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“Em Defesa das Liberdades Civis Fundamentais””
1. DO ESCLARECIMENTO FÁTICO
A segunda edição da exposição coletiva “Tramações: Cultura Visual, Gênero e
Sexualidades”1 está disponível ao público, com indicação etária de 14 (quatorze) anos,
entre os dias 05 de maio até 28 de junho de 2018, no Centro de Artes e Comunicação
(CAC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela faz parte de uma disciplina
homônima oferecida pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFPE, cuja
proposta seria de haver “leituras, diálogos e experimentações/imersões poéticas com o
objetivo de pensar a produção de gênero e sexualidades por meio da cultura visual” 2.
Contudo, dentre as narrativas expostas, além das discussões acerca do corpo e
as relações de poder, feminismo, discurso queer e o pós-pornô3, percebemos peças não
apenas provocativas, mas caricaturas e distorções nitidamente ofensiva a símbolos das
religiões cristãs. Há desrespeito aos seus objetos de culto, aos personagens
reverenciados e às narrativas sacras, como a figura de Jesus Cristo, Maria, os santos e a
Bíblia, associando-os a atos sexuais lascivos, de violência, mutilação e falta de pudor.
Eis o que importa relatar e esclarecer acerca dos fatos presentes.
1
https://www.facebook.com/tramacoes/
2
https://www.ufpe.br/agencia/noticias/-/asset_publisher/VQX2pzmP0mP4/content/exposicao-tramacoes-
cultura-visual-genero-e-sexualidades-esta-com-inscricoes-abertas/40615
3
http://www.impresso.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/cadernos/viver/2018/05/07/interna_viver,
187277/sobre-genero-e-sexualidade.shtml
2. DOS LIMITES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA E O CRIME
DE VILIPÊNDIO RELIGIOSO
A liberdade de expressão é consagrada, historicamente, como um Direito
Humano de primeira geração e está formalizada, atualmente, nos principais instrumentos
normativos internacionais, dentre os quais evidenciamos os dispositivos a seguir
transcritos:
Art. 19, da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o
direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir,
sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de
expressão.
4
MS 23.452, rel. min. Celso de Mello, j. 16-9-1999, P, DJ de 12-5-2000 e HC 103.236, rel. min. Gilmar
Mendes, j. 14-6-2010, 2ª T, DJE de 3-9-2010
5
BITENCOURT, César Roberto. Código Penal Comentado (5ª edição, atualizado). São Paulo/SP: Editora
Saraiva, 2009. p. 790.
No caso da exposição “Tramações: Cultura Visual, Gênero e Sexualidades”, há
seções especialmente repugnáveis e importantes ao conflito exposto por meio da
presente nota:
(i) O conjunto de peças de título ”A garantia do céu” exibe uma réplica
de um quarto, onde uma boneca violentamente amarrada está
deitada numa cama, abaixo da imagem de Cristo crucificado, ladeada
por uma pequena mesa, onde estão elementos de culto como um
altar a Virgem Maria e outros santos católicos romanos, terço
romanístico, crucifixo, bíblia e santinhos, dividindo espaço com um
frasco de água benta com o nome de um homem e uma vela
desgastada em formato de vagina;
(ii) Em outro ambiente, há a construção de um pequeno altar, cujo
espaço está dividido por um terço, uma vela de Sto. Antônio, pés e
cabeças, replicando os objetos deixados por fiéis em agradecimento
à cura de alguma doença nos membros, e uma réplica de pênis ereto;
(iii) Por último, a apresentação de uma bíblia cristã-protestante, dentro
da qual há várias páginas rabiscadas e adulteradas, desdenhando de
dogmas e narrativas, com desenhos de um ânus feminino nas suas
páginas, a colagem de uma vagina feita em crochê, dizeres como “esta
bíblia foi concebida sem pecado”, fotos de travestis com frases de
efeito, dentre outras situações.
