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Trabalho de Ciência Política 2020.

1 (REMOTO)

Aluno: Marcos Mendonça Guerra

DRE: 118081079

Professora: Talita Transcheit

O QUE OS CONTRATUALISTAS TEM DE PLATÃO E ARISTÓTELES

1.Introdução

O conceito de justiça e Estado vêm sendo debatido desde os primórdios da filosofia


pós – socrática, daí temos várias respostas divergentes sobre o que justiça, como chegar à
justiça e até quem merece a justiça. Muitas desses pensadores acabam chegando à mesma
resposta: política. A justiça então seria feita através da política, seja centrada em um poder
absoluto, como para os contratualistas, ou seja pela natureza política do homem, como pensa
Aristóteles. Neste trabalho então, vamos investigar o que vai além das diferenças entre os
conceitos de justiça e política de Platão e Aristóteles com os contratualistas, Maquiavel e
Hobbes. Como Maquiavel, não de forma intencionada, recorre ao mundo das ideias para
buscar a figura do príncipe, como o mito da caverna de Platão pode ser percebido no contrato
social hobbesiano e como a natureza política do homem aristotélico é também percebida na
teoria de Hobbes.

2. Maquiavel e o mundo das ideias

Platão acreditava que o verdadeiro conhecimento vinha da utilização da razão e que,


confiança irrestrita nos sentidos, nos levaria ao erro. Então, quando saímos do mundo dos
sentidos para o das ideias chegamos a verdadeira razão. Mas então o que seria exatamente
esse mundo? Um exemplo que podemos dar é de uma cadeira. Nós observamos várias
cadeiras, das mais distintas formas possíveis, mas o que faz uma cadeira ser uma cadeira?
Podemos dizer que seria sua utilidade, sentar-se. Mas de onde vem isso? Para Platão, isto vem
do mundo das ideias, pois, no mundo das ideias, temos a ideia da “cadeira ideal” como se
fosse uma norma para o que seria uma cadeira decente.
Maquiavel, por sua vez, recorre ao empirismo para demonstras as suas ideias, porém
podemos perceber ele utilizando o conceito de mundo das ideias para a criação do
“governante ideal”. Em meio a um contexto político de uma Itália desunificada, o autor
recorreu ao livro “O Príncipe” para descrever como um governante conduzir-se-ia ao poder e
como o manteria. Para Maquiavel, a natureza humana não era positiva, na verdade o homem
era caótica e precisaria da figura do príncipe para governá-la e unificá-la.

Para Maquiavel, o príncipe deveria reunir um conjunto de qualidades para que pudesse
ter sucesso em seu reinado e unificasse a sua nação diante das adversidades. Essas qualidades
vinham desde a forma como o cargo era conseguido, se através da hereditariedade,
conquistados através das próprias armas, das armas alheias, por atos criminosos ou por apoio
popular. O autor então, discorre que o príncipe precisa-se fazer da fortuna e da virtude para
conseguir um reinado, menos nos por atos criminosos que falaremos adiante. Então,
virtuosidade seria uma das características do príncipe ideal, Maquiavel acaba recorrendo ao
mundo das ideias para normatizar como deveria ser o príncipe e através do empirismo, com os
acontecimentos históricos que o antecederam em outros principados, reforça essas qualidades.
Já no caso do conquistado por atos criminosos, Maquiavel diz que o príncipe deveria ter a
ponderação como uma de suas características ideias, pois aquele que chegasse ao poder
usurpando de outro não poderia utilizar de forma desenfreada a agressividade, mas apenas a
necessária para manter o controle.

Depois de conseguir o reino, o príncipe então teria que governá-lo e para isso uma
série de outras qualidade do “príncipe ideal” são destacadas por Maquiavel. Logo, as
qualidades, que além da virtude, p príncipe precisaria seriam a parcimônia, o temor dos seus
súditos quando não pudesse ser amado, saber usar o mal quando fosse necessário e evitar o
ódio e o desprezo. Desse modo, príncipe se manteria no poder, utilizando principalmente da
parcimônia para saber se portar diante as adversidades de se governar uma nação. Logo,
mesmo que não quisesse, Maquiavel recorre ao mundo das ideias para a formação do príncipe
ideal. Dizer isso não é a mesma coisa que dizer que o autor negligencia o mundo dos sentidos,
mas por meio desta “migração” entre os dois mundos ele chega ao conhecimento do ideal de
governante.

3.Mito da Caverna e Estado em Hobbes


O mito da caverna de Platão é mais uma de suas alegorias que representam a sua ideia
de que o conhecimento é adquirido por meio da razão. Neste mito, o filósofo diz que,
inicialmente, teriam alguns prisioneiros acorrentados dentro de uma caverna, que atrás deles
haveria uma fogueira e entre eles dois haveria um caminho pelo qual se ergue um pequeno
muro ou espécie de tapume. Atrás desse muro percorreriam as pessoas, carregando adereços,
estatuas humanas e de animais e conversando. Os prisioneiros, por sua vez, não conseguiriam
ver essas imagens, apenas a sombra delas projetadas na parede da caverna e só ouviriam
também o eco das vozes. Desse modo, têm as sombras como a sua realidade, sua verdade. A
partir daí, um dos prisioneiros é libertado da sua ignorância e consegue sair da caverna, assim
podendo ter noção de qual é a verdadeira realidade. Inicialmente, ele teria dificuldade para
realmente compreender tudo, ia sentir-se cegado pela luz do Sol mas com o tempo poderia
contemplar a realidade. Para Platão, o Sol representaria o bem, o homem então só poderia
alcançar a felicidade quando estivesse “a luz do bem”, ou seja, da razão. Utilizar-se da razão
então, não era só uma questão de alcançar a verdade, era também alcançar a plena felicidade.

