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Alegria, esperança e compromisso: a experiência da Pastoral Juvenil Marista na

PUCRS

Maurício Perondi1, Sophia Kath2, Ana Paula da Silva3

Introdução

Este texto aborda a experiência dos grupos de jovens universitários da Pastoral


Juvenil Marista (PJM4) desenvolvida pelo Centro de Pastoral e Solidariedade da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), localizada em Porto
Alegre, Brasil.
Na Igreja Católica existem diferentes propostas de evangelização da juventude,
que partem de diferentes concepções de juventude e de metodologias de trabalho com
jovens. A proposta adotada na PJM enfatiza um caminho de crescimento na fé que é
participativo, onde os jovens são protagonistas no processo evangelizador, sendo
considerados como uma “realidade teológica” (CNBB, 2007) e o acompanhamento é
realizado por pessoas adultas de forma constante e presente.
A proposta da formação integral, baseada no Documento Civilização do Amor
(SEJ-CELAM, 1997; 2013) constitui-se como a base fundamental para o trabalho com os
universitários, considerando a necessidade de abordar todas as dimensões que constituem
o ser humano. Neste texto apresentaremos como a PJM é desenvolvida na universidade, a
partir desta proposta.
O texto está dividido em duas partes. Na primeira será realizada uma
contextualização social e eclesial sobre as juventudes, a partir dos anos 1950, até chegar à
formulação das últimas décadas, sistematizada na Civilização do Amor (SEJ-CELAM,
1987).
Na segunda parte será apresentada a forma como a proposta da PJM acontece de
forma operativa junto aos jovens universitários. Terão destaque a opção pela organização
de grupos de base e as quatro dimensões que são vivenciadas pelos grupos: convivência,

1
Integrante do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS; Coordenador do Observatório Juventudes
PUCRS; Doutor em Educação. E-mail: mauricioperondirs@gmail.com
2
Integrante do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS; Assessora da PJM na PUCRS; Graduada em
Jornalismo; Graduanda em Psicologia. E-mail:
3
Integrante do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS; Assessora da PJM na PUCRS; Graduada em
Administração. E-mail:
4
Na PUCRS a Pastoral Juvenil Marista-PJM adota a nomenclatura de Grupo Universitário Marista-GUM,
com o objetivo de diferenciar os grupos de PJM que existem nos colégios e nos centros sociais maristas.
Aqui neste artigo usaremos apenas a nomenclatura PJM ao longo do texto.
formação, espiritualidade e compromisso social. Para esta parte contaremos com
depoimentos de jovens participantes dos grupos, que contribuirão com suas experiências
vivenciadas na proposta.

1. Civilização do amor e formação integral: opções fundamentais para a PJM

A partir da segunda metade do século XX os jovens passaram a ser concebidos de


uma maneira diferente no mundo ocidental. Neste período é que surge a categoria das
culturas juvenis, em que os jovens passam a serem considerados sujeitos com
características e necessidades próprias (FEIXA, 2006). Com isso, formam reconhecidos
como produtores de uma cultura especificamente juvenil. No âmbito social, este
fenômeno se tornou mais visível através das contestações dos jovens nas mobilizações de
“Maio de 19685” ou das manifestações de contracultura, em que um dos principais ícones
foi o “Woodstock em 19696”.
No âmbito eclesial, surgiu a Ação Católica, que deu grande ênfase na participação
do povo nas diferentes esferas da vida da Igreja, dando especial destaque à juventude. No
Brasil, surgiram diferentes organizações de juventude: a Juventude Agrária Católica
(JAC), a Juventude Estudantil Católica (JEC), a Juventude Independente Católica (JIC), a
Juventude Operária Católica (JOC) e a Juventude Universitária Católica (JUC).
Posteriormente, devido à influência da Ditadura Militar, e por outras influencias sociais e
eclesiais, a Ação Católica, e, consequentemente suas organizações de juventude, foram
desarticuladas durante a década de 1960.
A Igreja Católica Latino-Americana, que havia criado o CELAM (Conselho
Episcopal Latino-Americano) em 1955, realizou sua primeira conferência em 1968, em
Medellín, em que os jovens constituíram-se como um dos pontos de interesse. No
entanto, é na 2ª conferência, Puebla (1979) que os jovens tiveram maior destaque através
da “opção preferencial pelos pobres e pelos jovens”. As conferências posteriores também
passaram a enfatizar a necessidade de atenção especial aos jovens, especialmente, através
da articulação de uma Pastoral Juvenil Orgânica, que atuasse em diferentes meios
específicos (SEJ-CELAM, 2013, n. 199 e 200, 2013).

