em contextos multiculturais na pós-modernidade.
3 – DEFINIÇÕES
Hermenêutica é a ciência e arte de interpretar textos.
A hermenêutica é a ciência que estabelece os princípios, leis e métodos de interpretação.
Em sua abrangência trata da teoria da interpretação de sinais, símbolos e leis de uma
cultura.
Hermenêutica é considerada ciência porque ela tem normas, ou regras, e essas
podem ser classificadas num sistema ordenado.
Hermenêutica é considerada arte porque a comunicação é flexível e, portanto,
uma aplicação mecânica e rígida das regras, às vezes, distorcerá o verdadeiro
sentido de uma comunicação.
Hermenêutica é um ato de caráter espiritual, quando se trata da interpretação da
Bíblia, pois deve ser realizada na dependência do Espírito Santo.
Exige-se do bom intérprete que ele aprenda as regras da hermenêutica bem como
a arte de aplicá-las e que tenha uma vida piedosa.
Interpretar um texto implica em duas vertentes:
É tornar o autor bíblico contemporâneo do leitor (nós), aproximando-nos à
compreensão da mesma época do autor.
É comentá-lo de forma a alcançar a capacidade de compreensão das pessoas a
quem se deseja comunicar a sua mensagem.
Ao interpretar devemos partir de três perguntas básicas:
O que o texto diz ou qual seu significado? (exegese);
O ele diz para mim ou qual seu significado para mim? (devocional);
Como compartilhar com você o que o texto diz ou seu significado para nós?
(homilética).
4 – ORIGEM
A palavra HERMENÊUTICA é derivada do termo grego HERMENEUTIKE e o
primeiro homem a empregá-la como termo técnico foi o filósofo Platão.
Uma das primeiras ciências que o pregador deve conhecer é certamente a hermenêutica.
Porém, quantos pregadores há que nem de nome a conhecem! Que é, pois, a
hermenêutica? "A arte de interpretar textos", responde o dicionário. Porém a
hermenêutica (do grego hermenevein, interpretar), da qual nos ocuparemos, forma parte
da Teologia exegética, ou seja, a que trata da reta inteligência e interpretação das
Escrituras bíblicas.
5 – HERMENÊUTICA BÍBLICA
Esta é uma disciplina do curso de teologia da mais alta importância por ser o ponto de
convergência de todo conhecimento bíblico, teológico e geral. Todo conhecimento será
importante no momento da exegese.
Através das regras da Hermenêutica, o estudante é capaz de organizar, compreender,
comentar e aplicar o material bibliográfico à sua disposição.
A hermenêutica é importante porque capacita a pessoa a se movimentar do texto para o
contexto, para que o significado inspirado por Deus na Bíblia fale hoje com uma
relevância tão nova e dinâmica quanto em seu ambiente original. Além disso,
pregadores ou professores devem anunciar a Palavra de Deus em vez de suas opiniões
religiosas repletas de subjetividade. Só uma hermenêutica bem definida pode manter
alguém atrelado ao texto.
7 – A NECESSIDADE DA HERMENÊUTICA
A necessidade se dá pela razão que mencionamos em nossa introdução, isto é, pela
diversidade de diferença que existe de um homem para outro, e podemos ainda
acrescentar a razão primária da necessidade da hermenêutica que é o pecado, pois este é
um fato histórico mundial.
Devemos ler a Bíblia na busca da verdade. Porém, o que mais acontece é desejarmos
acomoda-la com nosso sistema religioso e ver seu significado sob a perspectiva de
nosso sistema dogmático preconcebido, tal como fazem com os “usos e costumes”
muitas denominações. Mas tal ato é eisegese.
C – A Posição Neo-ortodoxa
Os neo-ortodoxos creêm que a Bíblia torna-se palavra de Deus.
A Bíblia torna-se a palavra de Deus quando os indivíduos a leêm e as palavras
adquirem para eles significado pessoal, existencial, ou quando há um encontro
pessoal entre Deus e o Homem.
Portanto, Deus se revela na Bíblia nos encontros pessoais; não porém, de
maneira preposicional, isto é, nas frases e citações bíblicas.
D – A posição Ortodoxa
A Bíblia é a palavra de Deus.
A posição ortodoxa é que Deus operou por meio das personalidades dos
escritores bíblicos de tal modo que, sem suspender seus estilos pessoais de
interpretação ou liberdade, o que eles produziram foi literalmente, "soprado por
Deus“, ou palavra de Deus.
A – Teologia Luterana
Duas verdades presentes em toda Bíblia: a Lei e o Evangelho.
A Lei é vista como manifestação do ódio ao pecado, trazendo juízo e a ira de
Deus.
O Evangelho é visto como manifestação da graça, amor e salvação de Deus.
