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BUREAU OF RECLAMATION

BRASIL

7
MANUAL DE
IRRIGAÇÃO
Elaboração de
Projetos de Irrigação

BRASÍLIA - DF
2002
Todos os Direitos Reservados
Copyright © 2002 Bureau of Reclamation
Os dados desse Manual estão sendo atualizados por técnicos do Bureau of Reclamation.
Estamos receptivos a sugestões técnicas e possíveis erros encontrados nessa versão. Favor
fazer a remessa de suas sugestões para o nosso endereço abaixo, ou se preferir por e-mail.
1ª Edição: Outubro de 1993
2ª Edição: Dezembro de 2002
Meio Eletrônico
Editor:
BUREAU OF RECLAMATION
SGA/Norte - Quadra 601 - Lote I - Sala 410
Edifício Sede da CODEVASF
Brasília - DF
CEP - 70830-901
Fone: (061) 226-8466
226-4536
Fax: 225-9564
E-mail: burec2001@aol.com

Autores
Richard A. Simonds - Engº Civil - Especialista em Tubulação - “Bureau of Reclamation”
Thomas Haider - Engº Civil - Especialista em Canais - “Bureau of Reclamation”
Clete Mages - Engº Mecânico - “Bureau of Reclamation”
Paul Rucht - Engº Mecânico - Especialista em Estações de Bombeamento - “Bureau of Reclamation”
Edward Gray - Geólogo - “Bureau of Reclamation”
Sherwood Baxter - Engº Elétrico - “Bureau of Reclamation”
Paul Knode - Engº Civil - Especialista em Mecânica de Solos - “Bureau of Reclamation”
Rod Vissia - Engº de Planejamento - “Bureau of Reclamation”
Douglas Olson - Engº de Planejamento - “Bureau of Reclamation”
Peter J. Hradilek - Engº Civil - Especialista em Barragens - “Bureau of Reclamation”
Equipe Técnica do Bureau of Reclamation no Brasil
Catarino Esquivel - Chefe da Equipe
Ricardo Rodrigues Lage - Especialista Administrativo
Evani F. Souza - Assistente Administrativo
Tradutora
Suzanne Sobral - Tradutora particular
Revisores Técnicos:
ENGECORP’S (Corpo de Engºs Consultores) - Vários Especialistas
CODEVASF / DNOCS - Vários Especialistas
Composição e Diagramação:
Print Laser - Assessoria Editorial Ltda

Ficha Catalográfica:

Elaboração de projetos de irigação / Richard A. Simonds.... [et


al.]. — Brasília: Secretaria de Recursos Hídricos, 1999.
527 p. : il. (Manual de Irrigação, v.7)

Trabalho elaborado pelo Bureau of Reclamation, do Depar-


tamento de Interior, dos Estados Unidos, por solicitação do Mi-
nistério da Integração Nacional do governo brasileiro.
1. Irrigação - Elaboração. I.Simonds, Richards A. II. Série.

CDU 627.82.004.15
Elaboração de Projetos de Irrigação

APRESENTAÇÃO

Em maio de 1986, o Banco Mundial aprovou um Contrato de Empréstimo para a


elaboração de estudos e projetos de irrigação no Nordeste do Brasil. O Contrato inclui
recursos para assistência técnica à Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica e, para isto, foi
assinado - em novembro de 1986 - um acordo com o “Bureau of Reclamation”, do Depar-
tamento do Interior, dos Estados Unidos.

A assistência abrange a revisão de termos de referência, estudos básicos, setoriais


e de pré-viabilidade; projetos básicos e executivos; especificações técnicas para constru-
ção de projetos de irrigação; critérios, normas e procedimentos de operação e manuten-
ção de projetos de irrigação; apresentação de seminários técnicos; acompanhamento da
construção de projetos; formulação de recomendações de políticas relativas ao desenvol-
vimento da agricultura irrigada.

O trabalho de assistência é realizado por uma equipe residente no Brasil, e por


pessoal temporário do Bureau, do Centro de Engenharia e Pesquisa de Denver, Colorado,
Estados Unidos. A equipe residente conta com especialistas em planejamento, projetos
de irrigação, barragens, hidrologia, sensoriamento remoto e operação e manutenção.

O Bureau vem prestando estes serviços há mais de dezesseis anos. Neste período,
obteve um conhecimento bastante amplo sobre a agricultura irrigada, no Brasil. Devido a
este conhecimento e à grande experiência do Bureau, em assuntos de irrigação, o Minis-
tério da Integração Nacional, solicitou que fossem elaborados manuais técnicos, para
utilização por órgãos governamentais (federais, estaduais e municipais), entidades priva-
das ligadas ao desenvolvimento da agricultura irrigada, empresas de consultoria, empreiteiras
e técnicos da área de irrigação.

A coleção que ora é entregue a esse público é um dos resultados do Contrato


mencionado. Ela é composta dos seguintes Manuais:

„ Planejamento Geral de Projetos de Irrigação


„ Classificação de Terras para Irrigação
„ Avaliação Econômica e Financeira de Projetos de Irrigação
„ Operação e Manutenção de Projetos de Irrigação
„ Especificações Técnicas Padronizadas
„ Standard Technical Specifications
„ Avaliação de Pequenas Barragens
„ Elaboração de Projetos de Irrigação
„ Construção de Projetos de Irrigação

Para sua elaboração contou com o trabalho de uma equipe de engenheiros e espe-
cialistas do “Bureau of Reclamation”, por solicitação do governo brasileiro.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

O objetivo dos Manuais é apresentar procedimentos simples e eficazes para serem


utilizados na elaboração, execução, operação e manutenção de projetos de irrigação.

Os anexos 10, 11 e 12 do “Manual de Operação e Manutenção de Projetos de


Irrigação” foram redigidos por técnicos do Instituto Interamericano de Cooperação para a
Agricultura - IICA. O anexo do “Manual de Avaliação de Pequenas Barragens” foi elabora-
do pelo Grupo de Hidrometeorologia da Superintendência de Desenvolvimento do Nordes-
te - SUDENE, em convênio com o “Institut Français de Recherche Scientifique pour le
Developement en Cooperation” - ORSTOM.

Foram publicadas, separadamente, pelo IBAMA / SENIR / PNUD / OMM (Instituto


Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais, Secretaria Nacional de Irrigação,
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Organização Meteorológica Mun-
dial), as “Diretrizes Ambientais para o Setor de Irrigação”. Estas diretrizes devem ser
seguidas em todas as etapas de planejamento, implantação e operação de projetos de
irrigação.

O Bureau of Reclamation agradece a gentil colaboração da CODEVASF (Compa-


nhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) e do DNOCS (Departamento Nacio-
nal de Obras Contra as Secas) pela disponibilização de informações sobre Leis e Normas
Técnicas Brasileiras.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 3

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 18
1.1 Objetivo do MANUAL ................................................................................... 18
1.2 Níveis de Projeto .......................................................................................... 18
1.2.1 Estudos Regionais (Plano Diretor) e Estudos de Pré-Viabilidade .............. 19
1.2.2 Estudos de Viabilidade ..................................................................... 19
1.2.3 Projetos Básicos .............................................................................. 20
1.2.4 Dossiê de Licitação das Obras Civis, e Dossiê de
Licitação dos Equipamentos Eletromecânicos ...................................... 20
1.2.5 Projetos Executivos ......................................................................... 21
1.3 Escopo do MANUAL ..................................................................................... 21
1.4 “Eficácia de Custos” ..................................................................................... 22

2 DADOS BÁSICOS PARA PROJETO E DESENVOLVIMENTO DO LEIAUTE DO SISTEMA .. 23


2.1 Dados Básicos do Sistema ............................................................................. 23
2.1.1 Aspectos Gerais .............................................................................. 23
2.1.2 Importância da Integralidade dos Dados .............................................. 23
2.2 Projeto a Nível de Pré-Viabilidade ................................................................... 23
2.2.1 Aspectos Gerais .............................................................................. 23
2.2.2 Dados do Projeto a Nível de Pré-Viabilidade ......................................... 24
2.2.3 Leiaute do Sistema a Nível de Pré-Viabilidade ...................................... 24
2.3 Projeto a Nível de Viabilidade ......................................................................... 24
2.3.1 Aspectos Gerais .............................................................................. 24
2.3.2 Planta Geral .................................................................................... 25
2.3.3 Descrição Geral das Condições Locais ................................................ 25
2.3.4 Controle Topográfico ....................................................................... 25
2.3.5 Plantas Topográficas ........................................................................ 26
2.3.6 Leiaute Geral .................................................................................. 26
2.3.7 Dados das Fundações ...................................................................... 26
2.3.8 Materiais de Construção ................................................................... 27
2.3.9 Estações de Bombeamento ............................................................... 27
2.3.10 Canais Principal e Secundários e Tubulações ....................................... 28
2.3.10.1 Canais e Tubulações ....................................................... 28
2.3.10.2 Canais .......................................................................... 28
2.3.10.3 Tubulações .................................................................... 29
2.3.11 Drenos ........................................................................................... 29
2.3.12 Considerações Relativas ao Meio Ambiente ......................................... 29
2.3.13 Dados Diversos ............................................................................... 30
2.4 Projeto Básico .............................................................................................. 30
2.4.1 Geral ............................................................................................. 30
2.4.2 Planta Geral .................................................................................... 31

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Elaboração de Projetos de Irrigação

2.4.3 Descrição Geral ............................................................................... 31


2.4.4 Controle Topográfico ....................................................................... 31
2.4.5 Plantas Topográficas ........................................................................ 31
2.4.6 Leiaute Geral .................................................................................. 31
2.4.7 Plantas e Perfis ............................................................................... 31
2.4.7.1 Geral ............................................................................ 31
2.4.7.2 Canais e Drenos ............................................................. 32
2.4.7.3 Tubulações Primárias ...................................................... 32
2.4.7.4 Tubulações Secundárias .................................................. 32
2.4.7.5 Estradas ........................................................................ 32
2.4.7.6 Diques .......................................................................... 33
2.4.8 Fotografias Aéreas .......................................................................... 33
2.4.9 Fotografias Coloridas ....................................................................... 33
2.4.10 Dados das Fundações ...................................................................... 33
2.4.10.1 Dados Geológicos ........................................................... 33
2.4.10.2 Dados de Engenharia ...................................................... 34
2.4.11 Dados dos Materiais de Construção ................................................... 35
2.4.12 Estações de Bombeamento ............................................................... 35
2.4.13 Canais Principal e Secundário e Tubulações ........................................ 36
2.4.13.1 Canais e Tubulações ....................................................... 36
2.4.13.2 Canais .......................................................................... 37
2.4.13.3 Tubulações .................................................................... 37
2.4.14 Drenos ........................................................................................... 38
2.4.15 Poços ............................................................................................ 38
2.4.16 Estradas ......................................................................................... 38
2.4.17 Dados Relativos às Instalações Elétricas ............................................. 39
2.4.17.1 Estações de Bombeamento, Canais, Tubulações e Poços ..... 39
2.4.17.2 Subestações Elétricas ..................................................... 40
2.4.18 Considerações Relativas ao Meio Ambiente ......................................... 41
2.4.19 Dados Diversos ............................................................................... 41

3 INVESTIGAÇÕES GEOGNÓSTICAS ......................................................................... 43


3.1 Níveis de Investigação .................................................................................. 43
3.1.1 Aspectos Gerais .............................................................................. 43
3.1.2 Investigações a Nível de Pré-Viabilidade ............................................. 43
3.1.3 Investigações a Nível de Viabilidade ................................................... 44
3.1.4 Investigações a Nível de Projeto Básico .............................................. 46
3.1.5 Investigações a Nível de Projeto Executivo .......................................... 47
3.2 Princípios de Investigação ............................................................................. 48
3.2.1 Objetivos ........................................................................................ 48
3.2.2 Classificação das Fundações das Estruturas ........................................ 49
3.2.3 Fontes de Informações de Mapas e Fotografias ................................... 50
3.2.3.1 Plantas Topográficas ....................................................... 50
3.2.3.2 Mapas Geológicos .......................................................... 50
3.2.3.3 Fotografias Aéreas .......................................................... 51
3.2.3.4 Alternativas às Fotografias Aéreas .................................... 54
3.2.4 Investigação da Superfície ................................................................ 54
3.2.4.1 Aspectos Gerais ............................................................. 54
3.2.4.2 Solos Fluviais ................................................................. 55
3.2.4.3 Solos Eólicos ................................................................. 56
3.2.4.4 Solos Residuais .............................................................. 56
3.2.5 Exploração da Subsuperfície ............................................................. 57
3.2.5.1 Aspectos Gerais ............................................................. 57
3.2.5.2 Estruturas Pontuais ......................................................... 58
3.2.5.3 Estruturas Lineares ......................................................... 58
3.2.5.4 Áreas de Empréstimo ...................................................... 62

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Elaboração de Projetos de Irrigação

3.2.5.5 Escolha de Amostras ...................................................... 62


3.2.5.6 Ensaios de Campo .......................................................... 65
3.2.6 Investigação de Materiais com Propriedades Específicas ....................... 66
3.2.6.1 Aspectos Gerais ............................................................. 66
3.2.6.2 Materiais Impermeáveis ................................................... 66
3.2.6.3 Materiais Permeáveis ...................................................... 68
3.2.6.4 “Riprap” e Enrocamentos ................................................. 69
3.2.7 Materiais para Solos Estabilizados ...................................................... 70
3.2.7.1 Aspectos Gerais ............................................................. 70
3.2.7.2 Solo-Cimento Compactado .............................................. 70
3.3 Métodos de Sondagem ................................................................................. 71
3.3.1 Aspectos Gerais .............................................................................. 71
3.3.2 Categorias de Amostras ................................................................... 72
3.3.3 Amostras Deformadas ...................................................................... 72
3.3.3.1 Aspectos Gerais ............................................................. 72
3.3.3.2 Poços de Inspeção e Trincheiras ....................................... 73
3.3.3.3 Amostragem em Poços e Trincheiras ................................. 73
3.3.3.4 Amostragem a Trado ...................................................... 74
3.3.3.5 Amostragem por Cravação .............................................. 75
3.3.3.6 Preparo e Transporte de Amostras Deformadas .................. 76
3.3.4 Amostras Indeformadas ................................................................... 76
3.3.4.1 Amostras Indeformadas Cilíndricas e de Bloco .................... 76
3.3.4.2 Amostras Indeformadas por Meios Mecânicos .................... 79
3.3.4.3 Preparo e Transporte de Amostras Indeformadas ................ 79
3.3.5 Amostras Indeformadas de Rocha (Testemunhos de Sondagem) ............ 86
3.3.5.1 Aspectos Gerais ............................................................. 86
3.3.5.2 Remoção e Preparo dos Testemunhos para Transporte ........ 87
3.3.6 Diversos Métodos de Perfuração ....................................................... 87
3.3.7 Ensaios de Campo ........................................................................... 88
3.3.7.1 Aspectos Gerais ............................................................. 88
3.3.7.2 Ensaio de Penetração Padronizado (SPT) ............................ 88
3.3.7.3 Ensaios de Permeabilidade ............................................... 88
3.3.7.4 Ensaio de Palheta ........................................................... 88
3.3.7.5 Ensaio de Penetrômetro de Cone ...................................... 89
3.3.7.6 Ensaio de Cisalhamento no Furo ....................................... 89
3.3.7.7 Ensaio de Dilatômetro de Placa Lisa .................................. 89
3.3.7.8 Ensaio de Pressiômetro ................................................... 89
3.3.7.9 Ensaio de Massa Específica Aparente In Situ ...................... 89
3.4 Registros e Relatórios de Dados ..................................................................... 90
3.4.1 Mapas ........................................................................................... 90
3.4.2 Perfil dos Furos de Sondagem ........................................................... 91
3.4.2.1 Localização dos Furos de Sondagem ................................. 91
3.4.2.2 Identificação dos Furos ................................................... 92
3.4.2.3 Tipos de Perfis de Sondagem ........................................... 92
3.4.2.4 Descrição dos Solos ........................................................ 98
3.4.2.5 Descrição dos Testemunhos de Rocha ............................... 98
3.4.3 Seções Subsuperficiais ..................................................................... 99
3.4.4 Amostragem ................................................................................. 100
3.4.5 Relatórios ..................................................................................... 100
3.4.5.1 Aspectos Gerais ........................................................... 100
3.4.5.2 Fundações ................................................................... 101
3.4.5.3 Dados dos Materiais de Construção ................................ 102
3.5 Agregados de Concreto ............................................................................... 103
3.5.1 Qualidade e Granulometria dos Agregados ........................................ 103
3.5.1.1 Substâncias Contaminantes ........................................... 103
3.5.1.2 Alterabilidade ............................................................... 104

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Elaboração de Projetos de Irrigação

3.5.1.3 Resistência e Resistência à Abrasão ................................ 104


3.5.1.4 Mudanças de Volume .................................................... 104
3.5.1.5 Formato das Partículas .................................................. 105
3.5.1.6 Peso Específico ............................................................ 105
3.5.1.7 Granulometria .............................................................. 105
3.5.2 Amostragem dos Agregados ........................................................... 105
3.5.3 Prospecção para Agregados ............................................................ 106
3.5.3.1 Aspectos Gerais ........................................................... 106
3.5.3.2 Características Geológicas e Outras Características
Afins dos Agregados e dos Depósitos de Agregados ......... 106
3.5.3.3 Prospecção .................................................................. 110
3.5.3.4 Amostragem Preliminar das Fontes Potenciais
de Agregado e Relatório de Informações Pertinentes ........ 111
3.5.4 Exploração de Jazidas Naturais de Agregado ..................................... 113
3.5.4.1 Procedimentos Gerais ................................................... 113
3.5.4.2 Furos de Sondagem Revestidos de Aço ........................... 113
3.5.4.3 Furos de Sondagem Não-Revestidos................................ 113
3.5.4.4 Poços e Trincheiras de Exploração .................................. 114
3.5.4.5 Designação das Jazidas e das Sondagens ........................ 114
3.5.4.6 Relatórios .................................................................... 114
3.5.5 Ensaios de Laboratório e Seleção dos Agregados ............................... 115
3.5.5.1 Ensaios dos Agregados ................................................. 115
3.5.5.2 Análise dos Dados de Campo e de Laboratório ................. 116
3.5.5.3 Quantidade de Agregado ............................................... 117
3.5.5.4 Seleção dos Agregados ................................................. 117
3.6 Prospecção de Materiais Pozolânicos ............................................................ 117
3.6.1 Ocorrência Geológica da Pozolana ................................................... 117
3.6.2 Amostras ..................................................................................... 117
3.6.3 Ensaios e Análises dos Materiais Pozolânicos .................................... 118
3.7 Solos Colapsíveis ....................................................................................... 118
3.7.1 Geral ........................................................................................... 118
3.7.2 Resumo das Propriedades ............................................................... 119
3.7.3 Identificação dos Solos Colapsíveis .................................................. 120
3.7.3.1 Observações de Campo ................................................. 120
3.7.3.2 Ensaios de Laboratório .................................................. 121
3.7.4 Métodos de Amostragem dos Solos Colapsíveis ................................ 125
3.7.4.1 Amostras Talhadas Manualmente ................................... 125
3.7.4.2 Métodos de Sondagem Mecânica ................................... 125
3.7.5 Tratamento dos Solos Colapsíveis ................................................... 126
3.7.5.1 Descrição dos Métodos de Tratamento ............................ 128
3.7.5.1.1 Hidrocompactação ....................................... 128
3.7.5.1.2 Solidificação do Solo .................................... 130
3.7.5.1.3 Compactação Dinâmica ................................ 131
3.7.5.1.4 Vibroflotação .............................................. 131
3.7.5.1.5 Escarificação Profunda e Umedecimento ......... 132
3.7.5.1.6 Outros Métodos de Adensamento .................. 132
3.7.5.2 Eficácia dos Métodos de Tratamento –
Vantagens e Desvantagens ............................................ 133
3.7.5.2.1 Hidrocompactação ....................................... 133
3.7.5.2.2 Solidificação do Solo .................................... 133
3.7.5.2.3 Compactação Dinâmica ................................ 134
3.7.5.2.4 Vibroflotação .............................................. 134
3.7.5.2.5 Escarificação Profunda e Umedecimento ......... 134
3.7.6 Adoção de Medidas de Projeto ........................................................ 134
3.7.6.1 Projeto para Recalque Após a Construção ........................ 135
3.7.6.2 Uso de Estacas ou Tubulões .......................................... 135

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Elaboração de Projetos de Irrigação

3.7.6.3 Prevenção de Colapso pelo Alívio das Pressões ................ 135


3.7.6.4 Remoção dos Solos Colapsíveis ...................................... 136
3.7.7 Resumo ....................................................................................... 136
3.8 Argilas Dispersivas ..................................................................................... 137
3.8.1 Geral ........................................................................................... 137
3.8.2 Descrição ..................................................................................... 137
3.8.3 Fatores Geográficos e Climáticos ..................................................... 138
3.8.4 Conseqüências na Engenharia ......................................................... 138
3.8.4.1 Mecanismos de Ruptura por “Piping” .............................. 138
3.8.4.2 Erosão das Argilas Dispersivas Causada Pelas Chuvas ....... 139
3.8.5 Experimentos com Argilas Dispersivas .............................................. 140
3.8.6 Identificação das Argilas Dispersivas ................................................ 141
3.8.7 Ensaios de Laboratório ................................................................... 142
3.8.7.1 Ensaio de Dispersão Rápida ........................................... 142
3.8.7.2 Ensaio de Comparação Granulométrica ............................ 142
3.8.7.3 Ensaio de Furo de Agulha (“Pinhole”) .............................. 143
3.8.7.4 Ensaios Químicos ......................................................... 146
3.8.8 Considerações de Engenharia .......................................................... 147
3.8.8.1 Seleção de Materiais para uma Construção Econômica ...... 148
3.8.8.2 Elaboração do Projeto e dos Cuidados Construtivos .......... 148
3.8.8.3 Barragens e Aterros Existentes de Argila Dispersiva .......... 150
3.8.9 Resumo ....................................................................................... 150
3.9 Solos Expansivos ....................................................................................... 150
3.9.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 150
3.9.2 Identificação das Argilas Expansivas ................................................ 152
3.9.3 Ensaios de Laboratório ................................................................... 153
3.9.3.1 Ensaio de Expansão ...................................................... 154
3.9.3.2 Ensaio de Pressão de Expansão ...................................... 154
3.9.4 Métodos de Amostragem de Solos Expansivos .................................. 155
3.9.4.1 Amostras Moldadas Manualmente .................................. 155
3.9.4.2 Métodos de Amostragem Mecânica ................................ 155
3.9.5 Métodos de Tratamento ................................................................. 156
3.9.5.1 Retrabalho do Solo ....................................................... 156
3.9.5.2 Controle do Teor de Umidade do Solo ............................. 157
3.9.5.3 Estabilização do Solo .................................................... 158
3.9.6 Deterioração dos Solos de Fundações .............................................. 159
3.9.7 Resumo ....................................................................................... 159
3.10 Calcário Cárstico ........................................................................................ 160
3.10.1 Geral ........................................................................................... 160
3.10.2 Calcário ....................................................................................... 161
3.10.3 Definição de Calcário Cárstico ......................................................... 161
3.10.4 Dissolução do Calcário ................................................................... 162
3.10.5 Indicadores Potenciais de Aberturas Subsuperficiais ........................... 162
3.10.5.1 Indicadores Diretos ....................................................... 162
3.10.5.2 Indicadores Condicionais ............................................... 163
3.10.5.3 Fatores Modificadores ................................................... 163
3.10.6 Estudos Geológicos e Geotécnicos do Local ...................................... 163
3.10.6.1 Geologia do Local ......................................................... 163
3.10.6.2 Natureza da Estrutura ................................................... 164
3.10.6.3 Coordenação das Investigações ...................................... 164
3.10.6.4 Investigações Hidrológicas ............................................. 165
3.10.6.5 Piezômetros ................................................................. 165
3.10.6.6 Ensaios de Perda de Água ............................................. 165
3.10.6.7 Injeções ...................................................................... 166
3.10.6.8 Sensoreamento Remoto ................................................ 166
3.10.6.9 Fotografia Aérea ........................................................... 166

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Elaboração de Projetos de Irrigação

3.10.6.10 Perfuração e Escavação ................................ 167


3.10.6.11 Estudos em Sondagens ................................ 168
3.10.7 Avaliação da Segurança das Fundações ............................................ 169
3.10.8 Condições que Afetam as Estruturas de Retenção de Água ................. 171
3.10.9 Métodos de Tratamento ................................................................. 171
3.10.9.1 Áreas de Fundações ..................................................... 171
3.10.9.2 Áreas de Reservatório ................................................... 172
3.10.9.3 Cavidades de Dissolução ............................................... 172
3.10.9.4 Problemas Potenciais Resultantes das
Injeções e do Enchimento .............................................. 172
3.10.10 Resumo ....................................................................... 172
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 174

4 CAPTAÇÕES...................................................................................................... 179
4.1 Canais de Captação .................................................................................... 179
4.1.1 Elaboração do Projeto .................................................................... 179
4.1.2 Captação no Reservatório ............................................................... 180
4.1.3 Captação no Rio ............................................................................ 181
4.2 Requisitos Relativos à Sedimentação e às Propriedades Hidráulicas ................... 181
4.2.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 181
4.2.2 Sedimentos na Água Bombeada ...................................................... 181
4.2.3 Nível da Água no Lado de Sucção da Bomba ..................................... 186
4.2.4 Estabilidade das Margens ............................................................... 188
4.2.5 Canais de Captação ....................................................................... 189

5 ESTAÇÕES DE BOMBEAMENTO ........................................................................... 193


5.1 Tipos de Estação ........................................................................................ 193
5.1.1 Estações do Lado do Canal ............................................................. 193
5.1.2 Estações na Extremidade do Canal ................................................... 193
5.1.3 Estações em Reservatórios ou Rios .................................................. 195
5.1.4 Estações Elevatórias ...................................................................... 195
5.1.5 Estações Tipo “Booster” ................................................................. 195
5.2 Tipos de Instalação .................................................................................... 195
5.2.1 Instalações Internas ....................................................................... 195
5.2.2 Instalações Externas ...................................................................... 195
5.2.3 Instalações Semi-Internas ............................................................... 195
5.3 Áreas Funcionais das Estações de Bombeamento ........................................... 197
5.3.1 Área de Serviço ............................................................................ 197
5.3.2 Vão da Bomba .............................................................................. 197
5.3.3 Área para Armazenamento de Óleo .................................................. 198
5.3.4 Área do Equipamento de Canhole e Salas de Canhole ......................... 198
5.3.5 Área das Baterias .......................................................................... 198
5.3.6 Escritórios .................................................................................... 198
5.3.7 Vestiários ..................................................................................... 198
5.3.8 Poço de Drenagem ........................................................................ 198
5.3.9 Área de Montagem do Rotor ........................................................... 198
5.4 Seleção e Operação das Unidades de Bombeamento ....................................... 199
5.4.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 199
5.4.2 Tipo de Bomba Requerida ............................................................... 199
5.4.3 Número e Dimensões das Unidades ................................................. 199
5.4.4 Operação das Unidades de Bombeamento ......................................... 200
5.5 Descrição dos Tópicos Relativos às Estruturas e à Construção Civil .................. 200
5.5.1 Fundações .................................................................................... 200
5.5.1.1 Aspectos Gerais ........................................................... 200
5.5.1.2 Materiais Sujeitos a Ciclagem (Esplastilhamento) .............. 200
5.5.1.3 Solos Expansivos .......................................................... 200

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Elaboração de Projetos de Irrigação

5.5.1.4 Materiais de Baixo Peso Específico.................................. 201


5.5.1.5 Cavidades de Dissolução ............................................... 201
5.5.2 Cálculo de Estabilidade ................................................................... 201
5.5.2.1 Excentricidade ou Tombamento ...................................... 202
5.5.2.2 Atrito .......................................................................... 202
5.5.2.3 Subpressão ou Flutuação ............................................... 203
5.5.2.4 Fatores de Segurança.................................................... 203
5.5.3 Cargas de Projeto Estrutural ............................................................ 203
5.5.3.1 Aspectos Gerais ........................................................... 203
5.5.3.2 Cargas Permanentes ..................................................... 204
5.5.3.3 Cargas Acidentais (Variáveis) ......................................... 204
5.5.3.4 Cargas Acidentais Concentradas .................................... 204
5.5.3.5 Cargas de Guindastes ................................................... 205
5.5.3.6 Cargas de Impacto........................................................ 208
5.5.3.7 Cargas Durante a Construção ......................................... 208
5.5.3.8 Ações de Vento ........................................................... 209
5.5.3.9 Forças Sísmicas ........................................................... 209
5.5.3.10 Empuxo da Terra .......................................................... 209
5.5.3.11 Tensões Térmicas e de Contração .................................. 211
5.5.3.12 Pressão Hidrostática ..................................................... 211
5.5.3.13 Subpressão Hidrostática ................................................ 211
5.5.3.14 Cargas Especiais e Outras Cargas ................................... 211
5.5.4 Análise Estrutural e Considerações na Elaboração de Projetos ............. 212
5.5.5 Considerações Diversas na Elaboração de Projetos ............................. 212
5.5.5.1 Juntas nas Estruturas de Concreto Armado ...................... 212
5.5.5.1.1 Aspectos Gerais .......................................... 212
5.5.5.1.2 Juntas de Construção .................................. 213
5.5.5.1.3 Juntas de Contração .................................... 217
5.5.5.1.4 Juntas de Expansão ..................................... 217
5.5.5.1.5 Juntas de Controle ...................................... 217
5.5.5.2 Tubos e Conduítes Embutidos ........................................ 217
5.5.6 Considerações Relativas ao Leiaute da Estação de Bombeamento ........ 219
5.5.6.1 Captações ................................................................... 219
5.5.6.2 Poços de Bombas ......................................................... 220
5.5.6.3 Bases das Bombas ........................................................ 220
5.5.6.4 Espaçamento das Bombas ............................................. 223
5.5.6.5 Áreas e Salas de Armazenamento de Óleo ....................... 232
5.5.6.6 Salas de Canhole .......................................................... 232
5.5.6.7 Salas de Baterias .......................................................... 235
5.5.6.8 Vãos de Escada ............................................................ 235
5.5.6.9 Sistemas de Drenagem da Estação de Bombeamento ........ 235
5.5.6.10 Poço de Drenagem ....................................................... 235
5.5.7 Considerações Relativas ao Leiaute do Pátio de Serviço ...................... 237
5.5.8 Considerações Relativas ao Leiaute da Subestação ............................ 237
5.5.9 Considerações Relativas à Construção ............................................. 238

6 CANAIS E ESTRUTURAS ASSOCIADAS ................................................................ 242


6.1 Introdução ................................................................................................. 242
6.2 Seções de Canal e Itens Relacionados às Seções de Canal .............................. 242
6.2.1 Revestimento de Canal ................................................................... 242
6.2.1.1 Revestimento de Concreto ............................................. 242
6.2.1.2 Revestimento de Terra Compactada ................................ 254
6.2.1.3 Revestimento de Membrana Plástica Enterrada ................. 259
6.2.1.4 Outros Sistemas de Revestimento com Membrana ............ 261
6.2.2 Quadros para Projeto de Seções de Canal ......................................... 263
6.2.2.1 Propriedades Físicas ...................................................... 265

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Elaboração de Projetos de Irrigação

6.2.2.2 Propriedades Hidráulicas ................................................ 265


6.2.2.3 Estradas de Operação e Manutenção ............................... 265
6.2.3 Itens Relacionados às Seções de Canal ............................................ 265
6.2.3.1 Borda Livre .................................................................. 265
6.2.3.2 Topo da Margem/Estradas de Operação e Manutenção ...... 266
6.2.3.3 Curvatura e Velocidades Permissíveis .............................. 267
6.2.3.4 Fórmulas de Escoamento ............................................... 267
6.2.3.5 Perdas por Infiltração .................................................... 269
6.2.3.6 Seções de Canal em Aterros Altos .................................. 270
6.2.3.7 Seções de Canal em Cortes Profundos ............................ 273
6.2.3.8 Considerações Operacionais ........................................... 276
6.3 Estruturas de Canal .................................................................................... 278
6.3.1 Estruturas de Controle ................................................................... 278
6.3.1.1 Estruturas de Controle com “Stoplogs” ........................... 278
6.3.1.2 Vertedouros em Bico de Pato ......................................... 280
6.3.1.3 Estruturas de Controle com Comporta ............................. 280
6.3.2 Estruturas de Sifão Invertido ........................................................... 280
6.3.2.1 Sifões Formados por Tubulações .................................... 284
6.3.2.2 Estruturas de Drenagem ................................................ 284
6.3.2.3 Sifões Invertidos de Seção Retangular ou Trapezóide ........ 284
6.3.3 Estruturas de Calha em Alinhamento ................................................ 284
6.3.4 Quedas ........................................................................................ 288
6.3.4.1 Quedas de Tubulação .................................................... 288
6.3.4.2 Quedas Inclinadas de Seção Retangular ........................... 292
6.3.4.3 Quedas com Blocos Amortecedores ................................ 292
6.3.4.4 Quedas Verticais .......................................................... 292
6.3.5 Tomadas d’Água ........................................................................... 297
6.3.5.1 Tomadas d’Água de Orifício de Carga Constante .............. 297
6.3.5.2 Tomadas d’Água com Hidrômetro a Molinete ................... 297
6.3.5.3 Tomadas d’Água com Calha Parshall ............................... 299
6.3.5.4 Tomadas d’Água com Calha em Rampa ........................... 299
6.3.5.5 Tomadas d’Água com Controles de Vazão Modulares ........ 302
6.3.5.6 Tomadas d’Água com Tela Fixa ...................................... 302
6.3.5.7 Tomadas d’Água com Tela Móvel ................................... 306
6.3.5.8 Tomadas d’Água com Tela de Chapa Perfurada ................ 306
6.3.6 Estruturas de Descarga e Vertedouros .............................................. 306
6.3.6.1 Vertedouros-Sifão e Vertedouros de Canal Lateral ............. 309
6.3.6.2 Estruturas de Descarga/Vertedouros com Comporta .......... 309
6.3.7 Estruturas de Drenagem Transversal ................................................ 313
6.3.7.1 Estruturas de Passagem de Água,
por Cima de um Canal (Tubos e Canaletas) ...................... 313
6.3.7.2 Bueiros Tubulares ......................................................... 313
6.3.7.3 Bueiros de Caixa .......................................................... 315
6.3.8 Captação da Água de Escoamento Superficial ................................... 315
6.3.9 Critérios Gerais para Elaboração do Projeto Hidráulico ........................ 317
6.3.9.1 Fatores de Atrito .......................................................... 317
6.3.9.2 Perdas de Transição ...................................................... 317
6.3.9.3 Perdas nas Curvas das Tubulações ................................. 319
6.3.9.4 Perdas nas Grades ........................................................ 319
6.3.9.5 Perdas Devido aos Pilares .............................................. 323
6.3.9.6 Borda Livre das Estruturas ............................................. 323
6.3.9.7 Percolação ................................................................... 323
6.3.9.8 Estabilidade ................................................................. 323
6.3.9.9 Ressalto Hidráulico ....................................................... 327
6.3.9.10 “Riprap” ...................................................................... 327

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6.3.10 Considerações Gerais Relativas às Estruturas .................................... 329


6.3.10.1 Critério de Projeto de Concreto Armado ........................... 329
6.3.10.2 Carregamento .............................................................. 336
6.3.10.3 Estabilidade das Estruturas ............................................ 340
6.3.10.4 Capacidade de Carga .................................................... 342
6.3.10.5 Recalques Diferenciais .................................................. 343
6.4 Operações e Automatização dos Canais ........................................................ 344
6.4.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 344
6.4.2 Operação dos Sistemas de Canais ................................................... 344
6.4.2.1 Sistema de Demanda .................................................... 344
6.4.2.2 Sistema de Controle à Montante ..................................... 345
6.4.2.3 Combinações ............................................................... 346
6.4.3 Métodos de Ajuste das Comportas de Controle ................................. 346
6.4.3.1 Controle Manual Local ................................................... 346
6.4.3.2 Controle Automático Local............................................. 346
6.4.3.3 Controle Remoto por Supervisor ..................................... 347
6.4.3.4 Sistemas de Controle Combinado ................................... 348
6.4.4 Conceitos de Controle .................................................................... 348
6.4.5 Métodos de Operação das Piscinas dos Canais .................................. 350
6.4.6 Automação ................................................................................... 353
6.4.6.1 Elementos Básicos do Sistema de Controle Automático ..... 353
6.4.6.2 Algoritmos ................................................................... 354
6.4.6.2.1 Algoritmo de Little-Man ................................ 356
6.4.6.2.2 Algoritmo de Colvin ..................................... 356
6.4.6.2.3 Algoritmos EL-FLO + RESET e P + PR ........... 358
6.4.6.2.4. Algoritmo de BIVAL ..................................... 359
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 360
ANEXO A Programa de Computador para Calhas em Rampa ..................................... 361

7 TUBULAÇÕES .................................................................................................... 364


7.1 Introdução ................................................................................................. 364
7.2 Projeto Hidráulico das Tubulações ................................................................ 364
7.2.1 Perdas de Carga na Tubulação ........................................................ 365
7.2.2 Perdas de Carga nas Válvulas e nas Conexões .................................. 372
7.2.3 Perdas de Carga nas Linhas de Aspersão .......................................... 372
7.3 Considerações Relativas ao Golpe de Aríete ................................................... 381
7.3.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 381
7.3.2 Dispositivos de Controle de Golpe de Aríete ...................................... 382
7.3.3 Condições Operacionais a Serem Investigadas ................................... 385
7.3.3.1 Condições Operacionais Normais .................................... 385
7.3.3.2 Condições Operacionais de Emergência ........................... 387
7.3.4 Critérios de Projeto ........................................................................ 387
7.4 Projeto Estrutural dos Tubos ........................................................................ 389
7.4.1 Cargas Aplicadas ........................................................................... 389
7.4.2 Classificação dos Tubos ................................................................. 393
7.4.2.1 Aspectos Gerais ........................................................... 393
7.4.2.2 Tubos Rígidos .............................................................. 393
7.4.2.2.1 Tubos de Fibrocimento ................................. 394
7.4.2.2.2 Tubos de Concreto ...................................... 398
7.4.2.3 Tubos Flexíveis ............................................................ 399
7.4.2.3.1 Aspectos Gerais .......................................... 399
7.4.2.3.2 Deflexão Admissível ..................................... 400
7.4.2.3.3 Determinação do Valor de Deflexão ............... 400
7.4.2.3.4 Considerações Relativas à Deflexão ............... 403
7.4.2.3.5 Flambagem de Tubos de Aço ........................ 405

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Elaboração de Projetos de Irrigação

7.5 Considerações Relativas ao Leiaute do Sistema .............................................. 406


7.6 Outras Considerações de Projeto .................................................................. 406
7.6.1 Válvulas de Isolamento .................................................................. 406
7.6.2 Ventosas ...................................................................................... 409
7.6.3 Ancoragem de Empuxo .................................................................. 411
7.6.4 Automatização das Bombas ............................................................ 414
7.6.4.1 Tubulações de Descarga das Estações de Bombeamento ... 414
7.6.4.2 Tubulações de Adução e de Distribuição .......................... 414

8 RESERVATÓRIOS DE REGULARIZAÇÃO ................................................................ 418


8.1 Aspectos Gerais ......................................................................................... 418
8.2 Aplicações ................................................................................................ 418
8.2.1 Separação de Dois Trechos de Canal com Períodos de
Operação Diferentes ...................................................................... 418
8.2.2 Separação das Prioridades Operacionais ........................................... 419
8.2.3 Compensação entre Vazão Uniforme num Lado e
Vazão Variável no Outro ................................................................. 419
8.2.4 Separação entre um Sistema de Canal e um
Sistema de Bombeamento .............................................................. 420
8.2.5 Regularização de Controle Automático ............................................. 420
8.3 Critérios de Projeto e de Operação ................................................................ 420
8.3.1 Tipos de Reservatório de Regularização ............................................ 420
8.3.1.1 Reservatório no Alinhamento ......................................... 421
8.3.1.2 Reservatório Fora do Alinhamento .................................. 421
8.3.1.3 Reservatórios de Tomada d’Água ao Lado do Canal .......... 422
8.3.2 Dimensionamento .......................................................................... 422
8.4 Reservatórios de Controle Automático das Estações de Bombeamento .............. 423

9 DESCRIÇÃO DA PARTE MECÂNICA ..................................................................... 427


9.1 Conjuntos Moto-Bombas ............................................................................. 427
9.1.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 427
9.1.2 Bombas Verticais Tipo Turbina ........................................................ 428
9.1.3 Bombas Centrífugas Horizontais ...................................................... 431
9.1.4 Ensaios nos Conjuntos Moto-Bombas ............................................... 431
9.2 Válvulas .................................................................................................... 432
9.2.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 432
9.2.2 Válvula Tipo Comporta Deslizante .................................................... 432
9.2.3 Válvulas de Retenção ..................................................................... 433
9.2.4 Válvulas Tipo Borboleta .................................................................. 434
9.2.5 Válvulas Tipo Globo ....................................................................... 435
9.2.6 Válvulas Tipo Gaveta ..................................................................... 436
9.2.7 Válvulas Antigolpe de Aríete de Abertura .......................................... 437
9.2.8 Ventosas ...................................................................................... 438
9.2.8.1 Aspectos Gerais ........................................................... 438
9.2.8.2 Entrada de Ar ............................................................... 438
9.2.8.3 Tipos de Ventosa ......................................................... 439
9.2.8.3.1 Ventosas de Simples Efeito de
Pequeno Orifício .......................................... 440
9.2.8.3.2 Ventosas de Duplo Efeito de
Grande Orifício ............................................ 440
9.2.8.3.3 Ventosas Duplas ou de Combinação .............. 441
9.2.8.4 Locais de Instalação ...................................................... 441
9.2.8.5 Proteção e Manutenção ................................................. 441
9.2.9 Válvulas de Segurança ................................................................... 442
9.3 Equipamentos Hidromecânicos ..................................................................... 443
9.3.1 Comportas Ensecadeiras ................................................................ 443

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Elaboração de Projetos de Irrigação

9.3.2 Grades ......................................................................................... 444


9.3.2.1 Descrição e Função ...................................................... 444
9.3.2.2 Cargas de Projeto ......................................................... 445
9.3.2.3 Tensões Admissíveis e Critérios de Dimensionamento ....... 445
9.3.2.4 Materiais e Revestimentos ............................................. 446
9.3.2.5 Considerações na Elaboração do Projeto .......................... 446
9.3.3 Estruturas de Içamento ou Vigas Pescadoras ..................................... 447
9.3.4 Comportas Segmento .................................................................... 447
9.3.5 Tanques de Aço ............................................................................ 450
9.3.5.1 Aspectos Gerais ........................................................... 450
9.3.5.2 Projeto ........................................................................ 450
9.3.5.3 Especificações ............................................................. 451
9.3.5.4 Montagem ................................................................... 452
9.3.5.5 Inspeção ..................................................................... 452
9.3.5.6 Pintura ........................................................................ 452
9.4 Equipamentos de Elevação e Transporte ........................................................ 452
9.5 Tubulações da Estação de Bombeamento ...................................................... 455
9.5.1 Tubos de Aço para Adução, Recalque e Barriletes .............................. 455
9.5.1.1 Aspectos Gerais ........................................................... 455
9.5.1.2 Requisitos de Projeto .................................................... 457
9.5.1.3 Fabricação ................................................................... 458
9.5.1.4 Seleção do Material ...................................................... 458
9.5.1.5 Controle da Corrosão .................................................... 459
9.5.1.6 Ancoragem .................................................................. 459
9.5.2 Juntas de Expansão Tipo Luva ........................................................ 459
9.5.2.1 Aspectos Gerais ........................................................... 459
9.5.2.2 Tirantes ...................................................................... 461
9.6 Equipamento de Medição de Vazão ............................................................... 462
9.6.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 462
9.6.2 Medidores de Vazão em Condutos ................................................... 462
9.6.2.1 Precisão dos Medidores de Vazão ................................... 462
9.6.2.2 Faixas Operacionais ...................................................... 463
9.6.2.3 Disponibilidade de Energia no Local da Medição ................ 463
9.6.2.4 Dimensões dos Medidores de Vazão ............................... 463
9.6.2.5 Pressão Operacional ...................................................... 464
9.6.2.6 Custo de Aquisição ....................................................... 464
9.6.2.7 Custos Operacionais ..................................................... 464
9.6.2.8 Vida Útil ...................................................................... 464
9.6.2.9 Tipos de Medidor de Vazão ............................................ 464
9.6.2.9.1 Medidor de Hélice ......................................................... 464
9.6.2.9.2 “Tubos de Fluxo” ......................................................... 466
9.6.2.9.3 Medidores de Vazão de Pitot .......................................... 468
9.6.2.9.4 Medidores de Vazão Ultra-Sônicos .................................. 469
9.6.2.9.5 Medidores de Vazão Magnéticos .................................... 471
9.6.3 Medidor de Vazão em Condutos Abertos .......................................... 472
9.6.3.1 Vertedouros ................................................................. 473
9.6.3.2 Calhas de Aferição de Parshall ....................................... 473
9.6.3.3 Medição Ultra-Sônica de Vazão em Seções de Canal ......... 474
9.6.3.4 Calhas Inclinadas .......................................................... 475
9.6.3.5 Medidores de Fluxo ....................................................... 475
9.7 Sistemas de Energia Elétrica de Emergência ................................................... 476

10 DESCRIÇÃO DA PARTE ELÉTRICA ........................................................................ 479


10.1 Sistema de Energia Elétrica .......................................................................... 479
10.2 Subestações .............................................................................................. 482
10.2.1 Localização e Disposição de Grandes Estações de Bombeamento ......... 482

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Elaboração de Projetos de Irrigação

10.2.2 Transformadores para as Grandes Estações de Bombeamento ............. 483


10.2.3 Disjuntores ................................................................................... 486
10.2.4 Proteção contra Descargas Elétricas de Origem Atmosférica ............... 486
10.2.5 Localização e Disposição de Pequenas Estações de Bombeamento ....... 486
10.3 Estações de Bombeamento .......................................................................... 487
10.3.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 487
10.3.2 Sala de Controle ............................................................................ 487
10.3.3 Equipamentos Diversos .................................................................. 487
10.3.4 Barramento de Alimentação do Motor .............................................. 488
10.3.5 Equipamento de Proteção para Motores de Corrente Alternada ............ 489
10.3.6 Cabos de Força e de Comando ........................................................ 491
10.3.7 Resumo ....................................................................................... 493
10.4 Sistemas de Comando e Controle das Unidades ............................................. 495
10.4.1 Esquemas de Controle .................................................................... 495
10.4.2 Controle dos Motores de Inducção ................................................... 495
10.4.3 Comando dos Motores Síncronos .................................................... 496
10.4.4 Excitação para Motores Síncronos ................................................... 496
10.4.5 Unidade de Bombeamento de Velocidade Ajustável ............................ 496
10.4.6 Elementos do Controle de Motores .................................................. 497
10.4.7 Controladores Programáveis ............................................................ 498
10.4.8 Equipamento de Aterramento Neutro de Motores ............................... 499
10.4.9 Controle do Equipamento Auxiliar .................................................... 499
10.5 Equipamento do Sistema de Serviços Auxiliares ............................................. 500
10.5.1 Alimentação em Corrente Alternada ................................................. 500
10.5.2 Alimentadores de Corrente Contínua ................................................ 501
10.5.3 Conjunto Motor-Gerador de Emergência ........................................... 501
10.6 Métodos de Aterramento ............................................................................. 501
10.6.1 Aspectos Gerais ............................................................................ 501
10.6.2 Projetos de Aterramento ................................................................. 502
10.6.3 Resistência de Terra ...................................................................... 504
10.6.4 Aterramento de Estações de Bombeamento ...................................... 505
10.6.5 Aterramento de Subestações .......................................................... 507
10.6.6 Aterramento de Instalações Isoladas ................................................ 509

11 DRENOS ............................................................................................................ 510


11.1 Aspectos Gerais ......................................................................................... 510
11.2 Tipos de Drenos ......................................................................................... 510
11.2.1 Drenos de Alívio e de Interceptação ................................................. 510
11.2.2 Drenos para Escoamento Superficial em Glebas ................................. 512
11.2.3 Drenos de Proteção ....................................................................... 512
11.2.4 Drenos Coletores ........................................................................... 512
11.2.5 Drenos de Saída ............................................................................ 512
11.3 Considerações Acerca do Projeto ................................................................. 512
11.3.1 Estaqueamento ............................................................................. 513
11.3.2 Seções Típicas .............................................................................. 513
11.3.3 Capacidades de Projeto .................................................................. 513
11.3.4 Velocidade de Escoamento nos Drenos ............................................ 514
11.3.5 Estruturas ..................................................................................... 514
11.3.5.1 Entradas de Drenos ....................................................... 514
11.3.5.2 Transições ................................................................... 517
11.3.5.3 Estruturas de Queda ..................................................... 517
11.3.5.4 Cruzamento de Canais e Estradas ................................... 517
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 518

12 ESTRADAS DE RODAGEM ................................................................................... 519


12.1 Aspectos Gerais ......................................................................................... 519

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Elaboração de Projetos de Irrigação

12.2 Considerações Acerca do Projeto ................................................................. 519


12.2.1 Velocidade de Projeto .................................................................... 519
12.2.2 Projeto Geométrico ........................................................................ 520
12.2.3 Superelevação .............................................................................. 520
12.2.4 Distância de Visibilidade ................................................................. 520
12.2.5 Superfície de Rolamento ................................................................. 521
12.2.6 Largura da Plataforma .................................................................... 521

13 DIQUES DE PROTEÇÃO ....................................................................................... 523


13.1 Aspectos Gerais ......................................................................................... 523
13.2 Considerações Acerca do Projeto ................................................................. 523
13.3 Fundações ................................................................................................. 523
13.4 Materiais para os Aterros ............................................................................ 524
13.5 Resumo .................................................................................................... 524

14 RELATÓRIOS DO PROJETO ................................................................................. 525


14.1 Aspectos Gerais ......................................................................................... 525
14.2 “Resumo do Projeto” .................................................................................. 525
14.3 “Considerações Construtivas” ...................................................................... 526
14.4 “Manual de Operação e Manutenção” ........................................................... 526
14.4.1 Minuta e Versão Final .................................................................... 527

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Elaboração de Projetos de Irrigação

INTRODUÇÃO

1.1 Objetivo do MANUAL

O objetivo do MANUAL é apresentar procedimentos simples e eficazes para serem


utilizados pelos órgãos federais, estaduais e locais, por organizações privadas e por fir-
mas de consultoria, no desenvolvimento de projetos de irrigação no Brasil. Não pretende
apresentar discussões teóricas acerca de mecânica de fluidos, análise estrutural ou outras
questões técnicas. Pelo contrário, o MANUAL apresenta diretrizes e critérios, algumas
vezes normas empíricas, que visam a auxiliar os engenheiros na elaboração de projetos
adequados às diversas estruturas que compõem os projetos de irrigação.

O “Bureau” tem mais de 100 anos de experiência em planejamento, elaboração,


construção e operação de projetos de irrigação no Oeste dos Estados Unidos. O objetivo
deste MANUAL é tentar passar essa experiência de maneira clara, concisa e direta; incor-
porando a experiência do “Bureau” em elaborar projetos no Brasil e dentro da realidade
brasileira. O MANUAL, portanto, está adaptado às condições brasileiras e à maneira bra-
sileira de elaborar projetos. Os critérios da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) e as diretrizes oficiais foram incorporados, assim como os critérios do “Bureau”
julgados pertinentes.

O MANUAL não pretende constituir um conjunto rígido de normas. Pelo contrário,


apresenta diversas alternativas de projeto, o que dá considerável liberdade na seleção de
tipos de instalações, estruturas e equipamentos, para cada obra e/ou cliente em particu-
lar.

1.2 Níveis de Projeto

Conforme descrito no “Manual de Planejamento Geral de Projetos de Irrigação”, os


projetos seguem diversas etapas de planejamento. A elaboração dos projetos, por sua
vez, também passa por diversos níveis, que se correlacionam com as etapas de planeja-
mento:

„ Estudos Regionais e de Pré-Viabilidade;


„ Estudos de Viabilidade;
„ Projeto Básico;
„ Dossiê de Licitação das Obras Civis;
„ Dossiê de Licitação dos Equipamentos Eletromecânicos;
„ Projeto Executivo;
„ Projeto “As Built”.

A exposição a seguir apresenta uma idéia geral dos diversos níveis de planejamento
do projeto e dos níveis de elaboração de projeto a eles associados.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

1.2.1 Estudos Regionais (Plano Diretor) e Estudos de Pré-Viabilidade

A maior parte do planejamento é desenvolvido nos estudos regionais e de pré-


viabilidade. Nos estudos regionais, são identificadas áreas com potencial para agricultura
irrigada, as quais são priorizadas e selecionadas para consideração no estudo de pré-
viabilidade. Os conceitos básicos do projeto, como pontos de armazenamento e de desvio
de água, localização das instalações principais, área a ser irrigada, métodos de irrigação,
tipo de projeto, esquemas gerais de parcelamento e disposição geral da rede de distribui-
ção de água, deverão ser definidos no nível de pré-viabilidade, assim como verificados no
estudo de viabilidade, quando houver dados mais precisos disponíveis.

Nos estudos regionais e de pré-viabilidade, muito pouco é projetado. São efetuados


leiautes preliminares das principais estruturas do projeto, a partir das plantas topográficas
existentes. O custo das grandes instalações de projeto é avaliado por meio de curvas e
tabelas de custos desenvolvidos para projetos similares. No caso dos sistemas secundários
e parcelares, utilizam-se valores de custo por hectare de projetos em áreas similares, ajus-
tados de modo a refletir as características específicas do projeto que está sendo considera-
do. Esses custos por hectare são empregados, juntamente com as estimativas de custo
desenvolvidas para as principais instalações, para computar o custo total do projeto.

1.2.2 Estudos de Viabilidade

O objetivo do estudo de viabilidade é detalhar e aprimorar o plano ou planos selecio-


nados no estudo de pré-viabilidade e determinar se o plano selecionado é técnica e econo-
micamente factível. Uma vez que o estudo de viabilidade é muito mais detalhado do que
o de pré-viabilidade, será preciso, durante esta etapa, rever o processo de seleção do
plano elaborado na etapa anterior, a fim de garantir sua adequabilidade.

No estudo de viabilidade, são avaliadas diversas alternativas, como o número e os


tipos de bomba, a configuração dos barriletes e das adutoras de recalque, os tipos de
sistemas de controle de transientes hidráulicos, os materiais de revestimento de canais, o
detalhamento do leiaute dos canais e das tubulações, os materiais das tubulações, os
conceitos de válvula, os tipos de comportas de controle de água, a localização e os tipos
de vertedouros, os conceitos de automação, etc. O processo de otimização do sistema
passa pela avaliação e o detalhamento dos diversos tipos de alternativas. A avaliação das
alternativas exige dados topográficos, hidrológicos, geológicos, geofísicos e geotécnicos
detalhados, coletados na área do projeto, assim como grande competência técnica em
engenharia (vide Capítulo 2, para uma descrição dos dados e requisitos de leiaute de
sistema para os estudos de viabilidade e elaboração do projeto básico).

No estudo de viabilidade, preparam-se projetos preliminares para as principais es-


truturas do projeto de irrigação e para o sistema de distribuição, incluindo alguns setores
hidráulicos, de forma amostral. As estimativas de custo baseiam-se em quantidades de-
terminadas a partir dos anteprojetos, e os custos unitários são desenvolvidos e ajustados
com base em projetos similares.

No Brasil, convencionou-se agrupar as unidades básicas de irrigação (parcelas) em


setores hidráulicos, que normalmente abrangem entre 200 e 500 hectares, embora, em
alguns projetos, tenham atingido até 1.500 hectares, ou mais. Com frequência, os seto-
res hidráulicos são servidos por canais secundários, embora também possam receber
água de um canal principal. Dentro dos setores, a distribuição às parcelas individuais é
efetuada por tubulações pressurizadas ou por canais terciários e quaternários. Anterior-
mente, os projetos de irrigação por aspersão eram projetados com setores hidráulicos
pressurizados, e os canais terciários e quaternários não eram muito utilizados. Entretanto,
recentemente, alguns projetos de aspersão foram projetados e construídos com canais
terciários e quaternários (em certos casos, usando também tubos de baixa pressão), a fim

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Elaboração de Projetos de Irrigação

de proporcionar maior flexibilidade e delegar maior responsabilidade aos irrigantes do


projeto. Nestes projetos, a pressurização é providenciada pelo agricultor e não pelo projeto.

No estudo de viabilidade, são desenvolvidos projetos preliminares para áreas pa-


drão dos sistemas parcelares típicos e dos setores hidráulicos, na qual são baseadas as
estimativas de custo. Os anteprojetos dos sistemas parcelares e as estimativas de custo
são realizados, mesmo quando estes sistemas são de responsabilidade dos agricultores e
não parte do projeto, de modo a se obter uma estimativa de custo total do desenvolvi-
mento da irrigação. A partir dos custos estimados para as parcelas e os setores hidráuli-
cos, em áreas padrão, estima-se o custo por hectare para avaliar o custo total da área do
projeto.

1.2.3 Projetos Básicos

Neste MANUAL, os Projetos Básicos são considerados projetos com bastante deta-
lhe. Anteriormente, no Brasil, costumava-se deixar o maior esforço de elaboração de
projeto final para os Projetos Executivos. Uma vez que as propostas apresentadas nas
licitações da construção das obras são baseadas nos Projetos Básicos, a falta de detalha-
mento neste nível tem resultado em custos supra-orçamentários significativos, durante a
construção. Portanto, o “Bureau” recomenda que os Projetos Básicos sejam detalhados,
com base em dados topográficos, hidrológicos, geológicos, geofísicos e geotécnicos mi-
nuciosos, a fim de minimizar a ocorrência de custos para além do previsto e mudanças
significativas no projeto na etapa de construção.

O Projeto Básico é composto por projetos individuais para todas as estruturas e


sistemas, incluindo todos os setores hidráulicos. Também são elaborados projetos parce-
lares que incluem diferentes tipos de sistema e configurações, com definições detalhadas
do equipamento-padrão necessário. Estes projetos parcelares são desenvolvidos mesmo
quando constituem responsabilidade dos agricultores e não fazem parte do projeto, a fim
de se estimar os custos totais do desenvolvimento da irrigação. Também são projetados
as dimensões das estruturas e a arquitetura, as seções de canal, o traçado em planta e os
perfis longitudinais dos canais e das tubulações. Os projetos resultantes são suficiente-
mente detalhados para permitir a estimativa do volume altamente confiável dos quantita-
tivos de materiais a serem fornecidos e de serviços a serem realizados, assim como do
equipamento a ser instalado.

1.2.4 Dossiê de Licitação das Obras Civis, e Dossiê de Licitação dos Equipamentos
Eletromecânicos

Os dossiês de licitação são conjuntos de documentos fornecidos aos Concorrentes


(para obras civis, fornecimento e/ou montagem de equipamentos eletromecânicos), du-
rante o processo de licitação. O dossiê, normalmente, inclui um edital, termos de referên-
cia, minuta do contrato, resumo do projeto, desenhos, planilhas de quantitativos e
especificações técnicas. Quando total ou parcialmente financiado por órgãos internacio-
nais, é, normalmente, requerida a preparação dos dossiês em inglês.

É necessário observar que o processo usual de licitação exige um conjunto de


desenhos, planilhas e especificações para as obras de construção civil e um outro para o
fornecimento de equipamentos eletromecânicos a serem instalados. Em geral, os equipa-
mentos são agrupados em lotes, de maneira que cada lote possa ser provido por um
fornecedor diferente; entretanto, se tiver condições, cada fornecedor poderá atender a
dois ou mais lotes. São preparadas especificações separadas para a instalação de grandes
equipamentos mecânicos e elétricos e para a instalação de tubulações. Várias combina-
ções de contratos individuais podem ser utilizadas. Por exemplo, a instalação de tubula-
ções pode ser incluída nas obras de construção civil e a instalação de bombas e motores,
no contrato de fornecimento.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

1.2.5 Projetos Executivos

No Projeto Executivo é preparado um conjunto completo de desenhos para


construção, no qual devem estar incluídos, entre outros, os de forma, armadura e funda-
ção das estruturas de concreto, e os de detalhamento e arranjo dos equipamentos
eletromecânicos nas estruturas em que estão inseridos. No Projeto Executivo, cada par-
cela individual de terra é identificada, com detalhes completos das tubulações, das cone-
xões e dos acessórios requeridos.

Em geral, os Projetos Executivos são preparados simultaneamente com os estágios


iniciais da construção da obra. Apoiado num Projeto Básico bem elaborado, o Projeto
Executivo será desenvolvido com base em levantamentos topográficos e investigações
geológicas/geotécnicas completas que permitam uma otimização sensível das obras civis
e um detalhamento adequado dos equipamentos eletromecânicos de acordo com os for-
necedores.

1.3 Escopo do MANUAL

Existem dois elementos básicos necessários na elaboração de projetos: os dados


básicos e os critérios do projeto. Os dados básicos de projeto são os valores numéricos e
as informações específicas ao projeto, como a topografia, os dados geológicos, geotécnicos
e hidrológicos, as demandas de água para irrigação, e a capacidade e os requisitos de
pressão do sistema de irrigação a ser implantado. Os critérios que incluem os parâmetros
do projeto são o modo como os dados serão utilizados na elaboração do projeto. Dentre
os exemplos de critérios de projeto, destacam-se: inclinações permitidas para os taludes
laterais e espessura mínima do revestimento dos canais, tipos de curva e de conexões
aceitáveis para as tubulações e rotações admissíveis para as bombas e os motores.

Este MANUAL está organizado em 14 capítulos. O Capítulo 1 descreve o objetivo e


a abrangência do MANUAL e inclui, para fins informativos, uma discussão acerca dos
diversos níveis de projetos preparados durante o desenvolvimento de um projeto de irriga-
ção. O conhecimento sobre os vários níveis de projeto é essencial para compreender o
esforço envolvido no desenvolvimento de projetos de irrigação no Brasil.

O Capítulo 2 aborda os requisitos de dados de projeto e de leiaute do sistema, que


são os valores numéricos e as informações necessárias antes de se iniciar o trabalho de
elaboração de um projeto detalhado. Neste capítulo, recomenda-se a preparação, pela
firma de consultoria que está elaborando o projeto, de um documento separado, intitulado
“Dados Básicos para Projeto e Desenvolvimento do Leiaute do Sistema”, e a revisão e
aprovação desse documento, pelo cliente, antes de se iniciar a elaboração do projeto
detalhado.

O Capítulo 3 fornece uma descrição detalhada das investigações geotécnicas e


geológicas necessárias à elaboração do projeto. Estas investigações são requeridas na
preparação dos dados do projeto e são apresentadas num capítulo separado, devido à sua
relevância. Tendo em vista os problemas de solo com frequência constatados no Brasil, o
Capítulo 3 inclui seções especiais relativas a solos expansivos, dispersivos e colapsíveis,
assim como calcários cáusticos. Será preciso elaborar, revisar e aprovar um relatório
separado referente às investigações geotécnicas e geológicas, antes de iniciar a elabora-
ção do projeto detalhado.

Os Capítulos 4 a 13 descrevem os critérios de projeto recomendados para as prin-


cipais estruturas dos projetos de irrigação, especificamente: captações, estações de
bombeamento, canais, tubulações, reservatórios para regularização e compensação, equi-
pamento mecânico, equipamento elétrico, sistemas de drenagem, estradas e diques. As

Manual de Irrigação Copyright © Bureau of Reclamation 21


Elaboração de Projetos de Irrigação

informações fornecidas nestes capítulos são apresentadas de forma a permitir considerá-


vel flexibilidade na elaboração dos projetos de sistemas e instalações.

No final do MANUAL, o Capítulo 14 discute a necessidade de relatórios de projeto


devidamente elaborados e recomenda a preparação de relatórios separados, ao nível de
Projeto Básico, intitulados “Resumo do Projeto”, “Considerações Construtivas” e “Manu-
al de Operação e Manutenção”.

1.4 “Eficácia de Custos”

A “eficácia de custos” é um conceito básico que deve ser considerado em todos os


níveis de elaboração de projetos. A “eficácia de custos” é definida como o processo pelo
qual o resultado ou o retorno é maximizado em relação ao custo de se fazer alguma coisa.
É um processo de otimização pelo qual os benefícios menos os custos (benefícios líqui-
dos) são maximizados. A maneira de “custo mais eficaz” para se fazer algo é, geralmente
mas nem sempre, a maneira menos dispendiosa. Se, por exemplo, dois projetos diferen-
tes obtiverem resultados idênticos, o projeto de “custo mais eficaz” será o menos
dispendioso. Entretanto, às vezes acontece de uma alternativa ter custos presentes ligei-
ramente mais elevados, mas pode-se prever que atingirá resultados a longo prazo muito
mais satisfatórios que uma outra alternativa com custos menores. Nesse caso, a solução
mais dispendiosa pode ter um “custo mais eficaz”. Deve-se ter cuidado especial em não
se utilizar o conceito de “eficácia de custos” para justificar projetos mais caros, sem
provas numéricas.

Para descrever melhor esse conceito, pode-se tomar como exemplo o caso de bom-
bas. Quando da comparação de alternativas para se avaliar a “eficácia de custos”, devem
ser considerados: o custo inicial de investimento; a eficiência das bombas e o custo de
energia; a utilidade e a durabilidade dos diferentes materiais usados nas bombas e os
custos de reparos, revisões e substituições; os custos operacionais (tais como se a bom-
ba seria operada manual ou automaticamente); e as quantidades e os custos dos materi-
ais utilizados, como óleo, etc. A bomba de “custo mais eficaz” será aquela que satisfizer
as exigências do projeto pelo menor custo, no decorrer da vida útil do projeto.

A engenharia não é somente o processo de elaborar projetos que obtenham certos


resultados, mas sim o processo de criar os projetos que atinjam seus resultados, da forma
mais econômica. Todo engenheiro, seja elétrico, mecânico, geotécnico, civil, hidráulico,
etc., deve executar suas atividades de “design” de modo a garantir, continuadamente, a
elaboração de projetos mais econômica possível.

No corpo deste MANUAL são utilizados os termos “eficácia de custos” e “custo


mais eficaz” que representarão esse conceito de otimização.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

DADOS BÁSICOS PARA


PROJETO E
DESENVOLVIMENTO
DO LEIAUTE DO
SISTEMA
2.1 Dados Básicos do Sistema

2.1.1 Aspectos Gerais

Os dados básicos de projeto são constituídos por todas as informações necessárias


à elaboração do projeto de irrigação. Dependendo do nível do projeto, da qualidade das
informações disponíveis e do tipo e dimensões das instalações, os dados podem ser
coletados a partir de estudos e relatórios existentes, ou através de investigações de
campo e de imagens de satélite.

No Brasil, os projetos são normalmente elaborados por firmas de consultoria, para


clientes que, em geral, são órgãos estaduais ou federais, embora, algumas vezes, sejam
irrigantes ou empresas particulares. Algumas das considerações relativas aos dados do
projeto e ao leiaute do sistema precisam ser determinadas e/ou aprovadas pelo cliente.
Em todos os casos, é necessário submeter à aprovação do cliente pacotes com os dados
do projeto e o leiaute do sistema, antes de iniciar o trabalho detalhado de elaboração do
projeto.

A maioria dos projetos de irrigação inclui sistemas de canais primários e secundári-


os, sistemas de tubulações primárias e secundárias, estações de bombeamento,
subestações elétricas, sistemas de drenagem, poços e sistemas viários. Os requisitos
relativos aos dados do projeto e ao leiaute do sistema, apresentados neste capítulo,
referem-se a todas estas estruturas ou instalações e são descritos para os níveis de pré-
viabilidade e viabilidade e para o projeto básico. Uma vez que o projeto básico é conside-
rado, neste MANUAL, como projeto bastante detalhado, com uma elevada precisão para
evitar mudanças significativas durante a construção, em geral não haverá necessidade de
muitos dados adicionais do projeto para o projeto executivo.

2.1.2 Importância da Integralidade dos Dados

Os dados do projeto precisam ser completos e atender às necessidades dos proje-


tistas. Consistirão de informações relativas a todos os fatores, inclusive dos requisitos
ambientais e de segurança, que podem influenciar o projeto.

2.2 Projeto a Nível de Pré-Viabilidade

2.2.1 Aspectos Gerais

Os projetos a nível de pré-viabilidade são a base para a preparação de planos alter-


nativos e de estimativas preliminares de custo para esses planos. Os projetos em nível de
pré-viabilidade:

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Elaboração de Projetos de Irrigação

„ São necessários para comparação dos planos alternativos;


„ Definem os problemas relativos ao local da obra, a serem investigados durante a
elaboração dos estudos de viabilidade (elementos como profundidade do aluvião;
seqüência, estrutura e competência dos estratos; localização das zonas desagre-
gadas e severidade do problema; e condições dos aqüíferos);
„ Estabelecem uma justificativa para o estudo de viabilidade;
„ Determinam a abrangência das sondagens necessárias à obtenção dos dados re-
queridos num estudo de viabilidade;
„ Fornecem uma base adequada para o plano de trabalho, nos estudos de viabilidade.

2.2.2 Dados do Projeto a Nível de Pré-Viabilidade

Os dados do projeto a nível de pré-viabilidade são obtidos de fontes existentes.


Dentre as fontes de dados, destacam-se:

„ Levantamentos topográficos e geológicos;


„ Estudos geológico-geotécnico;
„ Fotografias aéreas;
„ Estudos pedológicos;
„ Estudos climatológicos;
„ Estudos hidrológicos;
„ Relatórios de planejamento de outros projetos, na mesma área;
„ Projetos e dados de construção de outros projetos, na mesma área;
„ Curvas de custos;
„ Curvas de projetos estruturais.

Só raramente são realizadas investigações de campo neste nível de planejamento,


exceto quando não há dados suficientes a respeito da área do projeto ou existem condi-
ções especiais que exigem tais investigações de campo, para se obter uma compreensão
parcial das condições locais.

2.2.3 Leiaute do Sistema a Nível de Pré-Viabilidade

A nível de pré-viabilidade, os principais elementos do projeto, assim como os siste-


mas de canal principal, tubulações, estradas, drenos e diques são localizados nas plantas
topográficas existentes. Em geral, são utilizadas escalas de 1:25.000 e intervalos entre
as curvas de nível de 5,0m, com valores máximos de 1:50.000 e 10,0m, respectivamen-
te. Maiores informações a respeito do leiaute do sistema nos estudos de pré-viabilidade
podem ser obtidas no “Manual de Planejamento Geral de Projetos de Irrigação”.

2.3 Projeto a Nível de Viabilidade

2.3.1 Aspectos Gerais

Os projetos a nível de viabilidade servem de base para a elaboração das estimativas


de custo e para a definição da alternativa a ser detalhada no Projeto Básico. Os projetos
a nível de viabilidade devem oferecer detalhamento suficiente para a elaboração de esti-
mativas seguras de custo.

No início dos estudos de viabilidade, será necessário determinar o grau de detalha-


mento exigido para sua elaboração. O detalhamento deverá variar conforme a estrutura
ou instalação em questão e sua importância no plano geral. O custo da estrutura ou
instalação é fator importante na definição do grau de detalhamento dos dados do projeto.
No início do processo de planejamento, nem todos os detalhes do estudo serão conheci-
dos. À medida que o estudo prosseguir, poderão ser identificados outros dados indispen-
sáveis ao projeto.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

A equipe responsável pela elaboração dos projetos deverá visitar o local das princi-
pais estruturas incluídas no estudo de viabilidade. A equipe deverá ser composta por
projetistas e especialistas em geologia, geotecnia, projetos estruturais, hidráulica e outras
especialidades técnicas, conforme necessário.

Só deverão ser coletados os dados essenciais ao estudo de viabilidade. Se forem de


qualidade aceitável e dentro do orçamento do projeto, os dados existentes poderão ser
revisados e utilizados, ao invés de se procurarem novos dados. Utilizar-se-ão os métodos
mais econômicos possíveis na obtenção dos dados necessários do projeto, embora seja
indispensável um grau razoável de precisão, assim como coerência dos dados com os
objetivos da investigação.

Os parágrafos a seguir descrevem os dados de elaboração do projeto e das estima-


tivas em nível de viabilidade. Nem todos os itens serão exigidos em cada investigação.

2.3.2 Planta Geral

Elaborar-se-á uma planta com as seguintes informações:

„ Planta-chave (no lado direito superior), indicando a localização da área do projeto no


estado e no município;
„ Localização de todos os elementos importantes do projeto, incluindo canais, tubu-
lações e estações de bombeamento;
„ Núcleos urbanos, rodovias e linhas de serviços públicos;
„ Localização das obras, das estradas de acesso às mesmas;
„ Áreas de empréstimo de materiais de construção naturais e depósitos de bota-fora;
„ Outras áreas existentes ou potenciais, ou elementos de interesse para a elaboração
do projeto, assim como para sua construção, operação ou manutenção, como áreas
de lazer; reservas ecológicas e outras áreas afins; áreas residenciais e comerciais;
áreas de interesse arqueológico, histórico ou paleontológico; áreas de mineração.

A escala da planta geral deverá ser adequada à sua finalidade, de forma a mostrar
claramente os detalhes anteriormente relacionados.

2.3.3 Descrição Geral das Condições Locais

A descrição geral das condições locais deverá incluir os itens relacionados a seguir:

„ Capacidade e limitações do sistema de transporte e da infra-estrutura viária;


„ Disponibilidade de habitação e de outros serviços nos centros urbanos mais próxi-
mos; requisitos para a instalação do canteiro de obra; e necessidade de residências
permanentes, para o pessoal operacional do projeto de irrigação;
„ Disponibilidade ou acessibilidade dos serviços públicos, como abastecimento de
água, rede de esgoto, serviços de telefonia e rede de eletricidade, para a obra e a
subseqüente operação e manutenção do projeto de irrigação;
„ Condições climáticas que afetam a implantação da obra, como índices pluviométricos
e intensidade e distribuição das chuvas; temperaturas, incluindo máximas e míni-
mas; e informações resumidas a respeito dos ventos, incluindo velocidades máxi-
mas e direções predominantes.

2.3.4 Controle Topográfico

Será necessário fazer levantamentos topográficos limitados, para controle vertical


e horizontal. O uso de um sistema de coordenadas, ou sistema de controle vertical local,
é aceitável, embora se recomende referenciá-lo ao sistema nacional ou estadual, quando
possível.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

2.3.5 Plantas Topográficas

Deverão ser preparadas plantas topográficas numa escala e com intervalos entre as
linhas de nível que permitam sua utilização no leiaute do sistema de irrigação. Recomen-
da-se uma escala de aproximadamente 1:10.000 e um intervalo máximo entre as linhas
de nível de 2,5m. Esta escala e intervalo entre as linhas de nível poderá ser maior ou
menor com autorização prévia do CLIENTE.

2.3.6 Leiaute Geral

O leiaute geral (desenhos relativos à disposição geral do projeto) deverá ser preparado
a partir de plantas topográficas e incluir a localização de todos os elementos do projeto,
incluindo estações de bombeamento, reservatórios, tubulações, canais, drenos, estradas
e diques. No caso de tubulações, canais, drenos, estradas e diques, será preciso indicar o
eixo longitudinal e o estacamento dos mesmos, assim como a localização das principais
estruturas ao longo deles, como reservatórios, sifões e pontes. O leiaute deverá estar
acompanhado das dimensões e das capacidades dos diversos sistemas e das estruturas.

2.3.7 Dados das Fundações

A quantidade e o detalhamento dos dados das fundações requeridos nos estudos


de viabilidade variam consideravelmente, devido aos diferentes tamanhos e complexida-
des dos elementos dos projetos de irrigação. Os dados deverão ser suficientes para permi-
tir que o projetista determine o tipo de fundação necessário a cada sistema ou estrutura
e identifique os principais problemas da mesma. Os itens relacionados a seguir deverão
ser considerados durante a preparação dos dados referentes às fundações:

„ Resumo da geologia geral da área;


„ Descrição e interpretação da geologia do sítio, incluindo as propriedades físicas e a
estrutura geológica dos estratos das fundações, os níveis freáticos sazonais, as
condições sísmicas, áreas existentes ou potenciais de deslizamento e interpreta-
ções geológicas de engenharia, quando pertinentes;
„ Registros geológicos de todas as sondagens subsuperficiais; a localização e a cota
de todos os furos de sondagem deverão basear-se no mesmo sistema de controle
topográfico;
„ Informações relativas à geologia (plotadas em plantas topográficos do local) mos-
trando a geologia superficial e a localização dos cortes geológicos, dos perfis de
solo e de todas as sondagens subsuperficiais;
„ Seções geológicas – com perfis de solo, quando exigidos —, mostrando as condi-
ções da subsuperfície, conhecidas e interpretadas;
„ Amostras dos estratos das fundações, conforme necessário, para exame visual ou
ensaios de laboratório;
„ Características químicas das águas subterrâneas e das águas de irrigação;
„ Condições das águas subterrâneas, incluindo fontes, localização, profundidade, pres-
sões artesianas existentes e gradientes hidráulicos;
„ Solos:
f classificação, de acordo com o Sistema Unificado de Classificação de Solos,
para cada estrato importante;
f descrição do estado indeformado do solo, em cada estrato importante;
f esboço da extensão lateral e da espessura dos estratos críticos, competen-
tes, fracos ou potencialmente instáveis das fundações e dos taludes de esca-
vação, especialmente aqueles permanentemente expostos;
f estimativa, ou determinação por ensaios simples, das propriedades de enge-
nharia significativas dos diversos estratos, como densidade, permeabilidade,
resistência ao cisalhamento e tendência ao colapso ou à expansão, assim
como do efeito da carga estrutural, das mudanças no teor de umidade, e das

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Elaboração de Projetos de Irrigação

mudanças nessas propriedades devido a flutuações ou ao aumento perma-


nente do lençol freático.

„ Rocha:
f descrição do contorno das superfícies da rocha, espessura das zonas altera-
das, fraturadas, cavernosas ou de algum outro modo alteradas, assim como
de demais fraquezas e descontinuidades estruturais;
f esboço das zonas estruturalmente fracas, permeáveis ou potencialmente ins-
táveis e dos estratos de rocha mole e/ou solo nas fundações e nos taludes de
escavação, em particular aqueles permanentemente expostos;
f estimativa, ou determinação por ensaios simples, das propriedades de enge-
nharia significativas da rocha, como densidade, absorção, permeabilidade,
resistência ao cisalhamento e à deformação, assim como do efeito da carga
estrutural, das mudanças no teor de umidade, e das mudanças nessas proprie-
dades devido às flutuações ou ao aumento permanente do lençol freático.
„ Fatores relativos aos métodos e procedimentos de revestimento de canais.

2.3.8 Materiais de Construção

Os dados do projeto relativos aos materiais de construção deverão incluir:

„ Localização, distância, quantidades disponíveis, propriedades e facilidade de extra-


ção de materiais de empréstimo apropriados para aterros e barragens permeáveis e
impermeáveis, agregado de concreto e “riprap”.

2.3.9 Estações de Bombeamento

Os dados de projeto relativos às estações de bombeamento deverão incluir:

„ Flutuações periódicas anuais dos níveis de água da fonte (rio ou reservatório),


indicadas em tabelas ou quadros que forneçam informações resumidas referentes a
anos normais, secos e úmidos; ação prevista das ondas;
„ Níveis de água máximos durante enchentes (normalmente, nas grandes estações
de bombeamento, oferece-se proteção contra enchentes com período de recorrência
de 25 anos, durante a construção, e com período de recorrência de 100 anos,
durante o funcionamento); ação prevista das ondas;
„ Ocorrência prevista e volume de siltagem, sedimentação e detritos, e possível efei-
to nas captações das estações de bombeamento; necessidade de instalações para
remoção de sedimentos e cotas mínimas das grades e das passarelas da comporta;
„ Níveis máximos de água previstos e possibilidade de controle desses níveis median-
te instalações de regularização à montante ou à jusante, nos casos de esgotamento
de uma área durante a construção de uma estação adjacente a um rio ou reservató-
rio;
„ Fatores relacionados à seleção de estações de bombeamento internas ou externas,
flutuantes ou fixas;
„ Tipo e volume de detritos previstos na captação das estações de bombeamento;
„ Requisitos (anual, mensal, diário) de água do projeto, capacidade inicial e final,
curva de capacidade-duração;
„ Perfil, alinhamento, assim como condições e requisitos de saída das adutoras de
recalque;
„ Localização, capacidade, seção hidráulica e cotas da superfície da água dos canais
de captação e de descarga;
„ Localização e orientação das linhas de transmissão de energia elétrica existentes e
propostas, que terminam na estação de bombeamento;
„ Fontes e tensão da energia elétrica a ser utilizada no bombeamento; nome da con-
cessionária de energia elétrica, restrições relativas a quedas de tensão causadas

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pela iniciação do bombeamento e número de partidas ou iniciações, limitações do


fator de potência e distância até as fontes; requisitos de impedância mínima e
máxima do sistema; e quaisquer limitações operacionais impostas pela concessio-
nária de energia elétrica ou pelos governos federal ou estadual, como restrições à
operação em períodos fora-de-pico;
„ Natureza das operações, isto é, manual, semi-automática, completamente automá-
tica, ou controladas por meio de centro de operações, por telemetria;
„ Fatores relacionados ao número de bombas e à sua capacidade;
„ Requisitos de medição da descarga da estação de bombeamento;
„ Necessidade de inclusão de oficinas mecânicas, grandes ou pequenas, ou de pátios
de serviço, nas estações de bombeamento;
„ Futuros planos de expansão da capacidade de bombeamento, quando aplicável.

2.3.10 Canais Principal e Secundários e Tubulações

2.3.10.1 Canais e Tubulações

Os itens relacionados a seguir deverão ser incluídos entre os dados do projeto


relativos aos canais e às tubulações:

„ Para as principais sub-áreas do projeto de irrigação:


f requisitos sazonais de água, em geral expressos em metros cúbicos, por
hectare produtivo, por ano;
f requisitos mensais de água, expressos como um percentual dos requisitos
sazonais, para cada mês da estação irrigada.

„ Para todos os pontos no sistema de distribuição onde mudar a vazão e para todas
as tomadas será indispensável fornecer os seguintes dados (Observação: Normalmen-
te, é aceitável, nos estudos de viabilidade, projetar sistemas secundários de distribui-
ção, até o nível das tomadas das propriedades, para as áreas demonstrativas típicas,
e não para todo o projeto; portanto, no caso de sistemas secundários, as seguintes
informações precisarão ser fornecidas somente para as áreas demonstrativas):
f vazão do canal ou da tubulação, em litros/segundo, requerida para atender à
demanda de água à jusante do ponto em questão; este cálculo deverá se basear
nos critérios de dimensionamento do sistema do projeto de irrigação (ver Anexo
5 do “Manual de Planejamento Geral de Projetos de Irrigação”) e nos requisitos
de uso doméstico, se forem incluídos;
f cotas do nível de água requerida (para as tubulações, quando a água for dis-
tribuída sob pressão, será preciso fornecer a pressão mínima da água em KPa).

„ Requisitos relativos aos métodos de controle e medição ao longo do sistema e nas


tomadas das propriedades, como tipo de comporta, tipo de operação (manual,
automatizada, controle por centro de operações, medidores, válvulas de controle e
válvulas redutoras de pressão; se for selecionado o controle por centro de opera-
ções, deverá ser fornecida a localização do centro de operações).
„ Localização e descrição de todas as principais estruturas (sifões, pontes, reservatóri-
os, medidores, estações de bombeamento, chaminé de equilíbrio, etc.), ao longo de
canais e tubulações, mostrando estaqueamento, tipo, tamanho, capacidade, etc.
„ Medidas necessárias para o controle e a filtragem dos sedimentos.
„ Futuros planos de expansão do sistema, quando aplicável.

2.3.10.2 Canais

Para os canais:

„ Necessidade de estruturas de drenagem transversal e vertedouros, incluindo a loca-


lização e a capacidade de cada estrutura.

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2.3.10.3 Tubulações

Para as tubulações:

„ Cobertura mínima necessária de terra, sobre as tubulações, a qual é definida, em


geral, em função da localização do lençol freático, da profundidade da cultura, da
erodibilidade dos terrenos nos locais de drenagem transversal, etc.;
„ Custo da energia elétrica, a ser utilizado no dimensionamento econômico das tubu-
lações.

2.3.11 Drenos

Os dados do projeto relativos aos drenos deverão incluir:

„ Drenagem superficial natural, histórico de enchentes e localização e características


dos canais naturais de drenagem;
„ Registros de precipitação e de escoamento fluvial nos drenos locais e adjacentes;
„ Curvas de área x vazão para enchentes com períodos de recorrência de 5, 10 e 25
anos, a serem usadas para projetar os drenos (em geral, os drenos são projetados
para enchentes com período de recorrência de 5 anos, nas áreas irrigadas, e com
período de recorrência de 25 anos, na proteção de canais e estruturas de drenagem
transversal de canais; será possível utilizar períodos de recorrência menores ou
maiores, dependendo de considerações econômicas);
„ Estabilidade dos canais naturais que recebem o fluxo de drenagem;
„ Uso da terra e práticas de irrigação previstos;
„ Vazão estimada por hectare, a ser escoada pelo sistema de drenagem, incluindo a
descarga de enchente, as perdas de água dos canais, e escoamento das terras
irrigadas (perdas resultantes do escoamento superficial e da percolação profunda);
„ Hidrogramas típicos mostrando a variação do nível d’água em poços de observação
selecionados;
„ Avaliação geral da drenabilidade e dos requisitos de drenagem sub-superficial;
„ Plantas preliminares para os sistemas de drenagem superficial e sub-superficial,
incluindo tipos de drenos a serem instalados, esboço geral das áreas que poderão
exigir tratamento especial e quaisquer problemas de escavação ou condições de
trabalho excepcionais;
„ Necessidades de correlação e integração dos sistemas de drenagem do projeto com
os drenos das propriedades, os canais, o sistema de defesa contra cheias e as
obras de proteção não relacionadas ao projeto.

2.3.12 Considerações Relativas ao Meio Ambiente

Os dados do projeto deverão incluir, pelo menos, uma breve descrição dos elemen-
tos ambientais que podem ser afetados pelo projeto proposto.

A ênfase será fornecer aos projetistas várias alternativas para o desenvolvimento


dos projetos estruturais nas áreas sensíveis, do ponto de vista ambiental. Os itens relacio-
nados a seguir deverão ser considerados na compilação dos dados do projeto:

„ Sítios de importância histórica e/ou arqueológica;


„ Sítios com populações de espécies de flora e fauna significativas e importantes;
„ Áreas de reserva existentes ou propostas (para a preservação histórica, arqueológica,
da flora ou da fauna);
„ Requisitos de manutenção dos padrões de qualidade da água, incluindo supres-
são de nitrogênio, níveis adequados de oxigênio e controle de turbidez, durante a
construção;

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„ Impacto do transporte dos materiais de construção na rede viária existente, incluin-


do-se a consideração de fatores como congestionamentos de trânsito, efeitos so-
bre as condições das estradas, poluição do ar, etc.;
„ Necessidade de controle de erosão e sedimentação;
„ Requisitos arquitetônicos das estruturas;
„ Requisitos relativos à recuperação de áreas de empréstimo e à proteção dos taludes
de bota-fora com espécies vegetais;
„ Requisitos de revisão dos projetos por órgãos ligados às questões ambientais;
„ Considerações relativas aos padrões de controle de poluição das águas, poluição
sonora e diminuição de poeira; e às áreas que requerem tratamento paisagístico,
substituição da camada de terra vegetal, semeadura, etc.;
„ Necessidades e procedimentos a serem incorporados no projeto para prevenir a
ocorrência de doenças normalmente relacionadas à água, como esquistossomose.

2.3.13 Dados Diversos

Entre os dados diversos requeridos nos estudos de viabilidade, destacam-se:

„ Localização e dados das fontes de energia elétrica;


„ Descrição de pontes e outras estruturas significativas não incluídas nos dados exi-
gidos, mencionados anteriormente, com informações quanto a dimensões, capaci-
dades, tipos e atuais normas de projeto;
„ Requisitos de segurança pública;
„ Para as estradas, velocidades projetadas, limites de declividades e curvas, limites
de carga e corte típico do leito de rolamento, mostrando a largura, a espessura e o
tipo de pavimentação;
„ Para os diques, altura, largura na crista, descrição do material disponível e da sua
localização, níveis d’água para períodos de recorrência de projeto (em geral, os
diques são projetados para proteção contra enchentes com período de recorrência
de 100 anos, embora possam ser utilizados períodos maiores ou menores, depen-
dendo de considerações econômicas), velocidade de fluxo e alcance da onda para
as águas fora dos diques;
„ Para a maioria das subestações, tensões de entrada e de saída; número de linhas de
transmissão conectadas em cada tensão; capacidade das instalações, em quilovolt-
ampère; e tipo de operação (manual, local, automática, ou controladas por centro
de operações). As edificações para serviço e manutenção, assim como as funções
operacionais a serem controladas dos edifícios. Para estruturas mais complexas, o
projetista deverá determinar quais os detalhes específicos requeridos.

2.4 Projeto Básico

2.4.1 Geral

O projeto básico é constituído pelas informações necessárias à execução das obras


e ao fornecimento e à instalação dos equipamentos. O projeto inclui relatórios, especifica-
ções técnicas, desenhos e orçamentos. Os orçamentos incluem as planilhas de quantita-
tivos de todos os serviços, os materiais e os equipamentos, assim como os preços unitá-
rios. No caso de concorrências internacionais, todas essas informações deverão ser
fornecidas em português e em inglês.

Os dados básicos e os requisitos de leiaute do sistema no Projeto Básico são simi-


lares aos exigidos no Estudo de Viabilidade, necessitando-se, no entanto, de informações
mais detalhadas nesta etapa. Os dados do projeto coletados durante o estudo de viabili-
dade deverão ser incorporados aos dados do projeto básico, com as revisões e o
detalhamento adicional necessários, fruto das mudanças na alternativa básica ou no pro-
jeto estrutural.

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2.4.2 Planta Geral

Para o projeto básico, esta planta deverá conter as informações descritas no item
2.3.2.

2.4.3 Descrição Geral

Para o projeto básico, a descrição geral das condições locais deverá conter as
informações apresentadas no item 2.3.3.

2.4.4 Controle Topográfico

Estabelecer-se-á um controle topográfico vertical e horizontal permanente, logo no


início do processo de coleta de dados. Será fixado um sistema de coordenadas, numa
matriz verdadeira norte-sul, com a origem localizada de maneira que os diversos elemen-
tos (incluindo as áreas de empréstimo) de cada estrutura principal estejam num só quadrante
da matriz. Os valores numéricos utilizados para as coordenadas norte-sul e leste-oeste
deverão estar adequadamente separados, a fim de reduzir a possibilidade de erro. Reco-
menda-se referenciar o sistema de coordenadas ao sistema de coordenadas federal ou
estadual. Todos os levantamentos anteriores, incluindo topografia, localização e cotas da
superfície do terreno, locais de sondagens subsuperficiais, deverão ser corrigidos, para
que estejam de acordo com o sistema permanente de controle. Qualquer levantamento
subseqüente, incluindo a localização e as cotas da superfície do terreno nos locais de
sondagens subsuperficiais, deverá basear-se no sistema de controle permanente.

2.4.5 Plantas Topográficas

Deverão ser preparadas plantas topográficas numa escala máxima de 1:5.000, e


com intervalos máximos entre as curvas de nível de 1,0m.

2.4.6 Leiaute Geral

O leiaute geral (desenhos relativos à disposição geral do projeto) deverá ser prepa-
rado a partir de plantas topográficas e deverá incluir a localização de todos os elementos
do projeto, incluindo estações de bombeamento, reservatórios, tubulações, canais, drenos,
estradas e diques. No caso de tubulações, canais, drenos, estradas e diques, será preciso
indicar o eixo longitudinal e o estaqueamento dos mesmos, assim como a localização de
estruturas como sifões, pontes, bueiros, estruturas de controle do nível da água, toma-
das, calhas, quedas, vertedouros, medidores, válvulas, conexões, chaminés de equilíbrio,
tanques, etc. Também serão fornecidas informações relativas às dimensões e às vazões
dos diferentes sistemas e das estruturas.

Os polígonos dos leiautes, assim como as seções transversais, devem ser levanta-
dos no campo, e as plantas topográficas devem ser ajustadas, quando necessário.

2.4.7 Plantas e Perfis

2.4.7.1 Geral

Além do leiaute geral, o projeto básico requer a elaboração de plantas e perfis de


canais, tubulações e diques. As plantas deverão mostrar todos os detalhes que constam
do leiaute geral, embora numa escala diferente. As plantas e os perfis deverão indicar
estruturas, estradas, drenos transversais, áreas de empréstimo, localização e registros
dos furos de sondagem, dados de alinhamento e de curvas, estaqueamento e curvas de
nível.

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2.4.7.2 Canais e Drenos

„ As plantas deverão ter as mesmas informações apresentadas no leiaute geral;


„ Os perfis deverão indicar a cota de fundo, níveis de água dinâmicos e estáticos no
canal, superfície original do terreno e propriedades hidráulicas;
„ Quando a base topográfica está em escala de 1:2.000, é recomendável uma escala
horizontal máxima de 1:2.000, escala vertical máxima de 1:100 e intervalo máximo
entre curvas de nível de 1,0m;
„ Quando a base topográfica está em escala de 1:5.000, pode-se optar por uma
escala de 1:5.000, com a aprovação prévia do CLIENTE;
„ Localização, tipo e dimensões nominais de todas as estruturas previstas (sifões,
pontes, bueiros, estruturas de regularização do nível da água, tomadas, calhas,
quedas, vertedouros, medidores, etc);
„ Localização de linhas de infra-estrutura de serviços públicos, drenagem natural, ou
outros elementos físicos que se interceptem;
„ Localização de valas e diques de proteção.

2.4.7.3 Tubulações Primárias

„ As plantas deverão ter as mesmas informações apresentadas no leiaute geral;


„ Os perfis deverão indicar as cotas da linha central, a superfície original do terreno,
os gradientes hidráulicos operacionais e os gradientes hidráulicos máximo e mínimo
resultantes dos transientes hidráulicos;
„ Quando a base topográfica está em escala de 1:2.000, é recomendável uma escala
horizontal máxima de 1:2.000, escala vertical máxima de 1:200, intervalo entre
linhas de nível de 1,0m, em terrenos planos, e intervalos de 5,0m, em terrenos
íngremes;
„ Quando a base topográfica está em escala de 1:5.000, pode-se optar por uma
escala de 1:5.000, com a aprovação prévia do cliente;
„ Localização, tipo e dimensões nominais de todos os acessórios requeridos (vento-
sas, válvulas de descarga, válvulas de seccionalização, conexões, chaminés de
equilíbrio, tanques hidropneumáticos, medidores, etc.);
„ Localização de infra-estrutura de serviços públicos, drenagem natural, ou outros
elementos físicos, que se interceptem.

2.4.7.4 Tubulações Secundárias

„ As tubulações secundárias deverão ser indicadas no leiaute geral; as plantas e os


perfis poderão ser apresentados no projeto básico ou nos desenhos “as-built”, mas
sempre deverão ser preparados de maneira similar e conter os mesmos tipos de
informações descritos para as tubulações principais.

2.4.7.5 Estradas

„ As plantas deverão ter as mesmas informações apresentadas no leiaute geral;


„ Os perfis deverão indicar o novo leito da estrada (com informações completas acer-
ca de declives, cotas e curvas verticais), greide natural do terreno e greide das
estradas existentes num raio de 200m, em cada direção, dos pontos de interseção;
„ Quando a base topográfica está em escala de 1:2.000, é recomendável uma escala
horizontal máxima de 1:2.000, escala vertical máxima de 1:200, intervalo entre
linhas de nível de 1,0m, em terrenos planos, e intervalos de 5,0m, em terrenos
íngremes;
„ Quando a base topográfica está de 1:5.000, pode-se optar por uma escala de
1:5.000, com a aprovação prévia do CLIENTE;
„ Localização, tipo e dimensões nominais de todas as obras-de-arte especiais neces-
sárias requeridas (pontes, bueiros, etc.);

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„ Localização de infra-estrutura de serviços públicos, drenagem natural, ou outros


elementos físicos, que se interceptem;
„ Localização de valas e diques de proteção.

2.4.7.6 Diques

„ As plantas deverão conter as mesmas informações apresentadas no leiaute geral.


„ Os perfis deverão indicar as cotas da superfície do terreno, o fundo do dique, o topo
do dique e o nível máximo da água;
„ Quando a base topográfica está em escala de 1:2.000, é recomendável uma escala
horizontal máxima de 1:2.000, escala vertical máxima de 1:2.000, intervalo entre
linhas de nível de 1,0m, em terrenos planos, e intervalos de 5,0m, em terrenos
íngremes;
„ Quando a base topográfica está em escala de 1:5.000, pode-se optar por uma
escala de 1:5.000, com a aprovação prévia do CLIENTE;
„ Localização, tipo e dimensões nominais de todas as obra-de-arte correntes neces-
sárias (saídas, bueiros, etc.);
„ Localização de infra-estruturas de serviço público, drenagem natural, ou outros
elementos físicos, que se interceptem.

2.4.8 Fotografias Aéreas

Recomenda-se incluir no projeto básico fotografias aéreas (coloridas, se possível)


do local de todas as estações de bombeamento e de outras estruturas principais.

Essas fotografias deverão ser tiradas de locais que mostrem as estruturas propos-
tas da melhor maneira possível, e num ângulo oblíquo de aproximadamente 20 a 30
graus, acima da horizontal. Quando possível, deverão ser indicados os pontos de ligação
com os mapas topográficos. Estas fotografias deverão ser tiradas entre 11 e 14 horas, de
maneira que a área principal da estrutura proposta não fique na sombra.

2.4.9 Fotografias Coloridas

Recomenda-se anexar fotografias coloridas de todos os elementos vizinhos aos


locais das estruturas propostas, assim como primeiros planos de quaisquer estruturas que
possam afetar os projetos. As fotografias em preto e branco são aceitáveis para as estru-
turas que serão removidas ou demolidas.

2.4.10 Dados das Fundações

O grau de detalhamento dos dados do projeto relacionados a seguir deverá variar


conforme o tipo e as dimensões da estrutura de engenharia. As características dos mate-
riais das fundações deverão ser descritas de acordo com o tipo de estrutura a ser projetada.

2.4.10.1 Dados Geológicos

„ Resumo da geologia geral da área;


„ Descrição e interpretação da geologia do sítio, incluindo as propriedades físicas e a
estrutura geológica dos estratos das fundações, os níveis freáticos sazonais, a
subsidência do terreno, as condições sísmicas, as áreas existentes ou potenciais de
deslizamento, as áreas de queda de blocos, o escoamento superficial e as interpre-
tações de geologia de engenharia pertinentes à geologia estrutural em questão,
incluindo as condições antecipadas durante a escavação e a construção;
„ Registros geológicos de todas as sondagens subsuperficiais. A localização em coor-
denadas e a cota da superfície do terreno de todos os furos de sondagem deverão
ser corrigidas, se necessário, de acordo com o sistema permanente de controle

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Elaboração de Projetos de Irrigação

topográfico; a localização e a cota de todos os furos de sondagem subseqüentes


deverão basear-se neste sistema permanente de controle topográfico;
„ Uma planta geológica, desenhada sobre a planta topográfica do local, mostrando a
geologia superficial e a localização de cortes geológicos, perfis de solo e todas as
sondagens subsuperficiais;
„ Seções geológicas, com perfis de solo detalhados, deverão ser desenvolvidas, mos-
trando as condições da subsuperfície, conhecidas e interpretadas;
„ Os furos de sondagem deverão ser estendidos para dentro do material das funda-
ções, bem abaixo da base da estrutura; poderão ser efetuados registros geofísicos,
quando necessário, para os furos de sondagem;
„ Fotografias coloridas das estruturas geológicas e topográficas do terreno, que se-
jam pertinentes, incluindo fotografias aéreas, quando disponíveis;
„ Amostras dos estratos das fundações, conforme necessário, para exame visual ou
ensaios de laboratório.

2.4.10.2 Dados de Engenharia

„ Mecânica de Solos:
f classificação, de acordo com o Sistema Unificado de Classificação de Solos,
para cada estrato importante;
f descrição do estado indeformado do solo em cada estrato importante;
f esboço da extensão lateral e da espessura dos estratos críticos, competen-
tes, fracos ou potencialmente instáveis (incluindo minerais sujeitos a
empolamento e conteúdo de gipsita e outros sulfatos, caulinita, montimo-
rilonita, etc.) das fundações e dos taludes de escavação, especialmente aqueles
permanentemente expostos;
f determinação, por meio de ensaios, das propriedades de engenharia significa-
tivas dos diversos estratos, como densidade, permeabilidade, resistência ao
cisalhamento e tendência ao colapso ou à expansão, assim como do efeito da
carga estrutural e das mudanças nessas propriedades devido a flutuações ou
ao aumento permanente do lençol freático;
f determinação, por meio de ensaios, das propriedades corrosivas e do teor de
sulfatos no solo e nos aqüíferos.

„ Rocha:
f um plano topográfico da superfície da rocha; descrição da espessura das
zonas alteradas, fraturadas, cavernosas ou de algum outro modo enfraquecidas,
assim como de outras fraquezas e descontinuidades estruturais;
f esboço das zonas estruturalmente fracas, permeáveis ou potencialmente ins-
táveis e dos estratos de rocha mole e/ou solo das fundações e dos taludes de
escavação, em particular aqueles permanentemente expostos, com atenção
especial para as questões de engenharia, como minerais sujeitos a empola-
mento e conteúdo de gipsita e outros sulfatos, caulinita, montimorilonita,
etc.
f determinação, mediante ensaios, das propriedades de engenharia significati-
vas da rocha, como densidade, absorção, permeabilidade, resistência ao
cisalhamento e à deformação, assim como do efeito da carga estrutural, de
mudanças nessas propriedades devido a flutuações ou ao aumento perma-
nente do lençol freático.

„ Uma planta com profundidades críticas das áreas em que ocorrem argilas, argilitos
xistosos, arenitos, ou outros materiais, indicados os limites de profundidades preju-
diciais à drenagem;
„ Corrosividade do solo e da rocha:
f recomenda-se medir a resistividade elétrica do solo e da rocha na área da
obra, a fim de se determinar se há necessidade de proteção contra a corrosão

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Elaboração de Projetos de Irrigação

de fundações sobre estacas, malha de aterramento elétrico, tubulações de


descarga, tubulações primárias e secundárias, etc.; também deverão ser
efetuadas medições em áreas onde há uma mudança acentuada no tipo de
solo ou rocha, ou nas condições de drenagem ou umidade;
f observar as informações relativas ao desempenho histórico dos materiais de
construção a serem utilizados na área;
f relacionar a localização, a potência e os usos das fontes de corrente contínua
no solo ou na rocha, situados num raio de 500m da estrutura, e acessórios;
se o objetivo da corrente contínua for a proteção catódica, descrever a estru-
tura protegida e sua localização; determinar se existem, na vizinhança, outras
estruturas subterrâneas protegidas, e qual o método de proteção.
„ Fatores relacionados aos métodos e aos procedimentos de revestimento de canais.

2.4.11 Dados dos Materiais de Construção

Além das informações contidas no item 2.3.7, também será preciso apresentar as
que seguem:

„ Classificação de todos os materiais retirados de furos de sondagem, como solos,


rochas, etc., conforme o Sistema Unificado de Classificação de Solos; localização e
extensão do topo rochoso, áreas de lençóis freáticos altos e outras condições
singulares;
„ Relatório dos materiais de solo, com informações completas e detalhadas acerca
das fontes potenciais de solos e rochas que tenham sido selecionadas para exame
final;
„ Fonte de agregados de concreto e fatores relacionados ao tipo de cimento a ser
utilizado, por exemplo, cimento resistente aos sulfatos;
„ Fonte, localização e granulometria de materiais aceitáveis para o revestimento de
estradas e pátios de serviço, e/ou materiais para assentamento das tubulações;
„ Referências ao histórico de serviço dos materiais utilizados anteriormente e aos
resultados das amostragens e das análises, incluindo ensaios anteriores.

2.4.12 Estações de Bombeamento

Além das informações contidas no item 2.3.9, também será preciso fornecer as
que seguem:

„ Fatores relacionados à seleção dos métodos a serem utilizados pelo sistema de


captação da estação para manusear e dispor de detritos, assim como à escolha dos
locais onde os detritos serão depositados;
„ Pressão estática máxima na qual se requer a capacidade máxima de bombeamento
da estação, ou a capacidade mínima que será suficiente na pressão hidráulica má-
xima;
„ Fatores relacionados à seleção dos tipos de tubo para as adutoras de recalque e os
tipos de revestimento externo e interno dos tubos;
„ Custo de oportunidade de capital, custo da energia elétrica utilizada no bombeamento
e fator de potência da estação de bombeamento, para os estudos econômicos;
„ Requisitos de segurança para a proteção da estação de bombeamento e do equipa-
mento contra vandalismo ou sabotagem; medidas específicas necessárias para en-
frentar condições indesejáveis, como cerca do pátio com arame farpado na parte
superior, fechaduras e portas especiais, vidro de segurança, iluminação de segu-
rança, ausência de janelas, equipamento eletrônico de vigilância, etc.;
„ Descrição dos planos de proteção contra incêndios, que serão aplicados na esta-
ção de bombeamento;
„ Requisitos de armazenamento de materiais, peças sobressalentes e equipamento
de manutenção para a operação e a manutenção do sistema (no local; armazenamento
fora do local; espaço e instalações de armazenamento existentes).

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Elaboração de Projetos de Irrigação

2.4.13 Canais Principal e Secundário e Tubulações

Além das informações contidas no item 2.3.10, também será preciso fornecer as
que estão relacionadas a seguir.

2.4.13.1 Canais e Tubulações

„ Para todos os pontos no sistema de distribuição onde ocorrer mudança na vazão e


para todas as tomadas d’água, serão fornecidas as seguintes informações:
f vazão do canal ou da tubulação, em litros/segundo, requerida para atender à
demanda de água à jusante do ponto em questão; esta determinação deverá
basear-se nos critérios de dimensionamento para projetos de irrigação (ver
Anexo 5 do “Manual de Planejamento Geral de Projetos de Irrigação”) e nos
requisitos de uso doméstico, se forem incluídos;
f cotas requeridas do nível da água (para as tubulações, quando a água for
distribuída sob pressão, será preciso fornecer a pressão mínima da água em
KPa).
„ Fluxos máximo, mínimo e normal de quaisquer cursos d’água que interceptem o
canal ou a tubulação, assim como a possibilidade de erosão;
„ Percentual máximo da vazão de projeto que o canal ou a tubulação deverá atender
em cada mês, e datas prováveis em que poderá ser desativado para manutenção, a
cada ano;
„ Tipo de maquinaria de manutenção que está sendo considerado;
„ Tipo de sistema de comunicação que está sendo levado em conta;
„ Tomadas:
f vazão de projeto, nível operacional mínimo da água no canal ou cota mínima
de gradiente hidráulico na tubulação, assim como nível máximo da água ime-
diatamente abaixo da tomada;
f tipo de medidor e se será utilizada a telemetria;
f cotas e afastamentos das estradas de manutenção;
f requisitos para obstrução e filtragem.
„ Medidores:
f tipo de medidor e/ou estrutura;
f declividade no fundo (para medidores em canais abertos) e níveis operacionais
máximo e mínimo da água (cotas de gradiente hidráulico, para as tubula-
ções), à jusante e à montante do medidor/estrutura;
f vazões máxima e mínima a serem medidas;
f se há necessidade de registro contínuo da vazão e se haverá monitoramento
remoto.
„ Características da água que será transportada, em relação ao provável conteúdo de
sedimentos, crescimento indesejado de algas nos canais, crescimento de plantas e
ervas daninhas aquáticas ao longo das margens dos canais e corrosibilidade;
„ Tipo, localização e requisitos referentes a valas de irrigação, sistemas domésticos
de abastecimento de água, redes elétrica e telefônica, que atravessam os canais ou
as tubulações;
„ Quaisquer restrições relativas à altura das chaminés de equilíbrio, tanques e outras
estruturas, como resultado da respectiva localização, impostas por regulamentos
estaduais ou federais; velocidades máximas previstas no local das chaminés e dos
tanques e requisitos referentes a lanternas de balizamento;
„ Programa de irrigação, incluindo operação das tomadas pelos diversos irrigantes ou
pelo pessoal do distrito e planos de futura expansão do distrito, se aplicável;
„ Horários permitidos para se fazer a conexão com as instalações existentes.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

2.4.13.2 Canais

„ Vazão de pico projetada (em geral, tempo de recorrência de 25 anos, dependendo


de considerações econômicas) para drenagem transversal, exceto para as situa-
ções em que o período de alongamento temporário, acima do canal, for considerado
no projeto; nesse caso, deverão ser analisados hidrogramas das enchentes projetadas
e plantas topográficas que abranjam as áreas temporariamente inundadas;
„ Hidrogramas das enchentes de projeto (em geral, tempo de recorrência de 25 anos,
dependendo de considerações econômicas) para as principais áreas de drenagem
cruzada (quando o canal ou a tubulação cruzam a drenagem natural) ou áreas am-
plas e mal definidas de drenagem;
„ Para estruturas de drenagem transversal: forma, dimensões, declividade e natureza
da área de drenagem, provável intensidade das chuvas e escoamento superficial
previsto, para cada estrutura; localização, distância, dimensões físicas e caracterís-
ticas de qualquer regularização do escoamento fluvial à jusante; e necessidade de
paredes em asa ou muros de cabeceira;
„ Para pontes e viadutos: dados hidrológicos dos cursos d’água; vãos livres (com
limitações de área de trabalho durante a construção) e cotas de regularização (nível
da água, topo do trilho, greide da estrada, etc.);
„ Volume estimado de sedimentos arrastados para dentro do canal e/ou acumulado
acima da entrada do dreno utilizado para grandes áreas de drenagem transversal e
para os canais de grande capacidade;
„ Curvas de nível da água, estudos de sedimentação, degradação e estudos de
assoreamento deverão ser incluídos para os drenos, quando críticos;
„ Planos de reutilização ou disposição das perdas operacionais dos canais;
„ Vertedouros:
f tipo de controle (comporta deslizante, comporta automática de controle do
nível da água à jusante, comporta radial, vertedouro lateral, vertedouro sifóide)
e vazão;
f variação de regularização do nível da água, no caso de canal de descarga
automático.
„ Estruturas de controle do nível da água:
f tipo de controle (com comporta de emergência, comporta deslizante ou radial);
vazão do vertedouro de transbordamento, se desejada; tipo de operação (se
manual, automática e/ou de monitoramento ou controle remoto);
f nível mínimo da água a ser fornecido nas tomadas;
f detalhes dos requisitos estruturais, se combinados com outras estruturas.
„ Calhas e quedas:
f variação das vazões, níveis da água e cotas do fundo, à jusante e à montante;
f combinações com outras estruturas, como estruturas de regularização do
nível da água, sifões, pontes sobre estradas operacionais, ou tomadas;
f curva de vazão x tempo, no caso de calhas ou quedas utilizadas como medi-
dores.
„ Necessidade de estradas de operação e manutenção nas margens e ao longo dos canais;
„ Número, largura e requisitos de carga das pontes que cruzam os canais;
„ Requisitos especiais e localização dos dispositivos de segurança dos canais, como
guarda-corpo, iluminação de segurança, cercas em áreas povoadas, redes e grades;
requisitos nos locais de cruzamento de animais, nas áreas cercadas e nos corredo-
res de fuga.

2.4.13.3 Tubulações

„ Cobertura mínima para as tubulações secundárias, com base nas atividades agríco-
las realizadas sobre as tubulações, na profundidade dos aqüíferos, no tipo de solo;
„ Detalhes do sistema de drenagem, os quais poderão influenciar o projeto do siste-
ma de tubulações;

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„ Requisitos de segurança para os taludes das valas da tubulação;


„ Análise de utilização de tipos de tubos alternativos; por exemplo, aço, cimento-
amianto, ferro dúctil, etc.

2.4.14 Drenos

Além das informações contidas no item 2.3.11, também será preciso fornecer as
que seguem.

„ Para os principais pontos no sistema de drenagem onde houver mudança na vazão,


deverão ser fornecidos os seguintes dados:
f vazão dos drenos superficiais ou subsuperficiais, em litros/segundo;
f cotas máximas do nível da água.
„ Condições singulares de escavação ou construção;
„ Disponibilidade de materiais de construção, incluindo cascalho para os filtros;
„ Permeabilidade e granulometria do cascalho;
„ Dados comparativos relativos a terras, na vizinhança do projeto, com solos e condi-
ções de drenagem similares, e que já estejam sendo irrigadas:
f planta de quaisquer sistemas de drenagem existentes;
f resumo das propriedades do solo e dos substratos, assim como profundida-
de, vazões e espaçamento dos drenos;
f dados detalhados acerca de determinados drenos, quando os fatores que
afetam a drenagem forem similares aos da área do projeto; os dados deverão
incluir o tipo de dreno, o projeto de drenagem, as propriedades dos solos e
dos substratos, as condições das águas subterrâneas, os problemas de cons-
trução e manutenção, vazões, uso da terra, práticas de irrigação e área efetiva-
mente drenada para uma boa produção agrícola.

2.4.15 Poços

„ Cortes e detalhes de um poço típico, mostrando a relação entre os componentes


gerais e os detalhes, quando aplicável;
„ Tabelas mostrando profundidades totais, revestimento e comprimentos das penei-
ras, assim como outras dimensões conhecidas ou estimadas dos poços;
„ Dados descrevendo a metodologia dos ensaios de bombeamento, incluindo o rendi-
mento hídrico e o rebaixamento previsto, os requisitos de capacidade e altura
manométrica da bomba, os requisitos de medida de fluxo, a duração do ensaio e o
destino da água bombeada no teste;
„ Dados descrevendo os fatores ecológicos, incluindo o impacto ambiental das ope-
rações de perfuração e dos ensaios, e a localização do poço, quando concluído;
„ Dados descrevendo os fatores de segurança, incluindo a presença de altas pres-
sões subsuperficiais ou de gases tóxicos;
„ Resumo descritivo da geologia da área, das condições e do uso histórico dos
aqüíferos;
„ Resumo das informações hidrogeológicas disponíveis, como profundidade e espes-
sura dos aqüíferos, rendimentos hídricos, condutividades hidráulicas, transmissi-
vidades, etc.

2.4.16 Estradas

Além das informações contidas no item 2.3.13, também será preciso fornecer as
relacionadas a seguir:

„ Drenagem transversal:
f vazão de projeto, frequência das enchentes de projeto (em geral, períodos de
recorrência de 25 anos, dependendo de considerações econômicas) e planta
das áreas de captação das águas de drenagem;

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Elaboração de Projetos de Irrigação

f fluxos máximo, mínimo e médio de todos os cursos d’água que cruzam a


estrada;
f para estruturas de drenagem transversal, formato, dimensões, declividade e
natureza da área de drenagem, provável intensidade das chuvas e escoamen-
to superficial previsto, para cada estrutura; localização, distância, dimensões
físicas e características de qualquer regularização de escoamento fluvial à
jusante; e necessidade de paredes ou muros de ala;
f para pontes e viadutos, dados hidrológicos dos cursos d’água, vãos (com ou
interferências ou restrições permitidas durante a construção) e cotas de con-
trole (nível da água, topo de balaustradas, greide da estrada, etc.).
„ Cruzamentos de estrada (sifões, pontes e bueiros):
f tipo de estrutura e possíveis alternativas;
f cota do leito e largura do pavimento da estrada; espaço livre mínimo entre o
topo do bueiro ou sifão e a cota do leito da estrada;
f limites da faixa de domínio da estrada; limites para largura da estrada; locali-
zação de desvios, quando requeridos durante a construção;
f limites máximos de invasão da faixa de domínio da estrada durante a constru-
ção e para as estruturas concluídas, incluindo as margens dos canais;
f método de manutenção do tráfego durante a construção.
„ Localização, declividade do fundo, dimensões e vazão das valas de drenagem;
„ Cargas móveis de projetos e tensões admissíveis;
„ Desenhos de um corte transversal típico da estrada, mostrando:
f eixo longitudinal da estrada;
f base da estrada (topo do aterro ou fundo do corte);
f largura do leito da estrada (acostamento a acostamento) na base da estrada,
tanto para aterros, quanto para cortes;
f taludes do aterro e do corte;
f dimensões e posições das valas do leito da estrada, assim como diques e
valas de proteção;
f número de camadas de revestimento, tipos de materiais, espessura e largura
de cada camada e declividade transversal a partir da cota de coroamento da
estrada.

2.4.17 Dados Relativos às Instalações Elétricas

2.4.17.1 Estações de Bombeamento, Canais, Tubulações e Poços

Os dados relacionados a seguir são imprescindíveis para iniciar a elaboração do


projeto. Os dados fornecidos deverão ser suficientes para permitir que os projetistas
concluam o projeto básico (diagramas unifilares) do complexo de irrigação. Quando o
projeto tiver avançado o suficiente para desenvolver os detalhes dos requisitos do siste-
ma elétrico, os projetistas deverão preparar uma lista de dados adicionais, requeridos para
concluir o projeto final das instalações elétricas.

„ Nome e endereço da concessionária de energia elétrica;


„ Localização do ponto de conexão com a rede de energia elétrica;
„ Tensão de fornecimento, número de fases e se o serviço será aéreo ou subterrâneo;
„ Impedâncias máxima e mínima do sistema, olhando na direção da fonte de abaste-
cimento;
„ Localização dos medidores, isto é, acima ou abaixo do transformador;
„ Carga em kVa estimada;
„ Estimativa do número de motores e suas dimensões; se não for possível estimar o
número e as dimensões, serão fornecidos detalhes das cargas elétricas previstas;
„ Códigos federal, estadual e municipal a serem obedecidos;

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Elaboração de Projetos de Irrigação

„ Deverão ser considerados os requisitos de fonte secundária de energia elétrica; se


esse recurso for necessário, serão indicados os seguintes itens:
f se a fonte secundária será um motor-gerador;
f risco de danos físicos ou materiais, no caso de interrupção do fornecimento
proveniente da fonte principal de energia elétrica;
f cargas que precisarão ser atendidas pela fonte secundária.
„ Requisitos de monitoramento remoto das condições das instalações; localização do
centro de controle remoto, e itens que precisam ser monitorados;
„ Requisitos de controle remoto com centro de operações, incluindo a localização do
centro;
„ Requisitos de comunicação e telemetria de dados entre a estação-mestra de super-
visão e as instalações remotas;
„ Restrições à carga de ligação;
„ Restrições ao fator de potência;
„ Probabilidade de interrupção do abastecimento.

2.4.17.2 Subestações Elétricas

As seguintes informações deverão ser fornecidas:

„ Esquemas de ligação, mostrando os circuitos sugeridos, incluindo os equipamentos


principais propostos, como transformadores, disjuntores e reguladores; onde o equi-
pamento será comprado e instalado para o uso e o benefício de um sistema interligado,
comentários relativos a esses arranjos deverão fazer parte dos dados do projeto;
„ Capacidade dos transformadores, em quilovolt-ampere;
„ Dados a respeito dos circuitos:
f voltagem nominal e destino;
f cargas, em quilovolt-ampere ou quilowatts, e fator de potência;
f tipo de medidor requerido para cada linha (serão fornecidos medidores que
mostram a demanda em watt-hora, exceto quando de outra forma especifica-
do);
f dimensionamento do condutor para as linhas existentes;
f ajuste de fase das linhas existentes na estação;
f tensão mínima durante os horários de carga mais pesada e tensão máxima
durante os horários de carga mais leve, tanto para condições normais quanto
para situações de emergência;
f impedâncias máxima e mínima do sistema, para cada conexão;
„ Diagrama unifilar do sistema primário da concessionária de energia elétrica, que
será conectado à estação; estas informações são necessárias à elaboração dos
estudos de relés e deverão incluir:
f localização dos disjuntores do sistema primário e dos relés, conforme definido
para a operação inicial; mudanças futuras deverão ser indicadas, quando pos-
sível;
f tipo de relés do sistema primário (de distância, para corrente excessiva, etc.)
e características operacionais dos relés; serão precisos os ajustes reais dos
relés, a fim de serem efetuados ajustes coordenados entre os relés; entretanto,
esses dados não precisam ser fornecidos inicialmente, caso isso possa atra-
sar o recebimento de outras informações; os problemas de coordenação dos
relés, como comutação lenta do sistema primário, deverão ser indicados;
f condições operacionais do sistema primário que possam afetar as ligações ou
o controle;
f tempo de religamento, se forem utilizados disjuntores de religamento auto-
mático nos sistemas primários;
f comprimento e característica das linhas primárias e se são circuitos trifilar ou
tetrafilar;

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Elaboração de Projetos de Irrigação

f localização, conecções e capacidade nominal dos transformadores e das má-


quinas síncronas conectadas aos sistemas primários; a localização e o tipo de
aterramento neutro também deverão ser incluídos.
„ Capacidade total em quilovolt-ampere requerida dos transformadores de alimenta-
ção da estação;
„ Método proposto de operação da estação (se manual, automático local ou de con-
trole remoto);
„ Alturas e localização de edifícios, linhas de transmissão e outras obstruções exis-
tentes, que não estejam associadas à estação, mas localizadas no local da estação
ou perto dele, e que poderão provocar problemas de afastamento;
„ Tipo e capacidade das instalações de comunicações desejadas;
„ Importância relativa dos circuitos, de modo que os relés térmicos do transformador
de potência possam ser instalados para desligarem cargas relativamente baixas, a
fim de aliviar transformadores sobrecarregados;
„ Disponibilidade das instalações de manuseio do transformador, com capacidade e
altura de levantamento suficiente e numa distância de transporte praticável, de
maneira a poder determinar se serão precisos transformadores com a flange da
carcaça no fundo; quando disponíveis, fornecer a altura máxima e a capacidade do
guindaste;
„ Códigos elétricos: relação dos códigos elétricos estadual e federal e especificações
municipais relativas a segurança elétrica;
„ Custo da capacidade, custo da energia elétrica, custo de oportunidade do capital e
fator de potência da estação bombeadora, a serem empregados na avaliação das
perdas energéticas de transformador;
„ Planos e requisitos regionais relativos a torres de rádio e de micro-ondas, a serem
localizadas dentro dos limites das subestações; assim, será possível determinar a
possibilidade de usar outros projetos de estrutura dentro da subestação, a fim de
instalar o sistema de comunicações planejado e eliminar, desta forma, a necessi-
dade de torres adicionais;
„ Requisitos relativos a iluminação para funcionamento noturno e para garantir a
segurança.

2.4.18 Considerações Relativas ao Meio Ambiente

As informações relacionadas no item 2.3.12 também deverão ser incluídas no Pro-


jeto Básico.

Além deste MANUAL, devem ser consultadas as “Diretrizes Ambientais para o


Setor de Irrigação”, publicadas por SENIR-IBAMA-PNUD-OMM.

2.4.19 Dados Diversos

Além das informações contidas no item 2.3.13, também será preciso fornecer as
seguintes:

„ Fatores relacionados à definição do período de construção do projeto;


„ Custo de oportunidade do capital, o qual será utilizado nas análises econômicas;
„ Informações relativas ao mercado de trabalho e aos problemas de mão-de-obra
locais;
„ Exigências legais ou práticas relativas à construção de cercas; fatores relacionados
ao tipo de cerca;
„ Existência de pragas não usuais, como cupim, caruncho e roedores; práticas locais
de combate às pragas;
„ Quantidades estimadas de todos os itens do cronograma de construção que não
possam ser determinadas, com facilidade, no escritório do projetista, como material

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Elaboração de Projetos de Irrigação

de aterro (comum e rocha); momento de transporte extra de material de escavação,


com distância limite de transporte; “riprap”, bueiros; e cercas e portões para a faixa
de domínio;
„ Estimativa de custo de desapropriação das faixas de domínio;
„ Informações acerca de grandes obras civis em andamento ou planejadas na vizi-
nhança do projeto de irrigação e a presença, na área, de empreiteiras ou subem-
preiteiras interessadas;
„ Estimativas do custo de relocação de linhas de serviços públicos existentes na área
da obra;
„ Estimativas do custo de remoção de edifícios e de outras estruturas dentro da área
da obra, incluindo descrição geral e exposição acerca da necessidade de eliminação
das estruturas em questão;
„ Áreas designadas para desmatamento, com descrição de tipos, tamanho e densida-
de de vegetação; os fatores relacionados ao método de pagamento também deve-
rão ser discutidos; por exemplo, pagamento do preço global para áreas com limi-
tes definidos ou preço unitário, por hectare, para áreas sujeitas a mudanças duran-
te a obra; quaisquer pagamentos adicionais deverão ser utilizados para áreas cla-
ramente definidas com vegetação diferente e dificuldades especiais de desma-
tamento; se a vegetação a ser limpa é muito rala ou pode ser removida sem neces-
sidade de equipamento especial ou de operações sofisticadas, o custo do
desmatamento deverá estar incluído nos preços cotados para escavação, ou para
outros itens da obra.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

INVESTIGAÇÕES
GEOGNÓSTICAS

3.1 Níveis de Investigação

3.1.1 Aspectos Gerais

As informações acerca das fundações das estruturas e dos materiais naturais de


construção, disponíveis para a execução das diversas obras em referência, são de impor-
tância fundamental na elaboração dos projetos. As investigações necessárias à coleta
dessas informações são realizadas tanto em campo quanto em laboratório, e as análises
são efetuadas no escritório. As investigações devem ser adequadamente planejadas, de
forma a se obter o máximo possível de informações em relação ao esforço despendido.
Quando as investigações de campo forem iniciadas, o pesquisador deve ter um plano
experimental de desenvolvimento do projeto, que mostre os tipos de instalação requeri-
dos, assim como a capacidade, as dimensões e a localização geral das mesmas. Além
disso, necessita de conhecimentos gerais mínimos a respeito das fundações e dos mate-
riais necessários às diversas instalações consideradas no projeto. As investigações do
subsolo só devem ser iniciadas quando todos os dados geológicos e geotécnicos disponí-
veis tiverem sido revisados e avaliados. O pesquisador necessita de conhecimentos práti-
cos de geologia de engenharia, incluindo os requisitos de classificação dos solos, das
rochas e da morfologia do terreno. Deve ainda estar familiarizado com as técnicas de
mapeamento, de registro de dados e de amostragem, e também com os ensaios de
campo e de laboratório. Esse tipo de vivência, aliado a conhecimentos acerca das capaci-
dades e das limitações dos diversos métodos de sondagem do solo, levará à seleção dos
métodos de campo mais apropriados.

É indispensável realizar uma investigação abrangente das fundações das estruturas


e dos solos ao longo das instalações projetadas, a fim de determinar se é possível execu-
tar um projeto econômico. As investigações de um projeto potencial consistem em quatro
estágios ou níveis principais. Estes estágios, classificados em ordem cronológica de exe-
cução, são de pré-viabilidade, viabilidade, projeto básico e projeto executivo. Cada nível
de investigação ou de estudo utiliza, como ponto de partida para as investigações subse-
qüentes, os resultados provenientes do nível anterior. É essencial que, durante cada está-
gio, os dados coletados sejam periodicamente sumarizados, de modo que as conclusões
e as decisões sejam baseadas em todas as informações disponíveis.

3.1.2 Investigações a Nível de Pré-Viabilidade

Os dados obtidos durante as investigações a nível de pré-viabilidade são de caráter


eminentemente descritivo. O trabalho de campo deverá ser precedido de um estudo de
todos os dados disponíveis relativos às áreas em consideração. Os tipos de dados deve-
rão incluir mapas, fotografias aéreas e outras informações de sensoriamento remoto e de
relatórios existentes. Após a revisão dos dados, examinar-se-á a área visualmente.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

O reconhecimento da área deverá ser efetuado para selecionar os locais mais favo-
ráveis à instalação das estações de bombeamento e ao alinhamento dos canais principais.
A seleção será realizada com base nos solos existentes nas diversas áreas e nos dados
geológicos, bem como no exame visual do terreno e nas condições geológicas e
morfológicas da área do projeto. Será preciso examinar os cursos d’água, suas margens e
os cortes das estradas, pois podem prover informações valiosas relativas à natureza dos
solos ao longo do alinhamento dos canais e nos locais das obras. O reconhecimento da
área deve ser realizado por engenheiros e geólogos que possuam conhecimento e experi-
ência na seleção de locais para estações de bombeamento e canais.

Neste estágio, as investigações devem levar à avaliação das condições gerais do


subsolo em toda a área do projeto, assim como dos aspectos gerais das condições das
fundações nos diversos locais alternativos, selecionados para as estruturas principais ou
críticas. Esta avaliação deverá determinar, com um grau razoável de certeza, as vanta-
gens e desvantagens das fundações e dos materiais de construção nos locais alternativos,

As investigações de pré-viabilidade estão baseadas, principalmente, nos indicado-


res de superfície e, por vezes, poderá ser necessário um deslocamento a distâncias con-
sideráveis dos locais propostos para as estruturas do projeto, a fim de serem obtidas
informações com as quais se possam extrapolar e determinar as condições de subsolo.
Como estas condições são desconhecidas, as áreas definidas como de empréstimo pode-
rão ser consideravelmente maiores do que aquelas de fato necessárias. As condições das
fundações com frequência podem ser avaliadas a partir de inspeções visuais das caracte-
rísticas de erosão, dos afloramentos rochosos, das escavações praticadas para estradas
de rodagem e de ferro, das escavações para edificações, de poços abandonados e pedrei-
ras na área do projeto. Em geral, as informações acerca das condições de água subterrâ-
nea podem ser obtidas nos poços existentes no local.

A descrição das fundações dos edifícios e de outras estruturas similares construídas


sobre alicerces deverá estender-se até uma profundidade equivalente a uma vez e meia a
dimensão horizontal mínima do alicerce. As estruturas dos canais requerem uma descri-
ção das condições das fundações abaixo da sua base, até uma profundidade aproximada
equivalente a duas vezes a carga hidráulica. As fundações dos sistemas de transporte –
ou seja, canais, estradas de rodagem e túneis – deverão ser descritas até uma profundi-
dade suficiente, de forma a incluir os materiais das fundações que influenciarão o projeto.

Os resultados dos estudos de pré-viabilidade deverão ser lançados em plantas topo-


gráficas, que deverão ser acompanhadas por um relatório contendo a descrição das con-
dições geológicas e geotécnicas, incluindo a classificação de engenharia dos solos e das
rochas. As plantas deverão mostrar a localização dos possíveis alinhamentos de canal e
das estações de bombeamento. Os solos que possam apresentar problemas especiais,
como expansão quando umedecidos, colapso-recalque ou dispersividade, devem ser iden-
tificados e localizados. O relatório de pré-viabilidade deverá discutir as relações entre as
condições geológicas e geotécnicas e a futura estabilidade e desempenho das estações
de bombeamento, dos canais e das estruturas dos canais. Problemas geológicos ou
geotécnicos aparentes, que exijam investigações adicionais, deverão ser discutidos, e um
programa experimental de investigação deverá ser recomendada, delineando a extensão e
a natureza das investigações, a ser empreendido para o estágio de viabilidade.

3.1.3 Investigações a Nível de Viabilidade

O objetivo das investigações a nível de viabilidade é confirmar e ampliar o trabalho


realizado durante os estudos de pré-viabilidade, de modo a permitir a preparação de uma
estimativa adequada do custo do projeto.

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No caso de estruturas de armazenamento ou transporte de água, o problema de


perda de água deverá ser cuidadosamente investigado nos estudos de viabilidade. Exceto
nos casos em que as áreas de perda de água estejam concentradas, o tratamento neces-
sário quase sempre influenciará significativamente o custo total e os requisitos das insta-
lações gerais do projeto. O traçado do sistema de canais deverá ser examinado, a fim de
determinar as áreas onde a perda de água poderá ser significativa. Tais áreas deverão ser
definidas e estudadas, de modo a se obter o volume de perda de água esperado.

O primeiro passo numa investigação de viabilidade é a revisão do trabalho já execu-


tado, o que inclui não somente revisão das investigações de pré-viabilidade, como tam-
bém exame dos projetos contemplados durante o nível de pré-viabilidade. Os projetos das
estruturas devem ser confrontados com as condições levantadas das fundações. As pro-
priedades e quantidades dos materiais naturais de construção são comparadas ao uso
contemplado nos projetos de pré-viabilidade.

Esse exame poderá identificar situações nas quais as observações do pesquisador


não foram compreendidas durante as investigações de pré-viabilidade, ou condições que
o pesquisador considerou menos significativas, mas que o projetista considera relevan-
tes, ou ainda que o projetista não levou em conta, embora parecessem importantes para
o pesquisador. O exame permitirá que o pesquisador, a nível de viabilidade, localize os
furos de sondagem, de maneira a obter as informações pertinentes, esclarecer as condi-
ções duvidosas e minimizar o grau de interferência na localização proposta para a estrutura.

O segundo passo numa investigação de viabilidade é a elaboração de um programa


de sondagens, que deverá indicar a localização dos furos propostos, o tipo de procedi-
mento de sondagem requerido, a profundidade da furação e o tipo de dado a ser obtido.
Os furos de sondagem deverão estar localizados numa configuração sistemática, à qual
seja possível incorporar futuras investigações. O programa deverá mostrar a ordem de
realização das sondagens, para que as áreas mais duvidosas e as mais críticas sejam
estudadas primeiramente. Contudo, o programa deverá ser flexível, de modo a permitir
adaptações às condições constatadas durante o seu desenvolvimento. O custo deste
programa deverá ser estimado, para que os responsáveis pela autorização do trabalho
possam ser informados quanto à magnitude do empreendimento.

Será necessário realizar investigações limitadas do subsolo nos locais das estações
de bombeamento, das estruturas dos canais importantes e dos alinhamentos dos canais
principais, para identificar a natureza dos solos e rochas nesses locais. Poderá ser preciso
fazer uma série de sondagens nos locais das principais estações de bombeamento, de
modo a permitir ajustes específicos à área da obra e à localização de outras instalações,
como chaminés de equilíbrio. Os furos de sondagem deverão estender-se além da cota de
fundação da estrutura, por uma distância mínima equivalente a uma vez e meia a dimen-
são horizontal máxima da base da estrutura. As investigações ao longo dos alinhamentos
de canais principais deverão ser realizadas a intervalos nunca superiores a 1km. No caso
de solos problemáticos, os intervalos deverão ser diminuídos, para delimitar esses depó-
sitos, tanto lateralmente quanto em profundidade.

O terceiro passo é a execução da sondagem, que é feita, em geral, por empreitada.


A amostragem efetuada pela empreiteira deverá obedecer às normas estabelecidas pelo
órgão contratante. A nível de viabilidade, as informações provenientes de cada item deve-
rão ser o mais completas possível, considerando o tempo e os recursos disponíveis, de
modo que os dados possam ser utilizados posteriormente na elaboração do projeto bási-
co. Será preciso preparar um perfil de cada furo de sondagem, com base no exame real
dos materiais retirados do furo, suplementado pelas informações do boletim de sonda-
gem. A permeabilidade dos diversos estratos deverá ser testada, e o lençol freático deter-
minado durante e ao final da perfuração.

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O quarto passo é a elaboração de um relatório. Nesta fase, o relatório difere do de


pré-viabilidade, pelo fato de a descrição das fundações e das jazidas de materiais serem
definidas em profundidade, com base nas constatações dos furos exploratórios, ao invés
daquelas com indicações superficiais e as descrições dos materiais serem elaboradas com
dados provenientes dos ensaios de caracterização e de outros ensaios laboratoriais.

O relatório preparado após a conclusão da investigação das fundações no estágio


de viabilidade deverá incluir um mapa apresentando a geologia da superfície, a localização
de todas as investigações e das seções geológicas. Os mapas deverão ser basicamente
geológicos e modificados ou subdivididos, a fim de mostrar a distribuição dos solos e
rochas com diferenças significativas nas suas propriedades físicas e de engenharia. Deve-
rão ser preparadas seções transversais ressaltando as características geológicas do
subsolo, conhecidas e interpretadas. Incluir-se-ão os perfis de todos os furos de sondagem.

3.1.4 Investigações a Nível de Projeto Básico

O objetivo das investigações a nível de projeto básico é fornecer dados para os


projetos executivos das diversas estruturas da obra. Desde que seja norma a construção
de tais estruturas por empreitada, será necessário que a natureza e o volume das obras
sejam especificados.

Os projetos básicos exigirão investigações geográficas adicionais. Entretanto, a


localização e os tipos de materiais de solo e de rocha deverão ter sido determinados
durante o estágio de viabilidade. Durante o estágio de projeto básico, as conclusões das
investigações da viabilidade serão confirmadas ou ajustadas, quando necessário. As con-
siderações críticas acerca da geologia e da geotecnia do local do projeto deverão ser
resolvidas por meio de investigações e ensaios laboratoriais, de maneira que se possam
preparar análises detalhadas do projeto e desenhos de construção. Também serão neces-
sários amostragens e ensaios de laboratório, para se poderem estabelecer os parâmetros
do projeto de fundações.

Neste estágio, as investigações das fundações e dos materiais devem produzir,


além de dados geológicos relevantes, informações bastante detalhadas para se estabele-
cerem as quantidades de materiais a serem mobilizadas. Esta operação exige significativa
capacidade de julgamento. Será necessário garantir um grau máximo de precisão, com
um número ótimo de sondagens, o que requer a localização dos furos de investigação de
tal maneira que seja possível determinar as estruturas e as condições do maciço rochoso
pertinentes, incluindo o topo rochoso e topo da rocha sã.

Em geral, o trabalho de investigação no nível de viabilidade fornece informações


suficientes para que, com conhecimento das estruturas geológicas, possam ser delineadas
seções transversais mostrando os pontos que exigem investigações adicionais. Se o tra-
balho a nível de viabilidade for insuficiente para este propósito, as investigações de nível
de projeto básico deverão ser direcionadas, inicialmente, para este objetivo.

Quanto às investigações de viabilidade, o programa de investigações deverá ser


formulado antes de se iniciar o trabalho de campo. Visto que esta é a última oportunidade
de considerar as condições do local da obra em relação aos requisitos das estruturas
antes de iniciar o projeto básico, o engenheiro responsável pela elaboração do projeto e
das especificações deverá revisar o programa de investigações com o engenheiro
geotécnico, com o geólogo, ou com ambos, antes de iniciar o trabalho de investigações.

Com base nos conhecimentos do engenheiro acerca dos requisitos das estruturas,
na sua experiência com o desempenho dos solos e nas condições que deverão prevalecer
no local da obra, será possível determinar-se onde as condições são (1) evidentemente
adequadas, (2) nitidamente inadequadas ou (3) duvidosas. Como resultado, o engenheiro

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poderá orientar os ensaios para as áreas duvidosas e, desta forma, diminuir substancial-
mente o volume de trabalho. É necessário frisar que um máximo de economia nas inves-
tigações só poderá ser conseguido com o auxílio do engenheiro responsável pelo projeto
da obra.

Nas investigações das fundações, sugerem-se métodos que ofereçam oportunidade


de amostragem e ensaio sem excessivo amolgamento. Portanto, sondagens por lavagem
em solo ou por percussão em rocha são, em princípio, desaconselhadas. Poços de inspe-
ção e trincheiras abertas com trator ou retro-escavadeira, que permitem a inspeção visual
das fundações, são excelentes métodos para determinar a natureza dos materiais das
fundações e são recomendados, quando factíveis. Os métodos de sondagem recomenda-
dos para a exploração das fundações de solo são as sondagens rotativas, utilizando
barrilete amostradores padronizados ou amostradores tipo Denison ou Pitcher, assim
como trados de haste oca, quando for necessário retirar amostras indeformadas de so-
los de baixa densidade. Os trados de haste oca podem produzir amostras indeformadas
a 50m de profundidade, sem o uso de fluidos ou lamas de perfuração. A ausência de
fluidos de perfuração é particularmente vantajosa em solos potencialmente colapsíveis
e solos expansivos, quando o umedecimento do solo altera as condições in situ. O en-
saio de massa específica aparente nas paredes das escavações abertas (o fundo da esca-
vação em solos de baixa massa específica pode ter sido adensado pelo peso do equipa-
mento de escavação) e do teor de umidade in situ, dos solos acima do lençol freático,
também é necessário. Para extrair amostras das perfurações em rocha são necessárias
sondagens rotativas com barrilete amostrador. Os valores aproximados de permeabilidade
dos estratos de rocha e dos horizontes de solo podem ser determinados mediante ensai-
os hidráulicos nos furos de sondagem. Em cada furo de sondagem, é importante medir e
registrar a profundidade dos lençóis freáticos e as datas de tais mensurações.

À medida que a investigação progredir, a empresa responsável pela elaboração do


projeto deverá ser mantida informada do seu andamento. Os requisitos variam, dependen-
do da urgência; em geral, o perfil geológico de cada furo de sondagem deverá ser remeti-
do após a conclusão daquela furação. Na investigação de materiais, os dados acumulados
deverão ser enviados a intervalos de sete a dez dias.

Os resultados das investigações das fundações e dos materiais, ao nível de projeto


básico, deverão ser incorporados ao(s) relatório(s), como foi feito com os resultados das
investigações de pré-viabilidade e viabilidade. Neste estágio, o material de base deverá
ser resumido, mas os resultados do trabalho adicional de detalhamento deverão ser total-
mente documentados por meio de perfis dos furos e seções transversais que mostrem a
interpretação geológica. O relatório deverá ser preparado sob a direção do engenheiro ou
geólogo encarregado das investigações de campo.

3.1.5 Investigações a Nível de Projeto Executivo

As investigações das fundações e dos materiais durante a fase de elaboração do


projeto executivo são, essencialmente, de natureza confirmatória. São utilizadas para
esclarecer determinadas condições que não foram satisfatoriamente resolvidas durante
as investigações a nível de projeto básico, assim como para explorar propostas alternati-
vas sugeridas como resultado da disponibilidade de determinados tipos de equipamento
ou de variações climáticas, da mão-de-obra disponível ou de condições econômicas dife-
rentes daquelas previstas quando os projetos foram elaborados. Se as investigações exis-
tentes não fornecem informações suficientes para permitir uma demarcação precisa das
escavações para as estruturas e de outras escavações exigidas, será preciso realizar
sondagens adicionais, neste estágio, a fim de se obterem os dados requeridos. Na carac-
terização do solo, é necessário determinar as propriedades características, ou as de enge-
nharia, dependendo da natureza do problema específico. O trabalho deverá ser realizado
sob a direção de um engenheiro civil.

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Durante estas investigações, as plantas e seções geológicas deverão ser revisadas


ou novos desenhos executados, de maneira a mostrar as condições reais determinadas
nas escavações da obra. Esses mapas e desenhos poderão ser úteis como registros “as
built”, caso ocorram problemas devido às condições das fundações, constatados mais
tarde, durante a operação e manutenção do projeto. Quando são tomadas medidas para
melhorar as condições das fundações durante a construção, utilizam-se ensaios in situ,
como os do penetrômetro de cone, do pressiômetro e o de cisalhamento no furo de
sondagem, para determinar as condições das fundações “antes-e-depois”, a fim de avali-
ar o grau de melhoria do solo das fundações.

3.2 Princípios de Investigação

3.2.1 Objetivos

O objetivo das investigações é obter informações relativas às condições das funda-


ções e aos materiais naturais de construção, de acordo com a magnitude e o tipo da
estrutura e com o estágio do projeto. As investigações são realizadas no escritório, em
campo e no laboratório. Em geral, o procedimento é iterativo, no qual as características e
as condições dos solos subsuperficiais são determinadas progressivamente, incrementando-
se o grau de detalhamento, à medida que os trabalhos de investigação avançam. Os
dados obtidos precisam ser organizados, de maneira a mostrar claramente as caracterís-
ticas significativas das ocorrências e das propriedades dos solos.

Os objetivos específicos das investigações incluem a determinação, conforme ne-


cessário, dos itens relacionados a seguir.

„ A localização, a seqüência, a espessura e a extensão (em área) de cada estrato de


solo, incluindo a descrição e a classificação dos solos e da sua estrutura no estado
indeformado. As características geológicas significativas, como as concreções, assim
como os minerais e seus constituintes químicos, também deverão ser anotadas;
„ A profundidade do topo rochoso, além de tipo, localização, seqüência, espessura,
extensão (em área), cota, grau de intemperismo, alterabilidade, intercalações, fra-
turas, fissuras e outras características estruturais da rocha. Será necessário obter-
se uma descrição da rocha em cada estrato rochoso até o limite de influência da
estrutura;
„ As características das águas subterrâneas, incluindo a profundidade do lençol freático,
se é suspenso ou normal, a profundidade e a pressão nas zonas artesianas e a
quantidade de sais solúveis e de outros minerais presentes;
„ As propriedades dos solos, determinadas com base num método ou numa combina-
ção de métodos, de acordo com o estágio da investigação, o tipo de estrutura e
dados detalhados de engenharia necessários, mediante:
f a descrição e a identificação dos solos in situ visualmente e a determinação
da sua massa específica aparente;
f a obtenção de amostras deformadas, a descrição e a identificação visual
dessas amostras e a determinação dos seus teores de umidade natural e suas
propriedades características; as propriedades físicas podem ser estimadas
com base na classificação do solo e nos resultados dos ensaios laboratoriais
relativos aos índices;
f o emprego de métodos indiretos de campo, como interpretações geológicas,
sondagens, ou métodos geofísicos, utilizando os resultados de alguma explo-
ração direta e de outros ensaios, de modo a se obterem as necessárias corre-
lações;
f as observações do desempenho de estruturas construídas anteriormente com
esse solo ou obras sobre solos similares;
f a obtenção de amostras indeformadas, sua identificação visual, a descrição
do seu estado indeformado, a determinação da massa específica aparente e

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do teor de unidade natural e a definição das propriedades de engenharia,


mediante ensaios laboratoriais;
f a execução de ensaios de campo, como os ensaios de penetração padroniza-
dos (SPT), as provas de carga de estaca, os ensaios de permeabilidade e os
de palheta (“Vane Shear Test”).

Na discussão anterior, as propriedades características do solo são a granulometria


para solos de grãos grossos, a consistência (limites de Atterberg) para solos de grãos
finos, as relações umidade-massa específica e a resistência à penetração. As três propri-
edades de engenharia (ou físicas) mais importantes são a permeabilidade, a resistência ao
cisalhamento e a compressibilidade. Em geral, presume-se que os materiais numa área
limitada, com propriedades características similares, apresentarão propriedades físicas
similares. Entretanto, a correlação entre as propriedades características e as físicas não é
perfeita, e as primeiras não devem ser utilizadas na elaboração dos projetos.

3.2.2 Classificação das Fundações das Estruturas

Os requisitos de investigação para as fundações das estruturas variam muito e


podem incluir considerações a respeito dos materiais de fundações para uso nas funda-
ções ou na estrutura. A fim de auxiliar na determinação do tipo e da quantidade de
investigação necessários, as fundações das estruturas podem ser agrupadas em quatro
categorias:

„ O solo ou a rocha é de má qualidade e precisa ser removido parcial ou totalmente,


para prover fundações satisfatórias à estrutura em questão;
„ O solo ou a rocha in situ, com ou sem tratamento, constituirá as fundações da
estrutura;
„ O solo ou a rocha constituirá tanto as fundações quanto a maior parte da estrutura,
sendo que o material proveniente da escavação da fundação será utilizado na estru-
tura; e
„ Idem ao item anterior, exceto pela necessidade de quantidades substanciais de
material adicional àquele proveniente da escavação requerida.

Para as estruturas que descansam sobre a rocha, como as grandes barragens de


concreto, além das investigações acerca das fundações de rocha, será realizada uma
investigação do solo, contemplando, em especial, a profundidade da rocha sã, a estabili-
dade dos taludes e a dificuldade das escavações. Os materiais provenientes das escava-
ções para estruturas nesta categoria deverão ser empregados para outras finalidades,
quando factível; portanto, seria desejável o exame dos solos, durante as investigações
preliminares, com esta possibilidade em mente. Por exemplo, um local considerado ade-
quado para uma barragem de concreto exigirá ensecadeiras provisórias e, por isso, será
preciso considerar o emprego, para essa finalidade, de materiais provenientes de escava-
ções requeridas.

Para as estruturas fundadas no solo, como edifícios ou canais, o objetivo precípuo


da investigação dos solos é determinar suas características de mudança de volume, as
quais possam resultar em recalque ou levantamento da estrutura. Quando se prevê a
imposição de grandes cargas ou condições de aumento significativo da umidade do solo,
será necessário investigar, também, a resistência ao cisalhamento.

Para as estruturas fundadas no solo e que utilizam materiais de escavações obriga-


tórias, é essencial que os materiais sejam estudados tanto do ponto de vista da estabilida-
de quanto do de utilização. A estabilidade dos taludes, em corte e em aterros, é de
especial relevância. A compressibilidade varia em importância de acordo com a estrutura,
não sendo muito significativa na construção de estradas não pavimentadas ou de peque-
nos canais, e tendo maior importância nas estradas pavimentadas ou nos canais revesti-

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dos maiores, com grandes estruturas. Nos solos expansivos e nos de baixa massa espe-
cífica, a probabilidade e o grau de subpressão e de colapso precisam ser avaliados. A
permeabilidade é importante para os canais não revestidos. Quando for possível escolher
o traçado da obra, é necessário lembrar que a trabalhabilidade dos materiais é de grande
importância econômica. Por isso cortes em rocha são normalmente evitados.

3.2.3 Fontes de Informações de Mapas e Fotografias

3.2.3.1 Plantas Topográficas

São indispensáveis na elaboração da maioria dos projetos e das obras de constru-


ção civil. Antes de se iniciar a tarefa de desenvolvimento dos mapas, é preciso pesquisar
a existência de outros mapas da área da estrutura e das fontes potenciais de materiais de
construção.

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Diretoria do


Serviço Geográfico do Exército (DSGE) publicam mapas topográficos.

Os mapas topográficos são valiosos nas investigações de fundações e materiais de


construção para estruturas hidráulicas. A localização e as cotas dos furos de sondagem,
dos afloramentos e das características de erosão podem ser incluídas nos mapas e a
morfologia do terreno representada pelas linhas de nível pode refletir, até certo ponto, o
tipo de solo e as condições geológicas subsuperficiais. As informações relativas à origem
e às características de algumas das morfologias mais simples são fornecidas no item
3.2.4. Na falta de mapas topográficos que cubram o local da obra, ou quando for ne-
cessário maior detalhamento, é possível contratar empresas para produzir, por fotogrametria,
plantas em qualquer escala ou quaisquer intervalos de curvas de nível requeridas, assim
como perfis ou seções transversais adequados ao processamento automatizado dos da-
dos.

3.2.3.2 Mapas Geológicos

Os mapas geológicos oferecem um expressivo volume de informações de engenha-


ria de grande utilidade. Identificam diretamente as rochas ocorrentes na área do projeto.
As características das rochas são da maior importância na seleção do local das barragens
e na elaboração dos projetos das estruturas de retenção e transporte de água. Muitos
solos superficiais estão estreitamente relacionados ao tipo de rocha dos quais se origi-
nam, mas, se o solo foi transportado de grandes distâncias, poderá se sobrepor a um tipo
de rocha totalmente diferente. Na consideração da influência do clima, do relevo e da
geologia da área, um engenheiro experiente poderá, razoavelmente, predizer o tipo de
solo a ser encontrado ou a associação daquele tipo de solo com determinados materiais
de origem. Em geral, as condições abaixo da superfície podem ser acertadamente deduzidas
a partir das informações tridimensionais fornecidas pelos mapas geológicos. Este mapas
são muito valiosos em áreas das quais se detêm limitadas informações pedológicas, do
ponto de vista agrícola.

Freqüentemente, os mapas geológicos incluem pelo menos uma seção geológica.


Essa seção é uma representação gráfica da disposição, em profundidade, dos diversos
estratos, ao longo de uma linha arbitrária, em geral indicada no mapa. As seções geológi-
cas são, até certo ponto, hipotéticas e devem ser utilizadas ponderadamente. A escala
vertical é quase sempre exagerada. As seções preparadas tão-somente a partir de dados
de superfície podem ser incorretas; as seções com base nos registros de sondagem ou em
evidências de mineração são mais confiáveis. Denomina-se seção colunar aquela compi-
lada para mostrar a seqüência e as relações estratigráficas das unidades de rocha num
local; indica somente a sucessão dos estratos e não a estrutura das camadas, como as
seções geológicas.

