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APOSTILA DE HERMENÊUTICA

Curso de Teologia Zayit

1 – OBJETIVOS
1.1. Nosso propósito com esta disciplina é propor aos nossos alunos do Curso de
Teologia Zayit e aos estudantes da Bíblia de modo específico a mais perfeita
interpretação da Bíblia de modo ortodoxo.

1.2. Nossa missão é obter uma intelectualidade com espiritualidade, vamos leva-lo à
pesquisa as Escrituras de modo profundo, apresentando a disciplina de um modo
simples e compreensível.

2 – INTRODUÇÃO
A difícil tarefa da interpretação bíblica fica ainda mais complexa quando se adiciona
mais um elemento ao processo, o da transmissão da mensagem em contextos
transculturais em uma sociedade avançada em conhecimentos e tecnologias. Tendo
como base a interpretação, a presente apostila se propõe a esquematizar determinados
fundamentos para a complicada tarefa da interpretação e transmissão da mensagem
bíblica em contextos multiculturais na pós-modernidade.

Chamamos este processo de etno-hermenêutica, que é a interpretação do texto bíblico


em sua diversidade (autores, contexto histórico e cultural) para milhares de grupos
étnicos que vivem em diferentes culturas e com cosmovisões diversas.

3 – DEFINIÇÕES
Hermenêutica é a ciência e arte de interpretar textos.
A hermenêutica é a ciência que estabelece os princípios, leis e métodos de interpretação.
Em sua abrangência trata da teoria da interpretação de sinais, símbolos e leis de uma
cultura.
 Hermenêutica é considerada ciência porque ela tem normas, ou regras, e essas
podem ser classificadas num sistema ordenado.
 Hermenêutica é considerada arte porque a comunicação é flexível e, portanto,
uma aplicação mecânica e rígida das regras, às vezes, distorcerá o verdadeiro
sentido de uma comunicação.
 Hermenêutica é um ato de caráter espiritual, quando se trata da interpretação da
Bíblia, pois deve ser realizada na dependência do Espírito Santo.
 Exige-se do bom intérprete que ele aprenda as regras da hermenêutica bem como
a arte de aplicá-las e que tenha uma vida piedosa.
Interpretar um texto implica em duas vertentes:
 É tornar o autor bíblico contemporâneo do leitor (nós), aproximando-nos à
compreensão da mesma época do autor.
 É comentá-lo de forma a alcançar a capacidade de compreensão das pessoas a
quem se deseja comunicar a sua mensagem.
Ao interpretar devemos partir de três perguntas básicas:
 O que o texto diz ou qual seu significado? (exegese);
 O ele diz para mim ou qual seu significado para mim? (devocional);
 Como compartilhar com você o que o texto diz ou seu significado para nós?
(homilética).

4 – ORIGEM
A palavra HERMENÊUTICA é derivada do termo grego HERMENEUTIKE e o
primeiro homem a empregá-la como termo técnico foi o filósofo Platão.
Uma das primeiras ciências que o pregador deve conhecer é certamente a hermenêutica.
Porém, quantos pregadores há que nem de nome a conhecem! Que é, pois, a
hermenêutica? "A arte de interpretar textos", responde o dicionário. Porém a
hermenêutica (do grego hermenevein, interpretar), da qual nos ocuparemos, forma parte
da Teologia exegética, ou seja, a que trata da reta inteligência e interpretação das
Escrituras bíblicas.

5 – HERMENÊUTICA BÍBLICA
Esta é uma disciplina do curso de teologia da mais alta importância por ser o ponto de
convergência de todo conhecimento bíblico, teológico e geral. Todo conhecimento será
importante no momento da exegese.
Através das regras da Hermenêutica, o estudante é capaz de organizar, compreender,
comentar e aplicar o material bibliográfico à sua disposição.
A hermenêutica é importante porque capacita a pessoa a se movimentar do texto para o
contexto, para que o significado inspirado por Deus na Bíblia fale hoje com uma
relevância tão nova e dinâmica quanto em seu ambiente original. Além disso,
pregadores ou professores devem anunciar a Palavra de Deus em vez de suas opiniões
religiosas repletas de subjetividade. Só uma hermenêutica bem definida pode manter
alguém atrelado ao texto.

6 – DIVISÕES DA HERMENÊUTICA BÍBLICA


A Hermenêutica Bíblica pode ser divida em geral e especial.
6.1 Hermenêutica Geral cuida das regras gerais de interpretação da Bíblia, se aplica à
interpretação de qualquer obra escrita. Aqui olhamos para o contexto mais amplo
dentro do qual uma passagem se encontra. Por exemplo: Imagine que você ouça
alguém mencionar a palavra “certo”. O que a pessoa está dizendo? Certo porque não
houve erro algum na tarefa que fez; certo porque estava convencida do que o outro
disse; certo conforme o que havia sido acordado anteriormente. O contexto histórico
e lógico nos ajudam a compreender o contexto fornecendo os alicerces para a
interpretação do texto.
 O Contexto histórico nos apresenta a autoria, data, a quem é dirigido e seu
propósito.
 O Contexto lógico é o mapeamento do livro e da passagem que está sendo lida.
Lembro que um verso deve ser lido no contexto de seu paragrafo.
6.2 Hermenêutica Especial cuida das formas especiais de interpretação, como:
símbolos, tipos, figuras de linguagem e profecias. Esta forma de interpretação se
aplica a determinados tipos de produção literais tais como: Leis, histórias, profecias,
poesias, etc.

7 – A NECESSIDADE DA HERMENÊUTICA
A necessidade se dá pela razão que mencionamos em nossa introdução, isto é, pela
diversidade de diferença que existe de um homem para outro, e podemos ainda
acrescentar a razão primária da necessidade da hermenêutica que é o pecado, pois este é
um fato histórico mundial.

Dessa forma podemos apresentar que há cinco necessidades fundamentais da


hermenêutica bíblica:

1. Por causa do bloqueio do pecado. Que obscureceu o entendimento do


homem e exerce influência perniciosa em sua mente e torna necessário o
esforço especial para evitar erros (2Pd 3.16 e Dt 7.10).
2. Por causa do bloqueio histórico. Há um abismo histórico que nos separa
dos escritores bíblicos e das culturas primitivas. Precisamos transpor este
bloqueio, se quisermos compreender o significado da revelação. A antipatia
de Jonas pelos ninivitas, por exemplo assume maior significado, quando
compreendermos os motivos históricos, que fizeram Jonas desprezar os
ninivitas.
3. Por causa do bloqueio cultural. O bloqueio Cultural. Cada um de nós vê a
realidade, através de olhos condicionados pela cultura. O conjunto de
valores culturais, científicos e ideológicos de uma cultura é o que chamamos
de cosmovisão.
A cosmovisão da cultura bíblica é diferente em muitos pontos da cultura
atual. Para entendermos algumas passagens da Bíblia precisamos
compreender a cosmovisão das culturas bíblicas. Como entender, por
exemplo, I Coríntios 14:34? Será que está recomendação se aplica, nos
mesmos termos, aos dias atuais? Como, era a visão primitiva do universo?
Como eram os relacionamentos sociais? A forma de se vestir? De
comercializar? De se educar?
4. Por causa do bloqueio linguístico. A Bíblia foi escrita em hebraico,
aramaico e grego — três línguas que possuem estruturas e expressões
idiomáticas muito diferentes da nossa própria língua. Estamos habituados a
escrever e pensar com frases em nossa língua na sequência sujeito, verbo,
predicado. Esta forma de raciocínio e escrita não existe nas línguas
primitivas. No grego, não existe a sequência sujeito, verbo, predicado.
Existem ainda diferenças nas estruturas verbais, na forma de se organizar as
frases, etc... A língua é um grande obstáculo para a interpretação bíblica.
Precisamos considerar também que, as línguas evoluem. O português de
hoje, possui expressões irreconhecíveis para o português do século XV. E
vice versa. A língua é dinâmica e constitue-se como um obstáculo a ser
vencido na interpretação das escrituras.
5. Por causa do bloqueio filosófico. Cada cultura tem uma forma específica
de teorizar a realidade, o sagrado, o divino, etc... É importante nós
compreendermos a filosofia de cada cultura para que possamos entender
parte de seus comportamentos sociais e religiosos. A filosofia de uma
cultura influencia profundamente seus comportamentos, sociais, políticos,
econômicos e religiosos.

8 – CARACTERÍSTICAS NECESSÁRIAS PARA ESTUDAR AS ESCRITURAS


Assim como para apreciar devidamente a poesia se necessita possuir um sentido
especial para o belo e poético, e para o estudo da filosofia é necessário um espírito
filosófico, assim é da maior importância uma disposição especial para o estudo
proveitoso da Sagrada Escritura.
A Bíblia é um livro especial, em suas páginas encontramos riquezas do conhecimento
humano de milhares de anos, nas áreas de teologia, psicologia, história, geografia,
sociologia, antropologia, biologia, filosofia, e demais ciências.
Não existe outro livro que, como a Bíblia, tenha sido escrito no decorrer de
aproximadamente 1500 anos, por cerca de mais de 45 escritores, em três continentes
diferentes, em meio ao calor do deserto e no frescor de um palácio, em tempo de guerra
e em tempo de paz. Seus escritores variam de homens simples do povo a grandes sábios
e doutores.
Por tudo isso e muito mais, se fazem necessárias, além do conhecimento hermenêutico,
qualidades vocacionais e espirituais ao intérprete da Palavra de Deus.
 Necessita de fé
Está escrito: “Sem fé é impossível agradar a Deus, por que é necessário que aquele que
Dele se aproxima, creia que Ele existe e que é galardoador dos que o buscam.”(Hb
11.6). Aquele que ainda não tem fé não está apto para interpretar a Palavra de um Deus
em quem não crê, no entanto, deve lê-la e ouvi-la para adquirir fé, como também está
escrito: “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.”(Rm 10.17).
 Necessita comunhão com Deus

Deus disse ao profeta: “Clama a mim e responder-te-ei e te mostrarei coisas grandes e


ocultas que ainda não sabes.” (Jr 33.3). Quem pretende entender a Revelação Escrita de
Deus deve viver em constante oração, louvor e meditação em sua Palavra.
 Necessita de um espírito dócil.
Isto significa ausência de obstinação e teimosia diante da revelação divina. É preciso
receber a Palavra de Deus com mansidão (Tg 1.21).

 Necessita de um espírito apaixonado pela verdade.


