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Ver o passado
desenrola diante
de seus
história que se
Assistir à
Ter o passado. nos permitaver os
feitos dos n o s s o s
olhos. Ter uma máquina que moldaram o n o s s o
acontecimentos que
e os principais
antepassados antecede a invenção por par-
mundo. Sem dúvida,
um desejo desse tipo e revolu-
mais elegante
do equipamento
Lumière
te de Louis e Auguste anos após os
irmãos
cinematógrafo. Apenas quatro
cionário de todos, o contemporâneos no
de filmes curtos
terem primeira exibição
realizado a encenando
George Méliès estava, em 1900,
café em Paris,
porão de um c o m o em L'Affaire Dreyfus.
históricas recentes,
para a câmera cenas trabalhos que se
ambientados no passado
-
tempo que
muito e
conhecemos hoje sobretudo por
perderam há ultimi giorni
L'assassinat du Duc de Guise (1908), da França; Gli
titulos,
da Itália; e Uncle Toms
di Pompei (1908) e La presa di Roma (1905),
estavam sendo distribuídos
em
Cabin (1903), dos Estados Unidos
histórias tão diversas como
todo o mundo. Em países com culturas e
Dinamarca, alguns dos primeiros filmes dra-
Japão, Rússia, Inglaterra e
nas telas.
era uma
parte regular do entretenimento
achavam
No início da história desta nova mídia, algumas pessoas
nessa capa-
que parte do seu potencial de sucesso residia simplesmente
francês descreveu
dade de nos fazer ver o passado. Um crítico teatral
A história nos filmes/Os filmes na história
Ver o passado
em 1908 as aspiraçòes do cinema nao
apenas como a
29
como mera
ficção ou
"entretenimento",
dell, 2002: 15). D.W. Griffith, diretor de um dos de queixar de suas
primeiros grandes fil
ou se
imprecisões tlagrantes, parece mais sensato
mes históricos, e certamente o mais admitir que vivemos em um mundo moldado, mesmo em sua consciên-
polêmico, O Nascimento de m
Nacao foi um missionário virtual desse tópico. Em cia histórica, pelas mídias visuais e investigar exatamente como os fil-
1915, ele afirmou
que a maior contribuição do cinema havia sido "o mes trabalham para criar um mundo histórico. Isso significa se concen-
tratamento de
históricos,e gostava de mencionar "educadores que haviam dito temas trar no que podemos chamar de suas regras de abordagem dos
vestigios
(pelo do passado e investigar os cód1gos, convenções e práticas por meio dos
menos, era o que ele afirmava) que um filme
pode "infundir em um história é levada às telas.
povo, em uma noite, tanta verdade histórica quais a
quanto muitos meses de Para começar, algumas informações preliminares se fazem necessá-
estudo" (Silva, 1971: 98, 99).
rias. Assim como algumas distinções analíticas. Os primeiros filmes
Mais de umséculo após o nascimento do cinema,
historiadores, "históricos" dramáticos não eram concebidos como investigações sérias
críticos, resenhistas e o público em geral ainda se perguntam (na verda- a respeito do significado dos acontecimentos passados. Eram momen-
de, a maioria duvida) se essa promessa do filme como história foi cum- tos nacionais breves, muitas vezes não mais do que encenações teatrais,
prida. Para aqueles que se
importam com esse
tópico, as
importantes que a plateia fatalmente reconheceria-Lincoln em Gettysburg, Dreyfus
questões levantadas pela narraço do passado nas mídias visuais ainda na Ilha do Diabo, Marat estendido morto na banheira. Todavia, mesmo
precisam ser respondidas - ou até mesmo colocadas de verdade. Será
quando foram se tornando mais extensas durante a segunda década do
que essas representações realmente contam como história? Elas aumen-
cinema, tais obras não conseguiram se tornar trabalhos sérios sobre as
tam diminuem o nosso conhecimento do passado? Será que alguma
ou
questões que geralmente interessam aos historiadores. Em vez de tentar
entender ou explicar acontecimentos, movimentos ou pessoas, elas ten-
representação filmica do passado pode ser levada a sério? Será que al-
gum filme conta como "pensamento histórico" ou contribui para aigo aiam a ser romances, época" que usavam (e abusavam) do
"dramas de
passado como uma mera ambientação para histórias de aventura
e
no A Lista
por um filme, especialmente por um
avel-
mento de Nação(1915), de Grifith. Hoje,
uma