5
“O ano de 1968 simboliza o sonho de transformação social. A partir da expansão descontrolada da revolta
estudantil, com greves e barricadas detonadas na França, a rebelião explodiu em diversas partes do mundo”
(CARMO, 2010, p. 75).
6
Famoso festival musical, realizado nos Estados Unidos, que agregou milhares de jovens e constituiu-se
como um marco da contracultura juvenil dos anos 1960-1970.
Nos anos 80, as organizações de juventude da Igreja Católica, se articularam
prioritariamente através dos seguintes meios específicos: rural (Pastoral da Juventude
Rural), estudantil (Pastoral da Juventude Estudantil), meio popular (Pastoral da Juventude
do Meio Popular) e comunidades paroquiais urbanas (Pastoral da Juventude). Durante a
década de 80 a Pastoral Universitária teve várias denominações, contando com uma
articulação nacional até meados dos anos 90 (DICK, 1999). Depois deste período, as
experiências no âmbito universitário passaram a ser realizadas de forma mais
individualizada, de acordo com as situações de cada instituição, sem uma organicidade
mais ampla.
Neste contexto é que pode se situada a experiência da Pastoral Juvenil Marista na
universidade. Nos anos 90 e na primeira década dos anos 2000 foram realizadas diversas
experiências com jovens universitários, até que no ano de 2012 se estruturou uma nova
proposta, que continua vigente até os dias atuais.
A mesma está baseada nas Diretrizes Nacionais da Pastoral Juvenil Marista
(SECRETARIADO INTERPROVINCIAL MARISTA, 2006), no Marco Referencial da
Pastoral da Juventude do Brasil (CNBB, 1998) e no documento Civilização do Amor:
tarefa e esperança – orientação para a pastoral da juventude latino-americana (SEJ-
CELAM, 1997).
A PJM adota como concepção de juventude aquela que considera os jovens como
sujeitos de direitos a caminho da autonomia:

Nesta visão, a juventude é compreendida como fase singular do desenvolvimento


pessoal e social, por onde os jovens passam a ser considerados como sujeitos de
direitos e deixam de ser definidos por suas incompletudes ou desvios [...]
Acreditamos que esta tem sido a perspectiva mais profícua que atende, da forma
mais integral, e ao mesmo tempo diversificada, às necessidades dos jovens,
assim como às suas capacidades de contribuição e participação (REDE
MARISTA RS/DF/AMAZÔNIA, 2013, p. 13-14).

A partir desta abordagem de juventudes opta por algumas opções pedagógico-


pastorais que contribuem para o processo de evangelização dos jovens: a) O grupo de
jovens de base: experiência grupal, sistemática e gradativa; b) A formação integral
(personalização, integração, sócio-política, teológica, capacitação técnica e vocacional);
c) O acompanhamento: assessoria de adultos, que orientam o processo de educação na fé
do grupo e dos jovens individualmente; d) A organização: local (universidade), regional
(Província Marista), nacional (UMBRASIL, União Marista do Brasil) e internacional
(Instituto Marista); e) O método ver-julgar-agir-rever-celebrar: que permita uma vivência
grupal que integre fé e vida; f) O protagonismo juvenil: jovens como atores principais do
seu processo de educação na fé.
Compreendemos que o processo de educação na fé consiste mais do que um
método ou um conjunto de técnicas, procurando desenvolver uma formação em que “o
jovem vivencie o projeto de Jesus Cristo, como apóstolo dos jovens, por meio de uma
formação integral, com o jeito marista de ser, na construção de uma sociedade mais justa
e solidária, sinal da civilização do amor” (SECRETARIADO INTERPROVINCIAL
MARISTA, 2006, p. 119).
A PJM assume a formação integral proposta pela Pastoral da Juventude Latino
Americana (SEJ-CELAM, 1997) e das Pastorais da Juventude do Brasil (CNBB, 1998),
em que são apontadas cinco dimensões7: a personalização, a integração, a sócio-política,
a teológica e a capacitação técnica. Cada uma das dimensões contempla uma pergunta
fundamental, uma relação, uma área e um chamado conforme pode ser visualizado na
tabela 1.