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Há vários tipos de mapas geológicos. O mapa que mostra uma vista em planta da
rocha na área, do ponto de vista geológico, é denominado mapa de rocha ou geológico de
área. Tal mapa indica os limites das formações visíveis e infere a distribuição das unida-
des cobertas pelo solo ou pela vegetação; em geral, inclui pelo menos uma seção geoló-
gica. Exceto pela indicação de grossos depósitos aluviais ou de materiais eólicos, os
mapas de área não mostram o solo ou o manto não-consolidado. Em áreas de geologia
complexa e nas quais quase inexistem rochas expostas, a localização dos contatos entre
as formações é geralmente indicada de forma aproximada ou hipotética. Os mapas geoló-
gicos da superfície diferenciam os materiais de superfície não-consolidados na área, de
acordo com suas categorias geológicas, como residual, aluvião e areias eólicas. Estes
mapas indicam a extensão de área, as características e a idade geológica dos materiais da
superfície. Em geral, os mapas geológicos de área (de rocha), de sítios com deformação
moderada, incluem suficientes símbolos estruturais para fornecer uma compreensão
adequada da geologia estrutural da região; em muitos casos, a estrutura sub-superficial
generalizada pode ser deduzida a partir da distribuição das formações no mapa. Em
áreas muito complexas, para as quais são necessárias grandes quantidades de dados
estruturais, para a interpretação da geologia, são preparados mapas geológicos estrutu-
rais especiais.

Além de fornecer a idade geológica das rochas mapeadas, alguns mapas fornecem
uma descrição sucinta das rochas. Entretanto, muitos não apresentam a descrição litológica.
Um geólogo experiente pode fazer certos pressupostos ou generalizações a partir apenas
da idade da rocha, por meio de analogias com outras áreas. Para um maior detalhamento
e uma identificação mais confiável da litologia, contudo, é preciso consultar a literatura
geológica de toda a área. As informações de engenharia podem ser obtidas nos mapas
geológicos, se o usuário tiver conhecimentos fundamentais de geologia e uma compreen-
são de como os engenheiros utilizam os fatos geológicos na elaboração de projetos e na
construção de estruturas. Mediante o estudo de um mapa geológico básico, aliado a
todos os dados geológicos colaterais pertinentes à área, é possível preparar-se um mapa
especial que interprete a geologia em termos dos materiais de construção. Da mesma
forma, é possível interpretar-se, nos mapas geológicos, as condições das fundações e das
escavações, assim como os dados das águas superficiais e subterrâneas. Tais informa-
ções são muito valiosas no planejamento preliminar, embora não substituam as investiga-
ções de campo detalhadas, nos estágios de viabilidade e de elaboração das especificações.

O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Ministério de Infra-


Estrutura, dispõe de mapas geológicos, na escala 1:1.000.000.

3.2.3.3 Fotografias Aéreas

Uma fotografia aérea é uma representação pictórica de parte da superfície da Terra,


tirada do ar. Pode ser uma fotografia vertical, em que o eixo da câmera é vertical, ou
quase, ou uma fotografia oblíqua, na qual o eixo da câmera está inclinado em maior ou
menor grau. As fotografias oblíquas altas incluem a linha do horizonte; as baixas, não. As
fotografias verticais são Freqüentemente utilizadas como base do mapeamento topográ-
fico, no mapeamento de solos agrícolas e nas interpretações geológicas. Além das foto-
grafias aéreas em preto e branco, algumas vezes é válido obterem-se fotografias coloridas
– ou diapositivos ou revelações opacas –, em infravermelho preto e branco, ou infravermelho
colorido.

Usando filtros apropriados, é possível obterem-se fotografias que variam de


ultravioleta ao infravermelho próximo. As câmeras de faixa múltipla que utilizam de qua-
tro a nove lentes e combinações de diversas lentes, filtros e filmes, permitem fotografar
dentro de estreitas faixas de comprimento de onda, em toda esta extensão, de forma a
enfatizar o efeito da diversidade de solos, teores de umidade e tipos de vegetação, o que
auxilia na interpretação das fotografias. Existem outros sensores remotos que registram e

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processam os dados além do alcance das fotografias, por meio de comprimentos de onda
térmicos, de infravermelhos, de microondas e de radar. Fenômenos como as diferenças
na força de gravidade da Terra ou nas propriedades magnéticas também podem ser
mensuradas, com o intuito de se dispor de ferramentas adicionais de interpretação.

Exceto quando uma densa floresta impede a visão de grandes áreas, as fotografias
aéreas mostram todos os detalhes naturais ou o resultado da ação do homem na superfí-
cie terrestre, dentro da resolução do filme. São reveladas relações que, nas situações
usuais ou rotineiras de investigação da superfície, nunca seriam descobertas, apesar de
exame cuidadoso. A identificação das características indicadas nas fotografias é facilita-
da pelo exame estereoscópico. A seguir, as características são interpretadas para um
propósito específico, como geologia, uso do solo, ou características de engenharia. O
escopo de utilização das fotografias aéreas dependerá da experiência e da capacitação
do engenheiro. Conhecimentos básicos de geologia e ciência do solo auxiliam na inter-
pretação das fotografias aéreas com fins de engenharia. Freqüentemente, as fotografias
aéreas são utilizadas na localização de áreas a serem investigadas ou sondadas no cam-
po e substituem os mapas.

A Força Aérea dos Estados Unidos produziu, em 1965, fotografias aéreas, em preto
e branco, de todo o país, numa escala 1:60.000. As cópias dessas fotografias podem ser
obtidas na Diretoria de Serviço Geográfico do Exército (DSGE). Também existem fotos
aéreas em outras escalas, e com outros tipos de filme, de inúmeras áreas do território
brasileiro, embora a cobertura não seja sistemática. Em geral, as fotografias são tiradas
por firmas privadas de fotogrametria aérea, contratadas para efetuar tarefas específicas
de mapeamento, das quais é possível adquirir cópias das fotografias. Essas atividades são
acompanhadas pela Comissão de Cartografia (COCAR), em Brasília, que mantém foto-
índices, a fim de auxiliar os usuários potenciais a encontrar as fotos que cobrem a área do
seu interesse.

No caso do Vale do São Francisco, as fotografias aéreas obtidas até 1982 estão
catalogadas no “Cadastro de Levantamentos Básicos da Bacia do São Francisco”, da
CODEVASF.

A interpretação das fotos aéreas dos tipos de solo e de aspectos geológicos é


relativamente simples e objetiva, embora requeira experiência. As características de diag-
nóstico incluem a “posição” do terreno, a topografia, a drenagem e as características de
erosão, as tonalidades das cores e a cobertura vegetal. A interpretação limita-se às con-
dições da superfície e àquelas próximo a ela. Existem casos especiais, entretanto, em que
as características nas fotos permitem predizer, de maneira confiável, as condições sub-
terrâneas profundas. Embora a interpretação possa ser efetuada a partir de qualquer
fotografia nítida, a escala constitui um fator limitante, uma vez que as fotos em pequena
escala restringem a quantidade de informação detalhada passível de se obter. A escala
1:20.000 demonstrou ser satisfatória para interpretações de engenharia e geológicas dos
materiais de superfície. Geralmente, as fotografias de grande escala podem ser utilizadas
em trabalho de alto nível de detalhamento, como estimativas para desmatamento de
áreas de reservatório e mapeamento de reconhecimento geológico de locais de localiza-
ção de barragens.

As fotografias aéreas podem ser utilizadas para a identificação de tipos de terreno


e geomorfologia. Essas características morfológicas são descritas no item 3.2.4. Em
geral, a análise do par estereoscópico de uma área, com ênfase na topografia regional, as
características locais do terreno e as condições de drenagem são suficientes para identi-
ficar os tipos comuns de terreno. Isso permite prever a possível variação de materiais de
solo e rocha, assim como definir suas características, dentro de amplos limites.

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As características geológicas podem ser muito significativas em termos da localiza-


ção ou do desempenho das estruturas de engenharia civil, algumas vezes identificáveis a
partir de fotografias aéreas. Em muitos casos, tais características podem ser mais facil-
mente identificadas nas fotografias aéreas do que no solo. É preciso reconhecer, entre-
tanto, que a interpretação de fotografias aéreas é aplicável apenas àquelas características
que desenvolvem expressões superficiais reconhecíveis, como configurações de drena-
gem, antigos leitos de rios e o alinhamento de cristas e vales. Os sistemas de fraturas, os
escorregamento, as zonas de falha, os alinhamentos orientados, as dobras e outras carac-
terísticas estruturais algumas vezes são rapidamente identificáveis nas fotografias aére-
as, embora seja difícil reconhecê-las em campo. A importância destes itens no local de
construção de uma barragem e obras correlatas é evidente. A orientação geral, a
estratificação e a seqüência de camadas da rocha exposta, assim como a presença de
diques e intrusões, Freqüentemente podem ser interpretados a partir de fotografias aé-
reas. Tais informações são muito valiosas na avaliação da possibilidade de ocorrer
deslizamentos em cortes e perdas por infiltração em reservatórios.

As configurações de drenagem, em particular seu tipo e sua intensidade, provêem


um indicador da permeabilidade relativa dos tipos de solo. Uma configuração de drena-
gem densa e muito dividida indica uma área de solo impermeável, com alto escoamento
superficial e baixa infiltração. Em contraste, a falta de uma configuração de drenagem
superficial indica um solo com baixo escoamento superficial e alta infiltração, contanto
que não seja uma área de deserto. A configuração de drenagem superficial em áreas de
lençol freático alto tem significado limitado, como indicador do tipo de solo presente. Em
geral, os alinhamentos definitivos no padrão de drenagem indicam controle pela estrutura
geológica local.

As características de erosão são significativas, pois refletem, com frequência, a


textura dos materiais expostos. Barrancos curtos e íngremes, em formato de V, com
gradiente uniforme, estão associados a materiais granulares; barrancos longos, com gra-
dientes uniformes de taludes com seção transversal arredondada, estão associados a
solos plásticos de grão fino. Os siltes e os materiais arenosos-argilosos em geral apresen-
tam barrancos com seções transversais em formato de U e gradientes compostos. O
significado dos barrancos, como indicador da textura do solo, é modificado por influênci-
as climáticas extremas, como ocorre nas regiões áridas onde os valores em forma de “U”
parecem prevalecer, independentemente da textura do solo. Entretanto, sem considerar
as influências climáticas, as mudanças no gradiente ou na seção transversal dos barran-
cos, ou mudanças na inclinação de superfícies erodidas, podem indicar alterações no solo
exposto, na textura da rocha, ou na estrutura geológica.

As tonalidades das cores (valores relativos de cinza fotográfico) são significativas,


pois, em geral, refletem as condições de umidade do solo e muitas vezes revelam a
posição relativa do lençol freático. Em geral, os tons claros estão associados a solos bem
drenados, como cascalhos e areias, com lençol freático bem abaixo da superfície do solo.
Os tons escuros com frequência indicam argilas orgânicas mal drenadas e argilas siltosas
com nível do lençol freático máximo da superfície. O significado da cor do solo nas
fotografias aéreas precisa ser avaliado a partir de um padrão geral de cor, uma vez que
deve esperar-se alguma variação na qualidade do tom fotográfico, conforme a fotografia
aérea examinada. Também é necessário excluir, visualmente, os tons produzidos pela
vegetação.

A cobertura vegetal é significativa, porque suas configurações constantes das foto-


grafias aéreas muitas vezes refletem a natureza e as condições de umidade do solo. Além
disso, uma mudança no padrão da vegetação pode indicar uma alteração no tipo ou na
textura da rocha subjacente. O uso de padrões de vegetação como indicadores das con-
dições do solo será muito útil em climas extremos, como na região ártica, na tropical ou
em regiões áridas, onde a combinação do solo e do clima selecionam a vegetação existen-

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te. Em regiões áridas, o padrão de vegetação pode ser utilizado para distinguir solos de
baixa dos de alta alcalinidade, e os lençóis freáticos altos dos baixos. O uso efetivo da
vegetação como indicador nas fotografias aéreas requer uma certa correlação de campo.

3.2.3.4 Alternativas às Fotografias Aéreas

Uma valiosa alternativa e/ou complemento às fotografias aéreas no trabalho de


geologia é a imagem de radar do Projeto Radambrasil. O IBGE fornece positivos em preto
e branco, na escala 1:250.000, as quais possuem excelente representação das estruturas
geológicas.

As imagens de satélite do LANDSAT norte-americano e do SPOT francês também


são alternativas/complementos muito utilizados. Estas imagens são distribuídas no Brasil
pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Tanto os positivos quanto as transparênci-
as, coloridas ou em preto e branco, podem ser adquiridas em escalas que variam de
1:2.000.000 até 1:50.000. A seleção é efetuada a partir de faixas de espectro nos
comprimentos de onda visível, infravermelho próximo, infravermelho médio e infravermelho
térmico do espectro eletromagnético. Pode-se trabalhar com apenas uma faixa de espec-
tro na forma de imagens em preto e branco, ou selecionar um conjunto de três faixas, de
maneira a compor uma imagem colorida. Em geral, as imagens de satélite oferecem uma
visão geral regional que só é possível com as fotografias aéreas, mediante laboriosos
mosaicos de fotografias. No caso do LANDSAT, têm sido adquiridas, para todo o país,
desde 1973; no do SPOT, desde 1988. Continuam a ser adquiridas sistematicamente,
com uma passagem por cada ponto, a cada 16 dias, para o LANDSAT, e uma frequência
maior para o SPOT, devido à capacidade de apontar, dos seus instrumentos de produção
de imagens (embora seja necessário solicitação prévia da aquisição das imagens, a fim de
se aproveitar adequadamente esta capacidade).

Uma vez que as imagens de satélite são conjuntos de dados digitais, é possível
processá-las e realçá-las em computador, a fim de facilitar sua interpretação para fins
geológicos. No Brasil, o sistema SITIM 150 é o mais usado para este tipo de trabalho.
Existem de 60 a 100 sistemas, principalmente nos laboratórios universitários e nos ór-
gãos governamentais que trabalham na gestão e no desenvolvimento de recursos natu-
rais. Em geral, os sistemas consistem de um microcomputador, com um monitor de vídeo
colorido para as imagens. Os programas disponíveis permitem varreduras panorâmicas e
detalhamento na tela, aumento de contraste, cálculos de proporção de faixas e o realce
das bordas, entre outros recursos que auxiliam o usuário a interpretar a geologia. Essas
manipulações podem ser valiosas quando utilizadas em conjunto com a interpretação
visual de fotografias e transparências, a fim de esclarecer pontos de análise mais comple-
xa na versão da imagem em papel.

3.2.4 Investigação da Superfície

3.2.4.1 Aspectos Gerais

A relação entre a topografia do terreno e as características dos solos subsuperficiais


tem sido demonstrada repetidas vezes. Desta maneira, a capacidade de reconhecer as
características do terreno em mapas, ou em fotografias aéreas, e durante os reconheci-
mentos de campo, combinada com uma compreensão elementar dos processos geológi-
cos, pode ser de grande valia na localização de jazidas de materiais de construção e na
avaliação das condições das fundações.

Os principais mecanismos que desenvolvem os depósitos de solo são a ação da


água e do vento, para os solos transportados; e a ação químico-mecânica do intemperismo,
para os solos residuais. Uma camada de solo pode ser produto de diversos mecanismos.
No caso dos solos transportados, cada tipo de ação tende a produzir um grupo de relevo

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típico, modificado, até certo ponto, pela natureza da rocha-mãe. Os solos encontrados
em locais similares, dentro de topografias análogas, em geral possuem as mesmas propri-
edades físicas. O pessoal responsável pelas investigações das fundações e dos materiais
destinados a estruturas hidráulicas deve estar familiarizado com as topografias e com os
solos a elas associados. Esses conhecimentos são muito valiosos durante o estágio de
reconhecimento das investigações e podem ser úteis no controle da abrangência das
investigações dos estágios de estudo de viabilidade e de elaboração das especificações.

3.2.4.2 Solos Fluviais

Os solos cujas propriedades são afetadas, primordialmente, pela ação das águas às
quais foram expostos denominam-se solos fluviais. Sua característica comum é o formato
arredondado dos seus grãos. Em geral, ocorre uma intensa segregação, de maneira que o
depósito é bem estratificado ou lenticulado. Os estratos individuais podem ser de maior
ou menor espessura, mas a granulometria do material de cada estrato estará dentro de
uma faixa limitada. Os três principais tipos de solos fluviais, resultantes da velocidade da
água de deposição, são chamados aluvião lavado de torrente (depósitos torrenciais), alu-
vião de talvegue e de leito lacustre.

Os depósitos torrenciais ocorrem como aluviões em cones e aluviões em leque.


Variam em natureza e tamanho, de pequenos depósitos com declividade acentuada, cons-
tituídos por fragmentos rochosos grossos, até planícies de suave declive, formadas por
aluvião de grãos finos e abrangendo vários hectares.

Em geral, as areias e os cascalhos destes depósitos possuem formatos de


subarredondados a subangulares, refletindo o carreamento por distâncias relativamente
pequenas, e a estratificação dos depósitos é pouco desenvolvida. Os depósitos torrenci-
ais são boas fontes de areia e cascalho, de materiais permeáveis e semipermeáveis e de
agregados de concreto. Contudo, a presença de matações limitaria, possivelmente, sua
utilidade. Em geral, os solos são de areia ou cascalho de granulometria desfavorável,
classificando-os como SP ou GP. Este tipo de depósito é adensado apenas pelo seu
próprio peso e, portanto, será preciso prever recalque nos solos de grãos finos, quando
utilizados nas fundações de estruturas hidráulicas.

Os aluviões de talvegue ou de planícies de inundação são geralmente mais finos,


mais estratificados e melhor segregados do que os depósitos torrenciais. A diferença
entre estes aluviões e os torrenciais dependerá consideravelmente do volume e da
declividade do curso d’água que os originou.

Em geral, os depósitos das planícies de inundação, constituídos de areia e cascalho,


são fontes de agregado de concreto e materiais permeáveis. Os solos dos diversos estra-
tos dos depósitos fluviais podem variar de permeáveis a impermeáveis; conseqüentemen-
te, a permeabilidade do material resultante pode, algumas vezes, ser significativamente
influenciada pela profundidade do corte. A presença de um lençol freático alto pode
dificultar o uso destes depósitos, particularmente como fonte de material impermeável.

A competência dos depósitos fluviais como fundações de estruturas hidráulicas


varia consideravelmente. Entre as dificuldades potenciais incluem-se os lençóis freáticos
altos, as variações nas propriedades dos solos, a infiltração ou percolação, o recalque e
as resistências ao cisalhamento, possivelmente baixas. Salvo em estruturas menores, os
depósitos dos aluviões de talvegue são de valor duvidoso como fundações, pelo que a
profundidade e as características destes depósitos devem ser cuidadosamente investigadas.

Os terraços constituem um tipo importante de depósito fluvial, e são encontrados


ao longo dos cursos d’água. Em geral, as areias e os cascalhos dos depósitos de terraços
apresentam-se em camadas e com granulometria favorável. São excelentes fontes de
material de construções.

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Os sedimentos lacustres resultam da sedimentação em águas paradas. Exceto pró-


ximo às cabeceiras dos depósitos sujeitos a importante influência aluvial, os materiais
serão, provavelmente, siltes e argilas de granulometria fina. Freqüentemente, a estratificação
é tão fina que os materiais parecem ter estrutura maciça. Os depósitos lacustres podem
ser reconhecidos pela sua superfície plana e por estarem rodeados de terreno mais alto.
Com frequência, os materiais contidos nos depósitos lacustres são impermeáveis, compres-
síveis e com baixa resistência ao cisalhamento. São usados, principalmente, como reves-
timento impermeável para reservatórios e canais, assim como para barragens de pouca
altura. O controle da umidade nestes solos é problemático, pois é difícil alterar-se o teor
de umidade.

Em geral, os sedimentos lacustres fornecem fundações inadequadas para as es-


truturas. Pode-se prever características tão duvidosas que exijam ensaios especiais de
campo e laboratório, mesmo durante o estágio de pré-viabilidade. Recomenda-se recor-
rer a um especialista sempre que for necessário localizar as estruturas sobre este tipo de
fundações.

3.2.4.3 Solos Eólicos

Os solos depositados pelo vento são denominados solos eólicos. A principal cate-
goria destes depósitos, de fácil identificação, são as dunas de areia. As dunas são montes
de areia baixos, alongados ou em formato de meia-lua, com encosta suave e lisa de
barlavento e mais abrupta na encosta de sotavento. Em geral, estes depósitos têm escas-
sa cobertura vegetal. O material é muito rico em quartzo e caracteriza-se pela faixa limita-
da dos diâmetros dos grãos, geralmente entre as areias finas e médias. Este material não
tem coesão, tem permeabilidade moderadamente alta e compressibilidade moderada. Em
geral, é classificado no grupo SP (areia de granulometria desfavorável), do Sistema Unifi-
cado de Classificação de Solo (“Unified Soil Classification System”).

Normalmente, os depósitos eólicos são considerados de qualidade duvidosa, em


particular como fundação das estruturas. Esses depósitos devem ser evitados, quando
possível. Entretanto, algumas vezes não há qualquer alternativa e os depósitos eólicos
precisam ser utilizados. Nesses casos, a avaliação das condições da subsuperfície, a
partir dos indicadores superficiais, é complexa e incerta, razão por que as investigações
das fundações são iniciadas durante o estágio de pré-viabilidade, para as estruturas im-
portantes ou dispendiosas e a magnitude das investigações é incrementada proporcional-
mente nos estágios de viabilidade e de projeto básico. As informações relativas à densida-
de in situ dos solos eólicos é de importância vital na avaliação da utilidade destes solos
como fundação das estruturas.

Loesse é um tipo especial de depósito eólico, que consiste, principalmente, de


partículas de silte e/ou areia fina, com pequena quantidade de argila, a qual liga os grãos
de solo entre si. Estes depósitos possuem notável capacidade de constituírem paredes
verticais. Embora de baixa densidade, os solos de loesse, naturalmente secos, possuem
resistência relativamente alta, devido à ligação da argila. Entretanto, esta resistência
pode ser perdida quando umedecidos, podendo ocorrer colapso do solo (ver subitem
3.7). Quando remoldados, os solos de loesse são impermeáveis, moderadamente
compressíveis e de baixa resistência coesiva. Em geral, são classificados como ML, ou
no limiar dos grupos de solos ML-CL ou ML-SP.

3.2.4.4 Solos Residuais

À medida que o intemperismo age sobre a rocha, seus fragmentos são gradualmen-
te reduzidos em tamanho, até que todo o material tenha aparência de solo. Os solos
residuais resultam da alteração, pelo intemperismo, do material subjacente, sem ser trans-
portado do local. Algumas vezes torna-se difícil definir claramente a linha divisória entre

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a rocha e o solo residual, mas, para fins de engenharia, o material pode ser considerado
solo quando pode ser removido pelos métodos usuais de escavação. É possível obter
algumas informações acerca das características de engenharia dos solos residuais a par-
tir do conhecimento da rocha-mãe que os originou.

É difícil identificar e avaliar os solos residuais com base na geomorfologia. Sua


ocorrência é generalizada, quando não se reconhece nenhum dos outros tipos de depósi-
tos, com seus formatos característicos e onde o material não é, claramente, rocha in situ.
Além disso, as características de erosão podem ser úteis na avaliação dos depósitos
residuais. Uma vez que o tipo de rocha-mãe influencia consideravelmente a natureza dos
solos residuais, o tipo de rocha sempre deverá ser determinado na coleta de dados para a
avaliação do depósito residual. O grau de alteração rege a resistência do material. É
necessário realizar ensaios de laboratório sempre que houver dúvida quanto à qualidade
do material, ou quando se planeja a construção de grandes estruturas. A identificação dos
minerais de argila nos solos residuais também costuma ser necessária, quando se deseja
uma boa compreensão das suas propriedades de engenharia.

Uma característica notável de muitos solos residuais é que as partículas in situ são
angulares, embora moles. O manuseio destes materiais, durante a construção, poderá
reduzir apreciavelmente sua granulometria, de maneira que o solo utilizado tenha caracte-
rísticas inteiramente diferentes daquelas indicadas pelos ensaios laboratoriais-padrão, re-
alizados no solo original. Com frequência, são necessários programas de ensaios especi-
ais de laboratório, a fim de se determinarem as prováveis mudanças nas características
resultantes do manuseio. Algumas vezes, recomenda-se realizar ensaios de campo em
seções experimentais, antes de tomar decisões relativas à utilização desses solos.

Alguns solos residuais são perfeitamente apropriados como fundações, ou como


material de construção, sendo, em alguns casos, até superiores aos outros solos locais.
Outros solos residuais, devido ao tipo de rocha-mãe, não possuem propriedades de enge-
nharia adequadas e devem ser evitados sempre que possível.

3.2.5 Exploração da Subsuperfície

3.2.5.1 Aspectos Gerais

Além dos aspectos geológicos, a exploração da subsuperfície é realizada com três


objetivos: primeiramente, para determinar quais massas distintas de solo e rocha existem
numa área de fundação ou de empréstimo, dentro da área de interesse; em segundo
lugar, as dimensões destas massas; e em terceiro, suas propriedades de engenharia.

Na avaliação do ponto de vista de engenharia de uma área de fundação ou emprés-


timo, é necessário dividir a estrutura do solo, por meio de perfis ou planos, numa série de
massas ou zonas, dentro da qual as propriedades geotécnicas são uniformes. Os materi-
ais que possuem propriedades de solo variáveis podem ser avaliados sempre que a natu-
reza de tais variações possa ser detalhadamente definida. Em geral, é necessário que a
determinação das linhas divisórias entre o que possa ser considerado massa de solo
uniforme seja efetuada com base no exame visual, o que exige muita perícia. O Sistema
Unificado de Classificação do Solo fornece uma orientação satisfatória na consideração
de solos em estado amolgado. Para a avaliação de solos em estado indeformado, os
fatores qualificadores adicionais requeridos são a estratificação e o teor de umidade e a
densidade in situ. A cor e a textura também são úteis para delinear as massas de solo com
características uniformes.

Algumas vezes, as fundações de solo são descritas tão detalhadamente que o


quadro resultante fica mais confuso do que claro; entretanto, é melhor errar por excesso
de detalhes na descrição das fundações, uma vez que as descrições não pertinentes

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podem ser eliminadas; as informações necessárias e não incluídas não podem ser acres-
centadas. Ocasionalmente, a única uniformidade a ser encontrada num horizonte de solo
é sua heterogeneidade. Entretanto, em muitos casos, após cuidadosa análise, é possível
perceber um padrão na massa de solo, o qual auxiliará o projetista a reduzir os custos da
estrutura em questão.

As dimensões destas massas de solo são determinadas por métodos análogos aos
usados nos levantamentos de superfície, ou seja, efetuando seções transversais ou de-
senvolvendo a topografia das superfícies superior e inferior da massa de solo. O método
preferencial escolhido dependerá, até certo ponto, do tipo de estrutura considerada. As
seções transversais são adequadas à investigação das condições das fundações para
muitos tipos de edifícios, canais, tubulações e estradas. Infelizmente, o problema de
localização dos pontos de mensuração ou as irregularidades nas superfícies subterrâne-
as são virtualmente insolúveis, pois essas superfícies não podem ser vistas e o custo de
cobrir a área com uma malha de furos de sondagem é considerável. Em geral, a solução
utilizada nas investigações começa com uma estimativa da localização das irregularida-
des, com base na interpretação geológica da subsuperfície. A seguir executa-se uma
investigação desses locais, com furos de sondagem em aproximações sucessivas. Os
sistemas de malhas de furação só são utilizados em grandes áreas de empréstimo, ou nas
fundações de grandes barragens de terra, nas quais as irregularidades da subsuperfície
não possam ser estabelecidas de outra forma.

3.2.5.2 Estruturas Pontuais

Para estruturas como pequenos edifícios, estações de bombeamento, torres de


transmissão e pilares de pontes, em geral é suficiente um único furo de sondagem para
atender aos requisitos de investigação das fundações. Estruturas um pouco maiores exi-
gem mais furos. Quando a localização exata de uma estrutura depende das condições das
fundações, o número de furos de sondagem requerido aumentará. Se num destes casos
forem utilizados dois ou três furos, em investigação preliminar, para estabelecer as condi-
ções gerais das fundações, o número de furos poderá ser diminuído nos estágios subse-
qüentes. A Figura 3.1 mostra as profundidades sugeridas para os furos de sondagem
preliminares, para diversas estruturas pontuais. A Figura 3.2 apresenta um exemplo do
perfil de solo no local de uma estação de bombeamento.

3.2.5.3 Estruturas Lineares

Para as estruturas lineares, como canais, tubulações, drenos e estradas, os requisi-


tos de sondagem para a definição da espessura, assim como para a determinação dos
diversos materiais das fundações, variam consideravelmente, tanto nas dimensões e im-
portância da estrutura, quanto na natureza do terreno no qual a estrutura linear estará
localizada. O espaçamento dos furos deverá variar, dependendo da necessidade de iden-
tificar as mudanças nas condições do subsolo. Quando essas estruturas estiverem locali-
zadas em terreno relativamente plano, com solos evidentemente uniformes, como planíci-
es, planaltos e praias, apenas alguns furos serão suficientes para atender aos requisitos
de investigação. Em geral, furos a intervalos máximos de, aproximadamente, 1,5km, para
as investigações de viabilidade, e de cerca de 500m, para as investigações de projeto
básico, são considerados suficientes para canais e drenos. Será preciso uma cobertura
mais estreita quando houver probabilidade de o subsolo apresentar distribuição mais errática.

Para as investigações a nível de projeto básico de estruturas principais, os requisi-


tos variam consideravelmente; escorregamentos, encostas em talus e leques de aluvião
requerem cuidadoso estudo. Todas estas feições geológicas devem ser estudadas por
meio de pelo menos dois furos, caso afetem a estrutura linear por mais de 60m.
Freqüentemente serão necessários furos a intervalos de 30m. Cortes altos ou áreas de
aterro também devem ser exploradas com um mínimo de dois furos de sondagem, em

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Figura 3.1 Profundidade dos Furos de Sondagem Preliminares para Estruturas


Pontuais

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Figura 3.2 Exemplo de Perfil de Solo no Local de uma Estação de Bombeamento

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Figura 3.3 Profundidade dos Furos de Sondagem Preliminares para Estruturas


Lineares (Canais, Estradas, Tubulações)

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pontos localizados a 1/4 e 3/4 do comprimento total. Em geral, também será preciso um
furo de sondagem no ponto mais alto do aterro ou no fundo do vale. Poderão ser neces-
sários outros furos afastados do alinhamento para todas estas feições, dependendo da
topografia, da geologia e das condições do subsolo. Quando se tratar de itens muito
dispendiosos, as sondagens antes mencionadas poderão ser requeridas para as estimati-
vas ao nível de viabilidade. A Figura 3.3 mostra as profundidades mínimas sugeridas dos
furos de sondagem para as grandes estruturas lineares. Algumas vezes, poderão ser
necessárias profundidades maiores para determinar a natureza de solos questionáveis. A
Figura 3.4 fornece um exemplo de perfil geológico, ao longo do eixo central de uma
tubulação.

3.2.5.4 Áreas de Empréstimo

Existem dois tipos de investigação de áreas de empréstimo. O primeiro inclui as


investigações para localizar um tipo específico de material, como agregados de concreto,
de base ou de revestimento de estradas, de leito filtrante para drenos, tapetes ou reves-
timento de canais, para “riprap”, ou para solos estabilizados ou modificados. O segundo
visa a determinação dos tipos de material disponível numa área.

O primeiro tipo de investigação exige a localização de quantidades comparativa-


mente pequenas de um material com características específicas. Inicialmente, portanto,
são feitas furações individuais em locais muito prováveis, de maneira a determinar se
existe aquele material com as características exigidas. Se a fonte potencial for encontra-
da, serão feitas furações suplementares, suficientes para delimitar a quantidade de mate-
rial requerida. Não será necessário definir os limites de toda a jazida.

O segundo tipo de investigação é realizado para localizar quantidades relativamente


grandes de material e, neste caso, a acessibilidade, a uniformidade e a trabalhabilidade
são tão importantes quanto as propriedades de engenharia do solo. De início, será neces-
sário localizar, com base nas indicações da superfície, uma jazida potencial que atenda
estes requisitos. A seguir, fazem-se alguns furos para estabelecer que existe profundida-
de suficiente do material, sendo depois a área coberta com uma malha de furos que
permita determinar o volume disponível. A disposição da malha deverá permitir a obten-
ção de uma quantidade máxima de informações, com um mínimo de furos de sondagem.
Em geral, nos depósitos longos e estreitos, os furos precisam ser espaçados de forma
que, estatisticamente, cada furo represente um volume similar de material. Um depósito
quadrado deverá ter furos a intervalos aproximadamente iguais, em ambas as direções.
Nas explorações de nível de viabilidade que visem à localização de jazidas de materiais
para uma barragem, estes furos devem estar situados, inicialmente, a intervalos de 150 a
300m. Nas investigações a nível de projeto básico, o espaçamento dos furos de sonda-
gem deverá ser reduzido para 60 a 120m. Com frequência, serão necessários furos adici-
onais durante a construção. Antes de iniciar as escavações, por vezes o espaçamento é
diminuído para 15 ou 30m, perto dos limites da jazida, ou em jazidas de material variável.
A Figura 3.5 apresenta um exemplo de uma planta e uma seção mostrando as investiga-
ções numa área de empréstimo. Nas obras de canais, o material de empréstimo é normal-
mente retirado de áreas adjacentes ao canal, e não são precisos furos de sondagem, caso
os furos do alinhamento estejam próximos o suficiente para assegurar a disponibilidade
de materiais de qualidade satisfatória.

3.2.5.5 Escolha de Amostras

Poderá ser necessário realizar ensaios para determinar as propriedades de uma


jazida de solo em: (1) amostras de solo, sem levar em consideração suas condições na
jazida; (2) amostras de solo, nas quais as condições naturais foram preservadas na medi-
da do possível; e (3) solos, conforme encontrados nas fundações. São efetuados ensaios
dos solos para determinar tanto as propriedades de engenharia representativas quanto a

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Figura 3.4 Exemplo de Perfil Geológico ao Longo do Eixo Central de uma


Tubulação

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Figura 3.5 Exemplo das Investigações numa Área de Empréstimo


Planta e Seção para uma Barragem Típica

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extensão das variações dessas propriedades. Para estabelecer estas relações, é possível
fazer um grande número de ensaios e determinar os valores médios e a extensão, median-
te análise estatística. Uma vez que isto pode ser muito dispendioso, o processo geralmen-
te utilizado é definir, a partir do exame visual, quais amostras têm maior probabilidade de
representar as propriedades piores, médias e melhores, para aquela característica consi-
derada crítica. No estágio de elaboração das especificações, os ensaios relativos aos
índices dos solos poderão ser utilizados, a fim de serem selecionadas as amostras para
ensaios detalhados, ao invés de depender do exame visual.

Durante a construção, são colhidas amostras representativas dos solos utilizados,


numa parte das quais serão realizados ensaios de laboratório, sendo o restante armazena-
do, caso haja necessidade de novos ensaios. Uma vez que as amostras podem ser
danificadas durante o transporte, a armazenagem ou os ensaios, e que o número exato
de ensaios não pode ser predeterminado, será preciso coletar um número bem maior de
amostras do que o considerado necessário para a realização dos ensaios.

As amostras deformadas são coletadas nos casos em que as propriedades relacio-


nadas às propriedades in situ do solo não são muito importantes. O elemento relevante
neste tipo de amostragem é que a amostra seja uniforme dentro dos intervalos de profundi-
dade de amostragem e que sejam coletadas amostras separadas para cada mudança de
material. Se os furos de sondagem são pequenos, todo o material do furo é recolhido. Nos
furos grandes que permitem acesso, o material é removido de uma ranhura com seção
transversal uniforme, cortada numa das paredes, a fim de fornecer as amostras. Em
alguns casos, uma parte específica de cada quantidade de material retirado é separada,
como amostra representativa. É norma fazer a amostragem completa de todos os furos
de sondagem inicialmente perfurados. Se estas amostras demonstrarem que o horizon-
te de solo é claramente uniforme, poderá ser desnecessário fazer furos intermediários,
para delimitar detalhadamente o depósito.

As amostras indeformadas são coletadas onde o solo, no estado in situ, parece


apresentar determinadas características que precisam ser definidas. Podem ser coletadas
apenas para exame visual da estrutura do solo, aferição da massa específica aparente,
ensaios de carga-adensamento, ensaios de cisalhamento, ou outros ensaios especiais que
visem à determinação das mudanças nas propriedades de engenharia conforme a condi-
ção natural sofrer alterações. Existe um amplo leque de procedimentos para a obtenção
de amostras indeformadas, desenvolvidos com o intuito de fazer a amostragem de tipos
de solo, retirar amostras de estruturas pedológicas singulares, minimizar o amolgamento
provocado, ou diminuir os custos de amostragem. A norma exige a obtenção de amostras
dos furos de sondagem, por meio de um amostrador de pistão ou de tubo duplo e dos
poços de inspeção ou das escavações abertas, pelo talhamento e retirada de um grande
bloco de material. Quando estes procedimentos se mostrarem insatisfatórios, o engenhei-
ro deverá prover instruções e assistência especiais.

3.2.5.6 Ensaios de Campo

Os ensaios nas fundações, realizados no campo, incluem ensaios de massa espe-


cífica aparente e umidade natural, permeabilidade in situ, pressiômetro e dilatômetro de
chapa lisa, penetrômetro eletrônico de cone, cisalhamento em furo de sondagem, resis-
tência à penetração, ensaio de palheta (“Vane Shear Test”), cravação de estacas e carga
de estacas. Também é norma realizar ensaios de permeabilidade nas fundações de estru-
turas hidráulicas (barragens e canais). Os ensaios de penetração algumas vezes são rea-
lizados em fundações de solo e utilizados como ensaio relativo aos índices, em especial
onde a capacidade de carga do solo é questionável. Em geral, os ensaios de palheta e os
de cravação de estacas são solicitados pelo engenheiro projetista. Uma vez que o local
onde o ensaio é realizado está estreitamente relacionado aos requisitos do projeto, estes
dois últimos ensaios são exigidos, principalmente, nas investigações de projeto básico e
de projeto executivo.

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3.2.6 Investigação de Materiais com Propriedades Específicas

3.2.6.1 Aspectos Gerais

Freqüentemente, a área vizinha a uma estrutura de terra não contém a variedade de


materiais naturais necessários à construção econômica da obra. Nesses casos, pode ser
interessante, para diminuir os custos, obter as quantidades limites de materiais que pos-
suam características particularmente desejáveis, de áreas situadas a distâncias conside-
ráveis do local da obra. Esses materiais incluem os solos impermeáveis, para a construção
de aterros; areia e cascalho para agregados de concreto; filtros, drenos internos, revesti-
mento de estradas e, ocasionalmente, proteção contra erosão, assim como fragmentos
de rocha para “riprap” e enrocamento agregado de concreto.

É evidente que, se os materiais requeridos podem ser encontrados em grandes


quantidades na vizinhança imediata da obra, será desnecessário investigar jazidas mais
distantes. Entretanto, se houver falta de materiais permeáveis ou rocha na área imediata,
não é incomum obter quantidades limitadas do material deficitário a 15 ou 30km do local
da obra. Por outro lado, o solo-cimento deve ser considerado como método alternativo de
proteção de taludes, quando a fonte da rocha apropriada estiver a mais de 15km de
distância. Mesmo assim, a(s) fonte(s) mais próxima(s) deve(m) ser investigada(s), de
forma a se obterem cotações alternativas, se considerada(s) apropriada(s) pelo engenhei-
ro projetista.

O quadro de usos em engenharia (Tabela 3.1) fornece informações acerca da utili-


dade dos materiais, exceto rochas, nas diversas aplicações, do ponto de vista da qualida-
de. Em geral, não é economicamente factível obter qualquer material, inclusive rocha,
com características ideais, sendo preciso bom senso, por parte do investigador, na sele-
ção das fontes de materiais. O grau de aproximação às características desejadas num
material dependerá do seu uso. No emprego de materiais, a qualidade pode ser substitu-
ída, até certo ponto, pelo volume e um processamento especial do material de fontes
mais próximas poderá ser mais econômico que o uso de fontes mais distantes. No caso
das fontes mais afastadas, a acessibilidade e o tipo de transporte a ser utilizado pesam
consideravelmente no interesse por um material.

3.2.6.2 Materiais Impermeáveis

Na construção de canais e reservatórios, em alguns casos, há necessidade de ma-


terial impermeável de uma fonte especial. Esse material precisa ser impermeável, em
contraste com os solos das fundações, a fim de justificar seu uso, embora os materiais
argilosos muito plásticos quase nunca sejam necessários ou desejáveis. Estes solos im-
permeáveis são aplicados como tapetes ou revestimento das fundações permeáveis. Os
gradientes hidráulicos através do tapete ou do revestimento serão altos, de maneira que
é essencial que a granulometria do material não permita o carreamento dos finos do
tapete ou do revestimento para dentro do material mais permeável das fundações. O
material será exposto à água no canal ou reservatório e, portanto, deverá poder resistir às
forças erosivas do fluxo d’água e das ondas. Poderá ficar exposto a condições alternadas
de molhagem e secagem. Conseqüentemente, os materiais utilizados nos tapetes e nos
revestimentos expostos não poderão ser propensos à contração ou expansão. Existem
métodos para superar estas características geotécnicas indesejáveis, mas, em muitos
casos, ocorre tal aumento dos custos que membranas enterradas, ou uso de aditivos para
a estabilização do solo, de modo a formar uma cobertura protetora dura sobre a superfí-
cie, ou ainda o revestimento de concreto, de argamassa aplicada pneumaticamente, ou
de solo-cimento compactado, tornam-se alternativas economicamente competitivas. De-
vido à disponibilidade de procedimentos alternativos, a procura por materiais impermeá-
veis não deve estender-se a grandes distâncias, sem uma prévia consideração dos custos
comparativos.

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TABELA 3.1. Quadro de Usos em Engenharia

Propriedades Importantes de Engenharia


Praticabilidade
Simbolos dos
Nomes Típicos de Grupos de Solo Resistência de como Material
Grupos Permeabilidade Compressibilidade
cisalhamento, quando de Construção
quando quando Compactados
compactados e
Compactados e Saturados
saturados
Cascalhos, bem graduados, compostos de
cascalho com areia, sem ou com poucos GW Permeável Excelente Desprezível Excelente
mal graduados, finos
Cascalhos, mal graduados, compostos de
Muito
cascalho com areia, sem ou com poucos GP Boa Desprezível Boa
Permeável
grãos, finos
Cascalhos siltosos, mal graduados, Semipermeável
GM Boa Desprezível Boa
compostos de cascalho e silte a impermeável
Cascalhos argilosos mal graduados,
GC Impermeável Boa a Regular Muito Baixa Boa
compostos de cascalho, areia e argila
Areias e areias cascalhadas, sem ou com
SW Permeável Excelente Desprezível Excelente
pouco grãos finos bem graduados
Areias e areias cascalhadas, sem ou com
SP Permeável Boa Muito Baixa Regular
poucos grãos finos bem graduados
Areias siltosas e compostos de areia e silte Semipermeável
SM Boa Baixa Regular
bem graduadas a Impermeável
Areias argilosas e compostos de areia e
SC Impermeável Boa a Regular Baixa Boa
argila mal graduadas
Silte inorgânico e areias muito finas, pó de
Semipermeável
pedra, argilas finas siltosas e argilosas com ML Regular Média Regular
a Impermeável
pouca plasticidade
Argilas inorgânicas de baixa a média
plasticidade argilas, cascalhos, argilas CL Impermeável Regular Média Boa a regular
arenosas, argilas siltosas
Silte orgânico e argila siltosas organicas de Semipermeável
OL Ruim Média Regular
baixa plasticidade a Impermeável
Silte inorgânico, solos arenosos finos ou Semipermeável
MH Regular a Ruim Alta Ruim
siltosos a Impermeável
Argilas inorgânicas com alta plasticidade CH Impermeável Ruim Alta Ruim
Argilas orgânicas de plasticidade média a
OH Impermeável Ruim Alta Ruim
alta
Turfa e outros solos altamente orgânicos PT – – – –

Na construção de canais, os revestimentos de solo impermeável podem ser utiliza-


dos para reduzir a perda de água, o que é desejável para conservar o suprimento de água,
prevenir o encharcamento das terras contíguas ou reduzir as dimensões do sistema de
transporte. Neste sentido, um alto grau de impermeabilidade é muito desejável; entretan-
to, também têm sido utilizados revestimentos espessos de material com impermeabilidade
moderada. Mesmo assim, estes revestimentos são constituídos com a menor espessura
possível, tanto para economizar material, quanto para minimizar a necessária sobrees-
cavação. Quando as velocidades no canal podem ser altas ou o solo natural é erodível, a
procura de materiais para os canais deverá incluir uma fonte de material grosseiro, para
uso como tapete, exceto se o material impermeável já contiver um número considerável
de partículas grossas.

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3.2.6.3 Materiais Permeáveis

As areias e o cascalho são necessários para agregado de concreto, para filtros e


drenos associados à construção das estruturas de concreto, como berços sob o “riprap”,
para uso como material de transição, visando a impedir o entubamento (“piping”), e como
revestimento de estradas. Exceto quando há necessidade de uma mistura especial de
materiais, material permeável, no sentido utilizado neste texto, significa areia com algu-
mas partículas da dimensão de seixos. No revestimento de estradas, é desejável uma
pequena quantidade de finos, como ligação. A distância entre o local da obra e as áreas
onde são realizadas as investigações para a localização de depósitos de materiais perme-
áveis com propriedades especiais, poderá variar dependendo da necessidade de obten-
ção de tal material especial.

Os procedimentos de investigação para a localização de agregados para concreto


são descritos no item 3.5. É preciso frisar que tais investigações devem ser mais rigoro-
sas do que as direcionadas a outros propósitos. Por exemplo, as investigações de agrega-
dos para concreto também podem ser utilizadas com outras finalidades, mas as investiga-
ções que visam a outros propósitos, em geral, não são adequadas para localizar agrega-
dos de concreto.

Embora, na maioria das vezes, só seja exigida uma pequena quantidade de material
permeável para filtros e drenos, os requisitos de qualidade são rigorosos. O principal
propósito construtivo de uso deste material é a prevenção da subpressão hidráulica. Por-
tanto, o material deve ter drenagem livre; ao mesmo tempo, é preciso que cargas hidráu-
licas relativamente altas sejam dissipadas sem deslocamento do material filtrante ou do
solo das fundações. Com frequência, uma única camada de material será insuficiente,
sendo preciso projetar um tapete de duas camadas. É indesejável a existência de areia
fina, silte ou argila no material permeável e é necessário o processamento por lavagem ou
peneiramento, de modo a produzir um material aceitável, a partir da maioria dos depósitos
naturais. Embora os requisitos relativos à granulometria difiram, em geral os materiais
utilizados em filtros são obtidos, economicamente, de fontes aceitáveis para agregado de
concreto. Como nem a forma das partículas, nem a natureza dos minerais contidos no
material permeável são de importância crítica, é possível utilizar agregados de concreto
processados e que foram rejeitados devido a tais características, na construção de drenos
e de tapetes de drenagem, desde que obedecida a granulometria requerida.

No caso do berço de areia e cascalho sob o “riprap”, o requisito principal é granulação


grossa. Por isso, o material de berço utilizado para este propósito é freqüentemente obti-
do dos finos da rocha existentes nas pedreiras. Entretanto, se for descoberto um depósito
de cascalho grosso, a uma distância razoável do local da obra, o desenvolvimento dessa
jazida poderá ser economicamente factível. Serão necessárias grandes quantidades des-
tes materiais e um processamento especial, por peneiramento ou outros meios, poderá
ser dispendioso. O principal objetivo deste tipo de transição é impedir que as ondas que
penetram no “riprap” causem erosão no aterro subjacente. Uma quantidade limitada de
material fino é aceitável, embora parte dele possa se perder pela ação das ondas. É
necessário que o material seja durável. O material encontrado na maioria dos depósitos de
cascalho é adequado, embora alguns depósitos contenham grandes quantidades de mate-
rial impróprio. Esses depósitos incluem antigos leitos de cascalho deteriorados pelo
intemperismo e depósitos de sopé ou talus, nos quais a ação da água foi insuficiente para
remover a rocha mais mole.

Os materiais para revestimento ou base de estradas são procurados, principalmen-


te, pelas suas características de resistência e durabilidade. O material preferido para
revestimento consiste, na sua maior parte, de cascalho fino a médio, com suficiente argila
para dar liga e relativamente pouca quantidade de silte e areia fina. O material preferido
para base de estradas não deve conter silte ou argila.

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3.2.6.4 “Riprap” e Enrocamentos

Nas estruturas de terra, são necessários fragmentos de rocha que visam a proteção
de aterros ou escavações expostas à ação da água, como ondas, fluxos turbulentos ou
chuvas pesadas. O “riprap” é uma camada relativamente espessa de fragmentos volumo-
sos de rocha, de preferência angulares, utilizada como proteção contra a ação erosiva
severa das ondas e dos fluxos de água de grande velocidade. Os enrocamentos são
camadas relativamente finas de fragmentos de rocha, utilizadas como proteção contra a
ação erosiva moderada, como aquelas decorrentes das chuvas.

O material proveniente das fontes de rocha deverá satisfazer dois requisitos


principais:

„ Primeiramente, a fonte de rocha deverá produzir fragmentos de rocha de tamanhos


apropriados para o uso a que se destinam e, em segundo lugar, os fragmentos de
rocha devem ser duros e suficientemente resistentes para enfrentar os processos
necessários à sua obtenção e lançamento, assim como o processo normal de intem-
perismo e outras forças associadas com o local onde serão utilizados. A massa
específica é um atributo importante, embora, até certo ponto, seja possível substi-
tuir fragmentos mais densos por fragmentos maiores. Existem outros métodos que
podem ser utilizados em lugar do “riprap” e dos enrocamentos, como o solo-cimen-
to, na proteção dos taludes e que devem ser considerados na falta de fontes de
rocha perto do local da obra.

Não há parâmetro geral que defina qualquer tipo de rocha como a mais apropriada
para a proteção de taludes. Entretanto, toda rocha sedimentar que contenha argila deverá
ser considerada potencialmente fraca. Ensaios laboratoriais, como os de ciclagem, revela-
rão essa falta de resistência.

Em geral, a durabilidade pode ser avaliada, investigando-se locais em que essa


mesma rocha esteja sujeita a condições similares em outros reservatórios ou cursos d’água.

O tamanho dos fragmentos de rocha é muito importante; podem ser necessários


fragmentos de até meio metro cúbico em volume. O espaçamento das fraturas nos
afloramentos ajudará a determinar se poderão ser obtidos fragmentos das dimensões
apropriadas, mas é imprescindível prestar atenção a antigas fraturas que possam ter
ficado cimentadas, mas que poderão romper-se durante as escavações. Quando não exis-
tir, na vizinhança do local da obra, um afloramento de rocha com os atributos requeridos
e que possa ser explorado satisfatoriamente, os materiais para o “riprap” poderão ser
obtidos mediante a remoção de matações existentes nos cursos d’água, encostas de
talus ou depósitos superficiais. A qualidade de muitas pedreiras varia em função da pro-
fundidade, e o solo sobrejacente de algumas pode ser tão espesso que sua remoção se
torne economicamente inviável. Portanto, muitas vezes é necessário investigar as jazidas
de rocha através de furos de sondagem, dependendo das condições geológicas, antes de
aprová-las como pedreiras.

Quando é necessário obter o “riprap” a distâncias superiores a alguns quilômetros,


muitas vezes se localiza mais de uma jazida utilizável do material. Nestes casos, poderão
ser especificados os padrões de qualidade requeridos para o “riprap”, ao invés da fonte,
de maneira que a empreiteira possa utilizar a competitividade entre os diversos possíveis
fornecedores, para obter preços mais econômicos. Assim, as investigações deverão ser
orientadas ao estabelecimento da competitividade das diversas jazidas, nas quais deverá
ser feita amostragem, sendo as amostras submetidas a ensaios que determinem suas
características essenciais. As informações obtidas serão utilizadas, junto com os proje-
tos, para estabelecer requisitos mínimos aceitáveis das diversas propriedades, a fim de
determinar os padrões de qualidade. O estabelecimento desses requisitos mínimos levará

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em conta elementos como o custo inicial, a vida efetiva do revestimento, os custos de


reparo, as condições climáticas e a espessura do revestimento; portanto, os requisitos
mínimos não podem ser estabelecidos antes de se determinar a natureza das diversas
jazidas alternativas.

O “riprap” é utilizado na construção de canais, nos pontos sujeitos a forte erosão.


Em geral, esses locais encontram-se nos trechos curtos dos canais à jusante das estrutu-
ras de concreto, perto dos pilares das pontes e nas curvas acentuadas. O nível de prote-
ção requerido varia consideravelmente; a proteção necessária pode ser fornecida apenas
por uma fina camada de cascalho ou até a exigência de “riprap” equivalente àquele utili-
zado à jusante das obras de controle das barragens. Quando os revestimentos são cons-
tituídos por “riprap”, em geral têm espessura entre 30 e 60cm, com fragmentos de rocha
de dimensões proporcionais.

Os revestimentos de enrocamento são utilizados para proteger a superfície da ação


das chuvas. Praticamente todos os fragmentos de rocha que não se desagreguem quando
expostos à água ou ao ar podem ser utilizados nos enrocamentos. Folhetos e alguns
siltitos são quase os únicos tipos considerados inaceitáveis. O tamanho dos fragmentos
não é um parâmetro crítico, embora precisem ter tamanho mínimo equivalente a cascalho
e máximo dependente da espessura do revestimento especificado. Um possível substitu-
to é a manta de terra gramada, que não é dispendiosa. A obtenção de material para
revestimentos de enrocamento em locais mais afastados só se justifica quando não há
rocha na vizinhança imediata da obra ou quando o substituto anteriormente mencionado
não oferece proteção adequada.

3.2.7 Materiais para Solos Estabilizados

3.2.7.1 Aspectos Gerais

Um solo estabilizado é aquele cujas propriedades são mudadas parcial ou totalmen-


te quando se acrescenta um material dissimilar, antes da compactação do solo ou quando
se injeta um aditivo no solo in situ. Dependendo das propriedades e da quantidade de
material dissimilar adicionado, todas as propriedades características do solo podem ser
modificadas completa e permanentemente.

Os solos estabilizados são utilizados como substituto do “riprap” na proteção de


taludes de montante das barragens de terra, no revestimento dos reservatórios e na
proteção temporária das obras, durante o desvio do rio. São usadas pequenas quantida-
des de aditivos para modificar e melhorar as propriedades dos solos empregados nos
aterros, para aumentar a resistência à erosão, para reduzir a permeabilidade ou fornecer
estabilidade temporária durante as obras.

3.2.7.2 Solo-Cimento Compactado

O solo-cimento compactado é um solo estabilizado com cimento, que consiste de


uma mistura controlada de solo, cimento e água, compactada até tornar-se uma massa
densa e uniforme. É utilizado em revestimentos e mantas de proteção, assim como na
proteção de taludes, substituindo o “riprap”. O teor de umidade e a massa específica
durante o seu lançamento são controlados por meio de ensaios de compactação de labo-
ratório.

O solo mais apropriado para estes propósitos é areia siltosa (SM) que tenha uma
boa distribuição granulométrica, com 15 a 25% de finos e tamanho máximo entre a
peneira N 4 e cerca de 50mm. Também podem ser utilizados outros solos, entretanto,
poderá ser preciso usar mais cimento para atender os requisitos de resistência e durabili-
dade. O fator mais importante para garantir a uniformidade do solo-cimento compactado

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é a uniformidade do solo quanto a textura, granulometria e teor de umidade, quando


introduzido na central de dosagem.

Em geral, o solo é obtido de uma área de empréstimo devidamente investigada, de


maneira a garantir a quantidade e a uniformidade requeridas. Um depósito uniforme é
preferível. Os depósitos estratificados podem ser utilizados, sempre que seja prático e
econômico executar a escavação seletiva e o processamento, em comparação com ou-
tras fontes potenciais. Pode ser necessário efetuar escavação seletiva e mistura do mate-
rial durante a estocagem, de maneira que o solo possa apresentar, na medida do possível,
uniformidade de textura, granulometria e teor de umidade. Poderá ser também necessário
empregar equipamento de seleção para remover: (1) matéria orgânica indesejável e partí-
culas demasiado grandes; (2) folheto, caliche, “hard pan” e outras partículas não passí-
veis de desagregação durante o processamento normal; e (3) torrões de areia, silte e
argila, denominados “bolas de argila”, normalmente formados em materiais de emprés-
timo que contêm lentes de silte ou argila.

São necessários ensaios exaustivos do material, para determinar a quantidade e o


tipo de cimento, os limites de umidade e os requisitos de compactação que deverão ser
especificados para a obra. Portanto, amostras representativas de 150kg, da fração <75mm,
de material médio, mais fino e mais grosso, deverão ser submetidas a ensaios. A água a
ser utilizada na mistura deverá ser razoavelmente limpa e isenta de quantidades inadmis-
síveis de matéria orgânica, álcalis, sais e outras impurezas. Poderá ser utilizada água
límpida, que não tenha gosto salobro ou salino; entretanto, é necessário fazer amostras e
testar qualquer fonte questionável.

3.3 Métodos de Sondagem

3.3.1 Aspectos Gerais

Existem muitos métodos de fazer furos de sondagem exploratórios, que podem ser
classificados de diversas maneiras: (1) os que produzem amostras utilizáveis e aqueles
cujas amostras não são utilizáveis; e (2) os que provêem acesso ao pessoal para a inspe-
ção e os que não o provêem. Na investigação de fundações ou materiais, a finalidade
principal de uma sondagem é obter amostras do solo, seja para exame visual, seja para
ensaios. Portanto, aqueles procedimentos que não produzem amostras só devem ser
utilizados quando já foram obtidas amostras suficientes. Os métodos de amostragem
variam conforme a dureza do material a ser penetrado e, também, segundo o grau admissível
de amolgamento da amostra. Além disso, os furos de sondagem podem ser feitos manual
ou mecanicamente. Os furos exploratórios podem ser de diversos tamanhos, dependendo
da necessidade de acesso, da profundidade de penetração, do tamanho da amostra requerida
e do tipo de material que será perfurado.

A estabilidade dos furos pequenos, localizados totalmente acima do lençol freático,


depende do tipo de material. Em geral, os furos no solo abaixo do lençol freático exigem
sustentação por meio de revestimento de aço ou lama de perfuração com um estabilizador
de parede. Algumas vezes é necessário proteger estes furos exploratórios com revestimento
de aço, para evitar danos ao furo, decorrentes das operações de perfuração e contamina-
ção das amostras com materiais provenientes de locais mais altos. Na investigação das
fundações, muitos furos exploratórios precisam ser ensaiados com água. Utilizando-se
revestimento de aço, é possível ensaiar com água em determinados trechos das funda-
ções, o que simplifica a avaliação das fundações e a determinação do tratamento requerido.
Quando se especifica a realização de ensaios com água, não se deve usar lama de
perfuração.

Em fundações de solo fofo ou de baixa massa específica, a sustentação in situ das


paredes do furo poderá ser insuficiente para impedir que o solo invada o fundo do furo.

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Em muitos casos, será suficiente conservar o furo cheio de água para manter os materiais
no seu lugar. Em casos mais graves, utilizar-se-á um estabilizador de parede ou um fluido
pesado, ou ambos. Quando não é necessário ensaiar com água, em geral, utiliza-se lama
de perfuração que consiste de uma mistura de bentonita e água. Esse fluido, preparado
especialmente, tem o peso requerido graças ao acréscimo de material sólido fino. Tam-
bém são úteis os novos produtos químicos orgânicos, como os aditivos de fluidos de
perfuração, existentes no mercado. Enquanto a estabilidade das fundações fofas e o
colapso das fundações de baixa massa específica são as principais fontes de preocupa-
ção do engenheiro, a obtenção de amostras para os ensaios de laboratório é a tarefa mais
importante do investigador. As amostras devem ser obtidas dos furos por meio de
amostradores de tubo duplo ou amostradores de cravação. A fim de minimizar o
amolgamento das amostras, recomenda-se o uso de amostradores de pistão fixo e trados
com eixo oco, no caso de solos muito fofos ou de baixa massa específica.

Ao aprofundar os furos exploratórios através de materiais duros, nos quais não há


necessidade de sustentação adicional, algumas vezes são encontradas zonas de rocha
fragmentada ou falhas, das quais podem-se desprender fragmentos de rocha que tendem
a tapar o furo ou a emperrar o equipamento de perfuração. Nesses casos, poderá injetar-
se argamassa de cimento na área e, após sua pega, o furo poderá ser perfurado através
da argamassa. Uma vez que estas zonas de rocha fragmentada ou falhas representam
algumas das condições críticas que estão sendo investigadas do ponto de vista da enge-
nharia, será necessário realizar todos os ensaios possíveis, como ensaios de água, antes
de proceder à injeção de argamassa na parte instável do furo e apresentar um relatório
completo das condições constatadas. Antes de injetar argamassa num furo de sondagem,
a pessoa responsável pelas sondagens deverá ser informada da operação pretendida e
aprová-la.

Todos os furos exploratórios devem ser protegidos com coberturas ou cercas, de


modo a impedir a entrada de matéria estranha e a queda de pessoas ou animais. Todos os
furos devem ser preenchidos ou vedados após terem atendido os objetivos para as quais
foram executados.

3.3.2 Categorias de Amostras

Existem dois tipos de amostras: deformadas e indeformadas.

As amostras deformadas são coletadas quando as condições naturais do material


são de pouca importância relativa – ou seja, se os solos serão retrabalhados quando
utilizados na estrutura.

As amostras indeformadas são coletadas quando o material, no seu estado natural,


possui características especiais que se poderão perder numa amostra deformada e essas
características precisam ser aferidas.

3.3.3 Amostras Deformadas

3.3.3.1 Aspectos Gerais

O elemento importante neste tipo de amostragem é que a amostra seja representa-


tiva do material no intervalo de amostragem, e que as diversas amostras sejam coletadas
toda vez que o material se altere. Também é importante que as amostras sejam cuidado-
samente embaladas e rotuladas.

Cada estrato com espessura superior a 30cm deverá ser amostrado separadamen-
te. Todos os estratos encontrados até a profundidade final da sondagem deverão ser
amostrados. Quando forem omitidas amostras, o fato deverá constar do diário de sonda-
gens, junto com a justificativa.

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A quantidade de solo enviado ao laboratório dependerá dos tipos de ensaio a serem


realizados, conforme estabelecido nas especificações.

3.3.3.2 Poços de Inspeção e Trincheiras

Os poços e trincheiras abertos são acessíveis e permitem a obtenção de informa-


ções completas a respeito do solo penetrado. Quando a profundidade do solo sobrejacente
e as condições do nível freático permitirem, recomenda-se o uso destes métodos de
investigação das fundações, ao invés de depender, exclusivamente, de perfurações.

Os poços de inspeção podem ser escavados manualmente ou com o uso de


retroescavadeira, escavadeira e caçamba articulada (“clamshell”).

As trincheiras são utilizadas da mesma maneira que os poços, mas têm a vantagem
de mostrar a continuidade ou a natureza de um determinado estrato. Em geral, são esca-
vadas como trincheiras abertas, de cima a baixo de um talude, seja em trincheira única
declive abaixo, seja uma série de trincheiras curtas, espaçadas a intervalos apropriados,
ao longo do talude. Da mesma forma que os poços, as trincheiras permitem realizar
inspeção visual dos estratos do solo, o que facilita o levantamento do perfil e a seleção
das amostras. As trincheiras nos terrenos em declive têm a vantagem de se autodrenarem.
Em geral, são escavadas com trator de lâmina e/ou retroescavadeira.

3.3.3.3 Amostragem em Poços e Trincheiras

Durante a escavação, o material trazido à superfície deverá ser colocado, de manei-


ra organizada, em torno do poço ou ao lado da trincheira. Deverão ser colocados marcadores
indicando a profundidade de onde o material foi retirado, a fim de facilitar a descrição e a
amostragem.

Em geral, só a parte do solo <75mm é amostrada. Uma pessoa especificamente


capacitada determina e descreve o material sobredimensionado (>75mm), mediante exa-
me visual das faces expostas do poço ou da trincheira ou do material nas pilhas. Se for do
interesse amostrar o solo que contém material >75mm, deverão ser tiradas porções
representativas do material total escavado, como, por exemplo, cada quinto ou décimo
balde de material.

As condições de umidade de cada pilha deverão ser registradas antes de as amos-


tras secarem sob o efeito do sol e do ar.

No desenrolar das escavações ou ao seu término, far-se-á amostragem dentro do


poço. Raspa-se uma área da parede lateral do poço de inspeção ou da superfície exposta,
a fim de se remover qualquer solo afetado pelo intemperismo ou misturado. A superfície
raspada é examinada para determinar a seqüência, a espessura, a classificação e a descri-
ção de cada estrato do material. A amostra é retirada da seguinte maneira: abre-se um
sulco de seção transversal uniforme na superfície raspada e recolhe-se o solo sobre uma
lona estendida abaixo do sulco. A dimensão mínima do sulco de amostragem deverá ser
equivalente a, pelo menos, quatro vezes o diâmetro da maior partícula de cascalho no
solo. Na amostragem de um determinado estrato do solo, é preciso evitar a mistura com
material de outros estratos.

A amostragem pode ser realizada utilizando-se a caçamba da retroescavadeira. Em


geral, isto é efetuado obtendo-se amostra do estrato mais próximo da superfície e progre-
dindo para baixo. É preciso evitar qualquer mistura ou contaminação das amostras.

Quando se deseja uma amostra misturada, a seção transversal do sulco de


amostragem deverá ser mantida constante através de todos os estratos.

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Se a amostra coletada for maior do que o necessário para os ensaios, ela poderá ser
diminuída rolando-se e misturando-se a amostra até se obter uma mistura uniforme, que,
em seguida, deverá ser dividida em quatro partes sobre a lona. A amostra é misturada por
duas ou mais pessoas que seguram os extremos opostos da lona, suspendendo primeiro
um lado, depois o outro, e rolando, desta forma, o material. Este procedimento deverá ser
repetido inúmeras vezes, até se obter uma mistura completa e uniforme e uma granulometria
quase uniforme em todo o material. Para dividir a amostra em quatro partes, o material é
colocado numa pilha uniforme, que é achatada até ficar de espessura uniforme, a qual é
dividida por duas linhas perpendiculares entre si e que se intersectam no centro da pilha.
São removidos dois quartos diagonalmente opostos, e o restante do material é misturado,
dividido em quatro e reduzido até que se obtenha o peso de amostra desejado.

3.3.3.4 Amostragem a Trado

Um dos instrumentos mais utilizados nas investigações do subsolo é o trado. Os


trados podem ser utilizados de duas maneiras:

„ Para estender um furo até uma determinada profundidade;


„ Para obter amostras deformadas de solo.

Com os trados de avanço helicoidal contínuo, as amostras de solo podem ser recu-
peradas por três métodos:

„ As amostras podem ser coletadas das aparas depositadas na parte superior do furo.
Pás cheias do material depositado na parte superior do furo são embaladas e rotu-
ladas. Este é o método menos aconselhável de obter amostras com trado, pois a
amostra resultante é muito deformada e de profundidade ignorada;
„ O trado pode ser retirado do furo e uma amostra coletada da ponta cortante. Esta
amostra pode ser obtida pegando-se material da ponta e colocando-o num saco, ou
pondo-se uma pequena amostra num recipiente. Tanto o saco quanto o recipiente
deverão ser corretamente rotulados. Quando se usa este método, a profundidade
de onde foi retirada a amostra é conhecida e deverá ser indicada;
„ As amostras do material no fundo do furo podem ser coletadas por meio de um
amostrador de parede fina ou bipartido. Este método utiliza o trado apenas para
aprofundar o furo. A amostragem por cravação será discutida no próximo item.

Em aparência, os trados com eixo oco são muito similares aos trados de avanço
helicoidal contínuo, mas sua parte central é grande e oca. A haste central e o bujão
atravessam o eixo oco do trado. Quando o furo é estendido até a profundidade desejada,
a haste e o bujão são removidos, e um amostrador é abaixado através do eixo oco, a fim
de retirar uma amostra de solo do fundo do furo. Este sistema de trado e amostragem
possui nítida vantagem nas camadas de capeamento de solo, uma vez que permite que a
amostragem seja feita a seco, sem o uso de meio circulante, como ocorre com as sondas
rotativas.

O trado de balde possui um barrilete relativamente curto, aberto na extremidade


superior. Está equipado com uma variedade de dentes, para perfuração nos diversos tipos
de solo. À medida que o trado gira para dentro do solo, enche-se de aparas. Quando fica
cheio, o trado é removido do furo e a amostra colocada numa lona. Os trados de balde são
úteis na amostragem de jazidas de areia e cascalho. Em geral, as amostras retiradas com
este trado são ensacadas e rotuladas da mesma forma que as amostras ensacadas dos
poços de inspeção.

O trado de disco possui apenas uma hélice, de borda cortante. Quando o trado é
girado para dentro do solo, a amostra é coletada na hélice. O trado é retirado, e a amos-
tra removida. Os trados de disco são utilizados apenas a pequenas profundidades e po-

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dem ser empregados na amostragem de jazidas de areia e cascalho. Quando se retira o


trado de disco, as amostras devem ser ensacadas; amostras menores, devem ser coloca-
das em recipientes herméticos e rotuladas. Com este método, é conhecida a profundida-
de de onde foram retiradas as amostras.

3.3.3.5 Amostragem por Cravação

A seguir, descreve-se o procedimento de amostragem por cravação, utilizando-se


amostrador de cravação e peso de cravação de qualquer tamanho.

Após perfurar até a profundidade desejada, remove-se a haste de perfuração e


limpa-se o furo. Monta-se um conjunto de ferramentas, o qual consiste de:

„ Sapata de cravação;
„ Amostrador de tubo sólido, ou bipartido;
„ Haste de perfuração;
„ Acoplamento de cravação;
„ Cabeça de cravação;
„ Haste guia;
„ Peso de cravação.

Esse conjunto de ferramentas é baixado dentro do furo. Quando necessário, deve-


se usar tubo de revestimento. A cabeça de cravação impulsiona o amostrador para dentro
do material indeformado, no fundo do furo. Ao alcançar a profundidade de amostragem,
giram-se as hastes de perfuração, a fim de cortar a amostra. O peso de cravação é
utilizado para bater os tubos e o amostrador para cima, e removê-los do solo no fundo do
furo. A amostra é removida do tubo e selada em recipiente hermético. Quando se utiliza
amostrador bipartido, as porções amolgadas superior e inferior da amostra deverão ser
descartadas antes. A seguir, o recipiente é devidamente rotulado e armazenado até seu
transporte.

Os amostradores de cravação são tubos ocos cravados no material não consolidado


para colher amostras. Seu tamanho varia de 50mm a 113mm de diâmetro externo e com
eles podem-se obter amostras de 45cm a 60cm de comprimento. Se forem indispensá-
veis amostras maiores, existem acoplamentos para unir dois amostradores. Os três prin-
cipais tipos de amostradores de cravação são o de tubo sólido, o bipartido e o bipartido
com camisa (tubo interno).

Os amostradores de tubo sólido são os amostradores de cravação mais simples.


São constituídos por um tubo sólido de aço com uma válvula esferoidal de retenção no
cabeçote, para alívio de pressão, e uma sapata de aço temperado, para cravação. Embora
este amostrador seja de utilização simples e muito resistente, tem a desvantagem de que
a amostra precisa ser empurrada para fora do tubo, o que provoca a quebra.

O tipo mais popular de amostrador é o de tubo bipartido. É similar ao de tubo sólido,


mas é partido longitudinalmente, de maneira que pode ser aberto, expondo toda a amostra.

Nos amostradores bipartidos com camisa, acrescenta-se um tubo interno, ou reves-


timento ao amostrador de cravação. O próprio amostrador lembra um amostrador bipartido,
mas também contém um tubo de papel, aço ou latão de parede fina, o qual foi projetado
para conservar a amostra. Após a amostragem, o tubo interno é selado com uma tampa
de plástico, alumínio ou latão e coberto de cera. O tubo bipartido com camisa não tem
sido muito utilizado após o desenvolvimento dos amostradores de parede fina.

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3.3.3.6 Preparo e Transporte de Amostras Deformadas

Grandes amostras de solos coesivos e cascalhos arenosos susceptíveis de ruptura


devem ser colocadas em sacos revestidos de plástico. As areias e os cascalhos devem
ser postos em sacos de pano de trama fechada. Recomenda-se sacos revestidos de plás-
tico para os solos de granulometria fina, caso se deseje determinar o teor de umidade.
Se as amostras forem enviadas por transportem público, devem ser usados sacos du-
plos, a fim de evitar sua ruptura.

Pequenas amostras deformadas para análise visual, ou para determinação do teor


de umidade, devem ser colocadas em recipientes à prova de umidade, como vidros de
conservas ou latas metálicas, com tampas herméticas. Estes recipientes deverão ser
totalmente preenchidos.

Todas as amostras deverão ser claramente rotuladas, incluindo as informações a


seguir:

„ Número da amostra de campo;


„ Número do poço ou furo de sondagem;
„ Localização: coordenadas, estação, afastamento, etc.;
„ Área: nome, letra ou número e outra identificação;
„ Profundidade representada pela amostra;
„ Objetivo: revestimento, filtro, reaterro, aterro, registro ou outros;
„ Saco (ou recipiente) No____ de No____ (se a amostra for colocada em mais de um
saco ou recipiente);
„ Projeto;
„ Estrutura.

Cada amostra deverá ter duas etiquetas de identificação, uma do lado de fora do
recipiente e a outra, no de dentro. Quando o solo estiver úmido, uma das etiquetas deverá
ser colocada num saco plástico dentro do recipiente. As latas podem ser rotuladas direta-
mente no seu exterior, ou por meio de etiquetas corretamente fixadas à superfície exter-
na. As informações deverão estar nas latas e não nas tampas, uma vez que estas últimas
podem ser trocadas.

As amostras em pequenos recipientes, a serem enviadas por meio de transportem


público, deverão ser acondicionadas, de preferência, em caixas resistentes de madeira.
As jarras de vidro deverão ser protegidas com material de embalagem adequado, a fim de
evitar que se quebrem. As amostras ensacadas podem ser transportadas sem acondicio-
namento especial.

3.3.4 Amostras Indeformadas

3.3.4.1 Amostras Indeformadas Cilíndricas e de Bloco

As amostras talhadas manualmente podem ser obtidas com menos deformação do


que as retiradas por outros métodos. Se a escavação for acessível, selecionar-se-ão os
estratos representativos antes da amostragem. Em geral, este método envolve a escava-
ção de um poço ou de uma trincheira e se limita a profundidades relativamente pequenas,
que não excedem cerca de 10m. A escavação dos poços e das trincheiras de exploração
encontra-se descrita na seção relativa às Amostras Deformadas. Poço ou sondagem de
grande diâmetro podem também dar acesso para obtenção de amostras cilíndricas talha-
das a mão.

A Figura 3.6 mostra as diversas etapas do procedimento utilizado para amostragem


manual de blocos. O processo de talhar e aparar as amostras de bloco no tamanho e no

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Figura 3.6 Etapas do Procedimento Utilizado para Obtenção de Amostras de


Blocos Talhados Manualmente.

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formato requeridos é laborioso, em especial quando se trabalha com materiais fofos facil-
mente deformáveis ou que contenham fragmentos de rocha.

Recomenda-se o uso de ferramentas cortantes adequadas, a fim de impedir a defor-


mação e a rachadura da amostra. Os solos fofos e plásticos requerem facas finas e
afiadas e, algumas vezes, é possível utilizar-se uma corda de piano fina e bem esticada.
Quando as condições climáticas podem provocar a secagem rápida da amostra, é preci-
so utilizar panos úmidos ou um outro meio de proteger a amostra, enquanto está sendo
cortada.

Após talhar e aparar a amostra no tamanho e formato requeridos, ela deverá ser
embrulhada numa camada de morim fino, o qual será pintado com cera derretida morna.
Após aplicar a cera, a superfície deverá ser esfregada com as mãos, a fim de selar os
poros. Ao todo, a amostra deverá receber, pelo menos, três destes invólucros. A Figura
3.7 mostra o procedimento de selagem das amostras talhadas manualmente.

Se o solo é facilmente deformável, será necessário colocar uma caixa de madeira,


solidamente construída, sem as extremidades, por cima da amostra, antes de que seja
talhada e retirada do material de origem.

O espaço entre a amostra e as paredes da caixa deverá ser preenchido com serra-
gem úmida ou outro material de embalagem similar. A seguir, a tampa da caixa será
colocada por cima do material de embalagem. Após a remoção da amostra, sua parte
inferior será coberta com o mesmo número de invólucros de morim encerado das outras
superfícies, e o fundo da caixa colocado por cima do material de embalagem.
A cera quente sempre deverá ser pintada, e não despejada, sobre a amostra, duran-
te o procedimento de selagem e empacotamento.

As amostras podem ser de diversos tamanhos, sendo os mais comuns cubos de


150mm ou 300mm. Entretanto, as amostras cilíndricas de 150 a 200mm de diâmetro e
150 a 300mm de comprimento são obtidas com frequência. Pode-se utilizar cilindros
metálicos para acondicionar as amostras durante seu transporte. De outra maneira, deve-
rá ser utilizado o mesmo processo de aparar e selar as amostras de bloco. A Figura 3.8
mostra o método de obtenção manual de amostras cilíndricas indeformadas.

Figura 3.7 Selagem das Amostras Talhadas Manualmente

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3.3.4.2 Amostras Indeformadas por Meios Mecânicos

As amostras indeformadas também podem ser obtidas por meio de um barrilete de


amostragem, projetado de maneira que as amostras possam ser preservadas num tubo ou
camisa e transportadas intactas.

Para todos os tipos de amostradores, é necessário fazer a furação até a profundida-


de requerida para extrair a amostra. A seguir, o furo é limpo, cuidando-se para que o
material a ser amostrado não seja amolgado pela operação de limpeza. Nas amostras de
solos tiradas acima do lençol freático e que podem ser afetados pela umidade, recomen-
da-se o uso de trado a seco, como método de furação inicial. Em solos de granulometria
fina e baixa permeabilidade, ou em solos já saturados, é apropriada a sondagem rotativa
com uso de brocas de widia, ou brocas tricônicas para a furação inicial.

Muitos solos não precisam de sustentação, enquanto outros, como os fofos,


saturados ou sem coesão, necessitam dela. Essa sustentação pode ser fornecida pelos
fluidos de perfuração ou por meio de revestimento. É indispensável que o revestimento
tenha as dimensões adequadas para permitir a inserção do amostrador. Quando a finalida-
de do furo de sondagem for apenas colher uma amostra indeformada, recomenda-se o
uso de fluido de perfuração viscoso, uma vez que é menos dispendioso e auxilia na
recuperação da amostra.

Existem quatro tipos de amostrador de solo de tubo-duplo: Denison, Denver, Pitcher


e trado de tubo duplo, os quais constam das Figuras 3.9 a 3.12.

Os amostradores de Denison, Denver e Pitcher são similares e possuem camisas


descartáveis para manuseio e transporte das amostras de solo. Estes três amostradores
são adequados para a amostragem de solos de granulometria fina, não cimentados ou
pouco cimentados. Podem recuperar amostras razoavelmente indeformadas, se o solo for
ligeiramente coeso e a perfuração cuidadosamente realizada. Também podem ser utiliza-
dos com solos bastante firmes a duros e quebradiços, assim como com solos parcialmen-
te cimentados, por meio de ação cortante.

Os amostradores de Denison, Denver e Pitcher não são apropriados para solos


pedregulhosos; solos de baixa massa específica e sem coesão; siltes localizadas abaixo
do lençol freático; solos coesivos plásticos e fofos; ou materiais muito fissurados ou
fraturados.

O amostrador de trado de tubo duplo é o mais adequado para a amostragem de


solos de granulometria fina, de massa específica baixa e média e localizados acima do
lençol freático. Não requer fluido de perfuração para remover os detritos, o que o torna
apropriado para a amostragem de solos afetados negativamente pelo fluido de perfura-
ção.

O amostrador de solo de cravação com paredes finas encontra-se ilustrado na Figu-


ra 3.13. Este amostrador é adequado para a amostragem de qualquer solo com alguma
coesão, exceto os solos muito duros, cimentados ou demasiado pedregulhosos para a
penetração do amostrador. Não tem bom desempenho nos solos fofos e saturados, uma
vez que não consegue retê-los.

3.3.4.3 Preparo e Transporte de Amostras Indeformadas

Antes de remover as amostras indeformadas do local, é preciso marcá-las da se-


guinte maneira: a caixa ou o cilindro, de amostras talhadas manualmente, a camisa do
amostrador bipartido para solo ou testemunhos ou o tubo do amostrador de cravação
deverão ser marcados (mas não os discos de madeira ou os obturadores de expansão

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Figura 3.8 Método de Obtenção de Amostras Cilíndricas Indeformadas Talhadas


Manualmente

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Figura 3.9 Amostrador de Solo Tipo Denison

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Figura 3.10 Amostrador de Solo Tipo Denver

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Figura 3.11 Amostrador de Solo Tipo Pitcher

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Figura 3.12 Amostrador de Solo Tipo de Tubo Duplo

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utilizados para fechar as extremidades do tubo). No caso de pequenos testemunhos,


poderá ser necessário fixar uma etiqueta com as seguintes informações:

„ Na extremidade superior ou inferior – É muito importante que as amostras sejam


marcadas “extremidade superior” e “extremidade inferior”, ou com outros dizeres
similares, de modo que as amostras sejam adequadamente orientadas;
„ Projeto, estrutura, número do furo e número da amostra de campo;
„ Cota ou faixa de profundidade de onde a amostra foi retirada.

As amostras indeformadas de bloco ou de cilindro talhadas manualmente deverão


ser embaladas em caixas próprias para transporte. As amostras de solo de tubo duplo, ou
de cravação, podem ser embaladas em recipientes de isopor, com uma caixa protetora
de papelão, para transporte e carregadas na posição horizontal.

O exterior do caixote deve ser marcado claramente, indicando que o conteúdo é


frágil e qual a orientação do caixote.

Figura 3.13 Amostrador de Solo Tipo de Cravação com Paredes Finas

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3.3.5 Amostras Indeformadas de Rocha (Testemunhos de Sondagem)

3.3.5.1 Aspectos Gerais

Uma das mais importantes ferramentas na sondagem do subsolo é a sonda de


diamante – uma sonda rotativa com um barrilete, uma coroa diamantada e um avanço
hidráulico ou mecânico – que foi originalmente desenvolvida para perfurar através de
rocha dura ou mole e fazer amostragem do material perfurado. A sonda de diamante
pode funcionar com uma série de coroas, dependendo da dureza do material a ser pene-
trado. As sondas rotativas são fabricadas em diversas formas, que variam desde equipa-
mentos bem leves e portáteis até pesados conjuntos fixos. As dimensões dos furos e dos
testemunhos variam de menos de 25mm a 1m, ou mais. Podem perfurar até centenas de
metros de profundidade.

Entre os grandes avanços na área de sondas rotativas nos últimos anos, destaca-se
a introdução de conjuntos de hastes (“wire line”) e barriletes de tubo interno retrátil. Estas
ferramentas são muito úteis nas sondagens a grandes profundidades, uma vez que permi-
tem a eliminação de entradas e saídas no furo com o equipamento de sondagem. Com a
técnica de “wire-line”, o barrilete amostrador é parte integral da coluna de perfuração. A
haste de perfuração serve como dispositivo de sondagem e revestimento, pois, em geral,
só é removida quando se troca a coroa. Os testemunhos de sondagem são retirados
removendo-se o tubo interno do barrilete através da haste de perfuração. Isso é efetuado
descendo um dispositivo de retração, por meio de um fio de aço (“wire line”), através da
haste de perfuração, até destravar um mecanismo especial embutido no cabeçote do tubo
interno do barrilete. O testemunho é removido, e o tubo interno retraído através da haste
de perfuração, continuando-se, então, a sondagem. Atualmente, o diâmetro máximo des-
tes testemunhos “wire-line” é de 85mm.

A precisão e a confiabilidade dos registros das sondas de diamante dependem, em


grande parte, do tamanho do testemunho em relação ao tipo de material sondado, do
percentual de recuperação de testemunhos, do desempenho da coluna de perfuração
durante as operações e da experiência da equipe de perfuração. Uma vez que a rocha que
facilita a amostragem num furo NX poderá romper-se facilmente num furo EX, é importan-
te que os diâmetros do furo e do barrilete sejam os maiores praticáveis. A recuperação do
testemunho é muito mais importante do que o avanço rápido na perfuração. As porções
perdidas de testemunho provavelmente representam rocha fraturada ou incompetente e
mole, enquanto as porções recuperadas representam a rocha melhor, a partir da qual,
provavelmente, será feita uma superestimação das fundações. Um percentual relativa-
mente alto de recuperação de testemunhos, por outra parte, fornecerá uma seção mais
contínua dos materiais encontrados. Os testemunhos oferecem informações relativas à
natureza e à composição das diversas formações, com evidências acerca do espaçamento
e do grau de abertura de fraturas, intercalações, fissuras e de outros detalhes estruturais.

Uma vez que o furo deixado na rocha está limpo e as intercalações e as fissuras não
são seladas pela ação da sonda, será possível efetuar ensaios de perda de água, a fim de
avaliar a permeabilidade dos estratos e determinar a provável infiltração através de fratu-
ras ou fissuras abertas na rocha. É indispensável registrar qualquer grande perda de água
ou a entrada de água nos furos durante as sondagens, pois indicam, respectivamente, a
presença de grandes aberturas na formação ou a existência de fluxos subterrâneos de
água. Após serem completados, os furos deverão ser tampados, de maneira a preservá-
los para futuras observações do(s) nível(eis) d’água ou como furos de injeção, ou para
continuação, caso seja desejável aprofundar o furo. Em geral, os furos em material solto
ou em solos subsuperficiais não-consolidados precisam ser revestidos.

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3.3.5.2 Remoção e Preparo dos Testemunhos para Transporte

Os testemunhos devem ser colocados exatamente na mesma ordem em que foram


removidos do barrilete. Se o testemunho ficar fora de seqüência, perderá seu valor. Os
testemunhos devem ser acondicionados numa caixa adequada, com ranhuras para conter
os pedaços do testemunho, sem movimentação indesejável dos pedaços. A Figura 3.14
mostra uma caixa típica para testemunhos, com as amostras arrumadas de acordo com a
profundidade em que foram colhidas e marcadas de forma a permitir a sua correta identi-
ficação.

3.3.6 Diversos Métodos de Perfuração

As furações que visam apenas à determinação da profundidade de um estrato ou do


maciço rochoso ou o aprofundamento de um furo para amostrar uma camada subjacente,
podem ser executadas utilizando-se quaisquer dos métodos previamente descritos. Exis-
tem também inúmeros procedimentos muito econômicos, regularmente utilizados, que
podem servir para estes propósitos. Entre outros, destacam-se a perfuração por percus-
são, por lavagem e por jatos d’água. Em geral, a sondagem a varejão é o método mais
econômico para estabelecer a profundidade existente até um estrato firme. Os diversos
procedimentos empregados dependem, principalmente, da natureza do solo a ser pene-
trado, sendo que a perfuração por percussão é utilizada nos solos mais duros e compac-
tos, e a sondagem a varejão, nos mais fofos. Todas as operações baseiam-se no desloca-
mento vertical, para cima e para baixo, de uma ferramenta de perfuração, que desagrega
o material no furo, as quais utilizam quantidades crescentes de água, na ordem em que se
encontram relacionadas, exceto a sondagem a varejão, que não utiliza água.

Figura 3.14 Caixa Típica com os Testemunhos Arrumados para Permitir sua
Correta Identificação.

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Na perfuração por percussão, a ferramenta é conectada à extremidade de um cabo.


Adiciona-se água e os detritos formam uma lama, que, intermitentemente, é bombeada
ou retirada por meio de baldes. Nas perfurações por lavagem e por jato d’água, os detritos
são removidos, pelo fluxo contínuo de água oriundo da parte superior do furo. A perfura-
ção por lavagem aprofunda o furo por meio de uma combinação de percussão e lavagem
do material. A perfuração por jato d’água depende, principalmente, da ação cortante de
um jato d’água a grande pressão. Quando estes métodos são utilizados, é indispensável
cuidar para que o estrato subjacente a ser amostrado não seja amolgado ou umedecido.
Obtém-se alguma indicação da natureza do material penetrado mediante o exame dos
detritos na lama ou na água de lavagem, mas uma classificação precisa requer outros
métodos de amostragem. A sondagem a varejão consiste na cravação de uma vareta ou
de um tubo no solo e na mensuração do esforço requerido na operação.

3.3.7 Ensaios de Campo

3.3.7.1 Aspectos Gerais

Além dos ensaios realizados nas amostras de solo e nos testemunhos, também são
efetuados ensaios no furo de sondagem, a fim de determinar a resistência e a permeabilidade
do solo ou da rocha. Estes ensaios adicionais são: (1) o ensaio de penetração padroniza-
do, (2) os ensaios de permeabilidade, (3) o ensaio de palheta, (4) o ensaio de penetrômetro
de cone, (5) o ensaio de cisalhamento no furo, (6) o ensaio de dilatômetro de placa lisa,
(7) o ensaio de pressiômetro e (8) o ensaio de massa específica aparente in situ. Este
último é utilizado também nos cálculos relativos à determinação dos fatores de contração
e expansão entre as escavações das áreas de empréstimo e o volume do aterro, assim
como do potencial de colapso dos solos de baixa massa específica.

3.3.7.2 Ensaio de Penetração Padronizado (SPT)

Os amostradores de tubo bipartido ou de tubo sólido podem ser utilizados para


obter amostras da subsuperfície e, simultaneamente, medir a resistência, a dureza e a
densidade, in situ das fundações. A resistência à penetração do amostrador no solo é
medida em termos do número de golpes do peso padronizado, necessárias para penetrar
30cm no solo. Para se obter este tipo de informação, é essencial utilizar um procedimento
padronizado. Neste tipo de sondagem, deverão ser obtidas informações acerca do tipo de
solo, do teor de umidade e da resistência à penetração. Numa variação de 5 a 50 golpes
por 30cm, é possível estabelecer uma correlação bastante confiável com as propriedades
de engenharia, para diversos tipos de material, desde que o teor de umidade seja alto.

3.3.7.3 Ensaios de Permeabilidade

Os ensaios de água nos furos permitem a obtenção de valores aproximados de


permeabilidade para cada estrato penetrado pela sonda. A confiabilidade destes valores
dependerá da homogeneidade do estrato ensaiado e de certas restrições próprias das
fórmulas matemáticas utilizadas. Entretanto, se os procedimentos recomendados forem
rigorosamente obedecidos, será possível obter resultados úteis durante as operações
normais de perfuração. O uso de métodos mais precisos de determinação da permeabilidade,
mediante bombeamento a partir de poços, com uma série de furos de observação, para
medir o abaixamento do lençol freático ou ensaios de bombeamento para dentro do furo,
utilizando revestimento perfurado de grande diâmetro, requer instruções especiais e a
assessoria de especialistas.

3.3.7.4 Ensaio de Palheta

O método de palheta, que visa à determinação da resistência ao cisalhamento in


situ dos solos, tem demonstrado sua utilidade na investigação de fundações. É utilizado,

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principalmente, em solos argilosos fofos e saturados, nos quais a resistência à penetra-


ção, determinada pelo ensaio de penetração padronizado, é muito baixa. O ensaio de
palheta é muito mais sensível e preciso do que o ensaio de penetração padronizado e
fornece, diretamente, um valor de resistência ao cisalhamento.

3.3.7.5 Ensaio de Penetrômetro de Cone

Um método de sondagem cada vez mais utilizado é o ensaio de penetrômetro de


cone. Este instrumento consiste de um conjunto de ponta e manga, que é pressionado
para dentro do solo a uma velocidade controlada. A resistência do solo à ponta e à manga
é monitorada na superfície, por meios mecânicos ou elétricos. Neste último caso, também
é possível obter outros parâmetros, como inclinação e pressão neutra. O dispositivo pode
ser operado a partir de uma plataforma de sondagem convencional ou pode ser montado
num caminhão. A partir dos dados fornecidos pelo ensaio, são estimados o tipo de solo,
o peso específico in situ, a resistência ao cisalhamento e a compressibilidade. O ensaio é
relativamente rápido e, embora não seja obtida uma amostra do solo, quando utilizado
com técnicas convencionais de sondagem e amostragem, é possível delinear rapidamente
tipos e perfis de solo nas fundações e nas áreas de empréstimo.

3.3.7.6 Ensaio de Cisalhamento no Furo

Este ensaio é utilizado para determinar a resistência ao cisalhamento in situ do solo


a diferentes profundidades. Pequenas placas dentadas de aço, de área conhecida, são
empurradas com uma determinada força de encontro às paredes de um furo de sonda-
gem. Aplica-se uma força verticalmente até a ruptura do solo. A seguir, aplica-se força
adicional para forçar as placas contra as paredes do furo de sondagem, de novo. A força
vertical é novamente aplicada até a ruptura do solo. A seqüência é repetida três ou quatro
vezes. Os dados fornecidos pelo ensaio são analisados e apresentados no formato de uma
envoltória de Mohr. Este ensaio pode ser executado rapidamente, a várias profundidades,
dentro do furo de sondagem.

3.3.7.7 Ensaio de Dilatômetro de Placa Lisa

O dilatômetro de placa lisa é um dispositivo chato, com formato de lâmina, que é


empurrado para dentro do solo. Existe uma pequena membrana expansível, circular, no
lado do dilatômetro, que é expandida pelo ar ou pela pressão hidráulica, para pressionar o
solo. Os dados do ensaio são utilizados para desenvolver valores dos módulos e avaliar as
tensões horizontais nas fundações, em diversas profundidades. Este ensaio pode ser
realizado rapidamente e fornece grandes quantidades de dados, a um custo mínimo.

3.3.7.8 Ensaio de Pressiômetro

O pressiômetro pode ser autocravável ou consistir em um dispositivo que é descido


dentro do furo de sondagem. Constitui-se de uma membrana cilíndrica expandível, que é
pressionada de encontro às paredes do furo de sondagem, por meio de pressão hidráulica
ou pneumática. O volume de expansão, o tempo de expansão e a pressão aplicada são
cuidadosamente anotados. Os dados deste ensaio são utilizados para obter valores dos
módulos. É indispensável preparar com cuidado o furo de sondagem utilizado neste en-
saio, de maneira que as paredes estejam lisas e retas no trecho que está sendo estudado.
O diâmetro do furo de sondagem também deverá ser estreitamente controlado.

3.3.7.9 Ensaio de Massa Específica Aparente In Situ

O método de areia é utilizado para determinar a massa específica aparente de um


solo de fundação ou de área de empréstimo ou aterro compactado. O ensaio é efetuado
mediante a escavação de um buraco a partir de uma superfície horizontal, determinação

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do peso do material escavado e do volume da cavidade, enchendo-a com areia calibrada.


A determinação do teor de umidade de uma amostra do solo escavado permite o cálculo
da massa específica aparente seca do material do solo. Diversos dispositivos, que utili-
zam balões com água ou óleo, têm sido empregados para medir o volume da cavidade,
mas o método de areia é o mais comum.

Muitas vezes, é necessário determinar a massa aparente seca e o teor de umidade


in situ de fundações bastante profundas, constituídas por solos coesivos, acima do lençol
freático. Nestes casos, o uso do método de massa aparente da areia requer a escavação
de um poço de inspeção, de maneira a permitir o acesso aos solos que estão sendo
ensaiados.

3.4 Registros e Relatórios de Dados

3.4.1 Mapas

Informações que exigiriam muitas páginas de exposição, em geral, podem ser trans-
mitidas através de uma única folha de papel, por meio de um mapa. Entre as inúmeras
variedades de métodos de mapeamento existentes, é sempre possível encontrar-se algu-
ma que transmita as informações requeridas, clara e facilmente.

No trabalho de investigação, são três as faixas de escala utilizadas com mais fre-
qüência. Os mapas em escalas que variam entre 1:500.000 e 1:50.000 são apropriados
para mostrar a área geral da obra; descrever acessos e redes de transporte, como estra-
das de rodagem e de ferro, rios e centros urbanos; e localização de jazidas especiais de
materiais como “riprap” ou agregados. Os mapas em escalas que variam entre 1:20.000
e 1:5.000 são freqüentemente empregados para transmitir informações mais detalhadas
acerca da área circunvizinha ao local da obra; da geologia geral da área; das áreas de
reservatório; da localização das áreas de empréstimo; das linhas de direito de passagem;
da localização de estradas, canais e linhas de transmissão, e informações similares. Para
prover informações detalhadas a respeito do local da estrutura são utilizados mapas em
escalas que variam entre 1:5.000 e 1:250. A localização de pequenas estruturas, para as
quais é importante fornecer detalhes locais, pode ser mapeada na escala de 1:250. Na
seleção da escala, é importante manter, o mais simples possível, razão entre as medidas
de campo e as medidas da planta; por exemplo, os detalhes adicionais fornecidos em uma
escala de 1:8.000 trazem menos benefícios do que a conveniência da escala 1:10.000.
Além disso, um mapa completo não deve ser maior do que é o conveniente para ser
aberto sobre uma mesa de trabalho comum. A escala do mapa sempre deverá ser indicada.

Todos os mapas em escala maior ou com mais detalhes, devem obedecer a um


sistema de coordenadas ou a um outro meio de localização precisa de pontos no terreno.
Quando se utiliza um sistema de coordenadas, as linhas matriciais deverão estar orienta-
das nos sentidos norte-sul e leste-oeste verdadeiros. Se se estabelecer um sistema matricial
local, a origem do sistema deverá ser para o sul e o oeste da área considerada, e o
deslocamento da origem deverá ser numa direção predominante, de maneira que exista
uma diferença numérica significativa entre as coordenadas norte e leste de qualquer
ponto. O sistema matricial deverá ser referenciado em relação a levantamento de terras
públicas, estações de triangulação e outros marcos permanentes da área.

As variações de cota são delineadas nos mapas em escala maior, por meio de
curvas de nível. O intervalo entre as curvas de nível pode variar entre 5-10m e 0,5m, ou,
ocasionalmente até 25cm, dependendo da escala do mapa e dos acidentes fisiográficos.

Em geral, as curvas de nível deveriam estar bastante juntas para permitir a determi-
nação das cotas entre as curvas com um certo grau de confiabilidade, mas suficientemen-
te afastadas para que cada curva possa ser seguida visualmente, sem qualquer dificulda-

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de. De preferência, as cotas sempre devem fazer referência ao nível do mar, com base no
sistema nacional de levantamentos topográficos. Se um determinado dado é presumido
nas investigações de nível de pré-viabilidade, deverá ser muito diferente do dado relativo
ao nível do mar, de forma que não haja qualquer confusão.

Os mapas gerais e de localização devem estar orientados com o norte na parte


superior da folha. Os mapas em escala maior, relativos a estruturas de armazenamento
ou de transporte de água, deverão estar orientados de maneira que o fluxo d’água seja
em direção à parte superior ou para o lado direito da folha. Os mapas de localização de
estradas de rodagem e de ferro são orientados segundo as normas estabelecidas pela
organização envolvida. Todos os mapas devem incluir uma seta apontando o norte.

Os mapas de localização devem mostrar todas as vias de transporte estabelecidas


e as comunidades adjacentes à área em questão. Os mapas de reservatórios devem
mostrar todas as instalações importantes, incluindo ferrovias, estradas de rodagem, tubu-
lações, canais, linhas telefônicas, linhas de transmissão de energia elétrica, edificações,
minas, cemitérios, reservatórios e poços, assim como qualquer outra instalação julgada
significativa. Também é preciso delinear o tipo e a classe de cobertura vegetal existente.
Os mapas em escala maior, além de mostrar as feições mencionadas anteriormente,
deverão indicar a localização de afloramentos rochosos, talus, escorregamentos
identificáveis, cursos d’água, assim como marcos de referência e marcos de cotas de
levantamentos topográficos.

Nas investigações a nível de projeto básico, será necessário elaborar um mapa que
indique os limites do direito de passagem a ser obtido para a estrutura em questão. Esse
mapa deverá mostrar as linhas de demarcação das propriedades e a posse das diversas
áreas.

3.4.2 Perfil dos Furos de Sondagem

3.4.2.1 Localização dos Furos de Sondagem

A localização dos furos de sondagem é regida pelo seu objetivo. Em geral, a finali-
dade dos furos inicialmente perfurados ou escavados numa área é esclarecer as condi-
ções geológicas e, portanto, sua localização baseia-se, principalmente, na estrutura geo-
lógica. Os últimos furos são feitos com propósito de engenharia e são localizados com
base na estrutura a ser construída. Os furos também são perfurados ou escavados com o
objetivo de estabelecer o formato e as dimensões das unidades geológicas e de examinar
a natureza das descontinuidades geológicas. Embora seja recomendável localizar os furos
de maneira a satisfazer o maior número possível de requisitos, algumas vezes tais requi-
sitos são contraditórios, sendo indispensável fazer outros furos. Do ponto de vista de
engenharia, sondagens em ambos os lados de uma formação geológica prejudicial é, em
geral, o mais recomendável, sempre que os outros requisitos do projeto ofereçam sufici-
ente flexibilidade para mudar a localização da estrutura, a fim de evitar as condições
desfavoráveis. Do ponto de vista geológico, e naquelas situações de engenharia em que
não é possível evitar uma área duvidosa, é preferível efetuar uma série de furos de sonda-
gem na área problemática.

Cada furo perfurado precisa ser localizado em três dimensões – ou seja, amarrado
ao sistema de coordenadas matriciais, ou localizado de uma outra forma satisfatória, tal
como estaqueamento –, assim como deve ser estabelecida a cota da boca. As coordena-
das e a cota de um poço ou uma trincheira de exploração deverão fazer referência ao
centro da escavação. Entretanto, se for necessário descrever adequadamente os materi-
ais numa trincheira com mais de um perfil, conforme discutido no subitem relativo às
planilhas de dados, será preciso indicar as coordenadas e as cotas de cada perfil. Os furos
deverão ser perfilados em toda sua profundidade. Se, por qualquer razão, for impossível

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perfilar um trecho do furo, o intervalo não perfilado deverá ser registrado junto com uma
justificativa pela omissão. Também é indispensável registrar o azimute e o ângulo com a
horizontal dos furos.

3.4.2.2 Identificação dos Furos

A fim de assegurar a integralidade dos registros e eliminar qualquer dúvida, os


furos de sondagem deverão ser numerados, em ordem ascendente de escavação e as
séries numéricas deverão ser contínuas em todas as diversas etapas da obra. Se o furo é
planejado e programado, recomenda-se fazer uma anotação de “não executado” ou
“abandonado”, junto ao número do furo, além de anexar uma nota explicativa, ao invés
de reutilizar o número daquele furo para um outro. Entretanto, é aceitável deslocar os
furos a pequenas distâncias e manter o número programado, quando esses desloca-
mentos forem exigência das condições locais ou de alterações nos planos de engenha-
ria. Quando as sondagens cobrirem várias áreas, como locais alternativos e áreas de
empréstimo, deverá ser utilizada uma nova série para cada novo local ou área de em-
préstimo. Em geral, recomenda-se iniciar a numeração de cada nova área estudada com
uma nova centena.

3.4.2.3 Tipos de Perfis de Sondagem

Os perfis contêm os registros, por escrito, dos dados relativos aos materiais e às
condições constatadas nos diversos furos de sondagem.

Provêem informações essenciais, nas quais se podem basear subseqüentes conclu-


sões e interpretações, como a necessidade de sondagens ou ensaios adicionais, viabilidade
do local escolhido para a obra, tratamento de projeto necessário, custo da construção,
método de construção e avaliação do desempenho de uma estrutura. Os perfis apresentam
informações pertinentes e importantes, que serão utilizadas por muitos anos; podem ser
necessários para definir acuradamente uma mudança nas condições, a qual ocorreu com
o passar do tempo; pode constituir um importante elemento na documentação contratual;
e pode ser requerida como prova básica, na eventualidade de um processo judicial. Con-
seqüentemente, cada perfil deverá ser factual, preciso, claro e completo. Não deve ser
enganoso. A seguir, são discutidos alguns tipos de perfis para furos de sondagem.

„ Perfis de poços de exploração e furos de trado (Figura 3.15). Este perfil é apropria-
do para todos os tipos de furos de sondagem que produzam amostras completas,
embora deformadas;
„ Perfis de resistência à penetração (Figura 3.16). Esta planilha foi desenvolvida para
o ensaio de penetração no campo;
„ Perfis geológicos dos furos de sondagem (Figuras 3.17 e 3.18). Este perfil é ade-
quado para furos de exploração nos quais são realizados ensaios de penetração ou
de permeabilidade, ou ambos.

Será indispensável desenvolver planilhas padronizadas para os outros ensaios in


situ, de maneira que todos os dados pertinentes sejam devidamente registrados.

Conforme indicado nas Figuras 3.4 e 3.5, os dados relativos às investigações em


trincheiras e poços de exploração são melhor apresentados em desenhos, que devem
conter todas as informações pertinentes dos perfis geológicos.

Os cabeçalhos dos perfis fornecem espaços para registrar informações de identifi-


cação, como projeto, estrutura, número do furo, localização, cota, datas de início e con-
clusão e nome da pessoa responsável pelo perfil. As profundidades da rocha sã e do
lençol freático são informações valiosas e importantes e devem ser sempre registradas.
Quando for impossível obter determinados dados requeridos num perfil, será preciso ano-

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Figura 3.15 Perfil Geológico de Sondagem a Trado

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Figura 3.16 Perfil Geológico de Sondagem de Percussão – Ensaios de Penetração


Padronizados

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Figura 3.17 Perfil Geológico de Sondagem Mista – Rotativa + Percussão –


Ensaios de Penetração Padronizados

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Figura 3.18 Perfil Geológico de Sondagem Mista – Rotativa + Percussão –


Ensaios de Penetração Permeabilidade

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tar uma justificativa. O corpo do perfil é dividido numa série de colunas, que incluem
diversos tipos de informação requerida, de acordo com o tipo de furo de sondagem.

Na perfilagem do solo sobrejacente, cada estrato de material substancialmente dife-


rente na sua composição dos estratos sobre e subjacentes deverá ser localizado em termos
do intervalo de profundidade, classificado separadamente e descrito no corpo do perfil.

Será necessário descrever as camadas delgadas ou lentes de material diferente


num estrato relativamente uniforme de material, embora não precise ser classificado se-
paradamente no perfil, exceto em furos de investigação das fundações de uma estrutura;
por exemplo, “Há uma lente descontínua de areia fina, com 25mm de espessura, a 7m de
profundidade”. Entretanto, os perfis de sondagem para fundações de estruturas deverão
indicar a classificação, além de uma descrição detalhada do material.

Os grandes poços ou trincheiras de exploração cavados mecanicamente requerem


mais de um perfil para descrever adequadamente as variações de material constatadas
nos diversos trechos do poço ou da trincheira. O perfil inicial de tais poços ou trincheiras
deverá descrever a coluna vertical de solo, no trecho mais profundo da escavação, sendo,
em geral, tomado no centro de uma das paredes do poço ou da trincheira. Se este perfil
não descrever adequadamente as variações nos diversos estratos expostos pelo poço ou
pela trincheira, será indispensável preparar perfis adicionais de outros locais dentro da
escavação para amostragem, a fim de se obter uma verdadeira representação de todos os
estratos constatados no poço ou na trincheira. Nas trincheiras extensas far-se-á, pelo
menos, um perfil a cada trecho de 15m de parede da trincheira, independentemente da
uniformidade do material ou do estrato. Poderá ser necessário preparar a seção geológica
de uma ou de ambas as paredes longitudinais, para descrever as variações dos estratos e
do material, entre os diversos locais dos perfis. Quando for necessário mais de um perfil
para descrever o material em um poço ou uma trincheira de exploração, é preciso fornecer
as coordenadas de localização e a cota da superfície do terreno, para cada ponto perfila-
do. Sempre deverão ser elaborados mapas geológicos e seções geológicas das trincheiras
de exploração que encontrarem rocha sã nas fundações das estruturas.

Os perfis sempre devem conter informações relativas ao tamanho do furo e ao tipo


de equipamento de perfuração ou escavação utilizado. Isso inclui o tipo de coroa de
perfuração, utilizada nos furos de sondagem, a descrição do equipamento de penetração
ou o tipo de trado utilizado, ou o método de escavação dos poços de exploração. A
localização dos pontos em que se fez amostragem também deverá ser indicada nos perfis
e a quantidade de material recuperado como amostra deverá ser expresso como um
percentual do comprimento de barrilete que penetrou no material. É indispensável que os
perfis indiquem a extensão e o método de sustentação empregados, à medida que se
aprofundava o furo, bem como a dimensão e a profundidade do revestimento; a localiza-
ção e a extensão de injeções, quando utilizada; o tipo de lama de perfuração; ou o tipo de
escoramento nos poços de exploração. Qualquer desabamento ou entrada de materiais
deverá ser anotado no perfil referente àquele furo de sondagem, uma vez que esses
fenômenos podem indicar a presença de um estrato de baixa resistência.

Os perfis precisam conter informações relativas à presença ou ausência de água,


assim como comentários acerca da confiabilidade dos dados. Também deverão ser anota-
das as datas em que as mensurações foram efetuadas, uma vez que o nível de água sofre
variações sazonais. Os níveis de água devem ser registrados periodicamente, desde o
momento em que for encontrada água e à medida que o furo for sendo aprofundado.
Após o término das perfurações, o furo deverá ser esvaziado, permitindo-se depois sua
recuperação, a fim de se obter o verdadeiro nível de água. É importante anotar a presença
de lençóis d’água suspensos e de água sob pressão artesiana. A presença de aqüíferos
deverá ser registrada, assim como das áreas em que ocorreu perda da água durante a
perfuração. O perfil precisa incluir informações relativas aos ensaios de permeabilidade

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realizados nos furos, a intervalos. Uma vez que poderá ser recomendável haver registros
periódicos a respeito das flutuações temporais no nível da água, é necessário definir se
tais registros deverão ser obtidos antes de tampar ou abandonar um furo de sondagem.

Quando forem encontrados seixos ou matações nas sondagens para a identificação


de áreas de empréstimo de solo, é importante determinar os percentuais destas ocorrên-
cias, por volume. Os perfis relativos a poços de exploração ou furos a trado (Figuras 3.16,
3.17 e 3.18) incluem um método para a obtenção de percentuais por volume de pedras
com diâmetro entre 75 e 125mm e acima de 125mm. Este método envolve a pesagem
das pedras, a conversão do peso em volume sólido de pedra e a mensuração do volume
do furo contendo as pedras. Essa determinação pode ser feita a partir do volume total do
estrato escavado ou numa porção representativa do estrato, por meio de uma trincheira
de amostragem.

Nos furos de sondagem que penetrarem menos de 7m no material de empréstimo


potencial, será necessário fazer uma anotação em “Comentários”, explicando por que o
furo não foi estendido. Para os outros tipos de furo, anotar-se-á, no fim do perfil, que o
trabalho foi concluído conforme exigido ou quais foram as razões para sustar a sonda-
gem. O material não deverá ser descrito como rocha sã, material de deslizamento, nem
deverá ser utilizada outra terminologia interpretativa similar, exceto quando a sondagem
realmente penetrou tal formação geológica e foram colhidas amostras para sustentar
essas assertivas.

3.4.2.4 Descrição dos Solos

A pessoa que perfila os furos de sondagem deverá estar habilitada a identificar os


solos de acordo com o Sistema Unificado de Classificação do Solo. A descrição do solo
no perfil deverá incluir o nome típico, seguido dos dados descritivos pertinentes. Após
essa descrição, colocar-se-á o grupo de classificação do solo, por meio das letras-símbo-
los. Esses grupos de símbolos representam uma série de solos que possuem certas carac-
terísticas comuns; portanto, não são suficientes, de per si, para descrever um determina-
do solo. As classificações limítrofes (dois conjuntos de letras, separados por um hífen)
deverão ser utilizadas quando o solo não se encaixar claramente num dos dois grupos,
mas possuir características de ambos.

A identificação e a classificação dos solos nos perfis de sondagem deverão basear-


se no exame visual e em ensaios manuais. Os perfis de campo não devem incluir sofisti-
cações que só possam ser aferidas mediante o uso de equipamento de laboratório. Os
ensaios laboratoriais podem ser utilizados para auxiliar o pessoal não qualificado a verifi-
car suas classificações de campo.

É indispensável ressaltar o estado natural dos solos investigados com o objetivo de


neles serem feitas fundações. O uso de denominações genéricas, como lateríticos, caliches
ou adobes, além do nome de classificação do solo, poderá ser útil na identificação das
condições in situ.

3.4.2.5 Descrição dos Testemunhos de Rocha

O objetivo precípuo da descrição dos testemunhos de rocha é fornecer um registro


conciso das características geológicas e físicas importantes, dos materiais desses teste-
munhos.

A descrição de um testemunho de rocha deverá incluir o nome típico da rocha,


seguido de dados acerca da litologia e das características estruturais; das condições
físicas, incluindo alteração; e de quaisquer detalhes geológicos, mineralógicos ou físicos
especiais, pertinentes à interpretação das condições subsuperficiais. Atenção deverá ser

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dada: (1) à atitude e ao grau de fraturas, intercalações, ou fissuras, se as mesmas estão


preenchidas ou não, assim como a evidências de cisalhamento, esmagamento, ou
falhamento; (2) aos planos de estratificação, laminação ou acamamento, e à facilidade
de fendilhamento ao longo de tais planos; (3) à cor, à granulometria e ao formato, assim
como (nas rochas sedimentares, como o arenito) à mineralogia dos grãos e do material de
cimentação, e ao grau de ocupação dos espaços entre os grãos pelo material de cimentação;
e (4) ao grau de alteração ou intemperismo e à dureza da rocha. Neste último caso, frases
adicionais, como “rompe-se com pancada seca de martelo”, “desagrega-se facilmente
entre os dedos”, ou “dureza de tijolo comum” são úteis. As estimativas do comprimento
médio dos pedaços de testemunho, em seções sucessivas do furo, ajudam a chamar a
atenção para mudanças nas formações ou nas condições da rocha no furo, as quais, de
outra forma, não seriam identificadas, mas que são úteis na avaliação das condições
subsuperficiais, em termos das propriedades de engenharia.

O propósito das sondagens e dos perfis é obter evidências das condições in situ da
rocha; portanto, é preciso anotar quaisquer condições dos testemunhos, ou danos causa-
dos pelo tipo de coroa de perfuração ou barrilete utilizado, ou a operação inadequada
durante o processo de perfuração. Uma causa comum de danos ou ruptura dos testemu-
nhos é o uso de uma mola retentora de testemunho no barrilete amostrador; portanto,
desaconselha-se, na maioria das amostragens de rocha, o uso desse dispositivo, exceto
quando absolutamente indispensável. Esses fatores poderão ter um efeito significativo na
quantidade de testemunho recuperada, e nas suas condições, nas rochas moles, friáveis
ou gravemente fraturadas, em especial.

Perfis e descrições adequados dos testemunhos de rocha podem ser preparados


apenas com base no exame visual ou “manual” do testemunho, com eventual auxílio de
simples ensaios de campo. Em geral, os ensaios laboratoriais ou microscópicos detalha-
dos para definir o tipo de rocha e sua mineralogia só são necessários em casos especiais.
A Figura 3.14 mostra como os testemunhos das rochas obtidos num furo de sondagem
podem ser arrumados para descrição dos furos de sondagem.

3.4.3 Seções Subsuperficiais

O uso de seções para mostrar as condições subsuperficiais presumidas é, ao mes-


mo tempo, muito vantajoso e potencialmente arriscado, uma vez que necessariamente
será feita uma interpretação dessas condições. Quando se utilizam seções na documenta-
ção contratual, as informações indicadas limitam-se a dados factuais, como a linha da
superfície do terreno e os perfis dos furos de sondagem, localizados na sua posição real,
em relação a essa linha. Embora a escolha das seções seja efetuada para simplificar a
interpretação dos dados, os locais reais das formações geológicas, como rocha sã, lençol
freático, etc., não são indicados por linhas contínuas, mas apenas onde constatados em
cada furo de sondagem. A exceção são as seções transversais das trincheiras e dos
poços de exploração, onde essas formações podem ser mapeadas após observação visual.

Por outro lado, as seções mostrando as condições que se acredita existirem no


subsolo são muito úteis para os relatórios geológicos, os relatórios sobre materiais natu-
rais e nos dados de projeto para barragens, canais e outras estruturas. A localização
destas seções deverá ser escolhida de maneira que apresentem as condições descritas da
melhor forma possível. Em geral, as seções transversais de vales fornecem muito mais
informações do que uma série de cortes paralelos ao vale. Além disso, os cortes devem
cruzar as características fisiográficas num ângulo reto, na medida do possível. Sempre
deverá ser mantida uma nítida diferenciação entre os dados factuais e os interpretativos.
Recomenda-se o uso do sistema de linhas contínuas e tracejadas, no qual os pontos
representam interpretações meramente hipotéticas, as linhas contínuas significam dados
factuais e as linhas tracejadas definem o grau de confiabilidade dos dados intermediários,
de acordo com o comprimento dos traços que as constituem. Para este propósito, não
deverão ser utilizadas linhas de espessuras diferentes, que deverão ser reservadas para

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ênfase. As seções transversais sempre deverão mostrar o nome da pessoa que efetuou a
interpretação e a data em que foi feita.

3.4.4 Amostragem

As amostras de solo e de rocha são colhidas para exame visual, de maneira que o
perfil relativo a um furo de sondagem possa ser preparado, para preservar amostras
representativas de apoio à descrição no perfil, para determinar as propriedades caracterís-
ticas e para realizar ensaios de laboratório que indiquem as propriedades de engenharia.

Na sondagem rotativa, todo o material recuperado como testemunho deverá ser


coletado e armazenado em caixas de testemunho. Além disso, amostras de solo e de
rocha deverão ser recolhidas e colocadas em potes selados, a fim de preservar seu teor
natural de umidade, representativo dos diversos estratos úmidos ou molhados, caso o
método de sondagem permita colher tais amostras. Durante o andamento da sondagem,
deverão ser colhidas amostras representativas dos diversos tipos de material encontrados
na área investigada. Se houver grandes variações na qualidade do solo, deverão ser colhi-
das amostras representativas dos melhores materiais, dos médios e dos piores.

Nas sondagens de materiais em áreas de empréstimo e nas fundações, onde há


quantidades substanciais de materiais que possuem potencial de uso na construção de
aterros, deverão ser coletadas amostras representativas de cada estrato, num volume
suficiente para fornecer 35kg de material que passe pela peneira no. 4 (4,75mm), quando
possível, as quais serão utilizadas para ensaiar as propriedades de engenharia. Só o mate-
rial de tamanho superior a 150mm deverá ser retirado da amostra, e o percentual do
material >150mm removido deverá ser registrado. Entretanto, em alguns casos, é im-
prescindível obter amostras maiores, a fim de serem efetuados ensaios em todo o mate-
rial. Se o material parecer uniforme em todo o furo de sondagem, tomar-se-ão amostras
dos terços superior, médio e inferior do furo.

Nas investigações para localizar fontes de material para “riprap”, as amostras con-
sistem de três ou quatro pedaços de rocha, com peso mínimo total de 275kg, representa-
tivas da fonte. A coleta de amostras de material para tapetes, filtros e lastro deverão
atender aos requisitos de coleta de material de empréstimo para a construção de aterros.

Dentre as amostras coletadas conforme descrito anteriormente (vide também o


item 3.2.5), são selecionadas as amostras que serão submetidas aos ensaios para deter-
minar as propriedades características e as de engenharia. Será preciso preservar um nú-
mero suficiente de amostras para sustentar os perfis dos furos de sondagem e para enviar
ao laboratório para a determinação das propriedades de engenharia.

Em geral, as amostras coletadas durante as sondagens de rotina não são satisfatórias


para os ensaios associados à determinação das propriedades do maciço de solo ou de
rocha nas suas condições naturais. Para este propósito, as amostras são retiradas de
material não afetado pelas condições climáticas sazonais, de furos de sondagem de gran-
de diâmetro (100 a 150mm, como mínimo) ou do fundo dos poços de exploração. As
amostras dos furos de sondagem deverão ter entre 30 e 60cm de comprimento e as dos
poços deverão ser cubos de 25 a 30cm de lado, devendo estar em condições tão próxi-
mas das naturais quanto possível.

3.4.5 Relatórios

3.4.5.1 Aspectos Gerais

Os resultados de cada investigação deverão ser apresentados em forma de relató-


rio. Durante o estágio de pré-viabilidade de pequenas estruturas, poderá ser suficiente

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uma carta-relatório descrevendo, em termos gerais, a natureza dos problemas associados


à investigação, a magnitude da investigação e as conclusões alcançadas. Durante o de-
senrolar das investigações, novos dados serão colhidos, avaliados e aceitos ou rejeitados.
á medida que forem alcançados os diversos estágios das investigações, o material previa-
mente compilado é incorporado ao relatório de andamento. Durante a preparação deste
relatório, são examinados os relatórios anteriores, e aquelas questões respondidas são
incluídas no relatório, junto com a solução encontrada ou, caso contrário, reservadas
para futura consideração. O relatório final preparado antes da elaboração das
especificações, deverá dar resposta a todas as indagações dos relatórios anteriores, ou
mostrar que não é possível alcançar uma solução positiva, dentro do âmbito das investi-
gações.

Cada relatório deverá incluir uma declaração de propósito da investigação, o está-


gio para o qual está sendo preparado, o tipo de estrutura contemplada e suas principais
dimensões. Todos os relatórios deverão incluir as características a seguir, relativas às
fundações e às terraplenagens.

3.4.5.2 Fundações

Os dados das fundações deverão ser coletados considerando o tipo e as dimensões


da cada obra de engenharia, bem como o efeito na estrutura das características significa-
tivas dos materiais das fundações e das condições prevalentes num determinado local.

A geologia geral da região deverá ser descrita. Essa descrição deverá incluir as
características geológicas principais, o nome das formações encontradas na área, sua
idade, as relações entre as formações e suas características físicas gerais.

O relatório deverá apresentar uma descrição e uma interpretação da geologia local,


incluindo a qualidade física e a estrutura geológica dos estratos das fundações, informa-
ções acerca das águas subterrâneas, as condições sísmicas, áreas de escorregamento
real ou potencial, e interpretações geológicas apropriadas referentes à estrutura de enge-
nharia afetada por quaisquer desses fatores. Os perfis geológicos de todas as sondagens
também deverão ser incluídos no relatório, assim como um mapa geológico plotado sobre
um mapa topográfico do local da obra, mostrando a geologia superficial e a localização
das seções geológicas e das sondagens efetuadas. Este mapa deverá ser suplementar,
com seções geológicas que indiquem as condições conhecidas e interpretadas. Quando
disponíveis, acrescentar-se-ão fotografias de características geológicas e topográficas
pertinentes, incluindo fotografias aéreas para mosaicos.

Os dados de engenharia, relativos aos solos de cobertura nas fundações da estrutu-


ra proposta, deverão ser mostrados por meio de perfis detalhados de solo e relatados de
acordo com os seguintes parâmetros:

„ Classificação, obedecendo o Sistema Unificado de Classificação do Solo de cada


solo, em cada estrato principal;
„ Descrição do estado indeformado do solo no estrato;
„ Delineamento da extensão lateral e da espessura de estratos críticos, competentes,
pobres ou potencialmente instáveis;
„ Estimativa ou determinação, mediante ensaios, das propriedades de engenharia
significativas dos estratos, como as características de massa específica, permea-
bilidade, resistência ao cisalhamento e características de compressibilidade ou ex-
pansão, assim como do efeito da carga estrutural, das mudanças de umidade e das
flutuações ou do aumento permanente do lençol freático, sobre tais propriedades
de engenharia;
„ Estimativa ou determinação das propriedades corrosivas e do teor de sulfatos do
solo e das águas subterrâneas, em termos do seu efeito na escolha do cimento.

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Quanto aos dados acerca do maciço rochoso, serão precisos:

„ Descrição da profundidade e do contorno do topo rochoso; da espessura das zonas


sujeitas a intemperismo, alteradas ou de alguma forma amolecidas de outras fra-
quezas e descontinuidades estruturais;
„ Esboço das zonas e dos estratos de rocha mole e/ou solo que sejam fracos, perme-
áveis e/ou estruturalmente instáveis;
„ Estimativa ou determinação (dependendo do estágio do projeto) das propriedades
de engenharia significativas da rocha, como massa específica, absorção,
permeabilidade, características de resistência e deformação; e do efeito da carga
estrutural, das mudanças de umidade e das flutuações ou do aumento permanente
do lençol freático sobre tais propriedades.

3.4.5.3 Dados dos Materiais de Construção

É indispensável elaborar um relatório dos materiais de construção, o qual deverá


incluir um inventário dos solos impermeáveis disponíveis, dos solos permeáveis e da
rocha para “riprap” e enrocamentos, como parte dos dados necessários à elaboração do
projeto ao nível de viabilidade e das especificações, no caso de grandes barragens e,
ocasionalmente, de canais e outras estruturas principais, para os quais se requerem substan-
ciais volumes desses materiais. Algumas vezes, são necessários relatórios similares, rela-
tivos a pequenos volumes de materiais especiais. O principais itens a serem incluídos nos
relatórios de materiais de construção estão relacionados a seguir.

„ Um mapa quadriculado mostrando a topografia da jazida, do local da obra e do


terreno interveniente, caso a jazida esteja localizada a menos de 3km do local da
obra. A localização dos furos e das trincheiras deverá ser indicada por meio de
símbolos padronizados;
„ Propriedade da área;
„ Breve descrição da topografia e da vegetação;
„ Espessura estimada da jazida, incluindo variações. Deverão ser incluídos desenhos
mostrando os perfis do subsolo ao longo das linhas do quadriculado;
„ Extensão de área da jazida;
„ Quantidade estimada de material na jazida;
„ Tipo e espessura do solo de cobertura;
„ Acessibilidade da jazida;
„ Descrição geral das jazidas de rocha;
„ Incidência de fraturas e espessura de acamamento dos estratos rochosos;
„ Espaçamento, formato, angularidade, tamanho médio e variação de tamanhos das
ocorrências naturais de matações;
„ Breve descrição do formato e da angularidade dos fragmentos de rocha encontra-
dos nos taludes dos depósitos de rocha, assim como as características e as dimen-
sões dos fragmentos de rocha resultantes do desmonte a fogo;
„ Perfis de todos os furos de sondagem a trado e das faces expostas em poços e
trincheiras exploratórias;
„ Estimativa ou determinação das propriedades características e de engenharia dos
solos encontrados, conforme os resultados dos ensaios. Os ensaios deverão ser
restritos, no estágio de viabilidade; ensaios mais detalhados deverão ser deixados
para o nível de projeto básico;
„ Recomenda-se a inclusão de fotografias, mapas e outros desenhos úteis nos regis-
tros das investigações.

Em alguns casos, as informações colhidas para o relatório dos materiais de constru-


ção, o qual é fornecido como subsídio para a elaboração do projeto básico e das especi-
ficações, não terão detalhamento suficiente para permitir o desenvolvimento de um plano
de utilização e otimização dos materiais de solo disponíveis. Assim que houver fundos

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disponíveis para a elaboração do projeto executivo, cada área de empréstimo incluída nas
especificações deverá ser cuidadosa e especificamente estudada.

Os principais objetivos do estudo detalhado são a determinação da profundidade


dos cortes nas áreas de empréstimo, a melhor distribuição possível dos materiais a serem
utilizados nos aterros e a definição da necessidade de acrescentar ou retirar umidade. Na
maioria dos casos, recomenda-se aumentar a umidade dos materiais de empréstimo im-
permeáveis e secos antes da escavação. Os estudos deverão incluir uma análise das
condições de umidade em cada área de empréstimo, a partir da qual será possível desen-
volver planos de irrigação das áreas. Se os materiais nas áreas de empréstimo estiverem
demasiado úmidos para serem lançados adequadamente, os planos de drenagem destas
áreas poderão basear-se nos resultados dos estudos detalhados. As variações sazonais
no teor de umidade, as variações de umidade em função da profundidade e a taxa de
penetração da água sempre deverão ser consideradas.

As investigações detalhadas, descritas anteriormente, são recomendadas para ca-


nais e estruturas para as quais se requerem grandes volumes de materiais de escavação
e empréstimo. De todas as formas, o pessoal da obra deverá realizar suficientes sonda-
gens antes de iniciar a construção, de modo a determinar onde obter os tipos de materiais
especificados, incluindo agregados de concreto e onde deverão ser colocados os diversos
materiais.

3.5 Agregados de Concreto

3.5.1 Qualidade e Granulometria dos Agregados

Os agregados de concreto podem consistir de areia e cascalho naturais, pedra


britada ou misturas destes materiais. As areias e os cascalhos naturais são utilizados
sempre que apresentem qualidade satisfatória e que possam ser obtidos de maneira eco-
nômica e em quantidade suficiente. A pedra britada é amplamente utilizada como agrega-
do graúdo e, ocasionalmente, no lugar de areia, quando não há disponibilidade de materi-
ais naturais a um custo razoável, embora a produção de concreto trabalhável a partir de
fragmentos pontiagudos, angulosos e triturados, requeira, em geral, mais vibração e ci-
mento do que aquele com areia de grãos arredondados e seixos rolados. Entretanto,
devido à trabalhabilidade adicional resultante de ar incorporado, é possível reduzir subs-
tancialmente as dificuldades de produção de concreto trabalhável, com a utilização de
agregado britado. O formato das partículas de pedra britada depende, em grande parte,
do tipo de rocha e do método de britagem utilizados.

Em muitos casos, o uso de agregados impróprios tem sido apontado como causa de
deterioração do concreto. Os agregados apropriados são compostos, essencialmente, de
partículas limpas, sem película, de formato adequado, originários de materiais fortes e
duráveis. Quando incorporados ao concreto, deverão resistir satisfatoriamente a mudan-
ças químicas e físicas, como fissuramento, inchamento, amolecimento, lixiviação e alte-
ração química; não deverão conter substâncias contaminantes que possam contribuir
para a deterioração do concreto ou prejudicar sua aparência.

3.5.1.1 Substâncias Contaminantes

Em geral, os agregados encontram-se contaminados por silte, argila, mica, carvão,


húmus, fragmentos de madeira, outras matérias orgânicas, sais químicos, películas e
incrustações superficiais. Essas substâncias contaminantes no concreto agem de diver-
sas maneiras, prejudicando a sanidade, diminuindo a resistência e a durabilidade e provo-
cando aparência inaceitável; sua presença complica as operações de processamento e
mistura. Em geral, os percentuais permissíveis, por peso seco, são determinados nas
especificações. Felizmente, com freqüência é possível eliminar o excesso de substâncias

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contaminantes, mediante tratamento simples. Silte, argila, películas de pó, sais químicos
solúveis e certos materiais leves são removidos lavando-se o material. Outras substâncias
menos sensíveis, como os torrões de argila, podem exigir processamento especial e mais
complicado ou são impossíveis de remover por meios economicamente factíveis. As subs-
tâncias prejudiciais, como raízes de árvores e lenha, deverão ser eliminadas.

3.5.1.2 Alterabilidade

Um agregado é considerado fisicamente são se for adequadamente forte e apto


para resistir ao intemperismo, sem desagregação ou decomposição. As partículas mine-
rais e rochosas fisicamente fracas, muito absorventes, frágeis, ou que se expandem
quando saturadas, são susceptíveis à ruptura provocada pela exposição aos processos
naturais de intemperismo. Os folhetos, arenitos friáveis, algumas rochas micáceas, ro-
chas argilosas, algumas rochas com cristalização grossa e vários sílexes são exemplos de
materiais de agregado fisicamente fracos.

Dentre as propriedades importantes que afetam a sanidade física do agregado,


destacam-se as dimensões, a abundância e a continuidade dos poros e canais dentro das
partículas. Estas características dos poros influenciam a durabilidade, a resistência, a
elasticidade, a resistência à abrasão, o peso específico, a ligação do material ao cimento
e o grau de alteração química.

A sanidade química de um agregado também é importante. Em muitos casos, foi


possível associar uma expansão excessiva que causou a deterioração precoce do concreto
com reações químicas entre o agregado reativo e os álcalis do cimento. Entre as substân-
cias reativas conhecidas estão os minerais de sílica, opala, calcedônia, tridimita e cristobalita;
zeolita, heulandita (e, provavelmente, ptilolita), riolitos vítreos a criotocristalinos, dacitos
e andesitos e seus tufos, basaltos e certos filitos. Qualquer rocha contendo uma propor-
ção significativa de substância reativa produzirá reações deletérias; portanto, embora os
calcários e as dolomitas puros não causem tais reações, esses mesmos materiais, quando
contêm opala e calcedônia, podem ser reativos. Da mesma forma, arenitos, folhetos,
granitos, basaltos e outras rochas normalmente inócuas, podem causar reações indesejadas,
se estiverem impregnadas ou revestidas de opala, calcedônia ou outras substâncias reativas.

Outros tipos de alteração química, como oxidação, dissolução ou hidratação, po-


dem diminuir a sanidade química das partículas susceptíveis de agregado, após sua incor-
poração ao concreto ou podem produzir exsudação ou manchas que prejudicam a aparên-
cia do produto acabado.

3.5.1.3 Resistência e Resistência à Abrasão

Os agregados devem possuir bastante resistência para desenvolver a resistência


total da matriz de cimentação. Quando a resistência ao desgaste é importante, as partícu-
las de agregado deverão ser duras e fortes. Os quartzos, o quartzito e muitas rochas
vulcânicas e silicosas densas estão perfeitamente qualificadas para produzir concretos
resistentes ao desgaste.

3.5.1.4 Mudanças de Volume

As alterações no volume de um agregado, causadas pela umecção ou secagem,


são uma fonte comum de deterioração do concreto. Os folhetos, as argilas e alguns
nódulos rochosos são exemplos de materiais que sofrem expansão, quando absorvem
água, e contração, quando dessecados.

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3.5.1.5 Formato das Partículas

O principal problema das partículas de agregado achatadas ou alongadas é seu


efeito pernicioso na trabalhabilidade, o que exige que se acrescente maior quantidade de
areia à mistura de concreto e, conseqüentemente, que se use mais cimento e água. Um
percentual moderado (cerca de 25% de qualquer granulometria) de fragmentos achatados
ou alongados no agregado graúdo não terá maior efeito na trabalhabilidade ou no custo do
concreto.

3.5.1.6 Peso Específico

O peso específico do agregado só é importante quando o projeto ou considerações


estruturais exigem que o concreto tenha um determinado peso mínimo ou máximo. É um
indicador útil e rápido da adequabilidade de um agregado. Um baixo peso específico em
geral é indicativo de material poroso, fraco e absorvente, enquanto um peso específico
alto com freqüência indica boa qualidade; entretanto, tais indicações não são confiáveis,
se não forem confirmadas por outros meios.

3.5.1.7 Granulometria

A distribuição das partículas do agregado de acordo com seu tamanho, realizada


mediante a separação com peneiras-padrão, é denominada granulometria. Geralmente, a
granulometria da areia é expressa em termos dos diversos percentuais individuais retidos
em peneiras-padrão, designados pelos números 4 (4,75mm), 8 (2,38mm), 16 (1,19mm),
30 (0,590mm), 50 (0,297mm), 100 (0,149mm) e 200 (0,075mm). A granulometria dos
agregados graúdos é determinada por meio de peneiras, cujas aberturas obedecem às
especificações ou aos requisitos especiais do projeto. Na medida do possível, a
granulometria das jazidas naturais deverá ser utilizada na construção, exceto quando se
demonstrar, em investigações laboratoriais ou experiências, que corrigir a granulometria
seria vantajoso.

A granulometria permissível da areia depende, até certo ponto, do formato e das


características de superfície das partículas. Areia constituída de partículas lisas e arredon-
dadas poderá apresentar resultados satisfatórios, mesmo com granulometria mais grossa
do que seria aceitável numa areia composta de partículas cortantes, angulosas e de su-
perfície áspera.

Em geral, as especificações limitam o tamanho máximo nominal do agregado a ser


utilizado. Há vantagens significativas na utilização de concreto produzido com agregado
de granulometria até o máximo tamanho aceitável, uma vez que é possível diminuir a
quantidade utilizada de água e cimento. A diminuição do teor de cimento é primordial na
redução da contração provocada pela dessecação.

3.5.2 Amostragem dos Agregados

A tarefa de obtenção de amostras realmente representativas dos agregados é com-


plexa, devido à segregação que ocorre quando o agregado é manuseado ou transportado.
Para se obter uma amostra que verdadeiramente represente o material de uma jazida, será
preciso fazer sondagens e poços de exploração, localizados sistematicamente em toda a
área da jazida, e os métodos de amostragem deverão garantir a obtenção de uma amostra
contínua, de cima a baixo, de cada furo.

A amostra de agregado deverá ser separada nas suas frações de areia e agregado
graúdo. Estas frações deverão ser, por sua vez, reduzidas, pelo método dos quartos ou
por outro método adequado à divisão de amostras, até atingirem um tamanho apropriado
à análise granulométrica. Far-se-á uma análise separada de cada amostra, ao invés de

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uma análise de uma amostra composta, de maneira que possam ser determinadas as
variações de material.

O método de divisão de amostras em quartos é discutido no item 3.3.3.3.

3.5.3 Prospecção para Agregados

3.5.3.1 Aspectos Gerais

As investigações de campo relativas a materiais para o concreto, realizadas antes


de se iniciar a obra, se limitam, principalmente, à prospecção de agregados e à sondagem
e amostragem das fontes disponíveis. Sempre que possível, o engenheiro encarregado
deverá ser informado a respeito da quantidade aproximada de agregados requerida, os
tamanhos máximos a serem utilizados e a natureza geral da obra proposta. As pessoas
encarregadas da prospecção deverão estar familiarizadas com os efeitos da granulometria,
das características físicas e da composição dos agregados nas diversas propriedades do
concreto. Em geral, as investigações preliminares de campo, criteriosas e minuciosas,
resultam numa maior durabilidade e economia das estruturas construídas.

Dentre os mapas de detalhe mais adequados para a localização das fontes de agre-
gados de concreto ou na escolha do local de construção das centrais de dosagem e outras
estruturas, destacam-se os mapas topográficos, as fotografias aéreas, os mapas hidrofisio-
gráficos e, em alguns casos, os mapas geológicos. As fotografias aéreas são freqüen-
temente empregadas como base para o mapeamento topográfico das fontes de agrega-
dos. Antes de se iniciar o mapeamento, será preciso empreender uma procura cuidadosa
dos mapas existentes.

3.5.3.2 Características Geológicas e Outras Características Afins dos Agregados e


dos Depósitos de Agregados

A maioria dos fatores relativos à adequabilidade das jazidas de agregado está rela-
cionada com a história geológica da região. Os processos geológicos que dão origem às
jazidas, ou que as modificam subseqüentemente, são responsáveis por muitas caracterís-
ticas que podem influenciar a decisão de utilização de uma ocorrência. Entre outros, é
possível mencionar as dimensões; o formato e a localização da ocorrência; a espessura e
a natureza do solo de cobertura; os tipos e a condição das rochas; a granulometria, o
arredondamento e o grau de uniformidade das partículas de agregado e o nível do lençol
freático.

„ Tipos de jazida – Os agregados podem ser obtidos em jazidas naturais de areia e


cascalho ou de pedreiras em áreas de afloramentos rochosos. Em geral, as areias e os
cascalhos naturais são a fonte mais econômica de agregado. São normalmente obti-
dos em depósitos fluviais ou leques aluviais. Os depósitos de talus algumas vezes
podem ser processados e utilizados. Também é possível obter-se areia fina para
misturar, em depósitos eólicos;
„ Os depósitos fluviais são desejáveis, uma vez que as partículas são, em geral,
arredondadas. Os cursos d’água exercem uma ação de separação dos grãos, o que
pode melhorar a granulometria do material e a abrasão, causada pelo transporte e
deposição desses grãos pelo curso d’água, leva à eliminação parcial dos materiais
mais fracos. É freqüente a existência de grandes depósitos de areia e cascalho nas
margens ou no leito dos cursos d’água, mas a prospecção deverá incluir os depósi-
tos de terraços em maiores elevações;
„ Um leque aluvial é uma massa de detrítica de declive suave e formato semicônico,
depositada no pé de uma ravina, por repetidas enchentes torrenciais. As areias e os
cascalhos depositados sob tais circunstâncias são muito diferentes daqueles en-
contrados normalmente nos depósitos fluviais: as partículas são angulosas e o

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material mal estratificado e graduado. Os depósitos em leques aluviais são freqüen-


temente empregados como fonte de agregados de concreto, embora exijam mais
processamento do que o usual;
„ Os depósitos de encosta (talus) formam-se no fundo de taludes acentuados e
escarpas, como resultado do deslizamento e da queda de rochas soltas. Não há
qualquer ação de separação granulométrica, pouco arredondamento das partículas
e nenhuma segregação dos diversos materiais. Em geral, há pequena variedade de
tipos de rocha. Em alguns casos, o material dos depósitos de encosta pode ser
britado ou processado de outra forma para constituir um agregado adequado;
„ O material sujeito à ação eólica tem granulometria fina e é útil como areia de mistu-
ra. Em geral, são grãos arredondados, compostos, principalmente, por quartzo,
devido ao intenso atrito produzido pelo vento que eficazmente remove os constitu-
intes menos duráveis das rochas;
„ Nem sempre há disponibilidade de areias e cascalhos naturais e, algumas vezes, é
necessário produzir agregados de concreto mediante o desmonte de rochas em
pedreiras e seu subseqüente processamento. Só se recorre à exploração de pe-
dreiras quando não é possível obter, economicamente, outros materiais de quali-
dade e tamanho apropriados. No item 3.5.3.4 são tecidas outras considerações
quanto às instruções de amostragem de afloramentos rochosos, nas investiga-
ções de pedreiras;
„ Classificação e características das rochas – A Tabela 3.2 apresenta uma classifica-
ção das rochas, com base na sua origem, em três grupos principais. Esta classifica-
ção, muito sintética, inclui apenas os tipos de rocha mais importantes;
„ A maioria das rochas ígneas constitui excelente agregado de concreto; em geral,
estas rochas são duras, fortes e densas. Poderão ser exceções os tufos e certas
lavas muito porosas, pela inclusão de bolhas de gás. Normalmente, estes são inade-
quados como agregados de concreto, exceto na fabricação de concreto leve, devi-
do à sua pouca resistência, seu baixo peso e sua alta absorção;
„ As rochas sedimentares variam de duras a moles, de pesadas a leves e de densas a
porosas; sua adequabilidade como agregado é igualmente variável. Os arenitos e os
calcários, quando duros e densos, são adequados como agregados. Mas os arenitos
são, com freqüência, friáveis ou excessivamente porosos, devido à cimentação
imperfeita dos seus grãos constituintes. Tanto os arenitos como os calcários po-
dem conter argila, o que torna a rocha friável, mole e absorvente; com maiores
teores de argila, estas rochas chegam a ser classificadas como folheto arenoso ou
calcífero. Em geral, os folhetos não são bons agregados, pois são moles, leves,
fracos e absorventes. Além disso, uma vez que, originalmente, foram depositados
em camadas finas, o formato dos folhetos, quando fragmentado, tende a ser acha-
tado ou laminado. Os conglomerados podem ser inadequados como agregado, por-
que são sujeitos a romper progressivamente em pedaços menores, durante seu
manuseio e processamento. Os sílexes e as pederneiras são amplamente utilizados
como agregados, embora muitos sílexes tenham tido desempenho tão pouco
satisfatório que seja necessário julgar o material individualmente, de preferência
com base na sua adequabilidade em serviços anteriores e ensaios do concreto
produzido. Na falta de informações acerca de utilização anterior, a adequabilidade
dos sílexes de peso específico baixo ou absorção alta, comparativamente e que
compreendem uma proporção significativa do agregado, poderá ser questionada.
Os sílexes facilmente desintegráveis, quando saturados, podem-se mostrar sãos,
quando secos. Além disso, após dessecados, não tornam a ficar igualmente satu-
rados. As mesmas considerações são válidas para outros tipos de rochas absorven-
tes que contêm pequenos poros. A presença de partículas caracterizadas por peque-
nos poros e, conseqüentemente, a necessidade destas considerações especiais só
podem ser determinadas mediante ensaios de laboratório;
„ Também há grandes variações nas características das rochas metamórficas. Os
mármores e os quartzitos são normalmente maciços, densos e suficientemente
duros e fortes. Os gnaisses também são duráveis e fortes, mas podem possuir as

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Tabela 3.2. Classificação Geral de Rochas Comumente Encontradas

Ígneas (solidificadas a partir do estado de liquefeito)


Cristalinas granulação grauda Cristalinas granulação fina Fragmentárias cristalinas ou vítreas
(ou cristais e vidro)
Origem: intrusão profunda vagarosamente esfriada Origem intrusão razoável Origem: fragmentos vulcânicos
vulcânica rapidamente esfriada explosivos depositados como
sedimentos
Granito Minerais escuros Crescentes,
Minerais Claros e Cinzas e pumice (poeira ou
Piorito
Quartzosos Crescentes escória vulcânica)
Gabro Tufo (Cinzas Consolidadas)
Nota: Os nomes das rochas so baseadas no conteúdo mineral a cor Especialmente vidro (esfriado
pode ser usada como indicaço grosseira, conforme notado acima. rapidamente poucos cristais ou
ausência deles)
Obsidiana Retinito, etc. Aglomerado (Detritos Vulcânicos
Graudos e finos)
Sedimentares sedimentos transportados por água, ar, gelo e gravidade)
Depositados Mecanicamente Depositados Quimicamente ou Bioquimicamente
A.N consolidados:
o
A. Cálcarios
Argila Pedra Calcárea (CaCO3)
Silte
Dolomita (CaCO3 MgCO3)
Areia
Cascalho De acordo com o tamanho das Marga (Xisto Argiloso Calcáreo)
Pedregulhos partículas
“Caliche” (Solo Calcáreo)
“Coquina” (Pedra Calcárea de Conchas)
B.Consolidados: B. Siliciosos
Folhelho (Argila Consolidada) Silex Córneo Depósitos nas fontes, enchimentos de
Pederneira Agata veias e das cavidades
Siltitos (Silte Consolidado)
Calcedonia
Arenito (Areia Consolidada)
Conclomerado (Cascalhos ou pedregulhos redondos
consolidados)
Brecha (Fragmentos angulares)
C. Outras:
Hulha, fosfato, salinas, etc
Metamórficas (rochas igneas ou sedimentares modificadas por calor ou presso)
A.Folhadas
Ardósia: Densa, Escura, Fende em Lâminas... (Folhelho Metamorfoseado)
Xisto: Predominantemente Micacea, Lamelas semiparalelas
Gnaisse: Granular, com faixas, micaceo subordinadamente
B.Maciças
Mármore: cristalina com elementos graúdos, calcários (Pedra Calcárea Metamorfoseada)
Quartzito: Densa, muito dura, quartzoso (Arenito metamorfoseado)

características indesejáveis dos xistos. Com freqüência, os xistos apresentam-se


em lâminas finas e, portanto, tendem a ter formato achatado; em geral, contêm
grande quantidade de minerais micáceos moles e não possuem a resistência requerida
nos agregados de concreto. Por outro lado, alguns xistos são perfeitamente aceitá-
veis como agregado. As ardósias apresentam, em geral, laminação fina, o que é
desaconselhável;
„ Em geral, as características das rochas inalteradas são modificadas, em maior ou
menor grau, por processos secundários, como o intemperismo, que provocam de-
composição química e desintegração física. Outros processos secundários, como a

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ação das águas subterrâneas, também podem alterar a natureza original dos mate-
riais rochosos, pela decomposição das películas que os revestem ou das substânci-
as de cimentação. Essas substâncias podem ser deletérias, de per si ou inadmissí-
veis por dificultarem o processamento dos materiais. Conforme será discutido, as
propriedades nocivas de um tipo de rocha ou de uma jazida podem ser atenuadas
por meio de lavagem, exploração seletiva, ou por outros tratamentos;
„ Adequabilidade química dos agregados – Alguns materiais de agregado sofrem
alterações químicas que podem ser prejudiciais ao concreto. São reações de vários
tipos, incluindo a do agregado com os constituintes do cimento, a dissolução dos
materiais solúveis, a oxidação pelo intemperismo e complexos processos que impe-
dem a hidratação normal do cimento. As mudanças volumétricas das argilas,
provocadas pela absorção e pela desidratação, são alterações físicas que se enqua-
dram neste tópico, devido à sua relação com a estrutura cristalográfica e a compo-
sição química dos diversos minerais na argila;
„ A reação entre certos agregados e os álcalis do cimento podem causar expansão,
fissuramento e deterioração do concreto. Pequenos teores de opala, riólito e outras
rochas e minerais no agregado, que, de outra forma, seriam perfeitamente
admissíveis, têm provocado expansão excessiva e rápida deterioração do concreto.
A opala (sílica aquosa amorfa) é o constituinte mais reativo dos agregados, mas as
rochas vulcânicas ácidas e intermediárias são as mais significativas, por serem
mais numerosas. A sílica opalina é um constituinte menor em muitos tipos de ro-
cha, ou pode formar películas ou incrustações nas partículas de areia ou cascalho;
„ Dentre as rochas e os minerais reconhecidamente prejudiciais, por reagirem com os
álcalis do cimento, destacam-se as rochas vulcânicas de teor médio a alto de sílica;
as sílicas fundidas (artificiais ou naturais, exceto o tipo básico, como os bassaltos
fundidos), as rochas opalinas e calcedônicas (incluindo a maioria dos sílexes e das
pederneiras), alguns filitos e tridimitas, assim como certas zeólitas. Em geral, os
agregados petrograficamente similares a tipos reativos ou suspeitos de possuírem
tendências reativas, com base na experiência ou em experimentos laboratoriais, só
devem ser utilizados com cimento de baixo teor de álcalis. A intensidade dessas
reações pode ser atenuada e provavelmente eliminada em alguns casos, pela limita-
ção dos álcalis a 0,5-0,6% do cimento e/ou o uso de uma pozolana eficaz. As zeólitas
e os minerais do tipo montmorilonita podem aumentar o fornecimento de álcalis, por
meio de reações de intercâmbio de cátions;
„ Uma reação de efeito similar é a reação álcali-carbonato, que ocorre quando certos
calcários dolomíticos são utilizados como agregado graúdo, junto com um cimento
de alto teor de álcalis;
„ Determinados sulfetos minerais, como os sulfetos de ferro, as piritas e as marcassitas,
são facilmente oxidados pela ação do intemperismo, o que causa feias manchas de
ferrugem e perda de resistência e coesão nas partículas afetadas. Essas reações
também podem gerar produtos químicos ácidos, nocivos à matriz de concreto
circunvizinha, e causar reações afins que resultam em aumento de volume e conse-
qüente esfoliação do concreto. O carvão é indesejável devido à sua baixa resistên-
cia e ao mau aspecto nas superfícies de concreto. Outras substâncias orgânicas,
como determinadas matérias vegetais e o húmus, contêm ácidos orgânicos que
inibem a hidratação do cimento. As areias que produzem uma cor mais escura do
que o padrão do ensaio colorimétrico para as impurezas orgânicas poderão ser
rejeitadas, embora esses resultados possam ser interpretados como sugestão de
ensaios adicionais para determinar o tipo de matéria orgânica presente e seu efeito
específico no concreto. As argilas são sujeitas a expansão e contração, causadas
pela absorção e pela hidratação; quando presente, como constituinte das rochas –
nos calcários, por exemplo –, essa absorção aumenta consideravelmente a suscep-
tibilidade da rocha à desagregação pelo intemperismo. Os sais químicos, como
sulfatos, cloretos, carbonatos e fosfatos, podem estar presentes nos agregados,
sob inúmeras formas. Algumas destas substâncias reagem quimicamente, modifi-
cando ou impedindo os processos normais de pega do cimento; outros são

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Elaboração de Projetos de Irrigação

desaconselháveis devido à sua baixa resistência ou porque tendem a se dissolver.


Essas contaminações também contribuem para a formação de exsudações ou
eflorescências, e, se pulverulentas ou de grãos finos, podem aumentar as frações
siltosas inadmissíveis de um agregado;
„ Em geral, as frações muito finas dos agregados são classificadas como silte ou
argila e não devem ser permitidas em grandes quantidades, pois tendem a aumen-
tar a quantidade de água necessária na mistura, com conseqüente enfraquecimen-
to da sanidade e diminuição da resistência e da durabilidade do concreto. A mica é
uma substância contaminante freqüentemente encontrada nos agregados; é
desaconselhável por ser mole, laminada e absorvente, assim como susceptível a
desintegração ao longo dos planos de clivagem, o que contribui para reduzir a
resistência e a durabilidade do concreto;
„ As substâncias nocivas ou contaminantes podem ocorrer como películas envolven-
do as partículas dos agregados graúdos ou finos, como incrustações cimentando-as
ou como camadas diferenciadas nas jazidas de agregados. Tais contaminações são
mais freqüentes nas regiões áridas ou semi-áridas. Se a substância for pulverulenta,
algumas vezes se solta durante o manuseio do agregado, aumentando a fração
siltosa;
„ Em geral, a simples lavagem remove as películas de silte e argila, o pó fino de mica
livre, os sais muito solúveis e a matéria orgânica leve. Os torrões de argila só são
removidos com dificuldade. O carvão é eliminado mediante lavagem, se as partícu-
las não forem demasiado grossas, ou por processamento de fluxo em sentido con-
trário ou separação do material pesado, quando há partículas de carvão maiores
presentes. As películas duras e aderentes e as incrustações exigem processamento
vigoroso por abrasão, como moinho de tambor, para que as substâncias contaminan-
tes se soltem e possam ser posteriormente removidas mediante peneiração e lava-
gem. Algumas películas não podem ser removidas a um custo economicamente
factível;
„ As substâncias solúveis contidas nos agregados podem dissolver-se e contaminar a
água de mistura, se não forem previamente removidas durante o processamento do
agregado. As películas e as incrustações superficiais, em especial quando soltas e
pulverulentas, podem ser parcialmente removidas na betoneira; entretanto, qual-
quer aprimoramento resultante da ligação entre o cimento e os agregados poderá
ser prejudicado pela tendência do material solto de aumentar a quantidade de água
requerida.