de Schindler
(1993), muitos milhões de pessoas Po
filmes na
história
filmes/Os
nos
história
30 A
Ver o passado 31
cultura. No entanto, a sua representacão da o. ção de 1905, um amotinamentoo em um encouraçado no Mar Negro,e
sem instrução e sem transformá-lo em uma surpreendente metáfora que visava mostrar co-
a sua vis o
do sul como vítima das depreda
Civil Americana,
ex-escravos e dos oportunistas do Norte durante a reconstrução, a 0S
sua
mo o proletariado pode subverter a opressão e fazer uma revolução. Três
Klan como heróis do Confit anos mais tarde, seu filme em homenagem ao décimo aniversário da
exaltação dos integrantes da Ku Kiux ra- Revolução Bolchevique, Outubro (1928)-apesar de todos os seusinter
ial e os seus estereótipos
(literalmente) afro-america
terriveis dos
lúdios inventados como a tomada do Palácio de iInverno -, permaneceu
reflexos diretos das principais interpretacäee
eram (infelizmente) fiel aos detalhes dos chamados Os Dez Dias que Abalaram o Mundo,
foi produzido- não apenas das crencas dos eta
época em que o filme embora minimizasse a contribuição de Lênin e de seu partido. Embora
dãos nas ruas, mas do saber da mais poderosa escola de historiadores
seja rotulado de propaganda por muitos e esteja cheio de tropos que
americanos daquele período. Quando o filme foi lançado, Woodro
eram (e são) incomuns em uma obra histórica- humor, repetição, me-
Wilson, cujas obras históricas são citadas como uma das fontes do
táfora visual, miniensaios, a poesia do movimento Outubro consegue
-
noções estão intimamente entrelaçadas. Em um esforço para criar uma um dose de uma linha de montagem de munições seguida por:"As mãos
nova e revolucionária teoria e dos operários preparando a morte de seus irmãos"- um comentário que
prática do cinema para um novo e revo-
lucionário regime, Eisenstein criou um pode ser interpretado como propagandístico ou histórico, mas que, na
a
tipo de montagem que o ajudou
construir obras verdade, é ambos ao mesmo tempo (Roberts, 1999: 50-72).
épicas que promoviam o tema duplo da entrada das
massas para a história e da chegada da história às massas. Seus filmes da Grifith, Eisenstein e Shub podem ser considerados os criadores
década de 1920 não têm (ou, para evitar discussões a respeito de precedência, alguns dos primer
heróis nem mesmo
nao ser personagens individuais, a
por aqueles poucos que (como em uma narrativa histórica escrita) ros expoentes) dos três tipos de filme histórico discutivelmente sérios
se destacam da multidão irmãos
por um momento para articular uma ideia ou que foram produzidos desde ent o: o drama comercial (e seus
Sumbolizar um de maior duração, a minissérie ou o docudrama), a história de oposição
acontecimento. O primeiro desses filmes, e sua
ma
consagrada, O Encouraçado Potemkin obra-pt ou inovadora, e o documentário de compilação. O americano criou o
(1925), apresentava uma torte
Ver o passado 33
história
filmes na
filmes/Os
nos
histona
32 A
obra "padrâo"
da.
história em filme, o (melo) introdução do som surrouna, a digital1zação da imagem ou a sua redu-
chamar de a um monitor de televisäo numa sala de estar- ne-
podemos is, iheroínas e vilões que se veem cão para adequá-la
que a luta de heróis,
realista que
retrata
ricos, homens e mulheres
históric
nhma dessas mudanças altera em nada o tipo de pensamento histórico
drama acontecimentos
cujas
histórias cohecemos como sinédo- nos
que
meio da figura de inguagem da imagem, mas cada um deles utiliza as imagens de uma
soa e, por histórico
oricos mais plos -
nesse caso, como os na primazia
significado histórico.
temas
que,
exemplificam
manipularam ex-escravos ign0 maneira diferente para criar
Norte supostamente
exploradores do conquistado, que foi felizmente
o Sul
e explorar
rantes para oprimir Klan. Shub é igualmente O longa-metragem dramático, dirigido pelos descendentes de Griffith,
"bravura" da Ku Klux
salvo da destruição pela dos momentos históricos reais a ser, a mais importante forma de história nas mi-
tem sido, e continua
na edição imagens
"realista" ao juntar Em todo o mundo, o ter-
do passado "como
ele realmente aconteceu', ou dias visuais em termos de público e intfluència.