Um coração desejoso de conhecer a verdade (Jo 3.19-21).
 Necessita de um espírito paciente.
Como o garimpeiro que cava e revolve a terra, buscando com diligência o metal
precioso, da mesma maneira o estudioso das Escrituras deve pacientemente, buscar as
revelações que Deus propôs e que em algumas partes é bastante profunda e de difícil
interpretação.
 Necessita gosto pela leitura e escrita
Na lida exegética é preciso ler muito. Pessoas que não têm prazer na leitura enfrentarão
sérias dificuldades para interpretar textos.
Também não se admite num interpretador de textos a preguiça de escrever. Tudo o que
se faz deve ser anotado, sob pena de ter que se fazer de novo. A memória falha, mas a
escrita não.
 Necessita senso de organização
Terá sem dúvida maior sucesso na interpretação quem for organizado. O arquivamento
de anotações, ou o backup de um arquivo, pode livrar o estudante de um duplo trabalho.
Manter os livros de pesquisa organizados e em local próprio facilita sua consulta
quando necessário. Arquive suas anotações por assunto. Isso vai ser muito útil quando
precisar delas novamente.
Uma tarefa grande deverá sempre ser realizada em etapas para evitar o desânimo. As
tarefas mais fáceis devem ser concretizadas primeiro, a menos que uma outra ordem
seja inevitável.

9. PRESSUPOSIÇÕES GERAIS DA HERMENÊUTICA


9.1- O que é uma pressuposição?
Significado de Pressuposição. Suposição ou conjectura; ação de pressupor, de supor, de
acreditar ou de julgar por antecipação. Enunciado, ou proposição, em que o teor
verdadeiro é dependente da falsidade ou da verdade de outro.
9.2 – Quais as principais pressuposições da hermenêutica?
Pressuposição I: A BÍBLIA TEM AUTORIDADE ESPIRITUAL E NORMATIVA
A Bíblia tem um inerente senso de autoridade que se vê no constante uso da expressão
“diz o Senhor”, no Antigo Testamento, e na aura de uma autoridade apostólica
divinamente conferida no Novo Testamento.
Quanto mais nos afastamos do significado pretendido da Palavra, mais aumenta o
descompasso com a autoridade.
Fontes de autoridades que existem para hermenêutica:
 A fonte das Instituições e Tradições Cristãs (Igreja). Legado exegético.
 A fonte da Razão (conhecimento teológico e filosófico). Legado teológico.
 A fonte das Experiências (pessoal, empírico). Legado didático.
 A fonte Bíblica. Legado da revelação.
Pressuposição II: A BÍBLIA É INSPIRADA
Cada escritor se expressa de formas distintas, com diferentes ênfases e diversas figuras
de linguagem.
Por exemplo, João usa a linguagem de Cristo do “novo nascimento” para expressar o
conceito da conversão, enquanto Paulo prefere a linguagem da adoção, falando sobre a
mesma temática doutrinária. Outro exemplo, Paulo dá destaque a fé que pode levar a
conversão, enquanto Tiago destaca as obras que demonstram a fé.
Qual o método da inspiração?
 Inspiração mecânica ou teoria do ditado verbal
Inspiração mecânica ou teoria do ditado verbal - Segundo esse pensamento, a inspiração
da Bíblia aconteceu como um ditado literal da Palavra de Deus aos escritores, como
uma espécie de “transe”, onde praticamente não havia lugar para a atividade intelectual,
para a formação acadêmica, nem mesmo para o estilo de cada escritor. Os autores não
passaram de uma maquina de escrever humanas ou ditafones que serviram como
instrumentos para que a Palavra de Deus chegasse eventualmente a incorporar-se no
cânon sagrado.
 Inspiração de conceitos ou ideias
Inspiração de conceitos ou ideias - Ensina que Deus inspirou as ideias contidas na
Bíblia na mente dos autores... apenas as ideias, mas nenhuma Palavra... Segundo essa
teoria, as palavras registradas por escrito são de responsabilidade exclusiva dos
escritores – eles teriam colocado no papel, à sua maneira, as ideias que lhes foram
inspiradas.
 Inspiração plena e verbal

Inspiração plena e verbal - É considerada como a teoria correta da inspiração bíblica.


Verbal – Implica que os autores não foram inspirados apenas em suas ideias gerais, mas
nas próprias palavras usadas por ele. A ideia é que cada palavra escrita nos manuscritos
originais teve a supervisão de Deus.
Plenário – A inspiração reivindicada se estende a toda a Bíblia. Deus fez com que toda
Escritura fosse escrita e não apenas as seções que levam as marcas da inspiração mais
claramente.
 Inspiração parcial
Inspiração parcial - Ensina que partes da Bíblia são inspiradas e outras não. Afirma que
a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas que apenas contém a Palavra de Deus. Admite
certas partes da Bíblia como sobrenaturalmente inspiradas, ou seja, porções da Bíblia
que de outra forma seriam desconhecidas (relatos da criação, profecias, etc.)
Pressuposição III: Há muitas questões tratadas na Bíblia, que são explicadas e
provadas pela fé, e assim superam a racionalidade pela sua metafisica.

Exemplo: A existência de Deus, a dual natureza de Cristo, a Triunidade (trindade), os


milagres, o método da criação, previsões proféticas, etc.
Pressuposição IV: A necessidade de autoridade espiritual para uma correta
compreensão das Escrituras. Cremos que há uma influência direta do Espírito Santo no
ato da interpretação dos textos bíblicos, chamamos de iluminação.
Todo leitor traz consigo um conjunto de conhecimentos prévios, isto é, crenças, ideias,
valores e conceitos que compõem o seu espólio cultural e moral, sua fonte é a
comunidade que lhe serve de paradigma.

Devemos ler a Bíblia na busca da verdade. Porém, o que mais acontece é desejarmos
acomoda-la com nosso sistema religioso e ver seu significado sob a perspectiva de
nosso sistema dogmático preconcebido, tal como fazem com os “usos e costumes”
muitas denominações. Mas tal ato é eisegese.

10 – FATORES NO CAMPO RELIGIOSO QUE INFLUENCIAM O PROCESSO


DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
A pergunta fundamental feita na análise teológica é: Como essa passagem se enquadra
no padrão total da revelação de Deus? Antes de respondermos a esta pergunta, devemos
Ter uma compreensão do padrão da história da revelação.
Há, neste momento uma necessidade de conhecimento dos conceitos de graça, lei,
salvação e o ministério do Espírito Santo. Isto significa que o pregador deve conhecer a
história por detrás do texto, a teologia bíblica, as tradições judaicas e cristãs, a filosofia
cristã, a maneira de pensar (Cosmovisão), as ideias acerca de Deus e da religião na
época em que aquela mensagem foi escrita.
As divisões correspondentes compreendem as grandes doutrinas a serem estudadas na
análise teológica bíblica: A Doutrina da Criação, a Doutrina de Deus, a Doutrina de
Cristo, a Doutrina do Homem e do Pecado e a Doutrina da Salvação.
É preciso ter este conhecimento bíblico para não se deixar levar por livros, comentários
e outros materiais que não estão isentos do pensar do autor, sem os questiona-los a luz
da Palavra de Deus.

O quanto sabemos, o primeiro intérprete da Palavra de Deus foi o diabo, dando à


palavra divina um sentido que ela não tinha, falseando astutamente a verdade. Mais
tarde, o mesmo inimigo, falseia o sentido da Palavra escrita, truncando-a, isto é, citando
a parte que lhe convinha e omitindo a outra.
Vamos olhar rapidamente para alguns destes fatores que influenciam a interpretação
bíblica de um texto.

10.1 – As Diversas POSIÇÕES SOBRE a Bíblia


A – O Modernismo Teológico
 Os teólogos modernistas acreditam que a Bíblia contêm a palavra de
Deus.
 Algumas partes são inspiradas e outras não.
 É um ponto de vista perigoso, pois é arriscado julgar determinadas partes
como inspiradas e outras não.
B – A Teologia Liberal
 Os liberais não creêm na doutrina da inspiração sobrenatural. Transformam
inspiração em um processo natural retirando dela o caráter sobrenatural.
 Acreditam que os autores relataram ideias culturais primitivas sobre Deus.

C – A Posição Neo-ortodoxa
 Os neo-ortodoxos creêm que a Bíblia torna-se palavra de Deus.
 A Bíblia torna-se a palavra de Deus quando os indivíduos a leêm e as palavras
adquirem para eles significado pessoal, existencial, ou quando há um encontro
pessoal entre Deus e o Homem.
 Portanto, Deus se revela na Bíblia nos encontros pessoais; não porém, de
maneira preposicional, isto é, nas frases e citações bíblicas.
D – A posição Ortodoxa
 A Bíblia é a palavra de Deus.
 A posição ortodoxa é que Deus operou por meio das personalidades dos
escritores bíblicos de tal modo que, sem suspender seus estilos pessoais de
interpretação ou liberdade, o que eles produziram foi literalmente, "soprado por
Deus“, ou palavra de Deus.

II Tm 3:16 afirma: "Toda escritura é divinamente inspirada por Deus...". A palavra


grega para o termo "inspirada" é theopneustos. Estamos falando aqui de uma inspiração
de caráter sobrenatural, em que Deus guia os autores bíblicos de tal modo que seus
escritos trazem o selo da inspiração divina.
Outro fato a destacar é que "toda escritura é divinamente inspirada...", e não apenas
partes, como alguns defendem. Se admitimos tal possibilidade então abrimos uma
lacuna perigosa: Como julgar se uma determinada passagem bíblica é inspirada ou não?
Ou como saber se estamos diante de uma passagem inspirada?
Portanto, a inspiração Bíblica, segundo o ponto de vista ortodoxo, abrange toda a
revelação bíblica.