Segundo esse critério, passagens do AT como Gn.7:1 são consideradas
“Evangelho” enquanto Mt.22:37 “Lei”.
A posição luterana acentua a “continuidade” no sentido de que a Lei e a Graça
(Evangelho) continuam presentes desde o início da história humana.
Assim, Lei e Graça não são duas épocas, mas partes integrantes do seu
relacionamento com o homem.
B – A Teologia Calvinista
O termo Calvinismo é dado ao sistema teológico da Reforma protestante, exposto e
defendido por João Calvino (1509-1564).
Seu sistema de interpretação bíblica pode ser resumido em cinco pontos, conhecidos
como "os 5 pontos do Calvinismo" (TULIP em inglês):
C – A Teologia Arminista
O Arminianismo é o sistema de Teologia formulado por Jacobus Arminius (1560-1609),
teólogo da Igreja holandesa, que resolveu refutar o sistema de Calvino.
Quanto à certeza da salvação, o teólogo holandês assevera que o crente pode ter
perfeita segurança, pois afirma confiantemente que “é possível que uma pessoa,
com certeza e confiança na graça de Deus e na misericórdia de Cristo, parta
desta vida, e compareça perante o trono da graça, sem qualquer medo ansioso
ou pavor terrível”. Porém, Armínio também afirma que mesmo depois de crer
em Jesus, de tornar-se seu discípulo, o indivíduo precisa perseverar nesta fé,
para não cair deste estado de graça.
D – Teologia da Libertação
Teologia da Libertação é uma corrente teológica cristã nascida na América Latina,
depois do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín (Colômbia, 1968), que
parte da premissa de que o Evangelho exige a opção preferencial pelos pobres e de
especificar que a teologia, para concretar essa opção, deve usar também as ciências
humanas e sociais.
1. Inocência ou Edênico
2. Consciência ou Antediluviano
3. Governo Humano
4. Patriarcal ou Promessa
5. Mosaico ou Lei
6. Graça ou Igreja
7. Reino Milenal
8. Estado Eterno ou Final
4 esquema de dispensação: Patriarcal, Mosaico, Eclesial e Sionista.
3 esquema de dispensação (minimalista): Lei, Graça e Reino.
Das sete dispensações, cinco já foram concluídas: inocência, consciência, governo
humano, patriarcal e lei, e estaríamos vivendo a dispensação da graça, que dará lugar a
milenial. Dois grandes eventos marcarão o fim desta dispensação: o arrebatamento da
igreja e a volta visível de Jesus para inaugurar o milênio.
B – Modelo Epigenético
A. Observação – É o passo que nos leva a extrair do texto o que realmente descreve os
fatos, levando também em conta a importância das declarações e o contexto;
B. Interpretação – É o passo que nos leva a buscar a explicação e o significado (tanto
para o autor quanto para o leitor) para entender a mensagem central do texto lido. A
interpretação deverá ser conduzida dentro do contexto textual e histórico com oração e
dependência total do Espírito Santo, analisando o significado das palavras e frases
chaves, avaliando os fatos, investigando os pontos difíceis ou incertos, resumindo a
mensagem do autor a seus leitores originais e fazer a contextualização (trazer a
mensagem a nossa época ou ao nosso contexto);
C. Correlação – É o passo que nos leva a comparar narrativas ou mensagem de um fato
escrito por vários autores, em épocas distintas em que cada um narra o fato, em ângulos
não coincidentes como por exemplo a mesma narrativa descrita em Mc 10.46 e Lc
18.35, onde o primeiro descreve "saindo de Jericó" e o segundo "chegando em Jericó";
D. Aplicação – É o passo que nos leva a buscar mudanças de atitudes e de ações em
função da verdade descoberta. É a resposta através da ação prática daquilo que se
aprendeu.
Um exemplo de aplicação é o de pedir perdão e reconciliar-se com alguém ou mesmo o
de adoração à Deus.
Exercício: 1 Timóteo 2 e 3 (dividir a sala em dois grupos e cada um trabalhará o método
analítico de um capítulo).
11.2 – Método Sintético (Procura o tema que amarra todo livro)
É o método utilizado nos estudos que abordam cada livro como uma unidade inteira e
procura o seu sentido como um todo, de forma global (é a busca de sintetizar o que leu
em uma palavra). Neste caso determina-se as ênfases principais do livro ou seja, as
palavras repetidas em todo o livro, mesmo em sinônimo e com isto a palavra-chave
desenvolve o tema do livro estudado. Outra maneira de determinar a ênfase ou
característica de um livro é observar o espaço dedicado a certo assunto. Como por
exemplo, o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus enfatiza a fé e em todos os demais
capítulos ela enfatiza a palavra SUPERIOR. (De acordo com a versão Almeida Revista
e Atualizada – ARA).