Tabela 1 - Formação Integral das Pastorais da Juventude do Brasil (PERONDI, 2008)


Dimensão Pergunta Relação Área Chamado
Personalização Quem sou eu? Eu Dimensão Ser, possuir-se,
psicoafetiva conhecer-se
Socialização Quem é o Outro Dimensão Conviver,
Integração outro? Psicossocial comunicar-se,
partilhar
Sociopolítica Onde estou? O Sociedade Dimensão Situar-se,
que eu faço Política comprometer-se
aqui? historicamente
Teológica De onde Transcendência/ Dimensão Transcender-se
venho? Por Deus Mística ou
que existo? teologal
Capacitação técnica Como fazer? Missão Dimensão técnica Fazer, construir
ou metodológica
Vocacional Que sentido Mundo/natureza/ Dimensão Dar sentido à
vou dar à Cosmos Vocacional existência
minha vida?

7
Além destas cinco, a Pastoral da Juventude Estudantil, aponta mais uma dimensão, que é a vocacional. No
documento Civilização do Amor (CELAM, 1997; CELAM, 2013) e a PJB (CNBB, 1998) não deixam de
considerar a dimensão vocacional, porém, a consideram numa perspectiva transversal, ou seja, ela está
presente em ambos os casos, contudo, registradas de modo diferente (PERONDI, 2008, p. 41)
Assim, busca-se trabalhar todas as dimensões da pessoa, visto que, existem
propostas de evangelização das juventudes que acabam por enfatizar apenas alguma
delas, recaindo em extremos que podem ser demasiado espiritualistas ou, contrariamente,
demasiado ativistas. Acreditamos que é preciso buscar o equilíbrio para que tais situações
não aconteçam e que através da vivência das dimensões da formação integral e dos
princípios pedagógico-pastorais, seja possível desenvolver um processo grupal de
formação de lideranças, com o surgimento de jovens cristãos engajados no âmbito
universitário, eclesial e social.
Para que este processo aconteça é desenvolvido um conjunto de ações que visam a
concretização deste ideal. Na sequência apresentaremos como isso acontece na prática
cotidiana.

2. A Pastoral Juvenil Marista na Universidade

Conforme já mencionado, a Pastoral Juvenil Marista tem como uma de suas


opções pedagógico-pastorais a vivência em grupo de base O grupo é o espaço que
permite aos jovens a intensificação de laços comunitários, a construção de sua própria
identidade, a formação do senso crítico, a partilha de diferentes opiniões e o
desenvolvimento de lideranças como expressão do compromisso cidadão e de fé. Na PJM
entende-se a educação na fé como um processo dinâmico e integral, um itinerário que o
próprio jovem deve percorrer.

A pedagogia da PJM é transformadora, libertadora e comunitária. Parte das


experiências dos próprios jovens, e os ajuda a crescer como pessoas integradas
e esperançosas, comprometidas na transformação social e coerentes com os
valores do Reino. Este processo oferece-lhes a possibilidade de refletir e
desenvolver seu próprio projeto de vida (Comissão Internacional da Pastoral
Juvenil Marista, 2011, p. 78).

