Dona Hermelindina, 42 anos, sexo feminino, branca, casada, comerciante (tem
um bar na garagem de casa), procedente de Feira de Santana/BA dá entrada na Emergência do Hospital Geral com um quadro de hemorragia digestiva alta. Consciente, relata ao médico que um mês antes da hospitalização, apresentou dor, inchaço e uma quentura forte na arcada dentária inferior. Por estar muito ocupada com sua casa e trabalho, não recorreu ao dentista, automedicando-se com dois comprimidos de ácido acetilsalicílico (1g), tomados várias vezes ao dia. Falou que tinha dias que tomava cerca de 5 a 7 comprimidos. Confirmou que a dor passava, parcialmente, mas voltava cada vez pior. Dez dias após, não agüentando mais de dor, consultou um dentista que diagnosticou um abscesso no segundo molar inferior esquerdo, prescrevendo-lhe penicilina oral, um analgésico potente e uma cápsula a cada quatro horas de ácido acetilsalicílico. Relatou ainda que tomou uns comprimidos que sua vizinha te deu, achava que o nome era Voltaren® (Diclofenaco). Disse também que sempre teve problemas estomacais (fez endoscopia e detectou úlcera gástrica desde os 25 anos). Cerca de 2 semanas após usar os medicamentos prescritos pelo dentista, o paciente procurou um médico clínico com queixas abdominais. Na anamnese, revelou ter tido úlcera gástrica, tratada medicamentosamente e que recidivou em duas ocasiões. Na revisão de sistemas, referiu estar muito tensa e preocupada com problemas surgidos em casa, devido ao uso de drogas por seu filho adolescente e com a bagunça no seu bar. Negou tabagismo e fazia uso de álcool socialmente. Este médico prescreveu-lhe, como opção terapêutica, dois medicamentos - ou Arcoxia® (Etoricoxibe) ou Prexige® (Lumiracoxibe). Ainda, orientou a paciente para comprar apenas um deles na Farmácia. Chegando na Farmácia do seu bairro, viu que eram muito caro e não comprou nenhum deles. Continuou tomando Voltaren®. Uma hora atrás sentiu dores fortes na barriga, começou a vomitar sangue e veio para a Emergência. Na emergência, em exame da paciente, o médico plantonista verificou dolorimento difuso no epigástrio, e os demais aspectos normais. Foi realizada uma endoscopia digestiva que confirmou o diagnóstico anterior de úlcera péptica e hemorragia digestiva alta. O médico prescreveu Ranitidina e Omeprazol por via endovenosa no hospital e a paciente ficou em observação por 6 horas. Melhorado o quadro, o médico prescreveu Meloxicam e orientou a paciente a usar em casa o medicamento e, além disso, mandou-a procurar um gastroenterologista para continuar seu tratamento.
Questões
1) Caracterize o quadro clínico da paciente quanto aos aspectos
fisiopatológicos. O que é úlcera péptica? Quais suas causas e conseqüências? 2) Selecione o(s) AINE(s) prescrito(s)/utilizado(s) pela paciente. Discuta seus mecanismos de ação. 3) Procure os possíveis esquemas de administração e duração do tratamento com o(s) AINE(s) prescrito(s)/utilizado(s) pela paciente. 4) Como se explica a associação entre os fármacos ingeridos pelo paciente e a nova ulceração? Existem outros riscos potenciais para o paciente? Em caso afirmativo, indique-os justificando sua resposta. 5) Discuta vantagens farmacológicas no uso do Etoricoxibe/Lumiracoxibe e Meloxicam frente ao Ácido Acetilsalicílico e Diclofenaco. 6) Discuta as condutas adotadas pelo dentista e médicos. Como futuro farmacêuticos, proponha um tratamento/esquema terapêutico para esta paciente. Justifique sua resposta. 7) Recentemente, a ANVISA cancelou o registro do medicamento Prexige® (Lumiracoxibe), justificando riscos à população. Busque informações à respeito deste fato, justificando-as farmacologicamente. CASO 02
J. M. R., 62 anos, masculino, preto, viúvo, aposentado, procedente de Santo Amaro/BA. Há 4
meses, o paciente começara a apresentar distúrbios visuais (diplopia, fotofobia e diminuição da acuidade). Consultara um oftalmologista, que após, investigação complementar, estabelecera o diagnóstico de retinopatia por doença auto-imune. Não havia outras anormalidades, quer no exame físico, quer nos exames complementares feitos. O plano terapêutico constou de prednisona, na dose de 60 mg ao dia, em tomada única matinal. Passado um mês, o paciente voltou à consulta para controle da doença básica, apresentando discreta melhora. Queixava-se de fraqueza muscular com dificuldade de caminhar. Ao exame físico, constatavam-se face mais arredondada e pressão arterial de 150 X 90 mmHg. A prednisona foi mantida no mesmo esquema. Quatro meses após, o paciente procurou atendimento num serviço de emergência por intensa lombociatalgia e dificuldade de visão. Foi internado para investigação, que mostrou: RX da coluna lombossacra: rarefação difusa da densidade óssea nas estruturas visualizadas; Glicemia: 160 mg% (Normal até 120); Glicosúria (N: ausente); Potássio sérico: 2,8 mEq/L (N: 3,5 a 5,0); Reserva alcalina: 34 mEq/L (N: 25). Durante a internação, a pressão arterial manteve-se em torno de 160 X 105 mmHg. Em face dessa situação descrita, optou-se pela retirada gradual da prednisona.
1) Caracterize o quadro patológico do paciente (retinopatia). Identifique o AIES utilizado pelo
pacinete e descreva o mecanismo de ação da droga utilizada pelo paciente (imunossupressor e antiinflamatório). 2) Aponte as manifestações decorrentes do uso de corticóides sobre os sistemas descritos e descreva o(s) mecanismo(s) que as determinam. 3) Caracterize, farmacocineticamente, a droga (AIES) em questão, justificando seu esquema da administração. 4) Poderia ser administrada a dexametasona para o paciente? Justifique sua resposta com base nas vantagens/desvantagens farmacológicas da droga. 5) Por que a retirada do fármaco foi gradual? Justifique sua resposta.