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AÇÃO CULTURAL NA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA: A


EXPERIÊNCIA DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFPE

Luiza M.P. de Oliveira


Bibliotecária especialista, UFPE, Recife, PE

RESUMO
O texto relata o trabalho de ação cultural desenvolvido na Biblioteca Central da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Define previamente o termo segundo alguns autores da
área diferenciando-o de atividades afins como por exemplo animação cultural. Discorre
sobre as atividades realizadas até então e os objetivos do serviço oferecido. Mostra como o
grupo tem realizado o trabalho, expõe as necessidades e competências exigidas para com
os profissionais envolvidos na promoção de ação cultural; também relaciona os serviços até
então ofertados assim como as dificuldades encontradas pela equipe.

Palavras-chave
Ação Cultural; Ação Cultural - Conceito; Biblioteca Universitária - Ação Cultural;
Universidade Federal de Pernambuco.

ABSTRACT

The text describes the work of cultural action developed at the Central Library at Federal
University of Pernambuco. Defines the term previously by some authors in the area
differentiating it from related activities such as cultural entertainment. Considering the
activities undertaken so far and the goals of the service offered. Shows how the team has
done the work, explains the needs and skills required for the professionals involved in the
promotion of cultural action, it also lists the services previously offered well as the difficulties
encountered by the team.
Keywords
Cultural Action – Concept; Library University – Cultural Action; Federal University
Pernambuco.
1 Introdução
Ação cultural e animação cultural têm conceitos distintos, mas quase sempre
confundidos. A dificuldade em diferenciá-los reside na diversidade de entendimento
que tem os profissionais envolvidos no processo, o que muitas vezes faz com que as
unidades de informação apresentem serviços pouco satisfatórios para sua
comunidade ou desvinculado de seus objetivos. O bibliotecário precisa atentar para
o fato de o conhecimento poder ser transmitido em outros suportes além do
bibliográfico. Segundo Milanesi (2002), ação cultural compreende atividades
culturais e de lazer ofertadas pelas bibliotecas como teatro, cinema, cursos, música.
São informações que se apoiam em suportes diferentes do convencional, mas que
igualmente colaboram para a formação dos usuários de unidades de informação. A
ação cultural pode ser educativa, informativa, complementar e lúdica, pois a
biblioteca tem compromisso pedagógico, científico e também cultural. O profissional
de biblioteca deve perceber as diferenças, conhecer seu público e
consequentemente suas necessidades e se colocar como mediador desse
processo. Partindo desses aspectos a equipe de bibliotecários da Divisão de
Assistência ao Usuário (DAU) da Biblioteca Central (BC) da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), percebeu a importância de promover atividades culturais, com
o cuidado de não se afastar de sua missão, nem de confundir os elementos acima
citados.
As ações culturais ofertadas na Biblioteca Central tem por objetivo promover a
informação, aumentar a frequência dos usuários reais para a Biblioteca Central e
conquistar também outros usuários (potenciais), como por exemplo os servidores da
instituição, cuja frequência é baixa, os alunos de escolas circunvizinhas e assim
dinamizar o uso do acervo, bem como utilizar melhor o espaço físico da biblioteca.

2 Revisão de Literatura
Dissertar sobre ação cultural nas bibliotecas não é tarefa das mais fáceis,
embora, até pareça o contrário. A razão primeira dessa dificuldade reside no
entendimento por parte dos bibliotecários e usuários de bibliotecas no que realmente
consiste a ação cultural, muitas vezes confundida com animação cultural. São
processos distintos. Em primeiro lugar há que pensar/conceituar o que é cultura. Na
verdade há muitos significados para o termo. O foco deve se concentrar nos
sinônimos abaixo relacionados:
Cultura: características humanas que não são inatas, e que se criam e se
preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre
indivíduos em sociedade. Parte ou o aspecto da vida coletiva relacionada à
produção e transmissão de conhecimentos, à criação intelectual e artística,
etc. (FERREIRA, 2004, p. 587).