SUPERIOR:
A. Aos anjos – 1.4; f) Ao sacrifício – 9.23; l) Ao sacerdócio – 5 a 7;
B. A aliança – 7.22; g) Ao patrimônio – 10.34;
C. A bênção – 7.7.; h) A ressurreição – 11.35;
D. A esperança – 7.19; i) A pátria – 11.16;
E. A promessa – 8.6; j) A Moisés – 3.1 a 4;
11.3 – Método Temático (Busca no livro o tema desejado)
Sobre alguns personagens bíblicos muito foi escrito. Quando você estuda pessoas como
Jesus, Abraão e Moisés, pode precisar restringir o estudo a áreas como, "A vida de Jesus
como nos é revelada no Evangelho de João", "Moisés durante o Êxodo", ou "Que diz o
Novo Testamento sobre Abraão". Lute sempre para manter os seus estudos bíblicos em
tamanho manejável.
Estudo Biográfico Básico.
PASSO UM – Escolha a pessoa que você quer estudar e estabeleça os limites do estudo
(por exemplo, "Vida de Davi, antes de tornar-se rei"). Usando uma concordância ou um
índice enciclopédico, localize as referências que têm relação com a pessoa do estudo.
Leia as várias vezes e faça resumo de cada uma delas.
1. Observações – Anote todo e qualquer pormenor que notar sobre essa pessoa. Quem
era? O que fazia? Onde morava? Quando viveu? Por que fez o que fez? Como levou a
efeito? Anote minúcias sobre ela e seu caráter.
2. Dificuldades – Escreva o que você não entende acerca dessa pessoa e de
acontecimentos de sua vida.
3. Aplicações possíveis – Anote várias destas durante o transcurso do seu estudo, e
escreva um "A" na margem. Ao concluir o seu estudo, você voltará a estas aplicações
possíveis e escolherá aquela que o Espírito Santo destacar.
5. Faça um gráfico das viagens da pessoa. Aonde ela foi? Por que? Que fez?
6. Como a pessoa morreu? Houve alguma coisa extraordinária em sua vida?
C. A unidade literária menor, que o Estudo Bíblico Indutivo (EBI) emprega, é a palavra.
Organizam-se palavras em frases, frases em períodos, períodos em parágrafos,
parágrafos em seções, seções em divisões, e por fim, a obra completa.
PALAVRA – Unidade menor;
FRASES – Reunião de palavras que formam um sentido completo;
PERÍODO – Reunião de frases ou orações que formam sentido completo;
PARÁGRAFOS – Um discurso ou capítulo que forma sentido completo, e que
usualmente se inicia com mudança de linha.
SEÇÃO – Parte de um todo, divisão ou subdivisão de uma obra, tratado, estudo.
12 – FIGURAS DE RETÓRICA
Exporemos em seguida uma série de figuras com seus correspondentes exemplos, que
precisam ser estudados detidamente e repetidas vezes.
12.1 – Metáfora.
Esta figura tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos, caracterizando-
se um com o que é próprio do outro. É uma comparação não expressa. É a figura em que
se afirma que alguma coisa é o que ela representa ou simboliza, ou como que se
compara. O sujeito está entrelaçado com a coisa comparada.
Metáfora é designação de um objeto ou qualidade mediante uma palavra que designa
outro objeto ou qualidade que tem com o primeiro uma relação de semelhança (p.ex.,
ele tem uma vontade de ferro, para designar uma vontade forte, como o ferro).
Exemplos bíblicos:
Ao dizer Jesus: "Eu Sou a Videira Verdadeira", Jesus se caracterizou com o que
é próprio e essencial da videira (pé de uva);
Ao dizer aos discípulos: "Vós sois as varas", caracterizou-os com o que é
próprio das varas.
Outros exemplos: "Eu Sou o Caminho", "Eu Sou o Pão Vivo", "Judá é
Leãozinho", "Tu és minha Rocha", etc.
Símile – “O reino dos céus é semelhante...”. Ao contrário da símile que é uma
comparação expressa onde o sujeito está de fora.
12.2 – Sinédoque.
Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte, o plural
pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa. É a substituição de uma ideia por
outra que lhe é associada.
Exemplos:
A parte pelo todo (ou o todo pela parte)
Vou sair da casa de meus pais e ter meu próprio teto. (casa)
A classe pelo indivíduo (ou o indivíduo pela classe)
Quanto mais o Homem constrói, mais o Homem destrói. (os seres humanos)
12.3 – Metonímia.
É o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com que tem certa relação. A
metonímia se refere à substituição de palavras com sentidos próximos, ou seja, é
utilizada uma palavra em vez de outra, sendo que ambas partilham uma relação de
proximidade de sentido, de contiguidade. Emprega-se esta figura quando se emprega a
causa pelo efeito, ou o sinal ou símbolo pela realidade que indica o símbolo.
