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TURMA PREPARATÓRIA PARA 2ª FASE DO XXVII CONCURSO DA DPRJ

DIREITO DE EXECUÇÃO PENAL – BANCA II


PROFESSOR FELIPE ALMEIDA

TEMA 01 - Resolução da Corte IDH de 22/11/2018 – Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho.

A Resolução da Corte IDH de 22/11/2018, no caso do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho


– IPPSC – determinou a adoção de providências como a proibição ingresso de novos presos
no referido estabelecimento prisional, aplicação da Súmula Vinculante 56 do STF e,
principalmente, o cômputo em dobro do tempo de cumprimento de pena como forma de
compensar o tratamento cruel, desumano e degradante suportado pelos presos. O Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro passou a modular os efeitos da resolução da Corte IDH,
estabelecendo o dia 14/12/2018 como termo inicial (data da notificação do estado brasileiro)
e o dia 05/03/2020 como termo final (data em que a Secretaria de Estado e Administração
Penitenciária informou ao juízo da VEP/RJ que o IPPSC atingiu o efetivo carcerário em sua
capacidade máxima), para reconhecimento do direito ao cômputo em dobro. A 5ª Turma do
STJ, no julgamento do RHC 136961/RJ (Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca), reconheceu
a eficácia imediata das decisões da Corte IDH, aplicação do princípio pro personae,
interpretando a Resolução da Corte IDH no sentido de assegurar o cômputo em dobro para
todo o tempo de cumprimento de pena privativa de liberdade no Instituto Penal Plácido de Sá
Carvalho.

(...) A partir do Decreto 4.463, de novembro de 2002, o Brasil submeteu-se à pela Corte
Interamericana, deixando com isso de computar parte do período em que o recorrente
teria cumprido pena em situação considerada degradante, deixaram de dar
cumprimento a tal mandamento, levando em conta que as sentenças da Corte possuem
eficácia imediata para os Estados Partes e efeito meramente declaratório, . De fato, não
se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados
como se o recorrente tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a notificação
e a partir de então tal estado de fato tivesse se modificado. Em realidade, o substrato fático
que deu origem ao reconhecimento da situação degradante já perdurara anteriormente, até para
que pusesse ser objeto de reconhecimento, devendo, por tal razão, incidir sobre todo o período
de cumprimento da pena. Nesse ponto, vale asseverar que, por princípio interpretativo das
convenções sobre direitos humanos, o Estado-parte da CIDH pode ampliar a proteção dos
direitos humanos, por meio do princípio pro personae, interpretando a sentença da Corte IDH
da maneira mais favorável possível aquele que vê seus direitos violados. No mesmo diapasão,
as autoridades públicas, judiciárias inclusive, devem exercer o controle de convencionalidade,
observando os efeitos das disposições do diploma internacional e adequando sua estrutura
interna para garantir o cumprimento total de suas obrigações frente à comunidade
internacional, uma vez que os países signatários são guardiões da tutela dos direitos humanos,
devendo empregar a interpretação mais favorável a indivíduo. Logo, os juízes nacionais
devem agir como juízes interamericanos e estabelecer o diálogo entre o direito interno e o
direito internacional dos direitos humanos, até mesmo para diminuir violações e abreviar as
demandas internacionais. É com tal espírito hermenêutico que se dessume que, na hipótese, a
melhor interpretação a ser dada, é pela aplicação a Resolução da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, de 22 de novembro de 2018 a todo o período em que o recorrente cumpriu
pena no IPPSC. Ante o exposto, dou provimento ao recurso ordinário em habeas corpus, para
que se efetue o cômputo em dobro de todo o período em que o paciente cumpriu pena no
Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, de 09 de julho de 2017 a 24 de maio de 2019. (STJ –
5ªTurma - RHC nº 136961/RJ – Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
15/06/2021, DJe 21/06/2021) – Informativo de Jurisprudência nº 701.

TEMA 02 - Art. 9-A da LEP – Pacote Anticrime – Falta disciplinar de natureza grave.