10.2 – As Diversas TEOLOGIAS FORMULADAS a Partir da Bíblia

A – Teologia Luterana
 Duas verdades presentes em toda Bíblia: a Lei e o Evangelho.
 A Lei é vista como manifestação do ódio ao pecado, trazendo juízo e a ira de
Deus.
 O Evangelho é visto como manifestação da graça, amor e salvação de Deus.
 Segundo esse critério, passagens do AT como Gn.7:1 são consideradas
“Evangelho” enquanto Mt.22:37 “Lei”.
 A posição luterana acentua a “continuidade” no sentido de que a Lei e a Graça
(Evangelho) continuam presentes desde o início da história humana.
 Assim, Lei e Graça não são duas épocas, mas partes integrantes do seu
relacionamento com o homem.
B – A Teologia Calvinista
O termo Calvinismo é dado ao sistema teológico da Reforma protestante, exposto e
defendido por João Calvino (1509-1564).
Seu sistema de interpretação bíblica pode ser resumido em cinco pontos, conhecidos
como "os 5 pontos do Calvinismo" (TULIP em inglês):

1. Depravação total: Todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de se


salvar ou de escolher o bem em questões espirituais;
2. Eleição incondicional: Deus escolheu dentre todos os seres humanos decaídos um
grande número de pecadores por graça pura, sem levar em conta qualquer mérito, obra
ou fé prevista neles;
3. Expiação limitada: Jesus Cristo morreu na cruz para pagar o preço do resgate
somente dos eleitos;

4. Graça Irresistível: A Graça de Deus é irresistível para os eleitos, isto é, o Espírito


Santo acaba convencendo e infundindo a fé salvadora neles;
5. Perseverança dos Santos: Todos os eleitos vão perseverar na fé até o fim e chegar
ao céu. Nenhum perderá a salvação.

C – A Teologia Arminista
O Arminianismo é o sistema de Teologia formulado por Jacobus Arminius (1560-1609),
teólogo da Igreja holandesa, que resolveu refutar o sistema de Calvino.

Armínio apresentou seu sistema em 5 pontos:


1. LIBERTOS PELA GRAÇA
A capacitação humana do livre-arbítrio: todos os homens, embora sejam
pecadores, tem liberdade para aceitar ou recusar a salvação que Deus oferece.
Armínio usa uma variedade de modificadores para representar as distinções e
funções da graça, classificando-as em duas categorias principais: a primeira
graça é chamada de preveniente ou precedente; a segunda, subsequente,
cooperante ou ingressante.
2. EXPIAÇÃO PARA TODOS
Cristo morreu por todos os homens e não somente pelos eleitos. Uma vez que a
graça divina alcança a todos os seres humanos, capacitando-os a crer em Jesus,
a teologia arminiana ensina que Deus enviou Seu Filho para morrer por toda a
humanidade. O arminianismo não prega que Deus quer salvar todos os seres
humanos incondicionalmente (isto seria universalismo), mas que a intenção de
Deus com a morte de Cristo é prover salvação a toda a humanidade e salvar
todo aquele que, não resistindo à graça, creia em Jesus.
3. ELEIÇÃO CONDICIONAL
Eleitos no Filho, pela fé mediante a graça. Para Armínio, a eleição é
cristocêntrica, pois ela acontece inteiramente “em Cristo”.
4. DEPRAVAÇÃO TOTAL
Os arminianos creem que o ser humano foi criado à imagem de Deus, em
santidade e justiça, e que tinha a obrigação e a condição de resistir à tentação99,
se rejeitasse a oferta do inimigo e se sujeitasse ao Espírito Santo. Mesmo tendo
sido criado assim, “tendo sido colocado em um ambiente ideal, com uma
ocupação satisfatória, tendo recebido a comunhão divina e o amor conjugal”, o
ser humano desobedeceu ao seu Criador e caiu do seu estado original, para sua
própria condenação. O ato de pecado de Adão passou a ser um estado de
pecado, de depravação. De modo federativo todos estão afetados pelo pecado de
Adão, como representante da raça. Armínio ensinava que o pecado de Adão
passou a toda a sua descendência, que se tornou culpada e depravada
naturalmente.
5. SEGURANÇA EM CRISTO
Armínio declara em sua principal obra, Declaração de Sentimentos, que o crente
em Jesus dispõe de poderes suficientes, que lhe são concedidos pela graça de
Deus, para perseverar na fé em Cristo, vencendo os poderes que combatem
contra esta persistência. Armínio declarou:
“Meu sentimento a respeito da perseverança dos santos é que as
pessoas que foram enxertadas em Cristo, pela fé verdadeira, e assim
têm se tornado participantes de seu precioso Espírito vivificador,
dispõem de poderes suficientes [ou] forças para lutar contra Satanás,
contra o pecado, contra o mundo e a sua própria carne, e para obter a
vitória sobre esses inimigos, mas não sem a ajuda da graça do mesmo
Espírito Santo. Jesus Cristo, também pelo seu Espírito Santo, as
auxilia em todas as tentações que enfrentam, e lhes proporciona o
pronto socorro de sua mão; também entendo que Cristo as guarda não
as deixando cair, desde que tenham se preparado para a batalha,
implorando a sua ajuda, e não querendo vencer apenas por suas
próprias forças. De modo que não é possível para eles, por qualquer
astúcia ou poder de Satanás, serem seduzidos ou arrancados das mãos
de Cristo”.

Quanto à certeza da salvação, o teólogo holandês assevera que o crente pode ter
perfeita segurança, pois afirma confiantemente que “é possível que uma pessoa,
com certeza e confiança na graça de Deus e na misericórdia de Cristo, parta
desta vida, e compareça perante o trono da graça, sem qualquer medo ansioso
ou pavor terrível”. Porém, Armínio também afirma que mesmo depois de crer
em Jesus, de tornar-se seu discípulo, o indivíduo precisa perseverar nesta fé,
para não cair deste estado de graça.
D – Teologia da Libertação
Teologia da Libertação é uma corrente teológica cristã nascida na América Latina,
depois do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín (Colômbia, 1968), que
parte da premissa de que o Evangelho exige a opção preferencial pelos pobres e de
especificar que a teologia, para concretar essa opção, deve usar também as ciências
humanas e sociais.

É considerada como um movimento supradenominacional, apartidário e inclusivista de


teologia política, que engloba várias correntes de pensamento que interpretam os
ensinamentos de Jesus Cristo em termos de uma libertação de injustas condições
econômicas, políticas ou sociais. Ela foi descrita, pelos seus proponentes como
reinterpretação analítica e antropológica da fé cristã, em vista dos problemas sociais,
mas, seus oponentes a descrevem como marxismo, relativismo e materialismo
cristianizado.
A maior parte dos teólogos da libertação é favorável ao ecumenismo e à inculturação da
fé. Alguns teólogos: padre peruano Gustavo Gutiérrez e o brasileiro Leonardo Boff.
E – Teologia da Prosperidade
Teologia da prosperidade (também conhecida como Evangelho da prosperidade) é uma
doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os
cristãos e que a fé, o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão
sempre aumentar a riqueza material do fiel. Baseada em interpretações não-tradicionais
da Bíblia, geralmente com ênfase no Livro de Malaquias, a doutrina interpreta a Bíblia
como um contrato entre Deus e os humanos; se os humanos tiverem fé em Deus, Ele irá
cumprir suas promessas de segurança e prosperidade. Reconhecer tais promessas como
verdadeiras é percebido como um ato de fé, o que Deus irá honrar.
Seus defensores ensinam que a doutrina é um aspecto do caminho à dominação cristã da
sociedade, argumentando que a promessa divina de dominação sobre as Tribos de Israel
se aplica aos cristãos de hoje. A doutrina enfatiza a importância do
empoderamentopessoal, propondo que é da vontade de Deus ver seu povo feliz. A
expiação (reconciliação com Deus) é interpretada de forma a incluir o alívio das
doenças e da pobreza, que são vistas como maldições a serem quebradas pela fé.
Acredita-se atingir isso através da visualização e da confissão positiva, o que é
geralmente professado em termos contratuais e mecânicos.

10.3 – As Diversas TEORIAS FORMADAS a Partir da Bíblia


A – Teoria Dispensacionalista
O dispensacionalismo é uma doutrina teológica e escatológica cristã que afirma que a
segunda vinda de Jesus Cristo será um acontecimento no mundo físico, envolvendo o
arrebatamento e um período de sete anos de tribulação, após o qual ocorrerá a batalha
do Armagedon e o estabelecimento do reino de Deus na Terra.

A teologia dispensacionalista acredita que há dois povos distintos de Deus: Israel e a


Igreja. Os dispensacionalistas acreditam que a salvação foi sempre pela fé (Em Deus no
Velho Testamento; especificamente em Deus o Filho no Novo Testamento). Os
dispensacionalistas afirmam que a Igreja não substituiu Israel no programa de Deus e
que as promessas do Velho Testamento a Israel não foram transferidas para a Igreja.
Eles creem que as promessas que Deus fez a Israel no Velho Testamento serão
cumpridas no período de 1000 anos de que fala Apocalipse 20. Eles creem que da
mesma forma que Deus concentra sua atenção na igreja nesta era, Ele novamente, no
futuro, concentrará Sua atenção em Israel (Romanos 9-11). A maioria dos
Dispensacionalistas são contra acordos de paz, pois segundo eles, só adiaria o inevitável
que é a volta de Jesus.
O que é uma Dispensação?
Período em que o homem é provado com respeito à alguma revelação de Deus
Processo:

 Deus dá ao homem um conjunto específico de responsabilidades ou padrão de


obediência;
 O homem não consegue viver à altura desse conjunto de responsabilidades;
 Deus reage com misericórdia concedendo um novo conjunto de
responsabilidades – uma nova dispensação.
As principais dispensações identificadas pelos dispensacionalistas:
Os dispensacionalistas acreditam que há uma série de dispensações cronologicamente
sucessivas, mas variam nas ordens desses eventos.
Ordem dos capítulos
Esquemas: Gênesis 1-3; Gênesis 3-8; Gênesis 9-11; Gênesis 12 a Êxodo 19;
Êxodo 20 a Atos 1; Atos 2 a Apocalipse 20; Apocalipse 20:4-6 a Apocalipse
20-22.
7 ou 8 esquema de dispensação

1. Inocência ou Edênico
2. Consciência ou Antediluviano
3. Governo Humano
4. Patriarcal ou Promessa
5. Mosaico ou Lei
6. Graça ou Igreja
7. Reino Milenal
8. Estado Eterno ou Final
4 esquema de dispensação: Patriarcal, Mosaico, Eclesial e Sionista.
3 esquema de dispensação (minimalista): Lei, Graça e Reino.
Das sete dispensações, cinco já foram concluídas: inocência, consciência, governo
humano, patriarcal e lei, e estaríamos vivendo a dispensação da graça, que dará lugar a
milenial. Dois grandes eventos marcarão o fim desta dispensação: o arrebatamento da
igreja e a volta visível de Jesus para inaugurar o milênio.
B – Modelo Epigenético