Exemplos:
Jesus emprega a causa pelo efeito: "Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos",
em lugar de dizer que têm os escritos de Moisés e dos profetas (Lc 16.29).
Jesus emprega o símbolo pela realidade que o mesmo indica: "Se eu não te lavar,
não tem parte comigo." Lavar é o símbolo da regeneração.
“Falem os dias e a multidão dos anos ensine...”. A idade por aqueles que a têm
(Jó 32:7).
“Duas nações há no teu ventre”. Os progenitores pelas descendências (Gn
25:23).
12.4 – Prosopopeia.
Esta figura é usada quando se personificam as cousas inanimadas, atribuindo-lhes os
feitos e ações das pessoas. É personificação de coisas ou de seres irracionais.
Exemplos:
"Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (I Cor 15.55) Paulo trata a morte
como se fosse uma pessoa.
"Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as
árvores do campo baterão palmas." (Is 55.12)
"Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram. Da
terra brota a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar." (Sl 85.10,11)
“Todos os meus ossos dirão: Senhor quem é como tu” (Sl 35:10).
Ossos/fala
12.6 – Ironia.
Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se quer dizer, porém
sempre de tal modo que se faz ressaltar o sentido verdadeiro. É a expressão de um
pensamento em palavras que, literalmente entendidas, exprimiriam o pensamento
oposto.
Exemplos:
"Clamai em altas vozes... e despertará." Elias dá a entender que chamar por Baal
é completamente inútil (1 Rs 18.27).
“Clamai aos deuses que escolhestes, eles que vos livrem no tempo de vosso
aperto (Juízes 10:14).
13.7 – Hipérbole.
É a figura pela qual se representa uma coisa como muito maior ou menor do que em
realidade é, para apresentá-la viva à imaginação. É um exagero. É a afirmação em que
as palavras vão além da realidade literal das coisas.
Exemplos:
"Vimos ali gigantes... e éramos aos nossos próprios olhos como
gafanhotos... as cidades são grandes e fortificadas até aos céus" (Num.
13.33).
"Nem no mundo inteiro caberiam os livros que seria, escritos" (Jo.
21.25).
"Rios de águas correm dos meus olhos, porque não guardam a tua lei" (Sl
119.136).
Dt 1:28 “As cidades são grandes e fortificadas até os céus”.
12.8 – Alegoria.
É um modo de expressão ou interpretação que consiste em representar pensamentos,
ideias, qualidades sob forma figurada. Podemos dizer que é uma figura retórica que
geralmente consta de várias metáforas unidas, representando cada uma delas realidades
correspondentes.
Exemplo:
• "Eu Sou o Pão Vivo que desceu do céu, se alguém dele comer, viverá
eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo, é a minha carne... Quem comer a
minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna", etc. - Esta alegoria tem sua
interpretação nesta mesma passagem das Escrituras. (Jo 6.51-65)
12.9 – Fábula.
É uma narrativa, em prosa ou verso, com personagens animais que agem como seres
humanos, e que ilustra um preceito moral.
Exemplo:
• "O cardo que está no Líbano, mandou dizer ao cedro que lá está: Dá tua filha por
mulher a meu filho; mas os animais do campo, que estavam no Líbano, passaram e
pisaram o cardo" (2 Rs 14.9). Com esta fábula Jeoás, rei de Israel, responde a proposta
de guerra feita por Amazias, rei de Judá.
12.10 – Enigma.
O enigma também é um tipo de alegoria, porém sua solução é difícil e abstrusa
(obscuro). Enigma é a definição de algo por suas qualidades ou particularidades, mas
difícil de entender.
Exemplo:
• "Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura" (Jz 14.14).
12.11 – Tipo.
É o estudo das figuras e símbolos da Bíblia, com os quais Deus procura mostrar, por
meio de coisas terrestres as coisas espirituais. O tipo é uma classe de metáfora que não
consiste meramente em palavras, mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos
semelhantes, pessoas ou objetos no porvir. Estas figuras são numerosas e chamam-se na
Escritura sombra dos bens vindouros, e se encontram, portanto, no Antigo Testamento.
Exemplos:
• A serpente de metal levantada no deserto foi mencionada por Jesus como um tipo
para representar sua morte na cruz (Jo 3.14).
• Jonas no ventre do grande peixe foi usado como tipo por Jesus para representar a
sua morte e ressurreição. (Mt 12.40)
12.12 – Símbolo
Representa alguma coisa ou algum fato por meio de outra coisa ou fato familiar, que se
considera a propósito para servir de semelhança ou representação.
