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PUCRS
Introdução
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Integrante do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS; Coordenador do Observatório Juventudes
PUCRS; Doutor em Educação. E-mail: mauricioperondirs@gmail.com
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Integrante do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS; Assessora da PJM na PUCRS; Graduada em
Jornalismo; Graduanda em Psicologia. E-mail:
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Integrante do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS; Assessora da PJM na PUCRS; Graduada em
Administração. E-mail:
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Na PUCRS a Pastoral Juvenil Marista-PJM adota a nomenclatura de Grupo Universitário Marista-GUM,
com o objetivo de diferenciar os grupos de PJM que existem nos colégios e nos centros sociais maristas.
Aqui neste artigo usaremos apenas a nomenclatura PJM ao longo do texto.
formação, espiritualidade e compromisso social. Para esta parte contaremos com
depoimentos de jovens participantes dos grupos, que contribuirão com suas experiências
vivenciadas na proposta.
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“O ano de 1968 simboliza o sonho de transformação social. A partir da expansão descontrolada da revolta
estudantil, com greves e barricadas detonadas na França, a rebelião explodiu em diversas partes do mundo”
(CARMO, 2010, p. 75).
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Famoso festival musical, realizado nos Estados Unidos, que agregou milhares de jovens e constituiu-se
como um marco da contracultura juvenil dos anos 1960-1970.
Nos anos 80, as organizações de juventude da Igreja Católica, se articularam
prioritariamente através dos seguintes meios específicos: rural (Pastoral da Juventude
Rural), estudantil (Pastoral da Juventude Estudantil), meio popular (Pastoral da Juventude
do Meio Popular) e comunidades paroquiais urbanas (Pastoral da Juventude). Durante a
década de 80 a Pastoral Universitária teve várias denominações, contando com uma
articulação nacional até meados dos anos 90 (DICK, 1999). Depois deste período, as
experiências no âmbito universitário passaram a ser realizadas de forma mais
individualizada, de acordo com as situações de cada instituição, sem uma organicidade
mais ampla.
Neste contexto é que pode se situada a experiência da Pastoral Juvenil Marista na
universidade. Nos anos 90 e na primeira década dos anos 2000 foram realizadas diversas
experiências com jovens universitários, até que no ano de 2012 se estruturou uma nova
proposta, que continua vigente até os dias atuais.
A mesma está baseada nas Diretrizes Nacionais da Pastoral Juvenil Marista
(SECRETARIADO INTERPROVINCIAL MARISTA, 2006), no Marco Referencial da
Pastoral da Juventude do Brasil (CNBB, 1998) e no documento Civilização do Amor:
tarefa e esperança – orientação para a pastoral da juventude latino-americana (SEJ-
CELAM, 1997).
A PJM adota como concepção de juventude aquela que considera os jovens como
sujeitos de direitos a caminho da autonomia:
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Além destas cinco, a Pastoral da Juventude Estudantil, aponta mais uma dimensão, que é a vocacional. No
documento Civilização do Amor (CELAM, 1997; CELAM, 2013) e a PJB (CNBB, 1998) não deixam de
considerar a dimensão vocacional, porém, a consideram numa perspectiva transversal, ou seja, ela está
presente em ambos os casos, contudo, registradas de modo diferente (PERONDI, 2008, p. 41)
Assim, busca-se trabalhar todas as dimensões da pessoa, visto que, existem
propostas de evangelização das juventudes que acabam por enfatizar apenas alguma
delas, recaindo em extremos que podem ser demasiado espiritualistas ou, contrariamente,
demasiado ativistas. Acreditamos que é preciso buscar o equilíbrio para que tais situações
não aconteçam e que através da vivência das dimensões da formação integral e dos
princípios pedagógico-pastorais, seja possível desenvolver um processo grupal de
formação de lideranças, com o surgimento de jovens cristãos engajados no âmbito
universitário, eclesial e social.
Para que este processo aconteça é desenvolvido um conjunto de ações que visam a
concretização deste ideal. Na sequência apresentaremos como isso acontece na prática
cotidiana.
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Animador é alguém que vivenciou uma caminhada na PJM e quer continuar participando, exercendo o
serviço de acompanhamento aos grupos de forma voluntária (Província Marista do Rio Grande do Sul,
2010).
assessores9. O acompanhamento é um serviço que promove o protagonismo juvenil,
facilita a formação e acompanha a coordenação em suas ações junto aos jovens. “A tarefa
da assessoria é a formação e o acompanhamento. Não cabe à assessoria a coordenação e
organização; são tarefas prioritárias do protagonismo juvenil” (CELAM, 2013, p. 274).
Outra opção pedagógica que favorece a vivência do processo de educação e
amadurecimento na fé no grupo é a organização. “A organização gera um processo
dinâmico de comunhão, estímulo e acompanhamento” (Comissão Internacional da
Pastoral Juvenil Marista, 2011, p. 81). Destaca-se a efetiva participação dos jovens,
principalmente dos Animadores no planejamento, avaliação e celebração do processo da
PJM local.
Os grupos reúnem-se semanalmente com reuniões de uma hora. Devido ao
contexto universitário, onde muitos estudantes conjugam estudos e trabalho ou tem
muitas ocupações no dia a dia, os horários escolhidos são no intervalo entre as aulas da
manhã e tarde (12h às 13h) e no intervalo entre os turnos da tarde e noite (18h30min às
19h30min). Cada grupo de base tem entre dez a quinze participantes e dois Animadores
que acompanham, favorecendo a participação e integração grupal. No próprio grupo, foi
escolhido um critério de que para ser efetivamente participante, é necessário um mínimo
de cinquenta por centro de participação nas reuniões semanais, possibilitando vivenciar o
processo da melhor forma possível.