3.5.3.3 Prospecção

Na procura de uma agregado apropriado, é importante levar em consideração que


os materiais ideais são raramente encontrados. É comum haver falta ou excesso de um ou
mais tamanhos; tipos de rocha inadmissíveis, partículas cimentadas ou com películas ou
partículas achatadas podem ocorrer em quantidades excessivas; as argilas, os siltes ou a
matéria orgânica podem estar contaminando a jazida; ou o intemperismo poderá ter redu-
zido a resistência das partículas.

É essencial obter-se uma interpretação razoável dos materiais, por meio de amos-
tragem adequada. Além disso, a profundidade do lençol freático ou do solo de cobertura
podem comprometer a utilização da ocorrência. Infelizmente, não é possível observar,
diretamente da superfície, os estratos que compõem a jazida. Entretanto, uma compreen-
são dos processos geológicos que agiram sobre o material poderão auxiliar na interpreta-
ção baseada nas observações da superfície. Com freqüência, essa compreensão permitirá
distinguir entre condições apenas superficiais e aquelas que serão também expressadas a
alguma profundidade. Em geral, as conclusões finais exigem investigações exaustivas,
embora seja possível obter muita informação pertinente durante as investigações no está-
gio de pré-viabilidade.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Muitas características indesejáveis das jazidas de areia e cascalho podem ser reme-
diadas por processamento apropriado. A britagem poderá complementar os depósitos
deficientes em tamanhos de cascalho fino ou até de areia ou, então, poderá haver dispo-
nibilidade de areia para misturar. A lavagem dos materiais servirá para remover argilas,
siltes e matéria orgânica. A escavação seletiva pode constituir um meio satisfatório de
evitar a exploração de partes inadmissíveis da jazida. Se estes ou outros métodos se
justificam, dependerá, em geral, da magnitude do projeto e da disponibilidade de mate-
riais satisfatórios de outras fontes. Tais considerações deverão influenciar as investiga-
ções preliminares. A acessibilidade, a proximidade ao local da obra e a trabalhabilidade
de uma jazida são elementos essenciais na avaliação da sua adequabilidade.

A quantidade de agregado que pode ser obtida na jazida deve ser estimada aproxi-
madamente e comparada aos prováveis requisitos. As áreas podem ser medidas, aproxi-
madamente, com passadas. A profundidade e a granulometria do material podem ser
estimadas examinando-se as margens dos cursos d’água e outros cortes expostos. Dedu-
zindo uma perda estimada, em, aproximadamente, 20 a 50%, com base na aparência do
material, pode-se presumir que um metro cúbico do material in situ produzirá agregado
para um metro cúbico de concreto.

3.5.3.4 Amostragem Preliminar das Fontes Potenciais de Agregado e Relatório de


Informações Pertinentes

Os métodos empregados na obtenção de amostras preliminares para os ensaios de


laboratório dependem de diversos fatores, como o tipo de estrutura e seu projeto de
construção e das características da jazida de agregado, em relação à sua uniformidade,
dimensões e formato, cobertura de solo, condições das águas subterrâneas, etc. Será
preciso colher amostras das fontes consideradas mais factíveis e econômicas, nas quais
serão realizados ensaios de laboratório, a fim de melhor avaliar a jazida. As quantidades
das amostras serão as seguintes: 300kg de materiais do tamanho no. 4 até 18mm e 50kg
de cada tamanho produzido. A quantidade da amostra de rocha de pedreira proposta para
britagem deverá ser de 300kg. Um memorando contendo informações deverá acompa-
nhar cada remessa de amostras. Uma cópia do memorando deverá ser incluída em cada
saco de amostras.

„ Jazidas de Areia e Cascalho – Deverão ser obtidas amostras representativas dos


materiais “como saem da mina” (“pit-run”) das faces expostas de trincheiras ou
poços escavados nos locais apropriados. Ao fazer a amostragem de fontes que
tenham instalações de separação dos materiais disponíveis, recomenda-se obter
amostras individuais de cada tamanho.

As informações relacionadas a seguir, relativas às jazidas investigadas que têm


potencial, auxiliarão na seleção ou aprovação da fonte de agregado e na elaboração das
especificações:

„ Propriedade da jazida;
„ Localização da jazida, indicada num mapa;
„ Tipo de jazida, topografia e descrição da vegetação;
„ Estimativa aproximada do volume e da profundidade média da jazida assim como da
espessura de solo sobrejacente; além disso, informações acerca do lençol freático e
das suas flutuações;
„ Percentual aproximado do material de tamanho superior às dimensões máximas
incluídas nas amostras;
„ Estrada de acesso a rodovias;
„ Histórico de concretos produzidos com o agregado, se existente, ou de concretos
manufaturados com agregados similares na localidade;
„ Fotografias e quaisquer outras informações úteis ou necessárias.

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Para as fontes comerciais de areia e cascalho e as pedreiras equipadas para a


operação, recomenda-se obter as seguintes informações:

„ Nome e endereço do encarregado; se a jazida não estiver sendo ativamente explo-


rada, uma declaração acerca da propriedade ou da autorização de exploração;
„ Localização da jazida e da usina de beneficiamento;
„ Idade da usina e, se inativa, data aproximada de quando foram suspensas as opera-
ções;
„ Facilidades e dificuldade de transporte;
„ Dimensões da jazida;
„ Capacidade da usina e das pilhas de estoque;
„ Descrição da usina, incluindo o tipo de equipamento de escavação, transporte,
britagem, triagem, lavagem, classificação e carregamento, assim como as condi-
ções em que se encontra;
„ Percentuais aproximados dos materiais dos diferentes tamanhos produzidos pela
usina;
„ Localização das balanças em que são pesados os carregamentos;
„ Preços aproximados dos materiais f.o.b. na usina;
„ Principais usuários da produção da usina;
„ Histórico de concretos produzidos com os agregados, incluindo o tipo e as dimen-
sões da estrutura, dosagem, tipo de cimento utilizado e qualidade do concreto;
„ Outras informações pertinentes;
„ Jazidas Potenciais de Rocha – Com freqüência, é necessário fazer-se a amostragem
das pedreiras ou formações rochosas inexploradas. Nas investigações preliminares,
os requisitos de amostragem das pedreiras em operação ou das pedreiras inativas,
onde estão armazenados materiais beneficiados, são similares aos das jazidas co-
merciais de areia ou cascalho;
„ As amostras de formações rochosas inexploradas devem ser colhidas com muito
cuidado, de maneira que o material selecionado seja o mais parecido possível com
o material predominante na jazida e, inclusive, aponte quaisquer variações significati-
vas no tipo de rocha. O solo sobrejacente poderá restringir a área da qual o material
poderá ser retirado e esconder a verdadeira natureza de uma grande parte da jazida.
Além disso, os afloramentos rochosos podem ter sofrido, pelo intemperismo, modifi-
cações mais acentuadas do que o material do interior da jazida. As amostras obti-
das de pedaços soltos no chão ou coletadas em superfícies externas dos afloramentos
sujeitas ao intemperismo quase nunca são representativas. É possível obter materi-
al fresco rompendo a superfície externa ou, quando necessário, abrindo trincheiras,
desmontando a fogo ou perfurando a rocha para a obtenção de testemunhos;
„ Na amostragem de formações de rocha sedimentares, são pertinentes algumas
considerações geológicas. Nos depósitos estratificados, como os arenitos ou
calcários, será necessário avaliar a uniformidade vertical, uma vez que os sucessi-
vos estratos podem variar substancialmente. O mergulho das formações estratificadas
também deverá ser considerado, pois a inclinação dos estratos em relação à topo-
grafia fará aflorar estratos diferentes em diferentes partes da área e as escavações
poderão tornar-se antieconômicas, devido à excessiva cobertura de solo. É preciso
verificar a existência de zonas ou camadas de material indesejável. As camadas ou
os veios de argila ou de folheto podem ser suficientemente grandes ou prevalentes
para tornar necessária uma exploração seletiva, um descarte excessivo ou um
processamento especial;
„ As informações requeridas no relatório das investigações de pedreiras potenciais
são similares àquelas anteriormente descritas neste item. Recomenda-se incluir des-
crições das condições observáveis relativas à acessibilidade ou trabalhabilidade
da jazida, como a espessura e a uniformidade do material sobrejacente, as condições
das águas subterrâneas e a área disponível para as operações. Quaisquer investiga-
ções de campo adicionais serão especificamente solicitadas pelo engenheiro encar-
regado.

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3.5.4 Exploração de Jazidas Naturais de Agregado

3.5.4.1 Procedimentos Gerais

As jazidas promissoras, identificadas durante as investigações preliminares, deve-


rão ser exploradas em toda sua extensão e amostradas por meio de furos de sondagem
revestidos ou não, poços de exploração ou trincheiras. Se as jazidas estiverem expostas
em cortes de rodovias ou ferrovias ou ao longo de ravinas, não haverá necessidade de
maiores escavações. Os métodos utilizados dependerão da topografia local da área, for-
mato e profundidade da jazida, das condições das águas subterrâneas, da prevalência de
grandes pedras e de considerações que afetam a economia da exploração. As escavações
para ensaios deverão ser distribuídas a intervalos, de acordo com a uniformidade e a
extensão da jazida e restritas ao número mínimo requerido. Os principais objetivos são os
de obter um número suficiente de amostras representativas, que permitam estimar, com
precisão, a qualidade e a quantidade de materiais disponíveis; possibilitar predições
confiáveis das operações de beneficiamento que serão necessárias e dos traços de con-
creto que melhor se adaptarão ao trabalho a ser executado; e fornecer informações para
uso das empreiteiras e do pessoal de campo, durante a obra.

3.5.4.2 Furos de Sondagem Revestidos de Aço

O furo de sondagem revestido de aço e perfurado mecanicamente é um método


muito preciso de se fazer uma amostragem exaustiva das jazidas de agregado. Também é
o método mais econômico utilizado atualmente. Quando o solo a ser sondado está razo-
avelmente isento de pedras sobredimensionadas, a amostragem da jazida poderá ser
facilmente executada cravando-se um tubo ou um revestimento de aço, através do qual
serão removidas as amostras, por meio de um trado ou de um outro dispositivo adequado.
O tubo também evita que areia ou cascalho caiam no fundo do furo, devido ao desmoro-
namento das paredes. Este método deverá ser utilizado sempre que possível, a não ser
quando se possa empregar um outro mais econômico. As seções do tubo de revestimento
deverão ser bastante curtas para permitir seu fácil manuseio e a superfície externa das
juntas, suficientemente lisa para facilitar a cravação. Quando os tubos forem retirados
após a amostragem, será preciso usar juntas rosqueadas ou de encaixe. Se o tubo for
cravado, utilizar-se-á um anel de cravação, de maneira a evitar danos à extremidade do
tubo. Também é essencial utilizar um pescador de três dentes, para remover as rochas
que não possam ser manuseadas pelo trado.

A sistemática de manuseio e tratamento das amostras dos furos de sondagem


revestidos é a mesma descrita a seguir para as amostras retiradas de poços de exploração,
só que as amostras dos furos revestidos contêm todo o material escavado.

Quando se constatar a presença de água no fundo de um poço de exploração, será


possível pesquisar toda a profundidade do material por meio de furos revestidos, crava-
dos no fundo dos poços de exploração, utilizando um equipamento similar a um perfura-
dor de poços. Será necessário empregar uma sonda de percussão no início e nas partes
mais duras, mas, em geral, é possível abaixar o tubo de revestimento por meio de um
peso de cravação. As amostras do material das partes mais profundas são tiradas com
uma bomba coletora (bomba-balde com êmbolo de sucção e uma válvula de retenção na
base).

3.5.4.3 Furos de Sondagem Não-Revestidos

Nos locais em que o solo for adequado e existir água abundante, algumas vezes
será possível explorar uma jazida de agregado abaixo do lençol freático, por meio do
método da sondagem com fluxo contrário. Este método foi desenvolvido para contornar
as dificuldades do método de fluxo direto, no qual a água é forçada para dentro da haste

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de perfuração e se perde ou retorna à superfície fora da própria haste. No método de fluxo


direto, quando se utilizam brocas de percussão, é preciso revestir toda a profundidade do
furo, a fim de evitar desmoronamentos. No método de fluxo contrário, o desmoronamen-
to é evitado pela carga hidrostática mantida, com freqüência, com revestimento na parte
superior do tubo, de 2,5 a 3m acima do lençol freático. Desta forma, existe uma coluna de
água externa à haste de perfuração, a qual, junto com o material do furo, se mistura ao ar
injetado próximo ao fundo da haste de perfuração, e é bombeada para a superfície, atra-
vés da parte central da haste de perfuração. Exceto em algumas condições específicas na
parte superior do furo, em geral o revestimento é dispensável. Com o método de fluxo
contrário, os furos de sondagem podem ser perfurados mais rapidamente do que é normal
nos furos revestidos ou pelo método de fluxo direto, em especial quando se perfura
através de material estável.

3.5.4.4 Poços e Trincheiras de Exploração

As operações em poços e trincheiras de exploração cavadas para a investigação


de jazidas de agregados de concreto são similares às discutidas nos itens 3.3.3.2 e 3.3.3.3,
para outros materiais de solo, com apenas algumas exceções.

Se o procedimento de amostragem descrito a seguir for rigorosamente empregado,


não será necessário fazer o peneiramento de todo o material de um poço de exploração
cavado manualmente, para determinar a granulometria. O objetivo é obter, para
peneiramento, todo o material de uma coluna contínua, dentro do poço, com diâmetro
aproximado de 50cm. Tendo o fundo do poço atingido o novo nível, retira-se a amostra do
material de um furo de 50cm de diâmetro, com a profundidade quanto o permitir a esca-
vação limpa. A seguir, escava-se o restante do fundo do poço, até o nível do fundo do
furo de amostragem, quando o procedimento é repetido.

Deverão ser retiradas, pelo menos, duas amostras representativas de cada trecho
de 1,5m, ou de cada estrato separado, efetuando-se, a seguir, uma análise de peneiramento
completa, a qual deverá ser registrada. Se as amostras de areia estiverem úmidas, deve-
rão ser dessecadas espalhando-se as mesmas sobre uma lona ao sol ou mediante equipa-
mento adequado de secagem, determinando-se o teor da amostra antes e depois da
dessecação. Se a granulometria das amostras de areia não for bem similar, será preciso
fazer novos ensaios, registrando-se a média de todos os ensaios efetuados. Quaisquer
outros dados que possam ser úteis para se obter uma compreensão precisa do material da
jazida também deverão ser registrados.

3.5.4.5 Designação das Jazidas e das Sondagens

As áreas ou as jazidas ensaiadas, em geral designadas por nomes, deverão ser


referenciadas pela longitude e latitude e as sondagens, por números ou combinações de
números e letras. As designações dos furos e dos poços deverão ser marcadas em esta-
cas fincadas próximo a eles e indicadas no mapa da jazida.

3.5.4.6 Relatórios

Após a conclusão das investigações para a localização de agregados, deverão ser


submetidos relatórios das explorações ao engenheiro encarregado. Quando as explora-
ções se estenderem ao longo de vários meses, submeter-se-ão relatórios mensais do
andamento das explorações. Os relatórios deverão descrever, em detalhe, as atividades
de campo e estar acompanhados por dados de granulometria dos diversos poços de
exploração. Recomenda-se também anexar fotografias, mapas e outros desenhos que
atestem o andamento das investigações. A utilidade dos mapas aumenta quando são
acompanhados por indicações relativas a linhas de força, direitos de passagem, cercas,
estruturas e outros marcos importantes da superfície.

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3.5.5 Ensaios de Laboratório e Seleção dos Agregados

3.5.5.1 Ensaios dos Agregados

As amostras dos agregados de concreto deverão ser cuidadosamente ensaiadas em


laboratórios bem equipados. As propriedades físicas deverão ser determinadas e as amos-
tras analisadas petrograficamente. Os agregados deverão ser ensaiados quanto à sua
sanidade, por meio de ensaio de sanidade com sulfato de sódio; à sua dureza e à resistên-
cia à abrasão, com a máquina de abrasão tipo Los Angeles; e ao seu potencial de reatividade
com os álcalis do cimento, pelo ensaio da barra de argamassa. A determinação das propri-
edades físicas deverá incluir o peso específico e os ensaios de absorção, os ensaios
colorimétricos para impurezas orgânicas na areia, a determinação da percentagem do
material que atravessa a peneira no. 200 (0,075mm) e a granulometria da areia e do
cascalho grosso.

Os ensaios relativos ao peso específico e à absorção são realizados rotineiramente,


devido à sua importância na determinação da dosagem do concreto. Em geral, os agrega-
dos de peso específico maior são mais satisfatórios quanto à sanidade e resistência. Um
peso específico baixo não significa, necessariamente, a rejeição de um agregado, mas
serve de advertência acerca da necessidade de realizar ensaios adicionais, antes de se
aceitar o agregado. O peso unitário do concreto depende, em grande medida, do peso
específico do agregado. Com freqüência, o peso específico da areia e do cascalho é
limitado, nas especificações, a um valor mínimo de 2,60. Em alguns projetos, é necessá-
rio processamento especial do agregado, para remover partículas mais leves.

O ensaio de absorção determina a quantidade de água que o agregado absorverá


quando submerso durante um período predeterminado, em geral 30 minutos para dosa-
gem do concreto e 24 horas para avaliação do agregado. Uma vez que a relação água-
cimento do concreto se baseia no uso de agregado saturado de superfície seca, será
necessário determinar o valor da absorção do agregado. Um valor muito superior a 1%
indica que o agregado pode ser de má qualidade, mas não significa, necessariamente, que
deva ser rejeitado. Por exemplo, agregados leves em geral possuem uma absorção alta,
mas podem ser utilizados com êxito em concretos estruturais. Os limites máximos de
absorção não são normalmente especificados, pois as limitações em outras propriedades
físicas servem, em geral, para rejeitar os agregados que têm absorção particularmente
alta. Ocasionalmente, é possível utilizar agregados naturais de alta absorção.

Os ensaios colorimétricos da areia são úteis na determinação da presença de quan-


tidades nocivas de matéria orgânica. Quando se obtém uma cor mais escura do que a cor
padrão com areia lavada, serão necessários ensaios adicionais para determinar a natureza
do material responsável por essa coloração e seu efeito na argamassa. Dentre os ensaios
que podem ser requeridos, destacam-se o de resistência estrutural da areia, o de tempo
de pega e o de análise química.

As substâncias contaminantes, como siltes, argilas, matéria orgânica e sais solú-


veis, que podem reduzir a resistência ou a durabilidade do concreto, com freqüência
podem ser removidas mediante lavagem. O ensaio de verificação mais simples é a deter-
minação do percentual de material que passa na peneira no. 200 (0,075mm), durante a
lavagem. Na maioria dos casos, não se permitem valores superiores a 3%.

O ensaio de sanidade com sulfato de sódio fornece um indicador da presença de


fraqueza estrutural num agregado. Os ensaios laboratoriais indicam que a resistência à
compressão está relacionada com a perda percentual de agregado graúdo no ensaio com
sulfato de sódio. Os requisitos do ensaio dependem da localização e do tipo da estrutura
e dos conhecimentos que se têm acerca dos agregados disponíveis. Em geral, as amos-
tras de agregado são consideradas aceitáveis se a perda de areia, em peso, for inferior a
8% e a de cascalho, 10%, após cinco ciclos.

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O ensaio de abrasão Los Angeles fornece informações valiosas relativas à dureza e


à resistência de um agregado, assim como um indicador da desagregação que poderá
esperar-se de um determinado material durante seu armazenamento, manuseio e trans-
porte. Existe uma relação clara entre a resistência do concreto e a qualidade do agregado
graúdo, medido pelo ensaio de abrasão Los Angeles. Em geral, recomenda-se que o agre-
gado graúdo não perca mais do que 10% do seu peso, após 100 revoluções, nem mais do
que 40%, após 500.

O exame petrográfico auxilia na interpretação dos ensaios físicos e químicos dos


agregados e poderá expor fraquezas não constatadas pelos ensaios físicos padronizados.
O agregado deverá ser examinado visualmente e identificado de acordo com as diferenças
mineralógicas e químicas que apresenta. O grau de revestimento das partículas, a nature-
za da substância que as recobre e o formato das partículas também são determinados. O
potencial de reatividade nociva dos agregados com os álcalis do cimento deverá ser
verificado mediante ensaios químicos.

Após o exame petrográfico, ao se recomendar o ensaio da barra de argamassa para


determinar o potencial de reatividade álcali-agregado, os agregados de concreto são ensaia-
dos em barras de argamassa de 25mm X 286mm, produzidas com cimentos-padrão de
alto e de baixo teores de álcali. A fim de estabelecer a existência de uma condição
máxima na qual percentuais menores de agregado reativo poderão produzir maior expansão,
serão realizados ensaios dos agregados, tanto areia quanto agregados graúdos britados
até o tamanho de areia, a 25, 50 e 100%, apenas com cimentos de alto teor de álcali. O
quartzo neutro britado até tamanho de areia, a 75, 50 e 0%, respectivamente, constitui o
restante do agregado. Se qualquer destas combinações resultar em expansão igual ou
superior àquelas descritas a seguir, o agregado será considerado reativo e deverão ser
tomadas precauções para seu uso. Em algumas barras, utiliza-se cimento de baixo teor de
álcali, ao invés do de alto teor, a fim de se estabelecer se ocorrerão expansões outras que
as causadas pela reação álcali-agregado. Desta forma, será possível estabelecer definitiva-
mente a reatividade do agregado e determinar a eficácia do uso de cimento de baixo teor
de álcali.

Os resultados dos ensaios de barra de argamassa estão correlacionados à rapidez e


à magnitude de deterioração causada pela reação álcali-agregado nas estruturas de cam-
po. Qualquer combinação de agregado e cimento-padrão de alto teor de álcali que cause
expansão linear superior a 0,20% na argamassa, no período de um ano, produzirá uma
deterioração por expansão facilmente identificável no concreto, através da reação álcali-
agregado. Os agregados que causam expansão inferior a 0,10%, em um ano, quando
utilizados com cimento-padrão de alto teor de álcali, são inócuos no que diz respeito à
reatividade álcali-agregado. Não há provas claras de reatividade nos agregados que cau-
sam expansão entre 0,10 e 0,20%, em um ano, quando usados com cimentos de alto
teor de álcali; mas vários agregados desta categoria têm sido associados à deterioração
de concreto. Conseqüentemente, tais agregados só poderão ser utilizados com cimento
de baixo teor de álcali ou em combinações apropriadas de cimento portland e pozolanas.

3.5.5.2 Análise dos Dados de Campo e de Laboratório

Os relatórios de campo relativos à investigação de agregados deverão ser revisa-


dos, e a granulometria e outros dados submetidos deverão ser reduzidos a valores médi-
os, considerando a profundidade total utilizável em cada poço de exploração. Quando a
investigação for suficientemente extensa, compilar-se-ão dados médios ponderados para
toda a área da jazida, ou para a área provável de exploração. Os resultados dos ensaios de
laboratório deverão ser tabulados e dispostos de forma que facilitem comparações com
os dados de campo.

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Em geral, após a análise dos dados de campo e laboratoriais compilados, relativos


às diversas jazidas de agregado, escolhe-se, tentativamente, uma jazida e são testadas
novas amostras no laboratório, para determinar as propriedades do concreto produzido
com esse material. Os dados são também utilizados para preparar os desenhos e as
tabelas das especificações.

3.5.5.3 Quantidade de Agregado

Um importante elemento na análise dos dados relativos ao fornecimento de agrega-


do é a quantidade disponível em relação à quantidade requerida. Conforme indicado no
item 3.5.3.3, é possível utilizar métodos mais grosseiros de avaliação durante a prospecção,
mas, após a exploração de uma ou mais áreas, será preciso estimar acuradamente os
diversos tamanhos de agregado requeridos e disponíveis. A quantidade necessária de
agregado deverá ser determinada a partir do tipo e do volume de concreto especificado no
projeto. Será preciso calcular a quantidade de material adequado na jazida, com base nos
dados dos poços de exploração, das análises granulométricas e das áreas representadas
nos poços de exploração.

3.5.5.4 Seleção dos Agregados

Quando existe mais de uma fonte possível de agregado, será necessário considerar
vários fatores, na seleção definitiva do agregado. A qualidade relativa do material das
diversas fontes é a mais importante e a que mais deverá pesar na escolha. O histórico de
uso do agregado proveniente de uma determinada fonte e os exames do concreto produ-
zido com esse agregado poderão fornecer informações valiosas acerca da sua qualida-
de. Essas indicações deverão ser avaliadas junto com as características do agregado que
afetam o concreto.

As considerações econômicas ditarão a escolha da fonte de agregado quando a


qualidade dos diversos agregados for equivalente. O estudo deverá avaliar a localização
da jazida e o grau de beneficiamento requerido para cada agregado. O agregado que puder
ser entregue na central dosadora pelo menor custo não será necessariamente o mais
econômico, pois poderá requerer maior teor de cimento ou de outros agregados de fonte
mais dispendiosa. Além disso, muitas vezes parte do custo de beneficiamento, como a
correção da granulometria, poderá ser compensado quando tal beneficiamento permitir
uma redução no teor de cimento empregado. Em geral, o agregado que produzir a qualida-
de desejada, ao menor custo total, deverá ser selecionado.

3.6 Prospecção de Materiais Pozolânicos

3.6.1 Ocorrência Geológica da Pozolana

As pozolanas naturais originam-se como tufos e cinzas vulcânicos, ou como argilas


e folhetos, os quais se acumulam em ocorrências estratificadas. As formações podem ser
grossas ou finas. Podem ter características e composições muito variáveis ou serem
uniformes numa grande área. As cinzas muito finas obtidas nas chaminés das usinas de
geração de energia elétrica que usam carvão pulverizado como combustível constituem
um tipo de pozolana artificial. Devido à possível variabilidade, é indispensável submeter
as fontes potenciais de pozolana a investigação, amostragem e ensaios exaustivos, a fim
de se estabelecerem a extensão da jazida e a quantidade de material utilizável disponível.

3.6.2 Amostras

Os ensaios laboratoriais realizados nas amostras de pozolana fazem parte das in-
vestigações preliminares dos materiais de construção. As instruções relativas à amostragem
e ao transporte de amostras de pozolana são similares às dos agregados de concreto, as

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quais foram descritas nos itens 3.5.3.4 e 3.5.4.6. As amostras deverão pesar cerca de
25kg, cada uma. As amostras de materiais promissores de ocorrências não exploradas
poderão ser obtidas em qualquer afloramento natural ou corte exposto ou, quando neces-
sário, em poços ou trincheiras de exploração.

3.6.3 Ensaios e Análises dos Materiais Pozolânicos

As amostras de pozolana submetidas às investigações preliminares estarão sujeitas


a análise petrográfica e a ensaios químicos e físicos. Esses testes permitirão a eliminação
de materiais de qualidade inferior e daqueles cujo beneficiamento seria demasiado
dispendioso. Materiais promissores, que pareçam preencher os requisitos da obra e este-
jam disponíveis a um custo competitivo, deverão ser testados exaustivamente na produ-
ção de concreto, a fim de estabelecer, quantitativamente, seu efeito no concreto, assim
como determinar as dosagens que maximizarão as vantagens potenciais e minimizarão
qualquer qualidade desvantajosa da pozolana.

As propriedades das pozolanas que influenciam diretamente sua qualidade incluem


triturabilidade, necessidade de calcinação ou de outro beneficiamento, peso específico,
finura, água requerida, desenvolvimento de resistência com cimento portland, efeito na
reação álcali-agregado, geração de calor, etc. Por exemplo, a triturabilidade reflete-se nos
custos de beneficiamento. O peso específico controla a relação peso-volume entre o
cimento e a pozolana. Uma pozolana que requeira mais água aumentará a contração de
secagem e diminuirá a durabilidade, embora o uso de agentes incorporadores de ar dimi-
nua, até certo ponto, esses efeitos.

3.7 Solos Colapsíveis

3.7.1 Geral

Os solos colapsíveis são encontrados em todo o mundo, em depósitos de loess,


eólicos, coluviais, de corrida de lama, aluviais, residuais ou em aterros artificiais. Os solos
colapsíveis são aqueles sujeitos a um rearranjo radical das partículas acompanhado de
brusca redução de volume, quando inundados, submetidos a carga adicional, ou a ambos.
Em geral, estes solos são encontrados em regiões áridas ou semi-áridas e têm estrutura
porosa. Apresentam um alto índice de vazios e um baixo teor de umidade, bem inferior ao
de saturação. Tipicamente, a estrutura destes solos, de baixo peso específico, consiste
em partículas mais grossas, ligadas nos pontos de contato por silte e/ou uma fração
argilosa, e geralmente, pela sucção das fases ar-água.

Tem-se atribuído à adição de água a causa primordial para o desencadeamento do


colapso do solo. Entretanto, o colapso pode ocorrer devido à aplicação de carga, com
inundação do solo, ou ambas. Desta maneira, o colapso pode ser causado pelo aumento
da pressão aplicada além da resistência das ligações, ou pela redução da resistência,
mantida a pressão. Independentemente da causa física das ligações entre partículas,
todos os solos colapsíveis sofrem enfraquecimento com o aumento de umidade. A redu-
ção da resistência é mais imediata nos casos de grãos ligados por sucção capilar, mais
lenta no caso de cimentação química, e muito mais lenta no caso de matriz argilosa. Por
isso, o colapso total pode demorar algum tempo, e mesmo anos, até ocorrer. As estrutu-
ras típicas de solos colapsíveis constam da Figura 3.19.

A distribuição mundial destes solos e as dificuldades de se construir sobre eles são


há muito reconhecidas. No entanto, é comum negligenciar seu estudo, pois, de maneira
geral, predominam em regiões áridas, de desenvolvimento econômico limitado. Com o
desenvolvimento dos projetos de irrigação em algumas destas áreas, terras que nunca
foram cultivadas estão recebendo grandes volumes d’água e, conseqüentemente, os pro-
blemas associados aos solos colapsíveis tornam-se evidentes.

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Figura 3.19 Estruturas típicas de solo colapsíveis

Existem solos colapsíveis de espessura considerável, com freqüência até 30m ou


mais, embora sempre em áreas onde o lençol freático está a uma profundidade ainda
maior. Os fatores que afetam o valor do colapso e sua velocidade, são mineralogia das
frações presentes, índice de vazios inicial, histórico de tensão do solo, formato dos grãos
maiores e sua granulometria, teor de umidade in situ, tamanhos e formatos dos poros,
agentes de ligação ou cimentícios presentes, espessura da camada de solo e valor da
carga adicional, seja hidrostática, seja estrutural. O colapso pode ser considerável, con-
forme demonstrado pelo recalque dos canais de irrigação, de até 5m, no centro-oeste do
Vale de São Joaquim, Califórnia, Estados Unidos.

3.7.2 Resumo das Propriedades

Os solos colapsíveis apresentam uma variedade de condições de ocorrência. Fo-


ram constatadas propriedades específicas em solos colapsíveis específicos, e,
freqüentemente, tais propriedades não pertencem a outros solos colapsíveis. Uma vez
que o recalque de efeito destrutivo varia de uma estrutura para outra, é necessário deter-
minar o recalque permissível, a fim de assegurar um projeto eficaz. As diretrizes gerais
relacionadas a seguir podem ser aplicáveis.

„ Existem solos colapsíveis em relevo montanhoso ou de planície, em clima árido ou


úmido. Entretanto, em áreas geográficas delimitadas, a identificação de uma ori-
gem ou de uma feição geomorfológica poderá ajudar na localização de solos
colapsíveis similares;
„ O valor e velocidade de colapso parecem ser afetados por muitos fatores, incluindo
mineralogia, fração de argila, formato dos grãos, granulometria, teor de umidade,
índice de vazios, tamanho e formato dos poros, agentes de ligação e outros;

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„ O teor de umidade in situ é bem inferior ao correspondente a um grau de saturação


de 100%. O grau de saturação para ocorrer o colapso máximo varia, em geral, entre
13 e 39%. Alguns solos podem até aumentar de resistência, inicialmente, à medida
que o teor de umidade aumenta;
„ Embora alguns solos sejam sujeitos a colapso quando inundados sem qualquer
carga adicional, uma sobrecarga provoca colapso ainda maior. Outros solos exigem
carga adicional para que haja colapso;
„ Ensaios simples de rotina podem identificar solos susceptíveis a colapso. Os ensai-
os mais complexos fornecem dados para a determinação do valor de colapso. En-
tretanto, nenhum dos ensaios simula as condições de campo. Poderão ser necessárias
correlações e ajustes à medida que se acumularem experiência e dados de campo.
Estas correlações provavelmente não são transferíveis de uma área para outra.

3.7.3 Identificação dos Solos Colapsíveis

O engenheiro geotécnico deve ser capaz de identificar facilmente os solos que


podem sofrer colapso e determinar a magnitude de colapso que pode ocorrer. Dentre os
depósitos de solo mais sujeitos a colapso, destacam-se:

„ Os aterros fofos;
„ As areias depositadas pela ação dos ventos;
„ Os resíduos de erosão em encostas, com baixo peso específico;
„ Solos coluviais e residuais porosos;
„ Sedimentos aluvionares, arenosos porosos;
„ Talus corridos de lama.

Em alguns casos, o engenheiro também considerará o tempo necessário para a


ocorrência do colapso, especialmente se isto conduzir a recalques diferenciais sob a es-
trutura.

É difícil identificar e prever o colapso, porque não há um critério único aplicável a


todos os solos colapsíveis. Os ensaios de rotina nem sempre são indicadores confiáveis
da presença de solos colapsíveis, devido à diversa natureza das ligações. Até hoje, a
maioria das classificações utilizadas na identificação de um solo colapsível está baseada
nas relações entre a porosidade, o índice de vazios, o teor de umidade e o peso específico
seco in situ.

3.7.3.1 Observações de Campo

Quando se tem uma certa vivência, assim como uma boa compreensão dos princí-
pios básicos do fenômeno, é possível identificar, a partir do perfil natural do solo no
campo, a possibilidade de colapso do solo. Dentre os pontos a serem considerados,
destacam-se os seguintes:

„ O recalque por colapso não ocorre em solos abaixo do lençol freático, já que a
condição de saturação parcial é requisito essencial do colapso;
„ Se o solo for siltoso ou argiloso, provavelmente terá consistência dura ou rija devi-
do à saturação parcial. Portanto, durante a inspeção do local da obra, é preciso
considerar o teor de umidade in situ e fazer sua determinação sobre amostras
naturais. Ocorrem erros na avaliação da susceptibilidade ao colapso, quando o
engenheiro se esquece, ao examinar o perfil seco, que o subsolo sofrerá elevação
da umidade, após o término da obra.

Existe um ensaio de campo muito simples, que pode ser utilizado na avaliação do
potencial de colapso de um solo. Retira-se um torrão de material com 10 a 20cm de
dimensão, da parede do poço de inspeção, de fragmentos de sondagem a trado, ou de

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Elaboração de Projetos de Irrigação

outra fonte. Este torrão é separado em dois, e os pedaços são aparados até ficarem com
aproximadamente o mesmo volume. Uma amostra é umedecida, amolgada e modelada
com as mãos, em formato de bola. O volume desta bola é comparado ao volume da
amostra indeformada. Se a bola amolgada for obviamente menor do que a amostra
indeformada, deverá suspeitar-se de um colapso.

3.7.3.2 Ensaios de Laboratório

Uma vez que os baixos pesos específicos são indicativos de estrutura porosa, o
peso específico seco in situ constitui um bom parâmetro para a previsão de colapso.
Também têm sido utilizados o teor de umidade, o índice de vazios, o limite de liquidez, o
percentual de saturação, o limite de plasticidade, o índice de plasticidade e a densidade.
Os diversos critérios de colapsibilidade encontram-se resumidos e discutidos nos traba-
lhos de Thornton e Arulanandan [1] e Nowatzki [2].

Um critério de fácil aplicação, que exige apenas os valores de peso específico seco
e limite de liquidez, tem sido aplicado com êxito para definir os solos potencialmente
colapsíveis na obra do canal de San Luis, no Vale de São Joaquim, nos Estados Unidos.
Este critério estabelece uma linha limite em que os vazios do solo são suficientes para
conter a umidade do solo no seu limite de liquidez [3]. Os solos com pesos específicos,
acima da linha mostrada na Figura 3.20, são porosos e, se totalmente saturados, teriam
teor de umidade superior ao limite de liquidez. Quando o solo tem peso específico tão
baixo que o volume dos vazios pode acomodar o teor de umidade do limite de liquidez, ou
mais, a saturação poderá causar uma consistência de limite de liquidez, na qual o solo
oferece pouca resistência à deformação. Quando o volume dos vazios é ainda maior, a
saturação resulta num teor de umidade superior ao limite de liquidez, com considerável
potencial de colapso. Se não ocorrer colapso, o solo certamente estará em condições
muito sensíveis [4].

Um outro ensaio laboratorial útil é o ensaio edométrico. Molda-se um corpo de


prova de uma amostra indeformada com teor de umidade in situ, de modo a encaixar-se
no anel do edômetro. A seguir, o corpo de prova pode ser submetido a uma carga padrão,
conforme sugerido por Knight [5], ou a algum valor que represente uma condição conhe-
cida de campo ou de projeto. Após a aplicação da carga, o corpo de prova é inundado
com água e deixado repousar durante um intervalo de tempo. Após estabilização, conti-
nua-se o ensaio edométrico até o valor de carga máxima. O potencial de colapso poderá
ser avaliado com base na mudança de altura do corpo de prova provada pela inundação,
conforme mostrado na Figura 3.21 e resumido na tabela a seguir. Este valor é apenas
indicativo do potencial de colapso e é afetado por muitas variáveis, embora, após sufici-
entes ensaios, possa ser muito útil para estabelecer correlações válidas em áreas geográ-
ficas específicas.

Alguns valores sugeridos de potencial [6] são:

Valores de Potencial de Colapso


PC – % Gravidade do Problema
0–1 Não há problema
1–5 Grau moderado
5 – 10 Problemático
10 – 20 Problemas Graves
> 20 Problemas Gravíssimos

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Figura 3.20 Critério de Avaliação da Probabilidade de Colapso

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Figura 3.21 Resultado Típico do Ensaio de Potencial de Colapso

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Entretanto, segundo Nowatzki [2], do ponto de vista da engenharia, os solos sus-


ceptíveis a colapso só trazem problemas quando o colapso resultante da inundação exce-
de valores aproximados de 6 a 8%.

O ensaio edométrico e o gráfico de limite de liquidez versus peso específico, consi-


derados em conjunto, em geral fornecem uma indicação confiável da susceptibilidade ao
colapso e podem complementar as análises baseadas em outros critérios. Recomenda-se
o ensaio edométrico como o método principal para caracterizar os solos colapsíveis. Na
maioria dos projetos, as análises de recalque devem ser realizadas considerando os verda-
deiros acréscimos de tensões, as espessuras das camadas e a tolerância da estrutura a
deslocamentos, ao invés de se utilizarem apenas critérios empíricos. Em geral, é melhor
realizar um maior número de ensaios simples do que poucos ensaios mais sofisticados.
Existe um ensaio edométrico abreviado, efetuado com um número menor de estágios de
carga do que o usual, no qual o corpo de prova é inundado à pressão equivalente ao peso
da terra sobrejacente, mais a carga estrutural. Este ensaio fornece dados tão confiáveis
quanto os de ensaios mais refinados, e é mais fácil de realizar.

É preciso reconhecer que os ensaios edométricos não simulam as condições de


campo: enquanto os corpos de prova são saturados nos ensaios de laboratório, o colapso
in situ ocorre para um grau de saturação crítico, inferior à saturação completa.

Para que os resultados dos ensaios edométricos sejam confiáveis, é muito impor-
tante a extensão de amostras indeformadas de altíssima qualidade, realmente representa-
tivas dos solos em estudo. Os melhores resultados são obtidos com blocos talhados
manualmente, devidamente acondicionados e cuidadosamente transportados até o labo-
ratório.

As amostras indeformadas colhidas com um trado com eixo oco também são acei-
táveis, pois este é o único método disponível de se obterem amostras indeformadas de
alta qualidade de estratos mais profundos, sem utilizar-se lama de perfuração ou outros
fluidos. Amostras obtidas com amostrador cravado ou empurrado não são apropriadas, já
que a estrutura do solo é amolgada durante a amostragem. Os corpos de prova de labora-
tório moldados dessas amostras produzirão resultados errados.
O engenheiro geotécnico deverá ser cuidadoso na aplicação dos resultados de en-
saios aos vários critérios, e só raramente depender dos valores de peso específico apenas
para analisar a susceptibilidade ao colapso; sabe-se que diversos solos são estáveis em
faixas de peso específico bem diferentes. Também é importante determinar o tipo de
solo, sua plasticidade, a capacidade de retenção de água e os efeitos da inundação,
visando o colapso global do solo [4]. O intervalo de tempo até o colapso total também
pode ser uma importante consideração, pois algumas vezes transcorrem longos períodos,
de até mesmo anos. Aliás, todas estas diretrizes devem ser utilizadas com discernimento
e adaptadas ao caso particular estudado.

Jennings e Knight [6] também propuseram um método, utilizado na elaboração de


projetos, de prever o recalque devido a colapso, com base nos resultados do ensaio
edométrico duplo. A principal dificuldade na interpretação dos resultados deste ensaio é
que é virtualmente impossível obter e ensaiar dois corpos de prova com propriedades
físicas idênticas, mesmo quando se originam de um único bloco indeformado.

O ensaio mais representativo seria aquele efetuado em campo, com a carga real
aplicada. Entretanto, tal procedimento é dispendioso, demorado e só mostra o efeito na
pequena área testada.

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3.7.4 Métodos de Amostragem dos Solos Colapsíveis

Ao se fazer a amostragem de materiais porosos, é muito importante a obtenção de


amostras indeformadas, cuja estrutura e índice de vazios não tenha sido alterado durante
o processo de amostragem. A estrutura fofa destes materiais dificulta a obtenção de
amostras indeformadas, para a determinação do peso específico in situ e para a realização
de ensaios de laboratório. A amostragem a seco é preferível, porque o uso de água na
perfuração rotativa, para amostragem de camadas profundas, sempre envolve o risco de
que o fluido penetre no solo à frente da sonda e mude suas propriedades. Além disso,
qualquer carga ou pressão aplicada durante a perfuração rotativa com água pode adensar
o solo amostrado. Blocos indeformados talhados manualmente, de alta qualidade, podem
ser obtidos em poços ou trincheiras de exploração, embora sejam necessários outros
métodos de amostragem quando as amostras são de camadas mais profundas. Em geral,
não é prático escavar poços de inspeção para retirada de blocos indeformados, além de
cerca de 10m de profundidade.

A obtenção de amostras indeformadas de solo é um processo dispendioso, reque-


rendo o maior cuidado durante cada fase do processo: extração da amostra no campo,
sua identificação, descrição, manuseio e acondicionamento, transporte até o laboratório e
execução dos ensaios. É preciso o máximo cuidado na manipulação das amostras. Uma
amostra que sofre amolgamento, submetida a ensaio, como indeformada, é mais prejudi-
cial que qualquer amostra, já que os resultados dos ensaios podem levar a um dimensiona-
mento errado e a um projeto de fundações falho.

3.7.4.1 Amostras Talhadas Manualmente

Em geral, os blocos talhados manualmente sofrem menos amolgamentos do que


amostras obtidas por outros métodos; por isso, o método manual é preferível. Este tipo de
amostragem deve ser efetuado com todo o cuidado e com ferramentas apropriadas, para
evitar o amolgamento ou o fissuramento da amostra. A amostra não deve ficar exposta à
variação de umidade enquanto é aparada, manuseada e transportada. O procedimento de
obtenção das amostras talhadas manualmente é descrito no subitem 3.3.4.1.

3.7.4.2 Métodos de Sondagem Mecânica

Independentemente do método de amostragem utilizado, é importante que a sonda


e o amostrador estejam em bom estado e mantidos limpos. Conforme já foi discutido,
trabalhar em condições secas é ideal para se colherem amostras de solos colapsíveis.

É possível obter amostras indeformadas, de boa qualidade, de solos colapsíveis


utilizando-se lama de perfuração ou outros fluidos, mas somente com operadores muito
experientes e cuidadosos. Existem vários amostradores de barrilete duplo que apresen-
tam um desempenho adequado com esse método. Estes amostradores utilizam tubos de
revestimento interno rígidos, de metal não corrosivo ou de plástico. A amostra de solo
entra no tubo à medida que o amostrador avança no subsolo. A amostra, nos tubos
rígidos de metal ou de plástico, pode então ser facilmente removida, suas extremidades
regularizadas e seladas, acondicionada para transporte ao laboratório.

O ideal é utilizar um amostrador de grande diâmetro (cerca de 16cm), de modo a


amolgar o mínimo possível a amostra. Os diversos amostradores de barrilete duplo, e suas
características, são discutidos em vários relatórios, assim como no “Earth Manual” [7].

Até bem recentemente, o único método de obtenção de amostras indeformadas,


sem o uso de fluidos de perfuração, era o amostrador cravado. Estes amostradores são
também denominados amostradores tipo Shelby. Técnicas de laboratório aprimoradas,
como o uso de exame radiográfico com raios X, demonstraram que a amostragem por

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Elaboração de Projetos de Irrigação

cravação causava grave deformação e compactação das amostras de solos porosos [8].
Portanto, foi realizada uma investigação com o intuito de determinar se um amostrador de
trado com eixo oco, recém-desenvolvido, poderia obter amostras menos amolgadas dos
solos porosos. Os resultados foram positivos, e o trado com eixo oco é atualmente muito
utilizado quando as amostras precisam ser retiradas a seco. Tem sido também muito
empregado no estudo de aterro compactado de barragens existentes, de modo a eliminar
o risco de fraturamento hidráulico do maciço pelo uso de água de perfuração.

Embora os amostradores cravados tenham sido usados amplamente no passado,


sua utilização na retirada de amostras indeformadas de solos porosos é desaconselhável,
uma vez que comprometem qualquer análise da susceptibilidade do solo ao colapso.

Nos Estados Unidos, existem diversos fabricantes de equipamentos de sondagem


que produzem trados com eixo oco para amostragem. Tais amostradores (com tubo de
revestimento interno rígido) são atualmente (1990) a melhor ferramenta para se obterem
amostras indeformadas em grandes profundidades, em solos porosos. Os amostradores
de maior diâmetro (entre cerca de 16 e 21cm) devem ser utilizados, devido à excelente
qualidade das amostras obtidas para ensaios de laboratório. Dependendo do tipo de solo,
das suas condições e da capacidade da sonda, podem-se obter a profundidades de até 30
a 40 metros. A Figura 3.22 apresenta um esquema do sistema de perfuração a trado com
eixo oco.

3.7.5 Tratamento dos Solos Colapsíveis

Muitos métodos de tratamento dos solos colapsíveis têm sido utilizados. O método
selecionado dependerá de vários fatores como: a profundidade da camada de solo colapsível,
o tipo de estrutura a ser construída, os recalques admissíveis pela estrutura, a probabilida-
de da umidade na fundação aumentar e as tensões serem impostas à fundação pela
estrutura. Embora algumas vezes sejam feitas tentativas para impedir o acesso da água
às fundações, é muito provável que os solos da fundação sejam saturados em alguma
oportunidade da vida do projeto, especialmente nos projetos de irrigação agrícola.

Na avaliação das medidas de tratamento, é necessário estabelecer a espessura dos


depósitos, não havendo uma demarcação nítida de depósito raso para profundo. Medidas
atenuadoras superficiais, como a compactação com rolos ou soquetes, muito provavel-
mente não produzirão qualquer resultado nos depósitos profundos (profundidade superior
a 3m) e podem funcionar, ou não, nos depósitos rasos. Cada situação requer avaliação
individual e, com freqüência, diversas tentativas, com vários métodos, antes de se atingi-
rem resultados satisfatórios. Se forem identificados solos colapsíveis na fundação de uma
estrutura, incluindo os canais, o objetivo principal deverá ser a estabilização dos solos,
antes de se iniciar a construção. Em geral, é muito menos dispendioso tratar do problema
nesta fase do que após a conclusão da construção. Além disso, os custos de manutenção
serão menores, a operação do projeto será mais eficiente e a vida útil das estruturas, mais
longa.

As medidas de tratamento dos solos colapsíveis podem ser classificadas como


segue:

„ Hidrocompactação;
„ Consolidação do solo;
„ Compactação dinâmica;
„ Vibroflotação;
„ Escarificação profunda e inundação;
„ Outros métodos de densificação.

O uso destes métodos e suas peculiaridades são discutidos nos próximos itens [9].

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Figura 3.22 Esquema do Trado com Eixo Oco

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3.7.5.1 Descrição dos Métodos de Tratamento

3.7.5.1.1 Hidrocompactação

Este método visa a indução do colapso do solo antes da construção, por meio do
alagamento superficial. Em geral, é utilizado para estruturas condutoras de água, onde
não se pode evitar a água após a construção. A fim de garantir a inundação de todas as
camadas passíveis de colapso, com freqüência são utilizados poços de injeção. Estes
métodos só podem ser empregados quando a drenagem é assegurada por uma camada
permeável na base ou quando o depósito é tão espesso que permitirá drenagem vertical
durante a compressão da parte superior do depósito [10].

O “Bureau of Reclamation” realizou amplas investigações sobre o colapso que ocor-


re antes da construção e da aplicação de carga. Nas grandes estruturas flexíveis (ou seja,
barragens de terra), permite-se algum recalque durante a construção. As estruturas rígidas
(isto é, os canais revestidos de concreto) podem sofrer graves danos devido a recalques
diferenciais, sendo necessário, com freqüência, o tratamento antes da construção. Den-
tre as investigações realizadas, destacam-se as seguintes: Canal de San Luis, Califórnia
[11] [12]; Bacia do Rio Missouri; local da barragem de Medicine Creek, Nebraska; Canal
de Courtland, Kansas; Canal de Upper Meeker, Nebraska; Barragem de Sherman, Nebraska,
para citar apenas algumas [13].

Prokopovich [14] e Bara [15] descreveram diversos métodos de pré-umedecimento


do solo usando técnicas de alagamento ou aspersão de água. Relatam que a inundação da
superfície (alagamento) ou a aspersão, em conjunção com o uso de poços de infiltração,
é o método mais eficiente e rápido de fazer com que grandes quantidades de água se
desloquem vertical e horizontalmente através do subsolo (Figura 3.23 [16]), provocando
sua saturação.

Denisov [17] recomenda que, em área passível de hidrocompactação, sejam estu-


dadas áreas piloto e seções de canais experimentais antes da construção (em Lofgren
[13]). Adverte, contudo, que áreas pequenas nem sempre sofrem recalque equivalente
àquele observado em áreas maiores. Bara [15] também indicou que as pequenas lagoas
sofrem menor recalque que as grandes. Já foram utilizados trechos experimentais com
diversas dimensões:

„ Duas lagoas experimentais (aproximadamente 40m X 40m, cada) foram utilizadas


em áreas de subsidência potencial, no Canal de San Luis [18];
„ Uma lagoa experimental (aproximadamente 25m X 40m) foi utilizada numa seção
da Estrada Interestadual 25, perto de Algodones, no estado de New Mexico [19];
„ Duas lagoas com 25m de diâmetro foram utilizadas numa área entre leques aluviais,
ao longo da Estrada Interestadual 70, perto de Grand Valley, Colorado [20].

O tempo de alagamento deverá ser suficiente para que a água se infiltre no solo
uniformemente (Figura 3.24). Shelton et al. [20] concluíram, através de estudos de alaga-
mento, que a saturação parcial produzia um colapso imediato parcial. Todas as tentativas
razoáveis de saturar toda a coluna de solo tenderam a eliminar o problema de colapso
secundário causado por horizontes de solo parcialmente saturados, e que não sofrem
colapso.

Constatou-se que o tratamento por pré-alagamento, em conjunto com a aplicação


de pré-carregamento o local da estrutura, diminui o tempo total necessário ao colapso e é,
com freqüência, indispensável quando os solos requerem tanto inundação quanto aplica-
ção de carga, para sofrer colapso. Uma sobrecarga constituída por aterro, no local da
estrutura proposta, pode pré-carregar o solo enquanto inundado, até uma tensão equiva-
lente ou superior aos valores previstos no projeto. O uso de pré-carregamento ajuda a
promover a ocorrência do colapso antes da construção da estrutura [1].

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Figura 3.23 Pré-Tratamento de Solo Colapsível


Trincheira de Inundação de Poços de Infiltração.

Figura 3.24 Curva de Recalque X Tempo Referente ao Lago L ; Marco L


Localização, e Pino 33 Localizado a 12m ao Norte do Lago

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Certas áreas do Vale de São Joaquim permaneceram alagadas por mais de um ano
antes da construção do Aqueduto da Califórnia. Trabalhando com solos profundos de até
50m no Canal de San Luis, foram necessários quase dois anos para atingir a quase
estabilização sob o pré-alagamento [18]. Na Romênia [21], o revestimento dos canais foi
adiado por 2 a 4 anos, a fim de garantir que a maior parte do colapso ocorresse antes da
colocação do revestimento (em [1]).

A pré-inundação, embora dispendiosa, minimiza o futuro colapso do solo e reduz


substancialmente os custos de manutenção, reparos ou reconstrução.

3.7.5.1.2 Solidificação do Solo

Métodos que consolidam o solo, de maneira que não seja afetado pela umidade e
não perca sua resistência ao cisalhamento, podem ser utilizados para evitar o colapso dos
solos.

Sokolovich e Gubkin ([22] o primeiro; [23], ambos) pesquisaram técnicas de estabiliza-


ção química no tratamento dos solos colapsíveis (em [24]). Os métodos empregados são:

„ A silicificação gasosa dos solos arenosos e de loess;


„ O reforço dos cimentos de carbonatos, por meio de polímeros;
„ O enrijecimento dos solos aluviais, mediante soluções de silicatos argilosos.

A silicificação gasosa envolve a mistura do solo com dióxido de carbono e de uma


solução de silicato de sódio. Um ensaio de campo em solos arenosos não-carbona- tados,
pré-tratados com dióxido de carbono, demonstrou que a resistência aumenta entre 20 e
25% [24].

Outras investigações realizadas por Sokolovich demonstraram que é possível esta-


bilizar os loess por meio de tratamento com amoníaco. Neste tratamento, o amoníaco
gasoso é injetado através de furos de sondagem no loess sujeito a recalque do tipo
abatimento (“slump”). Uma reação do hidróxido de cálcio precipitado (resultante de uma
reação de troca catiônica com o cálcio absorvido), da sílica e do ácido silícico coloidal do
solo leva à formação de uma ligação calcário-silícica que estabiliza o solo. Durante a
estabilização gasosa dos loess, a cal que precipita, devido a uma reação química, sedimenta
na superfície dos grãos do solo. Apenas o esqueleto do loess é estabilizado. A estabiliza-
ção gasosa dos loess só diminui a tendência desses solos ao recalque por colapso [24].

Litvinov [25] relata que o uso de processos térmicos e termoquímicos muda com-
pletamente a estabilidade dos depósitos de loess (em [13]). A aplicação de tratamento
térmico a depósitos do tipo loess resultou em mudanças das características físicas (isto é,
perderam a propensão a adensar; já não ficaram fofos quando molhados; e sua resistência
à compressão, ao cisalhamento e à compactação aumentou consideravelmente). A esta-
bilização térmica foi alcançada pelo bombeamento de calor para dentro do solo, por meio
da circulação de ar comprimido pré-aquecido à temperatura entre 600 e 800 graus centí-
grados, ou mediante a injeção e queima subterrânea de combustíveis enriquecidos com
produtos químicos especiais. Não foi encontrada qualquer referência que documentasse o
uso do tratamento térmico em campo.

O uso de cal ou de cimento Portland para estabilizar a ligação argilosa ou provocar


a cimentação e, conseqüentemente, aumentar a resistência do ligante, é um método
convencional sempre utilizado com êxito. Arman e Thornton [26] pesquisaram o uso de
cimento Portland e cal na estabilização de loess colapsíveis na Louisiana e propõem seu
uso sempre que o equipamento de construção puder incorporar estes produtos ao solo.
Esses investigadores recomendam que a pesquisa relativa às técnicas de estabilização
prossiga para determinar os efeitos da cal a longo prazo.

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3.7.5.1.3 Compactação Dinâmica

A compactação dinâmica consiste no uso de um guindaste ou de um tripé capaz de


suspender e deixar cair um grande peso (por exemplo, 15t), de uma grande altura (isto é,
15m) (vide Figura 3.25). Este método de pré-tratamento dos solos colapsíveis foi testado
e documentado pelo Departamento de Estradas de Rodagem do estado de New Mexico
[19], num trecho experimental na Estrada Interestadual 25.

3.7.5.1.4 Vibroflotação

Vibroflotação utiliza uma sonda vibroflotadora desenvolvida na Europa, sustentada


por um guindaste (Figura 3.26). A sonda vibra a partir de um peso excêntrico ativado por
um motor elétrico ou hidráulico interno. São lançados jatos d’água sob pressão da ponta
e ao longo da sonda. O vibroflotador gradualmente atravessa a camada de solo que está
sendo tratada pela vibração dos jatos d’água e do próprio peso. Descendo e içando a
sonda, e se for necessário, alimentando o furo com brita, e fazendo-a penetrar no solo em
torno, os solos são comprimidos e retrabalhados até atingir um peso específico maior
[19].

Compactação
Dinâmica

Fig. 3.25 Pré-Tratamento de Solos Colapsíveispor Compactação Dinâmica.

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3.7.5.1.5 Escarificação Profunda e Umedecimento

Profunda escarificação, umedecimento do solo acima da umidade ótima e compac-


tação com rolos vibratórios pesados, têm sido tentados. Este método consiste na escari-
ficação em profundidade de até 1m e adição de água. O solo é trabalhado de modo que se
atinja um teor de umidade mínimo de 5% acima do ótimo, uniforme em todo o solo [19].
O solo pode ser compactado superficialmente com um rolo liso vibratório pesado. Tal
método foi utilizado pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de New
Mexico, com o intuito de obter informações relativas a: recompactação de solos poro-
sos, penetração da umidade nos solos indeformados pela ação do rolo, o colapso e sua
propagação, sem inundação, e ao efeito de ponte (da zona superior compactada) sobre as
áreas sujeitas a colapso.

3.7.5.1.6 Outros Métodos de Adensamento

Aitchison e Tokar [27] relataram o uso de explosões na superfície e subsuperfície,


cuja finalidade era impor cargas adicionais sobre o material, na Rússia. O “apiloamento”
ou cravação de fundações no solo colapsível, até além da carga admissível e causando o
colapso subseqüente do solo, também foi relatado [27].

Figura 3.26 Pré-tratamento de Solos Colapsíveis Técnica de Vibroflotação.

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3.7.5.2 Eficácia dos Métodos de Tratamento – Vantagens e Desvantagens

3.7.5.2.1 Hidrocompactação

A hidrocompactação por meio de rega por aspersão sem poços de infiltração foi
descrita por Bara [15] como o método menos adequado dentre os seis por ele pesquisados.
Utilizando uma faixa de 12m de largura sem poços (após 61 dias) a água tinha penetrado
apenas 9m. A escarificação da superfície do solo com grade de discos não auxiliou na
penetração da água. Camadas finas impermeáveis podem prejudicar a eficácia dos méto-
dos de alagamento e de rega, quando não forem instalados poços de infiltração. Uma
vantagem da rega é que utiliza menos água do que o de alagamento com poços de injeção
e, ao final, efetua o pré-tratamento adequado do solo colapsível. Dentre as desvantagens,
destacam-se:

„ Não é eficaz quando existem zonas impermeáveis;


„ É demorado (isto é, leva muito tempo para se atingir a total da saturação do solo);
„ A perda de água por evaporação é substancial nas regiões áridas.

Numa das investigações para o Canal de San Luis, a hidrocompactação por rega,
associada a poços de injeção, permitiu que a água atingisse a profundidade de 18m, em
apenas 31 dias. O uso de poços de infiltração foi considerado mais eficiente, porque
diminuiu o tempo de umedecimento pela metade e dobrou, ou triplicou, a quantidade de
água aplicada ao subsolo [16].

De acordo com Prokopovich [14] e Bara [15], o método mais eficaz de pré-trata-
mento das fundações para as estruturas de adução de água é o de pré-alagamento em
conjunto com poços de infiltração. Dentre as vantagens deste método vale a pena men-
cionar:

„ O período relativamente curto para atingir-se o colapso numa grande área;


„ A eficiência na difusão vertical e horizontal da água no substrato;
„ A penetração completa da água;
„ As desvantagens deste método são:
f A necessidade de usar grandes quantidades de água;
f Os altos custos quando a água é de difícil obtenção.

3.7.5.2.2 Solidificação do Solo

Ainda são necessários avanços tecnológicos antes de se poder usar o tratamento


térmico ou os aditivos químicos (além da cal e do cimento), em especial nos sistemas de
adução de água, quando se trabalha com materiais colapsíveis com profundidade variá-
vel. Para tornar viáveis estas alternativas, é necessário que os depósitos colapsíveis se-
jam superficiais, de modo a justificar o uso de tratamentos não convencionais e
dispendiosos. Por enquanto, estes métodos não apresentam quaisquer vantagens, des-
tacando-se dentre as desvantagens:

„ Seu alto custo potencial;


„ A incerteza de se conseguir a estabilização do solo;
„ A inexistência de experiência em grandes projetos ou em sistemas de adução de
água.

De acordo com o relatório do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de


New Mexico, a injeção de produtos químicos foi descartada, porque nenhum dos produ-
tos pesquisados mostrava-se promissor em relação à penetração dos solos relativamente
impermeáveis [19].

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3.7.5.2.3 Compactação Dinâmica

Os resultados de um estudo realizado pelo Departamento de Estradas de Rodagem


do Estado de New Mexico [19] indicam que a compactação dinâmica teve o melhor
desempenho entre os métodos investigados, na estabilização de solos até profundidades
de 3 a 6m. As curvas de densidade demonstraram nítidas melhoras até 6m, e as densida-
des pretendidas, derivadas dos ensaios edométricos duplos, foram ultrapassadas na mai-
oria dos casos. As vantagens deste método incluem:

„ Eficácia;
„ O colapso do solo pode ser facilmente verificado.

As desvantagens do método, de acordo com o relatório da instituição, são:

„ Substancial custo inicial de mobilização;


„ Alto custo por unidade de área tratada.

3.7.5.2.4 Vibroflotação

Conforme demonstrado pelos resultados do estudo realizado pelo Departamento de


Estradas de Rodagem do Estado de New Mexico, a técnica de vibroflotação é aceitável
para o tratamento de solos colapsíveis. Os pesos específicos desejados foram obtidos
com espaçamentos de 1,8 e 2,1m. A técnica que emprega vibroflotador é eficaz com os
solos colapsíveis. Dentre as desvantagens, destacam-se:

„ O custo substancial de mobilização do equipamento;


„ Embora não haja dúvida de que as condições do solo natural melhoram em toda a
área experimental com o uso da vibroflotação, é difícil quantificar o desempenho do
método.

Com base no estudo realizado pelo Departamento de Estradas de Rodagem do


Estado de New Mexico [19], concluiu-se que a vibroflotação e a compactação dinâmica
podem produzir o resultado desejado; entretanto, uma vez que nenhum dos dois métodos
foram utilizados com solos colapsíveis, não há justificativa para o seu uso, e pouca proba-
bilidade de que o método venha a ser competitivo.

3.7.5.2.5 Escarificação Profunda e Umedecimento

Conforme indicado no relatório do Departamento de Estradas de Rodagem do Esta-


do de New Mexico, o método que combina escarificação profunda, umedecimento e
passagem de rolo vibratório foi o menos eficaz de todos os métodos testados, não tendo
produzido praticamente nenhuma melhoria de densidade na zona de 6 a 8m do solo
colapsível. O método foi descrito nesse relatório como de êxito pouco provável, mesmo
antes de se iniciarem as experiências. As vantagens do método são:

„ É pouco dispendioso;
„ Não há alto custo inicial de mobilização.

A desvantagem do método é sua ineficácia, não representando, portanto, uma


alternativa viável.

3.7.6 Adoção de Medidas de Projeto

Na elaboração dos projetos de irrigação em áreas de solos colapsíveis, ao invés de


se tratar do solo, é possível, algumas vezes, adotar as medidas relacionadas a seguir:

„ Projetar de forma a permitir o colapso do solo após a conclusão da construção;

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„ Usar estacas e tubulões;


„ Alívio de pressão sobre as fundações;
„ Remover os solos colapsíveis.

3.7.6.1 Projeto para Recalque Após a Construção

Quando se estima que os recalques potenciais de um solo colapsível são pequenos,


é possível projetar algumas estruturas, como diques e canais, prevendo futuro recalque.
Em geral, esta é a abordagem menos dispendiosa para solos colapsíveis e, se o projeto for
adequado, as obras de irrigação podem ser construídas, operadas e mantidas, conviven-
do-se com os recalques.

No caso de canais, por exemplo, podem ser utilizados revestimentos flexíveis que
preservem a seção do canal e mantenham a impermeabilidade, mesmo após pequenos
recalques. Os revestimentos que podem ser utilizados nestes casos são a argila e as
membranas flexíveis. Quando se deseja que a seção de canal seja equivalente a uma
seção revestida de concreto, é possível utilizarem-se revestimentos intercalados (tipo
sanduíche), com uma membrana plástica inferior, um geotêxtil no meio, colado à mem-
brana plástica e que adere bem ao concreto, e uma camada superior de concreto. A
camada de concreto pode ser relativamente fina, sendo que fissuramentos e pequenos
recalques diferenciais não afetam a integridade do revestimento. Com freqüência, estes
tipos de revestimento podem ser colocados diretamente sobre o solo colapsível, sem
qualquer tratamento, ou com tratamento mínimo, se estudos preliminares indicarem que
haverá pouco recalque. Quando estes revestimentos forem utilizados, é conveniente pre-
ver-se sobre elevação, de maneira que reste borda livre suficiente, após ocorrer o recalque
do solo.

Os diques podem ser projetados e construídos com precisão de alteamento após o


recalque, a fim de se manter a elevação desejada. É importante monitorar o recalque do
solo e se acrescentar material à medida que for necessário, e da maneira especificada.

3.7.6.2 Uso de Estacas ou Tubulões

As estacas e os tubulões podem constituir uma fundação segura para as estruturas


de concreto construídas sobre solos sujeitos a colapso quando molhados. Em geral, são
utilizados em grandes estruturas, como estações de bombeamento, usinas de energia
elétrica e pontes. É importante que as estacas e os tubulões atinjam profundidade sufici-
ente para se apoiar em solos não sujeitos a colapso quando saturados, ou em rocha sã. A
Figura 3.27 mostra a perda de resistência com o aumento de umidade de uma estaca de
madeira de 7m de comprimento, cravada em loess seco de baixo peso específico. O uso
de estacas de deslocamento (isto é, estacas de madeira), por exemplo, em conjunto com
a pré-inundação das fundações, antes da cravação das estacas, apresenta nítidas vanta-
gens em comparação com outros tipos de estacas. á medida que é cravada, a estaca
provoca o deslocamento do solo fofo e sua compactação, fornecendo, desta forma, uma
fundação mais densa [10].

3.7.6.3 Prevenção de Colapso pelo Alívio das Pressões

O uso de fundações flutuantes, o alívio das pressões do solo pela remoção de


material, e a prevenção do umedecimento são formas de minimizar o colapso dos solos.
Melhorar a drenagem superficial poderá ser a alternativa mais econômica de prevenir ou
minimizar o colapso, no caso de estruturas não hidráulicas. A melhoria das condições de
drenagem deve incluir evitar o alagamento ou a criação de saturação superficial, ou
subsuperficial e o subseqüente colapso. Bally et al. [21] relataram que a distância entre as
estruturas hidráulicas (isto é, estações de bombeamento) e as estruturas de adução de
água (canais, etc) deveria ser equivalente a duas a três vezes a espessura das camadas
sujeitas a colapso [1].

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Figura 3.27 Capacidade de Carga dos Estacas de Madeira em Solos Colapsíveis e


Molhados (Segundo Holtz E Hilf, 1961)

3.7.6.4 Remoção dos Solos Colapsíveis

Se o solo colapsível for superficial ou de dimensões limitadas, poderá ser mais


econômico escavar o material e substituí-lo por material compactado [10]. Este tratamen-
to das fundações tem sido utilizado em pequenas estações de bombeamento, fundações
de pontes e diversas estruturas nos canais, como extravasores, sifões e comportas.

3.7.7 Resumo

Muitos métodos têm sido utilizados para reduzir os efeitos prejudiciais de solos
colapsíveis. Embora alguns sejam usados com mais freqüência, todos são eventualmente
empregados. Antes de selecionar um método, é importante o conhecimento preciso da
extensão e magnitude do problema, por meio de investigações geotécnicas cuidadosas
e detalhadas.

Uma revisão da literatura existente acerca deste assunto indica que a pré-inunda-
ção é a medida mais utilizada para induzir os recalques dos solos colapsíveis antes da
construção. Dependendo das circunstâncias, medidas de projeto, previstas durante sua
elaboração, podem fornecer uma solução técnica e economicamente viável de enfrentar
os solos colapsíveis. Muitas vezes também é possível e apropriado utilizar uma combi-
nação de dois ou mais métodos.

É indispensável realizar algum estudo comparativo antes de decidir qual o método a


ser empregado. Cada método alternativo, seja tratamento, seja medida incluída no proje-
to, deverá ser analisado quanto ao custo, previsão de comportamento, facilidade de apli-
cação ao caso e eficácia. Em alguns casos, poderá ser necessário testar um ou mais

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Elaboração de Projetos de Irrigação

métodos em seções experimentais de campo, antes de se fazer a seleção final do(s)


método(s) a ser(em) utilizado(s) em todo o projeto. Freqüentemente, o procedimento
menos complicado fornece os melhores resultados.

3.8 Argilas Dispersivas

3.8.1 Geral

Os problemas potenciais causados por argilas dispersivas são de tamanha magnitu-


de que podem conduzir a graves problemas de engenharia, se ocorrerem em estruturas
hidráulicas e aterros para barragens ou estradas e se não forem devidamente identificados
e tratados. Tal dificuldade é de âmbito mundial e, em muitos países, houve rupturas de
estruturas, atribuídas a argilas dispersivas. Há uma extensa literatura acerca desses materiais
e das suas propriedades, publicada em periódicos internacionais.

A magnitude e a abrangência do problema exigem a participação de engenheiros


geotécnicos na elaboração dos projetos de grandes barragens e de outras obras de enge-
nharia civil. Entretanto, a experiência indica que os engenheiros geotécnicos só ocasional-
mente participam da elaboração de projetos de irrigação. Finalmente, os últimos avanços
ocorridos na elaboração de projetos sobre argilas dispersivas não são aceitos generaliza-
damente.

3.8.2 Descrição

No passado, os solos argilosos eram considerados muito resistentes à erosão cau-


sada pelo fluxo d’água, mas, nos últimos anos, tornou-se evidente que, na natureza,
existem determinados solos argilosos muito sujeitos à erosão. Alguns solos argilosos
naturais defloculam e se dispersam na presença de água relativamente pura e, portanto,
estão muito mais sujeitos à erosão e ao “piping”. A tendência à dispersão de um solo
depende de diversas variáveis, como argilo-minerais e os sais dissolvidos na água dos
vazios do solo e na água externa [28]. Essas argilas são rapidamente erodidas por água
fluindo vagarosamente, mesmo em comparação com as areias e os siltes finos sem coe-
são. Quando um solo argiloso dispersivo é imerso em água, a fração de argila tende a se
comportar como composto por partículas individuais. Isto é, as partículas de argila têm
atração eletroquímica mínima e pouca aderência ou ligação às outras partículas do solo.
Desta forma, os solos de argila dispersiva são erodidos pelo fluxo d’água, pois as placas
e flocos individuais de argila são separados e carregados pela água. Essa erosão pode
iniciar-se numa trinca de dissecação, numa fissura de recalque ou em outros canais de
alta permeabilidade na massa do solo. A principal diferença entre as argilas dispersivas e
as argilas comuns, resistentes à erosão, parece residir na natureza dos cátions na água
dos poros da massa de argila. Nas argilas dispersivas há uma preponderância de sódio,
enquanto, nas argilas comuns, predominam os cátions de cálcio, potássio e magnésio na
água dos poros [29].

Os fenômenos da argila dispersiva foram inicialmente observados pelos agrônomos


há mais de 100 anos; sua natureza básica já era bem compreendida pelos cientistas de
solo e engenheiros agrônomos há quase 50 anos [30] [31], mas a importância deste
assunto na prática da engenharia civil só foi reconhecida no início da década de 60,
quando foi iniciada, na Austrália, uma pesquisa relativa a rupturas de barragens de terra
por “piping” em maciços de argilas dispersivas [32]. A pesquisa foi motivada por inúme-
ras rupturas de pequenas barragens de argila ocorridas naquele país. Desde então, o
assunto tem sido amplamente investigado, de modo a refinar os procedimentos de iden-
tificação das argilas dispersivas, o que não pode ser efetuado pelos ensaios laboratoriais
convencionais, como a classificação visual, a granulometria, ou os limites de Atterberg
[28] [33]. Foi observado que existem grandes diferenças na erodibilidade de materiais
com aparência visual e índices idênticos, mesmo quando as amostras são retiradas de
locais próximos, de uns poucos metros.

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3.8.3 Fatores Geográficos e Climáticos

As argilas dispersivas não foram associadas a uma origem geológica específica,


embora a maioria tenha sido encontrada como depósitos formados no pé de taludes e no
leito de lagos, depósitos de “loess” (material fino depositado pelo vento) e depósitos
aluvionais nas planícies de inundação. Em algumas áreas, argilitos e xistos argilosos dos
depósitos marinhos têm os mesmos sais na água dos poros encontrados nas argilas
dispersivas, e seus solos residuais são dispersivos. Em Zimbábue, também encontram-se
argilas dispersivas associadas aos granitos e aos arenitos [67].

Em áreas de topografia íngreme capeadas por argilas dispersivas, é fácil reconhecer


a erosão superficial característica, com cristas irregulares e sinuosas, e canais e túneis
profundos, que se formam rapidamente.

Nas planícies e nas áreas de colinas suaves, é raro encontrar qualquer evidência
superficial de argilas dispersivas, devido a uma camada protetora de areia siltosa e ao solo
vegetal, das quais as partículas de argila dispersivas foram removidas. A ausência de
sinais de erosão superficial, típicos das argilas dispersivas, não indica necessariamente a
inexistência destes solos. As argilas dispersivas podem ser vermelhas, marrons, cinzen-
tas, amarelas ou de diversas combinações destas cores. Os solos negros com evidente
alto teor de matéria orgânica não são dispersivos [34]. Quase todos os solos finos, reco-
nhecidamente derivados do intemperismo in situ de rochas metamórficas e ígneas, têm
sido não-dispersivos em ensaios, como também ocorre com os solos derivados de rocha
calcária [28].

Os primeiros estudos pareciam indicar que as argilas dispersivas estavam associa-


das somente aos solos formados em climas áridos ou semi-áridos e em áreas de solos
alcalinos. Mais recentemente, constatou-se que existem esses mesmos solos e proble-
mas de erosão, em climas úmidos, em diversas localidades. Há referências a problemas
causados pelas argilas expansivas em projetos hidráulicos de lugares tão diversos como
Austrália, Tasmânia, México, Trinidad, Vietnã, áfrica do Sul, Tailândia, Israel, Gana, Bra-
sil, Venezuela e muitas partes do sul dos Estados Unidos [28]. Os solos dispersivos são
encontrados em 60% de Zimbábue [67], tendo sido também relatado o rompimento de
uma barragem de materiais dispersivos no Quênia.

3.8.4 Conseqüências na Engenharia

Virtualmente todos os estudos mostram que o rompimento de estruturas construídas


com solos de argila dispersiva ocorreram com o primeiro enchimento. Todas as rupturas
estavam associadas à presença de água e trincas de contração, recalque diferencial ou
defeitos de construção.

Tais situações enfatizam a importância da identificação precoce dos solos de argila


dispersiva. Os problemas decorrentes deste tipo de solo podem resultar em eventos
repentinos, irreversíveis e catastróficos que levam à ruptura.

3.8.4.1 Mecanismos de Ruptura por “Piping”

Na explanação clássica da ruptura por “piping” ou erosão interna em barragens, o


fluxo concentrado à jusante se origina na água que percola pelo solo. A erosão inicia-se
no ponto de saída do fluxo, onde existe uma concentração local de forças de percolação
e de erosão. A erosão progride para montante, formando um tubo, até alcançar a entrada
d’água, quando pode ocorrer uma ruptura repentina e catastrófica. A erosão é favorecida
nos solos finos não-coesivos, com pouca resistência às forças de arraste da água que
parcela.

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Com as argilas dispersivas, o “piping” decorre de um processo de defloculação, em


que a água flui através de um canal de percolação preferencial, como uma fenda, desde
seu início. Há erosão simultânea em todo o comprimento das paredes do canal de infiltra-
ção. Ao contrário da erosão em solos não-coesivos, nas argilas dispersivas o processo de
erosão não decorre da percolação através dos poros da argila. É preciso que haja um fluxo
concentrado para que se inicie a erosão [28]. Os danos causados pela erosão nos aterros
construídos com argilas dispersivas em geral ocorreram em áreas com grande potencial
de fissuramento, como ao longo de tubulações, em áreas com grandes diferenças de
compressibilidade nos materiais das fundações, ou em áreas de dissecação [36].

Uma das propriedades que determina a susceptibilidade ao “piping” por dispersão é


o percentual de cátions de sódio absorvido pelas partículas de argila, em relação à quan-
tidade de outros cátions polivalentes (cálcio, magnésio e potássio). Um segundo fator
determinante é o conteúdo total de sais dissolvidos na água do canal ou do reservatório.
Quanto menor for este teor de sais dissolvidos, maior será a susceptibilidade da argila
sódica saturada à dispersão.

Quando se inicia um fluxo concentrado através de um aterro construído com argila


dispersiva, podem ocorrer duas coisas: i) se a velocidade for bastante baixa, a argila em
torno do canal de fluxo poderá expandir e, progressivamente, tamponar o canal e bloque-
ar o escoamento; ii) se a velocidade inicial for suficientemente alta, as partículas de argila
dispersiva serão carregadas pela água, aumentando o canal de fluxo com mais rapidez do
que a expansão o diminui, o que levará à ruptura progressiva por erosão.

3.8.4.2 Erosão das Argilas Dispersivas Causada Pelas Chuvas

A erosão superficial devido à precipitação pode ocorrer em massas de solo coeso,


com freqüência, em conjunto com a erosão por dispersão. O desplacamento de certos
solos contribui para a erosão superficial e também pode constituir fator determinante na
erodibilidade interna de argilas dispersivas. A reação da superfície do solo à presença de
água é, essencialmente, a formação de torrões de solo, e o desplacamento é a desagrega-
ção desses torrões em fragmentos discretos, quando imersos em água. Essa desagrega-
ção pode chegar até os colóides individuais de argila, quando os torrões de solo são
constituídos de argila dispersiva. Duas causas do desplacamento são a substituição do ar
ocluso pela água e as tensões de tração, causadas pela expansão [37].

Existem substanciais diferenças no potencial de erosão por precipitação, em talu-


des de solos dispersivos e não-dispersivos. Os taludes naturais de solos não-dispersivos,
normalmente cobertos por vegetação e contendo matéria orgânica na camada superficial
do solo nas áreas úmidas, em geral apresentam muito pouca erosão. Em geral, os solos
dispersivos não são encontrados na camada superficial dos taludes naturais, devido ao
processo de eluviação, que é o movimento de partículas de argila de um horizonte para
outro – inferior – dentro do solo. Um estudo de argilas dispersivas no estado de Mississipi,
nos Estados Unidos, demonstrou que, embora muitas pequenas barragens tenham desen-
volvido túneis de erosão devido à precipitação, não ocorreram danos causados pela chuva
no solo natural adjacente às barragens [38].

Um estudo relacionando o comportamento em laboratório com as situações de


campo [39] demonstrou que quando o solo caulinítico era umedecido vagarosamente, a
partir da superfície, não ocorria escamamento, mas, quando era molhado rapidamente por
uma chuva mais forte, havia escamamento até uma profundidade considerável. No pri-
meiro caso, a fase de vapor d’água entrava na subsuperfície do solo, permitindo que o ar
se dispersasse. A água em estado líquido, rapidamente introduzida no solo, causava o
escamamento.

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Um outro estudo [40] descreve o desenvolvimento de substancial erosão por ravinas


e por túnel em taludes sem vegetação, de corte e de aterro, de argila dispersiva, quando
ocorria forte chuva após estiagem. Os taludes dos aterros de argila dispersiva com cober-
tura vegetal também estavam sujeitos a grave erosão por túnel, sob determinadas condi-
ções climáticas, por exemplo, forte precipitação após seca.

Foi desenvolvida uma relação [41] entre o teor de sódio e o total de sais solúveis
(igual à concentração iônica total) na água extraída dos poros do solo, nos aterros que
foram muito erodidos pela chuva. Os taludes da maioria das barragens e aterros sujeitos
a erosão pela chuva tinham excelente cobertura de grama. Pensou-se, na oportunidade
(1972), que somente os aterros de solos com menos de 15meq/l (miliequivalentes por
litro) de sais solúveis totais eram susceptíveis à erosão pela chuva. Subseqüentemente,
foi demonstrado que a erosão pela chuva ocorre em aterros compactados com sais solú-
veis totais na faixa de 50 a 150 meq/l [28] [42]. Constatou-se também que a erosão pela
chuva, em alguns solos classificados como dispersivos em ensaios de laboratório, podia
não ser maior, nos taludes com cobertura vegetal de aterro ou de corte, do que nos solos
não-dispersivos. Essa variação no comportamento das argilas dispersivas está ligada ao
potencial de fissuramento, à velocidade de inchamento para fechar as fissuras, às condi-
ções climáticas, ou à rapidez das partículas coloidais [28] [43] entrarem em suspensão.

3.8.5 Experimentos com Argilas Dispersivas

A identificação sistemática das argilas dispersivas na prática da engenharia civil é


tão recente que apenas poucas grandes barragens foram construídas, com a preocupação
voltada ao problema, embora muitas obras civis tenham sido construídas. A experiência
de milhares de barragens erguidas de acordo com as normas aceitas na época constatou
muito poucas rupturas ou problemas menos severos devidos a “piping”, e quase todas
essas rupturas ou esses problemas foram atribuídos a alguma condição não prevista pelo
projetista, como controle de qualidade inadequado durante a construção ou condições
geológicas não identificadas durante os levantamentos. As únicas exceções a estes bons
desempenhos foram rupturas de barragens de terras homogêneas, nas quais surgiram
infiltrações no talude à jusante, sem terem passado por filtros. Muitas destas barragens
foram relativamente pequenas, tendo sido construídas de maneira econômica, como açudes
dentro de propriedades rurais, que não contaram com qualquer assistência técnica [28].

Nos casos relatados, a maioria dos problemas com argilas dispersivas ocorreu em
barragens de terra existentes, construídas antes do reconhecimento e da identificação
das dificuldades associadas às argilas dispersivas. Os problemas resultantes foram de
erosão interna ou “piping”, desenvolvimento de túneis, erosão superficial e voçorocas
internas (formação da parte vertical de um túnel de erosão subterrâneo, cuja base é maior
do que o topo, em formato de jarra).

Virtualmente, todos os estudos demonstraram que as rupturas de estruturas


construídas sobre argilas dispersivas ocorreram à primeira vez que foram inundadas. Isso
inclui casos em que o reservatório ou o nível da água aumentou após ter permanecido
numa determinada cota durante algum tempo. Todas as rupturas estavam associadas à
presença de água e a fendas de contração, recalque diferencial ou defeitos de construção
[28], [33], [37], [38], [44]. Identificarem-se as fendas como um fator contribuinte, já que
todas as estruturas que sofreram ruptura devido à erosão interna se romperam durante
o primeiro enchimento, tendo-se constatado, com freqüência, a existência de túneis e
voçorocas, sem que houvesse erosão superficial. Outra condição para ruptura é que haja
um teor significativo de material de gradação tal que seja caneado pelo fluxo inicial da
água, o que desencadeia o processo de alargamento.

Foi também verificado que fendas verticais em argilas dispersivas podem alargar-se
em decorrência da saturação pela água que entra na fenda, mesmo sem fluxo [34]. Além

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da ruptura causada por “piping” nas argilas dispersivas das barragens de terra homogênea,
quando o reservatório é enchido pela primeira vez, é também possível que ocorra ruptura
por “piping” mais tarde, caso a concentração iônica da água do reservatório seja substan-
cialmente reduzida. Foi relatado o caso de uma barragem australiana, numa área de solo
salino [45], na qual o reservatório tinha sido originalmente enchido com água de poço que
apresentava concentração iônica relativamente alta, 26meq/l, e a barragem permaneceu
estável durante alguns anos, embora fossem registradas perdas contínuas por infiltração.
Após a conclusão de uma tubulação de 32km, para trazer água de menor teor iônico
(1,2meq/l) de um rio próximo, a barragem sofreu ruptura por “piping”, três dias depois.

Foram estudados vários locais para barragens onde só havia argila dispersiva para o
núcleo impermeável, e as ombreiras e as fundações eram também de argila dispersiva, de
grande espessura, impossibilitando a construção de um “cut off” [28]. Concluiu-se que o
risco dos túneis por “piping” se estendeu nas formações de argila dispersiva saturadas,
abaixo das trincas de ressecamento, ou o potencial de colapso, por saturação, era despre-
zível e não justificava medidas de proteção intensivas.

Há apenas poucos casos [28] de barragens baixas em regiões áridas em que os


túneis causados por “piping” continuaram pelas fundações ou ombreiras de solo natural,
em algumas dezenas de centímetros abaixo da base do maciço. Iniciaram provavelmente
em trincas de ressecamento ou de recalque. Quase todas as rupturas causadas por argila
dispersiva ocorreram devido a túneis no próprio maciço; não há casos conhecidos de
túneis nas fundações que se aprofundaram além do nível freático.

Sabendo-se, atualmente, que as argilas dispersivas são encontradas em todas as


regiões do mundo, pode-se inferir que existem inúmeras pequenas barragens de terra
homogêneas construídas com argila dispersiva, uma vez que esse material, na ocasião,
teria sido considerado apropriado à construção de barragens. Além disso, muitas dessas
barragens têm tido bom desempenho desde sua construção. Portanto, esta experiência
indica que a atual prática de elaboração de projeto e construção de barragens, que inclui
o uso de filtros bem projetados e um controle cuidadoso da obra, resultará em barragens
seguras, mesmo quando for utilizada argila dispersiva. Entretanto, o êxito no uso das
argilas dispersivas requer sua identificação e caracterização prévias e, quando utilizadas
em maciços, que sejam tomadas medidas de engenharia apropriadas.

3.8.6 Identificação das Argilas Dispersivas

A identificação de argilas dispersivas deverá ser iniciada com um reconhecimento


de campo, a fim de determinar se existe qualquer indicador de superfície, como configu-
rações singulares de erosão com túneis ou voçorocas profundas, acompanhados de
turbidez excessiva de qualquer água armazenada. A existência de áreas de baixa produ-
tividade agrícola ou de vegetação raquítica pode também ser um indicador de solos
bastante salinos, muitos dos quais dispersivos. Entretanto, os solos dispersivos podem
também ocorrer em solos neutros ou ácidos e podem sustentar abundante crescimento
de gramíneas [46]. Embora as evidências superficiais possam constituir importante indi-
cador da existência de solos dispersivos, a falta de tais evidências não exclui a presença
de argila dispersiva em cotas inferiores, sendo necessário proceder a mais investiga-
ções.

Conforme mencionado anteriormente, as argilas dispersivas não podem ser identifi-


cadas por meio dos ensaios de caracterização utilizados normalmente, como classificação
visual, análise granulométrica, ou limites de Atterberg. Conseqüentemente, foram desen-
volvidos ensaios de laboratório específicos. As argilas devem ser ensaiadas como rotina
durante os estudos para projeto das estruturas hidráulicas, nas quais a argila poderá estar
sujeita a erosão e a “piping”.

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3.8.7 Ensaios de Laboratório

Os cinco ensaios mais comuns são os de dispersão rápida, de granulometria dupla,


de furo de agulha (“pinhold”) de sais dissolvidos na água dos poros e o de capacidade de
troca de sódio. Os quatro primeiros são os mais freqüentemente utilizados nos Estados
Unidos, enquanto o quinto é o mais confiável e comum na Austrália [32], [47], [48], [49],
[50], na áfrica do Sul [46] e em Zimbábue [67]. É importante que todas as amostras sejam
mantidas e ensaiadas com o seu teor de umidade natural, uma vez que a secagem, espe-
cialmente em estufa, pode alterar as características de dispersão [28], [29], [51]. Embora
vários ensaios apresentem resultados consistentes para muitos solos, existe um número
significativo de exceções. Conseqüentemente, é aconselhável realizar todos os ensaios
sobre cada amostra.

3.8.7.1 Ensaio de Dispersão Rápida

O Ensaio de Dispersão Rápida de Emerson [52] foi desenvolvido como simples


procedimento para identificar o comportamento dispersivo do solo em campo, embora
atualmente seja utilizado também em laboratório. O ensaio consiste na moldagem de um
corpo de prova cúbico de cerca de 15mm de lado, com teor de umidade natural, ou da
seleção de um torrão de solo, com teor de umidade natural, com o mesmo volume,
aproximadamente. O corpo de prova é colocado, com cuidado, em 250ml de água desti-
lada. á medida que o solo começa a se hidratar, observa-se que as partículas de dimensão
coloidal tendem a deflocular e a entrar em suspensão. Os resultados são interpretados a
intervalos de tempo predeterminados, destacando-se quatro graus de reação: 1) nenhuma
reação; 2) leve reação; 3) reação moderada; 4) forte reação (nuvem coloidal cobrindo
todo o fundo do recipiente).

O guia de interpretação a seguir pode ser utilizado para avaliar o potencial de disper-
são do solo:

„ Nenhuma reação – o solo pode desagregar-se e depositar-se no fundo do recipien-


te, formando uma camada achatada, mas não há qualquer sinal de turbidez causada
por partículas coloidais em suspensão;
„ Reação leve a moderada – há uma incipiente de nuvem de colóides em suspensão,
ligeiro a fácil reconhecimento; os colóides podem estar concentrados em torno e
próximos ao torrão ou disseminados em finas estrias, no fundo do recipiente;
„ Forte reação – a nuvem coloidal cobre quase todo o fundo do recipiente formando uma
camada muito fina. Em casos extremos, a água apresenta-se completamente turva.

O ensaio de dispersão rápida é um bom indicador do potencial de erodibilidade


dos solos argilosos; contudo, argilas dispersivas algumas vezes podem dar reação não-
dispersiva neste ensaio. Se o ensaio indicar dispersão, o solo provavelmente será
dispersivo. O ensaio é descrito na USBR 5400, “Procedure for Determining Dispersibility
of Clayey Soils by the Crumb Test Method”. (Norma de Determinação da Dispersibilidade
de Solos Argilosos, de Acordo com o Método de Ensaio de Dispersão Rápida).

3.8.7.2 Ensaio de Comparação Granulométrica

O ensaio de dispersão, do Serviço de Conservação de Solos dos Estados Unidos,


também denominado ensaio de granulometria dupla, foi um dos primeiros métodos de-
senvolvidos para avaliar a dispersão dos solos argilosos. O método atualmente utilizado
foi desenvolvido a partir de um ensaio proposto por Volk [31], em 1937.

A amostra deverá ser remetida ao laboratório acondicionada num recipiente herme-


ticamente fechado, de modo a evitar a perda da umidade. O ensaio é realizado em corpos
de prova com teor de umidade natural.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Inicialmente, a distribuição granulométrica é determinada por meio do ensaio pa-


drão, no qual a amostra de solo é dispersada em água destilada, por meio de agitação
mecânica forte e de um dispersor químico. A seguir, é realizada uma granulometria para-
lela, num segundo corpo de prova idêntico, mas sem agitação mecânica ou agente
dispersor. O “percentual de dispersão” é a razão entre o teor de partículas de diâmetro
igual ou menor a 0,005mm, obtido no segundo ensaio, e aquele do primeiro ensaio,
expresso como percentual [53], conforme mostra a Figura 3.28.

Os critérios de avaliação do grau de dispersão, utilizando os resultados do ensaio de


comparação granulométrica, são:

Percentual de Dispersão Grau de Dispersão


< 30 Não-dispersivo
30 a 50 Intermediário
> 50 Dispersivo

O ensaio deverá ser realizado repetidas vezes, uma vez que a dispersibilidade do
solo pode variar consideravelmente, mesmo a pequenas distâncias, dentro de uma área
de empréstimo, ao longo do alinhamento de um canal, ou dentro de um aterro existente.

Existem evidências de que muitos solos dispersivos apresentaram valores de 30%,


ou mais, quando testados com este método [28].

3.8.7.3 Ensaio de Furo de Agulha (“Pinhole”)

Este ensaio foi desenvolvido para medir diretamente a dispersibilidade de solos


finos compactados. Neste ensaio, força-se o fluxo d’água através de um pequeno furo no
corpo de prova. O fluxo d’água, através do pequeno furo, simula o fluxo d’água através
de uma fenda ou de outro canal de fluxo concentrado, no núcleo impermeável de uma
barragem ou em outra estrutura.

Faz-se uma pequena perfuração de 1,0mm de diâmetro através de um corpo de


prova cilíndrico, com 25mm de comprimento e 35mm de diâmetro. Deixa-se percolar
água destilada através do furo, a cargas hidráulicas de 50mm, 180mm e 380mm, e
registram-se a vazão e a turbidez efluente. As cargas hidráulicas de 50, 180 e 380mm
resultam em velocidades de fluxo que variam entre cerca de 30 até 160cm/s, em gradien-
tes hidráulicos de aproximadamente 2 a 15. O ensaio foi desenvolvido por Sherard et al.
[29], e tem sido amplamente utilizado como ensaio físico [51], [54], [55]. É importante
que o ensaio se já efetuado em solo com teor de umidade natural, uma vez que a seca-
gem pode afetar os resultados, em alguns solos.

Se o material contiver areia grossa ou partículas de cascalho, estes deverão ser


removidos, passando-se a amostra por uma peneira no. 10 (2mm). O teor de umidade
natural deverá ser determinado, e o teor de umidade desejado para a compactação será
conseguido adicionando-se a quantidade de água requerida (ou por meio de secagem
gradual com ar, caso o solo esteja demasiado úmido). Só deverá ser acrescentada água
destilada.

O procedimento e o equipamento originais do ensaio do furo de agulha foram modi-


ficados pelo “Bureau of Reclamation”, como resultado de um amplo programa de investi-
gações de laboratório de campo, concluído em 1982. O novo ensaio de furo de agulha
produz os mesmos resultados do ensaio original, mas com procedimentos aprimorados de
preparo, manuseio e controle dos corpos de prova e com maior consistência dos ensaios.
Também foi desenvolvido um método quantitativo de classificação dos diversos graus de
dispersão, [51], conforme mostra a Figura 3.29.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 3.28 Porcentagem de Dispersão, Ensaio de Comparação Granulométrica

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 3.29 Grau de Dispersão X Vazão – Ensaio de Furo de Agulha (“Pinhole”)

Figura 3.30 Quadro de Dispersão Potencial

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Outros ensaios indiretos, como o de dispersão rápida, o de granulometria dupla e as


análises de cátion na água dos poros do solo e de potencial zeta, também são utilizados
para ajudar a identificar as argilas dispersivas. Entretanto, os resultados dos diversos
ensaios nem sempre são compatíveis, e o ensaio de furo de agulha é considerado o mais
confiável, por ser um ensaio físico. É preciso frisar que cada amostra de solo deverá ser
submetida a todos os ensaios, de modo a se colherem informações abrangentes e se fazer
a identificação mais confiável possível.

3.8.7.4 Ensaios Químicos

Durante a década de 60, os pesquisadores australianos chegaram à conclusão de


que a presença de sódio permutável era o fator químico determinante no comportamen-
to das argilas dispersivas [32], [49], [56]. O parâmetro básico para quantificar este efeito
é o ESP (“exchangeable sodium percentage” ou capacidade de troca de sódio), onde:

ESP = (sódio permutável)/[(capacidade de troca de cátions) (100)],


com unidade de meq/100gm de solo seco [33].

Os solos com ESP igual ou superior a 10, sujeitos à lixiviação dos seus sais livres,
por percolação de água relativamente pura, devem ser classificados como dispersivos.

Os critérios usados na classificação das argilas dispersivas, utilizando os dados de


ESP, são:

ESP Grau de Dispersão


<7 Não-dispersivo
7 a 10 Intermediário
> 10 Dispersivo

Outro parâmetro normalmente utilizado na quantificação da importância do sódio


na dispersão de um solo com sais livres é o SAR (“sodium absorption ratio” ou teor de
absorção do sódio) da água dos poros do solo, onde:

SAR = Na/[0,5 (Ca + Mg)], em meq/l.

O método SAR não é aplicável na ausência de sais livres. O uso do SAR está base-
ado no fato de os solos naturais estarem em equilíbrio com seu ambiente. Em particular,
existe uma relação entre a concentração de eletrólitos na água livre dos poros do solo e
os íons permutáveis na água absorvida pela camada dupla de argila.

Os pesquisadores australianos demonstraram que todos os solos são dispersivos


quando o SAR é superior a 2. Esse resultado é consistente para os solos com TDS (“total
dissolved salts” ou total de sais dissolvidos) entre 0,5 e 3 meq/l, mas não para os solos
fora desta faixa [67], conforme indicado na Figura 3.30.

Nos Estados Unidos, o método atualmente aceito de avaliação química do com-


portamento dispersivo dos solos é mostrado na Figura 3.31, onde:

Percentual de Sódio = Na (100)/(Na + Ca + Mg + K), medidos em meq/l


da água de saturação [33].

Na obtenção da água de saturação, o solo é misturado à água destilada até formar-


se uma pasta de solo saturado com teor de umidade próximo ao limite de liquidez. Deixa-
se descansar a pasta durante algumas horas até se atingir equilíbrio entre os sais na água

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Elaboração de Projetos de Irrigação

dos poros e a troca de cátions. Subseqüentemente, filtra-se um pouco de água dos poros
da pasta de solo por meio de vácuo. A água extraída dos poros é ensaiada utilizando-se
métodos químicos rotineiros, a fim de determinar os teores dos principais cátions metáli-
cos: cálcio, magnésio, sódio e potássio, em miliequivalentes por litro. A seguir, determi-
na-se o percentual de sódio e de sais dissolvidos totais (soma dos quatro cátions metáli-
cos).

Embora a Figura 3.31 tenha sido utilizada com algum êxito nos Estados Unidos, a
análise estatística dos dados demonstrou que o método não é consistente com os resul-
tados dos ensaios físicos (de furo de agulha), para cinco dos seis grupos de solos
pesquisados [55]. A utilização da Figura 3.31 foi bem sucedida, quando os dados prelimi-
nares indicavam que havia uma boa correlação entre os dados da Figura 3.31 e os resul-
tados do ensaio de furo de agulha. Então é possível se utilizarem os ensaios químicos, de
maneira confiável, em solos de uma mesma área, quando os dados relativos à água dos
poros são usados em conjunto com os ensaios físicos.

O uso da Figura 3.31 também não foi considerado suficientemente confiável pelos
engenheiros da áfrica do Sul e de Zimbábue [67], tendo sido desenvolvido um procedi-
mento para avaliar os efeitos dos sais dissolvidos na água dos poros sobre o potencial
de dispersão, conforme indicado na Figura 3.32 [46].

O principal requisito na coleta de amostras de solo em campo, para uso em ensai-


os de dispersão, é assegurar que não ocorra perda de umidade. As amostras devem ser
remetidas ao laboratório em recipientes herméticos.

3.8.8 Considerações de Engenharia

Em muitos casos, o primeiro indicador da existência de argilas dispersivas numa


determinada área foi a ruptura do aterro. Estas situações demonstram a importância de se
reconhecerem e identificarem estes solos precocemente. Os problemas decorrentes da

Figura 3.31 Quadro de Dispersão Potencial

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 3.32 Avaliação química

presença de argilas dispersivas podem resultar em eventos repentinos, irreversíveis e


catastróficos, que levam à ruptura ou à quase ruptura de estruturas. A fim de evitar
graves problemas posteriores e utilizar adequadamente os solos disponíveis nas obras, é
necessário considerar a possível existência de solos dispersivos, tanto mais quando há
evidências provenientes de levantamentos da superfície e de estudos geológicos, confor-
me descrito anteriormente. Quando são identificados solos dispersivos durante a fase de
investigação de jazidas, é possível decidir acerca de materiais alternativos ou tomar as
medidas de engenharia necessárias para lidar com as propriedades dispersivas dos mate-
riais.

3.8.8.1 Seleção de Materiais para uma Construção Econômica

Embora exijam cuidados especiais quando utilizados em aterros, os solos dispersivos


podem representar a escolha mais econômica de material em determinadas circunstânci-
as. As limitações destes materiais e os graves problemas que podem acarretar não devem
impedir seu uso, quando materiais alternativos seriam mais dispendiosos.

3.8.8.2 Elaboração do Projeto e dos Cuidados Construtivos

Quase todas as numerosas rupturas devidas a argilas dispersivas ocorreram em


aterros homogêneos, sem filtros, e todas as rupturas por “piping” foram causadas por
uma percolação preferencial concentrada através do aterro. Estes fluxos concentrados
podem ser causados por trincas de ressecamento, recalques diferenciais, colapso por
saturação ou fratura hidráulica.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Além disso, as zonas de permeabilidade potencialmente maior, como em torno das


tubulações através do aterro, em torno de estruturas de concreto e na interface com as
fundações, exigem tratamento especial e controle cuidadoso durante a obra. Para evitar o
“piping” causado pela defloculação, a permeabilidade não deve exceder 10-5cm/seg.

Portanto, é necessário exercer um cuidadoso controle da compactação e do teor de


umidade durante a construção, para poder minimizar essas condições.

Os filtros de areia podem controlar as infiltrações dos aterros com eficácia e segu-
rança, independentemente de serem construídos com argila dispersiva ou não-dispersiva.
No fluxo em solo de argila dispersiva, o filtro não poderá impedir a passagem das partícu-
las coloidais em suspensão, mas as partículas de granulometria de silte, carregadas pelo
fluxo, não poderão entrar no filtro de areia e serão retidas no canal de fluxo, à montante
do filtro, selando, desta forma, gradualmente, a infiltração. Nos solos não-dispersivos, o
filtro é projetado para evitar que nos seus vazios passem as partículas mais finas da zona
que protege.

Com base nas considerações anteriores, Sherard et al. [59], [60] determinou que os
filtros de areia ou de areia com cascalho, com o D15 = 0,5mm ou menor, podem contro-
lar e selar, com segurança, fluxos concentrados através da maioria das argilas dispersivas
com D85 superior a aproximadamente 0,03mm. Os filtros de areia com o D15 = 0,2mm ou
menor são conservadores para as argilas dispersivas mais finas.

D15 = diâmetro das partículas do filtro, das quais 15% são menores,
por peso seco de solo;

d85 = diâmetro das partículas do solo base, das quais 85% são menores,
por peso seco de solo.

Estes critérios de filtro são idênticos para as argilas dispersivas e não-dispersivas


com granulometria similar.

Para ser eficaz perante às trincas, o filtro precisa ser não-coesivo. Caso contrário,
poderá sustentar uma trinca aberta e não proteger o núcleo fissurado.

Os mesmos critérios de elaboração de projetos podem ser utilizados quando se


empregam geotêxteis como elemento de filtro.

É necessário dar especial atenção às barragens com núcleos dispersivos sobre fun-
dações de rocha, e impedir que a argila penetre nas pequenas fendas da rocha. O melhor
procedimento é limpar as fendas até uma profundidade mínima igual a três vezes sua
largura e enchê-las com argamassa de cimento, antes de cobrir com calda de injeção a
interface núcleo-rocha. Também podem-se utilizar argilas dispersivas modificadas com
cal hidratada [37], ou argilas não-dispersivas com plasticidade média a alta, dependendo
das circunstâncias [28], [61], [62], [63].

Será necessário muito cuidado na compactação do solo adjacente a estruturas


rígidas, como tubulações. Em alguns casos, utilizou-se argila modificada com cal em
partes desta interface. Para a proteção de taludes, será necessário efetuar a estabilização
da argila dispersiva com cal quando não é economicamente possível adotar outras medi-
das, como o uso de cascalho e transição.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

3.8.8.3 Barragens e Aterros Existentes de Argila Dispersiva

No mundo inteiro existem inúmeras pequenas barragens e aterros homogêneos de


argila dispersiva que têm funcionado bem durante muitos anos. Isto pode ser concluído
com base na atual conscientização de que as argilas dispersivas são encontradas em
grandes áreas geográficas e no mundo inteiro.

É pouco provável que uma barragem ou um maciço, construído de argila dispersiva,


que tenha retido um reservatório sem infiltrações, venha a desenvolver um fluxo concen-
trado sob condições normais de operação do reservatório. No caso das grandes barragens
que retêm importantes reservatórios, particularmente se construídos com filtros, conclui-
se que, geralmente, não há razão para considerá-las insatisfatórias sob condições nor-
mais, em especial se não apresentaram qualquer infiltração ao longo dos anos.

Na reconstrução de barragens de argila dispersiva, nas quais ocorreram rupturas


devido a “piping”, têm-se utilizado solos modificados com cal nos reparos da ruptura e
na proteção dos taludes [28], [44], [64].

3.8.9 Resumo

As argilas dispersivas possuem propriedades singulares. Sob certas circunstânci-


as, podem deflocular e são rapidamente erodidas e carreadas pelo fluxo d’água. Estas
propriedades podem ter conseqüências desastrosas para as barragens de terra ou ou-
tras estruturas hidráulicas construídas com estes materiais. Entretanto, atualmente co-
nhece-se bem a distribuição geográfica e as propriedades das argilas dispersivas, assim
como os ensaios a que devem ser submetidas para sua identificação e seu uso em barra-
gens e aterros.

Com base nos atuais conhecimentos acerca das argilas dispersivas, acredita-se que
não é necessário mudar substancialmente os recentes procedimentos de projeto e de
construção das barragens de terra [28], [65]. Contudo, é importante que o engenheiro
saiba identificar as argilas dispersivas num determinado projeto, de maneira a poder
controlar adequadamente as áreas críticas em que este material será utilizado, durante
as fases de elaboração do projeto e de execução da obra. Pesquisa recente acerca de
filtros demonstrou que as argilas dispersivas podem ser utilizadas, com segurança e
eficácia, quando filtros adequadamente projetados são incorporados ao projeto. Nos
últimos anos, foram construídas diversas barragens de grande porte, com núcleos im-
permeáveis identificados como argilas dispersivas [63], [66], nas quais se utilizaram, na
construção, argilas dispersivas modificadas com cal em certas áreas críticas.

Em resumo, é possível construir barragens e outras estruturas hidráulicas seguras


utilizando-se argilas dispersivas, contanto que sejam tomadas determinadas precauções.
Estas precauções incluem, embora sem a elas se limitarem, o controle adequado de umi-
dade e densidade, o uso de filtros e drenos, adequação dos materiais de aterro ao local
em que serão colocados, o uso de proteção de areia-cascalho ou de solo modificado com
cal nos taludes, e o tratamento químico das argilas dispersivas. Sem exceção, as argilas
dispersivas identificadas até a data foram transformadas em não-dispersivas, acrescen-
tando-se cal [Ca(OH)2] na proporção de 1 a 4% (por peso seco de solo).

3.9 Solos Expansivos

3.9.1 Aspectos Gerais

Nas últimas décadas, cresceu a consciência acerca dos danos causados pelos solos
metaestáveis, que mudam de volume em contato com a água. O volume das argilas
expansivas aumenta, enquanto o volume dos solos colapsíveis diminui, quando se lhes

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acrescenta água, sob pressão constante. Tais solos são encontrados em qualquer parte
do mundo, independentemente do clima. Existem difíceis problemas de engenharia asso-
ciados a estes solos estruturalmente metaestáveis e, apenas nos Estados Unidos, os
danos causados a residências pelas argilas expansivas excedem os danos médios anuais
causados por enchentes, furações, terremotos e tornados, junto. Os problemas associa-
dos às argilas expansivas têm sido documentados mundialmente, em países como União
Soviética, China, Austrália, Israel, Brasil, Índia, Estados Unidos, áfrica do Sul, e em algu-
mas regiões da Europa e do Canadá.

Em geral, as argilas expansivas podem ser encontradas como solos residuais de-
senvolvidos a partir de rochas ígneas básicas e rochas sedimentares montmoriloníticas,
ou como materiais transportados derivados dos mesmos materiais matrizes.

As argilas são os finos plásticos do solo. Quando úmidas, possuem baixa resistên-
cia à deformação, mas formam uma massa dura e coesa quando secas. As argilas são
virtualmente impermeáveis, difíceis de compactar quando úmidas, sofrem grande defor-
mação sob carga e são impossíveis de drenar por meios comuns. Outras características
das argilas são as significativas expansão e contração resultantes das mudanças no teor
de umidade. Em geral, pequenas alterações no teor de umidade resultam em mudanças
abruptas na resistência das argilas, especialmente ao passarem de secas a úmidas.

Normalmente, os solos argilosos sofrem mudanças de volume quando se altera o


teor de umidade. Quando secos, os solos argilosos sofrem contração e fissuramento. Se
molhados após secagem, ocorre inchamento. As mudanças de volume na massa do solo,
resultantes de causas naturais ou artificiais, trazem problemas peculiares aos solos, os
quais não são normalmente encontrados com outros materiais de construção. O decrés-
cimo do volume é causado pela carga; é função do tempo; está associado a mudanças
nos teores de umidade e de ar; e é produzido por compactação e por vibração. O aumento
do volume é função da carga, do peso específico, do teor de umidade e do tipo de solo.

A maioria dos solos argilosos tem afinidade com a umidade, que só pode ser remo-
vida após considerável esforço. Muitos dos minerais argilosos atingem o estado de saturação
sem grandes mudanças de volume; alguns, contudo, como as argilas montmoriloníticas,
absorvem ou liberam grandes volumes de água e sofrem substanciais contração e expan-
são. As argilas montmoriloníticas são a principal origem de dificuldades e, uma vez que as
estruturas hidráulicas sempre provêem uma fonte de água para a expansão, é preciso
identificar e tratar estas argilas, a fim de evitar dispendiosas falhas.

Além do fenômeno normal de expansão, que ocorre por alívio de tensões, como
pela retirada do manto de intemperismo, certos tipos de solos e rochas argilosas apre-
sentam características de expansibilidade na presença da água.

O grau de expansão depende do tipo de mineral argiloso e da disponibilidade de


água, e é função do tempo, da pressão de confinamento, do peso específico inicial e do
teor de umidade inicial.

Os solos sujeitos a contração e expansão podem ser utilizados quando compactados


sob controle da umidade e carregados suficientemente com outros materiais, a fim de
impedir sua expansão. Os aterros que usam solos expansivos requerem taludes mais
abatidos e volumes maiores do que aqueles construídos com solos que não sofrem expan-
são. Em geral, isso justifica a procura de material de aterro de jazidas distantes, em lugar
da utilização de um solo expansivo próximo do canteiro de obras. Quando se constrói uma
estrutura, como um canal, sobre solo ressecado, e existe uma fonte de umidade, como da
irrigação, o solo terá seu teor de umidade aumentado após o término da obra. Se o solo
for propenso a inchamento pelo aumento da umidade, ocorrerá expansão. Em campo, a
expansão é restringida no plano horizontal, sendo predominante na direção vertical, o que

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provocará uma elevação da superfície. O movimento de subida inicia-se logo após o


término da obra e atinge seu auge alguns anos mais tarde, dependendo das condições de
permeabilidade dos solos das fundações. Esse levantamento é mais comum nas áreas
onde a evaporação excede a chuva, mas pode ser encontrado em áreas onde o clima
normal não apresenta deficiência de umidade. Uma vez que as argilas expansivas tendem
a apresentar permeabilidades extremamente baixas, o trânsito da umidade é lento e o
processo de expansão leva muito tempo. Devido a este elemento temporal, é possível que
as argilas moderadamente expansivas com um potencial de expansão menor, embora
com permeabilidade mais elevada, possam apresentar maior expansão in situ, durante
uma única temporada de chuvas, do que uma argila mais expansiva, que poderia sofrer
expansão muito superior, ao longo de um extenso período.

Quando são encontradas argilas com limites de liquidez superiores a 40% ou argilitos
plásticos, é preciso determinar se são suficientemente expansivos para causar qualquer
levantamento indesejável da estrutura. Isso pode ser conseguido mediante a determina-
ção da granulometria, dos índices de plasticidade e dos valores limites de contração dos
solos. Se os ensaios qualitativos indicarem competência duvidosa da fundação, será ne-
cessário realizar ensaios específicos, o que normalmente implica na obtenção de amos-
tras indeformadas e ensaios em laboratório.

3.9.2 Identificação das Argilas Expansivas

Muitas estruturas com fundações de argila têm desempenho satisfatório, embora


muitas outras falhem. As argilas que parecem ser mais traiçoeiras têm uma ou mais, das
seguintes características: índice de plasticidade superior a 25%, pelo ensaio de limites de
consistência (Atterberg); teor coloidal superior a 20%; alta sensibilidade, isto é, um peda-
ço do depósito natural amolece quando manipulado; e as características de contração e
expansão demonstrada pela contração e pelo fissuramento à medida que o solo seca.
Também há uma relação entre o teor de umidade e a resistência dos materiais argilosos.

O engenheiro geotécnico deverá estar capacitado para identificar facilmente os


solos passíveis de expansão e determinar o valor de levantamento que poderá ocorrer.
Têm sido desenvolvidas diversas classificações da expansão, de modo a separar os so-
los de baixo, médio, alto e muito alto potencial de expansão. É necessário reconhecer
que tais classificações não levam em consideração nem o teor de umidade e as condições
de tensão do solo na oportunidade da amostragem, nem as mudanças ambientais que
poderão ocorrer no futuro. Como primeiro passo, estas correlações são úteis, rápidas e
pouco dispendiosas.

Um dos métodos mais confiáveis e fáceis de usar na identificação preliminar das


argilas expansivas foi desenvolvido pelo “Bureau of Reclamation” dos Estados Unidos, no
início da década de 50. O índice de plasticidade, o limite de contração e o percentual de
partículas de solo com diâmetros inferiores a 0,001mm são correlacionados ao ensaio

Propriedades índice do Solo e Prováveis Mudanças de Volume nos Solos Muito Plásticos
Estimativa da
Dados do ensaios de índice (1)
expansão provável, (2)
(% da mudança total de Grau de Expansão
Teor Coloidal volume, de seco até
Índice de Plasticidade Limite de Contração (%)
(% < 0,001mm) saturado)
>28 >35 <11 >30 Muito alto
20 – 31 25 – 41 7 – 12 20 – 30 Alto
13 – 23 15 – 28 10 – 16 10 – 20 Médio
<15 <18 >15 <10 Baixo

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laboratorial de inchamento do “Bureau of Reclamation” em 6,9kPa de sobrecarga, confor-


me mostrado na seguinte tabela:
Observações:

(1) três ensaios índice deverão ser considerados conjuntamente, ao se estimarem as


propriedades de expansão.
(2) Com base numa pressão vertical de 6,9kPa, como para revestimento de concreto
para canal. Para cargas maiores, o grau de expansão é menor, dependendo da
pressão e das características da argila.

No início da década de 60, vários engenheiros geotécnicos, de São Francisco, na


Califórnia, EUA, desenvolveram uma classificação baseada em estudos de argilas
recompactadas, e a estenderam, para incluir também as argilas naturais.

O potencial de expansão está baseado no percentual da amostra com diâmetro


inferior a 0,002mm e na atividade. A atividade é definida como o índice de plasticidade
dividido pelo percentual de partículas de solo, com diâmetro inferior a 0,002mm. É possí-
vel estimar o potencial de expansão do solo utilizando-se as informações que constam da
Figura 3.33.

Muitos outros sistemas de classificação foram desenvolvidos na áfrica do Sul, nos


Estados Unidos, em Israel, na Índia e em outros países com problemas de expansão.
Nenhum método atende completamente às necessidades. Entretanto, estas classifica-
ções permitem a identificação preliminar dos solos expansivos e são muito úteis à medida
que se vão acumulando dados acerca de áreas geográficas específicas.

3.9.3 Ensaios de Laboratório

Figura 3.33 Tabela de Classificação do Potencial de Expansão.

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É possível obter maiores informações quantitativas confiáveis ensaiando amostras


indeformadas em edômetro convencional. Em geral, são realizados dois ensaios. O primei-
ro – o ensaio de expansão – é efetuado para determinar a quantidade de levantamento ou
expansão vertical que ocorre quando o solo é inundado. O segundo, o ensaio de pressão
de expansão, é realizado para determinar a magnitude da pressão de expansão, desenvol-
vida quando o solo é inundado e confinado.

3.9.3.1 Ensaio de Expansão

a. Moldar um corpo de prova indeformado que se encaixe bem no anel do edômetro.


b. Aplicar uma pequena carga de assentamento e registrar a altura inicial e as leituras
de carga.
c. Inundar o solo e permitir que ocorra expansão sob a carga de assentamento, duran-
te pelo menos 48 horas, ou até completar a expansão da amostra.
d. Calcular a expansão como percentual da altura inicial.
e. Se desejado, carregar novamente o corpo de prova até que alcance sua altura
original. Esses dados são úteis na avaliação das condições das fundações, nos
casos em que ocorre alívio ou expansão, em conseqüência de redução da carga,
quando as fundações são escavadas e, depois, recarga com a estrutura.

3.9.3.2 Ensaio de Pressão de Expansão

a. Moldar um corpo de prova indeformado que se encaixe bem no anel do edômetro.


b. Aplicar uma pequena carga de assentamento e registrar a altura inicial e as leituras
de carga.
c. Inundar o solo e, assim que começar a expandir, aumentar a carga, de forma a
manter a altura inicial do corpo de prova.
d. Continuar esse processo até atingir a pressão máxima de expansão.
e. Calcular a pressão máxima de expansão dividindo a carga máxima necessária para
manter a altura original do corpo de prova pela sua área.
f. Se desejado, é possível descarregar o corpo de prova, a fim de determinar a expan-
são máxima após ter sido confinado quando umedecido. Esta informação é útil na
avaliação das características de descarga-tempo, caso a fundação seja descarregada
após umedecida.

Em circunstâncias especiais, poderá ser desejável determinar a expansão ou a pres-


são para inundação sob condições específicas de carga. Nesse caso, aplicar ao corpo de
prova a carga desejada, inundá-lo e medir a altura expandida ou a pressão necessária para
impedi-lo de expandir.

A seguir, os resultados destes dois ensaios de laboratório podem ser analisados,


para determinar o efeito dos solos expansivos na estrutura considerada.

O percentual de expansão não é um critério de projeto e não tem uso especial para
julgar quanto levantamento ocorrerá num determinado caso. Serve apenas de orientação
ou índice que informa ao engenheiro experiente se deve ou não prever problemas e se
justifica a realização de uma investigação detalhada. No caso de maciços de solo, é
possível que a estrutura exerça tal carga que o efeito dos solos expansivos seja anulado.
Em outras estruturas, como as estações de bombeamento, poderá ser preciso aumentar a
carga por unidade de área ou utilizar longas estacas, trabalhando por atrito, ou tubulões
de base alargada, para impedir o levantamento da estrutura. No caso de estruturas sob
carga leve, como canais ou estruturas de canais, será necessário avaliar outras soluções.
Nos solos expansivos é preferível utilizar revestimentos flexíveis para canais, como terra
ou membrana plástica, a revestimentos rígidos. Em alguns casos, quando as cargas estru-
turais são pequenas, como no revestimento de canais, é possível preparar a argila expan-
siva umedecendo previamente as fundações e mantendo-as úmidas, de maneira que a

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expansão futura seja mínima. No caso de túneis e tubulações enterradas, estes dados são
particularmente úteis na avaliação das cargas que poderão ser exercidas pelos solos
expansivos sobre a tubulação ou o revestimento do túnel.

Observou-se que um testemunho de xisto argiloso muito expansivo não sofreu


expansão quando selado úmido, após sua retirada, e mantido, depois, no seu teor de
umidade natural ou acima dele durante os ensaios de laboratório. Vários ciclos de seca-
gem-molhagem causaram muito mais expansão do que apenas uma molhagem, de modo
que é importante evitar tais ciclos.

3.9.4 Métodos de Amostragem de Solos Expansivos

Os comentários gerais que constam do subitem 3.7.4, relativos à amostragem de


solos colapsíveis, também são aplicáveis à amostragem de solos argilosos expansivos. As
amostras devem ser tiradas e manuseadas com cuidado e devem ser representativas dos
solos a serem estudados.

3.9.4.1 Amostras Moldadas Manualmente

Os mesmos procedimentos utilizados na amostragem manual, que foram discutidos


no subitem 3.3.4.1, deverão ser usados nos solos expansivos. Geralmente, os solos ex-
pansivos mostram alívio da tensão na amostragem, de maneira que as amostras devem
ser manuseadas e protegidas para minimizar, tanto quanto possível, esta condição. Será
preciso muito cuidado para reter o teor de umidade in situ durante a amostragem e, mais
tarde, durante todas as outras etapas do processo.

3.9.4.2 Métodos de Amostragem Mecânica

As amostras de solos argilosos podem ser obtidas utilizando-se uma sonda rotativa
e lama de perfuração para estabilizar o furo. Entretanto, é preciso muito cuidado para
não contaminar as amostras com a lama.

Se forem utilizados barriletes duplos, estes deverão ter um tubo de revestimento


interno rígido de plástico ou de metal não-corrosível, para dentro do qual as amostras se
deslocam, à medida que o amostrador desce. A amostra deverá se encaixar bem no tubo
interno, a fim de minimizar os efeitos de alívio da tensão durante a amostragem. Deverá
ser tomado muito cuidado na verificação da folga correta da coroa e na recuperação de
quase 100%, de maneira a assegurar que a amostra não está sendo consolidada ou
expandida durante a amostragem. Quando a furação atingir a profundidade de amostragem,
o fundo do furo deverá ser cuidadosamente limpo de material que deslizou, de modo que
a parte superior da amostra indeformada esteja o mais isenta possível de solo contamina-
do com a lama de perfuração. Qualquer solo contaminado deverá ser cortado, com cuida-
do, das extremidades da amostra no tubo interno rígido, antes de selar com obturador
mecânico ou mediante um disco de madeira e cera. Quando utilizado, o disco de madeira
nunca deve ser fixado com um prego através da parede do tubo interno rígido, uma vez
que isso afetaria a amostra. Os outros comentários constantes do parágrafo 3.7.4.2,
relativos a solos colapsíveis, também se aplicam aos solos expansivos. Recomenda-se
utilizar o maior diâmetro de amostrador possível, uma vez que proporciona uma amostra
indeformada de melhor qualidade para os ensaios de laboratório.

O trado com eixo oco é um excelente instrumento para se obterem amostras


indeformadas de argilas expansivas, mas a profundidade de amostragem pode ser limita-
da em virtude da resistência do solo.

Como ocorre com os solos colapsíveis, o tubo amostrador cravado não deve ser
utilizado na obtenção de amostras indeformadas de solos expansivos ou na determinação
de peso específico.

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3.9.5 Métodos de Tratamento

Quando são encontrados solos expansivos em conexão à construção civil proposta,


existe uma série de procedimentos possíveis para lidar com o problema. Dentre eles,
destacam-se:

„ Construir a estrutura em um outro lugar;


„ Elaborar um projeto que suporte os esforços e os deslocamentos impostos pelos
solos expansivos;
„ Restringir o movimento do solo mediante a aplicação de uma sobrecarga;
„ Retrabalhar o solo;
„ Controlar o teor de umidade do solo;
„ Estabilizar o solo.

As três primeiras opções estão relacionadas com o planejamento do projeto, ou do


projeto da estrutura, e devem ser analisadas individualmente, a fim de determinar se são
física e economicamente viáveis. As demais opções estão relacionadas com a manipula-
ção do solo. Com freqüência, a solução final implicará medidas de ambos os tipos. A meta
e, muitas vezes, a única solução técnica e economicamente possível é atenuar a expan-
são e a contração dos solos expansivos e não eliminar suas características.

Neste documento, são discutidas apenas as três opções relacionadas com o pre-
paro do solo.

3.9.5.1 Retrabalho do Solo

A remoção e substituição do solo expansivo por um solo não-expansivo só é pra-


ticável se o depósito de solo expansivo for bastante raso e se existirem solos não-expan-
sivos disponíveis, a uma distância razoável. Os solos de substituição deverão ser não-
expansivos, ter baixa permeabilidade, ser colocados com controle de peso específico e
teor de umidade e ter boa drenagem superficial.

Os solos expansivos mais profundos deverão ser escavados e retrabalhados, colo-


cando-se solos não-expansivos nas cotas mais altas. Os solos expansivos deverão ser
retrabalhados, com o intuito de reduzir seu peso específico e o potencial de expansão. A
umidade do solo deverá ser mantida ligeiramente acima do teor ótimo de umidade, que é
próximo à saturação e, portanto, perto da expansão máxima provável do solo nos anos
após o término da obra. O solo não deverá ser substituído com um peso específico tão
reduzido que possa causar problemas de adensamento.

Os aterros altos deverão ser construídos zoneados, colocando-se materiais expan-


sivos numa profundidade na qual as pressões de solos sobrejacentes ajudem a compensar
as pressões de expansão e onde as variações no teor de umidade sejam mínimas. Os
solos expansivos não devem ser colocados em locais que prejudiquem o movimento das
águas subterrâneas, exceto quando for provida subdrenagem. Em geral, é necessário
fazer subdrenagem, a fim de impedir a formação de lençol freático suspenso.

Os solos expansivos e não-expansivos podem ser misturados para reduzir o teor de


mineral argiloso expansivo, em geral montmorilonita, na massa total de solo. Normalmen-
te, a redução do teor de montmorilonita para menos de 10% é eficaz. A mistura deve ser
uniforme e bem feita, o que é difícil de se conseguir em toda a área. Se essa mistura for
adequadamente efetuada, os resultados podem ser muito satisfatórios.

Os locais de futuras estruturas, nos quais os solos são estratificados horizontal-


mente sob terreno em declive, requerem consideração especial. Num terreno em declive,
o local da obra, em nível, é geralmente obtido escavando o lado alto e aterrando o lado

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baixo, estando parte da estrutura localizada sobre o corte e a outra parte sobre o aterro.
Mesmo que os teores de umidade e os pesos específicos dos solos sejam similares no
corte e no aterro, com freqüência ocorre levantamento diferencial, o que causa danos
estruturais perto do ponto de demarcação entre o corte e o aterro. A fim de minimizar
esse movimento diferencial, todo o local da obra deverá ser sobreescavado e reaterrado
no nível, com solo não-expansivo, mantendo-se o teor de umidade e o peso específico sob
controle. Em geral, será preciso executar a subdrenagem de toda a área.

3.9.5.2 Controle do Teor de Umidade do Solo

Quando se controla o teor de umidade do solo para atenuar sua expansão, tenta-se
impedir que a água entre ou saia do solo embaixo da estrutura. Se o esforço for bem
sucedido, reduzirá ou eliminará a expansão e a contração após o término da obra. As
argilas expansivas deverão ser compactadas e mantidas com teores de umidade ligeira-
mente superiores ao teor ótimo e em torno do peso específico máximo. A maioria das
estruturas é menos susceptível a danos causados por contração do que por expansão.
Dessa forma, em geral é mais eficaz limitar o levantamento colocando os solos relativa-
mente úmidos e mantendo-os assim, do que limitando a contração colocando-os e man-
tendo-os relativamente secos.

Quando as argilas expansivas são compactadas com controle do peso específico e


do teor de umidade, é importante impedir que se sequem e, portanto, sofram contração
antes de terminar a estrutura. Após instaladas, as fundações e os pisos da estrutura
tendem a limitar a perda de umidade do solo abaixo deles. Uma vez que raramente ocorre
levantamento após o solo estar quase saturado, teores de umidade ligeiramente acima do
teor ótimo, conforme já discutido, em geral impedem danos causados por levantamen-
to, embora a contração potencial precise ser controlada.

Um método de diminuir a perda de umidade consiste em aprofundar as fundações


da estrutura até, aproximadamente, a profundidade da zona ativa de mudança da umida-
de. Essa técnica é muito eficaz quando a construção ocorre durante a época de chuvas e
quando o solo estará sujeito a secagem, depois, durante uma longa e quente estação da
seca.

A umidade do solo pode ser aumentada antes ou durante a construção, por meio
de inundação ou rega da superfície, ou injeção de água sob pressão. Se o método de
inundar ou regar a superfície for utilizado, seu efeito será mais eficaz em conjunção com
a injeção de poços ou furos de sondagem, de maneira que a água esteja facilmente
disponível nos níveis mais profundos. As argilas expansivas têm grãos finos e, portanto,
baixa permeabilidade; molhá-las em profundidade pode levar algum tempo.

Em geral, a injeção de água sob pressão não é tão eficaz, uma vez que a água só
penetra através de estrias de cisalhamento, trincas de tração abertas, ou outras inclusões
permeáveis. Desta forma, a água não penetra em grau significativo na massa de argila e,
com freqüência, perde-se. Se a água for retida, poderá ser vagarosamente absorvida pela
massa de argila e, finalmente, ser eficaz, mas ainda não foi demonstrado que este método
seja prático, previsível, ou mesmo adaptável à grande variedade de condições dos solos
expansivos.

Ao invés de adicionar água, algumas vezes é necessário limitar a que entra embaixo
das fundações da estrutura. Nestes casos, deverão ser instalados subdrenos, a fim de
interceptar e desviar a percolação de águas superficiais ou subterrâneas. Esta abordagem
é muito utilizada, mas nem sempre é eficaz, devido a falhas de projeto. A tubulação de
drenagem deverá ser adequadamente protegida por filtros, de maneira que não fique
entupida, e a saída precisa ser mantida, para que não haja fluxo contrário.

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As barreiras horizontais ou verticais, como as geomembranas, têm sido utilizadas


para manter estável o teor de umidade perto das estruturas. Zonas ativas de solo expan-
sivo saturado têm sido cobertas com uma camada de 60cm, ou mais, de areia grossa de
baixa capilaridade, com o intuito de impedir a secagem e a contração do solo. Esta técnica
funciona melhor em áreas com declives iguais ou inferiores a 1%.

3.9.5.3 Estabilização do Solo

Muitos materiais têm sido utilizados como aditivos, na tentativa de controlar o


inchamento dos solos expansivos. Dentre os produtos químicos experimentados, desta-
cam-se: cloreto de amônia, asfalto, carbonatos, cloretos, hidróxidos, ligninas, ácido
fosfórico, silicatos, sulfatos e muitos “aditivos de compactação” de marca registrada.
Estes materiais são misturados, borrifados, injetados ou espalhados no solo de várias
maneiras. Nenhum dos aditivos químicos ou dos métodos foi particularmente eficaz, e a
maioria era difícil de misturar ou de injetar, de modo uniforme, no solo.

A permanência desses materiais é duvidosa e ainda não foi provada. A maioria dos
materiais é insatisfatória para estabilizar os solos expansivos, com a possível exceção de
áreas muito pequenas e especiais.

Tanto o cimento quanto a cal têm sido utilizados, com êxito, como aditivos do solo,
no controle dos solos expansivos. A cal é mais eficaz do que o cimento. Ambos são
misturados no solo pelo mesmo método.

O método de aplicação utilizado com maior freqüência e que provê melhores re-
sultados é o de remover o solo, misturá-lo com cal, recolocar a mistura no local e compactá-
la até atingir o peso específico máximo e o teor de umidade ótimo. Uma vez que a adição
de cal ao solo reduz sua plasticidade e seu teor de umidade e o faz mais trabalhável, este
processo é muito útil quando se lida com solos muito úmidos durante a obra. Pode ser
utilizado para tratar os solos abaixo e em volta de pilares, estacas e tubulões, onde
reduzirá as forças de levantamento e de atrito lateral para baixo, que agem através da
fricção na superfície do fuste.

Este método de estabilização teve muito êxito na recuperação do Canal Friant-


Kern, na Califórnia, EUA, vinte anos após sua construção. Este grande canal tinha reves-
timentos de concreto e de terra, mas, após três anos de uso, começou a sofrer rachadu-
ras, deslizamentos e escorregamento dos taludes, tanto na seção revestida com concre-
to quanto na revestida com terra. Misturando cal aos solos expansivos, a plasticidade dos
solos diminuiu e o limite de contração aumentou. A resistência à compressão simples do
material solo-cal ficou várias vezes superior à dos materiais não tratados, e houve um
aumento significativo da resistência ao cisalhamento do revestimento do canal. A mistura
compactada de solo e cal é extremamente resistente à erosão e, quase vinte anos após
sua recuperação, ainda é possível observar as marcas do equipamento. O canal tem tido
excelente desempenho desde sua recuperação, sem que tenha-se repetido o problema de
ruptura de taludes. A recuperação do canal é descrita em “Proceedings of the 4th
International Conference on Expansive Soils, ASCE, 1980” e em ”Bureau of Reclamation
Report no. Gr-87-10, June 1987".

Também é possível misturar a cal no solo por meio de aração ou mistura in situ.
Nenhum destes métodos é tão eficaz quanto o método anteriormente descrito.

A injeção de lama (“slurry”) de cal é outro método utilizado na estabilização dos


solos expansivos. As deficiências deste método incluem o fato de que a lama só penetra
através de estrias de fricção, trincas de contração abertas ou outras inclusões permeá-
veis. A lama não penetra na massa de argila, de maneira que sua eficácia é limitada. A
profundidade de tratamento depende da profundidade até a qual é possível introduzir as
sondas de injeção no solo.

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3.9.6 Deterioração dos Solos de Fundações

Na medida do possível, tanto as fundações de terra quanto as de rocha devem ser


preservadas no seu estado natural. É preciso manter uma cobertura de solo sobre a
superfície das fundações até a limpeza final, e, em seguida, a estrutura deve ser construída
sobre as fundações. Deverá evitar-se a secagem da superfície da fundação. Alguns argilitos
e argilas ficam ressecados e fissuram para, depois, quando molhados novamente, após
terem sido expostos ao ar, virarem uma lama mole. Quando não é possível construir a
estrutura imediatamente após estas superfícies terem sido expostas ao ar, uma cobertura
de asfalto borrifado ou de argamassa aplicada pneumaticamente ou de outro material
aprovado poderá, em algumas circunstâncias, proporcionar uma proteção satisfatória.

3.9.7 Resumo

As argilas expansivas são aquelas que sofrem grandes mudanças de volume em


função das modificações no teor de umidade. Tais solos são encontrados em qualquer
parte do mundo, independentemente do clima. Difíceis problemas de engenharia estão
associados a estes solos estruturalmente metaestáveis, tendo sido reportados importan-
tes danos às estruturas, em diversos países. Os solos expansivos são muito prejudiciais
às estruturas hidráulicas, como os canais, pois estas estruturas com freqüência estão
sujeitas a cargas leves e são construídas em regiões semiáridas, onde ocorre molhagem
e secagem cíclicas dos solos das fundações.

A identificação preliminar das argilas expansivas pode ser efetuada mediante a


avaliação do teor de colóides (% < 0,001mm), do limite de contração e do índice de
plasticidade. As argilas com limites de liquidez superiores a 40% e as rochas argilosas
plásticas sempre devem ser ensaiadas, a fim de determinar se são suficientemente expan-
sivas para causar levantamento prejudicial à estrutura. Os ensaios de expansão e de
pressão de expansão, realizados em laboratório, são úteis na avaliação do comporta-
mento dos solos de fundações, especialmente nas condições previstas após o término
da obra e sob as cargas estruturais reais.

Existe uma grande variedade de métodos para reduzir os efeitos das argilas ex-
pansivas sobre as estruturas. Com freqüência, o solo expansivo é removido e substituí-
do por um não-expansivo, em especial quando o depósito de solo expansivo é bastante
raso. Outros métodos de retrabalhar os solos expansivos incluem aumentar o teor de
umidade do solo até quase o nível ótimo, mas com peso específico reduzido, e misturar
solos não-expansivos ao expansivo, a fim de reduzir o teor de mineral argiloso que ex-
pande. Algumas vezes uma camada bastante espessa de solo não-expansivo é
compactada sobre os solos expansivos das fundações para reduzir o efeito dos solos
expansivos. Freqüentemente, utilizam-se camadas compactadas espessas de solo não-
expansivo para revestir os canais, uma vez que podem acomodar deslocamentos com
maior eficácia e menos danos do que os revestimentos rígidos, como o concreto.

O controle do teor de umidade do solo pode atenuar a expansão, se a água for


impedida de entrar ou sair do solo situado sob a estrutura. As fundações das estruturas
algumas vezes podem ser aprofundadas, de maneira que fiquem mais perto do fim da
zona ativa. O método da molhagem prévia dos solos expansivos também é utilizado na
estabilização do solo antes da construção, de modo que o solo esteja no estado expandi-
do quando a estrutura for construída. A seguir é importante manter o teor de umidade do
solo, a fim de prevenir danos causados pela contração.

A adição de cal ao solo expansivo reduz a plasticidade e o teor de umidade do solo


e o torna mais trabalhável, em especial quando se lida com solos úmidos durante a obra.
A resistência à compressão simples do solo tratado com cal é várias vezes superior à do
solo não tratado. Um importante canal dos EUA foi recuperado utilizando-se solo tratado
com cal e tem apresentado excelente desempenho nos 20 anos após sua recuperação.

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3.10 Calcário Cárstico

3.10.1 Geral

Nos lugares onde existirem ou se suspeitar que existam cavernas subterrâneas no


local de uma importante estrutura, torna-se necessário avaliar o potencial de ruptura ou
subsidência do solo que possa ser causada por tais aberturas, assim como definir um
tratamento corretivo. Os problemas geológicos e de engenharia resultantes são muito
complicados, e a construção de estruturas principais sobre terreno calcário representa
tanto um desafio quanto um risco. Nem sempre é possível escolher um local alternativo
para a construção em área reconhecidamente estável. A não-identificação dos detalhes
geológicos e hidrológicos de uma área de calcário em que será construída uma estrutura
poderá levar a substanciais problemas de engenharia e à impossibilidade de a estrutura
ter um desempenho adequado.

As camadas de calcário dissolvidas pela água subterrânea circulante podem criar


morfologias de terreno totalmente caóticas, hidrovias subterrâneas e sistemas hidrológicos
grandes e complexos capazes de colher substanciais fluxos de águas superficiais. As
cavidades ou as aberturas subterrâneas podem resultar da dissolução de rochas consti-
tuídas por carbonatos ou outros compostos solúveis, de cavernas nas lavas vulcânicas,
da erosão mecânica de rochas sedimentares pouco cimentadas ou de escavações feitas
pelo homem, com freqüência em minas subterrâneas, que podem estar mal localizadas
nos mapas ou não constar dos mesmos, ou mesmo nunca ter sido registradas e, agora,
ter caído no esquecimento.

As questões básicas a serem consideradas quando se trata de ruptura ou


subsidência potencial do solo que poderá afetar a segurança das fundações ou o desem-
penho de estruturas de retenção de água, podem ser caracterizadas da seguinte maneira:

„ Predição;
„ Detecção;
„ Avaliação dos perigos;
„ Tratamento.

A predição implica uma determinação das condições geológicas do local quanto à


possibilidade de ruptura do solo. Inclui questões relativas à geologia, à hidrologia, ao
clima e às atividades culturais que podem estar associadas ao desenvolvimento das aber-
turas subterrâneas e à possível ruptura ou subsidência do solo, assim como às áreas
geográficas susceptíveis à ruptura que tenham sido identificadas.

Durante a exploração do local da estrutura e a construção da obra, é essencial que


quaisquer cavidades que possam afetar a segurança da estrutura sejam detectadas, ade-
quadamente definidas e localizadas, para poder aplicar as medidas corretivas necessárias.

A avaliação dos perigos inclui a identificação dos mecanismos de ruptura, a proba-


bilidade de ocorrer ruptura sob diversas circunstâncias e a maneira como os vários
parâmetros – tamanho, número e profundidade – afetam a probabilidade de ruptura. Além
disso, é necessário decidir se as condições prevalentes podem ser modificadas por medi-
das corretivas.

O tratamento de fundações insatisfatórias por meio de medidas corretivas de enge-


nharia, como reaterro ou injeções de cimento, é discutido em parágrafos posteriores.

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3.10.2 Calcário

O calcário puro é constituído por carbonato de cálcio. Os calcários são rochas


sedimentares que ocorrem em conjunção com outros sedimentos ou em camadas interca-
ladas com outros materiais. Os calcários podem originar-se em depósitos marinhos ou de
água doce. A maioria dos calcários tem impurezas, como silte, argila ou areia, assim
como pequenas quantidades de sílica e outros minerais comuns. Devido ao intemperismo,
o carbonato de cálcio é dissolvido e carregado pelo fluxo d’água, e as impurezas e outros
minerais são depositados como capeamento de solo ou enchimento de vazios, em geral
tingidos de vermelho ou de amarelo pela oxidação de minerais ferrosos residuais. O magnésio
pode substituir o cálcio na estrutura cristalina. Se este processo, conhecido como
dolomitização, continuar até o mineral substituto exceder os 50%, a rocha será denomi-
nada dolomítica, ao invés de calcária.

O calcário puro efervesce vigorosamente em ácido clorídrico (um teste de campo


para carbonato de cálcio) e é normalmente branco, amarronzado a amarelo esbranquiçado,
ou cinza claro. A cor pode também variar entre marrom, cinza ou preto, devido a consti-
tuintes secundários, principalmente óxido de ferro e matéria orgânica.

A textura varia de afanítica até cristais grossos, com calcário fossilífero, que exibe
as características de fósseis inclusos. O calcário ocorre em camadas finas nos xistos, em
camadas grossas, que incluem intercalações de xisto e arenito, e em grandes extratos.
Existem depósitos de calcário de mais de 4.000m de espessura.

As rochas calcárias e dolomíticas precipitadas podem ocorrer em associação com


sal-gema, anidrita e gipsita, um conjunto de rochas normalmente denominado de se-
qüência de evaporitos. Em geral, os terrenos de evaporito são cársticos e apresentam
complicações geológicas e de engenharia, além daquelas decorrentes do calcário cárstico.

A complicação é a grande solubilidade do sal-gema, da gipsita e da anidrita. A


gipsita é dez vezes mais solúvel em água subterrânea do que o calcário. É possível remo-
ver grandes quantidades destes minerais mediante dissolução, durante o tempo de vida
útil normal de muitas estruturas, criando-se novos canais de dissolução, bem como au-
mentando-se e modificando-se, significativamente, os canais mais antigos.

3.10.3 Definição de Calcário Cárstico

Carst é um terreno de calcário, dolomita ou gipsita, com topografia formada pela


dissolução dos minerais, o qual se caracteriza por depressões superficiais fechadas ou
dolinas, cavernas e circulação subterrânea. As características cársticas resultam da ação
corrosiva das águas subterrâneas sobre a rocha calcária. á medida que a água subterrâ-
nea se desloca através do calcário, o carbonato de cálcio é dissolvido e a circulação
subterrânea se alarga. As fraturas, planos abertos de estratificação e falhas constituem
as vias de percolação preferenciais. á medida que estas vias de circulação se alargam,
surgem cavidades e cavernas no calcário. Se a resistência da massa de rocha for suficien-
te, formar-se-ão grandes cavernas (grutas) e poços. Entretanto, mais freqüentemente, a
rocha circunvizinha sofre colapso para dentro destas aberturas, até que a superfície do
solo também afunda. A dolina é a indicação comum deste tipo de colapso. Com a progres-
são do colapso da superfície do solo, são criadas inúmeras estruturas morfológicas cársticas.

À medida que a rede de vias de percolação cresce através das estruturas morfológicas
cársticas abertas e em colapso, a água subterrânea em circulação procura vias de escoa-
mento mais eficientes e o fluxo subterrâneo é canalizado. Este sistema de circulação
subterrânea pode tornar-se tão eficiente que elimine a drenagem superficial, e todo o
escoamento é levado para o subsolo. Além disso, se os depósitos de calcário forem
extensos, poderá desenvolver-se um sistema singular de drenagem subterrânea, que abarque
mais de uma bacia topográfica de drenagem.

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As áreas de topografia cárstica possuem uma característica ambiental geral única,


em termos de morfologia superficial, litologia, aberturas subterrâneas e hidrologia super-
ficial e subsuperficial. Estes elementos são críticos na exploração e na análise do local da
obra, assim como na elaboração do projeto das estruturas.

3.10.4 Dissolução do Calcário

A dissolução e a precipitação do calcário é um processo complexo, e a taxa de


reação depende de vários fatores. Os processos químicos que incidem sobre o calcário
são influenciados por fatores como: a permeabilidade primária e secundária da rocha, a
composição química do calcário, a velocidade e o volume da circulação de águas subter-
râneas, os sólidos totais dissolvidos nas águas subterrâneas, a temperatura, a pressão e
a concentração de dióxido de carbono e outros ácidos naturais nas águas subterrâneas.
Em condições similares, a taxa de dissolução do calcário é cinco vezes maior do que a da
dolomita.

Uma parte das águas superficiais infiltra-se no calcário pelos poros, diáclases, fra-
turas e falhas, fluindo para baixo, levada pela força da gravidade, até encontrar uma
saída ou o lençol freático. Ao encontrar o lençol freático, as águas se deslocam dentro do
aquífero em direção ao ponto de descarga. De maneira que as águas que percolam e
circulam no calcário, dissolvem-no, carregando o carbonato de cálcio.

3.10.5 Indicadores Potenciais de Aberturas Subsuperficiais

A seguir, estão relacionadas as condições ou características a serem consideradas


na determinação das probabilidades de ruptura de solo devido a aberturas naturais ou
criadas pelo homem, existentes no local da obra e na avaliação da extensão e do grau de
gravidade dessa ruptura potencial. Os “indicadores diretos” são as condições ou carac-
terísticas que sempre, ou com mais freqüência, ocorrem em associação com os proces-
sos que produzem aberturas subterrâneas. Os “indicadores condicionais” são os que
ocorrem como resultado dos processos de formação de carstes e da presença de calcário,
que levam ao desenvolvimento das características dos processos de dissolução só quan-
do combinados a outros fatores de influência, como condições favoráveis de hidrologia
subterrânea, estratigrafia, etc. Os “indicadores condicionais” não são indicadores exclusi-
vos de aberturas subterrâneas. Também podem resultar da erosão eólica dos arenitos. Os
“fatores modificadores” são os que afetam, ou refletem, a extensão e o grau de gravidade
do problema. Desta maneira, requerem estudo e explicação, a fim de se poder avaliar a
extensão do problema, o perigo que acarreta e o desenvolvimento de possíveis medidas
corretivas.

O grau de significância dos indicadores relacionados varia muito mais do que uma
simples dupla classificação poderia refletir, e os indicadores também não demonstram a
considerável importância da ocorrência de múltiplos indicadores. Entretanto, a ocorrência
de quaisquer dos indicadores diretos ou condicionais no local de uma grande estrutura
requer um exame consciente e explícito da possibilidade da existência do problema de
aberturas subsuperficiais e uma decisão acerca das investigações adicionais necessárias.

3.10.5.1 Indicadores Diretos

Os indicadores diretos são: sumidouros, dolinas, ou valas (grandes depressões for-


madas pela coalescência de várias dolinas), cones cársticos (elevações isoladas, cujo solo
superficial foi erodido), cavernas ou grutas, rios sumidos, histórico de subsidência do
solo, presença de minas ou de atividades de mineração, histórico ou registros de ativida-
des de mineração e fogos subterrâneos.

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3.10.5.2 Indicadores Condicionais

Os indicadores condicionais são: pontes naturais, depressões superficiais, nascen-


tes, calcário, dolomita, gipsita, anidrita, halita (sal-gema), rendzina (“terra rosa”), lavas,
rochas clásticas de cimentação fraca, carvão de pedra, minérios e discordâncias estrati-
gráficas em rochas solúveis.

3.10.5.3 Fatores Modificadores

Os fatores modificadores são: padrões regionais de cavernas e profundidade das


cavernas; cota do lençol freático; gradientes hidráulicos das águas subterrâneas; aquíferos
confinados; histórico de mudanças nos níveis do lençol freático, na vazão dos poços, nas
taxas de bombeamento e nas razões infiltração-escoamento superficial; grau de dolomiti-
zação das rochas calcárias; permeabilidade e porosidade; mineralogia; materiais de enchi-
mento das cavernas; tipo de solo de cobertura; espessura da rocha solúvel; presença e
continuidade de camadas intercaladas impermeáveis; densidade e orientação das descon-
tinuidades (como diáclases, fraturas, falhas, planos de estratificação, etc.); e falhamento
e dobramento.

3.10.6 Estudos Geológicos e Geotécnicos do Local

O planejamento e a elaboração do projeto de qualquer estrutura principal deverá


incluir um programa de estudos geológicos e geotécnicos do local da obra, com o propó-
sito geral de definir geologicamente o local, o qual deverá incluir a estratigrafia, as carac-
terísticas geológicas e geotécnicas dos solos e das rochas, a estrutura geológica e as
falhas e fraturas. Além disso, o programa de estudos deverá visar a definir qualquer fonte
potencial de risco geológico, como uma rocha-mãe cavernosa. Na avaliação dos proble-
mas levantados pela possível ocorrência de cavidades, é preciso utilizar toda a informa-
ção obtida rotineiramente ou disponível para outros fins. Qualquer informação adicional
necessária poderá ser conseguida em investigações orientadas especificamente ao pro-
blema de detecção e mapeamento de cavidades.

Na fase preliminar dos estudos, é necessário estabelecer cenário geológico geral e


identificar a natureza geral dos problemas geotécnicos potenciais. Se existir possibilidade
de problemas de dissolução de rochas ou de subsidência, estes precisam ser identificados
nesta fase das investigações, a fim de possibilitar o planejamento ou a modificação das
investigações do local, para se obterem as informações imprescindíveis à solução do
problema. A elaboração do programa de investigações, a escolha dos métodos a serem
empregados e a ênfase relativa dada às diversas partes do programa dependerão da
natureza do local e do projeto. Dentre os fatores relativos ao planejamento das investiga-
ções de cavidades, destacam-se: a geologia do local, a natureza da estrutura, a coordena-
ção das investigações, as investigações hidrológicas, os piezômetros, o ensaio de perda
de água, injeções, o sensoreamento remoto, a fotografia aérea, a perfuração e a escavação
e os estudos em sondagens.

3.10.6.1 Geologia do Local

As características que devem ser consideradas inicialmente no planejamento dos


estudos do local da obra incluem a espessura e a natureza dos solos de cobrimento, a
morfologia superficial (depressões), a hidrologia superficial (drenagem superficial, nascentes,
dolinas), sistema de fraturas, a estratigrafia e a geologia estrutural. Algumas caracterís-
ticas, como os alinhamentos ou as características lineares, apresentados nas imagens de
sensoreamento remoto, assim como outras anomalias que podem estar associadas aos
processos de dissolução, também devem ser consideradas ao se estabelecerem os locais
de sondagem ou as localizações e os alinhamentos de outros levantamentos exploratórios.
A natureza das cavidades deverá ser considerada, em especial sua ocorrência como aber-

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turas discretas, como túneis ou aberturas de minas, ou como uma rede de canais interli-
gados ou fraturas alargadas pelo processo de dissolução. Algumas vezes, como neste
último caso, pode ser impraticável ou impossível localizar ou mapear cada uma das cavi-
dades, de maneira que a única abordagem possível é mapear as zonas de acordo com o
grau de continuidade ou competência da rocha. Isto também deve ser levado em conta na
elaboração do projeto e na localização das estruturas.

3.10.6.2 Natureza da Estrutura

As considerações importantes incluem: as dimensões, a carga das fundações, a


função (sustentação de carga vs. retenção de água) e o projeto – especialmente a capa-
cidade da estrutura de “fazer ponte” sobre as fendas nas fundações. Por exemplo, se uma
estrutura puder fazer uma ponte sobre fendas de determinada largura nas fundações,
essa largura será a dimensão máxima, para cavidades isoladas, que pode ser tolerada
por baixo da estrutura. Por sua vez, isso determina os requisitos de resolução,
espaçamento e profundidade das investigações geofísicas e subsuperficiais. Por outra
parte, se a função da estrutura for a retenção de água, uma rede integrada de pequenas
cavidades, por baixo da estrutura, em geral será mais significativa do que cavidades
discretas isoladas. Para esse tipo de estrutura, uma abordagem exploratória, que enfatize
o zoneamento, poderá ser mais apropriada. Além disso, o projeto de engenharia poderá
ser afetado pela necessidade de detalhamento e de resolução no mapeamento das cavi-
dades. O uso de um muro de vedação, através da zona com potencial de dissolução,
poderá reduzir a necessidade de investigações detalhadas das cavidades ou poderá
confiná-la à vizinhança do muro. O princípio geral que rege estas considerações é que os
possíveis modos de falência podem ser identificados e analisados em relação aos tipos
de condições de solo que poderiam contribuir a tal falência, e o programa de exploração
deverá contemplar a detecção de qualquer característica da subsuperfície que possua
dimensões ou qualidades críticas.