Exemplos:
• A majestade pelo leão,
• a força pelo cavalo,
“ Depois disto vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, retendo os quanto
ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem
contra árvore alguma.” (Ap 7.1).
Número seis
Fala do homem, de sua formação, de sua falibilidade.
“ Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e
a manhã, o dia sexto.” (Gn1.27,31).
“ Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é
o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Ap 13.18)
Número sete
Indica perfeição, plenitude, união do céu e terra, o sagrado. É o número de Deus e
também o número dos mistérios.
“As palavras do Senhor são palavras puras, como prata refinada numa fornalha de barro,
purificada sete vezes.” (Sl 12.6).
“A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas.” (Pv 9.1).
“ Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Isto diz aquele que tem os sete espíritos de Deus,
e as estrelas: Conheço as tuas obras; tens nome de que vives, e estás morto.” (Ap 3.1).
“ E vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos, e ouvi um dos quatro seres viventes
dizer numa voz como de trovão: Vem!” (Ap 6.1).
Número doze
Fala dos propósitos eletivos de Deus.
“E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos
imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades.” (Mt
10.1).
“ E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a santa cidade de
Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, tendo a glória de Deus; e o seu brilho era
semelhante a uma pedra preciosíssima, como se fosse jaspe cristalino; e tinha um grande
e alto muro com doze portas, e nas portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que
são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Ao oriente havia três portas, ao norte
três portas, ao sul três portas, e ao ocidente três portas. O muro da cidade tinha doze
fundamentos, e neles estavam os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Ap 21.10-
14).
Número quarenta
“ Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E,
tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. (Mt 4.1-2).
“ Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e
ensinar, até o dia em que foi levado para cima, depois de haver dado mandamento, pelo
Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de haver
padecido, se apresentou vivo, com muitas provas infalíveis, aparecendo-lhes por espaço
de quarenta dias, e lhes falando das coisas concernentes ao reino de Deus. (At 1.1-3).
Número setenta
“ Setenta semanas estão decretadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para
fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer
a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o santíssimo.” (Dn 9.24).
“ Depois disso designou o Senhor outros setenta, e os enviou adiante de si, de dois em
dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. E dizia-lhes: Na verdade, a seara
é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande
trabalhadores para a sua seara.” (Lc 10.1-2).
12.13 – Parábola.
É uma narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de
comparação ou analogia, sempre com o objetivo de ilustrar uma ou várias verdades
importantes. É uma narrativa de acontecimento real ou imaginário em que tanto as
pessoas como as coisas e as ações correspondem a verdades de ordem espiritual e
moral.
Exemplos:
O Semeador (Mt 13.3-8);
Ovelha perdida,
Dracma perdida,
Filho pródigo (Lc. 15), etc.
12.14 – Símile.
A figura de retórica denominada Símile procede da palavra latina "similis" que significa
semelhante ou parecido a outro. É uma analogia. Comparação de cousas semelhantes.
Exemplos:
"Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim (do mesmo modo) é grande a
sua misericórdia para com os que o temem". (Sl 103.11);
"Como o pai se compadece de seus filhos, assim (do mesmo modo) o Senhor se
compadece dos que o temem". (Sl 103.13)
12.15 – Interrogação.
A palavra interrogação procede de um vocábulo latino que significa pergunta. Mas nem
todas as perguntas são figuras de retórica. Somente quando a pergunta encerra uma
conclusão evidente é que é uma figura literária.
"Interrogação é uma figura pela qual o orador se dirige ao seu interlocutor, ou
adversário, ou ao público, em tom de pergunta, sabendo de antemão que ninguém vai
responder."
Exemplos:
12.16 – Apóstrofe.
Interrupção súbita do discurso que o orador ou o escritor faz, para dirigir-se a alguém ou
a algo, real ou fictício (p.ex.: a seguir, leitor amigo, contarei a história tal como
sucedeu).
A palavra apóstrofe procede do latim apostrophe e esta do grego apo, que significa de, e
strepho, que quer dizer volver-se. O vocábulo indica que o orador se volve de seus
ouvintes imediatos para dirigir-se a uma pessoa ou cousa ausente ou imaginária.
O emprego desta figura, na eloqüência, produz grandes efeitos sobre as paixões que o
orador procura transmitir aos ouvintes."
Exemplos: A Palavra de Deus é interrompida pela palavra do profeta.
"Ah, Espada do Senhor, até quando deixarás de repousar?" (Jr 47.6)
12.17 – Antítese.
Este vocábulo procede da palavra latina antithesis e esta de palavras gregas que
significam colocar uma coisa contra a outra. "Inclusão, na mesma frase, de duas
palavras, ou dois pensamentos, que fazem contraste um com o outro."
Exemplos:
"Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal." (Dt 30.15)
"Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz a
perdição e são muitos os que entram por ela) porque estreita é a porta e apertado
o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela." (Mt
7.13,14)
12.18 – Provérbio.