Cultura então distingui-se pela existência de um grupo com características


sociais próprias, adquiridas e desenvolvidas ao longo do tempo, características
estas que não podem ser ignoradas. Desse modo, as bibliotecas atendem a
diferentes grupos sociais, com necessidades distintas e assim, quando estas
instituições classificam seu público, estão limitando seu espaço de atuação e se
propondo atender suas necessidades de informação em geral, levando em conta os
aspectos culturais de cada segmento da sociedade.
É necessário entender que o livro não é o único veículo de informação e que
bibliotecas e unidades de informação em geral, podem ofertar para seu usuário
muitas informações em outros suportes e processos. “Ação cultural é uma
denominação que se aplica a tipos diferentes de atividades e raramente associada a
bibliotecas”. (MILANESI, 2002). O autor escreve ainda que são práticas geralmente
ligadas ao que se entende por cultura como música, pintura, literatura, dança. Vê-se
ação cultural como complemento para a formação cultural que a escola ou a
sociedade não oferece aos indivíduos e, tendo na promoção da cultura um dos
objetivos da biblioteca, esta passa a ser ofertada aos usuários de unidades de
informação. Alguns autores chamam a atenção para que se faça distinção de ação
cultural e animação cultural. Enquanto Milanesi (2002) afirma tratar-se de ações que
de um modo geral objetiva a cultura e o lazer, Coelho Neto (1989) tem um conceito
mais fechado e não compreende ação cultural sem reflexão ou discussão, para ele
a ação cultural é ambiciosa; objetiva desenvolver no indivíduo a capacidade de
discernir, quer contribuir e provocar alguma mudança e assim, quem sabe,
transformar realidades individuais e coletivas. Coelho Neto (1989, p. 88) diz que:
A ação cultural não pode perder de vista seu propósito de atuar em favor da
construção do discernimento, da liberdade e da capacidade de significação
do mundo pelos indivíduos, distinguindo-se frontalmente da fabricação, [...]
é um processo com início claro e armado, mas sem fim especificado. [...]
Na animação cultural o animador toma toda a ação do processo, se torna o
único sujeito, e deixa para o público o entretenimento alienante.
Coelho (2004) entende que a ação cultural ocorre de duas maneiras: ação
cultural de serviços, entendida mais como uma animação cultural, onde diferentes
produtos ou serviços são propostos para um público ou clientela, lançando mão de
atividades de divulgação, cujo objetivo é vender/aproximar produto e cliente e ação
cultural de criação, na qual a proposta é “fazer a ponte entre as pessoas e a obra de
cultura ou arte para que, dessa obra, possam as pessoas retirar aquilo que lhes
permitirá participar do universo cultural como um todo [...]” (COELHO, 2004, p. 33).
A Biblioteca deve ser considerada como um espaço de criação. Segundo
Flusser (1980, p. 135): “Talvez possa parecer bizarro falarmos de criadores ao
referirmo-nos aos bibliotecários; acreditamos, porém, que o bibliotecário de uma
biblioteca verdadeiramente pública será um criador de uma nova biblioteconomia”.
É necessário apenas que os bibliotecários entendam a diferença, a
necessidade e o momento exato para levar ao público serviços que contribuam para
a formação intelectual, técnica e/ou cultural de seus usuários.