Para garantir a vivência grupal, outra opção pedagógico-pastoral importante é o


acompanhamento ao grupo, aos Participantes e aos Animadores8. O acompanhamento é
realizado pelos próprios Animadores do grupo de base, mas principalmente pelos

8
Animador é alguém que vivenciou uma caminhada na PJM e quer continuar participando, exercendo o
serviço de acompanhamento aos grupos de forma voluntária (Província Marista do Rio Grande do Sul,
2010).
assessores9. O acompanhamento é um serviço que promove o protagonismo juvenil,
facilita a formação e acompanha a coordenação em suas ações junto aos jovens. “A tarefa
da assessoria é a formação e o acompanhamento. Não cabe à assessoria a coordenação e
organização; são tarefas prioritárias do protagonismo juvenil” (CELAM, 2013, p. 274).
Outra opção pedagógica que favorece a vivência do processo de educação e
amadurecimento na fé no grupo é a organização. “A organização gera um processo
dinâmico de comunhão, estímulo e acompanhamento” (Comissão Internacional da
Pastoral Juvenil Marista, 2011, p. 81). Destaca-se a efetiva participação dos jovens,
principalmente dos Animadores no planejamento, avaliação e celebração do processo da
PJM local.
Os grupos reúnem-se semanalmente com reuniões de uma hora. Devido ao
contexto universitário, onde muitos estudantes conjugam estudos e trabalho ou tem
muitas ocupações no dia a dia, os horários escolhidos são no intervalo entre as aulas da
manhã e tarde (12h às 13h) e no intervalo entre os turnos da tarde e noite (18h30min às
19h30min). Cada grupo de base tem entre dez a quinze participantes e dois Animadores
que acompanham, favorecendo a participação e integração grupal. No próprio grupo, foi
escolhido um critério de que para ser efetivamente participante, é necessário um mínimo
de cinquenta por centro de participação nas reuniões semanais, possibilitando vivenciar o
processo da melhor forma possível.
Além das reuniões semanais, o grupo também tem articulações e participações nos
âmbitos da comunidade universitária, eclesial e social. Alguns exemplos são as aulas
inaugurais de Faculdades, o Stand Calouros PUCRS10, os Congressos Brasileiros de
Universitários Cristãos, Setor Juventude Arquidiocesano, espaços de discussão de
políticas públicas, entre outros. Tal opção está em consonância com a proposta de
pastoral orgânica desenvolvida no documento Civilização do Amor.
Como forma de melhor organizar a vivência grupal e a vivência da formação
integral (nas suas seis dimensões), as atividades e reuniões são planejadas a partir de
quatro âmbitos: convivência, formação, espiritualidade e compromisso social. Esses
baseiam a elaboração do cronograma anual de reuniões, das atividades externas, dos

9
Assessor é um cristão adulto chamado por Deus para exercer o ministério de acompanhar, em nome do
Instituto Marista, os processos de educação na fé dos adolescentes e jovens. (Província Marista do Rio
Grande do Sul, 2010).
10
Stand Calouros é um projeto da PUCRS de recepção e integração para os universitários calouros que
acontece no início de cada semestre letivo.
retiros, do encontro de convivência, do voluntariado, entre outras. Apresentaremos abaixo
o que é trabalhado em cada um desses âmbitos.

2.1 O grupo como espaço de convivência e de relação

Trabalhamos para que os grupos juvenis possam ser verdadeiros lares onde se
possa viver a experiência crista de compartilhar, da fraternidade, da
responsabilidade mútua e do compromisso com a sociedade, especialmente
com os mais necessitados (Comissão Internacional da Pastoral Juvenil Marista,
2011, p. 55).

Na Pastoral Juvenil Marista a opção pela vivência grupal se dá porque é no grupo


que se descobre e se vive as principais experiências para a formação integral dos jovens.
Isto porque todo os ser humano, desde seu nascimento vive em um meio comunitário,
comprovando que ninguém consegue ter um processo de educação e amadurecimento na
fé sozinho.
Conviver em grupo intensifica os laços comunitários, a construção da
personalidade e a relação com o diferente. Na dimensão da convivência podemos destacar
o grupo como experiência e como espaço de relação, conforme afirmação de um dos
jovens:

Fazer parte do GUM [Grupo Universitário Marista] é renovar minhas esperanças em


cada encontro, é poder compartilhar sorrisos, é encontrar forças que me animam e me
motivam a não desistir por um mundo melhor. Aqui eu sei que vou encontrar corações
que almejam fazer o bem, pessoas, atitudes e energias que convergem nos mesmos ideais,
nos mesmos sonhos. Viver uma Civilização de Amor com igualdade, justiça,
solidariedade e alegria. Um ambiente de aconchego, onde crescemos espiritualmente e
intelectualmente, sem esquecer da simplicidade e humildade. É ter audácia, amor e
presença constante no meu cotidiano, mudando os que me rodeiam. É ser muito feliz. É
ser Marista (Gesiel, jovem participante da PJM da PUCRS)11.