uma noção
para criar toram vistos através das mo cinema significa longas-metragens dramáticos, com os documentá
de seus momentos
pelo menos como alguns de um ponto de vista específico. Eisens- rios relegados a um status marginal e o filme inovador mal sendo reco-
lentes de uma càmera partir
a
sua capacidade de
pensar a respeito do você
filme conta um
enredo com começo,
acadèmico, o do cineasta está
que está vendo. O neasta
Como o enredo do
mais do que apenas ensinar a filme teor moral. progressiva do passado, isso
quer forte e
liço de que a história um
viso
que você, o espectador, vivencie a dor (e os "dó, ele quer
quer
quase sempre
a
incorporado
uma
escravidão, o Holo-
A principal maneira como
prazeres) do passado, para temas improváveis tais como a
vIvenciamoS-ou valeaté mesmo do Khmer Vermelho, n o Camboja.
-
o
passado na tela é, obviamente, através de
imaginamos vivenciar causto ou as
atrocidades em massa
m a n t e r u m ponto
de vista desse tipo
nossos olhos. Vemos cor. Como o acadèmico,
o cineasta pode
pos, rostos, paisagens, edifícios, animais, ferramentas, a
passado: o que quer que
próprio ato de contar o
utensílios, armas, do
por meio
roupas, móveis, todos os objetos materiais que pertenceram a apenas agora está
re-
-diz a mensagem implícita
uma cul- humanidade tenha perdido históricos
tura em um determinado período histórico, testemunho dos erros
objetos que são usados e criação desta obra, pelo
abusados, ignorados e venerados, objetos que, às vezes, podem dimido pela (Rosenstone, 1995a: 54-61).
compartilhar
definir vidas, identidades e destinos. Tais
ajudar a queestefilme nos.permite
objetos, que a cåmera exige
modo de entendimento históri-
para
que uma cena pareça "real, e
com frequência,
que a história escrita facilmente,e O documentário, considerado um
mundo nos filmes. Aquilo que, na história escrita, Roland Barthes cha- uma história linear e moral, muitas v e z e s (sobretudo recentemente)
mou de "efeitos de realidade, e de
de grandes tópicos por intermédio da experiência pequeno um
menosprezou como meras anotações, trata
produz na tela uma certa "materialidade que é importante (Ankersmith, materialidade dos
grupo de participantes, gasta muito tempo c o m a
1994b: 139-41). Por serem muito reveladores a respeito das pessoas,
pro objetos e visa suscitar emoções por meio não apenas da seleção, enqua-
cessos e épocas, os "efeitos de realidade" nos filmes se tornam fatos des- dramento e justaposição de imagens paradas e em movimento, mnas
critos, elementos importantes na criação do significado histórico. também da utilizaço de uma trilha sonora repleta da linguagem, efe
A capacidade de suscitar emoções fortes e imediatas, a ênfase no tos sonoros e música da era retratada. Ao contrário do filme dramático,
a maioria de suas imagens não é encenada para a câmera (embora
visual e no auditivo e a resultante qualidade materializada da experièn algu
cia filmica em que parecemos viver por meio dos acontecimentos que mas ocasionalmente sejam), mas coletada em museus e arquivos foto-
gráficos e cinematográficos - a grande exceção são as entrevistas com
presenciamos tela são, indubitavelmente, práticas que distinguem
na
claramente o filme histórico da história impressa, participantes dos acontecimentos históricos ou especialistas, muitas
especialmente a vezes professores de história, cujas palavras são usadas para moldar e
história produzida por acadêmicos. Ao se concentrar na experiència aos
criar o sentido mais amplo do
indivíduos em pequenos grupos, o filme se aproxima mais da biOgrand passado.