3 Ação cultural na Biblioteca Central da UFPE


O trabalho de ação cultural na Biblioteca Central da UFPE, não começou a
partir de um projeto ou reflexão da equipe. A percepção de que este poderia ser mais
um serviço a ser ofertado foi na verdade uma consequência de atividades,
desenvolvidas sem grandes pretensões, mas que apresentaram impactos positivos.
A reativação do Cine BC e a participação da Biblioteca Central na Semana Nacional
de Ciência e Tecnologia, foram eventos que superaram as expectativas, e
despertaram na equipe do DAU e na direção da BC, a necessidade de abrir mais um
canal para levar informação à sua clientela.
A Biblioteca Central da UFPE sempre teve a preocupação de disponibilizar
para seu público informações em diferentes suportes, saindo assim do convencional,
por entender que conhecimento há além daquele registrado em livros e periódicos.
Outro ponto a ser levado em conta é que muito se fala em ação cultural para a
Biblioteca Pública e para a Biblioteca Escolar, como se tais atividades fossem
próprias destas unidades de informação, parecendo até inadequadas para as
Bibliotecas Universitárias. No entanto além da informação técnica, necessária para
suporte e consolidação da formação universitária, as unidades de informação
inseridas no contexto acadêmico também podem e devem propor e ofertar mais do
que lhe é exigido, pois cultura e lazer também contribuem para a formação do nosso
usuário.
A partir deste entendimento e da resposta positiva a eventos realizados
anteriormente, a direção administrativa e o DAU perceberam a demanda existente e
a necessidade de responder a essa demanda. O que antes era despretensioso
passou então a ser uma atividade mais elaborada. Foi definido um grupo de
trabalho, que além de executar tem a atribuição de propor, planejar, viabilizar e
divulgar as ações culturais realizadas. É um trabalho difícil de executar se levado em
conta as barreiras encontradas. Os recursos humanos, financeiros e materiais são
limitados. É impossível realizar estas atividades sem que haja um custo por menor
que seja. No que diz respeito aos recursos humanos temos que lidar com as
limitações profissionais dos bibliotecários, que em sua maioria estão acostumados
aos afazeres técnicos, próprios da prática bibliotecária, não estão preparados para
tais atividades. Faltam competências profissionais específicas nas áreas de
informática, edição de imagem, planejamento de eventos e publicidade. É
necessário ser proativo, lidar com imprevistos, ter criatividade, cultura geral,
sensibilidade, trabalhar com profissionais de outras áreas, buscar parceiros, ter uma
equipe envolvida e altamente comprometida, do contrário todo esforço será inútil.
As atividades de ação cultural na Biblioteca Central foram iniciadas em março
de 2009, com a reativação do cinema, seguida de exposições e palestras, descritas
a seguir:
• O cine BC
É uma atividade cultural desenvolvida na BC já há algum tempo e que agora
tem mais divulgação. A agenda é construída com antecedência de 30 dias. Os filmes
fogem um pouco do conceito de ação cultural e objetiva mais o lazer, sem grandes
pretensões pedagógicas. Isto não quer dizer que qualquer filme comporá a agenda.
É sempre pensado em títulos que fizeram sucesso, que tenham como proposta a
discussão de algum problema social, sexual, humana ou educacional. Os filmes são
escolhidos por indicação dos usuários e pesquisas na internet (crítica especializada).
A sala é climatizada, dispõe de cadeiras confortáveis (25 lugares) e uma tela LCD de
42’. São ofertadas 03 sessões, 03 vezes por semana, sempre começando às 14
horas. Em 2009 foram exibidos 86 filmes e 208 sessões.
• As Exposições
Foram realizadas até então 05 exposições:
1. Igarassu (PE) e seu potencial turístico, no período de 17 a 28 de agosto
de 2009, com fotos em banners, dos principais pontos históricos da
cidade, uma das mais antigas do Brasil;
2. Exposição Arte e vida: tributo a Burle Max e Charles Darwin, de 15 a 25
de setembro de 2009, onde foram expostos quadros, pintados por
servidor da UFPE;
3. Exposição A Evolução dos Suportes de Informação, de 19 a 30 de
setembro, que teve grande repercussão, especialmente junto às
escolas localizadas no entorno da Universidade. O projeto fez parte das
atividades apresentadas na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
(SNCT). Foi a partir desse evento que se formou um grupo de trabalho
voltado para a promoção de ações culturais na Biblioteca Central;
4. Exposição itinerante Viu o filme? Agora leia o livro. Ficou por 02
semanas na Biblioteca Central (12-19 de março), em seguida foi para
hall de entrada da Reitoria, onde permaneceu por 10 dias e
posteriormente foi para Biblioteca Setorial do Centro de Ciências
Sociais Aplicadas, lá permanecendo de 30 de março a 08 de abril de
2010.
5. Por fim em junho de 2010, de 16 de junho a 14 de julho de 2010, mês
do aniversário do escritor Ariano Suassuna, foi a vez da Exposição
Ariano Suassuna: o homem e o escritor, com obras do autor,
documentos pessoais como diploma, cartas, material manuscrito, entre
outros.
• As palestras
Foram realizadas 02 palestras: a primeira no dia do bibliotecário
(12/03/2010), que discutiu a gestão pública no contexto da biblioteca
universitária; a segunda, no mês de setembro (2010), sobre arquivos, museus
e bibliotecas como lugares de memória (21/05/2010).