3.10.6.3 Coordenação das Investigações

O programa de estudos geológicos e geotécnicos deverá ser concebido como um


todo integrado, mesmo que o plano de investigação necessariamente evolua e mude à
medida que for sendo executado. As diversas partes e fases do programa deverão ser
complementares e possuir um grau suficiente de redundância para garantir a definição,
com segurança, das condições relevantes para as fundações. Essa segurança deverá ser
uma conclusão consensual de um grupo responsável e qualificado de profissionais. A
necessidade de um considerável grau de redundância fica evidente a partir do estudo da
variabilidade inerente aos solos e às rochas (com freqüência oculta pela aparência super-
ficial de uniformidade), dos limites de confiabilidade de quaisquer das ferramentas de
investigação utilizadas e das muitas surpresas desagradáveis com que os engenheiros e
os construtores têm de se defrontar nos terrenos cársticos ao longo dos anos, como
resultado de investigações inadequadas. Contudo, um excesso de redundância reflete-se
em custos excessivos. Em grande parte, esse impasse pode ser evitado pelo planejamen-
to, de maneira a maximizar a eficácia do uso de todas as fontes de informações. Por
exemplo, as escavações da rocha, com fins construtivos, são uma das melhores e mais
confiáveis fontes de informação acerca das condições da rocha. Se este fato for reconhe-
cido durante a etapa de planejamento, será possível evitar desperdício de esforços na
definição das condições subsuperficiais, antes de se proceder à escavação, com nível de
detalhamento desnecessário nas etapas iniciais da construção. Embora a técnica e a
análise sejam importantes, é preciso lembrar que técnica e análise por si sós não têm
valor algum, são até perigosas, quando exercidas sem bom-senso e capacidade de julga-
mento. Os dados numéricos obtidos nos ensaios, assim como as transformações dos
dados produzidos pela análise, deverão ser utilizados como elementos auxiliares ao exer-
cício da capacidade de julgamento.

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3.10.6.4 Investigações Hidrológicas

Uma vez que o regime hidrológico das águas subterrâneas é de importância primor-
dial nos processos de dissolução, a determinação das condições das águas subterrâneas
é essencial à compreensão das atividades de dissolução passadas e presentes, que pos-
sam afetar o local da obra. Dentre as características mais importantes do regime hidrológico
das águas subterrâneas, destacam-se a localização e os gradientes dos lençóis freáticos,
os aquíferos, os canais de fluxo, as relações com os fluxos de superfície, os aquíferos
suspensos e a química das águas subterrâneas. O regime das águas subterrâneas pode
ser complexo num ambiente cárstico, devido ao papel principal desempenhado pelas es-
truturas resultantes de dissolução em grande escala. Mesmo assim, os lençóis freáticos,
com freqüência, estão muito bem definidos. Em geral, o limite entre a zona de saturação
e a zona de aeração é tão nítido nas rochas de carbonatos quanto nas outras rochas. As
fraturas e as passagens de dissolução, assim como as outras aberturas, geralmente for-
mam uma rede de aberturas interligadas, cheias de água até a altura do lençol freático.
Há exceções à regra, contudo; o fluxo das águas subterrâneas pode ocorrer, algumas
vezes, em dutos acima do nível geral do lençol freático. É possível que a diferença mais
importante entre o fluxo das águas subterrâneas nos terrenos cársticos e em meios po-
rosos é o fato de que o fluxo nos dutos predomina nos primeiros, tanto acima como
abaixo do nível do lençol freático, de maneira que a velocidade de fluxo são várias or-
dens de magnitude superiores nos carsts. Uma outra conseqüência é que a filtragem,
que nos meios porosos remove os contaminantes da água, praticamente inexiste no
ambiente cárstico.

Quando se considera a segurança das fundações, as principais preocupações são


a localização dos lençóis freáticos e a identificação de zonas de fluxo concentrado de
águas subterrâneas, o qual pode indicar grandes aberturas. Além disso, o estudo dos
gradientes hidráulicos e de suas variações, assim como as velocidades e as direções dos
fluxos de águas subterrâneas, poderá detectar a presença ou a distribuição de aberturas
subterrâneas e as suas interconexões.

3.10.6.5 Piezômetros

Mediante observações da pressão de água intersticial, os piezômetros indicam a


localização dos lençóis freáticos. As observações de uma rede de piezômetros fornecem
os gradientes ou a distribuição dos gradientes, que podem ser indicativos das zonas de
fluxo de águas subterrâneas. São utilizados piezômetros múltiplos instalados com as
pontas ou as telas isoladas nos níveis apropriados, para se obterem os mesmos tipos de
informação para múltiplos lençóis freáticos ou múltiplas zonas de fluxo, conforme o caso.
Em projetos de maior envergadura, são instalados piezômetros em caráter permanente,
os quais são monitorados durante toda a vida operacional da estrutura, a fim de se ter
aviso antecipado do desenvolvimento de condições potencialmente perigosas. Essas ins-
talações são particularmente apropriadas para barragens, canais ou outras estruturas cuja
integridade ou função pode ser afetada pelo fluxo de águas subterrâneas, em aberturas de
dissolução. É necessário algum cuidado na interpretação das leituras dos piezômetros,
quando o comportamento das águas subterrâneas é dominado por sistemas de fraturas.
Os valores das leituras dependem da maneira da interseção da seção aberta do piezômetro
com as fraturas nas zonas saturadas, e, conseqüentemente, podem ser enganosos ou
improcedentes.

3.10.6.6 Ensaios de Perda de Água

Os ensaios de perda de água são utilizados na determinação da permeabilidade in


situ da massa rochosa. O ensaio consiste na injeção de água num furo (ou em um trecho
de um furo), à pressão e taxa de fluxo constantes. O trecho que será testado é isolado do
restante da furação por uma única obturação, se o trecho testado estiver no fundo da

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perfuração ou por dois obturadores, se o trecho estiver acima do fundo. Em geral, as


pressões limitam-se a valores que não se acredita possam aumentar a largura da fratura;
um critério comum é utilizar uma pressão igual ou inferior à pressão efetiva da rocha
sobrejacente na profundidade da injeção.

3.10.6.7 Injeções

Em geral, as injeções de cimento são uma medida corretiva ao invés de um método


de investigação, mas a importância das observações e dos registros efetuados durante
esse processo não devem ser desprezados como fonte de informações relativas às condi-
ções geológicas. Com freqüência, estas operações, executadas em caráter experimental,
em sondagens exploratórias, são realizadas com o intuito de determinar, antes de se
iniciar a construção, até que ponto os materiais da subsuperfície podem ser injetados
com cimento. Os registros dos volumes de calda injetada podem indicar a distribuição
das aberturas subterrâneas e, até certo ponto, sua geometria e dimensões. O mapeamento
dos contornos do consumo de calda, como os das perda de água nos ensaios de
permeabilidade, podem auxiliar no zoneamento do local da obra, em termos da qualida-
de da rocha.

3.10.6.8 Sensoreamento Remoto

Genericamente, o termo sensoreamento remoto refere-se ao uso de sensores ins-


talados em aeronaves ou satélites, com o propósito de detectar características na super-
fície ou subsuperfície da terra. Dentre estes métodos, o mais antigo e ainda o mais im-
portante é a câmera aérea. Os métodos desenvolvidos mais recentemente incluem o uso
de dispositivos transportados por aeronaves, como magnetômetros, radares e vários
tipos de exploradores, que detectam e registram as radiações eletromagnéticas, às quais
os filmes de fotografia não são sensíveis. Os dispositivos de sensoreamento remoto
podem ser divididos em duas categorias, de acordo com a natureza física básica do
fenômeno a que respondem. Os sensores de campos de força medem a intensidade ou o
gradiente dos diversos componentes dos campos magnéticos, gravitacionais ou elétri-
cos da terra. Os sensores de radiações, que incluem a câmera fotográfica convencional,
respondem à radiação eletromagnética, que é emitida ou refletida pela Terra.

3.10.6.9 Fotografia Aérea

Conforme mencionado anteriormente, a fotografia aérea é a forma de sensoreamento


remoto mais antiga, mais freqüentemente utilizada e mais importante. Na maior parte do
mundo, é possível obter fotografias tiradas pelos satélites da terra, os quais fornecem
imagens em escala regional. Estas fotografias são úteis, principalmente, na interpretação
regional de estruturas geológicas, dos tipos de solo e de rocha, dos padrões de drenagem
e das geomorfologias principais. Na avaliação do local da obra, as fotografias aéreas
convencionais, numa escala igual ou superior a 1:25.000, são muito úteis. A interpreta-
ção geológica das fotografias aéreas depende da geomorfologia, assim como do uso de
tons de cinza ou de cores que podem estar associados a determinados tipos de rocha, de
crescimento da vegetação ou de condições do solo, em particular a umidade do solo.
Emulsões fotográficas especiais, como aquelas próprias das cores, do infravermelho ou
do infravermelho de falsa-cor, podem ser empregadas para enfatizar certos aspectos das
imagens fotográficas, como o tipo e as condições da vegetação. É possível obter-se uma
discriminação ainda maior mediante o uso complementar de emulsões sensíveis a diferen-
tes partes do espectro eletromagnético (fotografia multiespectral). O potencial das ativi-
dades de dissolução é determinado por meio da identificação das características
geomorfológicas associadas aos terrenos cársticos. A detecção de cavidades específicas,
com base em fotografias aéreas, é possível algumas vezes, porque essas estruturas
subsuperficiais, como as cavernas, as aberturas de minas ou as fraturas alargadas pela
dissolução, possuem uma expressão superficial muito sutil, aparente na fotografia aérea,

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embora não para o observador no solo. Isso ocorre com maior freqüência devido a anoma-
lias no teor de umidade, causadas por efeitos topográficos sutis, as quais são visíveis nas
fotografias através de diferenças de cor ou de tom de cinza. Entretanto, não há qualquer
garantia de que as cavidades específicas, mesmo aquelas próximo à superfície, possam
ser detectadas.

3.10.6.10 Perfuração e Escavação

A partir de uma revisão das virtudes e defeitos dos métodos de prospecção discu-
tidos anteriormente, a conclusão inevitável é que a única maneira de se obterem informa-
ções definitivas e diretas da presença ou ausência de rocha num determinado ponto do
subsolo e das suas condições, é ter acesso àquele ponto, de modo a realizar observações
visuais ou ensaios mecânicos. Ou seja, é necessário perfurar através do ponto ou esca-
var até chegar a ele. Conseqüentemente, dado o atual estado-da-arte, a verificação final
das fundações de estruturas críticas precisa ser feita por estes métodos diretos.

As escavações com acesso – aberturas bastante grandes para permitir a entrada


do pessoal e observação visual direta – são relativamente dispendiosas, embora, com
freqüência, justificadas nos casos de estruturas críticas. Os poços e as chaminés são
aberturas escavadas verticalmente, a partir da superfície do solo, que provêem acesso e
observação direta. Os poços são usados, em especial, na exploração do solo ou na obser-
vação do contato solo-rocha. As valas são relativamente rasas e, em geral, são utilizadas
na investigação de falhas. Também são úteis no mapeamento de fraturas e na observação
das condições do contato solo-rocha sã. As escavações executadas como parte das
obras oferecem grandes oportunidades de se obterem informações relativas ao contato
solo-rocha sã, às fraturas e aos sistemas de fraturas e a possíveis estruturas de dis-
solução.

Na falta de acesso físico direto às aberturas subterrâneas, a sondagem convencio-


nal é a fonte melhor e mais confiável de informações. Durante as sondagens de investiga-
ção, será possível achar evidências de falta de integridade da rocha, nos casos de perda
de circulação, de entrada de água nas furações, de queda de hastes, de resistência singu-
larmente baixa à perfuração ou de altas taxas de penetração, ou na recuperação deficien-
te de testemunhos. Devido às implicações de tais ocorrências, é importante manter regis-
tros completos e cuidadosos de todas as operações de sondagem. É indispensável
implementar um sistema rotineiro de registros da taxa de perfuração, obtidos por meio de
instrumentos ou resultantes das observações do pessoal de perfuração.

Nas operações de amostragem da rocha, em geral, são utilizadas sondas rotativas,


que constituem o método mais eficiente e econômico de obtenção de testemunhos. Em
investigações de locais em que se suspeite da existência de aberturas subterrâneas, dois
outros métodos são particularmente aplicáveis. A sonda calyx é muito útil em perfurações
de grande diâmetro, que podem prover acesso, embora possa haver alguma dificuldade
na operação, quando se perde a circulação do fluido de perfuração. A sondagem por
percussão pneumática, comum na instalação de chumbadores na rocha e em perfurações
para desmonte de rocha nas pedreiras, é o método mais econômico de fazer furos de
pequeno diâmetro, a pequenos intervalos, para a verificação detalhada de fundações.
Embora não sejam obtidas amostras intactas, as observações precisas e os registros das
taxas de perfuração fornecerão indicadores confiáveis de cavidades subsuperficiais, se-
jam vazias, sejam com materiais de enchimento. Para o êxito deste método, é fundamen-
tal um supervisor qualificado e experiente. Uma vez que as fraturas alargadas pela disso-
lução estão quase sempre orientadas subverticalmente, as sondagens exploratórias deve-
rão incluir perfurações inclinadas. As sondas de percussão podem ser facilmente opera-
das na posição inclinada.

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Os testemunhos de sondagem da rocha, que podem ser obtidos com sondas rotativas
convencionais, ou, nas rochas duras, com sondas de coroa de diamante, permitem exame
e descrição geológica bem detalhados e ensaios laboratoriais das propriedades físicas,
químicas e de engenharia; posteriormente, também constituem registros de arquivo va-
liosos. A evidência de fraturas ou outras aberturas na rocha ou a presença de materiais
de enchimento, pode ser observada, algumas vezes, nos testemunhos de sondagem,
embora, com maior freqüência, a rocha muito desagregada ou cavernosa cause a não-
recuperação ou a recuperação defeituosa, naqueles intervalos. O grau de recuperação dos
testemunhos, expresso como relação percentual entre o comprimento do testemunho
recuperado e o comprimento do intervalo do qual se retirou aquele testemunho, pode ser
utilizado como índice para a classificação e o mapeamento da qualidade ou da continuida-
de de um intervalo de rocha. Um método alternativo de classificação que tem sido ampla-
mente aceito é a “Rock Quality Designation” (Designação de Qualidade da Rocha), que se
obtém contando-se – ao somar o comprimento total de testemunho recuperado – apenas
aqueles testemunhos de comprimento igual ou superior a 10cm, e que sejam duros e
sãos. Os pedaços quebrados pela perfuração ou pelo manuseio são juntados e contados
como uma só peça. O resultado é expresso como percentual do comprimento do intervalo
do qual se retiraram os testemunhos. Uma classificação baseada na Designação da Qua-
lidade da Rocha é a seguinte:

Designação da Qualidade da Rocha Descrição da Qualidade da Rocha


0 – 25 Muito má
25 – 50 Má
50 – 75 Regular
75 – 90 Boa
90 – 100 Excelente

Quando são executadas perfurações utilizando métodos comuns, é preciso tomar


precauções especiais na presença de minerais muito solúveis, como halita, uma vez que
podem simplesmente dissolver-se na lama de perfuração ou passarem desapercebidos.
Nestes casos, pode ser necessário utilizar perfuração pneumática, lamas salinas, ou la-
mas à base de óleo.

3.10.6.11 Estudos em Sondagens

Nas operações de perfuração, são obtidas informações acerca das condições da


rocha, a partir de amostras na forma de testemunhos ou de aparas de perfuração que
voltam com o fluido de perfuração, da taxa de perfuração ou dos dados de resistência e
de eventos, como a perda de circulação ou a entrada de água no furo. O termo genérico
“estudos em sondagem” é utilizado para métodos de exame de materiais na parede ou em
volta do furo de sondagem, por meio de dispositivos que são introduzidos no furo. Inclu-
em observações geofísicas das rochas na vizinhança do furo, como as medidas de
resistividade elétrica, a emissão de raios gama, a resposta a bombardeamento de nêu-
trons, a velocidade sísmica, o gradiente de gravidade e a temperatura; e medidas ou
observações das condições ou da geometria do próprio furo de sondagem, como medidas
de compasso do diâmetro dos furos, câmeras de inspeção de sondagens e estudos de
desvio.

Os registros geofísicos convencionais fornecem um grande volume de informações


a respeito da litologia geral e das condições da rocha na vizinhança do furo de sondagem.
Os registros mais comuns referem-se a resistividade elétrica potencial espontânea, raios
gama e raios-gamanêutrons. As observações são complementares e podem ser utilizadas
com maior eficácia, como um conjunto de registros. As informações obtidas refletem as
condições através de um determinado volume de rocha, na vizinhança dos furos de son-

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dagem e, em geral, não possuem qualidades direcionais. Desta maneira, os registros


geofísicos são usados, principalmente, na detecção e no delineamento das zonas de
atividade de dissolução ou de porosidade aumentada, ao invés da detecção de cavidades
discretas específicas.

Os métodos de investigação dirigidos ao estudo da configuração dos furos de son-


dagem são de considerável interesse na prospecção das cavidades. Tais métodos incluem
os registros das medidas de compasso, as câmeras ou a televisão de inspeção de sonda-
gens, o televisor e os registros de ecografia. Este último método foi especificamente
projetado para a investigação de cavidades. Em todos estes métodos, um requisito evi-
dente é que o furo de sondagem intersecte a cavidade investigada.

3.10.7 Avaliação da Segurança das Fundações

Nas obras de grande envergadura, é necessário efetuar-se um perfil geológico com-


pleto, que mostre todas as estruturas de dissolução, a qualidade e as condições do solo
sobrejacente e da rocha sã e as condições das águas subterrâneas, a fim de que sejam
avaliados os problemas das fundações e as alternativas de tratamento. Todas as cavida-
des cobertas pelo solo sobrejacente deverão ser injetadas com calda de cimento ou esca-
vadas e reaterradas, dependendo da profundidade do solo. Quando o solo sobrejacente é
raso e a escavação é realizada até a superfície da rocha sã, será indispensável avaliar a
distribuição de zonas de rocha sólida, a compressibilidade e a resistência à erosão dos
materiais de enchimento, assim como sua profundidade nas fraturas alargadas pela dis-
solução, a fim de se determinar:

„ A escavação requerida e o tipo de material de reaterro necessário para substituir


os materiais fofos ou compressíveis;
„ O tipo de fundação a ser empregado, como fundação em laje, sapata, estacas, ou
tubulões (sapata profunda);
„ As exigências para a determinação das condições constatadas pela escavação e a
verificação da sanidade da rocha abaixo dos elementos de fundações, após a esca-
vação.

Quando o solo sobrejacente é profundo, será preciso avaliar o tipo e a quantidade


de materiais de enchimento nas estruturas de dissolução, a fim de determinar se a injeção
com calda de cimento será eficaz. As zonas fofas profundas, entre os pináculos de calcário
e as concentrações de tensões resultantes das cargas estruturais sobre os pináculos de
calcário, podem causar grandes recalques diferenciais para uma fundação em laje, e o uso
de estacas ou tubulões sobre rocha sã poderá constituir-se numa alternativa melhor.

As cavidades cobertas por solo, os canais de dissolução que sofreram enchimento,


as zonas de solo fofo entre os pináculos de calcário e outras estruturas de dissolução,
deverão ser injetadas com calda de cimento ou escavadas e reaterradas com concreto ou
solo compactado, dependendo do tipo de estrutura e de fundação. Poderão ser necessá-
rias medidas substanciais de controle da drenagem superficial e subsuperficial, a fim de
prevenir infiltrações e migração para baixo das águas superficiais.

As dolinas preenchidas podem conter sedimentos fofos compressíveis e estar sujei-


tas a nova erosão e ao desenvolvimento de dolinas. O último ocorre quando dolinas
preenchidas não identificadas são cobertas por um reservatório ou um aterro, com o
aumento das pressões hidrostáticas. A existência de dolinas não identificadas, por baixo
de estruturas, pode causar recalques desastrosos. Conseqüentemente, as dolinas preen-
chidas precisam ser localizadas e sua extensão em área, definida. Os materiais de enchi-
mento que permanecerão sob fundações estruturais devem ser classificados e ensaiados,
a fim de se determinar sua compressibilidade, consolidação, capacidade de suporte de
carga e susceptibilidade à erosão.

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O potencial de erosão deve ser avaliado, uma vez que mudanças a longo prazo nos
níveis das águas subterrâneas podem reativar o entubamento (“piping”) dos materiais de
enchimento para dentro de fraturas ou fissuras abertas próximas ao fundo das dolinas
preenchidas. Na avaliação da susceptibilidade das argilas à erosão, será preciso efetuar
ensaios de furo de agulha em corpos de prova indeformados e analisar os resultados dos
ensaios de sais na água intersticial.

Os materiais de enchimento nas dolinas que se estenderem abaixo do nível das


fundações da obra precisam ser avaliados quanto à sua capacidade de sustentar carga e
recalque. Os resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento e de consolidação,
em amostras indeformadas, devem ser utilizados na avaliação da capacidade de susten-
tar carga e recalque. Duas importantes questões precisam ser consideradas nas áreas
onde existem dolinas preenchidas acima de pináculos de calcário:

„ Em geral, há zonas mais fofas na interface entre os solos residuais e a parte supe-
rior dos pináculos, e a capacidade de sustentar carga é regida pela concentrações
de tensões nestes locais;
„ Quando se escavam dolinas preenchidas ou solos residuais, até se atingir a profun-
didade dos pináculos de rocha, as áreas variáveis de sedimentos fofos e calcário
poderão não prover áreas de sustentação de carga adequadas sobre rocha sã para
fundações em sapatas ou em laje. Poderá ser necessário escavação adicional, de
modo a fornecer uma área uniforme de sustentação de carga.

As cavidades abaixo das superfícies de calcário podem ser cobertas por várias
espessuras de calcário com fraturas, com solo residual, solos aluviais ou outras rochas
sedimentares sobrejacentes. A estratigrafia e as características geotécnicas do material
sobrejacente, assim como os sistemas de fraturas e os defeitos de dissolução no calcário
acima da cavidade, devem ser definidos e aferidos, para se avaliar seu efeito na estabili-
dade da cavidade. É evidente que os locais acima de extensas cavidades, interligadas por
diáclases de dissolução, deverão ser, de preferência, evitados.

As cavidades subjacentes à superfície da rocha sã estão, com freqüência, total ou


parcialmente preenchidas por sedimentos fofos. Esse material de enchimento poderá pro-
ver sustentação parcial de teto, embora possa ocorrer perda de sustentação nas cavida-
des acima do lençol freático, no caso de uma futura elevação do nível das águas subter-
râneas, o que causaria um amolecimento dos materiais de enchimento. Nas cavidades
abaixo do lençol freático, uma queda futura do nível das águas subterrâneas poderá
provocar a drenagem e a consolidação dos materiais de enchimento. Além disso, esses
materiais inibem a distribuição uniforme da calda de cimento injetada e requerem um
espaçamento menor dos furos de injeção, a fim de se poderem encher as cavidades e os
canais de dissolução interligados. Será preciso determinar cuidadosamente a quantidade
de material de enchimento e suas características geotécnicas e avaliar o seu potencial de
compressão sob cargas estruturais, para se poder determinar a necessidade de escava-
ção, remoção e substituição dos materiais de enchimento por materiais estáveis. Tam-
bém será preciso avaliar a viabilidade da injeção com calda de cimento, de modo a se
atingirem condições de estabilidade.

A estabilidade das cavidades dentro da zona de influência da carga da estrutura


deve ser avaliada. Embora não exista qualquer orientação específica relativa à razão ta-
manho mínimo-profundidade que exija avaliação, será preciso considerar as cavidades
iguais ou superiores a 2m, a profundidades de até 65m. A avaliação da estabilidade exige
conhecimentos acerca do sistema de fraturas, da resistência das juntas, das resistências
à compressão e à tração da rocha sã, dos módulos elásticos in situ, do coeficiente Poisson
e do Ko (razão entre a tensão horizontal efetiva e a tensão vertical efetiva) da massa
rochosa. Quando existir folhelho ou uma outra rocha sedimentar de grão fino sobre a
rocha cavernosa, e a mesma não será escavada, também deverá ser considerada a contri-

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buição destas camadas à estabilidade da cavidade. O principal objetivo da avaliação da


estabilidade da cavidade é determinar se poderá ocorrer colapso do teto sob as cargas
estruturais a serem impostas ou se o colapso poderá progredir para os solos sobrejacentes,
onde a erosão por percolação poderá ocasionar o desenvolvimento de dolinas.

3.10.8 Condições que Afetam as Estruturas de Retenção de Água

As lagoas e os reservatórios para armazenamento de água e os canais de transporte


de água são vulneráveis à ação das dolinas e da percolação sob os aterros ou sob o curso
do canal. É necessário obter, para todas as áreas de construção, um quadro completo das
condições de dissolução da rocha sã, da profundidade do solo sobrejacente e do tipo de
material nesse solo, incluindo a compressibilidade e a susceptibilidade à erosão.

O principal perigo para os aterros, os canais, as lagoas e outros tipos similares de


reservatório construídos sobre terreno cárstico provém da infiltração, do entubamento
(“piping”) e da erosão dos materiais contidos nas dolinas preenchidas ou nas estruturas
de dissolução interligadas preenchidas. Além disso, o recalque desigual do aterro pode-
rá causar fissuramento transversal e, em última instância, “piping” através do aterro. Os
solos permeáveis que recobrem a rocha alterada requerem um “cutoff” positivo (vedação)
por baixo do maciço ou um revestimento impermeável da superfície do reservatório.
Ainda assim, as dolinas preenchidas, as fissuras de dissolução e as cavidades preenchi-
das subjacentes à rocha sã deverão ser identificadas e tratadas. Estas condições são
particularmente perigosas onde os estratos de rocha e os lençóis freáticos mergulham a
partir da área do reservatório.

Em alguns casos, as injeções com calda de cimento poderão fornecer um controle


adequado das cavidades. Deverão ser executados ensaios adicionais de bombeamento e
um programa experimental de injeções, a fim de determinar a adequabilidade deste mé-
todo de tratamento. De outra maneira, poderá ser necessário construir uma parede
“cutoff” de concreto, de alto custo, caso não exista um melhor local para a obra.

3.10.9 Métodos de Tratamento

Existem vários tratamentos para as estruturas de dissolução e as aberturas de


mineração, que visam à melhoria da estabilidade, à diminuição das perdas de água por
percolação e à prevenção do desenvolvimento de dolinas. A parte crítica de qualquer
tratamento é a verificação do seu êxito e a monitorização das condições futuras, a fim de
detectar quaisquer problemas que possam surgir, a tempo de corrigi-los antes que se
tornem demasiadamente graves.

O tratamento de dolinas preenchidas e de fraturas alargadas pela dissolução inclui


escavação e reaterro, injeções de calda de cimento, pré-carregamento das fraturas preen-
chidas (para aumentar a capacidade de sustentação de carga e reduzir o recalque) e
medidas corretivas para controlar a infiltração.

3.10.9.1 Áreas de Fundações

Nas áreas de fundações, as dolinas preenchidas e as fraturas alargadas pela disso-


lução que se estendem abaixo do nível escavado das fundações na rocha são, em geral,
escavadas e aterradas com concreto, até uma profundidade mínima equivalente a duas
vezes a largura máxima da fratura. Entretanto, aquelas dolinas preenchidas que levam a
fissuras de dissolução mais profundas, sujeitas à erosão dos materiais de enchimento,
poderão requerer o seguinte tratamento:

„ Escavação do enchimento da dolina;


„ Tamponamento do fundo da dolina com concreto;
„ Injeções rasas em torno da base da dolina.

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3.10.9.2 Áreas de Reservatório

Nas áreas de reservatório, um perigo de importância crítica é a infiltração vertical


através de solos residuais e o rejuvenescimento das dolinas. Conseqüentemente, poderá
ser necessário um extenso programa de injeções no ponto de contato entre o solo
sobrejacente e a rocha sã, além das injeções no maciço rochoso. No caso de reservatórios
críticos ou cuja segurança é primordial, as injeções deverão ser consideradas, principal-
mente, como uma medida de controle da perda de água, uma vez que não podem prover
uma real defesa contra possível “piping” ou erosão dos materiais de enchimento das
fraturas. A verdadeira proteção da área do reservatório poderá exigir a total remoção dos
solos sobrejacentes e o tratamento da superfície da rocha sã. As fissuras de dissolução
largas e profundas, subjacentes ao maciço, também podem precisar de tratamento espe-
cial.

3.10.9.3 Cavidades de Dissolução

As cavidades de dissolução subjacentes à superfície da rocha sã, que forem inter-


ceptadas pela escavação para as fundações, normalmente deverão ser escavadas, lim-
pas e enchidas com concreto. Nas cavidades na rocha sã, abaixo do nível das fundações,
deverá ser injetada calda de cimento, de modo a preencher os vazios e as fraturas abertas
existentes. Em geral são necessários ensaios de perda de água e a retirada de testemu-
nhos, para verificar a adequação do programa de injeções.

3.10.9.4 Problemas Potenciais Resultantes das Injeções e do Enchimento

Sob determinadas combinações desfavoráveis das condições do local da obra, as


medidas corretivas podem ter resultados opostos àqueles pretendidos, ou podem ocasi-
onar outros problemas. Conseqüentemente, é necessário tomar precauções especiais
para garantir a adequada definição do regime das águas subterrâneas, durante a fase de
investigação do local da obra, de modo a se assegurar a previsão das conseqüências das
medidas corretivas. O enchimento dos vazios no subsolo as injeções neles aplicadas
podem ter graves conseqüências para a transmissão das águas subsuperficiais nas áreas
cársticas. O bloqueio das rotas seguidas pelo fluxo d’água pode resultar em um aumento
do fluxo em áreas adjacentes, resultando em erosão do solo dos canais de dissolução e
problemas imediatos de sustentação de cargas. O bloqueio também pode ocasionar
represamento de água à montante, com inundação das instalações ou causar a formação
de rotas alternativas no subsolo, enfraquecendo áreas anteriormente estáveis. Em certas
circunstâncias, a construção de muros ou cortinas “cutoff”, juntamente com o desvio de
todo o fluxo de águas superficiais do local da obra, poderá resultar na queda do nível do
lençol freático sob o local da obra, o que, por sua vez, poderá aumentar a instabilidade
pela remoção da sustentação por água dos tetos das cavidades cheias de água, ou pela
secagem e pela contração dos materiais de enchimento. Qualquer acidente ambiental que
provoque a contaminação dos aquíferos será mais grave nos terrenos cársticos do que
nas áreas normais, uma vez que a transmissão da água ocorre pelo fluxo através de
dutos. Isso resulta num rápido deslocamento das águas contaminadas para longe do local
do acidente e na ausência de descontaminação por filtragem.

3.10.10 Resumo

Nas seções anteriores, foram discutidas considerações relativas à localização e aos


estudos geológicos e geotécnicos das principais obras associadas a recursos hídricos em
lugares onde, potencialmente, podem existir aberturas subterrâneas, sejam naturais, se-
jam artificiais, as quais poderiam provocar ruptura do solo. Também foram discutidas as
condições do terreno associadas a estas aberturas, como dolinas e fraturas abertas, que
apresentam outros perigos, como “piping”, infiltração e risco de perda da integridade dos
reservatórios de água.

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Embora a investigação do local da obra nas regiões cársticas sejam empreendimen-


tos complexos, é possível planejar um programa que utilize os conhecimentos existentes
acerca da geologia do local, assim como métodos complementares de investigação da
superfície, o sensoreamento remoto, os estudos geofísicos, as sondagens e as escava-
ções, de modo a determinar adequadamente as condições da subsuperfície. As
metodologias-padrão de investigação do local da obra precisam ser adaptadas para aten-
der às complexidades específicas do local, conseqüência dos sistemas de cavidades
subsuperficiais. Os métodos e os programas geofísicos, que funcionam muito bem para
delinear a estratigrafia e as estruturas geológicas mais simples, em investigações rotinei-
ras, com freqüência demonstram ser inadequados para identificar e delinear as cavidades.
No planejamento e na execução das investigações do local da obra, assim como na inter-
pretação dos resultados obtidos, o pesquisador precisa lembrar que (a) as condições das
fundações, no caso de estruturas críticas, precisam ser verificadas, em última instância,
mediante sondagens ou escavações e (b) nem sempre será praticável, ou mesmo possí-
vel, detectar e delinear cada estrutura de dissolução num determinado local. Conseqüen-
temente, nestes casos é preciso decidir qual é a maior dimensão de cavidade não desco-
berta que seria tolerável, com base nos efeitos dessas cavidades no desempenho das
estruturas importantes.

Os maiores perigos à segurança das fundações nos terrenos cársticos residem nas
estruturas de dissolução preenchidas, na superfície da rocha sã, e nas cavidades preen-
chidas ou vazias a pequena profundidade (em relação ao tamanho da cavidade) abaixo da
rocha sã.

O potencial de erosão e a compressibilidade dos materiais de enchimento nos


canais de dissolução e nas cavidades requerem cuidadosa avaliação, de modo a deter-
minar a capacidade de sustentação de carga, o recalque e a susceptibilidade à futura
erosão, causada por possíveis mudanças no regime da água subterrânea.
Também é preciso considerar a estabilidade das cavidades naturais abaixo da su-
perfície da rocha sã, até profundidades mínimas de 65m. As dimensões da cavidade, sua
profundidade, os sistemas de fraturas, as condições das fraturas, o tipo de rocha e o
acamamento acima da cavidade são os principais fatores que influenciam a estabilidade
do teto, assim como a profundidade até a qual será considerada.

Os lençóis freáticos, as condições de percolação e o recalque deverão ser monito-


rizados após a conclusão da obra, de forma a detectar o surgimento de condições poten-
cialmente perigosas. É necessário fazer e manter registros completos de todas as medi-
das de tratamento das fundações, executadas durante a construção, para uso futuro no
caso de ser necessário implementar medidas corretivas. Tais registros deverão incluir a
localização e os dados de tratamento de todas as estruturas de dissolução. Estes regis-
tros serão de importância fundamental na determinação das possíveis causas de proble-
mas e no planejamento de tratamento corretivo.

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Sinkhole Development”, Hydrologic Problems in Karst Regions, editado por R.R. Dilamartar e
S.C. Csallany, Western Kentucky University, Bowling Green, 1977, pp. 432-438.
[86] SCHMIDT, B., MATARAZZI, B., DUNNICLIFF, C.J. & ALSUP, S. “Subsurface Exploration Methods
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Transportation, Urban Mass Transit Assoc., Washington, 1976.
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[88] SOWERS, G.F. “Failures in Limestones in Humid Subtropics”, Journal of the Geotechnical
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[89] SWEETING, M.M. “Karst Landforms”, Columbia University Press, Nova Iorque, 1973, 362 pp.
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[92] WATER RESOURCES COMMISSION. Grouting Manual, 2nd. ed., Water Resources Commission,
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[93] AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. “Proceedings of the 4th Internation Conference on
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Elaboração de Projetos de Irrigação

CAPTAÇÕES

4.1 Canais de Captação

4.1.1 Elaboração do Projeto

A elaboração do leiaute e do projeto dos canais de captação baseia-se na passagem


pelo canal da máxima vazão a ser bombeada pela estação de bombeamento, com o nível
da água da fonte de abastecimento no seu ponto mais baixo. Esta abordagem na elabora-
ção do projeto garantirá o funcionamento das instalações na sua capacidade máxima,
mesmo quando a fonte de água estiver no nível mais baixo.

A velocidade de projeto admissível no canal varia consideravelmente, dependendo


do tipo de solo ou rocha sobre o qual for construído o canal, de o canal ser ou não
revestido e da quantidade de sedimento presente na fonte de água.

É indispensável projetar os canais de captação que recebem água de rio com base
em consideração de sedimentação. As velocidades não poderão ser muito altas, de modo
que os sedimentos de maior diâmetro, e que poderiam danificar as bombas, sejam depo-
sitados no canal, antes que o escoamento da água chegue à estação de bombeamento. A
velocidade utilizada na elaboração do projeto do canal está diretamente relacionada com
as dimensões e a quantidade de partículas que precisam ser removidas da água antes do
seu bombeamento.

As velocidades do projeto para canais revestidos e nos construídos sobre rocha


podem chegar a de 2m/s, dependendo do material de revestimento e da qualidade da
rocha.

Em geral, as velocidades nos canais não revestidos, construídos sobre solo, não
devem exceder 0,5m/s, exceto quando houver garantia de que velocidades superiores
não causarão erosão no fundo e nos taludes laterais do canal. Os canais construídos
sobre solos muito erodíveis requerem velocidades bem inferiores.

Em certas circunstâncias, recomenda-se revestir o canal, pois, desta maneira, o


projetista poderá utilizar velocidades de projeto maiores, o que permitirá uma seção de
canal menor e, conseqüentemente, economia na escavação. Uma outra vantagem dos
canais revestidos é que permitem taludes laterais com maior declividade, o que também
se traduz em economia nos custos de escavação. No caso de solos muito erodíveis, o
revestimento poderá ser a única forma de manter estáveis o fundo e os taludes da seção.

Nas proximidades da estação de bombeamento, o canal precisa ser mais largo e


profundo, a fim de se reduzir a velocidade da água quando esta se aproxima das sucções
das bombas. Esta exigência justifica-se pois a velocidade de aproximação recomendada,
perto das grades de detritos, não deverá exceder 0,6m/s, sob condições de fluxo máximo

Manual de Irrigação Copyright © Bureau of Reclamation 179


Elaboração de Projetos de Irrigação

(ver o subitem 9.3.2, Grades, no Capítulo 9 deste MANUAL). No caso de telas contra
musgo e de telas para peixes, as velocidades de aproximação recomendadas são 0,3m/s
e 0,15m/s, respectivamente, sob condições de fluxo máximo. Outro parâmetro que afeta
a profundidade do canal é a submersão correta das bombas, para impedir a formação de
vórtices, que poderiam provocar a cavitação.

Além disso, no leiaute do canal, é preciso manter o traçado do canal o mais reto
possível, para minimizar as perdas hidráulicas e reduzir a formação de redemoinhos no
canal, o que causaria perdas hidráulicas inadmissíveis.

Em situações especiais e no caso de grandes instalações, recomenda-se construir


um modelo hidráulico reduzido, de modo a aferir os parâmetros utilizados na elaboração
do projeto e a garantir a redução do potencial de problemas hidráulicos no canal a ser
construído.

Durante a elaboração do projeto, tanto a nível de viabilidade quanto de projeto


básico, o projetista deverá considerar cuidadosamente a estabilidade dos taludes laterais,
de modo a se assegurar de que o canal a ser construído não terá problemas durante a
operação do sistema hidráulico, como resultado do deslizamento de taludes. Será indis-
pensável realizar análises relativas à estabilidade dos taludes laterais, sob condições vari-
áveis de nível de água e de saturação. Nestas análises, o efeito do rebaixamento rápido do
nível de água sobre o solo ou a rocha do canal constitui uma situação crítica e que deve
ser analisada com cuidado. Em rochas fraturadas, o projetista deverá observar a orienta-
ção, a inclinação e o espaçamento das fraturas, a fim de se assegurar de que os blocos de
rocha não serão deslocados, após as fraturas terem sido lubrificadas pela água. Poderá
ser necessário estabilizar os blocos com chumbadores, caso esta análise das fraturas
indique a presença de problemas potenciais.

As considerações relativas à elaboração do projeto e à operação dos canais de


captação são similares às dos outros canais. Para informações sobre fundações, tipos de
revestimento, juntas, taludes laterais, etc., vide o Capítulo 6 deste MANUAL.

O projeto deve observar um plano construtivo adequado e dispositivos que garan-


tam uma manutenção adequada. As travessias dos canais por pontes, galerias, etc.,
devem merecer uma atenção adequada.

4.1.2 Captação no Reservatório

Em geral, os canais de captação nos reservatórios não apresentam problemas de


sedimentação, já que o reservatório funciona como uma bacia, na qual os sedimentos do
rio, que poderiam danificar as bombas, se depositam. Os principais problemas associados
a estes canais de captação são as grandes variações no nível da água e a ação das ondas.

Grandes variações no nível da água exigem canais mais profundos, de maneira


que a estação de bombeamento possa captar água, mesmo quando o nível da água no
reservatório estiver baixo. É evidente que isso implica em custos maiores de construção
e, também de manutenção e de operação. Além disso, os canais profundos podem, em
alguns casos tornar mais críticos os problemas de estabilidade de taludes.

A ação das ondas é de importância fundamental nos canais construídos em solo,


pois pode causar a erosão dos taludes laterais. Para se solucionar este problema, normal-
mente é colocado “riprap” nos taludes. Este problema também pode ser solucionado
localizando-se a captação numa área do reservatório em que a entrada do canal esteja
protegida dos ventos predominantes, com significativa redução da altura das ondas e
correspondente decréscimo do potencial de erosão. Quando não há uma área protegida,
é, às vezes possível orientar a entrada do canal de maneira que as ondas predominantes
passem ao largo, sem entrar no canal.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

4.1.3 Captação no Rio

A sedimentação é o principal problema na elaboração do projeto de canais de cap-


tação nos rios. Em geral, a entrada do canal deverá estar localizada no lado externo de
uma curva do rio, a jusante da bissetriz do arco. Esta é a melhor localização, pois a
velocidade do rio é maior no lado externo e, em geral, é suficiente para carregar a maior
parte dos sedimentos para além da entrada do canal e, desta forma, reduzir a entrada de
sedimentos no canal de captação. Também, a boca do canal deverá estar orientada de
forma que aponte para montante. O próximo item deste capítulo, Requisitos Relativos à
Sedimentação e às Propriedades Hidráulicas, acrescenta informações acerca da localiza-
ção dos canais de captação.

Os rios que têm quantidades elevadas de sedimentos em suspensão podem provo-


car problemas adicionais. Devido aos grandes volumes de material em suspensão, o leiaute
do canal precisará incluir uma bacia de sedimentação no canal, de forma que o material
possa ser decantado antes de a água ser bombeada.

Em trechos de tráfego fluvial intenso, a ação das ondas também pode criar proble-
mas e as soluções de projeto são similares àquelas discutidas em relação aos canais de
captação em reservatórios.

4.2 Requisitos Relativos à Sedimentação e às Propriedades Hidráulicas

4.2.1 Aspectos Gerais

Nesta seção são apresentados os requisitos gerais relativos à sedimentação e às


propriedades hidráulicas dos rios, utilizados na elaboração de projetos de estações de
bombeamento em rios ou reservatórios. Estes requisitos das estações de bombeamento
variam conforme a localização da estação, as diferentes características dos canais dos
rios, as propriedades hidráulicas do rio, a granulometria e a quantidade dos sedimentos
transportados e a topografia. Embora se reconheça a existência de diferenças que deter-
minam alteração ou redução de determinados dados necessários em locais específicos, as
informações relacionadas a seguir sempre deverão ser fornecidas junto com os dados de
projeto.

4.2.2 Sedimentos na Água Bombeada

Será preciso determinar a quantidade de sedimentos na água a ser bombeada e a


sua granulometria.

Os sedimentos são transportados pela água do rio como carga em suspensão ou


carga de fundo. A carga de fundo é definida como os sedimentos que são carregados, por
um curso d’água, em contato contínuo com seu leito. Os diâmetros dos sedimentos
carregados são muito importantes, e os sedimentos são classificados, em função do seu
diâmetro, em argilas, siltes, areias, cascalho, ou seixos. A Figura 4.1 mostra uma análise
granulométrica típica de cargas em suspensão e de fundo. Esta distribuição é típica de
muitos rios no Oeste dos Estados Unidos, e similar àquela encontrada em alguns rios do
Nordeste do Brasil. A Figura 4.2 apresenta o amostrador empregado para coletar amos-
tras de sedimentos em suspensão para análise laboratorial da concentração e da distribui-
ção granulométrica.

Outra relação importante é a variação na concentração de sedimentos em junção da


profundidade, no canal natural do rio. A Figura 4.3 mostra as variações das diferentes
granulometrias ao longo de uma linha vertical. Observe-se que, para os materiais mais
grossos na faixa das areias, as concentrações nas partes aumentam consideravelmente,
e, se este aumento é extrapolado até o fundo do curso d’água, encontrar-se-ão concen-

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 4.1 Análise Granulométrica Típica de Cargas em Suspensão e de Fundo

Figura 4.2 Zonas Medidas e não Medidas numa Amostragem Vertical de uma
Corrente com Relação a Velocidade do Fluxo e Concentração de
Sedimentos. J.K. Culbertson (Comunicação Escrita em Maio de 1968)

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 4.3 Curvas de Concentração X Altura Acima do Leito do Rio

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Elaboração de Projetos de Irrigação

trações extremamente altas. As variações apresentadas na Figura 4.3 resultam de uma


combinação da velocidade do fluxo da água no rio com a velocidade de queda das partí-
culas de sedimento. Conforme esperado, as partículas de areia de diâmetro maior caem
mais rapidamente e, portanto, encontram-se em concentrações bem menores perto da
superfície da água.

Existem inúmeras equações e técnicas teóricas para computar o transporte dos


sedimentos. Em especial, qualquer aumento na velocidade do rio causa um aumento no
tamanho dos sedimentos carregados. A relação geral entre a velocidade e o tamanho dos
sedimentos encontra-se na Figura 4.4, que mostra em quais velocidades as partículas de
sedimento serão erodidas, transportadas, ou depositadas. Esta relação foi desenvolvida
apenas para partículas de diâmetro uniforme e não deve ser aplicada a sedimentos em
ambientes naturais. Os métodos de cálculo do transporte de sedimentos fluviais podem
ser encontrados na publicação “Design of Small Dams” (Projeto de Pequenas Barragens),
do “Bureau of Reclamation”.

É indispensável determinar a quantidade de sedimento fluvial e sua granulometria, a


fim de projetar corretamente as bombas para manter um bom intervalo entre as revisões
e para determinar as condições ótimas de entrada da bomba. A abrasão e o desgaste que
ocorrem nas diversas peças das bombas e que, conseqüentemente, reduzem a eficiência
das mesmas são causados, principalmente, pela passagem de sedimentos com o tama-
nho da areia. O grau de desgaste nas partes móveis da bomba que entram em contato
com a água carregada de sedimento é proporcional ao tamanho desse sedimento. Os
sedimentos de diâmetro superior à metade da folga do anel de atrito provocam desgaste

Figura 4.4 Curvas para Erosão, Transporte e Deposição de um Material


Uniforme

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Elaboração de Projetos de Irrigação

significativo. Como comparação, estudos prévios relativos a turbinas de alta carga hidráu-
lica indicam que é com o diâmetro de 0,38mm que se inicia o maior desgaste. Entretanto,
este tamanho de sedimentos que provoca danos em pequenas bombas está próximo de
0,10mm. Uma vez que este diâmetro está próximo do limite mínimo da classificação
granulométrica das areias (0,0625mm), é razoável presumir que qualquer água que conte-
nha areia ou sedimentos mais graúdos seja prejudicial às bombas. A água utilizada no
resfriamento dos mancais não deverá conter sedimentos.
A Tabela 4.1 relaciona e descreve quatro condições gerais de fluxo do complexo de
água e sedimentos que passam por estações de bombeamento existentes. A tabela suge-
re um aumento percentual na capacidade das bombas, acima da capacidade de projeto
necessária, quando poderão bombear água contendo sedimentos. As grandes estações
de bombeamento, ou seja, aquelas com bombas de capacidade igual ou superior a 2,8m3/
s, são menos afetadas pelo sedimento e, portanto, requerem aumentos percentuais me-
nores. As condições são classificadas, principalmente, em função da quantidade de sedi-
mento na água bombeada e da sua granulometria. Estes valores estão baseados numa
análise dos dados relativos a bombas com capacidades de até 22,71m3/s.

Em geral, o desgaste normal, exceto aquele atribuído aos sedimentos, é pequeno


nas bombas bem projetadas e não deverá exceder 3%, entre revisões. Desta forma, o
maior valor recomendado de aumento de capacidade inclui o desgaste normal, enquanto
o menor valor, não. A tabela é preparada para as condições de operação com períodos
entre revisões previstos de 3 anos, no caso das pequenas bombas, e de 5 anos ou mais,
para as bombas maiores.

Tabela 4.1. Condições do Binômio Água X Sedimento a Serem Aduzidas nas


Estações de Bombeamento

Aumento Recomendado
da Capacidade (%)
Descrição Localização Aplicável A Bombas Bombas
Pequenas Grandes
< 3m3/s > 3m3/s
A. Água Límpida
Não contém areia (0,0625 – 2mm) ou silte <0,004 – Reservatório (com taxa de Reservatórios, canais de 0–5 0–3
0,0625mm); mas poderá conter argila (<0,004mm) capacidade anual de recarga recalque, estações de
numa concentração média menor que 100 ppm e maior que 0,03, grandes bombeamento tipicas para
material orgânico. canais (capacidades maior que drenagem, e derivações do
500 ft3/s – 15m3/s), drenos e canal principal.
grandes riachos.
B. Pequena Carga Sedimentar
Contém argila (<0,004mm) e silte (0,004 – Pequenos reservatórios, Reservatório, poços de 5 – 10 2–5
0,0625mm) numa concentração média menor que drenos, canais e riachos drenagem, estações de
500 ppm, e por curtos períodos, areia fina (0,0625- alimentados pelo degelo. bombeamento em rios e
0,125mm). derivações do canal principal.
C. Carga Sedimentar Média
Contém argila (<0,004mm), silte (0,004 – 0,0625mm) Em poucos canais e drenos Alguns canais de drenagem e 10 – 15 5–8
e areia (0,0625 – 2mm) numa concentração média que escoam frequentemente estações de drenagem, a
menor que 2,000 ppm que poderá ocorrer como areia água de chuva com maioria dos poços de
fina (0,06250-0,125mm) em pequena quantidade na sedimentos e a meior parte drenagem, fins de canais e
maior parte do ano e areia grossa (0,125 – 2mm) dos rios e riachos onde a algumas estações em rios.
durante períodos de cheia. erosão e normal.
D. Alta Carga Sedimentar
Contém argila (<0,004mm), silte (0,004 – 0,0625mm) Em rios onde a erosão e Poços, estações de 15 – 20 8 – 15
e alguma areia fina (0,0625 – 0,125mm) ou contém grande e em riachos com bombeamento em rios e os
frequentemente areia grosseira (0,125 – 2mm) e aluvionamento por sedimentos terminais do canal principal.
ocasionalmente cascalho (2 – 8mm) numa de areia.
concentração media maior que 1000ppm.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Os dados de projeto deverão indicar as necessidades específicas de água para a


irrigação, além das perdas e da capacidade máxima necessária. Por sua vez, esta capaci-
dade líquida de bombeamento necessária determinará a capacidade mínima da estação de
bombeamento entre revisões. A este requisito, será preciso acrescentar capacidade adici-
onal, a fim de compensar a diminuição na eficiência que ocorre entre revisões, como
resultado do desgaste normal e do desgaste excessivo causado pelo sedimento.

Será necessário tentar evitar a entrada de partículas de sedimento maiores (>


0,1mm) nas bombas. Deve-se incluir no projeto um desarenador ou outro dispositivo onde
se preveja a ocorrência de tais sedimentos. No caso de grandes estações de bombeamento,
em rios que quase sempre carregam quantidades apreciáveis de areia, poderá ser mais
econômico remover o sedimento por meio de uma bacia de sedimentação, ou outro dispo-
sitivo, antes da entrada da água na estação. A falta de tais dispositivos poderá ocasionar
maiores despesas em energia elétrica, um custo inicial maior para as bombas e os moto-
res, e a necessidade de limpeza mais freqüente dos canais. O relatório do “Bureau of
Reclamation”, denominado “User’s Guide to Computer Modeling of Settling Basins” (Ma-
nual do Usuário para Modelagem Computadorizada de Bacias de Sedimentação), descre-
ve um método de dimensionamento das bacias de sedimentação.

O custo da limpeza dos canais e da manutenção dos sistemas de distribuição,


assim como a freqüência com que serão realizadas, deverão determinar a inclusão, ou
não, de dispositivos para a remoção de sedimentos da água a ser bombeada. Nos siste-
mas de irrigação por gravidade, a fração de sedimento silte-argila em geral é bombeada e
distribuída sem efeitos deletérios. Entretanto, nos sistemas de irrigação por aspersão,
algumas vezes é necessário remover alguns tamanhos de silte, por meio de bacias de
sedimentação, a fim de evitar o entupimento do sistema de tubulação e dos bicos dos
aspersores.

4.2.3 Nível da Água no Lado de Sucção da Bomba

Determinar-se-ão os níveis de água operacionais mínimo, médio e máximo na entra-


da da estação de bombeamento. Se a fonte de água for um reservatório, dados relativos
às flutuações anuais periódicas do reservatório, indicadas em tabelas ou quadros, que
resumem os estudos da operação do reservatório em períodos normais e críticos, poderão
auxiliar na determinação destes níveis. Se a fonte for um curso d’água livre, utilizar-se-ão,
na determinação destes níveis, os registros das medições referentes às flutuações perió-
dicas da vazão, assim como um estudo do perfil do nível da água, para o trecho do canal
que começa à jusante e se estende até a área de entrada da estação de bombeamento.
Estas informações poderão ser obtidas mediante um cálculo de remanso do perfil da linha
da água, regime permanente para toda a gama de vazões.

As cotas máximas de descarga de cheia também deverão ser determinadas, para as


freqüências de cheia selecionadas, para as condições de reservatório e de rios. Nos pro-
jetos de estações de bombeamento, utiliza-se normalmenete a freqüência de cheia de
100 anos.

Sob condições de assoreamento, seja num reservatório, seja num curso livre de
água, determinar-se-ão os níveis da água operacionais mínimo, médio e máximo, com a
deposição de sedimentos superimposta ao perfil do fundo do reservatório ou do rio.

Se a fonte da água bombeada é um reservatório, e o ponto de tomada localizado no


delta do reservatório ou próximo a ele, será necessário um estudo do delta, a fim de
definir os níveis operacionais futuros do reservatório no local onde será instalada a bom-
ba. As duas fases do estudo do delta tratam da determinação física da localização do
delta e, quando o local já tiver sido fixado, do cálculo de remanso, através do canal do rio
à montante, com o intuito de definir as cotas da superfície da água que decorrem do

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Elaboração de Projetos de Irrigação

reservatório na existência do delta. Normalmente, utiliza-se a vazão pico da enchente com


freqüência de 100 anos, como cota da superfície da água nas áreas inundadas. Em geral,
o delta de 50 anos de deposição representará as condições médias para os cálculos
relacionados às cheias de 100 anos; entretanto, se a bomba estiver localizada em uma
área na qual se prevê a ocorrência de grande impacto devido à deposição de sedimentos,
recomenda-se selecionar o delta de um período mais longo, em geral 100 anos de depo-
sição de sedimento.

A publicação “Design of Small Dams” (Projeto de Pequenas Barragens), do “Bureau


of Reclamation” descreve um método de elaboração dos estudos de delta. A descrição a
seguir é um resumo desse método. Mais detalhes podem ser encontrados no documento
referenciado. O método de predição da formação do delta ainda é empírico, baseado nos
depósitos de delta observados em inúmeros reservatórios. A Figura 4.5 apresenta um
perfil típico de delta. O perfil é definido por um declive da parte à montante do delta, um
declive da parte à jusante do delta e um ponto pivô (de inflexão) entre os dois declives,
que ocorre na mediana do nível operacional do reservatório, ou seja, o ponto onde 50%
do tempo o nível do reservatório está acima dessa elevação e 50% está abaixo dela.
Presume-se que a quantidade de material a ser depositado no delta será igual ao volume
de material de granulometria de areia, ou superior, (>0,062mm), que entrará no reserva-
tório durante o período de 50 ou 100 anos. Um método iterativo que emprega dados
topográficos e batimétricos e o cálculo do volume pelo método da média das áreas das
extremidades é utilizado para se obter uma localização final do delta. O declive da parte à
montante do delta pode ser determinado por meio de diversas equações de transporte
sólida de fundo e pela obtenção do declive do fundo, no qual os sedimentos não serão
mais arrastados. A extremidade do delta à montante é fixada na interseção entre a super-
fície máxima da água do reservatório e o leito original do curso d’água. O declive da parte
montante do delta é projetado a partir desse ponto, até a cota prevista para o ponto pivô,
a fim de se iniciar o primeiro cálculo iterativo do volume de sedimento. Um declive médio

Figura 4.5 Perfil Esquemático de um Delta Típico

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Elaboração de Projetos de Irrigação

da parte jusante do delta, equivalente a 6,5 vezes o talude à montante do delta, será
representativo de muitos declives da parte jusante frente do delta, observados em reser-
vatórios existentes. Entretanto, alguns reservatórios podem ter declives na parte jusante
do delta muito mais íngremes. Após a aplicação do método iterativo na localização do
ponto pivô e/ou do declive da parte jusante do delta, o volume final de sedimento calcu-
lado a partir das seções transversais do reservatório, incluindo o delta imposto, deverá
concordar com o volume de material, de granulometria de areia ou maior, que se espera
flua para o delta.
Após a determinação da configuração futura do delta, será preciso calcular o perfil
da linha da água, para determinar as cotas operacionais da superfície da água mínima,
média e máxima, no ponto de captação da estação de bombeamento. Os cálculos de
remanso deverão ser iniciados à jusante, no reservatório, no ponto em que a velocidade
média na seção é inferior a 0,03m/s, para todas as vazões. O perfil deverá estender-se à
montante, além do ponto de captação da estação de bombeamento.

Se a fonte da água bombeada for um curso livre de água e se se acreditar haver


assoreamento, será preciso realizar um estudo de erosão/assoreamento. Estas condições
podem estar presentes à jusante de um reservatório, onde as vazões de enchente foram
reduzidas devido à acumulação de água no reservatório, o que diminui a remoção dos
materiais depositados nos pontos de convergência dos afluentes. Estas condições tam-
bém podem estar presentes onde a degradação do canal natural do rio à jusante arrastou
grandes quantidades de sedimento grosso para áreas à jusante, nas quais as condições
hidráulicas causam a deposição de tais sedimentos. É possível constatar-se o assoreamento
quando o curso d’água se torna mais dividido em múltiplos braços, à medida que grandes
bancos de areia se deslocam através do sistema, ou pelas mudanças nas curvas de cota/
vazão, nas estações hidrométricas. Repetidos levantamentos do trecho do rio, ao longo
de linhas preestabelecidas, ajudam a confirmar as condições de assoreamento. O estudo
de erosão/assoreamento deverá descrever as condições existentes no curso d’água e
fazer projeções relativas às condições futuras do leito do rio e das cotas da superfície da
água nos locais propostos para as obras.

Além disso, definir-se-á o impacto do vento e das flutuações da maré sobre as


cotas da superfície da água. Os sítios localizados em grandes massas de água, nas quais
as extensões de “fetch” são consideráveis e ocorrem ventos de grande velocidade, po-
dem sofrer um aumento no nível da água decorrente do desnivelamento do reservatório e
da intensa ação das ondas no sítio. Existem métodos para calcular o desnivelamento
máximo e a altura de onda que podem ocorrer devido a uma tempestade de vento de
freqüência projetada. Estes métodos empregam registros meteorológicos relativos à velo-
cidade do vento na área em questão. Determinar-se-ão a magnitude das flutuações da
maré e seu impacto nas cotas da superfície da água no sítio, se a estação de bombeamento
estiver localizada no estuário de um rio. Os registros relativos às marés nessa área pode-
rão fornecer todas as informações necessárias.

4.2.4 Estabilidade das Margens

Os materiais que constituem as margens do reservatório ou do rio próximo à esta-


ção de bombeamento, incluindo os solos, as formações rochosas e a cobertura vegetal,
deverão ser examinados e identificados. Também será preciso prever qualquer futura
remoção da vegetação nas margens do reservatório ou rio, a qual poderá afetar a estabi-
lidade das margens. No caso dos rios, é necessário tirar amostras representativas do solo
e determinar a distribuição granulométrica, o índice de plasticidade e o teor de umidade do
material das margens.

As características hidráulicas do reservatório ou do rio, próximo ao ponto de capta-


ção da estação de bombeamento, também deverão ser examinadas. No caso de estações
de bombeamento localizadas na parte externa de curva do rio, dever ocorrer pouca evi-

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Elaboração de Projetos de Irrigação

dência de erosão das margens, caso o meandro do rio seja relativamente estável. Se
houver qualquer indicação de erosão continuada na margem externa, será preciso tomar
medidas para estabilizar as margens, ou selecionar um outro local para a estação de
bombeamento. Mesmo no caso de margens consideradas estáveis, é indispensável plane-
jar algumas medidas de proteção para a entrada do canal de captação, em face da turbu-
lência que ocorre quando a água é sugada para dentro do canal.

No caso de estações de bombeamento em reservatórios, é necessário determinar a


estabilidade das margens na proximidade da estação e a sua capacidade de suportar a
ação das ondas e as grandes flutuações no nível da água no reservatório. Se a margem do
reservatório próxima ao sítio selecionado for considerada muito suscetível de erosão de-
corrente das ondas, será preciso escolher um outro local, já que a intensidade deste tipo
de erosão sobre as margens desprotegidas é difícil de avaliar. Se se prevê pouca erosão,
será necessário planejar medidas de proteção da margem.

4.2.5 Canais de Captação

As características de transporte dos sedimentos nas proximidades do ponto de


captação da estação de bombeamento deverão ser entendidas e consideradas na elabora-
ção do projeto do canal de captação. As características hidráulicas e de sedimentação
dos rios que seguem um percurso curvo diferem substancialmente das dos rios que fluem
em linha relativamente reta. A configuração do fluxo nas curvas é caracterizada pela
circulação secundária dentro do fluxo. A água superficial, que se movimenta mais rapida-
mente, se desloca para o fundo no lado externo da curva e volta à superfície no lado
interno. A erosão e o solapamento ocorrem na margem externa, o que cria um canal
encaixado mais profundo. A maioria do material mais fino removido pela corrente em
espiral, assim como parte do material mais grosso do fundo do curso d’água, são desloca-
dos para o lado interno da curva. A Figura 4.6 ilustra um padrão típico de meandros, com

Figura 4.6 Padrões de Meandros Fluviais

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Figura 4.7 Seções Transversais Fluviais

bancos de areia no lado interno (convexo) e buracos resultantes da erosão do leito do rio
no lado externo (côncavo) da curva. Conforme indicado na Figura 4.7, a corrente secun-
dária em espiral puxa ou suga o sedimento em movimento no fundo do rio para o lado
interno da curva, onde o deposita. Conseqüentemente, quando possível, o ponto de cap-
tação da estação de bombeamento deverá localizar-se na curva externa do rio, próximo à
sua extremidade a jusante.

Quando possível, é preferível construir as estações de bombeamento na margem do


reservatório ou do rio, evitando a construção de um canal de captação. Entretanto, isso
nem sempre é possível, devido às condições das fundações junto ao rio, ou à necessidade
de remoção de sedimentos do escoamento, no lado da sucção. Estudos de modelos
hidráulicos demonstram que qualquer derivação do rio, em ângulo de 90 graus, resultará
no deslocamento desnecessário de uma quantidade maior de sedimento para dentro do
canal. É possível obter melhores condições de entrada inclinando-se o canal de captação
na direção montante, de maneira que a água entre no canal, mais ou menos na direção do
escoamento do rio. Um alinhamento do canal aproximadamente tangencial à curvatura,
no trecho jusante da curva, minimiza a quantidade adicional de sedimento que é sugado
para dentro da captação. Em alguns casos, as condições de entrada podem ser aprimora-
das pela construção de espigões, a partir da margem para dentro da área de fluxo, confor-
me apresentado na Figura 4.8. Este plano utiliza a turbulência e os redemoinhos criados
na extremidade dos espigões para conservar a entrada livre de sedimentação.

Se for preciso planejar um canal de captação, este deverá ser dimensionado de


maneira que uma grande fração do material de granulometria da areia, que está sendo
sugado para dentro da entrada, seja depositada. Uma bacia de sedimentação, associada
aos canais de captação, é a melhor maneira de conseguir este efeito.

Também é indispensável elaborar um plano para a remoção periódica dos sedimen-


tos depositados no canal de captação. O custo da remoção e destinação dos sedimentos
deverá ser incluído nos custos estimados de operação e manutenção.

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Figura 4.8 Espigões Utilizados para Minimizar Sedimentação no Canal de


Aproximação

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Além disso, desenvolver-se-á um plano de retenção e remoção dos detritos flutuan-


tes. Em alguns casos, um “log-boom”, localizado no lado do rio do canal de captação,
impedirá que troncos ou árvores penetrem no canal. Será preciso instalar grades contra
detritos na estação de bombeamento, assim como providenciar meios apropriados de
limpeza dessas grades, a fim de impedir a entrada de detritos na estação de bombeamento
(ver subitem 9.3.2, Grades, no Capítulo 9 deste MANUAL).

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Estações de
Bombeamento

5.1 Tipos de Estação

5.1.1 Estações do Lado do Canal

Estas estações de bombeamento (Figura 5.1), situam-se ao lado de um canal, do


qual aspiram a água. Elas podem succionar a água diretamente do canal, ou ter uma
estrutura de captação a partir do canal que alimenta a estação de bombeamento, por
meio de tubulação. Em geral, emprega-se uma estrutura de captação independente da
estação de bombeamento, quando é desejável ter-se uma estrada de operação e manu-
tenção, sem interrupções, ao longo do canal. Neste caso, a tubulação leva a água até a
estação através da estrada de acesso.

5.1.2 Estações na Extremidade do Canal

Estas estações (Figura 5.2), estão situadas na extremidade de um canal e são


utilizadas, em geral, quando é necessário elevar a água acima de uma estrutura geológica,
ou elevar a água a uma nova cota do canal.

Figura 5.1 Estação de Bombeamento ao Lado do Canal

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Figura 5.2 Estação de Bombeamento na Extremidade do Canal

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5.1.3 Estações em Reservatórios ou Rios

Estas estações (Figura 5.3) estão localizadas na margem de um reservatório ou de


um rio e constituem, de modo geral, a primeira estação do sistema que retira água de uma
fonte natural de água e a despeja em canal, tubulação, tanque, ou outro reservatório ou
rio.

5.1.4 Estações Elevatórias

As estações elevatórias (Figura 5.4), estão localizadas em um ponto intermediário


de um sistema de canais, onde há necessidade de bombeamento para elevar a água acima
de uma estrutura geológica, ou até uma cota mais alta. Em geral, tais estações são
precedidas por um reservatório, tanque ou canal de regularização, que oferece maior
flexibilidade operacional e evita ciclagem excessiva das bombas. Observe-se que as esta-
ções na extremidade do canal são, essencialmente, estações elevatórias.

5.1.5 Estações Tipo “Booster”

São as que recebem água diretamente de um sistema de distribuição (de tubulação)


pressurizado e que reforçam a pressão da água distribuída, conforme necessário.

5.2 Tipos de Instalação

5.2.1 Instalações Internas

São estações de bombeamento situadas em estruturas permanentes, que possuem


pé-direito suficientemente alto para permitir a instalação de guinchos, para manuseio dos
componentes da bomba principal e do equipamento auxiliar. Estas estruturas estendem-
se por todo o comprimento do prédio, incluindo sua área de serviço, se existente.

5.2.2 Instalações Externas

São estações de bombeamento sem estrutura permanente para as unidades princi-


pais, o que deixa todas ou parte das bombas expostas às intempéries. O equipamento
auxiliar, a sala de comando e as diversas instalações podem estar situados em um local
conveniente e protegidos, conforme necessário. A área de serviço ou de montagem,
quando existente, pode estar exposta à intempérie ou protegida. Pode estar locada so-
bre o sob o piso superior da edificação, bem como parcial ou totalmente fora da edificação.
São necessários guindastes móveis ou fixos, para manusear os componentes da bomba
principal e o equipamento auxiliar.

5.2.3 Instalações Semi-Internas

São similares às de instalação interna; exceto que a estrutura permanente sobre a


estação não tem pé-direito suficiente para permitir a instalação de guinchos internos. A
estrutura permanente poderá ser coroada por um teto ou uma plataforma. O manuseio
dos componentes do conjunto principal e do equipamento auxiliar é efetuado através de
alçapões com tampas removíveis no teto ou na plataforma. Nas estações de bombeamento
de muito pequeno porte, toda a estrutura de proteção pode ser retirada, de forma a
permitir a instalação ou a remoção do equipamento. Os requisitos de localização do equi-
pamento auxiliar, das diversas instalações e da área de serviço ou de montagem são
similares aos das estações de bombeamento externas.

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Figura 5.3 Estação de Bombeamento em Reservatórios ou Rios

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Figura 5.4 Estação Elevatória

5.3 Áreas Funcionais das Estações de Bombeamento

5.3.1 Área de Serviço

As estações de bombeamento maiores possuem uma área de serviço que serve


para a montagem das bombas principais; a manutenção e a conservação das bombas
principais e do equipamento auxiliar; o depósito temporário de equipamento ou materiais
diversos; e o carregamento e descarregamento dos caminhões. Este espaço é necessário,
pois as bombas principais são demasiadamente grandes para serem transportadas, ou
não é econômico levá-las a uma oficina central para reparos.

Em geral, a área de serviço das grandes estações de bombeamento contém diver-


sos equipamentos, como tanques de armazenamento de óleo, purificador de óleo, poço
de drenagem e bombas do poço, estruturas de acesso (escadas e elevadores), compres-
sores de ar, equipamento de comando e outros equipamentos auxiliares comuns a todas
as bombas.

Em geral, as estações de bombeamento menores não possuem área de serviço, já


que as bombas e o equipamento auxiliar são menores e podem ser enviados a uma oficina
central para reparos.

5.3.2 Vão da Bomba

Nas estações com múltiplas bombas, o vão da bomba é a parte da edificação que
contém uma única grande bomba e o equipamento auxiliar que serve apenas àquela
bomba. Em geral, os vãos e bombas adjacentes são separados por paredes estruturais e,
nas estações de grande porte, são separados também por uma junta de dilatação.

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5.3.3 Área para Armazenamento de Óleo

Normalmente, apenas as grandes estações de bombeamento, que precisam de óleo


para a manutenção dos mancais ou para os sistemas operacionais hidráulicos, têm área
própria para armazenamento de óleo. Nas estações de porte médio, o óleo é armazenado
em uma área rodeada por um muro de contenção do óleo, ou o chão dispõe de um recorte
para receber óleo derramado. Nas grandes estações de bombeamento, o óleo é armazena-
do num cômodo separado, com porta corta-fogo de fechamento automático, a fim de
isolar o óleo do restante da estação, no caso de incêndio.

5.3.4 Área do Equipamento de Canhole e Salas de Canhole

As pequenas estações de bombeamento dispõem, normalmente, de uma área com


o equipamento de canhole da bomba e o equipamento associado. Esta área localiza-se o
mais perto possível das bombas, a fim de minimizar o comprimento dos cabos de canhole
e permitir a inspeção visual das máquinas enquanto o operador manuseia o equipamento,
na modalidade de comando local.

Em geral, as grandes estações de bombeamento possuem uma sala de canhole


separada, onde é colocado o equipamento de canhole, isto porque é necessário que o
local de instalação dos sensíveis componentes eletrônicos dos comandos seja refrigerado.

5.3.5 Área das Baterias

As baterias são colocadas, em geral, numa área isolada que, desta forma, pode ser
ventilada separadamente do restante da estação de bombeamento. As baterias podem
emitir gases prejudiciais à saúde. Além disso, podem explodir, sob determinadas circuns-
tâncias. O isolamento das baterias do restante da estação ajudará a conter qualquer
explosão e minimizará o impacto da explosão na instalação.

5.3.6 Escritórios

São incluídos na estrutura das grandes estações de bombeamento, nas quais há


equipes trabalhando permanentemente. As estações de funcionamento automatizado
podem ter, ou não, escritórios, dependendo das necessidades do projeto.

5.3.7 Vestiários

Também são incluídos nas estações de bombeamento com equipes permanentes.


Dependendo das necessidades do projeto, poderão fazer parte das estações automatizadas.

5.3.8 Poço de Drenagem

Normalmente, o poço de drenagem é para coletar vazamentos de água na estação,


os quais serão removidos posteriormente pelas bombas do poço. Em muitas estações, o
poço de drenagem também é utilizado no esvaziamento das bombas, quando é necessário
efetuar qualquer serviço nas mesmas. Nas grandes estações de bombeamento, o poço de
drenagem é constituído por duas câmaras, de maneira que qualquer óleo que se misturar
à água possa ser separado antes de a água ser bombeada para fora do poço. O objetivo é
evitar a contaminação do meio ambiente com grandes quantidades de óleo.

5.3.9 Área de Montagem do Rotor

Em geral, as grandes estações de bombeamento dispõem de uma área separada


para a montagem do rotor. Estas áreas são necessárias para os grandes motores das
bombas, que chegam desmontados, e cuja montagem final é efetuada na própria estação.

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5.4 Seleção e Operação das Unidades de Bombeamento

5.4.1 Aspectos Gerais

Os crescentes custos da energia elétrica e da construção civil exigem a máxima


atenção na escolha de bombas eficientes. É preciso revisar cuidadosamente os dados de
projeto, para poder garantir que as bombas selecionadas, que operam com a máxima
eficiência sob as condições operacionais propostas estejam prontamente disponíveis. Na
falta de tais bombas, poderá ser mais econômico modificar o sistema e as condições
operacionais. Se as condições operacionais forem substancialmente alteradas após a
escolha das bombas, poderá ser necessário selecionar bombas diferentes, a fim de asse-
gurar uma operação eficiente. Aumentar a submersão das bombas além de dois diâmetros
(2D) do sino de sucção, para atender às novas condições operacionais é raramente
satisfatório, e, portanto, deve ser evitada.

5.4.2 Tipo de Bomba Requerida

O Capítulo 9 deste MANUAL descreve os elementos de mecânica para os diversos


tipos de bomba. Geralmente, as estações de bombeamento alimentadas por canais ou
rios têm poços de tomada abertos. Bombas verticais são utilizadas usualmente neste tipo
de estação. As estações de bombeamento que recebem a água de reservatórios ou tubu-
lações podem ter uma substancial carga hidráulica na sucção, em determinadas condi-
ções operacionais. As bombas centrífugas horizontais, as verticais com carcaça, e as
verticais de sucção no fundo são normalmente fornecidas para estas estações, a fim de
evitar a perda de carga hidráulica na sucção.

Em geral, escolher a bomba correta para uma estação de bombeamento, com uma
altura manométrica que não varie mais do que 10%, acima ou abaixo da altura manométrica
nominal, não é uma tarefa muito difícil. Entretanto, selecionar bombas apropriadas para
as estações que apresentam grandes variações nas alturas de sucção e/ou de recalque,
assim como uma ampla gama de vazões operacionais, é consideravelmente mais complexo.

5.4.3 Número e Dimensões das Unidades

Na seleção do número de unidades necessárias e suas dimensões, é preciso consi-


derar sua confiabilidade, flexibilidade e eficiência, assim como seu custo. Um ou dois
conjuntos poderão ser suficientes, no caso de estações que prestam serviço intermitente,
o que proporcionaria bastante tempo para a manutenção das bombas, com um mínimo de
interrupção do serviço. Entretanto, recomendar apenas uma unidade poderá ser desastro-
so, quando o abastecimento de água depende da operação contínua do equipamento. Em
geral, nas estações de bombeamento dos sistemas municipais de abastecimento de água,
existe uma bomba de reserva.

Uma estação de bombeamento que serve um canal ou uma tubulação de distribuição


requer maior capacidade de regulação do que uma estação que bombeia água de um
reservatório para outro, ou para um canal alimentador. No primeiro caso, poderá ser
necessário instalar um certo número de bombas, ou mesmo bombas de duas ou mais
capacidades, a fim de atender às variações na demanda. No caso de pequenas estações,
é comum selecionarem-se duas unidades com um terço da capacidade da estação, uma
unidade com um sexto da capacidade e duas unidades com um duodécimo da capacidade
da estação. Esta combinação permite aumentos de fluxo equivalentes a um duodécimo da
capacidade da estação, e as perdas não ultrapassam um terço da capacidade, quando
uma das bombas maiores está indisponível.

Em geral, a vazão nominal de cada bomba é incrementada em 3 a 5% (o que se


denomina, normalmente, de fator de desgaste), a fim de garantir que a estação oferecerá

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a descarga necessária, mesmo após operar durante vários anos. Para uma discussão
sobre os efeitos de sedimentação na determinação das necessidades de incremento da
capacidade com relação aos sedimentos, vide item 4.2.2 e Tabela 4.1.Uma outra forma
de lidar com requisitos variáveis de carga e de capacidade é a velocidade variável, que se
está tornando cada vez mais interessante, à medida que são colocados, no mercado,
controladores de velocidade variável mais eficientes. Entretanto, o uso de bombas de
velocidade variável precisa ser analisado cuidadosamente, para cada estação de
bombeamento, a fim de se determinar se serão econômicos. Outros métodos de se obter
flexibilidade da vazão são o estrangulamento e o “bypass”. Contudo, tais métodos são
muito ineficientes e raramente econômicos.

5.4.4 Operação das Unidades de Bombeamento

Sempre que possível, a operação das bombas deverá ser automatizada. Isso pode
ser facilmente conseguido com a tecnologia e o equipamento de canhole hoje disponíveis.
As estações de bombeamento sempre desembocam numa tubulação – seja uma tubula-
ção de descarga, seja um sistema de distribuição pressurizado. A operação de bombas é
discutida no Capítulo 7 deste MANUAL, Tubulações.

5.5 Descrição dos Tópicos Relativos às Estruturas e à Construção Civil

5.5.1 Fundações

5.5.1.1 Aspectos Gerais

Esta seção discute os diversos métodos de se lidar com materiais de fundação


problemáticos, de modo que possam ser utilizados como fundação das estações de
bombeamento. Tais métodos não são, de forma alguma, os únicos com que o engenheiro
pode contar, mas representam respostas comprovadamente eficazes na solução dos pro-
blemas de materiais de fundação problemáticos. Para maiores detalhes acerca dos solos
de fundação e dos métodos de construção que utilizam estes solos, ver o Capítulo 3,
Investigações Geotécnicas.

5.5.1.2 Materiais Sujeitos a Ciclagem (Esplastilhamento)

Determinados materiais de fundação, especialmente os argilitos xistosos, apre-


sentam um fenômeno conhecido como ciclagem (empastilhamento). Quando este mate-
rial é exposto à atmosfera, a camada superior começa a secar e, durante este processo,
formam-se microfissuras, que resultam no descolamento longitudinal de pastilhas des-
sa camada. Este processo continua até que a camada superior se converte num material
pulverulento, que oferece baixíssima resistência ao cisalhamento.

Existem vários métodos para resolver este tipo de problema. A primeira abordagem
é não permitir que o material exposto se resseque, mantendo as necessárias condições de
umidade na superfície, por meio de aspersores. Este método é econômico, mas interfere
um pouco com a construção da estação de bombeamento.

Outro método disponível consiste em cobrir a superfície exposta com uma fina
camada de concreto projetado. A vantagem desta técnica é que, após o concreto projeta-
do ter secado, será possível proceder à construção da estação de bombeamento, sem
qualquer problema adicional.

5.5.1.3 Solos Expansivos

Representam um dos maiores problemas para o projetista das estações de bombea-


mento, devido às enormes pressões desenvolvidas quando este material é umedecido e
se expande.

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A solução mais fácil para o problema dos solos expansivos é construir a estrutura
em um novo local, se a ocorrência for localizada onde não haja este tipo de solo. É
evidente que sempre existem certas limitações na relocação da estação de bombeamento.
Se toda a região apresentar solos expansivos, o que impossibilitará tal transferência local,
o projeto deverá ser elaborado especificamente para fundações em solos expansivos.

Se existir uma jazida de solos não-expansivos próximo ao local da obra, o projeto


poderá incluir uma sobreescavação da área e substituição por solo não expansivo bem
compactado, que possa fornecer uma fundação sólida para a estação de bombeamento.
O reaterro colocado em volta da estrutura também deverá consistir de material não ex-
pansivo da jazida.

Se não houver jazida de solos não-expansivos, o projeto deverá minimizar as cargas


impostas, pelos solos expansivos, na estrutura.

Nestes casos, a estrutura da estação de bombeamento deverá ser sustentada por


exemplo, por tubulões escavados no solo, até se atingir uma camada de material mais
firme. Por cima dos tubulões, construir-se-ão vigas, de modo a transferir todo o peso da
estrutura aos tubulões. O objetivo das vigas e dos tubulões é aumentar suficientemente a
carga sobre o solo abaixo dos tubulões, de modo que o empuxo ascendente do solo seja
contrabalançado pelo peso da estrutura, sem que ocorra deslocamento. É importante que
haja espaços vazios, maiores que o deslocamento previsto para o solo, sob as vigas e a
laje de base da estação de bombeamento, para garantir que estes elementos estruturais
não ficarão sujeitos a qualquer “empuxo ascendente”. O projeto também deverá contem-
plar uma zona de material de aterro não-expansivo, adjacente às paredes da estrutura.

Outro aspecto importante do projeto é a drenagem e proteção superficial da área ou


do pátio de serviço. O projetista deve prever a drenagem da água, para longe da estrutura,
de maneira que não ocorra concentração de água próximo à estrutura, o que permitiria
que o solo umedecesse.

5.5.1.4 Materiais de Baixo Peso Específico

Na maioria dos casos, este problema é resolvido mediante sobreescavação por


baixo da estrutura e substituição do solo de baixo peso específico por outro material
adequado, devidamente compactado, até atingir um peso específico aceitável. Essencial-
mente, criar-se-ia uma fundação flutuante, que espalharia a carga da estrutura.

Em determinadas circunstâncias, se o material tiver peso específico muito baixo ou


se as cargas da estrutura forem significativas, poderá ser necessário fundar a estrutura
sobre estacas ou tubulões.

5.5.1.5 Cavidades de Dissolução

A forma mais fácil de resolver o problema das cavidades de dissolução, em geral


associadas ao calcário cárstico, é relocar a estrutura para uma área que, reconhecidamen-
te, não apresente esse problema. De outra forma, todas as cavidades de dissolução
identificadas durante as investigações ou a construção deverão ser preenchidas.

5.5.2 Cálculo de Estabilidade

O cálculo de estabilidade da estação de bombeamento deverá demonstrar, por meio


de fatores de segurança adequados, a capacidade da estrutura de resistir às forças que
tendem a causar tombamento, deslizamento ou flutuação; deverá também demonstrar
que os valores de capacidade de carga das fundações não foram ultrapassados. As me-
mórias do projeto, resumindo o cálculo de estabilidade, deverão indicar claramente as

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cargas individuais consideradas, para os vários casos, durante e após a construção. As


memórias deverão mostrar ainda a área de base considerada, a magnitude e a distribuição
das forças normais e de cisalhamento no nível da fundação, a localização das principais
juntas de contração e de expansão, a subpressão arbitrada e quaisquer outros fatores
considerados durante o cálculo.

Os valores de projeto permissíveis das fundações serão utilizados com base no


programa de sondagens e nos ensaios de campo e de laboratório.

Nos parágrafos a seguir são empregados os seguintes símbolos:

A = área da base ou seção horizontal considerada (sob compressão);


c = coesão ou resistência unitária ao cisalhamento, aplicada apenas à área
sob compressão;
f = coeficiente de atrito entre o concreto e a fundação;
Q = fator de segurança cisalhamento-atrito;
U = empuxo devido a subpressão, que se arbitra que aja sobre 100% da área
— mais(+) significa ascendente;
H = soma das forças horizontais;
Mo = momento de tombamento no pé da estrutura;
Mr = momento de resistência no pé da estrutura;
W = soma das forças verticais, exceto o empuxo — mais(+) significa descen-
dente.

5.5.2.1 Excentricidade ou Tombamento

A excentricidade da reação das cargas totais, sobre o plano de contato da laje de


concreto da fundação e o material da fundação, deverá ser investigada, e a pressão
máxima não deverá exceder a capacidade de suporte permissível. Poderá ser necessário
alargar e/ou deslocar a base da estrutura, de maneira a reduzir a excentricidade, a fim de
diminuir a pressão máxima e o recalque desigual que poderia causar o desalinhamento,
em relação à vertical, dos eixos dos conjuntos moto-bombas. A importância desta inves-
tigação cresce proporcionalmente às características de compressibilidade dos materiais
das fundações. A relocação da estrutura para uma área com material de fundação de
melhor qualidade constitui a principal solução. Quando se constata a presença de materi-
ais de má qualidade, como areia fofa, argila mole, ou camadas de silte, tal material deve
ser removido, sempre que a sobreescavação necessária não seja excessiva e haja um
material disponível para troca. A seguir, a área deverá ser reaterrada com solo apropriado,
devidamente compactado, até atingir um peso específico adequado. No caso de peque-
nas estruturas sobre fundações de material de má qualidade, às vezes pode efetuar-se
sua compactação, por meio de equipamento apropriado.

5.5.2.2 Atrito

A resistência ao atrito no deslizamento, mais a resistência ao cisalhamento no


deslizamento pode ser expressada pela equação (W – U)f + cA. O coeficiente de atrito,
f, e a coesão ou resistência unitária ao cisalhamento, c, deverão ser determinadas, se
possível, por meio de ensaios de laboratório dos materiais de fundação recolhidos no local
da obra. O valor da resistência ao cisalhamento dependerá das resistências ao cisalhamento
dos materiais das fundações e do concreto. No cálculo do fator de atrito de cisalhamento,
utilizar-se-á o menor valor da resistência ao cisalhamento das fundações ou da resistência
ao cisalhamento do concreto.

No caso de fundação em material argiloso, mas pouco resistente, poderá ser neces-
sário acrescentar chaves de concreto, a fim de fornecer resistência suficiente ao desliza-
mento, por meio do aprofundamento do plano de deslizamento e, assim, aumento do

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valor de (w – u). Se as estruturas estiverem sobre fundação escalonada, apenas 60%, ou


menos, da área da parte horizontal das plataformas superiores deverão ser consideradas
no cálculo de cA, devido à tendência de ruptura dos degraus da fundação.

5.5.2.3 Subpressão ou Flutuação

Todas as estações de bombeamento deverão ser projetadas considerando-se a


subpressão total, quando a água sob pressão tem acesso às fundações da estrutura.
Pode-se arbitrar que a subpressão varia de forma linear entre os pontos de pressão conhe-
cida.

5.5.2.4 Fatores de Segurança

Todos os fatores de segurança são expressados como uma relação entre as forças
de resistência e as forças que tendem a causar o movimento.

Fator de segurança contra:

tombamento = Mr/Mo
atrito de cisalhamento = [(W – U)f + cA]/H
flutuação = W/U

As exigências de estabilidade são estabelecidas com base nos fatores mínimos de


segurança que constam das Tabelas 5.1 e 5.2.

Quando houver a possibilidade de ocorrerem danos de grande magnitude e/ou per-


das de vidas, utilizar-se-ão os valores da Tabela 5.1, para ambas as estações maiores e
menores.

5.5.3 Cargas de Projeto Estrutural

5.5.3.1 Aspectos Gerais

A definição das cargas de projeto é o primeiro passo no cálculo estrutural das


estações de bombeamento. Cada estrutura tem condições de carga e de suporte das
fundações específicas, que poderão exigir variações nos valores típicos apresentados
neste capítulo.

Todas as estruturas deverão ser projetadas de maneira a suportar as cargas perma-


nentes e acidentais máximas que nelas possam incidir, incluindo aquelas que ocorrem
durante a construção, assim como todas as decorrentes dos ventos, das pressões
hidrostáticas e de outras causas similares.

Tabela 5.1

ESTAÇÕES MAIORES
Durante a construção Operacional
Fator mínimo de
Cargas Cargas
segurança contra:
Normais Extremas Normais Extremas
Tombamento 1.1 1.1 1.2 1.1
Atrito de Cisalhamento 2.5 1.1 3.5 2.0
Flutuação 1.1 1.1 1.2 1.1

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Tabela 5.2

ESTAÇÕES MENORES
Durante a construção Operacional
Fator mínimo de
Cargas Cargas
segurança contra:
Normais Extremas Normais Extremas
Tombamento 1.1 1.1 1.2 1.1
Atrito de Cisalhamento 1.5 1.1 2.0 1.5
Flutuação 1.1 1.1 1.2 1.1

5.5.3.2 Cargas Permanentes

Consistem no peso real da própria estrutura, incluindo paredes, pisos, divisórias,


tetos e todas as demais estruturas e acessórios permanentes. Uma vez que sempre exis-
tem tensões das cargas permanentes, a estrutura deverá ser projetada para suportar o
valor total dessas tensões, sem qualquer redução. A carga permanente deverá ser calcu-
lada a partir do peso dos materiais que compõem a estrutura e seus acessórios permanentes.

5.5.3.3 Cargas Acidentais (Variáveis)

Consistem no peso de máquinas, equipamentos, materiais armazenados, pessoas


ou objetos em movimento, guindastes ou outros equipamentos de manuseio e suas car-
gas, cargas de impacto resultantes das cargas anteriores, cargas eólicas, cargas durante
a construção e cargas decorrentes da manutenção. As cargas acidentais de cada estrutura
são determinadas, para cada parte da estação de bombeamento, após um estudo conjun-
to da natureza da distribuição das cargas, das possíveis cargas concentradas, da vibração
e do impacto, assim como de outras cargas temporárias, como as que ocorrem durante a
construção. Na maioria dos casos, será preciso elaborar o projeto com base em cargas
estimadas, antes de os fabricantes fornecerem o peso real do equipamento. Estas cargas
estimadas deverão ser verificadas cuidadosamente, comparando-as a cargas similares
utilizadas em outros projetos, ou será preciso estabelecer um processo de checagem da
adequação dos dados arbitrados.

Em geral, levam-se em conta as cargas acidentais sobre os pisos, arbitrando-se a


existência de cargas uniformes por metro quadrado de área ocupada e prevendo-se a
ocorrência de cargas maiores, considerando estas últimas como concentradas. A nature-
za da estrutura, a relação entre as cargas permanentes e acidentais, assim como a influ-
ência no custo da obra gerada pelas cargas arbitradas, deverão ser considerados na
determinação destes valores.

A Figura 5.5 apresenta as cargas acidentais mínimas uniformemente distribuídas,


utilizadas para as estruturas menores, e a Figura 5.6, para as estruturas maiores. Os
valores fornecidos deverão ser submetidos a cuidadosa verificação, devendo-se fazer
modificações sempre que necessário, de modo a atender os requisitos individuais da
estrutura em estudo.

5.5.3.4 Cargas Acidentais Concentradas

Deverão ser determinadas no projeto as cargas de equipamento que serão despre-


zadas, por estarem adequadamente tratadas nas cargas uniformes, e aquelas que deve-
rão ser contempladas no cálculo, como cargas concentradas. Também deverão ser deter-
minadas as medidas a serem adotadas para o suporte destas cargas concentradas, relati-
vas ao equipamento, enquanto está sendo instalado ou deslocado para conservação,

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Elaboração de Projetos de Irrigação

manutenção ou reparo. O projeto de cada estrutura será acompanhado por um desenho


que mostre onde as cargas mais pesadas podem ser colocadas (Plano de Carga), deven-
do-se manter uma cópia na estação de bombeamento, durante e após a construção. A
carga de um equipamento (peso, incluindo a plataforma de instalação, mais o impacto),
que seja inferior à sua área bruta de base multiplicada pela carga acidental uniforme
atribuída ao piso, deverá ser considerada parte da carga acidental uniforme. Cargas de
equipamentos mais pesados serão objeto de análises específicas.

5.5.3.5 Cargas de Guindastes

Nos anteprojetos, os pesos dos guindastes, os espaçamentos entre rodas e as


cargas máximas por roda são arbitrados com base em experiências anteriores. No caso de
guindastes com capacidades superiores a 115 toneladas métricas, ainda para os antepro-

* (Cargas acidentais concentradas podem ser determinantes no projeto) Kgf/m2

Sala do compressor de ar ............................................................................ 970


Sala de auditório (incluindo palcos), sala de espera de elevadores, etc. ............. 730
Casas ....................................................................................................... 195
Salas de equipamentos elétricos:
Sala de controle ..................................................................................... 975
Sala de equipamentos ............................................................................ 975
Sala dos terminais .................................................................................. 485
Piso para montagem ................................................................................. 2440 *
Área do pórtico móve ................................................................................. 120
Garagens para habitações ........................................................................... 485
Garagens ônibus e caminhões (até 9000kg)
Lages de piso ........................................................................................ 855
Pilares e vigas ....................................................................................... 585
Área para comportas (sem movimentação de transformador) ........................... 975
Piso do gerador ou motor .......................................................................... 2440 *
Galeria do regulador ................................................................................. 2440
Oficina (sem área para máquina de brocar) .................................................. 1465
Escritório (sem arquivos) ............................................................................. 245
Bomba, compressor de ar e sala de óleo ...................................................... 1950
Banheiros .................................................................................................. 245
Telhados:
Horizontal ............................................................................................. 120
Com declividade ...................................................................................... 70
Salas de aula (cadeiras fixas) ....................................................................... 195
Salas de aula (cadeiras móveis) .................................................................... 485
Calçadas ........................................................................................... 485-1220
Escadas .................................................................................................... 785
Armazenagem - cargas leves ....................................................................... 610
Armagenagem - cargas pesadas ................................................................. 1220
Sanitários, armários, etc. ............................................................................ 485
Plataforma para transformadores ................................................................ 1465 *
Bombas de esgotamento ............................................................................. 465

Figura 5.5 Mínimas Cargas Acidentais Uniformemente Distribuídas para


Pequenas Estruturas

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* (Cargas acidentais concentradas podem ser deteminantes no projeto).

(1) Áreas de uso geral (Kgf/m²)

varanda (só operadores) .......................................................................... 485


varanda (para observação) ...................................................................... 730
corrredores, galerias (pouca circulação) .................................................... 485
sala escura ........................................................................................... 730
piso interior para montagem .................................................................. 4880 *
sala para arquivos (vide armazenagem - carga leve) ......................................... -
sala para primeiros-socorros .................................................................... 485
portaria ................................................................................................ 485
cozinha ................................................................................................. 730
patamares (vide escadas) ............................................................................. -
corredores ............................................................................................ 730
vestiário ............................................................................................... 610
escritório com arquivos ........................................................................... 485
recepção (vide corredores) ........................................................................... -
cobertura principal (sujeitas a cargas de estruturas de içamento,
trânsito e armazenagem durante a montagem) ........................................... 610
cobertura principal (não sujeita a cargas de estruturas) ............................... 120
banheiro ............................................................................................... 610
escadas ................................................................................................ 485
armazenagem - carga leve (arquivo, etc) ................................................... 730
armazenagem - carga pesada ................................................................ 1465
sanitários .............................................................................................. 485
plataforma para descarga-rampas (externas) ............................................ 2440 *
passeios (para operadores apenas) ........................................................... 245

(2) Equipamento mecânico

sala do compressor de ar ...................................................................... 1465


piso para maquinário do elevador ........................................................... 1220 *
sala para ventilador (equipamento para ar condicionado,
aquecimento e ventilação ........................................................................ 730
área para comportas (sem movimentação de transformadores) ................... 1465 *
galerias com equipamento leve ou sem equipamento, CO2,
drenagem (sem bombas), trocador de calor, tubos esgotamento
(sem bombas), ventilação ....................................................................... 975
galeria do regulador .............................................................................. 3660
oficina para máquinas de brocar ............................................................. 4880
oficina(com exceção da área para máquina de brocar) ............................... 2440 *
sala para purificação de óleo ................................................................... 975
sala para armazenagem de óleo, área próxima do tanque
(usar peso de óleo e do tanque de metal = 1200 Kg/m³) ............................ 975
área de tubos e válvulas ....................................................................... 1465
oficina para tubos (vide oficina) ................................................................... --
sala de bombas e galerias com:
bombas de drenagem ou de poços ..................................................... 1465
bombas de esgotamento ................................................................... 2440
outras bombas (jato, fogo, óleo, água de serviço, etc.) ........................... 730

Figura 5.6 Mínimas Cargas Acidentais Uniformemente Distribuídas para


Pequenas Estruturas (f 1/2)

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(Kgf/m²)

Pisos dos poços (condutos, tubos, ventilação ............................................ 485


Poço de drenagem - apenas peso da água
(não é permitida a pressão da água)
Sala de ferramentas ............................................................................. 1220
Sala e galeria das turbinas ..................................................................... 1465
Galeria de ventiladores com equipamento (vide sala para ventilador) .................. -
Sala de tratamento da água, próxima aos tanques ...................................... 730

(3) Equipamento elétrico


Galeria de equipamento auxiliar .............................................................. 1465
Sala de baterias ..................................................................................... 975
Sala de cabos ........................................................................................ 975 *
Sala de controle ..................................................................................... 975
Laboratório elétrico - Cabos, condutores, conduítes .................................... 975
Área do gerador principal ........................................................................ 730 *
Área do gerador, serviço ....................................................................... 4880 *
Galeria de equipamento protetor do gerador ............................................ 2440
Sala do motor gerador .......................................................................... 1465
Área de operação (sem estar incluída a área do gerador-área
próxima ao apoio do gerador, com equipamentos leves
ou sem equipamentos) ........................................................................... 975
Sala para serviço do estação ................................................................... 975
Sala de quadros elétricos ........................................................................ 975 *
Sala de telefones ou telefonistas - baterias para telefone ........................... 1465
Sala dos terminais .................................................................................. 485
Área para transferência (transformadores com ou sem pórticos móveis ......... 975
Plataforma do transformador ................................................................. 1465
Sala do transformador - iluminação ........................................................ 2440 *
Sala do transformador - serviços da estação .............................................. 975
Galeria para condutores dos transformadores (vide galerias) ...................... 1905

* As cargas concentradas, tais como cargas com rodas que provocam impacto, podem determinar o projeto, ao invés da
carga uniforme fornecida. Tais cargas podem ser provenientes de transformadores, pósticos rolantos, etc.

Figura 5.6 Mínimas Cargas Acidentais Uniformemente Distribuídas para


Pequenas Estruturas (f 2/2)

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jetos, as cargas precisam ser determinadas especificamente, com base na experiência do


projeto, após consulta ao fabricante do guindaste. É sempre indispensável fazer uma
última verificação do cálculo estrutural, após o fabricante entregar os desenhos finais e as
cargas do guindaste. No caso de prédios com construção em concreto monolítico, as
cargas de impacto decorrentes dos guindastes e as cargas correspondentes deverão ser
calculadas conforme indicado na seguinte tabela.

Cargas de Impacto dos Guindastes


Capacidade do Guindaste Carga do Gancho
Percentual de Carga da Roda
(em toneladas métricas)
até 25 18
25 a 40 15
40 a 72 12
maior que 72 10

O esforço lateral (cargas induzidas pelo movimento do carrinho do guindaste) deve-


rá ser considerado equivalente a 10% do peso do carrinho com carga máxima. Esta carga
deverá ser aplicada como força lateral no trilho do guindaste suportando as cargas máxi-
mas por roda. A carga longitudinal (carga induzida pelo movimento do guindaste) deverá
ser considerada equivalente a 10% das cargas por roda do guindaste, quando o carrinho
com carga plena estiver em uma posição que resulte nas cargas máximas por roda do
guindaste.

5.5.3.6 Cargas de Impacto

Ao projetar os elementos estruturais sujeitos ao efeito dinâmico de cargas móveis,


será preciso prover tolerância adequada para o impacto. A seguir, estão relacionados os
fatores de impacto, pelos quais, em condições normais, se multiplica o valor das cargas
móveis, de maneira a determinar as cargas totais que servirão de base ao cálculo estrutu-
ral desses elementos.

Percentual do Fator de Impacto


Estruturas de suporte de elevadores e outros equipamentos de elevação 100
Fundações, bases e pilares suportando cargas de elevador 40
Lajes, vigas e estruturas de suporte de linhas para ferrovias ou guindastes 20
Lajes, vigas ou estruturas de suporte de veículos automotores em
10
movimento

Em condições singulares e em estruturas especiais, será preciso dar uma tolerância


maior para o impacto. Os fatores a serem considerados na determinação das tolerâncias
de impacto são: extensão e massa da estrutura; natureza dos materiais estruturais; posi-
ção do elemento na estrutura, com referência ao ponto de aplicação da carga transiente;
freqüência, magnitude, velocidade e natureza de vibração da carga acidental; e também a
importância da estrutura, ou seja, se uma falha causaria lesões corporais ou mortes.

5.5.3.7 Cargas Durante a Construção

É indispensável prever cargas decorrentes das operações de içamento ou de ou-


tras operações de montagem. Além disso, devem ser previstos cargas resultantes da
armazenagem de material e equipamento. As cargas durante a construção, assim como
outras cargas temporárias, deverão ser contempladas.

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5.5.3.8 Ações de Vento

A pressão do vento sobre as superfícies verticais expostas dos edifícios e de outras


estruturas com superfícies sólidas planas deverá ser baseada em registros de pressões
eólicas na área da estação de bombeamento. Em áreas com condições de vento normais
e onde não há registros, poderia ser arbitrada em 150 Kgf/m2.

As pressões de vento sobre as superfícies inclinadas poderão ser determinadas por


meio da seguinte fórmula:

N = 300[sin(a)]/{1 + [sin(a)]2}

onde:

N = pressão normal sobre a superfície inclinada, em kg/m2;


a = ângulo de inclinação da superfície, em relação à horizontal, em
graus.

Se a pressão de vento utilizada não for 150 kgf/m2, esta fórmula deverá ser modi-
ficada, substituindo-se o fator “300” por outro fator com valor igual a duas vezes a
pressão de vento utilizada no projeto.

Quando a sucção decorrente do vento for substancial, como ocorre em estruturas


altas e esbeltas, será preciso empregar métodos especiais para estimativa das pressões
eólicas resultantes, utilizar ensaios em modelos, ou ambos.

5.5.3.9 Forças Sísmicas

As estações de bombeamento situadas em regiões de atividade sísmica deverão ser


projetadas para resistir a tensões decorrentes de forças laterais proporcionais à carga
permamente total e às cargas acidentais fixas (como as das máquinas e do equipamen-
to). Em geral, o ponto de aplicação destas forças deverá ser o centro de gravidade de
cada elemento estrutural e equipamento considerado como carga. As forças decorrentes
da carga permanente e da carga acidental fixa do teto, se existir, deverão ser aplicadas na
parte superior das colunas.

Nos prédios com guindastes, será utilizado apenas o peso próprio do guindaste
(descarregado) na determinação das forças laterais causadas pelos abalos sísmicos. Con-
sidera-se que esta força lateral age sobre o prédio, na extremidade superior do trilho do
guindaste.
No caso de paredes verticais sujeitas a carga de água, poderá ser utilizada a curva
de Westergaard (Figura 5.7), que é um método de determinação do efeito hidrodinâmico
de um abalo sísmico horizontal. O efeito de uma aceleração vertical sobre a pressão
hidráulica poderá ser considerado uma alteração direta na densidade da água. Observe-se
que as forças obtidas a partir desta curva devem ser somadas às pressões hidráulicas
estáticas que incidem sobre a parede.

5.5.3.10 Empuxo da Terra

O cálculo de empuxo de terra em paredes verticais ou inclinadas deve levar em


conta todos os condicionamentos externos (inclinação de taludes, sobrecarga, etc.) e
parâmetros adequados para os solos. No Projeto Executivo, esses parâmetros deverão
estar baseados em informações específicas para o local.

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Figura 5.7 Pressão da Águas na Superfície Vertical Durante um Terremoto

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5.5.3.11 Tensões Térmicas e de Contração

Será preciso proteger as estações de bombeamento contra tensões ou movimentos


resultantes de variações térmicas e de contração, por meio de armadura ou juntas. Deter-
minar-se-ão os aumentos e as diminuições de temperatura prevalecentes na localidade
onde estará situada a estrutura, com base em séries históricas de temperatura. Também
será necessário considerar a defasagem temporal entre a temperatura do ar e a tempera-
tura interior dos elementos ou das estruturas de concreto maciço. Durante a construção,
será possível controlar a contração decorrente da secagem, limitando-se o teor de umida-
de do concreto; nas grandes massas de concreto, o resfriamento diferencial poderá ser
controlado por meio de sistemas de tubulações embutidas para arrefecimento.

5.5.3.12 Pressão Hidrostática

Todas as estruturas deverão ser projetadas para suportar quaisquer cargas decor-
rentes da pressão hidrostática. Devem-se prever cuidadosamente as pressões hidrostáticas
residuais provenientes do rápido rebaixamento do nível da água.

5.5.3.13 Subpressão Hidrostática

O projeto das estruturas das estações de bombeamento deverá prever subpressão


máxima quando a água sob pressão tem acesso às fundações da estrutura. Poder-se-á
presumir que a subpressão varia de forma linear, entre pontos de pressão conhecida.

5.5.3.14 Cargas Especiais e Outras Cargas

Será preciso prever cargas especiais e outras cargas, como aquelas discutidas a
seguir, que dependem do tipo de equipamento comprado e do método de operação da
estação de bombeamento.

„ As bases dos motores deverão ser projetadas em função dos torques de frenagem,
de partida, de carga plena, de curto-circuito, ou torque sincronizador, conforme o
caso. As forças de cisalhamento resultantes dessas cargas poderão ser deslocadas
para a estrutura de suporte de concreto, utilizando-se chaves contra cisalhamento
nas bases de placas metálicas, ou embutindo-se toda a base de placas metálicas
num nicho especificamente projetado com esse objetivo. Em geral, os chumbadores,
sozinhos, não transferem estas forças à estrutura de apoio de maneira satisfatória.
„ Se necessário, o peso dos rolos de cabos elétricos com cabo também deverá ser
previsto no projeto dos pisos das galerias de cabos. As cargas resultantes das
tensões dos cabos sobre os terminais das estruturas de partida da estação de
bombeamento também deverão ser contempladas no projeto. As cargas sobre as
vigas de suspensão dos grandes motores, utilizadas para levantar os rotores, tam-
bém deverão ser consideradas. Estas cargas das vigas de suspensão não agem
simultaneamente com as cargas máximas, sobre a base do motor.
„ Nos conjuntos moto-bomba verticais, o empuxo hidráulico sobre o rotor da bomba,
assim como o peso das partes rotatórias, é sustentado por um mancal de empuxo,
que transfere a carga para a armação da base de suporte da bomba. Esta é uma
carga adicional, além daquela do peso da bomba.
„ As cargas decorrentes das pressões das tubulações de descarga, incluindo as rela-
tivas ao efeito de golpe de aríete, deverão ser analisadas, a fim de se determinarem
as forças que impõem sobre as estruturas. As forças que incidem sobre a estrutura
dependem da localização das âncoras, das válvulas e das juntas de expansão das
tubulações, e deverão ser determinadas a partir do leiaute. As forças decorrentes
da operação das válvulas borboleta, e seu ponto de aplicação, dependerão do tipo
de válvula empregada – se de eixo vertical ou horizontal. Outros tipos de válvula,
como as de agulha, utilizadas na descarga de água, poderão resultar em forças que
exijam ancoragem especial.

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„ As estruturas parcialmente sustentadas por outras estruturas podem sofrer deflexões


resultantes dos deslocamentos da estrutura de apoio. As tensões na estrutura apoi-
ada serão equivalentes a cargas aplicadas de tal magnitude que causem a mesma
deflexão. Um exemplo seria uma estrutura parcialmente apoiada numa barragem
que apresenta deslocamentos variáveis de acordo com os diversos níveis da água
no reservatório. Por isso, recomenda-se separar as estruturas que possuem ação
estrutural diferente sob carga, como as barragens e as casas de força, por meio de
juntas de expansão verticais.

5.5.4 Análise Estrutural e Considerações na Elaboração de Projetos

Em geral, a análise estrutural das pequenas estações de bombeamento pode ser


efetuada por meio de simples técnicas bidimensionais, devido à configuração simples da
estrutura. Estas técnicas de análise deverão considerar todas as cargas pertinentes discu-
tidas no subitem 5.5.3 (Cargas de Projeto Estrutural).

As estações de bombeamento exigem maiores uma análise estrutural muito mais


detalhada, devido à configuração estrutural mais complexa e às cargas maiores que incidem
sobre a estrutura.

A análise estrutural deverá incluir um estudo cuidadoso dos deslocamentos que


ocorrem na estrutura, a fim de se assegurar que deslocamentos excessivos não provoca-
rão danos na estrutura ou no equipamento. Recomenda-se atenção especial aos desloca-
mentos máximos permitidos dos apoios estruturais de máquinas que operem a alta velo-
cidade, ou que tendam a vibrar exageradamente. Deslocamentos excessivos poderão
causar vibrações indesejáveis, ou dificultar o ajuste do equipamento. Nestes casos, as
deformações, e não as tensões sobre os elementos estruturais, serão o fator importante
na elaboração do projeto estrutural. Os deslocamentos dos apoios não deverão exceder
0,5mm, no caso das bombas acionadas a motor.

O cálculo estrutural da estação de bombeamento é regido pelos códigos de projeto


desenvolvidos para os diversos materiais utilizados na construção civil. A seguir, encon-
tram-se resumidos alguns exemplos de códigos de projeto empregados pelo “Bureau of
Reclamation”.

„ “Uniform Building Code” (Código Padronizado de Construção);


„ “American Concrete Institute Reinforced Concrete Design Code” (Código para Pro-
jetos de Concreto Armado do Instituto Americano do Concreto);
„ “American Institute of Steel Construction Design Code” (Código de Elaboração de
Projetos do Instituto Americano de Construções em Aço);
„ “American Welding Society Welding Code” (Código de Soldas da Sociedade Ame-
ricana de Soldas).

5.5.5 Considerações Diversas na Elaboração de Projetos

5.5.5.1 Juntas nas Estruturas de Concreto Armado

5.5.5.1.1 Aspectos Gerais

As normas gerais dos projetos de juntas nas estruturas de concreto, assim como os
detalhes, são discutidos nos parágrafos seguintes. Ao projetar grandes estruturas de
concreto armado, o projetista deverá estar ciente da importância de incluir, no concreto,
juntas corretamente situadas, de maneira a facilitar a construção e a evitar rachaduras
deletérias ou de aspecto desagradável. Além disso, as juntas são utilizadas para separar
estruturas ou suas partes, que, quando em operação, se não estiverem separadas, pode-
rão ser prejudiciais ao transmitir, entre si, tensões vibratórias ou outras forças. A disposi-

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ção das principais unidades nas estações de bombeamento exige a elaboração de projetos
de estruturas longas e estreitas, que requerem juntas, não apenas para evitar rachaduras
nocivas, como também para permitir a expansão e assegurar que não haverá desalinhamento
do maquinário, o que poderia ocorrer como resultado de distorção da estrutura. Nas
grandes estações de bombeamento, as juntas localizam-se entre as principais unidades.
Aliás, a estação é dividida numa série de prédios, e cada um deles abriga um conjunto
moto-bomba completo. Estas separações iniciam-se nas fundações e estendem-se por
toda a estrutura, dividindo as paredes, os pisos e os tetos. As classificações, as localiza-
ções e os tipos de junta encontram-se resumidos a seguir.

„ Do ponto de vista da sua utilidade, as juntas nas estruturas de concreto podem ser
classificadas em quatro grupos principais: juntas de construção, de contração, de
expansão e de controle. Com freqüência, as juntas podem combinar duas ou mais
destas funções (vide Figura 5.8).
„ As juntas nos edifícios situam-se entre os grandes conjuntos motobombas, ou en-
tre partes de um edifício com seções transversais muito diferentes; nas junções
entre partes de um edifício, construídas sobre fundações com capacidade de supor-
te muito diferentes; nos vértices entre grandes partes do edifício, como ocorre nos
prédios com formato de L, T ou U; onde a estrutura do edifício se encontra
enfraquecida devido a aberturas; e onde é necessário interromper o lançamento do
concreto. A escolha do local exato das juntas nos edifícios é regida pelos requisitos
estruturais e arquitetônicos.
„ Em determinadas circunstâncias, as juntas são vedadas para impedir a infiltração
de água através das mesmas . Existem dois tipos de vedação: juntas de vedação de
borracha (natural ou sintética) e de PVC. Estas juntas de vedação penetram no
concreto, nos dois lados da junta estrutural. Até recentemente utilizavam-se juntas
metálicas, as quais entraram em desuso devido à mão-de-obras necessária para sua
utilização.

5.5.5.1.2 Juntas de Construção

As juntas de construção resultam de limitações práticas que interferem com o


lançamento contínuo do concreto. São produzidas ao se colocar o concreto fresco de
encontro a outras superfícies de concreto limpas e endurecidas. Em geral, as juntas de
construção são verticais ou quase horizontais, mas não necessariamente. Em todo caso,
a armação é contínua de um lado ao outro da junta, sendo preciso cuidado para se obter
uma boa ligação entre as duas concretagens.

As juntas de construção são necessárias onde há grandes massas de concreto


junto a pequenas massas e onde colocações verticais altas se unem a colocações horizon-
tais extensas. As juntas de construção permitem a maior parte das contrações e dos
assentamentos verticais, que ocorrem quando o concreto endurece, e promovem uma
fissura reta no concreto, ao invés da rachadura irregular e descontrolada que se poderia
formar sem a junta. Na parte inferior da estrutura, essas rachaduras descontroladas não
teriam vedação para impedir a infiltração de água na estrutura.

As chaves contra cisalhamento (Figura 5.9) são incluídas nas juntas de construção
sujeitas a grande cisalhamento, causado por cargas laterais, nas juntas verticais das
paredes da superestrutura, nas lajes dos pisos e nas lajes dos tetos.

É necessário tomar precauções especiais para assegurar a estanqueidade das jun-


tas de construção que ficarão em contato com a água, em especial daquelas sujeitas a
pressão hidrostática. Em tais circunstâncias, as juntas precisam de vedação eficaz. Nes-
ses casos, são utilizadas juntas de vedação de borracha ou de PVC.

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Figura 5.8 Juntas Típicas para Estruturas de Concreto

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Figura 5.9 Chaves para Juntas de Construção

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Figura 5.10 Localização das Juntas de Construção e Contração

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A fim de evitar rachaduras nos cantos, as quais resultam de assentamento de


concreto fresco nas laterais das aberturas das paredes, recomenda-se situar as juntas de
construção conforme indicado na Figura 5.10. Quando não são utilizadas juntas de cons-
trução nas aberturas, a colocação do concreto deverá ser interrompida por um período de
1 a 2 horas, ou o período que for factível, sem causar juntas frias, de modo que o
concreto disponha de tempo para assentar nas formas.

5.5.5.1.3 Juntas de Contração

São utilizadas para aliviar as tensões de tração induzidas pela contração nas estru-
turas de concreto. Comummente são empregadas onde as variações térmicas são pe-
quenas e as alterações de volume no concreto estão unicamente relacionadas à contra-
ção. Diferem das juntas de construção, pois são utilizados meios para impedir a ligação
entre as faces da junta, e a armação é descontínua na junta. Primeiramente, o concreto é
colocado em um dos lados da junta; em seguida, após remover-se a forma da face da
junta, aplica-se um produto de cura, que impede a adesão do concreto colocado de en-
contro a ele. Se a estanqueidade for um requisito, instala-se uma junta de vedação de
borracha ou de PVC. É evidente que as juntas de contração, conforme apresentadas na
Figura 5.8, também podem servir como juntas de construção.

5.5.5.1.4 Juntas de Expansão

Estas juntas, apresentadas na Figura 5.8, eliminam ou reduzem consideravelmente


as tensões compressivas no concreto, que, de outra forma, resultariam da expansão
térmica e que poderiam esmagar, deformar, ou rachar partes da estrutura. Um espaço,
usualmente de 25mm, é deixado entre as faces da junta de concreto, de maneira a
permitir a expansão e a facilitar a introdução do enchimento e das vedações da junta.

As juntas de expansão poderiam denominar-se “juntas de expansão e contração”,


uma vez que normalmente atendem a ambas as funções. Também são utilizadas como
juntas de construção e são, algumas vezes, empregadas abaixo do nível da superfície da
terra, em lugar de simples juntas de contração. Os acessórios das juntas de expansão
encontram-se descritos a seguir.

„ O material de enchimento da junta de expansão é, normalmente, material pré-mol-


dado, elástico e à prova d’água, como a borracha esponjosa. Este material é fixado
nas superfícies verticais do concreto por meio de uma cola à prova d’água, reco-
mendada pelo fornecedor de material de junta.
„ Quando necessário, as juntas de expansão são impermeabilizadas por meio de jun-
tas de vedação de borracha ou de PVC. O uso de juntas de vedação de borracha
flexíveis é necessário, devido ao seu possível deslocamento em mais de uma dire-
ção, como expansão e contração horizontais, assentamento desigual, verticalmen-
te, e uma possível mudança na posição relativa de uma unidade, ou de parte de um
prédio, na sua relação horizontal com um prédio adjacente.

5.5.5.1.5 Juntas de Controle

São planos de fraqueza construídos propositalmente na estrutura, ao longo dos


quais se prevêem rachaduras, mas que não prejudicam o aspecto externo dos edifícios.
Em geral, estas juntas estão situadas nos pisos e paredes do edifício, onde necessário. A
Figura 5.11 apresenta uma junta de controle típica.

5.5.5.2 Tubos e Conduítes Embutidos

Os tubos de drenagem sob pressões superiores a 0,07 kgf/cm2 e os tubos que


contêm líquidos, gases ou vapor a temperatura diversa da temperatura ambiente não

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Figura 5.11 Junta Típica de Controle

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deverão ser embutidos no concreto, exceto quando aprovados previamente pelo enge-
nheiro responsável pelo projeto da estrutura de concreto. Quando esses tubos são embu-
tidos, será preciso prever os movimentos resultantes de variações térmicas. Para tubos e
conduítes embutidos, o projeto deve atender às seguintes restrições:

„ No máximo, 4% da área da seção transversal da coluna deverá ser ocupada pelos


conduítes ou tubos, que deverão estar situados no terço médio da seção da coluna;
„ As dimensões ou a localização das mangas e de outros tubos que atravessam
pisos, paredes ou vigas não deverão prejudicar a resistência do elemento em ques-
tão; tais mangas ou tubos, quando não se encontrarem expostos à ferrugem ou a
outro tipo de deterioração, poderão ser considerados substitutos do concreto des-
locado, do ponto de vista estrutural, sempre que sejam de ferro ou aço não reves-
tido, tenham espessura de parede do tubo igual ou superior à dos tubos de peso
padrão, tenham diâmetro interno nominal que não exceda 50mm e estejam espaça-
dos, pelo menos, três vezes o seu diâmetro de centro a centro, com espaço mínimo
de 55mm entre as paredes dos tubos ou conduítes;
„ Os tubos e conduítes deverão ser embutidos no terço médio de paredes ou lajes. O
seu diâmetro externo não deverá exceder 10% da espessura da parede, no caso de
trechos verticais de tubos, e 20%, nos trechos horizontais de tubos. Nas lajes, o
diâmetro externo dos tubos ou conduítes não deverá exceder 15% da espessura da
laje. Não se deverá permitir o aumento da espessura da laje, para satisfazer estes
requisitos, exceto no caso de pequenas bases de apoio, quando especificamente
autorizado.

5.5.6 Considerações Relativas ao Leiaute da Estação de Bombeamento

5.5.6.1 Captações

O leiaute da captação das estações de bombeamento baseia-se na passagem da


capacidade máxima de vazão através da captação da estação, quando o nível da água na
fonte está no seu ponto mais baixo. Esta abordagem na elaboração do projeto garantirá a
operação da estação de bombeamento na sua capacidade máxima, mesmo quando a
fonte de água estiver em sua cota mais baixa.

Em geral, as dimensões da captação são regidas pelas dimensões das grades ou


telas de detritos, quando utilizadas. Ocasionalmente, a largura da captação é influenciada
pela largura do poço da bomba, ou pela largura do tubo de sucção da bomba tipo turbina
de fluxo radial e eixo vertical. Portanto, o leiaute da captação baseia-se na comparação
dos requisitos relativos a grades de detritos, telas e bombas. As dimensões são definidas
para atender a todos estes requisitos.

A estimativa das dimensões da grade de detritos, para fins de leiaute, é, simples-


mente, uma questão de dividir a capacidade máxima de vazão da estação de bombeamento
pela velocidade máxima de aproximação permissível da água, na chegada à captação da
estação de bombeamento. A velocidade máxima de aproximação às grades de detritos,
quando não há telas, é de 0,6 m/s. A velocidade máxima de aproximação permissível é de
0,3 m/s, no caso das telas para musgo, e de 0,15 m/s, no das telas para peixe.

Se for necessário instalar telas para a remoção de pequenos detritos, recomenda-se


que estejam situadas imediatamente à jusante da grade de detritos. Esta localização
permite que as telas sejam protegidas, pela grade de detritos, contra danos causados por
detritos de maiores dimensões. Em geral, quando são necessárias telas nas captações, é
preciso instalar dois conjuntos de telas e guias, de maneira que, se a tela da frente ficar
suja, seja possível removê-la, mantendo-se a segunda tela no local, desta forma impedin-
do a entrada de detritos na estação de bombeamento.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Em geral, a captação tem ranhuras para os “stoplogs” que permitem esgotar a


captação, quando necessário. Estas ranhuras estão quase sempre situadas à jusante da
grade de detritos, a fim de evitar que grandes detritos se fixem nas ranhuras, o que
dificultaria a instalação dos “stoplogs”.

Com exceção das estações de bombeamento ao lado de canais, as grades de detri-


tos deverão ter inclinação de 1/3:1 a 1/4:1, de modo a facilitar a sua limpeza por meio de
raspagem. Inclinações maiores dificultam consideravelmente a limpeza. Uma pequena
inclinação ajuda os detritos a flutuarem até a superfície, de onde são mais facilmente
removidos.

Nas estações de bombeamento ao lado de canais, a captação e a grade de detritos


deverão ser posicionadas rentes ao lado do canal. Isto minimiza o impacto da captação
sobre a hidráulica do canal e permite que a maioria dos detritos do canal passem ao largo
da captação, ao invés de serem sugados para dentro da grade de detritos.

5.5.6.2 Poços de Bombas

Existem dois tipos de poço de bomba: poços comuns, que fornecem água para mais
de um conjunto moto-bomba, e poços individuais, que atendem a apenas um conjunto.

O processo de elaboração do leiaute inicia-se com a determinação do nível de água


mínimo no poço, que é encontrado subtraindo-se qualquer perda de altura hidráulica que
ocorra através das grades de detritos e das telas do nível mínimo na fonte de água. Em
geral, a perda hidráulica através da grade de detritos suja é arbitrada em 0,3m, enquanto
a perda de altura hidráulica, através de uma tela suja, varia entre 0,3 e 0,6m.

A cota da laje de base do poço é determinada subtraindo-se a submersão requerida


para a bomba, em geral duas vezes o diâmetro do sino da bomba, e um valor adicional
equivalente à metade do diâmetro do sino da bomba, do nível de água mínimo no poço
(vide Figura 5.12).

O comprimento do poço é determinado pela distância entre os conjuntos moto-


bombas e as grades de detritos, as telas, ou mudanças acentuadas na configuração da
estrutura do poço. Em geral, o conjunto moto-bomba situar-se-á a uma distância de, pelo
menos, 5,5 vezes o diâmetro do sino da bomba (vide Figura 5.12) destes elementos da
estrutura. Desta forma, é possível garantir que qualquer redemoinho decorrente de tais
elementos possa dissipar-se antes de a água chegar aos conjuntos motobombas.

Nos dois tipos de poço, comuns e individuais, a parede posterior do poço deverá
estar situada a uma distância equivalente a 0,75 vezes o diâmetro do sino da bomba, em
relação ao eixo central do conjunto moto-bomba (vide Figura 5.12).

Nos poços comuns, cada conjunto deverá estar separado do adjacente por uma
distância mínima equivalente a duas vezes o diâmetro do sino da bomba, medido a partir
dos eixos centrais dos conjuntos. Nos poços individuais, as paredes laterais deverão estar
situadas a uma distância equivalente ao diâmetro do sino da bomba, medido a partir do
eixo central do conjunto (vide Figura 5.12).

5.5.6.3 Bases das Bombas

O leiaute e o projeto das bases das bombas é um aspecto importante do projeto


geral da estação de bombeamento, uma vez que é através das bases das bombas que
todas as cargas das bombas são transferidas para a estrutura. Os leiautes e os projetos
deficientes podem ocasionar o desalinhamento do eixo da bomba e uma transferência
incorreta das cargas à estrutura.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 5.12 Critério para o Leiaute das Estações de Bombeamento (fl 1/2)

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Figura 5.12 Critério para o Leiaute das Estações de Bombeamento (fl 2/2)

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A Figura 5.13 apresenta os detalhes típicos de montagem de uma bomba, que,


demonstradamente, fornecem uma boa fundação para os diversos tipos de conjuntos
moto-bombas.

Os detalhes são apresentados para bombas de eixo horizontal e de eixo vertical.


Além disso, são apresentados detalhes de bombas montadas num rebaixamento do piso
estrutural e em bases.

As dimensões das bases são definidas tomando-se as maiores dimensões da base


ou placa sapata de apoio da bomba e adicionando-se uma distância suficiente para se
incluírem os detalhes que constam da Figura 5.13.

5.5.6.4 Espaçamento das Bombas

O escapamento entre as bombas depende das dimensões das bombas, do motor,


do tubo de sucção, se a unidade tiver um, do espaço em torno do conjunto necessário à
manutenção, da largura da tomada dágua e da necessidade de elementos estruturais de
apoio ao conjunto moto-bomba.

O espaçamento das bombas tipo turbina de fluxo radial e eixo vertical, que possu-
em um tubo de sucção de concreto, é determinado comparando-se as quatro dimensões
descritas a seguir e selecionando-se a maior delas, para o espaçamento dos eixos centrais
das unidades de bombeamento.

„ A primeira dimensão é calculada como a largura máxima do tubo de sucção mais a


largura de concreto necessário entre o vão e vão adjacente, de maneira a suportar
a estrutura da estação de bombeamento acima dela (vide Figura 5.14). No caso de
tubos de sucção largos, que precisam de um pilar central para ajudar a suportar a
estrutura, esta dimensão é determinada conforme indicado na Figura 5.15.
„ A segunda dimensão é calculada como a largura máxima da caixa espiral da bomba,
mais algum espaço próximo à caixa para a instalação, além da largura de concreto
necessária para fornecer apoio estrutural (vide Figura 5.16).
„ A terceira dimensão é calculada como a largura máxima da carcaça do motor mais
o espaço útil entre os motores, necessário para a manutenção (vide Figura 5.17).
„ A última dimensão é calculada como a largura máxima da captação (vide subitem
5.5.6.1, Captações), mais a largura de concreto entre captações adjacentes, neces-
sária para fornecer apoio estrutural.

Determina-se o espaçamento das bombas tipo turbina de fluxo axial e eixo vertical
comparando-se três dimensões e selecionando-se a maior delas para ser utilizada como
espaçamento do eixo central da unidade de bombeamento. A primeira dimensão é calcu-
lada como a largura da base do conjunto moto-bomba (vide subitem 5.5.6.3, Bases das
Bombas, para a determinação das dimensões do pedestal), mais do espaço útil necessário
para se efetuar a manutenção do conjunto (vide Figura 5.18). A segunda dimensão é
calculada como sendo a largura máxima do motor, mais o espaço útil necessário à manu-
tenção. A última dimensão é calculada como a largura máxima da captação, mais a
largura de concreto entre captações adjacentes, necessária para fornecer apoio estrutural.

O espaçamento das bombas centrífugas horizontais é determinado de maneira a


assegurar o espaço útil suficiente entre bases de poços adjacentes (ver subitem 5.5.6.3,
Bases das Bombas, para a determinação das dimensões da Base), para efetuar-se a manu-
tenção do conjunto moto-bomba (vide Figura 5.19).

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 5.13 Detalhes de Montagem das Bombas – Bombas de Eixo Horizontal (fl
1/2)

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Figura 5.13 Detalhes de Montagem das Bombas – Bombas de Eixo Horizontal (fl
2/ 2)

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Figura 5.14 Espaçamento dos Conjuntos Moto-Bombas Baseado nas Dimensões


dos Tubos de Sucção sem Pilares Centrais

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Figura 5.15 Espaçamento dos Conjuntos Moto-Bombas Baseado nas Dimensões


dos Tubos de Sucção com Pilares Centrais

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Figura 5.16 Espaçamento dos Conjuntos Moto-Bombas Baseado nas Dimensões


das Caixas Espirais e do Espaço para Montagem

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Figura 5.17 Espaçamento dos Conjuntos Moto-Bombas Baseado nas Dimensões


do Alojamento do Motor

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Figura 5.18 Espaçamento dos Conjuntos Moto-Bombas Baseado nas Dimensões


da Base da Bomba e no Diâmetro do Motor

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Figura 5.19 Espaçamento dos Conjuntos Moto-Bombas de Eixo Horizontal

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5.5.6.5 Áreas e Salas de Armazenamento de Óleo

No leiaute preliminar das estações de bombeamento, é importante considerar o


armazenamento de óleo.

Nas pequenas estações, será suficiente prover uma área rebaixada no piso da área
de serviço para o armazenamento do óleo necessário à operação normal da estação. O
reservatório de óleo e as bombas são colocadas nessa área rebaixada, que deve ter
suficiente capacidade para acomodar todo o volume de óleo contido no reservatório, no
caso de derramamento. A área rebaixada deverá estar conectada ao sistema de drenagem
da estação de bombeamento por meio de uma válvula, que normalmente fica fechada,
mas que pode ser aberta para drenar qualquer água limpa que ali se acumular.

Nas estações maiores, onde são utilizados grandes volumes de óleo, será necessá-
rio um cômodo separado para armazenar esse óleo. Em geral, este cômodo possui uma
área rebaixada ou um muro de contenção, dentro do qual se criará uma área de contenção
do óleo, com volume suficiente para acomodar todo o óleo, no caso de derramamento. A
área de contenção deverá ter um dreno corta chama (Figura 5.20) conectado ao sistema
de drenagem da estação de bombeamento. O dreno corta-chama servirá para sustar as
chamas do óleo, no caso de incêndio, antes de elas entrarem no poço de drenagem.

Em geral, os cômodos de armazenamento de óleo dispõem de portas corta-fogo, de


fechamento automático. Estas portas deverão ter capacidade nominal de contenção de
incêndio de, no mínimo, uma hora.

Também têm sistemas de ventilação separados do restante da estação de bombea-


mento, de maneira que, se houver incêndio no local, a fumaça e os gases expelidos não
entrem nas outras áreas da estação.

5.5.6.6 Salas de Canhole

Em geral, as salas de canhole das grandes estações de bombeamento são previstas


para assegurar um espaço refrigerado para o sofisticado equipamento eletrônico de canhole
que poderá ser instalado. Instalando-se o equipamento num só cômodo separado, é pos-
sível restringir-se, ao mínimo, a capacidade da unidade de condicionamento do ar. Tam-
bém servem para proteger o pessoal de operação e de manutenção do barulho gerado
pelas moto-bombas.

Para a sala de canhole, deverá considerar-se a instalação de um sistema de piso


elevado. Estes sistemas são constituídos por pedestais de aço que sustentam uma arma-
ção de elementos de aço que, por sua vez, sustentam painéis de assoalho removíveis.
Uma das vantagens deste sistema é que permite a livre disposição de cabos entre os
diversos equipamentos da sala, eliminando-se, assim, a necessidade de conduítes embu-
tidos ou de canaletas para cabos. Outra vantagem é uma maior flexibilidade no leiaute do
equipamento e sua rearrumação, sem qualquer impacto para a estrutura.

São duas as abordagens na elaboração do leiaute desses sistemas de piso elevado.


A primeira é montar o sistema numa área rebaixada na estrutura, cuja profundidade deve-
rá ser equivalente à altura do sistema, em geral 30cm. Esta abordagem permite que o
assoalho da sala de controle esteja no mesmo nível do piso exterior à sala de comando
(vide Figura 5.21). Como existe um rebaixamento na estrutura, será preciso incluir um
dreno de piso para remover qualquer água que ali se acumule.

A segunda abordagem é montar o sistema de piso elevado diretamente sobre o piso


estrutural, ao invés de rebaixar o piso na sala de controle (vide Figura 5.21). A vantagem

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Figura 5.20 Dreno Corta-Chama

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Figura 5.21 Instalação do Sistema de Piso de Acesso Levantado

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desta abordagem é simplificar o leiaute e a elaboração do projeto de armação do piso


estrutural, já que não haverá área rebaixada.

Outra importante consideração no leiaute da sala de canhole é um meio adequado


de saída, em caso de incêndio, ou de outra emergência. Uma vez que as salas de coman-
do estão continuamente ocupadas, é importante que tenham, pelo menos, duas saídas.
Em geral, as portas encontram-se localizadas em extremidades opostas da sala e em
diagonal, uma em relação à outra.

5.5.6.7 Salas de Baterias

Conforme anteriormente mencionado, as baterias são colocadas em cômodo pró-


prio, com ventilação independente do restante da estação de bombeamento, uma vez que
as baterias podem emitir gases perigosos.

Além disso, em determinadas circunstâncias, podem explodir, de modo que seu


isolamento é importante para a proteção do pessoal e do equipamento.

Devido à natureza tóxica do fluido das baterias, em geral se inclui um lava-olhos e


um chuveiro especial, com grande volume de água, dentro do cômodo, de maneira que
o pessoal possa lavar-se rapidamente e eliminar qualquer respingo de fluido de bateria
nos corpos ou nas roupas.

5.5.6.8 Vãos de Escada

Nas estações de bombeamento com vários andares, o prédio deverá ser construído
com vãos de escada isolados, situados nas extremidades opostas da estrutura, os quais
possam oferecer um meio de fuga, em caso de incêndio. Cada vão de escada deverá ter
portas corta-fogo e pressão de ventilação positiva, para que a fumaça não possa entrar no
vão da escada.

5.5.6.9 Sistemas de Drenagem da Estação de Bombeamento

As grandes estações de bombeamento deverão ter um sistema de drenagem para a


coleta e a remoção de água. O sistema de drenagem desvia a água para o poço, do qual
é bombeada para fora da estação.

O sistema é composto por valas no perímetro da estação, construídas nos pisos


estruturais, ao longo das paredes externas. Essas valas canalizam a água para os drenos
de piso, situados a intervalos máximos de 10m.

Drenos de piso também devem estar locados próximo a cada conjunto moto-bom-
ba, nas canaletas ou galerias da tubulação e em qualquer local aonde possa haver vaza-
mento. Em geral, estes drenos são instalados rente à superfície do piso.

5.5.6.10 Poço de Drenagem

Nas pequenas estações de bombeamento, a água de drenagem é eliminada por


meio de declividade no piso, de maneira que ela escoe para um ponto mais baixo, onde há
um pequeno rebaixo para coletá-la. No rebaixo do piso é instalada uma pequena bomba,
que periodicamente bombeia a água acumulada para fora da estrutura. Não é necessário
prever-se a separação do óleo, devido às pequenas quantidades presentes nestas esta-
ções.

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Em geral, as estações de bombeamento maiores possuem um poço para a coleta da


água de drenagem, sua separação do óleo e a remoção final da estação, por meio da
bomba do poço. A Figura 5.22 apresenta um poço típico de duas câmaras, especifica-
mente projetado para que o óleo possa ser separado da água antes de ser bombeado para
fora da estação.

Nas estações de bombeamento de porte médio, em geral o volume do poço é


equivalente ao volume necessário para esgotar completamente um único conjunto moto-
bomba.

Nas estações maiores, o volume do poço é uma pequena porcentagem do volume


necessário para esgotar completamente um único conjunto motobomba, em geral 10%.
Esta maneira de dimensionar o poço permite minimizar suas dimensões.

Figura 5.22 Poço de Drenagem de duas Câmaras

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5.5.7 Considerações Relativas ao Leiaute do Pátio de Serviço

A área em volta da estação de bombeamento é conhecida como o pátio de serviço.


Um leiaute adequado do pátio de serviço é importante para a operação da estação de
bombeamento, pois é através dele que se acessa a estação. Um leiaute impróprio dificul-
tará o acesso à estação e, conseqüentemente, sua operação e manutenção. Se a drena-
gem da superfície do pátio for deficiente, poderão ocorrer assentamento e erosão, o que
também dificultará o acesso à estação.

Um aspecto importante na elaboração de um bom projeto de pátio de serviço é a


inclusão de acesso adequado em volta de toda a estação, para veículos, caminhões de
serviço e guindastes móveis. É indispensável que seja provido espaço suficiente para que
estes veículos possam manobrar e virar facilmente no pátio. O espaço necessário depen-
derá do tamanho da estação de bombeamento, do tamanho dos veículos de serviço e
dos caminhões que terão acesso à estação, e da necessidade de armazenamento de
materiais e equipamento no local.

Uma drenagem adequada do local é crucial na elaboração do projeto do pátio de


serviço. Este deverá ter declividade mínima de 25mm/m, a fim de impedir o empoçamento
de água perto das estruturas, o que é muito importante para as instalações construídas
sobre solos expansivos ou colapsíveis, que podem reagir adversamente à umidade. O
ponto mais alto do pátio sempre deverá estar próximo à estrutura e o ponto mais baixo,
no seu perímetro. A declividade do pátio entre os pontos mais alto e mais baixo deverá ser
uniforme, sem qualquer área onde possa ocorrer empoçamento de água.

Cada pátio de serviço deverá ter uma vala de drenagem em torno do seu perímetro,
para coletar a água do escoamento superficial e desviá-la para longe da estação de
bombeamento e do pátio de serviço. Em geral, estas valas têm taludes laterais de 2:1,
mas poderão ser necessários taludes menos íngremes, conforme o tipo de solo em que a
vala for construída. Estas valas deverão ter um ponto mais alto e estar inclinadas para
longe deste ponto alto, mas com pouca declividade, de maneira que não ocorra erosão.

O pátio de serviço deverá ser revestido de cascalho, a fim de garantir uma superfí-
cie bem drenada para o tráfego de veículos.

Devido ao substancial investimento que representa, a estação de bombeamento


deverá ser devidamente cercada. Em geral, a cerca tem um portão duplo suficientemente
largo para permitir a entrada e saída de qualquer tipo de veículos de serviço. Algumas
vezes, há também um pequeno portão para pedestres, para que não haja necessidade de
abrir o portão de acesso de veículos para entrar na estação.

5.5.8 Considerações Relativas ao Leiaute da Subestação

As considerações relativas ao leiaute do pátio de serviço, discutidas anteriormente,


também são válidas para as subestações. Entretanto, as subestações apresentam algu-
mas diferenças importantes que podem ter impacto no seu leiaute.

Devido às altas voltagens presentes nas subestações, os afastamentos elétricos


requeridos entre os diversos equipamentos podem determinar as dimensões e o leiaute da
subestação. Estes afastamentos deverão ser fornecidos pelo engenheiro elétrico encarre-
gado da supervisão da elaboração do projeto da subestação.

A contenção de vazamentos de óleo é importante no leiaute das subestações. Os


transformadores situados na subestação contêm quantidades substanciais de óleo que
precisam ser contidos, no caso de um vazamento. Isso é conseguido mediante a constru-

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ção de bermas de terra em volta dos transformadores, ou a colocação dos transformado-


res sobre fundações de concreto que possuam um muro de contenção nelas incorporado.

Nas subestações com mais de um transformador, poderá ser desejável construir


paredes corta-fogo de concreto entre cada transformador, o que permitiria menor
espaçamento entre eles e, conseqüentemente, uma redução da área da subestação. Se o
transformador pegar fogo ou explodir, a parede corta-fogo ajudará a proteger os transfor-
madores adjacentes.

As subestações localizadas dentro do pátio de serviço sempre deverão ser cerca-


das, mesmo quando o próprio pátio já é cercado. Desta maneira, o pessoal de operação e
de manutenção ficará protegido do equipamento energizado.

Se a estação de bombeamento dispuser de uma adutora subterrânea, a subestação


não poderá ser instalada diretamente acima dela, de maneira que, se houver necessidade
de desenterrar a adutora para reparos, a escavação não atinja a subestação.

5.5.9 Considerações Relativas à Construção

Esta seção resume alguns pontos importantes relativos à construção, os quais


precisam ser levados em consideração pelo projetista e serem incorporados às
especificações, a fim de que a estrutura da estação de bombeamento seja construída
corretamente.

Os taludes dos cortes na escavação para a estação de bombeamento deverão ser


especificados de acordo com o tipo de material presente e com sua estabilidade após a
escavação. Em geral, o talude de 0,5; 1 nos cortes em rocha é estável, mas deverá ser
verificado pelo engenheiro geotécnico. As rochas fragmentadas, como os arenitos, deve-
rão ser cuidadosamente examinadas, de modo a se ter a segurança de que não haverá
qualquer deslocamento repentino de um bloco de rocha durante a construção. Em alguns
casos, poderá ser necessário fixar os blocos de rocha por meio de chumbadores, a fim de
estabilizar o corte.

Em geral, os taludes dos cortes em escavações temporárias, em solos firmes, po-


dem ser de 1:1. Material solto exigirá taludes menores, a fim de conservar a estabilidade
do solo. Os taludes de cortes em escavações permanentes deverão ser menores, devido
à sua natureza permanente. Quando necessário, recomenda-se a realização de uma aná-
lise de estabilidade para os taludes de escavações permanentes ou temporárias, a fim de
verificar a estabilidade dos taludes.

A colocação do concreto sobre fundações em rocha ou em solo exige uma superfí-


cie limpa, de maneira a se obter um contato firme entre o material da fundação e o
concreto. Conseqüentemente, a superfície da fundação deverá ser isenta de qualquer
rocha solta, detrito ou outro material, antes da colocação do concreto. Imediatamente
antes da colocação do concreto, a fundação deverá ser borrifada com água, de modo que
a rocha ou o solo não absorvam água excessiva do concreto.

Não deverão ser utilizados produtos para cura em superfície de concreto que rece-
berá concreto adicional, exceto em locais, como as juntas de contração, onde se deseja
impedir a liga entre os dois lançamentos de concreto. De outra forma, o produto de cura
deverá ser removido por meio de jato de areia, antes do próximo lançamento. O método
recomendado de cura do concreto é cobri-lo com telas de plástico, a fim de impedir que
seque rapidamente.

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Antes do lançamento de uma camada de concreto sobre outra superfície de concre-


to, a superfície da junta deverá ser limpa de qualquer detrito ou matéria orgânica. A
superfície de concreto já existente deverá ser borrifada com água, para reduzir a quanti-
dade de água absorvida do concreto fresco que está sendo colocado.

Sempre que possível, evitar-se-ão juntas frias no concreto. No caso de ocorrer uma
junta fria, a empreiteira deverá limpar a junta imediatamente, removendo qualquer agrega-
do solto, antes que endureça. Mais tarde, quando continuarem as operações de lança-
mento de concreto, a junta fria deverá ser tratada com jato de areia, de modo a preparar
e limpar a superfície onde a próxima camada de concreto será colocada.

No caso de juntas horizontais, sobre superfícies que ficarão aparentes quando a


estrutura estiver concluída, a construção deverá seguir o indicado na Figura 5.23. A Figu-
ra 5.24 apresenta a maneira correta de se construírem juntas horizontais na base das
paredes. Os detalhes fornecidos na Figura 5.24, para a base das paredes, ilustram a
formação de uma pequena saliência de concreto endurecido acima do piso contra o qual
as formas podem buscar apoio. As juntas construídas de acordo com estes detalhes se
apresentam limpas e de boa qualidade.

Se as especificações determinarem a instalação de juntas de vedação nas juntas


estruturais, as instruções do fabricante, relativas ao corte e à emenda do material de
vedação, deverão ser fielmente obedecidas. Numa estação de bombeamento, as juntas
de vedação são a primeira linha de defesa contra o vazamento, e qualquer junta de vedação
incorretamente executada poderá trazer problemas.

A realização de aterro compactado em volta da estrutura é outra importante consi-


deração na construção das estações de bombeamento, a qual poderá ter um impacto na
estrutura. O reaterro adjacente à estrutura não poderá conter qualquer pedra de diâmetro
superior a 75mm, até um metro de distância da estrutura. Os matacões maiores, jogados
na escavação, poderão bater na estrutura com força suficiente para lascar o concreto e
expor a armação. Além disso, no caso de pedras maiores no material de reaterro, torna-se
difícil eliminar os espaços vazios durante a compactação do material. Esses espaços
vazios poderão resultar em assentamento indesejável do aterro, ao longo do tempo.

Ao colocar material de reaterro compactado em torno da estrutura, a maior cota do


aterro, em cada lado da estrutura, não deverá variar mais de 15cm, a fim de se evitar que
a estrutura seja exposta a uma carga desequilibrada de terra.

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Figura 5.23 Método de Construção de Formas para Lançamentos Sucessivos

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Figura 5.24 Juntas de Construção em Paredes de Toco

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CANAIS E
ESTRUTURAS
ASSOCIADAS

6.1 Introdução

Os formatos das seções de canal, os tipos de materiais de revestimento e as diver-


sas estruturas associadas utilizadas nos sistemas de canais evoluíram ao longo do tempo,
em função da experiência adquirida em diversos países. Algumas mudanças resultaram
de aprimoramentos nos materiais e nas técnicas de construção; outras surgiram da expe-
riência na operação e na manutenção dos sistemas existentes e ainda outras decorreram
de tentativas de padronização das seções e das estruturas dos canais.

6.2 Seções de Canal e Itens Relacionados às Seções de Canal

São inúmeros os fatores a serem considerados na seleção de uma seção de canal.


Dentre tais fatores, destacam-se as perdas por infiltração, os tipos de revestimento, a
borda livre, a curvatura permissível no eixo do canal e os problemas associados a seções
com aterro alto ou escavação profunda.

6.2.1 Revestimento de Canal

Existe uma série de fatores que podem influenciar a seleção do tipo de revestimento
a ser utilizado. Diferentes tipos de revestimento oferecem a melhor solução para situa-
ções diversas, e nenhum tipo pode ser recomendado para todas as situações. É indispen-
sável efetuar uma avaliação econômica que inclua elementos tais como o custo da terra,
o custo da água, estimativas dos custos de construção e estimativas dos custos de
operação e manutenção dos diversos revestimentos que estão sendo considerados. An-
tes de se selecionar o tipo de revestimento, além da avaliação econômica, deverão ser
levados em consideração localização, condições climáticas, questões construtivas, ques-
tões ambientais, questões relativas à operação e à manutenção, experiência com outros
sistemas existentes, assim como bom senso e conhecimentos gerais de engenharia.

Os três principais sistemas de revestimento utilizados são os revestimentos de


concreto, de terra compactada e de membrana plástica enterrada. A seguir, são discuti-
dos os critérios gerais relativos a esses três tipos de revestimento.

6.2.1.1 Revestimento de Concreto

O concreto produz uma barreira dura, que geralmente resulta numa baixa taxa de
infiltração, constitui um obstáculo impenetrável para os animais que cavam e reduz signi-
ficativamente o crescimento de ervas daninhas na seção do canal. Além disso, o revesti-
mento de concreto possui certas características hidráulicas e estruturais que o tornam
uma alternativa desejável em muitas circunstâncias. As velocidades de escoamento mai-
ores que o revestimento de concreto permite, podem reduzir os depósitos de silte e

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Elaboração de Projetos de Irrigação

impedir o crescimento de alguns tipos de plantas aquáticas. A seção de um canal reves-


tido de concreto será menor do que a de um revestido de terra, nas mesmas condições de
vazão e de declividade do fundo, devido à eficiência hidráulica maior e a taludes laterais
permissíveis mais acentuados. Isso pode ser importante se houver pouco espaço de tra-
balho ou de faixa de domínio disponíveis.

„ Seções Típicas – A Figura 6.6 apresenta uma seção típica de canal com revesti-
mento de concreto, assim como detalhes relativos a revestimento de concreto não-
armado. A espessura do revestimento de concreto não-armado varia de 65mm a
115mm, dependendo das dimensões do canal. Os critérios empregados na deter-
minação dos limites da espessura do revestimento constam das Figuras 6.1 e 6.8.
É necessário evitar que a água de escoamento superficial, proveniente de chuvas,
migre por trás do revestimento, a fim de impedir pressões hidrostáticas prejudiciais
e possíveis problemas de recalque. A aba superior do revestimento de concreto,
aliado ao talude de terra da estrada de operação e manutenção que corre ao longo
dessa borda, conforme apresentado na Figura 6.6, ajudará a prevenir esse tipo de
situação.

„ Taxa de Infiltração – Para os revestimentos de concreto de qualidade, com juntas


bem construídas, a taxa de filtração deverá ser inferior a 0,0213m3, por metro
quadrado de perímetro úmido, por período de 24 horas. Se a perda por infiltração
prevista num canal sem revestimento for de 0,15m3/m2/24h, a seção do canal
deverá ser revestida. O subitem 6.2.3.5, Perdas por Filtração, fornece informações
adicionais para estimar as perdas por infiltração. Para manter baixas as taxas de
infiltração durante a vida útil do canal, é necessário que o sistema de revestimento
seja adequadamente mantido.

„ Revestimento de Concreto Armado – A Figura 6.7 apresenta detalhes do revesti-


mento em concreto armado, cuja espessura varia de 90mm a 150mm. Os critérios
para a determinação dos limites de espessura desses revestimentos são relaciona-
dos na Figura 6.8. É possível substituir-se as barras de armadura por tela de arame
soldado, caso não haja problema em manter a tela no centro do revestimento. O
revestimento armado pode ser utilizado em áreas de aterro alto, onde há possibili-
dade de recalque ou de recalque diferencial. O reforço com armadura impede a
formação de trincas no canal, que poderiam resultar em infiltração excessiva. Outra
aplicação do revestimento em concreto armado é a de minimizar a infiltração em
áreas de solos de fundação problemática. Deverá ser utilizado revestimento arma-
do, com juntas de vedação, onde possam existir altas velocidades de escoamento,
como à jusante de uma comporta com carga hidráulica. Isto reduziria a possibilida-
de de subpressões levantarem o revestimento e de os finos do solo atravessarem as
juntas. Em geral, as juntas no revestimento de concreto armado possuem vedações
que impedem vazamentos.

„ Juntas de Contração no Revestimento de Concreto – O revestimento de concreto


não-armado sofre rachaduras causadas pela retração decorrente do processo de
cura. As juntas de contração são executadas a intervalos que constam da Figura
6.1, a fim de controlar o local onde as rachaduras surgirão. Muitos métodos dife-
rentes têm sido investigados, com o intuito de fornecer a maior estanqueidade
possível nas juntas de contração. Atualmente, o método mais utilizado é o de
injetar um selante elastomérico nas ranhuras pré-moldados, conforme indicado na
Figura 6.9. As ranhuras devem ter profundidade equivalente a um terço da espessu-
ra do revestimento, de modo a assegurar a adequada formação de trincas no local
da ranhura. Além disso, deverão ser submetidas a limpeza cuidadosa com jato de
areia, imediatamente antes da colocação do selante elastomérico, a fim de garantir
uma boa ligação entre o selante e o concreto. Se os canais com o selante elastomérico
ficarem sem água por longos períodos, o selante poderá deteriorar-se devido à

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Figura 6.1 Características Físicas de Canais

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Figura 6.2 Características Hidraúlicas de Canais

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Figura 6.3 Características Hidraúlicas de Canais

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Figura 6.4 Características de Estradas de Operação e Manutenção

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Figura 6.5 Borda Livre e Altura do Aterro para Seções dos Canais

Figura 6.6 Seção Típica do Canal com Revestimento de Concreto e Detalhes do


Revestimento de Concreto não Armado

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Figura 6.7 Revestimento de Concreto Armado e Detalhes Variados

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Figura 6.8 Espessura Mínima para uso no Revestimento dos Canais

Figura 6.9 Detalhes das Juntas de Contração Típicas para Revestimento de


Concreto

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exposição à luz solar. O “Concrete Manual” (Manual sobre Concreto) [1] discute,
em detalhe, as ranhuras, assim como o acabamento e a cura do revestimento de
concreto.

„ Escadas de Segurança – As grandes velocidades, os taludes laterais íngremes e as


condições escorregadias associadas às algas a ao limo, constituem um perigo para
as pessoas que entram num canal revestido de concreto. As escadas de segurança
(vide Figura 6.10) podem ser utilizadas para facilitar a saída das pessoas. No passa-
do, utilizavam-se escadas de segurança constituídas por degraus individuais, os
quais eram colocados diretamente no revestimento de concreto fresco. Esse méto-
do é insatisfatório, pois os degraus, em especial aqueles próximo à superfície da
água, deterioram e caem. Por isso, foi desenvolvido o projeto mostrado na Figura
6.10, o qual tem sido utilizado com êxito. As escadas devem ser de alumínio ou de
aço recoberto por epóxi. Utilizar-se-ão luvas e arruelas plásticas para isolar o aço-
carbono ou o alumínio das ancoragens em aço inoxidável, já que reduzem a proba-
bilidade de corrosão por eletrólise. O uso de alumínio, epóxi, luvas e arruelas plás-
ticas e de chumbadores de aço inoxidável deverá resultar numa longa vida útil,
isenta de manutenção, para as escadas de segurança.