A afirmação do jovem reforça a ideia de que a experiência comunitária do grupo,


inspirada na decisão de Jesus de formar seu grupo de discípulos, constitui este espaço
como “um local de experiência e da vivência social e eclesial” (CELAM, 2013, p. 243).
Como experiência de encontrar-se consigo mesmo, com o outro e com o transcendente,
exercitar a fala, a escuta e a aprendizagem a partir da relação com o outro.

11
Os depoimentos utilizados no texto foram coletados especialmente para esta publicação.
É também espaço de relação já que na convivência se criam laços de fraternidade
e percebe-se que não estamos sozinhos no mundo. Participar de um grupo pode ser uma
mistura de incerteza e alegria.

Incerteza ao enfrentar o desconhecido, as novas relações, e por ter que adotar


posições diante dos demais. Mas também sentem alegria por tudo aquilo que
representa a novidade do grupo que, na multiplicidade de relações motiva o
jovem a querer estar com outros para enfrentar as dificuldades (Comissão
Internacional da Pastoral Juvenil Marista, 2011, p. 81).

A primeira descoberta no processo da PJM é o caminho comunitário, ressaltando a


importância do espírito de família que o jovem passa a experimentar para a sua formação.
“O tornar-se humano é um exercício que só pode ser feito na convivência com o outro”
(UMBRASIL, 2008, p. 40). A vivência grupal torna o processo dinâmico de comunhão,
participação, acolhida, amizade e partilha fazendo surgir estruturas de coordenação,
animação e acompanhamento trazendo para a realidade do grupo o que se acredita a
respeito de protagonismo juvenil.

2.2 O grupo como espaço de formação

A Pastoral Juvenil quer desenvolver com os jovens um processo formação


integral: ajudá-los a SER plenamente aquilo a que são chamados. Em sua
visão, eles são chamados a ser PESSOA, “imagem de Deus” segundo o modelo
que é Jesus Cristo: livre, fraterno, criativo, sujeito da história (CELAM, 2013,
p. 209).

Na PJM, a visão que se tem sobre os jovens não é superficial, pois busca
compreender o ser como um todo, em todas as suas dimensões, conforme a proposta de
formação que adotamos:

A formação integral, em seu conjunto, não está no conteúdo, mas, acima de


tudo, na experiência de um princípio de atitudes conscientes de acolhida, de
respeito. É a postura do desejo de aprender dos jovens, de reconhecer o sagrado
que já está presente em sua forma de ser estar no mundo (CELAM, 2013, p.
208).

Para que todas as dimensões da formação integral sejam vivenciadas pelo grupo é
desenvolvido um processo de formação nas reuniões semanais que envolve temas
diversos de aprofundamento.
O caminho de formação percorrido é um processo que tem inicio, meio, mas não
tem um fim, pois estará sempre em construção. Neste sentindo, parte da experiência do
jovem e se dá de maneira processual, respeitando as etapas e fases de crescimento do
jovem e do grupo. Procura-se desenvolver uma formação em que a teoria esteja alinhada
com a prática, ou seja, reflexão e a ação estão sintonizadas. Esta experiência vivida pelos
jovens os ajuda a “crescer como pessoas integradas e esperançosas, comprometidas na
transformação social e coerentes com os valores do Reino” (Comissão Internacional da
Pastoral Juvenil Marista, 2011, p. 78).
Durante as reuniões de grupo busca-se abordar temáticas variadas, não focando
apenas em temas relacionados à área religiosa ou então em temas de prática social.
Busca-se trabalhar temas que abordem diversos aspectos, pois, deste modo, é possível
subsidiar melhor a vivência da formação integral em todas as suas dimensões, conforme é
possível visualizar no depoimento de uma das participantes do grupo:

A participação no Grupo Universitário Marista possibilita uma vivência mais humana e


mais sensitiva em relação ao próximo. A formação integral do GUM influencia muito nas
minhas atitudes, na minha visão de mundo, na difusão de ideias e no meu
comportamento. Fazendo com que eu mantenha uma reflexão sobre as minhas ações e
assegurando um protagonismo em minhas decisões pessoais e profissionais (Francine,
jovem participante da PJM da PUCRS).