Hobbes, por outro lado, acreditava que o estado de natureza do homem era o estado de
barbárie. O homem então, a fim de defender o seu direito natural a vida, não se limitaria a
atitudes éticas e morais e viveria em guerra com os outros. Sendo assim, é necessária a
presença do Estado para garantir o direito à vida do homem e este renunciaria a suas
liberdades para ter seu direito garantido e assim atingiria a felicidade.

Nós podemos dizer então que o estado de natureza do homem, é de alguma maneira, a
caverna de Platão em que o ser humano não vive de maneira limitada tendo uma visão
distorcida do que seria viver em sociedade. Desse modo o Sol é o Estado, que consegue por
meu de sua luz, livrar o homem do estado de natureza e trazer-lhe paz e segurança. Por fim, o
mecanismo que tiraria o homem dessas amarras seria o contrato social, em que o homem abre
mão de suas liberdades e entrega ao Estado, que de forma absoluta, a responsabilidade de lhe
garantir o direito natural a vida.

4. Aristóteles e Hobbes

Aristóteles tem como um dos seus princípios que o homem é um animal político, que
por sua vez, procuraria se organizar dessa forma. Sendo assim, o filósofo tem como objetivo
investigar as formas de governo e as instituições que são capazes de propiciar ao homem uma
vida feliz como cidadão. Deste modo, ele diz que os indivíduos não são iguais entre si,
existem aqueles que nascem para obedecer e aqueles que nascem para governar. Essa divisão
e a consequente diversidade dos homens, em características e funções, formam a cidade. Por
isso, os indivíduos não bastam de si mesmos, os membros da cidade precisam um dos outros
para que consigam viver em harmonia.

Sendo assim, o homem se organiza de diversas formas e em diversos níveis. A


principal sociedade natural é a família, da família obtém-se a aldeia e da reunião do conjunto
de aldeias a cidade. Tudo isso então seria para conservar o bem-estar comum. Vale ressaltar
que Aristóteles, por meio das diferenças dos indivíduos divide a família em uma escala de
controle entre seus integrantes. Tendo o despotismo, o poder do senhor sobre os escravos,
marital, poder do marido sobre a esposa e o paternal, poder dos pais sobre os filhos. Com o
mesmo raciocínio temos também o poder do Estado sobre os cidadãos, pois um homem que
não conhecesse a justiça e a lei seira o pior dos homens e a arma só seria lícita para a justiça.

Para Hobbes então, como já foi dito, o Estado também era o que garantiria o bem estar
da sociedade. Isso porque, para ele, a natureza do homem não era de cooperação, mas de
rivalidade entre a sociedade. Porém, poderíamos dizer que ao renunciar a sua liberdade,
através do contrato social, o homem não seria também um ser naturalmente político? E que a
presença do Estado, seja na mão de um representante ou um grupo, não seria também o
pensamento aristotélico de que existe a diferença entre os indivíduos e uns seriam para
comandar enquanto outros comandados? De certa forma sim, para as duas perguntas.

Primeiramente podemos dizer que o homem em seu estado de natureza não está
satisfeito, então ele buscaria a satisfação de alguma forma. No caso hobbesiano, essa
satisfação seria atingida por meio do contrato social, poque aí o seu direito a vida seria
resguardado pelo Estado. Então o homem, além de naturalmente mal, seria também
naturalmente um perseguidor de uma organização política, pois tem a vontade de sair do
estado de natureza e por meio das ideias de Hobbes, essa saída é com a existência do Estado.

O outro ponto, seria que as diferenças naturais do homem levariam a criação do


Estado. Podemos argumentar isso a partir da ideia do parágrafo anterior de que o homem é um
perseguidor da organização política e para tal iria se distanciar do seu estado de natureza,
rivalidade entre os indivíduos, e reconheceria que existem aqueles para governar e aqueles
para serem governados. Logo, o Estado nada mais é que a diferença dos homens sendo
utilizada para o bem comum, pois só com a presença dele o direito natural a vida seria
resguardado. Um ponto que vale ressaltar é que não existe de alguma forma uma hierarquia de
importância entre Estado e indivíduos, os dois formam um conjunto que seria a sociedade.
Sem o Estado o estado de natureza seria eterno e assim não seria alcançada a satisfação, mas
sem a existência dos indivíduos não existiria Estado, pois além de ser formado pelos mesmos
que o precisam dele, também não haveria a necessidade de haver um.

5.Conclusão

Desse modo, espero ter de alguma forma apresentado as ideias desses quatro autores e
o que vai além de suas diferenças. Os contratualistas, por mais que fossem distintos as ideias
de política de Platão e Aristóteles, não deixaram de usar alguns de seus pensamentos para a
criação de suas ideias que foram apresentadas em “O Príncipe” e “O Leviatã”. O mundo das
ideias, o mito da caverna e a forma de organização social aristotélica, ainda são muito
presentes nas ideias de vários autores mesmo que inconscientemente. Levando em
consideração o fato de que esses dois fazem parte da base do pensamento filosófico, não é de
espantar que suas ideias perdurem até hoje. Portanto, nesse breve trabalho, pude dar a minha
opinião acerca do que liga esses dois pensadores gregos, aos contratualistas Maquiavel e
Hobbes.

Bibliografia

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe.

HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma de um poder eclesiástico e civil

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