„ Problemas Especiais de Fundação – Quando se utiliza um revestimento de concre-


to, existem situações especiais que requerem considerações singulares quanto a
fundação. O revestimento de concreto pode ser danificado por solos expansivos na
fundação. Portanto, será preciso executar, durante a construção, um cuidadoso
preparo das fundações, como sobreescavação e substituição do material expansivo
ou tratamento de cal, in situ. O subitem 3.9 do Capítulo 3, deste MANUAL, contém
informações relativas ao tratamento dos solos expansivos. O revestimento fino de
concreto precisa ter fundações lisas e uniformes. Pequenos ressaltos contínuos nas
fundações, de apenas 13mm de altura, normalmente causam trincas no revesti-
mento. Em geral, os materiais de baixo peso específico, que nunca foram umedeci-
dos, podem, potencialmente, sofrer colapso quando saturados, conforme indicado
nas páginas 207-210 do “Earth Manual” (Manual de Solos) [2]. O subitem 3.7 do
Capítulo 3, deste MANUAL, também trata de solos colapsíveis. Nestas áreas, será
preciso remover e recompactar o solo, com pré-umedecimento do solo, ou mesmo
colocar um sistema de revestimento que assegure a estanqueidade. Qualquer trinca
no revestimento deverá ser selada com selante elastomérico, ou outro produto
adequado, assim que surgir, de maneira a isolar, da umidade, o material de funda-
ção problemático. Informações detalhadas acerca da vedação das juntas de contra-
ção e de eventuais rachaduras podem ser encontradas nas páginas 327 a 334 do
“Concrete Manual” (Manual de Concreto) [1] e no “Manual de Construção de Pro-
jetos de Irrigação”, desta série de manuais.

„ Sistemas de Drenagem Subterrânea – A pressão hidrostática no solo, atrás do


revestimento de concreto, pode causar levantamento e trincas. Uma drenagem
protetora inadequada, que permite que a água entre por trás do revestimento, ra-
chaduras no revestimento que podem permitir a entrada de água e facilitar o
surgimento de subpressões, ou lençóis freáticos altos, de ocorrência natural, podem
causar este tipo de dano, se o nível da água no canal cair mais rapidamente do que
a redução da pressão por trás do revestimento. É possível reduzirem-se ou elimina-
rem-se os danos potenciais decorrentes de subpressões, mediante controle de
flutuações operacionais e/ou a instalação de um sistema de drenagem subterrânea.

„ Os sistemas de drenagem subterrânea que utilizam a gravidade para drenar a água


para áreas mais baixas ao longo do canal, ou para um poço de bombas, quando não
existirem áreas baixas naturais, são os métodos mais confiáveis de proteção do
revestimento contra subpressões. A Figura 6.11 mostra detalhes de um sistema
típico de drenagem por gravidade. É importante a existência de um filtro correta-

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Figura 6.10 Escadas de Segurança para Canais com Revestimento de Concreto

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Figura 6.11 Sistema de Drenagem por Gravidade sob Revestimento de Concreto

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mente projetado em torno do tubo subterrâneo, de modo que se descarte a possibi-


lidade de erosão regressiva de terra (“piping”) para o sistema de drenagem subter-
rânea, se ocorrer um grande vazamento no revestimento do canal. As vazões efluentes
destes sistemas de drenagem precisam ser monitoradas, de modo que se constate
imediatamente qualquer mudança na quantidade de água escoada ou na sua turbidez.
Se tais mudanças ocorrerem, será preciso fechar a válvula de descarga do sistema
de drenagem e encontrar e reparar o vazamento.

„ O sistema de drenagem com válvulas de retenção, similar àquele da Figura 6.12,


também pode ser muito eficaz na diminuição da contrapressão. Quando a pressão
da água atrás do revestimento é maior do que a pressão resultante do nível da água
no canal, o disco se abre e a pressão é aliviada. Se a pressão do nível da água no
canal for maior do que a contrapressão, o disco se fecha e não ocorre fluxo inverti-
do. As válvulas de retenção devem ser lavadas por refluxo, após sua inserção atra-
vés do concreto fresco do revestimento, a fim de remover qualquer concreto que
tenha entrado pelas ranhuras, durante a instalação. Quando a válvula de retenção
for instalada num dreno de pé, conforme mostrado na Figura 6.12, são necessárias
precauções especiais para assegurar-se de que a válvula está localizada dentro do
envelope de cascalho. A Figura 6.13 mostra detalhes da válvula de retenção. As
abas deverão estar devidamente alinhadas com a direção do fluxo de água no
canal, a fim de minimizar os efeitos deletérios dos detritos e dos sedimentos carre-
gados pela água sobre a operação da válvula. Recomenda-se também que as válvu-
las de retenção sejam colocadas no fundo do canal, uma vez que, quando coloca-
das nos taludes laterais, tendem a se enrolar enquanto abertas, e algumas vezes
não fecham adequadamente. Os sistemas de drenagem subterrânea tendem a ser
muito dispendiosos, de maneira que é recomendável realizar análises econômica e
de risco, antes de se tomar qualquer decisão.

„ Os critérios de rebaixamento estabelecidos para o sistema de canais precisam levar


em consideração qualquer sistema de drenagem subterrânea e estipular que o nível
da água seja rebaixado vagarosamente, de maneira que qualquer contrapressão
potencialmente danosa possa ser aliviada.

6.2.1.2 Revestimento de Terra Compactada

Se existir uma fonte local de material de boa qualidade para o revestimento dos
canais, como cascalho e areia com aglutinantes argilosos, ou misturas cascalho-areia-
argila mal graduadas, uma excelente alternativa para o revestimento dos canais será o de
terra compactada, com espessura mínima de 60cm. A Figura 6.14 apresenta um tabela
classificatória destes e de vários outros materiais de solo, quanto à sua adequabilidade
como revestimento de terra compactada.

„ Seções Típicas – As seções típicas dos revestimentos de terra compactada cons-


tam da Figura 6.15. Em geral, o valor de t1 é de 60cm. A espessura do revestimen-
to de terra nos taludes laterais deverá ser, pelo menos, de 60cm normal ao talude.
O valor de t2 é regido pelas dimensões do equipamento de compactação utilizado
para construir o revestimento de terra compactada em camadas horizontais. Quan-
do a capacidade do canal for superior a 3m3/s, t2 deverá ser, no mínimo, igual a
2,5m. O revestimento compactado ao longo dos taludes laterais deverá ser coloca-
do em camadas horizontais, porque é muito difícil obter-se a densidade necessária
quando se opera o equipamento de compactação perpendicular- mente ao talude.

„ Não é necessário equipamento ou tecnologia especiais para a construção de canais


com revestimento de terra compactada. Estes revestimentos suportam maiores
flutuações de nível de água do que os de concreto, e é possível tolerarem-se certos
materiais expansivos perto da seção. O material de baixo peso específico deverá

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Figura 6.12 Válvulas de Retenção para Sistemas de Drenagem sob Revestimento


de Concreto do Canal

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Figura 6.13 Detalhes da Válvula de Retenção

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Figura 6.14 Aptidão do Solo para Revestimento de Terra

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Figura 6.15 Seções Típicas Revestimento de Terra (Lados e Fundos)

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ser tratado como no caso de Revestimento de Concreto. Uma vez que os taludes
laterais são mais brandos e as velocidades de escoamento, menores, as seções
revestidas de terra compactada são menos perigosas do que as revestidas de con-
creto para pessoas ou animais que entram no canal.

„ Taxa de Infiltração – Se o revestimento de terra compactada for corretamente


construído, utilizando-se material apropriado, a taxa de infiltração não deverá exce-
der 0,0213m3/m2 de perímetro molhado, por 24 horas, taxa comparável à dos re-
vestimentos de concreto de boa qualidade. O revestimento de terra compactada
conservará essas baixas taxas de filtração com manutenção menos intensiva do
que a requerida pelos revestimentos de concreto. É preciso atenção durante a lim-
peza das seções com revestimento de terra compactada, para que não ocorra perda
do revestimento. O perímetro molhado necessário para as seções revestidas com
terra compactada é maior do que o dos revestimentos de concreto; portanto, a
infiltração total da seção revestida de terra deverá ser aproximadamente 30% supe-
rior à da revestida de concreto, com capacidades e taxas de filtração comparáveis.
O subitem 6.2.3.5, Perdas por Infiltração, fornece informações adicionais relativas
à estimativa de perdas por infiltração.

„ Considerações Relativas aos Revestimentos de Terra – Para evitar erosão, os reves-


timentos de terra compactada devem ser projetados para baixas velocidades de
escoamento. Se o material de revestimento disponível for erodível, recomenda-se
utilizar uma manta de proteção e/ou uma proteção contra as ondas. A manta de
proteção deverá ser executada com cascalho angular, devidamente graduado, com
espessura de cerca de 0,15m, sobre os taludes laterais. Em alguns casos, será
suficiente colocar o material da manta nos taludes laterais, no lado externo das
curvas, e nos taludes laterais, do lado oposto, imediatamente à jusante das curvas.
A proteção contra as ondas, empregada nos lugares em que o material de revesti-
mentos é mais suscetível à ação das ondas, consiste de uma faixa de cascalho
angular bem graduado, colocada em ambos os lados do canal, dentro da zona de
flutuação normal do nível da água. Se for utilizado cascalho para a proteção contra
a erosão, será preciso cuidado especial na limpeza dos canais, a fim de evitar danos
à camada protetora, ou perda do material.

„ O controle do crescimento da vegetação aquática na seção do canal e das ervas


daninhas nas suas margens também pode ser problemático, no caso dos canais
com revestimento de terra. Além disso, existe o problema potencial de ruptura
repentina, causada por animais que cavam buracos, já que o revestimento de terra
não constitui barreira contra tais animais.

6.2.1.3 Revestimento de Membrana Plástica Enterrada

A tecnologia relativa aos revestimentos com membrana e à diversidade de tipos de


membrana de revestimento têm aumentado rapidamente. A mais amplamente utilizada
para revestimento é a membrana plástica enterrada, em especial o cloreto polivinílico
(PVC). O uso do polietileno (PE) foi descontinuado porque a superfície do lençol de PE era
tão lisa que se tornava difícil manter o material de cobertura sobre os taludes laterais, sem
que deslizasse, e, também, devido à exigência de juntas soldadas com calor, assim como
à conseqüente mão-de-obra necessária. Os fabricantes do PE resolveram o problema de
superfícies lisas e agora produzem lençóis com superfície texturizada.

„ Seções Típicas – Uma seção típica de canal com revestimento de membrana plás-
tica encontra-se ilustrada na Figura 6.16. Uma norma adequada para a espessura
mínima do lençol é 0,8mm. Uma inclinação dos taludes laterais deverá ser igual ou
inferior a 2,5:1. As dimensões do canal, o material de base e o material de cobertu-

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Figura 6.16 Seção de Canal com Revestimento de Membrana Plástica

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ra influenciarão na seleção da inclinação dos taludes laterais. A espessura mínima


do material de cobertura basear-se-á na equação:

C = 0,25 + d/12;
onde:
C = espessura do material de cobertura, em metros (30cm, no míni-
mo)
d = profundidade da água, em metros.

„ É indispensável que a espessura do material de cobertura seja suficiente para prote-


ger a membrana de furos causados pelo gado ou por outros animais que possam
entrar quando o canal está seco. De várias maneiras, a seção de membrana plástica
enterrada, coberta com terra, e/ou com areia e cascalho, assemelha-se à seção de
revestimento de terra compactada. A seção acabada é similar, com exceção dos
taludes laterais, que serão mais achatados. A limpeza do canal e o controle da
vegetação aquática apresentam problemas semelhantes aos dos revestimentos de
terra compactada. O crescimento das ervas daninhas pode ser controlado, até cer-
to ponto, mediante o uso de um esterilizante de solo, aprovado, no leito. É preciso
muito cuidado para não aplicar o esterilizante fora da área revestida, caso se pre-
tenda, posteriormente, executar trabalho de paisagismo ou plantio de grama.

„ Considerações Relativas aos Revestimentos de Membrana Plástica Enterrada – São


várias as características que fazem o revestimento de membrana enterrada uma
opção interessante. Pode ser colocado sob diversas condições climáticas; é muito
adaptável à reabilitação de canais de terra existentes que estão tendo problemas de
infiltração excessiva; e pode tolerar maiores flutuações do nível da água do que os
outros tipos de revestimento, quando o material de cobertura for especificamente
projetado para tais condições.

„ O leito deverá ser relativamente liso e isento de pedras, raízes e outros objetos pon-
tudos que possam perfurar a membrana. O rastelamento do fundo com corrente
pesada, tipo máquina, ou com uma velha esteira de trator, poderá proporcionar uma
fundação adequada. Se este método não funcionar, cobrir-se-á o leito com uma
camada de 8 a 10cm de espessura de areia, ou de solo de textura fina, imediatamen-
te antes de se colocar a membrana.

„ O projeto do material de cobertura é importante para o êxito do revestimento dos


canais com membrana enterrada. Pode-se utilizar cobertura de terra, com areia ou
cascalho por cima, ou apenas areia e cascalho. Para viabilizar este tipo de revesti-
mento, é preciso que a fonte de areia e cascalho esteja situada a distância de
transporte economicamente factível. Embora seja preferível uma cobertura de ape-
nas areia e cascalho, a de terra com areia e cascalho por cima pode ser utilizada
quando razões econômicas desaconselharem o uso exclusivo de areia e cascalho.
As vantagens deste último tipo de cobertura são o processo de construção simpli-
ficado, de apenas uma etapa, e um produto final mais estável para os taludes
laterais. O uso de areia e cascalho de mineração, cuja granulometria se encaixe nos
limites indicados na Figura 6.17, provenientes de jazidas situadas perto do canal,
poderá reduzir significativamente o custo deste tipo de revestimento.

6.2.1.4 Outros Sistemas de Revestimento com Membrana

Existem diversos sistemas de revestimento com membrana, seja em utilização, seja


em fase experimental, os quais deverão se tornar mais viáveis, à medida que os proble-
mas a eles associados forem resolvidos.

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Figura 6.17 Granulometria do Material de Cobertura para Revestimento de


Membrana Plástica Enterrada

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„ Revestimento com Membrana Exposta – Existem diversas membranas que podem


ser instaladas na superfície e deixadas expostas. A experiência demonstra que a
maioria destes materiais não é competitiva, do ponto de vista econômico, quando
comparados a outros sistemas mais convencionais de revestimento de canais. á
medida que houver avanços tecnológicos neste campo, alguns destes sistemas
tornar-se-ão mais competitivos. Um dos sistemas mais promissores é o de membra-
na de betume, fornecida em rolos e facilmente instalada, com um mínimo de mão-
de-obra especializada.

„ Colocação Subaquática de Revestimento de Concreto sobre Plástico – Estão sendo


realizados testes relativos à colocação subaquática de revestimento de concreto
sobre membrana plástica. Neste processo são utilizados um recortador, que confor-
ma uma seção de canal uniforme, e um equipamento que coloca a membrana de
plástico e provoca a extrusão do concreto diretamente sobre a membrana plástica.
Quando o equipamento e a técnica forem aperfeiçoados, este sistema constituirá
um método econômico de instalar um revestimento estanque, num canal existente,
enquanto permanece em operação.

„ Concreto Projetado ou Concreto sobre Membrana Geocomposta – Outro sistema de


revestimento de canais é a colocação de concreto ou de concreto projetado sobre
uma membrana geocomposta, conforme ilustrado na Figura 6.18. A membrana
geocomposta é constituída de uma tela geotêxtil, não-tecida, perfurada com agulha e
que pesa aproximadamente 0,115kg/m2, colada ou fundida termicamente a um len-
çol de PVC, com 0,8mm de espessura. Coloca-se uma camada final de concreto,
com espessura mínima de 5cm, sobre a tela. É recomendável que a camada final seja
de concreto projetado. Quando se utiliza concreto convencional, ao invés de concre-
to projetado, a espessura da camada final deverá ser igual ou superior a 10cm, para
facilitar sua colocação. A mistura deverá ser o mais seca possível, mantendo-se a
trabalhabilidade. Isso é necessário porque a nata proveniente da cura terá de sair pela
superfície aberta do revestimento de concreto. Se o teor de água for demasiadamen-
te alto, poder-se-ão formar furos e/ou lascas sobre a superfície do revestimento de
concreto.

„ A membrana geocomposta deverá ser pré-fabricada, de maneira que a largura dos


lençóis se encaixe na seção do canal. Após a fabricação dos lençóis, poderão ser
dobrados e colocados sobre “pallets”, para transporte até o local da obra. O com-
primento dos lençóis deverá ser regido pelas dimensões e pelo peso dos “pallets”.
As dimensões dos lençóis deverão ser planejadas de modo a minimizar o número de
juntas de campo. Para a confecção de juntas, a camada de PVC não deverá ter tela
geotêxtil, conforme ilustrado na Figura 6.18.

6.2.2 Quadros para Projeto de Seções de Canal

O leiaute e o projeto de uma seção de canal é função da vazão necessária, da


largura do fundo, da profundidade da água, dos taludes laterais, da declividade do fundo
e do coeficiente de atrito. As Figuras 6.1 a 6.4 apresentam fluxogramas que podem ser
usados para determinar uma seção de canal aceitável, utilizando estes parâmetros. É
preciso observar que estes fluxogramas se referem ao leiaute e projeto gerais de sistemas
de canais, sendo preciso bom senso em situações especiais. Os fluxogramas referem-se
a canais com revestimento de concreto e com revestimento de terra compactada, embora
muitas informações acerca do revestimento de terra compactada possam ser utilizadas
para revestimento com membrana enterrada.

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Figura 6.18 Membrana Geocomposta com Revestimento de Concreto Projetado

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6.2.2.1 Propriedades Físicas

A Figura 6.1 indica os valores relativos às propriedades físicas, como espessura e


borda livre dos revestimentos de terra compactada. Além disso, são indicados espessu-
ras, espaçamento entre juntas de contração, largura da aba e borda livre dos revestimen-
tos de concreto não-armado. A observação “use apenas para Q>1,4m3/s” indica que os
canais com capacidades inferiores a esse valor devem ser revestidos de concreto ou
tubulações. A experiência indica que as perdas por infiltração e os custos de manutenção
associados a pequenos canais de terra tornam-se excessivos, e que o custo total, incluin-
do operação e manutenção do sistema, será inferior com revestimento de concreto ou se
forem utilizados tubos. A vantagem dos tubos é que podem ser enterrados, o que diminui
consideravelmente a manutenção e permite irrigar uma extensão maior de terra.

6.2.2.2 Propriedades Hidráulicas

O dimensionamento e o leiaute das seções de canal podem ser executados utilizan-


do-se relações entre as seguintes propriedades hidráulicas, apresentadas nas Figuras 6.2
e 6.3:

Q = capacidade em m3/s;
b = largura do fundo, em metros;
d = profundidade da água, em metros;
razão b/d = valores mínimos recomendados;
S:S = taludes laterais do canal recomendados, horizontal/vertical;
SE = declividade do fundo do canal;
V = velocidade, em m/s;
n = “n” de Manning.

Nestas figuras, são indicadas capacidades de canal de até 600m3/s. Se a taxa


estimada de infiltração de um canal de terra não-revestido ultrapassa 0,15m3/m2 de perí-
metro úmido, em 24 horas, recomenda-se considerar o revestimento do canal. Se a seção
é de terra, a força de tração, TF, deverá ser igual ou inferior a 0,317 (kg/m2), onde:

TF = (w)(d)(SE),

com w = 1000kg/m3. Se a seção for de concreto, a declividade do fundo, SE,


deverá ser três vezes menor do que a declividade crítica, SC, a fim de assegurar
condições estáveis de escoamento no canal, de modo que o escoamento não alter-
ne entre os níveis subcrítico e supercrítico. A Figura 6.3 também apresenta os re-
quisitos de borda livre (da superfície da água até o topo da margem).

6.2.2.3 Estradas de Operação e Manutenção

Na Figura 6.4 são apresentadas as recomendações relativas à largura das estradas


de manutenção e operação, ao longo dos canais, assim como uma explicação dos símbo-
los utilizados nestes fluxogramas.

6.2.3 Itens Relacionados às Seções de Canal

Existem diversos itens a serem considerados na elaboração de projetos da seção de


um canal. Os mais importantes são discutidos a seguir.

6.2.3.1 Borda Livre

Uma borda livre adequada é muito importante para a operação bem sucedida do
sistema de canais. Em geral, a borda livre é definida levando em consideração as dimen-

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sões do canal, sua localização, a velocidade de escoamento, as vazões afluentes de


águas pluviais, as flutuações normais do nível da água, a ação do vento e das ondas, as
características do solo, a curvatura do alinhamento e o modo de operação previsto. Ao
projetar a seção transversal do canal, devem ser estabelecidas duas bordas livres dife-
rentes. A borda livre do revestimento é a altura do topo do revestimento do canal, acima
do nível máximo de água no canal, e a borda livre da margem é a altura da margem do
canal, acima do nível máximo da água. A primeira permite a ocorrência de flutuações
normais e freqüentes no nível da água, como ondas resultantes de mudanças nas vazões
de distribuição, ação das ondas e desequilíbrios temporários entre a entrada e a saída de
água num trecho do canal. A borda livre de margem permite vazões anormais e infrequentes,
como as ondas causadas por interrupções no serviço elétrico em estação de bombeamento
alimentada pelo canal, ou a entrada de grande volume de águas pluviais no canal.

Os valores de borda livre indicados na Figura 6.5 resultam de muitos anos de expe-
riência. As equações relativas a borda livre que constam dos quadros de projeto da seção
do canal (Figuras 6.1 e 6.3) estão baseadas nas curvas apresentadas na Figura 6.5. Estes
valores deverão ser considerados mínimos e, em condições especiais, deverão ser
incrementados, quando necessário. Se aplicável, a altura da onda resultante da interrup-
ção no fornecimento de energia a uma estação de bombeamento, deverá ser cotejada
contra a borda livre. Outra importante consideração é a entrada de grandes volumes de
águas pluviais (uma prática que deve ser desencorajada, em especial quando se utiliza
revestimento de concreto). Algumas vezes, a borda livre da margem é aumentada em
áreas de aterro alto, quando se prevê recalque das fundações e/ou do aterro. Todas as
seções do canal deverão ter, pelo menos, a borda livre mínima de revestimento acima do
nível máximo da água, independentemente de ocorrer com vazão zero (construção de
margem em nível), ou vazão igual à de projeto (construção da margem paralela ao fun-
do). Com a construção da margem paralela ao fundo, a borda livre de margem mínima
deverá ser prevista ao longo de todo o trecho do canal. Uma vez que, com a construção
de margem em nível, a altura da margem e a altura do revestimento aumentam na dire-
ção de jusante, haverá borda livre adicional disponível, algumas vezes considerável, na
porção jusante do trecho do canal, quando o mesmo estiver operando na capacidade de
projeto. Neste caso, o engenheiro precisará usar seu conhecimento e sua sensibilidade
para determinar se será necessária toda a borda livre de altura de margem acima do
nível máximo da água (condições de vazão zero), em todo o comprimento do trecho do
canal. Podem-se tirar vantagens da borda livre adicional disponível em condições de va-
zão de projeto, considerando-se o fato de que as condições de emergência são mais
improváveis quando não há qualquer vazão no canal. As condições de emergência resul-
tantes de interrupção dos serviços de eletricidade não ocorreriam sob condições de va-
zão nula, pois a estação de bombeamento não estaria funcionando.

6.2.3.2 Topo da Margem/Estradas de Operação e Manutenção

A cota mínima do topo da margem do canal deverá ser determinada com base na
borda livre de altura da margem, discutida no subitem anterior. Quando possível, deve-
rão ser construídas estradas de operação e manutenção em ambos os lados do canal, no
topo da margem, particularmente no caso de grandes canais. Se o terreno dificulta ou
impossibilita a construção de estradas em ambas as margens, construir-se-á uma estra-
da no lado da operação do canal. Em geral, a declividade transversal das estradas de
operação e manutenção varia entre 0,02 e 0,04, de maneira que a drenagem possa ocor-
rer para longe do canal. Muitos canais, especialmente aqueles com revestimento de con-
creto, possuem uma pequena berma, conforme ilustrado na Figura 6.6, que garante uma
drenagem adequada. As larguras das estradas de operação e manutenção são apresen-
tadas na Figura 6.4.

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6.2.3.3 Curvatura e Velocidades Permissíveis

A curvatura permissível ao longo do alinhamento do canal dependerá do tipo de


revestimento utilizado, das dimensões do canal e da velocidade de escoamento. A veloci-
dade de escoamento nos canais revestidos de concreto pode atingir 2,4m/s. É preciso
muito cuidado na elaboração de projetos para velocidades tão altas, já que a carga cinética
poderá ser convertida, por uma rachadura, em pressão hidrostática sob o revestimento, o
que poderia provocar a elevação do revestimento. Com estas altas velocidades, será
preciso verificar o aumento do nível de água na parte externa das curvas horizontais, a fim
de determinar se é necessário aumentar a borda livre do revestimento ou o raio de curva-
tura. Além disso, se forem utilizadas velocidades dessa magnitude, será indispensável
fazer os cálculos empregando um valor “n” de Manning 0,003 inferior ao “n” de projeto,
garantindo-se que o escoamento não se aproxime da profundidade crítica, a ponto de
desenvolver ondas estacionárias nas seções em que o fundo esteja acima da declividade
teórica, como resultado de tolerâncias de construção. Uma boa norma é limitar a 1,8m/s
as velocidades nos canais revestidos de concreto.

Em geral, as velocidades nos canais revestidos de terra variam entre 0,3m/s e


1,1m/s, dependendo da capacidade do material de revestimento de resistir à erosão.
Velocidades permissíveis em canais revestidos de terra, onde alguma erosão é tolerável,
podem ser demasiado altas em canais com revestimento de membrana enterrada, nos
quais uma pequena erosão deixaria exposta a membrana do revestimento. A experiência
mostra que a velocidade máxima nas seções revestidas com membrana enterrada, para
uma determinada dimensão e formato, deverá ser dois terços da velocidade permissível
em canal revestido com terra compactada, com materiais idênticos. Se o revestimento de
membrana enterrada for utilizado, será preciso investigar o potencial erosivo na parte
externa de curvas horizontais.

Como norma geral, o raio de curvas horizontais, medido até a linha central do canal,
deverá ser de três a sete vezes a largura do canal, na superfície da água. Os canais
revestidos de concreto deverão ter raio mínimo de três vezes a largura do canal, na
superfície da água. Poderão ser necessários maiores raios de curva para acomodar as
máquinas de revestimento. Os pequenos canais de terra deverão ter raio mínimo equiva-
lente a três vezes a largura do canal, na superfície da água. O raio dos grandes canais de
terra, com capacidade superior a 70m3/s, deverá ser de, pelo menos, sete vezes a largura
do canal, na superfície da água. Será preciso tomar medidas especiais para proteger as
curvas em solos susceptíveis à erosão, como a colocação de proteção de cascalho, discu-
tida no subitem 6.2.1.2.

6.2.3.4 Fórmulas de Escoamento

Em geral, utiliza-se a fórmula de Manning para os cálculos hidráulicos em canais


abertos.

V = (1/n)[r(2/3)][s1/2)],

onde:

V = velocidade da água, em metros/segundo;


s = gradiente de energia, em metros/metro;
r = raio hidráulico, em metros (área de escoamento dividida pelo pe-
rímetro molhado);
n = coeficiente de Manning.

A experiência acumulada e extensos estudos de campo demonstram que, para os


canais revestidos de concreto, o valor de “n” aumenta com aumentos nas dimensões do

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canal. Os estudos constataram uma relação entre o coeficiente “n” e o raio hidráulico “r”.
Os seguintes valores de “n” são considerados adequados para os canais com revestimen-
to de concreto.

Raio Hidráulico “r” Valor de “n”


< 1,2 0,014
> 1,2 0,0565 [r(1/6)]/log(9711r)

Os seguintes valores de “n” são considerados adequados para os canais revestidos


de terra.

Capacidade (m3/s) Valor de “n”


< 2,8 0,0250
> 2,8 0,0225

Para as seções uniformes do canal, recobertas de areia e cascalho, o valor de “n”


de Manning poderá ser determinado pela equação de Strickler:

n = 0,0417 [d50(1/6)],

onde d50 é igual ao tamanho, em metros, para o qual 50% do material do leito, por
peso, é mais fino.

A velocidade de escoamento da água nos canais de terra deverá ser estabelecida de


modo a prevenir a erosão da seção de canal ou o depósito de silte. A velocidade máxima
permissível, para prevenir a erosão do canal, ou a velocidade mínima, para prevenir a
deposição de silte, dependerão das características do solo e dos sedimentos na água. Os
limites gerais podem ser definidos com base na experiência. A fórmula de Kennedy para
água carregada de sedimento, num leito de material similar, é a seguinte:

Vs = 0,6522(C) [D(0,64)],

onde:

Vs = velocidade sem erosão e sem assoreamento, em metros/segun-


do;
D = profundidade da água, em metros;
C = coeficiente relativo a diversas condições de solo.

Tipo de Solo Valor de C


Arenoso fino e leve 0,84
Arenoso mais graúdo e leve 0,92
Lodoso arenoso 1,01
Detritos de solo duro ou silte grosso 1,09

A fórmula de Kennedy modificada para água limpa é:

Vs = 0,5523(C)[D(0,5)].

Poderá ser necessário colocar areia e cascalho nos canais de terra, a fim de prote-
ger as margens da ação das ondas. No caso de água limpa escoar sobre camadas prote-

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toras de areia e cascalho e outros leitos de material granuloso não-coeso, a velocidade


não erosiva é:

Vs = 4,9675[d50(1/3)][r(1/6)].

Após o canal estar em operação durante um período extenso, concentrações maio-


res de sedimentos finos na água podem causar a cimentação (coesão) de algumas areias
finas no leito do canal. Em geral, isso resulta num aumento de até 50% nas velocidade
não erosivas.

6.2.3.5 Perdas por Infiltração

As perdas por infiltração são expressas em metros cúbicos por metro quadrado de
perímetro molhado, em 24 horas. Nas estimativas preliminares, pode-se presumir que,
num típico canal de terra não-revestido, cerca de um terço da água total distribuída será
perdida por infiltração, perdas operacionais e evaporação. Em geral, as perdas por filtra-
ção relatadas incluem uma certa quantidade de vazamento estrutural, desperdício
operacional e excesso de água fornecida aos irrigantes. ás vezes, a infiltração poderá
constituir um ganho, ao invés de uma perda, se o lençol freático for suficientemente alto.
(Infiltração da água de irrigação de terras mais altas algumas vezes contribui para a eleva-
ção do lençol freático ao longo do canal.) Conseqüentemente, é muito difícil prever as
perdas por infiltração, e os resultados, no melhor dos casos, são incertos, exceto quando
são realizados estudos detalhados e investigações. As informações contidas no “Ground
Water Manual” (Manual de águas Subterrâneas) [3] poderão ser utilizadas quando for
necessário realizar análises detalhadas do potencial de infiltração.

A fórmula de Moritz poderá ser usada para estimativas preliminares do potencial de


infiltração:

S = 0,0379(C)[(Q/V)(1/2)],

onde:

S = perda em metros cúbicos por segundo, por quilômetro de canal;


Q = capacidade de projeto do canal, em metros cúbicos por segundo;
V = velocidade de escoamento do canal, em metros por segundo;
C = perda de água, em metros cúbicos em 24 horas, através de cada
metro quadrado de perímetro molhado.

Observações em vários sistemas de canais, nos Estados Unidos, forneceram as


médias relacionadas a seguir, relativas ao valor de “C”, em canais de terra não revestidos.

Tipo de Material Valor de C


Cascalho cimentado e subsolo firme (“hardpan”) com lodo arenoso 0,104
Argila e lodo argiloso 0,125
Lodo arenoso 0,201
Cinzas vulcânicas 0,207
Cinzas vulcânicas com areia 0,299
Areia e cinzas vulcânicas ou argila 0,366
Solo arenoso com rochas 0,512
Solo arenoso e cascalhoso 0,671

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A infiltração em canais revestidos de concreto devidamente construídos não deverá


exceder 0,0213m3/m2 no perímetro molhado em 24 horas, na época de construção. En-
tretanto, é preciso frisar que construção imprópria ou falta de manutenção podem resultar
em perdas muito maiores do que as inicialmente previstas. O revestimento de terra,
quando corretamente construído, com bom material de revestimento, também deverá ter
taxa de infiltração inferior a 0,0213m3/m2 no perímetro molhado em 24 horas, quando
novo. Embora um revestimento de terra inadequadamente mantido retenha sua baixa
permeabilidade durante mais tempo do que o de concreto, em condições de manutenção
similares, a taxa de infiltração do primeiro virá a ser maior do que a do segundo, se
indevidamente mantido. A possibilidade de perdas apreciáveis nos canais revestidos sem-
pre deve ser considerada, ao se prepararem as estimativas iniciais de necessidade de
água.

6.2.3.6 Seções de Canal em Aterros Altos

O projeto de seções de canal em aterros altos deverá basear-se em discernimento e


sólidos conhecimentos de engenharia e nos princípios de mecânica de solos. A seguir, são
apresentadas algumas diretrizes básicas utilizadas atualmente na elaboração desses pro-
jetos.

„ Taludes Posteriores dos Aterros – Muitos fatores, como o tipo de solo empregado
no aterro, o número de meses por ano que o canal está em operação e a qualidade
do programa de manutenção do canal, afetam a definição das dimensões do aterro
e, em particular, a inclinação dos taludes posteriores. Mesmo sem se realizarem
investigações detalhadas e análises dos solos empregados, a inclinação dos talu-
des posteriores, relacionada a seguir, deverá ser adequada, exceto se for utilizada
no aterro, material muito susceptível à erosão ou material com problemas de esta-
bilidade conhecidos. Se a distância vertical, H, do topo do aterro até o sopé do
talude for inferior a 6m, um declive de 1,5:1 será adequado, conforme indicado na
Figura 6.19. Se H estiver entre 6 e 9m, a inclinação dos taludes posteriores deverá
aumentar para 2:1. Quando H for superior a 9m, deverá ser utilizado talude de 2:1,
para os primeiros 9m, e 3:1, para o trecho subseqüente, até atingir a superfície do
terreno, conforme apresentado na Figura 6.19;

„ Quando o canal for utilizado durante todo o ano, sem tempo de folga, exceto em
emergências ou durante os períodos de manutenção programada, será preciso efe-
tuar uma análise, a fim de se determinar a possibilidade de o desenvolvimento da
linha freática, a partir do nível de água do canal, vir a interceptar o talude posterior.
Se a análise mostrar a possibilidade de intersecção do talude posterior pela linha
freática, o talude deverá ser achatado, conforme indicado na Figura 6.20;

„ Se o material de aterro for um silte não-plástico, a declividade mínima deverá ser de


2:1, e os restantes critérios deverão ser usados com cuidado. Se o material de
aterro for areia limpa e, em especial, se for de má gradação, o talude posterior
mínimo deverá ter declive de 2:1, durante os primeiros 6m, e deverá considerar-se
a possibilidade de aumentar todo o talude posterior para 3:1, quando H for superior
a 6m.

„ Drenos em Taludes Posteriores – Se o material de aterro for muito erodível, reco-


menda-se colocar uma pequena berma na parte superior externa da margem do
canal, ou da estrada de operação e manutenção, assim como drenos de tubos
metálicos corrugados ou calhas metálicas nos taludes posteriores do aterro, a inter-
valos de 60m, conforme indicado na Figura 6.21. A vantagem das calhas de drena-
gem é que não entopem, com detritos, tão facilmente quanto os tubos. De todas as
maneiras, será preciso plantar vegetação nos taludes posteriores, logo após sua
construção, a fim de reduzir o potencial de erosão. A vegetação ideal seria uma
espécie de gramínea local, baixa, fechada e de fácil manutenção;

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Figura 6.19 Seção de Canal em Aterro Alto

Figura 6.20 Lençol Freático no Aterro do Canal

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Figura 6.21 Calha de Dreno Inclinado no Talude Posterior do Aterro

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„ Sopé do Aterro em Leito Maior (Várzea de Inundação) – O projeto ideal de sifão ou


de aqueduto localizado sob ou sobre um canal natural de drenagem é colocar a
entrada e a saída do sifão ou aqueduto sobre a superfície natural do terreno, ou
perto dela. Se o leito maior for tão largo que o canal se estenda em aterro até
alcançar o verdadeiro canal de evacuação de cheia, deverão ser utilizados os crité-
rios relacionados a seguir, conforme apresentado na Figura 6.22. O sopé do aterro
adjacente ao canal de evacuação de cheia deverá situar-se, pelo menos, 1,0m
acima do nível de água previsto para cheias com recorrência de 100 anos. Se o
formato do leito maior e do canal de evacuação de cheia não permitir isto, o aterro
deverá ser protegido com “riprap” de dimensões adequadas. O “riprap” deverá
ultrapassar, pelo menos, 50cm acima do nível máximo da água para cheias com
recorrência de 100 anos;

„ Quando se usa um sifão para cruzar o leito maior, será preciso considerar o excesso
de vazão excessivas no canal e, desta forma, evitar erosão canal e possível arraste
e perda da entrada do sifão. Até mesmo um estrutura de vertedouro, para descar-
regar a água no canal natural de drenagem, deve ser prevista, imediatamente à
montante da entrada do sifão, ou, então, o topo da margem do canal à montante da
entrada do sifão deverá ser elevado em, pelo menos, 30cm, por uma distância
mínima de 30m, à montante da entrada do sifão ou até que o topo do aterro atinja
o terreno natural;

„ Considerações Especiais – Elaborar-se-ão projetos especiais para o aterro, quando


existir uma das duas condições apresentadas a seguir. Primeiro, se o canal for
construído em um ponto baixo do aterro e o aterro do lado ascendente for eliminado
para criar um pequeno reservatório em alinhamento, o aterro do canal no lado
descendente deverá ser tratado como um pequeno aterro de barragem. Segundo,
se um bueiro sob o canal, numa área de aterro alto, for subdimensionado, a fim de
reduzir as descargas de cheia em direção à jusante, o aterro do lado ascendente
formará um reservatório temporário, conforme indicado na Figura 6.23. O talude
posterior abaixo do nível da água do reservatório deverá ser abrandado, até for-
mar um talude estável para o material utilizado (mínimo de 3:1);

„ Quando são construídos grandes aterros sobre fundações de material de baixo peso
específico, deve-se considerar a necessidade de deixar o aterro intocado durante
um ano, antes de construir qualquer estrutura, colocar o revestimento do canal e
completar o aterro até a cota necessária para o topo das margens. Esta medida,
junto com um tratamento adequado das fundações, minimizará qualquer recalque
futuro, assim como os problemas associados a qualquer recalque significativo.

6.2.3.7 Seções de Canal em Cortes Profundos

O projeto de seções de canal em cortes profundos deverá basear-se em sólidos


conhecimentos e experiência de engenharia e nos princípios de mecânica dos solos. A
seguir, são apresentadas algumas diretrizes básicas utilizadas atualmente na elaboração
desses projetos.

„ Taludes para Seção de Canal em Cortes – A Figura 6.24 apresenta uma seção
típica de canal, num corte profundo. A declividade dos cortes deverá ser adequada
aos tipos de solos encontrados in situ, no local em que forem realizados os cortes.
Se a distância do corte vertical, Y, medida da estrada de operação e manutenção
até o topo do corte, for superior a 6m, será preciso considerar a construção de uma
berma de 5m de largura, 6m acima da estrada de operação e manutenção. Se Y for
extremamente profundo, colocar-se-ão bermas a intervalos de 6m. O projeto de
cada berma deverá incluir drenagem adequada, similar à da estrada de operação e
manutenção. Se a seção de corte for muito longa, será preciso instalar drenos de

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Figura 6.22 Sopé do Aterro em Planície de Inundação

Figura 6.23 Dique para Reservatório de Regularização Temporária

Figura 6.24 Seção de Canal em Corte Profundo

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Figura 6.25 Drenagem da Estrada de Operação e Manutenção com Vala de Dreno

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descida, a fim de drenar as bermas. Instalar-se-á um dreno interceptor no topo do


corte do canal, conforme indicado na Figura 6.24. O dreno interceptor deverá estar
localizado a uma distância mínima de 6m do topo do corte profundo. Se o dreno
estiver sempre com água, será preciso efetuar uma análise para verificar se o dreno
está situado a uma distância suficiente dos taludes de cortes, de maneira que o
lençol freático, a partir da superfície da água do dreno, não intercepte os cortes. Se
os cortes forem suficientemente profundos para exigir bermas, será preciso consi-
derar taludes de 2:1. Se se prevêem condições ou solos problemáticos na seção do
corte profundo, é necessário realizar uma análise detalhada, de modo a determinar
se é necessário adotar critérios especiais para o projeto;

„ Drenagem da Estrada de Operação e Manutenção – Quando o canal está situado


em corte profundo, é necessário prover drenagem adequada ao longo da parte
externa da estrada de operação e manutenção, no sopé do corte. A Figura 6.25
apresenta um sistema de drenagem para estrada de operação e manutenção, com
valas de drenagem. A declividade transversal da estrada de operação e manutenção
deverá ser de 0,02 a 0,04. A declividade do fundo da vala de drenagem adjacente
ao sopé do corte poderá variar entre 0,001 e 0,005, no máximo. Se o corte não for
muito longo, a vala poderá ter declividade para montante e para jusante, ao longo
da estrada de operação e manutenção, a partir do meio do corte, a fim de escoar a
drenagem para ambas as extremidades do corte. Se os cortes forem longos, será
preciso prover entradas de dreno, conforme apresentado na Figura 6.25, a interva-
los de aproximadamente 400m;

„ Se as condições em um corte profundo dificultarem, ao extremo, a manutenção das


valas isentas de sedimentos, será possível utilizar um projeto alternativo, que inclua
uma declividade longitudinal, ao longo da estrada de operação e manutenção, e
que, basicamente, utilize a estrada para a drenagem. A Figura 6.26 apresenta um
sistema de drenagem para a estrada de operação e manutenção sem valas de
drenagem. Além disso, mostra as entradas de dreno a serem utilizadas nos pontos
baixos. É indispensável prover declividades uniformes e contínuas entre os pontos
altos e baixos, ao longo da estrada de operação e manutenção, de modo a se
evitarem pontos baixos da estrada que provocariam o empoçamento de água;

„ Drenagem do Topo do Corte – Quando o canal está situado em corte profundo, é


importante que haja um sistema de drenagem de interceptação, no topo do corte,
do lado ascendente do canal, a fim de afastar, dos cortes, os grandes volumes de
água de drenagem. Essa água deve ser conduzida para a estrutura mais próxima
que possa canalizá-la sobre ou sob o canal. O Capítulo 11 fornece maiores detalhes
sobre esse assunto.

6.2.3.8 Considerações Operacionais

Como norma para se iniciar a operação do canal, os seguintes limites nas flutuações
no nível da água são considerados toleráveis para os 60cm superiores da altura normal de
água no canal. Entretanto, incertezas decorrentes de condições operacionais variáveis
exigem o maior cuidado ao se aproximar desses limites. Os operadores do canal deverão
estar alertas, para poder assegurar que o modo como o canal é operado não provoque
efeitos deletérios na operação das tomadas d’água, ou prejudique o revestimento ou as
margens do canal.

Os limites no aumento do nível da água visam a prevenir possíveis mudanças inde-


sejáveis na descarga das tomadas d’água. O aumento no nível do canal não deverá exce-
der 15cm, em qualquer período de 60 minutos. Poderá ocorrer um aumento de 15cm em
menos de uma hora, mas o deslocamento vertical total da superfície da água não deverá

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Figura 6.26 Drenagem da Estrada de Operação e Manutenção com Vala de Dreno

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exceder 15cm durante um período de uma hora. A experiência demonstra que a taxa de
enchimento de um canal não deve exceder 45cm, em qualquer período de 24 horas.

As limitações de rebaixamento do nível da água visam a prevenir mudanças indese-


jáveis na descarga das tomadas d’água, a fim de proteger o revestimento de concreto do
canal de possíveis danos causados pelas pressões hidrostáticas sob o revestimento, as-
sim como o escorregamento de seções de canal revestidas de terra. O rebaixamento do
nível da água não deverá exceder 15cm, em qualquer período de 60 minutos (a qualquer
taxa de rebaixamento); 30cm, em qualquer período de 120 minutos (ao longo de todo o
período); e 45cm, em qualquer período de 24 horas (ao longo de todo o período).

6.3 Estruturas de Canal

As estruturas de canal são singulares, pois são estruturas de transporte de água; é


indispensável investigar não apenas os fatores estruturais, como também os hidráulicos.
Os subitens a seguir tratam brevemente das estruturas principais dos canais, assim como
dos critérios básicos estruturais e hidráulicos incorporados na elaboração dos projetos de
canais, os quais permitirão uma correta seleção da estrutura adequada. O documento
“Design of Small Canal Structures” (“Projeto de Estruturas de Pequenos Canais) [4] apre-
senta exemplos detalhados de projetos para a maioria destas estruturas. A combinação
deste documento com aqueles relacionados na bibliografia, no final deste capítulo, forne-
ce as informações necessárias à elaboração de projetos de estruturas funcionais de ca-
nais, que terão vida útil longa e isenta de manutenção.

6.3.1 Estruturas de Controle

Em geral, são utilizadas para regularizar o fluxo de água nos sistemas de canais e
manter um nível mínimo de água, à montante ou à jusante da estrutura, a fim de garantir a
operação correta das tomadas d’água. Esse nível mínimo de água, denominado nível de
controle, é a cota correspondente ao nível normal para a vazão de projeto do canal, na
estrutura de controle. As estruturas de controle encontram-se espaçadas ao longo do canal,
de modo a manter diferenças de 30 a 60cm nos níveis de controle da água. No caso de
irrigação por gravidade, a localização das estruturas de controle será regida pelos requisitos
de nível nas tomadas d’água. Em geral, quando é preciso instalar uma estrutura de controle
perto de um sifão, de uma estrutura de queda, ou um aqueduto, é normalmente economica-
mente vantajoso combinar a estrutura de controle com a transição de entrada à estrutura.
As estruturas de controle também são necessárias nos locais em que há uma mudança nas
dimensões da seção de canal.

6.3.1.1 Estruturas de Controle com “Stoplogs”

No passado, muitas estruturas de controle foram construídas com “stoplogs”, con-


forme apresentado na Figura 6.27. Tais estruturas ainda são apropriadas nos canais de
pequena capacidade ou quando são necessárias poucas mudanças operacionais durante a
estação de irrigação. Se são utilizadas estruturas de controle com “stoplog”, a velocidade
através da seção do “stoplog”, com base na capacidade projetada, não deverá exceder
1,0m/s.

Se a distância entre a plataforma da estrutura até o fundo do canal for superior a


1,8m, as ranhuras do “stoplog” deverão ter inclinação de 0,25:1, na direção do escoa-
mento, a partir do fundo do canal, até o topo da estrutura. Se a profundidade normal for
superior a 1,8m, ou se o comprimento dos “stoplogs” exceder 1,5m, não deverão ser
utilizados “stoplogs”, pois a operação diária de colocar e remover o “stoplog” é difícil.

Em geral, os “stoplogs” destas estruturas são de madeira. As ranhuras deverão ser


construídas conforme indicado no detalhe da Figura 6.27. A inclinação na face à montan-

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 6.27 Estrutura de Controle com “Stoplogs”

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Elaboração de Projetos de Irrigação

te da ranhura ajuda a impedir que os pranchões fiquem presos nas ranhuras, se a madeira
se expandir. A largura do fundo da ranhura deverá ser aproximadamente 2,5cm maior que
a espessura do pranchão.

6.3.1.2 Vertedouros em Bico de Pato

Com as estruturas de controle com “stoplog”, as variações na vazão do canal


podem resultar em variações substanciais na profundidade da água que escoa sobre o
“stoplog”. Manter a profundidade da água à montante na cota desejada, ou próximo a ela,
requer a remoção ou a inserção de pranchões, à medida que ocorrerem mudanças na
vazão de água do canal. Com freqüência, são utilizados vertedouros em bico de pato, a
fim de se evitarem essas operações manuais. Estes vertedouros têm formato de “V”, em
planta, e seu comprimento pode ser determinado pela fórmula comum dos vertedouros,
de modo a prover uma vazão máxima de água no canal, com altura hidráulica limitada no
vertedouro. As flutuações na altura de água à montante serão limitadas a valores entre a
cota do topo do vertedouro e a cota correspondente à altura hidráulica máxima no
vertedouro.

Os vertedouros em bico de pato devem ser construídos com o vértice do “V”


modificado, orientado para jusante, instalando-se uma pequena comporta deslizante no
vértice, de modo que o trecho à montante do canal possa ser drenado.

6.3.1.3 Estruturas de Controle com Comporta

Atualmente, a maioria das estruturas de controle é projetada com comportas, que


podem ser de segmentos, com guinchos de cabo, ou automáticas, de controle a jusante,
operadas por flutuador. Estas estruturas são necessárias quando se pretende automatizar
a operação do canal, conforme discutido no subitem 6.4. A maioria das estruturas de
controle é projetada com muros de transbordamento de emergência, que desviam 20%,
ou mais, da capacidade de projeto, em torno da comporta, sem ultrapassar a borda livre
do revestimento do canal. Em geral, os muros de transbordamento são posicionados de
0 a 7cm acima do nível normal da água. Também é indispensável que os muros de
transbordamento atendam a desequilíbrios operacionais, sem invasão excessiva da borda
livre.

Recomendam-se ranhuras para “stoplogs” à montante e à jusante da comporta, a


fim de isolar a comporta, sem precisar drenar o canal. Se a estrutura de controle do nível
da água tiver duas comportas, uma delas poderá ser isolada, para reparos de emergência
ou manutenção de rotina, enquanto a outra continua em operação. Este tipo de solução
torna-se mais importante nos sistemas de canais que operam ininterruptamente.

As comportas deverão ser projetadas para contrapressão (presumindo-se que um


trecho de canal entre duas estruturas de controle possa ser esvaziado). Isto é particular-
mente importante no projeto dos parafusos de placa dos mancais de pino, nas comportas
de segmento. A Figura 6.28 apresenta uma típica estrutura de controle com comporta
segmento. O Capítulo 9 deste MANUAL contém informações adicionais relativas ao pro-
jeto de comportas segmento.

6.3.2 Estruturas de Sifão Invertido

São utilizadas para conduzir a água do canal por baixo de estradas, cursos d’água,
ou outras depressões. O sifão pode ter formato de caixa, trapezoidal ou tubo. Em geral, os
sifões de caixa ou tubo são dimensionados para velocidades inferiores a 2,5m/s. Veloci-
dades superiores tendem a aumentar a perda de carga hidráulica e podem danificar o
conduto, quando a água carrega sedimentos abrasivos. O sifão em seção trapezoidal é
dimensionado para velocidades próximas à velocidade no canal, de modo a minimizar a
perda de carga hidráulica.

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Figura 6.28 Estrutura de Controle com Comporta Segmento

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Figura 6.29 Sifão de Tubo

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Figura 6.30 Cálculos Hidráulicos para Sifão de Tubo

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6.3.2.1 Sifões Formados por Tubulações

Os sifões formados por tubulações são muito utilizados porque, na maioria dos
casos, são muito econômicos. A Figura 6.29 apresenta um típico sifão formado por tubu-
lações, enquanto a Figura 6.30 fornece um exemplo do cálculo das perdas de carga
hidráulica através deste tipo de sifão. Neste exemplo, foram acrescentados 10% às per-
das calculadas, a fim de incluir o excesso de capacidade e um possível aumento no fator
de atrito dos condutos, ao longo do tempo. O procedimento indicado nesta figura pode
ser utilizado para sifões de qualquer formato.

Quando o sifão passar sob um canal natural de drenagem de cheia, é preciso inves-
tigar dois fatores. Primeiro, o canal natural deverá ser analisado, de maneira a determinar
se é estável ou se poderá ocorrer degradação. Neste último caso, o grau de degradação
deverá ser estimado, de modo a determinar a cota final do fundo do canal natural, para
fins de projeto. Será indispensável estimar a profundidade de erosão para a cheia de
projeto, de maneira que o sifão possa ser enterrado suficientemente, abaixo do leito do
canal natural, para permanecer estável durante uma cheia. Segundo, se houver qualquer
possibilidade de os condutos permanecerem vazios durante uma cheia, será necessário
peso submerso de solo suficiente, sobre os condutos, levando em consideração a profun-
didade de erosão, conforme indicado na Figura 6.29, para impedir a flutuação dos condu-
tos. O documento “Computing Degradation and Local Scour” (Cálculo de Degradação de
Erosão Local) [5] poderá ser utilizado para estimar a degradação e a subescavação.

6.3.2.2 Estruturas de Drenagem

Se o sifão for demasiado comprido para tornar pouco prático seu desaguamento
mediante bombeamento numa das extremidades, será preciso considerar a possibilida-
de de prover uma estrutura de drenagem no ponto mais baixo do sifão, ou nas suas
proximidades. Estes tipos de estruturas são particularmente recomendáveis nos canais
utilizados durante todo o ano, pois, numa emergência, o sifão poderá ser desaguado, sem
esvaziar o canal. Será preciso instalar “stoplogs” nas transições de saída e de entrada,
caso não exista uma comporta de controle. A Figura 6.31 apresenta uma típica estrutura
de drenagem. A válvula pode ser aberta para drenar o sifão por gravidade, até a cota da
estrutura de drenagem. Também é possível inserir uma bomba, através da flange cega, no
tubo vertical de aço, de modo a terminar a drenagem do sifão. Portanto, o tubo vertical de
aço deverá ser suficientemente grande para acomodar uma bomba submersível. Um orifí-
cio de entrada tipo flange cega, para ganhar acesso ao tubo, poderá ser incorporado à
estrutura de drenagem.

6.3.2.3 Sifões Invertidos de Seção Retangular ou Trapezóide

Em geral, os sifões de seção retangular são utilizados quando o sifão é relativamente


curto e tem uma altura hidráulica baixa, igual ou inferior a 9m, até o topo da caixa. O sifão
trapezoidal, mostrado na Figura 6.32, pode ser utilizado quando o fundo do canal natural
de drenagem transversal está no nível normal da água no canal, ou logo abaixo dele. O
sifão trapezoidal é algumas vezes empregado nos cruzamentos de estrada, em lugar das
pontes. Dentre outras vantagens, os sifões trapezoidais têm perdas de carga hidráulica
muito pequenas e não requerem transições estruturais de entrada e saída do sifão.

6.3.3 Estruturas de Calha em Alinhamento

As estruturas de calha podem ser utilizadas para conduzir água ao longo de declives
acentuados, sobre depressões, em áreas de faixa de domínio restrito, ou quando outras
razões tornam as margens do canal impraticáveis. A calha numa encosta denomina-se
calha sobre o chão (Figura 6.33), enquanto a calha sobre uma depressão, calha aérea ou
aqueduto. A Figura 6.34 apresenta uma típica tubulação para construção em encostas.

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Figura 6.31 Estrutura de Dreno para Sifões

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Figura 6.32 Sifão Trapezoidal

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Figura 6.33 Calha Sobre o Chão

Figura 6.34 Tubulação Sobre o Chão

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Nos Estados Unidos, em geral é mais econômico, em termos dos custos de construção e
de manutenção, utilizar sifões formados por tubulações, ao invés de calhas aéreas. Em
outras partes do mundo, onde há dificuldades de fornecimento de tubos de grande diâme-
tro, o aqueduto poderá ser mais prático.

As calhas sobre o chão podem ser empregadas em encostas de grande declividade.


Em encostas rochosas, recomenda-se aterrar os lados da calha, do lado da encosta, de
maneira a proteger a parede da calha contra deslizamento de pedras. Após conhecer as
condições de reaterro, será preciso prever drenagem e resistência ao deslizamento, con-
forme necessário. As paredes da calha devem ser projetadas para as condições de carga:
carga de terra, no exterior, ou carga de água, no interior. Se houver possibilidade de
caírem grandes quantidades de detritos no canal, ou se sua capacidade for pequena,
considerar-se-á a possibilidade de utilizar uma tubulação, ao invés da calha.

As paredes das calhas aéreas são consideradas vigas que sustentam a carga entre
os suportes. Se for vantajoso limitar o número de suportes, a calha aérea poderá apoiar-
se em vigas de concreto protendido. As calhas sempre devem ser construídas com juntas
de vedação entre as seções. As perdas hidráulicas nas calhas aéreas devem ser calcula-
das como para os sifões formados por tubulações, não sendo necessário acrescentar os
10% de excesso de capacidade.

A velocidade na calha deverá ser suficientemente baixa para evitar aproximar-se da


profundidade crítica, nas irregularidades estruturais, ou na declividade máxima permitida
pelas tolerâncias construtivas, arbitrando-se um valor de 0,014 para “n”. A borda livre em
aquedutos deve estar relacionada com aquela dos canais adjacentes. Uma calha poderá
ser utilizada como vertedouro, abaixando-se a parede no local em que o extravasamento
não terá efeitos deletérios.

6.3.4 Quedas

Os critérios específicos de projeto das quedas variam segundo a localização de


cada estrutura. As quedas são utilizadas para conduzir a água para cotas inferiores. Hou-
ve grande volume de pesquisa e desenvolvimento nesta área, o que resultou em critérios
específicos de projeto para os diversos tipos de quedas, numa variedade de situações. A
seguir, são apresentados diversos tipos de estruturas disponíveis, assim como os critérios
de projeto bastante gerais. Os documentos “Design of Small Canal Structures” (Projetos
de Pequenas Estruturas em Canais) [4] e “Engineering Monograph no. 25, Hydraulic Design
of Stilling Basins and Energy Dissipators” (Monografia de Engenharia no. 25, Projeto
Hidráulico de Bacias de Amortecimento e Dissipadores de Energia) [6] podem fornecer
detalhes específicos relativos aos diversos tipos de quedas.

6.3.4.1 Quedas de Tubulação

Em geral, as quedas de tubulação são utilizadas para volumes de água menores e,


ocasionalmente, quando a água também deve passar sob uma estrada. A queda do Tipo
1, apresentada na Figura 6.35, é empregada para vazões inferiores a 1,5m3/s e quedas
inferiores a 4,5m. Esta queda dissipa a energia através de um ressalto hidráulico na
tubulação. O ponto baixo do conduto neste tipo de queda de tubulação deverá ser sufici-
entemente baixo para assegurar a ocorrência do ressalto no tubo. O conduto é dimensionado
para uma velocidade com tubo cheio de 1,0m/s, quando não há transição de saída, e
1,5m/s, quando há transição de saída.

A queda do Tipo 2, apresentada na Figura 6.36, pode ser utilizada para vazões
maiores, e têm sido utilizada em quedas de até 12m, com uma saída amortecida por
impacto. O tubo pode ter declive de até 0,500, de maneira que a queda seja a menor
possível. Entretanto, as quedas de tubulação (às vezes denominadas rápidos de tubula-

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Figura 6.35 Quedas de Tubos (Tipo 1)

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Figura 6.36 Quedas de Tubos (Tipo 2)

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Figura 6.37 Queda Inclinada de Seção Retangular

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ção) poderiam ser mais longas, acompanhando a superfície do terreno, conforme mostra-
do na Figura 6.40. Uma vez que as velocidades podem ser altas nas quedas de tubulação,
o fluxo deverá permanecer supercrítico, sem qualquer ressalto hidráulico no tubo. A saída
pode ser uma saída amortecida por impacto de dissipação. A saída amortecida por impac-
to não deve ser utilizada se os detritos na água forem de grande tamanho, ou em quanti-
dade excessiva, porque eles poderão ficar presos na parte anterior do bloco de impacto.

Para ambos os tipos de queda em tubulações, uma aeração deve ser sempre previs-
ta imediatamente à jusante da estrutura de entrada.

6.3.4.2 Quedas Inclinadas de Seção Retangular

Para canais de capacidade superior, as quedas de tubulação são menos eficazes em


termos de custo, e as inclinadas de seção retangular, com bacia de dissipação, conforme
apresentado na Figura 6.37, tornam-se mais econômicas. Em geral, este tipo de queda
tem declividade de fundo de 2:1 e é utilizada para quedas de, no máximo 4,5m de altura.
Entretanto, as quedas inclinadas de seção retangular (às vezes denominadas calhas de
seção retangular) podem ser mais longas, com menor declividade de fundo e maior queda
em altura (vide Figura 6.41). Se a queda em altura for superior a 4,5m, também pode
considerar uma queda em canal com blocos amortecedores do impacto.

As quedas de tubulação e as de seção retangular deverão ter, se necessário, uma


estrutura para controlar o nível da água à montante. Em canais de terra, há a necessidade
da estrutura de controle, tipo vertedouro, ou “stoplogs”, etc., de modo a controlar o nível
da água à montante e a prevenir seu rebaixamento, o que causaria erosão na seção de
terra.

Nas calhas de seção retangular, algumas vezes ocorre um fenômeno conhecido


como “slug flow” (fluxo em ondas periódicas). O documento “Slug Flow in Rectangular
Chutes” (Escoamento em Ondas Periódicas em Calhas de Seção Retangular) [7] e a seção
2.34 do documento “Design of Small Canal Structures” (Projeto de Estruturas em Peque-
nos Canais) [4] poderão auxiliar na redução dos efeitos do escoamento em ondas periódi-
cas.

6.3.4.3 Quedas com Blocos Amortecedores

Podem ser utilizadas como alternativa. Embora sejam mais dispendiosas do que
outros tipos de quedas, apresentam muitas vantagens. Não requerem bacia de dissipa-
ção, uma vez que a energia é dissipada à medida que a água escoa através dos blocos da
queda. Não há limite de altura de queda, nem requisito de manter um nível mínimo de
água de jusante. É a estrutura ideal quando o canal termina num reservatório, com nível
de água variável. Se utilizada num canal de drenagem em que se prevê futura degradação,
a queda pode ser estendida dois dentes abaixo da cota da degradação prevista, e nenhu-
ma outra modificação precisará ser efetuada no futuro. Se ocorrer degradação maior do
que a prevista, a queda com blocos amortecedores poderá ser aumentada com facilidade,
conforme necessário, numa outra oportunidade. A Figura 6.38 apresenta uma típica que-
da com blocos amortecedores.

6.3.4.4 Quedas Verticais

As quedas verticais podem ser incorporadas às estruturas de queda/controle do


nível da água, conforme indicado na Figura 6.39, que também mostra as dimensões das
bacias de dissipação para quedas verticais.

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Figura 6.38 Queda com Blocos Amortecedores

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Figura 6.39 Estrutura de Queda com Controle do Nível D’água

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Figura 6.40 Queda de Tubulação

Figura 6.41 Calha Retangular

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Figura 6.42 Tomada D’água com Orifício sob Carga Constante

Figura 6.43 Tomada D’água com Hidrômetro a Molinete

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6.3.5 Tomadas d’Água

Existem muitos tipos diferentes de tomada d’água. Os dois sistemas básicos são as
tomadas d’água para canais secundários e as tomadas d’água para sistemas de tubula-
ção. Poderá ser necessário medir a água derivada nas tomadas d’água e, por isso, diver-
sos sistemas de medição tem sido incorporados às tomadas d’água. As tomadas d’água
mais comuns, de um canal a céu aberto para outro canal a céu aberto, incluem as toma-
das d’água de orifício sobre carga constante; as tomadas d’água com medidor de vazão
tipo molinete, com calha de Parshall, e outro tipo de dispositivo de medida tipo vertedouro;
e as tomadas d’água com módulo de controle de vazão do tipo comporta. As tomadas
d’água com calha em rampa estão sendo utilizadas com maior freqüência. Se não houver
necessidade de medir a vazão, será possível utilizar a tomada d’água mais simples e
menos dispendiosa.

6.3.5.1 Tomadas d’Água de Orifício de Carga Constante

As tomadas d’água de orifício sob carga constante, apresentadas na Figura 6.42,


têm sido utilizadas durante muitos anos. A comporta mais próxima ao canal é a comporta
do orifício. Esta comporta é calibrada de modo a determinar a abertura da comporta,
“Ym”, e a carga diferencial, “h”, que fornecerá a vazão desejada através da comporta.
Para a derivação da água, a comporta de orifício é aberta no grau desejado, e a outra
comporta, que é a comporta de controle da tomada d’água, é ajustada de modo a forne-
cer a carga diferencial requerida, “h”, através da comporta de orifício.
As comportas deslizantes de ferro fundido, que são mais estanques do que as
comportas deslizantes de aço menos dispendiosas, são utilizadas para a comporta de
controle da tomada d’água, já que qualquer vazamento é indesejável. As comportas
deslizantes de aço são aceitáveis para as comportas de orifício ajustáveis. Este tipo de
tomada d’água não deve ser utilizado em canais que sofrem mudanças diárias, relativa-
mente grandes, de nível de água, pois seriam necessários freqüentes ajustes. Os deta-
lhes de projeto, assim como os projetos-padrão, são apresentados no documento “Design
of Small Canal Structures” (Projeto de Estrutura em Pequenos Canais) [4].

6.3.5.2 Tomadas d’Água com Hidrômetro a Molinete

As tomadas d’água com o hidrômetro a molinete, mostradas na Figura 6.43, permi-


tem fixar a vazão desejada através da tomada d’água e, ao mesmo tempo, medir o volu-
me total de água derivada, utilizando, para este fim, um indicador de vazão, com totalizador,
na cabeça do medidor. Os hidrômetros a molinete constituem uma maneira conveniente e
precisa de se obterem informações relativas à vazão, embora as unidades precisem de
manutenção anual, como, por exemplo, engraxar os rolamentos. Quando se desgastam,
os rolamentos precisam ser substituídos, pois rolamentos desgastados reduzem a preci-
são do medidor. Num sistema que opera durante todo o ano, serão necessários alguns
medidores sobressalentes, de forma que possam ser substituídos, para manutenção. Re-
comenda-se ainda a instalação de grades ou outro dispositivo de peneiração, para impedir
a entrada de detritos que possam entulhar ou danificar a hélice do hidrômetro. Para que o
hidrômetro opere corretamente, é preciso que o tubo da tomada d’água esteja cheio;
portanto, será necessário garantir um nível mínimo de água à jusante, que manterá o nível
de água acima do topo do tubo, na saída da tomada d’água. Em geral, o tubo para este
tipo de tomada d’água é dimensionado com base numa velocidade de aproximadamente
1,5m/s, para a capacidade de projeto. Recomenda-se que a comporta da tomada d’água
seja do tipo deslizante de ferro fundido, de modo a prover uma vedação estanque quando
o sistema não está sendo utilizado.

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Figura 6.44 Calha “Parshall” Modificada de Concreto

Figura 6.45 Vertedouro “Cipolletti”

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6.3.5.3 Tomadas d’Água com Calha Parshall

As estruturas utilizadas por estas tomadas d’água são similares às empregadas


com os hidrômetros a molinete. Uma calha Parshall, similar àquela mostrada na Figura
6.44, deverá ser instalada a uma distância mínima de 33m, ou 10 vezes a largura de
garganta da calha, a que for maior, à jusante das estruturas de comportas, curvas, ou
outras descontinuidades, a fim de se garantir um escoamento reto e uniforme na calha.
As medidas na calha Parshall serão incorretas, se o escoamento na entrada da calha não
for reto e uniforme. Se a calha estiver situada à jusante de uma estrutura com múltiplas
comportas, as aberturas das comportas deverão ser bastante homogêneas, para que a
vazão seja o mais uniforme possível. No caso de comportas que operam com aberturas
desiguais, será preciso aumentar a distância entre as comportas e a calha, de modo que
a vazão se torne uniforme, antes de chegar à calha. Outro dispositivo utilizado em lugar
da calha Parshall é o vertedouro de concreto (vertedouro cipolleti), apresentado na Figura
6.45. Este vertedouro pode ser empregado quando há excesso de altura hidráulica dispo-
nível no canal a céu aberto servido pela tomada d’água. Informações adicionais relativas
a estes e a outros dispositivos de medição podem ser encontradas no documento “Water
Measurement Manual” (Manual de Medição de água) [8].

6.3.5.4 Tomadas d’Água com Calha em Rampa

A tomada d’água com calha em rampa é similar às tomadas d’água com calha
Parshall. Como a calha Parshall, a calha em rampa precisa estar situada a suficiente
distância de comportas, curvas, ou outros pontos de distúrbio, de modo a assegurar um
escoamento uniforme da água na entrada da calha.

A calha em rampa, apresentada na Figura 6.46, é construída na seção de canal e


consiste de uma rampa de aproximação com declive de 3:1, até uma crista larga horizon-
tal, com queda vertical até o fundo do canal. Se a perda de carga hidráulica for crítica,
poderá ser instalada uma rampa à jusante, com declive de 6:1 a partir da crista, em lugar
da queda vertical. As calhas em rampa são fáceis de construir e podem ser instaladas em
canais existentes, para atender requisitos de medição da água, identificados após a con-
clusão do sistema. Quando a calha em rampa é colocada num canal existente, o nível da
água à montante ficará maior do que o normal. Quando as calhas em rampa são incorpo-
radas ao projeto de canais novos, será preciso rebaixar o leito do canal à jusante da crista
da calha em uma altura YD, conforme indicado na Figura 6.46, a fim de se contemplarem
as perdas através da calha e se ter a certeza de que os limites de submersão não serão
nunca ultrapassados, independentemente das condições operacionais. Desta forma, a
profundidade normal na capacidade de projeto poderá ser mantida à montante e à jusante
da calha em rampa.

As calhas em rampa têm perdas de carga hidráulica relativamente pequenas e po-


dem tolerar grandes submersões (H3/H1), de até 85%, para uma crista com a face à
jusante vertical, e 93%, para rampa à jusante de 6:1. A perda de carga hidráulica mínima
necessária é de 15% da carga hidráulica total na estação de medição, para a face vertical,
e de 7%, para a rampa em declive. Os erros nas leituras de vazão aumentam muito
rapidamente, próximo ou além do limite de submersão; portanto, na elaboração do proje-
to, será conveniente selecionar uma submersão inferior à máxima. A determinação visual
da submersão de uma rampa é difícil. Se for necessário que a calha opere perto do limite
de submersão, recomenda-se colocar uma régua limnimétrica, seis profundidades de água
à jusante do ponto em que o fluxo passou através do ressalto e retornou ao normal. Desta
forma, será possível calcular a submersão real, a fim de compará-la ao valor-limite.

Para assegurar um fluxo paralelo suficiente para a utilização do programa de com-


putador que consta do Anexo A deste Capítulo, sem infringir os limites de curvatura, o

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Figura 6.46 Calha de Rampa

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critério de projeto básico, relativo à razão da carga hidráulica, na estação de medição,


para o comprimento de crista, na direção do fluxo, deverá ser o seguinte:

(Y1/L3) < 0,5.

A carga hidráulica na estação de medição não deverá ser superior a uma vigésima
parte do comprimento de crista, de modo a garantir um fluxo sem ondulações causadas
pelo controle de atrito. Desta forma, é necessário um critério adicional, assim expresso:

(Y1/L3) > 0,05.

A comparação de precisão entre as calibrações de campo e de modelo com os


cálculos de computador indica que as calhas em rampa calibradas por meio de computa-
dor são, pelo menos, tão precisas quanto as calhas Parshall, ou seja, na faixa de 3 a 5%.

As calhas em rampa não têm maiores problemas com sedimentos do que os outros
tipos de calha. Nos canais novos, deve-se construir uma queda no fundo, transversal à
calha, para poder assegurar um fluxo normal, à montante e à jusante da calha. Se a
profundidade da água de aproximação for mantida próximo da profundidade de projeto,
os problemas com sedimentos poderão ser minimizados. Os testes com computador e
com modelos indicam que os sedimentos deverão ser removidos quando os depósitos
forem equivalentes a 30% da altura de crista.

Os requisitos construtivos críticos são que a crista tenha comprimento adequado na


direção do escoamento, com um acabamento liso, rebocado com a colher, e que esteja
em nível, em ambas as direções. O requisito de calibração é que todas as dimensões, em
especial a largura de crista da rampa de seção de canal, sejam cuidadosamente medidas,
após a construção. A calibração é fortemente sensível à largura da crista transversal e às
dimensões dos taludes laterais. Na crista, o ponto crítico na verificação destes valores
está à distância de um terço do comprimento da crista, medida à montante da extremida-
de. As calhas em rampa podem ser calibradas por meio de computador, utilizando-se as
medidas obtidas após a construção (medidas “as built”). Desta forma, é possível minimizar
os efeitos sobre a precisão, decorrentes do deslizamento de uma forma ou de erros
construtivos.

As velocidades de aproximação inferiores a 0,3m/s tendem a encorajar o cresci-


mento de plantas aquáticas e a formação de criadouros de insetos. Portanto, recomen-
da-se a instalação de drenos através da crista, para poder esvaziar o trecho superior,
quando o canal está fechado. Um método de drenagem seria a instalação de um dreno
de contorno, com válvula, em torno da calha.

A fim de evitar a interferência de ondas na medição da altura hidráulica, o número


limite de Froude, V1/[(gd)(1/2)], deverá ser inferior a 0,5. A altura hidráulica mínima de
medição (Y1) deverá ser superior a 60mm, a fim de se ter uma altura suficiente relativa-
mente à precisão.

As dimensões da calha em rampa devem ser selecionadas de modo a satisfazer os


critérios acima e podem ser determinadas iterativamente, utilizando-se o programa de
computador do Anexo A, deste Capítulo. Nos projetos de canais novos, arbitrar-se-á que
o fluxo terá profundidade normal, para a vazão de projeto (limite superior de medida na
calha), tanto à montante, quanto à jusante, da calha. Os seguintes critérios deverão ser
atendidos:

a. (Y1/L3) < 0,5;


b. (Y1/L3) > 0,05;

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c. V1/[(gd)(1/2)] < 0,5;


d. Altura hidráulica mínima de medição, Y1, superior a 60mm;
e. H3/H1 < 0,85 (a razão ideal é 0,8, ou menos);
f. V1 > 0,3m/s.

6.3.5.5 Tomadas d’Água com Controles de Vazão Modulares

Existem unidades pré-fabricadas disponíveis no mercado, as quais consistem de


uma série de portinholas de larguras diferentes, que, quando elevadas, permitem o esco-
amento de vazões determinadas, através da abertura criada (vide Figura 6.47). As unida-
des-padrão disponíveis possuem capacidades nominais de 100, 200, 500 e 1.000 litros/
segundo/ /metro de largura das unidades. As unidades individuais menores são projetadas
para vazões que variam entre 30 e 150 litros/segundo, utilizando-se portinholas de largu-
ras diferentes, é possível regular a vazão, em incrementos de 5 litros/segundo. As gran-
des unidades individuais atendem a vazões entre 1.000 e 3.000 litros/segundo, com
incrementos de 100 litros/segundo. Os dois tamanhos intermediários têm capacidades e
incrementos intermediários. É possível obterem-se tomadas d’água com capacidade mai-
or, a partir de quaisquer das unidades descritas, instalando-se duas ou mais unidades, em
conjunto; entretanto, não se recomenda a combinação de módulos com capacidades por
metro de largura díspares. Por exemplo, uma unidade de 200 litros/segundo/metro de
largura não deverá ser combinada com uma outra de 100 litros/segundo/metro de largura,
visando a obter a maior capacidade de vazão da unidade maior, junto com o menor
incremento regulador da vazão da unidade menor. Portanto, a seleção do módulo a ser
instalado baseia-se na variação das vazões a serem controladas, no grau desejado de
regulação da vazão, na perda de carga hidráulica através da estrutura que pode ser tole-
rada e nas flutuações no nível da água à montante do módulo de controle de vazão.

Estes módulos de controle da vazão podem tolerar alguma variação no nível da


água à montante da unidade; entretanto, mudanças significativas podem afetar a preci-
são da regulação da vazão. Com freqüência, a fim de se manter um nível de água constan-
te para os módulos, estes são instalados imediatamente à jusante de uma comporta
automática de controle do nível à jusante, operada por flutuador, conforme ilustrado na
Figura 6.47.

6.3.5.6 Tomadas d’Água com Tela Fixa

As tomadas d’água das estações de bombeamento ou das tubulações, que servem


os sistemas de irrigação por aspersão, têm critérios um pouco diferentes daquelas nos
sistemas a céu aberto. Estas diferenças são a retenção de detritos e a medida da água.
Essa retenção de detritos pode ser realizada utilizando-se telas fixas, similares àquela
apresentada na Figura 6.48. Dimensiona-se uma tela para remover a menor partícula que
possa obstruir o cabeçote dos aspersores. Embora a tela possa ser colocada verticalmen-
te, recomenda-se colocá-la rente ao talude lateral do canal, por duas razões: primeiro,
será possível eliminar a grade que retém os detritos maiores; e, segundo, quando a tela
for removida para limpeza, os detritos ficarão sobre a tela, se a mesma tiver uma inclina-
ção de 1,5:1, enquanto, numa tela vertical, os detritos tendem a cair quando a tela é
removida. É possível instalar um dispositivo manual de içamento para remover as telas
para limpeza. De todas as formas, devem-se ter dois conjuntos de telas, de maneira que
qualquer detrito que caia possa ser retido pela segunda tela. Quando há grandes quantida-
des de musgo, este tende a ficar preso na tela, impedindo a limpeza adequada das mes-
mas, exceto com jatos de água de alta pressão. A única outra opção de limpeza seria
remover a tela e deixar o musgo secar. Depois de seco, o musgo poderá ser facilmente
removido com escova de cerdas firmes. Se este método de limpeza for selecionado, será
preciso dispor de conjuntos de telas sobressalentes. É indispensável padronizar as dimen-
sões dos quadros das telas, de maneira que possam ser utilizados em qualquer estrutura
do projeto. A área bruta da seção transversal da tela deverá basear-se numa velocidade

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Figura 6.47 Módulos com Portinhola para Controle da Vazão das Tomadas D’água

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Figura 6.48 Tomadas D’água com Telas Fixas

Figura 6.49 Tomadas D’água da Estação de Bombeamento com Telas Móveis

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Figura 6.50 Tomadas D’água com Tela de Chapa Perfurada

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de aproximação de cerca de 0,15m/s. A área da seção transversal das telas em taludes de


canal poderá ser medida perpendicularmente ao talude, o que resultará numa largura
menor do que a requerida para as telas verticais.

6.3.5.7 Tomadas d’Água com Tela Móvel

Quando há uma grande quantidade de musgo ou outros tipos de detritos pequenos


que exijam limpezas freqüentes, uma tomada d’água com tela móvel, similar à apresenta-
da na Figura 6.49, fornecerá um método eficaz de retenção dos detritos. Embora mais
dispendiosas, as telas móveis são muito eficazes na remoção automática desses detritos.
O dimensionamento da tela móvel baseia-se numa velocidade de aproximação à área
bruta da tela de 0,15 a 0,3m/s. Se houver uma grande quantidade de plantas aquáticas de
folhas largas, recomenda-se utilizar um sistema similar ao das telas móveis. Este sistema
possui um conjunto de dentes de polietileno rotativos e inclinados, que podem ser
dimensionados para atender a problemas específicos. O sistema é autolimpante e joga a
vegetação removida numa esteira transportadora.

6.3.5.8 Tomadas d’Água com Tela de Chapa Perfurada

Recentemente, foi lançado um novo sistema de retenção de detritos da água, o


qual utiliza uma chapa de aço perfurada, colocada na tomada d’água, rente ao talude
lateral do canal. A chapa perfurada é uma chapa de aço estrutural, normalmente com
6,4mm de espessura, com uma série de orifícios, puncionados ou broqueados. O diâme-
tro dos furos pode ser de até 4mm. A razão da área dos orifícios para a área de chapa
sólida deverá ser de 1:1. Os detalhes gerais do sistema de chapa perfurada são apresen-
tados na Figura 6.50. A área da chapa deverá basear-se na velocidade de aproximação,
perpendicular ao talude lateral do canal, equivalente a 0,09 a 0,15m/s, para a vazão
máxima de projeto da tomada d’água. A superfície da chapa é lisa, e o musgo ou os
pequenos detritos podem ser removidos com maior facilidade do que no caso da tela de
retenção de detritos. A chapa pode ser limpa com uma bomba de detritos, utilizando-se
um cabeçote de vácuo sobre rodas, similar ao utilizado na limpeza de piscinas. Este
método de limpeza não permite que qualquer detrito atravesse os furos durante a opera-
ção de limpeza. Se for tolerável a passagem de pequenas quantidades de musgo ou de
outros detritos através dos furos durante a limpeza, os detritos poderão ser removidos da
chapa por meio de um rodo de borracha.

6.3.6 Estruturas de Descarga e Vertedouros

A estrutura de descarga é utilizada para esvaziar um canal durante uma emergên-


cia, ou no final da estação de operação, e os vertedouros, para evacuar vazões excessi-
vas no canal, enquanto se mantém o nível de água projetado. É possível combinar-se uma
estrutura de descarga e um vertedouro, numa mesma estrutura. Os vertedouros devem
ser incluídos em todos os sistemas de canais, em especial quando é utilizado revestimen-
to de concreto, no caso de entrarem grandes volumes de água de chuva no canal, ou de
existirem estações de bombeamento no canal que poderiam rejeitar água durante inter-
rupções dos serviços de energia elétrica. A capacidade de transbordamento automático
necessária para um vertedouro depende da vazão afluente proveniente de drenos, de
vazões adicionais resultantes da operação de tomada d’água à montante, de derivações
para as estações de bombeamento e de ajustes nas comportas à montante e à jusante.

„ Vazão Afluente da Captação dos Drenos – A capacidade de projeto dos vertedouros


deverá ser suficiente para permitir a evacuação de vazões afluentes previstas, acu-
muladas, provenientes da captação dos drenos à montante da estrutura de descar-
ga. Em geral, esta vazão afluente deverá limitar-se a 20%, no máximo, da vazão de
projeto do canal.

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Figura 6.51 Vertedouro de Calha Lateral

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Figura 6.52 Vertedouro Tipo Sifão com Comportas para Drenar o Canal

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„ Operação das Tomadas d’água à Montante – O fechamento das comportas das


tomadas d’água à montante, sem o correspondente ajuste da comporta de regula-
rização do canal à montante, resultará numa vazão adicional à jusante da tomada
d’água. A capacidade de vertedouro é algumas vezes regida pela capacidade da
maior tomada d’água à montante;

„ Estações de Bombeamento – Em geral, o canal que alimenta uma estação de


bombeamento requer provisão de uma capacidade automática do vertedouro equi-
valente à capacidade de projeto da estação de bombeamento. Este requisito surge
quando a estação de bombeamento sofre interrupção no serviço de energia elétrica.
Como é provável que tais interrupções ocorram durante temporais, quando as cap-
tações dos drenos estão operando com capacidade plena, recomenda-se que a
capacidade de projeto do vertedouro seja igual à capacidade de bombeamento da
estação, mais a capacidade de projeto das captações dos drenos. Isto poderá repre-
sentar 120% da capacidade de projeto do canal;

„ Ajuste das Comportas à Montante ou à Jusante – Os vertedouros deverão ser


projetados com uma capacidade mínima equivalente a 10% da vazão de projeto do
canal, a fim de permitir o transbordamento da água em excesso, resultante de
ajuste das comportas de regulação à montante ou à jusante. (Isso considera que as
comportas de “by-pass” de 20% da vazão de pressão, vide o item 6.3.1.3);

„ Durante a operação de vertedouro a borda livre pode ser reduzida à metade do valor
nominal. Os três tipos mais comuns de vertedouro são os vertedouros de canal
lateral, os vertedouros-sifão e os vertedouros com comporta.

6.3.6.1 Vertedouros-Sifão e Vertedouros de Canal Lateral

A vantagem dos vertedouros de canal lateral, Figura 6.51, e dos vertedouros-sifão,


Figura 6.52, é que descarregam automaticamente a água em excesso, sem precisarem de
energia elétrica ou de automação das operações. Os vertedouros-sifão podem ser
construídos com sifões pré-fabricados, de aço, assim como concreto moldado, conforme
apresentado na Figura 6.52. Os vertedouros de canal lateral eliminam a água em excesso,
a taxas crescentes, à medida que aumenta o nível da água no canal. Podem ser utilizados
para evacuações operacionais e para a descarga do escoamento superficial de pequenas
chuvas, assim como para descargas resultantes de falta de força na estação de
bombeamento. O vertedouro-sifão funciona como vertedouro para desaguar pequenas
vazões, até o nível da água no canal aumentar o suficiente para colocar o sifão em
operação. A partir desse momento, o vertedouro-sifão repentinamente opera com vazão
máxima. Se a descarga for substancial, qualquer pessoa no curso d’água, à jusante do
vertedouro-sifão, poderá correr perigo. Neste caso, será preciso um alerta sonoro, antes
da operação de descarga. A calha de saída à jusante de um vertedouro-sifão deverá ser
projetada para, instantaneamente, aceitar toda a capacidade de descarga.

Quaisquer dos vertedouros poderão ser utilizados como estrutura de descarga, para
esvaziar o canal, mediante o acréscimo de uma comporta deslizante.

6.3.6.2 Estruturas de Descarga/Vertedouros com Comporta

As estruturas de descarga com comporta, apresentadas na Figura 6.53, têm a


vantagem de poder esvaziar o canal num período relativamente curto. É indispensável
assegurar-se de que as taxas de rebaixamento do canal, discutidas no subitem 6.2.3.8,
não sejam excedidas. Poderão ser utilizadas comportas de segmento ou deslizantes. As
comportas de segmento podem ser completamente abertas, de modo a permitir a passa-
gem de detritos flutuantes. Isso pode ser vantajoso nos canais sazonais, que podem
acumular grandes quantidade de detritos durante o período em que se encontram

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Figura 6.53 Estrutura de Descarga com Comporta

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Figura 6.54 Tubo Transversal Acima do Canal

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Figura 6.55 Canaleta Transversal por Cima do Canal

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inoperantes. Quando o canal é preparado para operar, esses detritos poderão ser deslocados
canal abaixo, e serem evacuados no local do vertedouro. Uma estrutura de descarga com
comporta, automatizada para manter um nível normal de água no canal durante as cheias
ou a falta de energia elétrica, se transforma num vertedouro com comporta. O vertedouro
com comporta é ideal quando existe um sistema de controle remoto por supervisor, e a
comporta pode ser operada a partir de um centro de controle. Para se obter um sistema à
prova de erros, o vertedouro com comporta deverá ser equipado com um conjunto motor-
gerador, no caso de interrupções no fornecimento de energia elétrica para o vertedouro.

6.3.7 Estruturas de Drenagem Transversal

As estruturas de drenagem transversal devem ser objeto de séria consideração. Po-


dem ocorrer problemas, como erosão das margens dos canais, no caso de transbordamento
das entradas das passagens de água por cima do canal, e erosão por “piping” do aterro,
quando as juntas dos tubos dos bueiros não são estanques, se estas estruturas não forem
cuidadosamente projetadas e construídas.

6.3.7.1 Estruturas de Passagem de Água, por Cima de um Canal (Tubos e Canaletas)

As estruturas de passagem de água por cima do canal são utilizadas para conduzir
as águas pluviais por cima do canal, em áreas em que o canal foi formado por meio de
corte no terreno. Estas estruturas, quando constituídas por tubos (ver Figura 6.54), po-
dem ser empregadas para vazões menores, sempre que não haja perigo de ficarem
obstruídas por detritos. As estruturas de passagem de água, por cima do canal, quando
constituídas por canaletas (ver Figura 6.55), são empregadas para grandes vazões, ou
quando as águas carregam quantidades substanciais de detritos. As estruturas de passa-
gem formadas por tubos podem ser dimensionadas com base em velocidades de até 3m/
s, utilizando-se a vazão da enchente de projeto e escoamento em tubo cheio. A entrada
do tubo deverá ser verificada para um evento maior do que a vazão de enchente de
projeto, a fim de se assegurar que não ocorra “overtopping” no muro do aterro de entrada
da estrutura de passagem. As estruturas de passagem constituídas por canaleta deverão
ser dimensionadas para a vazão de enchente de projeto e verificadas para determinar se a
borda livre da seção de canaleta poderá conter um evento de capacidade maior, sem
transbordamento. Uma recomendação conservadora, principalmente nos grandes siste-
mas de canais, é projetar para temporais com recorrência de 25 anos e fazer um cotejo
para temporais com recorrência de 100 anos. No caso de grandes vazões de drenagem,
quando o terreno original tem aproximadamente a mesma cota da superfície normal da
água no canal, poderá ser empregado um sifão de seção trapezoidal, o qual poderá ser
considerado como uma estrutura de transporte de canaletas, com uma parte da canaleta
submersa na água do canal. A Figura 6.32 ilustra este tipo de sifão. No caso de vazões
menores, uma alternativa ao sifão de seção trapezoidal seria um bueiro tubular, com bacia
de sedimentação na saída, conforme apresentado na Figura 6.56.

6.3.7.2 Bueiros Tubulares

Os bueiros tubulares (Figura 6.56) são os mais comuns, em aterros de até 6m, no
máximo, já que os tubos pré-moldados são, em geral, mais econômicos do que os bueiros
celulares. Os bueiros tubulares devem ser dimensionados e checados, em termos de
transbordamento, por meio dos critérios discutidos no subitem 6.3.7.1. Se o bueiro exi-
gir uma bacia de sedimentação, conforme indicado na Figura 6.56, a capacidade da bacia
deverá ser projetada para acumular um ano de sedimentos. A bacia deverá ser limpa,
sempre que houver quantidades excessivas de sedimento. A experiência demonstra que,
em geral, a bacia de sedimentação é esvaziada quando ocorrem grandes cheias. Muitas
destas estruturas permanecem em operação durante anos, sem nunca serem limpas.

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Figura 6.56 Bueiro

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Os bueiros tubulares devem ser construídos com tubos de concreto pré-moldado


que tenham juntas estanques com gaxeta de borracha. A infiltração de água do canal
pode criar um potencial de percolação e de erosão por “piping” nos finos do solo, ao longo
do conduto do bueiro. O problema é mais grave quando os bueiros são formados por
tubos, uma vez que é difícil alcançar um alto grau de compactação do solo, sob os
quartos inferiores dos tubos. A utilização de colares adequados, conforme consta do
“Lane’s Weighted Creep Method” (Método de Filtração Ponderada de Lane), discutido na
página 210 do “Design of Small Canal Structures” (Projeto de Estruturas em Pequenos
Canais) [4], deve promover proteção adequada. Instalar-se-á, no mínimo, um colar em
torno do conduto, sob a margem ascendente do canal, e dois colares, por baixo da
margem descendente, sendo ainda necessários dois colares na margem ascendente, se a
captação do bueiro estiver situada abaixo da cota do fundo do canal.

Quando são utilizados tubos múltiplos, será necessário um espaço livre equivalente
à metade do diâmetro externo do tubo (50cm, no mínimo) entre os tubos, a fim de
garantir espaço de serviço suficiente, em especial enquanto estiver sendo efetuada a
compactação do solo sob o quarto inferior dos tubos. O diâmetro mínimo dos tubos de
bueiro é de 60cm, com preferência pelo de 80cm, pois diâmetros iguais ou maiores
facilitam as operações de limpeza, mesmo quando obstruídos por detritos ou sedimentos.
Para reduzir a probabilidade de obstrução, o ponto mais baixo do tubo de bueiro só poderá
estar situado, no máximo, a uma altura equivalente a meio diâmetro de tubo, abaixo do
fundo da transição de saída.

6.3.7.3 Bueiros de Caixa

Em geral, os bueiros celulares são utilizados para vazões substanciais ou quando o


volume do aterro acima do bueiro exclui o uso de tubos. A seção retangular deve ser
construída em comprimentos de 4,5m, com juntas de vedação. O bueiro celular deve ser
dimensionado e checado com base nos critérios discutidos no subitem 6.3.7.1. Serão
necessários colares, de acordo com os critérios que constam do subitem 6.3.7.2, a fim de
prevenir a ocorrência de erosão por “piping”, ao longo do conduto. Se não houver colares,
será preciso tomar cuidados especiais com as fundações do bueiro bem como da
compactação do solo adjacente, de modo a reduzir a possibilidade de “piping”. Além
disso, deve-se colocar uma camada de filtro de areia sobre o talude posterior do aterro do
canal, adjacente à transição de saída e também à transição de entrada, se a entrada
estiver situada abaixo da cota do fundo do canal, a fim de impedir a perda de material de
aterro, durante os estágios de nível de água mais alto.

6.3.8 Captação da Água de Escoamento Superficial

O ideal é se evitar a captação de água proveniente de escoamento superficial para


dentro do canal, em especial quando este possui revestimento de concreto. Se for preci-
so admitir água de escoamento superficial no canal, recomenda-se limitar o volume de
água recebida a 10% da capacidade de projeto do canal. Quando for indispensável aco-
modar vazões maiores, será preciso construir um vertedouro (ver subitem 6.3.6), para
eliminar a água em excesso.

Poderão ser utilizados dois tipos básicos de captação, conforme indicado na Figura
6.57. A captação em conduto pode ser utilizada quando as vazões a serem captadas são
pequenas, como no caso de vazões provenientes de áreas de drenagem isoladas, cujo
escoamento precisa ser feito pelo canal. O diâmetro mínimo do tubo a ser utilizado para
escoamento de águas pluviais é de 45cm, de maneira a reduzir os problemas associados
à passagem de detritos. Se o revestimento do canal não for de concreto, será preciso
proteger a saída do tubo com enrocamento, para evitar erosão na seção de terra. A
estrutura de concreto é mais utilizada para as grandes vazões afluentes e, em geral, é
empregada em canais com revestimento de terra. A geratriz inferior da estrutura deverá

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Figura 6.57 Entradas de Drenos nos Canais

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estar situada abaixo do fundo do canal, a fim de garantir um ressalto hidráulico dentro da
estrutura. Ambas as estruturas deverão ser projetadas de modo a assegurar que não
ocorrerá erosão à montante da captação.

6.3.9 Critérios Gerais para Elaboração do Projeto Hidráulico

A fórmula de Manning é utilizada no projeto do sistemas de canais e das estruturas.


As soluções tabulares para a fórmula de Manning, além de muitas outras tabelas, úteis na
elaboração dos projetos de estruturas de canais, podem ser encontradas no documento
“Hydraulic and Excavation Tables” (Tabelas Hidráulicas e de Escavação) [9]. As perdas de
carga mais comuns resultam de atrito, transições, curvas, grades e mudanças na seção
transversal dos condutos e das estruturas. Os coeficientes de rugosidade relativos a
canais com revestimento de concreto e de terra são discutidos no subitem 6.2.3.4.

6.3.9.1 Fatores de Atrito

No caso das estruturas de canal, utilizar-se-á um coeficiente de rugosidade “n” de


0,014, para todas as estruturas de concreto monolítico, com exceção dos condutos. Se
as tubulações e os túneis de concreto forem construídos com formas de aço, arbitrar-se-
á um coeficiente de rugosidade de 0,013.

6.3.9.2 Perdas de Transição

Nas transições de entrada, em geral ocorre uma aceleração da velocidade da água


e, nas de saída, uma desaceleração. Os tipos mais comuns de transição aberta são a reta,
com paredes desempenadas, e o diedro, com uma face vertical e a outra oblíqua. Esta
última refere-se a uma transição formada pela interseção de superfícies planas vertical e
em declive, nas laterais da transição. A transição de corrente linear com paredes desem-
penadas, que possui uma curva reversa contínua no topo das paredes às quais são retas,
foi mais utilizada até há alguns anos, mas, devido aos altos custos de construção relaci-
onados às dificuldades do trabalho com fôrmas, atualmente só é empregada quando a
perda de carga é fator muito importante.
Para perdas hidráulicas mínimas e operação fácil, as transições de entrada para
condutos fechados deverão possuir submersão de 1,5(hv2 – hv1) (7,5cm, no mínimo),
onde (hv2 – hv1) é a diferença entre a carga cinética, hv2, na seção fechada normal à
linha central da abertura do conduto no muro de testa, e a carga cinética, hv1, na seção
de canal na extremidade aberta da transição (ver Figura 6.30). Recomenda-se que as
transições de saída não tenham submersão na abertura do muro de testa. Se a submersão
na saída exceder um sexto da profundidade da abertura, a perda hidráulica deverá ser
calculada com base no alargamento repentino, ao invés de transição de saída. A perda
hidráulica na transição equivale a algum coeficiente multiplicado pela diferença entre as
cargas cinéticas, conforme definido acima, mais o atrito (ver Figura 6.30). Os coeficien-
tes constam da tabela a seguir. Se for importante reduzir a perda de carga, poderá utilizar-
se uma transição fechada retangular para redonda, entre o muro de testa e o tubo.

Coeficientes
Tipo de transição aberta para conduto fechado:
Entrada Saída
Corrente linear com muros empenados para abertura retangular 0,1 0,2
Reta com paredes empenadas para abertura retangular 0,2 0,3
Reta com paredes empenadas para abertura de tubo com filetes no canto inferior 0,3 0,4
Diedro com uma face vertical e outra oblíqua para abertura retangular 0,3 0,5
Diedro com uma face vertical e outra oblíqua para abertura de tubo 0,4 0,7
Transição fechada:
Quadrada ou retangular para abertura circular (ângulo máximo com a linha central = 7,5 graus) 0,1 0,2

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Figura 6.58 Projeto de Entradas de Sifões de Fluxo Livre

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As transições abertas para múltiplos condutos fechados envolverão algumas per-


das hidráulicas adicionais. A perda média por atrito deverá ser somada, nas grandes
transições, mas poderá ser ignorada, nas pequenas transições. A declividade do piso nas
transições de saída tipo diedro, com uma face vertical e outra oblíqua, deverá ser de 6:1,
ou menos pronunciada.

Nas condições hidráulicas ideais, o ângulo máximo entre a superfície da água nas
paredes da transição e a linha central do canal não deverá exceder 27,5 graus, através
das transições de entrada, e 22,5 graus, através das de saída. Razões econômicas pode-
rão recomendar um ângulo de 25 graus, para as transições, tanto de entrada quanto de
saída, de maneira que as mesmas fôrmas possam ser usadas em todas as transições.
Com freqüência, utiliza-se um ângulo de 30 graus para as transições de entrada em
estruturas de controle do nível da água, e, nesse caso, aceita-se uma perda adicional,
resultante da estrutura. Os projetos deverão contemplar uma perda, através das estrutu-
ras de controle do nível da água, equivalente a 0,5 vezes a diferença das cargas cinéticas
através da abertura da estrutura e da seção de canal à montante.

Quando a transição de entrada conecta com um conduto fechado de escoamento


livre, de modo que a entrada do conduto fica submersa, a quantidade de água que passa
deverá ser determinada pela equação do orifício. Medir-se-á a altura hidráulica da linha
central da abertura até a superfície da água, e aplicar-se-á um coeficiente de orifício de
0,6. Teoricamente, será preciso uma pequena correção quando a submersão for inferior à
altura da abertura. Quando a entrada de um longo conduto puder operar sem submersão,
poderá ocorrer um ressalto hidráulico, que poderá resultar no assopramento em direção
inversa de ar e água, assim como em operação indesejável. A Figura 6.58 pode ser
utilizada na determinação da probabilidade de assopramento em direção inversa, em qual-
quer estrutura em especial.

O ponto de controle do fluxo (profundidade crítica) das transições para condutos de


escoamento livre pode estar localizado em qualquer lugar entre a extremidade montante
da entrada e o muro de testa. Para qualquer vazão, se o controle estiver na extremidade
montante da entrada, nos canais de terra, a seção de terra à montante deverá ser prote-
gida da erosão, com enrocamento, ou o projeto alterado, de modo a deslocar o ponto de
controle para a transição.

6.3.9.3 Perdas nas Curvas das Tubulações

A perda de carga para as curvas nos condutos fechados (hL), em metros, pode ser
calculada por meio da seguinte fórmula:

hL = (KB) [(v)2]/(2g).

Os valores de “KB” podem ser obtidos na Figura 6.59. A Figura 6.60 ilustra méto-
dos de cálculo para as curvas tipo combinadas dos tubos (ver definição na própria figura).

6.3.9.4 Perdas nas Grades

As perdas nas grades podem ser estimadas da seguinte maneira:

A Figura 6.61 apresenta perdas de carga mais precisas.

Velocidade através das grades (m/s) Perda (cm)


0,30 3
0,45 9
0,60 15

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Figura 6.59 Perda da Carga nas Curvas de Tubos

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Figura 6.60 Cálculo de Curvas Tipo Combinadas de Tubos

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Figura 6.61 Perda da Carga Através de Grades

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6.3.9.5 Perdas Devido aos Pilares

O efeito do remanso, provocado por pilares na seção do canal, deverá ser conside-
rado na elaboração de projetos de canais, em terreno de muito pouca declividade.

6.3.9.6 Borda Livre das Estruturas

Em geral, o topo da transição adjacente ao revestimento de concreto deve ser igual


ao topo do revestimento. Nos canais com revestimento de terra, a borda livre mínima,
acima da superfície normal da água na entrada das transições, deverá obedecer aos
valores indicados nesta tabela.

Profundidade da água na entrada (m) Borda livre mínima (cm)


0 – 0,38 15
0,38 – 0,60 23
0,60 – 1,50 31
1,50 – 2,10 39
2,10 – 2,70 47
2,70 – 3,70 55

No caso de pequenas estruturas, como transições que conectam com tubos de


diâmetro igual ou inferior a 600mm, o topo das paredes de transição pode estar nivelado.
Nas grandes estruturas, a borda livre no muro de testa da transição deverá ser maior do
que na entrada da transição. á medida que aumenta a capacidade do canal, recomenda-se
aproximar o valor da borda livre do muro de testa ao do da margem do canal.

6.3.9.7 Percolação

Onde a água se encontra confinada numa área acima do ponto de alívio, como no
caso à montante de uma estrutura de controle do nível da água, existe uma tendência
para a água fluir ao longo da estrutura, ou através da terra, até o ponto de alívio mais
baixo. O tipo de estrutura e a natureza do solo regerão a quantidade e a velocidade de
fluxo. O fator de percolação deverá ser, pelo menos, de 2,5:1, de acordo com o Método
de Filtração Ponderada de Lane, e de 3,5:1, no fluxo reto. São comuns fatores do fluxo
reto de 5:1. Poderão ser necessários valores deste fator mais altos, quando o tipo de
solo, ou a importância e o tipo de estrutura, assim o exigirem.

O caminho de percolação poderá ser aumentado acrescentando-se “cutoffs” ou


paredes de vedação à estrutura ou aumentando-se seu comprimento. Os “cutoffs” deve-
rão estar suficientemente afastados para evitar a ocorrência de curto-circuito entre suas
extremidades. O espaçamento mínimo entre os “cutoffs” deverá ser, pelo menos, equiva-
lente à metade da distância de filtração ponderada, ao longo da estrutura, entre as extre-
midades dos “cutoffs”. O documento “Design of Small Canal Structures” (Projetos de
Estruturas para Pequenos Canais) [4] contém informações adicionais relativas à percolação
e à filtração ponderada de Lane.

6.3.9.8 Estabilidade

Verificar-se-á a estabilidade de todas as estruturas, conforme discutido no subitem


6.3.10.3. As pequenas estruturas de controle do nível da água com freqüência necessi-
tam de comprimento adicional para impedir que deslizem ou tombem, em condições de
nível máximo de água à montante e nível zero de água à jusante. Poderão ser construídas
paredes de “cutoff”, de modo a aumentar a resistência ao deslizamento.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 6.62 Profundidade Crítica da Água nas Seções Trapezoidais

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 6.63 Perda de Energia em Ressaltos Hidráulicos

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 6.64 Variáveis nos Ressaltos Hidráulicos

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Elaboração de Projetos de Irrigação

6.3.9.9 Ressalto Hidráulico

As Figuras 6.62, 6.63 e 6.64 poderão ser utilizadas para auxiliar o engenheiro de
projetos com problemas relacionados a ressaltos hidráulicos. O documento “Design of
Small Canal Structures” (Projetos de Estruturas para Pequenos Canais) [4] contém infor-
mações adicionais acerca deste tópico.

6.3.9.10 “Riprap”

O tipo de solo e a velocidade da água deverão ser considerados na seleção de


proteção contra a erosão para os canais revestidos de terra. Em áreas onde há escassez
de “riprap” e de cascalho, será preciso considerar a possibilidade de se obterem e se
armazenarem estes materiais, nos termos do contrato de construção, para uso posterior
pelo pessoal de operação e manutenção. Os seguintes tipos de proteção devem ser con-
siderados mínimos, em condições ideais, e a quantidade de proteção deverá ser
incrementada, de modo a se ajustar a condições menos favoráveis.

Tipo 1 – 15cm de cascalho graúdo


Tipo 2 – 30cm de cascalho graúdo
Tipo 3 – 30cm de “riprap”, sobre 15cm de leito de areia e cascalho
Tipo 4 – 60cm de “riprap”, sobre 15cm de leito de areia e cascalho

Exceto nas estruturas de drenagem transversal, utilizar-se-á proteção mínima do


Tipo 3, nos locais em que as velocidades forem superiores a 1,5m/s, independentemente
da profundidade de água.

„ “Riprap” para Sifões e Túneis – A seguinte proteção é considerada mínima para,


entradas e saídas de túneis e sifões em canais com revestimento de terra:
As profundidades de água superiores a 3m requerem consideração especial.

Tipo de Proteção Necessária


Profundidade da água, d, adjacente à estrutura (m)
Entrada Saída
0,0 – 0,6 nenhuma nenhuma
0,6 – 1,1 nenhuma Tipo 1
1,1 – 2,1 Tipo 1 Tipo 2
2,1 – 3,0 Tipo 2 Tipo 3

Quando é necessária proteção nas entradas, o comprimento da proteção deverá ser


equivalente a 1,0d (1,0m, no mínimo). Quando se requer proteção nas saídas, o compri-
mento da proteção deverá ser equivalente a 2,5d (1,5m, no mínimo).

„ “Riprap” para Calhas de Medição, Estruturas de Controle do Nível da água e Que-


das – A seguinte proteção para os canais com revestimento de terra é considerada
mínima em entradas e saídas de calhas Parshall, estruturas de controle do nível da
água, quedas de controle do nível da água, quedas inclinadas, calhas e quedas de
conduto, quando ocorre profundidade crítica sobre o concreto, dentro da estrutura.
Quando puder ocorrer profundidade crítica próximo ou imediatamente à montante
da entrada à estrutura, utilizar-se-á, na entrada, o nível imediatamente superior de
proteção.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Tipo de Proteção Necessária


Profundidade da água, d, adjacente à estrutura (m)
Entrada Saída
0,0 – 0,6 nenhuma Tipo 2
0,6 – 1,1 nenhuma Tipo 2
1,1 – 2,1 Tipo 1 Tipo 3
2,1 – 3,0 Tipo 2 Tipo 4

As profundidades de água superiores a 3m requerem consideração especial.

Quando é necessária proteção nas entradas, o comprimento, l, da proteção deverá


ser equivalente a 1,0d (1,0m, no mínimo). Quando se requer proteção nas saídas, o
comprimento da proteção deverá ser equivalente a 2,5d (1,5m, no mínimo). Quando
puder ocorrer turbulência na saída, o comprimento da proteção deverá ser aumentado
para 4d. As comportas ou os “stoplogs” próximos da saída aumentam a turbulência. Se o
tipo de terra no canal for muito sujeito a erosão, as ondas produzidas como resultado da
turbulência ou dos dissipadores de energia abaixo das quedas causarão problemas de
erosão nos taludes laterais à jusante de proteção contra erosão. Conseqüentemente,
recomenda-se estender a proteção nos taludes laterais o equivalente a um comprimento
adicional de 10d, com proteção dos Tipos 1 ou 2.

Não há necessidade de proteção na entrada de pequenas tomadas d’água, exceto


no caso de solos muito erosivos. Se a capacidade da tomada d’água for 50% da capaci-
dade do canal, recomenda-se proteção igual à da entrada dos sifões. A proteção nas
saídas das tomadas d’água deverá ser a mesma dos sifões, baseada no nível da água à
jusante da tomada d’água.

„ “Riprap” para Estruturas de Drenagem Transversal – A seguinte proteção é consi-


derada mínima para as entradas e as saídas das estruturas de drenagem transver-
sal:

Capacidade de Projeto (m3/s) Entrada Saída Comprimento na Saída (m)


0,00 – 0,85 Nenhuma Tipo 2 2,4
0,85 – 2,55 Nenhuma Tipo 2 3,7
2,55 – 6,80 Tipo 1 Tipo 3 4,9
6,80 – 17,00 Tipo 2 Tipo 4 6,7

Capacidades superiores a 17m3/s requerem consideração especial. O comprimento


da proteção nas entradas deverá ser igual ao diâmetro do tubo (1,0m, no mínimo). Consi-
derar-se-ão, em especial, as entradas de quedas, em que possa ocorrer profundidade
crítica no início da transição, ao invés da vizinhança do muro de testa.

Quando a inclinação do conduto for bastante acentuada para produzir uma veloci-
dade de saída superior a 1,5m/s, utilizar-se-á o próximo nível de proteção (Tipo 3, no
mínimo). Para informações adicionais a respeito do tamanho do “riprap”, ver a Seção 11
do documento “Hydraulic Design of Stilling Basins and Energy Dissipators” (Projeto Hidrá-
ulico de Bacias de Dissipação e Dissipadores de Energia) [6].

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Elaboração de Projetos de Irrigação

6.3.10 Considerações Gerais Relativas às Estruturas

Este subitem contém informações de projeto utilizadas em muitos tipos de estrutu-


ras dos sistemas de canais. Em geral, os cálculos estruturais baseiam-se em informações
contidas em destacados livros-texto. As cargas e as normas indicadas são adequadas na
maioria das condições; entretanto, será preciso discernimento e conhecimentos de enge-
nharia para determinar se tais cargas e normas são apropriadas às condições reais do
local.

6.3.10.1 Critério de Projeto de Concreto Armado

As atuais exigências do “ACI Building Code” (ACI 318-83) (Código de Obras de


ACI) [10], com certas exceções, são utilizadas como guia no cálculo estrutural das estru-
turas dos canais. As estruturas de concreto armado são dimensionadas para resistência
adequada, de acordo com a teoria de resistência máxima à ruptura, utilizando-se fatores
de redução de carga e de resistência apropriados, de acordo com o código supramencionado.
Os diversos critérios de projeto, relativos a cada tipo de estrutura em particular, encon-
tram-se discutidos no correspondente subitem.

Neste capítulo, as referências às resistências do concreto são expressas em termos


da resistência do concreto à compressão (f’c, com 28 dias de idade). A maioria dos
projetos de estruturas dos sistemas de canais baseia-se na resistência do concreto de
28MPa (f’c, de 28 dias) e armação com uma resistência mínima ao escoamento especificada
de 415MPa. A maioria dos projetos de revestimento de canais, drenos e túneis baseia-se
na resistência do concreto de 21 MPa (f’c de 28 dias). Quando armados, os revestimen-
tos de canais, drenos e túneis baseiam-se nas mesmas resistências de concreto e de barra
de reforço das estruturas dos sistemas de canais.

Muitas estruturas dos sistemas de canais são elementos que contêm água e, con-
seqüentemente, não estão totalmente incluídos na norma ACI 318-83 [10]. Em geral, os
elementos estruturais que contêm água são calculados com base no projeto de resistên-
cia máxima à ruptura, utilizando-se um coeficiente adicional relativo a “contendo água”,
resultando em fatores de carga aumentados [11]. A seguir, encontram-se relacionados os
termos que definem os requisitos, inclusive os relativos a “contendo água”:

D = Cargas estáticas
L = Cargas dinâmicas
F = Cargas fluidas
MD = Momentos resultantes das cargas estáticas
ML = Momentos resultantes das cargas dinâmicas e das cargas da terra
MF = Momentos resultantes das cargas fluidas
TD = Força de tração resultante das cargas estáticas
TL = Força de tração resultante das cargas dinâmicas
TF = Força de tração resultante das cargas fluidas
U = Resistência requerida (ACI 318-83)
Uw = Resistência requerida nas estruturas que contêm água
PHI = Fator de redução da resistência (ACI 318-83)
Mn = Resistência nominal de momento na seção (ACI 318-83)
Vs = Resistência nominal ao cisalhamento fornecida pela armadura
para cisalhamento (ACI 318-83)
Vu = Força de cisalhamento fatorada na seção (ACI 318-83)
Vc = Resistência nominal ao cisalhamento fornecida pelo
concreto (ACI 318-83)
fs = Tensão calculada na armadura, na carga normal de serviço
fy = Resistência especificada ao escoamento da armadura não-protendida

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Elaboração de Projetos de Irrigação

„ Critérios do Cálculo Estrutural – Os critérios do cálculo estrutural de concreto para


estruturas que contêm água são os seguintes:
f para armadura de flexão:
Uw > 1,3U
(PHI) (Mn) > 1,3 [1,4(MD) + 1,7(ML) + 1,7(MF)]
f para armadura de tensão direta:
Uw > 1,65U
Uw > 1,65 [1,4(TD) + 1,7(TL) + 1,7(TF)]
f para armadura de estribo:
(PHI) (Vs) > 1,3 (Vu – Vc)
f para cisalhamento e compressão de concreto
Uw > 1,0U

Para flexão, o aumento nos fatores de carga resulta em um fator máximo de carga
de 1,3 X 1,7 = 2,21, para cargas normais dinâmicas, de água e de terra; e um fator
mínimo de carga de 1,3 X 1,4 = 1,82, para todas as cargas estáticas. Em conjunção com
os fatores “PHI” prescritos na norma ACI 318-83 [10], estes fatores de carga em geral
resultam em tensões de flexão de carga máxima de serviço na armadura de 165 a 200MPa.

Na tensão simples [12], o coeficiente de durabilidade estrutural de 1,65 resulta em


tensões de carga máxima de serviço para os líquidos de aproximadamente 138MPa, como
se segue:

fs = (PHI)(fy)/[(1,65)(1,7)] = (0,9)(414)/(2,8) = 138MPA

„ Não é necessário qualquer aumento nos fatores de carga [12] para a resistência ao
cisalhamento ou à compressão do concreto. Portanto, as profundidades ou espes-
suras calculadas dos elementos permanecem inalteradas, em relação àquelas
sugeridas na norma ACI 318 [10].

A norma ACI 318 [10] indica que a armadura de flexão deverá ser corretamente
distribuída dentro das zonas de tensão máxima de flexão, de modo a limitar a largura
computada das rachaduras. Também estabelece o termo, Z, para a distribuição da arma-
dura de flexão, a fim de controlar o rachamento decorrente da flexão nas vigas e nas lajes
armadas numa direção:

Z = 39,37fs[(dc)(A)]0,333;

e, para a armadura de flexão localizada numa camada:

S = (1,639)[(10)(-5)][(Z/fs))3]/(dc)2,

onde:

S = espaçamento entre as barras, em metros,


fs = tensão calculada na armadura, nas cargas máximas de serviço,
em MPa,
dc = a espessura da cobertura de concreto, medida da face extrema
em tensão até o centro da barra ou arame da armadura, em
metros,
A = a área de tensão efetiva do concreto que envolve a armadura de
tensão de flexão e com o mesmo centróide da armadura, dividi-
da pelo número de barras, em metros quadrados.

„ Um fator Z igual a 793MPa e uma largura de rachadura equivalente a 0,25mm são


apropriados para exposição normal à água. A exposição normal à água é definida

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Elaboração de Projetos de Irrigação

como concreto exposto à água com pH superior a 5, com teores de sulfatos inferi-
ores a 1.500 partes por milhão, ou concreto com ar incorporado exposto a ciclos
úmido/seco.

„ As tensões permissíveis de carga máxima de serviço e os espaçamentos admissíveis


entre barras [11, 12] são estabelecidos para controlar a espessura das rachaduras,
a um mínimo de 0,25mm, para exposição normal. Os espaçamentos entre barras
limitam-se a um máximo de 30cm. A tensão máxima de carga de serviço é de
207MPa, para barras grau 60. A Figura 6.65 apresenta espaçamentos entre barras
baseados nas tensões de carga máxima de serviço.

„ Os valores de Z foram estabelecidos para coberturas de concreto que não excedam


5cm e deverão basear-se neste limite. Uma cobertura adicional poderá ser conside-
rada como proteção adicional.

„ Os elementos estruturais das estruturas que não contêm água podem ser calculados
segundo as recomendações da norma ACI 318.

„ Espaçamento entre as Barras da Armadura – O espaçamento entre as barras para-


lelas da armadura deverá ser indicado nos desenhos da armadura, em termos de
distância de centro a centro, entre barras adjacentes. A norma ACI 318 define os
espaçamentos mínimos entre barras paralelas que não estejam em contato. O
espaçamento máximo entre as barras da armadura deverá ser equivalente a duas
vezes a espessura dos elementos estruturais (muros, lajes, etc.), no caso de barras
em tração, e três vezes a espessura do elemento, no caso de barras de temperatu-
ra. Em ambos os casos, o espaçamento máximo não deverá exceder 45cm, com
um limite recomendado de 30cm. No caso de estruturas que contêm água, o
espaçamento e o diâmetro das barras serão influenciados pelo controle da largura
das rachaduras, conforme anteriormente discutido.

„ Junções das Barras de Armadura – Para simplificar os padrões da armadura e res-


tringir as rachaduras nos locais das junções, recomenda-se limitar as mudanças no
diâmetro das barras nas junções a um máximo de dois tamanhos das barras. Quan-
do o espaçamento entre barras for inferior a 15cm, as junções deverão ser esca-
lonadas com, pelo menos, 30cm entre a extremidade de uma junção e o início da
junção nas barras adjacentes.

„ Os comprimentos para a junção e a ancoragem das barras de reforço revestidas


com epóxi deverão ser 50% superiores aos requeridos para as barras não-revestidas.

„ Embora, em geral, a soldadura das junções seja desencorajada, algumas vezes esse
procedimento pode ser considerado. Quando a junção de barras de aço for efetuada
por soldadura [13], as soldas deverão atender às especificações de AWS D1.4,
“AWS Strutuctural Welding Code – Reinforcing Steel” (Código de Soldas Estrutu-
rais da AWS – Aço de Armadura) [14].

„ A AWS D1.4 indica que a maioria das barras de reforço pode ser soldada. Entretan-
to, é difícil realizar o pré-aquecimento e outras medidas de controle de qualidade
requeridas para as barras com altos equivalentes de carbono. Recomenda-se que os
equivalentes de carbono sejam limitados a 0,45%, no caso de barras no.7, ou
maiores, e 0,55%, para as barras no.6, ou menores. A maioria das barras de reforço
que atendem à norma ASTM A615, Grade 60, não atenderá as especificações de
composição química supramencionadas. Não deverá ser permitida a soldadura
por pontos destas barras, exceto quando atenderem os requisitos de composição
química. As barras ASTM A615, Grade 40, podem ou não atender as especificações
anteriores. As barras que obedecem às especificações da ASTM A706 são especi-

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 6.65 Espaçamento das Armaduras da Água do Grau 60 Baseado nas


Tensões Devidas a Carga Normal de Serviços

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Elaboração de Projetos de Irrigação

almente formuladas para serem soldáveis e deverão ser selecionadas nos casos em
que as especificações permitam a soldadura das barras de reforço.

„ Os eletrodos de soldagem deverão ser selecionados de maneira que as resistências


ao escoamento e à tração deles não sejam inferiores às das barras de aço de
reforço.

„ Cobertura de Proteção contra Erosão Potencial – A cobertura protetora sobre a


armadura, na face superior do concreto exposto a erosão, deverá ser aumentada
em 15mm, se a velocidade de escoamento da água for superior a 3m/s, e outros
15mm, para cada incremento de velocidade de 3m/s. O endurecimento da superfí-
cie do concreto (polímeros), ou o uso de concreto de vapores de sílica, poderá ser
avaliado, ao invés da cobertura de concreto de sacrifício. Quando o agregado utili-
zado no concreto não for resistente à erosão e a água carregar material de arraste
muito erosivo, será preciso considerar cobertura de proteção, superior à discutida
anteriormente.

„ Reforço contra Esforços de Temperatura e de Contração – Estes reforços servem


como armadura de distribuição dos esforços, para abarcar transversalmente a ar-
madura principal, assim como para controlar as rachaduras causadas por mudanças
de temperatura, deslocamentos, escoamento plástico e outras alterações de volume.

„ Os seguintes critérios poderão ser utilizados para determinar a área de seção trans-
versal de barras do reforço necessário contra esforços de temperatura e de contra-
ção. Os percentuais indicados estão baseados na área de seção transversal bruta
do concreto a ser reforçado. Quando a espessura do elemento de concreto exceder
40cm, utilizar-se-á uma espessura de 40cm, na determinação da quantidade de
armadura contra esforços de temperatura e de contração.

„ A armadura mínima das estruturas deverá ser constituída por barras no. 4, a inter-
valos de 30cm, em todas as faces expostas e onde a armadura principal for coloca-
da em uma só camada, e barras no. 4, a intervalos de 45cm, em faces não-expos-
tas ou onde a armadura principal for colocada em duas camadas.

Tipo de Estrutura
Armadura em Camada Única (%)
Contendo Água (%) Outras (%)
1. Revestimentos de canal de concreto armado, com 100mm de
espessura, ou menos, com armadura descontínua de tela de aramee
planos enfraquecidos a cada 3,5 – 4,5m 0,10
2. Lajes e revestimentos não expostos diretamente ao sol, com
espaçamento entre juntas de até 9m. 0,25 0,18
3. Lajes e revestimentos expostos diretamente ao sol, com espaçamento
entre juntas de até 9m. 0,30 0,20
4. Lajes e revestimentos, com espaçamento entre juntas acima de 9m:
Não expostos diretamente ao sol 0,35 0,20
Expostos diretamente ao sol 0,40 0,25

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Elaboração de Projetos de Irrigação

„ No caso de paredes ou outros elementos estruturais, o percentual total de reforço


horizontal deverá ser equivalente à soma dos percentuais requeridos para ambas as
faces, conforme determinado a seguir:

Tipo de Estrutura
Armadura em Camada Única (%)
Contendo Água (%) Outras (%)
1. Face adjacente à terra, com espaçamento entre juntas de até 9m 0,10 0,06
2. Face não adjacente à terra, nem exposta diretamente ao sol, com
espaçamento entre juntas de até 9m 0,15 0,10
3. Face não adjacente à terra, mas exposta diretamente ao sol, com
espaçamento entre juntas de até 9m 0,20 0,13
4. Se o elemento exceder 9m, em qualquer direção paralela à armação,
acrescentar à armação requerida nessa direção, devido ao
comprimento adicional 0,05 0,05
5. Se a laje estiver fixada ao longo de qualquer linha, dobrar a dimensão
da linha de fixação até a extremidade livre, e utilizar uma das
categorias anteriores, de 1 a 4, conforme apropriado, a fim de se obter
o percentual requerido da armadura contra esforços de temperatura e
de contração.

„ Espessuras Mínimas Recomendadas para Lajes e Paredes – As dimensões mínimas


requeridas para lajes e paredes são as seguintes:

„ Quando for necessário controlar a deflexão de uma parede ou uma laje, a espessura
deverá ser calculada de maneira que a área da armadura requerida seja inferior a
35% da área balanceada no cálculo da armadura.

„ Os muros e as paredes com duas camadas de reforço deverão ter espessura mínima
de 20cm. Exigir-se-á reforço em duas camadas, para paredes com espessura igual
ou superior a 20cm.

„ Os muros e as paredes tipo cantiléver de até 2,4m de altura deverão ter espessura
mínima, na base, equivalente a 8,3cm por metro de altura (12,5cm, no mínimo). Os
muros e as paredes com altura superior a 2,4m deverão ter espessura mínima na
base equivalente a 20cm, mais 6,3cm, para cada metro de altura acima de 2,4m.

„ Em geral, os contrafortes para os muros e as paredes possuem as espessuras e as


armaduras relacionadas a seguir.

Altura do Espessura do Camadas Tamanho Espaçamento entre Localização


Contraforte (m) Contraforte (m) de Barras das Barras Barras (m) das Barras
0,0 – 3,0 0,20 1 4 0,30 Centro
3,0 – 4,5 0,25 1 5 0,30 Centro
4,5 – 6,0 0,30 1 5 0,30 Centro

„ Em geral, a espessura das paredes das estruturas tipo caixa deverá ser projetada
para resistir às forças de cisalhamento totais, sem o uso de armação contra
cisalhamento.

„ Reforços de Tela de Arame Soldado – É possível substituir-se a armadura deforma-


da por tela de arame soldado, quando recomendável, como no caso de revestimen-
to de concreto armado nos canais. Uma tela de arame soldado, liso ou deformado,

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Elaboração de Projetos de Irrigação

poderá ser utilizada, de acordo com os parágrafos pertinentes da norma ACI 318
[10].

„ Paredes de “Cutoffs” ou Paredes de Vedação – Os “cutoffs” são construídos para


reduzir a percolação em volta das estruturas dos canais e dos drenos, para impedir
o movimento das estruturas e tornar as transições mais rígidas. Os “cutoffs” são
necessários nas extremidades das transições das estruturas nos canais revestidos
de concreto, assim como em outros canais de terra ou revestidos. Em geral, os
“cutoffs” deverão ter as seguintes dimensões mínimas:

Profundidade da Água (m) Profundidade do “Cutoff” (m) Espessura do “Cutoff” (m)


< 0,9 0,60 0,15
0,9 – 1,8 0,75 0,20
> 1,8 0,90 0,20

„ No caso de algumas estruturas pequenas, “cutoffs” de 45cm de profundidade se-


rão satisfatórios.

„ Em solos susceptíveis à erosão por “piping”, o “cutoff” poderá ser estendido hori-
zontal ou verticalmente, ou em ambos os sentidos, a fim de prover proteção apro-
priada contra percolação. É preciso que os “cutoffs” sejam bastante largos e pro-
fundos, para que sejam eficazes sob condições de solo desconhecidas, quando as
investigações realizadas antes da elaboração do projeto tenham sido inconclusivas.
Em geral, a armadura vertical nos “cutoffs” é igual à longitudinal, no piso da transi-
ção. Se for empregada apenas uma camada de armadura no “cutoff”, a armadura
vertical deverá ser colocada no centro do “cutoff”. No caso de canais em solos
susceptíveis à erosão por “piping”, ou onde as pressões diferenciais são substanci-
ais, poderá considerar-se um revestimento de concreto armado, com juntas de
vedação, o qual funcionaria como manta contra percolação. O subitem 6.3.9.7
contém informações adicionais relativas à percolação.

„ Quando utilizados para impedir o movimento de estruturas, os “cutoffs” deverão


ser projetados para resistir à reação do empuxo passivo da terra.

„ Juntas nas Estruturas – Em geral, são necessárias juntas de construção, contração


e expansão nas estruturas de concreto dos canais.

„ As juntas de construção são deliberadamente incluídas nas estruturas, de modo a


facilitar a construção, ou ocorrem, como resultado de retardos imprevistos nas
operações de lançamento do concreto. As juntas de construção são localizadas
para facilitar as operações da empreiteira, reduzir as rachaduras e as tensões de
contração iniciais, dar tempo para a instalação de peças ou equipamento embutido,
ou permitir a colocação subseqüente de outro concreto, concreto de recobrimento,
ou concreto de segundo estágio. São produzidas pela colocação de concreto fresco
adjacente a superfícies de concreto endurecido. Em geral, as juntas de construção
são colocadas nas direções horizontal ou vertical. Em qualquer caso, será preciso
uma ligação nas juntas de construção, independentemente da armadura ser contí-
nua, ou não, através da junta.

„ As juntas de construção que não forem necessárias por razões estruturais deverão
ser rotuladas “Juntas de Construção Opcionais” e poderão ser omitidas, a critério
da empreiteira. As juntas de construção não rotuladas “opcionais” nos projetos
deverão ser incluídas nas propostas e na execução da obra. As juntas de constru-

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Elaboração de Projetos de Irrigação

ção são necessárias onde grandes massas de concreto se unem a pequenas mas-
sas de concreto e onde lançamentos verticais altos de concreto se unem a extensos
lançamentos horizontais. As juntas de construção contemplam a maioria dos movi-
mentos de contração e de recalque que ocorrem quando o concreto endurece, e
provocam uma rachadura reta no concreto, ao invés de rachaduras irregulares e
descontroladas. Na parte inferior da estrutura, tais rachaduras descontroladas não
poderiam receber as vedações, para impedir o vazamento de água através da junta.
Utilizar-se-ão vedações nas juntas de construção, sempre que for essencial que as
juntas sejam estanques.

„ As juntas de contração são colocadas em estruturas ou lajes, de modo a contem-


plar a contração volumétrica de uma unidade monolítica, ou o movimento entre
unidades monolíticas. A diferença entre estas juntas e as de construção é que,
nestas, são tomadas medidas para impedir a ligação entre as superfícies de concre-
to que formam a junta. As juntas são moldadas por meio de fôrma no concreto,
num lado da junta, permitindo-se que o concreto endureça antes de colocar concre-
to do outro lado da junta. A superfície do concreto colocado primeiramente na junta
de contração deverá ser recoberta com um produto à base de cera, antes de colocar
o concreto do outro lado da junta. No caso de cavilhas ou barras de aço que atra-
vessem a junta, uma extremidade da barra deverá ser recoberta ou embrulhada em
papel, a fim de impedir a ligação entre as partes. Utilizar-se-ão vedações onde é
essencial haver uma junta estanque.

„ As juntas de expansão são utilizadas para eliminar ou reduzir substancialmente as


tensões compressivas no concreto, resultantes da expansão térmica do concreto.
Um enchimento elástico é aplicado na junta, para permitir a expansão. Quando é
necessário impedir a passagem de água através da junta, instala-se uma junta de
vedação, com bulbo central, através da junta. O uso das juntas de vedação permite
movimentos em mais de uma direção. Existem juntas de vedação plásticas com
aletas, assim como juntas de vedação de borracha. A Figura 6.66 apresenta deta-
lhes adicionais.

„ Misulas – Podem ser utilizadas misulas nos cantos internos da interseção entre dois
elementos estruturais de concreto, de modo a fornecer maior resistência ou aliviar
as concentrações de tensão, nos pontos de tensão máxima. Arbitra-se que o com-
primento de vão entre os elementos estruturais se estende a partir de um ponto
situado a um terço do tamanho da misula da face do outro elemento. As misulas
não devem ser utilizadas de maneira generalizada, devido às grandes dificuldades
de construção e ao custo de construção das formas de misulas.

6.3.10.2 Carregamento

Com freqüência, a natureza de algumas estruturas dos canais resulta em condições


de carregamento singulares. As estruturas estão sujeitas a efeitos variáveis ocasionados
por diversos fatores, como reação das fundações, terremotos, esforço térmico,
intemperismo, empuxos de terra e cargas térreas e hidrostáticos variáveis. Todas as
estruturas deverão ser projetadas para suportar qualquer carga provável estática ou dinâ-
mica. Quando pertinente, serão aplicadas cargas de terremoto às estruturas, de acordo
com o método esboçado no documento “Design Criteria for Concrete Retaining Walls”
(Critérios de Projeto para Muros de Retenção de Concreto) [15], ou outro código apropri-
ado. Se houver potencial de liquefação, será preciso incorporar medidas adequadas no
projeto da estrutura.

As cargas estáticas decorrentes de características permanentes ou especiais de


construção deverão ser determinadas pelo engenheiro responsável. As cargas estáticas

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 6.66 Detalhes das Juntas nas Estruturas de Concreto

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consistem no peso real da própria estrutura, incluindo as paredes, os pisos, os tetos e


todas as outras obras permanentes.

„ As cargas transientes que incidem em cada estrutura são determinadas pelo enge-
nheiro de projetos após um estudo da natureza da distribuição das cargas, das
possíveis cargas concentradas, da vibração e do impacto e de outras condições
pertinentes. As cargas transientes consistem em cargas de terra verticais e laterais
[10, 16], cargas estáticas e dinâmicas da água, objetos em movimento, equipa-
mento, comportas e equipamento de içamento e cargas de impacto, eólicas, de
construção, de terremoto e de explosões, assim como cargas resultantes da opera-
ção e da manutenção do sistema. Os pesos de materiais mais comuns, em kN/m3,
são os seguintes:

Água 9,8
Terra úmida não-compactada 15,7
Terra compactada 18,9
Terra saturada 21,2

Alguns solos podem variar destes valores.

As cargas das estradas de rodagem e das ferrovias podem ser encontradas nas
normas NBR 7188 [19] e NBR 7189 [20], da ABNT. Estas normas contêm as cargas e as
suas distribuições, a serem utilizadas para as estruturas das estradas de rodagem e das
ferrovias, respectivamente. As ferrovias podem ter requisitos e normas especiais, que
devem ser obedecidos na elaboração dos projetos das estruturas que sustentam seus
trilhos.

Existem inúmeras fórmulas desenvolvidas para a determinação da pressão lateral


de terra, exigindo-se, para tanto, o conhecimento das características do solo, do lençol
freático e das sobrecargas atuantes.

Em geral, as paredes mais íngremes que 1,5:1 são projetadas para serem sustenta-
das pelas fundações sobre as quais se apoiam. No Capítulo 5 deste MANUAL, a Figura
5.8 ilustra as pressões resultantes sobre paredes menos íngremes que 1,5:1.

Normalmente, são utilizadas paredes com contrafortes para grandes alturas. As


cargas máximas de ambos os lados da estrutura precisam ser levadas em conta, para
determinação da sua armadura.
Para todas as finalidades práticas e a maioria dos materiais utilizados, será possível
determinar o empuxo de solo com suficiente precisão, por meio da teoria de Rankine, não
considerando o atrito sem coesão solo-muro [15]. No caso de estruturas sujeitas a empuxo
hidráulico ou outras forças que tendem deformar a estrutura, são desenvolvidos empuxos,
laterais de terra que podem ser definidos como ativos, passivos e em repouso. A seguir,
são discutidos os diversos tipos de empuxo de terra [15, 17].

„ Empuxo Ativo – Se uma estrutura se deforma, de maneira que o solo sofra defor-
mação lateral de expansão, o empuxo do solo contra a estrutura diminui gradual-
mente, aproximando-se de um valor limite inferior, conhecido como empuxo ativo.

Pa = u.H.(tg45o phi/2)2

onde

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Pa = pressão lateral ativa do solo kPa/m;


w = peso específico do solo, em kv/m3;
H = altura do reaterro horizontal, em m;
phi = ângulo de atrito interno do solo, em graus.

„ Quando o reaterro tem declividade ascendente a partir da estrutura, existe uma


força horizontal adicional que incide sobre a parede. As Figuras 5.8, 5.9, 5.10 e
5.11, do Capítulo 5 deste MANUAL, podem ser utilizadas para calcular o empuxo e
o momento sobre estruturas de contenção. Se o solo estiver saturado, será preciso
considerar no cálculo o peso específico saturado do solo.

„ Empuxo Passivo – Se uma estrutura se deformar, de maneira que o solo sofra


deformação lateral de contração, o empuxo do solo aumentará gradualmente, até
alcançar um valor limite superior, conhecido como empuxo passivo.

Pp = wH tg (45 + phi/2)2

onde

Pp = pressão lateral passiva do solo, em kpa:


w = peso específico do solo, em kn/m3;
H = altura do reaterro horizontal, em m;
phi = ângulo de atrito interno do solo, em graus.

„ O fator de segurança requerido para a elaboração do projeto [15,17, 18] dependerá


do grau de precisão dos conhecimentos acerca das condições do solo e das cargas
estruturais e dos possíveis riscos de ruptura devidos a deformação elevada. Qual-
quer alteração nas condições in situ no local da obra, como elevação das águas
subterrâneas ou alívio de terras provocado por escavação adjacente às fundações
da estrutura, deverá ser levada em consideração na equação de capacidade de
carga limite, ou no fator de segurança. No caso de obras civis temporárias, em que
uma ruptura seria inconveniente, mas não desastrosa, utilizar-se-á um fator de
segurança de 1,5. Na maioria dos casos de cálculos estruturais, em que existem
dados razoavelmente acurados acerca do solo e das cargas, será possível empregar
um fator de segurança de 3 (considerando as cargas estáticas e dinâmicas). Se for
provável que uma grande parte da carga dinâmica não se desenvolva, o fator de
segurança mínimo permissível será 2. Quando as condições são questionáveis,
algumas vezes compensa utilizar um fator de segurança 4. O empuxo passivo má-
ximo permissível não deverá exceder a pressão de suporte permissível do solo,
discutida no subitem 6.3.10.3.

„ Empuxo em Repouso – Se o módulo de deformação das fundações de uma estrutu-


ra for alto e a própria estrutura for rígida, de maneira que haja pouca ou nenhuma
extensão ou compressão lateral do aterro, então a estrutura está resistindo à pres-
são lateral do aterro, conhecida como empuxo em repouso. O valor do empuxo em
repouso poderá ser estimado por meio da equação de Jaky:

Po = (w)(H)[1 – sin(phi)];

onde

Po = pressão lateral de repouso do solo, em Kpa;


w = peso específico do solo, em kw/m3;
H = altura do reaterro horizontal, em m;
phi = ângulo de atrito interno do solo, em graus.

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6.3.10.3 Estabilidade das Estruturas

A análise da estabilidade deverá demonstrar, por meio de fatores de segurança


apropriados, a capacidade da estrutura de resistir às forças que tendem a causar tomba-
mento, deslizamento e flutuação, sem exceder os valores de carga permissível das funda-
ções. A análise deverá indicar claramente as cargas individuais externas para os diversos
casos, durante e depois da construção, as forças de cisalhamento esperadas ao nível das
fundações, a localização das principais juntas de contração e de expansão, as hipóteses
de subpressão e quaisquer outros fatores incluídos nos cálculos. Deverão ser indicadas
as combinações de cargas máximas e mínimas posicionadas, incluídas, ou excluídas de
maneira a produzir efeito máximo sobre a estabilidade.

„ Símbolos – São utilizados os seguintes símbolos:

A = área de base ou seção horizontal considerada


(na compressão);
c = Coesão aplicada apenas à área em compressão;
f = Coeficiente de atrito entre o concreto e o material de
fundação ou entre concreto e concreto;
Q = Fator de segurança cisalhamento-atrito;
U = Subpressão que se arbitra incidir sobre 100% da área;
SUM (H) = Soma das forças horizontais;
SUM (Mo) = Momento de tombamento em torno do pé;
SUM (Mr) = Momento de resistência em torno do pé;
SUM (W) = Soma das forças verticais, com exceção da força devida
a subpressão;
Fs = Fator de segurança;
T = Empuxo;
Fp = Força passiva do solo requerida;
Fa = Força ativa do solo;
Fpu = Carga de resistência passiva fatorada, sobre a
estrutura de concreto;

„ Fundações – De preferência, utilizar-se-ão valores de projeto de fundações permis-


síveis, baseados nos dados verificados no programa de sondagens e nos ensaios de
campo e de laboratório. Entretanto, na ausência de tais dados, mas sabendo-se o
tipo de material, poderão ser utilizados os critérios e os valores fornecidos no subitem
6.3.10.4.

„ Tombamento – A excentricidade da reação das cargas totais sobre o plano de


contato do concreto com o material das fundações deverá ser cuidadosamente
investigado, e o valor máximo de suporte não deverá exceder o valor de carga
permissível. A importância das investigações relativas à distribuição nas pressões
das fundações aumenta proporcionalmente às características de compressibilidade
dos materiais das fundações. Quando são constatados materiais de fundação fra-
cos, a primeira alternativa será a relocação da estrutura para um local com melho-
res materiais de fundação. Também poderá considerar-se a pré-consolidação do
material de fundação. Quando se constatam materiais de fundação fracos, como
camadas e bolsões de areia solta, argila mole, ou silte macio, mas a sobreescavação
de um volume razoável de material permite encontrar um material de fundação
mais satisfatório, o material fraco deve ser removido e substituído por reaterro
compactado. Em alguns casos, poderão ser necessárias estacas verticais ou incli-
nadas.

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„ Deslizamento – A resistência ao deslizamento é expressa pela equação [SUM(W) –


U]f + cA. Será preciso estabelecer, se possível, o coeficiente de atrito, f, e a
coesão c, por meio de ensaios de laboratório dos materiais das fundações, do local
da obra. O valor da resistência ao cisalhamento dependerá das resistências ao
cisalhamento dos materiais da fundação e do concreto. O menor valor da resistên-
cia ao cisalhamento das fundações ou a resistência ao cisalhamento do concreto
deverá ser utilizado no cálculo do fator de atrito de cisalhamento. No anteprojeto,
deverão ser arbitrados os seguintes valores aproximados, ou poderão ser obtidos
valores constantes em relatórios de laboratório relativos a materiais similares:

c
Material f
kPa
Concreto (21MPa, em 28 dias) 0,80 *3.000
Rocha – sólida e maciça 0,80 2.800
Rocha – fraturada, com juntas 0,60 700
Cascalho 0,50 0
Areia 0,40 0
Argila, firme 0,30 70
Argila, mole 0,20 14

„ Resistência limite ao cisalhamento de 8[(f’c)0,5] = 3.000kPa, para concreto 21MPa,


em 28 dias.

„ No caso das estruturas com fundações sobre argila ou outro material de baixo
índice de atrito, poderá ser necessário acrescentar chaves de concreto, monolíticas
com a laje de fundação, de maneira a se obter resistência suficiente ao deslizamento,
pelo abaixamento da cota do plano de deslizamento. Algumas vezes, como no caso
das forças geradas pelos abalos sísmicos, poderão ser necessárias estacas. Para as
estruturas sobre fundações escalonadas, no máximo 60% da área da parte plana
deverão ser considerados no cálculo de cA, pois, em geral, os degraus das funda-
ções se quebram.

As estruturas sujeitas a forças de empuxo hidráulico, como as caixas de válvulas


das tubulações ou as estruturas de regularização do nível da água, durante o desagua-
mento do nível jusante, deverão ser verificadas, quanto à resistência ao deslizamento, por
meio da seguinte equação:

Fs = [SUM(W) – U]f/(T + Fa).

Se o fator de segurança for inferior ao desejado (em geral, 2,0), indica-se o poten-
cial de deslizamento, e as forças laterais do solo entram em jogo. A seguir, calcula-se o
fator de segurança, por meio da seguinte equação:

Fs = {[SUM(W) – U]f + Fp}/(T + Fa).

Se o fator de segurança ainda for inferior ao desejado, a parte da estrutura de


concreto sujeita à força passiva da terra deverá ser projetada aplicando-se um fator de
carga dinâmica a Fa e T, e multiplicando (fatorando) [SUM(W) – U] por 0,9, conforme
ilustrado a seguir:

Fpu = 1,7(Fa + T) – 0,9[SUM(W) – U].

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„ A seguir, o muro é projetado para Fpu. Utilizar-se-á um coeficiente de resistência


passiva, que assegure que Fpu não excederá a capacidade de resistência passiva
do solo.

„ Flutuação – Todas as estruturas deverão ser projetadas para sobpressão total,


quando água sob pressão tiver acesso à fundação da estrutura. Deverá presumir-se
que a subpressão possui uma variação em forma linear entre pontos de pressão
conhecida. Arbitra-se que os abalos sísmicos não têm efeito sobre a subpressão.

„ Fatores de Segurança – Todos os fatores de segurança são expressos como uma


razão das forças de resistência para as forças que tendem a causar movimento. O
fator de segurança contra:
f Tombamento = SUM(Mr)/SUM(Mo),
f Cisalhamento-Atrito = {[SUM(W) – u] f + cA}/SUM(H);
f Flutuação = [SUM(W)]/U.

Os requisitos de estabilidade são estabelecidos pelos seguintes fatores mínimos de


segurança:

Estrutura Completa e
Durante a Construção
Equipamento em Operação
Fator de Segurança Contra: Carga Carga
Normal Extrema Normal Extrema
Tombamento 1,1 1,1 1,2 1,1
Cisalhamento-Atrito 1,5 1,1 2,0 1,5
Flutuação 1,1 1,1 1,2 1,1

6.3.10.4 Capacidade de Carga

A pressão máxima permissível das fundações, utilizada na elaboração de projetos


de estruturas, não deverá exceder 50% da capacidade real de pressão limite da fundação,
conforme constatada em ensaio. Se não existirem dados de laboratório, a pressão máxi-
ma sobre os materiais subjacentes aos alicerces e outros componentes da estrutura não
deverá exceder as pressões de carga permissíveis indicadas na tabela apresentada mais
adiante, exceto quando especificamente autorizado pelo engenheiro de projetos da estru-
tura sob consideração. Algumas variações e limitações permissíveis são discutidas nos
parágrafos seguintes.

„ Rocha – Os valores de carga tabulados para a rocha só se aplicam quando a área


sob carga está situada a menos de 50cm abaixo da superfície de rocha inalterada,
adjacente, mais baixa. Quando a área sob carga estiver a mais de 50cm abaixo de
tal superfície, esses valores poderão ser aumentados em 20%, para cada 30cm
adicionais de profundidade, mas nunca deverão exceder o dobro dos valores tabu-
lados.

„ Areia e Cascalho – Os valores de carga permissíveis para areia e cascalho podem


exceder os valores tabulados em 2,5%, para cada 30cm de profundidade da área
sob carga, abaixo da mais baixa superfície do terreno imediatamente adjacente,
mas não deverão exceder o dobro dos valores tabulados. No caso de áreas de
fundações, cuja menor dimensão lateral for inferior a 1,0m, os valores de carga
permissíveis deverão ser os valores de carga permissíveis indicados na tabela apre-
sentada mais adiante, multiplicados pela menor dimensão lateral, em metros.

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„ Argilas – Os valores tabulados para as argilas aplicam-se apenas às pressões dire-


tamente sob os alicerces, as paredes e os pilares isolados. Se um grupo de alicerces
está sendo projetado para uma estrutura, cada alicerce é influenciado pelos alicer-
ces próximos e outras áreas carregadas. Neste caso, é necessária a realização de
uma análise, para verificar a influência das cargas adjacentes, sendo necessária
uma redução nos valores tabulados de cargas permissíveis.

„ Estrato Subjacente com Valor de Resistência Inferior – Quando os materiais direta-


mente subjacentes a uma fundação estão situados sobre um estrato que possua
valores de resistência permissíveis inferiores, tais valores menores não deverão ser
excedidos, no nível do estrato subjacente. Os cálculos da pressão vertical sobre os
materiais de apoio, a qualquer profundidade abaixo de uma fundação, deverão ser
efetuados presumindo que a carga está distribuída uniformemente, num ângulo de
60 graus com a horizontal, mas a área considerada suporte da carga não deverá
estender-se além da interseção dos planos de 60 graus, a partir das fundações
adjacentes.

„ Efeito da Água nas Fundações – Numa escavação, quando é constatado um fluxo


de água para dentro ou para cima em um material de fundações considerado
satisfatório, será preciso adotar métodos para sustar ou controlar o fluxo, a fim de
impedir a perturbação do material de fundação. Se o fluxo de água prejudicar seri-
amente a estrutura do material, o valor de carga permissível deverá ser reduzido
para o do material solto, exceto no caso de areia movediça, que não suporta qual-
quer carga.
„ Cargas – As cargas a serem utilizadas no cálculo da pressão máxima de carga sobre
os materiais de fundações sob alicerces e outros componentes da estrutura deve-
rão incluir as cargas dinâmicas e estáticas da estrutura, conforme discutido no
subitem 6.3.10.2.

6.3.10.5 Recalques Diferenciais

Onde partes do alicerce de uma estrutura descansam sobre argila mole ou de dure-
za média, ou pó de pedra, ou esses materiais estão diretamente subjacentes aos alicer-
ces, e outras partes da estrutura descansam sobre materiais diferentes, ou onde as cama-
das de material mole variam consideravelmente em espessura, será preciso investigar a
magnitude e a distribuição dos recalques prováveis. Quando necessário, as cargas per-
missíveis deverão ser reduzidas, ou medidas especiais deverão ser contempladas na ela-
boração do projeto da estrutura, de modo a evitar recalques diferenciais perigosos.

Pressões de Carga
MATERIAIS
Permissíveis (kN/m2)
Rocha-mãe maciça, sem laminações, como granito, gnaisse, bassalto, felsito e conglomerados
9.550
totalmente cimentados, todos em condições inalteradas (o que permite algumas fissuras)
Rochas lameladas, como ardósias e xistos, em condições inalteradas (o que permite algumas fissuras) 3.350
Argilitos xistosos em condições inalteradas (o quepermite algumas fissuras) 955
Depósitos residuais de rocha-mãe fraturada ou quebrada de qualquer tipo, exceto argilito xistoso 955
Terra endurecida 955
Misturas de areia-cascalho e cascalho compacto 475
Misturas de areia-cascalho e cascalho solto; Areia grossa e compacta 380
Areia grossa e compacta 285
Areia fina e solta 95
Argila dura 570
Argila de dureza média 380
Argila mole 95

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6.4 Operações e Automatização dos Canais

6.4.1 Aspectos Gerais

No Brasil, a maioria dos projetos de irrigação possui uma restrição operacional: não
se deve bombear durante as quatro horas de pico de consumo de eletricidade, em geral
das 17 às 21 horas. Além disso, usualmente a duração dos períodos de irrigação na
propriedade rural pode variar entre 16 e 20 horas diárias. A limitação de bombeamento
fora das horas de pico baseia-se nos altos custos de uso de energia elétrica durante as
horas de pico de consumo e precisa ser considerada na elaboração dos projetos. A dura-
ção da irrigação durante o dia deve ser definida durante o planejamento do projeto, com
base nas práticas de irrigação dos agricultores, nos tipos de culturas, na capacidade do
solo de reter a água e no método de irrigação a ser empregado. (É importante apontar o
fato de que o programa de assistência técnica do “Bureau of Reclamation” no Brasil tem
recomendado enfaticamente que os períodos de irrigação das propriedades rurais sejam
estendidos ao máximo possível, devido ao alto custo da capacidade adicional requerida
no sistema, quando a irrigação é efetuada durante menores períodos diários.) Estas duas
limitações (operar durante os períodos fora do pico de consumo e tempo de irrigação
reduzido) aumentam a complexidade da operação dos canais, pois o abastecimento do
sistema (a partir das estações de bombeamento) é interrompido e reiniciado a cada dia, e
o início e/ou o fim do período diário de irrigação poderá ou não coincidir com a partida ou
o desligamento das estações de bombeamento. É indispensável adotar-se um método
flexível, estável e de resposta rápida de operação dos sistemas de canais, a fim de aten-
der às variáveis demandas de água dos usuários, oportunamente, sem desperdício exces-
sivo de água.

6.4.2 Operação dos Sistemas de Canais

Os canais podem ser operados como um sistema orientado para a demanda à jusante,
no qual a vazão do canal é estabelecida com base nas demandas de distribuição de água
à jusante, ou como um sistema orientado para a oferta à montante, no qual a vazão
baseia-se na oferta de água à montante.

6.4.2.1 Sistema de Demanda

Num sistema orientado para a demanda à jusante típico, os agricultores podem


irrigar quando assim o desejarem e à vazão que desejarem, dentro da capacidade de
projeto da tomada d’água da sua propriedade. Este tipo de sistema pode exigir considerá-
vel capacidade adicional (quando comparado ao sistema orientado para a oferta à mon-
tante), para que o sistema tenha flexibilidade suficiente para prover total liberdade de
operação aos agricultores. Além disso, a fonte de água do sistema de canais deverá estar
disponível ininterruptamente, de modo a atender qualquer demanda gerada, dentro das
limitações do sistema. Este último fator dificulta a consecução de um sistema típico
orientado para a demanda à jusante, dentro do contexto brasileiro, no qual o abasteci-
mento de água (estação de bombeamento principal) é desligado por períodos de 4h/dia,
durante os horários de pico de demanda de energia elétrica. São necessários reservatórios
de compensação, às vezes grandes, para fornecer água continuamente, quando a estação
de bombeamento está desligada. Em geral, os sistemas típicos orientados para a deman-
da à jusante exigem sistemas de controle do nível de água bastante sofisticados, incluin-
do automação. Conforme descrito adiante neste item, os sistemas orientados para a
demanda à jusante podem precisar de que o topo do revestimento do canal seja horizon-
tal. Todos estes fatores contribuem para aumentar os custos dos sistemas típicos orien-
tados para a demanda à jusante, quando comparados com os sistemas orientados para a
oferta à montante.

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Nos sistemas de canais orientados para a demanda, a operação normalmente é


automatizada, a fim de permitir ajustes contínuos às variações de demanda. A resposta
do sistema às oscilações da demanda pode ser demorada, pois uma mudança na deman-
da à jusante precisa ser transmitida através de diversos níveis sucessivos, até o início do
canal. Entretanto, as variações nas vazões das tomadas d’água podem ser efetuadas a
qualquer momento, em qualquer parte do sistema.

Com freqüência, é preciso construir os sistemas orientados para a demanda com


margens de canal horizontais. O nível máximo de água nos trechos do canal, entre as
estruturas de controle, é atingido com vazão zero, quando a superfície da água é horizon-
tal, sendo indispensável construir as margens e o revestimento do canal com borda livre
adequada, acima desta cota, em todo o comprimento do trecho. Se a declividade do canal
for superior a aproximadamente 25cm/km, o custo adicional dos serviços de terraplenagem
e de revestimento do canal poderá merecer cuidadosa consideração.