Além das reuniões semanais, o grupo também tem articulações e participações nos
âmbitos da comunidade universitária, eclesial e social. Alguns exemplos são as aulas
inaugurais de Faculdades, o Stand Calouros PUCRS10, os Congressos Brasileiros de
Universitários Cristãos, Setor Juventude Arquidiocesano, espaços de discussão de
políticas públicas, entre outros. Tal opção está em consonância com a proposta de
pastoral orgânica desenvolvida no documento Civilização do Amor.
Como forma de melhor organizar a vivência grupal e a vivência da formação
integral (nas suas seis dimensões), as atividades e reuniões são planejadas a partir de
quatro âmbitos: convivência, formação, espiritualidade e compromisso social. Esses
baseiam a elaboração do cronograma anual de reuniões, das atividades externas, dos
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Assessor é um cristão adulto chamado por Deus para exercer o ministério de acompanhar, em nome do
Instituto Marista, os processos de educação na fé dos adolescentes e jovens. (Província Marista do Rio
Grande do Sul, 2010).
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Stand Calouros é um projeto da PUCRS de recepção e integração para os universitários calouros que
acontece no início de cada semestre letivo.
retiros, do encontro de convivência, do voluntariado, entre outras. Apresentaremos abaixo
o que é trabalhado em cada um desses âmbitos.
Trabalhamos para que os grupos juvenis possam ser verdadeiros lares onde se
possa viver a experiência crista de compartilhar, da fraternidade, da
responsabilidade mútua e do compromisso com a sociedade, especialmente
com os mais necessitados (Comissão Internacional da Pastoral Juvenil Marista,
2011, p. 55).
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Os depoimentos utilizados no texto foram coletados especialmente para esta publicação.
É também espaço de relação já que na convivência se criam laços de fraternidade
e percebe-se que não estamos sozinhos no mundo. Participar de um grupo pode ser uma
mistura de incerteza e alegria.
Na PJM, a visão que se tem sobre os jovens não é superficial, pois busca
compreender o ser como um todo, em todas as suas dimensões, conforme a proposta de
formação que adotamos:
Para que todas as dimensões da formação integral sejam vivenciadas pelo grupo é
desenvolvido um processo de formação nas reuniões semanais que envolve temas
diversos de aprofundamento.
O caminho de formação percorrido é um processo que tem inicio, meio, mas não
tem um fim, pois estará sempre em construção. Neste sentindo, parte da experiência do
jovem e se dá de maneira processual, respeitando as etapas e fases de crescimento do
jovem e do grupo. Procura-se desenvolver uma formação em que a teoria esteja alinhada
com a prática, ou seja, reflexão e a ação estão sintonizadas. Esta experiência vivida pelos
jovens os ajuda a “crescer como pessoas integradas e esperançosas, comprometidas na
transformação social e coerentes com os valores do Reino” (Comissão Internacional da
Pastoral Juvenil Marista, 2011, p. 78).
Durante as reuniões de grupo busca-se abordar temáticas variadas, não focando
apenas em temas relacionados à área religiosa ou então em temas de prática social.
Busca-se trabalhar temas que abordem diversos aspectos, pois, deste modo, é possível
subsidiar melhor a vivência da formação integral em todas as suas dimensões, conforme é
possível visualizar no depoimento de uma das participantes do grupo:
Em seu relato, a jovem Francine aponta como a formação que ela tem no grupo de
universitários contribui em três aspectos de sua vida: as atitudes, a visão de mundo e o
comportamento. Destaca ainda que tais elementos asseguram uma reflexão e o seu
protagonismo nas suas decisões pessoais e profissionais. Isso demonstra como a proposta
de formação que considera os jovens como sujeitos se materializa no cotidiano. Percebe-
se em sua fala que o processo formativo em que participa promove a reflexão e conduz à
tomada de decisões, configurando-se com um princípio que desenvolve a autonomia dos
participantes.
Tal concepção de formação diferencia-se de outras em que os jovens são meros
expectadores no processo grupal, visto que, neste caso eles são ativos e tem espaço para o
desenvolvimento de uma postural pessoal diante da vida e da realidade. Entendemos que
jovens formados nesta perspectiva apresentam maiores condições de contribuir com a
universidade, com a comunidade eclesial, com sua família e com a sociedade em geral.
Tornar Jesus Cristo conhecido e amado esse era o sentido dado por São Marcelino
Champagnat, para a fundação do Instituto Marista e que continua vigente em nossas
missão: “Nós, Maristas, amamos Jesus e seu Evangelho. Ele é nossa razão de nosso ser e
de nosso fazer” (Comissão Internacional da Pastoral Juvenil Marista, 2011, p. 51). A
forma da PJM de seguir Jesus Cristo é inspirada na espiritualidade legada por Marcelino
Champagnat que é mariana e apostólica.
Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a
uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias
seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba
presa num emaranhado de obsessões e procedimentos (...) Mais do que o temor
de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que
nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes
implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há
uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de
comer» (Mc 6,37) (PAPA FRANCISCO, 2013, p. 12)
Referências
CARMO, Paulo Sérgio do. Culturas da rebeldia: a juventude em questão. São Paulo:
Ed. Senac São Paulo, 2010. [3ª edição].
FEIXA PÀMPOLS, Carles. De jóvenes, bandas y tribus. 3ª ed. Barcelona: Ariel, 2006.