 Compara a revelação divina ao crescimento de uma planta: Uma árvore


pequenininha é uma árvore perfeita, mas ainda pequena, imatura e frágil.
 Assim, os conceitos de Deus, de Cristo, da salvação e da natureza do homem
crescem à medida que a revelação de Deus progride.
11 – MÉTODOS DA HERMENÊUTICA
Método é a maneira ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento seguido passo
a passo com o objetivo de alcançar um resultado.
Durante séculos os eruditos religiosos procuraram todos os métodos possíveis para
desvendar os tesouros da Bíblia e arquitetar meios de descobrir os seus segredos.
11.1 – Método Analítico
É o método utilizado nos estudos pormenorizados com anotações de detalhes, por
insignificantes que pareçam com a finalidade de descrevê-los e estudá-los em todas as
suas formas. Os passos básicos deste método são:

A. Observação – É o passo que nos leva a extrair do texto o que realmente descreve os
fatos, levando também em conta a importância das declarações e o contexto;
B. Interpretação – É o passo que nos leva a buscar a explicação e o significado (tanto
para o autor quanto para o leitor) para entender a mensagem central do texto lido. A
interpretação deverá ser conduzida dentro do contexto textual e histórico com oração e
dependência total do Espírito Santo, analisando o significado das palavras e frases
chaves, avaliando os fatos, investigando os pontos difíceis ou incertos, resumindo a
mensagem do autor a seus leitores originais e fazer a contextualização (trazer a
mensagem a nossa época ou ao nosso contexto);
C. Correlação – É o passo que nos leva a comparar narrativas ou mensagem de um fato
escrito por vários autores, em épocas distintas em que cada um narra o fato, em ângulos
não coincidentes como por exemplo a mesma narrativa descrita em Mc 10.46 e Lc
18.35, onde o primeiro descreve "saindo de Jericó" e o segundo "chegando em Jericó";
D. Aplicação – É o passo que nos leva a buscar mudanças de atitudes e de ações em
função da verdade descoberta. É a resposta através da ação prática daquilo que se
aprendeu.
Um exemplo de aplicação é o de pedir perdão e reconciliar-se com alguém ou mesmo o
de adoração à Deus.
Exercício: 1 Timóteo 2 e 3 (dividir a sala em dois grupos e cada um trabalhará o método
analítico de um capítulo).
11.2 – Método Sintético (Procura o tema que amarra todo livro)
É o método utilizado nos estudos que abordam cada livro como uma unidade inteira e
procura o seu sentido como um todo, de forma global (é a busca de sintetizar o que leu
em uma palavra). Neste caso determina-se as ênfases principais do livro ou seja, as
palavras repetidas em todo o livro, mesmo em sinônimo e com isto a palavra-chave
desenvolve o tema do livro estudado. Outra maneira de determinar a ênfase ou
característica de um livro é observar o espaço dedicado a certo assunto. Como por
exemplo, o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus enfatiza a fé e em todos os demais
capítulos ela enfatiza a palavra SUPERIOR. (De acordo com a versão Almeida Revista
e Atualizada – ARA).
SUPERIOR:
A. Aos anjos – 1.4; f) Ao sacrifício – 9.23; l) Ao sacerdócio – 5 a 7;
B. A aliança – 7.22; g) Ao patrimônio – 10.34;
C. A bênção – 7.7.; h) A ressurreição – 11.35;
D. A esperança – 7.19; i) A pátria – 11.16;
E. A promessa – 8.6; j) A Moisés – 3.1 a 4;
11.3 – Método Temático (Busca no livro o tema desejado)

É o método utilizado para estudar um livro com um assunto específico, ou seja, no


estudo do livro terá um tema específico definido (a leitura de um livro a partir de um
tema). Como exemplo temos a FÉ:
A. Salvadora – Ef. 2.8; D. Grande – Mt 15.21 a 28;
B. Comum – Tt 1.4; Jd 3; E. Vencedora – I Jo 5.4;
C. Pequena – Mt 14.28 a 31; F. Crescente – II Ts 1.3.

11.4 – Método Biográfico de Estudo da Bíblia (Estuda a vida de um personagem)


Esta espécie de estudo bíblico é divertida, pois você tem a oportunidade de sondar o
caráter das pessoas que o Espírito Santo colocou na Bíblia, e de aprender de suas vidas
(Escolhe um personagem bíblico para estudar).

Sobre alguns personagens bíblicos muito foi escrito. Quando você estuda pessoas como
Jesus, Abraão e Moisés, pode precisar restringir o estudo a áreas como, "A vida de Jesus
como nos é revelada no Evangelho de João", "Moisés durante o Êxodo", ou "Que diz o
Novo Testamento sobre Abraão". Lute sempre para manter os seus estudos bíblicos em
tamanho manejável.
Estudo Biográfico Básico.
PASSO UM – Escolha a pessoa que você quer estudar e estabeleça os limites do estudo
(por exemplo, "Vida de Davi, antes de tornar-se rei"). Usando uma concordância ou um
índice enciclopédico, localize as referências que têm relação com a pessoa do estudo.
Leia as várias vezes e faça resumo de cada uma delas.

1. Observações – Anote todo e qualquer pormenor que notar sobre essa pessoa. Quem
era? O que fazia? Onde morava? Quando viveu? Por que fez o que fez? Como levou a
efeito? Anote minúcias sobre ela e seu caráter.
2. Dificuldades – Escreva o que você não entende acerca dessa pessoa e de
acontecimentos de sua vida.
3. Aplicações possíveis – Anote várias destas durante o transcurso do seu estudo, e
escreva um "A" na margem. Ao concluir o seu estudo, você voltará a estas aplicações
possíveis e escolherá aquela que o Espírito Santo destacar.

PASSO DOIS – Com divisão em parágrafos, escreva um breve esboço da vida da


pessoa. Inclua os acontecimentos e características importantes, declarando os fatos, sem
interpretação. Quando possível, mantenha o material em ordem cronológica.
Estudo Biográfico Avançado.
Os seguintes passos podem ser acrescentados quando você achar que o ajudarão em
seus estudos biográficos. São facultativos e só devem ser incluídos progressivamente, à
medida que você ganhe confiança e prática.
Trace o fundo histórico da pessoa. Use um dicionário bíblico para ampliar este passo
somente quando necessário. As seguintes
perguntas haverão de estimular o seu pensamento.
1. Quando viveu a pessoa? Quais eram as condições políticas, sociais, religiosas e
econômicas da sua época?
2. Onde a pessoa nasceu? Quem foram seus pais? Houve alguma coisa de incomum em
torno do seu nascimento e da sua infância?
3. Qual a sua vocação? Era mestre, agricultor, ou tinha alguma outra ocupação? Isto
influenciou o seu ministério posterior? Como?
4. Quem foi seu cônjuge? Tiveram filhos? Como eram eles? Ajudaram ou estorvaram a
sua vida e o seu ministério?

5. Faça um gráfico das viagens da pessoa. Aonde ela foi? Por que? Que fez?
6. Como a pessoa morreu? Houve alguma coisa extraordinária em sua vida?

11.5 – Método de Estudo Indutivo.


A. O método indutivo se baseia na convicção de que o Espírito Santo ilumina a quem
examina as escrituras com sinceridade, e que a maior parte da Bíblia não é tão
complicada que quem saiba ler não possa entendê-la. Os Judeus da Bereia foram
elogiados por examinarem cada dia as escrituras "se estas coisas eram assim". (At
17.10,11)
B. É óbvio que obras literárias tem "partes" que se formam no "todo". Existe uma ordem
crescente de partes, de unidades simples e complexas, até se formarem na obra
completa.

C. A unidade literária menor, que o Estudo Bíblico Indutivo (EBI) emprega, é a palavra.
Organizam-se palavras em frases, frases em períodos, períodos em parágrafos,
parágrafos em seções, seções em divisões, e por fim, a obra completa.
PALAVRA – Unidade menor;
FRASES – Reunião de palavras que formam um sentido completo;
PERÍODO – Reunião de frases ou orações que formam sentido completo;
PARÁGRAFOS – Um discurso ou capítulo que forma sentido completo, e que
usualmente se inicia com mudança de linha.
SEÇÃO – Parte de um todo, divisão ou subdivisão de uma obra, tratado, estudo.
12 – FIGURAS DE RETÓRICA
Exporemos em seguida uma série de figuras com seus correspondentes exemplos, que
precisam ser estudados detidamente e repetidas vezes.

12.1 – Metáfora.
Esta figura tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos, caracterizando-
se um com o que é próprio do outro. É uma comparação não expressa. É a figura em que
se afirma que alguma coisa é o que ela representa ou simboliza, ou como que se
compara. O sujeito está entrelaçado com a coisa comparada.
Metáfora é designação de um objeto ou qualidade mediante uma palavra que designa
outro objeto ou qualidade que tem com o primeiro uma relação de semelhança (p.ex.,
ele tem uma vontade de ferro, para designar uma vontade forte, como o ferro).
Exemplos bíblicos:
 Ao dizer Jesus: "Eu Sou a Videira Verdadeira", Jesus se caracterizou com o que
é próprio e essencial da videira (pé de uva);
 Ao dizer aos discípulos: "Vós sois as varas", caracterizou-os com o que é
próprio das varas.
 Outros exemplos: "Eu Sou o Caminho", "Eu Sou o Pão Vivo", "Judá é
Leãozinho", "Tu és minha Rocha", etc.
Símile – “O reino dos céus é semelhante...”. Ao contrário da símile que é uma
comparação expressa onde o sujeito está de fora.

12.2 – Sinédoque.
Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte, o plural
pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa. É a substituição de uma ideia por
outra que lhe é associada.
Exemplos:
 A parte pelo todo (ou o todo pela parte)
Vou sair da casa de meus pais e ter meu próprio teto. (casa)
 A classe pelo indivíduo (ou o indivíduo pela classe)
Quanto mais o Homem constrói, mais o Homem destrói. (os seres humanos)

 O singular pelo plural (ou o plural pelo singular)


O aluno deverá manter o silêncio na biblioteca. (todos os alunos)
Exemplos bíblicos:
 Toma a parte pelo todo: "Minha carne repousará segura", em vez de
dizer: meu corpo. (Sl 16.9).
 Toma o todo pela parte: "...beberdes o cálice", em lugar de dizer: do
cálice, ou seja, parte do que há no cálice.
 Gn 6:12 “E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida” –
terra=homem do geral pelo particular.