da micro-história ou da história narrativa popular do que da historia A afirmação implícita do documentário é a de
que ele nos dá aces-
so diretoà história,
produzida pela academia e, embora estes três gêneros tenham sido oc que as suas imagens históricas, meio de seu por
s1onalmente criticados por relacionamento de caráter indexativo
alguns docentes por não serem suticienie tos
com as pessoas, paisagens e obje-
mente "históricos, cada um deles conquistou um número suficientc autênticos, podem fornecer uma
experiência do passado pratica-
Ver o passado 37
filmes/Os filmes na história
A história nos
36
for-
para n o v a s
mediação -
público
como
e sugerir Mun-
expoentes maioria do Terceiro
enorme, como o que acompanhou a serie The Civil War, de Ken cineastas (em
sua
herdeiros,
Burns, tein teve alguns dramáticos que
colocam o coletivo ou
originariamente exibida pela Public Broadcast System, ou o que asistin longas-metragens
que criam histórico. bra-
às séries sucessivas desse mesmo diretor sobre beisebol e jazz. EsSas do) indivíduo, no centro do processo
o
as
massas, e não até mais radical em Quilombo (1984),
obras são repletas de fotos antigas, cinejornais de época e trechos de isso e algo
sileiro Cacá Diegues faz formada por escravos
velhos longas-metragens que, por meio de sua estética original, sua uma obstinada sociedade
história de Palmares,
deterioração ao longo dos anos e sua lembrança do que existia ou não
a
retratada em música e dança (samba) por atores
vestidos co
fugitivos u m a repre-
do Carnaval. Um ataque
a
em um dado período, apresentam-se imersas em uma sensação acolhe- estivessem participando
m o se semelhante foi reali-
a c o n t e c i m e n t o s históricos
dora de como os tempos mudaram, de quanto ganhamos e perdemos. dos
sentação "realista Ceddo (1977), uma
As pessoas naquelas fotos e trechos de filmes não achavam - como nós cineastas -
Ousmane Sembene em
zado por outros
achamos- seus penteados ou roupas estranhos e tanmbém não conside história altamente
estilizada de um levante religioso e tribal n o Senegal;
música, dança e u m persona
ravam os móveis em que estavam sentados, os edificios à sua frente ou
Luis Valdez em Zoot Suit (1980), que
usa
retratar a s
as ferramentas e armas em suas mãos antiquados ou fora de moda. El Pachuco, o espírito do Barrio, para
gem central mítico, a Segunda
e m Los Angeles durante
Imagens desse tipo nunca podem proporcionar uma experi ncia direta tensões e conflitos anglo-mexicanos
comédia de humoor
Guerra Mundial; Alex Cox e m Walker (1987),
s u a
da história porque os anos que as separam do presente interferem de-
mais na consciência do espectador. repleta de anacronismos (Mercedes Benz, helicópteros e termi
negro
"com
nais de computador n a década de 1850). Outras críticas a o s filmes
O filme histórico inovador ou de oposição constitui uma categoria visual de época" assumiram aforma de documentários Shoah (1985), -
ampla que contém uma grande variedade de teorias, ideologias e de Claude Lanzmann, u m a obra sobre o Holocausto que não contém
abor Hitler: Um Filme da Alemanha (1977),
dagens estéticas com potencial de impacto e impacto real no pensamen- imagens da década de 1940, ou
longas-metragens e documentários clássicos. Fazem parte, ao mesno Elementos básicos dos filmes, como uma história dramática e a
tempo, de uma busca de um novo
vocabulário para representar o pd> intensificação das emoçöes, também foram colocados em questão. Em
$ado na tela, uma série de obras conscientemente desdramatizadas - dentre elas L'età
um esforço para tornar a história (dependendo do filme)
ais complexa,
interrogativa autoconsciente, tratando de perguntas
e
del ferro (1964), A Tomada do Poderpor Luis XIV (1966) L'età di Cosi- e
diiceis, até mesmo mo de Medici (1973) - Roberto Rosselliniy provavelmente o mais prolí-
irrespondiveis, mais do que de enredos agradavels
nelhores filmes desse fico diretor de filmes históricos da história do cinema, usa pessoas co-
tipo propõem novas estratégias para lidar con
O's tilmes
na historia
nos
fiimes Ver o p1,5ado
Ahistoria
38
rectar falas a n o se
toscamente alas que
não atores, para (ou imaginado) em obras que
combinam uma
muns, e
ideias
recombina mais extensa obra histórica, apresentava
po de mulheres se
combina em padrões que se repetem e seja o diretor com a
nunca se dar
variam infinitamente. contraditórias sobre a representação da história sem
sua
estu-
referéncia a filmes. Em uma carta de 1935 altamente reveladora acerca Imperial da Guerra em Londres. requentadas principalmente por
Baixos e
das atitudes profissionais, Louis Gottschalk, da Universidade de Chica- diosos do continente (França, Alemanha, Dinamarca, Países
g0, escreveu ao presidente da Metro Goldwyn-Mayer: "Se for retirar e do Reino Unido, com alguns visitantes dos
Estados Unidos,
Bélgica)
seus temas tào generosamente da história, a arte cinematográfica deve- essas reuniões se concentravam sobretudo na produção, na recepção e
valor dos filmes de atualidade (documentários), em detrimento dos
rá, em
respeito a seus
patronos e a seus próprios ideais mais elevados, no
se tornar mais
precisa. Nenhum filme de natureza histórica deverá ser filmes ficcionais. Dessas conferèncias, nasceu a Associação Internacional
desde 1981, tem publicado o
oferecido ao público antes que um historiador
respeitável tenha a chan- para Midias Audiovisuais e História, que,
ce de
julgá-la analisá-la'".