Em seu relato, a jovem Francine aponta como a formação que ela tem no grupo de
universitários contribui em três aspectos de sua vida: as atitudes, a visão de mundo e o
comportamento. Destaca ainda que tais elementos asseguram uma reflexão e o seu
protagonismo nas suas decisões pessoais e profissionais. Isso demonstra como a proposta
de formação que considera os jovens como sujeitos se materializa no cotidiano. Percebe-
se em sua fala que o processo formativo em que participa promove a reflexão e conduz à
tomada de decisões, configurando-se com um princípio que desenvolve a autonomia dos
participantes.
Tal concepção de formação diferencia-se de outras em que os jovens são meros
expectadores no processo grupal, visto que, neste caso eles são ativos e tem espaço para o
desenvolvimento de uma postural pessoal diante da vida e da realidade. Entendemos que
jovens formados nesta perspectiva apresentam maiores condições de contribuir com a
universidade, com a comunidade eclesial, com sua família e com a sociedade em geral.

2.3 O grupo como espaço de vivência da espiritualidade marista


Procuramos viver de acordo com o Evangelho, tendo Maria e São Marcelino
Champagnat como inspiradores do nosso jeito de ser e atuar. A espiritualidade
é a força propulsora que dá sentindo e harmonia às nossas vidas. Ela ilumina a
nossa compreensão do mundo e orienta o nosso relacionamento com Deus,
conosco, com as pessoas e com a natureza” (Valores institucionais da Província
Marista do RS)

A espiritualidade consiste numa forma de olhar o mundo, o que nos move e o


nosso jeito de ser. É o que nos inspira nas escolhas que fazemos e o que dá sentido para o
que somos e para o que fazemos (NÓS EM REDE, 2014). Na PJM, a espiritualidade
marista leva em consideração não só o amadurecimento na fé dos adolescentes e jovens,
mas também o modo de ser, de viver e de atuar no mundo.
O grupo é um lugar propício para o encontro efetivo dos jovens com Jesus Cristo
por meio do testemunho de outros jovens que também realizaram a experiência desse
encontro pessoal. “Quando o projeto de Jesus é aceito e acolhido pelos jovens, a proposta
de Cristo passa a ser o projeto do jovem, projeto que se vive em comunidade.” (CELAM,
2013, p. 279). Dessa forma, afirma-se a importância da percepção do jovem como
apóstolo de outros jovens (S. João Paulo II), que se comprometem na construção de uma
sociedade mais justa, fraterna e solidária.

A vivência da espiritualidade marista é uma oportunidade de viver intensamente o


serviço e a doação ao próximo. Isso ajuda a me formar um ser completo, e não apenas
um acadêmico de uma universidade. Com o exemplo de Champagnat, torno-me mais
humano. Esta espiritualidade, guiada pela Boa Mãe, ajuda-nos a ser instrumentos do
Reino aqui e agora. (Felipe, jovem participante da PJM da PUCRS)

Tornar Jesus Cristo conhecido e amado esse era o sentido dado por São Marcelino
Champagnat, para a fundação do Instituto Marista e que continua vigente em nossas
missão: “Nós, Maristas, amamos Jesus e seu Evangelho. Ele é nossa razão de nosso ser e
de nosso fazer” (Comissão Internacional da Pastoral Juvenil Marista, 2011, p. 51). A
forma da PJM de seguir Jesus Cristo é inspirada na espiritualidade legada por Marcelino
Champagnat que é mariana e apostólica.