12.3 – Metonímia.
É o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com que tem certa relação. A
metonímia se refere à substituição de palavras com sentidos próximos, ou seja, é
utilizada uma palavra em vez de outra, sendo que ambas partilham uma relação de
proximidade de sentido, de contiguidade. Emprega-se esta figura quando se emprega a
causa pelo efeito, ou o sinal ou símbolo pela realidade que indica o símbolo.
Exemplos:
 Jesus emprega a causa pelo efeito: "Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos",
em lugar de dizer que têm os escritos de Moisés e dos profetas (Lc 16.29).
 Jesus emprega o símbolo pela realidade que o mesmo indica: "Se eu não te lavar,
não tem parte comigo." Lavar é o símbolo da regeneração.
 “Falem os dias e a multidão dos anos ensine...”. A idade por aqueles que a têm
(Jó 32:7).
 “Duas nações há no teu ventre”. Os progenitores pelas descendências (Gn
25:23).

12.4 – Prosopopeia.
Esta figura é usada quando se personificam as cousas inanimadas, atribuindo-lhes os
feitos e ações das pessoas. É personificação de coisas ou de seres irracionais.
Exemplos:
 "Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (I Cor 15.55) Paulo trata a morte
como se fosse uma pessoa.
 "Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as
árvores do campo baterão palmas." (Is 55.12)
 "Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram. Da
terra brota a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar." (Sl 85.10,11)
 “Todos os meus ossos dirão: Senhor quem é como tu” (Sl 35:10).
Ossos/fala

12.5 – Antropomorfismo (alguns dizem que é sinônimo de prosopopeia)


É a linguagem que atribui a Deus ações e faculdades humanas.
Exemplo:
 Gn 8:12 “O Senhor cheirou o suave cheiro, e disse ...”. Cheirar/sentido

12.6 – Ironia.
Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se quer dizer, porém
sempre de tal modo que se faz ressaltar o sentido verdadeiro. É a expressão de um
pensamento em palavras que, literalmente entendidas, exprimiriam o pensamento
oposto.
Exemplos:
 "Clamai em altas vozes... e despertará." Elias dá a entender que chamar por Baal
é completamente inútil (1 Rs 18.27).
 “Clamai aos deuses que escolhestes, eles que vos livrem no tempo de vosso
aperto (Juízes 10:14).

13.7 – Hipérbole.
É a figura pela qual se representa uma coisa como muito maior ou menor do que em
realidade é, para apresentá-la viva à imaginação. É um exagero. É a afirmação em que
as palavras vão além da realidade literal das coisas.
Exemplos:
 "Vimos ali gigantes... e éramos aos nossos próprios olhos como
gafanhotos... as cidades são grandes e fortificadas até aos céus" (Num.
13.33).
 "Nem no mundo inteiro caberiam os livros que seria, escritos" (Jo.
21.25).
 "Rios de águas correm dos meus olhos, porque não guardam a tua lei" (Sl
119.136).
 Dt 1:28 “As cidades são grandes e fortificadas até os céus”.

12.8 – Alegoria.
É um modo de expressão ou interpretação que consiste em representar pensamentos,
ideias, qualidades sob forma figurada. Podemos dizer que é uma figura retórica que
geralmente consta de várias metáforas unidas, representando cada uma delas realidades
correspondentes.
Exemplo:
• "Eu Sou o Pão Vivo que desceu do céu, se alguém dele comer, viverá
eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo, é a minha carne... Quem comer a
minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna", etc. - Esta alegoria tem sua
interpretação nesta mesma passagem das Escrituras. (Jo 6.51-65)

12.9 – Fábula.
É uma narrativa, em prosa ou verso, com personagens animais que agem como seres
humanos, e que ilustra um preceito moral.
Exemplo:
• "O cardo que está no Líbano, mandou dizer ao cedro que lá está: Dá tua filha por
mulher a meu filho; mas os animais do campo, que estavam no Líbano, passaram e
pisaram o cardo" (2 Rs 14.9). Com esta fábula Jeoás, rei de Israel, responde a proposta
de guerra feita por Amazias, rei de Judá.
12.10 – Enigma.
O enigma também é um tipo de alegoria, porém sua solução é difícil e abstrusa
(obscuro). Enigma é a definição de algo por suas qualidades ou particularidades, mas
difícil de entender.

Exemplo:
• "Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura" (Jz 14.14).

12.11 – Tipo.
É o estudo das figuras e símbolos da Bíblia, com os quais Deus procura mostrar, por
meio de coisas terrestres as coisas espirituais. O tipo é uma classe de metáfora que não
consiste meramente em palavras, mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos
semelhantes, pessoas ou objetos no porvir. Estas figuras são numerosas e chamam-se na
Escritura sombra dos bens vindouros, e se encontram, portanto, no Antigo Testamento.
Exemplos:
• A serpente de metal levantada no deserto foi mencionada por Jesus como um tipo
para representar sua morte na cruz (Jo 3.14).
• Jonas no ventre do grande peixe foi usado como tipo por Jesus para representar a
sua morte e ressurreição. (Mt 12.40)

• O primeiro Adão é um tipo para Cristo o último Adão. (I Cor 15.45)


• Maná no deserto, Alimento espiritual.
• Libertação do Egito, Libertação do mundo.
• Marcha no deserto, Nossa peregrinação na terra.

12.12 – Símbolo
Representa alguma coisa ou algum fato por meio de outra coisa ou fato familiar, que se
considera a propósito para servir de semelhança ou representação.
Exemplos:
• A majestade pelo leão,
• a força pelo cavalo,

• a astúcia pela serpente,


• o corpo de Cristo pelo pão,
• o sangue de Cristo pelo cálice.
 Números Simbólicos
A Bíblia tem uma numerologia própria. À medida que se desenrola a revelação escrita
de Deus ao homem vários números vão aparecendo de uma maneira importante e,
muitas vezes, com um significado conotativo.

Vejamos alguns números que se destacam:


 Número quatro
Número global. Indica o cósmico natural. Fala daquilo que é completo. Não trata da
plenitude, mas do alcance global.

“ Depois disto vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, retendo os quanto
ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem
contra árvore alguma.” (Ap 7.1).

 Número seis
Fala do homem, de sua formação, de sua falibilidade.
“ Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e
a manhã, o dia sexto.” (Gn1.27,31).
“ Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é
o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Ap 13.18)
 Número sete
Indica perfeição, plenitude, união do céu e terra, o sagrado. É o número de Deus e
também o número dos mistérios.

“As palavras do Senhor são palavras puras, como prata refinada numa fornalha de barro,
purificada sete vezes.” (Sl 12.6).
“A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas.” (Pv 9.1).
“ Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Isto diz aquele que tem os sete espíritos de Deus,
e as estrelas: Conheço as tuas obras; tens nome de que vives, e estás morto.” (Ap 3.1).
“ E vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos, e ouvi um dos quatro seres viventes
dizer numa voz como de trovão: Vem!” (Ap 6.1).
 Número doze
Fala dos propósitos eletivos de Deus.
“E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos
imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades.” (Mt
10.1).
“ E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a santa cidade de
Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, tendo a glória de Deus; e o seu brilho era
semelhante a uma pedra preciosíssima, como se fosse jaspe cristalino; e tinha um grande
e alto muro com doze portas, e nas portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que
são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Ao oriente havia três portas, ao norte
três portas, ao sul três portas, e ao ocidente três portas. O muro da cidade tinha doze
fundamentos, e neles estavam os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Ap 21.10-
14).
 Número quarenta

Fala das intervenções de Deus na História da humanidade especialmente no que se


refere à salvação do homem. Simboliza provação, santificação.
“ Quando subi ao monte a receber as tábuas de pedra, as tábuas do pacto que o Senhor
fizera convosco, fiquei no monte quarenta dias e quarenta noites; não comi pão, nem
bebi água.” (Dt 9.9).
“ E quando tiveres cumprido estes dias, deitar-te-ás sobre o teu lado direito, e levarás a
iniqüidade da casa de Judá; quarenta dias te dei, cada dia por um ano.” (Ez 4.64).
“E começou Jonas a entrar pela cidade, fazendo a jornada dum dia, e clamava, dizendo:
Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida.” (Jn 3.4).

“ Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E,
tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. (Mt 4.1-2).
“ Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e
ensinar, até o dia em que foi levado para cima, depois de haver dado mandamento, pelo
Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de haver
padecido, se apresentou vivo, com muitas provas infalíveis, aparecendo-lhes por espaço
de quarenta dias, e lhes falando das coisas concernentes ao reino de Deus. (At 1.1-3).
 Número setenta

Fala da administração de Deus sobre o mundo.


“ Disse então o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que
sabes serem os anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da revelação,
para que estejam ali contigo. Então descerei e ali falarei contigo, e tirarei do espírito que
está sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão eles o peso do povo para que tu não
o leves só.” (Nm 11.15-16).
“ E toda esta terra virá a ser uma desolação e um espanto; e estas nações servirão ao rei
de Babilônia setenta anos. Acontecerá, porém, que quando se cumprirem os setenta
anos, castigarei o rei de Babilônia, e esta nação, diz o Senhor, castigando a sua
iniqüidade, e a terra dos caldeus; farei dela uma desolação perpetua. (Jr 25.11-12).

“ Setenta semanas estão decretadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para
fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer
a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o santíssimo.” (Dn 9.24).
“ Depois disso designou o Senhor outros setenta, e os enviou adiante de si, de dois em
dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. E dizia-lhes: Na verdade, a seara
é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande
trabalhadores para a sua seara.” (Lc 10.1-2).
12.13 – Parábola.
É uma narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de
comparação ou analogia, sempre com o objetivo de ilustrar uma ou várias verdades
importantes. É uma narrativa de acontecimento real ou imaginário em que tanto as
pessoas como as coisas e as ações correspondem a verdades de ordem espiritual e
moral.

Exemplos:
 O Semeador (Mt 13.3-8);
 Ovelha perdida,
 Dracma perdida,
 Filho pródigo (Lc. 15), etc.