6.4.2.2 Sistema de Controle à Montante

Num sistema típico orientado para a oferta com demanda programada (Sistema
Orientado para a Oferta) à montante, as demandas de distribuição precisam ser totalmen-
te programadas e controladas. Os agricultores recebem água de acordo com um rigoro-
so cronograma de distribuição, que é definido com base nas necessidades dos agriculto-
res, na disponibilidade de água da fonte e nas limitações de capacidade do sistema. O
Manual “Operação e Manutenção dos Projetos de Irrigação” contém informações acerca
dos cronogramas de distribuição de água.

Com os sistemas orientados para a oferta, a distribuição de água para cada agricul-
tor precisa ser programada com antecedência de um ou mais dias, de maneira a fornecer
a vazão apropriada no início do canal. É quase impossível estabelecer a vazão, exatamen-
te na quantidade necessária para atender à demanda acumulada e compensar as perdas
por infiltração e evaporação, que ocorrem no caminho. Se o abastecimento for inadequa-
do, os agricultores no final do sistema não receberão a água a eles alocada. Para assegu-
rar que isso não ocorra, a vazão liberada no início do canal deverá incluir uma quantidade
de água adicional, como margem de segurança, e a vazão em excesso, que não for
utilizada, será desperdiçada.

Outra desvantagem dos sistemas orientados para a oferta é o curto tempo de


resposta lento para efetuar alterações na vazão. As mudanças de vazão precisam origi-
nar-se no início do canal e serem transmitidas por todo o comprimento do sistema, antes
de se atingir o novo estado de equilíbrio de vazão, o que poderá exigir uma série de
ajustes no controle das comportas do sistema. As mudanças nas vazões das tomadas
d’água só podem ser efetuadas após a mudança apropriada de vazão chegar à tomada
d’água, depois de passar por todo o sistema, a partir do início do canal.

Uma vantagem dos sistemas orientados para a oferta é que minimizam a terraple-
nagem requerida na construção das margens do canal e as quantidades de materiais de
revestimento do canal. O nível máximo da água em cada canal ocorre na vazão máxima,
e o perfil da superfície da água é paralelo ao fundo do canal. Portanto, as margens do
canal e a parte superior do revestimento podem ser construídas com alturas constantes,
acima do fundo do canal em cada trecho.

Normalmente, o sistema típico orientado para a oferta à montante é menos dispen-


dioso, porque as dimensões do sistema são minimizadas e não se requerem sistemas
sofisticados de controle da água.

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6.4.2.3 Combinações

O sistema de canais pode incorporar, no seu projeto e na sua operação, elementos


de ambos os sistemas: o orientado para a oferta à montante e o orientado para a demanda
à jusante.

Por exemplo, a estação de bombeamento principal e o reservatório de regularização


podem ser operados, ao menos parcialmente, como sistema orientado para a oferta, bombean-
do água de um rio, quando disponível; a seguir, o reservatório de regularização alimentará
o sistema de canais, com base na demanda. Em alguns projetos, o sistema principal de
distribuição de água é operado como sistema orientado para a demanda, mas as tomadas
d’água fornecem uma vazão preestabelecida a diversos irrigantes, à jusante das tomadas
d’água.

Em alguns casos, o sistema pode operar normalmente como sistema orientado para a
demanda, mas, sob determinadas circunstâncias, opera como sistema orientado para a
oferta. Durante os meses de pico de demanda, a capacidade do sistema de distribuição
poderá ser insuficiente para atender a todos, com demanda ilimitada. Nesse caso, o sistema
deverá ser operado como sistema orientado para a oferta, a fim de evitar que os últimos
trechos do sistema recebam água insuficiente. Além disso, durante períodos de escassez
de água, quando apenas um percentual da demanda poderá ser atendido, o sistema será
operado como sistema orientado para a oferta, a fim de distribuir eqüitativamente os pou-
cos recursos hídricos disponíveis.

É possível projetar-se um sistema de irrigação que opere parcialmente com base na


demanda e parcialmente com base na oferta, menos dispendioso, do que um sistema
típico orientado para a demanda, enquanto se mantém a flexibilidade operacional.

6.4.3 Métodos de Ajuste das Comportas de Controle

Existem quatro métodos básicos de ajuste das comportas de controle: controle


manual local, controle automático local, controle remoto por supervisor e sistema de
controle combinado.

6.4.3.1 Controle Manual Local

Nestes sistemas, os ajustes são efetuados in situ, por um canaleiro, seja por meio
de dispositivos manuais, seja por dispositivos economizadores de trabalho, como motores
de içamento de comportas, os quais são instalados no local, a fim de ajudar a efetuar os
ajustes necessários. Normalmente, o canaleiro começa seu trabalho à montante no início
do trecho de canal pelo qual é responsável, e se desloca na direção jusante, fazendo os
ajustes necessários nas sucessivas comportas de controle do nível de água e tomadas
d’água, à medida que a vazão chega em cada ponto.

O controle local manual funciona melhor nos sistemas orientados para oferta, nos
quais as distribuições são programadas de maneira que o canaleiro possa estar na estru-
tura de regulação apropriada, para fazer os ajustes, no momento certo. Com um grande
número de canaleiros e um sistema de rádio, seria possível mas, provavelmente, não
prático, utilizar o sistema de controle local manual para operar os sistemas orientados
para a demanda.

6.4.3.2 Controle Automático Local

Nos sistemas de controle automático local, os ajustes são efetuados in situ, por
meio de equipamento de controle, sem intervenção humana. O controle automático local
pode ser efetuado por meios hidráulicos ou por um controlador, que consiste de vários
elementos de sensoreamento, controle e acionamento.

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Os sistemas de controle automático local são mais apropriados aos sistemas orien-
tados para a demanda à jusante. Quando instalados nos sistemas orientados para a ofer-
ta, são empregados, normalmente, em associação com controle manual local e/ou contro-
le remoto por supervisor (vide subitem 6.4.3.4, a seguir).

Para os sistemas orientados para a demanda, os sistemas de controle automático


local podem ser instalados para fazer ajustes que mantenham um nível da água constante,
à jusante da comporta. Nestes casos, a vazão à jusante da comporta dependerá da declividade
da linha da água, a qual, por sua vez, depende da quantidade de água utilizada à jusante da
comporta. Desta forma, os ajustes de vazão estão diretamente relacionados à quantidade
de água utilizada à jusante das comportas. Estes sistemas funcionam adequadamente para
sistemas orientados para a demanda, mas são problemáticos em condições de vazão res-
trita, como resultado de limitações de capacidade ou falta de água. Nesses casos, será
preciso implementar um cronograma de distribuição de água, para assegurar cobertura
completa a todas as tomadas d’água das propriedades irrigadas, a fim de garantir que os
usuários receberão uma quantidade justa de água.
Embora os sistemas de controle automático local sejam muito eficazes, sob condi-
ções normais de operação, são inflexíveis e podem ser difíceis de operar, em condições
anormais ou de emergência. Deve ser incluída, nos mecanismos de operação das compor-
tas, previsão para que o controle manual local desconsidere o sistema de controle auto-
mático e se sobreponha a este.

As comportas com controle automático local mecânico/elétrico são operadas por um


algoritmo de controle local, que ajusta a abertura da comporta em relação ao nível da água
num local, à montante ou à jusante da comporta em que se deseja manter uma profundida-
de relativamente constante de água no canal. O nível da água é monitorado por meio de
sensores eletrônicos que, em geral, encontram-se localizados num ponto imediatamente
adjacente à comporta, ou na extremidade mais afastada do trecho do canal controlado pela
comporta.

Os sistemas de controle hidráulico operam utilizando comportas de controle aciona-


do por uma bóia, que mantém, automaticamente, um nível constante de água no canal
imediatamente à jusante ou imediatamente à montante da comporta. Estas comportas
apresentam a vantagem de não exigirem eletricidade para sua operação; entretanto, não
podem ser manobradas, manualmente, numa emergência e, além disso, estão sujeitas a
manipulação pelo usuário que desejar obter maior vazão.

6.4.3.3 Controle Remoto por Supervisor

Nestes sistemas, os ajustes são efetuados numa central de controle, com diversos
níveis de participação de operadores humanos. Uma estação-mestra na central de controle
realiza as funções de coleta de dados em locais remotos no sistema de canais, e apresenta
os dados, num formato adequado, para a tomada de decisões pelo operador. Cada local
remoto, como uma comporta de controle de canal, requer uma unidade terminal remota
(UTR), que monitora dados, como níveis da água, posição da comporta e situação operacional
do equipamento, transmitindo-os, a seguir, para a estação-mestra. A UTR também controla
o local remoto; ajusta a posição da comporta com base nas instruções do operador, as
quais são transmitidas da estação-mestra. Portanto, este tipo de operação requer um siste-
ma de transmissão e recepção entre a UTR, nos locais remotos, e a estação-mestra.

Os sistemas de controle remoto por supervisor podem ser manuais, quando cada
passo no processo decisório e no procedimento de controle é executado manualmente
por um operador humano, ou automáticos, quando algumas ações de rotina são realiza-
das automaticamente pelo computador. Só ocasionalmente é instalado controle pleno por
computador, devido à complexidade e ao custo de desenvolvimento, instalação e depura-
ção (“debugging)” do “software”. De todas as formas, sempre há a necessidade de inter-

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Elaboração de Projetos de Irrigação

venção manual numa emergência ou em outras situações que escapam à rotina. Quando
apenas um operador humano intervém, o sistema é bem simples e flexível. A melhor
maneira de desenvolver o “software” (se desejado) para os sistemas de controle por
supervisor é começar a operação com controladores humanos e manter um histórico dos
ajustes de rotina efetuados. á medida que o tempo passa, será possível desenvolver,
empiricamente, alguns algoritmos simples de comando, de modo a aliviar a carga de
trabalho do operador, delegando as mudanças rotineiras ao computador.

Os sistemas de controle remoto por supervisor são flexíveis e podem ser projetados
para os sistemas para a demanda, os orientados para a oferta e os mistos. Além disso,
também podem ser projetados para permitir que a operação do sistema possa passar de
demanda para oferta, dependendo das circunstâncias. Devido à complexidade do desen-
volvimento do “software”, é normalmente mais factível operar os sistemas de controle
remoto por supervisor com operadores humanos, que podem ajustar-se a várias situações
diferentes. A principal vantagem dos sistemas de controle remoto por supervisor é sua
capacidade de fazer ajustes simultâneos em todo o sistema. No Brasil, este é um grande
benefício, porque todas as comportas podem ser simultaneamente fechadas, no início do
período de pico de consumo de energia elétrica, e abertas, no fim desse período.

6.4.3.4 Sistemas de Controle Combinado

Os sistemas de controle manual local, automático local e por supervisor não são
mutuamente exclusivos. Em muitos projetos de recursos hídricos, a operação requer o
uso de uma combinação de dois ou até três métodos. Os méritos relativos dos três tipos
de controle dependem das circunstâncias específicas de uso. Por exemplo, as tomadas
d’água do tipo gravidade podem exigir um controlador automático local, de modo a man-
ter, automaticamente, uma vazão de fornecimento constante, no caso de o nível de água
no canal variar freqüentemente. Nem sempre o canaleiro estará disponível no local, com
a freqüência necessária, para fazer os ajustes de abertura de comporta necessários para
compensar as variações e manter uma vazão de distribuição constante.

No caso dos sistemas orientados para a oferta, o controle automático local poderá ser
utilizado nas principais comportas de controle ao longo do canal. As tomadas d’água seriam
operadas seja manualmente, por um canaleiro, seja por um sistema de controle remoto por
supervisor, já que a distribuição é previamente programada e as comportas das tomadas
d’água só devem ser abertas na hora certa, e não cada vez que chega água à tomada, como
seria o caso se as comportas das tomadas d’água fossem operadas por controle automático
local.

No Brasil, em muitos projetos, um bom sistema é o de controle remoto por supervisor


com operação manual (humana) numa estação central, e comportas de controle que
podem ser operadas manualmente (ou por meio de motores elétricos), no local da estrutu-
ra de controle. Quando adequadamente projetado, este sistema provê flexibilidade para
as operações orientadas para a demanda e para a oferta, tanto a partir da estação central,
quanto a partir do próprio local da estrutura, pelos canaleiros, no caso de falha do sistema
de controle remoto por supervisor.

É possível formular muitas combinações diferentes dos três métodos de controle.

6.4.4 Conceitos de Controle

Os conceitos empregados no controle da operação dos sistemas de canais estão


baseados na localização das informações requeridas para controlar o sistema, em relação
à localização das estruturas de controle, conforme ilustrado na Figura 6.67.

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Figura 6.67 Esquemas dos Conceitos de Controle à Jusante e Montante

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„ Controle à Jusante – Os ajustes das estruturas de controle baseiam-se em informa-


ções provenientes de locais à jusante da estrutura (Figura 6.67a). As informações
requeridas são obtidas por um sensor, ou uma régua limnimétrica, localizada à
jusante da comporta. O controle à jusante é aplicável apenas a canais operados
com base na demanda à jusante.

„ Controle à Montante – Os ajustes das estruturas de controle baseiam-se em infor-


mações provenientes de locais à montante da estrutura (Figura 6.67b). As informa-
ções requeridas são obtidas por um sensor, ou uma régua limnimétrica, localizada a
montante da estrutura. O controle a montante deve ser empregado em canais ope-
rados com base na oferta à montante. É possível implementar-se o controle à mon-
tante em sistemas de canais orientados para a demanda à jusante, mas recomenda-
se evitar essa situação, uma vez que o controle se torna ineficiente.

6.4.5 Métodos de Operação das Piscinas dos Canais

Cada trecho de canal entre estruturas sucessivas de controle da água é considera-


do uma piscina. Existem vários métodos para conduzir a água para a jusante, através de
uma série de piscinas. Nos métodos mais utilizados, seleciona-se um ponto dentro de
uma piscina, no qual a profundidade da água deverá permanecer constante, para todas as
vazões do canal. A declividade ou o gradiente da superfície da água deverá variar confor-
me a vazão, e, essencialmente, o perfil da superfície da água rotacionará em torno do
nível d’água no ponto de profundidade constante. Portanto, o ponto de profundidade
constante é denominado ponto de pivô.

O gradiente da superfície da água deverá variar com a vazão, a partir de uma linha
paralela ao fundo do canal, na vazão máxima, até uma linha horizontal, na vazão zero. O
volume contido entre os dois gradientes é denominado volume de cunha.

Os diversos métodos de operação das piscinas baseiam-se na localização do ponto


de pivô na piscina e encontram-se ilustrados na Figura 6.68. Os dois métodos mais
utilizados de operação de piscinas são os seguintes:

„ Método de Profundidade Constante na Extremidade à Jusante da Piscina – O ponto


de pivô encontra-se localizado na extremidade à jusante da piscina (Figura 6.68a).
Este método é o mais apropriado para a operação de canais orientados para a oferta
à montante, e, nestes casos, as informações relativas ao nível da água são utiliza-
das para controlar os ajustes das estruturas de controle, na extremidade à jusante
da piscina, imediatamente à jusante do ponto de pivô (Figura 6.69b). O método
também pode ser utilizado nos sistemas orientados para a demanda, e, nestes
casos, a comporta à montante da piscina será ajustada para manter uma profundi-
dade constante no ponto de pivô (Figura 6.69a). Entretanto, quando o sistema for
automatizado e se ocorrerem grandes flutuações de demanda no sistema, este
método poderá criar oscilações inaceitavelmente grandes no ponto de pivô;

„ Método de Profundidade Constante na Extremidade Montante da Piscina – O ponto


de pivô encontra-se localizado na extremidade à montante da piscina (Figura 6.68b).
Este método é ideal para os sistemas de canais orientados para a demanda à jusante
e, nestes casos, a comporta na extremidade à montante da piscina é ajustada para
manter profundidade constante no ponto de pivô, localizado imediatamente à jusante
da estrutura de controle (Figura 6.70). Não se recomenda este método para a
operação de canais orientados para a oferta à montante, pois, nos trechos com
tomadas d’água, a comporta à jusante poderá operar indevidamente, quando se
precisa da água que entra na extremidade à montante da piscina, para atender
maior demanda em uma tomada d’água localizada naquele trecho;

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Figura 6.68 Métodos de Operação das Piscinas dos Canais

Figura 6.69 Alternativas de Controle para o Método de Profundidade Constante à


Jusante para Operação das Piscinas dos Canais

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Figura 6.70 Controle de Comporta para o Método de Profundidade Constante à


Montante para Operação das Piscinas dos Canais

Figura 6.71 Controlador do Canal

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„ Estes métodos de operação de piscinas podem ser implementados por quaisquer


dos métodos de controle descritos no subitem 6.4.3, quando utilizados na sua for-
ma mais comum, ou seja, quando o ponto de pivô for adjacente à comporta que
será ajustada para manter a profundidade da água constante no ponto de pivô.
Quando utilizados na sua forma menos usual, ou seja, quando o ponto de pivô
estiver localizado na extremidade da piscina oposta à da comporta que será ajusta-
da para manter uma profundidade de água constante, o controle manual local po-
derá ser difícil;

„ Quando é preciso operar o sistema algumas vezes com controle orientado para a
demanda e, outras, para a oferta, a melhor configuração do sistema deverá ser a de
controle remoto por supervisor, com operação manual (humana a partir do centro
de controle), com sensores imediatamente à montante e à jusante de cada estrutu-
ra de controle. Se o sistema for operado com controle orientado para a demanda, as
comportas serão operadas com base nos níveis de água imediatamente à jusante da
comporta (método de profundidade constante na extremidade montante da pisci-
na) e, se operado como sistema orientado para a oferta, as comportas serão opera-
das com base nos níveis de água imediatamente à montante da estrutura de contro-
le (método de profundidade constante na extremidade jusante da piscina);

„ Algumas vezes é utilizado um outro método de operação de piscinas;

„ Método de Volume Constante – O ponto de pivô está situado perto do ponto médio
da piscina do canal (Figura 6.68c). Os volumes de cunha à montante e à jusante do
ponto de pivô são iguais e de sentido oposto. O volume de água nas cunhas e a
distância de deslocamento são menores, o que permite que ocorram flutuações de
vazão mais rápidas, através do sistema de canais. Este método é mais adequado
para os sistemas orientados para a demanda à jusante, do que para os orientados
para a oferta à montante;

„ Este método de operação de piscinas pode ser implementado por quaisquer dos
métodos de controle descritos no subitem 6.4.3, exceto pelo método de controle
manual local, que pode ser dificultado por este tipo de operação, devido à distância
entre a comporta e o ponto de pivô;

„ O seguinte método requer controle por supervisor ou por computador, e não é


utilizado com muita freqüência;

„ Método de Volume Controlado – Com este método, o ponto de pivô não é fixo, mas
pode ser deslocado dentro da piscina (Figura 6.68d). Além disso, poderá inexistir
limitação relativa à profundidade constante. A superfície da água poderá subir ou
descer, o que permite aproveitar o armazenamento na piscina.

6.4.6 Automação

6.4.6.1 Elementos Básicos do Sistema de Controle Automático

Os elementos básicos do sistema de controle automático do tipo “feedback” são o


sensor, o comparador, o elemento de controle e o acionador, conforme ilustrado na Figura
6.71.

„ O sensor fornece entradas ao sistema de controle. Além disso, converte parâmetros


observáveis, como nível da água, vazão ou posição da comporta, em valores, que
podem ser utilizados pelo sistema de controle. Um sistema de controle de canais
poderá utilizar (e com freqüência utiliza) mais de um sensor, em cada estrutura de
controle. Algumas vezes, a saída do sensor é filtrada ou obtida uma média, ao

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longo de um pequeno intervalo de tempo, de modo a eliminar os efeitos da ação de


ondas e de outros distúrbios de curta duração e, conseqüentemente, minimizar o
número de movimentos da comporta;

„ O ponto de referência é uma entrada de valor referencial para o elemento do


comparador. Um valor da entrada do sensor diferente do valor do ponto de referên-
cia fará o elemento de controle iniciar uma saída para o acionador. O valor do ponto
de referência é algumas vezes denominado valor-alvo na piscina. O desvio do nível
d’água do ponto de referência (valor-alvo) é denominado erro ou diferença. Os
limites de faixa neutra são estabelecidos acima e abaixo do ponto de referência, de
modo a restringir os movimentos da comporta, quando a diferença for pequena;

„ O comparador é um dispositivo que coteja os valores de entrada e fornece a diferen-


ça (erro) como valor de saída. Num canal, o comparador analisa o valor da entrada
proveniente do sensor, em relação ao valor de um ponto de referência, e produz
um sinal que representa o valor da diferença constatada, o qual é enviado ao ele-
mento de controle;

„ O elemento de controle efetua o mesmo conjunto de tarefas do canaleiro, no ajuste


do sistema de canais, com base nas condições observadas. O conjunto de tarefas é
definido pelas regras do processo necessárias à solução do problema. O elemento
de controle realiza estas tarefas automaticamente e envia um sinal ao acionador. O
conjunto de regras ou processos preestabelecidos é denominado algoritmo;

„ O acionador converte o produto do elemento de controle numa operação mecânica,


que realiza a operação requerida. Num sistema de canais, o acionador converte o
sinal produzido pelo elemento de controle numa ação elétrica, mecânica ou hidráu-
lica, para aumentar ou diminuir a abertura das comportas de controle do nível da
água, aumentar ou diminuir a abertura das válvulas e ligar ou desligar as bombas;

„ Os sistemas de controle hidráulico que utilizam comportas operadas por flutuador,


conforme ilustrado na Figura 6.72, constituem um dos dispositivos de controle
automático mais simples. Nestas comportas, o flutuador desempenha todas as
funções de sensor, comparador, elemento de controle e acionador. Quando o nível
da água se eleva, o flutuador sobe, diminuindo a abertura da comporta e a vazão
para dentro da piscina. Quando o nível da água decresce, o flutuador desce, abrindo
a comporta para permitir maior vazão para dentro da piscina e, desta forma, manter
uma profundidade de água constante imediatamente à jusante da comporta. A
função de filtro (obter médias das mudanças, ao longo de períodos curtos, para
compensar a ação das ondas, etc.) é efetuada pelo momento de inércia da massa
das partes da comporta em movimento;

„ Existem também comportas hidráulicas que mantêm automaticamente uma profun-


didade de água constante, imediatamente à montante da comporta. Estas compor-
tas podem ser instaladas nos sistemas orientados para a oferta, conforme ilustrado
na Figura 6.69b.

6.4.6.2 Algoritmos

Diversos algoritmos têm sido desenvolvidos e implementados com êxito. As carac-


terísticas gerais destes algoritmos (Little-Man, Colvin, EL-FLO + RESET, P + PR e BIVAL)
são discutidas nos parágrafos seguintes e, em considerável detalhe, no “Canal System
Automation Manual” (Manual de Automação dos Sistemas de Canais) [21], uma publica-
ção do “Bureau of Reclamation”. Todos estes algoritmos são aplicáveis tanto ao controle
automático local quanto ao automático remoto por supervisor.

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Figura 6.72 Diagrama Esquemático da Comporta de Controle Automático do


Nível D’água Jusante Operada por Flutuador

Figura 6.73 Método de Controle “Little-Man” com Antioscilação Pendular e


Temporizadores de Multiestágios

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6.4.6.2.1 Algoritmo de Little-Man

Este algoritmo pode ser implementado seja eletromecanicamente, seja com micro-
processador. É aplicável a sistemas de controle orientados para a demanda e para a
oferta, embora tenha-se mostrado mais eficiente nos sistemas orientados para a demanda
à jusante, nos quais é empregado para controlar o nível da água imediatamente à jusante
da comporta.

O elemento de controle contém comutadores que são acionados quando o nível da


água ultrapassa os limites da faixa neutra. Além disso, são incorporados temporizadores
ajustáveis, de maneira que, quando os comutadores são acionados, o motor da comporta
opere por apenas alguns segundos, e haja um intervalo de folga, entre os movimentos da
comporta. É possível incluírem-se conjuntos múltiplos de temporizadores, a fim de poder
aumentar o tempo de funcionamento e diminuir o intervalo de folga, no caso de grandes
divergências no nível da água, em relação ao ponto de referência. Além disso, instala-se
um dispositivo antioscilação pendular, que susta qualquer movimento adicional da com-
porta, quando a superfície da água para de se afastar e começa a se aproximar do ponto
de referência. Enquanto a superfície da água se aproxima do ponto de referência, o dispo-
sitivo de antioscilação pendular impede qualquer movimento da comporta.

A Figura 6.73 apresenta um típico histórico de variações do nível da água e as


respostas do controlador Little-Man, à medida que ocorrem as mudanças na vazão.

6.4.6.2.2 Algoritmo de Colvin

O algoritmo de Colvin baseia-se na taxa de mudança do nível de água que está


sendo controlado. Pode ser implementado eletromecanicamente ou mediante micro-
processador. Tem-se mostrado mais indicado para os sistemas orientados para a de-
manda à jusante, nos quais é empregado para controlar o nível da água imediatamente à
jusante da comporta de controle.

A proporcionalidade entre a operação da comporta e a taxa de mudança do nível da


água é mantida, variando-se a duração do intervalo de folga entre os movimentos da
comporta. Uma mudança lenta e gradual no nível de água resultará em intervalos de folga
relativamente longos, e a vazão através da comporta mudará lenta e gradualmente, em
resposta à mudança no nível da água. Com uma mudança rápida do nível de água, os
intervalos de folga serão mais curtos, o que causará movimentos de comporta mais fre-
qüentes e, conseqüentemente, ajustes rápidos na vazão através da comporta. Portanto, o
algoritmo possui excelente resposta imediata às mudanças de vazão, à medida que ocorrem.

A ação do controlador de Colvin permite a estabilização do nível da água, fora do


nível de água desejado, no ponto de referência. Se a vazão de entrada na piscina que está
sendo controlada estiver muito próxima da vazão de saída, a taxa de mudança do nível de
água poderá ser inferior à da faixa neutra estabelecida, e o controlador não provocará
qualquer movimento da comporta, mesmo que a vazão seja maior ou menor à desejada.
Este problema pode ser atenuado por meio de um controlador adicional, como o de Little-
Man, modificado para funcionar com retardo. Com este arranjo, o controle de Colvin
poderá responder de imediato, quando o nível da água muda, e o de Little-Man, quando o
nível da água não começa a se mover em direção ao ponto de referência, após um retardo
preestabelecido.

O dispositivo de antioscilação pendular deverá ser instalado com o controlador de


Colvin, pelas mesmas razões discutidas em relação ao de Little-Man.

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Figura 6.74 Controlador “EL – FLO + Reset”

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6.4.6.2.3 Algoritmos EL-FLO + RESET e P + PR

Estes dois algoritmos são essencialmente o mesmo, pois ambos utilizam o método
proporcional mais reiniciação (“reset”) proporcional (expresso na sigla P+PR), de modo a
reajustar a variável controlada ao valor desejado. A principal diferença entre os dois
algoritmos está na sua aplicação. Ambos são utilizados em sistemas de canais em que as
piscinas são operadas de modo a manter uma profundidade constante, na extremidade
jusante da piscina. O algoritmo EL-FLO + RESET é empregado nos sistemas orientados
para a demanda à jusante, para controlar a comporta na extremidade montante da pisci-
na, conforme ilustrado na Figura 6.69a. O algoritmo P+PR é usado nos sistemas orienta-
dos para a oferta, a fim de controlar a comporta na extremidade jusante da piscina, como
apresentado na Figura 6.69b. Ambos podem ser implementados por meio de componen-
tes eletrônicos do tipo analógico, ou de microprocessadores, para executar o algoritmo
programado.

Os principais componentes num sistema de controle proporcional mais reiniciação


proporcional são um controlador proporcional e um controlador de reiniciação (Figura
6.74). A saída de ambos os controladores é empregada para calcular o ajuste desejado na
abertura de comporta existente. O controlador proporcional calcula um ajuste diretamente
proporcional à divergência no nível da água, em comparação com o ponto de referência,
ou valor-alvo, estabelecido para o ponto de pivô. Quanto maior for o erro (divergência do
ponto de referência), maior será o ajuste de comporta calculado. O valor de erro calculado
é multiplicado por uma constante de proporcionalidade, sem dimensões, a fim de se obter
o ajuste do controlador proporcional. O controlador de reiniciação integra os ajustes do
controlador proporcional, em relação ao tempo, e o resultado da integração é multiplicado
por outra constante de proporcionalidade, com unidade de “por segundo”, de modo a se
obter a abertura desejada de comporta. Além disso, há uma faixa neutra em torno do
ponto de referência, para uso nos cálculos efetuados pelo controlador de reiniciação.

O sistema de controle inclui um comparador, que calcula a nova abertura de com-


porta desejada, que será a abertura de comporta calculada pelo controlador de reiniciação
mais o ajuste calculado pelo controlador proporcional. A seguir, a nova abertura de com-
porta é comparada com a real, e se a diferença entre ambas for superior à faixa neutra do
movimento de comporta, a comporta será movimentada até a nova abertura desejada,
calculada pelo comparador.

O controlador proporcional fornece uma resposta de controle primário imediata-


mente após o sensor de nível de água detectar uma mudança de vazão. á medida que a
vazão evolui para um novo estado de equilíbrio no ponto de referência, o controlador de
reiniciação fornece a resposta primária.

Para o funcionamento correto e estável destes algoritmos, a seleção das constan-


tes de proporcionalidade e outros parâmetros de controle é essencial. Os parâmetros
devem ser escolhidos com base nos resultados de estudos de modelos matemáticos. Os
métodos de tentativa e erro de seleção são difíceis e, em geral, resultam em controle
insatisfatório do sistema de canais.

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6.4.6.2.4. Algoritmo de BIVAL

O algoritmo de BIVAL, patenteado pela empresa francesa SOGREAH, requer medi-


das simultâneas dos níveis de água à montante e à jusante na piscina. BIVAL pode ser
aplicado aos métodos de operação das piscinas baseados em volume constante ou pro-
fundidade constante à montante, mas, em geral, implica uma solução conciliatória entre
os dois métodos. O controle BIVAL é comprovadamente mais eficaz quando a superfície
da água na piscina evolui em torno de um ponto de pivô ligeiramente à montante do ponto
médio da piscina. Os coeficientes na equação linear simples de controle são ajustados
para fornecer uma mudança rápida de volume em cada piscina.

O documento referenciado como [22] fornece informa- ções adicionais a respeito


do algoritmo de BIVAL.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

BIBLIOGRAFIA

[1] Concrete Manual, Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, 8a. Edição, 1975.
[2] Earth Manual, Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, 2a.Edição, 1974.
[3] Ground Water Manual, Bureau of Reclamation, Revisada, 1985.
[4] Design of Small Canal Strutures, Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, Revisada, 1978.
[5] “Computing Degradation and Local Scour”, Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, 1984.
[6] “Engineering Monograph N 25, Hydraulic Design of Stilling Basins and Energy Dissipators”,
Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, Revisada, 1978.
[7] THORSKY, G.N., TILP, Paul J. and HAGGMAN, P.C., “Slug Flow in Steep Chutes”, Report N
CB-2, Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, 1967 (Esgotado).
[8] Water Measurement Manual, Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, 2a.Edição, Revisada,
1984, e Water Measurement Manual (Metric Supplement, Bureau of Reclamation, Denver,
Colorado, 2a.Edição, 1967.
[9] Hydraulic and Excavation Tables, Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, 11 Edição, 1957.
[10] “ACI Building Code Requirements for Reinforced Concrete” (ACI 318-83)).
[11] ACI Manual of Concrete Practice 1988, Part 4, Report by ACI Committee 359R-83.
[12] KLEIN, Frank, HOFFMAN, Edward S., and RICE, Paul F., “Application of Strength Design Methods
to Sanitary Structures”, Concrete International, April 1981.
[13] PCI Design Handbook – Precast and Prestressed Concrete, Prestressed Concrete Institute,
3a.Edição, 1985.
[14] “Structural Welding Code – Reinforcing Steel”, AWS D1..4-79, American Welding Society.
[15] “Design Criteria for Concrete Retaining Walls”, Report of the Task Committee on Design Criteria
for Retaining Walls, Bureau of Reclamation, Denver, Colorado, Revisada, 1977.
[16] “ACI Commentary on Building Code Requirements for Reinforced Concrete” (ACI 318.83).
[17] SOWERS and SOWERS, Introductory Soil Mechanics and Foundations, The MacMillan Company,
3a.Edição, 1970.
[18] TERZAGHI and PECK, Soil Mechanics in Engineering Practices, John Wiley & Sons, Inc., 1967.
[19] NBR 7188, “Carga Móvel em Ponte Rodoviária e Passarela de Pedestre”, ABNT – Associação
Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 1984.
[20] NBR 7189, “Cargas Móveis para Projeto Estrutural de Obras Ferroviárias”, ABNT – Associação
Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 1985.
[21] Canal Systems Automation Manual – Volume 1, 1a.Edição, Bureau of Reclamation, Denver,
Colorado, 1991.
[22] CHEVEREAU, G. and GAUTHIER, M.F., “Use of Mathematical Models as an Approach to Flow
Control Problems”, Proceedings of the International Symposium on Unsteady Flow in Open
Channels, BHRA-IARH, Newcastle-Upon-Tyne, Inglaterra, pp. J1-12, 1976.

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ANEXO A
Programa de
Computador para
Calhas em Rampa

O seguinte programa de computador, em linguagem GW-BASIC, pode ser utilizado


em computador pessoal, com software operacional MS-DOS, a fim de se obter a solução,
por meio de ensaio e comparação com critérios, das dimensões das calhas em rampa e
desenvolver-se uma curva de classificação, após a finalização das dimensões.

Os dados requeridos pelo programa de computação encontram-se definidos a se-


guir.

B1 = Largura do fundo do canal à montante da calha em rampa, em m.


B3 = Largura da crista da calha no ponto crítico, em m.
Z1 = Declividade da lateral do canal, na estação de medição.
Z3 = Declividade da lateral do canal, no ponto crítico sobre a crista.
S = Altura hidráulica mínima de medição, Y1, em m.
I = Incremento para determinar as alturas hidráulicas de medição subseqüentes,
em m.
LO = Maior altura hidráulica de medição, Y1, em m.
K = Rugosidade (ou rugosidade absoluta) do concreto.
L3 = Comprimento da crista, em m.
Y8 = Altura da crista, em m.
L1 = Distância entre a estação de medição e o início da rampa, em m.
L2 = Comprimento horizontal de rampa de 3:1, em m.
G = Aceleração resultante da gravidade, em m2/s.w
V1 = Viscosidade cinética da água do canal, em m2/s.

Ao aplicar a fórmula para determinar dimensões, arbitrar-se-á um valor para Y8;


calcular L0 (Y1 mínima) como profundidade normal, d, menos Y8; e calcular L3 com base
nos critérios limitantes. Utilizar o programa para resolver para Q em L0. Se esse Q for
superior ao Q projetado para o canal, aumentar o valor de Y8. Se esse Q for inferior ao Q
projetado para o canal, diminuir o valor de Y8. Far-se-ão mudanças apropriadas em Y8 e
L3 até que o valor calculado de Q seja igual ao Q projetado para o canal. (Ao calcular as
dimensões, escolher-se-á qualquer valor de S, com apenas um incremento para I igual a
L0 menos S.) Após a determinação das dimensões da calha em rampa, o programa poderá
operar com S (altura hidráulica mínima), I (um incremento apropriado para os degraus) e
L0, de modo a desenvolver uma curva de classificação para a calha em rampa.

Na linha 110, digitar valores numéricos para B1, B3, Z1 e Z3. Na linha 120, digitar
valores numéricos para S, I e L0. Na linha 140, digitar valores numéricos para K, L3, Y8,
L1 e L2. Na linha 190, digitar valores numéricos para G e V1. Na linha 192, digitar um
título para a calha em rampa.

16 DEF FNE(X)=(B1+Z1*X)*X

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Elaboração de Projetos de Irrigação

28 DEF FNN(X)=B3+2*Z3*X
38 DEF FNC(X)=(B3+Z3*X)*X
48 DEF FNP(X)=B1+2*X*(1+Z1*Z1).5
58 DEF FNO(X)=B3+2*X*(1+Z3*Z3).5
109 READ B1,B3,Z1,Z3,S,I,L0,K,L3,Y8,L1,L2
110 DATA (Digitar valores númericos métricos para B1, B3, Z1, Z3)
120 DATA (Digitar valores númericos métricos para S, I, L0)
140 DATA (Digitar valores númericos métricos para K, L3, Y8, L1, L2)
189 READ G, V1
190 DATA (Digitar valores númericos métricos para G, V1)
192 LPRINT “(Colocar aqui o NOME da calha em rampa)”
193 LPRINT
194 LPRINT “B1 B3 Z1 Z3 K L3 Y8 L1 L2 ”
195 LPRINT B1,B3,Z1,Z3
196 LPRINT K,L3,Y8,L1,L2
197 LPRINT “ ”
200 LPRINT “ Y1”,”Q1"
205 LPRINT
206 LET B1=B1/.3048
207 LET B3=B3/.3048
208 LET S=S/.3048
209 LET I=I/.3048
210 LET L0=L0/.3048
211 LET K=K/.3048
212 LET L3=L3/.3048
213 LET Y8=Y8/.3048
214 LET L1=L1/.3048
215 LET L2=L2/.3048
216 LET G=G/.3048
217 LET V1=V1/.3048
218 FOR Y1=S TO L0 STEP I
220 LET Y=Y8+Y1
236 LET M=0
237 LET Q5=0
238 LET H6=0
239 LET Q=0
240 LET A1=1
241 LET A3=1
260 LET Y3=.7*Y1
261 LET Q3=Q
280 LET Q=(G*FNC(Y3)3/(A3*FNN(Y3))).5
290 IF ABS(Q-Q3)<.0001*Q THEN GOTO 360
300 LET Y4=Y3
310 LET Y0=Q*Q/(2*G*FNE(Y)2)
312 LET Y0=Y0*A1+Y1-HG
314 LET Y3=Y0-FNC(Y3)/(2*FNN(Y3))
330 IF ABS(Y3-Y4)<.0001*Y4 THEN GOTO 261
350 GOTO 300
360 IF M>0 THEN GOTO 390
380 LET M=1
390 IF ABS(Q5-Q)<.001*Q THEN GOTO 510
400 LET Q5=Q
410 GOSUB 570
430 LET E=1.77*C6.5
440 LET A2=1.5*FNO(Y3)/FNN(Y3)-.5
450 IF A2<2 THEN GOTO 460

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Elaboração de Projetos de Irrigação

455 LET A2=2


460 LET A4=.025*L3/(FNC(Y3)/FNO(Y3))-.05
465 IF A4>0 THEN GOTO 470
468 LET A4=0
470 IF A4<1 THEN GOTO 480
475 LET A4=1
480 LET A3=1+(3*E*E-2*E3)*A2*A4
490 LET A1=1.04
500 GOTO 310
510 LET Y1=Y1*.3048
511 LET Q=Q*.0283
512 LPRINT USING “##.#### ”;Y1,Q
513 LET Y1=Y1/.3048
514 LET Q=Q/.0283
540 NEXT Y1
550 END
551 REM QNUMB
560 REM SUBRAMRAD
570 LET R=Q/FNC(Y3)*L3/V1
580 LET R5=L3/K+350*1000
590 LET C1=1.328/R^.5
610 LET X1=R
620 LET X2=L3
630 GOSUB 780
640 LET C6=C0
645 IF R<R5 THEN GOTO 710
650 LET X1=R5
660 LET X2=R5*V1/(Q/FNC(Y3))
670 GOSUB 780
680 LET C8=C0
690 LET C7=C6-(R5/R)*(C8-C1)
700 GOTO 720
710 LET C7=C1
720 LET H3=C7*FNO(Y3)*L3*Q*Q/(2*G*FNC(Y3)^3):LET Y2=Y3+(5/8)*(Y1-Y3)
740 LET H2=FNP(Y)*L2*Q*Q/FNE(Y)^3
742 LET H2=H2+FNO(Y2)*L2*Q*Q/FNC(Y2)^3
744 LET H2=H2*.00235/(4*G)
750 LET H1=.00235*FNP(Y)*L1*Q*Q/(2*G*FNE(Y)^3)
760 LET HG=H1+H2+H3
770 RETURN
780 LET C0=.005
790 LET C9=C0
800 J=(.544*(C0).5)
805 LET C0=J/(5.61*C0.5-.638-LOG(1/(X1*C0)+1/(4.84*X2/K*C0.5)))
810 IF ABS(C0-C9)>.00001 THEN GOTO 790
820 RETURN

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Elaboração de Projetos de Irrigação

TUBULAÇÕES

7.1 Introdução

Nos projetos de irrigação no Brasil, as tubulações são classificadas em três catego-


rias principais: as tubulações de recalque das estações de bombeamento, as tubulações
de adução e distribuição das linhas principais e secundárias e os sistemas de tubulação
nos lotes irrigados.

Em geral, as tubulações de recalque conduzem água sob pressão do barrilete da


bomba, na estação de bombeamento, até um reservatório ou canal, localizado num ponto
mais alto. Em alguns casos, são necessários dois ou mais condutos paralelos, para trans-
portar a vazão prevista. Normalmente, não se prevê tubulação secundária derivada das
tubulações de recalque.

As tubulações de adução e de distribuição conduzem a água da estação de bombea-


mento à área que está sendo irrigada e a distribuem até o limite dos diversos lotes das
propriedades agrícolas. Em geral, estes sistemas possuem tubulações secundárias deriva-
das da principal, assim como tubulações terciárias e de ordem superior, que servem os
diversos lotes.

Os sistemas de tubulação nos lotes das propriedades agrícolas consistem de tubos


dentro dos lotes individuais, que recebem água da tomada d’água no sistema de distribui-
ção e a utilizam na irrigação das diversas culturas, em geral por meio de aspersores.

Á medida que os diversos assuntos forem abordados neste capítulo, serão levanta-
das considerações de projeto, específicas a cada tipo de sistema.

Para outras abordagens acerca de tubulações e dispositivos relacionados, vide o


Capítulo 9 deste MANUAL.

7.2 Projeto Hidráulico das Tubulações

A elaboração do projeto hidráulico de um sistema requer a determinação da perda


de carga no sistema, como resultado do atrito entre a água que escoa nos tubos e as
paredes dos tubos. A carga também pode ser perdida no escoamento de água através de
válvulas e conexões, como curvas, tês e redutores. A fórmula básica que rege a vazão na
tubulação é a equação de Bernoulli:

[(V1^2)/2g)] + h1 +z1 + hp = [(V2^2)/(2g)] + h2 + z2 + H,

onde:

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Elaboração de Projetos de Irrigação

V1 e V2 = velocidade de escoamento nos pontos 1 e 2 do sistema,


respectivamente, em m/s.;
h1 e h2 = altura hidráulica nos pontos 1 e 2 do sistema,
respectivamente, em metros de água (mca);
z1 e z2 = cota dos pontos 1 e 2 do sistema, respectivamente,
em relação a um dado pré-selecionado, em geral o nível médio
do mar, em m;
hp = energia introduzida no sistema pela(s) bomba(s) localizada(s)
entre os pontos 1 e 2 do sistema, ou seja, a altura manométrica
total da(s) bomba(s), em mca.
H = perda de carga total entre os pontos 1 e 2 no sistema, em mca;
g = aceleração gravitacional = 9,81m/s2.

Observação: O símbolo ^ é utilizado nas fórmulas matemáticas para indicar que o


valor do parâmetro imediatamente anterior deverá ser elevado à potência exponencial
imediatamente posterior ao símbolo. Desta forma, V1^2 significa V1 elevado à segunda
potência (ou V1 quadrado).

Num sistema de tubulações, as alturas hidráulicas e as cotas nos pontos 1 e 2 são


preestabelecidas, sendo a altura hidráulica h2 a pressão mínima requerida no ponto 2,
para operação hidráulica de um equipamento, como por exemplo um aspersor. O diâmetro
da tubulação e a altura manométrica da(s) bomba(s) são estabelecidos de modo que a
perda de carga entre os pontos 1 e 2 seja tal que a altura hidráulica mínima requerida seja
atingida no ponto 2.

A perda de carga total, H, pode ser assim expressada:

H = Hf + Hs,

onde:

Hf = perda de carga na tubulação que liga os pontos 1 e 2, em mca;


Hs = perda de carga localizada, que ocorre em qualquer válvula ou conexão
situada entre os pontos 1 e 2, em mca.

7.2.1 Perdas de Carga na Tubulação

O fluxo de água em tubulações tem sido objeto de muita pesquisa, e foram desen-
volvidas várias expressões analíticas para a determinação da perda de carga. A norma NB-
591, da ABNT, fornece uma excelente discussão acerca das fórmulas mais aplicadas e
das suas inter-relações. As duas fórmulas mais freqüentemente utilizadas são a de Darcy-
Weisbach e a de Hazen-Williams. Os engenheiros de projeto precisam estar cientes de
alguns pontos importantes relativos a cada uma.

Fórmula de Darcy-Weisbach:

Hf = f(L/D)(V^2)/(2g),

onde:

Hf e g correspondem à definição apresentada anteriormente;


f = fator de atrito de Darcy-Weisbach, adimensional;
L = comprimento da tubulação, em m;
D = diâmetro da tubulação, em m;
V = velocidade da água na tubulação, em m/s.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Fórmula de Hazen-Williams:

J = 10,65 (Q^1,85)/[(C^1,85)(D^4,87)] e
Hf = (J)(L),

onde:

J = declividade da linha piezométrica, em m/m;


Q = vazão na tubulação, em m3/s.;
C = coeficiente de rugosidade de Hazen-Williams, adimensional;
L = comprimento da tubulação, em m;
D = diâmetro da tubulação, em m.

A equação de Darcy-Weisbach é uma fórmula desenvolvida a partir da teoria, e é


aplicável, universalmente, para qualquer fluido numa tubulação. A principal dificuldade no
uso desta equação é a determinação do fator de atrito, f. Para determinar o valor deste
fator, é necessário avaliar um parâmetro adicional, a rugosidade da parede dos tubos, K.
A Tabela 7.1, que consta do Anexo A da NB-591, da ABNT, contém os valores recomenda-
dos de rugosidade uniforme equivalente de tubos de diversos materiais e com vários
graus de aspereza na sua superfície interna. Após definir o valor de K, usando esta tabela,
determina-se o fator de atrito, f, por meio da fórmula de Colebrook-White ou do diagrama
de Moody (Figura 7.1). A equação de Darcy-Weisbach pode ser empregada para determi-
nar a perda de carga numa tubulação de diâmetro D e comprimento L.

Fórmula de Colebrook-White:

1/(f^0,5) = -2log {0,27 (K/D) + 2,51/[R(f^0,5)]},

onde:

K = rugosidade uniforme equivalente da parede do tubo, em metros.


(Observação: Os valores de K, fornecidos na Tabela 7.1, estão em milímetros, ao
invés de metros. A razão K/D é adimensional; portanto, é necessário utilizar unida-
des consistentes para K e D.)
R = número de Reynolds, adimensional = (V)(D)/nu;

nu = viscosidade cinética da água, em m2/s.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Tabela 7.1. Rugosidade Uniforme Equivalente K (em mm) para Tubos (Ver Nota
Abaixo)

I. Tubo de aço: juntas soldadas e interior contínuo


1.1 Grandes incrustações ou tuberculizações 2,4 a 12,0
1.2 Tuberculização geral de 1 a 3mm 0,9 a 2,4
1.3 PIntura a brocha, com asfalto, esmalte ou betume em camada espessa 0,6
1.4 Leve enferrujamento 0,25
1.5 Revestimento obtido por imersão em asfalto quente 0,1
1.6 Revestimento com argamassa de cimento obtida por centrifugação 0,1
1.7 Tubo novo previamente alisado internamente e posterior revestimento de esmalte, vinyl ou epoxi obtido por
centrifugação
II. Tubo de concreto
2.1 Acabamento bastante rugoso: executado com formas de madeira muito rugosa; concreto pobre com desgastes 2,0
por erosão; juntas mal alinhadas
2.2 Acabamento rugoso: marcas visíveis de formas 0,5
2.3 Superfície interna alisada a desempenadeira; juntas bem feitas 0,3
2.4 Superfície obtida por centrifugação 0,33
2.5 Tubo de superfície lisa, executado com formas metálicas, acabamento médio com juntas bem cuidadas 0,12
2.6 Tubo de superfície interna bastante lisa, executado com formas metálicas, acabamento esmerado, e juntas 0,06
cuidadas
III. Tubo de cimento amianto 0,1
IV. Tubo de ferro fundido (novo)
4.1 Revestimento interno com argamassa de cimento e areia obtida por centrifugação com ou sem proteção de 0,1
tinta a base de betume
4.2 Não revestido 0,15 A 0,6
4.3 Leve enferrujamento 0,30
V. Tubo de plástico 0,06
VI. Tubos usados
6.1 Com camada de lodo inferior a 5,0mm 0,6 a 3,0
6.2 Com incrustações de lodo ou gorduras inferiores a 25mm 6,0 a 30,0
6.3 Com material solido arenoso depositado de forma irregular 60,0 a 300

NOTA: Valores mínimos a adotar com tubos novos


Para adutoras medindo mais de 1.000m de comprimento: 2 vezes o valor encontrado na tabela acima para o
tubo e acabamento escolhidos.
Para adutoras medindo menos de 1.000m de comprimento: 1,4 acabamento escolhidos.

Tanto a aplicação da fórmula de Colebrook-White quanto o uso do diagrama de


Moody requerem o cálculo do número de Reynolds, R. O valor da viscosidade cinética, nu,
a ser utilizado neste cálculo, pode ser encontrado na Tabela 7.2.

A vantagem da fórmula de Hazen-Williams é sua simplicidade de uso. Embora al-


guns textos de engenharia reconheçam que o valor de C varia segundo o diâmetro do
tubo, apenas ocasionalmente este fato é enfatizado.

Em geral, recomenda-se apenas um único valor de C para a superfície interior de


cada tipo de tubo. A maioria dos fabricantes de tubos estabeleceu um único valor, espe-
cífico, para C, o qual recomendam para aplicação àquele seu produto. O uso de apenas
um valor de C para cada tipo de tubo, independentemente do seu diâmetro e das condi-
ções de escoamento, permite calcular, muito fácil e rapidamente, a perda de carga, nos
diversos trechos de uma tubulação.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Entretanto, uma análise da Figura 7.1 demonstra que o fator de atrito, f, varia de
acordo com a velocidade de escoamento e com o diâmetro do tubo, assim como com a
rugosidade da superfície interna do tubo. Um engenheiro de projeto que deseje utilizar a
fórmula de Hazen-Williams deverá estar ciente destas relações e da aplicabilidade da
fórmula às diversas condições de fluxo.

A Figura 7.2 foi tirada da NB-591 e fornece curvas para os valores de C, variando
entre 90 e 140, sobrepostas no diagrama de Moody. Estas curvas foram definidas a partir
do cálculo de C, como uma função de f e de R, de maneira que ambas as fórmulas
conduzem a um mesmo valor de perda de carga, por metro de tubo, para vazões e
diâmetros específicos.

Nos sistemas de irrigação, entretanto, encontram-se apenas uma pequena parte


das condições de vazão incluídas no diagrama de Moody. A melhor maneira de ilustrar
este aspecto é por meio de um exemplo:

„ 0,5 <= V <= 3,0m/s. Uma velocidade de 0,5m/s. é aproximadamente a velocida-


de considerada mínima, para evitar sedimentação numa tubulação, com água não
tratada. Nos sistemas que operam com demanda parcial, podem ocorrer velocida-
des inferiores, mas, normalmente, estas não são as condições de projeto. Uma
velocidade de 3,0m/s é considerada a velocidade máxima razoável para a maioria
dos projetos de irrigação;

„ nu = 1,0 [10^(-6)] m2/s., para água a 20 graus centígrados;

„ Um tubo de fibrocimento, por exemplo, é comercializado no Brasil em diâmetros


que variam entre 100 e 500mm, inclusive; e, na Tabela 7.1, o valor K destes tubos
é 0,1mm;

„ Na Figura 7.3, uma parte da Figura 7.2 foi ampliada, para maior clareza, e o regime
de fluxo dos tubos de fibrocimento está indicado por uma linha pontilhada mais
escura. Dentro deste limite podem ser encontradas todas as condições de fluxo
possíveis nos tubos de fibrocimento, consistentes com os valores inicialmente arbi-
trados para V e nu. O limite foi definido da seguinte maneira:
f O número mínimo de Reynolds, R, foi calculado utilizando-se a fórmula, com
Vmin (0,5m/s) e Dmin (0,100m);
f Do mesmo modo, calculou-se o R máximo, utilizando-se Vmax (3,0m/s.) e
Dmax (0,500m).

„ Nos valores intermediários de R, um diâmetro máximo associado ao número especí-


fico de Reynolds pode ser obtido empregando-se Vmin, na fórmula de R. Similar-
mente, um diâmetro mínimo pode ser obtido usando-se Vmax, na fórmula. Tais
diâmetros, mínimo e máximo, estão sujeitos às limitações impostas pelos fabrican-
tes, ou seja, 0,100 <= D <= 0,500m, para os tubos de fibrocimento;

„ Desde que K tenha valor constante, será possível calcular os valores máximo e
mínimo de K/D, nos números específicos de Reynolds, utilizando-se o diâmetro
máximo, conforme determinado acima, para calcular a razão K/D mínima, e o diâ-
metro mínimo, para calcular a razão K/D máxima. É preciso observar a necessidade
de empregar unidades dimensionalmente consistentes para K e D. A seguir, os
pontos são plotados, a fim de se estabelecerem os limites do regime de fluxo.

Após definir o regime de fluxo, poderá ser feita uma avaliação, a fim de se determi-
nar a adequabilidade dos valores específicos de C, para uso na equação de Hazen-Williams.
Em geral, recomenda-se um valor de C = 140 para os tubos de fibrocimento. Na Figura
7.3, a curva para este valor de C aproxima-se bastante do limite inferior do regime de

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Figura 7.1 Diagrama de Moody

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Figura 7.2 Diagrama de Moody para Determinação do Coeficiente de Perdas de


Carga f em Condutos

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Figura 7.3 Regime de Fluxos para Tubos de Fibrocimento

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Elaboração de Projetos de Irrigação

fluxo, e o uso deste valor de C forneceria cálculos razoavelmente precisos da perda de


carga, para os tubos de diâmetros maiores, com velocidades de escoamento mais baixas.
Entretanto, na vizinhança de R = 3,0 (10^5), as perdas de carga maiores que ocorrem
nos tubos de diâmetros menores, com velocidades maiores, seriam subestimadas por até
cerca de 20% (f = 0,017+, para C = 140, contra f = 0,021, para K/D = 0,001). Com
um valor de C = 130, seriam obtidos valores mais conservadores para a perda de carga,
para a maioria das condições de vazão que podem ocorrer, calculando-se perdas menos
conservadoras, apenas para os menores diâmetros de tubo (D < 0,125m), com velocida-
des próximas à velocidade máxima.

Na Figura 7.4, o regime de fluxo foi plotado para condições projetadas gerais, de
0,100 <= D <= 2,500m, incluindo todos os diâmetros de tubo utilizados nos sistemas
de irrigação, no Brasil. As velocidades variaram de 0,5 a 3,0m/s., como no exemplo ante-
rior, utilizando-se um valor de K = 0,2m. Tal valor de K é adequado para a maioria dos
tubos relacionados na Tabela 7.1, com valores de K de 0,1mm e com K acrescido por um
fator de 2,0, de acordo com a observação na beirada da tabela. A partir desta figura, fica
evidente que os valores conservadores de C superestimarão, consideravelmente, a per-
da de carga, nos tubos de maior diâmetro, com velocidades menores, e os valores me-
nos conservadores de C subestimarão a perda de carga em tubos de menor diâmetro,
com velocidades maiores. Se a perda de carga no sistema for suficiente crítica para exigir
um cálculo preciso, recomenda-se o uso da equação de Darcy-Weisbach.

7.2.2 Perdas de Carga nas Válvulas e nas Conexões

As perdas de carga nas válvulas e nas conexões são expressas por um coeficiente,
Ks, multiplicado pela carga cinética da água escoada através da válvula ou da conexão,
ou seja:

Hs = Ks (V^2)/(2g),

onde:

Hs = perda de carga singular (ou localizada) através da válvula ou da


conexão, em mca;
Ks = coeficiente de perda de carga singular, adimensional;
V = velocidade média da água na seção, em m/s.;
g = aceleração gravitacional, em m/s2.

A Figura 7.5 fornece os valores de Ks recomendados pela norma NB-590, da ABNT,


para vários tipos de válvulas e conexões.

7.2.3 Perdas de Carga nas Linhas de Aspersão

A vazão nas linhas de aspersão, tanto nas linhas móveis aéreas, quanto nas linhas
fixas subterrâneas, se caracteriza pela diminuição da vazão na tubulação, em cada saída
de aspersor, ao longo da linha. A fim de calcular, com precisão, a perda de carga nestas
linhas, é preciso determinar a vazão em cada seção, entre dois aspersores, utilizando-se a
equação de Darcy-Weisbach para calcular, separadamente, a perda de carga em cada
seção. Foi desenvolvido um procedimento simplificado, no qual se aplica um fator de
ajuste, F, à perda de carga calculada, presumindo-se que toda a água é conduzida até o
final da linha; ou seja:

Hf’ = (F)(Hf) = F [f(L/D)(V^2/2g)],

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 7.4 Regime Geral de Fluxos nos Projetos de Irrigação

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 7.5 – 1 Perdas de Carga Singulares (fl 1/6)

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 7.5 – 2 Válvulas Parcialemente Abertas - Valores Kg. (fl 2/6)

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 7.5 – 3 Curvas a 90º, de Secção Circular - Valores kg. (fl 3/6)

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 7.5 – 4 Curvas a 90º, de Secção Circular e Valores k. (fl 4/6)

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 7.5 – 5 Curvas Especiais - Valores kg. (fl 5/6)

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 7.5 – 6 Equipamentos Valores de kg para D > 100mm (fl 6/6)

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Elaboração de Projetos de Irrigação

onde:

Hf’ = perda de carga total, numa linha de aspersão de comprimento L


e diâmetro D, em mca;
F = fator de ajuste para calcular a perda de carga nas linhas de
aspersão, adimensional.
Os outros parâmetros foram definidos anteriormente.

Podem ocorrer duas situações, que determinarão como será efetuado o cálculo de
F:

Quando o primeiro aspersor está localizado a uma distância equivalente a um


espaçamento entre aspersores, do início da linha de aspersão,

F = [1/(m + 1)] + [1/(2N)] + [(m – 1)^0,5]/[6 (N^2)];

Quando o primeiro aspersor está localizado a uma distância equivalente a meio


espaçamento entre aspersores, do início da linha de aspersão,

F = [1/(2N – 1)] + {2/[(2N – 1)(N^m)]} {[(N – 1)^m] + [(N – 2)^m] + [(N – 3)^m]
...1^m},

onde:

m = expoente do parâmetro velocidade, na fórmula de perda de


carga, adimensional;
N = número de saídas de aspersores numa linha.

Ao se utilizar a equação de Darcy-Weisbach para calcular Hf, o valor do expoente m


é igual a 2.

As duas equações anteriores para cálculo de F baseiam-se nos seguintes pressu-


postos:

„ O diâmetro da linha de aspersão é constante;

„ Os tubos de subida dos aspersores encontram-se espaçados a intervalos iguais, ao


longo da linha de aspersão;

„ Não há qualquer vazão além do último aspersor da linha.

Quando a linha tem tubos de apenas um diâmetro, os cálculos de perda de carga


são simplificados. Com freqüência, entretanto, é mais econômico empregar tubos de
diâmetro menor, na porção à jusante da linha, onde a vazão é menor. Quando se utilizam
tubos de mais de um diâmetro, são necessárias várias etapas para computar a perda de
carga. Nas linhas de aspersão com dois diâmetros de tubo, D1 e D2, de comprimentos L1
e L2, respectivamente, e com vazões Q1 e Q2, entrando nas respectivas seções, serão
feitos os seguintes cálculos:

„ Inicialmente, a perda de carga será calculada como se toda a linha tivesse o mesmo
diâmetro, D1, e a vazão Q1:

Hf’ para (L1 + L2, D1, Q1) = (F)(Hf) para (L1 + L2, D1, Q1).

„ A seguir, calcula-se a perda para o comprimento L2, como se o diâmetro fosse D1,
e a vazão Q2:

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Hf’ para (L2, D1, Q2) = (F)(Hf) para (L2, D1, Q2).

„ O valor obtido nesta segunda equação é subtraído do valor obtido para todo o
comprimento com diâmetro D1, a fim de se obter a perda em L1, com diâmetro D1
e vazão Q1:

Hf’ para (L1, D1, Q1) = Hf’ para (L1 + L2, D1, Q1) – Hf’ para (L2, D1, Q2).
„ Depois, calcula-se a perda de carga na seção 2, utilizando-se D2 e Q2:

Hf’ para (L2, D2, Q2) = (F)(Hf) para (L2, D2, Q2).

„ Este valor é somado à perda de carga na seção 1, para chegar à perda total na linha.

Total de Hf’ = Hf’ para (L1, D1, Q1) + Hf’ para (L2, D2, Q2).

A perda de carga nas linhas de aspersão, com tubos de três ou mais diâmetros,
pode ser computada de maneira similar.

7.3 Considerações Relativas ao Golpe de Aríete

7.3.1 Aspectos Gerais

Nos sistemas de fluxo por gravidade, e nos sistemas pressurizados que utilizam
bombas, os efeitos de golpe de aríete precisam ser investigados. Estas investigações
devem ser efetuadas por profissional qualificado, com conhecimento da teoria dos
transientes hidráulicos. Existem diversas equações e diagramas que solucionam alguns
problemas mais restritos de golpe de aríete, mas que só devem ser utilizados para cálcu-
los preliminares. Além disso, há programas de computador, que permitem analisar, com
rapidez e precisão, as diversas alternativas referentes aos dispositivos de controle e às
condições de fluxo. Os procedimentos gráficos também permitem solucionar os proble-
mas de golpe de aríete, mas o desenvolvimento dos gráficos é demorado e sujeito a erro.
Sempre que possível, a análise do transiente hidráulico deverá ser efetuada por computador.

Ao discutir o fenômeno do transiente hidráulico, é imprescindível fazer uma distin-


ção entre as oscilações de pressão e as mudanças na pressão resultantes de ondas de
golpe de aríete. A celeridade de propagação das ondas do golpe de aríete, “a”, é igual à
velocidade do som através da água, numa tubulação. A Figura 7.6, originária da NB-591,
fornece a fórmula para o cálculo de “a”, para os diversos tipos de tubo. Um parâmetro
utilizado com freqüência nos cálculos do golpe de aríete é o intervalo L/a, que é o tempo
requerido para que a onda do golpe de aríete se desloque por todo o comprimento da
tubulação. As mudanças de pressão decorrentes das ondas do golpe de aríete começam
a dissipar-se após um intervalo, t = 2L/a, que é o tempo requerido para que uma onda se
desloque até a extremidade da tubulação e uma onda refletida volte ao ponto de origem.

As ondas de pressão do golpe de aríete iniciam-se devido a uma mudança repentina


na velocidade da água, e sua magnitude é expressa pela equação:

DELH = -(a/g)(V2 – V1),

onde

DELH é a mudança na altura hidráulica, em mca, decorrente de uma alteração


instantânea de velocidade, de V1 para V2. É necessário verificar que DEHL é
uma mudança na altura hidráulica e é adicionada (ou subtraída, se a velocida-
de aumentar) à altura hidráulica existente na tubulação, no instante em que a
velocidade é alterada.

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Figura 7.6 Celeridade de Propagação das Ondas de Pressão

Por outra parte, as oscilações de pressão ocorrem ao longo de um período maior,


pois está-se envolvendo toda a massa de água em movimento. Quando as bombas de
uma estação param de funcionar, por qualquer motivo, a água na adutora de recalque
diminui de velocidade, da velocidade inicial até um estado de equilíbrio final, com veloci-
dade zero. A diminuição inicial da velocidade da água será acompanhada por um decrés-
cimo na pressão do sistema. A seguir, a água reverterá sua direção de fluxo e escoará de
volta, em direção à estação de bombeamento. Em geral, existem válvulas de retenção nos
tubos de descarga da bomba, de modo a impedir que a água escoe de volta através da
bomba; portanto, o fluxo reverso na tubulação resultará num aumento da pressão no
sistema. Dependendo dos dispositivos de controle de oscilações existentes no sistema, a
subpressão inicial na estação de bombeamento poderá ocorrer num tempo T = 2L/a e
será mantida até um tempo de, aproximadamente, T = 3L/a até 6L/a, quando o fluxo
reverso se iniciará. O fluxo reverso máximo ocorrerá num tempo em torno de T = 7L/a até
12L/a, e a sobrepressão máxima poderá ocorrer de T = 10L/a até 15L/a. Em unidades
reais de tempo, se uma tubulação de aço tiver uma celeridade de propagação de onda a =
1.200m/s, e a tubulação, comprimento de L = 1.200m, então L/a = 1,0 segundo.

Após a sobrepressão, ocorrerão oscilações adicionais de pressão e de vazão, que


serão atenuadas até acabarem; entretanto, estas oscilações são de menor magnitude do
que a subpressão e a sobrepressão iniciais, e não preocupam.

7.3.2 Dispositivos de Controle de Golpe de Aríete

Os seguintes dispositivos encontram-se relacionados na ordem de eficácia no con-


trole de transientes de golpe de aríete:

„ Tanque hidropneumático;

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„ Chaminé de equilíbrio;

„ Tanque unidirecional;

„ Volantes, para aumentar os momentos de inércia dos conjuntos motobombas;

„ Válvulas de fechamento vagaroso, com uma ou duas velocidades de fechamento;

„ Válvulas antecipadoras de onda;

„ Válvulas de alívio;

„ Linhas de “by-pass” lateral, com válvula de retenção, do poço da bomba até o


barrilete;

„ Válvulas de funções múltiplas (caso especial).

Os tanques hidropneumáticos e as chaminés de equilíbrio são eficazes no controle


da subpressão, assim como no da sobrepressão, nas tubulações. Após a parada repentina
de uma bomba, estes dispositivos funcionam como reservatório, para fornecer água à
tubulação, reduzindo, desta forma, a taxa da mudança das velocidades e minimizando as
ondas de golpe de aríete resultantes. Além disso, o fornecimento de água à tubulação
também diminui a magnitude da sobpressão inicial. Quando o fluxo se reverte, a água
escoa de volta para o tanque hidropneumático ou para a chaminé de equilíbrio, minimizando
a sobrepressão.

Os tanques unidirecionais possuem uma ou mais válvulas de retenção localizadas


entre o tanque e a tubulação, de maneira que o fluxo só pode ocorrer do tanque para a
tubulação. Isso acontece sempre que a cota da linha piezométrica da tubulação é inferior
à da superfície da água no tanque. Quando a linha piezométrica é mais alta, a válvula de
retenção se fecha e não permite que a água escoe para o tanque. Portanto, estes tanques
são eficazes para limitar a subpressão na tubulação e prevenir pressões negativas que
podem causar a separação da coluna de água, mas não possuem um ponto de alívio para
o fluxo reverso, de maneira a minimizar a sobrepressão. Contudo, a magnitude da sobre-
pressão inicial depende, entre outras coisas, da magnitude da subpressão. Quanto maior
a subpressão, maior a sobrepressão. De forma que, controlando a magnitude da sobpressão,
se exerce algum controle sobre a magnitude da sobrepressão.

A incorporação de volantes nos conjuntos moto-bombas aumenta o momento de


inércia das partes móveis. Quando se desliga a força, a bomba desacelera menos rapida-
mente e, durante algum tempo, continua a fornecer água à adutora de recalque, o que
diminui a taxa de mudança da velocidade da água e a magnitude das ondas de golpe de
aríete resultantes. Com um momento de inércia suficiente das partes móveis, a magnitude
da sobpressão inicial pode ser limitada, o que também tende a limitar a sobrepressão. O
momento de inércia aumentado, entretanto, dificulta o acionamento da unidade. A conces-
sionária de energia elétrica deverá ser consultada, a fim de se determinarem as limitações
da rede elétrica, quanto à corrente de partida admissível e às quedas de tensão.

Todas as válvulas, numa tubulação, deverão ser do tipo que fecha lentamente.
Qualquer válvula que possa ser fechada em menos de 2L/a segundos criará uma onda
plena de golpe de aríete. (Neste caso, L é a distância entre a válvula e o ponto mais
próximo de dissipação da onda de pressão.) Por esta razão, qualquer válvula borboleta
instalada numa tubulação, em especial as das tomadas d’água nos lotes dos agricultores,
deverá ser operada por meio de engrenagens. As válvulas de retenção nas tubulações de
descarga das bombas precisam ser do tipo sem pancada (“non-slam”), como as de reten-
ção com portinhola dupla. Se forem empregadas válvulas de retenção tipo portinhola

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balanceada, estas devem ser equipadas com um dispositivo de amortecimento por ar ou


óleo, a fim de impedir a pancada.

Algumas vezes, as válvulas de fechamento lento, com duas velocidades de fecha-


mento, podem ser eficazes. Se a pressão, quando a válvula começa a fechar, for muito
inferior à pressão estática no sistema, o que pode ocorrer na extremidade de uma tubula-
ção longa por gravidade, ou na válvula de um tubo de descarga de bomba, sem válvula de
retenção e com fluxo reverso através da bomba, será possível adotar um aumento da
altura de carga, decorrente do fechamento da válvula, maior do que seria, caso a pressão
existente estivesse mais próxima da pressão estática. Conseqüentemente, é possível
uma movimentação, no início, mais rápida do que no final da operação de fechamento.

As válvulas antecipadoras de onda podem ser utilizadas para controlar as


sobrepressões, mas não controlam a subpressão inicial. A válvula é operada hidraulica-
mente, com uma válvula piloto, que faz a válvula principal abrir-se, numa pressão prede-
terminada, ligeiramente inferior à da altura piezométrica estática do sistema. Quando
ocorre uma subpressão, e a pressão no sistema cai abaixo da altura piezométrica estática,
a válvula começa a se abrir, e, quando ocorre o fluxo reverso, a água será conduzida
através da válvula, para a atmosfera, ao invés de ficar contida dentro da tubulação e gerar
sobrepressões. A seguir, a válvula é gradualmente fechada, de maneira que sua operação
não crie sobrepressões.

Quando a válvula se abre durante a fase inicial de subpressão, esta pode aumentar.
As subpressões são controladas e limitadas acrescentando-se água ao sistema, conforme
previamente discutido, enquanto a abertura de uma válvula antecipadora de onda obriga
a água a sair do sistema. O efeito da saída da água do sistema, o tempo até iniciar o
fechamento da válvula e a(s) velocidade(s) de fechamento da válvula deverão ser cuida-
dosamente estudados por meio de análises computadorizadas. Se a operação precisa da
válvula for fundamental para a integridade do sistema, deverão ser instaladas duas válvu-
las, a fim de garantir o funcionamento do sistema, mesmo que uma das válvulas falhe.

Não se deve depender das válvulas de alívio de pressão para controlar as ondas de
golpe de aríete de alta velocidade. Até que a válvula se abra, em resposta ao aumento de
pressão de golpe de aríete, a onda terá se deslocado além da válvula, sem qualquer
diminuição da magnitude da onda. As válvulas de alívio de pressão são eficazes para
limitar a magnitude de uma sobrepressão que ocorra na estação de bombeamento, ou em
vários outros locais do sistema de distribuição, mas não têm qualquer efeito numa
subpressão. Se se prevê a instalação destas válvulas num local crítico, como uma esta-
ção de bombeamento, será indispensável instalar duas válvulas, a fim de garantir o funci-
onamento do sistema, mesmo que uma das válvulas falhe.

A instalação de uma linha de “by-pass” lateral, com válvula de retenção, entre o


poço da bomba e o barrilete, permitirá controle limitado das oscilações de pressão de
golpe de aríete. Quando ocorrer uma subpressão, a válvula de retenção se abrirá, manten-
do uma pressão mínima no barrilete, equivalente à elevação da cota da superfície da água
no poço da bomba. Isso pode resultar em vácuo parcial no barrilete e na porção inicial da
tubulação, quando a linha de “by-pass” e a válvula se encontram instalados numa cota
superior à da superfície da água no poço. O perfil da tubulação deverá ser revisado, a fim
de garantir que uma subpressão dessa magnitude seja aceitável.

As válvulas de função múltipla, que podem admitir uma pressão mínima predetermi-
nada na tubulação, à montante da válvula, não controlam, realmente, a magnitude da
pressão hidráulica transitória na tubulação, mas eliminam uma das causas do desenvolvi-
mento de transientes. Quando as bombas que abastecem o sistema de distribuição dos
aspersores são desligadas, a tubulação é drenada até a cota do mais baixo aspersor
aberto no sistema, se não houver válvulas de função múltipla. Quando as bombas são

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religadas, a tubulação vazia se enche rapidamente, podendo ocorrer ondas de pressão de


golpe de aríete, quando a água chega numa ventosa aberta, que está descarregando o ar
da tubulação, na atmosfera. O ar escoará através da ventosa aberta muito mais rapida-
mente do que a água e, mesmo que a ventosa seja de fechamento lento, e não feche
imediatamente, a velocidade da água será reduzida instantaneamente, gerando um au-
mento de pressão de golpe de aríete.

Com as válvulas de função múltipla, quando as bombas que abastecem o sistema


estão desligadas, a pressão no sistema cai. Se cair abaixo da pressão mínima predetermi-
nada para aquela válvula, a válvula se fechará, e não permitirá que a água drene para além
da válvula, até um aspersor aberto. Quando as bombas forem religadas, a válvula se
abrirá quando a pressão exceder o mínimo preestabelecido. Estas válvulas devem ser
instaladas nas tomadas d’água nos lotes dos agricultores, a fim de impedir que a tubula-
ção principal, que abastece as tomadas d’água, se esvazie e evitar os efeitos do golpe de
aríete gerados pelo rápido enchimento da tubulação vazia. Além disso, as válvulas têm
capacidade de reduzir a pressão à jusante, de modo a manter uma adequada pressão de
abastecimento para todos os irrigantes, à medida que a vazão varia.

Em muitos casos, utiliza-se com sucesso uma combinação de dois ou mais disposi-
tivos diferentes de controle do golpe de aríete. Por exemplo, junto com uma válvula
antecipatória da onda instalada na estação de bombeamento, para limitar a sobrepressão
após uma interrupção do abastecimento de energia elétrica, podem ser instalados tan-
ques unidirecionais, em pontos do sistema em que os gradientes de subpressão ficam
próximo ou abaixo da cota da tubulação. Não se deve depender de ventosas para aliviar
as subpressões, fazendo ar entrar na linha. As ventosas só funcionam bem com manuten-
ção periódica, quando o ar é eliminado, são geradas oscilações de pressão que provocam
golpe de aríete, conforme previamente discutido.

7.3.3 Condições Operacionais a Serem Investigadas

7.3.3.1 Condições Operacionais Normais

Como base de projeto, a fim de se determinarem os volumes dos tanques hidropneu-


máticos, das chaminés de equilíbrio e dos tanques unidirecionais, assim como as capaci-
dades e as velocidades operacionais das válvulas de controle, é necessário realizar uma
investigação das condições operacionais normais, presumindo-se que todos os elementos
do sistema estão funcionando perfeitamente.

„ Interrupções do abastecimento de energia elétrica na estação de bombeamento –


Para as tubulações de descarga das estações de bombeamento, é necessário que a
análise seja realizada com todas as bombas em funcionamento e com as cotas da
superfície da água máxima na bacia de tomada e a mínima na de descarga. Para
sistemas de aspersão pressurizados, fechados, a análise deverá ser efetuada com
todas as bombas em funcionamento e com vazões de demanda de irrigação reduzi-
das, assim como com vazões máximas. A demanda de irrigação reduzida deverá ser
estabelecida num ponto ligeiramente superior à capacidade total de todas as bom-
bas, salvo uma (que deverá ser a menor, no caso de as bombas terem capacidades
diferentes), ou seja, a demanda mínima de irrigação para a qual todas as bombas
precisam funcionar, de maneira que a vazão no sistema seja inferior e a pressão,
superior às existentes nas condições operacionais normais;

„ Se for instalado um tanque hidropneumático na estação de bombeamento, arbitrar-


se-á que a interrupção do abastecimento de energia elétrica ocorrerá quando o
volume de ar no tanque se encontrar em condição abaixo:

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„ Para sobrepressão máxima no sistema: com o volume de ar mínimo normal, ou seja,


com o nível da água no ponto em que seria introduzido ar adicional no tanque, seja
automaticamente, por meio de um compressor permanente, seja manualmente, por
meio de um compressor de ar portátil;

„ Para subpressão máxima no sistema: com o volume de ar máximo normal, ou seja,


com o nível da água no ponto em que as operações com o compressor de ar seriam
paralisadas;

„ Ligar e desligar as bombas na sua seqüência normal – Em alguns casos, ligar uma
bomba após várias estarem funcionando poderá gerar pressões transitórias maiores
do que quando se liga a primeira ou as duas primeiras bombas. As bombas devem
ser ligadas e desligadas com as válvulas das linhas de descarga fechadas, e o
tempo mínimo para abertura e fechamento das válvulas poderá ser determinado a
partir desta análise;

„ Para os sistemas com válvula de fechamento lento na linha de descarga da bomba


e sem válvula de retenção, é preciso investigar as condições de fluxo reverso atra-
vés da bomba, com a bomba girando na direção reversa, através das curvas carac-
terísticas nas zonas de dissipação de energia e na de operação. Se for acrescentado
um volante ao conjunto moto-bomba, com o objetivo de aumentar seu momento de
inércia, o efeito do volante deverá ser incluído. O tempo necessário para iniciar o
fechamento da válvula e a(s) velocidade(s) de fechamento podem ser determinados
a partir desta análise;

„ Operações da Bomba de Elevação de Pressão – Tanto nas tubulações por gravida-


de, quanto nos sistemas de distribuição por bombeamento, poderá ser necessário
instalar uma bomba de elevação pressão, na parte à jusante do sistema. Estas
bombas também podem ser instaladas nas tomadas d’água nos lotes dos agriculto-
res, nos sistemas de gravidade ou nos de distribuição de baixa pressão, a fim de
fornecer a pressão de água para os aspersores dos lotes. Em ambos os casos, se as
bombas forem conectadas diretamente ao trecho de tubulação à montante, ou seja,
se não houver um pequeno reservatório ou uma chaminé aberta entre a tubulação e
a bomba, o procedimento normal de ligar e desligar a bomba poderá gerar pressões
transitórias no trecho à montante da tubulação de distribuição. Quando a bomba é
ligada, gera uma onda negativa de golpe de aríete na tubulação à montante, ocor-
rendo uma subpressão, à medida que a velocidade da água aumenta, para fornecer
a vazão da bomba. O oposto ocorre quando a bomba é desligada. A redução da
velocidade da bomba impede o escoamento da água, semelhante ao que ocorre
quando uma válvula é fechada, gerando uma onda de golpe de aríete na tubulação
à montante, assim como uma sobrepressão, à medida que a água desacelera. Estas
condições precisam ser pesquisadas, para determinar as alturas de carga máxima e
mínima que podem ocorrer no trecho à montante da tubulação de distribuição;

„ Efeitos de extremidade fechada – As extremidades fechadas ocorrem tanto nas


tubulações de gravidade quanto nas pressurizadas, quando alguns agricultores es-
tão irrigando, mas outro(s), no final, ou próximo ao final da tubulação, não o está(ão)
e, assim, conserva(m) sua(s) tomada(s) d’água fechada(s). A tubulação pode ser
qualquer linha do sistema – principal, secundária, terciária, etc;

„ Quando uma onda de golpe de aríete, deslocando-se ao longo de uma tubulação,


chega a uma extremidade fechada, ela não é dissipada, mas refletida, tubulação à
montante, com magnitude dobrada. Conforme já discutido, tais ondas de golpe de
aríete são acrescentadas à pressão existente no sistema, no momento em que
ocorre o transiente. Se duas ou mais ondas de golpe de aríete forem desenvolvidas
antes de a primeira se dissipar, seus efeitos podem se acumular.

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„ As ondas de golpe de aríete podem ser geradas pela operação das bombas de
elevação de pressão, conforme discutido anteriormente, assim como por outras
causas comuns, como o fechamento rápido da válvula na tomada d’água de um
agricultor. Esta última causa também justificaria a instalação de válvulas de borbo-
leta, operadas por mecanismos de engrenagem, ao invés de válvulas de fechamen-
to rápido, operadas por alavanca. As válvulas operadas por mecanismo de engrena-
gem não provocam ondas de golpe de aríete, evitando os efeitos de extremidade
fechada, decorrentes deste problema;

„ É indispensável utilizar conhecimentos de engenharia – e bastante bom senso – na


avaliação das extremidades fechadas das tubulações. O leiaute do sistema precisa
ser estudado, a fim de se determinar a localização de possíveis fontes de ondas de
golpe de aríete, em relação à localização de prováveis extremidades fechadas no
sistema. As diversas condições de vazão devem ser analisadas, de modo a encon-
trar a combinação de pressão existente e pressão transitória de golpe de aríete, que
possam resultar numa pressão máxima no sistema.

7.3.3.2 Condições Operacionais de Emergência

As seguintes condições de emergência deverão ser analisadas:

„ Quando forem instaladas válvulas de alívio de pressão ou válvulas antecipadoras de


onda na estação de bombeamento, é preciso investigar a interrupção do forneci-
mento de energia elétrica, com uma das válvulas inoperantes;

„ Quando forem instaladas válvulas de retenção na tubulação de descarga da bomba,


para impedir a reversão do fluxo através da bomba, é necessário analisar a interrup-
ção da eletricidade, com a operação da válvula de retenção em uma das bombas,
retardada até o instante em que ocorrer o fluxo reverso máximo através da bomba;

„ Com um ou mais tanques unidirecionais no sistema, é necessário analisar a situa-


ção de falta de energia, com a válvula de retenção de um dos tanques fora de
operação. Isso deve ser efetuado para cada tanque do sistema;

„ Nas tubulações de gravidade, além dos efeitos do mau funcionamento das válvulas
de controle do sistema, serão analisados os efeitos da ruptura da tubulação numa
cota mais baixa do sistema;

„ Além de controles de nível da água para ligar e desligar o compressor de ar ou


indicar a necessidade de introduzir ar, manualmente, no sistema, os tanques pneu-
máticos deverão possuir um controle de “desliga emergência”, acima do nível de
“compressor liga”, de modo a desligar todas as bombas da estação de bombeamento,
quando o nível da água no tanque atingir esse ponto. A situação de emergência a
ser analisada é a falta de eletricidade quando todas as bombas estão ligadas e com
o nível da água no tanque no ponto de “desliga emergência”.

7.3.4 Critérios de Projeto

As análises das condições operacionais normais e emergenciais discutidas anterior-


mente deverão definir as alturas de carga máxima e mínima que existirão em toda a
tubulação. É preciso reconhecer que as pressões máximas em todo o sistema podem não
ser constatadas a partir da análise de uma determinada condição. As pressões máximas
numa parte do sistema podem decorrer de uma certa condição e, noutra parte, de uma
condição diferente. O mesmo ocorre com as pressões mínimas. Nos sistemas de gravida-
de, a pressão estática pode prevalecer, enquanto, nos sistemas de gravidade ou de bom-
beamento, poderá ser a pressão hidrostática de ensaio que prevalece.

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Os seguintes critérios deverão ser obedecidos nas análises de transientes e na


elaboração dos projetos dos componentes das tubulações.

„ Dever-se-á presumir que as válvulas de retenção fecham imediatamente após a


reversão do fluxo e abrem completamente quando ocorre uma diferença positiva de
pressão, indistintamente da sua magnitude, na direção do fluxo normal;

„ O corpo da bomba, assim como a tubulação e quaisquer conexões entre a bomba e


a válvula de fechamento na linha de descarga, estará sujeito a uma altura de carga
correspondente à vazão zero, na curva característica da bomba;

„ Nas adutoras longas a partir de estações de bombeamento, que inicialmente se


encontram cheias, sem tanque hidropneumático ou chaminé de equilíbrio na esta-
ção de bombeamento e sem válvula de abertura lenta na linha de descarga da
bomba, a altura de carga de vazão zero, antes mencionada, será transmitida, sem
qualquer redução, ao longo de um terço da linha de descarga, imediatamente após
a(s) bomba(s) ser(em) ligada(s);

„ A classe de pressão de tubos, conexões e acessórios (ventosas, válvulas separadoras,


etc.) deverá ser determinada, de modo a resistir à maior pressão dentre os dois
seguintes critérios, o que prevalecer no ponto do sistema no qual o tubo, a conexão
ou o acessório estiver localizado:

f como critério mínimo: a pressão máxima resultante de condições operacionais


normais, da pressão estática, ou da pressão hidrostática de teste, a que for
maior;
f como critério máximo: a pressão máxima resultante de condições operacionais
de emergência. No caso de materiais metálicos, far-se-á uma avaliação utili-
zando-se uma pressão que produza a tensão de escoamento ou a tensão
limite de ruptura do material, com a aplicação de um fator de segurança
apropriado, conforme determinado pelo engenheiro de projeto. A avaliação
deverá incluir os custos comparativos e a probabilidade de tal condição
emergencial ocorrer, assim como o risco de ocorrência. Nunca deverá ser
utilizada uma pressão inferior à estabelecida pelo critério mínimo para definir
a classe de pressão de tubos, conexões e acessórios.

„ Os chumbadores para tubos, conexões e acessórios deverão ser projetados de


modo a suportar as forças decorrentes do maior dentre os seguintes critérios, o que
prevalecer no ponto do sistema em que o chumbador estiver localizado:

f a pressão estática do sistema;


f a pressão máxima resultante de condições operacionais normais;
f a pressão hidrostática de teste;
f a pressão máxima resultante de condições operacionais de emergência.

„ A cota superior de uma chaminé de equilíbrio deverá ser definida acrescentando-se


uma distância de borda livre à sobrepressão máxima atingida na chaminé de equilí-
brio, suficiente para evitar extravasamento, exceto quando houver desaguadouro.
O fundo da chaminé de equilíbrio deverá estar localizado num nível suficientemente
abaixo da menor cota de sobpressão, para impedir a entrada de ar na tubulação;

„ Os diâmetros das chaminés de equilíbrio e dos tanques unidirecionais, assim como


o local onde serão instalados, deverão ser definidos, de modo a manter a cota da
linha piezométrica, pelo menos, 2,00m acima da linha geratriz superior do tubo e,
pelo menos, 1,00m acima da superfície do terreno, durante quaisquer das duas
situações descritas a seguir, a que prevalecer na tubulação em questão:

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f subpressão máxima possível, sob condições operacionais normais;


f subpressão máxima possível, sob condições operacionais emergenciais.

„ No caso de um tanque hidropneumático equipado com membrana interna que isole


o ar da água no tanque, o nível de “compressor desliga” deverá ser o ponto em que
cessaria a introdução de ar adicional. O volume de um tanque hidropneumático
deverá ser determinado da seguinte maneira:

f o volume acima do nível de “desliga emergência” deverá ser estabelecido


junto com a determinação da classe de pressão do tubo, da conexão ou do
acessório, conforme requerido para as condições operacionais de emergên-
cia;
f o volume entre os níveis “compressor liga” e “desliga emergência” deverá ser
definido de maneira que a mudança no volume de ar resultante na partida de
uma bomba, com o nível da água ligeiramente acima do nível “compressor
liga”, não faça o nível da água atingir o nível de “desliga emergência”. O nível
“compressor desliga” também deverá ser analisado junto com a determina-
ção da classe de pressão de tubos, conexões e acessórios, conforme reque-
rido para as condições operacionais normais;
f não foram desenvolvidos critérios analíticos para a determinação do volume
necessário entre os níveis de “compressor desliga” e “compressor liga”, e o
engenheiro de projeto deverá definir esse volume, com base no seu próprio
julgamento; com operação automática dos compressores de ar, será preciso
considerar a mudança no volume de ar no tanque, resultante de uma altera-
ção razoável da vazão de demanda de irrigação; por exemplo, se o nível da
água estava na cota relativa a “compressor desliga”, a mudança do volume
de ar decorrente da partida de duas bombas adicionais não deverão provocar
a partida do compressor;
f o volume entre o nível de “compressor desliga” e o fundo do tanque
hidropneumático deverá ser estabelecido mediante a determinação do volu-
me máximo de ar no tanque, resultante de subpressão causada por interrup-
ção no fornecimento de energia elétrica, que ocorra quando todas as bombas
estão em funcionamento e com o nível de água no tanque na cota referente
a “compressor desliga”. Um volume adicional de água deverá ser incluído, de
modo a formar uma vedação positiva, para que o tanque não seja totalmente
desaguado, permitindo a entrada de ar na tubulação.

7.4 Projeto Estrutural dos Tubos

7.4.1 Cargas Aplicadas

Para o dimensionamento da tubulação, é necessário conhecer as forças que incidem


sobre a tubulação e as espessuras de parede disponíveis e/ou as propriedades do materi-
al, necessárias para resistir às forças aplicadas. As forças aplicadas se devem aos seguin-
tes fatores:

„ Pressão Interna – A tensão circunferencial na parede dos tubos, devido a pressão


interna, pode ser determinada por meio da seguinte fórmula:

S = (P)(D)/(2A),

onde:

S = tensão circunferencial na tubulação, em MPa;


P = pressão hidrostática interna, em MPa;
D = diâmetro interno da tubulação, em mm;

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Figura 7.7 Distribuição da Carga Rolante

Figura 7.8 Área da Carga Distribuída para Controle de Pneus

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A = área por unidade de comprimento da parede da tubulação ou o(s)


elemento(s) estrutural(is) da parede da tubulação (como aço para
concreto armado), capaz de resistir às forças de tração, em mm2/
mm.

„ Carga do Aterro – A teoria de Marston é normalmente utilizada para determinar as


cargas de recobrimento sobre a tubulação que incidem sobre condutos enterrados.
Esta teoria está bem documentada em muitos livros-texto e manuais de engenharia,
assim como em normas de projeto, e por este motivo não será repetida neste
MANUAL;

„ Sobrecargas ou Cargas Acidentais – As cargas das rodas dos veículos que cruzam
as tubulações são transmitidas através do solo até a linha geratriz superior dos
tubos, conforme ilustrado na Figura 7.7. A intensidade das cargas, em qualquer
plano horizontal, aumenta no eixo vertical diretamente abaixo do ponto de aplica-
ção e diminui em todas as direções, excentricamente, a partir desse ponto. á medi-
da que a distância entre a superfície do terreno e o plano horizontal aumenta, a
intensidade da carga, nos diversos pontos do plano, diminui.

Uma aproximação da distribuição das cargas das rodas através do solo, e que é
empregada com freqüência, encontra-se ilustrada na Figura 7.8. Neste caso, o valor da
pressão média na linha geratriz superior do tubo enterrado, a uma profundidade H, é
fornecida pela seguinte equação:

WL = (P)(IF)/Adis,

onde:

WL = pressão média na linha diretriz superior do tubo, em kpa;


P = carga total das rodas aplicada na superfície, em kN;
IF = fator de impacto (a seguir), sem dimensão;
Adis = área de carga distribuída na linha diretriz superior do tubo, em
m2.

O procedimento teórico para calcular as cargas rolantes utiliza a solução de


Boussinesq para a distribuição das tensões através de um meio elástico. Este procedimen-
to tem duas formas, uma para as cargas concentradas na superfície do terreno e a outra
para as cargas distribuídas. No caso das cargas consideradas concentradas num ponto
único, utiliza-se a seguinte equação:
WL = (Cc)(P)(IF)/L,

onde:

WL = carga sobre o tubo, em kN/unidade de comprimento;


P = carga concentrada, em kN;
IF = fator de impacto, sem dimensão
L = comprimento do tubo que efetivamente resiste à carga aplicada
(em geral, assume-se L = 1,0m), em unidades consistentes com
WL;
Cc = coeficiente de carga, sem dimensão, que é uma função do diâ-
metro externo do tubo, Bc, da altura do recobrimento sobre o
tubo, H, e do comprimento, L.

Para cargas distribuídas, a equação é:

WL = (Cd)(p)(Bc)(IF),

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Elaboração de Projetos de Irrigação

onde:

WL = carga sobre o tubo, em kN/unidade de comprimento;


p = intensidade da pressão da carga distribuída sobre a superfície do
terreno, em unidades consistentes com WL;
Bc = diâmetro externo do tubo, em unidades consistentes com p;
Cd = coeficiente de carga, sem dimensão, que é uma função da altura
do recobrimento sobre o tubo, H, e do comprimento e da largura
da área, na superfície do terreno, sobre a qual está distribuída a
carga;
IF = fator de impacto, sem dimensão.

Quando se emprega a teoria de Boussinesq para determinar a carga rolante admissível


sobre o tubo, arbitra-se que o solo de reaterro acima do tubo, através do qual a carga é
transmitida, é um meio isotrópico e elástico. Este pressuposto não está totalmente de
acordo com a realidade para o material de solo; entretanto, obtêm-se resultados razoavel-
mente precisos utilizando-se a equação de Boussinesq, se o solo de reaterro for compactado
até um peso específico alto, equivalente ou superior a 95% de Proctor.

Os valores de Cc e Cd constam dos manuais de engenharia. Os valores das cargas


máximas das rodas, bem como as cargas de ferrovias, também são fornecidos em manu-
ais de referência e normas de projeto.

Entretanto, os manuais de referência e as normas de projeto contêm pouca infor-


mação acerca das cargas das rodas de equipamento pesado fora de estrada, de utilidade
na construção, e o engenheiro de projeto deverá considerar cuidadosamente a possibilida-
de e/ou a necessidade deste equipamento pesado cruzar a tubulação durante as obras.
Por exemplo, os modelos Caterpillar 980C e 992C, exercem cargas muito maiores do que
os caminhões normais utilizados nas estradas. Quando se constatar a necessidade deste
equipamento cruzar a tubulação, construir-se-á um cruzamento especial, com suficiente
recobrimento dos tubos para que a intensidade das cargas transmitidas aos tubos seja
baixa, e não os danifique.

O equipamento vibratório empregado para compactar o solo de reaterro acima dos


tubos também pode exercer considerável carga de impacto sobre a tubulação, em especi-
al quando pouca quantidade de aterro foi colocada sobre os tubos, de modo que a altura
do recobrimento, H, seja pequena.
São vários os pressupostos na determinação do valor do fator de impacto, IF, nas
equações relacionadas com as cargas rolantes. As mais comuns são as mencionadas a
seguir.

„ AWWA Manual M11, acerca de tubos de aço:


IF = 1,50, valor constante, independentemente da altura do recobrimento, H, dos
tubos;

„ Associação “Uni-Bell” de fabricantes de tubos PVC:


IF = 1,50, para 0 <= H <= 0,3m,
IF = 1,35, para 0,3 < H <= 0,6m,
IF = 1,15, para 0,6 < H <= 1,0m,
IF = 1,00, para H > 1,0m;

„ Indústria de fabricação de tubos de fibra de vidro (tubos muito flexíveis) (AWWA


Norma C950):
IF = 1,50, para 0 <= H <= 0,6m,
IF = 1,766 – 0,436(H), para 0,6 < H <= 1,75m,
IF = 1,00, para H > 1,75m.

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Figura 7.9 Ângulo de Assentamento

Não existe pesquisa relativa ao impacto associado às cargas incidentes, devido ao


equipamento pesado utilizado na construção cruzar a tubulação. Em geral, os fatores de
impacto variam com a profundidade do recobrimento dos tubos, com a velocidade dos
veículos que cruzam a tubulação e com a regularidade ou irregularidade da superfície de
tráfego dos veículos. Em alguns estudos, foram gerados fatores de impacto de até 3,0,
por equipamento de construção, a alta velocidade (cerca de 45km/h), sobre superfície
muito irregular (buracos de até 30cm de profundidade) e com pouco recobrimento (menos
de 1,0m). Uma vez que pouco controle pode ser exercido quanto às velocidades de
operação dos veículos e à manutenção dos cruzamentos, recomenda-se que seja utilizado
um fator de impacto de, pelo menos, 2,0, na elaboração do projeto nos cruzamentos para
recobrimentos de valas iguais ou inferiores a 1,0m.

7.4.2 Classificação dos Tubos

7.4.2.1 Aspectos Gerais

Os tubos podem ser classificados em rígidos ou flexíveis, dependendo da maneira


como transmitem as cargas externas incidentes, ao solo de reaterro e confinado nos lados
dos tubos. As cargas externas incluem não apenas as cargas aplicadas de recobrimento
dos tubos e quaisquer outras cargas rolantes, mas também o próprio peso do tubo e da
água nele contida, quando aplicáveis às condições projetadas que estão sendo investigadas.
A força aplicada ao tubo pela pressão hidráulica interna acomoda-se ao longo da estrutura
da parede do tubo e não é transmitida ao solo de reaterro.

Para ambos os tipos de tubo, rígidos e flexíveis, é preciso definir o termo “ângulo de
assentamento”. Conforme ilustrado na Figura 7.9, o ângulo de assentamento é aquele na
diretriz inferior do tubo, formado pelo solo de reaterro sob o tubo. Este ângulo varia entre
0 e 180 graus.

7.4.2.2 Tubos Rígidos

Os tubos rígidos caracterizam-se pela sua capacidade de transmitir cargas externas


às paredes do tubo e, através do ângulo de assentamento, para o solo de reaterro sob o

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tubo, sem praticamente sofrer qualquer deflexão ou ovalização da seção transversal cir-
cular do tubo.

O modo de instalar os tubos na vala influi na capacidade do tubo de suportar cargas


externas. Se for instalado sobre solo com alto grau de compactação e um ângulo de
assentamento elevado, o tubo poderá suportar cargas muito maiores, do que quando
instalado em valas de fundo plano, com ângulo de assentamento zero, conforme ilustrado
na Figura 7.10. Neste gráfico, são apresentadas as diversas classes de assentamento
normalmente empregadas. O fator de carga de cada classe de assentamento é indicativo
da tensão de sustentação do tubo, quando instalado segundo os detalhes ilustrados. Se o
solo nos lados e sob o tubo estiver bem compactado (assentamento classe B), fornecen-
do um ângulo de assentamento de 180 graus, o tubo será 1,9/1,1 = 1,7 vez mais
resistente que se fosse instalado com ângulo de assentamento zero grau (assentamento
classe D).

7.4.2.2.1 Tubos de Fibrocimento

Os tubos de fibrocimento são projetados segundo um conceito de carga combina-


da, que se baseia na capacidade de pressão interna do tubo, conforme determinado
através de ensaios de pressão hidrostática em laboratório, e a resistência do tubo à
compressão, de acordo com o estabelecido nos ensaios destrutivos de laboratório. No
caso de cargas externas e da pressão interna agirem simultaneamente sobre o tubo,
existe uma relação testada entre a pressão interna e as cargas aplicadas externas, no
ponto de ruptura do tubo. Com uma pressão interna elevada, só será possível aplicar uma
carga externa pequena sem a ruptura do tubo; com uma pressão interna baixa, será
possível aplicar carga externa maior. Esta relação encontra-se ilustrada na Figura 7.11 e
pode ser representada por uma curva parabólica com a equação:

Wt = W[(P – Pt)/P]^0,5,

onde:

W = carga externa de compressão, determinada em ensaios de labo-


ratório, em kN/m;
P = pressão interna de ruptura, determinada em ensaios de pressão
hidráulica realizados em laboratório, em kPa;
Wt = carga máxima que pode ser aplicada nos ensaios de compressão,
em combinação com uma pressão interna, Pt, sem ruptura do
tubo, em kN/m;
Pt = pressão interna máxima no tubo que pode ser aplicada simulta-
neamente com a carga externa, Wt, sem causar a ruptura do
tubo, em kPa.

A correlação da pressão interna e as cargas aplicadas externas, num determinado


ponto da tubulação, à carga de compressão e à pressão hidrostática, determinadas no
laboratório, é efetuada utilizando-se fatores de segurança apropriados. O cálculo é relati-
vamente simples, para a pressão interna, embora mais complicado para as cargas exter-
nas. A pressão interna, Pt, ocorrerá no ponto de ruptura do tubo, ou próximo a ele. A fim
de assegurar que esta pressão não seja atingida, aplica-se a seguinte relação:

Pt >= (Po)(SF),

onde:

Po = pressão máxima, no ponto considerado, determinada conforme


discutido no subitem 7.3.4, em KPa;

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Figura 7.10 Categoria Assentamento para Tubos nas Valas

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Figura 7.11 Curvas de Cargas Combinadas Tubo de Fibrocimento

Figura 7.12 Montagem de Teste “dos Três Cutelos”

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Figura 7.13 Montagem de Teste com Apoio do “Bloco em V”

SF = fator de segurança adimensional; em geral, arbitra-se um valor


igual a 2,0, quando as pressões transitórias de golpe de aríete
estão incluídas em Po, conforme discutido no subitem 7.3.4.

Para as cargas externas, os fatores de carga ilustrados na Figura 7.10 representam


a relação da tensão de sustentação local do tubo, instalado de acordo com uma determi-
nada classe de assentamento, e a carga de compressão externa, determinada nos ensai-
os de laboratório, ou seja:

LF = (WE + WL)/Wt, ou
Wt = (WE + WL)/LF,

Onde:

WE e WL são, respectivamente, a carga de aterro e a carga rolante, conforme


o caso, aplicada ao tubo no ponto considerado, determinada conforme discu-
tido no subitem 7.4.1, em kN/m;

LF = fator de carga, da Figura 7.10, para a classe apropriada de as-


sentamento, sem dimensão.

Mais uma vez, Wt é a carga externa de ruptura do tubo, ou próximo a ela, e SF um


fator de segurança apropriado, de modo a assegurar que esta carga não será alcançada.
Em forma de equação:

Wt >= [(WE + WL)/LF](SF).

O engenheiro de projeto deve ter bom senso na escolha do fator de segurança


apropriado, para uso com as cargas externas. A escolha deve ser feita com critério, tendo
em vista que são empregados dois métodos diferentes de ensaio, para a determinação da
carga de compressão externa dos tubos de fibrocimento, conforme indicado nas Figuras
7.12 e 7.13 A norma NBR 8057, da ABNT, para tubos de fibrocimento sob pressão,
especifica valores mínimos de cargas de ruptura para diversos diâmetros e classes, os
quais são determinados pelo ensaio do método de apoio através de três cutelos (Figura

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7.12). A norma 160-1980(E), da ISO, e as normas C400 e C402, da AWWA, sugerem a


utilização do método dos três cutelos e bloco de apoio em V. (Figura 7.13).

Com o método dos três cutelos com bloco de apoio em V, o ângulo formado pelo
ponto central da seção transversal do tubo e os dois pontos de sustentação no bloco em
V é de 30 graus, enquanto o ângulo formado com o conjunto do método de apoio através
de três cutelos, é de aproximadamente, 10 graus. Estes ângulos são comparáveis (embo-
ra não idênticos) ao ângulo de assentamento, para o tubo, o qual foi discutido anterior-
mente, e têm o mesmo efeito do ângulo de assentamento sobre a tensão de apoio do
tubo. Conseqüentemente, se o tubo for testado no conjunto de apoio de três cutelos com
bloco de apoio em V, resistirá a ruptura a uma carga maior do que no conjunto de três
cutelos, o que resultará num valor de Wt maior, a ser empregado na equação anterior.
Portanto, a equação indica que, se for utilizado o mesmo fator de segurança, o tubo que
atender às normas de ISO ou AWWA será capaz de suportar uma carga externa maior do
que um tubo equivalente manufaturado de acordo com as normas brasileiras, o que, é
claro, não é verdade, quando se mantêm iguais todos os outros fatores.

As especificações padronizadas preparadas pelo “Bureau of Reclamation” para o


fornecimento de tubos de fibrocimento, para os projetos de irrigação no Brasil, não permi-
tem a utilização do método do bloco em V, na determinação da resistência diametral à
compressão do tubo. Com esta indicação nas especificações, o fator de segurança apro-
priado deverá ser de 1,5 a 2,0, para as cargas externas, dependendo do conhecimento
que o engenheiro de projeto tem das reais condições de assentamento, sobre o qual os
tubos serão instalados, e se as mesmas se aproximam das condições de assentamento
previstas no projeto. É aconselhável que a recomendação antes mencionada, desacon-
selhando o emprego do método de ensaio de três cutelos com bloco de apoio em V, seja
incluída em todas as especificações de tubos de fibrocimento, quando for objeto de licita-
ção internacional. Isso não representará qualquer problema para os fabricantes de tubos,
já que o ensaio do método de apoio através de três cutelos pode facilmente substituir o
ensaio com métodos dos três cutelos com bloco em V, nas máquinas de teste das fábricas.

7.4.2.2.2 Tubos de Concreto

No Brasil, os tubos de concreto armado são fabricados, principalmente, para uso


em sistemas de esgoto e de águas pluviais. Conseqüentemente, os projetos deste tipo de
tubo baseiam-se na sua tensão de apoio, determinada pelo ensaio do método de apoio
através de três cutelos (Figura 7.12) o mesmo ensaio empregado nos tubos de fibrocimento.
Para garantir a estanqueidade, amostras aleatórias de tubos e conexões são submetidas a
ensaios de pressão hidrostática de 10 m.c.a. Portanto, os tubos de concreto devem ser
utilizados em aplicações de baixa pressão, nas quais a pressão interna não ultrapasse
esse valor.

Quando os tubos de concreto são testados pelo método de apoio através de três
cutelos (Figura 7.12), determinam-se duas cargas: a de fissuramento, na qual ocorre uma
fissura de 0,2mm de espessura e 300mm de comprimento, e a de ruptura do tubo. A
carga de fissuramento é empregada na elaboração do projeto, da seguinte forma:

Wt >= [(WE + WL)/LF] (SF),

onde:

Wt = carga de fissuramento aplicada ao ensaio do método de apoio de


três cutelos, em kN/m;
WE e WL são, respectivamente, a carga de aterro e a sobrecarga rolante
aplicada ao tubo, determinada conforme discutido no subitem 7.4.1, em kN/
m;

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LF = fator de carga, obtido da Figura 7.10, para a classe apropriada de


assentamento no qual o tubo será instalado, adimensional;
SF = fator de segurança, adimensional.

Esta equação tem a mesma forma anteriormente apresentada para os tubos de


fibrocimento, e seu desenvolvimento é similar; a diferença entre os dois casos é a defini-
ção de Wt.

No caso dos tubos de concreto armado, a ruptura do tubo não ocorre quando se
formam as primeiras fissuras no tubo. Em muitos casos, há fissuras finas, da espessura
de um fio de cabelo, resultantes da contração do concreto durante o processo de cura,
consideradas normais. Portanto, o fator de segurança dos tubos de concreto armado é
definido como a relação entre a carga mínima de ruptura e a carga mínima que causaria
uma fissura de 0,2mm de espessura. Em geral, as especificações dos tubos de concreto
armado estipulam valores de carga mínima de ruptura equivalentes a 1,4 vezes os valores
para uma carga de fissura de 0,2mm de espessura. Conseqüentemente, no caso de tubo
de concreto armado e Wt equivalente à carga de fissura de 0,2mm, conforme já definido,
utilizar-se-á um fator de segurança 1,0, visto que a carga mínima de ruptura será muito
maior do que a de fissuramento. Se o tubo não for de concreto armado, qualquer fissura
será indicativa de ruptura total do tubo, exigindo a aplicação de fator de segurança de,
pelo menos, 1,5.

7.4.2.3 Tubos Flexíveis

7.4.2.3.1 Aspectos Gerais

Os tubos flexíveis, como os de aço e os de PVC, se caracterizam pela sua capaci-


dade de admitir uma certa ovalização (deflexão) da sua seção transversal circular, sem
ocorrer qualquer dano à parede do tubo. A Figura 7.14 apresenta a deflexão de tubos
flexíveis. Numa instalação subterrânea, a carga externa de recobrimento que incide sobre
o tubo causa um decréscimo do diâmetro vertical e um correspondente aumento do
diâmetro horizontal do tubo. O movimento horizontal das paredes, para dentro do solo,
nos lados do tubo, produz uma resistência passiva no solo, que auxilia na sustentação da
carga externa. Se restringiram-se os lados do tubo pela resistência do solo, a linha geratriz
superior do tubo sob o efeito da carga externa de recobrimento não poderá deslocar-se
para baixo. A resistência do solo é função do tipo de solo e do grau de compactação
obtido na instalação do tubo. Sugere-se especificar e fazer cumprir os requisitos recomen-
dados, de modo a obter-se a resistência passiva do solo necessária à prevenção de deflexões
excessivas dos tubos.

Figura 7.14 Deflexão de Tubo Flexível

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7.4.2.3.2 Deflexão Admissível

Na elaboração dos projetos de tubulações, após se determinar a espessura de pare-


de ou a classe de pressão do tubo para resistir à pressão interna, é necessário verificar se
as deflexões estão abaixo da admissível, nas condições previstas nas especificações. As
deflexões máximas admissíveis adotadas com maior freqüência, para tubos de aço e de
PVC, são as seguintes.

„ Tubos de aço:
f revestimento interno e externo de argamassa – 2%
f revestimento interno de argamassa e externo de esmalte coaltar ou de epóxi
coaltar – 3%
f revestimento interno e externo de esmalte coaltar ou epóxi coaltar – 5%
f Tubos de PVC -7,5%

As deflexões acima são as máximas admitidas a longo prazo. Recomenda-se caute-


la ao se especificarem condições de instalação que resultem em deflexões relativamente
grandes. Os subitens 7.4.2.3.3 e 7.4.2.3.4, a seguir, contêm informações adicionais a
este respeito.

7.4.2.3.3 Determinação do Valor de Deflexão

Existem vários procedimentos matemáticos para a determinação da deflexão de


tubos flexíveis enterrados. Uma equação muito utilizada, que se baseia na fórmula de
“Iowa”, foi desenvolvida pelo Professor M.G. Spangler, e é expressa da seguinte forma:

DY = {[(DL) (WE) + WL] (K)(r^3)}/[EI + 0,061 (E’)(r^3)],

onde:

DY = deflexão vertical do tubo, em mm (ver Figura 7.14);


DL = fator de duração de deflexão, adimensional;
WE = carga vertical de recobrimento sobre o tubo, por unidade de com-
primento, em N/mm;
WL = sobrecarga rolante sobre o tubo, por unidade de comprimento,
em N/mm;
K = constante de assentamento, adimensional;
r = raio médio até a linha de centro da parede do tubo, em mm;
EI = rigidez da parede do tubo, por unidade de comprimento, em
(mm^2)N/mm;
E’ = módulo de elasticidade do solo, em MPa.

A seguir, são apresentadas descrições dos diversos termos empregados:

„ Carga de recobrimento sobre o tubo, WE – Deverá ser calculada como o peso da


seção do solo diretamente apoiada sobre o tubo, ou seja, uma seção com largura
equivalente ao diâmetro externo do tubo, uma altura equivalente ao recobrimento
de terra, H, sobre a geratriz superior do tubo e um comprimento de 1mm;

„ Sobrecarga rolante sobre o tubo, WL – A carga rolante, quando presente, deverá


ser calculada conforme discutido no subitem 7.4.1;

„ Constante de assentamento, K – Reflete o grau de apoio do solo, na parte inferior


do tubo, sobre a qual se distribui a reação. A Tabela 7.3, juntamente com as Figuras
7.9 e 7.10, indica os valores recomendados de K, para as diversas condições de
instalação;

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Tabela 7.3. – Constante de Assentamento

Ângulo (*) de
Classe de Constante de
Tipo de Instalação assentamento
Assentamento assentamento (K)
equivalente (Graus)
Fundo formado com o material de reaterro compactado B 180 0,083
colocado nos lados do tubo; 95% densidade proctor ou mais
Fundo formado de granulação grossa e compactado com o
material de reaterro colocado nos lados do tubo; 70-100%
densidade relativa
Fundo formado, compactado moderadamente com o material de C 60 0,103
reaterro colocado nos lados do tubo; 85-95% densidade proctor
Fundo formado e granulação grossa com o material de reaterro C 60 0,103
pouco conpactado colocado nos lados do tubo; 40-70%
densidade relativa
Fundo plano com o material de reaterro solto colocado nos D 0 0,110
lados do tubo (não recomendado); menos de 35% densidade
proctor, menos de 40% densidade relativa

Nota: Assume-se que o ângulo de assentamento equivalente indicado na tabela resulte, para um do valor “e”, sem
conformação do fundo e considerando que uma ou mais camadas de material de reaterro colocados nos lados
do tubo foram compactadas abaixo da linha geratriz inferior do tubo.

„ Rigidez da Parede do Tubo, EI;

„ Para tubos de aço – a rigidez é o produto do módulo de elasticidade do aço, E


(207.000MPa), multiplicado pelo momento de inércia por unidade de comprimento
da parede do tubo, I. Se o exterior e/ou o interior do tubo for(em) revestido(s) com
argamassa, esse(s) revestimento(s) contribui (em) para a rigidez da seção de tubo.
Portanto, a rigidez para toda a parede do tubo será equivalente a E, para concreto
(20.700MPa), multiplicado por I, para o revestimento interno, mais E, para o aço,
multiplicado por I, para o cilindro de aço, mais E, para o concreto, multiplicado por
I, para o revestimento externo;

„ O momento de inércia por unidade de comprimento, I = (e^3)/12, onde “e” é a


espessura do elemento, em mm;

„ Para tubos de PVC – a rigidez pode ser calculada a partir de seu módulo de elastici-
dade (2.800MPa) e do momento de inércia por unidade de comprimento, conforme
já discutido, para os tubos de aço, ou, alternativamente, pode ser determinado por
meio de ensaio de laboratório, de acordo com a norma D2412, da ASTM, “Test
Method for Determination of External Loading Characteristics of Plastic Pipe by
Parallel-Plate Loading” (Método de Ensaio para a Determinação das Características
de Carga Externa de Tubos de Plástico mediante Carga Paralela). Neste ensaio, é
determinada a carga requerida para flexionar o tubo, com deflexão de 5%, e EI é
calculado a partir da equação:

EI = 0,149 (r^3)(F)/(DY),

onde:

F = carga por unidade de comprimento, com deflexão de 5%, em N/


mm, e os outros parâmetros, conforme definidos anteriormente.

„ Módulo de elasticidade do Solo, E’ – A carga de recobrimento que incide sobre um


tubo flexível provoca um decréscimo no diâmetro vertical e um aumento no diâme-
tro horizontal. O movimento horizontal desenvolve uma resistência passiva no solo,

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que ajuda a sustentar o tubo. O valor da deflexão depende da carga vertical de


recobrimento, da sobrecarga vertical rolante (quando houver) e da resistência pas-
siva do solo, nos lados. A resistência passiva do solo varia segundo o tipo de solo
e o grau de compactação do material de reaterro sob o tubo, nos lados e nas valas
estreitas, varia também com as características do solo nativo das paredes da vala.
Os valores de E’ recomendados para os diversos tipos de solo e as várias condições
de compactação são apresentados na Tabela 7.4. A Tabela 7.5 define os símbolos
dos grupos de solos da “Unified Soil Classification” (Classificação Unificada de
Solos). O uso dos valores de E’, fornecidos na Tabela 7.4, resultará numa deflexão
média calculada de tal ordem que haverá uma probabilidade de 50% de que a
deflexão média real, ao longo da tubulação, seja inferior ao valor calculado e perma-
neça dentro dos limites de precisão fornecidos na Tabela 7.4;

„ É preciso observar que as medições reais da deflexão, num determinado ponto ao


longo da tubulação, poderão oscilar em aproximadamente +2%, da deflexão média
de toda a tubulação, devido a variações nas propriedades do solo e nos procedi-
mentos de compactação empregados;

„ Fator de Duração da Deflexão, DL – Ao longo do tempo, após a aplicação inicial de


carga, o solo continua a se deformar (consolidar). Num sistema que emprega tubos
flexíveis, os tubos normalmente sofrem uma certa deflexão, imediatamente após sua
instalação e, a seguir, continuam a se defletir, à medida que o assentamento abaixo
e nos lados dos tubos se consolidam, sob o efeito combinado do peso do solo de
reaterro e o deslocamento das paredes dos tubos. Mais tarde, quando o estado de
equilíbrio é alcançado, a força requerida para maior consolidação do solo de assenta-

Tabela 7.4. Valores Médios de “Módulos” de Elasticidade de Solo é (Para


Deflexão Média do Tubo Flexível)
E para grau de compactação do reaterro abaixo e ao lado do tubo MPa
Tipo de solo – reaterro abaixo e ao lado do tubo (Sistema Sem Compactação Pouco Médio Alto
Unificado de Classificação – Classificação ASTM 02487) < 85% Proctor 85 – 95% >95% Proctor
< 40% Proctor 40 – >70%
Densidade 70% Densidade Densidade
Relativa Relativa Relativa
Solos de granulação fina (LL>50) Solos com media até alta Solos desta categoria exigem uma análise especial para determinar a densidade
plasticidade (CH, MH, CH-MH) exigida, teor de umidade e compactação.
Solos de Granulação final (LL<50) Solos com plasticidade 0,34 1,4 2,8 6,9
media a
não plasticos de (CL, ML, ML-CL, CL-CH, ou ML-MH) com
menos de 25% de partículas de granulação grossa
Solos de Graunulação final (LL<50) Solos com plasticidade 0,69 2,8 6,9 13,8
média a não plásticos de (CL, ML, ML-CL, CL-CH, ou ML-
MH) com mais de 25% de partículas de graunulação grossa
Solos de graunulação
grossa com grãos finos (GM, GC, SM, SC, GM-GC, GC-SC,
etc.)
tendo mais de 12% de partículas de granulação fina.
Solos de graunulação grossa com poucos grãos finos, ou 1,4 6,9 13,8 20,7
nenhum (GW, GP, SW, SP, GM-GC, GC-SC, etc. tendo menos
de 12% de granulação de partículas finas).
Brita 6,9 20,7 20,7 20,7
Exatidão em termos de diferença entre deflexão percentual +/- 2% +/- 2% +/- 1% +/- 0,5%
média prevista e real
Notas: – Valores aplicáveis somente para aterros inferiores a 15m.
– Para previsão da deflexão inicial, o fator de demora de deflexão apropriado, D1, deve ser aplicado para deflexões
a longo prazo
– LL = Limite líquido

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mento será maior que as cargas incidentes sobre o solo. O fator de duração da
deflexão é a relação entre a deflexão a longo prazo, que ocorre após alguns anos, a
deflexão inicial, que ocorre logo após a instalação. O aumento na deflexão ao longo
de um determinado período aparentemente varia com o tipo de solo de reaterro
colocado abaixo e nos lados dos tubos; com o grau de compactação deste solo; com
as características do solo nativo, no caso das valas estreitas; e com a largura da vala.
Recomenda-se um fator de duração da deflexão de 2,0, no caso de se conseguir
compactação moderada ou alta, do material de reaterro situado sob e ao lado dos
tubos; e um valor de 1,5, no caso de solo despejado ou muito pouco compactado.
Quando se obtêm maiores graus de compactação, a deflexão inicial do tubo será, em
geral, muito pequena. Nestes casos, mesmo um pequeno aumento da deflexão, num
determinado período, poderá resultar numa deflexão de longo prazo que, mesmo
pequena, poderá ser igual ou superior ao dobro da deflexão inicial. Quando não há
praticamente qualquer grau de compactação, a deflexão inicial é, em geral, relativa-
mente grande. Nestes casos, ocorre normalmente um aumento apreciável na deflexão,
ao longo do tempo; entretanto, porque a deflexão inicial é considerável, o aumento
da deflexão, mesmo que relativamente grande, quase nunca ultrapassa 30 a 40% do
valor da deflexão inicial; assim, recomenda-se um fator de duração da deflexão de
1,5 para tais instalações. É preciso bom-senso na seleção dos valores de fator de
duração da deflexão a serem empregados.

7.4.2.3.4 Considerações Relativas à Deflexão

O cálculo dos níveis estimados de deflexão baseia-se no pressuposto de que os


valores projetados empregados para o assentamento, o reaterro e os graus de compactação
atingidos serão conseguidos, mediante padrões de construção e equipamento adequados.
A experiência demonstra que a deflexão de um tubo flexível pode ser maior (ou menor) do
que a prevista pelos cálculos, se os critérios de projeto não forem alcançados. Devido a
esta dependência, qualquer cálculo do percentual de deflexão deverá ser considerado
apenas aproximado. Se o tubo for grande o bastante para permitir a entrada de uma
pessoa, será possível verificar se os procedimentos de instalação são adequados, por
meio da medida do diâmetro vertical do tubo, em locais pré-selecionados, aproximada-
mente 24 horas após o reaterro da vala. Deflexões reais, determinadas a partir de medi-
das, substancialmente maiores do que os valores calculados pela equação anterior, indi-
cam que os pressupostos na elaboração de projeto, relativos às condições de instalação,
não se realizaram quando os tubos foram finalmente assentados.

As equações de deflexão não devem ser utilizadas para definir a espessura de uma
parede de tubo, já que podem resultar em valores errados, se se arbitrar um valor muito
alto de E’. A espessura da parede do tubo deverá ser determinada inicialmente, e, em
seguida, se calculará a deflexão estimada.

Recomenda-se que todos os tubos flexíveis sejam instalados com material de as-
sentamento compactado por baixo e nos lados do tubo, com controle do peso específico
de, pelo menos, 95% Proctor, mesmo que os cálculos indiquem que o tubo terá desempe-
nho adequado com material compactado de menor peso específico. É muito mais fácil
obterem-se resultados coerentes, nos diversos locais ao longo da tubulação, quando se
especifica um alto grau de compactação, do que quando se requer menor compactação.
Neste último caso, haverá considerável variação nos pesos específicos conseguidos no
material de reaterro, o que, por sua vez, poderá resultar em variação nas deflexões dos
tubos. O reaterro sobre os tubos também deverá ser compactado, com controle até o
mesmo peso específico (95% Proctor), até a superfície do terreno, de maneira a se utili-
zarem os mesmos procedimentos de compactação em toda a operação de reaterro.

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Tabela 7.5. Tabela de Classificação do Solo

Classificação do Solo
Critério para determinação dos simbolos de grupos e nomes dos Simbolo
grupos usando testes do Laboratório (a) do Nome do Grupo (b)
Grupo
Cascalho com
Solos de Cascalhos limpos Cu ≥ 4 e 1 ≤ Cc ≤ (e) GW
granulometria boa (f)
granulação Cascalhos menos de 5% da grãos
grossa. finos (c) Cascalho com
Cu < 4 e/ou 1> Cc > 3(e) GP
granulometria má (f)
Grãos finos classificam como ML
Mais de 50% da porção Cascalhos finos, mais GM Cascalho siltoso (f, g, h)
ou MH
grossa conservada na de 12% de grãos finos
peneira nº 4 ( c) Grãos finos classificam como CL
GC Cascalho argiloso (f, g, h)
ou CH
Mais que 50% Areias limpas Cu ≥ 6 e 1 ≤ Cc ≤ 1(e) SW Areia, granulametria boa (i)
conservada na
Areias Menos de 5% de fina
peneira Nº 200 Cu < 6 e/ou 1 > Cc > 3(e) SP Areia, granulometria má (i)
( d)
Grãos finos classificam como ML
50% ou mais da porção SM Areia siltosa (g, h, i)
Areias finas mais de ou MH
grossa passa pela
12% de grãos finos (d) Grãos finos classificam como CL
peneira nº 4 SC Areia argilosa (g, h, i)
ou CH
PI > 7 e marca no ou acima ou na Argila de plasticidade baixa
Inorgânicas CL
Solos de linha “A” (j) (k, l, m)
Siltes e argilas
granulação finas PI < 4 ou marca abaixo da linha
ML Silte (k, l, m)
“A” (j)
Limite liquidez-secar
Argila orgânica (k, l, m, n)
Limite liquidez menor em forno
Orgânicas < 0,75 OL
que 50 Limite liquidez-não
Silte orgânico (k, l, m, o)
secado
50% ou mais Arg. de plasticidade alta
PI marca ou acima ou na linha “A” CH
passam na Inorgânicas (k, l, m)
peneira nº 200 PI marca abaixo da linha “A” MH Silte elástico (k, l, m)
Siltes e argilas limite
liquidez 50 ou mais Limite liquidez-secar
Argila orgânica (k, l, m, p)
em forno
Orgânicas < 0,75 OH
Limite liquidez-não
Silte orgânico (k, l, m, q)
secado
Principalmente matéria orgânica, cor escura e cheiro de
Solos altamente orgânicos PT Turfa
orgânica

a. Baseia-se no material que passa pela peneira de 75mm


b. Se a amostra de campo contiver pedras, escrever “com pedras” no nome do solo.
c. Cascalhos com 5 a 12% finos grãos exigem simbolos duplos:
GW-GM cascalho com granulametria boa com silte GW-GC cascalho com granulametria boa com argila GP-GM
cascalho com granulametria má com silte GP-GC cascalho com granulametria má com argila
d. As areias com 5 a 12% de granulação finas exigem simbolos duplos:
SW-SM areia com granulametria boa com silte SW-SC areia com granulametria boa com argila SP-SM areia com
granulametria má com silte SP-SC areia com granulametria má com argila
e. Cu = (D60)/(D10) Cc = [(D30)2]/(D10)(D60)]
f. Se solo contiver ≥ 15% de areia, escrever “com areia” no nome do grupo.
g. Se classificação dos grãos finos for CL-ML, usar símbolos duplos GC-GM – ou SC-SM.
h. Se os grãos finos forem orgânicos, escrever “com finos orgânicos” no nome do grupo.
i. Se o solo contiver ≥ 15% cascalho, escrever “com cascalho” no nome do grupo.
j. Se os limites plasticidade e liquidez marcam na área tracejada na tabela de plasticidade, o solo é CL-ML.
k. Se o solo contiver 15 a 29% de grãos que não passem nº 200, escrever “com areia” ou “com cascalho”, o que for
predominante.
l. Se solo contiver ≥ 30% de grãos que não passem na peneira nº 200, predominante areia, escrever “arenoso” no nome
do grupo.
m. Se solo contiver ≥ 30% de grãos que não passem na peneira nº 200, predominante cascalho, escrever “cascalhoso”
no nome do grupo.
n. PI ≥ 4 e marca acima ou na linha “A”.
o. PI < 4 ou marca abaixo da linha “A”.
p. PI marca ou acima ou na linha “A”.
q. PI marca abaixo da linha “A”.

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7.4.2.3.5 Flambagem de Tubos de Aço

Os tubos de aço enterrados podem sofrer colapso ou flambagem devido às cargas


externas, se o nível da água subterrânea estiver acima do nível de implantação dos tubos.
A soma total das cargas externas aplicadas não deverá exceder a pressão de flambagem,
que pode ser determinada por meio da equação abaixo:

q = (1/SF)[32(Rw)(B’)(E)(EI)/(d^3)]^0,5,

onde:

q = pressão permissível de flambagem , em MPa;


SF = fator de segurança, = 2,5, para (H/D) >= 2 = 3.0, para (H/D)
< 2,
onde:

H e D são o recobrimento e o diâmetro do tubo, conforme definido anterior-


mente;
RW = fator de flutuação da água, adimensional, = 1,0 – 0,33 (Hw/H),
0 <= Hw <= H
onde:

Hw = altura da superfície da água, acima da diretriz superior do tubo,


em m;
B’ = coeficiente empírico de apoio elástico, adimensional;
E = módulo de elasticidade do solo, em MPa, conforme já discutido;
EI = rigidez da parede do tubo, em (mm^2)N/mm, conforme discutido
anteriormente;
D = diâmetro do tubo, em mm.

O coeficiente de apoio elástico, B’, tem sido determinado através das seguintes
equações:

B’ = 0,150 + 0,041 (H/D), para 0 <= (H/D) <= 5


B’ = 0,150 + 0,014 (H/D), para 5 <= (H/D) <= 80.

Estas equações são matematicamente descontínuas, quando H/D = 5. Para elimi-


nar está descontinuidade, foi desenvolvida a seguinte equação:

B’ = 1/{1 + 4 [e^(-0,02 H)]},

onde:

e = base dos logaritmos naturais = 2,718...


Aplicando-se a equação abaixo, assegura-se que as cargas externas não excederão
a pressão admissível de flambagem.

0,00981(Ww)(hw) + (Rw)(WE)/d + Pv <= q,

onde:

Ww = peso específico da água, em g/mm3 = 0,001 g/mm3;


hw = altura da superfície da água, acima da geratriz superior do tubo,
em mm;
Rw = fator de flutuação da água, conforme já definido;
WE = carga de recobrimento sobre o tubo, em N/mm;

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Pv = pressão interna de vácuo (ou seja, pressão atmosférica menos a


pressão absoluta dentro do tubo), em MPa.

Em locais sujeitos à sobreposição de cargas rolantes, a condição é a seguinte:

0,00981 (Ww)(hw) + (Rw)(WE)/d + (WL)/d <= q

onde:

WL = carga rolante sobre o tubo, em N/mm.

A ocorrência simultânea de uma carga rolante sobreposta e a pressão de vácuo


interna transitória é considerada pouco provável; portanto, seus efeitos normalmente não
se combinam nas fórmulas apresentadas anteriormente.

7.5 Considerações Relativas ao Leiaute do Sistema

Existe um princípio muito simples que deve ser observado no estabelecimento de


um leiaute adequado das tubulações: a distância mais curta entre dois pontos é a linha
reta que os une. Um bom leiaute de tubulação conduzirá a água da fonte – uma estação
de bombeamento ou um reservatório – até seu destino final – as tomadas d’água dos
irrigantes, pela rota mais direta possível. Em muitos casos, poderá ser necessário seguir
uma rota específica, que não é a mais curta, devido a acidentes topográficos, condições
geológicas, restrições decorrentes de propriedade da terra, ou linhas de serviços públicos;
entretanto, sempre devem ser evitados trechos de tubulação duplicados e outras situações
em que a tubulação percorre distâncias num sentido e, depois, retorno no outro sentido.
As Figuras 7.15 e 7.16 ilustram a aplicação destes princípios. O leiaute da Figura 7.15
apresenta uma série de trechos duplicados e situações em que a água parece retornar à
direção de onde veio. Na Figura 7.16, o leiaute foi alterado pelo acréscimo de trechos
relativamente curtos de tubo, em duas áreas, o que permitiu a eliminação de consideráveis
trechos de tubo, embora servindo às mesmas instalações de distribuição da Figura 7.15.

É preciso observar que foi alterada a localização, e não o número, das válvulas de
isolamento, e que o número total de blocos de ancoragem foi reduzido a dois quando o
leiaute foi modificado – daquele da Figura 7.15 para o da Figura 7.16. Quando o leiaute é
aprimorado, conforme demonstrado, com freqüência ocorre que o comprimento total de
tubulação é reduzido, mas o número de válvulas de isolamento permanece o mesmo,
embora sua localização possa mudar.

O número de acessórios, como blocos de ancoragem, ventosas, curvas e tês, dimi-


nuiu, proporcionalmente à redução do comprimento da tubulação e o ajuste do alinhamen-
to. Por outro lado, o número de válvulas de isolamento depende menos do comprimento
total da tubulação e mais do agrupamento geográfico das instalações de distribuição das
propriedades dos irrigantes. O número e a localização das válvulas de isolamento deverão
ser estabelecidos a critério do engenheiro de projeto, considerando o tempo que o sistema
poderá permanecer em operação, no caso de ruptura num tubo, num determinado local.

7.6 Outras Considerações de Projeto

7.6.1 Válvulas de Isolamento

As válvulas de isolamento de grande diâmetro, são as vezes caras. Para economi-


zar, é comum a instalação de válvulas de diâmetro menor do que o diâmetro da tubulação
na qual serão instaladas. Devendo ser instalados redutores adequados, imediatamente à
montante e à jusante da válvula. A perda de carga hidráulica, decorrente da combinação

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Figura 7.15 Lay-out de Sistema - Exemplo 1

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Figura 7.16 Lay-out de Sistema - Exemplo 2

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da válvula e dos redutores, não deverá exceder a perda de carga hidráulica na tubulação
correspondente, com um comprimento equivalente a 100 vezes o diâmetro do tubo.

Em todas as válvulas de isolamento de diâmetro igual ou superior a 450mm, reco-


menda-se instalar um “by-pass”, conectando montante com jusante da válvula. Além
disso, deverão ser instalados “by-pass” laterais em qualquer válvula de isolamento situa-
da num trecho descendente da tubulação e onde existe a possibilidade de danos a ele-
mentos instalados à jusante, quando a válvula for aberta. Também serão instalados “by-
pass” em válvula instalada no sistema onde a força exercida pela pressão interna sobre a
válvula for superior a 2.000kgf. Os “by-passes” laterais deverão ser equipados com com-
porta ou válvula de borboleta adequadas, para o fechamento necessário.

7.6.2 Ventosas

O Capítulo 9 deste MANUAL aborda a presença de ar nas tubulações e descreve os


elementos operacionais dos diversos tipos de ventosas. Existem dois tipos básicos de
ventosa:

„ As ventosas de grande orifício que permitem a saída do ar da tubulação, quando


está enchendo, e a entrada de ar, quando está esvaziando. Não liberam o ar retido
na tubulação quando o sistema estiver sob pressão;

„ As ventosas de pequeno orifício liberam pequenas quantidades de ar retido, quando


o sistema se encontra em operação e sob pressão.

A combinação dos dois tipos de ventosa no corpo de apenas uma ventosa resulta
numa ventosa de duplo efeito.

Em geral, as ventosas são relacionadas no catálogo do fabricante de acordo com


seu diâmetro. O engenheiro de projeto deverá estar ciente que esses diâmetros se refe-
rem ao tamanho da conexão pela qual a ventosa é ligada à tubulação. Muitos fabricantes
fornecem ventosas do mesmo tamanho com orifícios de diâmetros diferentes e orifícios
do mesmo diâmetro em ventosas de tamanhos diferentes. O diâmetro do orifício – e não
o tamanho da ventosa – determina a capacidade de alívio da ventosa.

A seleção de um diâmetro adequado, para as ventosas de pequeno orifício, é preju-


dicada pela dificuldade de se determinar a quantidade de ar presente na tubulação, duran-
te seu funcionamento normal. Além disso, com ventosas instaladas em todos os pontos
altos da tubulação, haverá menos ar presente no lado a jusante do que no lado a montante
da tubulação. Em geral, os catálogos dos fabricantes contêm recomendações relativas
aos diâmetros dos orifícios (ou ao número de ventosas necessárias, quando fornecem
orifícios de apenas um diâmetro), com base nas vazões e nas pressões projetadas para o
sistema.

No caso das ventosas de grande orifício, a capacidade de alívio é estabelecida em


função da vazão na tubulação, enquanto está sendo enchida, ou esvaziada, a que for
maior. Cada local de instalação de ventosa deverá ser analisado separadamente, além de
serem determinados os possíveis aumentos das cargas hidráulicas nos tubos, em cada
lado da ventosa, considerando-se que a tubulação pode ser drenada pela ruptura do
tubo, bem como por descarga através da válvula de drenagem, localizada em um ponto
baixo adjacente.

Se a tubulação for construída com tubos de aço de parede fina, ou de alumínio, a


pressão de colapso dos tubos deverá ser adequadamente estabelecida, de forma que a
ventosa de grande orifício possa ser dimensionada pela entrada de ar durante o esvazia-
mento da tubulação. A fórmula seguinte é empregada no caso:

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Pc = k[(e/d)^3],

onde:

Pc = pressão de colapso, em kgf/cm^2;


k = 3,5 (10^6), para tubos de aço; = 1,1 (10^6), para tubos de
alumínio;
e = espessura de parede do tubo, em mm;
d = diâmetro do tubo, em mm.

Para fins de projeto, a pressão diferencial admissível através do orifício da ventosa,


para entrada de ar, deverá ser arbitrada como equivalente a um quarto da pressão de
colapso, conforme determinada anteriormente, com valor máximo de 35kPa. Para descar-
ga de ar com tubos de aço de parede fina, ou de alumínio, assim como para carga e
descarga de ar com outros tipos de tubo, a pressão diferencial admissível através da
ventosa não deverá exceder 35kPa. As tabelas dos fabricantes podem ser empregadas
para selecionar o tamanho adequado de orifício e/ou o número de ventosas que fornece-
rão a vazão requerida, na pressão diferencial admissível.

As ventosas de duplo efeito devem ser instaladas nos seguintes locais:

„ Em todos os pontos altos do perfil da tubulação, ou seja, onde o desnível relativo da


tubulação mudar de aclive para declive (as válvulas de drenagem também deverão
ser instaladas em todos os pontos baixos);

„ Em todos os locais em que a tubulação for instalada num declive, e o desnível


relativo mudar para um declive mais acentuado;

„ Em todos os locais em que a tubulação for instalada num aclive, e o desnível


relativo mudar para um aclive mais plano;

„ Em trechos longos em declive, as ventosas de duplo efeito deverão ser instaladas a


intervalos de 0,5 a 1,0km;

„ Em longos trechos horizontais (que são indesejáveis e devem ser evitados, sempre
que possível), as ventosas de duplo efeito deverão ser instaladas a intervalos de 0,5
a 1,0km;

„ Em locais onde a cota da linha piezométrica mais baixa do sistema se aproximar da


cota de implantação da tubulação, ou onde houver a possibilidade de ocorrer vácuo
quando a tubulação estiver sendo esvaziada;

„ No lado descendente de todas as válvulas isoladoras.

As ventosas de grande orifício deverão ser instaladas nos seguintes locais:

„ Em trechos longos em aclive, a intervalos de 0,5 a 1,0km.

As ventosas de pequeno orifício deverão ser instaladas nos seguintes locais:

„ Á montante de todos os dispositivos de medição de vazão, nas instalações de


distribuição dos irrigantes, assim como na estação de bombeamento;

„ Nas linhas de descarga da bomba, na estação de bombeamento, e/ ou no barrilete


da bomba;

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„ Em outros locais de instalação de equipamento mecânico, conforme exigido (vide o


Capítulo 9 deste MANUAL).

O número de ventosas requerido ao longo da tubulação poderá ser minimizado


através de um exame cuidadoso do perfil da tubulação. Conectando dois pontos baixos,
próximos entre si, é possível criar um ponto baixo único, eliminando-se uma ventosa e um
dreno, com o custo mínimo de escavação adicional de vala.

Em todas as instalações de ventosa, é necessário instalar válvulas de isolamento,


entre a ventosa e a tubulação, a fim de permitir a inspeção e a manutenção da ventosa.

7.6.3 Ancoragem de Empuxo

As tubulações sob pressão, com juntas de vedação de borracha, estão sujeitas a


forças desequilibradas, nos locais em que a vazão muda de direção ou de seção transver-
sal, ou termina, como curvas, tês, redutores, válvulas e flanges ou flanges cegas, nas
extremidades das tubulações. A força desequilibrada, em quaisquer desses locais, é cons-
tituída, na realidade, pela soma de duas forças: uma força estática, decorrente da pressão
interna, e uma dinâmica, devida à mudança do fluxo de água. Nas tubulações de irriga-
ção, a força dinâmica em geral é muito pequena, quando comparada à força estática e,
normalmente, é desprezada no cálculo das forças hidráulicas de empuxo.

A magnitude da força de empuxo é uma função da pressão interna e da área sobre


a qual incide.

„ Para válvulas e extremidades fechadas de uma tubulação, a força é dada pela


equação:

T = (P)(A),

onde:

T = força total, em N;
P = pressão interna, em Pa;
A = área de incidência da pressão interna da água, em m2.

„ Para os tês, a força é dada pela equação anterior, na qual A é a área do tubo de
derivação do tê;

„ Para os redutores, a força é dada pela equação:

T = P (A1 – A2),

onde:

A1 = área da seção maior do redutor, em m2;


A2 = área da seção menor do redutor, em m2.

„ Para mudanças de direção, a equação é:

T = 2(P)(A)[sin (a/2)],

onde:

a = ângulo de deflexão da curva.

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Para mudanças de direção, a força de empuxo é orientada na direção da bissetriz do


ângulo da curva (vide Figura 7.17).

É necessário observar que, no caso de uma válvula ou outro acessório que tenha
um assento para a junta de vedação de borracha, a pressão interna da água incidirá sobre
uma área de diâmetro equivalente ao diâmetro interno do assento. Se os elementos termi-
nam em espichos, a pressão incidirá sobre uma área de diâmetro equivalente ao diâmetro
externo do tubo. Uma vez que a área e, portanto, a força, variam com o quadrado do
diâmetro, o diâmetro real da junta deverá ser utilizado, ao invés do diâmetro nominal da
válvula ou do tubo.

Será preciso instalar blocos de ancoragem apropriados, de modo a absorverem as


forças de empuxo, e projetados para resistir às forças, numa das formas relacionadas a
seguir.

„ Pela fricção no solo que sustenta o bloco de ancoragem;

„ Pela resistência passiva do solo contra a face planar do bloco de ancoragem, com
orientação perpendicular à força de empuxo;

„ Pela combinação de ambos os métodos anteriores. Os blocos de ancoragem a


serem instalados em passagens públicas, cruzamentos de linhas de serviços públi-
cos, ou em locais onde provavelmente sejam feitas outras escavações, além das
do bloco de ancoragem, deverão ser projetados para resistir às forças de empuxo,
exclusivamente pelo atrito sobre o solo que sustenta o bloco de ancoragem.

Figura 7.17 Cargas nas Curvas

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No caso de blocos de ancoragem projetados para resistir às forças de empuxo


apenas pela ação de atrito sobre o solo que sustenta o bloco de ancoragem, as dimensões
do bloco deverão ser definidas de maneira que obedeçam à seguinte relação:

SF >= (W – U)k/T,

onde:

SF = fator de segurança, em geral 2,0;


W = soma do peso do bloco de ancoragem e dos pesos do tubo e da
água contidos dentro do bloco de ancoragem, convertida em
Newtons;
U = força hidráulica de levantamento total, se o solo das fundações
está saturado, convertida em Newtons;
k = coeficiente de atrito, adimensional.

Se o bloco de ancoragem for enterrado, o peso do recobrimento não estará incluído


no cálculo de W, devido à possibilidade de que parte ou todo o recobrimento seja removi-
do, se, no futuro, se escavar junto ao bloco de ancoragem. O recobrimento do bloco de
ancoragem, no caso de curva vertical, com a parte côncava para baixo, também não deve
ser incluído no cálculo das forças verticais. Se o bloco de ancoragem for projetado para
resistir à força de empuxo pela combinação de fricção no solo das fundações e a resistên-
cia passiva da terra, ao lado do bloco de ancoragem, o peso do recobrimento poderá ser
incluído nos cálculos.

De preferência, o valor do coeficiente de atrito, k, deverá ser definido por meio de


ensaios de laboratório do material das fundações. No ante-projeto, arbitrar-se-ão os se-
guintes valores aproximados:

Material k
Rocha, maciça e sã 0,80
Rocha, fraturada, compartimentada 0,60
Cascalho 0,50
Areia 0,40
Argila, firme 0,30
Argila, mole 0,20

A resistência passiva do solo aumenta com a profundidade, abaixo da superfície do


terreno, conforme indicado no diagrama da Figura 7.18. Nesta figura, encontra-se ilustra-
do um bloco de ancoragem projetado para resistir à força de empuxo, pela resistência
passiva do solo. A força de resistência total que incide sobre o bloco de ancoragem é
dada pela equação a seguir:

Pp = [(p1 + p2)/2](h2 – h1)(L),

onde:

Pp = força de resistência passiva total do solo, em N;


p1 e p2= pressão passiva do solo nas extremidades superior e inferior,
respectivamente, do bloco de ancoragem, em Pa;
h1 e h2= profundidade, a partir da superfície do terreno, das extremidades
superior e inferior, respectivamente, do bloco de ancoragem, em
m;
L = comprimento do bloco de ancoragem, em m.

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A pressão passiva, p, do solo, numa determinada altura, h, abaixo da superfície do


terreno, é dada pela equação:

p = (9,81)(w)(h){tan [45 + phi/2]}^2,

onde:

phi = ângulo de atrito interno do solo, em graus;


w = peso unitário do solo, em kg/m3.

A partir das equações anteriores, as dimensões requeridas, do bloco de ancoragem


podem ser determinadas, de maneira que:

Pp > = (SF)(T).

Neste caso, será necessário utilizar um fator de segurança, SF, de, pelo me-
nos, 1,5.

7.6.4 Automatização das Bombas

O controle das bombas de pressurização das tubulações – linhas de descarga da


estação de bombeamento e sistemas de distribuição – pode ser automatizado com relati-
va facilidade, sem grandes gastos.

7.6.4.1 Tubulações de Descarga das Estações de Bombeamento

As adutoras das estações de bombeamento normalmente bombeiam a água até


uma superfície aberta, seja um reservatório, seja a cabeceira de um canal. As bombas na
estação de bombeamento são controladas por meio da monitorização do nível da água no
reservatório ou no canal. As bombas são ligadas quando o nível da água cai abaixo de um
determinado nível no reservatório ou no canal, e são desligadas quando o nível da água se
eleva acima de um determinado nível. O Capítulo 8 deste MANUAL contém uma descri-
ção acerca da maneira como se utilizam os reservatórios para o controle das bombas. Se
a água for descarregada no canal, os mesmos princípios poderão ser aplicados para esta-
belecer os níveis de controle no canal, conforme discutido no Capítulo 8, se o primeiro
trecho do canal dispuser de volume de armazenamento suficiente para funcionar como
reservatório. Entretanto, em alguns casos as flutuações de nível requeridas para o contro-
le das bombas poderão exceder os critérios de rebaixamento permissível do nível de água
para as operações do canal, conforme discutido no Capítulo 6 deste MANUAL, e o tempo
exigido para que o nível da água no canal responda à uma mudança na vazão bombeada
poderá ser excessivo. Nestes casos, poderá ser necessário empregar um controlador
automático, com algoritmo apropriado, conforme discutido no Capítulo 6.

Independentemente de a água ser descarregada num reservatório ou num canal, a


união dos sensores que acusam o nível da água aos controles da bomba na estação de
bombeamento deverá ser feita através de fiação elétrica. Em geral, as adutoras da esta-
ção de bombeamento não são muito longas, de maneira que, normalmente, não há neces-
sidade de sistemas telemétricos, e a facilidade de instalação e a confiabilidade operacional
dos sistemas com fiação elétrica justificam sua utilização. Os cabos elétricos de controle
podem ser facilmente enterrados na vala da tubulação, à medida que os tubos são insta-
lados.

7.6.4.2 Tubulações de Adução e de Distribuição

Quando existe terreno alto adequado na área do projeto, as bombas (das estações
de bombeamento de pressurização dos sistemas de distribuição por tubulação) poderiam

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Figura 7.18 Resistência Passiva do Solo

ser controladas por meio de um reservatório ou tanque elevado, localizado no terreno de


cota mais elevada, conforme discutido no caso das adutoras das estações de bombeamento.
Se não houver terreno apropriado, estas tubulações são projetadas como sistemas fecha-
dos, e o controle das bombas é efetuado pela pressão e pela vazão no sistema.

Em geral, as estações de bombeamento típicas dos sistemas fechados contêm três


ou mais unidades de bombeamento, além de uma pequena unidade, conhecida como
bomba “jockey”. Esta bomba é empregada para iniciar a pressurização do sistema e para
atender às pequenas demandas de irrigação. Em geral, esta bomba é controlada por
pressóstatos. Quando a demanda de irrigação ultrapassa a capacidade da bomba de
“jockey”, as bombas principais são ligadas, e a bomba de “jockey”, é desligada. Os
hidrômetros são os elementos de sensoreamento utilizados nestas operações de controle.
O estabelecimento do esquema de controle destes sistemas requer a obtenção das
curvas características das bombas a serem instaladas. As bombas podem ter capacidade
de vazão diferenciada, mas todas as bombas principais precisam ter a mesma altura
manométrica projetada, e a mesma altura manométrica na vazão zero. As curvas caracte-
rísticas são obtidas mediante a soma das vazões das diversas bombas, para uma bomba
em operação, duas bombas em operação, etc. Além disso, será preciso traçar a curva
relativa à perda de carga no sistema, para as diversas vazões de demanda. A Figura 7.19
apresenta vários exemplos destas curvas.

No caso de pressurização do sistema, a bomba “jockey” deverá ser ligada se um


pressóstato acusar uma pressão inferior à altura manométrica projetada. Outro pressóstato
desligará a bomba quando a pressão atingir um valor ligeiramente inferior à altura
manométrica, na vazão zero. Ao se iniciar uma vazão de demanda de irrigação, a pressão
do sistema diminuirá, e a bomba “jockey” será ligada quando a pressão cair abaixo da
altura manométrica projetada. Enquanto a demanda de irrigação for inferior à vazão cor-
respondente ao ponto de interseção da curva do sistema e à curva característica da bom-
ba “jockey”, a bomba “jockey” poderá atender a vazão da demanda. Se a demanda exce-
der esse valor, a primeira bomba principal será ligada, e a bomba “jockey”, desligada.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Isso pode ser efetuado através de um hidrômetro que acuse a vazão maior, ou por
um pressóstato que acuse uma pressão inferior à correspondente à do ponto de interse-
ção das duas curvas. A primeira bomba principal pode atender a demandas de irrigação
até a vazão correspondente ao ponto de intersecção da curva característica daquela bom-
ba com a curva do sistema. Se a demanda de irrigação for superior a essa vazão, confor-
me acusado por um hidrômetro, outra bomba será ligada. Bombas adicionais serão ligadas
à medida que a vazão de demanda exceder a vazão correspondente ao ponto de interse-
ção da curva do sistema e a curva característica relativa ao número de bombas em
operação. As bombas são desligadas em ordem inversa, de maneira similar, quando o
hidrômetro acusa vazões de magnitude inferior àquelas correspondentes aos pontos de
interseção.

É preciso observar que, no caso do exemplo ilustrado na Figura 7.19, com quatro
bombas principais, a bomba no.1 funcionará enquanto houver uma demanda de irrigação
superior à capacidade da bomba de “jockey”. Por outra parte, a bomba no.4 funcionará
apenas quando houver uma demanda de irrigação considerável, próximo à capacidade
projetada do sistema. Isso resultará em desgaste desigual do conjunto de moto-bombas.
Para equalizar o desgaste das bombas e dos motores, recomenda-se mudar os controles
elétricos dos motores periodicamente, de maneira que a bomba no.1 se torne a no.4, a
no.4 se torne a no.3, esta, por sua vez, se torne a no.2, e a no. 2 se torne a no.1. A
mudança da seqüência numérica das bombas e dos motores pode ser facilmente
automatizada, e se a mudança for efetuada cada vez que a unidade no.1 opera e é
desligada, o desgaste das bombas e dos motores será distribuído por igual.

Os pressóstatos são considerados mais precisos e confiáveis do que os hidrômetros,


na realização das tarefas de controle de vazão descritas anteriormente; entretanto, quan-
do há várias bombas funcionando ao mesmo tempo, as características de pressão-vazão
da combinação de bombas provocam uma mudança considerável na vazão, para uma
mudança muito pequena na pressão. Isso é indicado pelo achatamento das curvas carac-
terísticas, relativas às diversas combinações de bombas. Conseqüentemente, foi consta-
tado que é possível obter um controle aprimorado das vazões do sistema utilizando-se
hidrômetros, como elementos de sensoreamento.

No caso de tubulações pressurizadas fechadas que precisam ser desligadas durante


as horas de pico de consumo de energia elétrica, recomenda-se a instalação de válvulas
de múltipla função, conforme discutido no subitem 7.3.2.

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Figura 7.19 Curvas Características

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RESERVATÓRIOS DE
REGULARIZAÇÃO

8.1 Aspectos Gerais

Os reservatórios de regularização são utilizados para armazenamento adicional de


água nos sistemas de canais ou tubulações. Um reservatório poderá apenas fornecer
água adicional em pontos à jusante ou poderá ser um local para armazenar o excedente de
água, proveniente de pontos à montante do reservatório. Os reservatórios de regulariza-
ção podem localizar-se na extremidade montante de um canal, num ponto intermediário
do sistema de canais, na extremidade jusante, ou em derivações laterais ao canal.

O dicionário assim define “regularizar”: “Trazer ordem, método, ou uniformidade;


fixar ou ajustar o tempo, a quantidade, o grau, ou a taxa de ...”.

De acordo com esta definição, um reservatório de regularização provê ordem e


uniformidade à operação do canal. Os reservatórios simplificam e estabilizam a operação,
ajustando as variações de tempo, quantidade e taxa de vazão no canal. O objetivo princi-
pal de um reservatório de regularização é promover a separação hidráulica entre duas
partes do sistema. O armazenamento de água é utilizado para acomodar as disparidades
de vazão entre o sistema à montante e o sistema à jusante do reservatório.

8.2 Aplicações

São várias as causas das disparidades de vazão. A seguir, são discutidas algumas
aplicações específicas de reservatórios em sistemas de canais.

