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JOVENS E ADULTOS
Resumo
As discussões deste artigo são fruto de uma pesquisa1 realizada junto a professores de língua
inglesa da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e de questionamentos oriundos da prática
profissional desta pesquisadora nesta modalidade de ensino. Os professores mostraram-se
insatisfeitos e preocupados com a falta de respaldo em relação ao ensino de inglês na EJA.
Além disso, assim como a autora também acredita, os professores mencionaram que o perfil
dos alunos da EJA é algo a ser considerado na sala de aula, pois é a partir das experiências e
dos interesses dos alunos que se construirá um ensino significativo. Tomando com princípio
tais questionamentos, o objetivo central deste texto é discutir a questão do ensino da língua
inglesa na escola pública dentro da EJA apresentando algumas dificuldades que o professor
de inglês enfrenta neste cenário e fazendo algumas sugestões metodológicas que podem
contribuir para que o ensino de inglês se torne mais próximo da realidade desses alunos. O
trabalho se justifica por retomar questões que se fazem presentes na dia a dia do professor,
dos alunos e da sala de inglês da EJA. Em um primeiro momento apresenta-se uma
contextualização histórica sobre a implantação do ensino de jovens e adultos no Brasil. Em
seguida, comenta-se sobre a função social da EJA e o perfil dos educandos. A metodologia
utilizada foi à pesquisa teórica procurando elencar os principais aspectos relacionados ao
ensino de línguas e as contribuições do mesmo para a construção da cidadania. Como
fundamentação teórica utilizou-se principalmente as Diretrizes Curriculares de Educação
Básica para a EJA e para o ensino de Língua Estrangeira Moderna (2008), além dos trabalhos
de Jordão e Fogaça (2007), Souza (2007) e demais autores. Diante dos aspectos apresentados
coloca-se o ensino da língua inglesa em uma perspectiva de formação de cidadãos críticos
construtores de significados no mundo em que se inserem.
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A pesquisa mencionada foi realizada como trabalho monográfico no curso de Especialização em Ensino de
Línguas Estrangeiras Modernas na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O estudo completo investigou
as crenças sobre avaliação em língua inglesa de professores que atuam em um centro estadual de educação de
jovens e adultos - EJA. O objetivo central do estudo foi, através da coleta e análise documental e entrevista oral
com três professores, levantar dados que demonstrassem quais as crenças dos docentes de modo a compreender
as implicações dessas na prática avaliativa em língua inglesa. As discussões propostas neste artigo constituem-se
em desdobramentos do tema que foram percebidas durante a execução da pesquisa e dos discursos dos
professores fornecidos através de entrevistas.
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Introdução
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As informações deste panorama foram baseadas no livro Um dedo de prosa elaborado pela Secretaria de Estado
da Educação (SEED – PR). Esse material constitui numa coletânea de textos produzidos por alunos recém-
alfabetizados do Programa de alfabetização de adultos.
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Dados do IBGE - Censos demográficos de 1940 a 2000: Em 1940, menos de um terço das pessoas entre 7 e 14
anos frequentava a escola, enquanto em 2000, a taxa de escolarização passou para quase 95% das crianças nessa
faixa. Os maiores crescimentos foram observados nas regiões Nordeste, que passou de 18,8% (1940) para 92,9%
(2000), e Centro-Oeste, que passou de 20,5% para 95,5%. O baixo nível de escolarização da década de 40 era
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um fundo nacional para o ensino primário destinando 25% desse fundo para ser aplicado em
EJA tendo o Ministério de Educação e Saúde como elaborador de um plano de ensino
supletivo. Segundo Souza (2007, p. 83)
ao longo do século XX, essa faceta do analfabetismo foi tratada como um mal que
assolava a sociedade e que precisava ser erradicado; era preciso diminuir a
‘ignorância’ e formar um ‘coletivo eleitoral’ que viesse a responder aos interesses
da elite política.
revelado por taxas que oscilavam entre 9,7%, para o Tocantins, e 54,3%, para o Rio de Janeiro. Em 2000, o Rio
Grande do Sul atingiu 97,3% de pessoas de 7 a 14 anos de idade frequentando escola e o Amazonas detinha a
menor taxa de escolarização (83,2%).
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O MOBRAL enquanto política pública não obteve bons resultados e nos governos
posteriores, a EJA foi ficando cada vez mais desconsiderada e praticamente ausente das
preocupações políticas.
Nas décadas de 80 e 906 surgem novas experiências de alfabetização por organismos
governamentais e não governamentais. Dentre eles os Movimentos de Alfabetização
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United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Em português: Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
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Retirado de http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb10a.htm Acesso em 28/03/2010.
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Dados do IBGE - Comparando-se os Censos de 1940 e 2000, a taxa de analfabetismo de pessoas de 10 anos ou
mais de idade, foi reduzida em cinco vezes passando de 56,8% para 12,1%.
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Conforme as DCE da EJA (2006, p. 27) a EJA têm como objetivo “o compromisso
com a formação humana e com o acesso a cultura geral de modo que os educandos aprimorem
sua consciência crítica, e adotem atitudes éticas e compromisso político, para o
desenvolvimento da sua autonomia intelectual” uma vez que, essa modalidade de ensino
atende educandos trabalhadores que não tiveram acesso à escolarização na idade própria, já
que tiveram o ingresso prematuro no mundo do trabalho.