12.14 – Símile.
A figura de retórica denominada Símile procede da palavra latina "similis" que significa
semelhante ou parecido a outro. É uma analogia. Comparação de cousas semelhantes.
Exemplos:
 "Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim (do mesmo modo) é grande a
sua misericórdia para com os que o temem". (Sl 103.11);
 "Como o pai se compadece de seus filhos, assim (do mesmo modo) o Senhor se
compadece dos que o temem". (Sl 103.13)

12.15 – Interrogação.
A palavra interrogação procede de um vocábulo latino que significa pergunta. Mas nem
todas as perguntas são figuras de retórica. Somente quando a pergunta encerra uma
conclusão evidente é que é uma figura literária.
"Interrogação é uma figura pela qual o orador se dirige ao seu interlocutor, ou
adversário, ou ao público, em tom de pergunta, sabendo de antemão que ninguém vai
responder."
Exemplos:

 "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gn 18.25)


 "Não são todos eles espíritos ministradores enviados para serviço, a favor dos
que hão de herdar a salvação?" (Hb 1.14)
 "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" (Rm 8.33)
 "Com um beijo trais o Filho do homem?" (Lc 22.48)

12.16 – Apóstrofe.
Interrupção súbita do discurso que o orador ou o escritor faz, para dirigir-se a alguém ou
a algo, real ou fictício (p.ex.: a seguir, leitor amigo, contarei a história tal como
sucedeu).
A palavra apóstrofe procede do latim apostrophe e esta do grego apo, que significa de, e
strepho, que quer dizer volver-se. O vocábulo indica que o orador se volve de seus
ouvintes imediatos para dirigir-se a uma pessoa ou cousa ausente ou imaginária.
O emprego desta figura, na eloqüência, produz grandes efeitos sobre as paixões que o
orador procura transmitir aos ouvintes."
Exemplos: A Palavra de Deus é interrompida pela palavra do profeta.
 "Ah, Espada do Senhor, até quando deixarás de repousar?" (Jr 47.6)

12.17 – Antítese.
Este vocábulo procede da palavra latina antithesis e esta de palavras gregas que
significam colocar uma coisa contra a outra. "Inclusão, na mesma frase, de duas
palavras, ou dois pensamentos, que fazem contraste um com o outro."

Exemplos:
 "Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal." (Dt 30.15)
 "Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz a
perdição e são muitos os que entram por ela) porque estreita é a porta e apertado
o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela." (Mt
7.13,14)

12.18 – Provérbio.
Este vocábulo procede das palavras latinas pro que significa antes e verbum que quer
dizer palavra. Trata-se de um dito comum ou adágio.

Exemplos:
 "Médico cura-te a ti mesmo" (Lc 4.23);
 "Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra." (Mt 6.4; Mt 13.57)

12.19 – Paradoxo.
Denomina-se paradoxo a uma proposição ou declaração oposta à opinião comum; a uma
afirmação contrária a todas as aparências e à primeira vista absurda, impossível, ou em
contraposição ao sentido comum, porém que, se estudada detidamente, ou meditando
nela, torna-se correta e bem fundamentada.
Exemplos:
 "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos". (Mt 8.22)
 "Coais o mosquito e engolis o camelo". (Mt 23.24)
 "Porque quando sou fraco, então é que sou forte". (2 Cor 12.10)

12.20 – Clímax ou Gradação


A palavra clímax ou gradação procede do latim climax e esta do grego klimax que
significa escala, no sentido figurado da palavra. A Enciclopédia Brasileira Mérito nos
proporciona a seguinte definição da palavra gradação: "Concatenação dos elementos de
um período de modo a fazer com que cada um comece com a última palavra do anterior;
amplificação, apresentação de uma série de idéias em progressão ascendente ou
descendente. Também se diz clímax." O essencial é que exista avanço ou progresso na
oração, parágrafo, tema, livro ou discurso.
Exemplo:
 O capítulo oitavo de Romanos é um maravilhoso clímax ou gradação. Começa
com os vocábulos "nenhuma condenação", e termina dizendo que "nenhuma
criatura nos poderá separar".

12.21 – Acróstico
Composição poética em que o conjunto das letras iniciais, mediais ou finais compõem
verticalmente uma palavra ou frase ou uma sequência alfabética.
Há uma dificuldade na exemplificação dos acrósticos bíblicos uma vez que foram
escritos originalmente em Hebraico e, portanto, a letra inicial das palavras não são as
mesmas na língua portuguesa. Os textos foram escritos em forma de acrósticos
originalmente.
Exemplos bíblicos:
 Salmos 119; 25; 34; 111; 112;
 Os últimos 22 versículos de Provérbios;
 A maior parte de lamentações de Jeremias.
Exemplos práticos:
Jesus,
Eu sou teu servo.

Sou teu discípulo.


Uni-me a Ti.
Somente a Ti!

13 – REGRAS FUNDAMENTAIS DE INTERPRETAÇÃO


Não devemos nos esquecer que a primeira pessoa a interpretar as Escrituras, de forma
distorcida, foi o diabo. Ele deu à palavra divina um sentido que ela não tinha, falseando
astutamente a verdade (Gn 3.1).

Os seus imitadores, conscientes e inconscientes, têm perpetuado este procedimento


enganando à humanidade com falsas interpretações das Escrituras Sagradas.

13. 1 – Primeira Regra – A Bíblia é explicada pela própria Bíblia, ou seja, A


BÍBLIA É SUA PRÓPRIA INTERPRETE.
Esta é a regra fundamental da Hermenêutica Bíblica. Vemos em Jesus e nos Apóstolos a
preocupação constante com essa norma de interpretação. Muito do que Jesus e os
Apóstolos disseram é repetição do que está exarado “em Moisés, nos Profetas e nos
Salmos.”(Lc 24.44). Jesus usava os textos do Antigo testamento, enquanto concebia o
Novo. Ele dominava os que estava escrito e a ninguém deixava sem uma resposta
satisfatória.
O conselho que se dá aqui é que o estudante da Bíblia a leia toda, pelo menos uma vez
por ano, para que conheça o seu Contexto Geral, sem o qual não se pode entender as
partes.
Além do contexto geral é importantíssimo atentar para o que chamaremos didaticamente
de Contexto Mediato
A interpretação de um texto envolve a compreensão de cada palavra ou expressão nele
contida. Existem palavras que encerram, em si mesmas, todo o seu significado. Outras
têm o sentido elucidado na frase, oração ou parágrafo onde está contida. Outras, ainda,
poderão depender do contexto imediato, mediato ou do contexto geral das Escrituras.
Um exemplo simples de erro da não observância do contexto imediato está na
interpretação da “nuvem de testemunhas” de Hebreus 12.1. Diz-se erradamente, no
meio evangélico, que essa nuvem de testemunhas são as pessoas que vivem ao nosso
redor, quando, na verdade, são os “heróis da Fé”, cujos nomes e feitos estão narrados no
capítulo 11 do mesmo Livro. É preciso tomar muito cuidado porque mudança de
capítulo não significa mudança de assunto. Os versículos por sua vez não são parágrafos
completos e, por isso, é preciso ler com atenção privilegiando a idéia e não a forma
como o texto está dividido.

13.2 – Segunda Regra – É preciso, o quanto seja possível, tomar as palavras em seu
sentido usual e comum.
Porém, tenha sempre presente a verdade de que o sentido usual e comum não equivale
sempre ao sentido literal.
Exemplo: Gn 6.12 = A palavra CARNE (no sentido usual e comum significa pessoa)
A palavra CARNE (no sentido literal significa tecido muscular)

13.3 – Terceira Regra – É de todo necessário tomar as palavras no sentido que


indica o conjunto da frase.
Exemplos:
A. A palavra FÉ
FÉ em Gl 1.23 = significa crença, ou seja, doutrina do Evangelho.
FÉ em Rm 14.23 = significa convicção.

B. A palavra GRAÇA
GRAÇA em Ef 2.8 = significa misericórdia, bondade de Deus.
GRAÇA em At. 14.3 = significa pregação do Evangelho.
C. A palavra CARNE
CARNE em Ef. 2.3 = significa desejos sensuais.
CARNE em I Tm 3.16 = significa forma humana.
CARNE em Gn 6.12 = significa pessoas.

13.4 – Quarta Regra – É necessário tomar as palavras no sentido indicado no


contexto, a saber, os versículos que estão antes e os que estão depois do texto que se
está estudando.
No contexto achamos expressões, versículos ou exemplos que nos esclarecem e definem
o significado da palavra obscura no texto que estamos estudando.

13.5 – Quinta Regra – É preciso levar em consideração o objetivo ou desígnio do


livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras.
O objetivo ou desígnio de um livro ou passagem se adquire, sobretudo, lendo-o e
estudando-o com atenção e repetidas vezes, tendo em conta em que ocasião e a quais
pessoas originalmente foi escrito. Alguns livros da Bíblia já trazem estas informações.
Ex.: Provérbios 1.1-4.

13.6 – Sexta Regra – É necessário consultar as passagens paralelas, "explicando


cousas espirituais pelas espirituais" (I Cor. 2.13)
Passagens paralelas são as que fazem referência uma à outra, que tem entre si alguma
relação, ou tratam de um modo ou outro de um mesmo assunto.
Existem paralelos de palavras, paralelos de ideias e paralelos de ensinos gerais.

A. Paralelos de palavras – Quando lemos um texto e encontramos nele uma palavra


duvidosa, recorremos a outro texto que contenha palavra idêntica e assim,
entendemos o seu significado.
Ex.: "Trago no corpo as marcas de Jesus." (Gl 6.17). Fica mais fácil o seu entendimento
quando lemos a passagem paralela: "Trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus (I
Cor. 4.10).
B. Paralelos de Ideias – Para conseguir ideia completa e exata do que ensina
determinado texto, talvez obscuro ou discutível, consultasse não somente as
palavras paralelas, mas os ensinos, as narrativas e fatos contidos em textos ou
passagens que se relacionem com o dito texto obscuro ou discutível. Tais textos
ou passagens chamam-se paralelos de ideias.
Ex.: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja". (Mt 16.16) Quem é esta pedra? Se
pegarmos em I Pd 2.4, a idéia paralela: "E, chegando-vos para ele, (Jesus) pedra viva..."
entenderemos que a pedra é Cristo.
Outro exemplo: Em Gl 6.15, o que é de valor para Cristo é a nova criatura. Que
significa esta expressão figurada? Consultando o paralelo de 2 Cor. 5.17, verificamos
que a nova criatura é a pessoa que "esta em Cristo", para a qual "as cousas antigas
passaram", e "se fizeram novas".
C. Paralelos de ensinos gerais – Para a correta interpretação de determinadas
passagens não são suficientes os paralelos de palavras e de ideias, é preciso
recorrer ao teor geral, ou seja, aos ensinos gerais das Escrituras.
Exemplos: - O ensino de que "o homem é justificado pela fé sem as obras da lei", só
será bem compreendido, com a ajuda dos ensinos gerais na Bíblia toda. Segundo o teor
ou ensino geral das Escrituras, Deus é um espírito onipotente, puríssimo, santíssimo,
conhecedor de todas as coisas e em todas as partes presente. Porém há textos que,
aparentemente, nos apresentam um Deus como o ser humano, limitando-o a tempo ou
lugar, diminuindo em algum sentido sua pureza ou santidade, seu poder ou sabedoria;
tais textos devem ser interpretados à luz dos ensinos gerais das Escrituras.