Este vocábulo procede das palavras latinas pro que significa antes e verbum que quer
dizer palavra. Trata-se de um dito comum ou adágio.
Exemplos:
"Médico cura-te a ti mesmo" (Lc 4.23);
"Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra." (Mt 6.4; Mt 13.57)
12.19 – Paradoxo.
Denomina-se paradoxo a uma proposição ou declaração oposta à opinião comum; a uma
afirmação contrária a todas as aparências e à primeira vista absurda, impossível, ou em
contraposição ao sentido comum, porém que, se estudada detidamente, ou meditando
nela, torna-se correta e bem fundamentada.
Exemplos:
"Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos". (Mt 8.22)
"Coais o mosquito e engolis o camelo". (Mt 23.24)
"Porque quando sou fraco, então é que sou forte". (2 Cor 12.10)
12.21 – Acróstico
Composição poética em que o conjunto das letras iniciais, mediais ou finais compõem
verticalmente uma palavra ou frase ou uma sequência alfabética.
Há uma dificuldade na exemplificação dos acrósticos bíblicos uma vez que foram
escritos originalmente em Hebraico e, portanto, a letra inicial das palavras não são as
mesmas na língua portuguesa. Os textos foram escritos em forma de acrósticos
originalmente.
Exemplos bíblicos:
Salmos 119; 25; 34; 111; 112;
Os últimos 22 versículos de Provérbios;
A maior parte de lamentações de Jeremias.
Exemplos práticos:
Jesus,
Eu sou teu servo.
13.2 – Segunda Regra – É preciso, o quanto seja possível, tomar as palavras em seu
sentido usual e comum.
Porém, tenha sempre presente a verdade de que o sentido usual e comum não equivale
sempre ao sentido literal.
Exemplo: Gn 6.12 = A palavra CARNE (no sentido usual e comum significa pessoa)
A palavra CARNE (no sentido literal significa tecido muscular)
B. A palavra GRAÇA
GRAÇA em Ef 2.8 = significa misericórdia, bondade de Deus.
GRAÇA em At. 14.3 = significa pregação do Evangelho.
C. A palavra CARNE
CARNE em Ef. 2.3 = significa desejos sensuais.
CARNE em I Tm 3.16 = significa forma humana.
CARNE em Gn 6.12 = significa pessoas.
14.7 – Sétima Regra – Tenha sempre em mente o Assunto Central das Escrituras
Jesus Cristo é o assunto central da Bíblia. Daí dizermos que a Bíblia é um Livro
Cristocêntrico. Ele é o “Cordeiro...conhecido antes da fundação do mundo”(1Pe 1.19-
20), é o que se manifestou “na plenitude dos tempos”(Gl 4.4) para oferecer o sacrifício
único pela redenção da humanidade e é, finalmente, o que “descerá do céu com alarido,
e com voz de arcanjo, e com trombeta de Deus”(1Ts 4.16) para consumar a redenção no
Reino de Deus para sempre.
Estudar a Bíblia tendo como foco principal o Filho de Deus dá ao intérprete a segurança
de quem tem um caminho único a seguir na lida interpretativa.
A poesia tem características singulares que são a conotação e/ou a metrificação e/ou a
repetição de ideias, etc. No grego, devemos considerar o termo poietés - fazedor,
realizador. No sentido literário um poeta é alguém que exprime suas ideias mediante
imagens verbais, metáforas e outros artifícios literários. Um poeta prima pela brevidade
de expressão, em conjunção com expressões claras e eloquência.
A profecia tem como principal característica a predição de fatos históricos relativos a
Israel, como às outras nações e à igreja.
O texto misto contempla duas ou mais formas literárias. Assim sendo, o texto: “Quando,
pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas
sinagogas e nas ruas, para ser glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já
receberam a sua recompensa. Mas tu, quando deres esmola, não saiba a tua mão
esquerda o que faz a direita” (Mt 6.2-3). Esse texto é, ao mesmo tempo, doutrinário e
poético. Nele o Senhor Jesus doutrina e usa uma figura de linguagem tornando-o mais
belo e cheio de significado.
Os textos históricos e biográficos nos convidam à pesquisa histórica, ao conhecimento
dos fatos tais como se deram no tempo em que foram escritos.
O texto doutrinário exige uma extrema cautela do intérprete pois clama pela aplicação
atual das verdades nele contidas. Uma má aplicação dessas verdades pode incorrer em
erros doutrinários. Constituem doutrina os ensinamentos de Jesus, dos apóstolos e dos
profetas.
Ryrie também comentou essa questão: “Se a interpretação direta e normal consiste o
único princípio hermenêutico válido e se for aplicada coerentemente, a pessoa se tornará
dispensacionalista. Na medida que uma pessoa acredita que a interpretação normal é
fundamental nessa mesma medida ela se tornará obrigatoriamente dispensacionalista”.