8.2.1 Separação de Dois Trechos de Canal com Períodos de Operação Diferentes

Algumas vezes, o abastecimento de água a um canal apresenta um período de


operação diferente do período de distribuição de água do canal. No Brasil, por exemplo, as
estações de bombeamento são desligadas durante algumas horas (normalmente, 4 ho-
ras), durante o pico de demanda de energia elétrica. Os sistemas de canais servidos pelas
bombas podem ter um período de abastecimento de 20 horas e um período de distribuição
de 24 horas. Em outras áreas, os agricultores poderão irrigar durante 16 a 18 horas por
dia, enquanto a água que abastece o sistema é constante durante 20, ou mesmo 24 horas
por dia. No caso de irrigação de 16 horas e abastecimento de 24 horas, a vazão máxima
de abastecimento é só dois terços da vazão de distribuição, e as estruturas de distribuição
da água à jusante teriam que ser maiores e mais dispendiosas. Tais situações exigem um
reservatório intermediário entre os segmentos montante e jusante.

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8.2.2 Separação das Prioridades Operacionais

No Brasil, os canais de irrigação são orientados, em geral, para a demanda. São


operados para atender as necessidades de fornecimento de água à jusante, de acordo
com a demanda. Entretanto, é difícil controlar um canal longo, com base nas condições à
jusante, pois é necessária uma fonte flexível de abastecimento de água e, normalmente,
ocasiona variações indesejáveis de profundidade e vazão em todo o comprimento do
canal. Os canais orientados para a oferta são muito mais fáceis de operar, pois o excesso
de vazão pode ser passado para jusante. A única maneira de combinar um segmento
orientado à oferta com um segmento orientado à demanda consiste em separar os dois
segmentos por meio de um reservatório de regularização. A vazão de entrada pode ser
passada através do segmento à montante para o reservatório, mediante uma operação
orientada à oferta, enquanto a vazão de saída do reservatório poderá basear-se na deman-
da à jusante (vide Figura 8.1). As disparidades de vazão entre os dois segmentos serão
absorvidas utilizando-se o armazenamento no reservatório. (O subitem 6.4 deste MANU-
AL apresenta uma explanação detalhada dos sistemas de canais orientados à demanda e
à oferta.)

8.2.3 Compensação entre Vazão Uniforme num Lado e Vazão Variável no Outro

Com freqüência, ocorrem situações em que o reservatório de regularização apre-


senta vazões relativamente uniformes num lado e variáveis no outro. O reservatório serve
para isolar um segmento das variações de vazão do outro segmento. São necessários
complexos métodos de controle nos canais com vazões flutuantes, mas, quando a vazão
é uniforme, os métodos requeridos são muito mais simples e menos dispendiosos. Conse-
qüentemente, é vantajoso projetar a maior parte possível do sistema para vazões unifor-
mes.

Figura 8.1 Separação dos Segmentos com Diferentes Prioridades de Operação

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8.2.4 Separação entre um Sistema de Canal e um Sistema de Bombeamento

O bombeamento é a causa mais comum de mudanças de vazão e de disparidades


de vazão no sistema. As estações de bombeamento com bombas de velocidade fixa só
produzem mudanças de vazão em incrementos equivalentes à capacidade unitária da
bomba, de maneira que é muito raro existirem vazões equilibradas (vazão de entrada =
vazão de saída). De modo geral, os reservatórios de regularização situam-se junto à esta-
ção de bombeamento, a fim de contrabalançar disparidades nas vazões de entrada e de
saída.

8.2.5 Regularização de Controle Automático

Os reservatórios são um local conveniente e eficaz para medir o nível da água, de


modo que seja feito o controle automático das estações de bombeamento e dos sistemas
de canais. As bombas são ligadas e desligadas, ou as comportas de controle são ajusta-
das, com base nos níveis de água, de maneira a manter o nível no reservatório dentro de
limites preestabelecidos. O subitem 8.3, a seguir, discute esta aplicação dos reservatóri-
os de regularização.

8.3 Critérios de Projeto e de Operação

Os reservatórios de regularização devem ser projetados com base nas condições


locais e nas operações previstas para o sistema de canais. O tipo, as dimensões e o
projeto estrutural do reservatório variam conforme a aplicação.

As considerações relativas aos projetos de revestimento e de aterro de reservatóri-


os são similares às empregadas para o revestimento e o aterro de canais. O Capítulo 6
deste MANUAL apresenta informações acerca das considerações relativas a fundações e
percolação, tipos de revestimento, juntas de contração em revestimentos de concreto,
sistemas de subdrenagem, taludes de aterros, etc.

8.3.1 Tipos de Reservatório de Regularização

A maioria dos reservatórios de regularização é construída pelo homem, embora


lagoas ou lagos existentes possam ser ocasionalmente utilizados. Diferentes tipos de
estruturas são viáveis. Em geral, os reservatórios são feitos com uma combinação de
barragem e terreno natural. Para minimizar vazamentos, o reservatório normalmente é
revestido com material impermeável, como concreto, membrana plástica ou terra compac-
tada. As barragens e os revestimentos precisam ser bastante fortes para suportar as
oscilações de profundidade que ocorrerão durante sua operação.

Quando a necessidade de armazenamento é relativamente pequena, podem-se uti-


lizar tanques. Essencialmente, os tanques servem aos mesmos propósitos dos reservató-
rios em barragens, embora sejam empregados em situações que requerem área menor,
maiores flutuações do nível da água, e localização inadequada para represas.

Embora alguns reservatórios de regularização e tanques sejam cobertos, quase sempre


são abertos à atmosfera, de modo a evitar a pressurização. (Os recipientes pressurizados
ou os tanques hidropneumáticos oferecem alívio de pressões devidas a transientes hidrá-
ulicos, mas não são utilizados para a regularização, no sentido em que o termo é empre-
gado neste capítulo.) Na elaboração dos projetos de reservatórios e tanques, é indispen-
sável estudar e definir os requisitos relativos ao transbordamento. As estruturas de
vertimento protegem a represa (ou tanque), outras estruturas e o terreno, de danos cau-
sados por altos níveis de água e orientam a água extravasada para áreas onde o dano será
minimizado. A altura e o comprimento da crista dos vertedouros são dimensionados para

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Elaboração de Projetos de Irrigação

transportar uma vazão excessiva máxima, enquanto o nível da água no reservatório se


mantém em nível seguro, abaixo do topo da represa ou das paredes do tanque.

Os reservatórios de regularização podem estar no alinhamento ou fora do alinha-


mento do canal.

8.3.1.1 Reservatório no Alinhamento

A água do canal escoa através dos reservatórios no alinhamento, entrando pela


extremidade à montante e saindo pela extremidade à jusante, conforme apresentado na
Figura 8.2. Para construir um reservatório no alinhamento do canal, é preciso local ade-
quado e altura hidráulica suficiente para controlar a vazão entre o reservatório e o canal.
Os reservatórios no alinhamento regularizam continuadamente as vazões dos canais, pois
todas as vazões do canal precisam passar pelo reservatório.

8.3.1.2 Reservatório Fora do Alinhamento

Os reservatórios fora do alinhamento localizam-se ao longo do canal, de maneira


que a água pode ser desviada do canal para o reservatório, ou do reservatório de volta
para o canal, conforme apresentado na Figura 8.3. Em relação à regularização da vazão
no canal, os reservatórios fora do alinhamento, construídos com nível de água do reserva-
tório correspondente à cota da água no canal e sem comportas de controle na entrada ou
na saída do reservatório, funcionarão do mesmo modo que um reservatório no alinhamen-
to. Entretanto, é freqüentemente vantajoso instalar comportas de controle, de maneira
que a vazão excedente seja desviada para o reservatório, a fim de ser armazenada e
utilizada apenas quando necessária para aumentar a vazão do canal.

Figura 8.2 Reservatório no Alinhamento

Figura 8.3 Reservatório fora do Alinhamento

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Quando existe uma diferença de nível entre o reservatório e o canal, a água flui, por
gravidade, numa direção e precisa ser bombeada na outra. Para armazenar a vazão exce-
dente no canal durante emergências, o reservatório fora do alinhamento precisa estar
mais baixo do que o canal, de maneira que esse excesso de água possa ser vertido no
reservatório, por gravidade. Durante emergências, a capacidade de bombeamento poderá
estar indisponível, o que tornaria ineficaz qualquer reservatório mais alto do que o canal.

Em geral, é mais fácil encontrar um local adequado para a instalação de um reser-


vatório fora do alinhamento do que para um no alinhamento.

8.3.1.3 Reservatórios de Tomada d’Água ao Lado do Canal

Reservatórios individuais podem localizar-se nas tomadas d’água, de maneira a


regular a distribuição da água do canal. Os reservatórios de tomada d’água ao lado do
canal (fora de alinhamento) permitem que a água seja empregada pelos usuários em
horários diferentes dos de distribuição no canal principal. Por exemplo, o agricultor poderá
irrigar durante períodos curtos, com grande vazão, enquanto a tomada d’água do canal
distribui a água aos reservatórios individuais numa vazão menor, constante. Desta manei-
ra, o canal poderá ser projetado com capacidade mínima. Sem o reservatório, a pequena
capacidade do canal principal não poderia atender a demanda nos horários de pico de
demanda de água.

8.3.2 Dimensionamento

A capacidade e as dimensões de um reservatório de regularização estão baseadas


no volume de armazenamento e nos limites de flutuação do nível da água. O volume de
armazenamento ativo ou operacional deverá ser equivalente ao desequilíbrio máximo de
vazão do canal multiplicado pela duração do desequilíbrio:

V > dQ (t);

onde:

V = volume de armazenamento mínimo ativo;


dQ = desequilíbrio máximo de vazão (valor absoluto da vazão de entra-
da menos a vazão de saída);
t = duração do período de desequilíbrio.

Em alguns casos, é necessário um volume morto abaixo do armazenamento ativo.

O volume de armazenamento é função da área da superfície e da altura. Um reser-


vatório com pequena área superficial terá grandes variações no nível de água, e vice-
versa. Em reservatórios de barragens, o limite nas variações do nível da água em geral
determina a área superficial necessária. A área superficial deverá ser suficientemente
grande para impedir que ocorram mudanças excessivas no nível da água, ou rebaixamen-
to superior à taxa máxima permissível. Em geral, se não existirem limitações de espaço,
uma grande área superficial é mais econômica do que uma represa alta. Além disso,
poderá inexistir disponibilidade de altura hidráulica para uma grande variação de nível de
água. No dimensionamento dos tanques, as decisões relativas ao equacionamento da
área superficial versus altura poderão afetar a altura manométrica de bombeamento
requerida, o consumo de energia elétrica, o rendimento da bomba e o projeto de tomadas
d’água por gravidade, canais de descarga e as estruturas das estações de bombeamento.

Em reservatórios onde se utiliza a variação no nível da água para o controle de


bombas, turbinas, ou comportas, será necessária uma diferença mínima de cota entre os
níveis de água de controle. É comum uma diferença vertical de 0,15m entre os níveis de
controle.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

A distância mínima entre os níveis de controle é afetada pela precisão da medida do


nível da água, pelas faixas mortas de controle, pela ação das ondas de vento e pelas
ondas transitórias. A distância mínima entre os pontos de controle deve ser equivalente
ao dobro da precisão da medida de nível. As ondas de vento são importantes em grandes
reservatórios; os níveis de controle deverão ser espaçados o suficiente para que as on-
das de vento não causem falsas partidas e desligamentos da bomba. Os transientes
hidráulicos são mais importantes nos pequenos reservatórios e nos tanques. Se a dife-
rença entre os níveis de controle for excessivamente pequena, as ondas transitórias re-
sultantes de partidas e desligamentos da bomba poderão provocar a partida imediata e
indesejável de outra bomba. Este problema pode ser evitado com retardos programados
ou faixas mortas de controle. É indispensável efetuar uma análise hidráulica para determi-
nar as dimensões dos reservatórios e a cota dos pontos de controle.

O volume de armazenamento entre pontos de controle sucessivos também é impor-


tante. O volume entre níveis de controle será função da área superficial do reservatório e
da diferença de cota entre os níveis:

dV = dY(A);

onde:

dV = volume de armazenamento entre níveis de controle sucessivos;


dY = diferença de cota entre os níveis;
A = área média da superfície do reservatório entre níveis.

As operações poderão ser instáveis, se o volume entre os pontos de controle for


demasiado pequeno, com o nível de água variando constantemente enquanto a bomba
entra no ciclo de liga e desliga. As grandes bombas precisam de tempos mínimos de
operação e de descanso para evitar o superaquecimento do motor. Portanto, é necessário
um volume de reservatório suficiente para que os níveis de controle de ligar e desligar
satisfaçam os tempos de operação mínimos da bomba. O reservatório de regularização
deverá ser dimensionado para atender a estes critérios.

8.4 Reservatórios de Controle Automático das Estações de Bombeamento

Os reservatórios de regularização que servem de depósito à montante ou à jusante


da estação de bombeamento podem ser empregados para controlar automaticamente as
bombas. O controle da estação de bombeamento está baseado na manutenção de um ou
mais níveis objetivos no reservatório. A elaboração do projeto do controle automático da
estação de bombeamento, com base nos níveis dos reservatórios de regularização, deve-
rá incluir as seguintes etapas:

„ Seleção do modo de controle;

„ Determinação do número de níveis de controle, o qual está relacionado com o


número de bombas e a ordem de operação das bombas;

„ Estabelecimento da distância vertical mínima entre os níveis;

„ Cálculo do volume de armazenamento entre os níveis, com base nas considerações


discutidas no subitem 8.2;

„ Avaliação da relação entre área superficial versus incremento de altura, de modo a


se obter a otimização econômica destes parâmetros, de acordo com as limitações
operacionais;

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Elaboração de Projetos de Irrigação

„ Elaboração dos projetos preliminares;

„ Elaboração da análise hidráulica;

„ Elaboração dos projetos finais.

O modo de controle mais comum denomina-se controle liga-desliga. Cada bomba é


ligada ou desligada por níveis de água distintos no reservatório, havendo tantos pares de
níveis de água quanto bombas no sistema. Os níveis de controle liga-desliga podem ser
estabelecidos no reservatório conforme indicado na Figura 8.4.

O exemplo na Figura 8.4 mostra os níveis de controle num reservatório à jusante


de uma estação de bombeamento com quatro bombas. O nível-alvo no meio representa
o nível ótimo do reservatório, com uma faixa morta de controle em cada lado do nível
alvo. Quando o nível da água está na faixa morta, não será deflagrada qualquer ação de
controle. á medida que o nível da água aumenta e ultrapassa o limite da faixa morta, as
bombas são desligadas; se o nível ficar abaixo da faixa morta, as bombas serão ligadas.

Na Figura 8.4, a bomba no.1 sempre será a primeira a dar partida e a ser desligada,
e a no.4, a última. Sempre que ocorrer um desequilíbrio entre as vazões de entrada e de
saída do reservatório, a bomba no.1 entra em ciclo de liga e desliga, a fim de manter o
nível do reservatório próximo ao alvo, independentemente da magnitude do desequilíbrio.
Este esquema é conveniente no caso de bombas com capacidades diferentes; as bombas
de número inferior deverão ter capacidade menor e as de número superior, capacidade
maior. O desequilíbrio entre as vazões de entrada e de saída do reservatório será minimizado,
não devendo exceder a capacidade da bomba no.1. O volume mínimo contido da faixa
morta entre as cotas de controle liga-desliga da bomba no.1 deve ser equivalente ao
volume de água a ser bombeado durante seu período mínimo de funcionamento. O volu-
me total do reservatório deverá ser determinado localizando-se os outros níveis de con-
trole de acordo com os intervalos mínimos, considerando a precisão de medição, ação da
ondas, etc., conforme discutido anteriormente.

Figura 8.4 Níveis de Controle

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No caso de uma estação com todas as bombas de mesma capacidade, Figura 8.5,
a ordem de desligamento das bombas é contrária à ordem de partida. Esta ordem tem
maior distância vertical e, portanto, maior volume de armazenamento do reservatório,
entre os pontos de controle de ligar e desligar, para qualquer bomba. Será preciso mais
tempo para que o volume de armazenamento do reservatório mude suficientemente, de
modo que a bomba complete o ciclo de liga-desliga, portanto o volume contido na faixa
morta pode ser reduzido sem infringir os critérios de tempos mínimos de operação e de
descanso da bomba. Além disso, as diversas bombas percorrerão um ciclo liga-desliga em
vazões diferenciadas, e não sempre a bomba N 1, conforme descrito no exemplo anterior.
Este esquema é vantajoso com várias bombas de capacidades idênticas, pois o tempo de
bombeamento e o número de partidas e desligamentos são similares e minimizados para
cada bomba, o que distribui, por igual, e minimiza o desgaste e a conseqüente manuten-
ção das bombas.

As vantagens dos dois esquemas antes descritos podem ser combinadas no contro-
le de uma estação de bombeamento com bombas de capacidades diferentes, conforme
indicado na Figura 8.6. As bombas no.1 e no.2 são pequenas e as no.3 e no.4, grandes.
Ambas as bombas pequenas percorrerão o ciclo conforme necessário, mas seus tempos
de operação e de descanso serão maximizados, e o volume contido na faixa morta,
minimizado. O tempo total de operação será dividido, por igual, entre as bombas.

Além do controle das bombas, será preciso estabelecer níveis de reservatório para
o desligamento de emergência das bombas e para alarmes que indiquem níveis de água
alto e baixo, transbordamento e topo da barragem. Os alarmes avisam os operadores que
o reservatório atingiu nível fora da faixa normal de operação. Se o nível de água alcançar
o nível máximo de desligamento de emergência, toda a estação de bombeamento é auto-
maticamente desligada. O nível de transbordamento deverá ser estabelecido de maneira a
que a vazão máxima da estação de bombeamento possa passar por cima do vertedouro,
com suficiente borda livre no aterro da represa. A Figura 8.7 mostra um exemplo de
leiaute, com todos os níveis em reservatórios à montante e à jusante de uma estação de
bombeamento.

Figura 8.5 Ordem de Desligamento de Bombas

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 8.6 Capacidade Diferente das Bombas

Figura 8.7 Níveis em Reservatório à Montante e à Jusante

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Elaboração de Projetos de Irrigação

DESCRIÇÃO DA PARTE
MECÂNICA

9.1 Conjuntos Moto-Bombas

9.1.1 Aspectos Gerais

O conjunto moto-bomba e sua rotação máxima são determinados por meio de tabe-
las, curvas e cálculos, a partir de dados do projeto obtidos no campo. A seleção do tipo de
bomba mais adequada, assim como sua capacidade, altura manométrica e rotação, é
realizada com o auxílio de catálogos de três ou quatro fabricantes. ás dimensões, a potên-
cia consumida, a eficiência e os pesos constam, em geral nos catálogos dos fabricantes.
Com exceção das eficiências, os valores máximos são relacionados, então, numa planilha
de dimensionamento da bomba, a ser utilizada pelos projetistas de leiaute das estações
de bombeamento. As dimensões das estruturas da estação de bombeamento são deter-
minadas a partir destas dimensões e dos pesos estimados do conjunto moto-bomba. Os
valores de catálogo relativos às eficiências da bomba são utilizados para determinarem as
eficiências mínimas a serem exigidas do FORNECEDOR. As especificações das bombas
deverão considerar, no texto, uma capacidade de 110% da capacidade nominal determi-
nada nas análises acima, de acordo com o mencionado na última edição das Normas do
Instituto de Hidráulica (“Hydraulics Institute Standards”).

A seleção do motor é determinada pela rotação e pela potência consumida, deter-


minada anteriormente, e pela potência total da estação de bombeamento. Nesta análise
deve-se considerar também as preferências do usuário/cliente e os requisitos da conces-
sionária de energia elétrica.

O motor deverá ser dimensionado para fornecer operação contínua, sem sobrecar-
ga, dentro da faixa operacional da bomba. Deverá ser utilizada a potência nominal (em
kw) do motor. Em geral, não será permitido o uso de um fator de serviço do motor.
Segundo a Norma MG 1.1.43 da NEMA, o fator de serviço é um multiplicador que,
quando aplicado à potência nominal (em kw), indica a potência permissível (em kw) que
pode ser utilizada sob as condições especificadas para o fator de serviço. O fator de
serviço do motor é usado quando é necessário acomodar uma sobrecarga eventual, ou
como fator de segurança, quando a carga exata é desconhecida na ocasião da seleção do
motor. Quando os motores são utilizados com bombas, a carga é quase contínua e unifor-
me, de maneira que o fator de serviço não deverá ser empregado.

O motor deverá ser síncrono ou de indução, dependendo de fatores econômicos, do


sistema de energia elétrica e da preferência do usuário. Para cada potência (em kw) e
velocidade, há, em geral, um determinado tipo de motor, menos dispendioso. As restri-
ções da concessionária de energia elétrica, relativas ao serviço de partida ou fator de
potência, também poderão determinar a seleção de um tipo de motor específico. Nas
pequenas estações de bombeamento, os motores mais empregados são os de indução.

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A escolha da tensão nominal do motor é de natureza econômica. É indispensável


conhecer os requisitos de cavalos de força no freio de cada unidade e da estação de
bombeamento como um todo. A seguir, é preciso levar em conta a disposição dos trans-
formadores, do equipamento de controle, dos cabos e dos motores para as diversas
voltagens e selecionar o menos dispendioso. Em um único projeto, deve-se considerar a
uniformidade do equipamento em todo o sistema de irrigação.

O gráfico usado para seleção da bomba é apresentado na Figura 9.1.

9.1.2 Bombas Verticais Tipo Turbina

As bombas verticais instaladas em poço possuem a carcaça do rotor submersa,


suspensa pela coluna de descarga. As bombas com rotores de fluxo radial, ou de fluxo
misto, quando instaladas em poço são demoninadas bombas verticais tipo turbina. A
característica principal das bombas verticais tipo turbina é o invólucro com difusores
montados em peça única, sem curvas fechadas dispostos numa direção quase axial. A
bomba vertical tipo turbina é relativamente eficiente, em especial em situações que re-
querem estágios (rotores) múltiplos. Em geral, a carcaça do rotor da bomba e a carcaça de
sucção destas bombas são de ferro fundido de alta densidade, embora as unidades mai-
ores possam exigir o uso de aço fundido ou chapas de aço. A coluna de descarga é
constituída por tubos de aço, com a descarga horizontal situada acima da base de apoio
da bomba.

Em geral, as bombas verticais possuem o conduto de descarga formado de ferro


fundido, aço fundido, ou de chapa de aço. A base da bomba projetada para suportar o
conduto, é instalada sobre uma abertura do piso de concreto da estação de bombeamento.
Através deste abertura pode-se colocar e retirar a coluna de descarga de bomba, já mon-
tada, incluindo a carcaça do rotor. A carcaça da sucção, em geral, possui entrada tipo
sino, projetada para reduzir as perdas de carga na entrada, além de suportar o mancal de
guia inferior. Os mancais podem ser lubrificados a água ou a óleo. Poderá ser utilizado um
tubo protetor envolvendo os mancais e o eixo da bomba, protegendo-os, assim, da água
corrosiva ou contaminada. A construção em poço seco é similar, com sucção da bomba
ligada diretamente à captação, ou então encapsulada por um tubo, conforme apresentado
na Figura 9.2.

Os rotores da maioria das bombas são do tipo fechado, fabricados de aço inoxidá-
vel, bronze-alumínio, ou bronze-alumínio-níquel.

As bombas deverão ser dotadas de anéis desgastáveis que são removidos, sempre
que houver uma folga entre o rotor e a carcaça. Em geral, um anel desgastável de cada
par é fabricado de aço inoxidável tratado termicamente, da série AISI 400, com dureza
Brinell igual ou superior a 300. O outro anel desgastável de cada par é de bronze-alumínio
tratado termicamente, equivalente à norma ASTM B 418, Grade C, com dureza Brinell
igual ou superior a 160. O anel desgastável rotativo deverá ser de material equivalente ao
dos rotores.

Em geral, os eixos das bombas são sólidos, forjados, fabricados de aço caborno
“Siemens- Martin”, ou de aço-liga tratado termicamente.

A altura manométrica das bombas de fluxo misto ou axial cresce à medida que
diminui a vazão da bomba. Com vazão zero, os valores da altura manométrica de descar-
ga e da potência (em kw) requerida pela bomba poderão ser superiores ao dobro dos
valores com a vazão de projeto, razão pela qual não se especificam bombas destes tipos
para as instalações em que se exige regulagem da vazão de recalque da bomba, ou onde
as bombas precisam dar a partida com a válvula de descarga fechada. As curvas de

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Figura 9.1 Diagrama para Seleção da Bomba

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Figura 9.2 Estação de Bombeamento com Conjunto Eletrobomba Protegida por


um Tubo

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desempenho do fabricante deverão ser consultadas, a fim de se determinarem as caracte-


rísticas de cada bomba proposta de acordo com o uso. As bombas de fluxo misto e de
fluxo axial são utilizadas para capacidades relativamente grandes com alturas
manométricas baixas e operam de modo mais eficiente com adutoras independentes e
curtas, de preferência sem válvulas na linha, exceto uma válvula tipo “flap” na extremi-
dade.

9.1.3 Bombas Centrífugas Horizontais

As bombas centrífugas de eixo horizontal de volante simples ou duplo são normal-


mente utilizadas, quando se verifica, para todas as condições de operação, altura de
sucção positiva.

Tendo em vista o problema de escova da bomba e da presença de ar na carcaça,


evita-se utilizar este tipo bomba montada em poço com a coluna de sucção na vertical.
Para se obter uma altura de sucção positiva, muitas vezes é necessário instalar as bom-
bas abaixo da superfície do terreno.

Em geral, as carcaças das bombas maiores são do tipo caixa espiral dupla, tenden-
do a equilibrar as forças radiais que incidem sobre o eixo da bomba. As carcaças podem
ser de ferro fundido, ferro dúctil, ou aço fundido. O eixo da bomba é apoiada por dois
mancais, localizados um em cada lado da bomba. Os mancais são revestidos e lubrifica-
dos a óleo ou a graxa. Um dos mancais deverá ser projetado para suportar força hidráulica
axial desequilibrada. As bombas de dupla volante apresentam a vantagem de equilibrar as
forças hidráulicas e reduzir a velocidade próximo ao centro do rotor.

Sempre que houver folgas entre o rotor e a carcaça, deverão ser instalados anéis de
desgate substituíveis. Em geral, um dos anéis de desgate de cada par é fabricado em aço
inoxidável tratado termicamente, da série AISI 400, com dureza Brinell igual ou superior a
300. O outro anel desgastável do par é de bronze-alumínio tratado termicamente, equiva-
lente a ASTM B 418, Grade C, com dureza Brinell igual ou superior a 160. O anel de
desgaste rotativo deverá ser de material equivalente ao dos rotores.

Os eixos em geral são sólidos, forjados, fabricados de aço carbono “Siemens-Martin”,


ou de aço liga tratado termicamente.

A potência, conforme curva característica da bomba, diminui à medida que o vazão


diminui, entretanto, este tipo de bomba possui uma particularidade importante, o acrésci-
mo de altura manométrica com vazão nula não é excessivo, o que a qualifica para deter-
minadas aplicações. Pode-se dar partida com a válvula de descarga fechada, simplifican-
do esta operação. Deve-se observar que este procedimento é também adotado nas bom-
bas verticais tipo turbina com fluxo radial.

A tubulação de recalque deste tipo de bomba pode ser estrangulada, regulando-se


a vazão desejada. Entretanto, este procedimento nem sempre é econômico, sendo, em
geral, evitado, quando possível. O estrangulamento, em geral, não é adotado para uma
redução para menos de 50% da capacidade da bomba. Se a bomba for operada com
estrangulamento por longo período, o fabricante deverá ser consultado, de modo a se ter
certeza de que a bomba não está sendo operada sob condições instáveis. A operação das
bombas, durante o período de garantia, com estrangulamento com redução para menos
de 50% da capacidade nominal da bomba, poderá invalidar a garantia.

9.1.4 Ensaios nos Conjuntos Moto-Bombas

Todos os conjuntos moto-bombas deverão ser montados e testados como uma


unidade única, na fábrica, a fim de assegurar que os mesmos atendem os requisitos de

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desempenho e se adaptarão às condições operacionais desejadas. A tubulação para o


teste dos conjuntos moto-bombas deverá obedecer às especificações e aos requisitos
mais recentes das Normas de Teste do Instituto de Hidráulica (“Hydraulic Institute Test
Standard”), de acordo com o tipo de bomba. Os testes deverão ser conduzidos à rotação
nominal e de acordo com as especificações e os requisitos mais recentes das Normas de
Teste do Instituto de Hidráulica (“Hydraulic Institute Test Standard”) para o tipo de bom-
ba. Os testes deverão ser testemunhados por um representante do comprador. O fabri-
cante da bomba deverá preparar e submeter à análise os relatórios e as curvas dos testes,
mostrando o rendimento total do conjunto moto-bomba, o rendimento da bomba, a potên-
cia (em kw) fornecida à bomba, a vazão da bomba nas várias condições hidráulicas
requeridas e quaisquer outros dados exigidos nas Especificações.

Após os conjuntos moto-bombas terem sido instalados e colocados em operação,


deverão ser submetidos a um teste operacional sob carga, por um período mínimo de 8
horas, ou até que as temperaturas dos mancais se estabilizem. Os testes deverão ser
testemunhados por um representante do comprador. Durante os testes, a operação dos
conjuntos motobombas deverá ser cuidadosamente observada. Os níveis de ruído, a am-
plitude e freqüência de vibração e as temperaturas dos mancais deverão ser observados e
registrados. A vibração máxima dos conjuntos, sob condições operacionais normais, não
deverá exceder a recomendada na última edição das Normas de Teste do Instituto de
Hidráulica (“Hydraulic Institute Test Standard”). Além disso, neste teste são medidos os
rendimentos, as vazões, e a potência consumida, da mesma forma como no teste de
fábrica.

As bombas de prateleira, chamadas comerciais, necessitam ser tratadas apenas o


suficiente para demonstrar um desempenho satisfatório sob as condições prevalecentes
na instalação.

9.2 Válvulas

9.2.1 Aspectos Gerais

As válvulas podem ser classificadas em dois grupos: válvulas de isolamento e vál-


vulas de controle. As válvulas de isolamento são utilizadas para isolar um determinado
trecho da tubulação num sistema para proteger as válvulas de controle ou os conjuntos
moto-bombas, permitindo a inspeção ou a manutenção, sem necessitar paralizar todo o
sistema. As válvulas de controle são utilizadas na partida, na parada ou para regularizar a
vazão e/ou a pressão.

As válvulas são selecionadas em função do custo, da disponibilidade no mercado e


do desempenho. Podem ser do tipo comporta deslizante, retenção, borboleta, globo ou de
gaveta. Eventualmente, podem ser fabricadas sob encomenda, nos casos de pressões,
vazões, dimensões ou requisitos de estrangulamento especiais. A aplicação caso a caso
determina o tipo de válvula a ser adotada.

9.2.2 Válvula Tipo Comporta Deslizante

É utilizada, principalmente, nas tomadas d’água dos condutos de adução ou nas


descargas dos reservatórios, nas aberturas laterais das torres de captação dos reservató-
rios ou em canais. Este tipo de válvula é adotada quando o equipamento deve ser instala-
do submerso na água e há pressão apenas em um dos lados do tampão, de maneira que
a pressão tende a assentá-lo na guia da comporta.

As válvulas tipo comporta deslizante podem dispor de haste ascendente ou não,


sendo que as do tipo não ascendente só devem ser utilizadas em situações especiais. A
seção roscada da haste ascendente permanecendo fora da água, em geral serve como

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indicador de posição, podendo ser fabricada de aço. A haste será engraxada e não haverá
transmissão de tensões de torção aos mancais e/ou às guias. As partes móveis das
válvulas tipo comporta com haste não ascendente se encontram submersas n’água e não
podem ser lubrificadas. A porca de manobra, fixada ao tampão, e a haste são normalmen-
te de bronze. As tensões de manobra são transferidas da haste para os mancais e guias.
Quando a freqüência de operação é pequena, as roscas da haste e da porca tendem a se
fundir uma na outra, e torque adicional requerido para soltá-las poderá, eventualmente,
quebrar a haste no seu ponto mais fraco, no caso, a seção interna da rosca.

As válvulas tipo comporta deslizante são produtos de prateleira padronizados para


cobrir uma ampla faixa de tamanhos e pressões. Devem ser projetados de modo a aten-
der as especificações da versão mais recente da Norma C501 da AWWA (“AWWA Standard
C501”). Esta norma determina um fator de segurança 5, em relação à tração, à compressão
e ao cisalhamento, exigindo também que os materiais atendam aos requisitos da ASTM.

O quadro de guia das válvulas tipo comporta deslizante é fixado através de parafu-
sos de regulagem a peças fixas embutidas previamente no concreto. Esta disposição
facilita a instalação, elimina o empenamento do quadro e permite a remoção da comporta,
sem danificar o concreto. As comportas fixadas ao concreto por meio de chumbadores
empenam facilmente porque a superfície do concreto não pode ser construída tão plana
como as superfícies metálicas usinadas, podendo ocorrer que o vazamento da água entre
o quadro e o concreto provoque erosão do concreto, tornando a instalação ineficiente
como dispositivo de estancamento.

9.2.3 Válvulas de Retenção

Ás válvulas de retenção, apesar de alguns fabricantes afirmarem o contrário, não


eliminam completamente o golpe de aríete. Este fenômeno pode ser atenuado através do
controle de velocidade de fechamento de um determinado tipo de válvula, sob determina-
das condições, podendo-se afirmar que não existe válvula que elimine o golpe de aríete
totalmente. Além disso, uma válvula que funciona bem sob condições específicas de uma
certa instalação poderá não funcionar bem em uma outra condição. Quando se altera a
velocidade da coluna de água que se desloca dentro de uma tubulação, ondas alternadas
de pressão alta e baixa se deslocam ao longo da tubulação, em ambas as direções.
Embora a válvula de retenção possa ajudar a reduzir o efeito do golpe de aríete sobre a
tubulação, também poderá criar, pela sua própria ação, um sistema de ondas de pressão,
que pode ser prejudicial à tubulação. O objetivo principal das válvulas de retenção é evitar
a inversão do fluxo. Todos os tipos de válvulas normalmente utilizadas nos sistemas de
irrigação e nas estações de bombeamento podem ser adaptadas para impedir a inversão
do fluxo, mas, sob condições hidráulicas distintas, um tipo de válvula poderá ser mais
adequado que outros.

Dentre os vários tipos de válvulas de retenção que se encontram no mercado, os


tipos mais comuns são as válvulas de balanço ou portinhola simples e as de portinhola
dupla. As primeiras podem ter articulação simples (simétrica ou assimétrica), carregada
através da ação de um balancim com contra peso, ou através de mola. Com quaisquer
destes dois tipos, a perda de carga tende a aumentar, uma vez que o tampão penetra no
fluxo de água, e o esforço necessário para forçar a abertura da válvula é maior. Se for
selecionada uma válvula maior, com o intuito de se reduzir a perda de carga, a velocidade
será menor e a válvula não se abrirá tanto. Pelo contrário, se for selecionada uma válvula
menor, a fim de se conseguir abrir mais a válvula, a velocidade será maior e a perda de
carga também.

A operação das válvulas de retenção de balanço ou portinhola simples pode ser


amortecida, de maneira que o tampão funcione de encontro a um pistão, num cilindro
cheio de ar ou de óleo, retardando o fechamento do tampão, durante os críticos graus

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finais do seu deslocamento. Desta forma, é possível minimizar ou eliminar completamente


a batida que ocorre quando as válvulas de retenção se fecham.

No caso das válvulas de retenção de portinhola dupla, o tampão da comporta tem


duas partes articuladas no centro da válvula, formando duas aberturas para o escoamento
da água. As duas partes do tampão da válvula são mantidas sob pressão por meio de uma
mola de torção, de modo que se fechem um pouco antes de ocorrer a inversão do fluxo,
o que minimiza a batida quando a válvula se fecha.

As válvulas de retenção de portinhola dupla têm um comprimento de montagem


muito curto, comparado ao comprimento de outros tipos de válvulas de retenção. Con-
seqüentemente, utiliza-se menos material na sua fabricação e seu custo é normalmente
inferior. Podem ser instaladas em tubulações verticais apenas quando o fluxo é ascenden-
te. Nas tubulações horizontais, devem ser instaladas com o pino da articulação na posi-
ção vertical.

Uma desvantagem tanto das válvulas de retenção de balanço ou portinhola quanto


das de portinhola dupla, é a falta de controle em relação ao tempo de fechamento. Em
geral, as bombas de uma estação são ligadas ou desligadas com as válvulas do lado
recalque na posição fechada. Isso minimiza os efeitos do golpe de aríete durante a opera-
ção normal das bombas. Quando ocorre uma falha elétrica enquanto as bombas estão
funcionando, as válvulas do recalque estão abertas e não afetam o fluxo de água. Quando
o fluxo de água para, após a falha elétrica, as válvulas de retenção se fecham para impedir
a inversão do fluxo através das bombas. Isso pode ocorrer em frações de segundos, após
a falha elétrica, ou alguns segundos mais tarde, dependendo da disposição geométrica do
sistema.

Nos casos em que é possível tolerar-se uma certa inversão de fluxo através das
bombas, recomenda-se a utilização de uma válvula-borboleta de operação hidráulica com
fechamento controlado, em lugar de uma válvula de retenção. Após ocorrer a inversão do
fluxo através da bomba, o fechamento da válvula pode ser controlado, de tal forma que o
limite de aumento da pressão fique dentro de valores toleráveis.

Nos casos de bombas em que, durante a partida e parada, as válvulas devam ser
mantidas fechadas, utilizam-se válvulas do tipo globo padronizadas, operadas por diagra-
ma e acionadas por solenóide, com os controles colocados na própria válvula. Nesta
válvula, o disco de bloqueio é mantido aberto pela pressão na linha, dispondo de uma
haste de aço inoxidável, oca, guiada, comandada pelo solenóide. No caso de falha elétri-
ca, a haste desloca o disco de bloqueio para a posição fechada, quase no mesmo instante
em que a coluna de água atinge a velocidade zero, e antes que possa ocorrer inversão de
fluxo. Neste aspecto, este tipo de válvula é uma combinação de válvula de retenção e
válvula de descarga.

9.2.4 Válvulas Tipo Borboleta

As válvulas tipo borboleta normalmente utilizadas possuem diâmetros de 75 até


2.000mm. Dentro desta faixa, as válvulas são de prateleira e podem ser compradas
diretamente, a partir de um catálogo. Possuem a grande vantagem de ter apenas uma
parte móvel. O preço das válvulas-borboleta é competitivo, mesmo se comparado com o
preço dos registros de gaveta de melhor qualidade; além disso, essas válvulas fornecem
uma boa vedação, precisam de pouca manutenção e são muito duráveis.

As válvulas que atendem aos requisitos da norma C504 da AWWA (“AWWA Standard
C504”) funcionam adequadamente sob pressão de 10,5kgf/cm2, pressão máxima dife-
rencial de estado de equilíbrio permanente de 10,5kgf/cm2 e velocidade máxima de 4,8m/
s. É possível obterem-se vários tipos de sede, ajustáveis ou fixas, nas válvulas com taxas

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de vazamento muito baixas. No Brasil, existem válvulas padronizadas para pressões de


até 16kgf/cm2, dos tipos ”wafer”, “lug” ou flangeada, com diâmetros de até 600mm. As
válvulas com diâmetros superiores a 600mm são sempre flangeadas . As válvulas podem
ser fornecidas para atender os requisitos das normas da ISO ou da AWWA. As válvulas
tipo borboleta são utilizadas nas tubulações do sistema irrigação e na estação de
bombeamento, exceto quando as altas velocidades, os diferenciais de pressão, ou as
condições de estrangulamento exigirem o uso de válvulas especializadas.

As válvulas tipo borboleta podem ser acionadas manual ou automaticamente. A


baixa potência exigida no acionamento facilita sua adaptação a motores elétricos ou a
acionamentos pneumáticos ou hidráulicos, dos tipos diafragma ou pistão. A operação
automática pode ocorrer com a válvula totalmente aberta ou totalmente fechada, ou até
em qualquer posição intermediária. O corpo da válvula pode ser de ferro fundido ou dúctil;
os eixos, são de aço inoxidável, liga níquel-cobre, ou aço-carbono com mancais de aço
inoxidável. Os tampões podem ser de ferro fundido, aço fundido, bronze, ferro dúctil, aço
inoxidável, ou podem ser de fabricação especial de aço.

As válvulas tipo borboleta não são equilibradas, embora uma seção transversal da
válvula possa dar essa impressão. O uso da válvula tipo borboleta exige uma análise
cuidadosa por parte do projetista. Embora sejam freqüentemente utilizadas como válvulas
de descarga livre, existem, no mercado, outros tipos de válvulas mais adequadas para
essa finalidade.

A grande vantagem das válvulas tipo borboleta é seu comprimento curto de monta-
gem face a face. A esse dado, acrescenta-se o fato de ser menos onerosa (para diâmetros
iguais ou superiores a 750mm) que qualquer outro tipo de válvula mais adequada para o
serviço de irrigação. Por este motivo, justifica-se o seu amplo emprego nas grandes tubu-
lações de distribuição.

9.2.5 Válvulas Tipo Globo

As válvulas tipo globo são encontradas comercialmente com diâmetros de até


900mm.

Na sua forma mais simplificada, a válvula tipo globo ou de ângulo possui um tam-
pão que é ajustado por uma haste com rôsca, contra sede circular. O conjunto tampão e
haste com rôsca é a única parte móvel nas válvulas pequenas, mas, no caso de algumas
válvulas maiores, o tampão também pode pivotar na extremidade da haste. Como dispo-
sitivo de estrangulamento, tais válvulas são melhores do que as demais, em termos de
economia, versatilidade, simplicidade, rusticidade e durabilidade.

As válvulas tipo globo manuais são menos dispendiosas do que as válvulas de


gaveta de mesmo diâmetro, e são fáceis de reparar na própria linha. Removendo-se o
castelo, é possível retirarem-se a haste e o tampão, bem como o anel da sede do corpo da
válvula; a seguir, desparafusa-se o anel para reparo ou substituição. Uma vez que não
existem partes deslizantes, com exceção da haste com rôsca, haverá desgaste apenas no
disco e no anel da sede, embora tal desgaste ocorra normalmente após muitos anos de
operação. As válvulas tipo globo operadas hidraulicamente, seja através de pistão, seja
através de diafragma, são tão duráveis quanto as manuais. Embora o mecanismo motriz
possa requerer substituição ocasional do diafragma, do couro da sede, ou do anel de
borracha “O”, as partes metálicas internas da própria válvula são facilmente acessíveis e
podem funcionar durante longos períodos, sem qualquer reparo. Existem válvulas tipo
globo funcionando como reguladores de pressão com 30 anos de serviço em perfeitas
condições de funcionamento. As válvulas tipo globo operadas hidraulicamente requerem
pouco consumo de energia, pois a pressão dentro da tubulação, que atua no lado superior
e aliviada no lado inferior do diafragma ou do pistão, é suficiente para abrir ou fechar a
válvula, numa velocidade controlada. A maioria dos fabricantes adapta as válvulas tipo

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globo para regularizar pressão, controlar nível de água, de alívio, de descarga das bombas
e de retenção de fechamento lento, apenas variando os mecanismos de controle e do
diafragma.

Uma versão comum da válvula globo de múltipla função é a válvula controlada por
piloto, redutora e reguladora de pressão. Usando-se apenas a pressão na tubulação e os
controles do piloto, a função de redução de pressão diminui a pressão à montante, de
forma a manter uma pressão prefixada constante, à jusante, independentemente das
flutuações na pressão a montante, ou das variações de demanda a jusante. A função
reguladora de pressão mantém uma pressão prefixada mínima à montante da válvula,
mediante o fechamento da válvula quando a pressão à montante cai abaixo da mínima
desejada. Podem-se incluir componentes de hidrometria na válvula, os quais indicam,
totalizam e interrompem a descarga, conforme discutido no subitem 9.6.2.9.1.

Uma desvantagem das válvulas tipo globo é a perda de carga provocada pela mu-
dança de direção do fluxo que o líquido sofre ao passar pela válvula. No caso dos regula-
dores de pressão, entretanto, este fato se torna uma vantagem, pois, de todas as formas,
a energia precisa ser dissipada.

Para qualquer válvula tipo globo, é necessário verificar se ocorre cavitação quando
a perda de carga é demasiadamente grande, para o diâmetro de válvula proposto. Uma
vez estabelecida a pressão na entrada da válvula, a pressão na saída pode ser determina-
da utilizando-se os dados de catálogo dos fabricantes, que indicam a perda de carga na
válvula, para a vazão projetada. A seguir, o índice de cavitação poderá ser calculado por
meio da fórmula:

K = (P2 – PV) / (P1 – P2),

onde:

K = índice de Cavitação, não-dimensional


P1 = pressão na entrada da válvula
P2 = pressão na saída da válvula
PV = pressão de vapor de água em relação à pressão atmosférica, ou
seja, pressão de vapor de saturação menos a pressão atmosféri-
ca.

As unidades dos parâmetros dimensionais – P1, P2 e PV – deverão ser consisten-


tes.

Os valores de K deverão ser superiores a 0,5. A operação da válvula, com as


pressões de entrada e de saída tais que o índice K tenha valor inferior a 0,5, pode causar
cavitação e danificar a válvula.

9.2.6 Válvulas Tipo Gaveta

As válvulas tipo gaveta quase sempre funcionam completamente abertas, pois a


maioria serve de válvula de isolamento dos sistemas de distribuição, ou como proteção
das válvulas de operação. Algumas são empregadas como válvulas de isolamento entre
zonas de pressão, permanecendo fechadas, exceto para inspeção, ou numa eventual
emergência.

As válvulas tipo gaveta podem ser de cunha sólida ou de sede paralela e tampão
duplo. As hastes podem ser ascendentes ou não ascendentes, mas só estas últimas são
adequadas quando é preciso instalar a válvula enterrada no solo. Embora este tipo de
válvula tenha evoluído incorporando-se inovações surgidas da experiência e da vivência

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dos técnicos, e sejam atualmente válvulas práticas para os sistemas de irrigação, ambos
os tipos (de cunha sólida e de tampão duplo) apresentam graves defeitos. Por serem
muito utilizadas nos projetos de irrigação, com freqüência são empregadas como válvulas
de controle, quando seria mais apropriado instalarem-se outros tipos de válvulas.

O estrangulamento é a operação mais severa e que mais prejudica a válvula de


gaveta. A válvula tipo tampão duplo é a menos adequada e, por isso, só deveria ser
empregada como válvula de isolamento. Quando a válvula de gaveta for utilizada em
operações de estrangulamento, recomenda-se a instalação das de cunha sólida, com
guias bem ajustadas.

As válvulas de gaveta podem ser de acionamento mecânico, adotando os mesmos


métodos utilizados em outros tipos de válvula, mas os requisitos motrizes das válvulas
de gaveta são muito maiores, devido às partes deslizantes. Os atuadores motrizes empre-
gados com mais freqüência são os cilindros hidráulicos e os motores elétricos. Algumas
vezes utiliza-se acionamento pneumático.

No caso das válvulas de isolamento nas estações de bombeamento ou em outras


instalações em que o registro de gaveta está situado a céu aberto ou em um poço, e
havendo espaço suficiente para acomodar o comprimento adicional, utilizam-se válvulas
de haste ascendentes.

Se a válvula de gaveta permanecer aberta, por um longo período, num sistema de


irrigação que utilize água que provoca depósitos de calcário ou outro material sólido, a
válvula não fechará completamente e, se se empregar força demasiada para fechá-la, a
haste poderá romper-se. Além disso, se esta válvula for instalada com tampão numa
posição fechada, quando a temperatura estiver alta, e for deixada fechada após introdu-
zir-se água fria no sistema, poderá ser difícil abri-la. A válvula tende a emperrar na posição
fechada, mesmo quando não houver qualquer mudança de temperatura.

As válvulas de cunha sólida são recomendadas para múltiplas aplicações, já que


podem ser instaladas e operadas em qualquer posição – horizontal, vertical, de ponta-
cabeça, ou com o tampão num plano horizontal.

As válvulas tipo gaveta são as menos duráveis e as mais difíceis de operar dentre
todos os tipos de válvulas utilizados nos sistemas de irrigação. Quando o serviço exige
diâmetros superiores a 600mm e o objetivo é isolar ou operar, recomenda-se o uso de
algum outro tipo de válvula no lugar da válvula de gaveta.

9.2.7 Válvulas Antigolpe de Aríete de Abertura

Estas válvulas visam a prevenir pressões hidráulicas transientes excessivas, no


caso de falha de energia elétrica, quando utilizadas em conjunto com um sistema de
bombeamento. Em geral, uma falha de energia elétrica no conjunto moto-bomba resulta,
inicialmente, numa queda da pressão hidráulica, seguida por um aumento. Estas válvulas
são ajustadas para começar a abrir numa onda de pressão baixa. Esta onda é criada
quando a bomba para e a coluna de fluido continua a deslocar-se para longe da bomba e
da válvula.

Com a abertura da válvula na onda de pressão baixa, a onda de pressão alta de


retorno é desviada do sistema. De fato, a válvula antecipa a onda de pressão alta de
retorno e está aberta quando esta ocorre. Conseqüentemente, esta onda alta não chega a
ocorrer. Após esta onda ter se dissipado, a válvula fecha lentamente, sem gerar qualquer
outro aumento de pressão.

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A válvula funciona bem em muitos casos, mas tem suas desvantagens, que preci-
sam ser consideradas na elaboração do projeto do sistema. Em muitos casos, a rápida
abertura da válvula agrava a queda de pressão e pode resultar em pressões negativas, em
algum ponto da tubulação de recalque, o que precisa ser compensado acrescentando-se
um tanque de compensação unidirecional, no ponto crítico.

Estas válvulas são de operação hidráulica, acionadas por diafragma, tipo globo ou
de ângulo, com uma linha auxiliar de leitura por tubo piloto para registro de pressão alta e
baixa. A haste de válvulas de boa qualidade é guiada em ambas as extremidades por
mancal e contendo um tampão removível, fixado nos 3-1/2 lados, visando impedir a
perda do disco, quando ocorrerem fluxos de alta velocidade.

Considerando-se a enorme variedade de condições que podem existir nos siste-


mas, o dimensionamento das válvulas antigolpe aríete de abertura antecipada é de crucial
importância. Uma válvula de tamanho inadequado não eliminará eficazmente o golpe de
aríete.

Estas válvulas são encontradas em tamanhos que variam de 65mm a 400mm, e a


pressão varia de projeto entre 12kgf/cm2 e 28kgf/cm2.

9.2.8 Ventosas

9.2.8.1 Aspectos Gerais

A solubilidade do ar na água é função da pressão e temperatura do fluído na tubu-


lação. A solubilidade do ar na água será maior com a pressão mais alta, e com a tempe-
ratura mais baixa. A água num sistema de tubulações sofre variações mínimas de tempe-
ratura, e o efeito de tais variações não será levado em consideração.

Após a eliminação do ar, uma tubulação de 2km de comprimento de qualquer diâ-


metro ainda conterá ar dissolvido na água, suficiente para encher mais de 30m de tubo. A
água em movimento está sujeita a variação de pressão, resultantes das mudanças de cota
do terreno, na qual a tubulação se assenta. O ar estará sempre se separando da água nos
pontos mais altos da tubulação, isto porque estes pontos estão mais próximos do gradi-
ente hidráulico e, portanto, a pressão mais baixa.

A presença de ar nas tubulações é freqüentemente negligenciada. Bolsões de ar


numa tubulação podem reduzir sensivelmente sua capacidade de vazão. A presença de ar
pode estrangular por completo o fluxo da água, mesmo quando a pressão de bombeamento
é mais do que adequada para garantir esse fluxo. Muitas bombas operam com altura
manométrica maior, porque provavelmente o ar, em algum local, está obstruindo o esco-
amento.

Com freqüência, os engenheiros de projeto concluem que, uma vez que não há
pontos evidentes de entrada de ar no sistema, a tubulação não contém ar. Mais tarde,
quando o desempenho do sistema não atende as necessidades do projeto, culpam-se
outros fatores, sem se considerar a necessidade de se instalarem ventosas. Normalmen-
te, o desempenho da bomba é coloca em dúvida, ou então se reexamina o coeficiente de
fricção da tubulação.

9.2.8.2 Entrada de Ar

O problema de ar numa tubulação deveria ser resolvido impedindo-se a entrada de


ar nos tubos. Entretanto, a total eliminação do ar das tubulações é impossível. Contudo,
entender como o ar entra na tubulação poderá ajudar a resolver o problema. O ar pode
entrar ou estar presente na tubulação por quaisquer das seguintes razões:

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„ O ar estava na tubulação antes do enchimento da linha e não foi totalmente esgotado;

„ As bombas na partida adicionam significativas quantidades de ar nos tubos, se não


for tomada qualquer medida para esgotar o ar antes da abertura da válvula de
retenção ou de outra válvula instalada na tubulação de recalque;

„ O vórtice na sucção da bomba pode sugar o ar na captação, levando, para dentro


da captação da bomba, quantidades equivalentes a 5 a 10% da vazão. Além disso,
para agravar os problemas da tubulação, o ar prejudica a bomba, pois pode produzir
vibração, corrosão e perda da eficiência;

„ O ar pode ser conduzido para o interior da tubulação através das ventosas, nos
trechos onde eventualmente possa ocorrer pressão negativa, como nos pontos
acima do gradiente hidráulico;

„ O ar pode entrar pelas frestas das carcaças das bombas;

„ Numa tubulação parcialmente cheia, o escoamento tipo cascata pode reter uma
grande quantidade de ar, resultando na formação de uma água branca. A turbulên-
cia, associada ao escoamento em cascata, causa uma mistura não uniforme de ar e
água, que é muito difícil de ser ventilada;

„ O ressalto hidráulico resultante do escoamento através de uma comporta parcial-


mente aberta pode reter o ar;

„ O ar em solução pode ser liberado nos pontos de pressão reduzida da tubulação;

„ Durante o esvaziamento da tubulação, é necessário deixar entrar o ar. Nos tubos de


grande diâmetro e parede fina, é necessário deixar fazer entrar o ar, a fim de se
evitar o colapso do tubo. Em geral, esse colapso não é um problema para tubos de
diâmetros padronizados, já que a maioria dos tubos suporta pressões negativas,
além da pressão externa, no caso de tubo enterrado.

O ar tende a localizar-se nos pontos mais altos da tubulação, onde se localizam os


bolsões de ar que tendem a aumentar de tamanho. Se a velocidade do fluido for alta, o ar
pode ser carregado pelo fluxo, sendo expurgado automaticamente da linha. Entretanto, a
maioria das tubulações tem um regime de vazão variável, não sendo possível contar-se
com o auto-expurgo.

Observando-se a passagem de água e de ar retido através de tubulações transparen-


tes, verifica-se que as bolhas encontram-se dispersas por todo o fluido. Num determinado
ponto, os vetores do empuxo e de velocidade se equivalem, e as bolhas ficam estacioná-
rias. O ar carregado pelo fluxo de regime turbulento não fica na parte superior dos tubos,
nem entra facilmente na abertura deixada para a instalação da ventosa; por este motivo,
nos sistemas ocasionalmente afetados pela formação de água branca ou de água saturada
de ar, a eficiência das ventosas poderá ser baixa. Nesses casos, será necessário instalar
outros meios de expurgo de ar do sistema, como os dispositivos de controle de pressão e
os reservatórios de água parada, a fim de permitir que o ar escape naturalmente.

9.2.8.3 Tipos de Ventosa

Embora existam inúmeras variações de tipos de ventosas, são dois os tipos bási-
cos: as ventosas de simples efeito e as de duplo efeito.

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9.2.8.3.1 Ventosas de Simples Efeito de Pequeno Orifício

O objetivo das ventosas de simples efeito de pequeno orifício é permitir o expurgo


do ar contido num tubo sob pressão. A pressão de trabalho da tubulação é determinada a
partir do seu perfil hidráulico e da linha piezométrica, e esta pressão, por sua vez, deter-
minará o diâmetro do orifício da ventosa.

O diâmetro do orifício da ventosa é pequeno para permitir que a força de abertura


da bóia ou do dispositivo de fechamento exceda a força criada pela pressão que está
agindo na área do orifício. Se o diâmetro do orifício fosse demasiadamente grande, a
pressão interna poderia manter a ventosa fechada.

O diâmetro das ventosas não tem qualquer relação com o diâmetro do orifício. Por
exemplo, tanto as ventosas de 25mm de diâmetro, quanto as de 50mm, podem ter
orifícios de 4,7mm de diâmetro. O tamanho da ventosa indica apenas o diâmetro da
tomada dos tubos.

Em geral, o diâmetro dos orifícios varia entre 1,6 e 9,5mm, dependendo do projeto
da ventosa e da pressão operacional. Estas ventosas podem ser fornecidas para pressões
superiores a 6.900 kPa.

9.2.8.3.2 Ventosas de Duplo Efeito de Grande Orifício

O objetivo das ventosas de duplo efeito de grande orifício é permitir o rápido expur-
go de ar durante o enchimento inicial da linha e possibilitar a entrada de uma quantidade
suficiente de ar na tubulação, durante seu esvaziamento. Neste último caso, impedem a
formação de vácuo. As ventosas de duplo efeito não permitem a saída do ar, na pressão
operacional da tubulação, depois de se fecharem.

Devido ao diâmetro do orifício, uma pressão relativamente baixa é suficiente para


suportar a bóia interna ou o dispositivo de fechamento. Após fechada, a ventosa só se
abre novamente quando a pressão do sistema cai para um valor próximo ao da pressão
atmosférica, e a bóia não está mais flutuando.

A abordagem tradicional no dimensionamento das ventosas de duplo efeito é sele-


cionar ventosas de diâmetro adequado para expurgar o maior fluxo de ar dentre as condi-
ções relacionadas a seguir:

„ A vazão máxima de bombeamento que ocorre no local da ventosa, quando a tubu-


lação está enchendo;

„ A vazão da água que está sendo drenada por gravidade no trecho, de cada lado da
ventosa, que tiver o gradiente mais acentuado.

Em geral, o sistema é projetado com ventosas colocadas em conjuntos – mínimo de


duas e máximo de quatro. A capacidade de descarga é dividida entre as ventosas, sendo
que uma delas fica como sobressalente e não é considerada para fins de cálculo da
capacidade de descarga.

Uma desvantagem das ventosas de duplo efeito de grande orifício é que podem se
fechar caso a tubulação esteja enchendo muito rapidamente. Durante os períodos de
vazão máxima, a bóia ou o dispositivo de fechamento pode ficar preso no fluxo de ar que
escapa e travar-se na posição fechada, ocasionando, algumas vezes, o colapso da bóia
oca. A pressão requerida para expurgar o ar, a uma velocidade sônica, através de uma
abertura, é de apenas 90 kPa. Para minimizar este problema, o diâmetro das válvulas

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deverá ser adequado para permitir a vazão requerida, com uma pressão diferencial, atra-
vés do orifício, da ordem de 7 a 14kPa.

Existe atualmente no mercado uma ventosa de duplo efeito de grande orifício,


especialmente projetada para não se fechar enquanto expurga o ar, a qualquer pressão ou
vazão. Esta ventosa foi projetada de acordo com o princípio cinético pelo qual as forças
aerodinâmicas do ar que está escapando são utilizadas para manter a ventosa na posição
de abertura plena, mesmo à velocidade sônica.

9.2.8.3.3 Ventosas Duplas ou de Combinação

As ventosas duplas ou de combinação foram projetadas para desempenhar as


funções das ventosas de simples efeito e de duplo efeito. Na realidade, trata-se desses
dois tipos de ventosa num só corpo. As descrições anteriores, relativas a esses dois tipos
de ventosa, também se aplicam às ventosas duplas ou de combinação. Estas unidades
são instaladas onde há necessidade de simples efeito e de duplo efeito.

9.2.8.4 Locais de Instalação

As ventosas são instaladas em diversos locais do sistema de tubulação. Os locais


apropriados de cada tipo de ventosa são discutidos no Capítulo 7 deste MANUAL. Além
disso, é necessário instalar ventosas no lado de recalque das bombas que têm altura de
sucção negativa. Estas ventosas precisam estar o mais perto possível da válvula de reten-
ção da bomba. Todo o ar deverá ser esgotado do invólucro da bomba, à medida que a
bomba atingir a rotação nominal.

Com freqüência, provoca-se um retardamento na abertura da válvula do recalque,


até que todo o ar tenha sido esgotado. Em geral, as ventosas de duplo efeito de pequeno
orifício são adequadas, embora cada instalação tenha seus próprios requisitos. Um orifí-
cio demasiadamente grande poderá provocar uma pressão transiente alta. á medida que a
coluna de água subir dentro do invólucro da bomba, um grande volume de ar passará pelo
orifício da ventosa, mas a água não poderá passar. Isso causará uma mudança abrupta na
velocidade da coluna de água, e o aumento da pressão transiente resultante poderá dani-
ficar a tubulação ou os flanges da bomba. Quando ocorrerem pressões transientes na
partida da bomba, o problema poderá ser minimizado diminuindo-se a vazão de esgota-
mento do ar.

As ventosas de simples efeito também devem ser instaladas nos pontos altos de
válvulas de grande diâmetro, dos cilindros de manobras e pontos altos dos encanamen-
tos, assim como à montante dos medidores de vazão e, ocasionalmente, na extremidade
a jusante do barrilete da bomba.

Para melhorar a saída do ar, algumas vezes instala-se a ventosa com várias conecções
para a tubulação, como se fosse um barrilete. Outro aprimoramento é a instalação de
ventosa na tampa de um poço de visita, ou em bolsão existente na geratriz superior da
tubulação, o que provoca o agrupamento mais eficiente das bolhas.

9.2.8.5 Proteção e Manutenção

Após a instalação das ventosas, é necessário protegê-las contra intempéries e mantê-


las operacionais.

A proteção das ventosas poderá envolver, eventualmente, a sua instalação dentro


de uma caixa própria. É importante que a caixa esteja devidamente ventilada e drenada.
Uma caixa inadequadamente ventilada pode ficar pressurizada durante o esgotamento do
ar. Durante certas condições de fluxo, a caixa poderá estar sujeita a pressões negativas.

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Uma drenagem insuficiente poderá ocasionar a inundação da caixa. Os respiros externos


à caixa de ventosas deverão estar protegidos por telas, a fim de evitar a entrada de
pássaros e de outros animais.

Todas as ventosas deverão ser consideradas equipamentos automáticos e serem


inspecionadas a intervalos regulares. Recomenda-se que todas as instalações sejam equi-
padas com uma válvula de isolamento entre a ventosa e a tubulação, a fim de facilitar sua
inspeção e conservação.

9.2.9 Válvulas de Segurança

A pressão nas tubulações não deverá exceder aquela projetada, de modo a garan-
tir a operação segura do sistema e a manter a integridade dos diversos componentes.
Para que a pressão projetada seja automaticamente assegurada, o projeto deve incluir a
instalação de válvulas de segurança. Estas válvulas são colocadas em operação através
da ação de uma alavanca ou um parafuso de regulagem.

Quando a pressão aumenta acima de um determinado ponto, a válvula se abre e


permite a saída do fluxo em direção a um sistema de armazenamento, ou então o fluxo é
recirculado para o lado de abastecimento da bomba. As válvulas de segurança devem
ser confiáveis e, em geral, não precisam de manutenção, se adequadamente selecionadas
e instaladas.

Para assegurar que a válvula de segurança tenha a capacidade apropriada, é ne-


cessário verificar a pressão de entrada da válvula (a pressão prefixada discutida a se-
guir). Depois, o engenheiro de projetos se reportará às tabelas ou aos nomogramas publi-
cados pelo fabricante, para definir a capacidade com abertura plena da válvula, àquela
pressão de entrada.

Em geral, os dados do fabricante mostrarão a capacidade da válvula em relação à


pressão prefixada. A pressão prefixada ou o ponto de acerto da válvula é ajustável e
equivale à pressão em que a válvula se abrirá plenamente. Em geral, esse ponto se encon-
tra ligeiramente abaixo da pressão máxima permissível na tubulação. Deverá ser feito um
estudo hidráulico preciso, a fim de se determinar a vazão mínima que necessita ser
descarregada pela válvula, e se dimensionar a válvula para esta vazão, ou outra vazão
superior. Se a capacidade for inadequada, a pressão aumentará na tubulação, e a pressão
máxima permissível poderá ser ultrapassada.

Se a válvula de segurança não descarregar para a atmosfera, as perdas por atrito


nas linhas de sangramento à jusante poderão desenvolver uma contrapressão na tubula-
ção à jusante da válvula. Esta contrapressão também deverá ser considerada quando
forem determinadas a queda de pressão na válvula de segurança e a correspondente
capacidade de descarga da válvula.

As válvulas de segurança controlam com eficiência as sobrepressões de ação lenta,


como aquelas associadas à operação de chaminés de equilíbrio e câmaras de ar; entretan-
to, não controlam as pressões transientes de golpe de aríete de deslocamento rápido,
causadas por mudanças instantâneas na velocidade da água, que podem ocorrer quando
as válvulas de retenção se fecham repentinamente. As pressões transientes de golpe de
aríete deslocam-se à velocidade do som, pela tubulação, e ultrapassam as válvulas de
segurança, antes que as válvulas consigam funcionar.

Quando as válvulas de segurança são instaladas para controlar a sobrepressão, é


conveniente instalar duas ou mais válvulas, para fornecer segurança total, no caso de
uma das válvulas falhar.

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O mecanismo básico utilizado nas válvulas de segurança é um disco tampão, em


geral mantido na posição fechada contra uma sede. Muitas vezes, a sede é montada no
corpo da válvula e pode ser removida para reparo ou substituição. Normalmente, o disco
é fabricado em material elastômero, garantindo um fechamento estanque, com menor
força de assentamento.

Existem no mercado válvulas de segurança com mola, de 100mm de diâmetro, ou


menos. As válvulas de controle por piloto podem ser encontradas a partir de 38mm até
400mm de diâmetro.

No caso da válvula com mola, a pressão prefixada é estabelecida comprimindo-se a


mola sob a ação de uma pré-carga, de maneira que a mola mantenha o disco tampão
firmemente contra a sede. A pressão prefixada é determinada com base na quantidade de
carga pré-ajustada da mola que aplica força ao disco tampão. Esta força da mola deverá
ser ultrapassada pela força hidráulica que incide na área exposta à pressão. Quando a
sobrepressão é aliviada, a mola comprime novamente o disco contra a sede. A precisão
do equipamento é função da qualidade da mola.

A válvula de controle por piloto é semelhante à válvula reguladora de pressão. A


válvula com piloto utiliza a carga de pressão sobre o diafragma para suspender o disco
tampão da válvula rapidamente, permitindo o alívio da pressão da tubulação, com relativa
velocidade, até o nível prefixado desejado. Entretanto, a válvula de segurança acionada
por piloto também não alivia as pressões transientes do golpe de aríete.

As válvulas com mola são menos sensíveis a falhas causadas por água suja do que
as válvulas com piloto, permitindo uma redução nos trabalhos de manutenção. Em geral,
utilizam-se conexões rosqueadas para as válvulas de diâmetro igual ou inferior a 50mm.
As conexões flangeadas são utilizadas para as válvulas de diâmetro igual ou superior a
64mm. As válvulas de diâmetro menor e de pressão reduzida podem ser encontradas com
corpo e sede de bronze. As válvulas de diâmetros maiores (>50mm) e pressões mais
altas (>10kgf/cm2) devem ser manufaturadas com corpos de ferro fundido e sede de aço
inoxidável.

9.3 Equipamentos Hidromecânicos

9.3.1 Comportas Ensecadeiras

As comportas ensecadeiras são formadas por painéis que, empilhados, fecham,


temporariamente ou numa emergência, um determinado tipo de estrutura. Os painéis
podem ser fabricados de madeira, de aço, de concreto armado, ou uma combinação
destes materiais, em função do vão e da carga hidráulica que atua sobre os mesmos.

A maioria das aberturas a serem fechadas são horizontais e têm as ranhuras de


operação das comportas, verticais. Em geral, a colocação das comportas ensecadeiras
implica no uso de um guindaste e de uma viga de içamento. As vigas de içamento são
equipadas com um dispositivo de engate, com cabo de sustentação que permite a cone-
xão e a desconexão dos painéis de comporta ensecadeira sob a água. Existem dispositi-
vos de engate automático, tipo viga pescadora, mas, em geral, prefere-se o uso de cabo
de sustentação. Após a instalação das comportas ensecadeiras, a viga de içamento é
elevada sobre a superfície da água, de modo a evitar que os equipamentos enferrugem.

Se as comportas ensecadeiras forem de madeira, será preciso estabelecer as di-


mensões das ranhuras na estrutura de concreto, com base no tamanho das toras. Em
geral, recomenda-se não utilizar toras com mais de 360mm de espessura, não devendo as
tensões ultrapassar 70kgf/cm2, para a flexão; 7kgf/cm2, para o cisalhamento; e 21kgf/
cm2, para a tensão perpendicular ao veio da madeira. Não é essencial a instalação de

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sedes ou de guias de aço embutidas, mas todas as juntas longitudinais entre as toras
deverão ser chanfradas e calafetadas, ou cobertas por uma lâmina de borracha que garan-
ta perfeita vedação. Para compensar o efeito de flutuação das toras, utilizam-se lastros de
concreto, ou então uma boa vedação, através da fixação das toras por meio de tirantes,
formando-se um anteparo único; neste caso, o conjunto de toras é travado através de
cunhas, ou ancorado por tirantes adicionais.

As comportas ensecadeiras de aço são utilizadas quando a pressão hidráulica ou o


vão a ser protegido é excessivo, impossibilitando o uso de toras de madeira. Todas as
comportas ensecadeiras devem ter superfícies de assentamento sobre os lados verticais
e na soleira. Ao longo destas superfícies, assentam-se fitas de vedação contínua. Se o
painel superior tiver um apoio frontal, a fita de vedação também deverá cobrir esta su-
perfície. Utiliza-se uma viga de aço horizontal, ou mais, por painel, dependendo do peso
que possa ser manuseado e dos fatores econômicos envolvidos na mudança dos tama-
nhos das vigas, à medida que a carga hidráulica muda.
Em geral, as comportas ensecadeiras de aço são utilizadas com vedações de borra-
cha, formato “J”, ou nota musical.

As sedes das vedações embutidas no concreto são fabricadas com uma superfície
de contato resistente à corrosão, de aço inoxidável 18-8, por exemplo, onde as compor-
tas são apoiadas e vedadas. É importante que a superfície seja resistente à corrosão,
pois, em geral, encontra-se submersa e pouco acessível à manutenção.

É conveniente que haja guindaste ou outro equipamento de içamento para a colo-


cação e a remoção dos painéis. Entretanto, devido ao seu uso pouco freqüente, poderá
ser antieconômica a instalação do equipamento de içamento em caráter permanente. É
importante, contudo, que sejam desenvolvidos estudos detalhados, durante o projeto
básico, de modo a tornar viável a utilização de equipamentos temporários, do tipo pórtico
de obra, ou de um guindaste sobre caminhão, e verificar se o seu emprego é, de fato, o
mais econômico. A utilização, apenas ocasional, de comportas ensecadeiras deve ser
negligenciada neste aspecto. Um projeto adequado com instalações que facilitem o ma-
nuseio das comportas são fundamentais para a manutenção adequada e econômica da
estrutura.

9.3.2 Grades

9.3.2.1 Descrição e Função

As grades são equipamentos constituídos de uma série de barras dispostas em


paralelo, utilizadas para proteger os equipamentos instalados à jusante, evitando a entra-
da de detritos grandes ou perigosos, e/ou como dispositivo de segurança para nadadores
ou barcos desavisados. As grades são colocadas na cabeceira dos cursos d’água ou dos
condutos, onde for necessária a proteção dos equipamentos.

As grades podem também ser instaladas, em alguns casos, nas captações dos
reservatórios profundos, onde os detritos normalmente flutuantes não constituem proble-
mas. Nestes casos, as grades protegem mergulhadores que inspecionam estas capta-
ções. No caso de outras estruturas (como derivações, sifões, sangradouros, ou cabecei-
ras), a instalação de grades, por medida de segurança, deverá ser analisada caso a caso,
devendo ser considerado o perigo potencial do acesso à estrutura pelo público.

Os detalhes construtivos das grades variam de acordo com a estrutura, sua confi-
guração, sua acessibilidade para remoção, bem como com a profundidade da água. As
grades são classificadas em três grupos, dependendo do projeto e dos métodos de insta-
lação: com apoio na extremidade, com apoio lateral e integrais.

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As grades com apoio na extremidade são as mais simples e, em geral, as menos


dispendiosas dos três tipos. As barras individualmente se apoiam na estrutura na tomada
d’água, apoiadas em cima e em baixo. Esse tipo de grade é comumente utilizado nas
cabeceiras dos canais e nos locais onde é possível estender uma seção inteira de grade de
cima para baixo da área a ser protegida. Por ter apoio na extremidade, esse tipo de grade
pode ser instalado em seções individuais, lado a lado, cobrindo a área desejada. É ideal
onde há pequena altura hidráulica e uma grande área a ser protegida. Em geral, tais
grades são instaladas na posição inclinada; entretanto, podem ser utilizadas na posição
vertical, ou quase vertical, se forem fixadas com chumbadores de expansão ou braçadei-
ras. Quando as barras da grade são excessivamente longas, poderá ser vantajoso, do
ponto de vista econômico, instalar uma viga de sustentação perpendicular à grade, a fim
de reduzir seu vão. A viga de sustentação, fixada à estrutura de concreto, permite a
instalação de barras de seção menores, além de prover uma integridade estrutural.

As grades com apoio lateral, como denominado, são sustentadas pela estrutura de
concreto lateralmente. As barras das grades, instaladas de cima para baixo da estrutura,
são sustentadas por barras ou vigas horizontais que conduzem as cargas para cada lado
da estrutura de tomada d’água. As grades são sustentadas ou fixadas através de guias ou
ranhuras na estrutura de concreto. Em geral, são instaladas na posição vertical, embora
possam ser utilizadas na posição inclinada e, algumas vezes, na posição horizontal. São
versáteis podendo ser, empregadas a grandes profundidades ou com pequena altura
hidráulica. Algumas vezes, as grades com apoio lateral são substituídas por grades com
apoio na extremidade, quando a estrutura de concreto não foi prevista para suportar as
cargas envolvidas. O principal fator limitante na elaboração do projeto de grade com
apoio lateral é o vão. As grades podem ser formadas por painéis empilhados, até obter-
se a altura desejada.

As grades integrais são constituídas de vários painéis, que, por sua vez, formados
por barras com vigas ou elementos de apoio lateral. Os painéis são conectados soldando-
se ou parafusando-se os elementos de apoio uns aos outros. Os elementos de apoio
formam um quadro rígido com a finalidade de conduzir a carga para a estrutura de concre-
to. As grades integrais simplificam a estrutura de concreto, eliminando alguns dos apoios
que, de outra forma, seriam necessários. Em geral, são utilizadas a grandes profundida-
des, como as estruturas com múltiplas tomadas em vários níveis num determinado reser-
vatório, e nunca são substituídas.

9.3.2.2 Cargas de Projeto

O critério de projeto das grades considera que, se a grade for totalmente obstruída,
deverá vergar-se, ceder ou, de alguma forma, falhar, antes que a estrutura de concreto
falhe. É desejado que a estrutura de concreto seja projetada para sustentar a carga hidráu-
lica máxima, admitindo a grade totalmente obstruída.

9.3.2.3 Tensões Admissíveis e Critérios de Dimensionamento

Em geral, as grades são fabricadas de aço estrutural ASTM A36, que possui uma
tensão de escoamento de 2.530kgf/cm2.

A altura da seção das barras das grades não deverá exceder mais 12 vezes sua
espessura, ou menos de 5cm. O carregamento deverá incluir o peso da grade. A flecha
das barras não é fator primordial na elaboração do projeto. Os apoios laterais deverão ser
espaçados de tal modo que o comprimento não sustentado da barra da grade não exceda
96 vezes sua espessura.

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O espaçamento entre barras varia normalmente de 7 a 14cm. Muitas vezes, o


espaçamento entre barras é determinado pelas tensões que ocorrem na fabricação ou no
transporte e/ou na instalação. As vigas de apoio na extremidade são fixadas permanente-
mente à estrutura de concreto e devem ser projetadas para resistir ao carregamento
máximo com a grade totalmente obstruída.

A fabricação das grades deverá atende às recomendações mencionadas no docu-


mento “Specifications for the Design, Fabrication and Erection of Strutural Steel for
Buildings” (Especificações para o Projeto, a Fabricação e a Montagem de Estruturas de
Aço para Edifícios), da AISC.

9.3.2.4 Materiais e Revestimentos

O aço ASTM A36 foi o material adaptado nos últimos casos na fabricação de todas
as grades, pois é facilmente encontrado, além de ser econômico. Entretanto, sob condições
particulares, é possível adotarem-se outros materiais, como o ferro fundido ou o aço inoxi-
dável

Em geral, as grades são protegidas com pintura a base de resina de epóxi ou com
epóxi coaltar.

9.3.2.5 Considerações na Elaboração do Projeto

A maioria das estruturas de grade é dimensionada para uma velocidade máxima


de aproximação de 0,6m/s, para a vazão máxima. Uma baixa velocidade de aproximação
reduz o volume de detritos que se junta de encontro às grades, minimiza a possibilidade
de vibração da grade e fornece maior segurança para aqueles que estão nadando ou
andando de barco.

As barras laterais podem ser rebaixadas no mínimo 20mm, para permitir a limpeza
das grades com ancinhos. As grades de apoio lateral inclinadas, dispostas em fileiras,
devem ser mantidas alinhadas, o que pode ser conseguido por meio de pinos de encaixe
entre os painéis.

Em geral, as grades são construídas com barras de seção retangular. As barras


redondas ou aerodinâmicas, que reduzem a perda de carga, não são muito utilizadas,
devido ao custo adicional envolvido. Além disso, são mais sujeitas a vibração. A melhor
maneira de diminuir a perda de carga é minimizar a velocidade de aproximação.

A corrosão é um fator importante a ser considerado na elaboração do projeto das


grades. Análises demonstraram que, muitas vezes, é mais barato substituir as grades do
que repintá-las. Em algumas instalações, foram considerados sistemas de proteção catódica;
entretanto, até hoje, poucos destes sistemas têm sido instalados. O fator de segurança
empregado na elaboração do projeto de grades admite a ocorrência de alguma deteriora-
ção por corrosão, sem prejuízo da integridade estrutural. As dimensões mínimas das
barras utilizadas nas grades é de 50mm X 15mm. As soldas são muito vulneráveis à
corrosão. A corrosão nas soldas é um fator de maior importância do que a própria resis-
tência da solda. As soldas sujeitas a grandes tensões de flexão ou a cisalhamento não
deverão ser inferiores a 10mm. As vigas de sustentação horizontal ou lateral, nas grades
de apoio lateral e nas grades integrais, deverão ter soldas de comprimento mínimo de
15mm, nos pontos de junção. Durante o transporte e instalação, é necessário evitar que
o revestimento protetor das grades seja danificado. Se o revestimento tiver sido arranha-
do ou descascado, deverá ser reparado. Se, durante a instalação, for necessário que a
grade deslize sobre a superfície de concreto, por um longo trecho, utilizar-se-á uma barra
de desgaste, para proteger o revestimento.

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O espaçamento das barras é função do equipamento que está sendo protegido. Em


geral, a abertura deverá ser tão grande quanto possível, porém ainda protegendo o equi-
pamento situado à jusante. Se o espaçamento for inferior ao necessário, ocorrerá perda
de carga desnecessária, e a grade poderá ficar entupida rapidamente. Normalmente, o
maior espaçamento entre barras adotado é de 15cm, exceto se a grade for utilizada como
órgão de segurança, então, admite-se um espaçamento máximo de 20cm.

Deve-se evitar que cargas muito elevadas incidam sobre a grade, danificando os
cantos das estruturas de concreto. Desta forma, é usual conectem-se as vigas horizon-
tais, de modo que as mesmas encostem no concreto da parte interna da ranhura da grade.

9.3.3 Estruturas de Içamento ou Vigas Pescadoras

As estruturas de içamento ou as vigas pescadoras são utilizadas para facilitar a


colocação ou a remoção das grades e das comportas ensecadeiras, e são projetadas para
operar submersas. Utilizam-se das mesmas ranhuras construídas para o equipamento que
está sendo manuseado. Em geral, as grades ficam no seu lugar após a instalação inicial;
portanto, os dispositivos para o içamento são considerados equipamento de manutenção
e projetados em campo, conforme a necessidade.

Sempre que possível, as comportas ensecadeiras deverão ser içadas a partir de um


único ponto, com um só gancho. Se forem utilizados dois ganchos, sempre haverá a
possibilidade de falha de um gancho e de a carga cair. Na elaboração do projeto de
estruturas de içamento ou de vigas pescadoras, recomenda-se utilizar hastes ou barras
guias, com a finalidade de posicionamento do gancho, a fim de evitar a rotação da com-
porta, quando a mesma for elevada acima das ranhuras. Para diminuir a possibilidade de
engripamento nas ranhuras, a altura da estrutura de içamento deverá ser, no mínimo,
equivalente a seis décimos do vão. Uma única conexão de cabo entre a estrutura de
içamento e o guincho é considerada suficiente, quando a altura da estrutura da viga é
superior a seis décimos do vão. Se os seis décimos não puderem ser mantidos, devido a
problemas de espaço livre para movimentação das cargas, é necessário instalarem-se
rodas guia, a fim de reduzir a possibilidade de travamento.

As vigas pescadoras, que consistem de um único elemento estrutural horizontal,


são menos sofisticadas e ocupam menor espaço do que as estruturas de içamento. Para
fornecer mais estabilidade, as vigas pescadoras deverão ser equipadas com uma eslinga
apropriada.

9.3.4 Comportas Segmento

Este tipo de comporta tem o formato de um segmento de cilindro. A chapa estan-


que da face da comporta acompanha a superfície de um cilindro. A carga hidráulica
transfere-se da chapa, através de vigas horizontais, até as vigas laterais que, por sua vez,
são suportadas por braços radiais emanados do eixo do cilindro horizontal. Normalmente,
a carga hidráulica incide sobre o lado convexo da chapa, estanque, mas, em casos espe-
ciais, a carga pode ser aplicada sobre o lado côncavo. Em algumas instalações, a compor-
ta é parcialmente contrabalaçada, com a finalidade de se reduzirem os esforços de iça-
mento.

As comportas segmento são normalmente utilizadas nos vertedouros das barra-


gens, controlando as cheias e, nos canais de irrigação, regularizando vazões. Para áreas
de fechamento de 17 m^2 ou menos, as comportas são padronizadas, de prateleira.

Ao se referir às dimensões das comportas segmento, a convenção adotada é que


será expressa primeiro a largura e, em seguida, a altura. A altura da comporta é a projeção
vertical da distância entre a soleira e a parte superior da comporta. A altura hidráulica

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nominal da comporta deverá ser 1,05 vezes a altura da comporta, de modo a permitir um
transbordamento equivalente a 5% da sua altura.

A carga hidráulica horizontal sobre a comporta deverá ser calculada por meio da
fórmula:

H = 550 (L) (A^2),

onde:

H = carga hidráulica horizontal que incide sobre a comporta, em kgf;


L = largura da comporta, em metros;
A = altura da comporta, em metros.

O símbolo “^” indica que o valor do parâmetro que precede este símbolo deverá ser
elevado à potência que o segue imediatamente.

Os componentes verticais da carga hidráulica incidirão de cima para baixo sobre a


porção da chapa situada acima da linha central horizontal do segmento cilíndrico e, de
baixo para cima, sobre a porção da chapa situada abaixo da linha central horizontal.

Arbitra-se que os componentes horizontal e vertical resultantes incidem sobre um


ponto situado um terço da altura hidráulica acima da soleira da comporta, e numa linha
imaginária que passa pelos pinos mancais do eixo central de apoio da comporta. O mé-
todo exato de determinação da carga hidráulica requer o cálculo prévio dos componen-
tes horizontal e vertical. A partir destes, a carga hidráulica resultante ou total poderá ser
determinada. A direção da carga resultante poderá ser definida graficamente, e passará
pelos pinos mancais do eixo central da comporta. A localização destes pinos, num ponto
a três quartos da altura da comporta, acima da soleira, resultará na carga máxima inciden-
te na comporta. Normalmente, o eixo central da comporta encontra-se localizado acima
da metade da altura da comporta, sobre a soleira, para utilizar o componente vertical da
carga hidráulica, de modo a facilitar a abertura da comporta.

A espessura da chapa estanque, e das chapas das vigas de apoio, deverá ser de, no
mínimo, 6mm. Para as comportas de 5,2m, ou mais, de altura, a espessura das chapas a
ser adotada não deverá ser inferior a 9,5mm.

A espessura do projeto da chapa deverá ser 1,5mm inferior à sua espessura nomi-
nal, de maneira a contemplar a corrosão. A espessura da chapa adotada deverá ser
coerente com o espaçamento adotado para as vigas horizontais que, por sua vez, não
deverá ser inferior a 300mm. Este espaçamento aumentará progressivamente, de baixo
para cima, à medida que a pressão hidráulica diminue.

O espaçamento, centro a centro das almas das vigas horizontais que suportam a
chapa estanque, na parte superior da comporta, não deverá exceder 0,9m, no caso das
chapas de 6mm de espessura, e 1,0m, para as chapas com 9,5mm de espessura ou mais.

As vigas laterais são fabricadas a partir de chapas soldadas. A carga que incide
sobre cada viga é equivalente à metade da carga hidráulica que atua sobre a comporta,
crescendo de cima para baixo, proporcionalmente à profundidade. Cada viga lateral é
apoiada em dois pontos pelos braços radiais. Calculando-se as distâncias ao longo da face
interna da chapa estanque, adota-se como critério que a distância, em termos de compri-
mento de arco, da soleira até a linha central do elemento de braço inferior, deverá ser
0,123 (L) e que a distância entre as linhas centrais dos elementos de braço deverá ser
0,4912 (L), onde L é o comprimento do arco da comporta. Este espaçamento dos braços
radiais que sustentam as vigas laterais baseia-se na análise dos momentos da viga (uma

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viga em balanço, com dois apoios), de maneira que o momento entre os apoios é aproxi-
madamente equivalente ao momento sobre o apoio superior, mas de sinal contrário. Quando
a carga hidráulica que incide sobre a comporta for igual ou superior a 1.100kgf, as vigas
laterais deverão dispor de reforços de alma nos apoios nas extremidades, e nas conexões
com os braços laterais.

Os braços radiais da comporta deverão ser fixados às vigas laterais através de


parafusos.

O eixo deverá ter buchas de bronze, lubrificadas através de graxeira de pressão.

Nas comportas segmento maiores, é comum instalarem-se chapas embutidas no


concreto que servem de trilha para as vedações e guias. Estas chapas são fixadas através
de parafusos de regulagem a peças fixas embutidas no concreto primário. Os parafusos
de regulagem garantem o alinhamento da chapa-trilha. Os desenhos de instalação deve-
rão indicar as tolerâncias relativas à distância entre a linha de centro vertical da comporta
e as chapas-trilha.

Normalmente, as comportas segmento são içadas por um guincho através de um


cabo de aço, de um tambor duplo, e operadas manual ou mecanicamente. Em geral, os
cabos de elevação são conectados a alças fixadas na chapa paramento perto da soleira,
na face montante da chapa da comporta. No caso das comportas com vedação frontal, a
conexão do cabo deve ser efetuada na parte superior da chapa da comporta. Quando as
conexões dos cabos são executadas na parte inferior, o acabamento da chapa paramento
da comporta deve ser protegido do atrito causado pelo cabo, por meio de coxim de
borracha ou madeira.

Os guinchos manuais são para capacidades de até 2.300kgf. Um guincho constitu-


ído por um redutor tipo rosca sem-fim, relação 50:1, com par de engrenagem helicoidal
relação 3:1 e manivela, apresenta uma boa relação mecânica e uma adequada velocidade
de içamento.

Os tambores do guincho são conectados diretamente ao eixo da engrenagem rôsca


sem fim. Em geral, utilizam-se tambores sem chanfros, com diâmetro mínimo igual a 15
vezes o diâmetro do cabo.

Os guinchos mecânicos são utilizados para cargas iguais ou superiores a 2.300kgf.


Os guinchos menores apresentam o mesmo projeto dos guinchos manuais, exceto que o
par de engrenagens helicoidais de relação 3:1 pode ser substituído por um motor com
engrenagens redutoras. Em geral, os guinchos de capacidade igual ou superior a 4.500kgf
possuem uma unidade motriz central e um tambor com engrenagem de dentes retos, em
cada lado da estrutura da comporta. Uma unidade motriz padrão adequada a todos os
guinchos mecânicos consiste de um motor com engrenagem redutora, comercial, equipa-
do com freios a disco, conectado diretamente a um redutor de engrenagem rosca sem
fim, montados sobre uma chapa de base comum. Os guinchos de até 7.000kgf podem ser
equipados com um eixo rosca sem fim, para operação através de chave tipo catraca, no
caso de interrupção de força. O tambor deverá ter chanfro para os cabos e ter diâmetro
mínimo equivalente a 18 vezes o diâmetro do cabo. Nos guinchos com capacidade igual
ou superior a 7.000kgf, dever-se-ão empregar cabos duplos em cada tambor, para poder
utilizar diâmetros menores de cabo e de tambor. Isso reduz o torque exigido e permite o
uso de redutores rosca sem fim e de engrenagens menores de dentes. Uma chave fim de
curso, deve desligar o motor do guincho nas posições comporta aberta e comporta fechada.

A unidade motora utilizada nas comportas manuais ou mecânicas pode ser de dois
tipos. O primeiro tipo tem a unidade motora localizada no centro da estrutura da compor-

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ta, enquanto que no outro tipo o sistema encontra-se posicionado num dos lados. Esta
última disposição permite a utilização de uma passarela de concreto mais estreita.

As velocidades de içamento dos guinchos mecânicos deverão variar entre 0,3 e


0,6m/min. A tração dos cabos, em cada tambor, deverá ser arbitrada em 60% da capaci-
dade nominal do guincho, uma vez que poderão existir desigualdades resultantes de maior
atrito ou aderência das vedações, num dos lados da comporta, o que ocasionará uma
carga maior num dos tambores. Conseqüentemente, as engrenagens do tambor de iça-
mento, e todas as peças associadas, deverão ser projetadas levando-se em conta tais
hipóteses. A fim de se obter uma vida útil satisfatória do cabo e reduzir o custo de
substituição, este deverá ser de aço inoxidável, classificação 6 X 37, com núcleo inde-
pendente. O comprimento dos cabos deverá ser ajustado através de acoplamento flexível,
do tipo provido de engrenagem, no eixo do motor. A tensão máxima no cabo não deverá
ultrapassar 20% da tensão de ruptura, quando o guincho está carregado com sua capaci-
dade nominal. Todas as peças do equipamento deverão ser suficientemente resistentes,
para suportar as forças decorrentes do torque de parada tempestiva do motor (em geral,
250% do torque normal), sem exceder 80% da tensão admissível dos materiais.

Em todos os guinchos, exceto nos manuais, utilizar-se-ão mancais de rolamento de


esferas ou rolos, do tipo auto-compensador, blindados ou não. Nos guinchos manuais,
poderão ser empregados mancais de escorregamento guarnecidos de “babbit”. Os
acoplamentos flexíveis deverão ser do tipo blindado, à prova de pó, totalmente metálicos.

9.3.5 Tanques de Aço

9.3.5.1 Aspectos Gerais

Nos projetos de irrigação, os tanques de aço são utilizados como acessórios dos
equipamentos de proteção contra pressões hidráulicas transientes e para armazenamento
de água e óleos. O uso de câmaras de ar pressurizadas e de tanques não pressurizados,
ou chaminés de equilíbrio, para proteger os sistemas das pressões hidráulicas transientes,
é discutido no Capítulo 7 deste MANUAL. Tanques de armazenamento de água, elevados
ou construídos ao nível do chão, são utilizados para o abastecimento de água potável.

Os tanques de armazenamento de óleo são empregados para estocar o óleo lubrifi-


cante, o óleo para o resfriamento e isolamento do equipamento elétrico de comutação e
de transformação. Em geral, estes tanques têm capacidade inferior a 53.000 litros e
requerem acessórios, como válvulas de coleta de amostra e respiros à prova de fogo, bem
como válvulas de alívio. Estes acessórios são desnecessários nos tanques de
armazenamento de água.

9.3.5.2 Projeto

Os tanques de aço são projetados sob a forma de cilindro vertical ou horizontal,


com fechamento apropriado nas extremidades, por meio de chapas planas ou abauladas.

Todos os tanques de aço deverão ser projetados para utilização na sua manufatura,
de chapas de aço de boa soldabilidade como os aços ASTM A 283 ou A 516, com teor de
carbono inferior a 0,30%. Os tanques na sua maioria encontram-se padronizados pelos
fabricantes, de modo que os desenhos do projeto só precisam indicar as especificações
relativas à sua altura, à sua localização, às dimensões de tubos, conexões e acessórios,
aos dados acerca dos valores de carga sobre o solo, cargas sísmicas, etc. Em geral as
especificações recomendam que os tanques não pressurizados sejam projetados, pela
empreiteira, de acordo com a norma AWWA D100.

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Os critérios abaixo deverão ser observados, no caso de tanques que requeiram


tratamento de projeto especial.

„ Para os tanques de água, apenas se a água for reconhecidamente corrosiva, deverá


ser observado o parâmetro corrosão, ao se determinar a espessura da chapa;

„ No projeto de tanques de óleo, não é necessário observar o parâmetro corrosão;

„ Os tanques com altura igual ou superior a 2,5m deverão ter escada externa;

„ Os tanques com altura igual ou superior a 5m deverão ter escadas interna e exter-
na;

„ Todos os tanques fechados deverão possuir uma saída para drenagem situado em
nível mais alto e outro, mais baixo, quando possível;

„ A espessura mínima da chapa de aço deverá ser 4,75mm, para qualquer parte do
tanque sem contato com água, e 6,4mm, para as partes em contato com água;

„ Sempre que possível, os tampos de fechamento abaulados deverão ser soldados ao


corpo do tanque através de solda de topo;

„ Tanques com tampos de fechamento abaulados padronizados, que possuem a rela-


ção raio da concordância e raio maior do tampo inferiores a 0,06, poderão ser
utilizados apenas para pressões de gravidade;

„ Os tanques pressurizados deverão dispor de tampos abaulados padronizados, com


relação raio da concordância e raio maior do tampo superiores a 0,06;

„ Deverá ser empregado um fator de segurança de 2,0, aplicado à menor tensão de


escoamento do material a ser utilizado. Os projetos de tanques de aço pressurizados
e de tanques de armazenamento de óleo deverão atender às especificações da
norma “ASME Boiler and Pressure Vessel Code – Section VIII, Division 1” (Código
para Caldeiras e Vasos Pressurizados – Seção VIII, Divisão 1, da ASME). Ao esta-
belecer as dimensões gerais dos tanques de armazenamento, será necessário pre-
ver a expansão do líquido contido, a temperatura de armazenamento desde mais
baixa até a mais alta, assim como descontar o volume do equipamento acessório e
das peças que ocupam espaço no tanque. Quando a capacidade nominal de um
tanque é determinada em função das capacidades teóricas predeterminadas, a ca-
pacidade projetada real deverá ser aumentada em 1/2 a 1%, após executadas todas
as correções relativas a temperatura e volume.

9.3.5.3 Especificações

Em geral, as especificações dos tanques de aço recomendam que a fabricação esteja


de acordo com aquelas pertinentes, contidas nas normas ou códigos de organizações reco-
nhecidas. As exceções a estes requisitos deverão estar claramente indicadas nas especifi-
cações.

As soldas utilizadas nos tanques deverão obedecer o código da ASME ou AWS.


Quando praticável, todas as soldas deverão ser efetuadas com máquinas de solda auto-
mática. Sempre que possível, os tampos abaulados deverão ser constituídas por apenas
uma peça, formados a quente ou repuxados, com as superfícies isentas de quaisquer
dobras ou empenamentos, e com as bordas contínuas e lisas. Se as dimensões dos
tampos exigirem o uso de mais de uma peça na sua fabricação, as soldas que unem as
peças deverão ser radiografadas. As chapas que constituem o corpo dos tanques maiores

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e que são transportadas desmontadas e muitas vezes enroladas, deverão ser cortadas
nas definitivas, e, antes de serem enroladas, as bordas a serem soldadas deverão ser
chanfradas adequadamente, de modo a aceitarem o tipo de solda indicado nas
especificações. Todas as chapas deverão ser enroladas em seções rigorosamente circula-
res, com curvatura contínua entre as bordas das chapas. O deslocamento entre as bordas
de chapas contíguas não deverá exceder 1,5mm. Realizar-se-ão testes não destrutivos e
de alívio de tensão por aquecimento, bem como serão realizadas radiografias das soldas
de todos os tanques pressurizados.

9.3.5.4 Montagem

Recomenda-se que seja incluída no contrato de fabricação a montagem das chami-


nés de equilíbrio e dos tanques maiores, montadas extremamente. Os tanques menores,
para armazenar óleo ou água, cujas dimensões permitam seu transporte já montados,
deverão ser finalizadas na fábrica. Portanto, a montagem em campo limitar-se-á à coloca-
ção dos tanques sobre as respectivas fundações executadas pela empreiteira da constru-
ção civil.

9.3.5.5 Inspeção

Todo o material fornecido e as obras executadas deverão ser rigorosamente


inspecionados por pessoal qualificado. Nenhum dispositivo ou material deve ser trans-
portado ao local da obra até a conclusão de todos os ensaios, análises e inspeções finais
de fábrica, ou até a aceitação das cópias certificadas dos relatórios dos resultados dos
ensaios e das análises ou das garantias do fabricante.

Os tanques sem pressão são testados apenas para verificar os vazamentos, en-
chendo-os de água até o ponto de transbordamento. Os tanques menores com respiros,
com as extremidades fechadas, ou que possam ser fechados sem o uso de equipamento
especial, deverão ser testados para verificar a estanqueidade e a resistência, fechando-
se as saídas e submetendo o tanque a pressões hidrostáticas equivalentes a 3 metros de
água, acima da borda. Os tanques pressurizados deverão ser testados hidrostaticamente,
para resistência e para estanqueidade, submetendo-os a pressões equivalentes a 1,5 vez
a pressão nominal. Todos os ensaios hidrostáticos dos tanques de aço deverão ser efetuados
antes da aplicação da pintura, seja na fábrica, seja no campo, dependendo do local em
que o tanque for finalizado.

9.3.5.6 Pintura

Os tanques de aço menores, que são finalizados na fábrica, deverão ser limpos e
pintados na própria fábrica. Os tanques maiores, montados no campo, deverão ser limpos
e pintados após a montagem e a realização dos ensaios. A limpeza deverá ser efetuada
com jato de areia, até atingir-se o metal de base. As especificações deverão recomendar
uma tinta a base de resina vinílica, para as superfícies internas dos tanques de óleo ou
água; três ou mais demãos, até uma espessura mínima de película seca de 13 mícrons,
para os tanques de óleo; e quatro ou mais demãos, até uma espessura mínima de película
seca de 15 mícrons, para os tanques de água.

9.4 Equipamentos de Elevação e Transporte

Os equipamentos de elevação e transporte a serem considerados nas estações de


bombeamento e estruturas auxiliares podem ser classificados da seguinte maneira:

„ Guindastes, talhas e acessórios:


f pontes rolantes;
f pórticos rolantes;

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f guindastes de lança;
f monovias com toalhas;
f guindaste giratório;
f guinchos estacionários;
f pórticos rolantes portáteis;
f eslingas, vigas pescadoras e acessórios especiais.
„ Vagões de transferência.
„ Carros móveis.
„ Reboques.

Para determinar o equipamento de elevação e transporte necessário num novo pro-


jeto de irrigação, o projetista deverá obter as seguintes informações.

„ Acesso às estruturas propostas, bem como o afastamento em volta e dentro delas,


a fim de permitir a instalação de todo o equipamento;

„ Pesos e dimensões das diversas peças do equipamento a serem manuseadas duran-


te a instalação, e posterior manutenção;

„ Desenhos de montagem dos itens principais do equipamento, para a determinação


dos procedimentos e seqüência de manuseio mais adequados.

Após obter as informações relativas aos equipamentos propostos e os itens a se-


rem manuseados, o projetista poderá estabelecer os seguintes parâmetros:

„ O tipo, a capacidade e o espaço necessário para manuseio do equipamento reque-


rido para o transporte das peças até o local da obra;

„ O tipo, a capacidade e o espaço necessário para a operação dos guindastes ou


guinchos requeridos no local da obra, para a descarga e o armazenamento do equi-
pamento, peças e material;

„ O tipo, a capacidade e o espaço necessário para a operação dos guindastes, guin-


chos, eslingas, vigas pescadoras, etc., necessários à instalação e à manutenção do
equipamento da estação de bombeamento e das estruturas auxiliares.

A seguir, executar-se-ão os leiautes preliminares, indicando-se os métodos de ma-


nuseio, os afastamentos e os requisitos de espaço para a descarga. Dentre os itens a
serem considerados, destacam-se: a localização dos equipamentos propostos, em relação
aos prédios e às estruturas; o espaço livre para a operação dos guindastes e reboques; a
localização dos condutos de força e das cabines dos guindastes; o acesso às cabines dos
guindastes; os requisitos e os métodos de manuseio, de acordo com as normas; a dispo-
sição dos acessórios para carga, eslingas e vigas; e a localização da maquinaria, para
permitir a manutenção e conservação dos guindastes e dos guinchos. É indispensável
levar em conta o custo do equipamento e dos métodos de manuseio considerados no
atendimento às normas estabelecidas.

Após efetuarem-se todas as determinações relativas ao manuseio adequado do


equipamento em cada local, elaborar-se-ão especificações para a compra do equipamento
de elevação e transporte. As especificações deverão incluir afastamentos, içamento, ca-
pacidade, deslocamento, requisitos especiais, limitações e outras informações pertinen-
tes, necessárias à fabricação do equipamento. O equipamento de elevação e transporte
poderá estar incluído nas especificações da construção, ou fazer parte de um contrato
separado de fornecimento.

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O equipamento de manuseio deverá ser projetado de acordo com as seguintes


normas:

„ ABNT NBR 8400 – “Cálculo de Equipamentos para Levantamento e Movimentação


de Cargas”.

„ C.M.A.A. [“Crane Manufacturers Association of America” (Associação dos Fabri-


cantes de Guindastes dos Estados Unidos da América)], Especificação N 70:
“Specifications for Electric Overhead Traveling Cranes” (Especificações para Pon-
tes Rolantes Elétricas), Revisado em 1983.

„ C.M.A.A. Especificação N 74 “Specifications for Top Running and Under Running


Single Girder Overhead Traveling Cranes” (Especificação de Pontes Rolantes de
Viga única, de Disposição Superior ou Inferior).

„ Normas de Segurança da ANSI [“American National Standards Institute” (Instituto


Nacional de Normas dos Estados Unidos da América)], relativos a caminhos aéreos
a cabo, guindastes, guindastes giratórios, guinchos, ganchos, macacos e eslingas.

„ A norma ANSI está dividida em aproximadamente vinte e dois volumes diferentes,


para os diversos tipos de equipamento. Os volumes mais pertinentes às instalações
das estações de bombeamento são:

„ B30.2 “Overhead and Grantry Cranes (Top Running Bridge, Single and Multiple
Girder, Top Running Trolley Hoist)” [Pontes Rolantes e Pórticos Móveis (Içadores de
Ponte Superior, de Viga única ou Múltipla e de Trole Superior)];

„ B30.9 “Slings” (Eslingas);

„ B30.10 “Hooks” (Ganchos);

„ B30.11 “Monorails and Underhung Cranes” (Monovias e Guindastes Salientes);

„ B30.16 “Overhead Hoists (Underhung)” (guinchos elevados sob a viga principal);

„ B30.17 “Overhead and Gantry Cranes (Top Running Bridge, Single Girder, Underhung
Hoist)” [Pontes e Pórticos Rolantes (Guinchos sobre a Viga, de única e Trole Inferi-
or)].

As pontes rolantes encontram-se localizadas nas estações de bombeamento e nas


oficinas de instalação e manutenção de equipamento pesado, como bombas, motores,
válvulas, etc. O pórtico móvel é freqüentemente utilizado nas estações de bombeamento
para manusear comportas ensecadeiras e grades. Uma monovia com talha pode ser insta-
lada, ou um pequeno pórtico móvel colocado, no piso da estação de bombeamento, a fim
de facilitar o manuseio dos pequenos motores e das bombas. Os guindastes de lança são
empregados para cargas pequenas, em áreas limitadas. Os pórticos móveis, ajustáveis e
portáteis, são baratos e podem ser empregados em uma grande variedade de tarefas
leves; entretanto, têm pouca estabilidade quando deslocam cargas de um local para outro.

Os desenhos das especificações deverão incluir as seguintes informações:

„ Bitola, centro a centro do caminho de rolamento;

„ Distância entre rodas, em cada trilho;

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„ Afastamento do prédio e dimensões limitantes do guindaste; o afastamento mínimo


na extremidade deverá ser de 50mm e o espaço livre superior, de 75mm.

„ Alturas máxima e mínima de alcance do gancho;

„ Localização da cabine do operador, da plataforma de manutenção, se necessária,


da passarela superior e da plataforma do trole, se necessária;

„ Localização e percurso da botoeira;

„ Aproximação do gancho de cada trilho de rolamento;

„ Dimensões e tipo dos trilhos de rolamento;

„ Localização do sistema de condutores elétricos;

„ Localização dos pontos de iluminação.

Nas peças mecânicas e estruturais, a tensão máxima deverá ser inferior a 20% da
tensão admissível. Quando se especificarem pequenos guindastes ou talhas, deverão ser
instalados dispositivos de limitação da carga no equipamento de elevação, a fim de se
garantir que a capacidade nominal não será excedida.

No manuseio de bombas e de motores, o controle da velocidade e a precisão na


colocação do equipamento são importantes. Para cada equipamento, a seleção do méto-
do de controle do guindaste deverá basear-se nos fatores de segurança, nos requisitos de
velocidade, nos custos de aquisição e na confiabilidade.

As recomendações relativas às velocidades operacionais dos guindastes operados


a partir de botoeira suspensa ou de cabine constam das Tabelas 9.1 e 9.2.

Os motores dos guinchos e dos troles deverão ser dotados de freios tipo solenóide,
de acionamento elétrico. Nos guinchos não equipados com freio de carga mecânico,
instalar-se-ão dois freios tipo solenóide. Os freios das pontes e dos guindastes operados
a partir de uma cabine deverão ser operados com o pedal ou então com acionamento
hidráulico. Nos guindastes externos, o freio deverá ser projetado de forma que possa
permitir a fixação na posição travada. Nos equipamentos menores, a velocidade de deslo-
camento da ponte poderá ser controlada por meio de freio de controle a solenóide.

Normalmente, utiliza-se um sistema condutor montado paralelamente ao trilho para


fornecer energia elétrica às pontes rolantes. Se a ponte for operada a partir de uma cabine,
os condutores deverão estar situados na extremidade da ponte oposta à cabine. Os carre-
téis de cabo são utilizados em geral nos pórticos rolantes. Para as monovias, usam-se
sistemas de cabos pendurados, carretéis de cabo ou sistemas de condutores fixos.

9.5 Tubulações da Estação de Bombeamento

9.5.1 Tubos de Aço para Adução, Recalque e Barriletes

9.5.1.1 Aspectos Gerais

O projeto das tubulações de adução e de recalque deverá estar de acordo com os


conjuntos moto-bomba propostos. A velocidade máxima da água na tubulação de adução
da estação de bombeamento, ou em cada linha de adução à vazão nominal da bomba, não
deverá exceder os valores constantes da seguinte tabela:

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Diâmetro do Tubo (mm) Velocidade Máxima (m/s)


50 0,75
75 1,10
100 1,30
150 1,45
200 1,60
250 1,60
300 1,70
400 ou mais 1,80

Tabela 9.1. Recomendação para Velocidade de Operação Metros por Minuto –


Ponte Rolante Controlada por Cabina
Guincho de Elevação Carro Guincho Ponte Rolante
Capacidade KN
Lento Médio Rápido Le nt o Médio Rápido Lento Médio Rápido
30 4,3 10,7 13,7 38,1 45,7 61,0 61,0 91,5 122,0
50 4,3 8,2 12,2 38,1 45,7 61,0 61,0 91,5 122,0
75 4,0 8,2 11,6 38,1 45,7 61,0 62,0 91,5 122,0
100 4,0 6,4 10,7 38,1 45,7 61,0 61,0 91,5 122,0
150 4,0 5,8 9,5 38,1 45,7 61,0 61,0 91,5 122,0
200 3,0 5,2 9,1 38,1 45,7 61,0 61,0 91,5 122,0
250 2,4 4,3 8,8 30,5 45,7 53,4 61,0 91,5 122,0
300 2,1 4,3 8,5 30,5 38,1 53,4 45,7 76,2 106,7
350 2,1 3,7 7,6 30,5 38,1 45,7 45,7 76,2 106,7
400 2,1 3,7 7,6 30,5 38,1 45,7 45,7 76,2 106,7
500 1,5 3,4 6,1 22,9 38,1 45,7 30,5 61,0 91,5
600 1,5 2,7 5,5 22,9 30,5 45,7 30,5 61,0 91,5
750 1,2 2,7 4,6 15,2 30,5 38,1 22,9 45,7 61,0
1000 1,2 2,4 4,0 15,2 30,5 38,1 15,2 30,5 45,7
1500 0,9 1,8 3,4 9,1 22,9 30,5 15,2 22,9 30,5

Nota: Considerar o comprimento do caminho de rolamento, na escolha da velocidade de translação da ponte; o


comprimento da ponte, na escolha da velocidade de translação do carro guincho, e a altura de levantamento e
a sensibilidade necessária, na escolha da velocidade de elevação.

Além disso, se a água contiver partículas finas suspensas de argila e/ou de silte, a
velocidade mínima na linha de sucção da bomba não deverá ser inferior a 0,30m/s, e se a
água contiver partículas finas de areia, a velocidade mínima deverá ser 0,45m/s.

No tubo de recalque da bomba e no barrilete, a velocidade máxima admissível é de


2,6m/s e a velocidade mínima, de 0,6m/s.

Se as bombas verticais estiverem diretamente conectadas aos tubos de adução, a


água deverá ter velocidade constante ou ir aumentando, à medida que se aproxima das
bombas, a fim de assegurar a operação satisfatória da bomba. Quando as bombas verti-
cais são instaladas dentro de tubo protetor, conforme apresentado na Figura 9.2, as
dimensões e o projeto dos tubos protetores deverão garantir o desempenho adequado da
bomba. A velocidade da água na entrada do tubo protetor não deverá exceder os valores

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Tabela 9.2. Recomendação para Velocidade de Operação Metros por Minuto –


Ponte Rolante Controlada por Cabina

Guincho de Elevação Carro Guincho Ponte Rolante


Capacidade KN
Lento Médio Rápido Le nt o Médio Rápido Lento Médio Rápido
30 4,3 10,7 13,7 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 53,4
50 4,3 8,2 12,2 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 53,4
75 4,0 8,2 11,6 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 53,4
100 4,0 6,4 10,7 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 53,4
150 4,0 5,8 9,5 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 53,4
200 3,0 5,2 9,1 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 53,4
250 2,4 4,3 8,8 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 53,4
300 2,1 4,3 8,5 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 45,7
350 2,1 3,7 7,6 15,2 24,4 38,1 15,2 35,1 45,7
400 2,1 3,7 7,6 12,2 21,3 30,5 12,2 30,5 45,7
500 1,5 3,4 6,1 12,2 21,3 30,5 12,2 30,5 45,7
600 1,2 2,7 5,5 12,2 21,3 30,5 12,2 22,9 38,1
750 1,2 2,7 4,6 12,2 21,3 30,5 12,2 22,9 38,1
1000 1,2 2,4 4,0 9,1 18,3 24,4 7,6 15,2 30,5
1500 0,9 1,8 3,4 7,6 18,3 24,4 7,6 15,2 30,5

Nota: Considerar o comprimento do caminho de rolamento, na escolha da velocidade de translação da ponte; o


comprimento da ponte, na escolha da velocidade de translação do carro guincho, e a altura de levantamento e
a sensibilidade necessária, na escolha da velocidade de elevação.

indicados na tabela anterior, ou no máximo de 1,5m/s, nas condições operacionais nomi-


nais da bomba.

Se os tubos de adução ou de recalque da bomba forem revestidos internamente


com argamassa de cimento, o diâmetro interno dos tubos, após a aplicação do revesti-
mento, deverá ser o diâmetro de cálculo da velocidade da água nos tubos.

9.5.1.2 Requisitos de Projeto

Especificar-se-ão flanges AWWA sempre que apropriado, embora as séries ISO e


ANSI também possam ser utilizadas. A série utilizada deverá estar claramente indicada
nos desenhos e nas especificações.

Nas seções retas dos barriletes e nos tubos de aço, a tensão admissível deverá ser
inferior a:

„ 1/3 da tensão de ruptura;

„ 2/3 da tensão de escoamento.

Nos demais trechos dos barriletes, nas bifurcações e nas peças especiais, incluindo
curvas com raio inferior a 2,5 vezes o diâmetro, ou em ângulos superiores a 22 graus 30
minutos, a tensão admissível deverá ser inferior a:

„ 1/4 da tensão de ruptura;

„ 1/2 da tensão de escoamento.

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A espessura da parede do tubo deverá ser a maior das espessuras exigidas em


função da pressão interna, das cargas externas, ou dos procedimentos de manuseio.

„ Pressão interna – A pressão interna empregada na determinação da espessura de


parede dos tubos deverá ser a maior pressão a que se pode sujeitar o tubo, e resulta
de um dos três parâmetros abaixo relacionados:

„ a altura manométrica da bomba com vazão nula;

„ as pressões transitórias de golpe de aríete;

„ a pressão hidrostática de ensaio.

„ As cargas externas sobre os barriletes ou sobre os tubos de aço enterrados afetam


os tubos, quanto à deflexão (ovalização da seção transversal circular) e/ou
empenamento da parede do tubo. O Manual M11, “Steel Pipe – A Guide for Design
and Installation” (Tubos de Aço – Manual de Projeto e Instalação), da AWWA, e em
parte o Capítulo 7 deste MANUAL incluem discussões relativas à elaboração de
projetos de tubos expostos a cargas externas. O efeito de cargas dinâmicas ou
vivas, incluindo as decorrentes do equipamento de construção, deverá ser conside-
rado nestas análises, quando aplicável.

„ A espessura mínima requerida de parede dos tubos no manuseio, deverá ser deter-
minada da seguinte forma:

t = D/288, quando D é igual ou menor do que 1.400mm;


t = (D + 20)/400, quando D > 1.400mm;

onde,

t = espessura mínima de parede do tubo, em mm;


D = diâmetro do tubo, em mm.

A espessura de parede do tubo não deverá ser inferior a 1,9mm.

A tensão de comparação deverá ser equivalente à tensão obtida, combinando-se as


tensões longitudinais e a tensão circunferencial.

9.5.1.3 Fabricação

Todas as soldas longitudinais e de circunferencial, incluindo as soldas de campo,


deverão ser especificadas do tipo soldas duplas de topo, com penetração total. Não
exige-se radiografia das juntas; entretanto, admite-se a utilização de eficiência de junta
igual a 1,00. Para qualquer peça, ou junta de campo requerida, especificar-se-á cobre-
junta e ensaios de estanqueidade com ar e/ou de penetração de corante. O tipo de prepa-
ro da extremidade do barrilete ou do tubo de aço deverá ser chanfrado nas juntas solda-
das, ou com extremidade de canto nas juntas de acoplamento com luva.

9.5.1.4 Seleção do Material

Os tubos comerciais deverão ser de aço qualificação ASTM A53, Grade A, para
diâmetros até 600mm.

Para os barriletes e os tubos de aço com diâmetro superior a 600mm e nos casos
em que a espessura da parede é igual ou inferior a 19mm, empregar-se-ão tubos de
acordo com a norma ASTM A139, fabricados de chapa de aço qualificação ASTM A283,

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Grade D. A Norma A139 da ASTM inclui tanto tubos com costura reta quanto tubos com
costura em espiral.

Os tubos com costura reta ou em espiral, de quaisquer diâmetros e espessuras de


parede, também podem ser fabricados de acordo com a norma AWWA C200. As chapas
de aço utilizadas deverão obedecer às especificações da norma ASTM A283, Grade D. Os
tubos fabricados deverão ser testados hidrostaticamente na fábrica, antes da aplicação
da pintura ou do revestimento. As juntas de campo deverão estar de acordo com a norma
AWWA C206, e todo o sistema deverá ser testado hidrostaticamente, após concluído.

Os aços de alta resistência, com tensão de escoamento superior a 29,5kgf/mm2, só


são aceitáveis apenas se for impraticável utilizar os materiais anteriormente citados. Os
aços de alta resistência são susceptíveis a se tornarem quebradiços sob esforço e a
rachar, sendo, portanto, maior o risco de ruptura.

9.5.1.5 Controle da Corrosão

Para minimizar os efeitos da corrosão, será necessário levar em consideração os


seguintes pontos:

„ O método e o tipo de revestimento adotado para a pintura do barrilete ou do tubo de


aço;

„ A separação de metais diferentes, particularmente nos barriletes ou nos tubos en-


terrados;

„ O isolamento dos barriletes e dos tudos do contato com as barras de armação do


concreto e das mantas de aterramento elétrico;

„ Os revestimentos dielétricos nos barriletes e nos tubos de aço enterrados; o reves-


timento do tubo necessita continuar, para dentro das estruturas, quando embutido
nas estruturas de concreto;

„ A análise da necessidade de um sistema de proteção catódica durante a elaboração


do projeto;

„ O uso de componentes de aço inoxidável quando determinado que esses compo-


nentes não serão suscetíveis a buracos ou a frestas no metal, onde poderá haver
corrosão;

„ A proteção catódica nos tubos galvanizados enterrados.

9.5.1.6 Ancoragem

Poderão ser necessárias juntas atirantadas, flangeadas ou soldadas, para absorver


o empuxo desequilibrado nos tês, nas válvulas e nas curvas do encanamento. As forças
desequilibradas, resultantes da ação do empuxo hidráulico sobre estes elementos, deve-
rão ser transmitidas à ancoragem nas paredes da estrutura, ou a blocos de ancoragem
separados, específicos para esta finalidade.

9.5.2 Juntas de Expansão Tipo Luva

9.5.2.1 Aspectos Gerais

As juntas de expansão tipo luva são empregadas em tubulações e barriletes de


quaisquer diâmetros. Os fabricantes destas juntas publicam catálogos com dados técni-

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Figura 9.3 Juntas de Expansão Tipo Luva

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cos completos sobre as mesmas. Dois tipos de juntas de expansão tipo luva são apresen-
tados na Figura 9.3.

A junta tipo aparafusada consiste de uma luva central, que pode ser de material e
espessura idênticos aos da tubulação; dois anéis terminais fabricados por seções de aço
laminado a quente de uma só peça constituindo os contra flanges, os quais são projetados
para o diâmetro e a pressão nominal especificadas; duas gaxetas de borracha de formato
tipo cunha ou de formato quadrado; e as ferragens de aparafusar requeridas para compri-
mir os contra flanges contra as gaxetas de borracha, para obter perfeita vedação. A luva
central e os contra flanges deverão ser moldados a frio, tolerância de 1% do diâmetro,
permitindo a realização dos ensaios de soldas e das dimensões das peças.

As juntas de expansão tipo luva são flexíveis e garantem estanqueidade e resistên-


cia. Absorvem os movimentos de expansão e contração da tubulação ou do barrilete,
permitindo, em muitos casos, a utilização de curvas de raio longo padronizadas, não
sendo necessário a fabricação de curvas especiais. As gaxetas de borracha são comprimi-
das entre a junta e o tubo, garantindo a estanqueidade tanto para pressões altas, baixas
ou vácuo. As gaxetas de borracha, completamente fechadas, são protegidas de danos de
deteriorização.

Nas juntas de expansão tipo luva, o movimento axial aceitável é produzido pelo
deslocamento do tipo cisalhamento das gaxetas de borracha, e não pelo deslizamento das
gaxetas sobre a superfície correspondente do tubo. Este tipo de junta permite cerca de
10mm de deslocamento longitudinal por junta. Quando se precisa de deslocamento mai-
or, é necessário a instalação de outros tipos de juntas de expansão, ao invés de juntas
expansão tipo luva. A resistência ao deslizamento das gaxetas sobre a superfície do tubo
pode ser arbitrada em 755kgf por metro de circunferência do tubo.

As juntas tipo luva só transmitem aos tubos tensões de cisalhamento pequenas, e


não permitem recalque diferencial, quando só uma junta é empregada. Entretanto, é pos-
sível obter um certo grau de flexibilidade quando são utilizadas duas juntas instaladas,
distanciadas de um diâmetro de tubo. As juntas enterradas limitar-se-ão a tubos de diâ-
metro igual ou inferior a 750mm. No caso de tubos de diâmetro maior, as diferenças de
espessura e de configuração entre a junta e o tubo, combinadas com a carga do solo, têm
provocado, freqüentemente, vazamentos em torno das gaxetas de borracha.

Todas as juntas de expansão tipo luva devem ser instaladas de acordo com as
instruções específicas do fabricante. O engenheiro de projeto dos barriletes e da tubula-
ção deverá consultar o fabricante, a fim de determinar o tratamento a ser dispensado às
extremidades dos tubos. A folga entre o interior da luva central e a superfície externa do
tubo é crítica para a estanqueidade da junta. Em geral, os fabricantes especificam tolerân-
cias muito restritas para a fabricação das peças – a luva central e circunferência externa
do tubo – a fim de controlar a folga entre elas.

9.5.2.2 Tirantes

As tabelas do Manual M 11, “Steel Pipe – A Guide for Design and Installation”
(Tubos de Aço – Manual de Projeto e Instalação), da AWWA, apresentam informações
relativas aos parafusos e aos olhais dos tirantes, a serem utilizados nos diversos diâme-
tros e pressões dos tubos.

Os olhais dos tirantes são espaçados a intervalos regulares em torno do tubo. Ao


montar o tirante, os parafusos deverão ser apertados gradualmente e por igual, até esta-
rem bem ajustados, para prevenir desalinhamento e assegurar cargas iguais em todos os
parafusos. Os parafusos deverão ser de comprimento tal que as roscas fiquem salientes,
pelo menos, 5cm do parafuso, com a junta montada.

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9.6 Equipamento de Medição de Vazão

9.6.1 Aspectos Gerais

As vazões em projetos de irrigação são obtidas através de dois métodos de medida


diferentes. Medidores de vazão medem a velocidade da água que escoa através ou junto
ao medidor e convertem essa medida de velocidade numa taxa de escoamento correspon-
dente. Em muitos casos, o medidor totaliza o volume de água que passa pelo mesmo. Um
outro método utiliza dispositivos de medição de nível de água, num vertedor, ou numa
calha, de dimensões padronizadas, especificadas e aferidas, verificando-se uma correla-
ção entre o nível da água medido e a taxa de escoamento.

9.6.2 Medidores de Vazão em Condutos

Os tipos de medidores de vazão mais freqüentemente utilizados em sistemas de


distribuição de condutos são:

„ Medidores de molinetes;

„ “Tubos de fluxo” (versão modificada dos tubos de Venturi);

„ Medidores de vazão de tipo Pitot;

„ Medidores ultra-sônicos;

„ Medidores magnéticos.

Dentre os parâmetros utilizados na seleção dos medidores, destacam-se:

„ Precisão requerida nas medidas;

„ Faixas de vazões requeridas;

„ Disponibilidade de energia elétrica no local de instalação do medidor;

„ Dimensões do medidor;

„ Pressão operacional;

„ Custo inicial;

„ Custo operacional;

„ Vida útil.

Estes parâmetros são discutidos, de maneira genérica, nos próximos parágrafos e,


mais especificamente, para cada tipo de medidor, nos subitens 9.6.2.9.1 a 9.6.2.9.5.

9.6.2.1 Precisão dos Medidores de Vazão

Na maioria dos sistemas de distribuição, a precisão do medidor de vazão deverá ser


de + 2% da vazão real, numa faixa de vazões operacionais de 10:1. Por exemplo, para
vazões medidas de 15,0 a 150m^3/h, o erro de medição admitido pode ser de + 0,3m^3/
h, na vazão de 15,0m^3/h (ponto mais baixo da faixa) e de +3,0m^3/h, na vazão de
150m^3/h (ponto mais alto da faixa). Os medidores de vazão com este grau de precisão
(1 a 2% da vazão real, numa faixa de 10:1) em geral fornecem medições baseadas no

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comportamento do fluxo dentro do medidor e nos sensores projetados (molímetro, tubos


de Pitot, transdutores, etc.). Em geral, são equipados com mecanismos acionadores ade-
quados e aferidos e têm custo mais alto do que os medidores de vazão simples, tipo
sonda. A venda de grandes volumes de água aos agricultores beneficiados pela irrigação,
ou a outros clientes, além dos requisitos de medição numa ampla faixa de vazões
operacionais, são as principais razões para se especificarem medidores de vazão precisos
e dispendiosos.

Ao determinar a precisão de um medidor, é indispensável fazer uma distinção entre


a apuração baseada num percentual da vazão “real” ou num percentual da vazão “em
escala plena”. Em geral, quanto maior o custo do medidor, maior será a precisão, que
estará baseada na vazão “real”, numa ampla faixa de vazões operacionais, enquanto os
medidores menos dispendiosos têm precisão expressada em percentual da vazão de “es-
cala plena”. Os medidores de vazão menos precisos, e de menor custo, são os do tipo
sonda, em que o elemento de sensoreamento encontra-se fixado à extremidade de uma
sonda, inserida no fluxo, através de um acessório no tubo.

Outros fatores que afetam significativamente a precisão da medição relacionam-se


com o modo de instalação do medidor de vazão. Dentre outros fatores, destaca-se a o
comprimento do trecho de tubo reto à montante do medidor de vazão e a existência de
uma obstrução, como, por exemplo válvulas parcialmente abertas, à montante. Recomen-
da-se o maior comprimento possível do trecho reto, à montante do medidor. Em geral,
este comprimento é expresso em números de diâmetro de tubo.

9.6.2.2 Faixas Operacionais

Uma faixa de vazão operacional de 10:1 é um requisito razoável para os medidores


de vazão na maioria das aplicações. É indispensável estabelecer uma faixa de vazão
operacional, tendo em vista a necessidade de medir todas as vazões, desde as menores
até as maiores, o que pode ocorrer em função do consumo de água. Quando a faixa da
vazão operacional varia além de 10:1, instalar-se-ão dois ou mais medidores, com dois ou
mais barriletes, a fim de se obter cobertura plena de toda a faixa de vazão operacional.

9.6.2.3 Disponibilidade de Energia no Local da Medição

Um fator que poderá inviabilizar o uso de algum tipo de medidor de vazão, em local
remoto, é a indisponibilidade de energia elétrica no local da instalação. Muitos medidores
precisam de uma fonte de energia elétrica para acionar o transmissor e/ou o conversor do
sinal de vazão. Entretanto, alguns medidores, como os de molinete, que são acionados
pelo próprio escoamento da água através da tubulação, podem indicar e totalizar a vazão
sem utilizar energia elétrica. Este fator deverá ser considerado na elaboração do projeto.
O custo de instalação de linhas de energia elétrica ou de equipamentos baseados na
energia solar poderá tornar o projeto inviável.

9.6.2.4 Dimensões dos Medidores de Vazão

O tipo e as dimensões dos medidores de vazão dependem do diâmetro do tubo, do


regime de vazão, da velocidade de escoamento e da disponibilidade de espaço no encana-
mento. É de boa política a não utilização de “tubos de fluxo” com diâmetro superior a
1.200mm. Em geral, a faixa de vazões, em função do diâmetro do medidor de vazão,
consta nos catálogos dos fabricantes. Além disso, são fornecidos os limites de velocidade
mínima e máxima, ou o número de Reynolds.

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9.6.2.5 Pressão Operacional

Em geral, as pressões operacionais dos sistemas de distribuição são inferiores a


10kgf/cm2; entretanto, ocasionalmente encontram-se pressões superiores a 20kgf/cm2. É
indispensável verificar a capacidade de pressão dos medidores de cada instalação.

9.6.2.6 Custo de Aquisição

O custo de aquisição dos medidores de vazão varia conforme o tipo, o tamanho e a


precisão desejada. Os medidores tipo molinete têm o menor custo de aquisição dentre
todos. Os ultra-sônicos têm o custo de aquisição mais alto, para medidores pequenos e
médios. Entretanto, considerado que o custo dos transductores e conversores eletrônicos
é essencialmente o mesmo, seja para tubos de pequeno diâmetro, seja para tubos de
grande diâmetro, estes medidores tornam-se mais econômicos, no caso das tubulações
de diâmetros maiores. O custo dos medidores magnéticos é competitivo, para diâmetros
pequenos e o custo dos medidores tipo Pitot para diâmetros médios e grandes.

9.6.2.7 Custos Operacionais

Os custos operacionais a serem considerados incluem os custos da energia elétri-


ca associados à perda de carga decorrente da obstrução do escoamento na tubulação,
causada pelo medidor de vazão; os custos relacionados à operação de transmissores e
conversores elétricos; e os custos de manutenção.

9.6.2.8 Vida Útil

Em geral, a vida útil dos medidores de vazão é de, pelo menos, 20 anos, sempre
que os procedimentos de manutenção recomendados pelo fabricante sejam respeitados e
que sejam aplicados os revestimentos apropriados às condições operacionais.

9.6.2.9 Tipos de Medidor de Vazão

9.6.2.9.1 Medidor de Hélice

Existem no mercado vários tipos diferentes de medidores de molinete que são


adotados em função da localização do mesmo ao longo da tubulação. Os tipos de medido-
res de molinete são descritos a seguir:

Os chamados medidores de linha que têm corpo reto e cilíndrico, são conectados
em linha com a tubulação. As conexões das extremidades podem ser com encaixes, para
serem flangeadas; com extremidades usinadas, para as juntas tipo luva; ou chanfradas,
para soldagem à tubulação. O medidor de molinete de menor custo é denominado medi-
dor tipo “sela”, constituído de um cabeçote medidor montado numa chapa de aço, com o
molinete se estendendo para baixo. A instalação é efetuada furando o tubo com um
gabarito, onde é montado o medidor de molinete, estendendo-o para dentro do tubo. A
chapa de aço é fixada ao tubo por meio de abraçadeira ou solda. A instalação com
abraçadeira é utilizada para pressões operacionais mais baixas, de até 10kgf/cm2, en-
quanto a solda é empregada em selas de chapa, de espessura maior, que podem ser
utilizadas nos tubos que operam a pressões de até 20kgf/cm2.

Os chamados medidores de molinete verticais (ou de ângulo reto) têm o rotor tipo
carretel, instalado na vertical, e o conjunto de medição instalado na extremidade superior.
A descarga possui o mesmo diâmetro bocal do carretel e está a ele soldada, em ângulo
reto. Empregam-se conexões flangeadas nas extremidades, tanto na entrada quanto na
saída. Em geral, o conjunto de medição é fixado na extremidade superior, por meio de um
acoplamento victáulico, embora também possa ser conectada mediante flanges.

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Os medidores de vazão de molinete a céu aberto são empregados nas transições


entre tubos e canais. Consistem de um tubo de queda, com cotovelo curvo em ângulo
reto, um molinete montado na extremidade inferior e um conjunto de medição, na extre-
midade superior. O conjunto medidor encontra-se instalado ou na cabeceira, ou num poço
de medição, com o molinete na extremidade de descarga do tubo. Os tubos de queda
podem ser fornecidos em vários comprimentos, dependendo da altura de instalação.

Os hidrômetros são um tipo de medidor de molinete, com rotor do tipo turbina de


Woltman e um mecanismo de propulsão que está combinado com uma válvula globo
ativada por diafragma. A válvula integral ativada por diafragma garante a operação de
liga/desliga, e versatilidade nas funções de regularização e controle. Estas características
são próprias das válvulas tipo globo de função múltipla, conforme descrito no subitem
9.2.5. O equipamento tem precisão de medição de mais ou menos 2%, em vazões que
variam de 7:1 até 16:1, dependendo do tamanho do medidor. O cabeçote medidor con-
tém um indicador e um totalizador de vazão. Dentre as possibilidades de medição, inclu-
em-se a transmissão de impulsos elétricos, para leitura remota, e controle hidráulico ou
elétrico do volume, para o fechamento da válvula, ou operação da bomba, após a passa-
gem de um determinado volume de água.

Os hidrômetros podem ser de diâmetro 50, 75, 100, 150 e 200mm, com vazões
máximas variando entre 30 e 400m3/h.

„ Operação – O equipamento é acionado pelo molinete e mede a vazão da água


através do registro das rotações do molinete. O mecanismo ativador pode ser um
acoplamento magnético, em que os magnetos são moldados ou fixados ao molinete
e protegidos da pressão da água, ou pode ser um mecanismo de eixo e engrena-
gens. Em geral, utiliza-se um cabo flexível ou um eixo sólido, para ligar o acoplamento
magnético ao equipamento de registro. O mecanismo de eixo e engrenagens utiliza
dois eixos para transmitir a rotação do molinete ao medidor. Os eixos são selados
na entrada do medidor. Nos medidores verticais, o mecanismo de acionamento
tipo eixo consiste apenas de um eixo selado na cabeça do medidor. Em geral,
fabrica-se eixo propulsor de aço inoxidável.

„ Precisão – A precisão é de mais ou menos 2% da vazão real, numa faixa de vazões


de, aproximadamente, 10:1. Exceto no caso dos hidrômetros, são necessários cin-
co diâmetros de tubo reto à montante e um diâmetro à jusante, para garantir essa
precisão. Em geral, são instaladas palhetas diretrizes no tubo do medidor ou à
montante do tubo do medidor, para eliminar a turbulência do fluxo de água. Nos
hidrômetros, o medidor de água contém, internamente, alinhadores de fluxo, que
eliminam a necessidade de tubo reto ou palhetas alinhadoras de fluxo, à montante
ou à jusante da válvula.

„ Faixa Operacional – A faixa de vazões indicada é de aproximadamente, 10:1, nos


medidores de molinete equipados com mancais de rolamento; e no caso de mancais
de cerâmica, a faixa das vazões indicada pode ser de 8:1. A faixa das vazões dos
hidrômetros situa-se entre 7:1 e 16:1, dependendo do diâmetro do medidor.

„ Disponibilidade de energia elétrica no local de instalação do medidor – Os medido-


res de molinete não necessitam de fonte de energia elétrica para indicar e totalizar
a vazão.

„ Diâmetros Comerciais Padronizados:


f medidores em linha – de 50 até 900mm (tipo flange);
f medidores em linha – de 100 até 1.200mm (tipo sela);
f medidores verticais (ângulo reto) – de 75 até 600mm;

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f medidores de vazão a céu aberto – de 250 até 1.800mm;


f hidrômetros – de 50 até 200mm.

„ Pressões operacionais dos medidores de linha e dos medidores verticais (ângulo


reto):
f conexões terminais flangeadas ou soldadas – de 10 até 20kgf/cm2;
f medidores de sela – 10kgf/cm2 (conexões com parafuso em U);
f 20kgf/cm2 (sela soldada);
f hidrômetros – de 0,7 até 10kgf/cm2.

„ Custos Operacionais – São muito baixos, pois a perda de carga é pequena e não é
exigida energia elétrica. Entretanto, os custos de manutenção podem ser significati-
vos, uma vez que requerem remoção e inspeção anuais, o que implica custos de mão-
de-obra e peças.

„ Vantagens dos Medidores de Molinete


f apresentam baixo custo inicial;
f dispõem de precisão adequada para uma ampla faixa de vazões;
f podem ser montados em qualquer posição;
f não são sensíveis a mudanças de fluxo, quando equipados com um molinete
maior equivalente a cerca de 75% do diâmetro do tubo.

„ Desvantagens dos Medidores de Molinete


f obstruem o escoamento da água no tubo e são afetados por materiais que
se engancham no molinete;
f requerem manutenção periódica;
f para uma operação precisa, as velocidades de escoamento restringem-se a
uma velocidade máxima de 3,35m/s e uma mínima baseada na vazão mínima
recomendada pelo fabricante.

„ Equipamento Opcional – Podem ser utilizados transmissores para telemetria da


vazão, a partir de estação remota. Esta opção requer uma fonte de energia elétrica.
Os hidrômetros também necessitam de energia elétrica para o desligamento da
bomba, após o fornecimento do volume de água predeterminado.

9.6.2.9.2 “Tubos de Fluxo”

São uma versão modificada do tubo tipo de Venturi clássico inventado por Herschel.
Algumas vezes, são considerados marca registrada, pois cada fabricante tem o seu pró-
prio modelo, exigindo fatores de correção para a determinação do coeficiente de vazão.

Os componentes necessários à instalação de um conjunto completo de medidor


tipo “tubo de fluxo” são: um tubo de fluxo; um transmissor tipo mercúrio, para faixa de
vazões de 10:1, ou dois transmissores de pressão diferencial, com mecanismo eletrônico
de comutação, para faixa de vazões de 10:1; e instrumentos eletrônicos de recepção.

„ Operação – A pressão diferencial decorrente do fluxo da água no tubo é transfor-


mada em um sinal elétrico de saída, de corrente contínua de 4 a 20 miliamperes,
proporcional à vazão. O sinal de saída é enviado pelo transmissor aos instrumentos
de recepção, onde a vazão é representado em um painel, vazão instantânea e vazão
totalizada. Alguns “tubos de fluxo” são projetados para operar com pressões dife-
renciais estáticas, enquanto outros operam com pressão diferencial combinada es-
tático-dinâmica. O “tubo de fluxo” do tipo pressão diferencial estática tem um
seção cilíndrica de entrada, seções de entrada e de saída divergentes e garganta
estranguladora cilíndrica. Os “tubos de fluxo” comerciais são projetados para ope-
rar com pressões diferenciais que variam de 25mm a 8.100mm de água, dependen-

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do do regime de vazão e da relação “Beta” (garganta estranguladora e o diâmetro


de entrada) do tubo. O “tubo de fluxo” do tipo pressão diferencial combinada está-
tico-dinâmica dispõe de uma tomada com formato curvo e uma garganta que tem a
capacidade do fluxo. Desta maneira, para uma determinada relação “Beta”, o tubo
estático-dinâmico opera com pressões diferenciais maiores do que o tubo diferenci-
al estático, resultando em uma boa resolução e precisão de medição;

„ Precisão – A maioria dos fabricantes declara precisão de mais ou menos 1%, para
os “tubos de fluxo” não calibrados, e mais ou menos 0,25%, para os calibrados. A
precisão depende de, pelo menos, 10 diâmetros de tubo reto à montante do “tubo
de fluxo”. Estas precisões são relativas ao “tubo de fluxo”, exclusivamente. Uma
vez que há outros componentes no sistema de medição de vazão, é preciso consi-
derar a precisão total do sistema. As especificações deverão estipular uma precisão
do sistema equivalente a mais ou menos 2,5% da vazão real, numa faixa de vazões
de 10:1. Em geral, os transmissores têm precisão de mais ou menos 1%, e os
instrumentos de recepção, mais ou menos 0,25%;

„ Faixa Operacional – A maioria das instalações de “tubo de fluxo” operam em uma


faixa de vazões de 10:1. Esta faixa é baseada na variação operacional padrão da
maioria dos bons transmissores de pressão diferencial do tipo mercúrio. Atualmen-
te, existem, no mercado, vários transmissores de tipo mercúrio, de ampla faixa de
vazões, que fornecem variações 20:1 e 25:1.

Podem ser utilizados dois transmissores de pressão diferencial para atender uma
faixa maior de vazões. O desenvolvimento da eletrônica propiciou o desenvolvimento de
dispositivos de comutação de estado sólido, de modo que dois transmissores operando
em conjunto, atendem a uma faixa geral de vazões de 16:1 (cada transmissor é capaz de
fornecer uma faixa de vazões de 4:1). Por exemplo, utilizando-se 2,24m^3/s como vazão
máxima, o transmissor medirá, com precisão, vazões de 2,24m^3/s até 0,57m^3/s. O
dispositivo de comutação desviará a medição para o segundo transmissor, na vazão de
0,57m^3/s. O segundo transmissor medirá a faixa de vazões de 4:1, de 0,57m^3/s até
0,142m^3/s. Desta maneira, a faixa total com dois transmissores será de 16:1.

O uso de transmissores do tipo mercúrio encontra-se em declínio, já que os trans-


missores de pressão diferencial são menos dispendiosos, além de existir a possibilidade
de contaminação ambiental pelo mercúrio que poderia se misturar na água dentro da
tubulação, ou descarregar numa fonte de água. Em geral, os transmissores do tipo mercú-
rio possuem um dispositivo de proteção do mercúrio, mas sempre existe a possibilidade
de perda do metal, decorrente do mau funcionamento do equipamento ou de erros no
manuseio.

„ Disponibilidade de energia elétrica no local de instalação do medidor – As instala-


ções de medidores do tipo “tubo de fluxo”, exigem uma fonte de energia elétrica de
corrente alternada, com 120volts, para energizar os transmissores de vazão;

„ Diâmetros dos Medidores de Vazão – A maioria dos fabricantes produz 16 tama-


nhos, de 50mm até 1.200mm, com três relações “Beta” (0,45, 0,60 e 0,72);

„ Pressões Operacionais – Existem as Classes 8,8 e 17,6kgf/cm2 (ferro fundido pa-


drão) e as Classes 10 e 20kgf/cm2 (Aço-Carbono ANSI padrão);

„ Custos Operacionais – Os custos de bombeamento são superiores aos de outros


tipos de medidores de vazão, devido à maior perda de carga. A perda aproximada
de carga do “tubo de fluxo” é de 9% da pressão diferencial produzida por uma
relação “Beta” de 0,45; aproximadamente 5% da pressão diferencial produzida por
uma relação “Beta” de 0,60; e cerca de 3,5% da pressão diferencial produzida por

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uma relação “Beta” de 0,72. A potência do instrumento é inferior a 50watts. O


custo de manutenção é baixo;

„ Vantagens dos “Tubos de Fluxo” – A garganta é usinada com tolerâncias muito


pequenas; portanto, o diâmetro da garganta utilizado nos cálculos de vazão é muito
preciso. É possível conectar um manômetro de mercúrio, em campo, para verificar
a calibração do sistema. Os “tubos de fluxo” produzem altas pressões diferenciais,
que permitem boa resolução e precisão do transmissor;

„ Desvantagens dos “Tubos de Fluxo”

f exigem a construção de uma estrutura de alojamento do medidor, quando se


deseja boa acessibilidade;
f custos iniciais mais altos, devido ao peso e à fabricação especial;
f custos de bombeamento mais altos, devido à perda de carga;
f requerem 10 diâmetros de tubo reto à montante do medidor, para obter a
precisão desejada.
f é necessário que linha piezométrica esteja acima do “tubo de fluxo”, a fim
de impedir que o ar se acumule na linha de baixa pressão e cause cavitação
da garganta.

9.6.2.9.3 Medidores de Vazão de Pitot

Consistem de um sensor de fluxo do tipo barra oca, instalado na corrente de fluxo


que produz uma pressão diferencial proporcional à vazão. Os sensores são projetados
com quatro orifícios na face à montante da barra, para medição da pressão alta, e um
tubo sensor instalado dentro da barra, aberto à vazão à jusante, para medição da pressão
baixa. A barra pode ser cilíndrica ou sextavada. Uma barra sextavada, com estes dispo-
sitivos de sensoreamento, fornece um coeficiente de vazão estável, particularmente para
vazões maiores. Outros tipos de medidores de vazão de Pitot utilizam uma barra sensora
redonda, com um divisor central. Neste caso, os orifícios de pressão alta à montante
podem localizar-se ao longo do centro da face à montante, conforme descrito anterior-
mente, mas os orifícios de pressão baixa à jusante estarão situados a quase 15 graus da
linha central vertical (tubo de Pitot instalado num plano horizontal), a fim de fornecer um
coeficiente de vazão estável.

Para uma instalação completa de medidor de vazão de Pitot, são necessários os


seguintes componentes: um sensor de fluxo do tipo Pitot; um ou dois transmissores de
vazão, dependendo da faixa de vazões; e um registrador de vazão. O transmissor de
vazão será do tipo pressão diferencial, pois todos os fabricantes destes equipamentos
utilizam este tipo de transmissor. O registrador de vazão consiste de dispositivos de
registro, dispositivos eletrônicos de comutação, para instalações de transmissores du-
plos, dispositivo de leitura e saídas de telemetria.

„ Operação – O sensor de vazão produz uma pressão diferencial que é transmitida


através de encanamento pressurizado até os transmissores de vazão. Os transmis-
sores convertem o diferencial de pressão num sinal elétrico de saída, de corrente
contínua de 4 a 20 miliamperes, proporcional à vazão. O registrador de vazão con-
verte o sinal elétrico em indicação de vazão instantânea e de vazão total;

„ Precisão – A precisão individual da vazão do tubo de Pitot é de mais ou menos 1%


da vazão real, numa faixa de vazões de 10:1. A precisão geral do sistema (o sensor
de vazão, os transmissores e o registrador de vazão) é de mais ou menos 2% da
vazão real, se houver 10 diâmetros de tubo reto à montante do medidor de vazão;

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„ Faixa Operacional – Uma faixa ampla de vazões de 16:1 poderá ser fornecida com
dois transmissores. (Ver item 9.6.2.2.);

„ Disponibilidade de energia elétrica no local de instalação do medidor – Nas instala-


ções com medidores tipo Pitot, requer-se uma fonte de energia elétrica para acionar
o registrador de vazão e outros equipamentos auxiliares;

„ Diâmetro dos Medidores de Vazão – Equipamentos padronizados de 25 até 2.700mm.


Podem ser fabricados em tamanhos maiores;

„ Pressões Operacionais – Disponíveis para pressões de tubulação de até 316kgf/


cm2;

„ Custos Operacionais – Os custos adicionais de bombeamento decorrentes da perda


de carga do sensor são inferiores aos dos “tubos de fluxo”. A potência elétrica
necessária para o acionamento do registrador de vazão é de, aproximadamente, 20
watts. Os custos de manutenção são muito baixos;

„ Vantagens dos Medidores de Vazão de Pitot:

f podem ser instalados numa tubulação em operação e sob pressão;


f pequena perda de carga;
f custo inicial baixo, particularmente nas tubulações médias e grandes;
f podem ser instalados na geratriz superior do tubo, o que elimina a necessi-
dade de uma estrutura de sustentação do medidor de vazão.
f Desvantagens dos medidores de vazão de Pitot:
f as pressões diferenciais produzidas são substancialmente inferiores às dos
medidores de “tubo de fluxo”, resultando em menores resolução e sensibili-
dade às mudanças de vazão;
f apresentam sensibilidade às variações de viscosidade;
f criam uma obstrução na tubulação;
f há possibilidade de ressonância, com vazões de grande velocidade nos tu-
bos (poderão requerer a instalação de elementos de apoio estrutural bípodes).

9.6.2.9.4 Medidores de Vazão Ultra-Sônicos

Atualmente, são manufaturados dois tipos de medidores de vazão ultra-sônicos:


de tempo de percurso e tipo Doppler. O primeiro consiste em um ou mais pares de
transductores montados em lados opostos do tubo e separados por alguns metros, ao
longo da tubulação. Um transductor emite uma pulsação acústica e, pouco tempo depois,
o outro transductor recebe a pulsação. A pulsação se desloca de um transductor ao outro,
à velocidade do som, através do líquido, acrescido ou decrescido da velocidade de fluxo
do líquido, dependendo da direção do fluxo. Após medir o tempo de percurso numa
direção, o transductor oposto emite um sinal e o tempo de percurso é novamente medido.
Desta forma, a velocidade do líquido é determinada pela diferença de tempo de percurso
entre o deslocamento à montante e o deslocamento à jusante. Este tipo de medidor de
vazão ultra-sônico é freqüentemente utilizado nos sistemas de distribuição e na medição
de vazão nas adutoras.

O medidor de vazão do tipo Doppler funciona com base no princípio de detecção da


mudança aparente na freqüência de retorno do eco de uma pulsação de energia ultra-
sônica. É utilizada uma sonda para acomodar ambos os transductores, a qual é inserida
no fluxo, através de um acessório montado no tubo. Neste tipo de medidor ultra-sônico,
um transductor envia um sinal acústico, enquanto o outro recebe os sinais refletidos pelos
distúrbios e pelas partículas no líquido. Neste tipo de medidor a precisão pode variar de 1
a 10%, pois o perfil de vazão só é medido em um local. Ar dentro do líquido e um número
excessivo de partículas não homogêneas absorvem parte do sinal acústico. Devido à

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pouca precisão de mensuração, o medidor tipo Doppler não deve ser considerado para
instalação nos sistemas de irrigação. Este medidor não será mais abordado.

Os equipamentos necessários para implantação de um medidor de vazão tipo ultra-


sônico de tempo de percurso consiste de: um ou mais pares de transductores acústicos
de penetração, um conversor eletrônico (transmissor) e um cabo de sinais do tipo coaxial.
O transductor de penetração (inserido através da parede do tubo) provê maior precisão de
mensuração. Estes transductores eliminam as distorções causadas pela parede do tubo,
porque estão em contato com o fluido. O transductor também pode ser substituído en-
quanto a tubulação está sob pressão. Alguns fabricantes produzem um transductor tipo
braçadeira, que é instalado na parte externa do tubo. Este tipo de transductor tem preci-
são menor do que o do tipo que penetra, devido à distorção de sinal causada pela parede
e pelo revestimento do tubo.

O arranjo dos transductores é outro fator a ser considerado na localização dos


vários pares de transductores (medidores de vazão com dois ou quatro pares de arranjo de
transductores) nos tubos. Quando se encontram dispostos em arranjos diametrais, os
pares de transductores são instalados diametralmente opostos um ao outro no tubo. Por
exemplo, quando se observa o tubo desde a extremidade, na direção do fluxo, se o
transductor à montante estiver montado na posição 9 horas, o transductor à jusante
estará na posição 3 horas. Na disposição helicoidal, numa instalação de quatro arranjos,
os transductores à montante deverão estar situados, aproximadamente, nas posições 11,
10, 8 e 7 horas, e os contratransductores à jusante, nas posições 1, 2, 4 e 5 horas. A
pulsação emitida pelo transductor montado na posição 11 horas será recebida pelo
transductor montado na posição 1 hora. Aquela emitida pelo transductor nas 10 horas,
será recebida por aquele nas 2 horas, e assim por diante. A disposição de arranjo helicoi-
dal é mais precisa do que a de arranjo diametral, pois inclui os efeitos do perfil real de
distribuição de velocidade no tubo. No caso do arranjo helicoidal, a integração das veloci-
dades de fluxo é efetuada pelo conversor eletrônico, utilizando-se os métodos matemáti-
cos clássicos de integração, de Chebuchef e Gaussian, relativos a dutos circulares.

„ Operação – Os transductores emitem e recebem sinais de pulsações acústicas num


meio fluido, conforme descrito anteriormente. Os sinais são medidos e, a seguir,
integrados no conversor eletrônico, de onde são enviados como sinais elétricos de
pulsação, em dígito de código binário, de corrente contínua de 4 a 20 miliamperes,
relativos à vazão instantânea e à vazão totalizada;

„ Precisão – A instalação do medidor de vazão de percurso único tem precisão de +


2% da vazão real, quando se utilizam transductores de penetração e existem, pelo
menos, 20 diâmetros de tubo reto à montante do medidor.

A instalação de duplo percurso tem precisão de + 0,5% da vazão real, se se utiliza-


rem transductores de penetração, se estiverem dispostos num percurso helicoidal e se
houver, pelo menos, 5 diâmetros de tubo reto à montante do medidor.

„ Faixa Operacional – Não há limitações de número de Reynolds. Em geral, os medi-


dores de vazão ultra-sônicos operam em uma ampla faixa de vazões, limitada ape-
nas pela velocidade de fluxo no tubo e pela resistência do sinal de saída do
transductor;

„ Disponibilidade de energia elétrica no local de instalação do medidor – Nas instala-


ções destes medidores, exige-se uma fonte de energia elétrica para energizar o
conversor eletrônico. A operação do conversor requer cerca de 30 watts, sendo
indispensável energia adicional para o indicador auxiliar e os instrumentos de registro;

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„ Diâmetro dos Medidores de Vazão – Os medidores ultra-sônicos podem ser instala-


dos em tubos a partir de 13mm, havendo registros de instalações em usinas
hidroelétricas, em condutos forçados de até 12m de diâmetro;

„ Pressões Operacionais – A pressão operacional dependerá do projeto dos


transductores. Alguns transductores são projetados para pressões operacionais de
até 210kgf/cm2;

„ Custos Operacionais – Não há custos adicionais de bombeamento, pois o medidor


ultra-sônico não oferece obstrução no tubo, não causando, portanto, qualquer per-
da de carga. A tensão operacional do conversor eletrônico é de, aproximadamente,
20 watts. Os custos de manutenção são mínimos, se os transductores e os
conversores eletrônicos forem bem projetados;

„ Vantagens dos Medidores de Vazão Ultra-Sônicos de Tempo de Percurso:


f são os mais econômicos para tubos muito grandes;
f não obstruem a vazão no tubo;
f têm baixo consumo de energia elétrica;
f são muito precisos; para se obterem registros acurados, o medidor com qua-
tro pares de transductores só requer 5 diâmetros de tubo reto, à montante do
medidor;
f podem transmitir muitos tipos de sinais.