14.7 – Sétima Regra – Tenha sempre em mente o Assunto Central das Escrituras
Jesus Cristo é o assunto central da Bíblia. Daí dizermos que a Bíblia é um Livro
Cristocêntrico. Ele é o “Cordeiro...conhecido antes da fundação do mundo”(1Pe 1.19-
20), é o que se manifestou “na plenitude dos tempos”(Gl 4.4) para oferecer o sacrifício
único pela redenção da humanidade e é, finalmente, o que “descerá do céu com alarido,
e com voz de arcanjo, e com trombeta de Deus”(1Ts 4.16) para consumar a redenção no
Reino de Deus para sempre.
Estudar a Bíblia tendo como foco principal o Filho de Deus dá ao intérprete a segurança
de quem tem um caminho único a seguir na lida interpretativa.

13.8 – Oitava Regra – Tome consciência do contexto histórico-geográfico


Algumas perguntas interessantes de cunho histórico-geográfico podem ser feitas ao
texto. Por exemplo: Em que época o texto foi escrito? Onde estavam o autor e os
destinatários à época do escrito? Eram escravos ou livres? Eram abastados ou pobres?
Eram cultos ou incultos? Estavam sendo perseguidos ou em paz? Eram nômades ou
sedentários? Viviam em sua terra natal ou estavam longe da pátria? Viviam numa região
árida ou em meio a mananciais de água? Eram habitantes de cavernas, de casas, ou de
tendas? Que tipo de tecnologia usavam? Quais eram seus costumes, crenças, valores, e
comportamentos? Como era a sua organização social, política e econômica? Que tipo de
alimentação usavam?
Haverá muito mais luz para se entender o texto se essas perguntas respondidas. Assim o
intérprete deve ponderar sobre essas situações no momento do estudo.

13.9 – Nona Regra – Procure reconhecer a forma literária do texto


Precisamos saber se estamos diante de um escrito histórico, doutrinário, biográfico,
poético ou profético, ou ainda se é um texto misto. Não é tarefa difícil identificar formas
literárias quando se conhece o contexto geral das Escrituras.
A análise literária identifica a forma ou método literário usada em determinada
passagem com vistas às várias formas como: história, narrativa, cartas, exposição
doutrinal, poesia e apocalipse. Cada uma tem seus métodos únicos de expressão e
interpretação.
São textos históricos aqueles que visam informar os fatos importantes a respeito de
Israel, da Igreja ou ainda de outros povos relacionados principalmente com Israel.

A poesia tem características singulares que são a conotação e/ou a metrificação e/ou a
repetição de ideias, etc. No grego, devemos considerar o termo poietés - fazedor,
realizador. No sentido literário um poeta é alguém que exprime suas ideias mediante
imagens verbais, metáforas e outros artifícios literários. Um poeta prima pela brevidade
de expressão, em conjunção com expressões claras e eloquência.
A profecia tem como principal característica a predição de fatos históricos relativos a
Israel, como às outras nações e à igreja.
O texto misto contempla duas ou mais formas literárias. Assim sendo, o texto: “Quando,
pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas
sinagogas e nas ruas, para ser glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já
receberam a sua recompensa. Mas tu, quando deres esmola, não saiba a tua mão
esquerda o que faz a direita” (Mt 6.2-3). Esse texto é, ao mesmo tempo, doutrinário e
poético. Nele o Senhor Jesus doutrina e usa uma figura de linguagem tornando-o mais
belo e cheio de significado.
Os textos históricos e biográficos nos convidam à pesquisa histórica, ao conhecimento
dos fatos tais como se deram no tempo em que foram escritos.
O texto doutrinário exige uma extrema cautela do intérprete pois clama pela aplicação
atual das verdades nele contidas. Uma má aplicação dessas verdades pode incorrer em
erros doutrinários. Constituem doutrina os ensinamentos de Jesus, dos apóstolos e dos
profetas.

13.10 – Décima Regra – Localize o texto numa das Dispensações Bíblicas


Dispensação é um período de tempo em que Deus trata com o homem de um modo
específico.
Deus está falando com um homem inocente? Com um homem pecador e sem Lei? Está
falando com um homem que tem conhecimento da Lei de Moisés? O escrito é aplicado
aos que estão debaixo da Graça? O escrito se refere ao Milênio de Cristo?
“Os dipensacionalistas partem de um estudo hermenêutico coerente, considerando a
interpretação normal e gramatical, um fundamento essencial à sua hermenêutica. Com
essa base, fazem distinção entre Israel e a igreja quanto à dispensação. Como expressou
Radmacher: “A interpretação literal é a ‘linha mestra’ do dispensacionalismo (...). Sem
dúvida, o mais significativo desses (princípios) é a manutenção da diferenciação entre
Israel e a igreja”.

Ryrie também comentou essa questão: “Se a interpretação direta e normal consiste o
único princípio hermenêutico válido e se for aplicada coerentemente, a pessoa se tornará
dispensacionalista. Na medida que uma pessoa acredita que a interpretação normal é
fundamental nessa mesma medida ela se tornará obrigatoriamente dispensacionalista”.
Aceitar os termos Israel e igreja no sentido normal, literal, equivale a conservar sua
distinção. Israel sempre significa o Israel étnico, nuca se confundindo com o termo
igreja, nem as Escrituras jamais empregam igreja em substituição ou como sinônimo de
Israel.”
Quando Jesus disse que haverá menos rigor no juízo para Sodoma e Gomorra do que
para as cidades que rejeitaram a pregação dos Apóstolos, pondera sobre o conhecimento
espiritual dessas cidades: “E, ao entrardes na casa, saudai-a; se a casa for digna, desça
sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz. E, se ninguém
vos receber, nem ouvir as vossas palavras, saindo daquela casa ou daquela cidade,
sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos
rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.” (MT 10.12-15).
Paulo afirma que “todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os
que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.” (Rm 2.12).
O escritor aos hebreus diz: “Mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz, também,
mudança na Lei.” (Hb 7.12). Ele está se referindo ao sacerdócio de Cristo.
Sob a orientação de Moisés e Josué, o povo de Israel punia em nome do Senhor, através
de grandes batalhas, os povos daquém e dalém do Rio Jordão, por causa de seus
terríveis pecados. Hoje, a instrução de Cristo é: “se alguém te bater na face direita,
oferece-lhe também a outra” (Mt 5.39). Paulo completa dizendo: “Porque não temos de
lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades,
contra o príncipe das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos
lugares celestiais.” (Ef 6.12).
Deus tem mudado suas estratégias no trato com o homem no decorrer dos séculos e isso
precisa ser levado em consideração no momento do estudo.

13.11 – Décima Primeira Regra – Considere o texto sob a ótica do povo a quem se
destina
A Bíblia divide a humanidade em três povos:
I. Os Judeus, descendentes de Abraão, com quem foi feita a Antiga Aliança.
II. Os Gentios, também chamados no Novo Testamento de povos ou nações ou
gentes ou gregos (esse último nome por causa da língua e cultura grega
espalhada por todo o mundo de então) são aquela parte da humanidade que ainda
não havia feito aliança alguma com o Deus eterno;
III. E, por fim, a Igreja, composta de Judeus e Gentios que fizeram com Deus o
pacto da Nova Aliança em Cristo.

Confira esta classificação nas palavras de Paulo: “Não vos torneis causa de tropeço nem
para judeus, nem para gentios, nem para a igreja de Deus” (1Co 10.32).
Há textos na Bíblia que só se aplicam a judeus. Outros só se aplicam a Igreja. Outros
ainda, só dizem respeito aos gentios. Mas há também, textos de aplicação mista, que
englobam dois dos povos citados, e os de aplicação geral envolvendo os três povos.
Mateus destina seu Evangelho especialmente aos judeus e por isso, preocupa-se
constantemente em mencionar o cumprimento das profecias do Antigo Testamento na
vida e obra de Jesus, com o fito de convencer aos judeus de que Jesus é o Messias
prometido a Israel.
Paulo escreve suas cartas à Igreja de Cristo e então preocupa-se em que os irmãos
permaneçam firmes na doutrina, na fé, no amor, na boa conduta e na esperança das
promessas de Deus.
Marcos destina seu Evangelho aos romanos, portanto, a gentios e, assim sendo, mostra
com dinamismo e beleza o extraordinário trabalho de Jesus em favor dos homens em
obediência ao seu Pai celestial. Apresenta-o como único e insubstituível meio de
salvação para a humanidade. Além disso, toma o cuidado de explicar costumes judaicos
e expressões escritas na língua dos judeus.

Em contraste com outras questões que envolvem o evangelho de Marcos, parece


geralmente aceito pelos estudiosos de que este evangelho foi escrito em Roma,
provavelmente visando os gentios daquela cidade.

13.12 – Décima Segunda Regra – Analise a postura espiritual dos destinatários do


texto
Os Filipenses eram um povo generoso, amoroso e cooperante. Estavam sempre
ajudando o apóstolo Paulo em suas dificuldades. Que esperar de um Escrito dirigido a
um povo desse quilate? Está claro que a Epístola há de ter um tom amigável, íntimo,
fraterno e abençoador.
Filipos, importante cidade da Macedônia e colônia romana, tinha sido evangelizada por
Paulo durante a sua segunda viagem, no ano 50 (At 16.12-40). Ele tornou a passar por lá
duas vezes, quando da sua terceira viagem no outono de 57 (At 20.1-2) e na Páscoa de
58 (At 20.3-6). Os fiéis que ele conquistou lá para Cristo testemunharam uma tocante
afeição por seu Apóstolo, enviando-lhe socorros a Tessalônica (Fp 4.6) e depois a
Corinto (2Co 11.9). E quando Paulo lhes escreve é precisamente para agradecer-lhes
novos recursos que ele acaba de receber por intermédio do delegado deles, Epafrodito
(Fp 4.10-20).
O Senhor Deus disse a Moisés, quanto à geração que foi libertada do Egito: “Tenho
observado este povo, e eis que é povo de dura cerviz.” (Ex 32.9b). Ora, o tratamento
divino com um povo, assim duro, é diferente do tratamento que Ele daria a um povo
dócil espiritualmente. O profeta escreverá bênçãos ou maldições, da parte de Deus,
dependendo da posição espiritual do povo em relação a Deus.
Detectada a situação espiritual do grupo de pessoas a quem é destinado o Texto, torna-
se mais fácil entender toda a linha de raciocínio do escritor e a forma como ele externa
suas emoções e sua posição espiritual em relação ao povo. Também fica mais simples
compreender a postura do próprio Deus em relação àquelas pessoas.