Mariana porque se espelha no jeito de Maria se relacionar com Deus e com as


pessoas; porque impregna a missão do jeito mariano, vivendo as atitudes
mariais da escuta, da disponibilidade, da acolhida, do serviço generoso, da
solidariedade, da oração, da união com Deus, com os outros e com a natureza,
no seguimento de Jesus Cristo. É apostólica, a exemplo da vida e missão dos
Apóstolos, isto é, inserida na realidade, em especial entre os jovens e crianças.
Ela nos faz sentir a presença de Deus nos acontecimentos da vida e nos desafia
pelos seus chamados (PMRS, 2014, p. 14)
Nos grupos da PJM, busca-se abordar temáticas e experiências que possibilitem o
conhecimento, o estudo e a vivência da espiritualidade marista. Também, durante o ano
acontecem celebrações juvenis, em períodos como a Quaresma, Páscoa, Natal, Dia do
Marista, entre outros.
Um aspecto importante a ser destacado é que se tratando de um ambiente
universitário, não participam do grupo apenas jovens católicos, mas também participam
jovens de outras filiações religiosas que compartilham do modo ser e de ver o mundo –
espiritualidade – próprios da identidade marista. Portanto, é necessário que o grupo seja
um espaço de acolhida e respeito às diferentes religiões e crenças, sempre em busca de
aprender na convivência e conhecimento mútuo.

2.4 O grupo como espaço de desenvolvimento do compromisso social

Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a
uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias
seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba
presa num emaranhado de obsessões e procedimentos (...) Mais do que o temor
de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que
nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes
implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há
uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de
comer» (Mc 6,37) (PAPA FRANCISCO, 2013, p. 12)

Em um processo de protagonismo cidadão, a experiência comunitária, leva o


jovem a olhar para a realidade do grupo, da comunidade, da sociedade e do mundo,
confrontando-se com problemas cuja solução necessita de convergência de esforços. “O
desenvolvimento integral do adolescente e do jovem passa pelo reconhecimento do outro
e de suas necessidades como aquele que interpela e faz sentir-se semelhante” (Diretrizes
da PJM, p. 137). Nesse sentido, fomentar a vivência da cultura da solidariedade contribui
para o engajamento social e eclesial dos jovens.

“A minha vivência no Compromisso Social do GUM me oportuniza ter um olhar mais


sensível para a realidade social e entender melhor as expressões da questão social. Em
conjunto com a vivência grupal, o trabalho voluntário oportuniza uma formação
completa enquanto ser humano.” (Gisele, jovem participante da PJM da PUCRS).

Uma das opções de atuação da PJM da PUCRS é o engajamento no Projeto de


Voluntariado AVESOL/PUCRS (Associação de Voluntariado e Solidariedade),
realizando atividades em comunidades com vulnerabilidade social, em quatro áreas:
assistência social, saúde, meio ambiente e educação. A atuação acontece de duas formas.
A primeira é coletiva, onde todo o grupo atua numa mesma entidade social durante um
determinado tempo. O local é escolhido pelos próprios universitários e conta com o seu
envolvimento em todas as fases: planejamento, realização e avaliação das atividades. A
segunda forma de atuação é a individual, em que cada jovem pode escolher uma
organização em que pretende atuar, de acordo com seus interesses e disponibilidades.
Outro espaço importante é a participação em missões jovens que são realizadas
em períodos de férias tanto pela universidade, como pela Rede Marista. As missões
também acontecem em situações de vulnerabilidade social e proporcionam uma maior
inserção dos jovens na vida das comunidades em que atuam, possibilitando a troca de
experiências profundas e enriquecedoras.
No âmbito eclesial buscamos participar de atividades que são promovidas pelas
Pastorais da Juventude do Brasil e pelo Setor Juventude Diocesano. Entre elas pode-se
destacar a Semana da Cidadania, a Semana do Estudante, o Dia Nacional da Juventude
(DNJ), celebrações, romarias, etc. Também incentivamos a participação dos jovens nos
encontros de universitários cristãos em nível regional e nacional. A PJM universitária
conta ainda com a participação de um jovem na Comissão Arquidiocesana de Juventude,
articulando a universidade e a Rede Marista com outros segmentos juvenis eclesiais.
Na esfera social participamos de espaços de discussão de políticas públicas para
as juventudes e de atuação sociopolítica. Antes de chegar nesses espaços, é de extrema
importância a discussão dentro do próprio grupo em relação temáticas importantes na
compreensão das juventudes e da sociedade tais como: o Estatuto da Juventude, a
educação, as eleições, a participação política, os movimentos estudantis e sociais, entre
outros.
O compromisso social vivenciado na PJM está ancorado no projeto de Reino,
proposto por Jesus Cristo, em que reina a justiça e a paz. Para a construção desta proposta
o grupo sintoniza-se com a Missão Continental e Permanente proposta pela Igreja da
América Latina e Caribe (DOCUMENTO DE APARECIDA, 2007).
Os espaços citados acima tem participação direta dos participantes dos grupos ou
de alguns jovens representantes, mas a Pastoral Juvenil Marista também quer ser um
espaço de formação de jovens protagonistas comprometidos com a construção da
Civilização do Amor independente do ambiente em que estejam, visto que pretendemos
formar bons cristãos, mas também, bons cidadãos.
Considerações finais