e International Journal of Film, Radio, and Television (Fidelius, 2004).
tratavam
Outros fatores além da Os tres livros que surgiram desses primeiros encontros
qualidade dos filmes faziam com que os sobretudo de duas questões: primeiro, como o filme de atualidade po
historiadores não considerassem o cinema uma
maneira séria de recon
tar o
passado.As dia usado ferramenta de ensino na sala de aula. O primeiro a
mídias visuais caíram do lado errado do então enorme ser como
de ensaios
muro que separava a alta
da baixa cultura (ou cultura de massa). Assim, ser publicado foi The Historian and Film (1976), uma coleção
britànicos que focava ques
0S filmes só
puderam ser levados a sério quando esse muro caiu escritos (principalmente) por historiadores
pio
-
dramáticas, mais
Mas, após meados do a tratar de obras
u e afirmações da história
as secu Films as History, o primeiro livro
Yd tradicional e de suas
metanarde como conjuntos de
filmes realizados em
curocentricas começaram a especificamente da questão de
ser questionadas por uma sci
43
er o passado
da
ou opinião especificos antissemitismo na E ideo- surgir
(ele cita
Andrei Tarkovsky,
da Alemanha;
L u c h i n o Visconti,
da
Frente Popular na década de 1930 ou a consciência nacional na Ala a, a
diretores
Syberberg, históricas t o for-
Hans-Jürgen
lema- Senegal; c i n e a s t a s poloneses)
têm visões
nha e na França na década de 1920 (Smith, 1976; de ideológicas de
Short, 1981) Itália, e um
grupo
as forças
e tradições
Um único ensaio no volume tenta tonmar uma nova de
transcender
da histó-
independentes
sendo reunidos Cinema História (1977) concentra a maior relação a certos tópicos (a Re-
ram em e
tram. Todavia, ele demonstra como, em
mais amplo do
filmes históricos) são u m artefato cultural, artefato
esse que
se relacionam c o m o campo
mente os grupos de filmes históricos
que foi realizado,
mas que, Em u m argumento muitas
não apenas é muito revelador do período em discurso gerado por profissionais da área.
da e m dia, Sorlin suge
nos melhores casos, forneceo que ele chama de uma "contra-análise vezes ignorado por historiadores (e jornalistas) hoje
sociedade. Somente no último ensaio do livro ele confronta uma ques históricas escritas, os filmes não
re que, exatamente como as narrativas
uma escrita ou às n o s s a s in-
tão mais problemática (e interessante): "Será que
existe devem s e r julgados e m relação a o n o s s o conhecimento
Ele argumentd m a s sim e m relação ao
entendimento
tilmica da história?" A resposta inicial de Ferro é "não" terpretações atuais de um tópico,
que os cineastas incorporam cegamente uma ideologia
nacional ou es histórico da época que foram realizados. Isso significa por exemplo
em
conceito de
com o
e plena
nem uma interpretaçao pessoal Dizarra nem uma
de lidar de
forma direta trabalho sóli-
melhor história
acadêmica teoricamente
f u n d a m e n t a d o
AHR é
que
Slaves on Screen,
de Natalie
de sua própria época, o início do século XX (Sorlin, 1980: do e fórum da Era Mo-
21, 159 19 Sorlin e pelo conceituada do início da
Wenden, muito filme
No quarto de século desde a publicação de The Film estudiosa um
em
in History. um Por ser uma
como
consultora
Davis. trabalhado
número cada vez maior de historiadores se mostrou por ter Retorno de Martin
merece
análise
uma
mais
fil-
abordar o tópico nos Estados Unidos foi um fórum inteiramente dedi trabalho de Davis o
debate sobre os
Guerre, o consciente de ampliar
tentativa
cado aos filmes na edição de dezembro de 1988 da revista mais
conser por
causa de sua
rumos.
