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ATIVIDADE ESTRUTURADA

INVESTIGAÇÃO – INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E FONÉTICA – CCJ0165


Resenha crítica acerca da temática.

Problemáticas da interpretação extensiva da Lei de Interceptação Telefônica

O caso dos aplicativos de comunicação instantânea

  A utilização da tecnologia no âmbito penal como meio de ampliar a capacidade


investigatória das autoridades policiais ganhou contorno significativo nas últimas
décadas. A era dos smartphones exigiu uma mudança de paradigma na condução das
investigações criminais, que passaram a contar com ferramentas e mecanismos cada
vez mais sofisticados. Em que pese a implementação de novas técnicas de persecução
criminal seja um avanço relevante, necessário que o novo modelo de investigação - por
intermédio da utilização de informações oriundas de empresas privadas - seja balizado
pelas garantias constitucionais, como forma de coibir eventuais arbítrios estatais e
proteger a privacidade dos dados.

Dentro desse contexto, chama atenção o exagero no número de requisições de


quebra de sigilo telefônico e telemático de caráter genérico, realizadas como primeira
medida investigatória e que transforma, por via transversa, as companhias privadas
em longa manus estatal na investigação criminal. Nesse sentido, para tornar a questão
mais palpável, um tema que tem se mostrado sensível é a indevida requisição ampla
de dados de geolocalização, em que um conjunto indeterminado de pessoas não
identificadas - que tenham transitado por determinadas coordenadas geográficas, em
período de tempo abrangente - tem seus dados pessoais quebrados; o que reflete no
envolvimento de uma infinidade de pessoas figurando como potenciais investigados.

Além de não estar alinhado com a preocupação da preservação da privacidade,


o raciocínio utilizado para justificar as ordens genéricas, de forma a obter, a qualquer
custo e como primeira medida investigatória, elementos que permitam o avanço das
investigações, não se coaduna com a legislação infraconstitucional e as garantias
constitucionais. Em primeiro lugar, o Marco Civil da Internet não admite a ausência de
individualização dos alvos da investigação criminal. Pelo contrário, o artigo 19/1º, do
referido diploma legal, estabelece a obrigatoriedade de indicação clara e específica do
objeto da quebra de sigilo telemático. Ademais, a mesma legislação assegura o sigilo
não apenas das comunicações, mas também de dados como registros de acesso, que
devem observar as garantias constitucionais da intimidade e vida privada dos usuários,
nos termos dos seus artigos 7º e 10º. Pela ótica constitucional, mesmo que os
Tribunais considerem que a inviolabilidade do sigilo garantida pelo artigo 5º, inciso XII
somente resguarda o conteúdo das comunicações, não se pode olvidar que medida tão
gravosa, que atinge um número indeterminado de pessoas que não possuem qualquer
pertinência com os fatos investigados, viola a intimidade e vida privada, asseguradas
pelo artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal.

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