Ao longo dessa caminhada realizada pelos grupos, encontram-se muitas alegrias,


esperanças e compromissos que motivam o trabalho realizado. Apontamos na sequencia
algumas percepções pertinentes, considerando o processo realizado até o momento.
A Pastoral Juvenil Marista da PUCRS alegra-se por ter um trabalho sistematizado,
que pressupõe um processo a ser percorrido de modo gradativo e não apenas marcado por
eventos pontuais. Acredita-se que essa caminhada permite aos jovens conviverem,
relacionarem-se e criarem laços de amizade, construindo no grupo um sentimento de
espírito de família.
Os frutos que brotam desse processo podem ser percebidos não apenas na relação
grupal, mas na vida de cada participante. Percebe-se que o espaço protagônico que os
jovens ocupam no grupo, contribui para a formação humana de cada um e para o
engajamento comunitário, eclesial e social.
Como todo o trabalho desenvolvido, ainda há muito a construir e sãos esses
desafios que levam a continuar caminhando. Olha-se para esses desafios com muita
esperança de proporcionar espaços cada vez mais significativos de formação e
amadurecimento na fé para os jovens universitários.
Um grande desafio para o grupo, é que se possa crescer não somente em
quantidade, mas qualificando cada vez mais o processo desenvolvido. Para isso, percebe-
se duas grandes esperanças: o acompanhamento do projeto de vida dos jovens e a
vivência missionária.
A elaboração de projetos de vida pautados em valores cristãos é uma ferramenta
eficaz para acompanhar o caminho de educação e amadurecimento na fé dos jovens. A
oportunidade de avaliar, rever, celebrar e projetar a vida de cada um, relacionada com o
grupo, com a vocação, com as relações interpessoais e com a sociedade possibilita o
desenvolvimento de lideranças como expressão do compromisso cidadão e de fé.
A Igreja Latino-Americana convida para estar em estado permanente de missão,
fazendo todas as ações evangelizadoras, verdadeiramente missionárias. Nesse sentido, o
desafio está em cada vez mais possibilitar que o espírito missionário perpasse todas as
ações desenvolvidas. Como sonho e esperança para o grupo, projeta-se aprofundar a
vivência voluntária com os participantes para que eles estejam cada vez mais inseridos
nos espaços em que atuam. Propõe-se ainda o aprofundamento do projeto das missões
jovens, com prioridade para o protagonismo dos próprios participantes da PJM da
PUCRS.
Como compromisso assumido pela Pastoral Juvenil Marista, busca-se alguns
horizontes como motivadores da caminhada: a formação de jovens solidários e autores da
paz; protagonistas; com a vida pautada nos valores do Evangelho; com maturidade de fé e
exercício da cidadania; que assumem sua realidade; esperançosos e transformadores;
como sal e luz do mundo e comprometidos com a construção do conhecimento científico
(Secretariado Interprovincial Marista, 2006).
A missão da Pastoral Juvenil Marista é promover a evangelização junto com
adolescentes e jovens, buscando a construção do Reino de Deus aqui e agora. Nesse
sentido, o Credo da PJM inspira todo o trabalho realizado acreditando na “missão
evangelizadora das juventudes, caminho da Civilização do Amor”.

Referências

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