Verificamos, portanto, que os idealizadores destas seções replicaram cenários e
estruturas, para debochar voluntária e conscientemente destes elementos e símbolos de
fé, por meio da dessacralização dos seus objetos (ou seus representativos) de culto,
replicando tortuosamente um ambiente de alto valor à fé cristã.
Destacamos que não se trata de censura prévia, tanto que todos os outros
ambientes da exposição estão acobertados pela liberdade de expressão artística, mas
sim, uma avaliação posterior e demonstração de conflito com a ampla liberdade religiosa
e o alto valor impresso pelo Poder Constituinte ao fenômeno religioso que, portanto,
não poderá ser banalizado, ao que as instituições responsáveis precisam investigar e se
manifestar.
6
DIGIÁCOMO, Murillo José. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado. Curitiba,
Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do
Adolescente, 2010.
Igualmente importantes as disposições a seguir:
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por
qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou
adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de
qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas
referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
A lei pune com maior rigor aqueles que, prevalecendo-se de sua função ou da
relação de parentesco ou proximidade com a criança ou adolescente, a induz à prática
das condutas que o dispositivo visa coibir. Em qualquer caso, o eventual
“consentimento” da vítima e/ou o fato de já ter se envolvido em situações similares
no passado é absolutamente irrelevante para caracterização do crime7.
A exposição contraria, ainda, o disposto na Convenção Sobre os Direitos da
Criança, promulgada pela ONU em 1989, que determina: “A criança tem direito a um
nível de vida adequado ao seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social”.
Tendo em vista evitar violações no que se refere a um oferecimento de nível de vida
saudável, também encontramos que “Nenhuma criança pode ser sujeita a ofensas ilegais
à sua honra e reputação” e que “A criança tem direito à proteção da lei contra tais (...)
ofensas” (art. 16; 1 e 2).
4. CONCLUSÕES E ENCAMINHAMENTOS
A arte não pode ser um pretexto nem para suplantar definitivamente outros
Direitos Humanos Fundamentais, de mesma hierarquia e importância, como é o caso
da liberdade religiosa, nem de abusar da dignidade humana das crianças e
adolescentes, pessoas em desenvolvimento e com fragilidade psicológica. Por essa
razão, a ANAJURE, nos conformes do seu objetivo institucional, repudia
veementemente quaisquer seções do exposição “Tramações: Cultura Visual, Gênero
e Sexualidades” que vilipendiem objetos religiosos e a possibilidade da entrada de
menores de idade em tais locais.
Ex positis, o Conselho Diretivo Nacional da ANAJURE – Associação Nacional
de Juristas Evangélicos – no uso das suas atribuições estatutárias e regimentais,
Resolve:
Enviar a presente Nota de Repúdio aos órgãos apoiadores da exposição, quais
sejam, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura ( PROExC), Secretaria de Cultura
do Estado de Pernambuco, Fundo Pernambucano de Incentivo e Cultura (
FUNCULTURA) e Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de PE (
FUNDARPE);
Enviar a presente Nota de Repúdio à Reitoria da Universidade Federal de
Pernambuco e ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFPE, a
7
DIGIÁCOMO, Murillo José. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado, para. 981
fim de que os professores e coordenadores do referido curso sejam melhor
orientados quanto às questões postas;
Enviar a presente Nota de Repúdio à Comissão de Direito e Liberdade
Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Pernambuco, para
que tome ciência da situação e acompanhe as investigações e desdobramentos
possíveis, garantindo a boa aplicação das leis;
Oficiar o Ministério Público Federal em Pernambuco e à Polícia Federal
(Superintendência Regional de Pernambuco), a fim de que sejam adotadas as
medidas administrativas e judiciais cabíveis, para a apuração eventual do ilícito
penal descrito no art. 208, do CP, e proteção dos direitos da criança e do
adolescente;
Oficiar ao Conselho Tutelar de Recife/PE, a fim de assegurar que os direitos
dos menores sejam respeitados e não lhes haja qualquer prejuízo maior.
Edmilson Almeida
Assessor Jurídico da ANAJURE
Felipe Augusto
Assessor Jurídico da ANAJURE