13.13 – Décima Terceira Regra – Analise as características pessoais do escritor e


das personagens do texto em estudo
Deus é o autor das Escrituras, entretanto, coube ao homem ser canal usado por Ele para
que sua Palavra pudesse chegar até nós.
O homem tem uma personalidade determinada por sua herança genética, pelo meio em
que vive, e pelo seu “eu” consciente e dotado de livre-arbítrio. Tudo isso faz de cada
escritor bíblico um instrumento peculiar por onde ressoa a inspiração e a revelação
divinas.
Podemos descobrir essas características de indivíduos na Bíblia através de um estudo
que focalize o personagem ou escritor bíblico ao longo de todas as passagens bíblicas
em que esse escreve e/ou aparece.
É mais fácil compreender um texto onde a personalidade de seu escritor e os
personagens são conhecidos do estudante. Podemos identificar o temperamento e o
caráter de determinados personagens da Bíblia, por suas atitudes, à medida que
aparecem no cenário bíblico.
Tomando o Apóstolo Pedro como exemplo, distinguimos duas fases em sua
personalidade: A primeira, antes da sua completa conversão: “Simão, Simão, eis que
Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé
não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos.” (Lc 22.31-32). E a
Segunda, após a conversão total e o batismo no Espírito Santo.
Assim, vemos primeiramente um Pedro espontâneo, líder, impulsivo, agressivo, etc. É
espontâneo, quando faz muitas perguntas a Jesus cujas respostas nos é de extrema valia
para o povo de Deus através dois séculos. É imprudente quando tenta convencer ao
próprio Jesus a não morrer na cruz. É impulsivo quando avança sobre as ondas sem ter
fé para tal, culminando no ridículo do quase afogamento, ou quando se propõe a morrer
com Jesus embora não estivesse preparado para isso. É violento quando se arremete
contra a guarda e fere um soldado.
Na Segunda fase de sua vida temos um Pedro equilibrado, pacífico, sofredor, corajoso,
cheio de fé e da graça de Deus e um grande líder. Equilibrado quando é capaz de apoiar
e incentivar a Paulo no seu trabalho entre os gentios e, ao mesmo tempo, conviver com
os judaizantes dirigindo a Igreja entre eles. Pacífico quando é repreendido por Paulo na
cara e não rompe com ele. É sofredor quando é surrado pelos judeus por causa do
Evangelho. É corajoso quando desafia as autoridades judaicas que queriam emudecê-los
para que não pregassem o Evangelho, não temendo açoites e nem mesmo a morte.
Mostra-se cheio de fé e da graça de Deus quando cura multidões de enfermos com o
passar da sua sombra sobre eles. Tornou-se um grande líder entre os apóstolos e foi
contado entre as “colunas” da Igreja que estava em Jerusalém.

A personalidade de Pedro é uma das mais empolgantes da bíblia. Esse apóstolo tornou-
se um exemplo daquilo que Deus pode fazer na vida de um homem que a Ele se dedica
e Nele tem fé.

13.14 – Décima Quarta Regra – Descubra o objetivo do texto


É muito importante descobrir o objetivo do texto em tela, pois, através dele, temos uma
linha mestra para a interpretação. Às vezes, o próprio texto ou contexto nos informa o
objetivo como é o caso dos sinais registrados no Evangelho de João. “Jesus, na verdade,
operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos
neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”(Jo 20.31).

Quando o objetivo não está explícito no texto, o conselho é lê-lo o texto várias vezes até
descobri-lo. Estando evidente o propósito com que um determinado texto foi escrito
tem-se a coluna vertebral de todos os argumentos usados pelo escritor, podendo-se
facilmente detectar o que é principal e o que é acessório.
A descoberta do objetivo central do texto livra o exegeta de uma interpretação marginal
ou secundária.

É preciso tomar em consideração o objetivo ou desígnio do livro ou passagem em que


ocorrem as palavras ou expressões obscuras...
O desígnio alcançado pelo estudo diligente nos oferece auxílio admirável para a
explicação de pontos obscuros, para a aclaração de textos que parecem contraditórios e
para conseguir um conhecimento mais profundo de passagens em si claras.

13.15 – Décima Quinta Regra – Verifique se o texto é numenológico ou


fenomenológico
 Fenomenológica (perspectiva humana) é aquilo que os sentidos do
homem percebem.
 Numenológica (perspectiva divina) é a realidade que está de fato
ocorrendo, independente de como a percebem os sentidos do homem, é a
coisa em si.

Os sentidos humanos são facilmente enganados pelo que é a aparência da realidade e daí
surge a narração fenomenológica. Um texto clássico desse tipo de narração está no
Livro de Josué onde o texto afirma que o sol parou. Hoje, pelos conhecimentos
científicos, sabemos que se o sol parar não perceberemos que o mesmo parou, desde que
a terra continue girando normalmente em seus movimentos de rotação e translação. Não
temos aqui um exemplo de linguagem figurada. O que o escritor disse é aquilo que
percebeu por meio dos sentidos, portanto, pensava estar narrando a realidade tal como
se deu.
O estudante da bíblia precisa buscar o máximo de conhecimento científico em todas as
áreas para que possa diferenciar o real do sensitivo, embora nunca poderá conhecer
aquilo que a ciência ou o próprio Deus ainda não revelou e que, por isso mesmo,
permanece sob a miopia dos sentidos humanos.
Outra narrativa fenomenológica importante se encontra na passagem bíblica em que
Saul consulta a necromante de En-Dor:
“Vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu e estremeceu muito o seu coração. Pelo que
consultou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por
Urim, nem por profetas. Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me uma necromante,
para que eu vá a ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Eis que em En-Dor há
uma mulher que é necromante. Então Saul se disfarçou, vestindo outros trajes; e foi ele
com dois homens, e chegaram de noite à casa da mulher.
Disse-lhe Saul: Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me faças subir aquele que
eu te disser. A mulher lhe respondeu: Tu bem sabes o que Saul fez, como exterminou da
terra os necromantes e os adivinhos; por que, então, me armas um laço à minha vida,
para me fazeres morrer? Saul, porém, lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Como vive o
Senhor, nenhum castigo te sobrevirá por isso. A mulher então lhe perguntou: Quem te
farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel. Vendo, pois, a mulher a Samuel,
gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me enganaste? pois tu mesmo és
Saul.
Ao que o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a mulher respondeu a Saul:
Vejo um deus que vem subindo de dentro da terra. Perguntou-lhe ele: Como é a sua
figura? E disse ela: Vem subindo um ancião, e está envolto numa capa. Entendendo
Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e lhe fez reverência.

Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Estou
muito angustiado, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de
mim, e já não me responde, nem por intermédio dos profetas nem por sonhos; por isso
te chamei, para que me faças saber o que hei de fazer. Então disse Samuel: Por que,
pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor se tem desviado de ti, e se tem feito teu
inimigo? O Senhor te fez como por meu intermédio te disse; pois o Senhor rasgou o
reino da tua mão, e o deu ao teu próximo, a Davi. Porquanto não deste ouvidos à voz do
Senhor, e não executaste o furor da sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez
hoje isto. E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus. Amanhã tu
e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará o arraial de Israel na mão dos
filisteus. Imediatamente Saul caiu estendido por terra, tomado de grande medo por
causa das palavras de Samuel; e não houve força nele, porque nada havia comido todo
aquele dia e toda aquela noite.” (1Sm 28)

Claro está que Satanás, conhecedor das limitações humanas, criou todo um ambiente de
engano para que fosse passada a impressão de que Samuel houver saído do Paraíso de
Deus para participar daquele culto espírita.
É interessante notar que o escritor do texto citado, que não foi Samuel por já estar
morto, narrou os fatos como percebidos pelos sentidos daqueles que lá estiveram ou por
terceiros que deles tiveram notícia.
A não compreensão da narrativa fenomenológica e o engano de Satanás tem subsidiado
até hoje os espíritas que encontram, nesse texto, uma base para sua doutrina de consulta
aos mortos.

13.16 – Décima sexta regra - Retire do texto suas verdades temporais e intemporais
Depois de todo o estudo indicado acima, chega o momento final da interpretação, onde
o estudante vai procurar traduzir o que o texto significava para o povo de sua época e
como essas verdades podem ser aplicadas em nossa época e cultura. Chamamos de
verdades temporais, as que duram apenas um período de tempo e intemporais, as que
permanecem para sempre.

Com a Nova Aliança, ficaram ultrapassados vários costumes, ritos e ensinos da Velha
Aliança. Por isso precisamos estar atentos para as coisas que a própria Palavra fez
perecer e que certos intérpretes fazem questão de ressuscitar contrariamente aos ensinos
de Cristo e dos Apóstolos. O discernimento sobre as verdades temporais e intemporais
baseia-se principalmente na comparação dos demais escritos bíblicos com aquilo que é a
Doutrina de Jesus.
Os ensinos de Jesus constituem o que é essencial para o homem. Jesus não se detém em
miudezas, mas trata do que é substancial para que o perdido pecador seja reconciliado
com Deus e viva uma vida que lhe seja agradável. Jesus ensina o que é moral e
espiritual. Ele lança sabiamente um novo e maravilhoso mandamento: “Um novo
mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que
também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos,
se tiverdes amor uns aos outros.” (Jo 13.34-35).
As verdades que estão relacionadas com a Lei do Amor são intemporais. Todo
ensinamento bíblico que aperfeiçoa o leitor para a prática do amor reverente a Deus e
respeitoso ao próximo é para sempre.

13.17 – Décima Sétima – Compare suas conclusões com as de bons exegetas


Comparando sua exegese com a de escritores bem recomendados e tarimbados, poderá
medir seu grau de capacidade de interpretação, ao mesmo tempo que terá mais
segurança para expor suas conclusões e se envolver em outras jornadas exegéticas.
Um dos grandes erros das mais famosas seitas heréticas existentes entre nós é o
desprezo por tudo o que já foi feito pelos estudiosos de todas as épocas sobre as
Escrituras. Desconsideram o labor de santos, doutos e dedicados homens de Deus à
tarefa de estudar, interpretar, compilar e traduzir os escritos canônicos e isto numa
época em que tudo era feito à mão. Os hereges surgem com novas interpretações,
traduções e acréscimos ao material canônico, como se toda a revelação e interpretação
divinas lhes fossem confiadas particularmente, levando multidões às trevas da
ignorância do bom e sadio conhecimento a respeito de Deus.

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