„ Desvantagens dos Medidores de Vazão Ultra-Sônicos de Tempo de Percurso:


f em geral, precisam de uma estrutura de acomodação do medidor, para alojar
os transductores;
f para tubos pequenos e médios, têm custo inicial alto:
f requerem ajuste periódico.

9.6.2.9.5 Medidores de Vazão Magnéticos

Os medidores magnéticos utilizam a lei da indução magnética de Faraday, para


produzir uma tensão linearmente proporcional à vazão. O medidor consiste de um tubo
flangeado, com um revestimento não condutor; duas bobinas magnéticas montadas ex-
ternamente, em lados opostos do tubo, ou encapsuladas dentro do tubo; dois eletrodos
fabricados com material resistente à corrosão, montados internamente, em lados opostos
do tubo; e um acionador/transmissor magnético. Em geral, o tubo medidor é manufatura-
do com aço inoxidável 304, com flanges de aço-carbono, quando as bobinas são externas
ao tubo. Se as bobinas se encontrarem encapsuladas no tubo, tanto o tubo quanto as
flanges deverão ser de aço-carbono. Será necessário instalar anéis ou eletrodos de
aterramento (do mesmo material dos eletrodos sensores), se o tubo de conexão for não
condutor.

„ Operação – O acionador/transmissor magnético energiza as bobinas magnéticas,


que geram o campo magnético no medidor. Uma vez que a velocidade do fluido é
dirigida ao longo do eixo do tubo medidor, a tensão será induzida para os eletro-
dos. A tensão é desenvolvida pela passagem das partículas de fluido, sob a influ-
ência do campo magnético. á medida que aumentar a vazão do fluido, desenvol-
ver-se-á uma tensão maior nos eletrodos do medidor. A seguir, o acionador/trans-
missor magnético converterá a tensão do eletrodo num sinal de saída elétrico de
corrente contínua de 4 a 20 miliamperes, proporcional à tensão;

„ Precisão – Os medidores magnéticos têm grande precisão, na ordem de + 1% da


vazão real, numa ampla faixa de vazões (30:1), com apenas 3 a 5 diâmetros de
tubo reto à montante do medidor. A água deverá ter condutividade mínima de 5
microohms/cm, a fim de atingir precisão de medição;

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„ Variabilidade – Vários fabricantes oferecem faixa de vazões de 30:1, sendo que as


vazões menores correspondem a uma velocidade mínima de 0,3m/s;

„ Disponibilidade de Energia Elétrica no Local de Instalação do Medidor – Nas instala-


ções destes medidores, exige-se uma fonte de energia elétrica de corrente alterna-
da. O consumo de energia elétrica pode ser grande. Os medidores de vazão, com
diâmetros de 13 até 200mm, requerem aproximadamente 40 watts; os de 250 a
1.200mm, 100 a 600 watts. O consumo de energia inclui a energia necessária à
operação do cabeçote sensor (bobinas magnéticas) e do transmissor;

„ Diâmetro dos Medidores de Vazão – Existem no mercado 20 tamanhos padroniza-


dos, que variam de 13 a 1.200mm;

„ Pressões operacionais – As pressões operacionais padronizadas dos medidores de


diâmetro igual ou inferior a 300mm são de 10, 20 e 40kgf/cm2, na série ANSI; as
dos medidores de diâmetros de até 1.200mm, de 8,8 e 10kgf/cm2, na série AWWA,
e de 10kgf/cm2, na série ANSI;

„ Custos Operacionais – O acréscimo de custo de bombeamento é desprezível, para


os medidores com diâmetro igual ao do tubo. Haverá algum custo adicional quando
o medidor possuir diâmetro menor que o do tubo. Os custos de manutenção são
baixos. Os custos da energia elétrica são grandes para medidores maiores, mas
podem ser reduzidos, se os medidores operarem intermitentemente;

„ Vantagens dos Medidores de Vazão Magnéticos:


f são muito precisos, numa ampla faixa de vazões;
f só é preciso instalar de 2 a 5 diâmetros de tubo reto à montante do medidor,
para se obter uma boa precisão;
f as medições são precisas, sem precisar desenvolver um perfil de velocidade
ideal no local do medidor;
f a conversão da vazão é realizada eletronicamente, desta forma eliminando
erros causados pelos transmissores de pressão diferencial intermediários;
f são baixas as perdas de carga devido ao medidor;
f não causam obstrução da tubulação.

„ Desvantagens dos Medidores de Vazão Magnéticos:


f têm alto consumo de energia elétrica;
f têm custo inicial alto, no caso dos medidores maiores;
f em geral, os diâmetros de medidor superiores a 1,200mm não são econômicos.

9.6.3 Medidor de Vazão em Condutos Abertos

Os tipos de dispositivos de medição de vazão mais freqüentemente utilizados para


medir as vazões em condutos abertos são:

„ Vertedouros;

„ Calhas de aferição de Parshall;

„ Sistemas ultra-sônicos para canais;

„ Calhas inclinadas;

„ Medidores de fluxo.

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A publicação “Water Measurement Manual” (Manual de Medição de água), publicada


pelo “Bureau of Reclamation” dos Estados Unidos, constitui um verdadeiro tratado da
medição de vazões por meio de vertedores, calhas de aferição de Parshall, sistemas ultra-
sônicos para canais, calhas inclinadas, molinetes hidrométricos e outros dispositivos de
medição.

Nos próximos parágrafos, são apresentadas breves descrições de cada um destes


dispositivos, assim como das respectivas instrumentações de conversão de vazões.

9.6.3.1 Vertedouros

Os tipos de vertedouros mais comumente utilizados para medir a água de irrigação


são os retangulares, os de entalhe em V, de 90 e 120 graus, e os trapezóides ou de
Cipolletti. O vertedor é o dispositivo de mensuração mais útil e econômico, quando existe
queda suficiente no canal e a quantidade de água a ser medida não é excessivamente
grande. Os diversos tipos de vertedouros, com a respectiva fórmula de vazão, constam
do “Water Measuremente Manual”, antes mencionado.

Instala-se uma régua limnimétrica, graduada em 2 a 5mm, à montante do vertedouro,


a fim de se medir a altura hidráulica (H) no vertedouro. A altura hidráulica H deverá ser
medida num ponto na superfície da água, no prolongamento do vertedouro, à montante
do efeito de rebaixamento. Esta distância requerida é, pelo menos, 4 vezes a altura hi-
dráulica máxima no vertedouro. O mesmo ponto de calibração é utilizado para todas as
descargas.

Quando as medições de vazão forem calculadas e transmitidas automaticamente,


será necessário que haja um poço de metal ou de concreto para o flutuador e para instalar
o transmissor eletrônico de vazão. O poço para o flutuador deverá localizar-se no ponto de
medição, ou em algum local acessível, próximo ao ponto de medição. O transmissor
eletrônico de vazão, acionado pelo flutuador, é utilizado para medir o nível da água no
ponto de medição e converter o sinal de entrada, relativo ao nível da água, em sinais de
saída digitais, de pulsações ou de corrente contínua de 4 a 20 miliamperes, relativos ao
regime de vazão e ao total da vazão. Os transmissores de vazão acionados por flutuadores,
com came metálico para conversão da vazão, são utilizados com freqüência nos vertedouros;
entretanto, existem problemas associados aos dispositivos mecânicos, como flutuadores,
fitas e ligações mecânicas, além de dificuldades em obter integração e calibração acuradas
das vazões, utilizando cames metálicos. Outros tipos de transmissores equipados com
sensores de pressão ou sensores ultra-sônicos submersos, eliminam os problemas associ-
ados aos flutuadores, às fitas e às engrenagens. Além disso, esses transmissores usam
circuitos eletrônicos de estado sólido e algoritmos para calcular a vazão, a partir da fórmu-
la da vazão real, ao invés de dispositivos mecânicos de ligação.

9.6.3.2 Calhas de Aferição de Parshall

A calha de aferição de Parshall é uma forma especial de calha de Venturi, construída


num canal ou desvio, utilizada para se medir a vazão da água.

As calhas de aferição de Parshall apresentam quatro vantagens especiais:

„ A perda de carga é relativamente pequena (cerca de 1/4 da perda dos vertedouros


com o mesmo comprimento da crista);

„ São pouco sensíveis à velocidade de aproximação;

„ Fazem medições adequadas da vazão, sem afogamento, com afogamento modera-


do e com afogamento considerável à jusante;

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„ A velocidade de fluxo é suficientemente alta para eliminar, virtualmente, a deposi-


ção de sedimentos, dentro da estrutura, durante sua operação;

„ As calhas de aferição de Parshall funcionam em dois regimes: fluxo livre e fluxo


afogado;

„ O fluxo livre ocorre quando a profundidade da água à jusante é insuficiente para


influenciar o nível da água na entrada da calha. O fluxo afogado ocorre quando o
nível da água à jusante está suficientemente alto, para afetar essa influência;

„ O regime de fluxo livre das calhas de aferição de Parshall é similar à vazão que
passa pela crista de um vertedouro, onde o fluxo não é impedido ou reduzido pelas
condições à jusante. Neste caso, a vazão dependerá apenas da largura da garganta
e da profundidade da água à montante (Ha). A profundidade da água (Ha) é medida
no ponto de medição, na seção divergente, localizada a 2/3 do comprimento desta
seção à montante da garganta;

„ Nos casos em que a perda da altura hidráulica disponível na calha de aferição de


Parshall é limitada, a calha poderá ser projetada para fluxo submerso, o que requer
a instalação de um ponto de medição adicional, para medir a profundidade da água
à jusante (Hb). Os ensaios de calibração demonstram que ocorre um fluxo submerso
quando a razão de submersão, Hb:Ha, expressa como percentual, excede os se-
guintes valores:

f 60%, para as calhas de largura entre 0,15 e 0,23m;


f 70%, para as calhas de largura entre 0,30 e 2,50m;
f 80%, para as calhas de largura entre 2,50 e 15,0m.

„ Razões de submersão superiores a 95% deverão ser evitadas, porque as imprecisões


inerentes nas leituras da profundidade podem resultar em erros significativos nos
valores da medida de vazão.

Os instrumentos de medição e determinação da vazão na situação de fluxo livre


para os diversos valores de Ha são similares aos transmissores eletrônicos de vazão
descritos anteriormente para os vertedouros. Os transmissores eletrônicos de vazão aci-
onados por flutuadores, utilizados para medir e determinar a vazão livre através de calhas
de aferição de Parshall, foram utilizados anteriormente; entretanto, com nova tecnologia,
é possível utilizarem-se transmissores de vazão, seja com transductores ultra-sônicos
submersos, seja com sensores de pressão submersos, descritos no parágrafo relativo aos
vertedouros. Estes tipos de transmissores fornecem medições precisas do nível de pro-
fundidade da água, Ha, e eliminam os problemas mecânicos associados a flutuadores,
engrenagens e ligações mecânicas. Além disso, instala-se um dispositivo para registrar o
nível da água à jusante em um poço de medição da calha de aferição de Parshall, a fim de
medir o nível da água à jusante, Hb. Este nível é utilizado para determinar se a descarga
atingiu fluxo submerso e calcular a vazão através da calha de aferição, no caso de a
descarga estar na faixa de fluxo submerso.

9.6.3.3 Medição Ultra-Sônica de Vazão em Seções de Canal

A medição da vazão em canal aberto, por meio de medidores ultra-sônicos, vem se


aperfeiçoando muito nos últimos anos. É provável que este método substitua a calha de
aferição de Parshall para medir a vazão em canais de grandes dimensões, pois é muito
mais econômico e não causa perda de carga.

O equipamento consiste de dois ou quatro pares de transductores, para medir a


velocidade de fluxo; um transductor, para medir a profundidade do fluxo; um console de

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medidor de vazão; suportes estruturais; cabo de transductor; e outros acessórios. Os


pares de transductores são montados em suportes estruturais, em lados opostos do
canal, distanciados entre si, ao longo do canal. Para a medida da profundidade da água
poderá ser adotado um transductor suspenso montado sobre um suporte estrutural acima
da superfície da água ou, então, pode-se montar um transductor submerso, no fundo do
canal. Com o transductor suspenso, mede-se a distância do transductor à superfície da
água e, sabendo-se as cotas do fundo do canal e do transductor, pode-se determinar a
profundidade da água. O console do medidor de vazão energiza os transductores, conver-
te os sinais de pulsação recebidos em valores de velocidade e profundidade, e integra
estes parâmetros, junto com a área da seção transversal, para produzir sinais de saída
relativos à vazão. Existem no mercado transductores de várias faixas de potência, para
medir a vazão em canais largos. Estes transductores já foram instalados em canais nave-
gáveis, de até 900m de largura.

9.6.3.4 Calhas Inclinadas

As calhas inclinadas podem ser instaladas em canais existentes ou em novos ca-


nais para medir a vazão.

Pode ser utilizado um transmissor eletrônico de vazão acionado por flutuador, para
medir o nível da água à montante e converter esses dados em sinais de saída relativos à
vazão. Um came metálico ou um dispositivo gerador de função acompanha o transmissor,
para converter o valor do nível da água em vazão. Os transmissores de vazão acionados
por flutuador são adequados para instalação em calhas inclinadas; entretanto, é preferível
utilizar transmissores de vazão equipados com transductores ultra-sônicos de nível
submersos ou transductores de pressão submersos, de modo a eliminar os problemas
mecânicos associados a engrenagens, flutuadores, cames e ligações de cames.

O Capítulo 6 e seu Anexo A contêm informações adicionais acerca das calhas


inclinadas.

9.6.3.5 Medidores de Fluxo

Os medidores de fluxo são muito utilizados nas estações hidrométricas, nos canais
e em outros grandes condutos abertos. São mais adequados que outros dispositivos de
hidromedição, quando é necessário medir vazões elevadas e a perda de carga disponível
é pequena. Podem ser instalados com relativa facilidade e sem modificações nos canais,
quando é necessário medir as vazões em canais ou cursos d’água já existentes. Também
podem ser empregados em canais que contêm água com altos teores de sedimento,
mesmo quando a descarga não é grande.

As medidas de descarga são classificadas de acordo com o tipo de equipamento de


hidrometria utilizado e a natureza da estação hidrométrica:

„ Medições a partir de uma ponte;

„ Medições a partir de um cabo aéreo;

„ Medições a partir de um barco.

Dentre as características principais e os equipamentos instalados de uma estação


hidrométrica, destacam-se os abaixo:

„ O medidor de nível de água;

„ O referencial de nível;

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„ Os pontos fixos de mensuração na seção transversal do canal;

„ O cabo de estai, para fixar o hidrômetro no plano de mensuração ou na seção


transversal, quando a velocidade de fluxo é elevada e a água, profunda.

Os medidores de fluxo convencionais podem ser de dois tipos: molinete, com eixo
horizontal, e ventosa, com eixo vertical. O elemento de medição dos medidores de fluxo
é constituído por uma roda (molinete ou ventosa), que gira quando imersa na água, e por
um dispositivo contador do número de giros da roda. Para cada instrumento será necessá-
rio aferir, por meio de ensaios num laboratório idôneo, a relação entre a rotação e a
velocidade de fluxo da água. Em geral, os resultados são fornecidos na forma de uma
equação. Utiliza-se um dispositivo elétrico para emissão do sinal de saída de rotação da
roda.

Os métodos de medida de vazão, para cada tipo de estação hidrométrica, os méto-


dos de determinação das velocidades médias e as fórmulas para calcular a vazão são
muito complexos e são discutidos detalhadamente no “Water Measurement Manual”,
mencionado.

9.7 Sistemas de Energia Elétrica de Emergência

Com freqüência, é necessário um sistema de energia elétrica de emergência, que


consiste de um grupo moto-gerador, para energizar os sistemas elétricos essenciais, no
caso de interrupção do abastecimento de energia proveniente da fonte primária. Algumas
vezes, utiliza-se o grupo moto-gerador como fonte primária, quando todas as outras fon-
tes não são acessíveis.

Na elaboração do projeto do grupo moto-gerador, o projetista deverá elaborar um


desenho preliminar de arranjo, indicando as dimensões limitantes, a localização do grupo
moto-gerador, do tanque de combustível, do respiro do tanque e do encanamento de
descarga.

O projeto do grupo moto-gerador envolve a seleção correta dos seguintes


equipamentos:

„ Motor – O motor deverá estar disponível no mercado e ser de modelo e marca


padrão;

„ Gerador – O gerador deverá estar disponível no mercado e ser de modelo e marca


padrão;

„ Sistema de Combustível – O sistema de combustível poderá ser a gasolina, óleo


diesel ou gás liquefeito de petróleo (GLP). Independentemente do sistema de com-
bustível selecionado, será preciso instalar um filtro de combustível e uma válvula na
linha de abastecimento do combustível. Os sistemas deverão ter tanques de
armazenamento de combustível e, no caso dos sistema a óleo diesel, também de-
verá ter um tanque “diário” em separado, para fornecer o combustível para um dia
de operação. Os tanques deverão estar equipados com indicador de nível de com-
bustível, válvula de enchimento, válvula de drenagem e, no caso dos sistemas a
GLP e a gás natural, uma válvula de retirada de líquido e/ou vapor;

„ Os sistemas a gasolina requerem carburação; os sistemas a diesel, injeção de com-


bustível; e os sistemas a GLP e a gás natural, um sistema de retirada, que consiste
de um regulador de pressão para o gás natural ou o GLP vaporizado, e um conversor,
ou vaporizador, para o GLP líquido. O conversor pode ser do tipo combustor, ou
trocador de calor, com regulador de pressão embutido.

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„ Sistema de Resfriamento – Em geral, os pequenos grupos de até 15kW são resfri-


ados a ar. Os sistemas de resfriamento com cobertura sobre o motor e exaustor que
puxa o ar de resfriamento por cima do motor são mais eficiente do que os sistemas
com ventilador, que sopram o ar por cima do motor;

„ Em geral, os grupos com capacidade superior a 15 kW são resfriados a água, seja


mediante radiador e circulação interna, seja através de uma fonte contínua externa
de água fresca;

„ Sistema Exaustor – O duto de exaustão deverá conduzir os gases da combustão


para o exterior. O duto atravessará a parede lateral ou o teto da sala do grupo.
Haverá uma proteção contra chuva. No engate com o motor, haverá um trecho
flexível, isolando o duto das vibrações do motor. Haverá também um silencioso;

„ Ventilação – Todas as estruturas deverão ter aberturas adequadas para ventilação.


Em alguns casos, poderá ser necessário instalar ventilação forçada;

„ Sistema de Partida do Motor;

„ Baterias – Poderão ser utilizadas baterias de chumbo-ácido ou de níquel-cádmio


como fonte de energia de partida para o motor. Será necessário um sistema de
recarregamento de baterias;

„ Comando – Instalar-se-á uma chave de transferência, para conduzir a carga elétrica


do sistema normal de abastecimento de energia para o grupo moto-gerador, e vice-
versa. A transferência de comando pode ser manual ou automática, e relés de
tempo podem ser incorporados, a fim de impedir a partida do moto-gerador durante
pequenas interrupções da força, ou o desligamento do grupo quando a força é
religada por apenas um momento.

Para um dimensionamento correto dos grupos moto-gerador, são necessários os


seguintes dados:

„ Uma lista das cargas resistivas totais, como iluminação e aquecedores, que estarão
no circuito quando os motores elétricos essenciais forem ligados;

„ Uma lista de todos os motores elétricos considerados essenciais e que serão liga-
dos e operados com a força proveniente do grupo moto-gerador. A lista deverá
relacionar todas as cargas elétricas dos motores, incluindo potência (em kw), torque
de partida, kVA do rotor travado, fase e tensão;

„ A seqüência de partida dos motores deverá ser estabilizada;

„ A tensão requerida para o grupo moto-gerador deverá ser determinada.

A capacidade do grupo moto-gerador deverá ser especificada levando em conside-


ração a seqüência de partida dos motores e usando os seguintes procedimentos:

„ Relacionar todos os motores a serem ligados, na seqüência em que serão ligados;

„ Determinar o fator de potência (PF) de rotor travado para cada motor;

„ Multiplicar o kVA de rotor travado pelo PF de rotor travado, para obter o kW de


rotor travado;

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„ Obter o kVA de motor em funcionamento e o kW de motor em funcionamento para


cada motor;

„ Determinar os totais progressivos de carga acumulada e de carga em funcionamen-


to do motor que está entrando em funcionamento, para obter o kVA e o kW contí-
nuos, requeridos após a partida de cada motor.

Após obter as informações acima relacionadas, o projetista deverá selecionar um


grupo moto-gerador que tenha as capacidades de kVa e kW máximas requeridas para a
partida dos motores, mas que tenha capacidades nominais de kWA e KW contínuas iguais
ou superiores às requeridas.

Poderá ser preciso reduzir a capacidade normal do grupo moto-gerador, quando for
instalado a 1.000m, ou mais, acima do nível do mar. O grau de redução da capacidade
normal deverá obedecer às recomendações do fabricante do grupo moto-gerador.

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DESCRIÇÃO DA PARTE
ELÉTRICA

10.1 Sistema de Energia Elétrica

No início do planejamento do estudo de pré-viabilidade, deverá ser realizada uma


análise do sistema elétrico existente e da estrutura tarifária de energia elétrica na área. Em
geral, a estrutura tarifária deverá incluir o uso de energia elétrica (kWH), os custos dessa
energia, os limites máximos de demanda, assim como a tolerância relativa ao fator de
potência e às penalidades. A obtenção destas informações, durante a fase de planeja-
mento, evitará a reformulação do projeto, de forma a atender às exigências da concessi-
onária de energia elétrica, durante a fase de elaboração do projeto, a qual será discutida
nos outros parágrafos deste capítulo. Dessas informações dependerão as decisões relati-
vas ao número, às dimensões e aos tipos de unidades de bombeamento que melhor
atendam às variações de vazão da água requeridas nos sistemas de irrigação.

A seleção da tensão é um dos fatores mais significativos na elaboração do projeto


do sistema de energia elétrica para a estação de bombeamento. É fator principal na
determinação dos custos totais do sistema, de sua flexibilidade e da facilidade para futura
expansão. Existem vários fatores que afetam a seleção da tensão do sistema, como o
valor de carga, a distância de transmissão da energia e restrições operativas dos equipa-
mentos em relação às suas características nominais.

Os critérios empregados na elaboração do projeto, como aumentar a W(R^2) (mo-


mento rotacional de inércia do conjunto moto-bomba), também poderão aumentar o ne-
cessário torque de aceleração e o tempo de partida, com conseqüente impacto adverso
nos custos dos equipamentos elétricos e do sistema de abastecimento de energia elétrica.

Em muitas instalações, os requisitos de torque da bomba e as restrições relativos à


partida dos motores, requerem uma investigação cuidadosa do método de arranque, para
obter uma partida mais satisfatória. A seleção apropriada do torque e do método de
arranque do motor, para um determinado uso, exige, às vezes, uma solução conciliatória
entre os torques de carga e as limitações para a partida dos motores. Na maioria dos
casos, o torque de partida da bomba não deve ser desprezado, pois varia consideravel-
mente, dependendo do tipo de bomba utilizado e de diferentes condições hidráulicas a
serem atendidas.

Para atender às restrições da Concessionária, ou mesmo aquelas decorrentes das


condições locais da estação de bombeamento, quanto à partida dos motores, deverão ser
utilizadas as seguintes medidas:

„ Determinar a característica específica da partida da bomba;

„ Verificar as restrições existentes para a corrente de partida do motor;

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„ Se o melhor motor para aquele uso for o de indução tipo gaiola, determinar se
acelerará a carga conforme as restrições de partida definidas;

„ Se a escolha recair em outro tipo de motor, determinar os valores de torque adequa-


dos ao motor síncrono ou as características de partida do motor de indução com
rotor bobinado.

A característica de partida velocidade-torque de uma bomba é regida por dois fato-


res: o tipo de rotor do motor e as condições hidráulicas na partida. Estas últimas incluem
a existência de válvula de descarga aberta ou fechada e a condição de o invólucro da
bomba estar com ou sem água.

No motor síncrono, o enrolamento amortecedor (enrolamento de partida) é separa-


do, eletricamente, do enrolamento principal, o que permite a modificação do projeto,
dentro de certos limites. Desta maneira, é possível alterar as características de partida e
de aceleração, sem afetar as de funcionamento. Obtém-se uma corrente de partida mais
baixa que a normal quando se adotam torques menores em todo o intervalo de partida.
Portanto, quando se especificam torques de aceleração altos e baixas correntes de parti-
da, é necessário chegar a um equilíbrio realista. É possível a seleção de torques para
motores síncronos, que sejam adequados a um determinado uso, dividindo-se os torques
requeridos pelo quadrado da relação entre a tensão real nos terminais do motor e a sua
tensão nominal. Os torques de bomba mais significativos são os do ponto de alta veloci-
dade fora de controle e de, aproximadamente, 97% da velocidade de projeto. O cálculo da
tensão real nos terminais do motor deverá incluir quedas da tensão do sistema e qualquer
redução de tensão que seja conseqüência direta do método de partida utilizado.

A necessidade de limitar a corrente de partida do motor é determinada, exclusiva-


mente, pela variação de tensão permissível durante este ciclo. Os objetivos da concessi-
onária em limitar as variações de tensão estão, em grande parte, associados ao bruxuleio
da iluminação. Em geral, as restrições à corrente de partida impostas pela concessionária,
variam de acordo com a freqüência destas partidas em relação à magnitude da referida
corrente de partida. Quanto maior a freqüência de partidas, maiores as restrições. É
preciso determinar os critérios da concessionária antes de iniciar a fase final do projeto,
uma vez que deles podem depender o número de motobombas a serem instaladas, o
espaço para a instalação do equipamento elétrico e o volume dos reservatórios d’água à
jusante no sistema hidráulico.

Muitas concessionárias de energia elétrica oferecem esquemas tarifários em função


da hora, aos quais são incorporadas as cláusulas relativas ao fator de potência. As cláu-
sulas incluem penalidades para baixos fatores de potência, ou a proibição de cargas
inferiores a determinados fatores de potência. Nestes casos, são utilizados capacitores
nos terminais de indução do motor, a fim de elevar a potência da carga.

Em geral, os capacitores são ligados junto com o motor. Poderá ocorrer auto-exci-
tação do motor, após o desligamento da fonte de energia, caso sua velocidade seja
mantida devido a uma grande inércia da carga conectada. A auto-excitação também pode
ocorrer se o motor gira a alta velocidade em direção inversa enquanto as adutoras são
drenadas. Para evitar esse problema, que resulta em sobretensão no bobinado do motor,
é imprescindível que a carga reativa do capacitor, em quilovolt-ampere, não exceda aque-
la necessária para elevar o fator de potência do motor até o valor unitário. O uso de
capacitores reduz a corrente de linha; portanto, os dispositivos de proteção do motor
deverão estar localizados de maneira que percebam a corrente do motor, e não a da linha.

O problema de minimizar os distúrbios de tensão numa estação de bombeamento é


muito similar. As tabelas a seguir relacionam os diversos níveis de tensão e seus efeitos
correspondentes. A significância dos valores de “pick-up” dos contactores de corrente

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alternada relacionados está nos dispositivos de redução de tensão, quando a bobina do


contactor em funcionamento precisará ter a tensão mínima indicada para permitir a trans-
ferência para a tensão plena.

Percentual da Tensão Efeito


97,5 bruxuleio inaceitável da iluminação
tensão mínima operacional para as fontes de energia dos dispositivos eletrônicos e tensão mínima operacional para
90,0
as lâmpadas de mercúrio (queda repentina)
85,0 tensão de partida mínima para os contactores de corrente alternada de baixa tensão (até o tamanho 5)
80,0 tensão operacional mínima para as lâmpadas fluorescentes
74,0 mínimo “pick-up” para os contactores de alta tensão
70,5 parada do motor de indução na situação de carga plena
70,0 queda máxima para os contactores de corrente alternada de baixa tensão (até o tamanho 5);
67,0 parada do motor síncrono na situação de carga total
53,0 queda máxima para os contactores de corrente alternada de alta tensão

As concessionárias de energia elétrica poderão especificar restrições à corrente de


partida em termos de ampéres, quilovolt-amperes, ou um percentual da corrente de carga
total do motor. Os métodos de redução da corrente de partida são:

„ Reator de linha;

„ Autotransformador;

„ Resistor primário;

„ Estrela-delta.

Uma variação do sistema de partida com reator de linha de força é a utilização de


reator neutro, que envolve a conexão do reator externo e do dispositivo de chaveamento
no neutro do motor, ao invés da linha de alimentação. A vantagem deste arranjo, despre-
zando uma pequena economia de custo, está numa maior flexibilidade na localização dos
compartimentos do equipamento de partida, com possibilidade de economia de espaço,
numa determinada instalação. Em geral, os métodos de transição aberta de fase não são
empregados, devido à abertura momentânea do circuito no período de transição para a
plena tensão. Evita-se assim, a ocorrência ocasional de corrente transitória, prejudicial
durante a operação de comutação.

O método de partida autotransformador exige dois contactores adicionais, além do


contactor principal em funcionamento normal.

O esquema de partida estrela-delta não é muito utilizado porque oferece apenas um


terço do torque em relação àquele sob tensão total e nenhum ajuste do torque de partida
não será possível após a fabricação do motor.

É preciso observar que, na maioria das estações de bombeamento, são empregados


motores de indução. Motores síncronos são normalmente especificados para potências
nominais superiores (750kW, ou mais). Os valores de W(R^2) são maiores nos motores
síncronos do que nos de indução. Portanto, neste sentido, são mais favoráveis os primei-
ros, se outras considerações não impuserem restrições. Entretanto, existem dificuldades
no cálculo, ou mesmo na determinação, do W(R^2) de um motor normal.

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As moto-bombas são dimensionadas segundo os fatores hidráulicos e elétricos. A


freqüente partida dos motores pode ser inaceitável para a concessionária de energia elé-
trica, ou pode danificar o enrolamento do motor. Para evitar prejuízos, os seguintes crité-
rios de partida deverão ser incluídos no projeto:

„ Para motores de menos de 75kW, o tempo mínimo de funcionamento não deverá


ser inferior a 10 minutos;

„ Para motores entre 75 a 300kW, o tempo mínimo de funcionamento não deverá ser
inferior a 15 minutos;

„ Para motores de mais de 300kW, permitir-se-ão duas partidas sucessivas, prece-


dendo uma terceira após um mínimo de 5 minutos. Será preciso que o motor esfrie,
em funcionamento, durante 20 minutos, ou parado, durante 45 minutos. A média
das partidas não deverá ser maior de oito por dia, durante toda a vida útil do motor.

As estações de bombeamento deverão ser projetadas de modo a atender às normas


oficiais e aos códigos de segurança nacionais e locais. A maioria destas estações é entre-
gue a um órgão operador; portanto, uma boa parte dos critérios adotados na elaboração
do projeto das estações deverá basear-se na capacidade desse órgão, a ser compatível
com o restante do sistema.

10.2 Subestações

10.2.1 Localização e Disposição de Grandes Estações de Bombeamento

É importante que haja espaço adequado perto da estação de bombeamento para a


subestação, a fim de que as linhas alimentadoras de força sejam as mais curtas possíveis.
Este espaço deverá ser dimensionado de forma a acomodar os terminais das linhas de
transmissão da concessionária de energia elétrica, os pára-raios, os disjuntores de alta
tensão, os transformadores de corrente e de tensão, as secionadoras, os transformadores
de força e um conjunto gerador de emergência. Será preciso espaço para futuras expan-
sões e, eventualmente, para equipamentos especiais, como os de correção do fator de
potência, filtros, harmônicos, etc. Também há necessidade de espaço para o prédio de
comando da subestação e qualquer equipamento de comunicação.

No caso da instalação de um sistema de distribuição de força, a partir deste local,


será necessário incluir espaço para os respectivos transformadores, disjuntores, medido-
res e estruturas.

O nível de importância da estação de bombeamento, o grau de confiabilidade reque-


rido e a disponibilidade de substituição de equipamento e peças sobressalentes deverão
ser determinados antes de se definirem a diversidade e a redundância do equipamento.

O arranjo dos equipamentos na subestação deverá fornecer o percurso mais curto


para os cabos alimentadores, considerando-se o espaço disponível. Será indispensável
prever espaço livre para a necessária movimentação de dispositivos e equipamento de
grandes dimensões, quando for efetuada sua manutenção ou substituição. No desloca-
mento de transformadores, é preciso utilizar guindastes ou caminhões e, portanto, será
imprescindível prever espaço suficiente para tais manobras.

Também será necessário considerar o número de linhas de entrada e saída para


alimentação e distribuição, a fim de fornecer espaço suficiente para a instalação dos
correspondentes equipamentos e suas ligações. Recomenda-se um estudo cuidadoso da
demanda total da estação de bombeamento, incluindo futuras expansões e crescimento

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normal da carga, a fim de evitar uma posterior substituição dos disjuntores e dos transfor-
madores.

Preparar-se-á um diagrama unifilar no início do estágio de elaboração do projeto, de


modo que todas as alternativas, como as de arranjos dos barramentos, possam ser estu-
dadas e, desta forma, ter-se segurança de que todo o equipamento imprescindível foi
incluído nas especificações no respectivo projeto.

10.2.2 Transformadores para as Grandes Estações de Bombeamento

Os transformadores são o item mais importante e mais dispendioso na subestação.


Conseqüentemente, cuidados especiais deverão ser tomados quanto à sua especificação
e instalação. Os transformadores são classificados de acordo com o método de resfriamento
utilizado.

„ Secos, refrigerados a ar:


f secos, auto-resfriados (classe AA),
f secos, resfriados por circulação forçada de ar (classe AFA),
f secos, auto-resfriados/resfriados por circulação forçada de ar (classe AA/
FA).

„ Imersos em óleo isolante, resfriados a ar:


f imerso em óleo, auto-resfriados (classe OA);
f imerso em óleo, auto-resfriados/resfriados por circulação forçada de ar (clas-
se OA/FA);
f imerso em óleo, auto-resfriados/resfriados por circulação forçada de ar/resfri-
ados por circulação forçada de ar (OA/FA/FA).

„ Imerso em óleo, auto-resfriados/resfriados por circulação forçada de óleo:


f imerso em óleo, auto-resfriados/resfriados por circulação forçada de ar/circu-
lação forçada de óleo (classe OA/FA/FOA),
f imerso em óleo, auto-resfriados/resfriados por circulação forçada de ar-circu-
lação forçada de óleo/circulação forçada de ar-circulação forçada de óleo
(classe OA/FOA/FOA).

Nas classes relacionadas anteriormente, a sigla OA designa os transformadores


com seu núcleo e seus enrolamentos imersos em óleo, nos quais o resfriamento é efetu-
ado pela circulação natural do ar sobre a superfície de resfriamento. Em cada caso, as
letras que se seguem à sigla OA representam algum tipo de resfriamento suplementar,
que é acrescentado para aumentar a potência contínua em quilovolt-ampere dos transfor-
madores. As definições completas de todos os métodos de resfriamento podem ser en-
contradas na norma ANSI C57.12.80.

Embora os transformadores imersos em óleo, auto-resfriados, sem resfriamento


adicional, designados na classe OA, ofereçam algumas vantagens quanto à confiabilidade,
já que não contêm partes móveis e não dependem do funcionamento de aparelhos auxili-
ares para garantir a continuidade do serviço, em geral esta classe de resfriamento não
representa uma instalação mais econômica e é raramente utilizada nas estações de
bombeamento. As vantagens dos transformadores de regime triplo (ou seja, transforma-
dores auto-resfriados que possuem dois regimes de resfriamento adicionais) quanto a
custo e dimensões tornam-se evidentes quando a potência contínua máxima, com todo
resfriamento em operação, varia entre 125% e 167% em relação à potência com auto-
resfriamento apenas. O regime de auto-resfriamento é o fator significativo na determina-
ção das dimensões e do custo do transformador.

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O equipamento de preservação do óleo é utilizado para diminuir a absorção da


umidade e do oxigênio no óleo e, desta forma, para manter suas características isolantes,
durante muito tempo. A norma ANSI C57.12.80 identifica e define cinco métodos dife-
rentes de preservação do óleo – sistema de tanque selado, sistema selado gás-óleo,
sistema pressurizado de gás inerte, sistema de tanque de expansão ou tanque conserva-
dor e sistema conservador/diafragma ou sistema de pressão constante.

Em geral, os transformadores de energia elétrica possuem alguns dos dispositivos


de temperatura relacionados a seguir, ou mesmo todos eles.

„ Relé térmico de bobina, com contatos múltiplos ajustados para operação seqüencial
atuando no comando do equipamento de resfriamento do transformador, conforme
as variações da carga. Este relé possui dois contatos adicionais, que podem ser
utilizados para alarme e desligamento;

„ Detector de temperatura do ponto mais quente de enrolamento, do tipo de resistên-


cia, atuando em registrador remoto instalado em comando;

„ Termômetro imerso em óleo, com múltipla graduação e com contatos de alarme


indicando a temperatura do óleo no topo do reservatório.

Além dos medidores de temperatura relacionados anteriormente, em geral são


também fornecidos os seguintes dispositivos:

„ Relé de variação brusca de pressão;

„ Medidor de óleo, com contatos de alarme;

„ Medidor de pressão;

„ Medidor de pressão baixa, para indicar a pressão do tanque quando se utiliza o


aparelho de gás inerte;

„ Medidor de pressão alta, para indicar a pressão nos cilindros de gás inerte;

„ Relé de pressão, para alarme de baixa pressão de gás no tanque do transformador;

„ Relé de pressão, para alarme de baixa pressão de gás, localizado no reservatório de


gás inerte;

„ Dispositivo para alívio de pressão, localizado no tanque principal, o qual é auto-


reajustado sem o uso de peças descartáveis;

„ Comandos para a operação dos ventiladores e das bombas de óleo.

As especificações relativas aos transformadores elétricos deverão determinar que


cada transformador seja completamente montado na fábrica e que esteja sujeito aos
ensaios relacionados a seguir:

„ Impulso;

„ Potencial aplicado e induzido, incluindo ensaio de ionização interna;

„ Sobretensão, efetuados em todos os transformadores com tensões nominais iguais


ou superiores a 230kV;

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„ Corrente de excitação, incluindo medidas das perdas a vazio;

„ Impedância e de perda de carga;

„ Perdas totais;

„ Fator de potência de isolamento;

„ Elevação de temperatura;

„ Medidas de resistência em todos os enrolamentos;

„ Relação de transformação;

„ Nível de ruído;

„ Polaridade.

Os transformadores monofásicos podem ser utilizados para formação de banco


trifásico. Entretanto, existe uma tendência bem definida em toda a indústria, a qual favorece
o uso de transformadores trifásicos, que aprimoram significativamente a confiabilidade
dos transformadores modernos. Dentre outras vantagens dos transformadores trifásicos,
merecem destaque:

„ A eficiência da unidade trifásica, que é superior à de três unidades monofásicas,


com a mesma capacidade total;

„ A necessidade de menor espaço de instalação;

„ Custos de instalação inferiores aos dos de três transformadores monofásicos, mais


o sobressalente;

„ Um número menor de conexões entre o transformador trifásico e as barras condutoras


de alimentação dos motores, as quais também são menos complexas.

Nota: O custo de aquisição poderá ser mais elevada, dependendo da instalação,


devido à necessidade de reter transformador de reserva.

No caso de várias estações de bombeamento de dimensões, aproximadamente


iguais e localizadas em áreas atendidas pelo mesmo sistema de transmissão, será possí-
vel utilizar transformadores trifásicos idênticos, e uma única unidade de reserva.

Apesar das vantagens dos transformadores trifásicos, poderão existir casos em


que as restrições quanto às dimensões e peso de transporte, segundo determinações da
malha rodoviária, dificultem o uso destes transformadores e justifiquem a opção pelos
transformadores monofásicos.

Os transformadores monofásicos ou trifásicos são dispostos em linha, sobre as


lajes das fundações, na subestação. O espaçamento entre as unidades deverá assegurar
o acesso às mesmas por todos os lados e livre fluxo de ar para os transformadores auto-
resfriados ou resfriados por circulação forçada de ar.
Pára-raios de proteção contra sobretensões, do tipo óxido de zinco, metálico devem
ser instalados no lado de linha de cada fase de cada transformador e o mais perto possível
deste. O melhor local será sobre o próprio tanque do transformador, adjacente às buchas
de alta tensão. Devido ao desempenho superior dos para-raios de óxido de zinco em

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resistir e bloquear as sobretensões causadas por descargas elétricas, em comparação


com os antigos pára-raios, sua instalação deverá ser de alta freqüência.

10.2.3 Disjuntores

Os tipos de disjuntores que poderão ser especificados dependerão das correntes


máximas de curto-circuito disponíveis e da tensão do sistema. Estes dois valores deverão
ser obtidos da concessionária de energia elétrica, durante os estágios iniciais de elabora-
ção do projeto.

Os principais tipos de disjuntores são os seguintes:

„ Óleo;

„ Ar comprimido;

„ Vácuo;

„ Gás pressurizado (hexafluoreto de enxofre – SF6, etc.).

Os disjuntores podem ser trifásicos ou monofásicos, dependendo da tensão e da


capacidade de interrupção. A escolha dependerá do arranjo da subestação, da corrente de
curto-circuito e dos valores de tensão do sistema, bem como para melhor compatibilidade
com outras subestações do sistema e da disponibilidade do equipamento.

O comando do disjuntor deverá incluir abertura e fechamento elétricos, com fonte


alternativa de energia auxiliar que permita a seqüência completa do ciclo “abertura-fecha-
mento-abertura”, mesmo durante a interrupção dos serviços auxiliares de corrente alter-
nada. Torna-se obrigatório e uso desse sistema de alimentação em corrente contínua,
através de carregadores e baterias, a fim de assegurar confiabilidade total de operação.

10.2.4 Proteção contra Descargas Elétricas de Origem Atmosférica

Os mastros e os cabos-terra aéreos deverão ser instalados de forma a assegurar um


cone de proteção aos equipamentos, assim definido: um ângulo vertical de 60 graus, a
partir do topo do mastro ou dos cabos-terra aéreos, para as áreas entre os mastros ou
cabos-terra aéreos, e de 45 graus, para todas as outras áreas. A malha de aterramento
deverá ser instalada conforme indicado no item 10.6.

10.2.5 Localização e Disposição de Pequenas Estações de Bombeamento

As subestações localizadas ao lado de pequenas estações de bombeamento devem


prever o chaveamento e a transformação das tensões de transmissão em tensões própri-
as para os motores, com proteção adequada contra descargas elétricas, assim como com
medidores. O desligamento é efetuado por meio de seccionadora. O equipamento adicio-
nal utilizado na subestação inclui transformadores, fusíveis de alta tensão e pára-raios,
além de estrutura apropriada, isoladores, ferragens e condutores. Em geral, os transfor-
madores são isolados a óleo e auto-resfriados, com tanque selado. Derivações no
enrolamento de alta tensão são previstos para permitir variações de tensões de linha, as
quais acomodam quatro degraus de 2,5%, dois acima e dois abaixo do normal. Em geral,
a substituição das derivações é feita apenas em condições de carga nula. Para cargas de
até 15kVA, recomendam-se transformadores montados em poste, enquanto que, para
cargas maiores, os transformadores devem ser assentados sobre fundações de concreto.
Em geral, são utilizadas estruturas de aço para a ancoragem das linhas de transmissão e
para montagem das seccionadoras e de outros equipamentos. Algumas vezes, contudo,
são utilizados postes de madeira ou de concreto.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Cubículos metálicos para instalação externa, abrigando a aparelhagem elétrica, po-


dem ser localizados ao lado dos dispositivos de controle do motor, formando um alinha-
mento contínuo. Este alinhamento pode incluir transformadores com tensões alta até 25
kv.

A interrupção do circuito é realizada por meio de chave tripolar, operada em grupo,


em combinação com fusíveis. Em geral, os transformadores são a óleo, embora seja
também aceitável o emprego de transformadores a seco, quando de dimensões reduzi-
das. São incluídos pára-raios de tensão primária, para proteção do transformador.

10.3 Estações de Bombeamento

10.3.1 Aspectos Gerais

Recomenda-se o uso, sempre que possível, de bombas equipadas com motores


elétricos de ligação direta, sendo que motor e bomba deverão ser comprados juntos. Em
geral, este procedimento é mais prático para motores de até, aproximadamente, 2.200
kW.

As dimensões das galerias, para os equipamentos elétricos e mecânicos das insta-


lações projetadas, são definidas de forma a acomodar todos os equipamentos, inclusive
os que serão instalados no futuro. Isso pode ocorrer quando o projeto de irrigação é
desenvolvido por etapas. As salas, as galerias e outros espaços necessários são discuti-
dos no Capítulo 5 deste MANUAL.

10.3.2 Sala de Controle

O painel de comando deverá ser instalado numa sala própria, que também acomo-
dará os painéis dos motores, dos transformadores, das linhas de transmissão, dos servi-
ços auxiliares, dos instrumentos de controle e registradores hidráulicos, assim como,
ocasionalmente, os painéis de distribuição de correntes contínua e alternada e de comu-
nicações. Em geral, os quadros anunciadores localizam-se também nesta sala de controle,
em painéis de funções afins. O grau de sofisticação desses dispositivos dependerá das
dimensões e da importância da estação de bombeamento. Nas pequenas estações, al-
guns desses painéis podem ser integrados, a fim de ocuparem menos espaço.

É preferível que a sala de comando esteja localizada centralmente, em relação à


subestação e à sala das moto-bombas, de maneira que os cabos de comando e de opera-
ção possam ser curtos. Nas grandes estações de bombeamento, existem inúmeros cabos
de comando provenientes da sala das moto-bombas, dos quadros elétricos ou das galeri-
as e da subestação, os quais são utilizados para as funções de comando, proteção,
medição, comunicação e alarmes anunciadores. São dispostos sob o piso da sala de
comando ou em suportes acima e atrás dos painéis, conectados aos respectivos quadros
de comando. A sala de comando deverá ser projetada de modo a acomodar o número e o
tipo de painéis de comando necessários após a expansão final do projeto. Nas pequenas
estações de bombeamento, a sala de comando poderá localizar-se na sala das moto-
bombas, de modo a reduzir custos de construção e de operação.

10.3.3 Equipamentos Diversos

As estações de bombeamento deverão dispor de espaço suficiente para acomodar


todo o equipamento requerido. Em geral, as grandes estações de bombeamento possuem
uma área de serviço, localizada na extremidade de descarga e entrada da estação, cujo
andar superior oferece espaço para descarregar e acomodar qualquer equipamento rece-
bido. Os andares inferiores desta área dispõem de salas e de espaço para os diversos
equipamentos auxiliares, como equipamento mecânico e de conservação e manutenção,

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que podem ficar distantes das moto-bombas. Incluem-se óleo para os motores e equipa-
mento de purificação, bombas de óleo, bombas de drenagem, sistemas de água, filtros e
compressores de ar.

Existem galerias de serviço e manutenção entre as moto-bombas e a área de servi-


ço, assim como salas e espaços, de preferência próximos às unidades, para acomodar
equipamentos, para excitação do tipo estática, disjuntores para motores, aterramento do
neutro dos motores, barras condutoras ou cabos de força para os terminais dos motores,
transformadores para os instrumentos, chaves de aterramento e equipamento de prote-
ção. Recomenda-se muita atenção às necessidades de espaço adequado para os equipa-
mentos e acessórios – elétrico ou de outra natureza.

De preferência, todos os equipamentos e quadros de controle devem localizar-se


tão próximos quanto possível, de maneira que as ligações sejam curtas e haja facilidade
de operação; entretanto, os custos de construção poderão influenciar no local seleciona-
do. Os custos de construção variam segundo o projeto da estação de bombeamento. As
galerias de serviço e manutenção podem consistir de um ou mais andares, com áreas e
compartimentos separados para acomodar os diversos equipamentos. Recomenda-se lo-
calizar o equipamento auxiliar dos motores, como o cubículo de excitação, adjacente ao
motor, sempre que possível. O mesmo aplica-se para os painéis de comando dos serviços
auxiliares, que servem os respectivos motores.

10.3.4 Barramento de Alimentação do Motor

Pode consistir de um conjunto de cabos isolados flexíveis, suas estruturas de su-


porte, os conectores e as junções terminais, ou de um conjunto de condutores rígidos,
com conexões, juntas e suportes de isolamento associados, dentro de uma caixa metálica
aterrada. As barras condutoras rígidas são classificadas de acordo com sua capacidade
portadora de corrente: barras condutoras portadoras de corrente intensa, do valor nomi-
nal igual ou superior a 3.000 ampéres, ou portadoras de corrente média a leve, de valor
nominal inferior a 3.000 ampéres.

As barras condutoras rígidas também são classificadas em função do tipo de cons-


trução.

„ Barras condutoras de fases não-segregadas, nas quais todos os condutores de fase


estão num mesmo invólucro metálico, sem barreiras entre as fases. Este tipo de
construção visa ao uso com aparelhagem de chaveamento em cubículos metálicos,
tendo as barras condutoras corrente momentânea, isolamento e capacidade de
elevação de temperatura equivalente a aparelhagem associada. A estrutura da bar-
ra condutora deve ser convenientemente terminada por uma carcaça, para conexão
com as flanges dos transformadores ou dos motores; a construção da carcaça é
coordenada mecanicamente com a do cubículo metálico contendo a aparelhagem
de chaveamento, a fim de garantir uma conexão apropriada para este tipo de equi-
pamento. Existem barras condutoras de fase não-segregada, para corrente perma-
nente nominal de até 4.000 ampéres;

„ Nas barras condutoras de fases segregadas, todos os condutores de fase estão


num mesmo invólucro metálico, embora separados por barreiras metálicas entre as
fases. A maioria dos fabricantes já não produz as barras condutoras de fases
segregadas; assim, são raramente encontradas em instalações novas;

„ As barras condutoras de fases isoladas, nas quais cada condutor de fase encontra-
se acondicionado em invólucro metálico individual, separado dos adjacentes por um
espaço de ar. Podem ser auto-resfriadas, ou resfriadas por esfriamento de ar sob
pressão, por meio de um trocador térmico ar-água. Estas barras condutoras são

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projetadas para uso em circuitos cuja importância exige confiabilidade máxima e


independência total de elementos que possam causar falhas. Existem para corrente
permanente nominal de até 35.000 ampéres;

„ O conjunto do sistema de barramento constituído de barras condutoras de fases


não-segregadas, de baixa tensão. Este conjunto consiste de barras condutoras pré-
fabricadas, seccionadas, com isolamento previsto para tensão igual ou inferior a
600 volts. É usado, principalmente, em pequenas estações de bombeamento, como
conexão entre o transformador e o centro de controle do motor. Também é utiliza-
do em grandes estações de bombeamento, para conectar um excitador estático à
máquina a ele associada.

A elevação de temperatura nas barras condutoras e nas conexões dentro dos invó-
lucros não deverá exceder os valores especificados na norma ANSI C37.20, para o con-
junto de aparelhagem de chapeamento e as barras condutoras blindadas a metal.

A fim de prevenir aquecimento indevido dos elementos estruturais magnéticos,


vizinhos a barras condutoras de corrente intensa, é indispensável adotarem-se precau-
ções especiais. A estrutura das barras condutoras com blindagem única para os três
condutores de fase oferece seu próprio isolamento, se o material utilizado para a caixa
possuir alta condutividade e for suficientemente espesso; nestes casos, nenhuma prote-
ção é necessária na parte externa da estrutura das barras condutoras. As que têm blindagens
individuais para cada condutor poderão criar induções magnéticas provocando, com faci-
lidade, elevação indesejável da temperatura em estruturas de aço em sua vizinhança.
Houve um significativo aprimoramento no projeto das barras condutoras, mediante uma
mudança na continuidade elétrica dos invólucros, que se encontram dispostos de forma
que o campo magnético externo às barras condutoras seja reduzido para 5% a 10% dos
valores originais; desta forma, em muitos casos, os requisitos de blindagem externa fo-
ram totalmente eliminados. Neste tipo de barramento, os invólucros são soldados juntos
e formam uma instalação única. A vantagem é isolamento contra a umidade e a poeira, o
que permite a pressurização das barras condutoras, a fim de impedir a condensação,
assim como maior facilidade de instalação. O princípio utilizado para minimizar o campo
magnético que envolve as barras condutoras de fases isoladas, por meio de invólucro
com continuidade elétrica, é que, com o fluxo da corrente numa direção, no condutor, e
em sentido contrário, no seu invólucro, não haverá fluxo magnético externo ao invólucro.

Existem algumas instalações nas quais o uso de cabos isolados e flexíveis em dutos
é mais econômico do que o de barras condutoras com condutores rígidos. Os cabos
isolados são utilizados, principalmente, em instalações com circuitos de grande cumpri-
mento, nas quais a maior confiabilidade das barras condutoras rígidas não compensa seu
alto custo. Sempre que os valores de corrente em regime permanente se aproximam ou
ultrapassam os 2.000 ampéres, torna-se imperativo considerar o uso de barras condutoras
rígidas, ao invés de cabos flexíveis, já que as barras condutoras rígidas normalmente são
muito mais recomendáveis nesses casos.

O equipamento auxiliar essencial poderá ser ligado à barra condutora ou fazer parte
dela; entre outros, destacam-se os transformadores de corrente de tensão, para as fun-
ções de medição, proteção e regulação; o equipamento de proteção da máquina contra
sobretensões ocasionadas por descargas elétricas ou manobras; e dispositivos de
aterramento e de desligamento das barras condutoras.

10.3.5 Equipamento de Proteção para Motores de Corrente Alternada

Uma importante consideração é a proteção dos motores que estão ligados através
de transformadores às linhas aéreas de transmissão. Este é o tipo de instalação predomi-
nante nas estações de bombeamento. Nestes casos, poderão ser transmitidas descargas

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elétricas perigosas ao isolamento dos motores, através dos transformadores, por


acoplamento eletrostático e eletromagnético, mesmo quando o lado de alta tensão do
transformador está devidamente protegido por meio de pára-raios. O equipamento de
proteção para os motores de corrente alternada consiste de capacitores especiais de
proteção e pára-raios, ligados em paralelo nos terminais do motor. Estes pára-raios deve-
rão ser de óxido de zinco, a fim de fornecer proteção máxima contra sobretensão. Os
pára-raios de óxido de zinco são superiores aos outros tipos, para a limitação de
sobretensões e para muitas operações repetitivas, sem risco de falha. A função específica
dos pára-raios é proteger o isolamento dos motores, mediante a limitação da amplitude
das ondas de impulso aplicadas ou das reflexões, dentro dos enrolamentos dos moto-
res. A função dos capacitores é proteger os isolamentos de espira a espira, pela redução
do gradiente da frente de onda fornecida aos enrolamentos do motor ou neles refletida.
O conjunto assim formado também é eficaz na proteção dos motores contra sobretensões
resultantes de arranque em plena tensão. Em geral, os capacitores e pára-raios são mon-
tados em cubículos metálicos, dispostos fisicamente de maneira a ficarem próximos aos
terminais do motor.

Devido às limitações de espaço, o grau de isolamento em máquinas rotativas res-


tringe-se ao mínimo e, uma vez que o isolamento não está submerso em óleo, sua resis-
tência à sobretensão quase equivale à resistência dielétrica em 60 hertz. Por isso, é
essencial que os pára-raios limitem a magnitude das sobretensões que chegam às máqui-
nas a um valor de pico da tensão dielétrica de teste em 60 hertz. De acordo com as
normas atualmente adotadas, esta tensão é:

Vp = (2V + 1.000)/V^2,

onde:

Vp = Valor-pico da tensão dielétrica de teste de 60 hertz;


V = Tensão do motor.

Os capacitores de proteção dos motores podem ser dos tipos monofásico ou trifásico.
São montados em tanques de aço, com meio isolante anti-inflamável e antiexplosivo. Em
geral, os capacitores são projetados para operação contínua em tensões 10% superiores
à sua tensão nominal real, a fim de suportarem as variações operacionais dos motores.

As seccionadoras podem ser operadas com segurança só quando o circuito está


completamente sem alimentação. Não conseguem interromper, com segurança, nem as
menores correntes. Quando for necessário interromper a corrente magnetizante do trans-
formador, à qual está ligada, será imprescindível utilizar uma chave especial, projetada
especificamente para esta finalidade. As seccionadoras não deverão ser utilizadas nos
alimentadores de motores, exceto quando também existir um disjuntor com um sistema
adequado de intertravamento, o qual impedirá a operação indevida das seccionadoras. As
chaves de aterramento das barras condutoras são fornecidas com um dispositivo de
travamento, que permite o travamento nas posições aberta ou fechada. Uma vez que as
chaves são operadas manualmente, também deverão possuir janelas de vidro de seguran-
ça, que permitam a inspeção visual dos contatos. Deverão ser afixados letreiros de aler-
ta, com as necessárias precauções operacionais.

Os disjuntores do tipo instalação interna, abordados nos próximos parágrafos, in-


cluem os disjuntores a serem empregados nos circuitos principais e nos dispositivos auxi-
liares dos motores. Os disjuntores interrompem os circuitos no ar, no vácuo, ou em gás
SF6 (hexafluoreto de enxofre). Estes disjuntores utilizam-se de condutos de arco magné-
ticos e de algum tipo de câmara de deionização ou câmara de arrefecimento, a fim de
assegurar interrupção rápida do arco. Os disjuntores secos que operam segundo este
princípio possuem regime contínuo de até 3.000 ampéres e capacidade interruptora de 1

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Elaboração de Projetos de Irrigação

milhão de kVA. Acima destes valores, os disjuntores secos utilizam ar comprimido junta-
mente com uma câmara para interromper o arco. Os disjuntores secos que operam de
acordo com este princípio possuem potências nominais de regime contínuo de 5.000
ampéres e capacidades interruptoras de 2,5 milhões de kVA. Com o uso de equipamento
adicional de resfriamento, as potências nominais de regime contínuo podem ser conside-
ravelmente ampliadas além de 5.000 ampéres.

Os cubículos blindados que os abrigam consistem de invólucros metálicos que


contêm disjuntores, transformadores de instrumentos, barras condutoras e conexões,
formando um conjunto compacto que ocupa espaço mínimo e permite segurança máxi-
ma, acessibilidade, conveniência e intercambiabilidade. Os disjuntores acomodados nes-
tes cubículos são do tipo removível, com um mecanismo para deslocar, fisicamente, o
disjuntor entre suas posições conectada e desconectada, e com dispositivos de
autocalibração e auto-acoplamento. As barras condutoras primárias e as conexões inter-
nas entre as aparelhagens instaladas no cubículo são totalmente recobertas por material
isolante. Intertravamentos mecânicos são previstos para assegurar uma seqüência
operacional correta e segura dos dispositivos de interrupção dos circuitos. Os cubículos
blindados devem ser dispostos com um compartimento adequado, para conexão com o
cabo isolado ou a barra condutora de fases não-segregadas. Isto é válido tanto para
instalação interna como para externa. As tensões nominais e o nível de isolamento dos
cubículos e aparelhagens nele contidos deverão atender aos requisitos da norma ANSI
C37.20.

Sempre existe a possibilidade de, após uma operação de interrupção plena, ser
reduzida a capacidade do disjuntor quanto ao limite de condução de corrente em regime
permanente, o que indica que o disjuntor não é previsto como fator de sobrecarga.

É importante que as características nominais do disjuntor sejam compatíveis para


operação com corrente plena, em regime permanente, sob quaisquer condições.

As correntes nominais de curta duração e de interrupção do disjuntor dependem


das correntes de curto circuito do sistema alimentador e da velocidade da operação de
abertura do disjuntor. Deverão ser determinadas de acordo com as normas.

Quando os disjuntores são utilizados a altitudes superiores a 1.000 metros, o grau


de isolamento e a capacidade portadora de corrente precisam ser modificados pelos fato-
res de correção, a fim de compensar o aumento de cota. Esses fatores de correção
encontram-se tabulados na norma ANSI C37.20, relativa a aparelhagens, incluindo barras
condutoras blindadas. A tensão operacional máxima prevista do motor (105% da tensão
nominal) não deverá exceder a tensão nominal máxima do equipamento após sua redução
pela aplicação do fator de correção acima citado. Em geral, em altitudes superiores, a
tensão nominal da máquina é reduzida.
Recomenda-se cuidado especial com as instalações em que são indispensáveis
disjuntores para interromper as correntes capacitivas, mesmo quando de pequena magni-
tude. Estes casos podem surgir na comutação de capacitores de derivação, de capacitores
“short” de circuitos de cabos longos, cabos sem carga ou de linhas de transmissão
descarregadas. Se forem necessários disjuntores neste tipo de operação de comutação, é
importante que os requisitos de interrupção do disjuntor estejam bem definidos nas
especificações. Os problemas de interrupção que acompanham estas operações de co-
mutação resultam em altas sobretensões de manobra, associadas a interrupção de cor-
rentes capacitivas.

10.3.6 Cabos de Força e de Comando

É indispensável frisar a importância de haver espaço adequado para todos os cabos


de força e de comando. Numa estação de bombeamento moderna, o arranjo dos cabos de

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comando é muito complicado. Determinar este arranjo é enfadonho, mas muito importan-
te. Os cabos de força e de comando podem ser instalados em condutos ou bandejas, ou
numa combinação de ambos, dependendo de diversos elementos, como diâmetro do
conduto permitido em relação à espessura do solo ou das paredes, etc.

Os cabos de força para tensões iguais ou superiores a 600 volts são isolados com
borracha, compostos termoplásticos ou um produto similar. As dimensões dos conduto-
res são determinadas em função da máxima elevação de temperatura, em relação à tem-
peratura ambiente, permitida pelo seu tipo de isolamento.

O isolamento dos cabos até 600v deverá estar de acordo com os valores estabele-
cidos, nas normas elétricas pertinentes, para o uso previsto. Se os cabos forem subterrâ-
neos, o isolamento utilizado deverá ser apropriado para contato direto com o solo.

Os cabos de força para tensões entre 5.000 e 15.000 volts são do tipo isolado com
polietileno de encadeamento cruzado, termocurado e obturado, ou isolado com borracha
de etileno-propileno. Em geral, o nível de isolamento pleno (100%) é especificado.

Em geral, os cabos de força são do tipo de fios torcidos, em virtude da flexibilidade,


e podem ser mono ou multicondutores, dependendo da instalação.

Os cabos monocondutores oferecem isolamento das fases, e o isolamento possui


resistência dielétrica individual inerentemente maior do que os multifásicos.

As camadas externas do isolamento dos cabos de altas tensões são blindadas,


cobrindo cada condutor com uma fina fita de proteção metálica. Esta fita de proteção ou
blindagem controla o esforço eletrostático, reduz a formação de efeito coroa e diminui a
resistência térmica. Nas terminações dos cabos blindados, utilizam-se muflas, por cima
do isolamento, ou muflas pré-manufaturadas deverão ser instaladas, com a fita de blinda-
gem devidamente aterrada.

Os cabos de alta tensão são utilizados na transmissão de energia entre a estação de


bombeamento e a subestação, assim como na interligação com o sistema de transmis-
são. O uso de cabos de alta tensão poderá ser regido por razões associadas ao meio
ambiente ou ditado por limitações de área disponível entre a estação de bombeamento e
a subestação.

Os problemas e os custos de instalação de linhas subterrâneas de transmissão de


alta tensão são mais complexos do que os das linhas aéreas. O condutor precisará ter
isolamento elétrico do solo, o calor gerado precisará ser dissipado e todo o sistema,
protegido de danos mecânicos e de corrosão.

O isolamento elétrico, o solo e os conduítes ou dutos de concreto são maus condu-


tores de calor. Quanto mais aquecido ficar o solo, menos calor conduzirá, o que poderá
ocasionar falha do isolamento.

O cabo, seu isolamento e o solo constituem um grande capacitor. Esta capacitância


poderá exigir considerável corrente de carga e também resultar na limitação do compri-
mento útil dos cabos de alta tensão. Em geral, é preciso instalar dois cabos de aterramento
de cobre, de dimensões adequadas, ao lado dos cabos de alta tensão, e conectá-los ao
sistema de aterramento da estação de bombeamento e da subestação.

Duas rotas principais de cabos de comando levam à sala de comando: uma a partir
do equipamento elétrico da estação de bombeamento e a outra, da subestação. Em geral,
os cabos provenientes do equipamento elétrico da estação de bombeamento são susten-
tados por bandejas, que facilitam o acesso aos cabos para manutenção ou simplificam o

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reencaminhamento. Os cabos de comando provenientes da subestação podem estar dis-


postos em dutos ou túneis e bandejas, dependendo das dimensões e importância da
estação de bombeamento, assim como do número de cabos existentes. Alguns projetos
de estação de bombeamento utilizam bandejas em sala adicional de espalhamento para a
rearrumação dos cabos antes de serem conectados aos correspondentes quadros de
comando. Outros projetos contemplam salas de terminais entre os andares das salas de
comando e as salas de espalhamento. Em outros casos, a sala de comando possui um
piso elevado, onde estão dispostos os quadros de comando e a área de circulação; o
espaço sob o piso elevado serve como área de espalhamento dos cabos. Nas pequenas
estações de bombeamento, a sala de terminais pode ser omitida, instalando-se os qua-
dros dos terminais como parte do quadro de comando principal. Os projetos de estação de
bombeamento mais recentes têm bandejas pendentes no teto, que visam a economizar
espaço, para instalação do equipamento auxiliar. É indispensável verificar a localização de
dutos e bandejas em relação aos leiautes do sistema de tubulações, ao projeto de ilumina-
ção e à instalação de dutos de ar condicionado central, a fim de evitar interferências.

Os conduítes dos alimentadores auxiliares e os conduítes de circuitos individuais


que ligam o quadro de força auxiliar aos diversos equipamentos elétricos auxiliares pode-
rão ser instalados nas lajes de concreto do piso, nas paredes e/ou nas colunas. Algumas
vezes, inúmeros conduítes são concentrados no quadro de controle unitário. Os conduítes
de cabos de controle e os conduítes da iluminação são dispostos de maneira que não haja
interferência entre eles.

10.3.7 Resumo

Como referência, as principais características de uma estação de bombeamento


típica e dos equipamentos localizados na estação de bombeamento encontram-se relaci-
onadas a seguir.

„ Sala do motor:
f motor principal e excitadores;
f guincho da estação de bombeamento;
f espaço para montagem e para descarregamento.

„ Sala das bombas ou galeria:


f bombas;
f válvulas e acessórios;

„ Sala de comando e controle:


f quadro principal de comando e controle dos motores das bombas, dos trans-
formadores e das linhas de transmissão, incluindo instrumentos registrado-
res. Os registradores e dispositivos de controle automático das bombas esta-
rão localizados no quadro principal ou serem montados em painéis separa-
dos; se o espaço e a aparência o permitirem, os quadros de distribuição de
corrente alternada e do equipamento de comunicação também poderão estar
localizados na sala de comando;
f mesa dos operadores, com instalações de telefonia e terminais de computa-
dor para controle remoto da operação do sistema de irrigação.

„ Salas de serviços e galerias:


f equipamento elétrico auxiliar do motor, como disjuntores secos; equipamen-
to de excitação do tipo estático; linhas principais de força, que consistem de
barramentos ou cabos de força isolados; transformadores de instrumentos;
equipamento de proteção; chaves de aterramento; cubículos de aterramento
neutral, etc.;

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Elaboração de Projetos de Irrigação

f fonte auxiliar de energia elétrica, transformadores para serviços auxiliares


gerais aparelhagens auxiliares; quadros auxiliares unitários e comuns, para
controle dos motores; e outros serviços, painéis de iluminação e transforma-
dores de iluminação da estação de bombeamento; (Observação: Neste capí-
tulo, “serviços auxiliares gerais” referem-se a todos os sistemas elétricos,
exceto os sistemas diretamente relacionados às moto-bombas e a seu siste-
ma de comando e de monitorização);
f sala de baterias de corrente contínua e de seus carregadores;
f sala do equipamento de telefonia;
f equipamento mecânico da estação de bombeamento;
f sistemas de água natural, incluindo bombas e tubulações para o resfriamento
do motor e do compressor de ar, equipamento de ar condicionado e estação
de filtragem;
f sistema de óleo lubrificante para a operação da bomba, incluindo armazena-
mento, purificação, bombas e encanamentos;
f sistema de ar comprimido, incluindo compressores e tanques, assim como a
tubulação de ar comprimido para o serviço da estação;
f sistema de graxa lubrificante para a operação da bomba;
f salas de manutenção e conservação e outros equipamentos, como oficina
mecânica, almoxarifado, elevadores, ventilação e ar condicionado, drenagem
da estação de bombeamento, tratamento de água, remoção do esgoto, sala
de cloro, sala de armazenamento de tintas, armazenamento de produtos quí-
micos, alçapões para os andares inferiores e poço amortecedor das ondas.

„ Espaços para barras condutoras, cabos de força, dutos, conduítes, bandejas para
cabos, etc.:
f alimentação principal de força para o motor, consistindo de barramento ou
cabos de força, estendendo-se dos terminais do motor até aos disjuntores, e
destes aos transformadores;
f cabos de controle da sala de comando e controle até as salas dos motores,
das bombas, área das instalações elétricas e subestação;
f área ou sala de espalhamento dos cabos e sala(s) de terminais;
f alimentadores auxiliares de força e conduítes para os circuitos de controle
dos dispositivos auxiliares;
f conduítes para a iluminação da estação de bombeamento;
f sistema de aterramento.

„ Escritórios e outros cômodos:


f escritórios para o superintendente, os escriturários e os arquivos;
f recepção;
f banheiros, toaletes e vestiários;
f laboratório;
f áreas de escada e corredores;
f bebedouros, aquecedores de água.

„ Subestação, com equipamento principal:


f transformadores;
f pára-raios de sobretensão;
f disjuntores, chaves de desligamento e chaves de aterramento;
f barras condutoras e estruturas suportes.

„ O equipamento e os elementos adicionais relacionados a seguir, que podem exigir


alimentação elétrica e controles, podem ser incluídos no projeto da estação de
bombeamento:
f telas móveis para limpar o fluxo d’água;
f grades para detritos;

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f reservatório à montante;
f tanque de regularização elevado;
f câmara de ar;
f tanques hidropneumáticos;
f sistema operacional das válvulas hidráulicas de descarga;
f válvulas de descarga operadas por motor;
f controladores de vazão;
f controladores de nível diferencial de água;
f sistema de proteção catódica (tipo corrente aplicada);
f bombas de sumidouro;
f sistemas de proteção contra incêndios, incluindo bombas, detectores, alar-
mes, etc;
f portas basculantes motorizadas;
f alarmes de segurança.

10.4 Sistemas de Comando e Controle das Unidades

10.4.1 Esquemas de Controle

Existem três tipos de unidade de controle: local-manual, local-automático e remoto.


As estações de bombeamento mais modernas podem ser projetadas para utilizar qualquer
tipo de controle das unidades de bombeamento e em todos seus elementos auxiliares. Os
controles local-automático e remoto estão ligados aos mesmos dispositivos que desem-
penham a função de controle. Apenas a localização para ordens dos sinais é diferente, e
o requisito de controle por um operador em tempo integral também pode diferir.

O controle automático é executado, principalmente, por meio de chaves de flutuador


ou de pressão. Nas estações de bombeamento com mais de uma unidade, a seqüência de
partida é usada para equalizar o desgaste das bombas e para evitar a partida simultânea
de várias moto-bombas. A seqüência é executada por relés reguladores (de tempo) ou por
diferentes ajustes das chaves de flutuador.

O controle automático é utilizado quando são necessárias duas ou mais estações de


bombeamento para elevar a água através de uma série de estações elevatórias. Em tais
instalações, é necessário que as seqüências de partida e de parada possam ser projetadas
de modo a eliminar variações excessivas dos níveis normais de água nos canais. O co-
mando remoto por supervisor, localizado num único ponto para todas as estações de
bombeamento, as estações tipo “booster”, as estações de pressurização e as estruturas
de controle ao longo dos canais e dos reservatórios oferecem soluções satisfatórias para
este problema.

10.4.2 Controle dos Motores de Inducção

Os controles dos motores variam de pequenas unidades individuais, que consistem


de um disjuntor seco combinado, até conjuntos de partida de motor de tipo industrial. As
grandes estações de bombeamento utilizam cubículos blindados onde são instaladas toda
aparelhagem para a partida e a parada dos motores. Em geral, estes dispositivos também
operam em tensões de até 13.800 volts.

Os cubículos de controle dos motores contêm compartimentos para a alimentação


de entrada, para o controle de cada motor e para a alimentação dos serviços. Em geral, a
unidade de alimentação de entrada possui um disjuntor. A proteção de curto-circuito é
feita por fusíveis ou disjuntores, que também podem ser utilizados para a partida dos
motores. Há circuitos de controle para cada unidade de partida e existem circuitos de
controle comuns para a proteção de todas as unidades de bombeamento. A alimentação
para os circuitos de comando é proveniente de um transformador específico protegido

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com fusíveis, nas pequenas estações, e de sistemas de serviço CA/CC, nas estações
maiores. No caso da estação de bombeamento principal ou de uma estação tipo “booster”
crítica, todo o controle deverá ser efetuado a partir de um sistema de bateria de corrente
contínua (CC), a fim de garantir o controle mesmo quando houver interrupção do forne-
cimento de energia elétrica em CA.

10.4.3 Comando dos Motores Síncronos

O comando dos motores síncronos deverá incluir equipamento de partida e de para-


da do motor, assim como o equipamento necessário para aplicar e comandar a corrente
de campo do motor. Os motores síncronos são utilizados, principalmente, nas grandes
estações de bombeamento e onde é importante controlar o fator de potência da carga da
estação, a fim de atender aos requisitos da concessionária de energia elétrica ou de
fornecer tensão adequada para a partida do motor. Conforme indicado anteriormente, é
indispensável determinar os requisitos da concessionária de energia elétrica, nos primei-
ros estágios de planejamento, para poder estudar os diversos tipos de comando de motor.

10.4.4 Excitação para Motores Síncronos

O sistema de excitação mais comum utiliza excitadores diretamente conectados,


que se têm demonstrado confiáveis, mesmo após muitos anos de operação. Os excitadores-
piloto não foram mais utilizados após o desenvolvimento de componentes estáticos, ca-
pazes de tensões mais altas.

A disponibilidade de dispositivos de estado sólido, de alta potência e confiáveis,


levou ao sistema de excitação completamente estático, que está substituindo o sistema
que utiliza o excitador rotativo. O sistema estático elimina os problemas de manutenção
da escova de carvão e dos rolamentos associados ao equipamento rotativo. Dentre as
vantagens adicionais, destacam-se seu excelente desempenho, com eficiências de até
92%, velocidade de resposta mais rápida e tetos de tensão bem além daqueles existentes
anteriormente. Estas duas últimas vantagens tornam o sistema estático de excitação
particularmente apropriado e eficaz, quando utilizado no controle de estabilização dos
sistemas.

O equipamento de controle do campo contêm elementos de proteção para desliga-


mento do motor, no caso de qualquer condição ou evento anormal. Os elementos de
proteção incluem sobreaquecimento do enrolamento amortecedor, subtensão do excitador,
sobretensão do excitador, corrente excessiva do excitador, perda de corrente de campo,
perda de sincronismo com a fonte de energia elétrica, seqüência de partida incompleta e
dispositivo que garante que a corrente de campo seja aplicada imediatamente, no caso de
o motor ser sincronizado pelo torque de relutância. O contactor de campo assegura a
comutação adequada do resistor de descarga do campo. Também existem mecanismos
de ajuste da corrente de campo do motor, de maneira que a tensão do excitador seja
aumentada até um valor adequado para a sincronização do motor.

Por ser parâmetro do projeto do enrolamento do campo, a capacidade nominal do


sistema estático de excitação varia conforme as especificações do motor, as quais de-
pendem de cada fabricante. Isso exige que o sistema de excitação seja incluído nas
especificações do motor e seja fornecido pelo fabricante do motor.

10.4.5 Unidade de Bombeamento de Velocidade Ajustável

O uso de unidades de bombeamento de velocidade ajustável só deverá ser conside-


rado após uma revisão completa dos dados do projeto e das condições de operação
previstas, para determinar se as unidades de velocidade constante terão desempenho
satisfatório no sistema de irrigação que está sendo projetado. Antes da sua instalação,

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será indispensável assegurar o “custo-eficácia” das bombas de velocidade ajustável. A


disponibilidade de abastecimento adequado de energia elétrica também deverá ser garantido.

Existem diversos meios de variar a velocidade das unidades de bombeamento. En-


tre eles incluem-se o uso de controladores de freqüência ajustáveis com motores de
indução tipo gaiola; controladores CA de tensão variável, com motores de indução espe-
ciais de grande faixa de desligamento, ou motores de rotor enrolado com comando primá-
rio e motores de rotor enrolado com resistência secundária ou com comandos de estado
sólido. O tipo de controlador de velocidade selecionado deverá ser determinado com base
no custo inicial, na eficiência e nas instalações de manutenção disponíveis. Também será
necessário determinar se algumas unidades podem operar à velocidade plena, enquanto
se usam uma ou duas bombas de velocidade ajustável para regularizar o fluxo ou a pres-
são. Isso poderá resultar em substancial economia no custo dos controladores. Num
sistema misto de velocidade constante e velocidade ajustável, na qual há necessidade de
bombas de velocidade ajustável para a operação correta do sistema, recomenda-se que
haja alguma redundância no equipamento de controle da velocidade.

10.4.6 Elementos do Controle de Motores

Em geral, os controles dos motores são ajustados de maneira que, após se estabe-
lecer a vazão de demanda, só uma ou duas bombas fiquem no ciclo de recuperação do
nível do reservatório, a fim de compensar a diferença entre a vazão de demanda e a vazão
sendo bombeada. A fim de atender aos critérios de tempo mínimo de funcionamento,
dimensiona-se o tanque ou reservatório de compensação, de maneira a conter (dentro
da abrangência operacional da bomba em ciclo de recuperação) o volume fornecido pela
bomba de ciclagem durante seu tempo mínimo de funcionamento. Para a equalização do
desgaste, o ciclo automático de operação das bombas garante que, ao longo de um
determinado período, todas as bombas funcionarão durante um mesmo espaço de tempo
e farão o mesmo número de partidas.

Em geral, os seguintes medidores são fornecidos junto com os equipamentos de


controle dos motores:

„ Medidor de tempo em cada motor para registro do tempo de funcionamento;

„ Contador do número de partidas de cada motor;

„ Voltímetros e amperímetros, mais medidores de potência (kWh) e de kVAR (potên-


cia reativa), na barra condutora de entrada;

„ Amperímetro e voltímetro de corrente contínua, para o enrolamento de campo dos


motores síncronos;

Em geral, dependendo das dimensões dos motores, devem ser especificados os


seguintes relés:

„ Relé de subtensão – Protege contra operações indevidas do sistema de controle das


unidades ou falha no sistema alimentador e contra o superaquecimento do equipa-
mento, como resultado de operação continuada em condições de subtensão. Des-
liga as unidades em funcionamento;

„ Relé de falta de fase ou reversão de fase – Protege contra a operação indevida dos
circuitos de controle, o superaquecimento do motor devido à interrupção de uma
das fases de força trifásica e à operação inversa dos motores. Bloqueia as partidas
enquanto existirem estas condições;

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„ Relé de subfreqüência – Utilizado em estações de bombeamento que empregam


motores síncronos; objetiva impedir a operação do motor com subfreqüências de
mais de 5%. Impedirá a partida e desligará as unidades em funcionamento;

„ Relés dos transformadores – Alta temperatura, óleo baixo e sobrepressão repenti-


na. Imediatamente desligam as unidades de bombeamento;

„ Relé de proteção de terra – É necessário nos sistemas solidamente aterrados com


ligação em estrela e com tensão para terra superior a 150 volts, com dispositivo de
desligamento igual ou superior a 1.000 ampéres. Pode ser instalado na barra
condutora principal, ou em cada motor. Quando é especificado para sistemas não
aterrados, requer três transformadores de potencial ligados em estrela aterrada de
delta interrompido, com resistor e relé de tensão. Nos sistemas aterrados, deverão
ser fornecidos três transformadores de corrente ligados em estrela aterrada e um
relé de corrente. O relé desliga as unidades imediatamente e pode ser previsto para
desligar o disjuntor principal da estação de bombeamento, se desejado;

„ Relé de sobrecarga (corrente) – Relés de sobrecorrente, de estado sólido ou térmi-


cos, que podem ser utilizados se houver compensação da temperatura ambiente.
Este relé é empregado para desligar a unidade imediatamente;

„ Sensores de alta temperatura do mancal – As bombas verticais de 200 HP ou mais


devem ter detectores de temperatura do mancal, montados no mancal de escora e
em cada mancal guia. As bombas horizontais de 200 HP ou mais devem ter detectores
de temperatura do mancal nos mancais de luva, se forem do tipo revestimento de
“babbit”. Também podem ser fornecidos relés para os mancais das bombas;

„ Sensor de monitoramento da vibração – Este dispositivo pode ser utilizado em lugar


dos relés de temperatura dos mancais, nas unidades com mancais antifricção. Funcio-
na igualmente para vibração excessiva e para altas temperaturas, e é ajustado para
desligamento imediato. Em geral, é empregado em bombas de 750kW ou mais;

„ Sensor de alta temperatura do enrolamento do estator – Este dispositivo pode ser


um detector de temperatura de resistência, acoplado termicamente, ou um sensor
termistor com relé;

„ Os relés temporizados são empregados para impedir a partida simultânea das bom-
bas numa estação de bombeamento que possua múltiplas unidades. Tal partida
simultânea poderia ocorrer depois da restauração da força, após interrupção. A
concessionária de energia elétrica estipulará os necessários intervalos de tempo
entre a partida das diversas bombas. Desta forma, protege-se tanto o sistema de
energia elétrica quanto a tubulação do adutor.

Os dispositivos de proteção da estação de bombeamento ou dos motores, individu-


almente, podem ser utilizados para disparar alarmes locais ou remotos. São instalados
anunciadores luminosos para alertar o operador a respeito da causa ou da possível origem
do problema.

10.4.7 Controladores Programáveis

O uso de controladores programáveis está se tornando prática padrão nas grandes


estações de bombeamento, com múltiplas moto-bombas. Esses controladores podem
desempenhar as funções de relés de controle, de bloqueio, de temporizadores, de registra-
dores de mudança e de contadores. Os controladores incluem todos os componentes de
estado sólido, incluindo processador central, memória e módulos de entrada e saída.
Precisam ter um dispositivo de proteção contra falha de alimentação, a fim de impedir a

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Elaboração de Projetos de Irrigação

perda de memória ou operações falsas, resultantes das interrupções de fornecimento da


força.

A automatização completa dos controles, pelo uso de controladores lógicos ou de


computadores, vem-se tornando prática padrão na operação remota ou sem supervisor
dos sistemas de irrigação. É importante incluir os sensores e os dispositivos de leitura de
dados durante a instalação inicial, para evitar um custo efetivo maior no futuro.

10.4.8 Equipamento de Aterramento Neutro de Motores

É comum aterrar os neutros dos grandes motores, a fim de se reduzir o perigo de


sobretensões transitórias e garantir a operação dos relés, para o caso de falha do
aterramento do motor. A ligação do neutro do motor à terra deverá incluir impedância
suficiente para limitar a corrente de fase máxima, durante a falha, a um valor que não
exceda a corrente de fase máxima resultante de um defeito trifásico. Um reator neutro de
valor suficiente para limitar a corrente de fase a valores aceitáveis também limitará as
sobretensões a níveis seguros. Entretanto, este método de aterramento tem a desvanta-
gem da magnitude da corrente do defeito para terra apresentar o risco de superaquecer
seriamente os elementos de ferro no estator e na armadura; também será preciso efetuar
despesa adicional com um disjuntor do circuito neutro para reduzir o risco de superaque-
cimento do ferro. O método de neutro aterrado, adotado na maioria das instalações,
emprega o primário de um transformador de distribuição conectado entre o neutro e a
terra, com o secundário do transformador alimentador um resistor e um relé de tensão,
para desligamento e/ou alarme. A seleção correta das dimensões do resistor limita as
sobretensões transitórias a valores aceitáveis, e a impedância total no neutro é suficiente
para minimizar o risco de sério sobreaquecimento do ferro, durante as falhas linha-a-terra.

As restrições a este método são as perdas de eficácia do relé diferencial na detecção


das falhas do aterramento e a perda da seletividade de operação dos relés, se os motores
estiverem conectados em paralelo. É possível dizer que, nas instalações em que os moto-
res são ligados em paralelo, este método de neutro aterrado protege os motores, às
custas do sistema. Apesar das desvantagens do método de aterramento do neutro de
transformador de distribuição e resistor, anteriormente discutidas, o método tem recebi-
do ampla aceitação na indústria, e a experiência operativa tem demonstrado sua grande
eficácia e confiabilidade, mesmo às custas de seletividade de operação, nas instalações
em que as unidades são ligadas em paralelo.

10.4.9 Controle do Equipamento Auxiliar

Os controladores das válvulas de descarga das bombas podem ser elétricos (opera-
dos por motor) ou hidráulicos (sistema pressurizado a óleo). Nas estações de bombeamento
automáticas, o sistema de controle abre e fecha as válvulas na hora certa do ciclo de
bombeamento. Qualquer falha no sistema de controle, ou a operação incorreta da válvula,
deve resultar na parada e no isolamento da bomba.

Em geral, as válvulas operadas por motor são alimentadas por energia elétrica pro-
veniente do sistema de derivações auxiliares gerais. Os botões para a operação manual
encontram-se localizados na válvula e, também, no quadro principal de controle de unida-
de. Os sinais de controle da operação da válvula originam-se nos controles principais da
estação de bombeamento, enquanto as chaves limitadoras nas válvulas permitem a parti-
da e parada apenas sob condições apropriadas e seguras.

Além dos controles operacionais normais, são utilizados outros dispositivos (como
chaves de flutuador ou sensores), para detectar condições anormais de nível de água
baixo ou alto, no poço da bomba, no reservatório ou tanque, no terminal da tubulação de
recalque. Estes dispositivos atuam para desligamento e bloqueio da unidades.

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Nos sistemas de tubulações, é possível utilizar uma chave de pressão na tubulação


de sucção das bombas, para assegurar condições corretas de partida para as bombas.

Quando se liga uma câmara de ar à adutora, a fim de controlar as sobrepressões de


transiente hidráulico, são instalados sensores do tipo sonda, para detectar os níveis apro-
priados de água no tanque. As sondas deverão ser montadas na vertical, de modo a
atenuar os efeitos das partículas condutivas sobre a sonda.

Incorporar-se-á um medidor de tempo ao circuito de controle, a fim de parar a


bomba quando a válvula de descarga não se abre completamente, dentro do período
prescrito, após a partida da bomba. Nas paradas normais, primeiramente a válvula se
fecha, a seguir o sensor que mostra que a válvula está completamente fechada é utiliza-
do para indicar o desligamento da bomba.

Esta proteção é necessária nos sistemas com válvulas de descarga hidráulica ou


operadas por motor. Por outro lado, as válvulas guardas são operadas manualmente e
utilizadas para isolar a bomba e a válvula de descarga, durante a manutenção. Será
preciso fornecer um sensor/chave, para impedir a operação da bomba quando a válvula
guarda foi deixada, inadvertidamente, fechada, de modo a evitar o estrangulamento da
descarga. Quando a bomba estiver em funcionamento, a válvula guarda deverá estar
totalmente aberta.

10.5 Equipamento do Sistema de Serviços Auxiliares

10.5.1 Alimentação em Corrente Alternada

Assim que todo o equipamento for selecionado e sua localização determinada, de-
signar-se-ão as tensões a serem utilizadas. As tensões e as potências requeridas serão
estabelecidas de maneira que o equipamento possa ser comprado com os motores, trans-
formadores, relés, chaves e outros acessórios adequados e que os conduítes possam ser
instalados nos locais apropriados. Este projeto poderá incluir os requisitos da subestação,
quando localizada próximo à estação de bombeamento. De outra forma, a subestação
poderá ser considerada um sistema separado.

O sistema de serviços auxiliares gerais da estação de bombeamento deverá ser


projetado incluindo os transformadores abaixadores necessários e as barras condutores
nas dimensões (ampéres) requeridas. Poderá ser preciso incluir alimentadores para os
subpainéis, a fim de reduzir o número de condutores e conduítes na estação de
bombeamento. Isso permitirá o acréscimo de transformadores abaixadores adicionais, em
locais específicos.

Entre os dispositivos de medição e de comando no quadro de distribuição principal,


incluir-se-ão amperímetros, voltímetros e medidores de kVA. Todas as cargas críticas
deverão ser identificadas, e os disjuntores que requerem a inclusão de contatos para
disparar alarmes deverão ser conectados ao sistema de controle da estação de
bombeamento.

A partir dos dados fornecidos pela concessionária de energia elétrica, assim como
daqueles relativos às impedâncias dos cabos e aos transformadores da estação de
bombeamento, calcular-se-ão os requisitos de curto-circuito do fornecimento de força
para os serviços auxiliares, o que permitirá especificar as capacidades nominais e de
suporte e de interrupção de corrente relativas à aparelhagem de comutação, aos quadros
de controle e aos disjuntores.

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Os circuitos de iluminação e as tomadas, assim como os painéis de controle, os


transformadores, etc., serão localizados dentro do recinto da estação de bombeamento.
Estas cargas deverão ser incluídas nos requisitos de fornecimento de energia elétrica do
sistema de serviços auxiliares.

10.5.2 Alimentadores de Corrente Contínua

Inicialmente, determinar-se-á a corrente contínua a ser utilizada, de maneira que


todos os componentes de controle, como relés, alarmes e anunciadores, lâmpadas de
sinalização, etc., possam ser especificados. A seguir, relacionar-se-ão todas as cargas
necessárias, incluindo as cargas simultâneas, de forma a dimensionar a capacidade em
ampere-hora das baterias.

Esses dados serão utilizados no dimensionamento do quadro de controle de corren-


te contínua, em termos do número de disjuntores e cabos e de suas amperagens, assim
como no dimensionamento dos carregadores de baterias. Deve ser considerada a neces-
sidade ou não de os carregadores possuírem capacidade suficiente para fornecer a carga
completa de corrente contínua e manter as baterias carregadas. Os carregadores deverão
ter proteção, medidores e alarmes, que indiquem qualquer problema, no sistema geral de
anunciadores de defeito na estação de bombeamento.

Determinar-se-á, também, a necessidade de fornecer abastecimento ininterrupto,


separado do sistema de serviços auxiliares gerais de energia elétrica. A prática mais
comum é isolar o fornecimento de serviços auxiliares gerais daquele destinado aos com-
putadores e aos comandos programáveis, para maior confiabilidade e segurança dos sis-
temas de aquisição e armazenamento de dados.

10.5.3 Conjunto Motor-Gerador de Emergência

Se a concessionária de energia elétrica não puder garantir um abastecimento


confiável, poderá ser necessário projetar um conjunto moto- gerador de emergência. O
Capítulo 9 deste MANUAL discute o processo de elaboração do projeto de conjunto moto-
gerador de emergência.

As cargas críticas deverão ser determinadas, dimensionando-se o gerador para atender


a essas demandas, o qual deverá ter capacidade suficiente para dar partida aos motores
de todo o equipamento auxiliar que precisa continuar a funcionar. Não se pretende que
este conjunto seja dimensionado para partida e operação das moto-bombas principais.

10.6 Métodos de Aterramento

10.6.1 Aspectos Gerais

São instalados sistemas de aterramento nas estações de bombeamento e subestações


e na sua vizinhança, assim como em outros locais em que há necessidade de proteger o
pessoal e as instalações contra sobretensões causadas por descargas e falhas elétricas,
descargas estáticas e outras fontes de energia elétrica. Além disso, o sistema de aterramento
estabelece uma ligação de baixa impedância com a terra, que permite a estabilização do
neutro do sistema de força e o estabelecimento de um ponto de referência intencional de
potencial zero, para conectar o equipamento e as estruturas; o sistema de aterramento
fornecerá passagem livre à terra para descarga dos pára-raios, dos entreferros e de outros
dispositivos similares. Fornece também uma rota de retorno de corrente de terra, para o
equipamento aterrado em estrela e os transformadores. Além disso, uma conexão de
baixa impedância à terra assegura operação rápida e confiável dos relés de proteção
contra correntes de defeito à terra, minimiza os ruídos no equipamento de comunicação,

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causado por correntes de terra normais fluindo por rotas aleatórias com mau contato e
alta resistência, e dissipa as sobretensões resultantes das operações de comutação.

Em geral, os sistemas de aterramento consistem em:

„ Eletrodos de aterramento, que podem ser malhas ou matrizes de cabos metálicos;


hastes de aterramento; elementos metálicos enterrados, como tubulações; ou uma
combinação de quaisquer desses itens;

„ Barras condutoras de aterramento, em geral cabos embutidos na estrutura ou en-


terrados, utilizados para interligar os eletrodos de aterramento e fornecer um ponto
de conexão para o equipamento, a um potencial quase uniforme em toda a instala-
ção;

„ Condutores de aterramento, utilizados para conectar o equipamento elétrico e não-


elétrico às barras condutoras de aterramento.

As conexões elétricas com os diversos componentes e equipamentos do sistema


de aterramento são feitas com conectores soldados ou com conectores presos com para-
fusos e porcas.
Em geral, a ocorrência de tensões perigosas, que poderiam causar danos materiais
ou lesões ao pessoal é reduzida mediante a limitação do potencial entre as peças metáli-
cas condutoras não energizadas do equipamento e das estruturas, e entre essas peças e
a terra, a um valor que ofereça segurança, sob quaisquer condições. As peças metálicas
condutoras não energizadas incluem as carcaças e os invólucros das máquinas, a maioria
dos corrimãos e das estruturas metálicas, os elementos estruturais de aço expostos, os
tanques de armazenamento de óleo, os tanques dos transformadores de força, as arma-
ções dos disjuntores, as caixas metálicas e os conduítes. É comum conectar as grandes
tubulações ao sistema de aterramento da estação de bombeamento. Na falta de um
sistema de aterramento adequado, o potencial entre estas peças e a terra pode variar de
alguns volts resultantes de correntes aleatórias, sob condições normais, até alguns mi-
lhares de volts originários de falha à terra do sistema elétrico, ou descargas elétricas
(raios).

10.6.2 Projetos de Aterramento

É importante que seja projetado um sistema de aterramento de baixa impedância,


que garanta o funcionamento correto dos relés de proteção e a segurança do pessoal
contra potenciais perigos. Em geral, os valores de impedância deverão ser inferiores a 1
ohm, nas grandes estações de bombeamento e nas subestações conectadas com linhas
de transmissão de alta tensão; a 5 ohms, nas pequenas estações de bombeamento e nas
subestações ligadas a linhas de tensão mais baixa; e a 10 ohms, nas pequenas instala-
ções ligadas a linhas de baixa tensão da concessionária de energia elétrica. Estes valores
são adequados para os relés de proteção, mas não necessariamente fornecem proteção
contra tensões perigosas que podem ocorrer sob condições normais ou anormais.

A complexidade do projeto do sistema de aterramento dependerá do tipo e das


dimensões da instalação, da impedância do sistema de aterramento, do grau de controle
de tensão exigido, da magnitude da duração da corrente de defeito à terra e da resistividade
da terra. O projeto deverá garantir aterramento permanente e seguro, com a mais baixa
impedância possível, a custo mínimo; o projeto será desenvolvido com base nos requisi-
tos iniciais e no crescimento previsto para as instalações.

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Figura 10.1 Projeto de Sistema de Aterramento Fórmulas de Resistência de


Eletrodos de Aterramento

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10.6.3 Resistência de Terra

Todos os eletrodos de aterramento, sejam hastes ou malhas, possuem resistência


elétrica à terra. A resistência do eletrodo, em geral denominada resistência de terra ou
resistência à terra, pode ser definida como a resistência ôhmica da massa da terra em
torno do eletrodo, até uma distância infinita dele.

A resistência de terra depende da configuração do eletrodo, suas dimensões, a


profundidade a que está enterrado e a resistividade da terra em volta dele. A área de terra
coberta pelo eletrodo de aterramento e a resistividade da terra são os principais fatores
que afetam a resistência da terra. As dimensões do condutor do eletrodo de aterramento
têm influência mínima na resistência de terra e, em geral, o condutor é dimensionado para
a capacidade de corrente exigida do sistema de aterramento. Os sistemas de aterramento
deverão abranger uma grande área, na medida do necessário, a fim de obter a menor
resistência possível.

As fórmulas de resistência de diversas configurações simples de eletrodo são apre-


sentadas na Figura 10.1. Em geral, os eletrodos de aterramento utilizados nas estações
de bombeamento e nas subestações são do tipo malha enterrada de cabos metálicos, de
configuração complexa.

Acrescentar hastes de aterramento à malha de cabos metálicos pouco afeta a resis-


tência da terra, exceto quando as hastes penetram até uma camada de solo menos seca
ou num material de resistividade menor. Os cálculos da resistência da terra para as ma-
lhas de cabos metálicos de configuração complexa baseiam-se na aplicação de fórmulas
empíricas que presumem que a malha está enterrada em terra homogênea, com resistividade
constante.

Fórmula 1

Rg = {rho/[pi(L)]} [ln(2L/a’) + K1(L/A^0,5) – k2]

onde:

Rg = resistência do eletrodo de aterramento, em ohms;


rho = resistividade da terra, em ohm-metros;
pi = razão entre a circunferência de um círculo e seu diâmetro =
3,1415..., sem unidade;
A = área da malha, em metros quadrados;
L = comprimento total dos condutores conectados da malha, em
metros;
a’ = [a(2Z)]^0,5, onde Z = profundidade do condutor, em metros, ou
a’ = a, para os condutores da malha, na superfície da terra;
a = raio dos condutores (dos fios) da malha, em metros;
K1, K2= coeficientes da configuração, segundo Figura 10.1.

Fórmula 2

Rg = rho/(4r) + rho/L

onde:

Rg = resistência do eletrodo de aterramento, em ohms;


rho = resistividade da terra, em ohm-metros;
L = comprimento total dos condutores conectados da malha, em
metros;

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r = raio, em metros, de um círculo que tenha a mesma área da con-


figuração da malha.

A resistividade da terra depende do tipo de solo ou rocha existente na vizinhança do


eletrodo de aterramento e pode variar conforme o teor de umidade ou de minerais, e
segundo a temperatura. Os valores de resistividade são bastante estáveis e constantes,
em temperaturas do solo acima de 0 graus centígrados e teores de umidade do solo
superiores a 25%. A resistividade aumenta rapidamente na presença de temperaturas
mais baixas e de teores de umidade inferiores. Dependendo de outras considerações ou
limitações que possam reger a elaboração do projeto, os eletrodos de aterramento deve-
rão ser enterrados em solo úmido, sempre que possível. As medidas de resistividade
deverão ser efetuadas nas cotas e nos locais onde os eletrodos serão instalados. Será
preciso realizar um número suficiente de medições, a fim de determinar o perfil de
resistividade da área. Os dados de resistividade da terra deverão ser fornecidos junto com
outros dados exigidos para o projeto inicial de todo o sistema de irrigação.

A resistência da terra da instalação completa do sistema de aterramento deverá


ser medida, para fins de verificação e comparação com o valor calculado de resistência
da terra, e deverão ser efetuados os ajustes necessários no projeto total do sistema de
aterramento em função dos valores aferidos. Nas estações de bombeamento, estas me-
dições só deverão ser efetuadas 30 dias, ou mais, após o lançamento do concreto da
subestrutura sobre a malha de aterramento, a fim de permitir que o concreto endureça e
o cimento se combine com a maior parte da água presente na mistura.
O dimensionamento da malha, das barras condutoras e do equipamento do sistema
de aterramento será realizado de maneira a impedir a fusão ou o superaquecimento dos
condutores e/ou das conexões do sistema, devido a defeitos à terra. Em termos de resis-
tência mecânica, os condutores utilizados para a malha, nas barras condutoras e nos
cabos de conexão do sistema de aterramento não poderão ser inferiores a 70mm2. O
dimensionamento dos condutores poderá ser efetuado a partir de tabelas de fusão corren-
te-tempo, no caso dos condutores de cobre. Em geral, a menor seção do cabo utilizado
para atender os requisitos de rigidez mecânica atende também os requisitos de correntes
de defeito, salvo em sistema de alta potência.

Em termos de segurança pessoal, os projetos são baseados nos maiores potenciais


que podem ocorrer entre os pés de uma pessoa, os potenciais de toque que podem
ocorrer entre uma mão e ambos os pés e o potencial transferido (um caso especial de
potencial de toque), no qual a pessoa toca um elemento condutor que está aterrado num
ponto remoto. Os riscos de choque elétrico dependem da freqüência, da magnitude e da
duração das correntes de circulação pelo corpo, sob condições normais e anormais. Em
geral, correntes mais altas poderão ser toleradas se sua duração for abreviada. Com base
nas correntes toleráveis, é possível projetar sistemas de aterramento que permitam uma
diferença de potencial tolerável entre os pontos de contato, mediante a seleção adequada
da configuração dos eletrodos de aterramento e/ou a diminuição do valor da resistência
da terra. Os princípios básicos e os procedimentos típicos para o controle seguro de
potenciais perigosos nas subestações são apresentados na norma IEEE 80. Os princípios
básicos são aplicáveis aos sistemas de aterramento das estações de bombeamento; entre-
tanto, esses procedimentos precisam ser adaptadas para as demais condições do projeto.

10.6.4 Aterramento de Estações de Bombeamento

Em geral, instala-se uma malha de aterramento sobre a rocha-mãe ou o solo, abaixo


da subestrutura de concreto da estação de bombeamento. A malha deverá estender-se
por toda a área abaixo da estação, até o perímetro das fundações. Essa área interna ao
perímetro das fundações deverá ser malhada por condutores, instalados a intervalos cons-
tantes, os quais formarão uma malha ou matriz; deverá haver, pelo menos, um condutor
por vão do prédio da estação de bombeamento. A malha garantirá continuidade elétrica

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com o condutor do perímetro da malha, fornecerá pontos convenientes de conexão para


os cabos de subida e contribuirá, até certo ponto, para diminuir a resistência do aterramento.
O condutor no perímetro da malha deverá ser igual ou maior do que o maior condutor no
sistema de aterramento. Nas estações de bombeamento em que a malha for instalada
abaixo do nível freático mais baixo, esta deverá ser colocada diretamente sobre a rocha-
mãe ou o solo. Se a malha for instalada acima do nível freático mais baixo, os cabos da
malha deverão ser colocados em valas, de aproximadamente 150mm por 150mm, e
aterrados com o solo na sua volta, de maneira a impedir que os condutores da malha
fiquem embutidos em concreto seco, de alta resistividade.

Sempre que a subestação estiver localizada adjacente à estrutura da estação de


bombeamento, as malhas de aterramento da estação e da subestação deverão ser
conectadas eletricamente, por um mínimo de dois condutores de ligação das duas ma-
lhas, dispostos separadamente, cujo diâmetro deverá equivaler ao do maior cabo de cone-
xão do sistema de aterramento da estação de bombeamento. A conexão elétrica entre as
malhas de aterramento da estação de bombeamento e da subestação aumenta a área
protegida pelo eletrodo de aterramento e mantém os dois sistemas de aterramento com
quase o mesmo potencial.

Sempre que o valor da resistência da terra da malha de aterramento da estação de


bombeamento exceder os limites permissíveis no projeto, instalar-se-á uma malha adicio-
nal no canal de entrada da estação. Essa malha deverá ser chumbada firmemente ao
fundo do canal de entrada, por meio de hastes de aterramento, que serão cravadas ou
fixadas com argamassa em furos abertos para esta finalidade. A extensão da malha
deverá ser interligada eletricamente à malha de aterramento da estação de bombeamento,
por um mínimo de dois condutores de ligação, dispostos separadamente, cujo diâmetro
deverá equivaler ao do maior cabo de conexão do sistema de aterramento da estação de
bombeamento. Se for instalada uma malha de aterramento adicional ou qualquer outra
extensão da malha de aterramento da estação de bombeamento, em áreas próximas à
superfície da terra, ou em outros locais acessíveis ao pessoal, o projeto deverá limitar os
potenciais de passo e de toque, até se conseguirem valores seguros.

Os cabos de subida deverão estender-se da malha de aterramento até as barras


condutoras de aterramento em cada andar, passando através da estrutura de concreto.
Deverão continuar até os níveis superiores da estrutura, a fim de fornecer conexões com
os elementos estruturais de aço e o equipamento. Nas grandes estações de bombeamento,
deverão ser conectados, à malha de aterramento, pelo menos dois cabos de conexão, por
vão do prédio; no caso das pequenas estações, um cabo por vão será suficiente. Quando
a estação está localizada de forma que a malha de aterramento fique abaixo do lençol
freático, será preciso desenvolver algum método que impeça a água de migrar para den-
tro da estação, ao longo dos cabos de conexão do aterramento. Um dos métodos dispo-
níveis implica cortar o cabo para, depois, reconectá-lo por meio de uma emenda sólida
de tipo Cadwell. Para aterrar as carcaças e os neutros das máquinas, assim como as
carcaças e os terminais de neutro dos transformadores, localizados na estação principal
de bombeamento, utilizar-se-á o maior cabo no sistema de aterramento. No caso de
grandes unidades, serão necessárias duas conexões à terra, para cada carcaça.

Deverão ser preparados desenhos do sistema de aterramento, que mostrem as


dimensões dos condutores e indiquem o equipamento que deverá ser aterrado. Todo o
equipamento elétrico e de iluminação abastecido pelo sistema de distribuição de corrente
alternada do sistema estação/serviço deverá ser aterrado. Os condutores de aterramento
do equipamento, utilizados para ligar o equipamento às barras de aterramento da estação
de bombeamento, deverão ser iguais ou superiores a cobre torcido de 25mm2, em termos
de resistência mecânica. Poderá ser necessária a utilização de condutores de aterramento
maiores, a fim de impedir a fusão do condutor, em função dos valores das correntes de
defeito. Utilizar-se-ão conectores de aterramento parafusados para ligar o equipamento às

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barras condutoras do aterramento da estação de bombeamento. Os condutores do


aterramento do equipamento deverão seguir a rota mais curta possível. Nas instalações
mais compridas, como as das barras condutoras blindadas a metal, as caixas deverão ser
aterradas em vários locais, a fim de minimizar o aumento do potencial transferido ao
longo do percurso dos condutores de aterramento.

Os desenhos do projeto de sistema de aterramento deverão indicar os itens metá-


licos não elétricos, dentro do recinto da estação de bombeamento, que precisam ser
aterrados, como os tanques de óleo e as estruturas das bandejas de cabos. Os
aterramentos não elétricos baseiam-se na proximidade do elemento a outros elementos
elétricos/não elétricos, que poderiam adquirir tensões perigosas. Empregar-se-á condutor
de cobre torcido de, pelo menos, 25mm2. Razões econômicas não permitem o aterramento
de todos os elementos metálicos dentro de uma estação de bombeamento, como
esquadrias, grades, adufas e corrimãos, entre outros.

10.6.5 Aterramento de Subestações

Os requisitos de segurança das subestações determinam que sejam aterrados to-


dos os elementos metálicos expostos das estruturas, os tanques dos transformadores,
as passarelas e cercas metálicas, a estrutura de aço dos prédios, os quadros de controle,
as carcaças dos transformadores dos instrumentos, etc., de maneira que qualquer pessoa
que esteja próxima a um destes elementos, ou em contato com ele, seja protegida de
tensões perigosas, no caso de um condutor de alta tensão enviar uma descarga a esse
elemento, ou entrar em contato com ele. Essa proteção exige que cada apoio ou coluna
estrutural tenha ligação própria com as barras condutoras do aterramento da estação. Se
a subestação tiver estruturas para diversos níveis de tensões, será preciso que haja uma
barra condutora de aterramento para cada estrutura ou grupos de estruturas com a mes-
ma tensão. Quando houver possibilidade de danos mecânicos, todas as conexões da terra
aos equipamentos deverão receber proteção adequada. As barras condutoras do
aterramento deverão ser instaladas a cerca de 50cm da superfície acabada do solo, exceto
quando for encontrada rocha sólida. Se possível, deverão ser instaladas antes de qualquer
outro equipamento. Quando se encontrar rocha sólida, as barras condutoras só deverão
aprofundar-se o suficiente para ficarem protegidas de danos mecânicos, ou aproximada-
mente 15cm. Sempre que possível, evitar-se-á embutir os fios condutores de aterramento
no concreto. Os cabos de aterramento instalados fora das cercas de subestação poderão
ser de aço revestido de cobre, porém, por razões de padronização, poderão ser totalmente
de cobre.

Os equipamentos elétricos mais importantes, como transformadores, disjuntores,


pára-raios, seccionadores e outros deverão ser conectados à terra por meio de cabo com
o mesmo diâmetro das barras condutoras.

Quando possível, as barras condutoras da subestação sempre deverão ser ligadas à


malha de aterramento da estação de bombeamento, mediante, pelo menos, dois conduto-
res de diâmetro igual ao do maior cabo de conexão no sistema de aterramento da estação.

Em alguns casos, adicionalmente à malha de terra, utilizar-se-ão hastes de


aterramento, de 20mm de diâmetro e 3m de comprimento. Existem no mercado hastes
mais compridas, as quais deverão ser utilizadas, se necessário, para obter um aterramento
adequado. Nos locais em que existe incerteza quanto à resistividade da terra, recomenda-
se que esta resistividade seja medida, a fim de se obterem dados que permitam a determi-
nação dos comprimentos e dos espaçamentos das hastes de aterramento.

Os pára-raios poderão ter eletrodos de aterramento. Quando os pára-raios para as


diversas fases não estiverem próximos entre si, cada pára-raios poderá precisar ter seu
próprio eletrodo de quatro hastes. Se forem montados pára-raios nos tanques dos trans-
formadores, os eletrodos de aterramento deverão ser situados em torno do transforma-

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dor, pelo menos em cada canto da base do transformador. Nos circuitos alimentadores de
baixa tensão das subestações, é essencial instalar aterramento adequado para os
arrestadores. Os dispositivos ou as alavancas de manobra da chave de terra não poderão
ser ligados à conexão de terra dos pára-raios, com exceção do dispositivo que está sendo
especificamente protegido pelo arrestador, como transformadores, reguladores de ten-
são, ou transformadores reguladores.

Os tanques dos transformadores de tensão deverão ser ligados diretamente às


barras condutoras do aterramento. Se o transformador estiver montado sobre trilhos,
cada trilho deverá ser ligado diretamente às barras condutoras.

O aterramento dos transformadores secundários de potencial, indicados no diagra-


ma unifilar, para os circuitos de medição e de proteção com dispositivos localizados longe
do transformador de instrumento, terá ponto único de conexão à terra deverá estar ligado
às barras de aterramento da caixa ou do quadro de controle, no primeiro ponto de aplica-
ção. Nos circuitos secundários próximos ao transformador, far-se-á uma conexão entre a
malha de aterramento e o bloco do terminal, na caixa de junção montada na estrutura de
apoio do transformador de potencial. Será suficiente instalar uma conexão desde o cabo
de terra de uma base de transformador ou extensão do cabo de terra de uma estrutura de
aço, até o bloco terminal do circuito secundário.

O aterramento dos transformadores de corrente é igual ao dos transformadores de


potencial, exceto que os circuitos diferenciais do transformador de corrente, instalados
em paralelo, deverão ser ligados à terra num só ponto. Os circuitos secundários dos
transformadores de corrente devem ser ligados à terra no transformador, quando forem
curto-circuitados ou não estiverem sendo utilizados.

Os disjuntores montados em cubículo deverão ter uma ligação à terra, desde o


cubículo até uma barra condutora. No caso de disjuntores individuais do tipo tanque, cada
tanque, individualmente, deverá ser conectado a uma barra condutora de aterramento,
seja diretamente, seja instalando-se um cabo único entre os tanques, fixando o cabo a
cada tanque e, depois, conectando cada extremidade deste cabo a uma barra condutora
de aterramento.

A alavanca de manobra e a carcaça dos mecanismos de desligamento e de opera-


ção das seccionadoras e chaves de terra operadas em grupo deverá ser conectada à
plataforma de operação das chaves.

Os cabos blindados de metal deverão ter derivações para os pára-raios no terminador.


Quando se utilizar um cabo de três condutores, além de ligar a conexão à terra do pára-
raios ao cabo blindado, esta deverá ser bem aterrada em ambas as pontas. Se forem
empregados cabos condutores monofásicos, o cabo blindado e o terminador deverão ser
ligados à terra em ambas as extremidades, no caso de cabos curtos. No caso de cabos
compridos de um condutor, conduzindo até 500 ampéres, será necessário uma ligação
especial com o blindado, a fim de reduzir as perdas de corrente circulante.

As cercas de aço em torno ou dentro da subestação deverão ser cuidadosamente


aterradas, ligando-se os suportes da cerca às barras condutoras do aterramento, a inter-
valos de cerca de 10m. Além disso, todos os suportes de canto e os do portão deverão
ser aterrados.

Será preciso estender um ou mais cabos de aterramento ao longo de todos os


túneis e canaletas. Todos os objetos metálicos, como conduítes, suportes das bandejas
de cabos e do quadro das tampas metálicas das canaletas, deverão ser ligados ao(s)
cabo(s) de terra. No caso dos conduítes e das canaletas, a distância máxima entre as
conexões à terra não deverá exceder 5m.

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10.6.6 Aterramento de Instalações Isoladas

Os sistemas elétricos em instalações em lugares remotos deverão ser protegidos


por sistemas de aterramento adequados. Estes servem para limitar, a valores de seguran-
ça, as tensões que possam decorrer da exposição a descargas elétricas ou a outras
tensões mais altas do que aquelas projetadas para o circuito, ou para limitar o potencial
máximo à terra, resultante de tensões normais. Todas as instalações de aterramento
deverão obedecer as normas constantes da mais recente edição do “National Electric
Code”, ou outras normas pertinentes.

Muitas vezes, estas instalações possuem tubulações metálicas horizontais muito


compridas, que podem ser eficazmente empregadas como curso à terra, de forma a
desviar as descargas elétricas para longe dos prédios. Os poços profundos com revesti-
mento metálico ou os tubos de subida metálicos podem ser satisfatoriamente utilizados
quando não há tubulações horizontais. É preciso observar que tubos unidos com juntas de
borracha, como os tubos de ferro dúctil, não oferecerão continuidade elétrica através da
junta, exceto se forem instalados cabos de ligação direta entre os tubos, especificamente
com esse objetivo. Sem as ligações diretas, estes tipos de tubulação não serão eficazes
como curso à terra.

Nos prédios que não possuam um grande sistema de tubulações metálicas, mas
apenas tubos metálicos subterrâneos, com resistência à terra maior do que os valores
indicados a seguir, será preciso reduzir a resistência à terra até se atingirem esses valores,
cravando-se um número adequado de hastes de aterramento na terra úmida, à maior
profundidade possível.

„ Nos prédios que contenham equipamento ou produtos importantes, dispendiosos


ou inflamáveis, e que normalmente sejam ocupados por muitas pessoas, a resistên-
cia à terra não deverá exceder 10 ohms;

„ Em outros prédios menos importantes, a resistência não deverá exceder 25 ohms.

No caso de prédios de madeira, que não disponham de tubulações ou sistemas de


conduítes metálicos perto do teto, será preciso instalar um cabo de aço torcido equivalen-
te, para desviar as descargas elétricas para terra permanentemente úmida. Este cabo
deverá estender-se até a parte mais alta do teto e, no caso de tetos planos, deverá formar
o maior retângulo horizontal fechado possível. Deverá estar interligado a todos os conduítes
elétricos e às caixas metálicas, por meio de cabo de cobre torcido, descoberto, de área
igual ou superior a 25mm2. O cabo de aço deverá ter diâmetro mínimo de 6mm e, prefe-
rivelmente, não deverá ter emendas, até sua conexão com o sistema de varetas de
aterramento.

Em geral, as pequenas instalações, como as estações de rádio ou as repetidoras de


rádio, estão localizadas em lugares rochosos e altos, sendo mais expostas às descargas
elétricas. Na falta de tubulação metálica, poços profundos, ou terra permanentemente
úmida, torna-se difícil instalar malhas de aterramento de baixa resistência. As hastes de
aterramento deverão ser cravadas em terra permanentemente úmida, quando encontrada
perto da superfície, a uma distância de até 60m da instalação. Além disso, sempre que
possível, instalar-se-ão, no solo, malhas tipo contrapeso de cabos de aço revestidos de
cobre, com diâmetro aproximado de 6mm, a uma profundidade de 50cm. O comprimento
máximo de cada malha tipo contrapeso não deverá exceder 30m. Será suficiente instalar
um máximo de quatro contrapesos. Quando apenas dois forem suficientes, seu
espaçamento deverá ser regido pelo terreno. As malhas contrapeso poderão também ser
de cobre, por razões de padronização, reduzindo a quantidade de tipos diferentes para o
estoque.

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DRENOS

11.1. Aspectos Gerais

Os drenos associados a projetos de irrigação têm os seguintes objetivos inter-rela-


cionados:

„ Propiciar o escoamento superficial, tanto causado pela precipitação pluvial, quanto


proveniente das águas de irrigação;

„ Manter os níveis dos aqüíferos, bem como os sais contidos nestes últimos, abaixo
da zona radicular das culturas irrigadas;

„ Proteger as obras de irrigação.

O sistema de drenagem integrado a um projeto de irrigação deverá atender ao


conjunto dos três objetivos supracitados, conforme os requisitos do projeto específico e
segundo os critérios da melhor relação custo-benefício que se puder obter. Os canais
naturais de drenagem existentes deverão ser aproveitados e incorporados ao sistema de
drenagem do projeto, tanto quanto for possível.

O propósito deste capítulo é apresentar certos conceitos e considerações de proje-


to, relativos a sistemas de drenagem em projetos de irrigação. Informações mais porme-
norizadas a respeito de requisitos e projetos de drenagem constam do “Manual de Drena-
gem” <1>.

11.2 Tipos de Drenos

A nomenclatura utilizada na descrição dos vários tipos de drenos está baseada nas
funções dos mesmos. Os seis tipos de drenos abordados nos parágrafos seguintes deno-
minam-se: de alívio, de interceptação, de escoamento superficial em glebas, de proteção,
coletores e de saída (vide Figura 11.1).

11.2.1 Drenos de Alívio e de Interceptação

Os drenos de alívio e de interceptação desempenham a função primordial de contro-


lar o nível freático da água subterrânea. Constituem a parte montante dos sistemas de
drenagem de terras agrícolas. A diferenciação entre os dois tipos está relacionada ao
gradiente hidráulico do conjunto dos lençóis freáticos controlados pelos drenos em ques-
tão. Os drenos de alívio são utilizados para rebaixar o lençol freático em áreas planas
relativamente extensas, onde a água provém, principalmente, de percolação resultante da
chuva ou da irrigação, e onde os gradientes, tanto do lençol freático quanto das camadas-
barreira no subsolo, não permitem um movimento lateral adequado das águas subterrâne-
as. Os drenos de alívio são instalados sob as terras irrigadas, sempre que o controle do

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Figura 11.1 Tipos de Drenos

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lençol freático for necessário. Os drenos de interceptação servem para interromper ou


interceptar o movimento de águas subterrâneas que estiverem descendo de alguma fon-
te. Tanto os drenos de alívio quanto os de interceptação podem ser instalados como
drenos em valas abertas ou como tubulações. São projetados como drenos em valas
abertas sempre que tiverem a finalidade complementar de captar o escoamento superficial
proveniente de terras irrigadas e de precipitação pluvial.

11.2.2 Drenos para Escoamento Superficial em Glebas

Este tipo de dreno coleta o escoamento superficial proveniente das terras irrigadas
e não irrigadas situadas em glebas de propriedades agrícolas. Esse escoamento superficial
pode ser proveniente da irrigação ou das águas pluviais. Em áreas irrigadas, estes drenos
são normalmente instalados na parte baixa dos campos, e podem ser projetados com a
dupla finalidade de servir de dreno de alívio e de interceptação, para que também seja
mantido o rebaixamento do nível freático das águas subterrâneas.

11.2.3 Drenos de Proteção

Os drenos para a proteção de canais são principalmente utilizados para interceptar


enxurradas no lado ascendente dos canais e conduzi-las para os drenos coletores. Estes,
por sua vez, passam sobre os canais por meio de calhas ou sob os canais na forma de
bueiros. Outras estruturas, como, por exemplo, estações de bombeamento, edificações e
estradas, também dispõem freqüentemente de drenos de proteção.

11.2.4 Drenos Coletores

Os drenos coletores recebem a água dos drenos de interceptação, dos drenos de


alívio e dos drenos para escoamento superficial em glebas. Também podem receber a
vazão de drenos construídos para a proteção de estradas, canais e outras instalações; de
vertedouros dos canais; e de outros drenos coletores. Sempre que possível, os drenos
coletores seguem os leitos dos talvegues naturais existentes, os quais são, às vezes,
aprofundados. Também podem ser construídos, se não houver nenhuma drenagem natu-
ral. Os drenos coletores ainda podem ser projetados para captar diretamente as águas
subterrâneas. Se isso for necessário, deverão ser projetados com um nível normal de
água, a uma profundidade que proporcione uma boa drenagem subsuperficial das áreas
adjacentes. Os drenos coletores são normalmente do tipo em vala aberta, mas podem ser
utilizadas tubulações subterrâneas, se eles coletarem unicamente água de drenos tubulares
subterrâneos, do tipo de interceptação ou de alívio.

11.2.5 Drenos de Saída

Captam a água proveniente de drenos coletores e a conduzem para fora da área do


projeto, normalmente para um rio. Estes drenos são geralmente constituídos nos leitos
dos talvegues naturais de drenagem, mas podem ser construídos, se não existirem es-
ses canais.

11.3 Considerações Acerca do Projeto

As considerações apresentadas nos parágrafos seguintes são feitas de forma resu-


mida. Não é a maneira de se projetarem drenos subsuperficiais. Para uma explanação
mais detalhada acerca dos drenos em vala aberta, e maiores informações a respeito de
como projetar drenos subsuperficiais, deverá ser consultado o “Manual de Drenagem”
<1>.

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11.3.1 Estaqueamento

Visto que o arranjo geral dos sistemas de drenagem é geralmente controlado pela
cota de um canal natural de drenagem na saída, a convenção relativa às estacas ao longo
dos drenos prescreve a colocação da Estaca 0+00 na saída do dreno. Por conseguinte, a
numeração das estacas aumenta no sentido inverso à direção do fluxo no dreno.

11.3.2 Seções Típicas

A discussão seguinte refere-se, de modo geral, aos drenos projetados e construídos


em lugares onde não existem canais naturais de drenagem. Contudo, os canais naturais
podem ser aprofundados, alargados, e a declividade das margens pode ser atenuada,
sempre que for necessário; os critérios indicados a seguir podem ser também adotados
para essas operações.

As seções típicas de drenos, conforme indicado na Figura 11.3, são semelhantes às


seções típicas para canais com revestimento de terra; no entanto, não há, em geral,
necessidade de um revestimento. A única exceção pode ocorrer se o solos forem extre-
mamente permeáveis. A razão b:d para os drenos pode ser idêntica àquela para canais
revestidos de terra, como se vê na Figura 6.2, no Capítulo 6 deste MANUAL; contudo, a
largura mínima do fundo é controlada pelas dimensões do equipamento de construção e
limpeza, tendo geralmente um valor mínimo de 1m. A inclinação dos taludes laterais
deverá ser menor que o ângulo de repouso do solo saturado, com valores geralmente, de
1,5:1 até 2:1, podendo chegar a 3:1 ou mesmo a um valor mais suave, se as condições
assim o justificarem. A compactação das margens não é necessária, exceto em casos
especiais. Os aterros das margens dos drenos deverão ser construídos em sua largura
total, depositando-se o aterro em camadas e passando-se a seguir o equipamento de
construção sobre este, tantas vezes quanto for possível. Os canais de drenagem devem
ser mantidos eliminando-se qualquer vegetação alta e densa que possa reduzir a capaci-
dade de vazão do dreno. Pela mesma razão, não deve ser permitido o despejo de lixo e de
outros detritos nos drenos.

Deverá ser projetado um dreno com uma seção especial, no caso de ocorrência de
uma vazão pequena contínua, alternado com vazão maiores intermitentes causadas por
enxurradas. Se for permitido o escoamento de vazão pequena em um canal com fundo
largo, haverá uma tendência a meandros e à formação de poças no dreno, o que resultará
num canal com fundo molhado. Na maioria dos casos, um canal com fundo seco é mais
estável e menos sujeito à erosão do leito que um canal com fundo molhado. Uma maneira
de conseguir um canal com fundo seco para dar escoamento às vazões resultantes das
enxurradas consiste em construir um pequeno canal “piloto”, ao longo do eixo central do
canal de evacuação de cheias, para escoar o fluxo contínuo mais fraco.

Nos drenos para a proteção de canais, se a seção do dreno tornar-se profunda em


relação à seção do canal, a distância entre o dreno e o canal deverá ser suficientemente
grande para garantir que o lençol freático, com origem na água do canal, não interceptará
o fundo do dreno.

11.3.3 Capacidades de Projeto

A maioria dos sistemas de drenagem, integrante de projetos de irrigação, é planeja-


da para a eventualidade de cheias com cinco anos de período de retorno; no entanto, os
drenos de proteção e as estruturas de travessia dos canais deverão ser projetados para
um período de retorno maior, em face dos danos que poderiam resultar para as obras do
projeto de irrigação. Deve-se fazer um estudo para determinar o custo de tais danos –
inclusive o prejuízo causado por perdas de safras, no caso de se ter de interromper as
operações do sistema de irrigação – versus o custo do sistema de drenagem. É de boa

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prática projetar os drenos de proteção e as estruturas de travessia em função de uma


mesma freqüência de cheias. Quando os sistemas de canais são de grande porte, os
drenos de proteção, incluindo a borda livre no topo dos diques laterais, são, normalmente,
dimensionados e projetados em função de chuvas com um período de retorno de 25 anos.
Para maior segurança, às vezes é feito um estudo visando proteção contra chuvas com
100 anos de recorrência, a fim de se determinar se haverá transbordamento em áreas
onde o mesmo provavelmente acarretaria sérios danos, os quais exigiriam reparos bastan-
te dispendiosos.

Além de dar vazão às cheias, os drenos deverão ter capacidade suficiente para
receber as vazões de drenagem de águas subterrâneas, das águas excedentes da irriga-
ção e das águas residuais do sistema de canais. Durante as enchentes, será, normalmen-
te, interrompida a irrigação e poderá ocorrer um grande escoamento proveniente dos
canais, o que irá depender da própria configuração do sistema de canais.

11.3.4 Velocidade de Escoamento nos Drenos

As velocidades máximas toleráveis para os drenos em vala aberta, segundo o tipo


de solo, são as seguintes:

Tipo de solo Velocidade (m/s)


Argiloso 1,2
Solo franco-arenoso 0,75
Areias finas 0,45

Em alguns solos, tais como siltes não plásticos, pode haver necessidade de análises
especiais para determinar as velocidades aceitáveis, podendo até ser incluída uma análise
de força de tração.

11.3.5 Estruturas

As estruturas ligadas aos drenos abertos são: entradas de drenos, transições, es-
truturas de queda e cruzamento de estradas e canais.

11.3.5.1 Entradas de Drenos

Nunca se deve permitir que o escoamento proveniente de uma enxurrada chegue a


um dreno escorrendo por seus taludes laterais. Uma erosão na extremidade superior do
dreno, bem como a formação progressiva de canais de erosão, poderão se propagar para
os lados do dreno, se isto for permitido. Aterros deverão ser construídos no lado ascen-
dente do dreno, a fim de interceptar e canalizar o escoamento para as entradas dos
drenos. A Figura 11.2 mostra uma entrada típica de dreno. As entradas tubulares podem
ser de chapa metálica corrugada (diâmetro mínimo de 500mm), utilizando-se um coefici-
ente de rugosidade de “Manning”, n=0,021. As velocidades dentro da tubulação não
devem exceder 3m/s, e a declividade mínima da mesma deve ser 0,01. A extremidade de
saída da tubulação deve estar a 0,3m além do ponto onde a superfície normal da água
intercepta a margem, a fim de se evitar a erosão das margens. Se o solo no dreno,
adjacente à saída da tubulação, tender a ser erosivo, deverá ser colocada uma proteção
de “riprap” sob a saída. O reaterro deverá ser compactado à volta da tubulação em todo
o seu comprimento, e num mínimo de 0,3m por cima da tubulação. Deverá ser colocado
um colar de concreto em cada tubulação.

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Figura 11.2 Entrada Típica de Dreno

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Figura 11.3 Seções Típicas de Dreno

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11.3.5.2 Transições

Mudanças na seção de um dreno serão necessárias, sempre que influxos ao longo


desse dreno exigirem um aumento da capacidade de escoamento. O ponto ideal para
efetuar qualquer mudança de seção é o correspondente a uma estrutura, como, por exemplo,
uma estrutura de queda. Se não houver nenhuma estrutura próximo a um ponto onde for
necessária uma mudança de seção, deverá ser providenciada uma transição feita em
terra. As mudanças não deverão ser abruptas, mas gradativas, numa extensão de 3m ou
mais. Sempre que se alterar a profundidade, a modificação na declividade do fundo deve-
rá ser suficientemente suave para se evitarem erosões, ou então caberá proporcionar
uma proteção contra a erosão. Essa proteção, como, por exemplo, “riprap”, deverá ser
prevista nos pontos de transição, se a profundidade da água for aumentando na direção
do fluxo. Deverá ser colocada uma transição logo à montante de cada entrada principal
de dreno.

11.3.5.3 Estruturas de Queda

De modo geral, deverão ser utilizadas as diretrizes indicadas a seguir, ao se projeta-


rem estruturas de queda ao longo dos drenos. Na aplicação dessas diretrizes, deverão ser
levadas em conta as características erosivas do solo.

Queda da superfície da água (m) Estrutura


0 a 0,6 Nenhuma estrutura, mas algum “riprap”
0,6 a 1,5 Queda com estacada vertical das chapas e “riprap”
Acima de 1,5 Estruturas de quedas semelhantes às dos canais

Para as quedas com mais de 1,5m, onde ocorre água relativamente isenta de detri-
tos, poderá ser utilizada qualquer uma das estruturas abordadas no subitem 6.3.4. Nas
estruturas de queda em conduto, poderá ser utilizada tubulação de chapa metálica
corrugada. Se o dreno conduzir quantidades significativas de detritos, deverá ser conside-
rada, como alternativa, a eliminação das estruturas de queda em tubulação; isso porque
os drenos podem ser instalados em locais isolados e/ou inacessíveis, e a obstrução de
uma tubulação somente seria notada quando os taludes do dreno desmoronassem, cau-
sando danos à estrutura de queda ou ao canal.

11.3.5.4 Cruzamento de Canais e Estradas

As transposições de canais podem ser efetuadas por meio de uma estrutura ade-
quada de drenagem transversal, como abordado no Capítulo 6 deste MANUAL. Os casos
de cruzamento de estradas por drenos singulares do tipo interceptador, coletor ou dreno
de proteção são relativamente raros, visto que os sistemas de drenos conduzem geral-
mente a água para o canal natural de drenagem mais próximo, e esse cruzamento da
estrada pelo dreno faz parte do esquema da drenagem natural. Os bueiros para transposi-
ção de estradas, onde exigidos, deverão ser dimensionados como exposto no Capítulo 6
(para canais), utilizando-se uma velocidade máxima, para tubulação cheia, de 1,5m/s, de
modo a não haver necessidade de instalar transições nas entradas e saídas ou, então, um
dissipador de energia. Se a tendência dos solos for erosiva, deverão ser providenciados
colares para as tubulações, como abordado no Capítulo 6.

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BIBLIOGRAFIA

<1> “Bureau of Reclamation” “Manual de Drenagem”, Denver, Colorado, 1978.

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ESTRADAS DE
RODAGEM

12.1 Aspectos Gerais

As estradas dos projetos de irrigação são construídas com os seguintes objetivos:

„ Proporcionar acesso às instalações do projeto durante a construção;

„ Proporcionar acesso às instalações, visando à continuidade da operação e manu-


tenção;

„ Proporcionar acesso às propriedades agrícolas, de modo a facilitar a comercialização


da produção.
Os dois primeiros objetivos sempre fazem parte dos projetos de irrigação. O tercei-
ro, quando não integrar um projeto de irrigação específico, será de responsabilidade dos
próprios agricultores. Em todos os casos, no entanto, o projeto das instalações deve
contemplar a necessidade de acesso às propriedades, mediante, por exemplo, a constru-
ção de pontes sobre os canais.

O objetivo deste capítulo é apresentar conceitos, bem como formular algumas con-
siderações relativas ao projeto de estradas associadas a projetos de irrigação.

As estradas associadas aos projetos de irrigação podem ser assim classificadas:


estradas de acesso ao projeto, estradas de operação e manutenção e estradas de acesso
às propriedades. Todos os três tipos têm, normalmente, revestimento primário (casca-
lho). No entanto, as estradas de acesso às instalações de grandes projetos podem ser
pavimentadas.

12.2 Considerações Acerca do Projeto

As diretrizes discutidas a seguir podem ser utilizadas na determinação de parâmetros


de projeto para os vários tipos de estradas. Estas devem ser projetadas para atender o
volume de tráfego esperado. O volume de tráfego diário médio (VDM) deverá ser estima-
do para o período de construção, quando será igual à soma do tráfego próprio da constru-
ção com o tráfego existente, e também para as condições de operação do projeto. Um
quadro-resumo dos parâmetros de projeto é apresentado ao final deste capítulo.

12.2.1 Velocidade de Projeto

As características do projeto geométrico das rodovias deverão ser compatíveis com


a velocidade de projeto (definida como sendo a máxima velocidade que o veículo pode
manter com segurança e conforto, em um determinado trecho e em condições normais)
adotada em função das condições locais e da classe da rodovia. Baixas velocidades de
projeto aplicam-se, em geral, a rodovias com traçado sinuoso, em regiões onduladas ou

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montanhosas, ou onde outras condições assim o estabelecerem. Altas velocidades de


projeto são geralmente adotadas quando as rodovias são em tangente e em terreno plano.

12.2.2 Projeto Geométrico

O perfil longitudinal e as curvas horizontais deverão constituir um projeto harmônico.


O traçado, em planta e perfil, deverá atender às especificações da melhor maneira permi-
tida pela topografia local, o uso previsto e o tráfego de projeto. Mudanças bruscas entre
curvas horizontais de raios acentuadamente diferentes ou entre longas tangentes e cur-
vas fechadas deverão ser evitadas. Quando ocorrer curva horizontal no topo de uma
curva vertical, deve-se adotar distância de visibilidade acima do mínimo calculado, de
modo a se garantir uma boa visibilidade ao veículo que se aproxima da curva horizontal.
As curvas verticais deverão ser escolhidas de modo a se obter um projeto que proporcio-
ne segurança, conforto na operação, visual agradável e drenagem satisfatória.

12.2.3 Superelevação

Tanto para as estradas de acesso como para as do projeto, a superelevação não


deverá exceder 0,12m/m, sendo 0,08m/m a máxima superelevação desejável. O trecho
de variação da superelevação é a extensão da rodovia necessária para permitir a mudança
de declividade transversal de uma seção normal (em tangente) para uma seção com
superelevação plena (trecho circular). As extensões do trecho de variação da superelevação
mínimas são apresentadas a seguir. Ajustes no projeto dos trechos de variação da
superelevação podem ser necessários para se obter rolamento mais suave, drenagem
superficial satisfatória e bom aspecto visual. Prática usual consiste em se colocar cerca
em dois terços do trecho de variação da superelevação na tangente e um terço na própria
curva. É desejável a presença de curvas horizontais com trecho de transição entre a
tangente e a curva circular. Neste caso, a superelevação deve variar totalmente dentro do
trecho de transição.

Trecho de Variação da Superelevação em m, para a Velocidade de Projeto (km/h)


Superelevação (m/m)
30 50 65 80
0,02 15 30 40 45
0,04 15 30 40 45
0,06 15 30 40 45
0,08 15 45 50 60
0,10 15 55 65 75
0,12 15 65 75 90

12.2.4 Distância de Visibilidade

Distância de visibilidade é o comprimento do trecho de estrada visível à frente do


motorista. Embora sejam desejáveis comprimentos maiores, a distância de visibilidade,
em qualquer ponto da estrada, deverá ser, no mínimo, igual à necessária para que um
motorista menos competente ou um veículo sem as adequadas condições de tráfego
consiga parar, antes de atingir um obstáculo na sua trajetória. Nos cálculos da distância
de visibilidade de frenagem, utilizar-se-ão os valores 1,14m para a altura do olho do
motorista e 0,15m para a altura do objeto na estrada. Por outro lado, em relação à
distância de visibilidade para ultrapassagem, a altura do olho é 1,14m e a do objeto na
estrada, 1,37m. Será necessária a sinalização do limite de velocidade, sempre que os
valores de distância de visibilidade de frenagem não puderem ser atendidos.

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12.2.5 Superfície de Rolamento

As superfícies de rolamento típicas são:

„ Estradas de acesso às propriedades agrícolas ou de operação e manutenção:

„ 0,10m a 0,15m de revestimento primário (cascalho);

„ Estradas de acesso ao projeto:


f 0,15 de revestimento primário (cascalho), ou
f 0,05m a 0,075m de concreto asfáltico sobre uma base granular de 0,10m a
0,15m, ou
f 0,015m a 0,03m de tratamento superficial duplo ou triplo, mais capa selante,
sobre base de solo laterítico de 0,15m.

Observação: Em virtude da ocorrência de solos lateríticos em grandes áreas e em


quase todas as regiões do Brasil, a utilização de bases de pavimentos constituídos por
esses solos torna-se fator de redução, tanto dos custos iniciais (em razão da menor
distância de transporte), como dos de manutenção (em virtude do excelente comporta-
mento em bases de rodovias com baixo a médio volume de tráfego).

12.2.6 Largura da Plataforma

As larguras mínimas para as diversas categorias de estradas acham-se indicadas no


Quadro-Resumo (Tabela 12.1). A largura mínima da plataforma é a soma das larguras
mínimas da pista de rolamento e dos acostamentos. As larguras desejáveis contemplam
faixa de tráfego com pelo menos 3,40m de largura e acostamentos 0,60m mais largos
que o valor mínimo apresentado no Quadro-Resumo (Tabela 12.1).

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Tabela 12.1 Quadro Resumo

Categoria
Estradas de Operação e Manutenção e de
Estradas de Acesso ao Projeto
Acesso as Propriedades Agrícolas
Parâmetros de Projetos de Estradas
Total do Lume do Tráfego (VDM) Canais e
Diário Médio Estações de
Propriedades
Bombeamento
Menos de 50 50 a 250 250 a 400 Agrícolas

Velocidade de Projeto (km/h)


Terreno Plano 65 65 80 50 30
Terreno Ondulado 50 50 65 30 30
Terreno Montanhoso 30 30 50 30 30
Grau de Curvatura 1/
Terreno Plano 14,5 14,5 9 26,5
Terreno Ondulado 26,5 26,5 14,5 62,5 2/
Terreno Montanhoso 62,5 62,5 26,5 62,5
Rampa Máxima (%)
Terreno Plano 7 7 6 9 12
Terreno Ondulado 9 9 8 10 12
Terreno Montanhoso 12 10 10 12 12
Distância De Visibilidade De Frenagem (m)
Terreno Plano 85 85 110 65 45
Terreno Ondulado 65 65 85 45 45
Terreno Montanhoso 45 45 65 45 45
Distância de Visibilidade de Ultrapassagem (m)
Terreno Plano 460 460 550 335
Terreno Ondulado 335 335 460 245 3/
Terreno Montanhoso 245 245 335 245
Largura Mínima da Pista de Rolamento (m) *
6,1 * 6,1 * 6,1 * 4,9 4,3
Mão Dupla
Largura Mínima do Acostamento (m) 0,6 1,2 1,2 0,3 0,3
Largura Mínima da Plataforma (m) 7,3 8,5 8,5 5,5 4,9
Tipo de Superfície de Rolamento 4/ 5/ ou 6/ 5/ ou 6/ 4/ 4/

1/ Grau de curvatura mais acentuado para a velocidade de projeto associada a superelevação = 0,12m/m (max.)
2/ Utilizar raio exigido pelo equipamento de operação e manutenção (mínimo 15m)
3/ Proibida a ultrapassagem
4/ Revestimento primário (cascalho)
5/ Concreto asfáltico sobre base granular

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DIQUES DE PROTEÇÃO

13.1 Aspectos Gerais

Em geral, utilizam-se diques de proteção nos projetos de irrigação, a fim de proteger


as terras irrigadas contra as cheias provenientes de rios adjacentes. Embora o custo dos
referidos diques seja elevado, com freqüência são economicamente justificados, mesmo
quando objetivarem apenas a prevenção de enchentes ocasionais. Os diques promovem
benefícios econômicos, como o de impedir danos às obras de irrigação, os quais acarreta-
riam reparos dispendiosos, bem como evitam estragos ou perdas de safra nas terras de
cultivo irrigadas. Os diques também constituem uma garantia de produção de uma, duas
ou até três safras anuais.

13.2 Considerações Acerca do Projeto

Os diques são geralmente projetados com taludes mínimos de 3:1 no lado adjacen-
te ao rio, dependendo do material de solo utilizado para o talude. No lado voltado para as
obras de irrigação, é comum projetar-se um talude mínimo de 2:1. Visto que é normal-
mente desejável utilizar-se a crista do dique como estrada de manutenção, a largura dessa
crista deverá ser de 3,7m ou mais.

Geralmente os diques são projetados de modo a proteger as terras dos danos cau-
sados por cheias que tenham uma recorrência de 100 anos. Na maioria dos casos, o
custo de aumentar a proteção contra as cheias, de 25 para 50 anos e de 50 para 100
anos, justifica-se pelas vantagens econômicas auferidas, mesmo levando-se em conta o
valor presente dos benefícios futuros. A crista do dique deverá ser projetada com uma
borda livre mínima de 0,5m acima do nível de enchente de 100 anos, sendo preferível 1m.
Pode ser necessária uma borda livre maior, se houver previsão de ondas significativas,
ou se houver potencial de consolidação nas fundações, o que é comentado a seguir.

13.3 Fundações

Ao contrário da maioria das represas, os diques são normalmente construídos sobre


fundações em terra, e não em rocha. Dessa forma, o tipo do solo das fundações passa a
ser uma consideração de importância crítica, ao se projetarem os diques. Uma discussão
acerca do tipo de informações a serem pesquisadas, numa avaliação de fundações, cons-
ta do Capítulo 2, “Dados do Projeto e Requisitos do Arranjo Geral do Sistema”. Solos
permeáveis (com condutividade hidráulica superior a 0,0004cm/s), subjacentes ao dique,
podem dar origem a “piping”, com a possível ocorrência de rupturas dos diques. Em
algumas circunstâncias, taludes achatados (6:1 ou mais) podem ser necessários para
manter o gradiente hidráulico, sob os diques, inferior ao gradiente crítico da erosão por
“piping”. Para fins de estabilidade, os solos das fundações, fofos e saturados, podem
requerer taludes mais achatados do que os valores mínimos de 3:1 e 2:1, já referidos, e

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podem também requerer uma borda livre mais elevada, de modo a permitir a consolidação
da fundação.

13.4 Materiais para os Aterros

A disponibilidade de materiais para aterros é um fator crítico nos projetos de diques.


Normalmente, não existe uma justificativa econômica para o transporte de materiais pro-
venientes de áreas de empréstimo significativamente distantes dos diques. De modo
geral, é mais exeqüível projetar os diques de maneira que tenham um desempenho ade-
quado, utilizando materiais facilmente disponíveis nas imediações desses diques.

Em geral, os diques, ao contrário das represas feitas de terra, retêm a água durante
períodos relativamente curtos. (Os diques deverão ser projetados de maneira idêntica à
das represas feitas de terra, com materiais adequados para os aterros, caso a água venha
a ficar retida permanentemente ou por longo tempo.) Quando o único material disponível
para a construção de diques for muito permeável, deverá ser considerado o tempo duran-
te o qual a água do rio ficará em contato com o dique. Diques construídos com materiais
muito permeáveis podem apresentar falhas resultantes de erosão por “piping”, se a água
permanecer em contato com o dique durante um mês ou mais, a não ser que os taludes
do dique sejam abrandados, para diminuir o gradiente hidráulico através do dique.

Se na construção do dique for utilizado um material argiloso impermeável, deverá


ser providenciada uma cobertura densa vegetal sobre a face do rio do talude, para impedir
a erosão durante as cheias. A face frontal ao projeto também deverá receber uma prote-
ção vegetal contra a erosão de origem pluvial. Certos trechos críticos dos diques podem
necessitar de proteção com “riprap” contra danos causados pelas cheias.

Ao ser colocado, o material dos aterros deverá ser compactado. A compactação é


necessária para minimizar o assentamento do material após a construção, já que o mesmo
recalque reduziria a borda livre. A compactação também é indispensável para diminuir a
permeabilidade até níveis razoáveis, bem como para atenuar a erosão pluvial enquanto
não estiver formada a cobertura vegetal.

13.5 Resumo

A tabela a seguir enumera os itens importantes e os problemas potenciais a serem


considerados nos projetos de diques.

Material de Fundação Material do Dique Problema em Potencial


Muito permeável Muito permeável Erosão por “piping” e ruptura na fundação ou no aterro
Impermeável Muito permeável Estabilidade do dique e erosão por “piping” no aterro
Muito permeável Impermeável Erosão por “piping” e ruptura na fundação
Impermeável Impermeável Estabilidade do dique e consolidação da fundação

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Elaboração de Projetos de Irrigação

RELATÓRIOS DO
PROJETO

14.1 Aspectos Gerais

Um aspecto significativo na elaboração de um projeto de irrigação é a preparação


de relatórios do projeto completos e adequados. A experiência tem demonstrado que
relatórios bem elaborados ajudam a assegurar a qualidade do projeto e a limitar seu custo.
O objetivo dos relatórios deverá ser o de fornecer informações, a fim de garantir que os
diversos elementos do projeto serão projetados, construídos, operados e mantidos corre-
tamente. Além dos relatórios normais e detalhados do projeto básico, como geologia e
geotecnia, dados do projeto, topografia, detalhes do projeto, especificações técnicas,
etc., três importantes documentos do projeto, que precisam ser preparados como parte
do Projeto Básico, intitulam-se “Resumo do Projeto”, “Considerações Construtivas” e
“Manual de Operação e Manutenção”. Uma vez que, neste MANUAL, o Projeto Básico é
considerado o projeto com bastante detalhe, tais documentos deverão ser concluídos
durante a elaboração do Projeto Básico, embora possam ser modificados, se necessário,
durante a preparação do Projeto Executivo, a fim de se introduzirem as modificações
requeridas durante a construção.

14.2 “Resumo do Projeto”

Este documento deverá fornecer uma descrição detalhada de cada elemento do


projeto e da totalidade do sistema de irrigação, assim como dos critérios utilizados na
elaboração do projeto (conforme explicado no Capítulo 1, os critérios do projeto diferem
dos dados do projeto, pois estes últimos são constituídos pelos valores numéricos e pelas
informações específicas de um determinado projeto, enquanto os critérios do projeto são
o modo como essas informações deverão ser empregadas durante a elaboração do proje-
to). Os critérios utilizados na elaboração do sistema como um todo, ou de mais de um dos
seus elementos, deverão ser relacionados numa seção relativa aos critérios gerais. Os
critérios específicos usados na elaboração do projeto de elementos individuais deverão
ser listados juntamente com a descrição de cada elemento.

O “Resumo do Projeto” deverá consistir de uma justificativa detalhada acerca do


motivo pelo qual as instalações e os sistemas foram projetados daquela maneira. Dele
também farão parte um detalhamento e uma explanação a respeito de todas as decisões
relativas ao projeto, tomadas durante o processo de elaboração.

O “Resumo do Projeto” fornece informações às quais poderá fazer-se referência


quando surgirem problemas, forem levantadas questões, ou for necessário efetuar modi-
ficações ou melhorias de algum elemento, ou elementos, durante a construção e opera-
ção do projeto.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

O “resumo do Projeto” deve conter uma ficha técnica que apresente informações
sobre capacidade, tamanhos, comprimentos, etc. de todos os elementos do projeto. Além
disso, essa ficha deve conter informações acerca de áreas irrigadas, número de irrigantes
dos diferentes tipos e dados referentes à produção agrícola, pedologia, hidrologia, etc.

14.3 “Considerações Construtivas”

O projetista deverá preparar um documento intitulado “Considerações Construti-


vas”, que deverá conter uma descrição daqueles itens que, segundo ele, precisarão rece-
ber atenção especial durante a construção do projeto. O projetista deverá utilizar este
documento para recomendar procedimentos e cronogramas construtivos que assegurarão
um funcionamento futuro adequado aos diversos elementos do projeto e que minimizarão
os custos. O relatório “Considerações Construtivas” também deverá apresentar justifica-
tivas referentes à razão pela qual os sistemas e as instalações foram projetados daquela
maneira, em particular quanto aos itens que exigirão atenção especial durante a constru-
ção. Em geral, o projeto de um elemento determinará como aquele elemento deverá ser
construído. Neste caso, o projetista deverá descrever como construi-lo e por que é impor-
tante fazê-lo daquela maneira específica.

As explanações, as justificativas e as recomendações apresentadas nas “Conside-


rações Construtivas” também deverão ser incluídas, onde necessário, nas especificações
técnicas. Entretanto, é importante também inserir tais informações num documento con-
solidado que possa auxiliar os licitantes e os supervisores da construção a compreender
as implicações e as inter-relações contidas no projeto, no que diz respeito à construção.
Nas “Considerações Construtivas”, todos os itens que requerem atenção especial estão
relacionados num só lugar, o que ajudará o empreiteiro na elaboração da sua proposta e
fornecerá aos fiscais da construção – e ao empreiteiro – um relatório de fácil consulta e
com todos os itens que merecem especial consideração.

O relatório “Considerações Construtivas” assegurará uma melhor construção dos


elementos e sistemas, porque o empreiteiro e os fiscais terão uma compreensão mais
ampla acerca do motivo pelo qual um elemento foi projetado daquela forma e a respeito
dos efeitos nocivos de uma construção inadequada.

14.4 “Manual de Operação e Manutenção”

O “Manual de Operação e Manutenção” de um projeto de irrigação é um docu-


mento extremamente importante, que deverá ser preparado durante a elaboração dos
projetos finais. Basicamente, este documento constitui as recomendações dos projetis-
tas acerca de como todo o sistema e os seus diversos elementos deverão ser operados e
mantidos. Além disso, proporcionará aos operadores uma correta orientação acerca do
início da operação e da manutenção do sistema. Incluir-se-á no “Manual de Operação e
Manutenção” uma explanação relativa à operacionalização de cada elemento, acrescida
da justificativa da opção por aquela determinada maneira. Também constará do Manual
a forma como esse elemento não deverá ser operado, e por que não. Além disso, o
Manual deverá delinear um programa de manutenção para todo o projeto e para cada
um dos seus elementos, assim como um cronograma de manutenção permanente e
periódica dos diversos elementos. Será preciso elaborar um cronograma de inspeções
periódicas, a serem realizadas por funcionários do órgão público que construiu e super-
visiona o projeto. O objetivo destas inspeções será assegurar que a manutenção realiza-
da pelo pessoal de operações é adequada e está de acordo com as obrigações contratuais
(para maiores informações acerca das inspeções de manutenção pelos órgãos públicos,
ver o “Manual de Operação e Manutenção dos Projetos de Irrigação”). Um bom progra-
ma de manutenção, criteriosamente desenvolvido e cuidadosamente executado, asse-
gurará uma operação fácil e isenta de problemas do projeto de irrigação e, a longo prazo,
reduzirá substancialmente as despesas totais durante a vida útil do projeto.

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Elaboração de Projetos de Irrigação

Com o tempo, e após ter ganho experiência, os operadores deverão modificar e


incrementar o “Manual de Operação e Manutenção”, a fim de otimizar os procedimentos
de operação e o programa de manutenção do projeto.

14.4.1 Minuta e Versão Final

O projetista deverá preparar um sumário e uma minuta do “Manual de Operação e


Manutenção”, antes de iniciar a elaboração da edição final do projeto básico, a fim de
auxiliar os projetistas a compreender as implicações de operação e manutenção dos diver-
sos projetos possíveis. Se o projetista tiver um completo entendimento de como um
sistema, ou um elemento, será operado e mantido desde o começo, é mais provável que
os projetos sejam elaborados de modo a facilitar a operação e a manutenção. Se as
implicações de operação e manutenção não forem levadas em consideração durante o
processo de elaboração do projeto, poderão surgir muitas dificuldades no futuro. É impor-
tante consultar especialistas em operação e manutenção durante o processo de elabora-
ção do projeto, a fim de assegurar uma adequada atenção a estes fatores. É muito melhor
um projeto corretamente elaborado desde o início do que modificações onerosas, mais
tarde.

A versão final do “Manual de Operação e Manutenção” deverá ser terminada imedi-


atamente antes da conclusão da construção, a fim de assegurar, por um lado, que todos
os elementos relevantes do projeto e as modificações “as built” foram levadas em conta
e, por outro, que o manual estará disponível desde o início da operação do projeto.

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