O art. 9-A da Lei 7.210/84, com redação dada pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime),
passou a determinar que “O condenado por crime doloso praticado com violência grave
contra a pessoa, bem como por crime contra a vida, contra a liberdade sexual ou por crime
sexual contra vulnerável, será submetido, obrigatoriamente, à identificação do perfil
genético, mediante extração de DNA (ácido desoxirribonucleico), por técnica adequada e
indolor, por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional.”
Ademais, o Pacote Anticrime incluiu o §8º no art. 9º-A (Constitui falta grave a recusa do
condenado em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético), assim como
o inciso VIII do art. 50 (Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que
recusar submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético).
• Violação ao princípio da vedação à autoincriminação (nemo tenetur se detegere),
previsto na Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 8º, Item 2, letra g -
“direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”) e
no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos da ONU (art. 14, Item 3, letra g –
“Direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada”).
• Violação a garantia constitucional do direito ao silencio – art. 5º, LXIII da
CRFB/88.
TEMA 03
Princípio da legalidade - sistema disciplinar – aparelho telefônico, rádio ou similar e seus
acessórios.
A Lei 7.210/84 define no art. 50, inciso VII a falta disciplinar de natureza grave consistente
na posse, utilização ou fornecimento de aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita
a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
Existe grande controvérsia quanto aos chamados “acessórios” (chip, carregador, bateria, etc.)
de aparelho telefônico, de rádio ou similar e a caracterização da falta grave. O STF
(Informativos 615 e 611) e o STJ (Informativo 475), sempre tiveram posicionamento no
sentido de que os acessórios caracterizariam a falta disciplinar de natureza grave, pois estariam
compreendidos na definição do art. 50, inciso VII da LEP. Já parte da doutrina e jurisprudência
entendem que os “acessórios”, por força do princípio da legalidade (nullum crimen nulla
poena sine lege stricta) estrita, não poderiam caracteriza falta disciplinar de natureza grave,
sob pena de incorrer em analogia in malam partem. Desta forma, em virtude do princípio da
legalidade, as condutas envolvendo os chamados “acessórios”, devem ser considerados como
falta disciplinar de natureza média, prevista na legislação penitenciária (art. 59, inciso XI do
Decreto Estadual 8897/86 – Regulamento Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro – RPERJ
– “portar objeto ou valor, além do regularmente permitido”).
O STJ recentemente decidiu situação análoga, ao enfrentar a tipicidade do comportamento
daquele que ingressa em estabelecimento prisional com chip de telefone celular. A 5ª Turma
do STJ (Rel. Min Ribeiro Dantas) entendeu que em decorrência da principiologia básica do
direito penal (legalidade), na falta de lei prévia que defina o ingresso de chip em
estabelecimento prisional como comportamento típico (nullum crimen sine lege), impõe-se a
absolvição pelo delito previsto no art. 349-A do Código Penal:

Ingresso em estabelecimento prisional. Porte de chip de celular. Atipicidade.


Ingresso em estabelecimento prisional. Porte de chip de celular. Art. 349-A do Código Penal.
Não subsunção. A conduta de ingressar em estabelecimento prisional com chip de celular não
se subsome ao tipo penal previsto no art. 349-A do Código Penal. O art. 349-A do Código
Penal prevê o seguinte tipo penal: Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a
entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização
legal, em estabelecimento prisional. Como se verifica, o legislador se limitou em punir -
basicamente - o ingresso ou o auxílio na introdução de aparelho telefônico móvel ou similar
em estabelecimento prisional, não fazendo referência a qualquer outro componente ou
acessório utilizado para viabilizar o funcionamento desses equipamentos. Portanto, em
decorrência da principiologia básica do direito penal (legalidade), na falta de lei prévia que
defina o ingresso de chip em estabelecimento prisional como comportamento típico (nullum
crimen sine lege), impõe-se a absolvição pelo delito previsto no art. 349-A do Código Penal.
(STJ – 5ª Turma - HC 619.776/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 20/04/2021). (Informativo
n. 693)

TEMA 04
Procedimento (administrativo) disciplinar – Ampla defesa e contraditório. Necessidade
de defesa técnica.

Procedimento disciplinar – art. 59 da LEP e normas penitenciárias (art 74 ao 91 do


RPERJ e Resolução 874 da SEAP/RJ).

Súmula 533 do STJ


Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento
prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor
público nomeado.

STF – Repercussão geral - Tema 941


“A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação realizada
na presença do defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento
Administrativo Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou insuficiência de
defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática de falta grave durante o cumprimento
da pena. (STF. Plenário. RE 972598, Rel. Roberto Barroso, julgado em 04/05/2020.)”