4 Materiais e Métodos
Para a promoção desse serviço a equipe buscou aporte em pesquisas
bibliográficas e também em outros canais de informação. O ambiente é bem
democrático e qualquer membro da equipe ou de outro setor pode sugerir uma
atividade. A sugestão é discutida e se todos concordarem quanto a necessidade e
importância do tema para a comunidade o evento é viabilizado, ou seja, é elaborado
um planejamento no qual se define o que será realizado, como, por quem, quando e
que instrumentos/ferramentas serão utilizados para a realização da ação cultural.
Nessa fase de planejamento os canais e instrumentos de divulgação são definidos.
A mesma é feita quase em sua totalidade no ambiente acadêmico, utilizando
para isso os canais dispostos pela Universidade: assessoria de comunicação
da UFPE, comunidade no Orkut, cartazes distribuídos nas Bibliotecas
Setoriais da Universidade, lanchonetes, Diretórios Acadêmicos, Agenda
Cultural da cidade de Recife (único canal fora da UFPE), página inicial do
Pergamum e sitio da Biblioteca. O espaço de que se dispõe é o hall da
Biblioteca Central, localizado no térreo da biblioteca, no entanto, outros
espaços, tanto na biblioteca como fora de seus limites prediais, podem ser
usados, especialmente se houver a compreensão de que os mesmos
facilitarão a visitação e/ou o trâmite da informação. Finalizada a atividade o
grupo se reúne com a administração para discussão dos resultados obtidos, falhas
detectadas, dificuldades encontradas, ameaças e oportunidades. O objetivo dessa
reunião de avaliação é acertar cada vez mais e evitar cometer os mesmos erros no
futuro.

5 Resultados Finais
a) criação de uma equipe para promoção de eventos e ação cultural, composta por
03 bibliotecários, que não têm a promoção de eventos culturais como única
atribuição, possuem outras responsabilidades, por isso, bibliotecários não
pertencentes ao grupo são convidados a contribuir nos projetos, com isso, minimiza-
se a sobrecarga de trabalho;
b) reativação do CINE BC, apesar de ser este um serviço oferecido há algum tempo,
o mesmo não estava devidamente formado, havia falhas na divulgação e a média de
público era muito baixa, melhorou, mas ainda não é o desejável;
c) realização de 05 exposições temáticas;
d) realização de 02 palestras voltadas para o público bibliotecário: profissionais e
estudantes dos cursos de Biblioteconomia, Gestão da Informação e Museologia;
e) elaboração de agenda de eventos, incluindo ações voltadas para a comunidade
externa (acadêmica) e interna (bibliotecários e auxiliares).

6 Considerações Finais
As atividades de ação cultural quase sempre aparecem como forma
alternativa de promoção de informação e são relacionadas às bibliotecas públicas,
porém é um serviço que pode ser ofertado em qualquer unidade de informação e
deve ser vista como um canal a mais na promoção de conhecimento. Diante dessa
assertiva entende-se que os profissionais envolvidos nas atividades de ação cultural
devem receber da instituição o apoio necessário para a realização destas ações,
planejar mais sistematicamente tais serviços e voltar-se sempre para as
necessidades de sua comunidade o que pressupõe realização de estudo de usuário
para conhecer suas carências informacionais, assim como desenvolver habilidades e
competências específicas. Engajamento e coesão de equipe é outro ponto
necessário na realização de tais projetos. É preciso pensar com muita
responsabilidade no usuário e considerá-lo sujeito principal desse processo e não
como coadjuvante. É necessário também mais estudo no que diz respeito à ação
cultural, para compreender melhor esse processo, pois a falta de informação sobre o
tema quase sempre gera expectativas equivocadas. É recomendável que haja
intercâmbio com outras instituições que promovam estes serviços para troca de
experiências, o que pode enriquecer muito a promoção do serviço. Por fim será de
grande valia que os profissionais envolvidos se capacitem nas áreas em que
demonstram imaturidade ou carência informacional.
Referências

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imaginário. 3. ed. São Paulo: Iluminuras, 2004. p.33.

CARVALHO, I. C. L. A socialização do conhecimento no espaço das bibliotecas


universitárias. Niterói: Intertexto; Rio de Janeiro: Interciência, 2004. 185 p.

COELHO NETO, J. T. O que é ação cultural. São Paulo: Brasiliense, 1989. 94 p.

CULTURA. In: FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3.


ed. Curitiba: Positivo, 2004. p. 587.

FIGUEIREDO, N. M. de. Textos avançados em referência e informação. São Paulo:


Polis: APB, 1996. (Coleção Palavra-chave, 6). 124 p.

FLUSSER, V. Uma biblioteca verdadeiramente pública. Revista da Escola de


Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, n. 2, p. 131-138, 1980.

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____. A casa da invenção: biblioteca centro de cultura. 3. ed. rev. e ampl. São Caetano do
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OLIVEIRA, D. C.; ZEN, A. M. D. Ação cultural em bibliotecas escolares da rede pública de


Porto Alegre. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO
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Disponível em <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/10234>. Acesso em: 5 abr. 2010.

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