Screen não é
uma
e
levá-lo para Slaves on
mes dizer que
partir de
necessário
início, é a
Logo de
Criado
abertura, "History in images/History in words: reflections on the possi- exaustiva do seu tópico.
livro
ou o
investigação ampla de Toronto,
bility of really putting history onto film, que defendia a posição de que ministradas na
Universidade
aventura
falam sobre Davis se
gerais
do poeta e os acontecimentos específicos" do historiador. Ela trabalho", camponeses medievais
semean-
experiència de "pessoas
no
distinções clássicas"muitas vezes se
ressalta que essas
discursos issiparam na
recontados pelo supostamente rigoroso
a
do e colhendo, tintureiros
chineses colorindo tecidos em grandes tinas,
Tucidi. mulheres em fábricas
do século XX curvadas sobre máquinas. Posto
eram, emgrande parte, inventados e ele também recorria c mfre- devemos ter cuidado para não
sucumbir demais à "realida
mas do que ao real, a fim de isso, ainda
quência ao "possível,
2000: 4, 3).
completar seus rela- de" dos filmes, pois,
em última instância, eles não
exatamente mostram,
transmissores da "verdade, é exatamente essa dicotomia que a autora de- obediência aos ideais óbvios (muitas vezes violados na prática, como ela
seja questionar. Com um caráter ostensivamente mais indexativo e, por- sabe) que são ensinados aos estudantes de História nos cursos de gra-
tanto, mais verdadeiro, em sua relação com a realidade, o documentário
duação: procurar amplamente evidências, manter a mente aberta, apre
também envolve um "jogo de invenção, ao passo que sentar aos leitores as fontes das evidências, revelar suas próprias suposi-
olonga-metragem
dramático, apesar dos elementos fictícios,"pode fazer observações l6gicas ções, não deixar que julgamentos normativos atrapalhem o entendimen-
sobreacontecimentos, relações.e processos históricos" (Davis, 2000: 5). to, nunca falsificar evidéncias e rotular nossas especulações. Como o
Tais obras dramáticas se comunicam conosco através de uma mi- filme dramático, devido à sua própria natureza, n o pode satisfazer a
dia que teve
apenas um século para desenvolver os seus gêneros, um maioria dessas práticas (algo que Davis nunca consegue admitir direta-
periodo breve se comparado 2.500 mente), ele parece ficar relegado a um papel subsidiário na narração do
aos anos nos quais os OCIdentals
explorarame descartaram muitas formas diferentes de história escrita. passado. Tendo em mente "as diferenças entre filme e prosa profissional'",
Davis faz uma
distinção entre dois tipos de filmes históricos aqueles a autora diz que podemos levar os filmes a sério "como uma fonte de uma
Daseados em acontecimentos documentáveis e aqueles com tramas visão histórica valiosa e até mesmo inovadora'. Podemos até "fazer per-
naginadas, nos quais guntas sobre filmes históricos que são paralelas às que fazemos aos livros
acontecimentos verificáveis säão intrínsecos
a
açao. Para a
autora, históricos': Mas não podemos confiar plenamente nas respostas, pois, em
longa-metragem normal tem dois modos
o
recontar o passado: a biografia histórica ou a micro-história (guepaa ültima instància, os cineastas não são exatamente historiadores, mas "ar
nesma
escreveu). O primeiro pode tratar de tistas para os quais a história tem importància'" (Davis, 2000: 11, 15).
Por que decisões questões do tipo co
políticas são tomadas em diferentes Com essas ideias em mente, Davis aborda cinco filmes realizados
quais são as suas regimes nisto entre 1960 e 1998, tratando-os cronologicamente e, em geral, compa-
poae nos consequências".O segundo, como boa historia
fazer penetrar
cial,
nas dinâmicas rando-os com o contexto historiográfico dos estudos sobre escravidão
da vida familiar ou
compa
A história nos filmes/Os filmes na história 49
48 Ver o
Passado
Davis e Eugene Genovese. Cada filme também é Finley, Davic Peter Ustinov
mudaram suas
vagamente ligadoBrion
e com
Charles Laughton
não apenas
vier, do filme - criados
climasocial especifico. O espetáculo clássico, Spartacus um Os sucessos
históricos
e a
baixa" so-
narrativa do hiato
ligado tanto à Guerra Fria quanto as
preocupações
stanley Kubrick, música
i n c l u e m "a descrição
-
homens livres;
a descrição
do treina-
da batalha
final c o m s u a
revolucionários de independén
e
dência
mento na
combate corpo a corpo
entre
escravos
escra-
no Terceiro
Mundo-Queimada (1969), dirigido pelo italiano Gillo Pon. luta caótica
dos
casamentos
e o
e
relacionamentos pessoais ilegais
entre
Entre as fa-
tecorvo (mais conhecido por sua obra-prima retrato
apropriado de
resistência.