TEMA 05 - Progressão de Regime e Pacote Anticrime

Requisito objetivo (lapso temporal)

Antes da Lei 13.964/2019


crimes comuns = 1/6 da pena (art. 112 da LEP)
crimes hediondos ou equiparados (Súmula 471 do STJ)
• praticados até a Lei 11.464/2007 = 1/6 da pena
• praticados a partir da Lei 11.464/2007 = 2/5 para os primários, 3/5 para os reincidentes.
(art. 2º, §2º da Lei 8.072/90).
A partir da Lei 13.964/2019 – Art. 112 da LEP

Reincidência genérica e específica:


Execução penal. Progressão de regime. Alterações promovidas pela Lei n. 13.964/2019
(Pacote Anticrime). Diferenciação entre reincidência genérica e específica. Ausência de
previsão dos lapsos relativos aos reincidentes genéricos. Lacuna legal. Integração da norma.
Aplicação dos patamares previstos para os apenados primários. Retroatividade da lei penal
mais benéfica. O condenado que cometeu crime com violência contra a pessoa ou grave
ameaça, mas não é reincidente em delito da mesma natureza – portanto, primário ou
reincidente genérico –, deve ser aplicado o patamar de 25% de cumprimento da pena, como
prevê o inciso III do artigo 112 da LEP. Do condenado em crime hediondo ou equiparado,
que não seja reincidente em crime de igual natureza (reincidente específico), deve ser exigido
o cumprimento mínimo de 40% da pena, como estabelecido no inciso V do art. 112 da LEP.
Do condenado em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, que não seja
reincidente específico, deve ser exigido o cumprimento mínimo de 50% da pena, como
estabelecido na alínea a do inciso VI do art. 112 da LEP. (STJ – 3ª Seção – Recurso Especial
representativo de controvérsia nº 1.910.240/MG – Rel. Min. Rogério Schietti Cruz. j.
26.05.2021). Informativo de Jurisprudência nº 699.

Desta forma, passamos a ter os seguintes requisitos temporais:

Crime sem violência à pessoa ou grave ameaça.


• Apenado primário (ou reincidente genérico) - 16% da pena (aplicação retroativa por
se tratar de disposição mais benéfica - art. 2º, parágrafo único do CP).
• Apenado reincidente (específico) em crime cometido sem violência à pessoa ou grave
ameaça - 20% da pena.

Crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça


• Apenado primário (ou reincidente genérico) - 25% da pena.
• Apenado reincidente específico em crime cometido com violência à pessoa ou grave
ameaça - 30% da pena.

Crime hediondo ou equiparado


• Apenado primário (ou reincidente genérico) - 40% da pena. (aplicação retroativa por
se tratar de disposição mais benéfica - art. 2º, parágrafo único do CP).
• Apenado reincidente específico em crime hediondo ou equiparado – 60% da pena
Crime hediondo ou equiparado, com resultado morte
• Apenado primário (ou reincidente genérico) - 50% da pena.
• Apenado reincidente específico em crime hediondo ou equiparado, com resultado
morte – 70% da pena

TEMA 06
Livramento Condicional – Pacote Anticrime – Vedação

O Código Penal, desde 25/07/1990, veda o livramento condicional ao reincidente específico


nos crimes descritos no art. 83, inciso V (crimes hediondos, equiparados e, mais recentemente,
o tráfico de pessoas). A Lei 11.343/06 veio ampliar o rol de vedações ao livramento
condicional, com o seu art. 44, parágrafo único, vedando a concessão de tal direito aos
reincidentes específicos envolvendo os delitos previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37.
Tais vedações são objeto de críticas doutrinárias, por violarem o princípio da
proporcionalidade, princípio da culpabilidade, princípio da individualização e o próprio
princípio da progressividade das penas, previsto na Convenção Americana de Direitos
Humanos (art. 5º - Direito à integridade pessoal. Item 06 - As penas privativas da liberdade
devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados) e o
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (art. 10, item 03 - O regime penitenciário
consistirá num tratamento cujo objetivo principal seja a reforma e a reabilitação normal dos
prisioneiros. Os delinquentes juvenis deverão ser separados dos adultos e receber tratamento
condizente com sua idade e condição jurídica).
Com o advento da Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), passou-se a vedar o livramento
condicional ao condenado por crime hediondo ou equiparado, com resultado morte (art. 112,
inciso IV, alínea a e inciso VIII da Lei 7.210/84).
Por conseguinte, sustenta-se, a partir do Pacote Anticrime, com base no art. 2º, §1º do Decreto
Lei 4.657/1942 (Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro), a revogação do art. 83,
inciso V, parte final do Código Penal e art. 44, parágrafo único da Lei 11.343/2006, uma vez
que o atual art. 112 da Lei 7.210/84 teria regulado inteiramente a matéria de que tratava os
referidos dispositivos.

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