Aceitar os termos Israel e igreja no sentido normal, literal, equivale a conservar sua
distinção. Israel sempre significa o Israel étnico, nuca se confundindo com o termo
igreja, nem as Escrituras jamais empregam igreja em substituição ou como sinônimo de
Israel.”
Quando Jesus disse que haverá menos rigor no juízo para Sodoma e Gomorra do que
para as cidades que rejeitaram a pregação dos Apóstolos, pondera sobre o conhecimento
espiritual dessas cidades: “E, ao entrardes na casa, saudai-a; se a casa for digna, desça
sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz. E, se ninguém
vos receber, nem ouvir as vossas palavras, saindo daquela casa ou daquela cidade,
sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos
rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.” (MT 10.12-15).
Paulo afirma que “todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os
que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.” (Rm 2.12).
O escritor aos hebreus diz: “Mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz, também,
mudança na Lei.” (Hb 7.12). Ele está se referindo ao sacerdócio de Cristo.
Sob a orientação de Moisés e Josué, o povo de Israel punia em nome do Senhor, através
de grandes batalhas, os povos daquém e dalém do Rio Jordão, por causa de seus
terríveis pecados. Hoje, a instrução de Cristo é: “se alguém te bater na face direita,
oferece-lhe também a outra” (Mt 5.39). Paulo completa dizendo: “Porque não temos de
lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades,
contra o príncipe das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos
lugares celestiais.” (Ef 6.12).
Deus tem mudado suas estratégias no trato com o homem no decorrer dos séculos e isso
precisa ser levado em consideração no momento do estudo.
13.11 – Décima Primeira Regra – Considere o texto sob a ótica do povo a quem se
destina
A Bíblia divide a humanidade em três povos:
I. Os Judeus, descendentes de Abraão, com quem foi feita a Antiga Aliança.
II. Os Gentios, também chamados no Novo Testamento de povos ou nações ou
gentes ou gregos (esse último nome por causa da língua e cultura grega
espalhada por todo o mundo de então) são aquela parte da humanidade que ainda
não havia feito aliança alguma com o Deus eterno;
III. E, por fim, a Igreja, composta de Judeus e Gentios que fizeram com Deus o
pacto da Nova Aliança em Cristo.
Confira esta classificação nas palavras de Paulo: “Não vos torneis causa de tropeço nem
para judeus, nem para gentios, nem para a igreja de Deus” (1Co 10.32).
Há textos na Bíblia que só se aplicam a judeus. Outros só se aplicam a Igreja. Outros
ainda, só dizem respeito aos gentios. Mas há também, textos de aplicação mista, que
englobam dois dos povos citados, e os de aplicação geral envolvendo os três povos.
Mateus destina seu Evangelho especialmente aos judeus e por isso, preocupa-se
constantemente em mencionar o cumprimento das profecias do Antigo Testamento na
vida e obra de Jesus, com o fito de convencer aos judeus de que Jesus é o Messias
prometido a Israel.
Paulo escreve suas cartas à Igreja de Cristo e então preocupa-se em que os irmãos
permaneçam firmes na doutrina, na fé, no amor, na boa conduta e na esperança das
promessas de Deus.
Marcos destina seu Evangelho aos romanos, portanto, a gentios e, assim sendo, mostra
com dinamismo e beleza o extraordinário trabalho de Jesus em favor dos homens em
obediência ao seu Pai celestial. Apresenta-o como único e insubstituível meio de
salvação para a humanidade. Além disso, toma o cuidado de explicar costumes judaicos
e expressões escritas na língua dos judeus.
A personalidade de Pedro é uma das mais empolgantes da bíblia. Esse apóstolo tornou-
se um exemplo daquilo que Deus pode fazer na vida de um homem que a Ele se dedica
e Nele tem fé.
Quando o objetivo não está explícito no texto, o conselho é lê-lo o texto várias vezes até
descobri-lo. Estando evidente o propósito com que um determinado texto foi escrito
tem-se a coluna vertebral de todos os argumentos usados pelo escritor, podendo-se
facilmente detectar o que é principal e o que é acessório.
A descoberta do objetivo central do texto livra o exegeta de uma interpretação marginal
ou secundária.
Os sentidos humanos são facilmente enganados pelo que é a aparência da realidade e daí
surge a narração fenomenológica. Um texto clássico desse tipo de narração está no
Livro de Josué onde o texto afirma que o sol parou. Hoje, pelos conhecimentos
científicos, sabemos que se o sol parar não perceberemos que o mesmo parou, desde que
a terra continue girando normalmente em seus movimentos de rotação e translação. Não
temos aqui um exemplo de linguagem figurada. O que o escritor disse é aquilo que
percebeu por meio dos sentidos, portanto, pensava estar narrando a realidade tal como
se deu.