voltas de
escravos nascido
u n i v e r s a l i s m o anacronístico,
ricana) da historiadora Morena Fraginal, El Ingenio, que descreve herói, que exibe
um
uma final do nosso
do mundo antigo. compara- Na
revolta numa plantação em 1790. Duas produções americanas da Iluminismo, mais do que
déca- das ideias do "parecer misto
a o filme u m
da de 1990 pertencem ao que Davis chama de nosa crescente o registro
histórico, Davis atribui
preocupa- çãocom oportunidades perdidas, alguns
fracassos"
ção com os horrores da vitimização Amistad (1997), de Steven Spiel-
-
-
s u c e s s o s , algumas
alguns
berg, a história da tomada do controle de um navio negreiro por parte (Davis, 2000: 36).
a o s outros fillmes,
mas
de escravos africanos e os subsequentes julgamentos de seus lideres em Uma avaliação mista semelhante é atribuída
recebem notas muito mais
Massachusetts, e Bem-Amada (1998), a produção de Jonathan Demme as duas obras
realizadas fora de Hollywood
e m parte a o
histórica complexa. Isso s e deve
(baseada no romance de Toni Morrison) que explora as cicatrizes psí- altas por s u a consciência
movimentos de câmera
quicas deixadas nos ex-escravos após a sua libertação. Nas palavras de aspecto visual -o olhar nada sentimental, os de cineastas (europeus
Davis, esses filmes foram produzidos "sob a sombra do Holocausto" arriscados e as escolhas inusitadas de montagem
uma plateia
(Davis, 2000: 70). e dispostos a ampliar a experiência de
do Terceiro Mundo)
de Hollywood,
A estratégia para analisar cada obra se divide em trés partes.
Pri acostumada ao conforto da linguagem cinematográfica
na tela é sempre clara-
meiro, a gênese - quem teve a ideia para o filme, quais foram as suas na qual o posicionamento de lugares e pessoas
eventos que aconteceram
fontes, como vários produtores-roteiristas-diretores o levaram para a mente demarcado. Queimada, baseado em
mas ficcional em
tela e quais eram suas intenções. Segundo, uma sinopse que destaca os em u m a dúzia de países do Caribe e da América Latina,
meio da
seus escravos,
sforma-se
inversão" que o fazempio idoso, que
« um
relato poderoso
escravid o, infligidas depois, autoinfligidas
e,
por
Davis muitas
vezes
rapidamente
quando aqueles mesmos escravos lav; s pés de
em um tirano sangre
tiran
feridas da
resistência".
Ao descrever
Bem-Amada, a prosa de
ficcionais, os per-
com eficiência inclemente e lideram uma ao extático. Apesar de
serem
119).
(Davis, 2000: 108,
uma galeria de
tipos sociais-feitores,representação que o filme fay d passado"
perguntar: "O que mais esperar de um filme histórico?".
seu
corajoso retrato do mundo cotidianopadres, técnicos, escravos -eo
do trabalho
Podemos
apenas que
ele se concentre
em "Contar a Verdade, o
o nosso
estado de verdade narrativa, histórica nem na
da
-
filmes que ela considera encobertos dedique capítulo mais longo aos tela. Tendo conhecimento disso,
o
nem certamente na
de personagens, inci-
noção geral do movimento dos u s a r criações e invenções-
acontecimentos, dos interesses em jogo, dos sempre se permitirem e n ão
momentos, diálogos, c e n á r i o s - apenas
tados e contestados e da excitação e fervor argumentos
sendo apresen- dentes, acontecimentos,
suscitados" pelos julgamentos comerciais o u palatáveis para u m público
tornar as narrativas mais
dos africanos e pela questo de sua para
libertação ou da volta à escravidão, mais amplo, m a s porque quanto
tanto a mídia o gênero garantem que
mas o filme não é, como tela. Isso
prometido pelo diretor Spielberg, o "espelho... tal invenção está intimamente envolvida e m cada momento na
[dos] eventos reais como aconteceram". Como muitos (todos?) filmes se deve em restrições temporais, à necessidade de
parte a comprimir
históricos, esse filme, para aumentar o suspense ou acrescentar desdo- à avidez da
grandes acontecimentos e m sequências curtas; em parte,
bramentos aos personagens, abre espaço para invenções. Davis tem duas especificidade de detalhes superior ao conheci-
camera, que exige uma
venções que acrescentam profundidade à história, apenas às que pare do passado; em parte, ao fato de que os nossos atores, a despeito de seu
cem ser arbitrárias ou desnecessárias. De fato, ela ocasionalmente sugere talento (Davis admira em especial Anthony Hopkins como John Adams),
invenções que, a seu ver, teriam sido mais plausíveis ou adequadas do são intérpretes que usam um vocabulário de gestos, movimentos e pa-
lavras para criar figuras históricas cujos movimentos e vozes, na maio-
2000: 79).