A diversidade é característica nessa modalidade de ensino, sendo que há diferentes
faixas etárias, níveis de escolarização, situação social, cultural e econômica dentro de uma
mesma sala de aula.
Na EJA encontram-se adolescentes que vem de um histórico de evasão e de
reprovação. Muitos dos alunos, principalmente os idosos, trazem consigo uma visão de escola
tradicional, a qual provavelmente foi internalizada durante suas vivências escolares. Cabe a
escola e aos educadores romper com essa visão promovendo a autonomia intelectual para que
os alunos sejam responsáveis pelo próprio processo de aprendizagem. Os alunos,
principalmente idosos, merecem maior atenção, já que o ritmo de sua aprendizagem pode ser
lento, como afirma-se nas DCE/EJA:
Além da elaboração de um currículo que possa atender a esse perfil de aluno, faz-se
necessária a reflexão sobre as práticas avaliativas, as quais também precisam ser adaptadas a
esse público. A avaliação formativa é defendida nas DCE para o ensino de língua estrangeira
moderna, documento o qual serve de base para a elaboração do projeto político pedagógico
das escolas estaduais.
É importante destacar que não há DCE específicas por disciplina para a EJA, assim
como há para o ensino regular. As recomendações que se tem são a adoção e adaptação das
orientações. Dessa forma, o ensino da língua inglesa, assim como das demais disciplinas, tem
como base de trabalho três eixos: cultura, trabalho e tempo. Esses três últimos são oriundos
das recomendações vigentes nas DCE da EJA.
A cultura, segundo as DCE da EJA (2006, p. 32) “compreende a forma de produção de
vida material e imaterial e compõe um sistema de significações envolvido em todas as formas
de atividade social”. O trabalho, por sua vez é a “forma de produção da vida material a partir
da qual se produzem distintos sistemas de significação. (...) É a ação pela qual o homem
transforma a natureza e transforma a si mesmo” (DCE/EJA, p.32). O tempo se divide em duas
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Em alguns momentos do texto a autora opta por utilizar a sigla LE – Língua Estrangeira – como forma de
generalizar os aspectos mencionados, pois acredita que não apenas a aprendizagem do inglês, que foi a língua
base para o estudo, mas as demais línguas também podem proporcionar esse tipo de compreensão e senso crítico.
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alimentação, a leitura de folders que circulam com palavras em inglês, os debates em torno da
questão dos estrangeirismos e anglicismos podem tornar o ensino mais significativo. Talvez
as dificuldades que os professores encontram sejam amenizadas quando o aluno percebe que
o que é ensinado nas aulas esta em consonância com o que ele vive.
Mesmo que o trabalho com textos demande tempo e por vezes seja exaustivo, ele não
pode ser negligenciado. O contato com a diversidade de gêneros sejam eles orais ou escritos,
precisa se fazer presente nas aulas de LE para que os alunos ampliem suas possibilidades de
produção textual e compreendam melhor os discursos que circundam na sociedade. Nesse
sentido a língua precisa necessariamente ser compreendida como discurso, ou seja, “uma
prática social dinâmica, não limitada a uma concepção sistêmica, estrutural e fixa (Jordão e
Fogaça, 2007, p. 87)”. Assim, as DCE também orientam para uma concepção de língua como
discurso:
ao conceber a língua como discurso, conhecer e ser capaz de usar uma língua
estrangeira, permite-se aos sujeitos perceberem-se como integrantes da sociedade e
participantes ativos do mundo. [...] o aluno/sujeito aprende também como atribuir
significados para entender melhor a realidade. A partir do confronto para a própria
identidade. Assim, atuará sobre os sentidos possíveis e reconstruirá sua identidade
como agente social (DCE, 2008, p. 57).
forma, a EJA, compreendida como uma modalidade inclusiva de ensino exerce uma função
especial que é a de manter esses alunos dentro do sistema educacional fornecendo subsídios
necessários para que esses sejam incluídos na sociedade.
Os desafios educacionais que a escola pública vivencia são inúmeros, assim o
professor também acaba tendo que optar por uma forma de trabalho que atinja as necessidades
da maioria do grupo que ensina. O aluno precisa sentir-se confiante e dessa forma, exige-se
do professor que ele tenha a sensibilidade de compreender o perfil e a diversidade cultural de
seus alunos, pois esses fatores têm implicações diretas na aprendizagem.
Ainda diante do perfil do aluno da EJA é evidente que esse apresente conhecimentos
prévios, principalmente de experiências de vida. Esses conhecimentos precisam estar
articulados aos conhecimentos proporcionados pelo professor. As contribuições dos alunos
podem ser, e são riquíssimas.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
IBGE. Tendências Demográficas: Uma Análise da População com Base nos Resultados dos
Censos Demográficos de 1940 e 2000. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=892~
Acesso em: 28 mar. 2010.
SOUZA, Maria Antônia de. Educação de jovens e adultos. Curitiba: IBPEX, 2007.