O estudante da bíblia precisa buscar o máximo de conhecimento científico em todas as
áreas para que possa diferenciar o real do sensitivo, embora nunca poderá conhecer
aquilo que a ciência ou o próprio Deus ainda não revelou e que, por isso mesmo,
permanece sob a miopia dos sentidos humanos.
Outra narrativa fenomenológica importante se encontra na passagem bíblica em que
Saul consulta a necromante de En-Dor:
“Vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu e estremeceu muito o seu coração. Pelo que
consultou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por
Urim, nem por profetas. Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me uma necromante,
para que eu vá a ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Eis que em En-Dor há
uma mulher que é necromante. Então Saul se disfarçou, vestindo outros trajes; e foi ele
com dois homens, e chegaram de noite à casa da mulher.
Disse-lhe Saul: Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me faças subir aquele que
eu te disser. A mulher lhe respondeu: Tu bem sabes o que Saul fez, como exterminou da
terra os necromantes e os adivinhos; por que, então, me armas um laço à minha vida,
para me fazeres morrer? Saul, porém, lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Como vive o
Senhor, nenhum castigo te sobrevirá por isso. A mulher então lhe perguntou: Quem te
farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel. Vendo, pois, a mulher a Samuel,
gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me enganaste? pois tu mesmo és
Saul.
Ao que o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a mulher respondeu a Saul:
Vejo um deus que vem subindo de dentro da terra. Perguntou-lhe ele: Como é a sua
figura? E disse ela: Vem subindo um ancião, e está envolto numa capa. Entendendo
Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e lhe fez reverência.
Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Estou
muito angustiado, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de
mim, e já não me responde, nem por intermédio dos profetas nem por sonhos; por isso
te chamei, para que me faças saber o que hei de fazer. Então disse Samuel: Por que,
pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor se tem desviado de ti, e se tem feito teu
inimigo? O Senhor te fez como por meu intermédio te disse; pois o Senhor rasgou o
reino da tua mão, e o deu ao teu próximo, a Davi. Porquanto não deste ouvidos à voz do
Senhor, e não executaste o furor da sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez
hoje isto. E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus. Amanhã tu
e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará o arraial de Israel na mão dos
filisteus. Imediatamente Saul caiu estendido por terra, tomado de grande medo por
causa das palavras de Samuel; e não houve força nele, porque nada havia comido todo
aquele dia e toda aquela noite.” (1Sm 28)
Claro está que Satanás, conhecedor das limitações humanas, criou todo um ambiente de
engano para que fosse passada a impressão de que Samuel houver saído do Paraíso de
Deus para participar daquele culto espírita.
É interessante notar que o escritor do texto citado, que não foi Samuel por já estar
morto, narrou os fatos como percebidos pelos sentidos daqueles que lá estiveram ou por
terceiros que deles tiveram notícia.
A não compreensão da narrativa fenomenológica e o engano de Satanás tem subsidiado
até hoje os espíritas que encontram, nesse texto, uma base para sua doutrina de consulta
aos mortos.
13.16 – Décima sexta regra - Retire do texto suas verdades temporais e intemporais
Depois de todo o estudo indicado acima, chega o momento final da interpretação, onde
o estudante vai procurar traduzir o que o texto significava para o povo de sua época e
como essas verdades podem ser aplicadas em nossa época e cultura. Chamamos de
verdades temporais, as que duram apenas um período de tempo e intemporais, as que
permanecem para sempre.
Com a Nova Aliança, ficaram ultrapassados vários costumes, ritos e ensinos da Velha
Aliança. Por isso precisamos estar atentos para as coisas que a própria Palavra fez
perecer e que certos intérpretes fazem questão de ressuscitar contrariamente aos ensinos
de Cristo e dos Apóstolos. O discernimento sobre as verdades temporais e intemporais
baseia-se principalmente na comparação dos demais escritos bíblicos com aquilo que é a
Doutrina de Jesus.
Os ensinos de Jesus constituem o que é essencial para o homem. Jesus não se detém em
miudezas, mas trata do que é substancial para que o perdido pecador seja reconciliado
com Deus e viva uma vida que lhe seja agradável. Jesus ensina o que é moral e
espiritual. Ele lança sabiamente um novo e maravilhoso mandamento: “Um novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que
também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos,
se tiverdes amor uns aos outros.” (Jo 13.34-35).
As verdades que estão relacionadas com a Lei do Amor são intemporais. Todo
ensinamento bíblico que aperfeiçoa o leitor para a prática do amor reverente a Deus e
respeitoso ao próximo é para sempre.