que as que foram criadas pelos diretores (Davis, ria das vezes, se perderam no tempo e que, portanto, têm de ser total-
Bem-Amada, pois,
Nenhuma invenção é colocada em dúvida em mente inventados.
ser baseado em u m romance, o filme
é inteiramente inventado e
por
portanto, está duplamente afastado dos
acontecimentos históricos da em
lgnorando
todos filmes
em que medida a ficção está profundamente envolvida
os desse tipo, Davis se concentra nas invenções patentes
escravidão. Pior ainda, do ponto de vista de
um historiador tradicional, que parecem desnecessárias ou, pior ainda, derivam de um
de uma garotinha
assassinada desejo de
eque um dos personagens é o fantasma Todavla,
tornar as crenças de uma era
passada mais parecidas com as do presen-
de escravos.
para protegê-la
dos apanhadores te (por exemplo, discurso universalista de
pOr
sua me
o filme rorue
o
Espártaco). Ela culpa os
nos
histona
52 A
condescendent
te demais em relaçãoàs evi- mático do filme, o fato de um roteiro ser uma espécie de máquina intri-
atitude
"uma do" ee por
do passado" por "subestimar as
"subestin cada que, se privada de uma peça, pode não funcionar mais corretamen-
cincastas por comportamentos
as vidas
e
um film stórico, "os espectadore te) e em sua insistência nos padróes tradicionais da história escrita. As
cativados por
serem
plateias
Para modelado para parecer exatamente
remodela vezes, parece que a sua resposta às deficièncias dos filmes seria torná-los
passado seja
os diretores. sejam mais francos
o
precisam que mais parecidos com livros -ou pelo menos fazer com que eles seguissem
não
Ela também quer
que
igual ao presente" créditos) e que admitam as in mais de perto as regras da história tradicional. Mas nós já temos livros,
fontes (listá-las nos
respeito de suas equivalentes filmicos para expressões bem como uma longa tradição de avaliação de suas evidéncias, argu-
trando equivalentes
encontrando
tezas do passado nte" usadas na prosa. Para isso, ela suger mentos e interpretações. O que anda não temos é uma noção muito boa
"possivelmente"
dos costumes, histórias, canções e danças dos povos africano e caribe- padroes, adequados às possibilidades e práticas da mídia. (Não é isso
nho. Amistad e Bem-Amada nos envolvem nas terríveis condições psi- que acontece quando um tipo de história ofusca outro?) Melhor ainda,
cossociais da travessia oceånica dos escravos e do sistema de plantações por que não admitir que os cineastas estão trabalhando nesses padrões
no sul dos EUA e nos ensinam que as noções de liberdade podem nascer há um século e consideram que o trabalho de inmvestigar, explicar e cri-
de raizes não apenas ocidentais, mas também africanas. Embora falhas ticar esses mesmos padrões cabe a nós, que fazemos nossa história na
em algum nível possam ser apontadas em todos eles, esses filmes, quan- página impressa? Como pessoas de fora ou teóricos dos filmes histó-
contar
prescrever a maneira certa ou errada de
doplovistos em conjunto, interagem com o discurso histórico mais am-
e, por intermédio do poder da mídia em que são apresentados, ate
TicOs, n o podemos
o passado, mas temos de extrair a teoria da prática, analisando como
acrescentam algo ao nosso entendimento dos custos dos sistemas escra o passado foi, e está sendo, contado -
nesse caso, na tela. Davis começa a
vagistas tanto para os senhores quanto aZer 1so e, por esse motivo, temos uma divida com ela. Mas
ela não nos
para os escravos.
Apesar deste argumento, Davis revela por vezes um certo descon- leva longe o bastante. Seus julgamentos contêm elementos demais deri-
forto em
relação aos filmes históricos, um sentimento vados dos parâmetros de evidência da história acadêmica. O peso que é
no seu
balanço de erros e acertos das obras
que transparece jogado sobre os cineastas é o mesmo que jogaríamos sobre os histor1a
Oes para individuais, em suas suges do
invenções melhores (que muitas vezes dores se tivéssemos de julgar em termos filmicos suas representaçães
ignoram o aspecto uta
filmes na história
A história nos filmes/Os
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