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GODELIER, Maurice. Incesto, parentesco, poder. El Cielo por Asalto, 5, 1993. p. 99-115.

- sistema de parentesco reúne 3 conjuntos de relações básicas: pais e filhos, irmãos e aliados. (p. 99)
a) a relação de descendência, que é a relação entre pai e filho e mãe e filho; b) a relação de
consangüinidade, que é a relação entre irmãos e c) a relação de afinidade ou seja, a que se dá
através do casamento, pela aliança. Essas três relações são básicas e o estudo do parentesco é o
estudo da sua combinação. Essas relações são a estrutura formal universal. Qualquer sociedade
forma-se pela combinação dessas três relações. A variabilidade está em como se faz essa
combinação.

- relações de parentesco servem para o processo de reprodução social ligado diretamente ao


processo de substituição biológica das famílias. (p. 99)

- parentesco é uma ordem social que procura orientar as relações biológicas de reprodução. Cria
interdições, implica papéis sociais no processo de criação de um novo indivíduo. (p. 100)

- papel da criação, na relação pais-filhos, é partilhado a partir do gênero, ou mesmo pela estrutura
familiar sendo patrilinear ou matrilinear. (p. 99)

- A cosanguinidade é a BASE das relações de parentesco. A partir dela, serão impostas outras
relações de FILIAÇÃO que modularam outras variações sobre a cosanguinidade, isto é, relações
entre sujeitos cognáticos, que descendem do mesmo tronco familiar. (p. 102) Uma primeira
questão que exprime a possibilidade de variação do parentesco é que os vínculos de filiação e
de descendência podem ser diferentes, embora esta seja uma confusão muito comum. A
filiação do pai e a da mãe podem ser diferentes, elas podem não coincidir com a descendência;
ou seja, se há sociedades onde você descende tanto do seu pai quanto da sua mãe, como a
nossa, isto não é verdade para todas as sociedades. Nós temos uma descendência bilateral, mas
em sociedades onde há descendência matrilinear, o pai não é parente. O filho está fora da
linha de descendência do pai. O pai é o marido da mãe, logo se diferencia filiação de
descendência. Não se é necessariamente descendente do pai biológico. Isto porque a
descendência não tem a ver com o vínculo de parentesco biológico entre pai e filho, mas com a
definição social das regras de transmissão de direitos de uma geração para outra.

- descendência pode ser unilateral (só do pai ou da mãe) ou bilateral (oriundo de ambos), ou ainda
combinar os princípios unilaterais na transmissão da descendência. A filiação se dá de ambos os
lados (p. 102) Os princípios de descendência da polícia seguem os princípios da descendência
da nossa sociedade, ou seja, são bilaterais. Embora em ambos os lados da família ela ocorra, o
homem é o principal responsável pela reprodução da linhagem policial. O referencial de
descendência sempre são os tios, primos, o pai ou os avôs, etc.

- relações de parentesco são penetradas por relação que não tem a ver diretamente com a
sexualidade. Elas procuram manipular as relações de sexo e e geração existentes entre os
indivíduos, como forma de orientar as formas como a reprodução social da família ocorre. (p. 103).
Histórias, no âmbito da “família policial”, de “primos que viram irmãos”, ou, até mesmo, de
“cunhados que viram filhos”, se pensar nos exemplos de Ricardo (primo) e Pablo (marido da
sua irmã, na relação com seu pai). A descendência não tem a ver com o vínculo de parentesco
biológico entre pai e filho, mas com a definição social das regras de transmissão de direitos de
uma geração para outra.

- no âmbito das relações de parentesco, algumas filiações são colocadas em primeiro plano,
enquanto outras são escanteadas.
- filiação pode criar uma descendência. Ela não necessariamente é biológica, mas pode ser
ideológica. Trabalhos do Leach, por exemplo, onde as relações de filiação a toda hora são
manipuladas, dentro da estrutura de parentesco mayo-dama. (p. 105)

- “O parentesco está, portanto, estruturado por realidades que nada tem a ver com a união entre os
sexos e o engendramento dos filhos. O parentesco é uma estrutura imaginária que orienta relações
imaginárias e princípios imaginários. Só que, todavia, o que está em jogo nesses mecanismos não é
imaginário. São estruturas que orientam trocas de bens materiais e simbólicos “reais”. (p. 105)

- poder do parentesco é o poder de construir relações pessoais, íntimas, herdades ou presentes desde
o nascimento que são o suporte primeiro de conhecimento do Outro e de aprendizagem da vida.
Cosanguinidade é um contrato de direitos e obrigações (p. 106)

- Proibição do incesto e o casamento enquanto problema político no estabelecimento de relações de


aliança. Exogenia é necessária, o que faz do incesto uma questão cultural e não biológica. Incesto
leva a exogamia, que estabelece relações de aliança através da troca de mulheres. Tese do Levi-
Strauss, incesto é um ruptura com a natureza, ele é a invenção da sociedade (p. 106)

- crítica a Levi-Strauss sobre um certo essencialismo da dominação masculina sobre as mulheres,


uma vez que, para o autor, é a troca de mulheres a fundação das relações de aliança através do
casamento que fundam a sociedade. Godelier fala que, por outro lado, tabu do incesto não criou a
sociedade, mas modificou-a.

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